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1-1
Plinio Corrêa de Oliveira
Carlos Patrício dei Campo
sou CATÓLICO: POSSO SER CONTRA A
REFORMA AGRÁRIA?
Editora Vera Cruz
sou CATÓLICO; POSSO SER CONTRA A
REFORMA AGRÁRIA? I
Plínio Corrêa de Oliveira
POSSO E DEVO SER
CONTRA A REFORMA AGRÁRIA Considerações doutrinárias II
Carlos Patrício dei Campo
POSSO E DEVO SER
CONTRA A REFORMA AGRÁRIA Considerações econômicas
EDITORA VERA CRUZ LTDA.
Rua Dr. Martinico Prado, 246 01224 — São Paulo
Fevereiro de 1981 — 11.000 exemplares Composição
Artpress — Papéis e Artes Gráficas Ltda. Rua Garibaldi, 404 — São Paulo Fotolitos
Ética Fotolito S.C. Ltda. Rua Pio XI, 371 — São Paulo
Impressão e acabamento AGGS — Indústrias Gráficas S.A.
Rua Luís Câmara, 535 — Rio de Janeiro Fotos
Serviço de Imprensa da TFP, Catolicismo, Man chete (capa). Agência Folhas, Agência JB, O Globo, A Rural, Revista dos Criadores, Secretaria da Agri cultura do Estado de São Paulo, IBC e CATI.
■ Desta edição foram tirados mil exemplares es-
peciais, numerados de 1 a 1.000.
^
"
-/it/
título do presente volume
define seu objetivo. Nume
rosos católicos são contra a
Reforma Agrária. Os pronuncia mentos episcopais favoráveis a esta última importam para eles na obrigação de renunciar às suas convicções anti-agro-reformistas, e de aceitar de bom grado a
reforma que reputam contrária à Moral da Igreja, bem como aos mais graves interesses econômicos do País?
A esta questão de consciência — que abrange tão larga e diver sificada gama de assuntos — se dá resposta em dois estudos distintos. O primeiro desses estudos, de autoria do Prof. Plinio Corrêa de
Oliveira, Presidente do Conselho
Nacional da TFP, responde; o católico deve ser fíel, acima de tudo, aos ensinamentos tradicio
nais do Supremo Magistério da Igreja (ou seja, às definições im postas a todos os católicos pelo Su premo Magistério, bem como ao ensinamento uniforme do seu Ma
gistério ordinário e universal no decurso dos séculos). Ora, um exame detido do documento Igre ja e problemas da terra, publicado pela CNBB, leva à conclusão de
que não há consonância entre aqueles ensinamentos e a Reforma Agrária preconizada no documen to da CNBB. A mesma observa
ção pode fazer-se em relação às declarações pessoais de vários Srs. Bispos solidários com esse do cumento, ou que se pronuncia ram, em outras ocasiões, numa linha favorável à Reforma A-
grária.
Em conseqüência, o católico anti-agro-reformista tem não só o direito como o dever de continuar
anti-agro-reformista. O segundo estudo, de autoria do economista Carlos Patrício dei
Campo (chileno há anos radicado no Brasil) põe em evidência outras razões pelas quais o católico antiagro-reformista pode e deve con servar-se nesta posição. Ele ana lisa do ponto de vista econômico o documento Igreja e problemas da terra, provando que este último apresenta graves lacunas no pano rama da situação econômica da lavoura brasileira e na Reforma
Agrária que pleiteia. Assim, ainda que o documento da CNBB não fosse objetável do
estrito ponto de vista da Doutrina Católica, seria inaceitável do ân
gulo econômico, como contradi tório com a realidade nacional e
incompatível com os interesses do País.
Em Apêndice ao primeiro es tudo, o presente volume contém a relação dos Bispos que se pronun ciaram, em declarações pessoais ou em documentos coletivos, a
favor de uma Reforma Agrária infensa ao direito de propriedade.
índice
I
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
15
Prólogo
O Episcopaáo áo Brasil e a reforma agrária
23
1. Importância do tema
23
2. Aspectos morais e religiosos da reforma agrária 3. Repercussão do ensinamento da Hierarquia eclesiástica no Brasil...
24 24
4. 5. 6. 7.
24
Como ver cristãmente a reforma agrária? Aspectos sociais da controvérsia agro-reformista Sem o apoio do ípiscopado a Reforma Agrária seria inviável O autor do presente estudo: um católico praticante face aos pro nunciamentos episcopais agro-reformistas 8. "Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?", RA-QC e "Declaração do Morro Alto" 9. Conteúdo do presente estudo
28 28 31 35
35
Parte I
Análise de conjunto do documento "Igreja e proble mas da terra"
39
Capitulo I — A CNBB encaminha o Pais para a luta de classes e a revolução social? Perplexidade dos católicos e da opinião pública em geral
41
1. O método de exposição do documento 2. Perplexidades suscitadas pelo documento 3. Resposta do presente livro
41 42 46 9
Capitulo II — A atmosfera política em que o documento da CNBB apareceu — A "abertura" 1. O golpe de 1964 — A luta contra a subversão 2 A "esquerda católica" emerge como força de primeira linha 3. O panorama econômico nacional e internacional e seus reflexos no terreno social
47 47 50 51
4. A crise econômica instrumentalizada pela "esquerda católica" para
fomentar o descontentamento
54
5. Crise brasileira e crise mundial
55
Capitulo III — Para a implantação da Reforma Agrária no Brasil:fatores propícios e hostis
57
1. Atualidade e importância do fator psicológico para a solução dos problemas contemporâneos 2. Infiltração na Igreja, solução para o comunismo, E também para
57
o socialismo
58
3. Modalidades de infiltração comunista na Igreja: técnicas e subtilezas
59
4. A radicalização processiva da "esquerda católica": empuxo firme cercado de cautelas
5. Traços deste método na atuação habitual da CNBB
63
64
6. Análise do documento "Igreja e problemas da terra", do ponto
de vista metodológico
64
Capitulo IV — A CNBB invade a esfera de competência exclusiva do Estado
67
1. A distinção harmônica entre Igreja e Estado
67 68 70
2. A intervenção da CNBB em assuntos de natureza econômica
3. Alcance do Magistério episcopal em matérias temporais
4. Incursões do documento "Igreja e problemas da terra" em matéria especificamente temporal 5. Nexo desses princípios com a questão da reforma agrária Textos Pontifícios — Matéria temporal: competência da Igreja — competência do Estado
71 72 73
Capítulo V — A linha geral de pensamento da CNBB — Acirramento dos movimentos reivindicatórios conducente à luta de classes
77
/. O posicionamento elementar e simplista da CNBB
TI
2. Objeções ao posicionamento da CNBB 3. O principio da "opção pelos pobres" e o caráter hierárquico da
77
sociedade cristã
80
Textos Pontifícios — A doutrina tradicional dos Papassobre hierar quia social em oposição à doutrina marxista da luta de classes
82
Capítulo VI — A CNBB e o Partido Comunista ante a Reforma Agrária
89
1. O documento reivindica uma Reforma Agrária socialista, confiscatória e igualitária
89
2. Como detectar o "unum" do documento?
90
10
3. Doutrina e realidade: tese e hipótese 4. Reivindicações aparentes e reivindicações efetivas no documento.... 5. Principais objeções ao documento A. No plano da doutrina B. No plano da hipótese
91 91 91 92 92
6. O IPT, "companheiro de viagem" do comunismo
94
Parte U
Análise em "dose" do documento "Igreja e problemas da terra"
97
Secçõo A. Visualização do problemafundiário deformada pelo principio marxista da luta de classes
99
Textos Pontifícios — Não há solução para os problemas sociais e econômicos sem o concurso das virtudes mo
rais e religiosas
80
Secçao B. Nao e licito abalar direitos certos, alegando fatos incertos
109
Secção C. A propriedade privada e o bem comum:pólos opostos (como quer o IPT) ou harmônicos
(como ensina a doutrina católica)? Secção D. Frutos do IPT: nas cidades, luta de classes; nas selvas, luta de raças
117 119
Secção E. Dramatizáção do problemafundiário para jus tificar a Reforma Agrária socialista, confiscatória e igualitária
123
Secção F. Caso típico de invasão da esfera temporal Secçao G. Mais uma vez, o IPT transborda da esfera de
137
ação própria do Episcopado Secção H, A manipulação da doutrina católica sobre direito de propriedade
141
145
Textos Pontifícios — O ensinamento do Magistério ordinário e universal da Igreja sobre a legitimidade do direito de propriedade
I55
Secção L Perigosas distinções sobre os tipos de proprie dade em que mal se disfarça a influência marxista Textos Pontifícios — Títulos legítimos de aquisição da propriedade e o problema da justa distribuição das riquezas *
Secção J. Conclamação final à mobilização dos traba lhadores em prol da Reforma Agrária
101
jgO
183
Textos Pontifícios —- O princ^io de subsidiariedade no
problema da delimitação entre as esferas de ação da iniciativa privada e do Estado
Secção K. O IPT, novo cavalo de Tróia do comunismo
191
195 11
Textos Pontifícios — Os ensinamentos de Leão XIII sobre os problemas sociais e econômicos: síntese pro mulgada pelo papa São Pio X
196
Conclusão
Diálogo? Estrondo? — Ação comum
199
Documentação I — £>w grave risco o instituto da proprie
dade rural: os livros "Reforma Agrária — Questão de Consciência" e "Declaração do Morro Alto" — A TFP intervém na controvérsia agro-reformista, no Brasil, nos anos 60
205
Documentação II — O direito de propriedade e a livre iniciativa no projeto de emenda constitucional nP 5164 e no projeto de Estatuto da Terra
211
Documentação III — Manifesto ao povo brasileiro sobre a Reforma Agrária
239
Apêndice
106 Bispos brasileirosfavoráveis à Reforma Agrária
245
II
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
269
Introdução
271
Capitulo I — Os problemas sócio-econômicos da agri cultura brasileira, segundo o documento "Igreja e pro blemas da terra"
275
/. A terra seria inacessível para o lavrador
276
A. índice inadequado para medir a acessibilidade à propriedade da terra
B. Difusão da propriedade da terra no Brasil 2. A atual estrutura agrária "estrangularia" a pequena agricultura 3. As migrações segundo o IPT: um processo necessariamente per-
277 278
secutório
280
A. Migração, um fenômeno natural B. Migração, uma alternativa válida C. Migração, um fenômeno inflado D. No destino do migrante:fracasso ou êxito?
281 281
4. As oportunidades de emprego teriam diminuído na agricultura 5. "Bóias-frias": vítimas da estrutura agrária? 12
276
282 282 284 285
Capitulo II — Três correntes de pensamento econômico a respeito de problemas agrários
293
/. As três correntes de pensamento econômico a respeito de problemas agrários A. Escola neoclássica B. Escola estruturalista C Escola neomarxista
2. Os problemas agrários segundo a escola neoclássica A. A política econômica do pós-guerra até a segunda metade da década de 60 B.A política econômica a partir da segunda metade da década de 60
293 293 293 294
294
3. Os problemas agrários segundo a escola estruturalista 4. Análise comparativa entre as escolas neoclássica e estruturalista .... A. Analogias B. Discrepâncias 5. Os problemas agrários segundo a escola neomarxista A. Aspectos essenciais da doutrina social marxista
295 297 298 299 300 300 301 301
B. A visualizaç&)econômica neomarxista dos problemas agrários C. A visualização neomarxista analisada pelas outras escolas
302 303
a) A escola neomarxista e a estruturalista b) A escola neomarxista e a neoclássica
303 304
Capítulo III — Causas dos problemas econômico-sociais
da agricultura nacional, segundo o documento "Igreja e problemas da terra"
305
/. Causas estruturais
305
A. A concentração da propriedade da terra a) Concentração versus difusão da propriedade: um ponto de vista histórico
305 305
b) A concentração da propriedade,o sistema econômico vigente e o bem-estar da Nação
307
R As grandes propriedades não explorariam adequadamente sttas terras
308
a) Composição da produção por tamanho de estabelecimentos b) Limitação dos dados do censo para medir o valor da produção por hectare c) Tamanho dos estabelecimentos e eficiência no uso da terra.... d) O "latifúndio por exploração"
309 310 311 312
2. Causas econômicas
314
A. Algtdns aspectos da Política Econômica a) A distribuição dos financiamentós b) A política de incentivos fiscais c) Comercialização da produção d) A política comercial e de preços B. O modelo econômico a) Características do modelo econômico,segundo o documento b) Frutos do modelo, segundo o documento 3. Algumas considerações finais deste capítulo
314 314 315 317 317 318 318 319 322
Capítulo IV — Solução para os problemas agropecuários, segundo o documento "Igreja e problemas da terra" 323 13
1. A Reforma Agrária que o IPT propõe A. Características do modelo proposto B. Os frutos da Reforma Agrária proposta a) O papel da agricultura no desenvolvimento econômico
b) Impacto da Reforma Agrária na produtividade e eficiência agrícolas
323 324 324 324
c) Uma melhora ilusória na situação do trabalhador d) Uma observação final 2. A solução alternativa que o IPT ignorou
325 326 327 327
Sumário e conclusão
331
/. Objetivo e método do presente trabalho
331
2. Tese central do IPT
331
3. Uma opção mal ftmdamentada
331
4. Afirmações inexatas e imprecisões do IPT A. Os problemas econômicos da agricultura B. Causas dos problemas na agricultura C. Solução para os problemas da agricultura 5. Visão sintética das teses defendidas no presente estudo 6. Consideração final
332 332 332 333 333 334
Anexo I—- O migrante no destino:êxito oufracasso?
337
Anexo II — Situação do pequeno produtor rural
343
L Magnitude dos problemas do pequeno produtor 2. Causas dos problemas do pequeno produtor
343 345
Bibliografia
347
14
Plinio Corrêa de Oliveira Presidente do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa
da Tradição, Família e Propriedade
SOU CATOLICO: POSSO SER CONTRA A
REFORMA AGRÁRIA?
I
POSSO E DEVO SER
CONTRA A REFORMA AGRÁRIA Considerações doutrinárias
Apêndice 106 BISPOS BRASILEIROS
FAVORÁVEIS
Á REFORMA AGRÁRIA
Reforma Agrária: Instrumento da luta de classes marxista
Meta — Extinção da classe patronal Método — Confisco Fala a CNBB Lucra o PCB Pronuncia-se a TFP
Prestes diz em São Paulo que Igreja é melhor aliado do PC Sào Piulo - 'O noisn mflhor aijado
hnie « s Católica" diasi' nntcm o Sr Luii Ca/loa Prast«. secreUflo-Baral
^ \ .
eles aUverum-ae ia eondlcúet de kus capltaUitai e adiantado*. Na
do Partido nomunlala BrasUelro. aodu cursar no Encontro Popular pela Ckemo rracia. lembrando que a Pastoral da CNBB - ExIfèDclas frlsUs de urai Ordena Pollllea - rntica.emumdeseus
ftnua E no Btaail? Vamo* deacobrlr um
tópicos B atual doulnna de Scfturanca
dade
nanoa.o operário recebe metade Á)que gastou em receltaa mídlcM; na Rdada,í
caminho pata o aoclaliimo, tnçuxlo a Tcvoiucio dentro da nos**concreta reali
Nacional
— "A abertura poutlei deve^e ao*
- A Iffreia Católica e a mau'•
sisla do mundo, inclusive sua tuemrquia O (ar pela
_
_
monopúUoe r emiraai impetUIWaa,
que sabem bem a siuiicto ao operário brasileiro e temem uma exploaio, como ocorreu no Ir* e na Nlcaiagu*. nto Linln. numa situaçao revoluelotiaila, em
um dia se aprende mala de que em 30 diflit" — 'OsempmailoabnfiílelnMCwrem
um Partido para negociar com o Oover-
no decUOes que escapam de sua paiUclpacSo O Sr Claodlo Bardella, dltae. h*
dois anos. ser isvotavel a Irgaliacao do
PC Na vettlade. queria dizer que era a
(avor do Partido dos emptesSnos vejam, os banqueiros. liderados pelo Br UagaPinto ruiM conseguiram cunaetfuirain o seu e lU
D
-^-nieo beneficiou
beneficiou
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c/iVo#
o r«^!
Para extinguir a classe patronal COMBATER O DIREITO DE PROPRIEDADE dividindo as propriedades grandes dividindo as propriedades médias permitindo só propriedades nas quais o proprietário é o trabalhador
Agonia da civilização cristã no Brasil
Para os católicos esclarecidos
e para os fazendeiros, um DEVER: preservar a Pátria e a civilização cristã, da Reforma Agrária socialista,
igualitária e confiscatória pleiteada pela CNBB
.*• :V,
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j-A
Profeta Abdias, do Aleijadinho (Congonhas do^Campo — MG)
o Episcopado do Brasil e a reforma agrária
Recrudesce a con
trovérsia
reformista
agro-
dos
anos 60
O presente estudo não tem por deliberações de que se origine objeto os problemas do campo, obrigação jurídica (1). vistos em sua globalidade. Res A entidade se tem manifestado como a CNBBse tringe-se à controvérsia agro-tefor- sobre reforma agrária: manifesta mista que — à maneira do ocorri do entre 1960 e 1964 — se vai
generalizando agora pelo País. Toma posição na controvérsia o E-
piscopado nacio nal
Nem é sequer toda essa contro vérsia que vem aqui estudada.
Mas especificamente um aspecto dela: a intervenção do Episcopado
a) em suas Assembléias Gerais; b) por seu Conselho Perma nente, por sua Presidência e pelo seu Secretariado-Geral;
nacional em prol da reforma
c) pelas Comissões Episcopais Regionais, constituídas pelos Bis pos das várias regiões em que, no
agrária.
seio da CNBB, se divide o País.
/. Importância do tema
constituídas também habitualmen te por Bispos.
d) pelas Comissões especiais,
Além dos pronunciamentos da Importância do Episcopado como
força propulsora da reforma agrária
A CNBB:o que é?
A ninguém escapa a importân
CNBB sobre a matéria, há que
levar em conta os pronunciamen agro-reformista. Constitui expres tos, a título pessoal, de numerosos sivo sintoma disto a larga divul Bispos Diocesanos, feitos em Car gação dada por nossos meios de tas Pastorais para suas respectivas comunicação social aos pronun circunscrições eclesiásticas, em de ciamentos episcopais sobre a ma clarações aos meios de comunica cia de tal tema na controvérsia
téria. A CNBB — Conferência Na
ção social etc.
Os pronunciamentos indivi cional dos Bispos do Brasil — duais dos Bispos não engajam a constituída em 1952 com aprova CNBB. Entretanto, quando favo ção da Santa Sé, abrange todos os ráveis à reforma agrária, consti Bispos do Brasil, inclusive os Bis tuem valiosas manifestações de
pos resignatários residentes no País, os quais só não podem votar nas
(1) Cfr. Estatutos da CNBB, arts. 2.o e 10.
23
Pronimciamentos pessoais dos Bis pos
Titulo I
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
apoio de elementos de "base** da Pontífice, e aos Bispos em união e CNBB à orientação agro-refor- comunhão com ele. Em conseqüência, a voz dos mista que o organismo vai to mando.
Bispos deve ter normalmente uma influência determinante sobre a atitude dos católicos face aos as
2. Aspectos morais e religiosos
pectos morais implicados na con trovérsia agro-reformista.
da reforma agrária 3. Repercussão
Os princípios da moral estão con substanciados nos Dez mandamen tos da Lei de Deus
Explica-se a importância dos pronunciamentos provindos de to
do ensinamento da
das essas fontes.
Hierarquia eclesiástica
O problema agrário comporta importantes aspectos morais. Ora, o católico professa que os princí
pios fundamentais da Moral fo
no Brasil Vivem no Brasil cerca de 110
Brasil, o Pais de
ram ensinados por Deus nos Dez milhões de católicos, que cons Mandamentos, os quais, mais ter- tituem 90% de nossa população. de, Nosso Senhor Jesus Cristo Somos hoje o País de maior popu confirmou e ensinou ainda mais lação católica da terra. Ainda que
maior população católica da terra
amplamente, como consta dos E- se levem em conta os efeitos nega vangelhos e da Tradição apostólica. tivos da ignorância religiosa, das A esses sublimes e eternos
À lei moral estão
sujeitos os indiví duos como o Estado
princípios está sujeito o procedi mento, não só dos indivíduos, co mo dos Estados.
A reforma agrária implica violação da Moral cristã?
contradições e do relaxamento de não poucos católicos face à dou trina da Igreja, é patente que a influência da Hierarquia pode ser
Assim, se normalmente não é decisiva para que a opinião públi lícito a uma pessoa subtrair bens ca aceite ou repudie a reforma de outra, também é ilícito ao agrária. Nesta perspectiva, a análise Poder público confiscar,sem mais, dos pronunciamentos do Episcohaveres de particulares, seja com o pado sobre a matéria apresenta fim de tê-los para si, seja para os interesse capital para quem queira distribuir a terceiros. conhecer os rumos para os quais A reforma agrária presente vai sendo encaminhado o País mente pleiteada no Brasil consiste, neste assunto de transcendente em última análise, em que o Poder importância. público opere uma reforma fun diária. Isto é, que mediante inde nização inferior a seu custo real, tire terras pertencentes a uns e as 4, Como ver cristãmente dê a outros.
Tal procedimento importa em
a reforma agrária?
violação da Moral cristã? É este o A Reforma Agrária (2), segun mais delicado e espinhoso proble ma moral suscitado pela ofensiva do o conteúdo o mais das vezes agro-reformista. (2)No livro Reforma Agrária — Questão de A reforma agrária e o magistério da Hierarquia ecle siástica
Por outro lado, o católico
Consciência IS-se o seguinte Aviso preliminar:
reconhece também que a missão
'^Reforma Agriria" e refonna agrária. — De pouco tempo a esta parte, vem sendo cada
de ensinar autenticamente a Moral
cristã compete, na Igreja, à Sagra da Hierarquia, ou seja ao Sumo 24
vez mais freqüente entre nós, não só em discursos e conferências, como em entrevistas,
artigos, livros, relatórios oficiais e projetos de
Importância dos pronunciamentos do Episcopado para a fixação dos rumos do Pais
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
A Reforma Agrá ria socialista, con-
fiscatória e igua litária: ato cristão
de justiça?
Prólogo
atribuído à expressão, comporta a da, dia mais dia menos, pela divisão compulsória das grandes e capitulação dos proprietários. médias propriedades em fragmen Pelo contrário, tos dados pelo Estado a traba — se, segundo o ensinamento lhadores manuais. — Constitui da Igreja, a partilha compulsória e essa divisão, e conseqüente redisa redistribuição da terra devem ser tribuição, ato cristão de justiça, pelo qual se reconhece ao traba lhador manual o direito à totali
É de se admitir que até mesmo
da de posição da Hierarquia sobre
numerosos proprietários sentirão,
os proprietários
em tal caso, bruxulear em suas
tidas como medidas anticristãs e
co de uma luta de classes
A sociedade cristã é baseada na de
sigualdade pro porcionada e har mônica
O produto da ter ra
pertence
proprietário
ao
co
mo também ao trabalhador
nesse caso, o quadro muda,e o surto agro-reformista poderá ficar
consciências a convicção de que, tolhido em seu próprio nasce lutando contra a Reforma Agrá douro. ria, defendem, além de seus inte
O gravíssimo ris
lável
injustas, e o direito de proprie
dade do produto da terra que ele dade deve ser reconhecido como trabalha com suas próprias mãos? inviolável; Neste caso, tal redistribuição con — se a paz social não deve ser duz os brasileiros à concórdia esperada da igualdade absoluta de fraterna de uma sociedade sem uma sociedade sem classes, mas da classes? cooperação fraternalmente cristã Se assim afirma a Hierarquia, de classes social e economicamen a indignação reivindicatória dos te escalonadas em uma hierarquia agro-reformistas, amparada na proporcionada e harmônica; autoridade moral da Igreja, po — se o produto da terra não derá estender-se em breve a toda a pertence só ao trabalhador, mas massa dos trabalhadores rurais, tem direito a parte dele o pro ou quase tanto. prietário, Impacto da toma
o direito de pro priedade é invio
O Brasil caminhará então nu
resses,, também os seus direitos.
ma atmosfera de concórdia social,
Eles passarão a se perguntar, en tão, se não são apenas defensores de seus egoísmos: o que forço samente lhes abalará, com a força da convicção, a energia da resis
não para a destruição da presente ordem de coisas, mas para a con servação e o aprimoramento dela. No plano especificamente dou trinário, essa é a problemática que
tência.
constitui o elemento de maior
Em uma palavra, o Brasil fica exposto, desta maneira, ao gravís
importância na controvérsia agro-
simo risco de uma luta de classes candente — bem exatamente co
mo a quer o comunismo — segui lei. a expressão reforma agrária. Não é difícil, entretanto, notar que esta designação genérica
tem servido de rótulo a sugestões ou projetos muito diversos em seus objetivos e no espírito que os anima.
Assim, pode-sefalar de uma reforma agrá ria sadia, que constitua autêntico progresso, em harmonia com nossa tradição cristã. Mas também se podefalar de uma reforma agrária
revolucionária, esquerdista e malsã, posta em desacordo com esta tradição. Este último tipo
de reforma agrária importa em golpear afundo ou até em eliminar a propriedade privada. Por isto mesmo ele deve ser tido como hostil
também àfamília. Com efeito, como veremos, propriedade efamília são instituições correlatas e fundadas nos mesmos princípios.
reformista.
Bem se vê quanta atualidade apresenta, portanto, o tema do presente estudo. Para evitar possíveis corrfusões, fica decla rado que neste livro a reforma agrária revo lucionária, esquerdista e malsã é sempre men cionada com iniciais maiúsculas e entre aspas: "Reforma Agrária". As críticas feitas à "Reforma Agrária" não
se referem, pois, de modo algum, a medidas que promovam um autêntico progresso da vida do
campo ou da produção agropecuária;seria essa uma reforma agrária sadia" (op. cit., Editora Vera Cruz, São Paulo, 4.» ed., 1962, p. XIX). Convenção análoga será adotada neste li
vro. Apenas, para maior comodidade, a refor ma agrária infensa ao direito de propriedade será designada com iniciais maiúsculas, sem aspas: Reforma Agrária.
25
A atual ordem sócio-econâmica
no campo: des truição ou apri moramento?
No âmago da controvérsia agroreformista
Em vários de seus tópicos, o documento Igreja e problemas da terra
favorece conclusões agro-reformistas que discrepam dos ensinamentos
i
-
Reunidos
em
Itaici (SP), 172 Bispes aprova ram, em feve
reiro de 1980, o documento
a-
gro-reformista Igreja e proble mas da terra.
'*
W
i
♦NtiSÉÍíSiàí*^»*-..
Titulo I
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
que já não é todo doutrinário
5. Aspectos sociais
como o anterior, e no qual se considera uma situação concreta
da controvérsia
para ajustá-la aos princípios da justiça e às exigências do bem
agro-reform ista
comum — importa conhecer a
opinião contida nos documentos de nosso Episcopado. Pronunciarais não abrangem — mesmo do se ele segundo a doutrina social ponto de vista meramente religio ensinada nos documentos tradi so — todos os aspectos da questão cionais dos Papas? Baseia-se ele na realidade concreta dos fatos? É agrária. Foram considerados até aqui imparcial na apreciação doutri apenas os direitos do indivíduo, nária dessa realidade? A resposta a todas essas per seja ele proprietário ou trabalha dor. Cumpre atender também aos guntas deve interessar aos brasi leiros patrioticamente atentos ao da sociedade. Todos os direitos individuais curso que vai tomando entre nós a têm uma função social. É em controvérsia agrária. E muito es virtude desse princípio, por exem pecialmente aos que, sendo cató plo, que até o direito à vida pode licos, ao mesmo tempo são parte Essas elevadas questões mo
Todos os direitos individuais têm
umafunção social
ser condicionado pelo bem co
na controvérsia, quer como pro
mum. É o que torna legítima a prietários, quer como trabalhadores. É para dar uma resposta a convocação da população às ar mas, em caso de agressão estran
Com vistas a ca tólicos e não ca tólicos
essas perguntas que o presente
Objetivo do pre sente estudo
geira. Assim, os direitos do pro estudo foi pensado e escrito. prietário — como aliás também os do trabalhador — são condicio nados ao bem comum.
— A agricultura concorre devida mente
para
a
prosperidade do Pais?
— Os trabalha dores rurais têm
meios para asse gurar para si uma
existência digna?
6, Sem o apoio do Episcopado atual regime sócio-econômico, a Importa pois perguntar se, no
agricultura concorre, na medida do necessário, para a prosperidade global da economia do País. O
a Reforma Agrária seria inviável
setor populacional constituído de trabalhadores rurais — visto co
mo magna pars da comunidade nacional — tem meios para asse gurar para si e para os seus, com operosidade e poupança, uma existência digna, saudável, dotada
A índole e as tradições do
A Índole cordata
povo brasileiro são de tal maneira
do povo brasileiro
infensas à Reforma Agrária, que a
aplicação desta jamais contará com o aplauso e a colaboração animosa do País sem um apelo às
de reais possibilidades de ascensão? consciências por parte do Epis A
doutrina
da
Igreja e os direi tos da sociedade
na questão agrária
Respondida pela negativa qual quer das duas perguntas, a Dou
copado. Com efeito, além da CNBB,
trina Católica preceitua, se não a quais são, no Brasil, as forças ou partilha compulsória e geral das correntes de opinião favoráveis à terras, certamente as reformas e as Reforma Agrária? Bem entendido, em primeiro divisões necessárias — feitas me diante as indenizações possíveis — para que os princípios da justiça (3) Sempre que, bem entendido, a insufi cristã e o interesse social assim
ciência da contribuição rural decorra de causas
transgredidos sejam pronta e ple
estruturais, e não de fatores extrinsecos à
namente restaurados (3).
Portanto, ainda neste plano — 28
agricultura (cfr. Titulo II, Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações
econômicas, Cap. II, 2).
A irrelevância do
agro-reformismo de inspiração laica, ou expressa
mente atéia
Prólogo
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Partido Comunis
ta Brasileiro, pio neiro da Reforma Agrária
Insignificãncia do PC enquanto tal
ouvidos ou lidos principalmente
lugar o Partido Comunista Brasi leiro, o qual, desde suas primeiras manifestações nos anos 20, a rei vindicou. Esse partido é o verda deiro pioneiro da Reforma Agrá
cam o esnobismo intelectual ou
ria no Brasil (4).
Compare-se esse punhado de corpúsculos com a caudal de elei
Mas que contigentes popula
por pequenos setores que prati social. Mais uma vez, quão pouco
representa isto no plano eleitoral! Influência ímpar da Hierarquia eclesiástica
cionais leva atrás de si o PCB? tores influenciáveis pela Hierar
Largamente presente em algumas quia eclesiástica, e será fácil com redações de jornais, em estúdios preender que, se a Reforma Agrá de rádio e televisão, bem como no ria tem possibilidades de alcançar mundo do teatro, contando com adesão de grande parte do povo intelectuais cujos livros têm mais brasileiro, deve-o essencialmente à propaganda que efetiva circula ponderável corrente agro-reforção, dispondo de minorias ruido mista no Episcopado nacional. sas mas irremediavelmente pouco
numerosas em algumas universi dades, aboletado aqui ou acolá em
direções sindicais, ele constitui um Cumpre acrescentar que não é quociente eleitoral muito minori esta a primeira vez que a CNBB e Socialistas de sa
lão ou de porta de livraria
tário (5). A Reforma Agrária conta tam
prestigiosas figuras do Episcopa do intentam implantar no Brasil a
bém com adeptos entre socialistas Reforma Agrária. de salão ou de porta de livraria. Já em 1950, D. Inocêncio Engelke. Bispo de Campanha (MG), (4) No documento Sobre a situação poli- publicava sua Carta Pastoral em tica atual, o autodenominado órgão "Coletivo
que vaticinava: "Conosco, sem nós ou contra nós se fará a Re Prestes da secretaria-geral do Partido em maio forma Rural". de 1980, assim se exprime:"Ao longo de quase A esse documento pioneiro se 60 anos de participação organizada na vida de Dirigentes Comunistas", que assumiu a direção do PCB após a demissão de Luís Carlos
política brasileira, os comunistas têm lutado pela paz, contra o imperialismo, os mono
pólios e o latifúndio, pela democracia e pelo socialismo. Nessa trajetória, batendo-nos pelos interesses imediatos e futuros da classe operá
ria, dos explorados e oprimidos, muito cedo ainda compreendemos o caminho nacional e
seguiu uma longa atuação de trin ta anos por parte de prestigiosas figuras do Episcopado nacional e, pouco depois de constituída, tam
bém da própria CNBB. Essa atua ção se orientou, em geral, no quista de um poder revolucionário que conduza sentido da implantação, no Pais, à liquidação da dominação imperialista, mono polista e latifundiária é uma etapa integrante e de uma Reforma Agrária sempre necessária da vitória do socialismo em nossa mais socialista e confiscatória (6). democrático da revolução brasileira: a con
terra"("Voz da Unidade", n.° 8, de 22 a 28 de maio de 1980, p. 9). E conclui;"O Coletivo de Dirigentes chama todos os comunistas a se empenharem com
dário no fundo com o PCB, ele constitua mera
"montagem" publicitária que proporcione a vigor e entusiasmo na realização das tarefas Moscou um duplo jogo político; ou seja, ideo políticas acima expostas, nas lutas das massas lógico e mais ou menos legal no tocante ao por suas reivindicações econômicas e sociais, entre as quais se inclui uma reforma agrária
PCB, violento e subversivo no que toca ao PC
democrática, no combate ao domínio econô
Assim, é por mera simplificação de lin guagem e para inteira fluidez da exposição que,
mico e político do país pelos monopólios estrangeiros e pela oligarquiafinanceira interna e na defesa da paz"(ibidem, p. II).
do B
neste livro, se fala do PCB como representando
a globalidade do contingente comunista no Brasil.
(5) Se o Partido Comunista Brasileiro
(PCB) é pequeno, menor ainda é a fração
(6) No volume Pastoral da Terra (coleção
dissidente desse partido, que se intitula Par
Estudos da CNBB,n.° 11, Paulinas, São Paulo,
tido Comunista do Brasil(PC do B). Nume
1976), publicado sob a égide da Comissão
ricamente insignificante, o PC do B é, aliás, de Episcopal de Pastoral da CNBB, encontra-se uma autenticidade política duvidosa. Pois é (pp. 41-42) a seguinte "Cronologia dos prin
impossível descartar a hipótese de que, soli- cipais documentos" emanados de Bispos ou 29
Anteriores tenta
tivas do Episco pado, de implan
tar a Reforma Agrária
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
Em 1960, a medida parecia a rememora os principais lances des muitos ter-se tomado inevitável, sa luta. quando veio a lume o livro Refor Foi no decurso de tal luta que ma Agrária — Questão de Cons emergiu no cenário nacional, le ciência^ de D. Antonio DE Castro Mayer, Bispo de Campos, D. Geraldo de Proença Sigaud, Bispo de Jacarezinho, Plínio Corrêa de Oliveira e Luiz Men A linha anthagroreformista de 1960 -1964 indica
para a TFP a linha do dever na
conjuntura sente
pre
donça DE Freitas (Editora Vera Cruz, São Paulo, 516 ppOCT). Travou-se então, dentro dos próprios arraiais católicos, acesa luta entre agro-reformistas e antiagro-reformistas. Um elenco cro nológico anexo ao presente estudo organismos da CNBB sobre o problema agrário: 1950 — Pastoral de Dom Inocêncio En-
vantando alto o estandarte do
anti-agro-reformismo, a Socieda de Brasileira de Defesa da Tra-
diçAo, Família e Propriedade —
TFP — hoje conhecida no País inteiro (8). Essa entidade falharia a sua
missão e fugiria a seu dever se, na atual emergência, não entrasse na liça empunhando mais uma vez o pendão que em lutas anteriores tanto se assinalou. 1.972 — Trecho da Declaração da Comissão Episcopal Regional do Centro-Oeste,7 dejulho
gelke. Bispo de Campanha, MG — 10 de setembro de 1950: **Conosco, sem nós ou
de 1972.
contra nós se fará a Reforma Rural".
Povo" — Documento de Bispos e Superiores Religiosos do Nordeste — 6 de maio de 1973.
1951 — Pastoral sobre o Problema Rural
1973 — "Eu Ouvi os Clamores de Meu
(Como conseqüência da Semana Rural que
1973 — Direitos do Homem — "O Povo do
congregou as três Dioceses norte-riograndenses: Natal, Mossoró e Caicó).
Campo e a Declaração Universal dos Direitos
1952 — "A Igreja e a Amazônia" — Decla
ração dos Arcebispos, Bispos e Prelados da
do Homem" — Diocese de Crateús — 1.° de maio de 1973.
Amazônia, reunidos em Manaus, de 2 a 6 de
1973 — A Marginalização de um Povo — Documento dos Bispos da Região Centro-
julho de 1952.
Oeste — 6 de maio de 1973.
1952 — "A Igreja e o Vale do São Fran
cisco" — Declaração dos Arcebispos, Bispos e
1973 — Advertência dos Bispos da Provín cia Eclesiástica do Maranhão (Carta ao Pre
Prelados do Vale do São Francisco e das
sidente do INCRA — 20-8-1973, por ocasião
Circunscrições Eclesiásticas situadas no raio de ação da Hidrelétrica de Paulo Afonso,reunidos
da Reunião dos Bispos da Província).
em Aracaju de 25 a 28 de agosto de 1952.
1973 — Y Juca-Pirama — O índio: aquele que deve morrer — Documento de Urgência de
1954 — Declaração das Prelazias "Nullius" do Brasil, por ocasião da Primeira Reunião de
Bispos e Missionários — 25 de dezembro de
Prelados — Belém do Pará, 25 a 29 de janeiro de 1954.
1954 — Conclusões Gerais da 2.* Assem
bléia Ordinária da CNBB — Aparecida,9 a 11 de setembro de 1954 — "A Igreja e a Reforma
1973.
1975 — Encontro dos Bispos e Agentes de Pastoral da Amazônia Legal. Resoluções íinais e Mensagem ao Povo (aos posseiros e traba lhadores na agricultura) — 22 de junho de 1975.
Agrária".
1956 — Declaração dos Bispos do Nordeste
— reunião de Campina Grande, PB,de 21 a 26 de maio de 1956.
(7)D. Geraldo de Proença Sigaud,Bispo de Jacarezinho, foi elevado a Arcebispo de Dia mantina em 31 de dezembro de 1960. A partir
de 1969, o Prelado assumiu posição que con
1960 — Declaração dos Arcebispos e Bispos
trastava de modo formal com a linha de
presentes à reunião das Provbicias Eclesiásticas de São Paulo — 5 de dezembro de 1960.
pensamento de RA-QC, distanciando-se na
1961 — Encontro dos Bispos do Vale do Rio Doce — Declaração dos Bispos — 7 de
matéria dos demais autores do livro.
Quanto ao economista Luiz Mendonça de
julho de 1961.
Freitas, apesar de não ser mais sócio da TFP, em recente comunicação ao autor informou que continua inteiramente solidário com as
1961 — Declaração da Comissão Central da CNBB: "A Igreja e a situação do meio rural
teses do livro.
brasileiro" — 5 de outubro de 1961.
(8) Cfr. Documentação I — Em grave risco o instituto da propriedade rural: os livros RA-
1963 — Mensagem da Comissão Central — 30 de abril de 1963.
QC e Declaração do Morro Alto — A TFP intervém na controvérsia agro-reformista, no Brasil, nos anos 60. Cfr. também Meio século
1970 — Nota da Comissão Episcopal da CNBB do Regional Nordeste I(Ceará, Piauí e de epopéia anticomunista. Editora Vera Cruz, Maranhão), 25 de agosto de 1970. São Paulo, 1980, pp. 68 a 123. 30
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Prólogo
normalmente toca a cada fiel aca
tar com confiança os pronuncia mentos do Episcopado. Porém 7. O autor do quando, quer por algo de estranho presente estudo: na matéria, quer no modo de a expor, encontra o fiel prudente um católico praticante motivo para recear algum lapso face aospronunciamentos em documento episcopal, cabe-lhe
episcopais
agro-reformistas
Conferir o ensino autorizado
dos
Bispos com o ensino supremo dos Papas
o direito e até o dever de conferir os documentos do ensino auto
rizado e legítimo dos Pastores
locais, com o ensino supremo do A que título intervém no as sunto o autor?
Faz ele parte do laicato cató lico. Pertence à Igreja discente. Dir-se-ia, portanto, que lhe cabe, diante da matéria, uma atitude
Igreja, sociedade essencialmente
hierárquica
Pastor universal.
Católico militante que é desde os bancos universitários, o autor tem consagrado larga parte de seu tempo ao estudo da doutrina so cial
ensinada
nos documentos
meramente passiva. Ou seja, aqui- pontifícios. escer, sem direito a qualquer desa Analisando acuradamente o cordo, aos ensinamentos e às ati documento Igreja e problemas da tudes do Episcopado. terra, aprovado pela 18.^ Assem Com efeito, SAo Pio X ensina bléia Geral da CNBB, que se que "a Igreja é o Corpo Místico de reuniu em Itaici de 5 a 14 de Cristo, Corpo dirigido por Pas fevereiro de 1980, como também tores e Doutores — sociedade, os numerosos pronunciamentos eportanto, de homens, na qual piscopais sobre o problema fun alguns presidem aos outros com diário no Brasil, ó autor se per pleno e perfeito poder de gover guntou se toda essa massa de
nar, ensinar e julgar. É, pois, esta
Perplexidade diante do docu
mento Igreja e problemas
da
terra
documentos está em conformi
sociedade, por sua natureza, desi dade com os ensinamentos ema gual; isto é, compreende uma du nados de Roma. Pergunta legí pla ordem:os Pastores e a grei, ou tima, pois, como se viu, a auto seja, aqueles que estão colocados
ridade magisterial suprema per
nos vários graus da Hierarquia, e tence ao sucessor de Pedro. E ela a multidão dosfiéis. E estas duas se exerce diretamente sobre cada ordens são de tal maneira dis
fiel.
tintas, que só na Hierarquia reside
Ora, procedendo a tal confron tação, chegou o autor a conse qüências preocupantes:
o direito e a autoridade de orien
tar e dirigir os associados ao fim da sociedade, ao passo que o dever da multidão é deixar-se governar e
Tal não implica uma atitude me
ramente passiva por parte dos leigos católicos
seguir com obediência a direção dos que regem" (Encíclica Vehementer de 11 de fevereiro de 1906, Actes de Pie X, Bonne Presse, Paris, tomo II, pp. 132-134). Na realidade, entretanto, des sas sábias palavras de nenhum modo se conclui a legitimidade da
atitude passiva que alguns pode riam conceber como a única cabí
vel para o leigo católico.
I^gundo a doutrina da Igreja,
a) antes de tudo, em vários de
O
documento
seus tópicos, o documento Igreja e
Igreja e proble
problemas da terra favorece con
encontra funda
clusões agro-reformistas que não encontram fundamento nos ensi
namentos tradicionais do Magis tério supremo (9); (9) Ou seja, as defínições impostas a todos os católicos pelo Supremo Magistério, bem como o ensinamento uniforme do seu Magis tério ordinário e universal no decurso dos séculos (cfr. Henricus Denzincer, Enchiridion Symbolorum, Herder, Friburgi Brisgoviae Editio 21-23, 1937, n.«s 1683 e 1792). 31
mas da terra nâo mento no ensina
mento tradicional
dos Papas
Os autores de
Reforma Agrá ria — Questão de Consciência
pronunciaram conferências so bre a temática do livro em vá rias cidades do
País. Ao lado,o Prof. Plinio
Corrêa de Oli
veira dirige-se à classe rural de
Amparo (SP).
I!
*
Mil*'''
1
Coleta de assi naturas para o manifesto de a-
poio às teses de Reforma Agrá ria — Questão de Consciência,
na 10.® Exposi
ção Agropecuá ria de Anápolis (GO), realizada de 17 a 24 de abril de 1964.
— Lançado em Bagé(RS)o do cumento
rece
beu a adesão de
27 mil agricul tores e pecua
ristas, tendo si
do entregue pe la TFP ao Con
gresso Nacional.
Quando veio a lume o livro Reforma Agrária — Questão de Consciência, em 1960, travou-se dentro dos próprios arraiais católicos acesa luta entre
agro-reformistas e anti-agro-reformistas. Foi no decurso de tal luta
que emergiu no cenário nacional, levantando alto o estandarte
do anti-agro-reformismo, a Sociedade Brasileira de Defesa
da Tradição, Família e Propriedade — TFP, hoje conhecida no País inteiro.
D. Antonio de Castro Mayer, Bis po de Campos, um dos co-autores de RA-QC, defendeu com firmeza
a doutrina tradicional da Igreja sobre a propriedade privada, con substanciada
em
dois
Manda
mentos do Decálogo.
Em Belo Horizonte,o Secretário da
Agricultura de Minas Gerais, Sr. Paulo Salvo, e líderes rurais con versam com o Prof. Plinio Corria de Oliveira antes da conferência na
Faculdade de Medicina da UFMG, em 1961.
&•
%
Título /
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Mais ainda, dis-
b) ademais, o autor verificou
Cabe, por fim, ponderar que,
crepa dos docu mentos pontifícios
discrepâncias da posição agro-
tendo em vista o volume e a
reformista da CNBB e de nume
densidade do temário sobre o qual
rosos Bispos brasileiros com rela
fora chamada a pronunciar-se a
ção aos ensinamentos dos docu mentos pontifícios;
venerável Assembléia,o tempo era escasso. Essa circunstância pedia
Afirmações gené ricas, documen tação escassa
O documento não representa o pen samento unânime
do
Episcopado
nacional
c) por fím, na apreciação das
um sistema de estudo e de debate
especialmente ágil, de maneira a situações de fato, o documento se proporcionar a cada Bispo meio contenta com afirmações genéri de elaborar e expor com toda a cas, apoiadas por vezes em docu profundidade a respectiva opi mentação escassa, e o mais das nião. Segundo alguns Srs. Bispos, vezes destituídas de documenta o processo adotado não preencheu ção (10). cabalmente esse requisito. Em conseqüência, o autor se Importa, aliás, observar, de passagem, que o documento não sente no direito, enquanto cató obteve aprovação unânime dos lico, de combater a Reforma APrelados reunidos em Itaici. O grária proposta no documento Igreja e problemas da terra. Um documento recebeu 172 votos fa voráveis e quatro contrários, ten direito que ele tem na conta de do havido ainda quatro votos em verdadeiro dever. Esse dever, ele o cumpre com branco (11). Além disso, D. An tônio de Castro Mayer, que tranqüilidade de consciência, ao não esteve presente à votação,fez apresentar ao público o presente em plenário um pronunciamento livro, pois está seguro de agir, contrário ao documento. Por ou desse modo, segundo os ensina tro lado, observa-se que, sendo mentos e as praxes tradicionais da então cerca de 330 os Prelados Santa Igreja. com direito a voz e voto no seio da De outro lado, como as con CNBB, há uma considerável par clusões a que chegou podem inte cela de Bispos cuja posição em ressar, a justo título, a incontá relação ao documento não se co nhece (12). (10) Sobre estes e outros aspectos econô micos do recente documento da CNBB,cabem numerosas e graves objeções (cfr. neste mesmo volume. Título II, Carlos Patrício del Campo,
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas).
(11) Nas deliberações da CNBB que acarre tem conseqüências jurídicas, é necessária a aprovação de dois terços dos membros por
direito comum, isto é, todos menos os resignatários (cfr. Estatutos da CNBB,art. 10, **a**). Seria de esperar que, num documento como este, o qual, embora não tenha conseqüências jurídicas, estava destinado a alcançar grande repercussão nacional, o número de votos favo
ráveis atingisse pelo menos esses dois terços, o que não aconteceu.
(12) Cumpre notar que não foi objeto de votação, na reunião de Itaici, a questão de saber se a CNBB deseja em tese uma Reforma Agrária, mas se ela aprovava o documento Igreja e problemas da terra. Ou seja, o tipo de Reforma Agrária nele proposto, bem como a argumentação com que fundamentá-lo. O re sultado da votação permite afirmar que cinco
Bispos não aprovaram o documento. Se por 34
veis outros católicos cada vez mais
desconcertados com o papel de máxima responsabilidade que a CNBB e também,a título pessoal, tantos Bispos, vão assumindo na luta em favor da Reforma Agrá ria, o autor está persuadido de agir conforme os interesses do País e da civilização cristã, dando divulgação ao presente estudo. Como Presidente do Conselho Nacional da Sociedade Brasilei
ra DE Defesa da Tradição, Fa mília E Propriedade, cumpre o
autor a grata, mas também impe riosa obrigação de assim proceder. serem contrários a qualquer Reforma Agrária in genere,ou por serem contrários in concreto à Reforma Agrária proposta em Itaici, ou sim plesmente por serem contrários ao sentido marxistóide da argumentação, é pergunta para
a qual o simples fato da votado contrária não proporciona resposta.
O autor enquanto católico: direito e dever de comba
ter a Reforma Agrária
Pensando nos inúmeros católi cos desconcer tados
Posso e devo ser contra a Reformo Agrária — Considerações doutrinárias
Pois um dos valores que a enti dade tem por fim defender e incre mentar é o princípio da proprie dade privada.
Prólogo
pontifícios, o suficiente para indi car a linha geral da doutrina tradicional da Igreja sobre o as sunto.
O leitor desejoso de aprofun de oficial da TFP mento da ofensiva agro-refoiinis- dar a matéria poderá encontrar ta, a TFP não se manteria à altura maior número de textos ponti Tomada de atitu-
Assim, diante do recrudesci-
de sua missão se se recolhesse a
fícios, e ainda outros esclareci
um cômodo silêncio. Bem pelo
mentos nos livros Reforma Agrá ria — Questão de Consciência e
contrário, ela desmereceria das
gloriosas tradições que tiveram origem no decurso da luta ini ciada com a elaboração,e depois a difusão, por todo o território na cional, do best-seller Reforma Ágrària — Questão de Consciência^
Declaração do Morro Alto (14), os quais formam assim com Sou católico: posso ser contra a Re
forma Agrária? uma tríade que contém o essencial do pensamento da TFP sobre o assunto.
no período 1960-1964. A TFP
participou com galhardia na am pla polêmica que a obra então P. Conteúdo do ocasionou (13). presente estudo Assim, com a aprovação do Conselho Nacional da TFP, o presente estudo tem o caráter de O presente estudo contém, publicação oficial da entidade. pois, uma análise, de caráter dou trinário, do documento Igreja e problemas da terra em função dos 8. "Sou católico: posso ser contra
a Reforma Agrária?",
"RA-QC e "Declaração do Morro Alto" Diversas matérias tratadas no
presente estudo comportariam ci tação de numerosos documentos
do Magistério tradicional dos Pa pas, bem como explanações dou trinárias extensas.
premo Magistério eclesiástico. Em Apêndice, é publicada a relação dos Bispos brasileiros fa voráveis à Reforma Agrária, com a indicação dos documentos em que eles se pronunciam nesse sen tido. Acompanham a relação ma pas das Regionais da CNBB nos quais vêm assinaladas as Dioceses
terra
Apêndice:
pro
nunciamentos dos
Bispos em prol da
Reforma Agrária
cujos Bispos se pronunciaram em Itaici, ou em outros ensejos, favo ráveis à Reforma Agrária. O leitor fica assim em condi
ções de medir a intensidade e a
sito certo número de exemplares de uma e outra obra, e está habilitada a vendê-las aos Título I.
mento Igreja e problemas da
ensinamentos tradicionais do Su
Pareceu entretanto preferível amplitude do impulso dado ao não inserir nele todos esses vários agro-reformismo por um setor nu elementos, que sem dúvida o enri meroso e altamente colocado do queceriam, mas,de outro lado,lhe Episcopado nacional. O que toma dariam um volume incompatível clara a assertiva de que esse setor com a habitual carência de tempo constitui por excelência, entre as do público. Assim as explanações demais correntes agro-reformistas doutrinárias se cingiram ao mí (comunistas, socialistas e outros). nimo necessário, seguidas também de um número pequeno de textos (14) A Editora Vera Cruz possui em depó (13) Cfr. Documentação 1, em anexo ao
Análise do docu
interessados (Rua Dr. Martinico Prado 246, CEP 01224, São Paulo). 35
Utilidade:
com
provar que a Re
forma Agrária só vai para a frente impelida por uma parcela do Epis copado
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
a força capaz de levar o agroreformismo à vitória em nosso
País (15).
O documento Igreja e proble mas da terra esboça uma argu
Título I
tade de dizer, esquivos — que não comportam argumentação. Cir cunstância que confere à sua relação apresentada em Apêndice, um interesse meramente documen
tário. Mas muito importante en quanto tal, pois põe de relevo o dele um comentário articulado. Os empenho, por assim dizer torrendemais pronunciamentos são, a cial, de uma ponderável parcela um tempo, tão categóricos e tão do Episcopado,em implantar uma sucintos — ter-se-ia antes von Reforma Agrária no Brasil. mentação em favor da Reforma Agrária. Por isto foi possível fazer
(IS) E não só ao agro-reformismo, como à
tenha coletivizado todos os seus meios de
reforma urbana, segundo a promessa — ou
produção, conforme as taxativas exigências do
antes, a ameaça — enunciada pelo documento
PCB.
(n.° 4).
A posição reformista do documento da CNBB em matéria rural e urbana impõe o receio de que o mesmo grande setor episcopal, efetuadas essas duas reformas, assuma a propulsão de mais esta terceira, que delas é mero
Feitas essas duas reformas fundiárias —
agrária e urbana — restará tão-só a reforma empresarial (participação obrigatória dos tra balhadores manuais na propriedade, na gestão e nos lucros da empresa) para que o Brasil
36
correlato.
COMO A CNBB OPTOU
PELA REFORMA AGRÁRIA O Sr. D. Alberto Gaudèncio Ramos, Ar cebispo de Belém do Pará e participante da reunião de Itaici, assim explica como foi es tudado e aprovado o documento Igreja € problemas da terra. Quando se escrever a História da Igreja no Brasil neste fim de sé culo, o depoimento do Prelado será tido, por certo, como documento fundamental (os subtí tulos são do Editor).
Novos círculos de estudo são feitos, já agora constituídos pelos bispos de um mesmo re gional".
COMO SE VOTA
"Há ainda debates em plenário para desta ques ou correções, e a aprovação é feita, item por item, mediante o levantamento de um cartão verde, amarelo ou vermelho. Os secretários dos
Regionais contam as exibições dos cartões e vão COMO SE ESTUDA
levar o resultado, em voz baixa, à mesa da
secretaria, e nisso pode haver uma margem de "De inicio, devo esclarecer como são apro- equívocos ou distrações".
\
vados esses documentos da CNBB. Algum
I 1
tempo antes da Assembléia, cada bispo recebe um ante-projeío do assunto a ser tratado. NA PRESSA FINAL... Confesso de minha parte, que raras vezes "A TENDÊNCIA É PARA APROVAR disponho de tempo para estudá-lo a fundo. TUDO O QUE APAREÇA" Quase sempre o faço já durante a viagem de avião. E como eu procedem muitos outros "A aprovação de tão importantes documen bispos atarefados". tos éfeita, quase sempre de afogadilho, quando
A COMISSÃO QUE, A SEU [PRÓPRIO] CRITÉRIO, ACEITA OU RECUSA"
muitos bispos já partiram de madrugada, quan do todos estão fatigados e alguns olhando os relógios,já de olho no ônibus para a rodoviária ou para o aeroporto... Está claro que, nestas
circunstâncias, a tendência é para aprovar tudo o que aparece.
"Aberta a assembléia, os diversos temas vão
Saímos todos de lá sem termos o texto
sendo expostos sucintamente por um relator, depois do que todos vão para os "grupos integrados", constituídos de bispos, sacerdotes, religiosas e leigos, dos mais diversos pontos do Brasil. Uma comissão especialmente designada recolhe as observações que procedem dos diver sos círculos e elabora nova redação, que depois é mimeografada e distribuída. Em plenário, mui tos solicitam a palavra para elucidar alguns pontos, pedir correções, dar ênfase a outros pontos, etc. Tanto essas intervenções orais como as escritas são encaminhadas à comissão que exaustivamente seleciona e agrupa as opiniões similares e, a seu critério, as aceita ou recusa.
definitivo, pois algumas modificações são intro duzidas na última hora, e o conjunto ainda está submetido a um aperfeiçoamento redacional".
CRÍTICAS
"Não se pode,por conseguinte afirmar que se compreende 'a atitude dos bispos que, a exemplo de D. Luciano, se eximiram de assiná-lo'. Nin
guém assinou documentos. Apenas sefirmaram as folhas de presença. Seria difícil obter unani midade de pensamento, em questões não doutri nárias, de perto de 230 cabeças. Por isso o meu ^■1
combativo e inteligente amigo, D. Luciano MÃO À PALMATÓRIA
Cabral pode afirmar, talvez, que não concorda com todas as expressões, com todos os argu mentos, até mesmo, com todos os acontecimen
"Podemos dar a mão à palmatória reconhe
cendo as deficiências de um trabalho feito da
maneira acima relatada. Porém, mesmo que vermelho, a alguns pontos, masfui vencido pela haja algum dado inexato, que nem todos os latifundiários mereçam nossas censuras, espera maioria. Está agora o documento sendo bombardea mos que, pelo menos, o documento valha como do pelos economistas, pelos capitalistas, pelos um alerta aos que porventura erraram, e como agrônomos, pelos governantes ou por outras um protesto aos abusos que realmente estão pessoas competentes. Cumpre não esquecer que sendo cometidos em algumas partes do pais" não pretendem os bispos dar lições técnicas aos (artigo Terra a terra, na secção "Recanto do Pastor", "Voz de Nazaré", 16-3-80, 1.® página). entendidos*'. .... tos aludidos. Eu também levantei o meu cartão
...■
i
Parte I
Capítulo I
A CNBB encaminha o País para a luta de classes e a revolução social? Perplexidade dos católicos e da opinião pública em geral
O insucesso da
Reforma Agrária pleiteada no iní cio da de 60
década
Aproveitando experiência
variada e indefinida. Porque se, de um lado, apresenta tópicos muito L O método de exposição inquietantes, de outro lado abun do documento dam nele tópicos confusos (al guns, é verdade, só à primeira Antes de entrar na análise do vista...). Como nele se encontram, documento Igreja e problemas da também,algumas afirmações tranterra (o qual, daqui por diante, qüilizadoras para os fazendeiros será designado pelas iniciais de seu (cfr. IPT, n.os 74, 83, 89 e 101). título IPT e citado pelo número Estas últimas, na realidade, se dos seus parágrafos)importa apre bem examinadas, mostram-se con sentar dele uma visão global. A tudo imprecisas e inconsistentes. necessidade disto decorre do pró Assim, no total, embora o prio método de exposição usado IPT, bem analisado, insinue ou pelo IPT. até pleiteie formalmente a Refor Com efeito, o insucesso da ma Agrária socialista, igualitária e Reforma Agrária claramente so confiscatória, em um ou outro cialista, igualitária e confiscatória ponto afirma, de algum modo, pleiteada por numerosos membros princípios tradicionais, o que dá do Episcopado e órgãos da CNBB ao leitor a impressão de que o no início da década de 60, tornou
documento se contradiz. "De al
aconselhável, para fazê-la preva lecer agora, evitar novo sobres salto geral da classe dos agri cultores (cfr. Prólogo, 6).
gum modo", é bom insistir, ou
Assim, o texto do IPT não se
melhor, "a seu modo", pois aferidas cuidadosamente uma por uma suas palavras, a contradição desaparece, e o leitor se vê em
apresenta com a afirmatividade presença de um pensamento que, ostentatória que caracteriza os até quando ambíguo, se apresenta pronunciamentos agro-reformistas pejado de insinuações esquerdistas. dos anos 60. Pelo contrário, podeSendo tão ambíguo o IPT,em .ütu. apesar de se dizer que, à primeira vista, ele que pode sua publicação servir à ombíguo e condeixa nos leitores uma impressão causa da Reforma Agrária? — O 41
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
IPT é próprio a ser explanado por líderes agro-reformistas a eclesiás ticos ou leigos, em simpósios, cursos ou círculos de estudo para pregadores, diretores de obras e associações católicas etc., já pre dispostos a não se chocarem co-
Título /
2. Perplexidades suscitadas pelo documento
A leitura do IPT desperta nos espíritos atilados uma pergunta a assim informados, podem estes, que o presente estudo se propõe por sua vez, apresentar verbal responder. mente ao público católico, em Uma das etapas características nome da CNBB, o pensamento da via pela qual a estratégia comu audacioso que a esta parecia im nista leva as massas para a luta de prudente enunciar com toda a classes e a revolução social é a clareza no IPT. Reforma Agrária. Se alguém do público estra O lançamento da "idéia bom nhar esse pensamento, sempre se ba" da Reforma Agrária — se rá fácil tranqüilizá-lo, alegando apoiada por uma poderosa publi que se trata de interpretação pes cidade — projeta na vida rural de soal e pouco matizada, do Sacer um país toda espécie de estilha dote ou do leigo de esquerda ços: discussões, tensões, reivindi encarregado de comentar o IPT,e cações, contestações. A atmosfera não de ensinamentos da CNBB. se satura assim de germes de De maneira que o IPT, muito discórdia. Torna-se viável para efíciente para soprar por debaixo um partido comunista promover, do tapete a indignação agro-refor- a partir daí, as greves, os aten mista, é também muito útil para tados e as agitações que carac anestesiar e adormecer a vigilân terizam o auge da luta de classes e cia das classes a quem essa indig conduzem à revolução social. nação agro-reformista deve alvejar. É pois inteiramente explicável Sem embargo,como se verá no que o Partido Comunista Brasi decurso deste trabalho, o IPT, leiro tenha feito da Reforma Anhecendo-lhe bem os meandros. E
Socialismo e marxismo no
documento
fortemente socialista em sua con-
grária um de seus temas predi
textura geral, deixa entrever, em letos (1).
vários tópicos, uma indisfarçável influência especificamente marxista. Não parece que o pensamento socialista — máxime tão radical
(1) Na sua Carta aos comunistas, lançada cm março de 1980, Luís Carlos Prestes declara:
"A solução dos problemas fundamentais da
Nação exige transformações sociais profundas,
— e até marxista, seja participado que só poderão ser iniciadas por um poder que represente as forças sociais inte por cada um dos Srs. Bispos que efetivamente ressadas na liquidação do domãtio dos mono aprovaram o IPT. Presumivel pólios nacionais e estrangeiros e na limitação mente, tal pensamento se esguei- da propriedade da terra, com o fim do lati rou em determinada altura da
elaboração do IPT, através de
certos pólos de influência. A que altura ocorreu isso? Que pessoas ou grupos constituem esses pólos de influência? Até que ponto estão essas pessoas conscientes do pen samento que veiculam? Estas são
questões alheias ao objeto do pre sente trabalho. Pois este visa ana
lisar o IPT segundo seu texto
fúndio"("Voz da Unidade", n.° 2, de 10 a 16 de
abril de 1980, p. 4). Comentando essa declaração do ex-secretário-geral do Partido, o "Coletivo de Diri gentes Comunistas" observa que "essa formu lação, usada por Prestes,foi elaborada pelo CC [Comitê Central] e encontra-se em seus do cumentos. Portanto, ele apenas reafirma o que está expresso em resoluções do CC ao desen volver a linha política do VI Congresso"("Voz da Unidade", n.° 8, de 22 a 28 de maio de 1980, p. 13).
Entretanto, para marcar a sua diferença em relação ao camarada Prestes, os novos diri gentes do Partido esclarecem que esse pro
definitivo e oficial. E nada mais. grama (a liquidação do domínio dos mono42
Etapa caracterís tica da estratégia comunista: a Re
forma
Agrária
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Reforma
Agrá
ria, essencialmen
te uma Reforma Fundiária no campo
Ora, o IPT conclama todas as propriedade urbana... sociedade coortes católicas do Brasil para a inteiramente igualitária. O IPT ação em prol de uma Reforma parece tender assim para a reali Agrária. zação da meta socialista, e tam Tal Reforma Agrária, o do bém comunista, defínida no pró cumento a concebe essencialmente prio programa do PC russo: "O como uma Reforma Fundiária, a comunismo é um regime social ser executada sob a influência do sem classes, com uma únicaforma princípio de que,do ponto de vista de propriedade dos meios de pro sócio-econômico, a pequena pro dução — a propriedade de todo o priedade de dimensões familiares povo — e com Uma plena igual constitui o padrão ideal, aplicável dade social de todos os membros indiscriminadamente em todo o da sociedade" (2). território nacional e para todas as Isto posto, é forçoso que um atividades agrícolas ou pecuárias. observador atento da realidade Dessa concepção utópica da mini- nacional se pergunte até que pon propriedade-panacéia resulta a to o IPT está eivado de influên tendência invariável do IPT para a cias doutrinárias marxistas. E fragmentação fundiária. Sempre também até que ponto favorece a que ele cogita de alterar a estru tática comunista. tura fundiária, é no sentido de Tais perguntas interessam an fragmentar propriedades (cfr. Co tes de tudo ao católico culto e mentário ao n.o 89). O que só não zeloso. Formado pelos documen se pode dizer com referência à tos tradicionais do Supremo Ma
minipropriedade Ademais, a CN BB reivindicará também uma re
forma fundiária nas cidades
Capitulo J
familiar
As perguntas ine vitáveis
a) do católico zeloso e esclare cido
que, gistério da Igreja na inarredável
fragmentada, se pulverizaria. "Fragmentarista" convicto, o IPT não se contenta, aliás, com
oposição ao comunismo, é com preensível seu desconcerto ante a hipótese de estar a CNBB enca
reduzir a estrutura rural brasi minhando o País precisamente leira a uma galáxia de minipro- pelas veredas há tanto tempo priedades. Ele manifesta empenho apontadas sem sucesso pelo Par
em alterar também "o regime de tido Comunista Brasileiro. E isto propriedade urbana" (n.° 100). em direção à luta de classes que é, Isto é, ele pleiteia também uma segundo os estrategistas do comu reforma fundiária nas cidades. Es nismo, a condição fundamental ta será, presumivelmente, um co para a vitória do credo vermelho.
rolário urbano da Reforma Agrá ria (isto é,fundiária^ no campo). Ou seja, tudo leva a admitir que a Reforma Urbana importará em
O católico esclarecido se pergun tará então, a justo título, se a doutrina exposta e as medidas práticas reivindicadas pelo IPT estabelecer nas cidades também a conferem com o verdadeiro pensa minipropriedade. Quais as dimen mento da Igreja. sões desta? A julgar pela mini As mesmas perguntas interes propriedade rural, sua congênere sam também a todos os proprie citadina comportaria tão-só o es tários de imóveis rurais direta paço necessário para que uma mente concernidos pelo IPT. E família a habitasse e com suas também aos proprietários de imó próprias mãos a mantivesse limpa. veis urbanos, aos quais o docu Minipropriedade rural, mini mento se apresenta como prespólios e do latifúndio)"corresponde a umafase
(2) Apud E. Modrzhínskaya-Ts. StepaniAn
ulterior da vida política brasileira, que certa mente verá chegar o seu tempo, após a derrota
(direção), Elfuturo de Ia sociedad / Crítica de
concreta da ditadura"("Voz da Unidade", n.®
burguesas contemporâneas. Editorial Progreso,
8, de 22 a 28 de maio de 1980, p. 13).
Moscou, 1973, p. 374.
Ias concepciones político-sociales y filosóficas
43
b) do proprietá rio rural ou ur bano
o lançamento da "idéia bomba" da Reforma Agrária — se apoiada por uma poderosa publicidade — projeta na vida rural de um país toda espécie de estilhaços: discussões, tensões,
reivindicações, contestações. Á atmosfera se satura assim de germes de discórdia. Torna-se, assim, mais fácil para
um partido comunista promover, a partir dài, as greves, os atentados e as agitações que caracterizam o
auge da luta de classes e conduzem à revolução social.
Movidos por líderes fílocomunistas, camponeses mar
cham pelas ruas de Recife em apoio a Fidel Castro, no
auge da agitação agrária promovida pelas Ligas Cam ponesas, em 1962.
o Brasil fica exposto, desta maneira, ao gravíssimo risco de uma luta de classes candente
— bem exatamente como a quer o comunismo — seguida, dia mais dia menos, pela capitulação dos proprietários.
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Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
ságio das nuvens que se acumu em uma análise da realidade bra larão sobre suas cabeças amanhã. sileira e em argumentação doutri A esta altura, outra pergunta nária nas quais é clara a influên inevitável se põe aos proprietá cia marxista; rios: como explicar que eles e seus
2.°) Pela força das coisas, e
antecessores tenham exercido, até especialmente na atual conjuntura há algum tempo, o direito de nacional e internacional, essa re
propriedade com todo o apoio da forma (fundiária ajuda possante Igreja, e agora vêem erguer-se mente yt. consecução do alvo co contra tal direito — ou seja, con munista^ isto é, a luta de classes tra eles e suas famílias — a CNBB? seguida da revolução social. Nesse Em nome da Igreja, sim, pois que sentido, a CNBB se conduz como o documento se intitula precisa "companheira de viagem" do co mente Igreja e problemas da terrcL munismo internacional;
No IPT, análise
e argumentação claramente eiva das de marxismo
Possante
ajuda
para a luta de classes e a revo
lução social
e foi aprovado por 172 Bispos. É
explicável que aflore então mais uma pergunta no espírito dos pro prietários: onde está a imutável Igreja de Jesus Cristo, com os Pastores Supremos que sempre lhes ensinaram a legitimidade e a santidade do instituto da proprie dade individual, ou com a CNBB? c)do homem pú blico e dopolítico
3.(^) Caso não haja oposição de monta contra essa instrumentali
zação da influência da CNBB pelo PCB, é muito de recear que o Brasil seja arrastado — pelo pró prio fato de ser uma nação cató
Aos homens de Estado e aos
anos, o comunismo reivindicou
CNBB.
A estas importantes perguntas Por sua vez, a análise desse visa responder o presente estudo. texto é aqui feita em duas dis tâncias:
3. Resposta do presente livro Nele se demonstrará que:
1.®) panoramicamente, consi
derando o IPT em sua globalidade (Caps. IV, V e VI); 2.®) em "dose", estudando-lhe
detidamente, e quase palavra por 1.°) A reforma fundiária rural palavra, os tópicos mais significa é reivindicada pelo IPT com base tivos (Parte II).
46
caso ninguém se oponha
lica — à conseqüência extrema aventada no parágrafo anterior.
Estas graves afirmações resul políticos — como aos católicos tam de uma análise detida do esclarecidos e aos proprietários — presente panorama nacional e in ocorrerá ainda outra indagação: ternacional (Cap. II), das táticas terá a CNBB suficiente influência de exposição e de persuasão carac sobre a opinião pública para obter terísticas do proselitismo comu que o País seja sujeito a uma nista (Cap. III) e, por fim, do reforma a qual, durante cinqüenta próprio texto do documento da em vão?
Para onde o Bra sil será arrastado
As linhas gerais da demonstração
Capítulo II
A atmosfera política em que o documento da CNBB apareceu — a "abertura"
ceira e industrial. À medida que o
1. O golpe de 1964 — A luta contra a subversão Razão do golpe
perigo comunista lhes parecia mais posto sob controle, o agastamento clerical e plutocrático contra a repressão se foi tomando mais expansivo. Em seu conjunto,essa situação
O golpe de 64, apoiado por resultava de fatores fáceis de ca esmagadora maioria da opinião racterizar. pública, instaurou no Brasil um As Forças Armadas reprimiam regime político de caráter semidi- ativamente todas as tentativas de tatorial. A razão do golpe estava reestruturação do Partido Comu no descontentamento suscitado nista Brasileiro (PCB) e do Par pelo governo deposto, o qual era tido Comunista do Brasil(PC do caracteristicamente liberal-demo-
B), bem como de outros cor-
crata em matéria política, mas de púsculos de extrema-esquerda posição sócio-econômica flloco- (trotskistas, maoístas etc.). Como munista. Ademais, vinha sendo foi dito, elas preveniam também, Repressão das or ganizações comu nistas
clandes
tinas
fortemente acusado de* corrupto. ou desarticulavam, todas as cons Vitoriosa a Revolução (assim pirações terroristas. ficou conhecido o movimento de
1964), as Forças Armadas promo veram uma repressão sistemática das organizações comunistas de caráter subversivo, que continua vam a atuar na clandestinidade.
Surgem descon tentamentos
Sem embargo, os comunistas não-violentos gozavam de não pe quena margem de liberdade. EraIhes dado manter livrarias lite
ralmente repletas de livros comu nistas vendidos a preços descon-
Essa repressão foi causando certantemente baixos. Muitos co em quase todos os setores da munistas se infiltraram como pro intelligentsia^ e notadamente nos fessores ou como alunos na rede
meios de comunicação social, irri tação crescente. Fato análogo ocorreu em importantes ambientes do Clero e do laicato católico, bem como da alta burguesia finan
de ensino universitário e secun
dário, tanto público quanto par ticular (inclusive católico). Nos meios de comunicação
social(TV,rádio e imprensa), bem 47
A propaganda comunista agrava os
descontenta
mentos
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo /
Ademais, sob o regime inau gurado em 1964, acentuou-se for bém tiveram eles impressionante temente a participação do Estado
como nos meios artísticos (tea trais, cinematográficos etc.), tam
na economia (2).
penetração.
Tendênciassodalistas se manifeszam
em
Conjugado com esse êxito táTodas essas circunstâncias perde índole especificamente co mitem compreender que, ao cabo j ^ ,
meios
não comunistas
..
. ..
r» '
mumsta, delmeou-sc no Pais um avanço sensível de correntes inte lectuais socialistas. A densidade
de cargas socialistas das respec tivas ideologias era muito variá vel. Mas todas desenvolviam um
dos anos, as tendências liberal e
esquerdista, conjugadas, tenham conseguido levantar um clamor publicitário quase geral, contra o
regime nascido do golpe de 1964. Tal clamor não encontrou rea
impulso comum contra o regime político vigente. Esse impulso comum contou, em várias conjunturas, com o reforço do importante partido de oposição, o MDB (Movimento
ção correspondente no próprio campo publicitário. Vigorosa na
ARENA (Aliança Renovadora Nacional). Ambos esses partidos — liberal-democráticos no campo polí
coordenar seus próprios admira
repressão policial, a Revolução de 64 não o foi em igual grau na ação persuasiva. Nem soube ela arti cular — em face do largo e com Democrático Brasileiro), como, a- plexo panorama nacional — um liás, também de setores do pró programa positivo global, conce prio partido governamental, a bido e justificado em termos de dores, como de atrair até a aten
ção e a simpatia de elementos da intelligentsia nacional. tico, convém salientar — nutriam, O clamor publicitário oposi em graus variáveis, a tendência de cionista encontrou pois caminho afastar do poder o elemento mi livre para progredir. E tão signi litar, e de confiar inteiramente a ficativamente, que propiciou a pe direção do Estado à chamada netração do esquerdismo até em '"classe política", da qual faziam segmentos da mais opulenta bur parte. guesia. Em setores de um e outro Quanto ao Clero, de há muito partido — sobretudo no MDB — tempo vinha ele sendo minado por a posição política liberal-demo- influências progressistas e socia crática não impedia a penetração listas (3). É óbvio que este fenô de acentuadas tendências socia meno, todo ele ideológico e cultu listas em matéria econômica. ral, não podia ser contido eficaz Aliás, a essas tendências não mente pela simples atividade re foram imunes os próprios Gover pressiva do regime revolucionário nos emanados da Revolução de contra eclesiásticos suspeitáveis de 64. O primeiro Presidente revolu cionário, o insigne e pranteado n.° 4.504, de 30 de novembro de 1964. Entre tanto, até agora teve poucas aplicações, todas Marechal Castello Branco, pro elas feitas com a alegação de que visam corrigir mulgou,já em 1964, o Estatuto da situações especificas. (2) A esse respeito, o Presidente do Banco Terra, que consubstanciava reivin Central, Sr. Carlos Geraldo Langoni diz o dicações agro-reformistas das mais seguinte: "É interessante recordar que a parti ousadas, do governo deposto (1). cipação do Estado na poupança financeira se elevou de 48% no triênio 1971-1973 para cerca
(1) Cfr. Documentação II — O Direito de propriedade e a livre iniciativa no projeto de
emenda constitucional n.° 5164 e no projeto de Estatuto da Terra; Documentação III — Mani
festo ao povo brasileiro sobre a reforma agrária.
O Estatuto da Terra foi aprovado pela lei 48
de 72% em 1974-1976"(A política econômica do desenvolvimento, Apec Editora, Rio de Janeiro, 1978, p. 73). (3) Cfr. Plínio Corrêa de Oliveira, A Igreja ante a escalada da ameaça comunista —
Apelo aos Bispos silenciosos. Editora Vera Cruz, São Paulo, 4." ed., 1977.
Forma-se um c/o
Publicitário
contra a Revolu-
de i964 —
Carência de ação
Capitulo //
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
envolvimento em atividades sub
ganho de terreno na opinião pú
versivas. E as reações surgidas no blica. Tempo houve em que tal próprio campo católico contra es relação de causa e efeito foi real.
A "força de im pacto"
esquer
dista
sa perigosa infiltração, se bem que fossem objeto do aplauso de uma ou outra figura proeminente do regime, não foram apoiadas por este para qualquer contra-ação. Explica-se assim a formação dos setores religioso, plutocrático e publicitário que constituem a "força de impacto''da esquerda no Brasil.
Pari passu, na classe militar, e
A "abertura"
Ceticismo do "homem da rua"
em relação à pu blicidade
até em não raros elementos chega dos do Governo, foi crescendo o número dos que reputavam neces sário fazer concessões graduais às exigências da oposição. O Presidente da República Ge neral Ernesto Geisel (1974-1979),
Mas à medida que a grande publi cidade moderna se desdobra em técnicas cada vez mais eficazes em
bloquear a atenção e pressionar a capacidade de análise do "homem da rua", vai-se delineando neste um ceticismo defensivo em relação
a toda publicidade.
Ceticismo
muito explicável, porque feito de cansaço, tédio e desconfiança. No Brasil, tal fenômeno se mostrou com clareza por ocasião da "abertura".
Uma prolongada e excelente publicidade preparara o povo pa ra acolher como heróis os brasi
leiros a quem a "abertura" fran queava as portas da prisão e do exílio. Mas as expectativas nas cidas dessa preparação publicitá ria só foram confirmadas em pro porções diminutas. Nem ex-prisioneiros políticos, nem antigos exilados conseguiram reunir em
cumprindo aliás o prometido des de 1964, por todos os seus ante cessores e por ele próprio, iniciou a caminhada rumo à liberalização do regime. Essa caminhada, processiva e gradual, passou a ser designada como "abertura polí torno de si as manifestações entu tica". A censura política cessou. siásticas que o esforço publicitário Os prisioneiros políticos foram parecia garantir. O povo brasileiro anistiados. Os exilados receberam os acolheu tão-só com a simpatia permissão para retornar ao solo compassiva que não se recusa a pátrio. A abertura se tomou, as toda pessoa cujo infortúnio cessa. sim, total, ou quase tanto. Simpatia esta não isenta,em geral, Considerável parte do proces de certa desconfiança. so de abertura se realizou sob o Esses fatos denotam que, só impulso do atual Presidente da por si, os agentes de subversão República, General João Batista clássicos (PCB, PC do B, intellU Figueiredo, que sucedeu ao Pre gentsia esquerdista, snobs de exsidente Geisel. trema-esquerda, "companheiros Das liberdades assim obtidas, de viagem", socialistas, "inocen a "força de impacto" esquerdista tes úteis" etc.) dificilmente arras procura tirar todas as vantagens. tariam o Brasil — dentro de um Não parece, porém, que os futuro próximo — para a luta de estrategistas do comunismo inter classes que tanto almejam. So nacional — de longe os mais mente circunstâncias nacionais ou experientes e argutos participantes internacionais extremamente críti dessa "força de impacto" — te cas lograriam produzir no País nham sabido prever bem a conjun condições que proporcionassem tura em que os colocaria a reação ao dispositivo clássico da subver inteligente do povo brasileiro. são esquerdista uma importância Aqueles estrategistas parecem maior. ter imaginado que o êxito publi Assim, o comunismo interna citário produz necessariamente cional não dispunha de outro re49
Recepções pouco entusiásticas para
os antigos exila dos e ex-presos políticos
Insucesso dos
agentes de sub versão
clássica
A última carta do comunismo inter
nacional: a Hie
rarquia eclesiás tica
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
curso para estimular, a breve pra zo, a subversão em nosso Pais,
senão tentar pôr no jogo uma carta de grande valor estratégico, de si inteiramente distinta dos
dispositivos de subversão clássi cos, e até oposta a ele. Esta carta é a Hierarquia eclesiástica, ou, mais precisamente, a Conferência Na cional dos Bispos do Brasil (CNBB). Os dispositivos Salta aos olhos que a CNBB
da esquerda dássicaem confronto com os quadros institucionais da Igreja
procura mobilizar em seu favor a \ -na * i- • larga limuência rehgiosa e o prestígio histórico da Igreja, a qual possui uo espíríto público um
2. A "esquerda católica" emerge como força de primeira linha Das forças propulsoras da esquerda só restava, pois, como
a ponta do ice-
verdadeiramente eficaz, o setor
católico. Até aqui, este se consti tuía à maneira de um iceberg em
que Bispos como D. Helder Câ mara, D. Fernando Gomes, D. Antonio Fragoso, D. José Maria Pires, D. Cândido Padim, D. Val
enraizamento e uma f^orça de im dir cilheiros, D. Adriano Hipólipacto que,em mais de meio século to, e leigos como Tristão de de ação, nem de longe os disposi Athayde e Cândido Mendes for tivos de esquerda clássica obtive mavam a parte emergente dele. Qu
seja, a parte menos volumosa. A maioria da "esquerda católica" preferia — e com quanta razão! — atuar na penumbra ou até na escuridão. A necessidade de pres dade entre as duas forças. Da tigiar a ofensiva esquerdista, du comparação resulta quanto lucra rante a campanha pró-abertura, ria Moscou se conseguisse utilizar foi levando à ribalta da oposição em seu jogo a totalidade dos novos elementos, e muito notadaelementos integrantes do quadro mente o Cardeal-Arcebispo de institucional católico: 228 Arqui São Paulo, D. Paulo Evaristo dioceses, Dioceses e Prelazias (4), Ams. A superveniência da necessi 133 Ordens e Congregações reli dade ainda maior, de disfarçar o giosas e Institutos Seculares mas fiasco esquerdista do período pósculinos e 339 femininos (5), esco abertura, levou para a ponta do las primárias e secundárias sem iceberg outros elementos até então conta, numerosas universidades, subjacentes e portanto pouco co incontáveis folhas católicas mé nhecidos do público. Daí a impor dias ou pequenas, bem como mui tante ofensiva episcopal pró-refortas livrarias catóÚcas, associações mas de base, que agora se observa. católicas de todo gênero, inclusive Tudo quanto emerge se toma a opinião púbuas recentíssimas e muito atuantes mais vulnerável, e perde com isso ^ofieou sabendo ram.
Basta, aliás, comparar os qua dros institucionais de que dispõe a Igreja, aos que possui a esquerda clássica, para perceber a dispari
Comunidades Eclesiais de Base
considerável parte de sua eficácia. l^t^rarSa^^eU-
(CEBs)— cujo número é estimado Com essa emersão, o panorama gioso em oitenta mil núcleos,arregimen nacional ficou parecendo mais tando um milhão e meio de ativis sombrio, porque a gravidade da tas(6)— etc. O que é,em confron situação se patenteou. Porém, pe to com isto, a esquerda clássica? lo próprio fato de tal gravidade se ter patenteado, ela se tomou al (4) Cfr. Diretório Litúrgico, Conferência gum tanto menos sombria. Pois a Nacional dos Bispos do Brasil, Brasília, 1981. opinião pública está sabendo, em (5) Cfr. Armário Católico do Brasil, CE- apreciável medida, quem é quem RIS, Rio de Janeiro, 1977. nos setores religiosos do Brasil de (6) Cfr. "Folha de S. Paulo", 29-6-80. hoje. 50
nacional
Capitulo II
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
A "esquerda ca tólica" se volta
quase inteira mente para o ter reno sócio-económico
Cumpre, aliás, observar, que a "esquerda católica" não assume — senão em ocasiões excepcionais — atitudes de contestação em maté ria de Religião. Neste campo, embora afeita às práticas religio sas mais progressistas, ela pouco se pronuncia. Ela se volta quase inteiramente para o terreno sócioeconômico, e deixa ver o intuito
2.°) Um plano de desenvolvi mento econômico ambicioso (o II Plano Nacional de Desenvolvi
mento), dependente de inversões governamentais consideráveis, in compatível — segundo a opinião
Um plano de de senvolvimento econômico incom
patível com a si tuação interna cional
de especialistas — com a situação econômica
internacional criada
com a crise do petróleo (9).
3.°) Uma política fiscal desti
final de estabelecer no País uma nada a obter os recursos que o
Política fiscal estatizante
sociedade sem classes (que passa plano de desenvolvimento exigia, ria, segundo pedem alguns, por a qual redundou: uma etapa intermediária, na qual a)em ampla estatização indus as diferenças de classe seriam in trial e centralização financeira; significantes). Essa meta é apre b)em notório estrangulamento sentada como a realização do do setor privado; ideal evangélico de justiça, que c) na criação de graves distor teria sido mais bem compreendido ções no sistema econômico. por João XXIII e por Paulo VI, A estatização das empresas
bem como pelo Vaticano II, do deu a estas tal autonomia de decisões, que o fato é apontado fices anteriores. hoje como uma das principais
que por Pio XII e todos os Pontí
causas da inflação, e também co
mo causa significativa dos proble
3. O panorama econômico
mas da balança de pagamentos e da dívida externa (10). nacional e internacional
e seus reflexos no terreno social
4.°) Uma política comercial e monetária ineficaz para conter os déficits crescentes da balança de
pagamentos e os aumentos de Fatores desfavo ráveis ao desen volvimento na cional
preços internos. Em tal emergência, fatores ne ceu largo progresso econômico em quase todos os terrenos da econo gativos mais antigos, com os quais mia, durante os quinze anos de a Nação já arcava com dificulda regime revolucionário. Porém, a de, passaram por sua vez a apre
É inegável que o Brasil conhe
partir de 1974, certos fatores des sentar um caráter cada vez mais favoráveis projetaram sua sombra oneroso. Assim, a dívida externa ultrapassa 50 bilhões de dólares. nesse quadro promissor: A crise petroli1.°) A cfisc cconômica intemaf^''° cional provocada pelo boicote do petróleo, seguido de aumento es petacular no preço desse produto (7), o que provocou um impressio
Por outro lado,a inflação voltou a (8) Em 1973, a balança comercial brasileira estava equilibrada, chegando a ter um supe rávit de sete milhões de dólares. No ano
seguinte, o déficit da balança comercial atingiu 4,6 bilhões de dólares (cfr. A economia brasi
nante déficit da balança comercial leira e suas perspectivas. Estudos Apec, ano XIV, Apec Editora, Rio de Janeiro, 1975, de nosso País (8). Anexo G-1).
(7) O petróleo bruto comprado pelo Brasil subiu de 20,72 dólares por tonelada em 1973, para 81,20 dólares por tonelada em 1974(preço FOB). Houve, pois, um aumento de 292% em apenas um ano (cfr. "Boletim do Banco Cen tral", vol. 16, n.° 1,janeiro de 1980, quadro VI, 14, p. 219).
(9) Cfr. Affonso Celso Pastore, Setor externo — Problemas e alternativas, in "Digesto Econômico", n.° 265,janeiro-fevereiro de 1979, p. 87. (10) Cfr. Título II, Posso e devo ser contra a
Reforma Agrária — Considerações Econô micas, Cap. III, 2, B, b.
51
Política comer cial e monetária
ineficaz
n H A». \; , i I v ;.; As Marchas da Família com
Deus pela Li berdade reuni ram em São Paulo e no Rio
de Janeiro (à
direita) multi dões nunca vis tas, e mostra ram a inconfor
<
-ÍM"
midade do po
íV V i». ,•
'•
;
vo brasileiro com a orienta
ção que o regi me janguista
imprimia ao País
i
í,
A derrocada do governo de João Goulart, em 1964, foi precedida por manifestações anticomunistas de esmagadora maioria da opinião pública. A razão dessas manifestações estava no descontentamento suscitado pelo regime deposto, o qual era caracteristicamente liberal democrata em matéria
política, mas de posição sócio-econômica
Jilocomunista.
m
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Política
econô
mica prejudicial à agricultura
atingir índices elevadíssimos, com ções doutrinárias e desatentos à as conseqüentes distorções que a realidade prática, se puseram ime acompanham (11). diatamente a propor suas utopias. E a respeito destas a controvérsia 5.°) Todo esse panorama ad se engajou. Exemplo característi quiriu contornos ainda mais gra co é a velha quimera — a que ves pela decisão dos governos certos setores procuram emprestar revolucionários de prosseguir na ares de plano moderno e audacio política econômica que vinha sen so — de uma Reforma Agrária do aplicada desde a II Guerra que fragmentasse em pequenas Mundial, tendente a favorecer o setor não-agrícola, em detrimento
Repercussões desfavoráveis no terreno social
Titulo l
áreas de tamanho familiar todas
as propriedades grandes e médias
da agricultura (12). Tais circunstâncias tiveram,
do País.
por sua vez, repercussões desfavo
elementos precisos para um plane jamento de tal maneira global, e além do mais sério e fecundo, das medidas que um reformismo abrangente pedisse. Isto é, faltamnos informações colhidas com pa ciência e objetividade científicas
ráveis no terreno social. A impres sionante concentração urbana ocasionada pelo surto industrial acarretou a multiplicação — em torno das grandes cidades — de favelas, isto é, de bairros inteiros
formados por sub-habitações. Em várias regiões agrícolas, a expan são demográfica, tão preciosa pa
Contudo, faltam no Brasil os
em todas as vastidões de nosso
território-continente (8,5 milhões de quilômetros quadrados). Sem
ra que nosso País cumpra a voca estas, as meras teorias — e a ção de ocupar com seu próprio fortiori as utopias — são tão ineficazes quanto rodas de veícu povo as imensas vastidões de que los girando a toda velocidade sem dispõe, não pôde ser aproveitada apoio no solo (13). devidamente pela estrutura agrá A situação pediria, antes de ria vigente, pois esta última,afeta tudo, um largo e solerte levanta da pela política econômica, não mento de realidades. Obtidas es
dispunha de recursos para tal. tas, as controvérsias teriam serie
dade e utilidade novas. E um
caminho poderia ser encontrado. 4, A crise econômica
Infelizmente, a carência dessas
cinde em alguma me instrumentalizada pela ii^ormações dida os ambientes responsáveis do
"esquerda católica" para fomentar
País. De um lado, os estudiosos, isolados em suas bibliotecas ou em
seus campos de experiência, com
meios insuficientes para promover todas as investigações amplíssimas Esses e outros fatores se conju que a situação exige. De outro garam para criar múltiplos proble lado, os utopistas de todo porte. Acresce que a argumentação mas sociais que a justiça e a o descontentamento
caridade cristãs não permitem que dos primeiros é necessariamente se mantenham insolúveis. Irrompem ospregoeiros de panctcéia—a Reforma Agrária
técnica, e por isto se exprime em
Como resolvê-los? Os pregoei-
(13) A presente afirmação, concernente a ros de panacéias, habitualmente uma reforma agrária global, cabe igualmente a voltados para meras considera- projetos de reforma que, embora não globais,
sejam tão amplos que vão além do que os dados (11) 113% em doze meses, de dezembro de 1979 a novembro de 1980.
(12)Cfr. Título II, Posso e devo ser contra a
informativos sérios permitem. Entretanto, com os dados informativos
existentes, é possível traçar uma política eco
Reforma Agrária — Considerações econômi
nômica que, além de proporcionada a tais dados, permita uma útil orientação da eco
cas, Cap. II, 2.
nomia nacional.
54
A desinformação favorece a dema gogia agro-reformista
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Capitulo II
linguagem árida, que as massas pouco compreendem, e sobretudo não as atrai.
O utopismo, pelo contrário, 5. Crise brasileira comporta a apresentação de qui e crise mundial meras suaves ou brilhantes, em linguagem fantasiosa e sedutora. É bem de ver — entre técnicos e
Quando a ciên cia não resolve, "resolve" a dema
gogia
Todos estes fatos se passam
utopistas — quem tem mais facili dade para arrastar a opinião pú
do seu isolamento antigo, e mais
blica.
relacionado com o mundo hodier-
num Brasil cada vez mais distante
ofestival do pro gresso moderno desemboca no
no: um mundo trepidante, que atrai, envolve e absorve os países "resolvendo" a demagogia. produtores de matéria-prima no Desse modo a crise econômica grande festival do progresso mo derno, e por esta via mesma lhes — infelizmente tão real e devasta dora — pode ser instrumentaliza inocula os germes de deterioração, da mais ou menos impunemente de confusão e de caos no qual vão por quaisquer correntes ideológi perecendo as nações industrializa
Assim, os problemas que a
ciência devera resolver, os vai
cas. E não cessa de o fazer a
das.
esquerda clássica. Tal instrumentalização apro
a qualquer momento, em alguma
Algo parece prestes a explodir
veita especialmente aos que dis parte do Globo. Até que ponto põem de favorável acolhida nos todas essas conjunturas sujeitam meios de comunicação social. E, ao risco de explosão o Brasil? Eis portanto, proporciona vantagens a pergunta capital que decorre da muito especialmente para a "es análise de quanto foi exposto. A querda católica", cujo livre trânsi ela procurará dar resposta o capí to nesses meios é como que total. tulo seguinte.
55
Até que ponto o Brasil fica tam bém sujeito ao
risco de explodir?
Capítulo III
Para a implantação da Reforma Agrária no Brasil, fatores propícios e hostis
L
Atualidade
e importância do fator psicológico para a solução dos problemas contemporâneos Os homens de nossa época têm
econômicas por que tem passado. Ele confia em Deus ("Deus é brasileiro" — afirma um velho
dito popular). Ele se sente inteira mente à vontade no seu imenso e
fecundo território, que sua popu lação (120 milhões de habitantes) não basta para encher e cultivar.
Seria preciso que os homens pú blicos fossem de uma incompetên cia sem precedentes na História para levá-lo definitivamente à mi
séria. Com "jeitinho"(o "jeitinho" importância do fator psicológico é uma instituição nacional), bonocomo elemento determinante do mia e paciência — julga a imensa sabido valorizar cada vez mais a
futuro dos povos. Até no que diz respeito à guerra, os especialistas afirmam com vigor crescente a importância desse fator. Daí a guerra psicológica, não menos de cisiva, em seu campo próprio, do
que as demais modalidades de
maioria dos brasileiros — tudo se
arranjará. O brasileiro é infenso à ansie
dade. Detesta as rixas. Cuida pa catamente de si e de sua família, e
considera com um olhar algum tanto desinteressado e cético a
política e os políticos, bem como Do ponto de vista da psicolo os dramas e as polêmicas da vida gia do povo brasileiro, qual o pública. Encanta-o viver em sua alcance da "abertura", e da situa casa, atento principalmente à sua ção sócio-econômica na qual esta vida e à dos seus. se vai desenrolando? Em comparação com o imenso O povo brasileiro se destacou, contingente populacional assim desde as origens, por seu caráter disposto, publicistas, políticos etc., ameno, afetivo e cordato. Ade representam uma minoria que por mais, habituou-se ele a considerar certo faz ruído, pois está nos guerra.
A psicologia bra sileira cria obs
táculos para a propaganda co munista
Epara as chama
das "reformas de base"
com otimismo as várias crises
postos chaves de onde o ruído se 57
A minoria ruido
sa não consegue atrair a atenção da maioria
Titulo I
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
difunde sobre as multidões. Mas essas multidões constituem um
João Paulo II, na sua mensagem
de Puebla, dirigida a representan povo que pouca atenção dá a tal tes de todas as conferências epis ruído. Esta é a grande realidade. copais latino-americanas (2). Até Fracasso dosparDaí decorre, por exemplo, que que ponto, por sua vez, os setores tidos de esquerda todos OS partidos de esquerda esquerdistas da Igreja conseguirão juntos nunca foram e não são fazer passar, junto a nosso povo capazes de contaminar, com as — lúcido e dotado de fina penetra febricitações da demagogia, a po ção psicológica — por religiosa
pulação urbana nem a rural, em mente autêntica, a sua voz? Esta é uma questão bem diversa. A origem e a composição dos Por tudo isso, o povo brasilei ro parece dos menos suscetíveis de setores católicos de esquerda é, no
seu conjunto. "explodir".
Brasil, sensivelmente a mesma de
2. Infiltração na Igreja, solução para o
outros países latino-americanos. No que diz respeito ao Clero, tanto secular quanto regular, a infiltração começou, em via de regra, a partir de centros de estudo
comunismo. E também
para o socialismo
e formação internacionais, locali zados sobretudo na Europa. Os Seminaristas ou os jovens Sacer dotes enviados a tais centros não
Espirito religioso do povo brasilei ro — Influência da Igreja
Há porém um fator capaz de raras vezes têm voltado a seus levar o povo brasileiro a seme países de origem influenciados a fundo por mestres apostados em Desde que o País existe, sua lhes inculcar as doutrinas novas. população crê na Igreja (90% de Uma vez reintegrados em seu am católicos, a maior população cató biente nacional, esses jovens lica da terra), admira-a e nela
lhante explosão. É a CNBB.
A voz da Igreja encontra no mais
(1) Cfr. Plínio Corrêa de Oliveira, A Igreja ante a escalada da ameaça comunista — Apelo aos Bispos silenciosos. Editora Vera
fundo da alma brasileira ressonân
Cruz, São Paulo, 4.' ed., 1977; Plínio Corrêa
cias que o mais estrepitoso, subtil ou desenfreado sabat publicitário moderno nunca alcançaria. Assim, o problema de uma "psico-explosão" no Brasil se re duz presentemente a este outro: até que ponto a Igreja pode ser
DE Oliveira, Tribalismo indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI,
confia como um filho na sua mãe.
instrumentalizada, em nosso País,
pelos modernos empreiteiros de explosões? Fatos eloqüentes Que múltiplos setores da Igre ja, em toda a América Latina, se deixaram
infiltrar
consideravel
mente pelo esquerdismo, dizemno várias publicações largamente
Editora Vera Cruz, São Paulo, 7.* cd., 1979;
Meio século de epopéia anticomunista. Editora Vera Cruz, São Paulo, 1980; Fábio Vidigal
Xavier da Silveira, Frei. o Kerensky chileno. Editora Vera Cruz, São Paulo, 2.* ed., 1967; SociEDAD Chilena de Defensa de la Tradiciôn.
Família y Propiedad, La Iglesia dei Silencio en Chile — La TFP proclama la verdad entera,
Santiago, 3.®ed., 1976; Sociedad Argentina de Defensa de la Tradiciôn, Família v Propie
dad, La Iglesia dei Silencio en Chile — Un tema de meditación para los católicos argen tinos, Buenos Aires, 1976; Sociedad Colombia na DE Defensa de la Tradiciôn, Famiua y
Propiedad, La Iglesia dei Silencio en Chile — Un tema de meditación para los católicos latino-americanos, Bogotá-Medellin, 1976; So ciedad Uruguaya de Defensa de la Tradiciôn,
Família y Propiedad, Izquierdismo en la Igle
difundidas nela TFP brasileira e sia: "companero de ruta dei comunismo en la por suas coirmãs e entidades con larga aventura de los fracasos y de Ias metamorfosis, Montevideo, 2." ed., 1976. (2) São palavras do Pontífice: "Circulam hoje em muitos lugares — o fenômeno nõo é
gêneres de onze países, bem como alguns fatos eloqüentes da história destas (1). Dizem-no sobretudo as
novo — "releituras" do Evangelho, resultado
expressivas referências feitas por
de especulações teóricas mais do que de autên-
58
Histórico da infil tração do socia lismo e do comu
nismo na Igreja
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Capitulo III
atuam, por sua vez, como proséli- Ou melhor, com estas e outras cé tos das doutrinas e dos métodos
lulas inter-americanas. Pois,por sua
de ação novos, que aprenderam
vez, os grupos brasileiros entram em contato com grupos das outras No que diz respeito aos ele nações hispano-americanas, nasci mentos do laicato, o processo de dos de idêntico processo. inoculação ideológica é análogo. Em outros termos, o "esquerLeigos brasileiros influenciados dismo católico" brasileiro não por livros e revistas européias da constitui apenas uma corrente de "esquerda católica", que se encon pensamento, mas uma constelação tram em abundância nas livrarias de grupos ou de organizações neutras e, principalmente, nas li perfeitamente definidas e interartivrarias católicas das grandes cida culadas em nível nacional e supra des brasileiras, deixam-se influen nacional, à maneira de planetas e ciar pelas "idéias novas". A partir satélites, com vistas a uma ação daí, os mais salientes dentre eles comum de larga envergadura (3). no Exterior.
por vezes tomam contato com
escritores e homens de ação euro peus, cuja linha de pensamento ou 5. Modalidades de de atuação lhes tenha agradado.
De onde nascem os contatos pes soais: conferencistas estrangeiros são convidados para cursos no
infiltração comunista na Igreja:
Brasil; por sua vez, brasileiros são convidados a participar de cursos na Europa, quer como mestres,
técnicas e subtilezas
quer como alunos. A "esquerda ca tólica"
Ete tudo isso decorre a forma
Em que medida se pode ver, em tudo isto, um fruto da infiltra ção comunista na Igreja? Para
ção de grupos de eclesiásticos e responder a tal pergunta seria leigos vigorosamente travados en preciso ponderar que essa infiltra tre si e unidos em estreita comu ção tem pelo menos duas moda nhão de pensamento e de ação lidades. com as células-mater européias. Uma,a mais elementar,correstica meditação da palavra de Deus e de um
verdadeiro compromisso evangélico. Elas cau sam confusão ao se apartarem dos critérios centrais da Fé da Igreja, caindo-se ademais na temeridade de comunicá-las, à maneira de
missão redentora"(Insegnamenti di Giovanni
Paolo II, Librería Editríce Vaticana, vol. II, 1979, pp. 192-193. Cfr. também Punio Corrêa
DE Oliveira, A mensagem de Puebla: notas e
comentários, "Folha de S. Paulo", 26-3-79; 7,
catequese, às comunidades cristãs. Em alguns casos, ou se silencia a divindade
14 e 26-4-79; 19-5-79).
de Cristo, ou se incorre defato em formas de interpretação conflitantes com a Fé da Igreja.
(3) Está na índole do progressismo a teiv* dència a agir articulada e organizadamente. "Catolicismo" publicou em seu n.® 220-221, de
Cristo seria apenas um "profeta", um anun-
ciador do Reino e do amor de Deus,porém não o verdadeiro Filho de Deus, nem seria portanto o centro e o objeto da própria mensagem
abril-maio de Í969, traduções de estudos apa recidos na revista "Ecclesia" de Madrid (n.® 1423, de II de janeiro de 1969), e no órgão católico "Approaches" de Londres(n.® 10-11 de
evangélica. Em outros casos se pretende mostrar a
janeiro de 1968), em que se descreve a atuação
Jesus como comprometido politicamente, co mo um lutador contra a dominação romana e
em nossos dias.
contra os poderes e, inclusive, como implicado na luta de classes. Esta concepção de Cristo como político, revolucionário, como o subver
sivo de Nazaré, não se compagina com a catequese da Igreja. Confundindo o pretexto
de organismos progressistas semiclandestinos
Precursor do progressismo contemporâneo foi, no começo deste século, o modernismo. Esmagou-o o Papa São Pio X com a Enciclica Pascendi, de 8 de setembro de 1907. No
documento, o Santo Pontífice faz a descrição, penetrante e pormenorizada, da articulação, das tramas e das táticas dessa corrente. O
insidioso dos acusadores de Jesus com a atitude de Jesus mesmo — bem diversa — se aduz como causa de sua morte o desenlace de um conflito político e se silencia a vontade de
observador contemporâneo encontra, nessa descrição, elementos sugestivos para a inter
entrega do Senhor, e ainda a consciência de sua
pretação de f^tos atuais.
59
Que múltiplos setores da Igreja em toda a América Latina se deixaram infiltrar consideravelmente
pelo esquerdismo, dizem-no várias publicações largamente difundidas pela TFP brasileira e por suas coirmõs e entidades congêneres de onze países, bem como alguns fatos eloqüentes da história destas.
%
r João Paulo II no México, com representantes das conferências episcopais latino-americanas.
Dizem-no também as expressivas referências feitas por João Paulo II, na sua mensagem de Puebla, dirigida a representantes de todas as conferências episcopais latino-americanas.
Só por si, os agentes de subversão clássicos (PCB, PC do B, intelligentsia esquerdista etc.), dificilmente arrastariam o Brasil — dentro de um futuro próximo — para a luta de classes. Assim, o comunismo
internacional não dispunha de outro recurso para estimular, a breve prazo, a subversão em nosso País, senão
tentar mobilizar em seu favor a larga influência religiosa e o prestígio histórico da Igreja, a qual possui no
espírito público um enraizamento e
'
uma força de impacto que, em mais de meio século de ação,
^ D. Angé d. Angi lico
nem de longe os dispositivos de
Paulo (Zona Leste).
esquerda clássica obtiveram.
Sândalo Bernardino, Bispo-Auxiliar de São
Pauo(2
do presi itério da igreja de Nossa Senhora da Paz, na Várzea Do presb do Glicério, um orador fala a vigilantes bancários em greve. Igrejas de São Paulo serviram de palco a manifestações gre vistas de várias categorias profissionais.
Titulo I
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Modalidade anti
ga e modalidade nova de infiltra ção comunista
ponde a padrões de propaganda eles uma fácil emulação. Pois se a comunista mais atrasados. Cha tendência prestigiosamente "mo memo-la modalidade A, arrojada. derna" para a esquerda é dínamo Consiste na formação de uma ou produtor de influência, quanto
algumas células de comunistas in
mais energicamente for acionado
tegrais. Estas, clara ou ocultamen te, fazem, nos ambientes recepti vos — por exemplo, pela difusão de slogans ou através da impren sa — a propaganda de idéias
o dínamo, tanto mais irradiante será essa influência.
Talfator dinâmico, se aplicado às esquerdas de matiz católico, despertará uma tendência para a radicalização ideológica crescente. abertamente comunistas. E, assim, a profissão explícita do A outra modalidade — chame comunismo acaba por se consti mo-la modalidade B, requintadatuir em pólo de atração até mesmo mente cauta — é mais recente, e para o tipo de esquerdismo que também mais sofisticada: consiste por sua natureza seria mais infenela em tirar todo o proveito possí so à radicalização. Isto é, o que se vel, da instrumentalização de to das as esquerdas.
Mobilização dos oportunistas
Este processo começa pela mo bilização dos oportunistas. Em todos os ambientes há
intitula católico.
Mas esse fator é contrabalan
çado por outro. Via de regra, os
Obstáculo consi derável: o moderantismo das ba-
líderes radicalizantes sentem que
espíritos sedentos de se destacar os respectivos liderados têm muito como "atualizados", "modernos" menos élan rumo ao pólo do que
etc., pois estes qualificativos os eles. E que se as lideranças se põem em foco^ lhes dão prestígio e radicalizarem muito mais rapida liderança. A difusão de literatura mente do que as bases lideradas, esquerdista proporciona a tais ele operar-se-á uma ruptura, em vir mentos ocasião de conhecer as tude da qual as primeiras se isola idéias, os clichês» os slogans e as rão e passarão a falar no vácuo. Será a morte do movimento. Esse fator moderador deve ser tomado lhes dará ensejo de tomarem atitu des "ousadas" e "no vento". Nas em linha de conta simultaneamen
reivindicações cujo lançamento
emissoras de televisão e de rádio, te com o fator dinâmico, para que como também na imprensa, um daí resulte uma ação psicológica
pedido de publicidade para tais revolucionária ao mesmo tempo prudente e progressiva. atitudes encontrará ambiente fa Equilíbrio tão subtil não pode vorável. É a escalada da notorie Nem tudo, po rém, é oportu nismo
dade que começa. Nem tudo isso, porém, se re
ser nem inteiramente artificial,
nem inteiramente espontâneo. Ele
duz a um oportunismo calculista e resulta de um modus vivendi táci insincero. Os sonhadores, como to, e por vezes subconsciente, en também os novidadeiros, amam tre líderes e liderados. Mas, pelo facilmente as novidades, e os ho
próprio fato de ser subconsciente,
mens propendem de bom grado tal modus vivendi está sujeito às para as idéias cujo proselitismo precariedades de tudo quanto é imprevisto. Sem um controle — o lhes lisonjeia as ambições. A conquista dos espíritos ingênuos e afeitos ao mimetismo
Constituído assim um núcleo
mais das vezes discreto — de
alguns especialistas muito experi
de esquerdistas prestigiosos, im porta incorporar a este, outro mentados, não é possível evitar gênero de recrutas: são os espíritos que alguns líderes "cabeças-queningênuos e afeitos ao mimetismo tes" pratiquem excessos e impru em relação a tudo o que vem do dências. Nem que outros líderes,
modorrentos, se preocupem mais em fruir as vantagens de sua demo. O núcleo estabelece entre Exterior com rótulo de ultramo-
62
Como remover esse obstáculo —
Complexidade da solução
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Solução: disposi tivo moderador e acelerador
Capítulo III
liderança do que em estimular à dinâmico saiba evitar o conflito radicalização os liderados. das tradições do passado e das É difícil conceber que todos os apetências de novidade, nesses es corpúsculos de "esquerda católica** píritos, e ao mesmo tempo faça assim constituídos caminhem com caminhar a radicalização com tan alguma sincronia, sem que um ta cautela, que a tradição vá per aparelho, encarregado simulta dendo insensivelmente terreno em neamente de controlar os apressa favor da "modernização**. dos e de apressar os retardatários, Tal costuma ser alcançado por assegure a coesão da marcha geral. vários recursos de vocabulário e
de exposição que permitem a instide "esquerda católica** em toda a lação progressiva e sem obstácu Coesão esta tão notável nos meios América Latina.
Isto faz pensar que agentes e núcleos comunistas, possivelmen te reunidos na infiltração A (neste caso tornados quão subtis e pru dentes), supervisionem e dirijam às ocultas os agentes e as vitimas da infiltração B, — Tal hipótese é altamente plausível. A tática co munista não seria ela mesma se
Recursos utili
záveispara alcan çar a solução
los, de tendências e idéias esquer distas, em mentalidades que são esquerdistas apenas a meias, e propendem pouco à radicalização. Esse
método utiliza basica
mente:
1.°) uma linguagem vaga, mar cada por certo tom discretamente
— Linguagem va ga...
literário, o qual permite imergir
não comportasse, nos meios cató- uma conferência, um artigo ou um hcos, a detectação, a análise cui relatório numa atmosfera de con dadosa e, por fim, a instrumenta fusão tépida, discreta e cômoda.
lização de tendências e organiza ções como estas.
De sorte que o ouvinte possa interpretar algum tanto à sua gui
sa os enunciados de princípios e as
descrições de situações de fato que
4. A radicalização processiva da "esquerda católica": empuxo firme cercado de cautelas
ouça (4);
2.°) a inserção, nesse magma confuso, de algumas afirmações tão ousadamente esquerdistas quanto comporte a mentalidade
... recheada com
afirmações es querdistas ardilo samente dosadas
dos ouvintes ou leitores. Mas essas
afirmações, se analisadas palavra por palavra, devem comportar um
A resistência ofe recida pelos hábi tos mentais con solidados
Por que processo se daria tal sentido esquerdista provável, a instrumentalização? par de um sentido moderado con Trata-se, em suma,de radicali sideravelmente menos provável; zar líderes ou bases pouco apeten3.^) em outras ocasiões, a in tes de caminhar para as conse serção, nessa literatura, de um ele qüências últimas de certos princí mento peculiar que é a contradi pios, certas simpatias e até certas ção: ou seja, a afirmação simul atitudes a que se entregaram com algum ardor em um momento de
tânea de teses que parecem, à pri
entusiasmo. Princípios, simpatias, meira vista, irredutivelmente con atitudes estas que contrastam, en trastantes — uma conservadora,e tretanto, com outros princípios, a outra inovadora — e que só outras simpatias, outras atitudes (4) A mesma tática tem sido usada também neles implantados por longos há por outras correntes, como a dos modernistas. Cautela em evi
tar o conflito en
tre a tradição e a má modernidade
bitos mentais anteriores.
O êxito no processo de radica
Descreveu-a com perspicácia e maestria o Papa SAo Pio X: "Com astuciosissimo engano, cos tumam apresentar suas doutrinas, não coor
lização exige, por isto, que o líder denadas ejuntas em um todo, mas dispersas e 63
... que contém
contradições
Titulo I
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
dificilmente, e de modo algum
De nenhum modo o grande
tanto forçado, possam ser conci público brasileiro está preparado liadas em uma afirmação nebulosa para uma atitude definidamente pró-comunista — ou ostensiva ou inócua. mente pró-socialista — da CNBB, Especial cuidado deve ser ob
ou ainda de personalidades epis
servado, nessa matéria, ao expor, copais isoladas. O temperamento não doutrinas, nem panoramas e as tradições do povo levá-lo-iam sócio-econômicos, mas temas di a afirmar que a CNBB, ou esses
O público brasi leiro não estápre
parado para uma atitude definida mente pró-comunista — ou osten
sivamente prósocialista — da CNBB
retamente relacionados com essa Bispos, não exprimiriam a Fé ação, como sejam programas, rei católica, e a deixá-los falar so vindicações e projetos de reforma. zinhos. Pois tais temas não raras vezes Se, pois, os esquerdistas do afetam especialmente, a um tem Episcopado querem levar atrás de
po, hábitos mentais e interesses si a opinião pública pacata e pessoais, e podem produzir, na conservadora, rumo a uma radi massa dos retardatários do pro calização gradual e segura, não
cesso de radicalização, estranhezas e desacordos nocivos.
5. Traços deste método na atuação
têm melhor método a seguir do
que o acima descrito. Mas devem pagar pelo Ixho um preço pesado: o tempo. Como
As lentidões do método
já foi dito, este método é lento,em razão de sua própria gradualidade.
habitual da CNBB O público da CN BB éo Pais inteiro
Até que ponto a observância 6. Análise do documento dessas regras é necessária para os "Igreja e pronunciamentos de Bispos enga problemas da terra*\ jados de um ou de outro modo nesse processo?
do ponto de
Para responder à pergunta, é vista metodológico preciso lembrar que o Bispo enga jado no processo de radicalização Examinando agora o IPT do não é apenas um líder acentuadaponto de vista metodológico, temmente esquerdista, a falar para
bases menos esquerdistas, da cor se a impressão de que seus autores rente dele. As "bases** do Bispo tiveram empenho em empregar são toda a população da Diocese. esse método. Mas que o fizeram E o público da CNBB(Assembléia de modo irregular, carregando a Geral, Conselho Permanente, Pre mão aqui e acolá, na ousadia das sidência, Secretariado Geral, Co afirmações ou no transparente das missões Episcopais Regionais, ór contradições. Inabilidade? Impos
gãos especializados etc.) é o País inteiro.
sibilidade de conciliar as lentas
precauções do método com neces sidades táticas de acelerar a radi
Cumpre pois ter em conta a exposição já feita do panorama calização? Não há base, no IPT, nacional, para indagar como deve para responder a essas perguntas. De qualquer forma, essas irre um Bispo esquerdista aplicar o gularidades na aplicação do mé método que acaba de ser descrito. todo facilitam, por via de contras como que separadas umas das outras, afim de te, a caracterização do emprego serem tidas por duvidosas e incertas, ao passo
que de fato estão firmes e constantes" (Encíclica Fascendi, de 8 de setembro de 1907,
Vozes, Petrópolis, fase. 43, 3.® ed., 1959, p. 5). 64
dele.
Ora, esse método só é eficaz na
medida mesma em que não seja
o IPT aplicou o método de modo
irregular
Capitulo III
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
percebido nem enunciado de pú blico. Pois, se revelado, pode des
reforma dentro das condições do Brasil de então, para que esta
pertar desconfianças e hostilida
ficasse quase congelada até hoje.
des irremediáveis. Uma experiência instrutiva
Essa história vem narrada na
Surpreende que os autores do Documentação I, anexa ao pre IPT tenham incorrido assim nesse
sente estudo.
Tudo quanto aqui fica dito erro tático. Pois uma experiência irretorquível ensinou aos arditi da auxilia a compreensão do docu esquerdização católica os danos mento que será examinado, sua irremediáveis que pode produzir linguagem, suas ambigüidades, um procedimento diverso do aci suas imprecisões, suas contradi ções e, de permeio, sua contínua ma enunciado. Quando, em 1960, se desatou propulsão para a esquerda. Significa isso que todos os Srs. no Brasil a campanha agro-reformista já aludida no presente estu Bispos favoráveis ao documento do (cfr. Prólogo, 6), toda a "es estão engajados no processo de es querda católica" — então conside querdização? Acerca de alguns ravelmente menos importante e deles, tal é notório. Acerca de numerosa — se atirou na luta em outros, não. Constituem estes últi favor dela, capitaneada por vários mos a "maioria silenciosa" do Bispos e prestigiada por um pro Episcopado (5), que parece habi tualmente conservadora, mas jul nunciamento da Comissão Cen tral da CNBB (cfr. Prólogo, nota 6). ga que pode dispensar um estudo Bastou a publicação de um próprio para emitir seu julgamen livro de inspiração católica mos to. Vota ela, então, com a minoria trando o caráter heterodoxo dessa esquerdista, aceitando uma argu(5) No livro A Igreja ante a escalada da ameaça comunista — Apelo aos Bispos silen ciosos (Editora Vera Cruz, São Paulo, 4.» ed., 1977, pp. 85-86), o autor assim defíne estes últimos:
"O normal da grei fiel é de viver sob a
inconsistentes mas explicáveis, ante uma Hie
rarquia muito majoritariamente esquerdista: a "Igreja do Silêncio" do Brasil, constituída por uma considerável maioria de Bispos e Sacer dotes emudecidos na tormenta doutrinária que sacode os meios católicos, e de certo número de
influência e o mando de seus Pastores. E toda fiéis sujeitos aos mesmos escrúpulos de cons situação não normal está sujeita a riscos. Entretanto, nas fileiras do Episcopado e do Clero, das Ordens e das instituições religiosas, há tantas vozes que se calam. Não é nosso propósito aqui ressaltar quanto esse silêncio discrepa de seus mais graves deveres. Antes preferimos ver os motivos de esperança que nesse silêncio taltez ainda se encontrem.
/Íjpersonalidades assim postas em silêncio, não faltariam louvores e vantagens de toda ordem, caso resolvessem falar em favor da
esquerdização da Igreja e do Pais. Se não ofazem, resistem presumivelmente a pressões enigmáticas e penosas de enfrentar. E sofrem no silêncio. Há nesse procedimento um aspecto de desinteresse que cumpre não es
ciência dos chilenos, seus irmãos na Fé. — Éde presumir que rezem e gemam ante o Senhor os Silenciosos brasileiros
Ponderem que se há "tempus tacendr, há também "tempus loquendi": há tempos em que convém calar, mas há tempos em que convém falar (Ecle. 3, 7). A evidência dosfatos mostra que, se é que houve um tempo em que nas matérias aqui tratadas conveio calar,já ele vai longe, tragado na voragem dosfatos. E que o tempo defalar de há muito está aberto para os defensores da Casa do Senhor.
Na mão dos Silenciosos, pôs Deus todos os meios que ainda podem remediar a situação:
apenas a posição cômoda de quem está longe da luta Mas também o desapego e a retidão que evitam obstinadamente a complacência
são eles numerosos, dispõem de posições, de prestigio e de cargos. Atuem. Nós lho imploramos. Falem, ensi nem, lutem. O Anjo protetor de nossa Pátria os espera para os confortar ao longo dos prélios. E Nossa Senhora Aparecida, Rainha do Brasil, lhes prepara sorridente o cêntuplo
ativa com o mal.
prometido já nesta terra aos que abandonam
Nesta situação aflitiva para a Igreja e para o Pais. rezarão e gemerão aos pés do altar estes "Silenciosos", que lembram em larga medida a
tudo por amor ao Reino dos Céus. E estremeçam eles porfim, na presença de
"Igreja do Silêncio" do Chile? Esta última,
um modo ou de outro, poderá nos acontecer se não fizerem sentir toda a sua autoridade e prestigio, no Bom combate".
quecer.
Importa, com efeito, não ver em talsilêncio
constituída principalmente por leigos, reduzi
dos ao silêncio por escrúpulos de consciência
Deus, estudando na tragédia chilena, o que, de
65
£>n meio a ambi
güidades e impre cisões. o IPT im
pele continua mente para a es
querda
A atitude da "maioria silencio
sa" do Episco pado
Título I
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
mentaçâo que não se deu o traba lho de examinar a fundo. Tal
nar veladamente para o esquerdismo,em nome da Doutrina Católi
atitude, interpretada até há pouco, ca, a massa da população brasilei são de alheamento às coisas tem
ra. E especialmente os homens do campo: fazendeiros e trabalhado
porais, vai desconcertando sempre
res manuais.
pelo grande público,como expres mais...
Tudo isto dito, é fácil compre
Eficácia do IPT
ender que, apesar das imperíciás ou peculiaridades metodológicas já apontadas, o IPT apresenta — em razão do prestígio episcopal — valiosas condições para adorme cer, e ao mesmo tempo impulsio
66
Com o êxito do que, terão
empurrado o Brasil — nesta deli cada
conjuntura
de
abertura
política, de crise econômica, de imperialismo ideológico e político triunfal do Kremlin — para a
voragem das agitações que come çam a sacudir todo o Continente.
Capitulo IV
A CNBB invade
a esfera de competência exclusiva do Estado
1. A distinção harmônica entre Igreja e Estado
haver em alguma região indefinida batalhas entre deuses de países inimigos, quando as tropas destes se entrechocavam na terra. A vitó
ria ou derrota corriam por conta Um dos princípios fundamen — pelo menos em parte — da tais da Teologia e do Direito força e da dedicação, ou então da Canônico consiste na distinção fraqueza e da displicência dos harmônica entre a Igreja e o deuses. Não raras vezes, em caso Estado. de derrota, estes eram "punidos** Sendo o homem criatura de pelas multidões enfurecidas. Tais Deus, suas relações com o Criador eram as aberrações da idolatria e são absolutamente fundamentais. da superstição. Por isso, jamais pode o Estado Nosso Senhor Jesus Cristo legitimamente descurar da religião. instituiu a Igreja com caráter diver Antes de Cristo, a
religião era as sunto do Estado
Antes de Jesus Cristo, a reli gião constituía um assunto de
so. Ele ensinou o culto a um Deus
reinante uma origem divina. Ou
único, a ser igualmente adorado por todos os povos. A esse Deus único corresponde a existência de uma Igreja una, com um só chefe visível, o Papa,sediado em Roma. Com esta medida, Ele separou os
então se divinizavam os chefes de
dois poderes, porém, de maneira a
Estado, ainda em vida ou depois
que cooperassem intimamente,ca da qual em sua esfera, para a glória de Deus e o bem comum dos povos. O fim dessa Igreja universal é extra-terreno. Sua jurisdição é es piritual. Seu magistério também.
Estado, e havia uma como que fusão entre a autoridade civil e a
religiosa. Com freqüência, chegava-se até a atribuir à dinastia
de mortos. Por vezes, altas fun
ções de Estado conferiam ipso facto atribuições sacerdotais a seus titulares. Nos países em que existia uma classe sacerdotal, os membros dela eram funcionários
públicos direta ou indiretamente sujeitos ao chefe de Estado. De tal maneira a religião, a classe sacer dotal e o Estado se interpenetra-
vam, que constituía crença geral
Jesus Cristo dis
tinguiu os dois poderes
A Igreja é uni versal e seufim é extra-terreno-
Cabe-lhe ensinar e explanar a Revelação contida na Bíblia e na Tradição.
Segundo o disposto por Jesus Cristo, o Estado deve reconhecer a 67
O Estado deve re
conhecer a Igreja, proteger seus di
reitos, (^oiar sua ação
Titulo I
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Igreja, respeitar-lhe os direitos ori
assuntos de economia, finanças,
ginários da missão que seu Divino segurança nacional etc., os quais, Fundador lhe deu, e apoiá-la com os meios de ação específicos dele, para que ela realize sua missão espiritual. Contudo, não toca ao Estado qualquer ingerência nos assuntos especificamente religio sos e eclesiásticos. Mas o Estado
tem sua própria esfera de ação
A harmonia entre
a Igreja e o Esta do exige inteiro respeito a essa
delimitação de esferas
em condições normais, estão fora do âmbito dela.
Assim, por exemplo,a inflação deu origem a um desajuste salarial. De si, a matéria salarial não é
religiosa. Contudo, nas atuais cir cunstâncias, ela envolve um pro
Pelo contrário, deve a Igreja fazer via de regra, estes, ainda quando quanto nela está para ajudar o muito diminuída sua quota de lucros, não sofrerão privações no Poder público temporal. Com efeito, a cada Estado necessário, mas os operários, por cabe promover o bem comum pouco que se lhes diminua o valor temporal (isto é, terreno) do res aquisitivo dos salários, podem en pectivo povo. Assim,tudo quanto trar no estado de carência, quando diz respeito à independência, pros não no de penúria, pergunta-se: peridade, bem-estar e progresso de como distribuir, segundo os prin um País está posto sob a ação cípios da justiça cristã, os rendi legislativa, executiva e judiciária mentos da empresa? Justiça cristã é matéria sobre a do Estado. Exceto ratione peccati (isto é, qual todo católico aceita que a quando algo na ordem civil viola a Hierarquia eclesiástica tenha sua lei de Deus, como é o caso do palavra a dizer. Tanto mais que, divórcio, da limitação da natalida seguindo o exemplo de seu Divino de, da laicidade escolar etc.) à Fundador, a Igreja tem atrás de si Igreja não cabe imiscuir-se em uma tradição duas vezes milenar, assuntos temporais. de apoio às viúvas, aos órfãos, aos Como se vê, a boa harmonia desvalidos, e aos pobres de modo dos poderes espiritual e temporal geral. se baseia no respeito dessa delimi Essa situação excepcional en tação de esferas por parte de cada sejou à Presidência da CNBB, ao um deles. Cardeal-Arcebispo de São Paulo, D. Paulo Evaristo Ams, ao Bis
CNBB em matéria especificamente po de Santo André, D. Cláudio temporal têm sido numerosas e Hummes, e a outros eclesiásti cos, uma intervenção em matéria graves,
(Juais as provas desta afir salarial (1). E, como se sabe, tal intervenção assumiu caráter niti damente ilegal — e propício à luta de classes — em prol dos metalúr 2. A intervenção da CNBB gicos paulistanos: curiosamente os operários mais bem remunerados em assuntos de mação?
do Brasil!
natureza econômica
ocasião para in tervir
problema moral
Mas, ainda segundo o que foi blema moral:éjusto que os traba instituído por Jesus Cristo, tam lhadores sofram em larga medida bém o Estado tem uma esfera de o contra-golpe da inflação, en ação própria, e nesta não compete quanto o sofrem em medida me à Igreja o direito de imiscuir-se. nor os empresários? Posto que,em
Não obstante, as incursões da
A crise econômi ca proporciona à CNBB excelente
A matéria sala rial envolve um
A crise econômica, que dia a dia se agrava,dá excelente ocasião a que a CNBB intervenha em 68
Pari passu, em vários outros (1) Provocou particular reação em todo o País a nota distribuída pela Presidência da CNBB no dia 22 de abril de 1980 (cfr."Correio Braziliense", 23-4-80).
A Hierarquia eclesiástica tem
uma palavra a di zer a respeito
A intervenção do Cardeal Ams e
do Bispo de San to André
A Igreja não cabe imiscuir-se em assuntos temporais, a não ser
ratione peccati (isto é, quando algo na ordem civil viola a Lei de Deus). Não obstante, as incursões da CNBB em
matéria especificamente temporal têm sido numerosas e graves. A crise econômica,
que dia a dia se agrava, dá
'
excelente ocasião a que a CNBB intervenha em
assuntos de economia,
finanças, segurança nacional etc., os quais, em condições normais, estão fora do âmbito dela.
«oi
Cardeal Arns, Arcebispo de São Paulo.
D.
Cláudio
Hummes, Bis
po de Santo An dré, fala aos me
talúrgicos reuni dos no estádio de Vila Eucli-
des, em
São
Bernardo
do
\r
-
N*
f-
H
Sou catóHco: posso ser contra a Reforma Agrária?
Reivindicações re vestidas de agres sividade
Clima propicio à luta de classes
O pólo de atração éo PCB
Titulo I
setores, a CNBB se vem aprovei
situação dele ao formar juízo e
tando da atual crise econômica
tomar atitude acerca de maneiras
para promover reivindicações por de proceder ou de situações con vezes justas, por vezes injustas,e o cretas, as quais tenham caráter mais das vezes revestidas de uma especificamente técnico. agressividade toda voltada para a Há, em assuntos técnicos, pro agitação. blemas sobre cuja existência e Com isto se vai criando e alas solução existe um consenso geral. trando, aqui e acolá, no País, um À vista de situação tão clara, ao ambiente altamente propício à lu Bispo toca então, simplesmente, ta de classes. Esta constituí, por traçar diretrizes aos fiéis relativa sua vez, o caldo de cultura ideal mente aos deveres que lhes incu para a expansão das tendências e bem. Pois, Príncipe na esfera espi das máximas do comunismo, bem ritual, tem ele poder e competên como para o êxito das maquina cia para fazê-lo. ções subversivas deste. Os pró Mais delicada é a situação do prios eclesiásticos comprometidos Bispo nos casos em que, acerca de nessas atividades disseminam não alguns ou de todos os pontos de poucas dessas máximas. E com certa questão intrinsecamente isto concorrem para impelir consi temporal (social ou econômica, deráveis setores da população ru por exemplo), os técnicos se mo ao pólo de atração final de acham divididos. E até entre espe todos os descontentamentos ma cialistas não há acordo,quer sobre nipulados pelas esquerdas, isto é, a existência mesma do problema, o PCB. quer sobre os termos em que ele se põe ou sobre o método de o
a) Quando há consenso geral
b) Quando não há acordo entre
os especialistas
resolver.
3. Alcance do Magistério Merecerá então aplausos o Bispo que empregar sua influência episcopal em para que a questão seja estudada matérias temporais entre os especialistas, de maneira a Direito e dever
dos Bispos: esti mular osfiéis ao cumprimento das obrigações para com a sociedade e o Estado
A atitude dos
Bispos emface de assuntos técnicos
que cheguem a acordo sobre os Em princípio, a palavra do vários aspectos da matéria. Uma Bispo tem autoridade junto aos vez assim esclarecida a situação, fiéis no que concerne à Fé e aos poderá o Bispo ensinar aos fiéis costumes. que direitos e deveres lhes tocam. Essa autoridade não é mera Mas podem ocorrer casos em mente doutrinária. Cabe também que a situação de fato seja tão ao Bispo estimular os fiéis à prá complexa, que os esforços envida tica da virtude, isto é, ao cumpri dos pelo Bispo para a plena eluci mento de seus deveres para com dação do problema resultem vãos, Deus, para consigo mesmos e para e os especialistas se mantenham com o próximo. Portanto, tam em desacordo. bém para com a sociedade e o Tem então o Bispo, como tal, Estado. missão e autoridade para se cons Neste sentido, tem o Bispo o tituir juiz dos especialistas, e defi direito e o dever de alertar os fiéis, nir a quais deles cabe a razão? Do do ponto de vista da Fé e dos ponto de vista estritamente técni costumes, para a irregularidade co, em se tratando de matéria in deste ou daquele procedimento, e trinsecamente temporal, não. Pois, de, nesta perspectiva, lhes traçar como já foi dito, a competência as diretrizes de ação que entenda especial do Bispo concerne à esfe justas e oportunas. ra religiosa e moral. Delicada pode ser entretanto a Por isto mesmo, não pode o 70
Limites do Ma
gistério episcopal
O direito dosfiéis de discordar de a-
preciações dos Bispos sobre as suntos estrita
mente técnicos
Capitulo IV
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Bispo também exigir, como Mes tre, o assentimento dos fiéis ao juízo que, a título meramente pes soal, ele forme sobre assuntos exclusivamente temporais. Esse juízo, sempre merecedor de aten ção e consideração no plano do argumento de autoridade, não vale entretanto mais do que o de um
geral não esteja formado sobre matéria
tão
caracteristicamente
temporal como é a avaliação de determinada situação agrícola, de nenhum modo cabe à Igreja deci dir qual a visão objetiva da situa ção. Pois ela foi instituída por Jesus Cristo para outras e mais altas finalidades, como já foi dito.
particular respeitável. E o fiel
b) Suposta a necessidade de uma reforma agrária, como deve dele. Sempre ressalvado — con ser ela para que a produção agro vém insistir — o respeito pessoal pecuária atinja um nível próprio a que deve a seu legítimo Pastor. abastecer a população, bem como prover de divisas a economia na cional? Mais uma vez, a resposta 4. Incursões do documento cabe à esfera temporal. E, haven "Igreja e do desacordo nesta, à Igreja cabe
conserva o direito de discordar
problemas da terra" em matéria
especificamente temporal
O iPT declara a
agricultura
bra
sileira em estado de anormalidade
Não havendo con senso entre os
técnicos, não ca be à CNBB deci dir entre uns e outros
Caso necessária,
que modalidade deve ter a refor ma agrária? A resposta cabe à
esfera temporal
calar-se.
Só o que à Igreja tocaria fazer seria analisar os vários projetos de reforma agrária, a fim de julgar se em algo violam a Lei de Deus. E, neste caso, condenar as disposi
ções incrimináveis. o documento Igreja e proble O IPT extrapola desse limite,e mas da terra pratica várias incur declara que a reforma agrária é sões capitais (porque também as necessária, e que deve consistir há menores) na esfera do Estado: principalmente em uma reforma fundiária. Mais ainda, o docu a) O IPT declara a agricultura mento volta as suas preferências brasileira em estado de anormali para que seja adotado, em concre dade, a ponto de exigir uma re to, no Brasil, um determinado tipõ forma agrária. Ora, a avaliação de estrutura fundiária, igualitário dos aspectos negativos e positivos e com propriedades de dimensões de nossa situação agrária é de si familiares. matéria essencialmente temporal. Incrementariam essas provi Compete aos homens doutos e dências a produção, a exportação experientes no assunto fazè-la. E etc.? Para esses efeitos, são elas as ao Poder público temporal toca, melhores do gênero? A matéria é em último recurso, formar seu estritamente temporal. E nelas as próprio juízo sobre a matéria, opiniões abalizadas divergem decidindo se há providências a quase ao infinito. tomar, e quais. Assim, à CNBB não assiste o Se, como foi dito, houvesse direito de intervir no assunto. unanimidade no setor temporal c) Os problemas da grande (Poder público, homens doutos e experientes) sobre a matéria,e se a cidade gerada pela civilização de carência de medidas adequadas consumo são numerosos e com fosse reconhecida pelo consenso plexos. Sobre eles, os doutos dis geral como causa de injustiças, cutem, e em todos os países os tocaria à Igreja empenhar-se a homens públicos hesitam. A maté fundo para obter essas medidas. ria também é estritamente tempo Mas, desde que o consenso ral. Mas a CNBB não tem dúvidas. 71
À Igreja tocaria apenas Julgar se, na
modalidade
assim escolhida,
em algo é violada a Lei de Deus
O IPT extrapola desse limite
A CNBB também
já anuncia inter venção em nossos problemas ur banos
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
E anuncia, como já foi lembrado, que traçará rumos para a solução de nossos problemas urbanos (cfr. IPT, n.°s 4, 7, 92, 93 e 100). Seria legítimo que a CNBB se
apiedasse dos favelados, pedisse para eles melhorias de condição de vida etc. Pois tal está em sua
missão evangélica. Não lhe com pete porém dirimir as dúvidas entre os técnicos sobre o modo
pelo qual essas melhorias devem ser obtidas. E muito menos dar
modelos para uma reforma de toda a estrutura fundiária rural e
Criticas ao acerto
da política econô-
mico-jinanceira do Pais:tema téc nico controverti
do, do quala CN BB deveria abs ter-se
sua vez, intervir em matéria estri
tamente religiosa ou eclesiástica, o IPT deixará a Igreja mal à vonta de para alegar a distinção entre o campo espiritual e o temporal. Por exemplo, o Sr. BispoPrelado de São Félix do Araguaia, D. Pedro Casaldáliga, embora ci dadão espanhol, desenvolveu uma ação ideológica de fundo nitida mente subversivo, expondo-se as sim a ser expulso do território nacional pelo Governo (2). Estando a Igreja separada do Estado, não havia obstáculo jurí dico a que o Governo federal
urbana de um país de 8,5 milhões de quilômetros quadrados e com adotasse essa medida. Entretanto, 120 milhões de habitantes. à opinião pública pareceu intole d) Indo ainda mais longe, a rável que o Governo assim agisse, CNBB faz acerbas críticas ao pois ela tinha em vista que a acerto da política econômico-fi- distinção entre a esfera temporal e nanceira do Governo federal (cfr. a espiritual não consente que o IPT, n.°s 16 a 21, e 35 a 41). Poder público deite mão sobre um Tal atitude constitui, por aná Príncipe da Igreja. E, com efeito,
Um exemplo ca racterístico:
Pedro
D.
Casaldá
liga
O "caso Casaldá
liga" em face das leis do Estado e do Direito Ca-
logo motivo, outra invasão da segundo o Direito Canônico, não jurisdição temporal, efetuada pela seria lícito fazê-lo sem prévia li cença da Santa Sé (3). Como, por CNBB. outro lado, a Igreja está separada do Estado, não podia este pedir tal 5. Nexo desses princípios licença sem contradição com os
com a questão
da reforma agrária Inconvenientes
da incursão do IPT em assuntos meramente nicos
Título I
téc
E se o Estado vez, imiscuir-se em matéria estri
tamente religiosa?
curso a ação deletéria do Prelado. Mas, se a CNBB invade a
Os princípios atinentes às rela esfera temporal em matéria de tanta importância como a Refor ções entre a Igreja e o Estado não ma Agrária, não será de temer
têm nexo direto com a reforma
agrária. Entretanto cabe.aqui um comentário acerca dos inconve nientes da incursão do IPT nos
quiser, por sua
princípios laicos que adota. Assim, teve livre e prolongado
que, em outras eventualidades, o
poder temporal proceda, por sua vez, com muito mais desenvoltura?
aspectos exclusivamente técnicos de matéria que ex natura própria, é caracteristicamente temporal.
(2) Cfr. Plínio Corrêa de Oliveira, A Igreja ante a escalada da ameaça comunista — Apelo aos Bispos Silenciosos, Editora Vera
"Abyssus abyssum invocai": um
Cruz, São Paulo, 4.® ed., 1977, pp. 13 a 31.
abismo atrai outro abismo (Ps. 41,8). Caso o Estado queira, por
(3) Cfr. Código de Direito Canônico,cãnon 120, § 2.°.
72
Precedente pertgoso
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Capitulo IV
Textos Pontifícios
Matéria temporal: Competência da Igreja — Competência do Estado Nas questões sociais e econômicas, a Igreja interpõe a sua autoridade, não em assuntos técnicos, mas em
tudo que se refere à Moral Encíclica Quadragesimo Anno de 15 de maio de 1931:
"Julgar das questões sociais e econô micas é dever e direito da Nossa suprema
Pio XI
autoridade(cfr. Rerum novarum,§ 24-25). Não foi, é certo, confíada à Igreja a missão de encaminhar os homens à con
finalidade que Cristo lhe prefixou é de ordem religiosa. Mas, na verdade, desta mesma missão religiosa decorrem benefí cios, luzes e forças que podem auxiliar a organização e o fortalecimento da comu nidade humana segundo a Lei de Deus....
A energia que a Igreja pode insuflar à sociedade humana atual consiste naquela fé e caridade, levadas à prática na vida, e não no exercício de algum domínio exter no, através de meios meramente hu manos**.
[Compêndio do Vaticano II. Vozes, Pe-
quista da felicidade transitória e caduca, trópolis, 10® ed., 1968, n.° 42]. mas da eterna; antes *a Igreja crê não dever intrometer-se sem motivos nos ne
gócios terrenos* (Encíclica Ubi arcanó), O que não pode é renunciar ao ofício de que Deus a investiu de interpor a sua autori dade, não em assuntos técnicos, para os quais lhe faltam competência e meios, mas em tudo o que se refere à moral. Dentro
deste campo, o depósito da verdade que Deus Nos confiou e o gravíssimo encargo de divulgar a lei moral, interpretá-la e urgir o seu cumprimento oportuna e importunamente, sujeitam e subordinam ao
A missão dos Bispos não é apresentar soluções para os problemas temporais: os leigos assumam, neste campo, suas
responsabilidades próprias Constituição Pastoral Gaudium et Spes. do Concilio Vaticano II:
Nosso juízo a ordem social e as mesmas questões econômicas**. [Documentos Pontifícios. Vozes, Petró-
"As profissões e atividades seculares competem propriamente aos leigos, ainda
polis, fase. 3, 5a. ed., 1959, p. 17].
Reconhecendo as exigências da fé .... pertence-lhes à consciência .... gravar a lei
que não de modo exclusivo ....
divina na vida da cidade terrestre. Os
À "esquerda católica** não pertence leigos esperam dos sacerdotes luz e força alegar que, como tantas outras coisas, espiritual Contudo, não julguem serem os também este modo de pensar e agirjá não tem vigência na Igreja, na era pós-conciliar. Pois em mais de um documento, o Concilio Vaticano II faz eco ao ensino
tradicional dos Papas sobre a matéria:
seus pastores sempre tão competentes que
possam ter uma solução concreta e
imediata para toda a questão que surja, mesmo grave, ou que seja esta a missão deles. Os leigos, ao contrário, esclarecidos pela sabedoria cristã e prestando atenção cuidadosa á doutrina do Magistério, assumam suas responsabilidades. Muitas vezes, a própria visão cristã
A missão que Jesus Cristo confiou das coisas incliná-los-á a uma solução à Igreja não é de ordem política, determinada, em algumas circunstâncias econômica ou social, mas religiosa reais. Outros fiéis, contudo, como Constituição Pastoral Gaudium et
Spes, do Concilio Vaticano II: Concilio cano II
Vati
"A missão própria que Cristo confíou à sua Igreja por certo não é de ordem
política, econômica ou social. Pois a
acontece com freqüência e legitimamente, com igual sinceridade pensarão de modo
diferente, sobre a mesma coisa. Se depois as soluções apresentadas, mesmo sem
intenção das partes,são facilmente ligadas por muitos à mensagem evangélica! é 73
Concilio cano II
Vati-
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Título I
preciso se lembrarem que não é licito a ninguém, nos casos citados, reivindicar exclusivamente para a sua sentença a autoridade da Igreja. Mas procurem, em diálogo sincero, esclarecer-se reciproca mente, conservando a caridade mútua, e preocupados em primeiro lugar com o
que o leigo *tem a responsabilidade de ordenar as realidades temporais para pôlas ao serviço da construção do reino de Deus'(Puebla, 789) e que 'os leigos não podem eximir-se de um sério compromis so na promoção da justiça e do bem
bem comum".
comum' (791). Com especial ênfase na
"A Conferência de Puebla insistiu em
[Compêndio do Vaticano II, Vozes, Pe-
atividade política (cfr. 791), o leigo deve
trópolis, 10» ed., 1968, n.® 43].
promover a defesa da dignidade do ho mem e de seus direitos inalienáveis (792). Nesta missão própria dos leigos, devese deixar a eles o lugar que lhes compete, sobretudo na militância e liderança de
Na esfera temporal, os leigos têm competência especifica e responsabilidade própria
João
Paulo
II
partidos políticos, ou no exercício de cargos políticos (cfr. Puebla, 791)". [Todos os pronunciamentos do Papa no Decreto Aposíolicam Actuositatem, Brasil. Loyola, S. Paulo, 1980, pp.65-66].
do Concilio Vaticano II: Concilio cano II
"Faz-se porém mister que os leigos
Vati-
assumam a renovação da ordem temporal
como sua função própria e nela operem de maneira direta e definida, guiados pela luz do Evangelho e pela mente da Igreja, e
levados pela caridade cristã. Cooperem
A contribuição especifica da Igreja éfortalecer as bases espirituais e morais da sociedade,
e não intrometer-se na política
como cidadãos com os cidadãos, com sua
competência específica e responsabilidade própria".
[Compêndio do Vaticano II. Vozes, Pe-
trópolis, 10» ed., 1968, n.® 7].
Éfunção da Hierarquia julgar da conformidade das atividades temporais aos princípios de ordem moral Decreto Apostolicam Actuositatem. do Concilio Vaticano II: Concilio Vati cano II
"No que diz respeito às atividades e
instituições de ordem temporal, é função da hierarquia eclesiástica ensinar e inter
Alocução aos Construtores da Socie
dade Pluralista de Hoje em Salvador, em 7 de julho de 1980: "Neste ponto a Igreja pretende respeitar as atribuições dos homens públicos.
João Paulo II
Não tem pretensão de intrometer-se na política, não aspira a participar na gestão dos assuiltos temporais. A sua contribui ção específica será a de fortalecer as bases espirituais e morais da sociedade,fazendo
o possível para que toda e qualquer atividade no campo do bem comum se processe em sintonia e coerência com as diretrizes e exigências de uma ética huma na e cristã.
Esse serviço, tendo embora como ob jeto a realidade concreta, a tarefa concreta
pretar autenticamente os princípios de realizada em comum, é antes de tudo um ordem moral que devem ser seguidos nos serviço de formação das consciências: pro assuntos temporais. Compete também a
ela julgar — depois de tudo bem conside rado e depois de valer-se do auxilio de
peritos — da conformidade de tais obras e
clamar a lei moral e suas exigências, denunciar os erros e os atentados à lei
moral, à dignidade do homem em que se baseia, esclarecer, convencer".
institutos com os princípios morais e [Todos os pronunciamentos do Papa no distinguir dentre eles os que são necessá Brasil. Loyola, S. Paulo, 1980, p. 180]. rios para tutelar e promover os bens da ordem sobrenatural".
[Compêndio do Vaticano II. Vozes, Pe-
À Igreja compete apenas
trópolis, 10» ed., 1968, n.® 24].
subsidiariamente a solução dos
problemas de ordem temporal Os Bispos devem deixar aos leigos Homilla durante a Missa em Salvador, em 7 de julho de 1980: o lugar que lhes compete "Estejam sempre lembrados os missio- João Paulo II na ordenação da vida temporal Discurso aos Bispos do CELAM no
Rio de Janeiro em 2 de julho de 1980; 74
nários e evangelizadores deste querido Brasil que o seu compromisso principal é com o Evangelho, sendo competência e
Capítulo IV
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
dever primário do Estado oferecer a todo brasileiro as condições exigidas por uma vida digna, resultado da conveniente satis
ditadas por um só propósito: partindo da
missão própria da Igreja e do papel que lhe cabe, refletir quanto possível à luz do
magistério desta mesma Igreja no campo da existência. À Igreja compete apenas social e ajudar assim a 'estabelecer a
fação de todas as necessidades primárias
subsidiariamente a solução dos problemas comunidade humana segundo a lei divina* de ordem temporal". (cfr. Constituição Gaudium et Spes, n. 42). [Todos os pronunciamentos do Papa no Deste modo,com a força do Espírito, que
Brasil. Loyola, S. Paulo, 1980, p. 195].
Em pleno respeito à autonomia do domínio temporal, a Igreja
é a única de que dispõe, em pleno respeito à autonomia do domínio temporal, mas consciente de suas responsabilidades, a Igreja não quer omitir-se quando se trata de fazer que'a vida humana se torne cada vez mais humana* e de conscientizar'para
não quer omitir-se no papel que lhe cabe para que a sociedade
que tudo aquilo que compete a esta mesma vida corresponda à verdadeira
humana se modele segundo
tor Hominis, n. 14)**.
a lei divina
[Todos os pronunciamentos do Papa no
Homilia durante a Missa em Recife,
dignidade do homem*(Encíclica Redemp-
Brasil, Loyola, S. Paulo, 1980, pp. 199-200].
em 7 de julho de 1980: João
Paulo
I!
"As considerações que passo a fazer no quadro deste nosso encontro são
■ Destaques em negrito e subtítulos do autor
75
Capítulo V
A linha geral de pensamento da CNBB — Acirramento dos movimentos reivindicatórios conducente à luta de classes
miséria. Ou, quando tal não seja
1. O posicionamento
elementar e simplista
possível, para uma constante e infatigável redução da quota de miséria no País.
da CNBB
2. Objeções ao Arrazoado subja cente nos pro nunciamentos da CNBB:
A leitura atenta e cabal do
documento Igreja e problemas da terra torna claro que este fírma a linha geral de seu pensamento sobre um arrazoado elementar e
posicionamento da CNBB
Contra tal arrazoado, há que
simplista. É útil expô-lo com objetar seu caráter imaturo e sim
clareza, pois este mesmo arrazoa plista, que algumas reflexões facil do está implícito em muitos dos mente fazem ver. pronunciamentos e atitudes da CNBB, como de personalidades 1.°) Não está demonstrado que, eclesiásticas e leigas da **esquerda segundo os planos da Providên católica". cia, o homem possa alcançar, no
É o seguinte:
A miséria genera lizada...
... brada por re médio drástico e urgente
... que consiste nas reformas de estrutura
plano sócio-econõmico, tal perfei ção de conhecimento e de orga a) no Brasil há miséria gene nização que consiga eliminar intei ralizada; ramente a miséria. Como a Igreja b) ora, tal miséria constitui jamais conseguirá eliminar inteira uma injustiça insuportável, a bra mente o crime nem o pecado, nem dar por remédio drástico e urgente; a medicina as doenças e a morte. c) logo, custe o que custar, é preciso ir submetendo o Brasil, desde já, a tantas alterações ou reformas quantas sejam necessá
Pode-se até lembrar, neste ca so, as palavras de Nosso Senhor
Jesus Cristo, "tereis sempre po bres entre vós"(Mt. 26, 11), inter pretadas por teólogos de peso rias para a inteira eliminação da como a afirmação de que a misé77
A miséria jamais será eliminada in
teiramente dafa ce da terra
Título I
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
ria jamais será extirpada da Ter este particular, obviamente nada dizem a Escritura e a Tradição. ra (I). Também entre sociólogos e Logo, nada tem a dizer sobre tal a
economistas, os quais se pronun ciam sobre o tema de um ponto de
CNBB.
3.°) Concedendo, para argu mentar, que a meta da CNBB nico, há muitos que consideram fosse indiscutivelmente alcançá impossível, ou pelo menos alta vel, por que meios chegar a ela? A mente duvidosa, a eventual erra CNBB responde sem pestanejar: dicação da miséria do mundo. pela reforma fundiária nos cam Não é dado pois, à CNBB, pos e — como se prevê — também vista inteiramente natural e téc
tomar por meta — e ideal — impor a todos os católicos brasi
nas cidades.
fletidas e imaturas.
O assunto é discutível ao infi nito entre os técnicos e homens
Os técnicos e ho
mens experientes
discutem ao infi nito sobre os
meiospara aliviar consideravelmen te a miséria
Qual a prova do acerto deste leiros algo que bem pode ser (ou método tão drástico e tão grave, certamente é) uma utopia, resul cuja aplicação, ademais, a CNBB tante de impulsos quiçá generosos, quer já e já? mas também de cogitações irre-
Em concreto, não
é possível a extir-
pação total da miséria em nosso País
2.°) Ademais, a CNBB extra experientes. Como pode a CNBB vasa do campo que lhe é espe dá-lo por resolvido e assente, sem cífico, tomando tão radical e pe- mais provas senão uma indicação remptoriamente posição num as bibliográfica das mais sumárias, sunto que, por sua própria natu contida em simples nota em pé de Á reza, é essencialmente técnico- página? (cfr. IPT, subtítulo realidade dos fatos"). científico. Ou seja, a possibilidade Aliás, também sobre isso nada da extirpação total da miséria em nosso País e em nossos dias, no dizem a Escritura e a Tradição. estado atualáos conhecimentos de Cabe, pois, ao Poder temporal Sociologia e da Economia. Sobre decidir sobre a matéria. Como então se arroga a CNBB a atri buição de recomendar ao País (1) Comentando essa passagem do Evan uma determinada solução? gelho, em que Mana, irmã de Marta e de Lázaro, "tomando uma libra de ungüento de
nardo legítimo, de grande valor, ungiu os pés de Jesus e os enxugou com seus cabelos". provocando assim os protestos de Judas Iscariotis (Jo. 12, 3 a 8) SAo TomAs diz: "Às vezes deve-se fazer o que é menos necessário se há
4.0) Por fim, chama a atenção, no IPT, a inteira inexistência da perspectiva histórica. Em nenhum
aos antecedentes
momento ele se refere aos ante
e laborai
ocasião para fazer depois o que é mais neces sário. E por isto o Senhor, emborafosse mais necessário dar o ungüento aos pobres do que ungir com ele seus pés, posto que isso ainda poderia ser feito peio fato de sempre termos
cedentes históricos do quadro da
pobres entre nós, assim permitiu o Senhor que se fizesse o menos necessário" (Super Evangelium S. loannis Lectura, Marietti, Taurini-
exagerado, e sem qualquer rigor
Romae, 19S2, p. 301 — destaques do autor). No mesmo sentido, diz o Pe. Denis Buzy
S.C.J., comentando a passagem paralela de São Mateus (26, 11): "Jesus toma a defesa de Maria ....A razão alegada é de uma intimidade comovedora: "Pobres sempre tereis entre vós, mas a Mim não Me tereis sempre". O Deuteronômio tinha já formulado a profecia, bem
confirmada pelosfatos:"Nunca faltarão pobres no meio do povo" (Dt. 15, II). Mas é a primeira vez que a santa Humanidade de Jesus se contrapunha a esta porção da humanidade sofredora e digna de interesse" (La Sainte
situação fundiária e laborai do
Brasil de hoje (a qual, aliás, o documento pinta de modo tão de documentação). Se o fizesse, seria forçoso que ele reconhecesse não ser a presente
situação (ao contrário do que ele faz entender) estagnada e refratária a qualquer mudança. Pelo contrário, a história do trabalho manual no Brasil atesta uma as
censão gradual e contínua,da qual
o presente constitui o ponto mais
Bible — Évangile Selon Saint Matthieu, Letou-
alto rumo a um futuro melhor.
zey et Ané, Paris, tomo IX, 1946, pp. 341-342).
Em outros termos, o Brasil está
78
Omissão quanto históricos da si
tuação fundiária
As evidências da infiltração esquerdista nos meios católicos chegaram a tal ponto, que em 1968, 1.600.368 brasileiros subscreveram
um abaixo-assinado pedindo respeitosamente a Paulo VI medidas eficazes contra essa infiltração. A campanha de coleta de assinaturas foi levada a efeito em todo o território nacional pela TFP. A coleta de assinaturas
contra a infiltração co munista na Igreja atingiu 229 cidades brasileiras.
Dois flagrantes da cam panha, em São Paulo e Fortaleza (em cima).
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Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Título /
engajado em um sólido processo 6.°) Mais uma vez cumpre de' paulatina ascensão popular. observar em quão larga medida, Desde a luta inicial contra a
praticando tal omissão, a CNBB
natureza inculta e aspérrima, na se conduz de modo iitefletido e qual se empregava o trabalho imaturo. Com isto, ela tende a escravo de índios ou negros, até a interromper um processo de as libertação dos escravos em 1888, e censão social harmônico e pru
A atuação da CNBB tende a in terromper esse
processo harmô nico, substituin
do-o por um mo vimento reivindi-
catório "quente"
o "advento" da era da legislação dente, mas dinâmico, substituin trabalhista em constante amplia do-o por um movimento reivindição(1930-1980),as melhorias para catório "quente", precipitado e
A ascensão social dos trabalhado res manuais vem
se produzindo sem luta de clas ses
a classe operária têm sido gra acrimonioso. duais, mas incessantes e largas. A perspectiva admissível é pois Cumpre acrescentar que toda de um incitamento feito pelo Cle essa evolução se vem fazendo sem ro de esquerda para um levante qualquer espécie de luta de classes. em massa contra os proprietários. Ou seja, para uma luta de classes 5.°) As afirmações precedentes cujo êxito custaria ao País uma se reportam às condições do tra eventual guerra civil, seguida, ao balhador manual (agrícola ou ur fim, pela implantação do regime bano) que se conserva enquanto comunista.
Perspectiva a se temer: guerra ci vil e implantação do regime comu nista
tal e não ascende de categoria. É indispensável acrescentar que a ascensão de famílias de trabalha dores manuais a médias ou altas
3. O princípio da situações na lavoura, na pecuária, "opção pelos pobres" na indústria e no comércio é um e o caráter hierárquico fato generalizadíssimo no Brasil. Não há, nestes vários setores de
atividade, nível nenhum em que não se encontrem — em posição
da sociedade cristã Mas — objetará alguém — a
de destaque — filhos, netos ou "opção pelos pobres"y arvorada a bisnetos de trabalhadores ma justo título pela CNBB como sa
nuais. O mesmo se pode dizer de grado dever dos Bispos, não im outros importantes setores, desde o porta precisamente em uma luta mundo político, universitário, cul sistemática contra todas as desi tural, até as Forças Armadas, os gualdades? meios de comunicação social, as Em outros termos, ao caráter profíssões liberais etc.
necessariamente hierárquico de
E, também neste ponto, a as uma genuína sociedade cristã, não censão social se produziu sem luta se opõe o princípio da "opção com as velhas famílias da aristo
cracia rural, as quais, grosso mo-
pelos pobres**? Tal opção está na própria es
doy foram as únicas a dirigir o sência do espirito católico. Porém, Brasil desde a era colonial até o grande surto industrial e urbano da era 1930-1980. Sobre tudo isto silencia inex plicavelmente o IPT.
cumpre entendê-la. Ela não im porta em que, onde haja grandes e pequenos, a Igreja entre necessa riamente em liça a favor do pe
queno contra o grande. Nem que, onde haja ricos e não ricos, a mento desses fatos contrariaria a Igreja tenha a missão de conduzir política de reformas, onímodas e a batalha dos segundos contra os açodadas, que, numa atitude não primeiros. isenta de agressividade, a CNBB Com efeito, se assim fosse, a quer impor ao País. Igreja aceitaria a tese marxista de
A "opção pelos
pobres" não sig nifica que a Igre ja tenha a missão de conduzir a luta
dospobres contra os ricos
Cabe notar que o reconheci
80
Concepção cató lica: classes so ciais distintas co
operando harmo niosamente para o bem comum
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
A Igreja deve aju dar o pobre, não a destruir o rico. mas a defender-se contra os abusos
de poder que este cometa
Capitulo V
que cada desigualdade é uma in sório para mover o rico a resta justiça, e a existência de classes belecer a justiça violada. E, mais sociais estratifícadas deve ser abo ainda, para cumprir os deveres lida. Ora, a Igreja ensina, pelo que lhe impõe a caridade cristã. contrário, que as classes sociais Baldos estes esforços, é conce distintas devem cooperar harmo bivel que, em certas situações, ela niosamente para o bem comum, aprove que o pobre se faça justiça em lugar de se entredestruírem com suas próprias mãos, nunca (cfr. Textos Pontifícios ao fim porém com ferocidade. E nem, deste Capitulo). jamais, para eliminar a estratiílNuma sociedade proporciona cação social. Mas para restringi-la da e harmonicamente desigual, nas devidas proporções. não há pois lugar para uma opção da Igreja em favor dos pobres? Portanto, a "opção pelos po Certamente há. Essa opção con bres" — radicada na missão de siste em manter o equilíbrio hie Mestra e de mantenedora da Mo rárquico ajudando o pobre, não a ral(e pois da justiça e da caridade) destruir o rico, mas a defender os — que toca à Igreja, deve exercerdireitos que este seja levado a se de dois modos diferentes, se transgredir, ou tenha efetivamente gundo a situação concreta. transgredido, por abuso de poder. Ela constitui uma opção pre A "opção pelos pobres" toma ventiva nas situações normais,em sentido mais enérgico quando,em que a Igreja deve ensinar a todos uma sociedade estratificada, a de os fiéis o princípio da distinção sigualdade — legítima em si, con harmônica entre as várias classes vém sempre insistir — é levada a sociais, com uma atenção especial ponto de reduzir o pobre a nível mente voltada para as camadas inferior ao que merece o valor mais modestas, e por isto menos específico de algum trabalho que esclarecidas e capazes de se de eventualmente realize. Ou, pior fender. Essa atenção visa ajudá-las ainda, a nível inferior à inalie a acautelarem seus direitos tão nável dignidade do homem e do logo eles corram risco de trans cristão. gressão da parte dos mais pode Neste caso, a Igreja opta ener rosos. gicamente pelo pobre, não mais A mesma opção deve exercerpara prevenir um abuso possível, se também num sentido corretivo. ou corrigir uma injustiça censu Ou seja, onde quer que os direitos rável, mas para fazer cessar uma das camadas mais modestas te injustiça insuportável. nham sido violados, compete à
Análoga afirmação se pode Igreja ajudá-las a recuperar o que fazer quanto ao pobre reduzido a perderam. um estado de miséria incompatível É bem de ver que tal opção com suas mais elementares neces tem sempre o sentido de proteção sidades.
da harmonia das classes na socie
Verificada alguma dessas si dade hierárquica. E não da luta, tuações, a Igreja opta pelo pobre do desequilíbrio e da destruição de envidando todo o seu esforço sua- tais classes por uma delas.
81
A Igreja, Mestra e mantenedora da
Moral, e portan to da justiça e da caridade
Ação preventiva
Açcb corretiva
Sou católico: posso ser corttra a Reforma Agrária?
Titulo /
Textos Pontifícios
A doutrina tradicional dos Papas sobre hierarquia social em oposição à doutrina marxista da luta de classes Os presentes textos pontifícios eviden ciam que, segundo a doutrina da Igreja, a sociedade cristã deve ser constituída por classes proporcionadamente desiguais que encontram seu próprio bem, e o bem comum, em uma mútua e harmoniosa colaboração. Este ideal é diretamente oposto à doutrina marxista da luta de classes, segundo a qual toda desigualdade — quer de indivíduos, quer de classes — importa na "exploração"(ou "opressão")
Por isso, assim como no céu quis que os coros dos Anjos fossem distintos e subordinados uns aos outros, e na Igreja instituiu graus nas ordens e diversidade de ministérios de tal forma que nem todos fossem apóstolos, nem todos doutores, nem todos pastores (1 Cor 12, 27); assim estabeleceu que haveria na sociedade civil várias ordens diferentes em dignidade,em
direitos e em poder, a fim de que a sociedade fosse, como a Igreja, um só dos inferiores pelos superiores. Diante corpo, compreendendo um grande núme dessa injustiça, a solução não é a coopera ro de membros, uns mais nobres que os ção, mas a luta dos "explorados" (ou outros, mas todos reciprocamente neces "oprimidos") contra os "exploradores" sários e preocupados com o bem comum". (ou "opressores"). [Documentos Pontifícios, Vozes, Petrópolis, fase. 17, 4® ed., 1962, p. 9].
"A desigualdade de direitos e de poder provém do próprio
O espirito cristão é contrário
Autor da natureza"
à luta de classes
Encíclica Quod Apostolici Muneris de 28 de dezembro de 1878:
Leão XIII
Encíclica Auspicato Concessum de 17 de setembro de 1882:
"O espírito cristão traz consigo a sub "Segundo as doutrinas do Evangelho, a igualdade dos homens consiste em que missão, por consciência, à autoridade todos, dotados da mesma natureza, são
Uão XIII
legítima, e o respeito dos direitos de quem
chamados à mesma e eminente dignidade quer que seja; e esta disposição de ânimo é de filhos de Deus, e que, tendo todos o o meio mais eficaz para cercear, dessarte,
mesmo fím, cada um será julgado pela toda desordem, as violências, as injusti mesma lei e receberá o castigo ou a recompensa que merecer. Entretanto a
ças, as sedições, o ódio entre as diversas classes sociais, que são os principais
desigualdade de direitos e de poder pro
móveis e, conjuntamente, as armas do
vém do próprio Autor da natureza, 'de Socialismo". quem toda a paternidade tira o nome, no [Documentos Pontifícios, Vozes, Petrócéu e na terra'(Ef 3, 15)". polis, fase. 92, 1953, p. 13]. [Documentos Pontifícios. Vozes, Petró-
polis, fase. 17, 4® ed., 1962, p. 8].
O universo, a Igreja e a sociedade civil refletem o amor de Deus a uma orgânica desigualdade Encíclica Quod Apostolici Muneris de 28 de dezembro de 1878:
Leão XIII
"Aquele que criou e governa todas as
coisas, regulou com a sua sabedoria pro videncial que as ínfimas coisas ajudadas pelas medianas, e estas pelas superiores, consigam todas o seu fim. 82
Nada repugna tanto à razão quanto uma igualdade matemática entre os homens Encíclica Humanum Genus de 20 de abril de 1884:
"Se considerarmos que todos os ho mens são da mesma raça e da mesma
natureza e que devem todos atingir o mesmo fim último e se olharmos aos
deveres e aos direitos que decorrem dessa comunidade de origem e de destino, não é
duvidoso que eles sejam iguais. Mas,
Uão XIII
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
como nem todos eles têm os mesmos
recursos de inteligência, e como diferem uns dos outros, seja pelas faculdades do
espírito, seja pelas energias físicas; como, enfim, existem entre eles mil distinções de costumes, de gostos, de caracteres, nada repugna tanto à razão como pretender reduzi-los todos à mesma medida e intro
duzir nas instituições da vida civil uma igualdade rigorosa e matemática**. [Documentos Pontifícios, Vozes, Pétrópolis, fase. 13, 4® ed., 1960, p. 20].
As desigualdades são condição de organicidade social Encíclica Humanum Gentts de 20 de abril de 1884:
Leão XIII
"Do mesmo modo que a perfeita constituição do corpo humano resulta da união e do conjunto dos membros, que não têm as mesmas forças nem as mesmas funções, mas cuja feliz associação e con curso harmonioso dão a todo o organis
mo a sua beleza plástica, a sua força e a sua aptidão para prestar os serviços neces sários, assim também, no seio da socieda de humana, acha-se uma variedade quase infinita de partes dessemelhantes. Se elas fossem todas iguais entre si, e livres cada uma por sua conta de agir a seu talante, nada seria mais disforme do que tal sociedade. Pelo contrário, se, por uma sábia hierarquia dos merecimentos, dos gostos, das aptidões, cada uma delas concorre para o bem geral, vedes erguerse diante de vós a imagem de uma sociedade bem ordenada e conforme à natureza**.
Capítulo V
porque a vida social requer um organismo muito variado e funções muito diversas, e o que leva precisamente os homens a partilharem estas funções é, principalmen te, a diferença de suas respectivas con dições**. [Documentos Pontifícios, Vozes, Petrópolis, fase. 2, 6® ed., 1961, p. 12].
Assim como no corpo humano
os diversos membros se ajustam entre si, da mesma forma devem integrar-se na sociedade as classes sociais Encíclica Rerum Novarum de 15 de maio de 1891:
"O erro capital na questão presente é crer que as duas classes são inimigas natas
Leão XIII
uma da outra, como se a natureza tivesse
armado os ricos e os pobres para se combaterem
mutuamente
num
duelo
obstinado. Isto é uma aberração tal, que é necessário colocar a verdade numa
doutrina contrariamente oposta, pois assim como no corpo humano os diversos membros se ajustam entre si e determinam essas relações harmoniosas a que se cha ma adequadamente simetria, da mesma forma a natureza exige que na sociedade as classes se integrem umas às outras e por sua colaboração mútua realizem um justo equilíbrio. Cada uma delas tem imperiosa necessidade da outra; o capital não existe sem o trabalho, nem o trabalho
sem o capital. Sua harmonia produz a beleza e a ordem; ao contrário, dum con
flito perpétuo só podem resultar confusão [Documentos Pontifícios. Vozes, Petró- e lutas selvagens**. polis, fase. 13, 4® ed., 1960, p. 20]. [Actes de Léon XIII, Bonne Presse, Paris, vol. III, p. 321
A desigualdade social reverte em proveito de todos Encíclica Rerum Novarum de 15 de maio de 1891:
Leão XIII
Deus quis que houvesse na sociedade uma diversidade de classes
"O primeiro princípio a pôr em evidên Carta Apostólica Permoti Nos de 10 cia é que o homem deve aceitar com de julho de 1895 ao Cardeal Goossens, paciência a sua condição: é impossível que Arcebispo de Malines, e aos demais Bis na sociedade civil todos estejam elevados
ao mesmo nível. É,sem dúvida,isto o que desejam os socialistas; mas contra a natu reza todos os esforços são vãos. Foi ela,
realmente, que estabeleceu entre os ho mens diferenças tão multíplices como
profundas; diferenças de inteligência, de
pos da Bélgica: "Deus quis que houvesse na sociedade humana uma diversidade de classes, mas ao mesmo tempo certa equanimidade
proveniente da colaboração amistosa. As sim, os operários não devem de maneira nenhuma faltar ao respeito ou à fidelidade
talento, de habilidade, de saúde, de força; diferenças necessárias, de onde a seus patrões, nem estes últimos faltem nasce espontaneamente a desigualdade em relação àqueles, com a justiça, a das condições. Esta desigualdade, por bondade e cuidados previdentes**. outro lado, reverte em proveito de todos, [Actes de Léon XIII, Bonne Presse, Paris, tanto da sociedade como dos indivíduos;
tomo IV, p. 230]. 83
Leão XIII
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
A Igreja ama todas as classes e a harmoniosa
desigualdade entre elas Alocução de 24 de janeiro de 1903 ao Patriciado e à Nobreza Romana:
Leão XIII
"Os Pontífices Romanos tiveram sem
Título I
sem; amou-os a todos para os instruir, converter e salvar. Se chamou junto de si, para os consolar, os aflitos e os sofredores, não foi para lhes pregar o anseio de uma igualdade quimérica. Se levantou os hu mildes, não foi para lhes inspirar o sentimento de uma dignidade independen te e rebelde à obediência**.
pre um igual empenho em proteger e [Documentos Pontifícios, Vozes, Petrómelhorar a sorte dos humildes, como em polis, fase. 53, 2" ed., 1953, pp. 25-26]. proteger e elevar as condições das classes superiores. Eles são, com efeito, os continuadores da missão de Jesus Cristo, não somente na ordem religiosa, mas também Nem por serem iguais em natureza
na ordem social. E Jesus Cristo, se quis passar sua vida privada na obscuridade de uma habitação humilde e ser tido por filho de um artesão; se, na sua vida
devem os homens ocupar o mesmo posto na vida social Encíclica Ad Beatissimi de l** de no
pública, comprazia-se em viver no meio do povo, fazendo-lhe o bem de todas as
vembro de 1914:
maneiras, entretanto quis nascer de raça real, escolhendo por mãe a Maria, e por
ou a atividade própria dotaram de bens de fortuna, estão os proletários e operários, abrasados pelo ódio porque, participando
"Defrontando-se com os que a sorte
Bento XV
pai nutrfcio a José,ambos filhos eleitos da raça de Davi. Ontem, na festa de seus da mesma natureza, não gozam entretan esponsais, podíamos repetir com a Igreja to da mesma condição. Naturalmente, as belas palavras:'Maria se nos mantfesta enfatuados como estão pelos embustes fulgurante, nascida de uma raça real*. dos agitadores, a cujo influxo costumam Por isso, a Igreja, pregando aos ho submeter-se inteiramente, quem será ca mens que eles são todos filhos do mesmo paz de persuadi-los de que, nem por serem Pai celeste, reconhece como uma condi iguais em natureza, devem os homens ção providencial da sociedade humana a ocupar o mesmo posto na vida social; mas distinção das classes; por essa razão Ela que, salvo circunstâncias adversas, cada ensina que apenas o respeito recíproco um terá o lugar que conseguiu por sua dos direitos e dos deveres, e a caridade conduta? Assim, pois, os pobres que mútua darão o segredo do justo equilíbrio, lutam contra os ricos como se estes do bem-estar honesto, da verdadeira paz c houvessem usurpado bens alheios, agem da prosperidade dos povos. não somente contra a justiça e a caridade, Quanto a Nós, também, deplorando mas também contra a razão; principal as agitações que perturbam a sociedade mente tendo em vista que podem, se civil, mais de uma vez voltamos o Nosso quiserem, com honrada perseverança no olhar para as classes mais humildes, que trabalho, melhorar a própria fortuna. É são mais perfidamente assediadas pelas desnecessário declarar quais e quantos seitas perversas: e Nós lhes oferecemos os prejuízos acarreta esta rivalidade de clas desvelos maternais da Igreja. Mais de uma ses, tanto aos indivíduos em particular, vez Nós o declaramos: o remédio para como à sociedade em geral**. esses males não será jamais a igualdade subversiva das ordens sociais, mas esta
[Actes de Benoit XV, Bonne Presse, Paris,
fraternidade que, sem prejudicar em nada a dignidade da posição social, une os corações de todos nos mesmos laços do
tomo I, pp. 34-35].
O trato fraterno entre superiores [Actes S. S. Léon XIII. Bonne Presse, e inferiores não deve fazer Paris, tomo VII, pp. 169-170]. desaparecer a variedade das amor cristão**.
condições e a diversidade
São Pio X
Jesiás Cristo não ensinou
das classes sociais
uma igualdade quimérica nem o desrespeito à autoridade
Encíclica Ad Beatissimi de 1° de no vembro de 1914:
Carta Apostólica Notre Charge Apostolique de 25 de agosto de 1910:
efeito fazer desaparecer a variedade das
"Se Jesus foi bom para os transviados
"Este amor fraterno não terá por
condições, nem por conseguinte a diversi dade das classes sociais, assim como num
e os pecadores, não respeitou suas convic
corpo vivo não é possível que todos os
ções errôneas, por sinceras que pareces
membros tenham a mesma função e a
84
Bento XV
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Corxsiderações doutrinárias
mesma dignidade. Entretanto, esta afei
ção mútua fará com que os mais elevados se inclinem de algum modo para os que estão mais embaixo, e os tratem não
somente segundo a justiça, como deve ser, mas ainda com benevolência, doçura e
paciência; e os inferiores, de seu lado, se alegrarão com a prosperidade das pes
soas de posição mais elevada, e esperarão o seu apoio com confiança, como numa mesma família, os mais jovens repousam
Capitulo V
gar tão nobre programa. Se este espírito cristão faltar, sem falar no mal incalcu lável que esta ação acarretaria, certamente
dela não resultaria benefício algum. SejaNos lícito esperar que todos sejam dóceis às vossas instruções; se alguém se mostrar obstinado, removei-o sem hesitação do cargo que lhe estiver confiado". [Actes de Benoit XV, Bonne Presse, Paris, tomo II, pp. 127-128].
sobre a proteção e a assistência dos mais velhos".
[Acles de Benoit XV, Bonne Presse, Paris, tomo I, pp. 35-36].
Acatar a hierarquia social, para o maior bem dos indivíduos e da sociedade Carta Soliti Nos de 11 de março de
A Igreja censura os que ateiam a 1920, a Mons. Marelli, Bispo de Bérgamo: luta dos pobres contra os ricos "Os que ocupam situações inferiores Carta Soliti Nos de 11 de março de
1920, a Mons. Marelli, Bispo de Bérgamo: Bento XV
"Eis o que importa essencialmente não perder de vista: esta vida, efêmera e sujeita a todos os males, a ninguém permite alcançar a felicidade; a felicidade verda deira, perfeita, eterna, ser-nos-á dada no Céu, como recompensa da virtude; o Céu deve ser o fim de nossos esforços; por isso, devemos nos preocupar menos de fazer valer os nossos direitos do que de cumprir os nossos deveres; não é proibido, entre tanto, e na medida do possível, melhorar a nossa sorte, pela procura de uma existên
cia mais fácil; nada, enfim, é mais próprio a assegurar o bem geral do que a concór dia e a união de todas as classes, entre as quais não há melhor traço de união do que a caridade cristã. Trabalhariam, pois, pessimamente pe lo bem do operário — convençam-se disto — os que, ostentando a pretensão de melhorar-lhe as condições de existência, não lhe dessem a mão senão para a
conquista dos bens frágeis e perecíveis desta terra, negligenciassem esclarecê-lo sobre seus deveres à luz dos princípios da
Bento XV
quanto à posição social e à fortuna devem convencer-se bem de que a diversidade de classes na sociedade vem da própria natureza, e de que se deve procurá-la, em
última análise, na vontade de Deus: 'por que ela criou os grandes e os pequenos' (Sap. 6, 8). para o maior bem dos
indivíduos e da sociedade. Essas pessoas humildes devem compenetrar-se desta verdade: qualquer que sejá a melhora que obtenham para a sua situação, tanto pelos seus esforços pessoais como com o con curso dos homens de bem, sempre lhes ficará, como aos demais homens, uma
pesada herança de sofrimentos. Se tive rem essa visão exata da realidade, não se
esgotarão em esforços inúteis para se elevarem a um nível superior às suas capacidades, e suportarão os males inevi
táveis com a resignação e a coragem que a esperança de bens eternos dá".
[Actes de Benoit XV, Bonne Presse, Paris, tomo II, p. 129].
É legitima a desigualdade de direitos
doutrina cristã, e chegassem mesmo ao ponto de excitar sempre mais sua animo
Encíclica Divini Redemptoris de 19 de sidade contra os ricos, entregando-se a março de 1937: essas declamações amargas e violentas por "Não é verdade que na sociedade civil meio das quais nossos adversários impe todos temos direitos iguais, e que não lem as massas para a subversão da socie exista hierarquia legítima". dade. [Documentos Pontifícios, Vozes, PetróPara afastar perigo tão grave, será polis, fase. 1, 8® ed., 1963, p. 17]. necessária, Venerável Irmão, vossa inteira
vigilância. Prodigalizando vossos conse lhos — como já o tendes feito — aos que visam diretamente melhorar a condição do operário, vós lhes pedireis que evitem as intemperanças de linguagem que carac terizam os socialistas, e penetrem profun damente de espirito cristão toda a sua
ação, quer tenda a realizar, quer a propa
Desigualdades sociais:fator de verdadeira união
da grande família humana Discurso de 5 de janeiro de 1942 ao Patriciado e à Nobreza Romana;
85
Pio XI
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Pio XH
"As desigualdades sociais, inclusive as
Titulo I
civil, lhe conferem o seu significado
que são ligadas ao nascimento, são inevi
legítimo, isto é, cada um, em face do
táveis; a natureza benigna e a bênção de Deus à humanidade, iluminam e prote gem os berços, beijam-nos, porém não os nivelam. Atendei mesmo para as socieda
Estado, tem o direito de viver honrada
des mais inexoravelmente niveladas. Ne
nhum artifício jamais logrou ser bastante
eficaz a ponto de fazer com que o filho de
mente a própria vida pessoal, no lugar e nas condições em que os desígnios e disposições da Providência o colocaram". [Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità Pio XII. vol. VI, pp. 239-240].
um grande chefe de um grande condutor de multidões, permanecesse em tudo no
mesmo estado que um obscuro cidadão perdido no povo. Mas se tais disparidades inelutáveis podem, quando vistas de ma neira pagã, parecer como uma inflexível conseqüência do conflito das forças sociais
e da supremacia conseguida por uns sobre os outros segundo as leis cegas que se supõem reger a atividade humana, e consumar o triunfo de alguns, assim como o sacrifício de outros; pelo contrário, tais desigualdades não podem ser considera das por uma mente cristãmente instruída e educada, senão como disposição desejada por Deus pelas mesmas razões que expli cam as desigualdades no interior da famí lia, e portanto com o fim de unir mais os homens entre eles, na viagem da vida
É necessário fomentar nos jovens o espírito de hierarquia Radiomensagem de 6 de outubro de 1948:
"Desenvolvei nas almas das crianças e dos jovens o espírito hierárquico, que não
Pio XII
recusa a cada idade seu devido desenvolvi
mento, a fim de dissipar, tanto quanto possível, esta atmosfera de independência e de excessiva liberdade que em nossos
dias respira a juventude, e que a levaria a repelir toda autoridade e todo freio; procurai, ao mesmo tempo, suscitar e formar o senso da responsabilidade e relembrando que a liberdade não é o
presente para a pátria do céu, ajudando-se único entre todos os valores humanos, uns aos outros, da mesma forma que um ainda que seja contado entre os primeiros, mas que tem seus limites intrínsecos nas pai ajuda a mãe e os filhos. Se esta concepção paterna da superio normas incontestáveis da honestidade, e ridade social, por vezes, em virtude do extrínsecos nos direitos correlativos dos ímpeto das paixões humanas, arrastou os demais, tanto de cada um em particular ânimos a desvios nas relações de pessoas quanto da sociedade tomada em seu de categoria mais elevada, com as de conjunto". condição mais humilde, a história da [Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità humanidade decaída não se surpreende Pio XII. vol. X, p. 247].
com isto. Tais desvios não bastam para diminuir ou ofuscar a verdade fundamen
tal de que para os cristãos as desigualda des sociais se fundem numa grande familia humana".
[Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità Pio XII. vol. III, p. 347].
Estabelecer a igualdade absoluta seria destruir o organismo social Discurso de 4 de junho de 1953:
"É preciso que vos sintais verda deiramente irmãos. Não se trata de uma
As legitimas desigualdades conferem uma digna e honrada existência pessoal
simples alegoria: sois verdadeiramente filhos de Deus e portanto verdadeiros irmãos.
Pois bem, os irmãos não nascem nem permanecem todos iguais: uns são fortes, Radiomensagem de Natal de 1944: outros débeis; uns inteligentes, outros
Pio XII
"Num povo digno de tal nome, todas as desigualdades que derivam, não do arbítrio, mas da própria natureza das coisas, desigualdades de cultura, de
haveres, de posição social — sem prejuízo, bem entendido, da justiça e da caridade mútua — não são absolutamente um
incapazes; talvez algum seja anormal, e também pode acontecer que se tome
indigno. É pois inevitável uma certa desigualdade material, intelectual, moral, numa mesma família ....
Pretender a igualdade absoluta de
todos seria o mesmo que pretender dar
idênticas funções a membros diversos do um autêntico espírito de comunidade e mesmo organismo". fraternidade. Pois, pelo contrário, longe [Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità obstáculo à existência e ao predomínio de
de lesar de qualquer modo a igualdade 86
Pio XII. vol. XV, p. 195].
Pio XII
"A Igreja, pregando aos homens que eles são todos
filhos do mesmo Pai celeste, reconhece como uma condição providencial da sociedade humana a distinção das classes; por essa razão Ela ensina que apenas o respeito recíproco dos direitos e dos deveres, e a caridade mútua darão o segredo do justo equilíbrio, do bem-estar honesto, da verdadeira paz e da prosperidade dos povos" (Leão XIII).
«M
Na aparência um carente, segundo certos padrões de conforto moderno, o caipira é, na realidade, digno, inteligente, resistente e afeito ao trabalho. Para ele, a vida não se reduz a uma corrida desordenada atrás dos bens terrenos. Soube retratá-lo o talento
artístico de Almeida Jr. (Quadro do Museu Paulista).
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Quem ousa negar a diversidade de classes sociais contradiz a ordem mesma da natureza
João XXIII
Titulo I
[Acta Aposíolicae Sedis, vol. LI, n.® 10, pp. 505-506].
Uma sociedade sem classes: Enciclica Ad Petri Cathedram de 29 de junho de 1959: perigosa utopia "A concórdia que se procura entre os Alocução aos jovens em Belo Hori povos deve ser promovida cada vez mais entre as classes sociais. Se isto não se zonte, em 1® de julho de 1980: verifíca, podem em conseqüência resultar "Aprendi que um jovem cristão deixa ódios e dissensões, como já estamos pre de ser jovem, e há muito não é cristão,
senciando; daí nascerão perturbações, re quando se deixa seduzir por doutrinas ou voluções e por vezes massacres, bem como ideologias que pregam o ódio e a vio
a diminuição progressiva da riqueza e as lência crises que afetam a economia pública e Aprendi que um jovem começa perigo privada Quem ousa, pois, negar a samente a envelhecer quando se deixa diversidade de classes sociais contradiz a ordem mesma da natureza. E também os
enganar pelo princípio fácil e cômodo de que *0 fím justifica os meios*, quando que se opõem a esta colaboração amistosa passa a acreditar que a única esperança e necessária entre as classes buscam, sem para melhorar a sociedade está em pro dúvida, perturbar e dividir a sociedade, mover a luta e o ódio entre grupos sociais, para o maior dano do bem público e na utopia de uma sociedade sem classes, privado É verdade que toda classe e que se pode revelar bem cedo na criação toda categoria de cidadãos pode defender de novas classes**.
os próprios direitos, desde que o faça na [Todos os pronunciamentos do Papa no legalidade e sem violência, no respeito dos Brasil, Loyola, São Paulo, 1980, p. 34]. direitos alheios, tão invioláveis quanto os seus. Todos são irmãos; é, pois, necessário que todas as questões se resolvam amiga ■ Destaques em negrito e subtítulos do velmente, com caridade fraterna e mútua**.
88
autor
João
Paulo
II
Capitulo VI
A CNBB e o Partido Comunista ante a
Reforma Agrária
1. O documento reivindica
portanto, a reforma agrária não pode deixar de despertar simpatia. Mas o IPT não se limita a ser
uma Reforma Agrária mero ditirambo à reforma agrária nas nuvens. Ele apre socialista, conjiscatória considerada senta um programa de Reforma e igualitária Agrária para o Brasil contempo Crise e remédio
O documento Igreja e proble mas da terra versa substancial
mente sobre uma crise agrária, para a qual propõe um remédio: a Reforma Agrária. Como já foi afirmado (cfr. Cap. V, 2, 3.®), e adiante se comprovará (cfr. Parte II, Secção B), o IPT não apresenta provas suficientes das assertivas que faz sobre a crise. Importa ressaltar,
radoxalmente so cialista e católica
râneo. Uma Reforma Agrária de inspiração paradoxalmente socia lista e católica.
Considerada em função do gê nero "reforma agrária", o IPT
outra coisa não faz senão apre sentar uma espécie do gênero. E a essa espécie rotula com as mes mas palavras próprias para desig nar o gênero. O que é de má técnica em matéria de nomencla
tura, e só pode gerar confusão.
Assim, importa real^r, desde desde logo, que ele não é menos carente de seriedade no que diz logo, que a crítica aqui feita ao 11^ não implica a rejeição do respeito ao remédio. Com efeito, ele se abstém de gênero, mas apenas a da espécie. definir, em termos doutriit^rios Ou melhor, desta espécie. Por que a rejeição? precisos, os múltiplos princípios norteadores dessa Reforma. A reforma desejada pela Expressão que, de si, desperta simpatia
Reforma Agrária de inspiração pa
Alternativa:novo
O substantivo "reforma" in
CNBB tem caráter alternativo:
projeto de Refor
dica a operação pela qual se res
elaboração de um projeto novo de Reforma Agrária, ou aplicação
plicação do Esta
taura ou se melhora a forma de
algo. O adjetivo "agrária" indica efetiva da legislação vigente, e, que tal reforma se refere à vida e pois, notadamente do Estatuto da às coisas do campo. Em si mesma. Terra, promulgado no ano de 89
ma Agrária ou atuto da Terra
vigente
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Título I
1964 (cfr. IPT, n.° 99). Ora, tanto uma quanto outra alternativa são marcadas por três
notas inaceitáveis pela consciência 2. Como detectar
Socialismo, con
fisco e igualitarismo radical
Analogia entre as reformas pleitea das pela CNBB e pelo PCB
católica:
o "unum"
1.®) a nota socialista, que con siste no minguamento da pro
do documento?
priedade individual e da livre ini ciativa, bem como na hipertrofia das funções do Estado;
Como fazer aqui um rol defi nido e esquemático das reivindi cações feitas pelo IPT, ora explí 2.®) a nota conjíscatória, pois citas, ora implícitas, ora apenas pleiteia a divisão compulsória das insinuadas? E, antes de tudo,com grandes e médias propriedades; que fundamento lógico inserir, 3.®) a nota radicalmente igua num mesmo rol, reivindicações de litária, pois visa estabelecer no tão diversa natureza? O elemento de unidade entre campo uma reforma fundiária ten as reivindicações desses três tipos dente à abolição da diferença de consiste em que são harmônicas classes na estrutura sócio-econôentre si, a tal ponto que, postas em mica do País. prática simultaneamente, se apre De onde a Reforma Agrária sentariam como elementos de um que o IPT pleiteia apresenta fri- mesmo sistema de pensamento e sante analogia com a que o Par de um mesmo programa de ação. tido Comunista Brasileiro reivin
Isto confere a tais reivindica
dica para a execução imediata no ções um caráter articulado e metó Brasil (1). dico, velado apenas pela diferença de clareza e de ênfase com que são (1)A Resolução Política do V Congresso do PCB, em agosto de 1960, declarava:
"Os comunistas têm o dever de lutar àfrente das massas camponesas pçr uma reforma agrária que liqüide o monopólio da proprie dade da terra pelos latifundiários efortaleça a
tratados os diversos temas.
Tudo bem pesado, nota-se que a preocupação fundiária é de tal
maneira insistente no IPT, que o programa por ele apresentado
economia camponesa, sob formas individuais
mais deve ser considerado o de
ou associadas. A fim de abrir caminho para
uma reforma fundiária com com plementos de reforma agrária es boçados sumariamente, do que o
essa reforma agrária radical é necessário lutar
por medidas parciais com a desapropriação de grandes propriedades incultas ou pouco culti vadas, com base no preço da terra registrado para Jins fiscais e loteamento das terras entre pequenos agricultores sem terra ou com pouca terra, mediante pagamentos módicos e a longo prazo: por um forte aumento da carga tribu tária sobre as grandes propriedades e isenções
fiscais para as pequenas propriedades:pela uti lização das terras do Estado para formar núcleos de economia camponesa: pela entrega de títulos de propriedade aos atuais posseiros e a defesa rigorosa dos direitos dos camponeses contra a grilagem As massas camponesas, sobretudo as cama
das mais oprimidas e exploradas, têm inte resse em profundas transformações na estru tura agrária e na emancipação econômica do País, constituindo o aliado fundamental do proletariado na revolução anti-imperialista e antifeudaP'(apud Cel. Ferdinando de Carva
lho, O comunismo no Brasil / Inquérito
de uma reforma agrária global que tratasse, em um de seus capí tulos, da reforma fundiária (2). Assim,o IPT atenua, mediante
a designação simpática de reforma (2) A distinção entre fundiário e agrário é como a de uma parte em relação ao todo. A palavra fundiário vem do latim fundus, que significa "fazenda, bens de raiz", e se refere à porção de terra cultivável, ao terreno, ou campo. Por extensão quer dizer também "agrário".
Agrário, por seu turno, tem um sentido mais amplo: "relativo ou pertencente aos cam pos e à agricultura; rural"(cfr. Aurélio BuarQUE DE Holanda Ferreira, Novo Dicionário
Policial Militar n.° 709, Biblioteca do Exército
da Língua Portuguesa). Abrange, portanto,
Editora, Rio de Janeiro, 1966, vol. 2, pp. 249-
como um dos elementos, o fundiário.
250).
90
Assim, a reforma agrária se refere tanto à
No que consiste esse "imum"
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
A designação sim pática de reforma agrária encobre uma radical e drástica reforma fundiária
agrária, a má impressão causada por uma radical e drástica r^orma fundiária. E traz, no bojo de tumultuada exposição em que abundam o palavreado vago e os pensamentos imprecisos, um ge nuíno programa para essa reforma principalmente fundiária.
Capítulo VI
4. Reivindicações aparentes
e reivindicações efetivas no documento o IPT procede com prudência, ao desenvolver sua argumentação.
5. Doutrina e realidade:
tese e hipótese Confusão de pia-
Quadro grave mente falto de objetividade
o IPT não distingue clara mente entre o plano doutrinário (tese) e o plano concreto (hipó tese). Sem embargo, se entrevê nele a presença dessa distinção. No plano da hipótese, apre senta ele a atual situação agrária do Brasil como devorada por dois pólos opostos. De um lado, a miséria do trabalhador manual,
É que o ambiente nacional não
o IPT não con
testa diretamente
o direito de pro priedade
está preparado (cfr. Cap. III, 5). Por isto, não contesta diretamente a propriedade privada. Limita-se a insinuar — sem muitos véus —
que a propriedade rural não re sulta de outra fonte senão do
trabalho (n.° 91).
Em conseqüência do que, quan do o proprietário deixa de tra balhar a terra, seu direito se ex tingue (n.° 91). Ademais, ele não afirma de
Também não con
modo taxativo que a grande e a média propriedade, bem como o regime de salariado, são intrinsecamente injustos. Embora deixe
testa taxativa
mal pago pelos proprietários, e a do pequeno produtor expulso da terra por força do sistema sócioeconômico vigente e notadamente pela ação das macroempresas ga tudo isto insinuado em vários tópicos (por exemplo, n.°s 82 a nanciosas. Todas estas vítimas da
mente as proprie dades média e
grande e o regime de salariado
injustiça agrária constituem mas 91). O mais das vezes, quando se sas de migrantes que se incor refere às propriedades grande e poram ao proletariado — também
média, fá-lo de maneira a atrair para elas a antipatia do leitor, de grandes centros. Assim, a miséria sorte a impeli-lo a ser um adepto urbana serve de abrigo para a da agro-reforma igualitária tão indigência rural. suspirada. As grandes empresas são preci Mas — declara ele — o regime samente o outro pólo. Elas visam ideal, ad mentem Eclesiae, é o da absorver as pequenas e médias propriedades formando imensos propriedade de dimensões familia res. A partir disto, o IPT volta latifúndios, mercê dos quais a descrito como miserável — dos
todas as suas simpatias para tal regime,e exprime de modo claro o sivo benefício de poucos. desejo de que este seja implantado Para este quadro, gravemente por lei, no ager brasileiro.
terra passa a produzir no exclu
falto de objetividade, o IPT não apresenta, de modo algum, do cumentação suficiente (cfr. Parte II, Secção B).
5. Principais objeções ao documento
terra quanto ao cultivo da mesma. A reforma
fundiária é o aspecto da reforma agrária especificamente concernente à terra, à extensão das propriedades e glebas, à propriedade ou à posse das mesmas.
Substancialmente, as objeções
principais aqui feitas ao IPT as sim se enumeram: 91
Simpatias exclusi vasparaaproprie-
dade de dimen sões familiares
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
Teologia da Libertação (cfr. Cap. III, nota 2).
A. No plano da doutrina
Utopia: igualda de completa. De sigualdade har mônica e propor cionada: bom
b) O problema agrário — um dos aspectos da questão social — 1.°) O ideal católico de justiça não se resolverá, como imaginam no terreno sócio-econômico (co os comunistas, pela mera ação da mo, aliás, também no campo ecle justiça, e omitindo qualquer re siástico) não consiste na igualdade curso à caridade cristã (cfr. Parte completa, mas no convívio em II, Textos Pontifícios ao fim da harmônica e proporcionada desi Secção A). A respeito desta últi gualdade, na qual sejam atendidos
Função insubsti tuível da caridade
para a solução da questão social
os direitos de todos, patrões e ma, o IPT também silencia intei
trabalhadores (cfr. Textos Ponti
ramente!
fícios ao fim do Capítulo V). As propriedades grandes e médias
têm um papel le gítimo e Justo na vida rural
A questão socialé principalmente moral e não eco nômica
2.°) Ainda que a propriedade familiar fosse o ideal católico para toda e qualquer estrutura rural, daí não se poderia deduzir que a grande e média propriedades são intrinsecamente injustas. O ensi namento pontifício diz exatamen te o contrário (3).
B. No plano da hipótese
1.°) O IPT não traz provas suficientes do que afirma sobre a realidade nacional. Omite, ade mais, o recurso imenso que são, para resolver o problema agrário os cinco milhões de quilômetros quadrados de terras incultas (ter 3.°) O IPT visa resolver a ras devolutas), das quais o Poder questão agrária, abstração feita de público é o latifundiário impro dois aspectos aos quais nem se dutivo (4). Não é lícito suprimir quer alude: (4) Ao que parece, não existe um levanta a) Sendo a questão agrária mento atualizado do montante das terras devo uma questão social, ela tem por lutas no Brasil. Todas as gestões feitas pelo
índole um substrato essencialmen
autor para obter esse dado junto aos organis
te moral e, a tal título, religioso.
mos oficiais resultaram infrutíferas.
Esse substrato obviamente não
uma estimativa com os dados disponíveis. De acordo com o Censo Agropecuário de
pode ser visto como aspecto cola teral da questão agrária, o qual tanto se pode mencionar quanto
Assim, não resta outra solução senão fazer 1975, a área ocupada com estabelecimentos
dedicados à exploração agrícola ou pecuária era, naquele ano, de 3.238.960,82 quilômetros
silenciar; mas como o terreno em quadrados,correspondentes a estabelecimentos de cooperativas, de entidades pú que a sociedade deve encontrar a individuais, blicas, de entidades religiosas e outras.
inspiração e a seiva para que a questão agrária se resolva (cfr. IPT bem merece a censura feita
Admitindo (arbitrariamente, pois também este dado não foi possível obter) que a área urbana de todos os Municípios brasileiros seja de 150 mil quilômetros quadrados (dois mil e duzentos metros quadrados por habitante das cidades!), a área ocupada total no Brasil —
por João Paulo II em Puebla, à
de quilômetros quadrados.
Parte II, Textos Pontifícios ao fim da Secção A). Nesse sentido, o
rural e urbana — seria de cerca de 3,4 milhões Sendo a área total do território brasileiro de
(3) Pio XII condenou a opinião dos que desejam uma estrutura agrária em que só haja pequenas propriedades, afirmando que embora tenham estas um papel importantíssimo na vida rural, o reconhecimento disto "não importa em negar a utilidade efreqüentemente a neces sidade de propriedades agrícolas mais vastas" (Discurso ao I Congresso Internacional sobre
Problemas da Vida Rural de 2 de julho de 1951, Discorsi e Radiomessaggi di Sua San-
tità Pio XII, Tipografia Poli^otta Vaticana, vol. XIII, p. 200). 92
8,5 milhões de quilômetros quadrados, res tariam aproximadamente 5,1 milhões de quilô metros quadrados (ou seja, cerca de 60% do território) para as terras devolutas.
Ê este o valor que será tomado como base de argumentação neste livro, até que seja possível obter dados oficiais.
Mas — dir-se-á — uma vez que não existem estimativas precisas sobre as terras devolutas, como basear num cálculo aproximado da extensão dessas terras, uma argumentação contra a Reforma Agrária?
A pergunta está mal posta. A Reforma
Alegações defato incertas, tenden ciosas ou mesmo clamorosamente
erradas
Minipropriedade rural, minipropriedade urbana... sociedade inteiramente igualitária. O documento Igreja e problemas da terra parece tender assim para a realização da meta socialista, e também comunista,
definida no próprio programa do PC russo:
"O comunismo é um regime social sem classes, com uma única forma de propriedade dos meios de produção — a propriedade de todo o povo — e com uma plena igualdade social de todos os membros da sociedade'*. Típico solar de grande fazenda, em Campos, no Estado do Rio de Janeiro. Século XVIII.
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
direitos certos, como os dos atuais sauvage de J. J. Rousseau. Fala
Noção quimérica da realidade indí gena
proprietários, com base em alega com toda seriedade de sua "cul ções de facto muitas delas incer tura" e "memória histórica" (n.° tas, outras tendenciosas, e outras, 24), e reivindica para eles glebas enfim, clamorosamente erradas (5). imensas, as quais, entretanto, são incapazes de cultivar de modo 2°)Igualmente omisso em ma satisfatório. Isto, com prejuízo do téria de facto se mostra o IPT no bem comum. De sorte que a pro tocante aos índios. Sem nenhuma priedade índia é concebida como prova que o abone, o IPT os vê não tendo função social, ao con mais ou menos à maneira do bon trário da propriedade individual do branco. O IPT erige a pro Agrária supõe uma desproporção entre a popu priedade comunitária índia como lação (tida por excessiva) e a terra (tida por uma das alternativas válidas para insufíciente). De onde o combate ao latifúndio ocioso etc. Ela pressupõe, portanto, uma situa
o Brasil, mas não apresenta o mais
ção concreta. E se ela não prova que essa situação existe de fato, a Reforma Agrária se baseia em mera hipótese, ou seja, no vácuo. Fazer uma reforma fundiária no vácuo importa
vago esboço de justificação para essa tese (6).
em atirar o Pais... no vazio.
"No vazio": a expressão pode parecer forte. Entretanto, é insuficiente para qualificar a gratuidade da Reforma Agrária. Para provar a necessidade de uma divisão fundiária seria preciso: l.o) determinar quanto de terra não culti
3.°) Ao descrever tão arbitrá ria e categoricamente situações sócio-econômicas, o IPT faz gra ves críticas (de índole exclusiva mente econômica) a todo o pro
vada seria necessário para desafogar a pressão
cesso de crescimento da economia
brasileira (n.°s 15 a 21) e à atua ção dos últimos governos nesta 3.0) provar que essa extensão é inferior à matéria (n.^s 35 a 41). Em conse qüência, o IPT chama a si a das terras necessárias. Ora, por mais que se exagere a quota de atribuição de pintar a situação de demográfica no campo etc.;
2.°) conhecer a extensão das terras devolutas;
terras incultas necessárias para a expansão da agricultura,e por mais que se queira subestimar a área das terras devolutas, o simples bom senso indica que estas últimas superam larga mente aquelas. Procure-se no IPT todos os cálculos ati-
nentes a essa matéria (sem os quais ele rei vindica uma reforma sem base)e se encontrará
algo de mais estranhável que o próprio vazio: é
facto da Nação, mesmo em maté ria a respeito das quais os mais doutos e experientes estão em desacordo entre si, o que cai fora da especialização dos membros do Episcopado nacional.
a total inverossimilhança da situação concreta que ele pressupõe.
(S) A análise do IPT é aqui /eita exclu sivamente do ponto de vista da doutrina social ensinada tradicionalmente pelo Supremo Ma gistério eclesiástico. Portanto, o autor evita de emitir opinião
própria sobre situações defacto, não tomando por certos senão alguns dados absolutamente notórios, e por isto mesmo incontroversos. Como o IPT alega a existência de situações anormais de facto, em função do que declara resultar a Reforma Agrária um imperativo de justiça, a presente análise se limita a apontar, com a insistência necessária, a insuficiência —
quando não a total carência — de prova estatística, ou outras, que comprovem as ano malias em questão. Pois a anomalia não se presume. Ela só pode ser tomada como verda deira à vista de provas. Sobre as descrições que o IPT faz da situação de facto, versa o Título II, Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Consi derações econômicas, de autoria do Sr. Carlos PATRiao DEL Campo.
94
6, O IPT, "companheiro de viagem" do comunismo Tudo isto posto, não espanta que o documento da CNBB — embora sem fazer ao comunismo
o menor elogio — se posicione face a este como um perfeito **companheiro de viagem",rumo à (6) Sobre a nova corrente missionária que propõe a vida tribal como modelo para o homem civilizado, ver Plínio Corrêa de Oli veira, Tribalismo indígena, ideal comuno-
missionário para o Brasil no século XXI, Editora Vera Cruz, São Paulo, 7." ed., 1979.
Quadro arbitrá rio da situação nacional
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
O IPT abstrai
completamente da existência do pe rigo comunista
reforma fundiária integral que tanto ela quanto ele reivindicam. Compreende-se, pois, que o IPT abstraia completamente da existência do perigo do comunis mo no Brasil, e feche os olhos para o formidável convite-pressão que a guerra psicológica revolucioná
Capitulo VI
Isto faz ver que o IPT não tem em vista a melhora concreta da
situação do povo, mas a aplica ção inflexível de falsos princípios metafísicos e morais igualitários, sejam quais forem as conseqüên cias dessa aplicação. Do mesmo modo, embora ele
ria faz ao País. E, versando em
abra uma larga e perigosa frente bora matéria de que os comunis de colaboração com o comunis tas se ocupam continuamente, não mo, mediante suas reivindicações
tem uma só palavra para prevenir fundiárias, não tem uma palavra contra a ação destes a opinião de alerta aos fiéis contra os pon O IPTnão parece
receoso de que to dos os brasileiros
caiam sob o po der do mais des-
pótico dos pa trões que é o Es tado
comunista
pública. Nem parece temeroso de que a eventual implantação do regime comunista produza, em nossa Pátria, os frutos amargos que está na essência deste pro duzir: a transformação de todos os habitantes do País — proprie tários ou não proprietários — em assalariados do mais despótico dos patrões. Isto é, do Poder público, patrão onipotente, que nas nações estatizadas por regi mes totalitários monopoliza todas
O IPT não alerta
ses comunistas
A CNBBe os ver dadeiros interes
ses do povo
tar osfiéispara os riscos da colabo
ração com o co munismo
tos de antagonismo existentes en tre a doutrina católica e a dou
trina comunista. Nem para os riscos da colaboração entre cató licos e comunistas.
Em suma, tudo quanto o IPT diz ou insinua, pleiteia ou exige, conduz a uma aproximação sem matizes, a uma colaboração sem reservas, com o comunismo e com os comunistas.
Isto tudo sem falar da lingua gem própria a preparar os fiéis, de as modalidades e instâncias do maneira ora velada, ora abrupta, poder de legislar, julgar e punir. para a aceitação de teses radicais, Se em sociedades não comu ou até especificamente marxistas, nistas como a nossa, a convi e da suma inoportunidade destas vência do pequeno proprietário atitudes na atual conjuntura na com o grande pode expor aquele à cional e internacional. tirania deste, segundo afirma e Tanto é certo isto, que o Par proclama o IPT, o que pensar da tido Comunista Brasileiro, ansio tirania do poder estatal onipo so em instrumentalizar a influên
o Pais para a subprodução caracteristica dos paí
A CNBB omissa no dever de aler
tente sobre os trabalhadores dos
cia da Igreja, vem tendo para com
sovkhozes ou kolkhozest
esta uma atitude de cordialidade
O IPT também não alerta para o fato de que, ficando o empre gado do Estado no campo — ou o mero proprietário familiar — na impossibilidade de enriquecer, daí decorre a subprodução rural es candalosa que assola,com intensi-
talvez sem precedentes na história do comunismo... e na da Igreja. Em rumorosa entrevista à impren sa no final do ano passado, o Sr. Luís Carlos Prestes, então secre-
— o IPT se mostra muito lacônico
(7) Foi a seguinte a declaração de Prestes à
tário-geral do PCB, declarou que
a Igreja Católica é agora aliada dades diversas, os países detrás da dos comunistas no Brasil (7). cortina de ferro. No Brasil, o perigo comunista Aliás — seja dito de passagem
no que diz respeito à produti "Folha de S. Paulo" (18-11-79): vidade do regime igualitário que "Folha — Ceando o senhor fala 'nós e a visa implantar. Em lugar de pro Igreja' não há uma incoerência nesta aliança? Prestes — Marx dizia que a religião, em meter uma mais abundante produ determinadas ocasiões, é o ópio do povo. Mas a ção, limita-se a afirmar que o religião pode ser também ofermento da revo regime pode funcionar (n.° 85). lução. Porque é um sentimento intimo,popular 95
Explicável
cor
dialidade do PC
em relação à Igre ja no Brasil
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Uma atitude e-
nérgica do Episcopado poderia fazer cessar o pe rigo
comunista
Título I
não progride, pois, numa área ideológica ou populacional distan te do campo de ação específico do Episcopado. Pelo contrário, ele se desenvolve especificamente nesse campo, e só por isso constitui um perigo. Uma atitude enérgica do
Sobreleva maximamente no
tar, a^ tal respeito, que um dos mais importantes veículos da infil tração comunista nos meios cató licos é a chamada Teologia da Libertação. Ora, acerca desta, João Paulo II teve em Puebla asjá Episcopado face a esse perigo mencionadas palavras de censura poderiafazê-lo cessar de vez. Isso (cfr. Cap. III, nota 2). É intei feito, a CNBB poderia entregar-se ramente inexplicável que, ainda então, sem mais preocupação, à assim, o IPT, insensível a tais defesa da causa dos pobres. Esta palavras, trate do problema da ria na natureza do IPT dirigir ao terra como se a Teologia da Liber povo essa palavra enérgica. Ele, tação e o perigo comunista não porém,yizz precisamente o contrá lavrassem nos meios católicos bra rio: em lugar de a proferir, omite- sileiros (8). Como é compreensível a ati se completamente. E, ademais, situa a CNBB como"companheira tude laudatória do Sr. Luís Carlos de viagem" do comunismo. Prestes... e pode refletir o descontentamento das massas. Ea religião católica, que é dominante no Brasil, era o nosso pior inimigo até 1964, porquefoi a Igreja Católica que mobilizou as massas para o golpe de 1964. Folha — E hoje? Não é mais inimiga? Prestes — Mas o que foi que a Igreja Católica viu após 1964? Que os trabalhadores, as massas, desde o primeiro dia do golpe, resistiam. Se ela não mudasse de posição, perderia as ligações com as massas. E então passou a ser o que? Um instrumento de luta contra o arbítrio, as prisões arbitrárias, as
torturas e a carestia de vida. A posição da Igreja, e quando eu digo a Igreja é porque é a
maioria da hierarquia — prova disso foi a última pastoralsobre segurança nacional, sobre a doutrina da segurança nacional, aprovada por 209 votos contra três — mudou. A Igreja continua tendo elementos reacionários, conser
significar que os católicos tornaram-se comu
nistas. As posições deles são livres, indepen dentes, divergentes das nossas. Mas neste terreno comum de lutas estamos aliados".
Não é outra, aliás, a visualização do novo
secretário-geral do Partido, Giocondo Dias, o qual declarou, a propósito da expulsão do Brasil do Padre Vito Miracapillo, que o fato representava um agravamento nas relações entre a Igreja e o Estada, "devido ao novo comportamento adotado por setores da Igreja, que se preocupam mais com o homem na terra
que no céu". Esses setores progressistas da Igreja "são hoje aliados" do PCB. Em sua opinião,"quando a Igreja diz que o cidadão tem o dever de lutar por uma vida melhor, entra-se [sic] em conflito com os exploradores" (cfr. "Folha de S. Paulo", l.°-l 1-80 e"A Tarde" de Salvador,de 2-11-80).
vadores, mas sua maioria é progressista. E em Roma, onde estive, a Igreja Católica do Brasil é considerada a mais progressista do mundo. Folha — Mas nem por isso deixa de ser contra a legalização do PC, como declarou o próprio presidente da CNBB d. Ivo Lorschei-
(8) A Teologia da Libertação reuniu seus representantes mais expressivos no IV Con gresso Internacional Ecumênico de Teologia. que se realizou no município de Taboão da
ter, por ser este ateu...
São Paulo uma Semana de Teologia,que serviu de contato dos teólogos da libertação com os
ê
Prestes — Quando vimos um aliado, nós não confundimos esse aliado com o nosso ideal comunista. É um aliado.
Folha — A Igreja agora está aliada?
Serra, em São Paulo, de 20 de fevereiro a 2 de
março de 1980. Paralelamente, teve lugar no teatro da Pontifícia Universidade Católica de
membros das Comunidades Eclesiais de Base de São Paulo.
Revestiu-se de particular aparato a sessão do dia 28 de fevereiro, em que foram home
Prestes — Nós temos um terreno comum
nageadas importantes figuras da revolução
que é a luta contra a ditadura. Mas não se pode pensar de forma alguma que a luta contra as prisões arbitrárias, as torturas, pelas liberdades dos presos políticos, desenvolvida pela Igreja — e ai é bom dizer que o Cardeal de São Paulo foi o primeiro a falar em anistia — possa vir
sandinista vitoriosa na Nicarágua. Várias delas
96
fizeram uso da palavra durante a sessão, inci tando claramente a "esquerda católica" no Brasil a enveredar pelo caminho da revolução armada (cfr. "Catolicismo", n.° 355-356,julhoagosto de 1980).
o IPTfinge igno rar a existência
da Teologia da Libertação
^7-«A
H 't.
>7 k
'-•AV í.a
Descrito o IPT em seus linea-
Fundamento das
criticas, no pró prio documento
Notação gráfica
de 1 a 112 no original) são aqui transcritos em tipos itálicos. Tomou-se como base o texto publi cado pelas Edições Paulinas {Co leção Documentos da CNBB,, n.° 17, 1980, 38 pp.). As palavras ou frases destacadas em negrito no documento da CNBB foram aqui
mentos gerais, e postos em evi dência os princípios que o ins piram — dissonantes em vários e importantes aspectos do ensino tradicional da Igreja — cabe agora fazer a análise do documento qua se tópico por tópico, a fim de demonstrar que o pensamento a colocadas em caracteres claros(nor ele atribuído está efetivamente e- mais). As palavras ou frases do IPT que servem de base aos comentá nunciado em seu texto. Os tópicos do IPT(numerados rios do autor vão em negrito. 98
Secçõo A
Visualização do problema fundiário deformada pelo princípio marxista da luta de classes
TEXTO DO IPT
Introdução
pressão de que, no Brasil, a "per da" da propriedade da terra (se bem que esta possa ter sido even tualmente vendida, a preço justo
1. A situação dos que sofrem por ou não) acarreta necessariamente
questões de terra em nosso pais é extre a indigência. E a "impossibilidade mamente grave. Ouve-se por toda parte o clamor desse povo sofrido, ameaçado de de alcançá-la" reduz inevitavel perder sua terra ou impossibilitado de mente alguém à situação de não alcançá-la.
COMENTÁRIO "Clamor"... do
"povo": afirma ção sem prova
poder acumular e aplicar econo mias, como se a terra fosse o único meio de inversão de recursos.
**Ouve-se por toda parte o clamor desse povo sofrido". — Qual a prova da universalidade do "clamor" de todo esse "povo sofrido"? Por certo, a imprensa
Em outros termos, o IPT não toma em consideração o salariado como relação jurídica moralmente
difunde notícias de episódios aqui ou acolá que refletem desconten tamento a propósito de questões de terra. Mas a análise rigorosa desses fatos não convence da gene ralidade e, muitas vezes, da auten
com largueza — às necessidades do trabalhador (cfr. Textos Ponti fícios ao fim da Secção I).
trabalham cerca de 25 milhões de
riados:fato imen so que o IPTpas
ticidade desse "clamor". São fatos
assalariados (1). Ora, desde os
sa sob silêncio
suficiência — e muitas vezes até
Essa omissão é tanto mais
digna de nota quanto no Brasil
era de 29.557.224 pessoas, das quais 26.591.097
podem ser considerados empregados e operá rios. Os demais são proprietários (1.191.213), não acarreta ne cessariamente a
indigência
(388.279), e pessoas com ocu ".... ameaçado de perder sua administradores pações técnicas, científicas, artísticas e afins terra ou impossibilitado de alcan (1.386.635)(cfr. Anuário Estatístico do Brasil,
çá-la". — À linguagem dá a im
IPT ignora
legítima e capaz de atender com
localizados e restritos, com fre anos 20 até nossos dias, das filei qüentes sintomas de terem sido ras destes se vêm elevando ele insuflados. Seria preciso, pois, dis mentos cada vez mais numerosos, tinguir o que há de autêntico e o que há de artificial no "clamor (I) De acordo com o Censo de 1970, o total da população economicamente ativa do País desse povo sofrido".
"Perda" da terra
Salariado. regime de trabalho que o
FIBGE, 1978,Cap. 8, Quadro 2, p. 150). 99
Promoção
gra
dual dos assala
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária:
Titulo I
OS quais ascendem à condição de parques e áreas de lazer, jardins proprietários rurais; ou que pa ou salões de mansões reputadas gam estudos secundários e univer excessivamente grandes em rela sitários a filhos e filhas que, exer ção ao número dos que as habi cendo depois de diplomados pro tam. fissões liberais, se radicam nor
Como se vê, a Reforma Ur
malmente nos meios urbanos da
bana constitui outra "idéia bom
burguesia (pequenos, médios ou grandes), à qual se incorporam (2).
ba" a ser lançada no ambiente nacional, com força de impacto análoga a da Reforma Agrária, rumo à luta de classes e à revo
lução social. TEXTO DO IPT 2. Reunidos na 18^ Assembléia Ge
ral. nós. Bispos da Igreja Católica no Brasil, decidimos dirigir uma palavra aos nossos irmãos na Fé. a todas as pessoas de boa vontade e responsabilidade, especial mente aos trabalhadores rurais e aos
povos indígenas, sobre o problema da terra e dos que nela vivem e trabalham.
3. Este documento está voltado para a problemática da posse da terra em nosso pais. Não é um estudo sobre agricultura nem sobre a questão técnica da produção, mas sobre a questão social da proprie dade fundiária.
4. Focalizamos diretamente o pro blema da terra como se apresenta no meio rural. A gravidade e a complexidade do
problema no meio urbano, que merecerá oportunamente a nossa atenção, são aqui examinadas na sua relação com o pro
Extravasaria dos objetivos des te estudo fazer aqui um pronun ciamento sobre o problema fun diário urbano. Cabe, entretanto, enunciar as mais formais apreen sões em relação aos desastres a
que possa conduzir o prometido pronunciamento da CNBB sobre a matéria.
TEXTO DO IPT
5. Procuramos valorizar, preferencial mente, o ponto de vista,o modo de pensar e a experiência concreta dos que sofrem por causa do problema da terra.
COMENTÁRIO
blema do campo.
COMENTÁRIO Reforma Urbana e Reforma Agrá ria, reformas geminadas
Este tópico não deixa a menor
dúvida sobre o propósito da CNBB,de lançar um projeto de Re forma Urbana, Também é evi
"Valorizar, preferencialmente, .... os que sofrem por causa do problema da terra". — A expres são é ambígua. Com efeito, que significa precisamente "valorizar**? Compreende-se que, proteto res naturais dos fracos, os Bispos ouçam com particular atenção e
dente que, na mente da entidade, essa reforma é geminada com a agrária (cfr. n.^s 7, 92, 93 e 100). benevolência os reclamos destes. E Isto é, aplica ao problema fundiá que lhes advoguem mais especial mente os direitos, pois pode ocor
rio urbano os mesmos princípios
rer que careçam de defesa. inspiradores da reforma fundiária Porém isto não se identifica rural. Em conseqüência, possivel necessariamente com "valorizar". mente incitará os favelados a que ocupem os espaços urbanos que a Este verbo, cujo sentido comporta CNBB julgue supérfluos, como matizes vários, pode significar "sa (2) Estudos recentes mostram que, na úl tima década, houve intenso movimento dos
lientar", "realçar** ou até mesmo "aumentar o valor de algo'*. Em matéria fundamentalmente dou
trinária como a de que vai tra às superiores com relativa rapidez, o que tando aqui o IPT, qualquer apre constitui verdadeira ascensão social (cfr. Título II, Posso e devo ser contra a Reforma Agrária ciação ou atitude baseada em des indivíduos, passando das ocupações inferiores
— Considerações econômicas. Anexo I). 100
crições que "valorizem" ou subes-
Posição emocio nal aprioristica diante dos pro blemas sociais
Transporte de cana
em
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Per
nambuco.
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A índole e as tradições do povo brasileiro são de tal maneira infensas à Reforma Agrária, que a aplicação desta jamais contará com o aplauso e a colaboração animosa do País. Só com um apelo às consciências por parte do Episcopado esperam os promotores da agitação
rural alcançar resultado para seus planos.
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
timem a fría realidade dos fatos é anticientifica.
Título I
tutela da ordem moral conside rada em todos e em cada um dos
"Valorizar" parece tomar, nes princípios desta (entre os quais a te contexto, a conotação emotivá proteção dos fracos). Por isso
Preferência pelo "ponto de vista" de uma das par-
tes, não pela rea lidade objetiva e pela argumenta ção lógica
que tende a distanciar-se da es trita objetividade e da mera jus tiça, rumo a uma posição apriorística de conteúdo passional.
mesmo,também compete ao Episcopado a tutela dos direitos das
Ademais, "valorizar" o quê? "Valorizar, preferencialmente, o ponto de vista, o modo de pensar .... dos que sofrem por causa do problema da terra". — O objeto direto do verbo "valorizar" é aí "o ponto de vista, o modo de pensar" de uma das partes afe tadas por aquilo que o IPT chama "o problema da terra". O que é sinônimo de parcialidade. Pois,ao ponderar os direitos de uma ou de outra parte, o IPT afirma sua "preferência" pelo "ponto de vis ta" e o "modo de pensar" de uma delas (e não pela realidade obje tiva e argumentação lógica).
como o são, nos dias atuais, pela demagogia revolucionária. Ora, em seu afã de "valorizar"
TEXTO DO IPT
classes superiores quando amea
çados por alguma circunstância,
o "ponto de vista" e o "modo de pensar" de uns(os assalariados), o IPT omite completamente o fato de que, no Brasil de hoje, não são só os pobres que sofrem a ameaça
O instituto da
propriedade pri vada sofre hoje os assaltos da dema
gogia. — Ao Episcopado cum pre defendê-lo
de opressão de ricos. Também o instituto da propriedade privada está sujeito à ameaça crescente da demagogia infrene, a qualprepara a implantação do comunismo (3). De onde cumprir ao Episcopado, no exercício de sua função de mantenedor da ordem moral, a
proteção do direito dos legítimos proprietários (e não apenas do direito dos trabalhadores). Omitir este aspecto da reali
dade importa em rebaixar o Epis 6. É missão da Igreja convocar todos copado, da alta e venerável situa os homens para que vivam como irmãos ção de mestre e juiz que lhe toca superando toda forma de exploração, como quer o único Deus e Pai comum dos homens. Movidos pelo Evangelho e pela
na esfera moral, para a de mero parceiro na luta de classes.
graça de Deus, devemos não somente ouvir, mas assumir os sofrimentos e an
gústias, as lutas e esperanças das vitimas da injusta distribuição e posse da terra.
COMENTÁRIO O que o IPTomi te:compete à CN BB também a tu tela dos direitos
dos proprietários
".... superando toda forma de
A unilateralidade dos tópicos 5 e 6, aqui apontada, não constitui, pois, inócua inadvertência ou im(3) Já na Rerum Novarum, Leáo XIII
um dever da autoridade pública a exploração". — O IPT introduz reputava defesa da propriedade contra o iguaJitarismo: aqui um conceito que persistirá e "Em primeiro lugar, é preciso defender as se revelará extremamente impor propriedades particulares com a autoridade e o das leis. E o que importa hoje acima de tante ao longo dele. Porém, se amparo tudo, no meio de cobiças tão injlamadas, é omite de o definir: em que consis manter o povo no seu dever: pois se é licito
te, para o IPT, "exploração**? empenhar-se por alcançar uma situação melhor dentro dos limites da justiça, a mesma justiça A unilateralidade pouco acima proíbe, e o bem comum impede subtrair o que é apontada se manifesta aqui mais dos outros e, sob o pretexto de uma absurda uma vez. O IPT tem em vista o
igualdade, apossar-se dos bens alheios"{Actes
patrocínio dos direitos dos po
de Léon XIII, Bonnc Presse, Paris, Tomo III, pp. 48-50). Tal dever toca afortiori ao Episcopado, na
bres, ameaçados ou negados. Nis to merece todo elogio. Mas tal não esfera espiritual. E com tanto maior instância quanto é precisamente pela infiltração nessa esgota a missão moral do Epis- esfera que — como já foi lembrado — o copado. Pois compete a este a comunismo espera alcançar a vitória no Brasil. 102
Unilateralidade
que se reflete em todo o IPT
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Secção A
Pelo contrário, os autores mar perfeição de linguagem. Como se verá, ela projeta desde logo pro xistas reduzem todas estas causas fundos reflexos em toda a impos- à desigualdade das condições do homem do campo: o regime de tação do IPT: salariado, e da propriedade rural, máxime das propriedades médias TEXTO DO IPT
Como os marxis
tas, o IPTaponta na reforma fun diária a solução para as questões agrárias
e grandes.
7. Cientes de que este problema nos Se cada família de agricultores chama à prática dajustiça efraternidade, trabalhar com suas próprias mãos
esperamos que o nosso pronunciamento,
um alvéolo de terra igual a todos os outros, na imensa colméia agrí cola que deve ser o território habitado por um povo, então o Fazemos igualmente uma advertência problema agrário tende a desapa evangélica aos que querem "ajuntar casa a casa, campo a campo, até que não haja recer automaticamente, segundo a acompanhado de ações concretas, seja um motivo de ânimo e de esperança a todos os que, no campo, precisam da terra para o trabalho ou, na cidade, para moradia.
doutrina marxista (e tão-só se gundo a doutrina, convém ressal tar: pois é notória a dramática subprodução agrícola que man que se unam e apoiem os nossos lavra dores, não só para que eles reconquistem tém em regime de miséria todos os mais lugar e que sejam tinicos proprie
tários da terra", como já denunciava o profeta Isaias (Is 5,8). Convidamos tam bém a todas as pessoas de boa vontade a
países comunistas). E cessará de existir de todo quando, por sua mentos de que todos precisamos, e que se vez, as paredes divisórias dos al-
a terra, mas para que possam trabalhar, manter-se dignamente e produzir os ali
unam e apoiem os que vivem em con
dições subumanas nas favelas e periferias das cidades.
COMENTÁRIO A questão agrária é essencialmente
uma questão mo ral e religiosa...
... e não pode ser resolvida sem o recurso à carida de cristã
O ensino tradicional dos Papas
vê na questão social(da qual, por seus aspectos capitais, a questão agrária é uma das componentes) essencialmente uma questão mo ral e religiosa.
véolos desaparecerem, dando ori gem a glebas imensas trabalhadas por rebanhos humanos anônimos. Os kolkhozes se terão fundido
para dar origem aos sovkhozes. Assim, para o marxismo, os problemas agrários se reduzem
essencialmente a um problema fundiário^ e a reforma agrária se cinge a uma reforma fundiária.
Fazendo tábula rasa do ensi Por outro lado, o problema agrário não se resolverá pela mera namento tradicional da Igreja, ação da justiça. É necessário re pondo-se em consonância com correr também à caridade cristã os que pensam segundo Marx,
(cfr. Textos Pontifícios, ao fim
e ao contrário dos economistas e
desta Secção). Não há quem negue existirem problemas graves e que necessitam
sociólogos não-marxistas do Oci dente, o IPT envereda, neste tópi co, pela orientação que manterá até o fim. Isto é, de analisar os problemas agrários, e para eles preceituar uma solução, como se tivessem por causa exclusiva — ou quase tanto — o problema fundiário.
de urgente solução, na vida rural brasileira. Qual o setor da vida humana em que eles não existem, hoje, pelo Brasil e pelo mundo afora?
A generalidade dos autores não marxistas que versam sobre o assunto, no Ocidente, multipli cam as pesquisas e as análises a
.... para que eles [nossos lavradores] reconquistem a terra*'. por uma, as causas desses proble — Quem fala em ^'reconquista da mas, ou de, pelo menos, lhes terra" alude implicitamente a um minorar os efeitos. estado anterior em que os lavra-
ílm de detectar e combater, uma
103
A Reforma Agrá ria não seria um
esbulho: esbulha-
dores seriam os atuais proprietá rios...
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
dores — considerados como um
b) O que se deve ao fato de não
todo — teriam tido a propriedade serem proprietários da terra. da terra. Espoliados, devem agora fazer reviver os seus direitos. A
É de notoriedade pública, no
Reforma Agrária não seria pois Brasil, que esta generalização é um esbulho. Os proprietários atuais é que teriam sido os esbulhadores dos proprietários originá rios e legítimos, isto é, os traba
falsa. Se a situação descrita existe em alguma área de nosso imenso território, nela de nenhum modo se encontra, entretanto, a totali
dade e nem sequer a maioria dos Esta visualização, toda defor assalariados que trabalham no mada pelo princípio marxista da campo (5). luta de classes, não tem o menor fundamento. A uma, todos os ".... que se unam e apoiem os historiadores, qualquer que seja, aliás, sua posição ideológica, sa que vivem em condições sububem que o solo brasileiro foi manas nas favelas e periferias das originariamente possuído por cidades'*. — O IPT procura fo grandes proprietários, cujas vastas mentar assim a luta de classes no áreas vêm sendo divididas suces campo, e estendê-la à cidade. Ob sivamente, e de modo inteira viamente com vistas a constituir mente livre e cordial (4). uma frente única^ rural e urbana, lhadores manuais.
Não contente de
fomentar a luta de classes no cam
po, a CNBB quer estendê-la dade
de não-proprietários contra pro prietários, o que também corres " .... para que possam traba- ponde a velhos anelos do Partido Comunista Brasileiro (cfr. Cap. Ihar". — O IPT passa aqui a fazer reza aos proble- . .. . ^ ^ ^ , mas do campo implicitamente afirmações gené VI, nota 1). ricas da maior gravidade:
o IPT exagera e
(5) Os dados disponíveis revelam que o a) Nas presentes condições, salário médio deflacionado (isto é, não o "nossos lavradores**, isto é, o con salário nominal, mas o que se obtém descon
junto dos lavradores brasileiros,se encontram num odioso estado de
indigência;
tada a inflação) do trabalhador rural, se manteve pelo menos constante nos últimos anos, com aumento signifícativo em certos
períodos, em algumas regiões. Houve apenas uma exceção no ano de 1976, em que o salário
Consciência, Editora Vera Cruz,São Paulo,4.®
deflacionado sofreu queda da ordem de 6% em relação ao ano de 1975 (cfr. Título II, Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Consi
ed., 1962, pp. 15 a 28.
derações econômicas, Cap. I, 6).
(4) Cfr. Reforma Agrária — Questão de
Textos Pontifícios
Não há solução para os problemas sociais e econômicos sem o concurso
das virtudes morais e religiosas A questão social é antes moral
e religiosa, que econômica Enciclíca Graves de Communi de 18
de janeiro de 1901: 104
"Propositadamente fizemos menção
dos deveres que impõe a prática das virtudes e da religião. Efetivamente, al guns professam a opinião, assaz vulgari zada, de que a *questão social', como se
Uão XIII
à
ci
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Secção A
diz, é somente 'econômica'; ao contrário, porém, a verdade é que ela é princi
de sua família; nem mesmo a nada supri
palmente moral e religiosa, e, por este mesmo motivo, deve ser sobretudo resol
impõem à sua pessoa: 'Ninguém com
vida em conformidade com a lei moral e o
efeito deve viver contrariamente às conve
juízo da religião". [Documentos Pontifícios, Vozes, Petrópolis, fase. 18, 3® ed., 1956, p. 10].
niências'(Santo Tomás, 11-11, q. 32, a. 6).
ximo privando-se do seu necessário ou do
mir do que as conveniências ou decência
Mas, desde que haja suficientemente satis feito à necessidade e ao decoro, é um dever lançar o supérfluo no seio dos
pobres: 'Do supérfluo dai esmolas' (Lc.
A questão social é, no seu sentido mais profundo, uma questão religiosa
11,41). É um dever, não de estrita justiça, exceto nos casos de extrema necessidade,
mas de caridade cristã, um dever, por conseqüência, cujo cumprimento se não pode conseguir pelas vias da justiça hu Discurso de 12 de setembro de 1948, mana. Mas, acima dos juízos do homem e
Pio XII
por ocasião do 80° aniversário da Juven tude Italiana da Ação Católica:
das leis, há a lei e o juízo de Jesus Cristo nosso Deus, que nos persuade de todas as
"A questão social, diletos filhos, é sem
maneiras a dar habitualmente esmola".
dúvida também uma questão econômica, [Documentos Pontifícios. Vozes, Petrómas é muito mais uma questão que diz polis, fase. 2, 6.® ed., 1961, p. 16]. respeito à regulação ordenada do consór
cio humano, e, no seu mais profundo sentido, uma questão moral e portanto religiosa".
Não se fale de reivindicação e de justiça, quando [Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità Pio XII, vol. X, p. 210]. se trate de simples caridade O gravíssimo dever da ajuda aos necessitados
Leão XIII
Motu Proprio Fin dalla prima de 18 de dezembro de 1903, sobre a Ação Popular Católica: "Os escritores católicos, ao defender a
São Pio X
Encíclica Quod Apostolici Muneris de causa dos'proletários e dos pobres, devem abster-se de palavras e frases que pode 28 de dezembro de 1878: "[A Igreja]impõe como rigoroso dever riam inspirar ao povo a aversão pelas aos ricos dar o supérfluo aos pobres e classes superiores da sociedade. Não se
ameaça-os com o juízo de Deus que os fale, pois, de reivindicação e de justiça,
quando se trate de simples caridade .... condenará aos suplícios eternos, se não acudirem às necessidades dos indigentes". Recordem que Jesus Cristo quis reunir todos os homens pelos laços do amor [Documentos Pontifícios, Vozes, Petró- mútuo,que é a perfeição dajustiça e inclui
polis, fase. 17, 4.» ed., 1962, p. 13]. a obrigação de trabalhar para o bem recíproco".
Ninguém é obrigado a aliviar o próximo privandose do
[Actes de S. S. Pie X,Bonne Presse, Paris, tomo 1, p. 111].
necessário e do conveniente ao
próprio decoro, e ao de suafamüia O espirito de fraternidade e Encíclica Remm Novai^tm de 15 de maio de 1891: Uão XIII
"Agora, se se pergunta em que é
caridade cristãs é o único
que pode assegurar a colaboração entre as classes
necessário fazer consistir o uso dos bens,a
Carta Apostólica Con singular com placência de 18 de janeiro de 1939, ao respeito o homem não deve ter as coisas
Igreja responderá sem hésitação: 'A esse
exteriores por particulares, mas sim por comuns, de tal sorte que facilmente dê parte delas aos outros nas suas neces
Episcopado das Filipinas, sobre a Ação
Católica:
"A sua própria situação [dos operá sidades. É por isso que o Apóstolo disse: rios urbanos e rurais] os expõe a serem 'Ordena aos ricos do século... dar facil
mente, comunicar as suas riquezas'(Santo Tomás, 11-11, q. 66, a. 2). Ninguém certamente é obrigado a aliviar o pró
mais facilmente penetráveis por aquelas doutrinas que se dizem, é certo, inspi radas no bem do operário e dos humildes em geral, mas que estão prenhes de erros 105
Pio XI
Precursor do progressismo contemporâneo foi, no começo deste século, o modernismo. Esmagou-o o Papa São Pio X com a Encíclica Pascendi, de 8 de setembro de 1907.
No documento, o Santo Pontífice faz a descrição, penetrante e pormenorizada, da articulação, das tramas e das táticas dessa corrente. O observador
contemporâneo encontra, nessa descrição, elementos sugestivos para a interpretação
de fatos atuais.
São Pio X, em três flagrantes de sua luminosa ascensão na vida eclesiástica: Bispo de Mântua aos 49 anos, depois Cardeal-Patriarca de
Veneza, e, por fim,.Papa.
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo /
funestos, de vez que combatem a fé cristã, dem absolutamente do seu fím ultraterque assegura as bases do direito e da reno, mostraram-se, na prática, cheias de justiça social, e recusam o espírito de ilusões e incapazes de dar ao trabalhador fraternidade e caridade inculcado pelo
um verdadeiro e durável bem-estar mate
Evangelho, o único que pode garantir
rial e espiritual".
uma sincera colaboração entre as classes. [Documentos Pontifícios^ Vozes, Petró-
De outra parte, tais doutrinas comunistas, fundadas no puro materialismo e na cobiça desenfreada de bens terrenos, co mo se eles fossem capazes de satisfazer plenamente o homem; e porque prescin
108
polis, fase. 40, 2.» ed., 1951, p. 15]. ■ Destaques em negrito e subtítulos do autor
Secção B
Não é lícito abalar direitos certos,
alegando fatos incertos
TEXTO DO IPT
I — A realidade dos fatos (*) (*)[Nota de rodapé] São as seguintes
ponto de vista moral (e portanto religioso), quer do ponto de vista sócio-econômico:
1. Em princípio, o direito dos atuais proprietários de imóveis
rurais e urbanos é inviolável. E asfontes principais utilizadas:IBGE, Cen sos Agrícolas de 1950 e de 1960; FIBGE, assim ele, como qualquer outro Censos Agropecuários de 1970 e de 1975: direito, não pode ser extinto com-
O direito dospro prietários é, em principio, invio lável
CNBB, Pastoral da Terra — Posse e
pulsoriamente, máxime mediante indenização gravemente insufi missão Parlamentar de Inquérito do Sis tema Fundiário, Projeto de resolução, ciente, como a que estabelecem a Conflitos; Câmara dos Deputados, Co
n.® 85 de 1979 (aprova o relatório da Emenda Constitucional n.® 10 de 9 Comissão), Diário do Congresso Nacio de novembro de 1964(6)e o Esta nal, Ano XXXIV, Suplemento n.° 121, tuto da Terra (cfr. Documenta
28 de setembro de 1979; Coleção do
Boletim da Comissão Past. da Terra;
Coleção do Boletim Reforma Agrária, da Assoc. Bras. de Reforma Agrária; Arqui
ções II e III). 2. Tal inviolabilidade só com
porta exceção quando o direito de vo da Comissão Pastoral da Terra; CNBB, alguém à subsistência, ou o bem Subsídios para uma Política Social.
comentário Divisão compul sória das grandes e médias proprie dades
comum (a saltis publica)^ o exige. Mas esta exigência não pode ser
Esse direito só
pode ser supresso por provada exi gência do direito
de alguém à vida. ou do bem comum
presumida, É necessário que seja
A Reforma Agrária proposta demonstrada cabalmente. Pois pelo IPT poderá acarretar, como não é lícito coarctar ou suprimir
se verá (cfr. Comentário ao n° direitos certos com base em fatos 89), a divisão das grandes e mé incertos. dias propriedades(ou pelo menos
3. Seria pois rigorosamente necessário que o IPT apresentasse instauração, no Brasil, de uma todas as estatísticas próprias a imensa contextura agrária forma da grande maioria delas), para
da sobretudo por propriedades de dimensão familiar.
Essa reforma suscita, assim,
reflexões das mais graves, quer do
(6) Atual art. 161 da Constituição em vigor (de 24 dejaneiro de 1967,com a redação do art. I.® da Emenda Constitucional n.° I de 17 de
outubro de 1969).
109
O IPT não prova a objetividade do
quadro que apre senta
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Seria preciso ain da provar que a
Reforma Agrária é solução para os problemas
O IPT cria pro blema de cons
ciência para os católicos
Título I
efetuar tal demonstração. Ou seja, gem lida por João Paulo II em que provasse a objetividade do Puebla (7). De outro lado, encontra ele, quadro que apresenta da situação brasileira. Como se observará a no IPT, a pintura de um pano rama não só falho de provas, seguir, ele não o faz. 4. Ademais, caberia ao IPT como contrastante com suas ob provar que a Reforma Agrária — servações pessoais. — Que resta a ou antes, fundiária — resolveria esse leitor senão a obrigação de consciência de negar assentimento os males por ele denunciados. ao documento? Entretanto, foi Ora, nada disto faz o IPT. De este aprovado por 172 votos con onde ser insustentável, tanto do tra quatro, na 18.° Assembléia
ponto de vista moral quanto só- Geral da CNBB. cio-econômico, a Reforma Agrá Para que um documento dessa ria que ele pleiteia. natureza devesse ser aceito em consciência por todos os fiéis, teria sido necessário que a situa Isto posto, um leitor católico ção concreta por ele figurada fosse do IPT,cônscio da autoridade do. de tal maneira notória, que nin Episcopado para se pronunciar guém de boa fé a pudesse contes em matéria moral, se vê em situa tar. Ou que resultasse de estudos ção de consciência penosa, para amplos e imparciais, conduzidos não dizer dilacerante: segundo todo o rigor científico, e 1.°) Esse leitor reconhece como ao longo dos quais os diversos verdadeiro o princípio de que o interesses postos em causa tives sem sido ouvidos detidamente, com a atenção e o respeito reque exigências legítimas do bem co mum. Mas ao mesmo tempo nota ridos pela própria seriedade do a carência de dados concretos que trabalho. De tudo isto, não há, ao longo demonstrem a autenticidade des do IPT, um só sinal efetivo. Tãosas exigências; 2.0) Ademais, pode estar ele só se encontra, em nota ao pé de convicto, por pessoal e direta ob página subordinada ao título **I. A Realidade dos fatos", a menção de servação dos fatos, de que: algumas fontes. Que fontes! Cen * a) em vários de seus aspectos, agrícolas e agropecuários fi a situação rural não é a que o IPT sos dedignos, mas cuja relação com o descreve; tema depende da interpretação b) em conseqüência, o remé que se lhes dê,e o relatório da CPI dio sugerido pelo IPT não resolve da Terra, digno de atenção, é os problemas reais e, pelo contrá certo, porém não incontrovertível. rio, agrava indefinidamente a si E quanto ao mais, apenas um tuação fundiária; pequeno boletim agro-reformista... 3.°) Neste caso, como deve ele
Obrigação de consciência de ne
gar assentimento ao IPT
Quais as falhas nas "provas" do IPT:
bem individual deve ceder ante as
agir? É a dolorosa questão de
(7) Nessa mensagem, João Paulo II denun
consciência que tal católico, leitor do IPT,se põe. Ciente de que deve presumir a conformidade do do
cia os erros doutrinários contidos na chamada
cumento da CNBB com os ensina
micas de sabor comunista. São agentes da
Teologia da Libertação. Trata-se, segundo o Pontífice, de uma doutrina atéia que visa implantar pela força reformas sociais e econô
dessa doutrina, sempre segundo João mentos da Igreja, ele o encontra, difusão Paulo II, numerosos Sacerdotes que, esque entretanto,extremamente pobre em cidos dos aspectos fundamentalmente religio
citações de documentos pontifí cios. E até omisso, por exemplo no tocante à importante mensa 110
sos e sobrenaturais de sua missão, empregam O
melhor de seu tempo e de seus esforços em
promover a luta de classes (cfr. Parte I, Cap. III, nota 2, e Parte II, Secção G, Nota 25).
Fontes citadas
sem a força probante requerida
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Secção B
e documentos da CNBB ou da
são trabalhadores rurais propriamente
Comissão Pastoral da Terra. Em
ditos e, portanto, sem terra, assalariados permanentes, assalariados temporários, parceiros subordinados, mas somente os responsáveis pelos estabelecimentos.
suma, no que diz respeito à inter pretação dos dados do Censo, a CNBB só cita a si própria. 13. Se analisarmos a situação em Afirmações vagas. Essa pobrcza de fãtos, essa relação aos pequenos produtores agríco carência de dados
carência dc dados concrctos e de las, verificaremos que ela é ainda mais grave. Em 1975, para cada lavrador pro análise, se faz sentir dolorosa prietário havia um não proprietário da
mente em todo o IPT pelas afir
terra, no que se refere aos estabelecimen
mações continuamente vagas. Dispusessem os redatores do docu
tos com menos de 20 ha. Se nos limitar mos aos estabelecimentos com menos de
mento de dados fundamentados e
10 ha. que constituem mais da metade das unidades de produção do país, notaremos
precisos, e jamais deixariam — que para cada lavrador proprietário há afanosos como se mostram de
1.3 lavradores não proprietários. Desde
impor a Reforma Agrária — de os 1950 vem se agravando essa proporção, o que indica que um número crescente de lavradores nSo tem terra e,para consegui-
mencionar.
la, deve pagar renda ou é forçado a Invadi-la.
TEXTO DO IPT
COMENTÁRIO 1. A terra de todos como
**Um número crescente de la vradores não tem terra e .... é
terra de poucos A concentração da propriedade
forçado a invadi-la**. —Cfr. Co
da terra no Brasil
mentário ao n.° 91.
8. O Censo Agropecuário de 1975 revelou que 52,3% dos estabelecimentos rurais do país têm menos de 10 ha. e ocupam tão-somente a escassa área de
2.8% de toda a terra possuída. Em contra partida, 0,8% dos estabelecimentos têm
mais de 1.000 hectares e ocupam 42,6% da área total. Mais da metade dos estabele
cimentos agropecuários ocupa menos de 3% da terra e menos de 1% dos estabele cimentos ocupa quase metade.
9. Se levarmos em conta que, prova velmente, muitos dos grandes proprie
TEXTO DO IPT 14. Além disso devemos considerar
os milhares de lavradores que tiveram que sair da terra, seja terra própria, seja terra arrendada, seja terra ocupada. Entre 1950 e 1970, as oportunidades de trabalho para terceiros na agropecuária, assalariados e parceiros subordinados, caíram em cerca
de um milhão e meio de empregos.
15. O estrangulamento da pequena agricultura,por sua vez, está intimamente
tários têm o domínio de mais de uma
associado à expansSo das pastagens e a
propriedade, estaremos em face de uma
política inadequada de reflorestamento.
concentração fundiária ainda
maior.
Em 1970, os estabelecimentos agropecuá
Além disso, a propriedade da tefra vem se
rios com mais de 20 ha. tinham 50,6% da
tomando inacessível a um número cres
sua área tomados por pastos e apenas 8,5% por lavouras. Já os pequenosprodu
cente de lavradores que dela necessitam para trabalhar e não para negociar.
10. Os estabelecimentps registrados nos dados censitários incluem os que são dirigidos por proprietários e os que são dirigidos por lavradores que não têm a propriedade da terra: arrendatários, par ceiros autônomos e posseiros.
11. Em 1950, apenas 19,2% dos la
tores, com estabelecimentos de menos de
20 ha., dedicam 50,1% de suas terras à
lavoura e 21,1% à pecuária.
16. Além do mais, a política de distribuição do crédito, beneficia os gran des mais do que os pequenos, embora mais numerosos, e o risco de execução de hipotecas, tem contribuído ainda mais
vradores não eram proprietários dos seus
para agravar a situação. Medidas recentes
estabelecimentos rurais. Em 1975, essa
para alterar essa situação, declaradamente conjunturais, não representam uma reorientação da política econômica.
porcentagem tinha subido para 38,1%. Em 1950, para cada lavrador não pro prietário havia 4.2 que eram proprietários. Em 1975, para cada lavrador não pro prietário havia apenas 1.6 proprietários. 12. Esses números, constantes dos
censos oficiais, não incluem aqueles que
17. De modo especial, lembramos a triste situação em que se encontra o trabalhador rural no Nordeste. Duas dé
cadas de intervenção governamental, atra
vés do DNOCS e SUDENE, naquela 111
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Título /
com o que continua a viver no mesmo padrão de vida, mas dis grandes proprietários em detrimento dos põe do preço de sua propriedade trabalhadores rurais. A estrutura fundiá
região com objetivo de superar o desequi líbrio sócio-econômico, beneficiaram os
ria nordestina agravou a situação de opressão e escravidão. O mesmo risco correm projetos semelhantes destinados a outras regiões.
COMENTÁRIO Pressupostos dou trinários da des-
criçõo do IPT
para proporcionar a seus filhos
um nível de educação e de ins trução mediante o qual alcancem promoção social e econômica. Portanto, ver necessariamente na absorção de cada pequena pro
Importa especialmente discer priedade pela propriedade grande nir e analisar aqui os pressupos a ruína do pequeno proprietário tos doutrinários, ou teóricos, que destroçado, não corresponde à servem de base e de fio condutor à
realidade.
exposição dos tópicos 8 a 17 (8).
A concentração das propriedades não importa au tomaticamente na
ruína do pequeno proprietário
In concretOy em que propor ções, no Brasil, o desaparecimento das pequenas propriedades repre senta a ruína econômica do pe queno proprietário? O IPT não oferece estatísticas a este respeito. Nada lhe permite, pois, afirmar que o País esteja engajado num negra miséria, privado que fica processo gigantesco de destruição dos frutos da terra. de pequenas propriedades, e de Ora, tal pressuposto, que pode massacre de pequenos proprie corresponder à realidade em uma tários. ou outra situação local, habitual Segundo o IPT, na medida em que a propriedade se concentra, diminui o número dos que dela se beneficiam (9). Ademais, o peque no proprietário que tenha vendido sua terra ao grande proprietário vizinho cai ipso facto na mais
mente é de todo em todo falso. O
pequeno proprietário que aliena Sem dúvida, a grande proprie sua terra pode, por exemplo, uti dade justifica economicamente a lizar o preço obtido como ponto mecanização da agricultura, com de partida, maior ou menor, para a conseqüente desmobilização de uma carreira empresarial urbana. alguma parcela do contingente de
Ou para a aquisição de proprie
trabalho manual. Essa desmobili
dade maior em zona rural menos
zação (que não raras vezes pro valorizada. Abre-se, neste caso, a duz, no plano social, efeitos noci perspectiva de, mediante seu pró vos) tem sido fator — juntamente prio esforço, transformar-se em com a política prejudicial à agri médio ou quiçá em grande pro cultura até há pouco desenvolvida prietário. Esse sistema concorreu no País (cfr. Título II, Posso e possantemente para o desbrava- devo ser contra a Reforma Agrá mento de boa parte já povoada de ria — Considerações econômicas, nosso Interior, e constituirá incen Cap. II, 2) — do aumento das tivo psicológico insubstituível en concentrações urbanas gigantes quanto houver no Brasil terras a cas, com as respectivas periferias desbravar.
"doentes".
Por vezes, ainda, o pequeno Para obviar esse mal, o IPT proprietário passa a assalariado, tende, como se verá, à partilha das grandes propriedades (cfr. Co (8) Sobre os aspectos especifícamente eco nômicos do IPT, ver Título II, Posso e devo ser
contra a Reforma Agrária — Considerações
mentário ao n.° 89).
É acertada essa política? Na
econômicas.
medida em que a mecanização da (9) Sobre esse tema ver também Título II, agricultura fávorece a produção Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — rural, aboli-la pode prejudicar o Considerações econômicas,Cap. 1,1 e 2, e Cap
III, 1, A.
112
bem comum e a sanidade da
A
divisão com
pulsória das gran des propriedades pode ser prejudi cial à produção agrícola
Quatro figuras de destaque no Episcopado, propulso ras das reformas: o
Cardeal Salles, D. Helder
Câmara
(em cima); o presi dente da CNBB,D. Ivo Lorscheiter e o
^ r- 1 WÍ^..^íàsS&-\.^
Cardeal
Aloisio
Lorscheiter, Arce bispo de Fortaleza.
A intensidade e a amplitude do impulso dado ao agro-reformismo por um setor numeroso e altamente colocado do Episcopado nacional torna clara a assertiva de que esse setor constituiu por excelência,
entre as demais correntes agro-reformistas (comunistas, socialistas e outros), a forma capaz de levar o agro-reformismo à vitória em nosso país.
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
economia do Pais, considerada
para consumo de alimentos, que
como um todo.
mal há no fato? Desatender a essa demanda não lesará o bem co
Ora, tal mecanização importa com freqüência na aplicação de grandes capitais que exploram ex tensas áreas. Como então impor a divisão das grandes propriedades sem tolher o incremento da pro dução agrícola? Como enfrentar, com segurança e largueza, a de manda crescente dos produtos da terra, feita por uma população em
mum? De nada disto parece cogi tar o IPT.
Ademais, se o pequeno pro prietário vende sua terra a quem queira aglutinar várias pequenas glebas para formar uma proprie dade grande ou média, fá-lo sem
nenhuma coerçâo legal, e pelo preço que queira por ela. No que contínua expansão demográfica? sofre ele, então, injustiça ou dano? Dir-se-á que as cooperativas de ♦ « « pequenos proprietários podem É verdade que o IPT alude, promover eficazmente a mecani zação da agricultura. Porém isto mais adiante, a pressões econô também é vago, ou pelo menos micas mediante as quais o grande incerto. Ou a mecanização pro proprietário impõe ao pequeno a movida pelas cooperativas pode venda da sua gleba (n.° 39). No chegar a ser tão garantida quanto que consiste, porém,essa pressão? a que é promovida pela iniciativa Com que freqüência ocorre? Em particular, ou é menor. Se for tão que regiões do País? Desde quan grande, o êxodo dos braços dispo do? O IPT,sempre vago e esquivo níveis, para os grandes centros quando se trata de matéria de urbanos, será igual. E desse ponto fato, nada diz. Aliás, ainda que se compro de vista, de nada terá adiantado a divisão das propriedades. Se for vasse a existência de tais pressões, inferior, prejudicará o conjunto da em número suficiente para justi ficar medidas legais, por que não economia nacional... (10).
O IPTévagoe es quivo com rela ção às pressões econômicas, às
quais alude
criar obstáculos severos a elas, O falso panora ma do "estrangu lamento" do pe queno proprietá rio
sem contudo impedir a formação O IPT culpa pelo ''estrangu de propriedades médias ou gran lamento da pequena agricultura'* des que a demanda do mercado (n.° 15) um fenômeno perfeita consumidor exija? Por que a divi mente natural, ou seja, "a expan são das propriedades é um remé são das pastagens" e o "reflo- dio — e até o único remédio — restamento", que naturalmente re para esse mal? Sobre tudo isto, o querem propriedade de extensão IPT silencia prudentemente. maior (11). Se a demanda dos mercados
Por fim, o IPT passa (no n.° 16) a inculpar a "política de dis formas de aproveitamento do solo tribuição do crédito", desde logo mais rendosas do que o plantio insinuada como injusta, pois bene ficiaria proporcionalmente "os (10) A propriedade imobiliária tem caráter interno ou externo torna essas
fundamentalmente pessoal. A atuação das co
grandes mais do que os peque
operativas se destina a conjugar esse caráter com as conveniências comuns de grupos de
nos"(12). E emite uma palavra de censura para "o risco de execução proprietários, o que é louvável Mas cumpre velar porque o regime cooperativo não se de hipotecas"(como se pode con transforme no único modo de ser da proprie ceber uma hipoteca isenta do "risdade privada ou na nota tônica desta.
(11)Sobre esse tema, ver também Titulo II, Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas, Cap. 1, 2. 114
(12)Sobre esse tema, ver também Título II, Posso e devo ser contra a Reforma Agrária —
Considerações econômicas, Cap. III, 2, A.
Falsa apresenta ção da política de
distribuição de crédito
Secção B
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
CO de execução**?) a que estão dios, tantas vezes alheio aos pro
Tratando dos pro
sujeitos os pequenos proprietá
blemas do campo. Isto é, preci
blemas do cam
rios. Tx)dos estes fatores estariam
samente o leitor para o qual são escritos os órgãos de imprensa
a "estrangular** os pequenos pro
prietários, como o IPT afirma no grandes e médios, e para o qual também é adequada a linguagem Ora, aos olhos do leitor cor do IPT. Ignora tal leitor que o rente, todo estrangulamento toma desenvolvimento social e econô urgentemente necessárias provi mico das nações passa por etapas dências que o façam cessar. De de particular intensidade, e que ao pois da apresentação das causas longo dessas etapas se produzem n.° 15.
po, a linguagem do IPT se ajusta
às miragens do leitor dos centros urbanos importanies
desse estrangulamento, ao leitor desproporções, desequilíbrios e comum não ocorre outro meio riscos análogos aos que a adoles
para obviar o mal senão extingui- cência ocasiona no corpo huma las. E para essa extinção não lhe
no. São dessa natureza vários
ocorre outro remédio senão a lei. fatos apontados no IPT. Por la Solução: Refor ma Agrária:sefa lhar, revolução social...
Aí está, solícito para atendê-lo, o IPT com sua projetada Reforma Agrária: essencialmente um retaIhamento fundiário (cfr. Comen tário ao n.° 89)a ser imposto pela força da lei (cfr. n.° 99), com
mentáveis que sejam, não indicam por si mesmos uma situação doen tia da estrutura sócio-econômica
de nosso País adolescente, visto como um todo.
Há assim exagero em tachar de
urgência e pressão proporciona
necessariamente morbosos tais fa
das à barbaridade do "estrangu
tos sócio-econômicos, como o ha
veria em qualificar de doentio o aplicada tão drasticamente quanto crescimento excessivo das mãos e parece pedi-lo o quadro traçado dos pés, os desafinamentos da voz pelo IPT, só um remédio ficará: a ou os enfraquecimentos, freqüen revolução social dos injustiçados tes na adolescência. É ingênuo pensar contra os injustos. Uns e outros fenômenos mere
lamento**. E se a lei não for
cem certamente atenção. E por
vezes providências. Mas,em maté O IPT prepara o
leitor para a sub versiva Teologia da Libertação
O IPT conduz assim o leitor, ria sócio-econômica, há muita in
ora explícita, ora implicitamente, genuidade em pensar que eles só à grande revolução que a Teolo podem e devem ser corrigidos por gia da Libertação procura justi força da lei, e que para tanto basta ficar e insuflar (13).
a lei.
Assim, se crescem as pastagens e míngua a agricultura — e supos centros urbanos grandes ou mé- to que tal fenômeno fosse grave e comprovadamente danoso para a
É explicável que a isso seja
conduzido o leitor comum dos
(13) o Pe. Gustavo Guhérrez, fundador e um dos representantes máximos da Teologia da Libertação, assim se exprime: "Conceber a história como processo de libertação do ho mem é perceber a liberdade como conquista histórica, é compreender que a passagem de uma liberdade abstrata a uma liberdade real não se realiza sem luta — cheia de escolhos, de
possibilidades de extravios e tentações de
nossa economia — o remédio não
estaria em proibir por lei esse crescimento, tantas vezes explicá vel em vista de direitos pessoais incontestáveis, ou dos superiores interesses da economia nacional. Mas em estudar se os inconve
nientes trazidos pelo desenvolvi mento da pecuária podem ser compensados ou remediados por continua e sempre inacabada de nova maneira outras formas simultâneas de pro de ser do homem, uma permanente revolução culturar (Teologia da Libertação, Vozes, Fe- gresso rural. O IPT, pelo contrário, desfetrópoUs, 1975, p. 40 — destaques do autor).
evasão — contra tudo o que oprime o homem.
Este fáto implica não apenas melhores condi ções de vida, radical mudança das estruturas, revolução social, mas muito mais: a criação
115
que os problemas só
se
resolvem
por força da lei
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo /
cha na aplicação do Estatuto da Essa enumeração exigiria a Terra (cfr. Comentário ao n.® 99), prova científica de que tais males em má hora promulgado pelo ocorrem em proporção suficiente
ilustre e pranteado Presidente para justificar a intervenção do Castello Branco, e que seus suces- legislador. Onde está essa prova? sores tiveram o bom senso de De outro lado, seria necessário aplicar com grande parcimônia, provar, com rigor científico não menor, que a Reforma Agrária é o meio idôneo — e até o melhor
Caráter gratuito
dls ma^^^qu^a-
Cabe, por fim, registrar o cará- meio — para resolver tais males.
gratulto da enumeração dos Onde a prova?
jiigem o pequeno
Hialcs que, segundo O IPT, afli-
proprietário
gem O pequeno proprietário.
116
Em um e outro ponto,o IPT se
omite... comodamente.
Secção C
A propriedade privada e o bem comum: pólos opostos
(como quer o IPT), ou harmônicos (como ensina a doutrina católica)?
TEXTO DO IPT
O modelo político a serviço
bem comum são só as *'obras de
Outro enfoque u-
interesse público**. Obras públicas,
nilateral do IPT:
entende-se. O incentivo de obras e
da grande empresa
atividades de interesse particular é visto pelo IPT como beneficiando 18. A política de incentivos fiscais é tão-só os proprietários, e contrauma das causas fundamentais da expan pondo-se até ao interesse público. são das grandes empresas agropecuárias à custa e em detrimento da agricultura E, por isto, as verbas destinadas a familiar. Atéjulho de 1977, a Superinten dência do Desenvolvimento da Amazônia
incentivar essas atividades consti
tuem, segundo ele, ipsis verbis,
havia aprovado 336 projetos agropecuá rios, nos quais seriam investidos 7 bilhões desvio do "dinheiro de todos para de cruzeiros. Dessa importância, apenas2 uso de uma minoria, não atenden bilhões correspondiam a recursos pró do às exigências do bem comum**. prios das empresas, enquanto os restantes Sabe-se que a formação de
5 bilhões, mais de 70% do total, eram
provenientes dos chamados incentivos fiscais.
empresas novas pode beneficiar
altamente não só o particular que
19. A política de incentivos fiscais a promove, como ainda o conjun desvia dinheiro de todos para uso de uma
to da economia de uma região ou
minoria, nSo atendendo às exigências do
de todo o País. Assim, o incentivo
bem comum. Esse dinheiro deixa de ser
de certas propriedades privadas de nenhum modo se contrapõe ao pela grande empresa. Embora se reconhe bem comum, como o IPT parece ça ^cialmente que a maior parte da imaginar. alimentação em nosso país provém dos Se é verdade que, em tal hipó pequenos produtores, até hoje não se tese, a iniciativa particular recebe promoveu uma política de incentivosfis aplicado em obras de interesse público para ser desfrutado, como coisa própria,
cais ou de renda em seu favor. Essa política revela o Estado comprometido com os interesses dos grandes grupos econômicos.
COMENTÁRIO
mais imediatamente os benefícios
do apoio financeiro oficial, é ver dade também que tal é conforme à
justiça. Com efeito, empreendi mentos como, por exemplo, a
utilização, para plantio ou pasta Também neste tópico se revela gens, de terras de fronteira agríco a uniiateralidade do IPT. O que la, trazem numerosos benefícios ele menciona como favorecendo o tanto para a região onde eles se lo117
os direitos do pro prietário indivi dual cotídiriam ne cessariamente com os interesses do
público
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
calizam, como para a Nação toda. TEXTO DO IPT Muitas vezes, porém, tais iniciati 20. Essa orientação oficial estimulou vas podem não ser compensadoras a entrada da grande empresa no campo. para o particular. Pode, entretan Um vultoso programa oficial, o PROto, convir à economia nacional ÁLCOOL, baseado em subsídios gover que o Estado dê condições para namentais,já está aumentando a concen tração da terra, a expulsão de lavradores, que o particular o faça. Daí o quando poderia ser uma oportunidade
incentivo fiscal. O próprio bem comum pede ofavorecimento da i-
niciativa parti cular
Cumpre observar, por outro lado, que a iniciativa particular é comprovadamente mais esforçada,
mais ágil e mais produtiva do que o Poder público. O próprio bem comum pede, portanto, que em preendimentos desses sejam habi tualmente impulsionados pela ini ciativa privada.
privilegiada para uma redistribuiçSo de terras.
COMENTÁRIO
".... oportunidade privilegiada para uma redistribuição de terras**. — Ou seja, para a fragmentação
delas. O IPT não perde vaza para encaminhar à Reforma Fundiária, rumo à meta utópica da miniproEm outros termos, o bem co priedade familiar-padrão (cfr. mum e a propriedade privada não Parte I, Cap. I, 2 e Parte II, se contrapõem como pólos opos Comentário ao n.° 89). tos, e em conflito de força. Pelo contrário, a ordem natural pede TEXTO DO IPT que coexistam em harmonia (cfr. Textos Pontifícios ao fim da Sec-
21. A política de incentivos, na Ama
ção H). O que constitui bem exa tamente o contrário do que pres
grandes fazendas de gado, que apresen
comunista.
econômicos apenas visam beneficiar-se
zônia, não aumentou a produtividade das
tam uma taxa de utilização da terra supõe o IPT. Não porém o contrá inferior à dos pequenos produtores. Con rio do que afirma a doutrina clui-se daí que,por ora, os grandesgrupos
Ainda nestas matérias, o IPT dos incentivos fiscais.
22. Ainda na Amazônia,grandesem não apresenta provas de que os presas invadem os rios com navios pes fatos por ele alegados têm gravi queiros equipados com frigoríficos. De
dade e freqüência suficientes para
senvolvendo pesca predatória, levam à
justificar a intervenção da lei. fome as populações ribeirinhas que com Nem de que as reformas por ele pletam sua dieta pobre com a pesca propostas obviam o mal, e não artesanal. artesanais de áreas costei criam inconvenientes iguais ou ras Pescadores são igualmente prejudicados por pro
maiores.
118
jetos turísticos e por dejetos industriais.
Secção D
Frutos do IPT:
nas cidades, luta de classes;
nas selvas, luta de raças...
Com efeito, discorrendo sobre os silvícolas, o IPT se refere desiA questão das terras dos povos indígenas nibidamente a "suas terras**,"seus territórios**, às terras que "lhes 23. Nenhuma das comunidades indí cabem, por direito, como povos**, genas, em contato com a sociedade nacio a "sua cultura, seus usos, costu TEXTO DO IPT
nal, escapou às investidas sobre suas terras.
mes e sua memória histórica**.
24. Apesar da vigência do Estatuto do índio, os conflitos em áreas indígenas
Sem dúvida, essas expressões são corretas. Homens que são, os
se tomam cada vez mais violentos e
índios são titulares de certos direi
generalizados. Tais conflitos se ligam aos seguintesfatores: não demarcação oficial
tos elementares, e podem ser pro de suas terras; invasão de seus territórios prietários. Diga-se aliás, de passagem, já demarcados: comercialização e apro priação pela FUNAIdos recursos de sitas que a única perspectiva na qual o terras: preconceito de que o índio é um
IPT se mostra defensor intransi
estorvo ao desenvolvimento:não reconhe
gente do direito de propriedade é por direito, como povos; desconhecimen no tocante aos índios (os quais vivem num regime de propriedade to das exigências específicas do relaciona mento do índio com a terra segundo sua mais bem comunitário do que cultura, seus usos, costumes e sua memó privado). ria histórica; enflm, total marginalização E essa defesa da propriedade do Índio da própria política indigenista, no seu planejamento e na sua execução. índia, o IPT a faz com a unilateralidade sistemática que o carac
o IPT, defensor extremado da
propriedade... do índio!
cimento de que suas terras lhes cabem,
COMENTÁRIO Omissões essen ciais ao conside
rar a problemáti ca do índio
teriza.
Com efeito, sem indagar das Ao considerar a problemática causas históricas do fato, é forço do índio, o IPT manifesta a sim so constatar que o índio vive, pática intenção de protegê-lo con desde os mais antigos tempos al cançados pelo que o IPT chama tra violências altamente censurá veis. Nota-se, entretanto, mais de "sua memória histórica**, num uma vez, no texto, a omissão em estado sub-humano. Ele carrega relação a aspectos essenciais — e pois uma tradição viva, a qual, se notórios — da realidade que des por alguns lados lhe exprime au creve.
têntica e belamente o feitio de 119
O índio: aspectos positivos e nega tivos
A simpática intenção de proteger o índio contra violências altamente censuráveis, é assumida de modo unilateral
pelo documento Igreja e problemas da terra. Este toma a defesa do silvícola
contra o proprietário civilizado. Mas o faz de tal modo que introduz, nos assuntos concernentes ao índio, um ambiente de polêmica e de tensão, o qual poderia levar à guerra de raças, simétrica com
a guerra de classes.
A única perspectiva na qual o documento Igreja e problemas da terra se mostra defensor intransigente do direito de propriedade é no tocante aos índios (os quais vivem num repme de propriedade mais bem comunitário do que privado). — Na foto, D. Tomás Balduíno, Bispo de Goiás, fogoso adepto da nova doutrina missionária, que vê no índio um modelo para o homem civilizado.
III Assembléia Regional do Conselho Indigenista Missionário — CIMI —
reunida no Paraná. — Há no Brasil cerca de 200 mil
índios, que ocupam reser vas cuja área soma 411.206 quilômetros quadrados —
o equivalente a quase dez vezes o Estado do Rio de
Janeiro ou quatro vezes e meia Portugal. Como re conhecer aos nossos sim
páticos mas em geral ru dimentares
silvicolas
a
propriedade sobre uma área tão imensa quejamais
poderão aproveitá-la in teiramente?
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Secção D
alma e as aptidões,de outro lado o sedentário, mas sobre quem de tal maneira ainda pesa a tradição subhumana do estado selvagem, que própria situação jurídica. Haven se conserva incapaz de aproveitar do direitos que ele é incapaz de satisfatoriamente a terra. Como usar em sua plenitude (e o de reconhecer-lhe a propriedade so propriedade é um deles), o índio bre uma área maior do que a que não pode exercer por si mesmo pode aproveitar? Não importaria seus direitos tão amplamente isto em erigir o índio num privile quanto o homem que se encontre giado, a quem caberia o direito de na normalidade de seu estado ser latifundiário improdutivo? natural. "Direito" não só antipático, mas Assim, por exemplo, reconhe ainda nocivo, dada a imensa ex
diminui, o limita, e com isto toma necessária uma restrição em sua
Qual o direito de propriedade do nômade?
ce-se que o uso prolongado de tensão das áreas assim reservadas uma terra que jamais teve dono para a propriedade indígena (14). {res nullius) confere ao usuário a Nada disso o IPT toma em Na temática do condição de proprietário. consideração. O índio, ele só o Mas O nômade, que não ocupa quer ver como um titular da pleniemrJ^otd^ terra senão de passagem e tude dos direitos do homem que viUzados. à luta • j• í. mais ou menos esporadicamente, vive em condições normais. E ^
por ser incapaz de ascender à condição sedentária, pode ser clas sificado de ocupante, e como tal de proprietário? Qual então o limite de seu direito de proprie
toma polemicamente a defesa dele contra o proprietário civilizado. O que introduz, nos assuntos concer nentes ao índio, um ambiente de
polêmica e de tensão, o qual
dade? É o das vastidões por onde poderia levar à guerra de raças, perambula? Sem dúvida, o nômade tem
simétrica com a guerra de classes que o IPT fomenta.
direito a existir nas áreas por onde
A linguagem do IPT é frisante nesse sentido. Os agrupamentos
perambula. Não parece entretanto
que tal direito tenha a plenitude e indígenas são qualificados como "povos", no plural, ou seja, como instituto da propriedade indivi grupos heterogêneos entre si, e dual. Pois se o nômade é incapaz pela mesma razão também hetero o caráter exclusivo inerente ao
de se fíxar efetivamente numa
gêneos com o povo brasileiro, e
área, e de assim a cultivar, ele não
extrínsecos a este. As"suas terras"
pode impedir que o façam outros. Tanto mais que o nômade não sabe tirar da terra todo o fruto que ela pode dar. Ora,o fim natural da terra é de ser usada pelo homem para o bem do indivíduo e da coletividade (esse princípio é, aliás, tumultuosamente invocado por agro-reformistas contra o assim chamado *iatifúndio improduti vo"). Ressalvado sempre o direito do nômade de existir na área, e de nela encontrar onde fixar-se e
viver, logo que aceda à condição sedentária.
A situação dos In-
Análoga afirmação se deve fa-
dios semi-seden- ^er quanto ao índio semi-sedentáíarios ou seden-
tários
.
^
.
.
no, OU até mesmo inteiramente
chegam a ser qualificadas como "seus territórios". No território
brasileiro constituiriam, portanto, enclaves. Seus rudimentos de cul
tura, seus usos e costumes elemen
tares e não isentos de selvagería (14) Os religiosos missionários defendiam a liberdade do índio contra os escravizadores e
também, como corolário da evangelização, a
edução deles do estado de nomadismo para o estado sedentário. Comportava isto a desti-
nação de uma congruente parcela das terras por onde eles perambulavam, para que nelas se fixassem e passassem a cultivá-las. Porém não a
adjudicação a eles da totalidade daquelas terras, pois o nômade é, por definição, incapaz de apropriação estável e de uma utilização ordenada segundo a natureza das coisas. E esta
capacidade é o pressuposto para que alguém seja titular do direito de propriedade. 121
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
feroz,"sua memória histórica'" pe tiça", se aos índios não se fizerem jada de lendas inverossímeis, são concessões que o atual estado mencionados como se constituís deles não comporta (15). sem uma cultura completa, uma contextura de usos e costumes tão
vasta e tão coerente quanto a dos civilizados.
O que, tudo, contribui para dar ao leitor uma noção exacerba da dos direitos dos índios... rumo,
portanto, à luta contra a "injus
122
(15) Neste tópico, o pensamento do IPT se mostra notoriamente afim à opinião da neomissiologia, defendida por um número ponderável de Bispos e missionários, segundo a qual o branco não é senão um espoliador do Índio(cfr. PuNio CorrEa de Oliveira, Tribalismo indí
gena, ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI, Editora Vera Cruz, São Paulo, 7.» ed., 1979).
Secção E
Dramatização do problema fundiário para justificar a Reforma Agrária socialista, confiscatória e igualitária
TEXTO DO IPT
nada dizer de preciso e de verda deiramente concludente.
Migrações e violência no campo
25. Há no pais, milhões de migran tes, muitos dos quais obrigados a sair do seu lugar de origem, ao longo dos anos, devido principalmente à concentração da propriedade da terra, à extensão das pastagens e ã transformação nas relações de trabalho na lavoura. Sem contar os
milhares de migrantes que,como extensão da migração interna, têm se dirigido aos países vizinhos.
**Mílhões .... " — Quantos milhões?' Dois? Dez? Cinqüenta? A imprecisão desconcerta, tanto mais quanto, no tópico 14, eram apenas ^^mílhares". Dir-se-ia que, na estranha matemática do IPT, três zeros não fazem diferença...
.... de migrantes**. — Qual o conceito exato de **mígrantes** na Sob vários pontos de vista, a terminologia do IPT? Inclui todos secção que se inicia com o presen os brasileiros de pequena, média e te tópico constitui o ponto nevrál grande burguesia que se deslocam gico de todo o documento. Pois da sua cidade natal, a bem de suas pinta o quadro do problema fun atividades empresariais ou intelec COMENTÁRIO
Ponto nevrálgico do IPT: a descri
ção do problema Jundidrio brasi leiro
diário rural no Brasil, em função tuais? Inclui também os trabalha
do qual o IPT delineará e proporá dores manuais que vivem em con dições normais e se movem em a Reforma Agrária. Quadro inflado e dramatizado pa ra impressionar os ingênuos
De tal maneira enxameiam nos
direção ao hinterland inabitado e
tópicos 25 a 31 imprecisões a inculto, para as selvas, '*povoanassinalar e objeções a fazer, que os do**, segundo o preceito do (fênecomentários forçosamente se mul sis (1,28) a terra brasileira? Neste tiplicaram. Eles deixarão claro o caso, ser migrante não é cumprir o balofo do texto, inflado e drama mandamento divino? Ademais, o tizado de maneira a impressionar grande número de migrantes para o leitor ingênuo... sem contudo o campo deve ser visto como a 123
"Milhões", ou "milhares"?
Caminhada me lancólica rumo à
pobreza, ou mar cha árdua rumo ao êxito
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
marcha miserável da pobreza, ou lando sem jamais se fixarem? Ou como a caminhada, árdua mas seria que, ao longo dos anos,
meritória, de um povo que realiza seu destino providencial ocupan
novas levas de migrantes vão dei xando seus lugares de origem? do e transformando em fonte de Neste caso, por efeito de coação, riqueza o território-continente que ou de expansão demográfica? Se Deus e a História lhe puseram nas ria necessário que o IPT esclare mãos? (16). cesse tudo isto. Ele, porém, se cinge a generalidades enunciadas
de modo sumário e afogueado. Dados vagos
".... muitos dos quais*'. — Pre
cisamente quantos? Ou que por
Perguntas sem resposta
** .... devido principalmente". centagem? Pergunta-chave para — O texto se propõe, portanto, obter uma resposta que permita mencionar os principais fatores de aquilatar até que ponto a migra
Importância dos fatores que in fluem nofenôme
ção resulta de miséria e coação. migração. Há fatores secundários! Não há no IPT elementos que Todos estes reunidos, que impor permitam responder a essa tância têm em comparação com os fatores "principais"? Por sua vez, pergunta. cada um dos fatores principais, que quota de importância tem na produção do fenômeno migrató " .... obrigados a sair do seu rio? Desde quando cada um desses lugar de origem". — Quais as fatores atua no sentido apontado?
Omissão do IPT
no migratório. —
formas de coação empregadas? Mais uma vez, silêncio do IPT. Em que proporção é empregada cada uma? Essa coação se exerce
por igual em todas as regiões do território brasileiro? Ou existe só
em algumas, e não em outras? Em
"devido .... à concentração da propriedade da terra". — De que
que regiões existe? Desde quando? maneira, ou maneiras, essa con Com que índice de freqüência? centração "obriga" à migração? Sem resposta a essas perguntas, Ainda cabe aqui a pergunta. como avaliar exatamente a gravi dade do mal apontado pelo IPT, ".... à extensão das pastagens". bem como a natureza e a amplitu — O IPT se refere ao fato como se de das providências aptas a re solvê-lo?
Generalidades enunciadas de mo do sumário
fosse substancialmente negativo e injusto. Já se viu o arbitrário desse posicionamento (cfr. Comentário ao n.o 15).
" .... ao longo dos anos". — Normalmente se sai do lugar de origem uma vez só. O que signi " .... e à transformação das ficam aqui estas palavras? Ao relações de trabalho na lavoura". longo de toda a existência terrena — Que transformações? Com que dos migrantes vão eles perambu- efeitos concretos? Com que índice de freqüência? Em que regiões do (16) É significativo que o IPT não faça nenhuma referência ao aumento da produção agrícola, maior que o aumento da população. Nem ao fato de que, apesar de a política governamental ter sido até há pouco desfa vorável à agricultura, esta ainda forneça mais de 40% das divisas do País(cfr. Título II, Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas, Cap. I, 6). 124
A concentração da propriedade "obriga" à migra ção?
Posicionamento arbitrário em re
lação às pastagens
Referência vaga às relações de tra balho
País? Silêncio...
"Milhares de migrantes .... têm se dirigido aos países vizinhos". — Quantos milhares? Esse êxodo de braços para o Exterior cons-
O êxodo para o Exterior é neces sariamente uma
catástrofe?
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
titui necessariamente uma catás
Secção E
rece, e lançar-se à aventura árdua,
trofe? Ou é um fenômeno normal, mas tantas vezes lucrativa, do
decorrente do preceito "enchei to da a terra"(Gen. 1,28)7
Partilha compul sória das proprie dades grandes e médias: uma panacéia para o pro blema fundiário?
desbravamento de grandes glebas desocupadas. A partir de 1930, o fenômeno migratório interno se acentuou
Cabe aqui lembrar alguns as ainda mais em razão da industria pectos do problema fundiário no lização do País. A política adua Brasil: eles mostram,já à primeira neira forçou a alta dos preços dos vista, e em princípio, que esse produtos importados, e favoreceu problema não pode nem deve ser o surto da indústria nacional. Este
A industrialização do Pais acentuou
o fenômeno mi gratório
resolvido pela partilha compulsó último se incrementou ainda mais ria da grande e da média proprie com a II Guerra Mundial. Tudo dade, como pretende o IPT (cfr. isto conduziu ao crescimento ver Comentário ao n.® 89). tiginoso dos grandes centros urba Nosso País, de 8,5 milhões de nos. A indústria apelou então para quilômetros quadrados (dos quais os braços dos trabalhadores rurais, cerca de 5 milhões, incultos e que atraía por meio de salários aproveitáveis, pertencem ao Poder muito maiores que os pagos pelos público), conta com uma popula proprietários rurais. Daí nascer no ção de cerca de 120 milhões de País outra corrente migratória, habitantes. O problema fundiário dirigida não mais para o hinterassume, portanto, no Brasil, ca land, mas já agora aos grandes racterísticas muito diversas das
centros.
que ocorrem em países densamen A miragem da vida fascinante te povoados, como os da Europa, e trepidante da grande cidade por exemplo. reforçou a migração desejada pela A expansão de mográfica. o gran de fator normal da ocupação do nosso
território
Cumprindo o pla no de Deus:"po voai toda a tora"
Há décadas cessaram no Brasil
indústria.
os grandes fluxos migratórios. A Tal é a pujança do País que, ocupação das imensas extensões em certo modo, ambos esses sur desocupadas e incultas se vem tos migratórios se desenvolveram fazendo desde então pela expan pari passu. E a classe rural não são demográfica da própria popu cessou de desbravar e de se expan lação. Tomando em consideração dir, ao mesmo tempo que várias que a quase totalidade do terri cidades grandes ganhavam pro tório nacional é aproveitável para porções de vertiginosas babéis, e a agricultura ou a pecuária, os cidades apenas médias se transfor trabalhadores rurais têm (|iante de mavam em grandes. si possibilidades de progresso qua Nessa perspectiva, as migrações se ilimitadas. internas no Brasil, se vistas global Cumprindo o preceito do Gê mente, e sem considerar situações nesis, "povoai toda a terra'\ o peculiares (naturalmente surgidas Brasil é pois,e caracteristicamente, dos fatos, ou criadas por interfe um país de migração. Como ocor rências inJfelizes) em uma ou outra re em todos os lugares desde o região do imenso País (17), não começo do mundo, essa migração apresentam o caráter dilacerante é por vezes forçada pela saturação verifícado quiçá em outros lugademográfica de certas regiões. Ou (17) Consta que, em certos lugares, desa tras vezes ela resulta de que, mes mo em zonas não densamente
propriações feitas em massa com vistas a projetos de grande envergadura determinaram
povoadas, pessoas mais empreen a mi^açâo de numerosas famílias. Estas, tendo dedoras preferem deixar seu habi- recebido indenização insufíciente ou paga, por vezes, com grande atraso, foram seriamente tat normal, com as possibilidades lesadas, e lançadas à condição de infelizes pequenas ou médias que este ofe migrantes. Tal fato pede uma revisão dos 125
Os surtos migra tórios para as re giões novas do in terior e para as ci dades se desen
volveram pari passu
O fenômeno mi gratório no Brch sil não tem, em geral, o caráter
dilacerante que o IPT procura apresentar
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo /
res. Em geral, o migrante não tem cias que constituem seu contexto a psicologia de quem foge revol natural e explicativo. Isto feito, o tado, sob a ameaça de uma pobre documento focaliza tais fatos de za crescente, mas de quem busca, maneira que se configura uma esperançosa e empreendedora situação irreal, toda ela preparada mente, em outras regiões da pró para a luta de classes. pria pátria, oportunidades melho res (18). Contra esta assertiva não serve de argumento o fato de que TEXTO DO IPT toda migração traz consigo sepa 26. Uma grande parte dos lavradores rações, tristezas, fadigas, riscos e
migrou para as grandes cidades à procura danos. Este é o lado penoso do de uma oportunidade de trabalho, indo cumprimento do preceito "ocupai engrossar a massa marginalizada que vive toda a terra". Qual, aliás, a ativi em condições subumanas nas favelas, dade humana que não está expos invasões e alagados, em loteamentos clan ta a essas vicissitudes?
O fundo de quadro insinuado pelo IPT é bem outro. Nos "mi lhões de migrantes muitos dos quais obrigados a sair do seu lugar de origem**, ele só vê infelizes que saem escorraçados por vizinhos vorazes e onipotentes, quando a realidade é, o mais das vezes, bem
destinos, cortiços e nas senzalas modernas dos canteiros de obras da construção civil. O desenraizamento do povo gera insegu rança pelo rompimento dos vínculos so ciais e perda dos pontos de referência culturais, sociais e religiosos, levando à dispersão e à perda de identidade.
comentário
"Uma grande parte dos lavra diversa. A divisão dos patrimô dores migrou para as grandes nios em virtude da igual partilha cidades .... ** — Quantos? Em que das heranças entre os fílhos do porcentagem? Desde quando? A
o fenômeno mi gratório para as grandes cidades: causas e proble mas
proprietário (Código Civil, art. migração para a grande cidade 1604), pode reduzir certas pro não tem sido condição essencial priedades agrícolas ao simples mó para a industrializado do País? dulo rural em vigor na região. De Por que o IPT a considera, então, modo que, conforme o caso, os um fato inteiramente negativo e respectivos donos preferem co dramático? É certo que a forma locar seu trabalho em mercados ção das megalópolis industriais mais rendosos. E conservam incul tem sido nociva para os migrantes
OIPTpinta,fan tasia, dramatiza. Resultado: de classes
luta
ta a pequena propriedade herda da,tão-só como garantia de sobre vivência para o caso de um in
vindos do campo,como aliás para todas as classes da população.
sucesso.
to mais da concentração exagera da das indústrias em grandes cida des, do que da migração propria mente dita. Pois as indústrias po deriam ter-se estabelecido, em boa parte, em cidades médias. Mas este já é um problema autônomo, e inteiramente distinto dos proble mas fundiários do campo. Ademais, o IPT parece supor que a principal causa das exagera
Nada disso o IPT menciona.
Pois, como se vê, e mais adiante melhor se verá, ele seleciona na
realidade global apenas uns tantos dados, e os despe das circunstâncrítéríos e métodos defeituosos dessas expropriações. Estas abrem o flanco a censuras de
caráter moral e também operacional, porém não servem de base a criticas da estrutura
agrária.
(18) Intimamente ligado ao fenômeno mi gratório está o tema da mobilidade social; fator, o primeiro, para obter o segundo (cfr. Título II, Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas. Ane xo I).
126
Mas essa nocividade decorre mui
das concentrações urbanas seja
A migração para as cidades tem também causas a-
lheias ao campo
econômica. Ora, no mesmo senti
econômico, as
do atuam fatores psicológicos de força impressionante, que a su pressão das grandes propriedades
quais a divisão das propriedades em nada afetará
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
em nada diminuirá. O rádio e a
televisão, que chegam hoje aos últimos rincões do País, deslum bram o trabalhador rural (como, aliás, também o proprietário)com a miragem fascinante da vida das grandes cidades. Em contraste com
esta, a vida do campo a muitos parece rotineira, monótona, quase se diria sub-humana. Daí, em grande parte, o êxodo.
Tudo isso, o IPT parece igno
Secção E
marginalizados nestas existentes? Em que proporção — por sua vez — tais marginalizados permane cem estagnados em sua miséria, ou pelo trabalho próprio se ele vam, no plano sócio-econômico? Em outros termos, a estadia
dessas massas migrantes nas fave las é sempre definitiva, ou consti
tui em muitos casos mero estágio de abordagem da grande cidade? As favelas habitualmente são fi
rá-lo. Simplista nas suas visões, xas. Ao correr dos anos elas lá fundamentalmente dirigista em estão. Mas em que medida são seus métodos, o IPT vê o proble fixas as populações que nelas ma a seu modo, e em conseqüên habitam? (20). cia advoga para ele uma solução, abstendo-se de aduzir provas de que esse problema é exatamente .... que vive em condições como ele o apresenta (19). subumanas nas favelas". — Nas Uma das soluções, talvez a mais óbvia e a mais autêntica, favelas e locais congêneres tudo é seria o encaminhamento dos bra
Nasfavelas, tudo é miséria?
miséria? Ou há afloramentos de
ços rurais excedentes para as lar^eza e até de conforto em
imensidades inexploradas do terri vários locais destes? O que signifi tório nacional. Porém, propenso a ca precisamente a fixação em uma não ver em toda a realidade atual
favela, como índice de miséria?
senão problemas que se amon toam sobre problemas, o IPT
"O desenraizamento do povo discorre sobre a ocupação das imensidões disponíveis do territó gera insegurança" etc. — Por cer rio nacional para enumerar não as to, a migração mal feita pode
sisteem impedir o
vantagens daí decorrentes, mas gerar essas conseqüências. Contu
organizá-lo bem?
tão-só os problemas que o povoa
do, estas não são frutos necessá
mento dessas vastidões acarreta rios dela. Por exemplo, o ''desen(cfr. IPT n.o 27). Como se algo raizamento" de um homem ou de houvesse de sério e grande neste uma famUia,como de uma planta,
mundo que não acarretasse duros tanto pode acarretar sua destrui ção quanto sua frutificação mais e graves problemas. abundante, decorrente da implan tação em solo mais propício. Em Falta de objeti.... faido engTossar a massa que proporções se dá uma e outra vidí^e quanto ao marginalizada". — Em que pro- coisa no fenômeno migratório? O problema dasfa^ • , i iveias porção OS migrantes para as gran remédio para esses males consiste des cidades se incorporam aos em entupir o escoamento demo(19) Renomados economistas afirmam que a política econômica seguida em nosso País a partir da II Guerra Mundial, de uma ou outra forma, prejudicou a agricultura em favor do setor industrial. Segundo eles, algumas das conseqüências dessa política foram uma rela tiva incapacidade da economia de absorver os contingentes de mão-de-obra não-qualificada,
um aumento relativamente pequeno da produ
populações marginais (cfr. Título II, Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Consi
derações econômicas, Cap. I, 3 e Cap. II, 2). As conseqüências acima são provenientes de uma política econômica errada, e não de
problemas ocasionados pela estrutura agrária vigente.
(20) Cfr. Título II, Posso e devo ser contra a
tividade da agricultura e a constituído de
Reforma Agrária — Considerações econômi
grandes centros industriais com bolsões de
cas, Anexo I.
127
O remédio con escoamento
de
mográfico, ou em
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
gráfico das zonas hiper-povoadas, diária? E por que não por uma ou em organizar bem esses escoa bem orientada política de fisca mentos? Quanto poderiam fazer, lização e incentivo a essas com neste sentido, certos eclesiásticos panhias? que empregam o melhor de seu tempo em provocar a luta de classes?
A "expulsão da terra" ante a chegada dos proprietários que rei vindicam seus direitos só pode ser TEXTO DO IPT
remediada pela medida violenta da extinção dos direitos desses 27. Outra parte se dirige às regiões agrícolas pioneiras à procura de terras. mesmos proprietários? Entretanto, com freqüência, sua tentativa Por que o IPT não pede que o de fixar-se à terra choca-se contra uma Poder público encaminhe as cor série de barreiras: dificuldade para obter o titulo definitivo da terra, no caso de rentes migratórias para as imensas compra: a falta de apoio ou o próprio extensões incultas de que ele é fracasso das companhias colonizadoras; senhor? nova expulsão da terra, ante a chegada de Contra novos grileiros ou de reais ou pretensos grileiros", proprietários.
"a chegada de novos o remédio normal é a proteção policial, e não a divisão
COMENTÁRIO A mera partilha das terras resol
"Com freqüência,sua tentativa
migratório brasi
de fixar-se à terra choca-se contra uma série de barreiras". — Com
leiro?
que freqüência? No conjunto do
verá o problema
de terras.
movimento migratório brasileiro, qual a quota dos efeitos danosos decorrentes dos obstáculos aqui apontados?
Como se vê, o IPT se limita a constatar que uma parte dos la vradores "se dirige às regiões agrí colas pioneiras", e a lamentar, logo em seguida, as "barreiras" que se lhe opõem. Na realidade, a mera constatação importa numa
Ademais, cumpre ponderar subestima do fato. À ocupação que, ordinariamente, vários desses do solo não desbravado tem uma efeitos, quando existem, resultam importância capital para o País. É da incompetência, da corrupção isto de toda a evidência. E se ou do burocratismo. A cessação provas fossem necessárias, basta desses efeitos deve ser alcançada ria alegar que o inaproveitamento normalmente pela eliminação dos de extensa área de nosso território agentes que os causam. É admissí preocupa tanto a certas altas esfe vel que a mera partilha das terras ras, que se chegou a levantar o trará como conseqüência a supres projeto surpreendente da imigra são da incompetência, da corrup ção de dez milhões de estrangeiros ção e da burocracia? Parece, pelo para ocupá-las. Nessas condições, contrário, que, incumbindo-se o e prioritariamente a tudo, deve ser Estado — burocrático por essên apoiada toda tendência, todo im cia — de remodelar toda a estrutu pulso e todo esforço para que o ra agrária do País, tais efeitos Brasil seja ocupado inteiramente... possam encontrar campo imensa por brasileiros! mente mais livre para sua ação O IPT deveria assim manifes daninha. tar sua admiração pelo espírito de sacrifício e pela coragem dos mo dernos desbravadores de nosso
"O próprio fracasso das com sertão, e incitar a que os imitas panhias colonizadoras" só pode sem tantos outros que parecem ser remediado pela reforma fun preferir a estagnação na pobreza. 128
Por que o IPT não elogia o no bre esforço dos pioneiros?
o surto da indústria nacional apelou para os braços dos trabalhadores rurais, atraindo-os para os centros urbanos por meio de salários muito maiores que os pagos pelos proprietários agrícolas. Daí nascer outra corrente migratória, dirigida não mais para o hinterland, mas já agora aos grandes centros. A miragem da vida fascinante e trepidante da grande cidade reforçou a migração desejada pela indústria. Tal é a pujança do País que, em certo modo,
ambos esses surtos migratórios se desenvolveram pari passu. E a classe rural não. cessou de desbravar e de se expandir, ao mesmo tempo que várias cidades grandes ganhavam proporções de vertiginosas babéis, e cidades apenas médias se transformavam em grandes.
Kv '\ V
. ^
f7rvii.wr5^ ít.»
/ Vista de São Pau lo. — A vida fas
Ihores condições de vida, deslum
cinante e trepi
brou e atraiu mui
dante das gran des cidades, com a miragem de me- ,
tos braços da la voura.
Titulo I
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
no anonimato e na rotina das
desde jagunços e pistoleiros profissionais
grandes cidades. Pois espirito de sacrifício e coragem são virtudes eminentemente cristãs, e despertálas na consciência religiosa de nossa gente é incrementar a vida espiritual do País e assim tonificar sua vida temporal (21).
até forças policiais, oficiais de justiça e até juizes. Não raro observa-se a anomalia gravíssima da composição de forças de jagunços e policiais para executar senten ças de despejo.
COMENTÁRIO
" .... surgem conflitos". — O IPT dá a impressão de que tais
Conflitos... es pontâneos?
conflitos brotam espontaneamen TEXTO DO IPT
28. Em quase todas as unidades da
te em virtude da inconformidade dos titulares de direitos lesados.
Não seria difícil provar que a índole tranqüila dos brasileiros é presas nacionais e multinacionais, grilei bem diversa do que poderiam ros e fazendeiros e, de outro, posseiros e imaginar leitores estranhos a nos Federação, sob formas distintas surgem
conflitos entre, de um lado, grandes em
índios. Violências de toda a ordem se
so País. A tal ponto que a grande sá-los da terra. Nessas violências, já se dificuldade encontrada pela **escomprovou amplamente,estão envolvidos querda católica**, em seu aía de cometem contra esses últimos para expul
promover tensões sociais, consiste (21)Pelo contrário, influentes elementos da "esquerda católica", vituperam o pioneirismo e
^precisamente em levar esse povo bom e simples à convicção de que
seus grandes heróis. Assim, D. Pedro Casal- padece injustiças. Sem negar que dAliga, Bispo de São Félix do Araguaia
(MT), escreveu sobre Anchieta (recentemente se possa encontrar alguma base beatifícado por João Paulo 11): "Anchietafoi, para semelhante afirmação, a in até certo ponto um transmissor de um evan gelho colonizador. A Igreja deve se penitenciar justiça não é uma nota preponde .... É evidente que a descoberta da Américafoi rante e uniforme em todo o País e em muitos aspectos um crime colonialista"
("De Fato", Belo Horizonte, ano I, n.° 6, setembro de 1976).
Em sua autobiografía, D. CasaldAliga é
ainda mais enfático: "Acabei, por fim. de entender, e até de sentir, toda a ganga de
superioridade racista, de domínio endeusado e de exploração inumana com queforam desco bertos. colonizados, e. muitas vezes, evangelizados os novos mundos. "Colonizar" e "civi
lizar" já deixaram de ser para mim verbos humanos. Como não o são. aqui onde vivo e sofro, as novas fórmulas colonizadoras de "pacificar" e "integrar" os índios. Imperia lismo. Colonialismo e Capitalismo merecem, no meu "credo", o mesmo anátema.'Repugnam-me os monumentos aos descobridores e
aos bandeirantes. O monumento a Anhanguera
sua gravidade varia segundo as épocas e as regiões. Na terminologia da **esquerda católica**, esse esforço de sensibili
zação para misérias reais ou fic tícias se chama "conscientização**. A "conscientização** é a primeira etapa do processo de descontenta mentos, de agitações e de reivin dicações sociais promovido pelos organismos da "esquerda catóUca**. O que, tudo, leva a reconhecer o
como fora dela, venceu por vezes mediante a prática de crimes execráveis. Isto não obstante, é absurdo afirmar que a colonização é intrinsecamente má. E mais ainda, que o são os descobrimentos.
É contra a verdade histórica sustentar que na colonização das Américas tudo não foi senão crime. E que dela não decorreram para a
humanidade vantagens consideráveis (cfr. Plí nio Corrêa de Oliveiim, Tribalismo indí
gena, ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI, Editora Vera Cruz, São Paulo,
7.» ed., 1979, pp. 120-121). 130
zido das "tensões sociais"
caráter artificial e induzido da
totalidade ou da maior parte des
em praça pública em Goiânia me dói fisica mente" (Yo creo en Ia justicia y en Ia espe- sas "tensões sociais**. ranzal, Desclée de Brouwer, Bilbao, Espanha, Ninguém reage contra 1976, p. 176). Sem dúvida a colonização, na América
A "conscientiza
ção" — Caráter artificial e indu
o mal do qual não tem consciência. Seria o caso de perguntar aqui até que ponto a "conscientização** da "es querda católica**, e os pronuncia mentos torrenciais de membros do
Episcopado, de personalidades e instituições católicas, a favor da Reforma Agrária, contribuem pa
ra despertar esses conflitos, em que proporções os agravam etc.
Em Apêndice a este volume, o
Até que ponto os pronunciamentos episcopais vêm contribuindo pa ra despertar esses conflitos?
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
leitor encontrará a relação — tão completa quanto possível — dos pronunciamentos em favor da Re forma Agrária emanados de fon tes episcopais. Tais pronunciamen tos procedem de vários pontos do
Secção E
de ordem e estabilidade se mos
tram ciosas, a justo título, de cercar com
uma atmosfera de
respeito, em algum sentido quase
religioso, o Poder Judiciário. Pois quando este é vilipendiado e en território nacional. O número des volvido nas polêmicas da vida tes — 190 — bem prova a objetivi corrente, decai o respeito que lhes dade do adjetivo **torrencial" há devem ter os povos. E o sentimen pouco usado. to da estabilidade se degrada, e por fim desaparece. Assim, só em virtude de causas
Carência de in
formações do IPT sobre as vioiên-
^'Violências de toda ordem se
transcendentais e com base em
cometem ...."— Não basta aqui a provas evidentes, é dado a um mera alusão à diversidade dos indivíduo ou grupo social investir modos de ser dessas violências, contra esse poder. pois em princípio a violência é um Os brasileiros cônscios dessa crime, e, hoje mais do que nunca, verdade elementar não podem dei crimes "de toda ordem se come xar de sentir desconcerto e apre tem" em todos os países. É indis ensão ao ver que um documento pensável conhecer também o nú como o IPT (ou melhor, um mero bem como a curva de ascen organismo como a CNBB)investe são dessas violências. E a esse aqui contra o Poder Judiciário, respeito, ainda, o IPT não dá alvejando-o sem qualquer espécie informações. de prova.
Desta maneira, o IPT, queira O IPTparece nõo interessar-se pe las violências con
tra os proprietá rios
ou não queira, transborda mais ".... contra esses últimos[pos uma vez da esfera espiritual para a seiros e índios]". — Há atos de temporal. E parece deixar entrever violência contra os proprietários, o intuito de prover o País com da parte dos posseiros e índios? uma Reforma Judiciária que se Unilateral como de costume, o some à Reforma Agrária e à IPT não parece interessar-se por Reforma Urbana. mostrar ou detalhar isso.
Reforma Judiciária de que ín dole? A caminhar até os confins do horizonte, o olhar discerniria
Ênfase reivindicatória: "até .... até ...."
"Nessas violências ...."— Ou os clássicos tribunais populares seja, em todas elas (pelo menos se eleitos pela vasa da população consideradas em seu conjunto), agitada, para administrar, não a segundo o IPT, se acumpliciam Justiça, mas a "justiça" revolu "até forças policiais, oficiais de cionária. justiça e até juizes". A afirmação é É preferível, entretanto, não tão exagerada, que não merece olhar tão longe... análise. Convém apenas sublinhar
que a repetição, gramaticalmente incorreta, da palavra "até" expri me, de modo significativo, a so brecarga da ênfase reivindicatória que lateja no IPT.
"Não raro observa-se a ano
malia gravíssima da composição de forças de jagunços e policiais para executar sentenças de des
O IPT investe, sem provas, con tra o Poder Ju
diciário
pejo". — A referência não poderia ser mais vaga, se bem que, espe
A afirmação do IPT dá entre tanto margem a comentário de cialmente no tocante a uma "ano outra índole. As nações desejosas malia gravíssima", um documento 131
"Anomalia gra víssima vaga!
mas
Título I
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
que se respeite a si próprio deva Para essa galopada ascensional dos conflitos concorreu exclusiva ser esmeradamente preciso. mente o agravamento espontâneo
da situação? É impossível não TEXTO DO IPT
29. A situação tem-se agravado mui
to depressa. Tomando como referência a região de Conceição do Araguaia, no sul do Pará, podemos ter uma idéia da velocidade e amplitude da situação de conflito. No começo de 1979, havia 43
duvidar disto, tomando-se em con
ta que a antiga Prelazia de Concei ção do Araguaia (hoje Diocese) é notoriamente uma daquelas em
que a Autoridade eclesiástica mais atuou na promoção do desconten tamento rural.
conflitos identificados e cadastrados. Seis
meses depois, os conflitos já eram 55. No final do ano já eram mais de 80. No Estado do Maranhão, tradicionalmente conhecido como o Estado das terras
"No Estado do Maranhão...." Dados que só po
— Já quanto ao Estado do Mara livres, abertas à entrada de lavradores nhão, a pobreza dos dados volta a pobres, foram arrolados, em 1979, 128 conflitos, algumas vezes envolvendo cen tenas de famílias. Em três casos, pelo
dem impressiorunr quem não conhe ce o Brasil
acentuar-se. A referência a "cente nas" e até a um "milhar" de
menos, o número de famílias envolvidas famílias envolvidas em conflitos ultrapassa o milhar, sendo grande a con pode impressionar a quem não centração da violência nos vales do Mearim e do Pindaré.
COMENTÁRIO Ponto de referên cia insuficiente
'^Tomando como referência a
conheça o Brasil. Por vezes, gran
des áreas de terra permanecem incultas ou semi-incultas, e nelas
se vão instalando posseiros, à revelia de proprietários, desaten
região de Conceição do Araguaia, tos ou mesmo desleixados. Se ao cabo de dez ou quinze anos o no sul do Pará". — Esta "referên cia" deixa entender que a alusão à proprietário ou seus herdeiros re situação existente nessa região é solvem recorrer a meios legais ou suficiente para provar que idêntica ilegais para expulsar esses possei situação existe em todo o País. ros ou seus descendentes, com o Ora, Conceição do Araguaia se intuito de cultivar as próprias encontra no sul do Estado do terras, não é tão difícil que, de um Pará, o qual por sua vez, se acha e de outro lado da pendência, no Extremo-Norte do País... nu estejam envolvidas "centenas de ma região equatorial, úmida e famílias". No último limite do quentíssima (Bacia Amazônica). possível, até um milhar delas. Pelo Admitindo-se, argumentahdi gra menos se por "família" se entende
fia, a objetividade do fato, ele o conjunto formado por pai, mãe e fílhos (pormenor este, capital, a ra justificar a Reforma Agrária em cujo respeito o IPT também é todo um país de 8,5 milhões de omisso). quilômetros quadrados.
seria ra uicalmente insuficiente pa
Finalmente da dos concretos...
sem indicação de fonte!
Ainda como ponto de "refe rência", o IPT menciona de modo "No começo de 1979^ havia 43
especial os "vales do Mearim e do dos. Seis meses depois, os confli Pindaré", acerca dos quais afirma tos já eram 55. No final do ano Já que é "grande a concentração da eram mais de 80". — Finalmente, violência"."Grande": não se pode dados concretos! Tirados de que ria ser mais vago, particularmente fonte, o IPT não o diz. Até que em se tratando de pontos de "re ponto esclarecem eles a situação? ferência". conflitos identificados e cadastra
132
Ainda uma vez.
ponto de referên cia... o vago!
Secçõo E
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
TEXTO DO IPT
noticiário dos conflitos nas pró
prias zonas em que eles ocorrem? 30. Estudos recentes mostraram que a cada três dias, em média, os grandes jornais do sudeste publicam uma notícia de conflito pela terra. Comprova-se que essas noticias correspondem a menos de 10% dos conflitos cadastrados pelo movi
" .... comprova-se". — Quem comprova? Onde estão publicados
mento sindicai dos trabalhadores na agri
esses "cadastros de conflitos**?
cultura. Um levantamento do número de
Qual é esse "movimento sindical dos trabalhadores na agricultura**? Por que motivo o IPT não cita outras fontes, por exemplo esta tísticas policiais? Parece que ele
vítimas que sofreram violências físicas, feito através de jornais, indica que mais de 50% delas morrem nesses confrontos.
COMENTÁRIO **Estudos recentes ...." — De
quem? Publicados onde?
Movimento
sin
dicai insuspeito. Policia suspeita
considera o "movimento sindical
dos trabalhadores na agricultura"
como insuspeito, e a Polícia como suspeita. Ainda uma vez, a unilateralidade característica do IPT.
Jornais, jornais.
Jornais...
"Os graudes jomais do sudeste
publicam ...." — o que prova is "Um levantamento do número so, quando é notório que a maior de vítimas .... , feito através de parte desses jomais têm, infiltra dos nos respectivos corpos redatoriais, numerosos esquerdistas e comunistas que dão vazão a todo noticiário próprio a apresentar
jornais, indica que mais de 50% delas morrem .... ** — É lamentá vel que a CNBB omita de infor mar o leitor que critério seguiu para apoiar essa dolorosa por
como instável a ordem sócio-eco-
centagem.
nômica vigente no País?(22)E em
a) "dos jomais": quais? Só os que medida cada conflito é noti ciado em vários lances por um jornais geralmente tidos por sé mesmo jornal? Ou então é publi rios? Ou também a imprensa sub cado um lance de um deles em
versiva e sensacionalista?
vários jornais? Tudo isso deixado b) por que a CNBB se limitou no escuro, o que prova essa refe aos "jomais**? Por que não recor rência ao noticiário dos "grandes reu às fontes oficiais, como cartó jornais do sudeste** quanto ao rios, registros de óbitos etc.? número absoluto dos conflitos?
Poder-se-ia responder que par te desses óbitos presumivelmente do sudeste** ainda dá motivo a não chega a ser registrada. Mas, outra consideração. Os conflitos de outro lado, poder-se-ia objetar assim noticiados ocorrem na sua que a parcialidade do noticiário de maior parte no mesmo Sudeste? nossa imprensa, tão freqüente Ou no Sul? Ou no Centro? Ou no mente infiltrada, também é discu Nordeste? Ou, por fim, no Norte? tível. A estatística não oferece pois Por que o IPT não foi procurar o qualquer segurança. A referência especial a"jomais
(22) Em novembro de 1978, provocou
grande celeuma na imprensa brasileira a denún cia das chamadas "patrulhas ideológicas", isto é, a censura clandestina feita no interior de
grandes empresas jornalísticas com o objetivo
TEXTO DO IPT 31. Isso mostra a extrema violência
da luta pela terra em nosso pais, com nárias" ou simplesmente não "vanguardistas". características de uma guerra de extermí-
de boicotar as produções consideradas "reacio
133
Por quesó osjor nais. e nãofontes oficiais?
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Título!
nio, em que as baixas mais pesadas estão mentar a produção nas propor do lado dos lavradores pobres. Esse pro ções exigidas pela contínua ex
cesso se acentua na chamada Amazônia
Legal, embora ocorra também em outras regiões.
pansão demográfica e pelas neces sidades da balança comercial do País?
COMENTÁRIO A gravidade das acusações e da
reforma proposta exigiria rigor científico nas pro vas
Impressão causa da ao leitor inad vertido
Ao fim de tanta imprecisão, o IPT exclama, com afogueada e O IPT faz notar que "as baixas desconcertante ingenuidade: "Isso mais pesadas estão do lado dos
pela terra em nosso país". E acres
lavradores pobres". Ainda aqui pode acompanhá-lo um coração
centa dramaticamente: " .... com
cristão, pois a desventura do que
mostra a extrema violência da luta
Silêncio e indife rença do IPTpa ra com os poli ciais e militares tombados no cum
primento do dever
características de uma guerra de já é desventurado é própria a extermínio". Pelo contrário, "nis atrair mais compaixão do que a so" nada foi "mostrado" com o do homem feliz. Mas o IPT, rigor científico que a gravidade absorto na luta de classes, esquece das acusações lançadas e da refor de mencionar uma categoria de ma proposta exigem absoluta baixas que devem despertar espe mente. cial compaixão e além disso since O IPT pode dar a um leitor ro respeito. São os policiais e inadvertido a impressão de que os militares, o mais das vezes dedica
conflitos assumem as proporções dos soldados, cabos ou sargentos, de uma "guerra de extermínio". Mas a linguagem empregada neste tópico é agilmente vaga, pois se refere a "características" sem especiilcar se alude a algumas, a mui
ço do bem comum.
assim nossa certeza não tem como
nobremente.
mortos nessas emergências, no cumprimento do dever, e ao servi Morrer na defesa de um direito
próprio é morrer bem. Morrer na tas ou a todas as características. E defesa do bem comum é morrer
ir além da triste banalidade quoti Seja dado registrar, de passa diana. Por exemplo, mata-se no gem, a frieza do IPT — sempre Brasil de hoje por questões de unilateral — em relação ao patrio terra. E onde uma luta ocasiona
tismo desses defensores do bem
morte, pode-se dizer que ali está comum contra as arremetidas do presente uma característica de... comunismo.
"guerra de extermínio"! Em que medida a Reforma Agrária acabaria com es sa "guerra de ex termínio"?
Aliás, no Brasil comovem toda a América, de velha data se matou por questões de terra. Outrora
houve lutas de morte de proprie tários entre si, por questões de limites de terras. Hoje, são mais numerosas as lutas entre proprie tários e posseiros. Tudo isto é
"Esse processo se acentua ...."
— Proclamada com estrépito triunfal a conclusão, eis que o IPT aduz extemporaneamente mais uma alegação em favor desta. A
maneira de alguém que construiu uma casa, soltou um rojão festivo, que medida cria o perigo de uma mas, analisando depois o edifício, "gueira de extermínio", ou se julgou prudente apoiá-lo com certamente lamentável. Mas em
identifica com ela?
mais uma estaca. Só assim se
Sobretudo, em que medida explica a referência, por assim prova que uma Reforma Agrária dizer póstuma, do IPT, ao "pro fortemente marcada de igualitaris- cesso" que "se acentua" (desde mo pode resolver os problemas do quando? em que proporções?)"na campo, e ao mesmo tempo au 134
chamada Amazônia Legal" (em
Alegação extem porânea
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Secçõo E
toda ela? em partes dela? em que mais esse dado, o IPT acrescenta,
partes?). Esta estaca, por sua vez, por via das dúvidas, que o procesé apoiada em outra menor. Com so ocorre **também em outras efeito, sentindo a insuficiência de regiões". Quais?
135
Secção F
Caso típico de invasão da esfera temporal
TEXTO DO IPT
instrumento de exploração. Essa situação tomou-se exacerbada com o caminho do
2. Responsabilidade pela situação 32. Certamente todos nós temos al guma responsabilidade em relação a esta
desenvolvimento econômico que vem sen do percorrido em nosso país, escolhido sem a participação popular. O modelo de
desenvolvimento econômico adotado fa vorece o lucro ilimitado dos grandes grupos econômicos. Técnicas mais moder
situação de sofrimento e miséria. Para que nasforam incorporadas em muitos setores se possa somar forças e transformar a de produção à custa deforte dependência realidade, devem ser identificadas as ver externa, no que se refere à tecnologia, ao dadeiras causas da situação.
33. A responsaoiiidade não cabe a
capital e à energia. O rápido crescimento
da dívida externa, que segundo se anun cia, chega a 50 bilhões de dólares, repre
Deus. como se dá a entender quando se senta um débito correspondente a cerca de diz que "as coisas estão assim porque oito salários mínimos para cada brasileiro Deus quer". Não é vontade de Deus que o em média, inclusive aqueles que estão povo sofra e viva na miséria. fora daforça de trabalho, como é o caso
34. A responsabilidade do próprio de crianças, velhos e inválidos,e incluindo povo trabalhador poderá estar nafalta de maior união e organização. Por outro
lado, o povo tem sido impedido de participar e decidir dos destinos do país.
aqueles que, embora trabalhando,jamais receberam sequer o salário mínimo por
seu trabalho.
37, Essa dívida, cuja existência e 35. A responsabilidade maior cabe crescimento tem sua raiz na nossa depen
aos que montam e mantêm, no Brasil, um dência em relação às multinacionais, agra sistema de vida e trabalho que enriquece va poderosamente as condições de vida e uns poucos às custas da pobreza ou da de trabalho da população rural, pois miséria da maioria. A injustiça que cai sobre a agricultura recaiu grande parte sobre os posseiros, os índios, e muitos
desse pesado tributo. Intensificaram-se
exportações sem a contrapartida de um
trabalhadores rurais não é apenas ação de um grileiro e seus capangas, de um volume crescente, na mesma proporção, delegado e seus policiais, de umjuiz e seus de mercadorias importadas ou disponíveis oficiais de justiça, de um cartório e seu para consumo ou investimento. Exceden escrivão, é, artíes, a concretização localiza tes agrícolas tem sido extraídos à custa da da da "injustiça institucionalizada"de que redução das condições de vida dos lavra dores. Com incentivo oficial, áreas de fala o documento de Puebla.
lavoura transformaram-se em pastagens.
36. Isto acontece quando a proprie dade é um bem absoluto, usado como
Programas de colonização, como o da
Transamazônica, praticamente desativa137
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
dos, passaram a segundo plano em favor da pecuária extensiva. Bens tradicional mente produzidos aqui, caso do milho e do feijão, estão sendo importados agora.
Concentração do capital e concentração do poder
38. O desejo incontrolado de lucros leva a concentrar os bens produzidos com o trabalho de todos nas mãos de pouca
gente. Concentram-se os bens, o capital, a propriedade da terra e seus recursos, concentrando-se ainda mais o poder po lítico, num processo cumulativo resultan te da exploração do trabalho e da marginalização social e política da maior parte de nosso povo.
Titulo I
escasseamento e do preço exorbitante da terra nos seus lugares de origem, esses
agricultores não têm condições de ampliar suas próprias oportunidades de trabalho e de garantir a seus filhos, que crescem e constituem família, a possibilidade de continuarem na lavoura. Só lhes resta
migrar.
43. Em grande parte, afalta de recur sos para cobrir o preço da terra nas regiões de origem desses migrantes vem
do fato de que os rendimentos do seu próprio trabalho agrícola são amplamente
absorvidos pelas grandes empresas de que se tornaram fornecedores, que estão crian do mecanismos quase compulsórios de
comprometimento e comercialização de safras. Nesses casos, embora as grandes 39. Estamos diante de um amplo empresas não expropriem diretamente o processo de expropriação dos lavradores, lavrador, subjugam o produto de seu levada a efeito por grupos econômicos. trabalho. Tem sido assim com os grupos Lamentavelmente, a própria definição da econômicos envolvidos na industrializa política governamental em relação aos ção de produtos hortigranjeiros e outros. problemas da terra fundamenta-se num Na verdade, os lavradores, passam defato conceito de desenvolvimento social inacei
a trabalhar como subordinados dessas
távelpara uma visão humanista e cristã da
empresas, nos chamados "sistemas inte
grados", embora conservando a proprie dade nominal da terra. Só que, nesse caso, 40. Não se pode aceitar que os obje a parcela principal dos ganhos não lhes tivos econômicos, mesmo numa certafase pertence. do desenvolvimento, sacrifiquem o aten sociedade.
dimento das necessidades e dos valores
44. Outrofator que desanima o agri
fundamentais da pessoa humana, como
cultor é a absolutafalta de escoamento da
dá a entender o documento do Ministro
produção e o preço irrisório do fruto de
da Agricultura quefixou as diretrizes para 0 setor agrícola (Documento publicado
seu trabalho.
pelo "O Estado de São Paulo", de 19.08.79).
41. A política dos incentivos fiscais,
45. É necessário considerar, também, a prática sistemática do atravessamento na comercialização dos produtos agríco las. Em muitos produtos destinados ao
deu ocasião à especulaçãofundiária e aos grandes negócios com a propriedade da consumo urbano, como acontece com os terra. A expulsão atinge não só os pos gêneros alimentícios essenciais, os setores seiros, que chegam hoje no país a cerca de comerciais intermediários — transporta
1 milhão defamílias e os povos indígenas, dores, atacadistas e varejistas — costu como também arrendatários e parceiros,
mam reter não raro mais de 50% do preço
através da substituição da lavoura pela final pago pelo consumidor. pecuária. No caso dos posseiros, quando tentam permanecer na terra, não têm meios para pagar despesas judiciais, de marcações e perícias, iniciando as açõesjá derrotados.
42. Onde a expropriação não ocorre diretamente, nem por isso a grande em presa deixa de se fazer presente, estran
46. Não se pode esquecer, ainda, de um certo caráter perverso no mecanismo de preço dos gêneros alimentícios de
origem agrícola. O alimento considerado caro pelo consumidor urbano e que o
produtor agrícola considera barato e insu ficientemente pago pelo comprador, bene ficia, ainda, uma outra categoria econô
gulando economicamente os pequenos
mica. Na verdade, o custo dos alimentos
lavradores. Dados do Ministério do Inte
consumidos pelo trabalhador urbano é
rior, recolhidos no posto de migrações de
caro em face do salário baixo por ele Vilhena, em Rondônia, mostram que os recebido, mas é barato para o patrão que milhares de migrantes chegados àquele emprega o seu trabalho. Aquilo quefalta território procedem de áreas de pequena no pagamento dos produtos do trabalho lavoura de Minas Gerais, Espírito Santo, do lavrador aparece, defato, como mãoParaná e Santa Catarina, principalmente. de-obra barata na contabilidade e no Milhares de pequenos agricultores têm se lucro da empresa nacional e multinacio deslocado do Rio Grande do Sul em
direção ao Mato Grosso. Em virtude do 138
nal. Qjuando o lavrador compra alguma coisa produzida pela indústria — como o
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
adubo, o inseticida, a roupa, o calçado, o medicamento — paga caro, em compara
ção com os seus próprios ganhos: quando vende o seu produto, que vaiser consumi do na cidade, só consegue vendê-lo barato em comparação com os lucros da grande indtistria beneficiada pelo barateamento do preço da força de trabalho. Estamos diante de uma clara transferência de renda da pequena agricultura, produtora da maior parte dos alimentos, para o grande capital. Mecanismo semelhante opera no
caso do confisco cambial.
47. Até organismos do Estado têm se envolvido, diretamente ou através de em
presas públicas, em conflitos pela terra. Esse envolvimento fica muito mais claro nas disputas em tomo das desapropria ções de lavradores para a construção de rodovias e de barragens, como acontece em Itaipu e no Vale do São Francisco. Raciocinando como empresários de em presas privadas, mesmo não o sendo, no intuito de supostamente diminuir custos,
os representantes do Estado nesses empre endimentos esquecem que os lavradores dessas regiões não têm terra para nego ciar, mas para trabalhar. As indenizações que o Estado paga são geralmente insu ficientes para que o lavrador retome em outra parte a sua vida de trabalho, nas
mesmas condições em que se encontravam antes. Ou então é transferido para áreas onde são más as condições de vida e trabalho, mergulhando rapidamente nu
ma situação de grande miséria. É o que ocorreu na barragem de Sobradinho, na Bahia, e ameaça repetir-se na região da barragem de Itaparica, em Pernambuco e Bahia, envolvendo 120 mil pessoas. Os agricultores não têm sido atendidos na
BB: proftigar as
o IPT, porém, se substitui aos téc nicos e homens
de fato
que os técnicos e os homens expe rientes estão em desacordo. E,por fim,supõe como demonstrado que tais reformas são tecnicamente
aptas a retificar os abusos contra os quais se pronuncia: mais outro ponto, ainda, de graves desacor dos entre os técnicos e os homens
experientes. Assim, o IPT se subs titui aos técnicos e aos homens
experientes para decidir da situa ção de fato, quer sócio-econômica, quer financeira. Os tópicos 32 a 47 mostram, mais do que quaisquer outros, que os autores do IPT chamaram a si
O IPT ultrapassa
os limites da esfe ra de ação do Episcopado
montar todo um quadro da eco nomia nacional, controvertido en tretanto em todos ou quase todos
os pontos pela opinião de pessoas notáveis por seu saber ou por sua experiência. Assim, por exemplo, o IPT não se coíbe de fazer
errônea a visão que este tem dos
fatos, e o programa que adota em assim for de seu desejo. conseqüência (n.°s 35 a 37). Essa atitude, que apresenta COMENTÁRIO características de dogmatismo aEstá na alçada da CNBB pro- paixonado concernindo matéria fligar as injustiças a que dê azo — insusceptível de dogmatização, é de modo certo e segundo o con agravada pela tranqüila carência senso geral dos técnicos e dos do IPT — também nos tópicos ora
mum.
decidir de uma si
tuação
causa comum: outro ponto em
iguais ou melhores, indenização Justa, ou
homens experientes — uma estru tura sócio-econômica ou uma po lítica financeira. Máxime quando, sempre segundo os técnicos e os homens experientes, a estrutura ou a política em causa podem ser reformadas sem dano irreparável ou muito grave para o bem co
experientes para
por ele indicadas são exeqüíveis desde já, sem prejuízo para a
pesadas críticas ao Poder público temporal, dando sumariamente por
pagamento de terra com terra quando
injustiças
Ora, nos presentes tópicos (n.os 32 a 47), o IPT afirma a existência de situações de carên cia cuja amplitude e gravidade não especifica nem demonstra, e sobre as quais a opinião dos técnicos e dos homens experientes varia. Ademais, pressupõe que as reformas
cessantes, reassentamento em condições
sua exigência de indenização pelos lucros
O dever da CN
Secção F
analisados — no tocante a fontes
informativas. As afirmações dele sobre a realidade dos fatos, tam bém aqui são lançadas por escrito a granel, como se fossem evi
dentes. E as provas? Enquanto o Cap. 1 do IPT (n.°s 8 a 31)fazia aceno a alguns dados no sentido
da demonstração, os tópicos em 139
Total ausência de provas
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Título I
análise se mostram inteiramente qualquer bom procedimento técdesinteressados de tal.
nico (23).
É inexplicável que, fazendo tãrt ampia nmnlü e p grave orílVP incursão inciirsão em Cin (23) Quanto aos aspectos econômicos dos tao 3 ..fr-n,uioii./><,„of<í<.TO«r maténa técnica, o IPX ponna de contra a Reforma Agrária — Considerações lado as regras mais elementares de econômicas, Cap. III, 2.
140
Secção G
Mais uma vez, o IPT transborda
da esfera de ação própria do Episcopado
os peões, recrutando-os sob promessas de salários e regalias que não serão cumpri das. Como não há nenhumafiscalização, Acumulação e degradação quanto mais o trabalhador se aproxima do local de trabalho, mais longe fica de 48. Os que não conseguem resistir a qualquer proteção ou garantia quanto aos essas diferentes pressões e agressões, não seus direitos trabalhistas. Não é diferente a situação de muitos trabalhadores rurais conseguem continuar como posseiros, co lonos, parceiros, arrendatários, morado nas outras regiões do pais quanto a estes res: transformam-se em proletários, em direitos. trabalhadores à procura de trabalho não 51. Justifica-se a venda de peões só no campo, mas também na cidade. É pelas dividas que o trabalhador é obriga sabida a situação dos trabalhadores avul do a contrair, durante a viagem, com a sos em amplas regiões do pais, conhecidos alimentação e o próprio transporte. A como bóias-frias em São Paulo, Minas divida é transferida do "gato" ao emprei Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Goiás;ou teiro que, em nome dela, escraviza o peão como "clandestinos" em Pernambuco;ou enquanto dele necessitar. Os policiais, os "volantes" na Bahia e em outras regiões. donos de "bolichos" e os donos de pen As oportunidades de emprego para esses sões nos povoados sertanejos estão quase trabalhadores são sazonais, o que os sempre envolvidos nesse tráfico humano. impede de trabalhar todos os rqeses do Quando o trabalhador tentafugir é quase ano. Para atenuar as dificuldades que sempre castigado ou assassinado em nome enfrentam, aceitam deslocar-se para gran do principio de que se trata de um ladrão des distâncias, levados pelo "gato", longe — está tentando fugir com o que Já dafamília, sem qualquer direito trabalhis pertence ao empreiteiro que o comprou:a TEXTO DO IPT
ta assegurado. Trabalhadores'de São Pau lo são encontrados, em certas épocas do
sua força de trabalho.
52. Com o programa de aproveita
ano, trabalhando no Paraná ou em Minas
mento da borracha natural, o próprio
Gerais.
Estado estimula o recrutamento de milha
49. Mais grave ainda éa situação dos res de seringueiros para formar novos peões na Amazônia Legal. São trabalha "soldados da borracha", sem se preo dores sem terra, recrutados pelos "gatos" cupar em mudar as relações patrão-trabaem Goiás, no Nordeste e mesmo em São
Paulo e depois vendidos como uma mer cadoria qualquer aos empreiteiros encar regados do desmatamento.
Ihador.
53. Houve sem dúvida, iniciativas
por parte de responsáveis pela política de desenvolvimento agrícola, especialmente, 50. O "gato", como é conhecido em em algumas regiões do pais. Mas,por não amplas regiões, opera como um agencia- terem abrangido o conjunto das situações dor de trabalhadores. Geralmente, possui dos trabalhadores rurais e por terem ou aluga um caminhão para transportar alcançado uma proporção relativamente 141
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
nulo I
pequena de interessados, esses programas não têm efetivamente respondido às ne
nestas duas últimas secções anali sadas, uma crítica global de todo o cessidades dos homens do campo. De qualquer modo, a estrutura fundiária e processo de desenvolvimento só-
seus aspectos sociais é fundamental[sic] e condicionam [sic] o sucesso de qualquer política de desenvolvimento econômico e
cio-econômico brasileiro. E deixa
clara sua convicção de que é indispensável sujeitar esse pro
social.
cesso a uma completa reforma, 54. Direitos conquistados penosa e segundo metas e métodos pró
legitimamente ao longo da nossa história,
prios da CNBB. O que, mais uma vez, importa em ir muito além das — como é o caso das garantiasfundamen tais da pessoa, a igualdade jurídica dos atribuições específicas do Episcocidadãos, a previdência social, as garan pado. O IPT pretere assim as tias trabalhistas e a própria legislação sábias diretrizes dadas por João fundiária — têm sido precariamente ob consubstanciados em muitas de nossas leis
servados, sobretudo em relação aos bóias-
Paulo II em Puebla, no sentido de
frias, aos posseiros, arrendatários, parcei ros, peões, seringueiros, pescadores, ga
que os eclesiásticos atendam prin cipalmente ao aspecto religioso de
rimpeiros, carvoeiros.
sua missão, e se abstenham de 55. Merece menção especial os povos assumir a condução genérica dos
indígenas, dizimados através dos séculos e
espoliados em seus legítimos direitos e agora novamente ameaçados quando,sob a alegação de exigências da Segurança Nacional, se pretende reservar umafaixa de 150 quilômetros ao longo dafronteira oeste, o que significaria a destruição do habitat das nações indígenas ali residentes.
COMENTÁRIO As situações con cretas devem ser
descritas com seus reais matizes
acontecimentos temporais (25). A tônica do IPT é incontes-
tavelmente demolidora. Ele quer reformar todo o nosso processo
sócio-econômico. De que manei ra? Para obter concretamente o
que? O IPT se exime de o dizer com o necessário pormenor. Pa
Várias das situações descritas rece que destruir lhe importa mui nesta secção do IPT (tópicos 48 a to mais do que construir. O IPT apresenta até sua Re 55) parecem corresponder à reali dade dos fatos, e merecem enér forma Agráiia como um passo gica reprovação dos católicos. para entrar na via dessa reforma Mas, o mais das vezes, até mesmo sócio-econõmica global do País,
tais situações não são tão eviden
reivindicada pela CNBB. Com e-
tes que, em um trabalho sério, feito, depois de haver procedido à dispensem provas. E, uma vez crítica geral da economia brasi
leira (e no momento preciso em tadas com seus reais matizes. Tor- que o leitor se pergunta, com mais nar-se-ia então patente que essas desconcerto, a que vem tudo isso situações comportam soluções ou num texto destinado a tratar espetras que não a Reforma Agrária, (25) Disse JoAo Paulo II: "Percebe-se, às para a qual o IPT, com inflexível vezes, certo mal-estar relacionado com a pró unilateralidade, encaminha entre pria interpretação da natureza e da missão da Igreja. Alude-se, por exemplo, à separação que tanto o leitor (24). alguns estabelecem entre Igreja e Reino de
provadas, deveriam ser apresen
«
O IPT vai muito além das atribui
ções especificas do ^iscopado
*
«
É muito especialmente de no
Deus. Este, esvaziado de seu conteúdo total, é entendido em sentido mais bem secularista: não
se chegaria ao Reino pela Fée pela pertencença à Igreja, mas pela simples mudança estruturale pelo compromisso sócio-político. Onde há um problemas da terra, ele lança, certo tipo de compromisso e de praxis pela justiça, ali estariajápresente o Reino. Esquece(24) Viria a propósito analisar aqui a se, deste modo, que'a Igreja.... recebe a missão introdução do regime dos "bóias-frias" na vida de anunciar o Reino de Cristo e de Deus, e rural brasileira. O leitor encontrará conside instaurá-lo em todos os povos, e constitui na rações sobre a extensão, causas e situação dos terra o germe e o princípio desse Reino' "bóias-frias" no Titulo II, Posso e devo ser (Lumen Gentium, n.® 5)". (Insegnamenti di
tar que, versando o IPT sobre
contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas Cap. I, 5. 142
Giovanni Paolo II, Libreria Editrice Vaticana,
vol. II, 1979, p. 197).
A tônica demoli dora do IPT
o ideal católico de justiça no terreno sócio-econômico não consiste
na igualdade completa, mas no convívio das classes sociais
em harmônica e proporcionada desigualdade, de modo que sejam atendidos os direitos de todos,
patrões e trabalhadores. o café
I
m I
seca
no terreiro.
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
cificamente do problema da terra), analisadas (tópicos 32 a 55). o IPT esclarece que a CNBB, ao Nelas, a descrição de nossa pleitear a reforma fundiária, tem situação sócio-econômica enxaem vista amoldar nossa estrutura meia de aspectos negativos. Dirimobiliária no sentido dessa re se-ia que estes lotam, aos olhos da forma global de toda a nossa CNBB, todo o quadro de nosso economia: ""De qualquer modo, a País, ou quase tanto. E que, em estrutura fundiária e seus aspectos conseqüência, todo o processo de sociais é fundamental [sic] e con dicionam [sic] o sucesso de qual quer política de desenvolvimento
desenvolvimento sócio-econômico
econômico e social" (n.° 53)(26).
Entretanto, a descrição dos aspectos positivos falta. Como explicar o contraste en
nenhum benefício trouxe para o Brasil.
Não seria possível encerrar es tre tanta facúndia na crítica demo tas considerações sem registrar um lidora, e tão enigmático silêncio aspecto frisante, comum às três no tocante ao plano das reali secções do IPT que acabam de ser dades positivas? (26)O erro de concordância salta aos olhos,
te, que analisa o IPT tópico por tópico, caberia
e foi notado por mais de um órgão de imprensa. Lapso de redação? Falha na revisão? Erro de
dar uma resposta a estas perguntas. Mas como
composição?
Em rigor, num comentário como o presen
144
são alheias ao ângulo de análise especifico do presente trabalho, pareceu mais conciso — e mais simpático — deixar à margem o assunto.
Insistência sobre os aspectos nega
tivos. silêncio so
bre os aspectos positivos
Secçõo H
A manipulação da doutrina católica sobre direito de propriedade
TEXTO DO IPT
rios para quê? Para a ação ime diata? Ainda não. Para algo que, por sua vez, também parece pelo
II — Fundamentação doutrinai menos um tanto árduo e incerto, e 1. A terra é um dom de Deus a todos os homens
em todo caso é bastante confuso:
"discernir nossas opções pasto rais". O sentido e o tom são bem
56. Nesta parte doutrinai, na qual diversos dos que convém a um ato procuramos descobrir os critérios para discernir nossas opções pastorais a partir do magistério. da realidade acima descrita, é claro que nSo pretendemos elaborar um tratado exaustivo de toda a mensagem bíblica e doutrinai da tradiçSo cristã que a Igreja recebeu, enriqueceu efielmente conservou para nós. Queremos apenas lembrar al guns temas,explicitar algumas idéias,que nos possam ajudar a compreender o
Também nisto o IPT descon
certa. Pois, conforme já foi dito, o título específico segundo o qual aos Bispos toca entrar na questão fundiária como nas de desenvol
vimento econômico, é o aspecto "doutrinai" que todas apresentam. problema da posse e uso da terra numa E logo aí o IPT se apresenta visão cristã, socialmente justa e mais hesitante. Ele que, em matérias fraterna. especificamente temporais,se mos tra tão desinibidamente afirma COMENTÁRIO O IPT se mostra
hesitante, precisa mente no campo
que lhe seria pró prio: o doutriná rio
''Nesta parte doutrinai,na qual
tivo!
Ademais, se o IPT é tão tacteante no que concerne à doutrina para discernir nossas opções pas a partir da qual proclama justa e torais .... ** (destaque do autor). — necessária a Reforma Agrária, co Estas palavras parecem indicar mo pode ele ser tão categórico ao que, na presente Tundamentação proclamar justa a dita reforma? doutrinai", o IPT não se atribui a PROCURAMOS descobrir os critérios
si próprio o caráter magisteríal. Ele se apresenta como uma ten
tativa — "procuramos" — algum tanto árdua e incerta, para "des cobrir" simples "critérios". Crité
" .... a partir da realidade o ipt é absoiuacima descrita". — Fica aqui explicitamente afirmado que todo dosfatos 145
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
julgamento de valor emitido pelo TEXTO DO IPT IPT tem como pressuposto a exis tência de uma situação... acerca da 57. É claro também que os textos aos qual este não se deu, aliás, ao quais nos referimosforamformulados em trabalho de provar que a descreve com objetividade. Porém — curioso contraste, que cumpre notar mais uma vez — o IPT, tão hesitante na doutrina que está em sua alçada ensinar, é absolutamente categórico na des crição dos fatos!
contextos sociais, culturais e religiosos
diferentes daquele em que vivemos hoje. Não queremos cair no simplismo de tirar conclusões infundadas a partir de trans posições meramente literais. Para além da
letra dos textos, queremos chegar ao espírito que os anima,à grande mensagem religiosa que eles nos transmitem e que, na sua pureza e simplicidade é facilmente compreendida pelos puros e simples de coração.
COMENTÁRIO Para
reivindica
ções tão graves, doutrina escassa
'*Não pretendemos elaborar um
Ao ler este tópico, não se pode fugir à impressão de que o IPT sagem bíblica e doutrinai da tra simplifica por demais sua própria dição cristã .... ** (destaque do tarefa, no que diz respeito à exe autor). — Não se poderia pedir tal gese dos textos que pretende citar: ao IPT. Nem sequer de uma Encíclica se poderia esperar que aa) É justo que o IPT ponha brangesse conteúdo tão opulento e em realce a necessidade de evitar tratado exaustivo de toda a men
tão amplo. 'transposições meramente lite Sem embargo, a ordem natu rais'* desses textos. ral das coisas pede que haja har Mas os estudiosos de nosso monia de proporções entre a im tempo não se podem dispensar de portância de uma tese, e o valor de ^outro cuidado. Isto é, de evitar o suas fundamentações. O IPT pede que se poderia chamar a "fluia Reforma Agrária (cfr. n.® 99), dificação" da letra dos textos e a
promete para breve um pronun
ciamento em matéria fundiária
o IPTse esgueira entre
os
textos
Cumpre evitar a
"fluidificação"do texto e a hipertro fia do contexto
hipertrofia na valorização dos con textos sócio-econômicos respec
urbana (cfr. n.® 4), reivindica uma tivos. Pois estes são efeitos facil
séria remodelação do processo de
mente decorrentes do olvido de
desenvolvimento sócio-econômico que a letra é portadora autêntica do País (cfr. n.®s 32 a 47). Difi do espírito, e contém um subs cilmente poderia ele sustentar, em trato que nenhuma modificação
matéria sócio-econõmica, teses de contexto pode alterar. Este mais amplas, ou formular reivin cuidado, o IPT não o manifesta. dicações mais graves. À vista dis to, parece absolutamente escasso b) O leitor tem a impressão de (para não dizer esquivo), que o que, cônscio de sua pobreza dou IPT, precisamente em sua parte trinária, o IPT espera entretanto doutrinária, se omita de apresen desculpar-se alegando que "a tar um aspecto geral da doutrina grande mensagem religiosa** de social da Igreja, complementado tais textos "na sua pureza e sim pelo menos por fartas e nume plicidade é facilmente compreen rosas citações de documentos do dida pelos puros e simples de Magistério Supremo. E que, preci coração**. Como se os "puros e samente em matéria de doutrina simples de coração** não tivessem — não é demais salientar — a
necessidade de ter um conheci
CNBB queira **apenas lembrar al mento da doutrina da Igreja pro guns temas, explicitar algumas porcionado à sua capacidade in idéias ...." 146
telectual. Ou ainda como se o
O Magistério da igreja visa escla recer também os
que, perdidos no
cipoal dos pro blemas, buscam a verdade
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Secçõo H
Magistério da Igreja visasse tão-só herdeiros de Deus e seus co-herdeirds. conservar na pureza e na simpli 65. Todo o Novo Testamento, a No cidade os que possuem essas vir va Aliança de Deus com seus filhos, tudes, desinteressando-se de atrair irmãos de Jesus, nos orienta no sentido da partilha e da prática da justiça na distri também para a verdade aqueles buição dos bens materiais, como condição que, no cipoal dos problemas pes necessária da fraternidade dos filhos do soais e coletivos de nossa época, mesmo Pai, conforme o ensinamento do procuram, carregados de erros e Sermão da Montanha(Mt 5:6:7). A con versão sincera encontra logo a expressão de vícios, alguma réstia de luz que do gesto do dom e do restabelecimento da lhes indique o bom caminho. justiça, tão bem retratada no episódio de Zaqueu (Lc 19,lss). O apego exagerado TEXTO DO IPT
58. A Igreja, na sita doutrina social, tratou muitas vezes do problema da pro
aos bens materiais, a recusa a reparti-los com os pobres, podem significar uma barreira para o seguimento radical ao Senhor (Mt I9,l6ss).
66. O ideal evangélico a ser atingido,
a prefiguração na terra do reino definiti de da terra. vo, quando Deus será tudo em todos, é a 59. Essa doutrina, a Igreja não a construção de uma sociedade fraterna, formulou apenas em resposta aos desafios fundada na justiça e no amor. Para o Evangelho, os bens materiais não devem que o problema levanta em nossa socieda de, mas também em consonância com ser causa de separação, de egoísmo e de uma longa tradição que tem suas raízes na pecado, mas de comunhão e de realização Bíblia, na mensagem de Jesus, no pensa de cada pessoa na comunidade dosfilhos priedade e, explicitamente, da proprieda
mento dos Santos Padres e Doutores.
Com amor efidelidade, ela meditou nestes textos e deles soube extrair as suas
implicações sociais para a sociedade em que vivemos.
de Deus.
67. A Igreja tem presente a expe riência da primitiva comunidade de Jeru salém, quando a fraternidade em Cristo, vencendo as barreiras do egoísmo, expri-
60. Deus é o criador e soberano mia-se em gestos de partilha: "Todos os Senhor de tudo. "Sim, o grande Deus é o fiéis tinham tudo em comum; vendiam Senhor, o grande Rei, maior que os suas propriedades e seus bens e dividiamdeuses todos; em suas mãos está a terra
nos por todos segundo a necessidade de
inteira, dos vales aos cimos das mon
cada um"(At 2,44-45).
tanhas:dele éo mar,foi Ele quem ofeze a terrafirme suas mãos modelaram"(SI94). 61. Como criador e Senhor, é Deus que tem poder de definir o uso e a
Igreja, hoje, procura aprender da expe riência dos Santos Padres Antigos, que
destinação da terra. Desde o início Ele a entregou aos homens para que a subme
tessem e dela tirassem o seu sustento(Gn 1, 23-30).
62. Formulando hoje sua doutrina social, a Igreja conserva a lembrança das severas advertências dos Profetas de Is
rael, que denunciavam a iniqüidade dos que usavam a terra como instrumento de espoliação e opressão dos pobres e dos humildes. Não se esquece do desígnio de Deus de que a terra devia ser o suporte material da vida de uma comunidade
68. Na elaboração de sua doutrina, a procuravam traduzir, para as suas socie dades, as lições da Sagrada Escritura. Ela
ouve ainda o eco das expressões de grande vigor com que eles também denunciavam a iniqüidade dos poderosos.
69. "Foi a avareza que repartiu os pretensos direitos de posse"(Sto. Ambrósio, P.L. Vol. 42, Coluna 1046). "A terra foi dada a todos e não apenas aos ricos" (Sto. Ambrósio, Apud Populorum Progressio, n.° 23, De Nabuthe, C. 12, n.° 53 P.L 14,747).
COMENTÁRIO
fraterna e serviçal.
63. Mas é especialmente nos ensina mentos de Jesus que ela vai procurar as fontes de sua doutrina social.
Dos Padres da Igreja, o IPT só
cita Santo Ambrósio. E para isto
escolhe precisamente dois textos acerca do direito de propriedade a Nova Aliança e constitui o novopovo de que se têm prestado à confusão. 64. Jesus, o Filho de Deus, inaugura
Deus e a nova fraternidade pela partici pação em stta vida divina. EJe nos recon cilia com o Pai, realiza a libertação total
cionais sobre o verdadeiro alcance
da escravidão do pecado e nosfaz a todos
destes textos, o IPT não diz uma
Ademais, das explicações tradi
147
Quanto ao texto de Santo Ambró sio, o IPTsubes tima o contexto
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Título I
SÓ palavra (27). Não é difícil condição de escravo. Precisamen conjeturar a quem beneficia tal te o que se encontra com abun dância na literatura comunista de procedimento... todos os níveis, desde o tratado
científico até o panfleto de rua. TEXTO DO IPT
70. "Pelo direito das gentes, implan tou-se a distinção das propriedades e o
regime de servidão. Pelo direito natural,
TEXTO DO IPT
71. Ainda hoje a Igreja vai procurar
porém, vigorava a posse comum de todos luz e orientação no pensamento dos gran e de todos a mesma liberdade"(Decr. de des Doutores que tentavam também fazer Graciano. L II, D. 13). Texto particular a síntese entre afidelidade à TYadição e as mente expressivo pelo fato de associar à novas realidades sociais com que se de Ba consulta com especial apropriado individual o regime de ser frontavam. vidão. O egoísmo provoca osfortes a se atenção o pensamento de Santo Tomás de Aquino que já vira na propriedade parti apropriarem não só das coisas, mas tam cular não um obstáculo à comunhão dos bém das pessoas dos mais fracos.
COMENTÁRIO
*'Texto particularmente expres sivo pelo fato de associar à apro
bens, mas um instrumento para a realiza ção de sua destinação social:"A comuni
dade dos bens é atribuída ao direito
natural, não no sentido de que o direito natural prescreva que tudo deva ser pos suído em comum e nada seja possuído
priação individual o regime de como próprio, mas no sentido que,segun servidão". — Segundo o IPT, existe, pois, um particular nexo entre o direito de propriedade e a escravidão. Parece que os vê como recíprocos corolários. Como explicar essa estranha concepção? Obviamente, conside rando, na situação do trabalhador não proprietário, uma variante da
do o direito natural, não existe distinção de posses, que é o resultado da convenção entre os homens e decorre do direito
positivo. Daíse conclui que a apropriação individual não é contrária ao direito
natural, mas se acrescenta a ele por invenção da razão humana" (Summa Theologica; II, Ilae q. 66 art. 2, ad I). Assim a apropriação individual seria, para Santo Tomás, um dos meios de
realizar a destinação social dos bens a
(27)Quanto aos textos de Santo Ambrósio, fins universais da terra e de seus bens, a ponto
são de fácil e perfeito esclarecimento. Para não alongar a exposição, basta resumir o que diz M,-B. ScHWALM, no Dictionnairt de Théologie Catholique (Letouzey et Ané, Paris, 1923, ver bete "Communisme", cols. 581-582).
Após ter mostrado que a Igreja dos primei ros steulos não se desviara num sentado comu nista, Schwalm estuda duas situações que marcam o século IV. De um lado, o surgimento de seitas comunistas, condenadas como heréti
cas pelos Padres da Igreja — entre os quais Santo Agostinho — por negarem a legitimida de da propriedade privada e da riqueza indivi dual. De outro lado, o real monopólio da propriedade territorial praticado pela aristocra cia cristã.
Esta situação fez com que os Padres da Igreja — continua a explicar Schwalm — man tendo a doutrina tradicional no tocante ao
direito de propriedade, empreendessem o com bate aos abusos da riqueza; este objetivo novo conduz ao desenvolvimento de aspectos novos na doutrina tradicional. Assim, "aos patrícios monopolizadores, Ambrósio lembra uma ver dade que os antigos Padres não destacavam,
de parecer negar o direito particular do rico". E Schwalm transcreve as palavras de Santo Ambrósio citadas pelo IPT além de outros conhecidos textos no mesmo sentido, do gran de Doutor. "Entretanto
— acentua Schwalm
— a
doação providencial da terra à humanidade não impede, sempre segundo Santo Ambrósio, a legitimidade da posse individual, nem mesmo a da riqueza.'Não são os que têm riquezas, mas o que não sabem usar delas que a sentença divina atinge: Ai de vós, ricos' (Expositio
Evang. sec. Luc., /. V, n." 69, P. L., t. XIV, coL 1654). A condição de rico e de proprietário não é má em si: 'Não são os ricos que são
condenáveis, mas as riquezas dos pecadores' (In. Ps. XXXVI, 14, P. L., t. XIV, col. 972/'. Assim, diz Schwalm, o que parece condena ção do direito de propriedade em textos de Santo Ambrósio, deve-se na realidade à hipérbole oratória necessária para a reação extrema que o Santo Doutor empreendia contra os abusos dos ricos. Nota Schwalm,a esse propó sito, que o livro sobre Naboth, de Santo Ambrósio, "tqtresenta a riqueza como um
mas que é bem de espírito evangélico, de essência cristã:a criação da terra para a vida e o
presente divino: 'De Deus recebestes o que
bem de todos, por um Deus Pai de todos.
dons'(c. XVI, n.® 66, col 753). A condição de
Somente que ele acentua esta reivindicação dos
rico — conclui Schwalm — não é má em sf.
148
deveis aos pobres: a Deus pertencem vossos
A SAGRADA ESCRITURA
E A RIQUEZA
O Deuteronômio defende a
propriedade privada, apresentando sua violação como
pecado proibido pelo Decálogo "Não cobiçarão a mulher do teu próximo, nem a sua casa, nem o seu campo, nem o seu servo, nem a
sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença" (Dt. 5, 21).
Dois ricos, justos e bem-amados por Deus: Abraão e Lot
"E o Senhor abençoou Jó no seu último estado muito mais que no primeiro. E chegou a ter catorze mil ovelhas, e seis mil camelos, e mil juntas de bois, e mil jumentas" (Job. 42, 12).
O proprietário tem a inteira disposição de seus bens: a parábola dos operários da vinha "O reino dos céus é semelhante a um pai defamüia que, ao romper da manhã, saiu a contratar operários para a sua vinha. E tendo ajustado com os operários
um dinheiro por dia, mandou-os para a sua vinha. E tendo saído cerca da terceira hora, viu outros que
estavam na praça ociosos. E disse-lhes: Ide vós "E ele [Abrão] teve ovelhas e bois e jumentos, e também para a minha vinha, e dar-vos-ei o que for servos e servas, ejumentas e camelos E Faraó deu justo. E elesforam. Saiu outra vez cerca da hora sexta ordens a seus homens para cuidarem de Abrão; e eles e da nona, efez o mesmo. E cerca da undécima, saiu e o acompanharam com sua mulher e com tudo o que encontrou outros que estavam [ociosos], e disse-lhes: Por que estais aqui todo o dia ociosos? E eles possuia"(Gn. 12, 16 e 20). "Era [Abrão] extremamente rico em ouro e pra responderam: Porque ninguém nos assalariou. Ele disse-lhes: Ide vós também para a minha vinha. ta"(Gn. 13, 2). No fim da tarde, o senhor da vinha disse ao seu "Também Lot, que acompanhava Abrão, tinha rebanhos de ovelhas, e manadas, e tendas. E não mordomo: Chama os operários e paga-lhes o salário, podiam habitarjuntos naquela terra,por serem muitos começando pelos últimos até aos primeiros. Tendo chegado pois os que tinham ido cerca da hora os seus haveres"(Gn. 13, 5 e 6). undécima. recebeu cada um seu dinheiro. E chegando também os primeiros,julgaram que haviam de receber mais;porém,também eles receberam um dinheiro cada A riqueza, bênção de Deus um. E ao receberem, murmuravam contra o pai de família, dizendo: Estes últimos, trabalharam uma
"Labão disse-lhe [a Jacó];.... Reconheci por expe hora, e os igualaste conosco, que suportamos o peso riência que Deus me abençoou por causa de ti do dia e do calor. Porém ele, respondendo a um deles, Respondeu-lhe [Jacó]: Tu sabes de que modo te servi, disse: Amigo, eu não tefaço injustiça; não ajustaste tu
e quanto os teus bens aumentaram nas minhas mãos. comigo um dinheiro? Toma o que é teu, e vai-te;que eu Tinhas pouco antes que eu viesse a ti, e agora te tornaste rico; o Senhor te abençoou com a minha
quero dar também a este último tanto como a ti. Ou
não me é lícito fazer o que quero? Porventura o teu vinda. É pois justo que eu também pense agora na olho é mau, porque eu sou bom? Assim, os últimos minha casa E ele [Jacó] tornou-se extremamente serão os primeiros, e primeiros os últimos; porque rico, e teve muitos rebanhos, servos e servas, camelos são muitos os chamados, e poucos os escolhidos" (Mt. 20, 1 a 16). e jumentos"(Gn. 30, 27 a 30 e 43). 149
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
todos. É o que ele mesmo explicita no
O que eqüivale a dizer, em outros termos, que o proprietário to à faculdade de administrar e gerir, é pode legitimamente fruir do que lícito que o homem possua coisas como próprias: quanto ao uso, n§o deve o lhe pertence, mas deve ajudar aos homem ter as coisas exteriores como outros com desprendimento, "famesmo texto, com maior precisão:"Quan
próprias, mas como comuns, a saber, de maneira a comunicá-las aos outros*".
COMENTÁRIO
cilmente", em caso de necessidade. Como dever de justiça, em caso de necessidade extrema, e dever de
doutrina de São Tomás sobre a
caridade, quando a necessidade não é extrema (cfr. Textos Ponti da propriedade privada, e notada- fícios ao fim da Secção A). mente na Suma Teológica. Como
propriedade pri
todo contexto da doutrina do
Minimalizaçõo e manipulação da
vada
São Tomás trata várias vezes
Doutor Angélico não é compatí vel com a do IPT, este extrai com
pinça o tópico citado, que inter preta arbitrariamente. "Interpreta": melhor seria di zer "manipula". Pois omite o final da frase, pelo qual se conheceria o pensamento matizado de São To más, oposto ao que o IPT quer inculcar. A sentença do Doutor Angélico é a seguinte:
TEXTO DO IPT
72. Com a evolução da Sociedade, o direito positivo teve também de evoluir e explicitar normas jurídicas para regula mentar a crescente complexidade da vida em sociedade e especificamente com rela ção ao problema da propriedade, da posse e do uso da terra.
73. A Igreja, embora respeitando sempre a justa autonomia das ciências
jurídicas e do direito positivo, considera de seu dever pastoral a missão de procla mar as exigênciasfundamentais dajustiça.
"Também compete ao homem, 74. É assim que. para ser fiel a essa no que diz respeito aos bens exte longa tradição brevemente evocada, a
riores, o uso dos mesmos. Equan
Igreja, na sua doutrina social, quando
to a isto, não deve o homem ter os
defende hoje a propriedade individual da terra e dos meios de produção, enfatiza sempre a sua função social. Assim, Pio
bens exteriores como próprios, mas como comuns: isto é, de
XII denuncia o capitalismo agrário que
modo que facilmente deles dê expulsa do campo os humildes agriculto participação aos outros em suas res forçados a abandonar sua terra em
necessidades" (28). (28) À pergunta "se é lícito a alguém possuir uma coisa como própria" SAo Tom As de AquiNO responde:
"Com referência aos bens exteriores, duas coisas competem ao homem. Uma delas é o
poder de gestão e de disposição. E quanto a isto. é licito que o homem possua coisas próprias. E é também necessário para a vida humana, por três razões: — Primeiro, porque cada um é mais solicito em cuidar do que lhe compete com exclusividade do que daquilo que é comum a todos ou a muitos: posto que cada um.fugindo ao trabalho, deixa ao outro o que cabe a todos, como acontece quando há muitos criados. — Segundo,porque as coisas humanas são administradas mais ordenadamente se a cada um incumbe o cuidado de uma coisa
troca de ilusões e frustrações no meio urbano:"O capital se apressa a apoderarse da terra (...) que se torna, assim, não mais objeto de amor. mas defria especu lação. A terra, nutriz generosa das popu lações urbanas, como das populações camponesas,passa a produzir apenaspara esta especulação e enquanto o povo sofre fome, o agricultor oprimido de dividas, caminha lentamente para a ruína, a eco nomia do pais se esgota, para comprar a
preços elevados o abastecimento que se vê obrigada a importar do exterior" C^i particolare compiacimento". Alocução aos membros do Congresso da Confede ração Italiana dos Agricultores. 15 de novembro de 1946. n.° 14).
determinada, ao passo que reinaria a confusão
mem, no que diz respeito aos bens exteriores, o uso dos mesmos. E quanto a isto. não deve o homem ter os bens exteriores como próprios, mas como comuns: isto é. de modo que está contente com o que é seu. Por isso se vê facilmente deles dê participação aos outros em que entre atpdeles que possuem algo em comum suas necessidades. Por isso diz o Apóstolo (I e pro indiviso, as contendas surgem com mais fim. 6. 17-18):'Manda aos ricos deste século freqüência. .... que com facilidade dêem e repartam' " se cada um cuidasse indistintamente de tudo. —
Terceiro, porque o estado de paz entre os homens se conserva melhor quando cada um
Por outro lado. também compete ao ho- (Suma Teológica. II, Ilae., q. 66, art. 2).
150
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
COMENTÁRIO OIPTse derrama
largamente sobre a função social da propriedade e tra ta só de passagem do direito depro priedade
""A Igreja, na sua doutrina social, quando defende hoje a propriedade individual da terra e dos meios de produção, enfatiza sempre a sua função social". — O IPT reconhece, pois, a legitimi dade do direito de propriedade, e se refere à função social que in cumbe a este — como aliás, acrescente-sé, a todos os outros di reitos, inclusive o da vida. Seria curial que, sendo o ór gão mais do que a função, o IPT
Secção H
certos grupelhos de proprietários arqui-opulentos presenciam os progressos da investida comunista. Ademais, da intelligentsia bra sileira, concentrada em graus va riáveis nos centros urbanos mé
dios e grandes, quase só chegam ao povo pronunciamentos explí cita ou implicitamente proclives ao socialismo e ao comunismo.
De onde ir parecendo gradual mente a essa maioria que a pro priedade privada não assenta em nenhum fundamento doutrinário.
A maioria da po pulação desco
nhece o funda mento doutriná rio do direito de
Que ela é uma velheira dos tempos idos, a qual a marcha da História direito de propriedade, do que acabará por eliminar impiedosa-
propriedade
sobre a função social deste. Entre tanto, ele faz precisamente o con trário. Isto é, derrama-se larga mente sobre a função,e trata só de
Contra oproprie tário. "complexo de inferioridade"
insistisse tanto ou mais sobre o
Isso seria explicá velnumasocieda
de em que o di reito de proprie dadefosse incon troverso
mente em nossos dias. De onde,
para essa maioria, um "complexo de inferioridade" (releve-se a ex pressão de mau quilate doutri passagem do direito. nário, consagrada entretanto pelo Tal modo de proceder talvez se uso corrente), o qual a inibe tanto explicasse em um ambiente no no plano do pensamento como no qual o direito de propriedade fosse da ação. incontroverso e, pelo contrário, a A esse "complexo" vai-se so função social dele fosse geral mando outro: o "complexo de mente ignorada, ou negada. culpa" (releve-se, ainda aqui, a É notório que no Brasil a expressão). A consciência moral imensa maioria da população (isto da população brasileira repousa é, dos proprietários como dos que sobre uma base religiosa multisnão o são)está habituada por uma secular. Ora, enquanto a Teologia longa tradição, ao direito de pro da Libertação vai fazendo em priedade. De tal maneira que nem nosso território as devastações tão sequer lhe ocorre a necessidade de sabiamente assinaladas por João encontrar para esse direito uma Paulo II em Puebla, as reações explicação filosófica. E por isto procedentes do campo católico ignora tanto os argumentçs favo são francamente minoritárias. ráveis, como os contrários a ele. Não cabe aqui descrever com Entretanto, essa imensa maio pormenores essa situação, nem ria, aliás habitualmente infensa a explicar-lhe a origem histórica: cogitações e leituras doutrinárias, constituiria isto matéria para ou cada vez mais toma conhecimen tro estudo. De qualquer forma, os to, pelos meios de comunicação fiéis que reagem contra tudo isto social, da expansão contínua do constituem minoria (29). imperialismo comunista, da audá Essas reações minoritárias, se cia, bem como da sagacidade e da de um lado alcançam êxitos e eficácia com que os partidos co desempenham papel necessário,de munistas agem no Ocidente. Ela outro lado são prejudicadas a nota, em contraposição, a atitude fundo pela atitude dos "Bispos imprevidente e fraca, para não (29) Cfr. Plínio Corrêa de Oliveira, A dizer resignada, fatalista, ou até ante a escalada da ameaça comunista — simpatizante, com que, por vezes, Igreja Apelo aos Bispos Silenciosos, Ed. Vera Cruz, tanto diversos governos quanto São Paulo, 4». ed., 1977, pp. 83 a 86. 151
Contra o proprie tário, "complexo de culpa"
A maioria silen ciosa acaba a-
companhando o que as minorias
esquerdistas de sejam
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Silenciosos". Pois entre a minoria
O povo brasileiro vai recebendo a
impressão de que a Igreja alterou
católica esquerdista, abroquelada em postos chaves dos mais pres tigiosos, e a minoria católica fiel à doutrina tradicional explanada pe lo Supremo Magistério, fica uma grande maioria de Prelados, de Sacerdotes e de leigos intimidada, emudecida, por vezes desagradada com a marcha para a esquerda, mas que nas horas decisivas têm subscrito quanto as minorias es querdistas desejam... Em conseqüência, o povo bra sileiro vai tendo a impressão — cada vez mais difícil de evitar, à
Titulo /
sesse na palma das mãos do comu nismo internacional toda a Amé
rica do Sul, a qual constitui, por sua vez, o maior bloco popula cional católico do mundo.
Tudo isso, o IPT ignora. E tão completamente, que não procura
O IPT não defen de a opinião ca
defender contra os sofismas comu
sofismas
nistas a propriedade privada. Ao IPT compraz, pelo contrário, inci tar à comunidade de bens prati
nistas sobre a
tólica contra os
comu
propriedade pri vada; antes pelo contrário
cada primitivamente por grande número de fiéis em Jerusalém (cfr. n.o 67), sem aludir ao que entrou de inexperiência nesse lance, e aos efeitos funestos que produziu, a
ponto de ter esse regime cessado de existir (30). Em suma, ao IPT não parece dou sua Moral. Outrora era ela o vista de documentos como o IPT
sua Moral
— de que a Igreja Católica mu
grande baluarte espiritual da luta
interessar senão o incremento do
Gáudio de Luís Carlos Prestes
descontentamento popular. Quan transformado em uma força cola- to à propriedade privada, o seu boracionista, em uma terceira-for- entusiasmo, o mais dinâmico de ça, que dispõe seus fiéis para uma seu zelo se volta só para a função situação passiva, quando não sim social dela. Mais uma vez, quan contra o comunismo. Ela se teria
pática e até amiga em relação ao tos motivos têm os esquerdistas de comunismo. A maioria inibida
acabará espeta cularmente jugulada pelas mino rias ativas e bem articuladas
ticas típicas das grandes maiorias pouco convictas, desanimadas e desarticuladas, fadadas a serem espetacularmente juguladas pelas minorias convictas, ativas e bem articuladas. Vantagens Moscou
para
todo o País, inclusive o Sr. Luís
Essa impressão inverídica — Carlos Prestes, para bater palmas mas quão verossímil! — vai crian à atuação geral da CNBB! (31). do, em um número paulatina mente crescente de pessoas, um verdadeiro sentimento de culpa "Pio XII denuncia o capita bilidade por não seguirem o que se lismo agrário que expulsa do cam lhes afigura ser a "evolução" da po os humildes agricultores". — O Igreja. Imersa numa rotina mental IPT expõe mal a doutrina do a-filosófica, ignorante dos pró Pontífice, ao lhe atribuir um pen prios direitos, inibida pelos com samento que não é o seu. Com plexos de inferioridade e culpa, efeito, no trecho em referência. essa maioria apresenta assim — Pio XII põe de alerta os agricada vez mais — as caracterís
Nem é necessário dizer quanto
(30) É sabido que grande número de fiéis da primitiva comunidade de Jerusalém, levados pelo fervor que os animava,constitufram-se em algo parecido com uma ordem religiosa, no sentido de que praticavam a comunidade de bens.
Jamais, entretanto, consideraram que tal comunidade fosse obrigatória para todos os
esse curso das coisas convém aos
católicos.
que, de Moscou, preparam o ad vento do comunismo no mundo
O episódio de Ananias e Safíra (Act. 5,1 a 11) prova bem o reconhecimento da proprieda de privada pela Igreja primitiva. Ao casal de
inteiro, e com particular empenho
doadores fraudulentos, São Pedro exprobra em
claros porque, não tendo obrigação de no Brasil, a nação mais extensa e termos doar seus bens à Igreja, simulavam entretanto populosa da América Latina, uma essa doação.
nação cuja conquista quiçá pu 152
(31) Cfr. Parte I, Cap. VI, nota 7.
Manipulação do pensamento de Pio XII
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Secçõo H
cultores contra a sedução da vida
vem-lhes ser assegurados os recursos e os
urbana que induzia muitos a aban
instrumentos indispensáveis, particular mente os meios de educação e as possibi lidades de uma justa organização coope-
donarem suas terras; em conse
qüência disto, o capital se asse-
rativista"(GS n.° 71).
nhorearia das terras abandonadas,
COMENTÁRIO
que trataria de modo frio e sem amor: "Esta terra, assim abando
nada, o capital se apressa em fazêla sua" {Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità Pio XII, Tipografia Poliglotta Vatícana, vol. VIII, p. 307 — destaques do autor). Portanto, segundo o Pontífice, o camponês estaria deixando a terra espontaneamente, e atraído por uma miragem. Ora, abando nar é uma coisa; ser expulso é outra bem diversa...
Lendo-se a citação que o IPT faz da Constituição Pastoral Gau-
dium et Spes, do Concilio Vati cano II, nota-se que, por efeito do contexto em que as põe o IPT, o leitor fica com a impressão de que, segundo a CNBB, as anomalias descritas pelo Concilio existem,
O IPT atribui ao Brasil todas as anomalias descri
tas pela Gaudium et Spes
todas, no Brasil. E em todos os 8,5
milhões de quilômetros quadrados de seu território.
Em outros termos, os males
que o Concilio, com os olhos postos no mundo inteiro e não em TEXTO DO IPT determinado país, declara existi 75. "O conjunto dos bens da terra rem em "muitas regiões economi destina-se, antes de mais nada. a garantir a todos os homens um decente teor de
vida"(João XXIII, Mater et Magistra.n.° 119).
camente menos desenvolvidas", o IPT os atribui todos ao Brasil. E
de tal maneira, que o leitor pode imaginar que o quadro da situa 76. A Constituição Pastoral "Gaução brasileira pintado pelo IPT dium et Spes", do Concilio Vaticano II, explicitou as exigências do direito natural (n.°s 8 a 55) não é senão uma com relação ao problema da terra num amplificação da Gaudium et Spes. texto de impressionante atualidade para a Tanto mais quanto o próprio IPT situação brasileira. "Em muitas regiões afirma, neste mesmo tópico, que economicamente menos desenvolvidas existem extensissimas propriedades ru essa descrição é "de impressio rais,mediocremente cultivadas ou reserva nante atualidade para a situação das para fins de especulação, enquanto a maior parte da população carece de terras ou possui só parcelas irrisórias e, por outro lado, o desenvolvimento das popu lações agrícolas apresenta-se com caráter de urgência evidente. Não raras vezes,
brasileira" considerada como um todo.
As provas dessa "impressio nante atualidade"? Como foi visto
(Secções B a G), o IPT se con tenta, nesse ponto capital, com senhores ou cultivam uma parte de seus afirmações no ar, ou quase só isso. bens a titulo de arrendamento, recebem aqueles que trabalham por conta dos um salário ou retribuição indigna de um homem, não têm habitação decente e sÍo
explorados pelos intermediários. Vivendo
Uma vez que está em foco esta citação da Constituição Gaudium bilidade de agir espontaneamente e com et Spes, é importante notar algu responsabilidade, toda promoção cultural mas diferenças existentes entre ela
na maior insegurança, é tal a sua depen dência pessoal, que lhes tira toda possi
e toda a participação na vida social e política. Portanto, são necessárias refor
e o IPT.
Também a Gaudium et Spes fala de "exploração". Porém num lho, aumentar a segurança no emprego, contexto tão claro que dispensa estimular a iniciativa no trabalho e. por interpretações ou explicações. Pois tanto, distribuir as propriedades insufícientemente cultivadas por aqueles que a alude aos que "são explorados possam tornar rendosas. Neste caso, de pelos intermediários", o que a prámas nos vários casos: aumentar as remu
nerações, melhorar as condições de traba
153
Diferenças entre a
Gaudium
Spes e o IPT
et
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
tica corrente da vida ensina a cada terras de propriedade do Poder qual como seja. público, o direito da população A Gaudium et Spes fala tam tem um caráter muito mais radical bém, por sua vez, de "reformas", e e cogente que o do credor hipo
entre estas inclui a distribuição de
tecário. Talvez não houvesse exa
gero qualificando-o de direito de caso de proprietários relapsos, in propriedade. capazes de cultivar suficientemen te suas glebas. Assim mesmo, só concebe essa distribuição no caso Cumpre por fim realçar que o Doís tópicos imem que a carência de terras torne IPT não transcreveu todo o tópico portantesdaGzuindispensável para o bem comum 71 da Constituição Gaudium et a fragmentação das que sejam mal Spes, mas omitiu significativamen cultivadas. te os dois trechos seguintes: O IPT, pclo contrário, fala, 1.°) "A transferência .... de ggm a indispensável matização na , bens para propriedade pública não distribuiçao de terras privadas, pode ser realizada senão pela au omitindo-se de ponderar que, coanteriormente foi visto (cfr. toridade competente, de acordo com as exigências do bem comum Parte I, Cap. VI, 5), o maior proprietário de terras no Brasil é, e dentro de seus limites, oferede longe, o Poder público (União, CENDO-SE INDENIZAÇÃO JUSTA". Estados, Territórios e Muni 2.°) "Todas as vezes que o cípios). Possui este a imensa vas bem comum exigir uma exprotidão das chamadas terras devo- priação deve ser estipulada a in lutas, ainda incultas, e que repre denização DE acordo com a EQtJlterras. Mas alude unicamente ao
o maior proprie-
t^io de terr^ no Brasil e o Poder público — Silêncio do IPT sobre
sentam cerca de 60% do território nacional. E, realmente, todos os
proprietários ou trabalhadores manuais que desejam explorar es sas terras têm um direito natural a
DADE LEVANDO-SE EM CONTA TODAS
AS circunstâncias"(destaques do autor).
O primeiro dos trechos vem dois parágrafos antes da trans crição do IPT. O segundo, vem imediatamente a seguir à referida transcrição, no mesmo parágrafo (cfr. Compêndio do Vaticano //, Vozes, Petrópolis, 10.® ed., 1976,
isto. O Poder público está na obrigação de os favorecer franca, leal e urgentemente nesse sentido, em toda a medida requerida pelas condições dos excedentes demo gráficos das áreas cultivadas. n.° 71).
Como entãojustificar,em prin É fácil ver que, transcrito o cípio, a distribuição de terras já texto da Gaudium et Spes em sua cultivadas, ou pelo menos das que íntegra, ele introduz importantís o são insuficientemente, quando simas ressalvas que destoam do ainda são superabundantes as ter ras não cultivadas? Como extin
espírito e do sentido do IPT.
guir os direitos de um proprie tário apenas semi-ativo, e poupar os do imenso latifundiário total
TEXTO DO IPT
mente inativo que — no tocante a
77. Paulo VI insiste no principio que
imensas áreas de terras — é o
"a propriedade privada não constitui para
ninguém direito incondicional e absoluto" Poder público? (Populorum Progressio, n.° 23). Acrescente-se que, como bem 78. João Paulo II. dirigindo-se aos diz mais adiante o IPT, citando
João Paulo II, "sobre toda pro priedade privada pesa uma hipo
agricultores de Oaxaca, afirma:"De vossa parte, responsáveis pelos povos, classes
poderosas que mantendes, por vezes, im
teca social" (n.° 79). Mas sobre produtivas as terras que escondem o pSo 154
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
que falta a tantas famílias, a consciência
humana, a consciência dos povos, o cla mor dos desvalldos e, sobretudo, a voz de
Deus, a voz da Igreja, vos repete comigo:
Secção H
dos desbravadores portugueses e brasileiros que nos antecederam.
Àqueles — que assim dormem
Não é justo, não é humano, não é cristão — que direito pode assistir à continuar com certas situações claramente partilha de terras que já têm dono? Injustas"(Aloc. em Oaxaca, AAS, LXI,p. "Aos que dormem, o direito não 210).
ajuda" — "Dormientibus non sucCOMENTÁRIO
A
alocação de
João Paulo II em Oaxaca
Também a alocução de João
Paulo 11 em Oaxaca é apresen tada como particularmente alu siva ao Brasil. Ora, nela o Pontí
currit jus",
Esse direito pode ser exercido, isto sim, pelo migrante que deixou suas comodidades ou seus hábitos, para cultivar a selva.
No seu açodamento reformis fice afirma que tem ouvido "o ta e igualitário, o IPT a nada disso clamor dos desvalídos", os quais não têm meios para satisfazer suas atende... Tudo nele — cada in justas necessidades senão culti formação,cada enunciado de prin cípios, cada comentário — tende a vando "as terras" incultas ou mal cultivadas "que escondem o pão um só fim: dividir para igualar que falta a tantas famílias". É em (cfr. Comentário ao n.° 89).
vista dessa situação que a alocu ção formula a grave advertência: "Não é justo, não é humano,não é cristão continuar com certas situa
TEXTO DO IPT
79. "Os bens e riquezas do mundo,
ções claramente injustas" (n.° 78).
por sua origem e natureza, segundo a
Sem dúvida.
vontade do Criador, são para servir efeti
Contudo, na medida em que vamente à utilidade e ao proveito de todos essa situação existe no Brasil, é e cada um dos homens e dos povos. Por isso a todos e a cada um compete o direito responsável por ela o Poder pú primário e fundamental, absolutamente blico que poderia franquear mui inviolável, de usar solidariamente esses tíssimo mais seu imenso latifúndio
inexplorado, a quantos — gran des, médios ou pequenos — dese jassem fazê-lo produzir para o bem próprio e o bem comum. Ao Poder público caberia, entre ou tras coisas, fazer intensa propa ganda para atrair contingentes po pulacionais rumo a nosso* hinterland, especificando os incentivos e as garantias que para tal lhes
bens, na medida do necessário para uma realização digna da pessoa humana". To dos os outros direitos, também a proprie dade e livre comércio, lhe são subordi nadas [sic], como nos ensina João Paulo
II:"Sobre toda propriedade privada pesa uma hipoteca social".
80. Uma hipoteca é uma garantia do cumprimento de obrigações assumidas. Da expressão do Santo Padre se conclui, pois, que toda propriedade privada está.
de certo modo, penhorada, gravada pelo compromisso de sua destinação social.
daria.
81. "A propriedade compatível com E — diga-se de passagem — aquele direito primordial é, antes de tudo. também tem responsabilidade pe um poder de gestão e administração, que. la situação um número indefinido embora não exclua o domínio, nao o de pessoas que preferem vegetar torna absoluto nem ilimitado. Deve ser fonte de liberdade para todos, nunca de dominação nem de privilégios. É um campos próximos a centros urba dever grave e urgente fazê-lo retornar à nos, em lugar de repetir as proezas suafinalidade primeira"(Puebla, n.'^492). na rotina das cidades ou dos
155
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo!
Textos Pontifícios
O ensinamento do Magistério ordinário
e universal da Igreja sobre a legitimidade do direito de propriedade Á Igreja determina que o direito dicaria o operário se fosse posta em prá tica. Outrossim, é sumamente injusta, por de propriedade permaneça intacto violar os direitos legítimos dos proprie e inviolável para cada um tários, viciar as funções do Estado e tender para a subversão completa do
Encíclica Quod Apostolici Muneris de 28 de dezembro de 1878:
Leõo XIII
"Os sectários do socialismo, apresen
tando o direito de propriedade como uma invenção humana que repugna à igual dade natural dos homens, e reclamando o
comunismo dos bens, declaram que é
edifício social.
De fato, como é fácil compreender, a razão intrínseca do trabalho empreendido por quem exerce uma arte lucrativa, o fim
imediato visado pelo trabalhador, é con quistar um bem que possuirá como pró prio e como pertencendo-lhe; porque, se
põe à disposição de outrem suas forças e impossível suportar com paciência a po breza e que as propriedades e regalias dos sua indústria, não é, evidentemente, por ricos podem ser violadas impunemente. outro motivo senão para conseguir com
rentes nas forças do corpo e do espírito, e
que possa prover à sua sustentação e às necessidades da vida, e espera do seu trabalho, não só o direito ao salário, mas ainda um direito estrito e rigoroso para
que esta desigualdade também existe na
usar dele como entender. Portanto, se,
propriedade dos bens, determina que o
direito de propriedade ou domínio, que
reduzindo as suas despesas, chegou a fazer algumas economias, e se, para assegurar a
vem da própria natureza, fique intacto e
sua conservação, as emprega, por exem
Mas a Igreja, que reconhece muito mais útil e sabiamente que existe a desigual dade entre os homens, naturalmente dife
inviolável para cada um".
plo, num campo, torna-se evidente que
[Documentos Pontifícios, Vozes, Petró-
esse campo não é outra coisa senão o
polis, fase. 17, 4.» ed., 1962, p. 12].
O direito do trabalhador ao
salário dá origem à propriedade privada Encíclica Rerum Novarum de 15 de maio de 1891:
Leão XIII
salário transformado: o terreno assim
adquirido será propriedade do artista com o mesmo título que a remuneração do seu trabalho. Mas quem não vê que é preci samente nisso que consiste o direito de propriedade mobiliária e imobiliária? As
sim, esta conversão da propriedade par ticular em propriedade coletiva, tão pre conizada pelo socialismo, não teria outro efeito senão tornar a situação dos ope
rários mais precária, retirando-lhes a livre "Os socialistas, para curar este mal, disposição do seu salário e roubando-lhes, instigam nos pobres o ódio invejoso por isso mesmo, toda a esperança e toda a contra os que possuem, e pretendem que possibilidade de engrandecerem o seu toda a propriedade de bens particulares patrimônio e melhorarem a sua situação". deve ser suprimida, que os bens dum [Documentos Pontifícios, Vozes, Petróindivíduo qualquer devem ser comuns a polis, fase. 2, 6.® ed., 1961, pp. 5-6]. todos, e que a sua administração deve voltar para os Municípios ou para o Estado. Mediante esta transladação das propriedades e esta igual repartição das Deus desejou que os homens
riquezas e das comodidades que elas
dominassem os bens da terra por
proporcionam entre os cidadãos, lisonjeiam-se de aplicar um remédio eficaz aos
meio do regime de propriedade privada
males presentes.
Mas semelhante teoria, longe de ser
capaz de pôr termo ao conflito, preju 156
Encíclica Rerum Novarum de 15 de maio de 1891:
Secção H
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Leão Xm
"Não se oponha também à legitimi bem do povo, é a inviolabilidade da dade da propriedade particular o fato de propriedade particular". que Deus concedeu a terra a todo o [Documentos Pontifícios, Vozes, Petrógênero humano para a gozar, porque polis, fase. 2, 6.® ed., 1961, pp. 10-11]. Deus não a concedeu aos homens para
que a dominassem confusamente todos juntos. Tal não é o sentido dessa verdade. Ela significa, unicamente, que Deus não
O exercício do direito de
assinou uma parte a nenhum homem em
propriedade é não só permitido,
particular, mas quis deixar a limitação das propriedades à indústria humana e às instituições dos povos. Aliás, posto que dividida em propriedades particulares, a
mas absolutamente necessário
terra não deixa de servir à utilidade
comum de todos, atendendo a que nin
guém há entre os mortais que não se
Encíclica Rerum Novarum de 15 de maio de 1891:
"A propriedade particular, já Nós o
Leão XIII
dissemos mais acima, é de direito natural
para o homem: o exercício deste direito é
alimente do produto dos campos. Quem coisa não só permitida, sobretudo a quem os não tem, supre-os pelo trabalho, de vive em sociedade, mas ainda absoluta maneira que se pode afirmar, com toda a mente necessária (Santo Tomás, II-II, q. verdade, que o trabalho é o meio univer 66, a. 2)". sal de prover às necessidades da vida, quer ele se exerça num terreno próprio, quer [Documentos Pontifícios, Vozes, Petróem alguma arte lucrativa cuja remune polis, fase. 2, 6.® ed., 1961, p. 16].
ração, apenas, sai dos produtos múltiplos da terra, com os quais se ela comuta".
[Documentos Pontifícios, Vozes, Petró- A atenuação do regime de propriedade privada leva polis, fase. 2, 6.® ed., 1961, p. 7]. rapidamente ao coletivismo Encíclica Quadragesimo Anno de 15
Igualdade na miséria: conseqüência da abolição da propriedade privada
Leão xm
de maio de 1931:
"Deve, portanto, evitar-se cuidadosamente um duplo erro,em que se pode cair. Pois, como negar ou cercear o direito de propriedade social e pública precipita no
Encíclica Rerum Novarum de 15 de maio de 1891:
chamado 'individualismo* ou dele muito
"Substituindo a providência paterna pela providência do Estado, os socialistas vão contra a justiça natural e quebram os laços da família. Mas, além da injustiça do seu sistema,
aproxima, assim, também, rejeitar ou atenuar o direito de propriedade privada ou individual leva rapidamente ao 'cole tivismo* ou pelo menos à necessidade de admitir-lhe os princípios". [Documentos Pontifícios, Vozes, Petró-
vêem-se bem todas as suas funestas conse
qüências, a perturbação em todas as
Pio XI
polis, fase. 3, 5.® ed., 1959, p. 19].
classes da sociedade, uma odiosa e insu
portável servidão para todos os cidadãos, porta aberta a todas as invejas, a todos os
O direito de propriedade é
descontentamentos, a todas as discórdias;
distinto de seu uso
o talento e a habilidade privados dos seus estímulos, e, como conseqüência neces
sária, as riquezas estancadas-na sua fonte; enfim, em lugar dessa igualdade tão so
Encíclica Quadragesimo Anno de 15 de maio de 1931:
"A fim de pôr termo às controvérsias que acerca do domínio e deveres a ele inerentes começam a agitar-se, note-se em Por tudo o que Nós acabamos de primeiro lugar o fundamento assente por dizer, se compreende que a teoria socia Leão XIII, de que o direito de proprie lista da propriedade coletiva deve abso dade é distinto do seu uso (Encíclica lutamente repudiar-se como prejudicial Rerum novarum, § 35). Com efeito, a àqueles mesmos a que se quer socorrer, chamada justiça comutativa obriga a con
nhada, a igualdade na nudez, na indigência e na miséria.
contrária aos direitos naturais dos indi
servar inviolável a divisão dos bens e a
víduos, como desnaturando as funções do
não invadir o direito alheio, excedendo os
Estado e perturbando a tranqüilidade
limites do próprio domínio; mas que os proprietários nSo usem do que é seu, senão honestamente, é da alçada não da justiça, mas de outras virtudes, cujo cum-
pública. Fique, pois, bem assente que o primeiro fundamento a estabelecer para todos aqueles que querem sinceramente o
157
Pio XI
Por
meio
caravanas
de de
propagandistas,
as quais vêm percorrendo o Brasil
desde
1969, a TF? es tá
continua
mente em con
tato direto com
a população, promovendo o esclarecimento doutrinário de
caráter antico munista. Nesta
C
flagrantes dessa atuação, no In
r
ff
terior do Para
ná (em cima) e da Bahia.
à
Das serras do território de Roraima
aos pampas do Rio Grande do Sul, das selvas do Acre às praias de Pernambuco as caravanas da TFP percorrem o Brasil em defesa da civilização cristã.
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Secção H
prímento *não pode urgir-se por vias
A verdadeira liberdade
jurídicas'(cfr. Encíclica Rerum novarum,
encontra no direito de propriedade
§ 36)". [Documentos Pontifícios, Vozes, Petró- garantia e incentivo polis, fase. 3, 5.® ed., 1959, p. 19]. Encíclica Mater et Magistra de 15 de maio de 1961:
O direito de propriedade não se perde pelo abuso
Pio XI
"Tais condições da vida econômica
sem dúvida são uma das causas por que se espalha a dúvida sobre se, nas atuais
Encíclica Quadragesimo Anno de 15 circunstâncias, perdeu sua força ou se tomou de menor valor o princípio da de maio de 1931: "Sem razão afirmam alguns que o ordem econômico-social firmemente ensi nado e defendido por Nossos Predecesdominicfe o seu uso são uma e a mesma sores: o princípio que declara ser um coisa; e muito mais ainda é alheio à verdade dizer que se extingue ou se perde direito natural dos homens o de possuir o direito de propriedade com o não uso ou individualmente até mesmo bens de pro abuso dele".
dução.
Esta dúvida é totalmente infundada.
[Documentos Pontifícios, Vozes, Petró- Com efeito, o direito da propriedade polis, fase. 3, 5.» ed., 1959, p. 19]. privada, mesmo em relação a bens empre gados na produção, vale para todos os tempos. Pois depende da própria natu A propriedade privada é reza das coisas, que nos diz ser o indi víduo anterior à sociedade civil e, por este essencial ao bem comum
motivo, ter a sociedade civil por finali
Encíclica Quadragesimo Anno de 15 de maio de 1931: Pio XI
"A própria natureza exige a repar
dade o homem. De resto, a nenhum
indivíduo se reconheceria o direito de agir livremente em matéria econômica se não
tição dos bens em domínios particulares, lhe fosse igualmente concedida a facul precisamente a fim de poderem as coisas dade de escolher e de empregar os meios criadas servir 'ao bem comum de modo
necessários ao exercício deste direito.
ordenado e constante. Este princípio deve não quer desviar-se da reta senda da
Além disto, a experiência e a História atestam que, onde os regimes políticos não reconhecem aos particulares a posse
verdade".
mesmo de bens de produção, aí é violado
ter continuamente diante dos olhos quem
[Documentos Pontifícios, Vozes, Petró- ou completamente destruído o uso da liberdade humana em questões fundamen polis, fase. 3, 5.® ed., 1959, p. 24]. tais. De onde se patenteia, certamente, que a liberdade encontra no direito de
A propriedade pessoal assegura a liberdade do homem Pio XII
Radiomensagem de Natal de 1956: "A segurança! A aspiração mais viva dos homens de hoje! Eles a pedem à sociedade e às suas leis. Mas os pretensos
realistas deste século demonstraram que não estavam em condições de propor cioná-la, precisamente porque querem substituir-se ao Criador e fazer-se árbi
tros da ordem da criação.
propriedade proteção e incentivo.
Aí se deve procurar o motivo por que certos partidos e movimentos políticos e sociais que procuram harmonizar a liber
dade e a justiça na sociedade humana, e que até bem pouco não aceitavam o
direito da propriedade particular sobre bens produtores de riquezas, esses mes mos, hoje, mais esclarecidos pelo curso
das questões sociais, reformam sua opi nião e aprovam este mesmo direito. Apraz-Nos, portanto, citar as palavras de Nosso Predecessor Pio XH, de feliz
A Religião, e a realidade do passado, memória:'A Igreja, protegendo o direito ensinam, pelo contrário, que as estru da propriedade particular, tem em vista turas sociais, como o casamento e a
família, a comunidade e as corporações profissionais, a união social na proprie dade pessoal, são células essenciais que asseguram a liberdade do homem, e .... com isto, seu papel na história. Elas são, pois, intangíveis e sua substância não pode ser submetida a revisão arbitrária". [Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità
Pio XII, vol. XVIII, p. 734].
um excelente fim ético-social. De nenhum
modo pretende Ela defender a atual or dem de coisas como se nela reconhecesse a
expressão da vontade divina, nem assume
o patrocínio dos opulentos e plutocratas, desprezando os direitos dos pobres e indigentes... A verdadeira intenção da Igreja consiste em fazer com que o insti tuto da propriedade particular seja tal como o desígnio da Divina Sabedoria e a 159
João XXIII
Titulo I
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
lei natural o estabeleceram' (Radiomen-
do trabalho sua força e seu vigor; que
sagem de 1.° de setembro de 1944; cfr. contribui de modo tão eficaz para a A.A.S. XXXVI, 1944, p. 253). Isto é, proteção da dignidade da pessoa humana, cumpre que a propriedade particular seja e para o livre desempenho dos deveres uma garantia da liberdade da pessoa de cada um em todos os campos de ati humana e ao mesmo tempo intervenha vidade; que, finalmente, fortalece a união e tranqüilidade do lar e traz um aumento como elemento indispensável no estabele de paz e prosperidade ao Estado. cimento de uma reta ordem social. Contudo, não basta afirmar o caráter Enquanto, como já dissemos, em mui tos países as recentes condições econô natural do direito da propriedade parti micas têm-se desenvolvido rapidamente, cular, inclusive de bens produtivos, se ao tomando a produção mais efíciente, a jus mesmo tempo não se emprega todo o tiça e a eqüidade exigem que igualmente esforço para que o uso desse direito seja seja aumentado o salário do trabalho,sem difundido entre todas as classes de ci prejuízo para o bem comum. Isto permi dadãos". tirá ao trabalhador fazer economias com
["Catolicismo", n.° 129,setembro de 1961,
mais facilidade e assim conseguir um
p. 4].
pequeno pecúlio. É, pois, de admirar que seja contestado por alguns o caráter natural do direito de propriedade, deste direito que haure sempre na fecundidade
160
■ Destaques em negrito e subtítulos do autor
Secção I
Perigosas distinções sobre os tipos de propriedade em que mal se disfarça a influência marxista
TEXTO DO IPT
2. Terra de exploração e terra de trabalho
mente. E só. Nem vai mais longe o pobre discernimento deles. O IPT manipula esse modis mo da linguagem popular, trans formando-o em argumento para
82. Essa mensagem de Deus está suas teses: se os ocupantes das viva na mente de grande número de nossos trabalhadores rurais. Os posseiros a expressam quando lutam pela **posse e
uso" de sua terra, mais do que pela "pro
terras se mostram satisfeitos com
o qualificativo de posseiros, é porque sabem que a posse (a qual
priedade". Esta, a propriedade,em muitos inclui, de fato, a gestão e a ad casos, é representada pelos grileiros, pelos ministração) é para eles o ele mento mais útil da propriedade. grandesfazendeiros, pelas empresas agro pecuárias e agroindustriais. Estas "nego ciam com a terra": um bem dado por Deus a todos os homens.
COMENTÁRIO A manipulação da palavra "pos seiros"
De forma que se reputam explicavelmente mais senhores da terra
do que se fossem dela proprie tários sem posse (32).
O presente tópico parte de um fato real. Muitas vezes os ocu
(32) O direito de propriedade é antes de
pantes de terras abandonadas rei
tudo um direito de domínio, isto é, segundo o Código Civil Brasileiro (art. 524), o "direito de usar. gozar e dispor" (jus utendi, fruendi et abutendi). Sempre que, bem entendido, o
vindicam a posse destas e não a propriedade. Trata-se, o mais das vezes, de gente simples, de ins trução elementar, se tanto... Fa
lam de "posse" porque têm a vaga noção de que não são proprietá rios. Ademais, em interlocução com pessoas gradas da respec tiva zona — prefeitos, delegados de polícia, advogados, oficiais de justiça ou particulares — vêem-se
qualificados de "posseiros". Repe tem pois a qualifícação maquinal-
exercício de tal direito não lese o bem comum.
O poder de gestão e de administração não é senão um dos elementos do direito de proprie dade.
O Pe. Ferdinand Cavaulera, professor do Instituto Católico de Toulouse, assim explana o direito de propriedade: "A propriedade se define: o direito de dispor sem entraves de um bem material, nos limites da lei. De onde:
a) ela não pode pertencer senão a uma pessoa, única capaz de ser sujeito de um direito;
b)ela comporta, como se dizia,jus utendi et
161
O posseiro seria mais dono da ter
ra do que o pro prietário
Sou católico; posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
COMENTÁRIO Argumentar com base em pe quenos malabarismos verbais co As considerações feitas a pro mo este é o que se qualifica em pósito do tópico 82 tornam intei francês "faire Jlèche de tout bois" ramente explicável a distinção que (fazer flecha com toda e qualquer o IPT faz entre **teiTa de tra
madeira, por menos que esta se balho** e ^ierra de exploração**(ou preste a tal). **terra de negócio**), com o pecu Essa hipotética inversão dos liar alcance que atribui a essa elementos constitutivos do direito distinção. Ou seja, entre o proprie de propriedade, o IPT a qualifica tário que trabalha a terra, de um com grandiloqüência mística ou lado, e, de outro lado, o que não a
Alcance peculiar da distinção en tre "terra de tra balho" e "terra
de
exploração"
poética, de "mensagem de Deus trabalha: .... viva na mente de grande núme a) porque a deixa inculta para ro de nossos trabalhadores rurais**. valorizar; O IPT parece deduzir dessa b) porque a loca, ou "mensagem viva** uma conseqüên cia considerável: a posse da terra é c) porque, de qualquer outro sempre de quem a trabalha, ainda modo, aufere lucros ou vantagens que o faça por conta do proprie dela — embora à distância — por tário. O que de nenhum modo se meio de prepostos. coaduna com o conceito jurídico Quaisquer dos que locam a de posse. Mas certamente com a terra a terceiros não teriam a
concepção marxista de trabalho. E essa posse do trabalhador, ou gestor, constituiria o elemento mais substancioso e respeitável —
senão a mesma substância — do
verdadeira propriedade sobre ela. No fundo, como se verá, e em que
pese a ressalva do período final do presente tópico,o proprietário que não. trabalha a terra seria um
direito de propriedade. Do que se explorador: qualificação muito deduziria que, no trabalho do próxima, ou até idêntica, à de assalariado, este é o dono legí sanguessuga. timo da terra, e não o proprie Com vistas à planejada Re tário. forma Agrária, esta distinção de capital importância (e de sabor marxista, pois pressupõe que a TEXTO DO IPT terra é só de quem a trabalha) 83. Esta consciência do povo nos deveria ser perfeitamente definida aierta para a distinção entre os dois tipos pelo IPT. Tal definição pressu de apropriação da terra que, merecem poria, por sua vez, a de dois nossa atenção: terra de exploração, que outros conceitos, isto é, o de nosso lavrador chama terra de negócio,e terra de trabalho. Essa distinção, entre **trabalho** e o de "exploração**. tanto, não desconhece a existência da terra a) "Trabalho**, para o IPT, como terra de produção, da propriedade designa tão-somente o trabalho do rural que respeita o direito dos trabalha dores, segundo as exigências da doutrina lavrador-proprietário, no qual a faixa de importância do labor social da Igreja. abutendi, quer dizer, o direito de usar e de (nSo o de abusar, como se traduzia erradamente);
c) este direito é pleno, exclusivo de toda ingerência humana: a pessoa não depende senão de Deus no uso deste direito, ao menos
no que concerne à justiça comutativa; d) nos limites da lei. A definição sendo geral, visa aqui tanto a lei natural, como a lei positiva divina ou humana: 162
quer dizer, há restrições impostas pela própria natureza das coisas, as exigências do bem social ou de interesses maiores .... Ninguém pode tq>ropriar-se dos bens necessários, como o ar. a
água. os caminhos: há a expropriação por razão de utilidade ptiblica. mediante compen sação justa: há o caso de extrema necessidade,
no qual se deve preservar a vida do próximo, renunciando a seu próprio bem..."{Précis de Ia Docírine Sociale Catholique. Action Populaire
—Editions Spes, Paris, 1937, pp. 161-162).
Para o IPT. "tra balho" é só o ma nual?
Posso e devo ser contro a Reformo Agrária — Considerações doutrinárias
Secção /
manual normalmente absorve ou b) Mas — poderia alegar al excede de muito a do labor men guém — as expressões "terra de tal? Ou inclui também o trabalho trabalho" e "terra de negócio" têm
do proprietário que reside em sua terra e a cultiva por meio de assalariados, fazendo-se ajudar, na direção dela, por dirigentes de segunda plana, como administra
Por que substi tuir por um rótuio novo uma ex
pressão corrente?
significados bem definidos no vo cabulário corrente: "de trabalho"
é a terra cultivada,trabalhada;"de negócio" é a terra não trabalhada, que o proprietário ocioso, ou ocu dor e fiscais, e eventualmente tam pado com outros afazeres, deixa bém por auxiliares técnicos, como inaproveitada, para lucrar tão-só contador, engenheiro agrônomo, com a valorização que essa possa veterinário etc.? Mais precisamen ter. — O que há nisto de censurá te, segundo o IPT, só é trabalho o vel? Por que substituir por um manual? A tese é pejada de cono rótulo novo ('*terra de explora tações marxistas... Ou o IPT re ção") uma expressão corrente conhece a parte de inegável im Cterra de negócio")?
portância que, no processo global da produção agrícola ou pecuária, cabe ao proprietário e aos técni cos, dirigentes e fiscais do trabalho manual? Em caso afirmativo, isto é, desde que o IPT reconheça toda a importância do trabalho não manual, não se vê o que, na específica perspectiva dele, carac
É fácil notar que, ao contrário da linguagem corrente, o IPT é
infenso à "terra de negócio". Pas sando por cima da linguagem popular e baseado na "mensagem
O IPT vê com maus olhos a
"terra de negó cio"
de Deus .... viva na memória de
grande número de trabalhadores
rurais" (n.® 82), ele inventa para a
*ierra de negócio" um rótulo de preciativo, chamando-a "terra de Suponha-se um proprietário exploração".
teriza a *4erra de exploração*'. (pessoa física ou jurídica) que cultive intensamente sua terra, mas o faz por meio de técnicos, admi nistradores, gerentes etc. Ele pró prio, embora acompanhando-lhes assiduamente o processo de pro dução, controlando-os, dirigindo-
De fato, esse rótulo assume
facilmente uma conotação pejora
tiva, pois em nosso idioma a "exploração"
palavra "exploração" tem sentidos diversos. Por exemplo, explorar uma terra pode significar fazê-la
produzir, o que é uma operação
os etc., nela não reside (o que honesta. Pelo contrário, explorar aliás, em qualquer caso, é deplo uma pessoa é induzi-la por engano rável do ponto de vista humano). ou forçá-la por qualquer meio de Pela mera ausência do dono, a pressão, a aceitar um negócio que terra passa da categoria (com a a ela é prejudicial. Quanto à **terra qual o IPT simpatiza)de "terra de de exploração", p sentido da pala trabalho" para a de "terra de vra fica dependendo portanto de negócio", ou **terra de explora saber quem é o explorado, se a ção" (com a qual o IPT anti- terra, se o trabalhador. A se referir patiza)? E no caso de pertencer a ao trabalhador manual a palavra terra a uma pessoa jurídica, como "exploração", a conseqüência se se efetivaria tal residência na sede?
ria que, segundo o IPT, todo tipo
Se o proprietário faz produzir intensamente sua fazenda, e con corre para tal com o seu próprio trabalho (diretivo, e não manual), por que motivo essa terra não pode ser qualificada "terra de trabalho"? Mais uma vez: o que é
de propriedade que não fosse de
^trabalho"?
Conotação pejo rativa da palavra
dimensões familiares seria deso
nesto. Afirmação que, aliás, se harmonizaria facilmente com a
linha geral de pensamento do IPT, eivada de influência marxista.
Aliás, a definição de "terra de
exploração", feita no tópico se163
Sou caióliro: posso ser contra a Reforma Agrária?
guinte, não deixa nenhuma dúvida a esse respeito.
Atenuante
des
provida de afini dade com o con
texto gerai do IPT
"Terras de pro dução", um rótu lo que não confe re com o conteú
do; mais umfator de confusão
é "dos trabalhadores, segundo as
exigências da doutrina social da
Igreja". Quanto ao direito dos proprietários, também assegurado À primeira vista, a unilatera- pela "doutrina social da Igreja", lidade do IPT, várias vezes aqui apontada, encontraria no período final do presente tópico uma ate nuante. Mas o conceito que aí se introduz é tão desprovido de afini dade com o contexto geral do
dele se desinteressa o IPT.
IPT, que se seria propenso a considerar incrustado neste para despistamento doutrinário. Ou seja, para atuar ex machina, como defesa contra objeções eventuais que — com sobras
"doutrina social da Igreja" pare cem aludir ao conjunto de todos
Sobre este ponto, cabe ainda uma observação.
À primeira vista, as palavras os documentos eclesiásticos sobre
a matéria, a partir, por exemplo, da célebre Encíclica Rerum No-
varum de Leão XIII, de I89I.
Na realidade, porém, em vá rios tópicos o IPT destoa dessa novo conceito em nada favorece o doutrina. De onde se conclui que, IPT. Pelo contrário, a confusão ou ele a ignora, ou então dá por dessa pluralidade de "terras" — "superados", revogados e como "terra de exploração", "terra de que não escritos, vários ensina trabalho" — ainda é agravada mentos tradicionais da Igreja nes com a menção à "terra de pro ta matéria. Caso o IPT ignore a doutrina dução". Segundo o sentido normal das social da Igreja, sua definição de palavras, a designação se aplica 'ierra de produção" se esvazia. Caso ele dê por sem efeito genericamente a toda terra capaz de produzir. Ou, mais especifica alguns ensinamentos tradicionais mente, a toda terra que efetiva da Igreja sobre a matéria social (o de razão — o IPT parece recear. Na realidade, a introdução do
mente produz. É, pois, inteira
Na confusão, parcialidade
Titulo I
mente arbitrário que o IPT reserve essa rotulação só para aquela, dentre as terras de produção, que "respeita o direito dos trabalha dores, segundo as exigências da doutrina social da Igreja"*. Se pelo menos o IPT reservas se esse qualificativo para as terras que respeitam os direitos de am bas as partes habitualmente empe nhadas no esforço da produção rural, isto é, o proprietário e os trabalhadores! Dir-se-ia então —
que seria de todo em todo arbitrá rio e inaceitável por um católico) importa perguntar qual é — se gundo o IPT — a presente doutri na social da Igreja. Os responsáveis pelo IPT não poderiam deixar de responder que essa doutrina é... a que o mesmo IPT ensina.
Neste caso, a definição de
"terra de produção"seria a seguin te: "propriedade rural que respeita o direito dos trabalhadores segun
do as exigências do presente docu
ainda que com alguma improprie- mento". dade — que "terra de produção" é Em qualquer das perspectivas aquela que é cultivada segundo a postas por estas inarredáveis alter doutrina social da Igreja. O rótulo nativas, o conceito de *terra de seria arbitrário, mas o conteúdo produção" acaba sendo de ne dele faria sentido, máxime em um
nhum peso, quer no seu texto,
documento da CNBB. Não, po quer no contexto em que se insere. rém. Basta que sejam respeitados E deixa intactos os conceitos de os direitos de uma das partes, isto "terra de trabalho" e de *ierra de 164
Alternativas inar redáveis
Posso € devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
exploração'*, fortemente impreg
Secção /
proventos, sob a alegação antina-
nados de sabor marxista (33). tural e injusta de que ele é também um fator de produção. Quando o único fator de produção clara e TEXTO DO IPT insofismavelmente reconhecido pe 84. Terra de exploração é a terra de lo IPT é o trabalho. Assim, os que o capital se apropria para crescer proventos deveriam ser só do tra continuamente,para gerar sempre novos e balho. O que quer dizer, em últi crescentes lucros. O lucro pode vir tanto da exploração do trabalho daqueles que ma análise, que o capital é ile perderam a terra e seus instrumentos de gítimo. Para o IPT há "lucro" quando trabalho, ou que nunca tiveram acesso a eles, quanto da especulação, que permite o enriquecimento de alguns à custa de toda a sociedade.
COMENTÁRIO
O capital enca rado como intrinsecamente ilícito ou danoso
Todas as considerações feitas a propósito do tópico anterior se agravam com o fato de que o conceito pejorativo de "explora ção" está inteiramente enunciado no presente tópico. O proprietário que não traba lha manualmente a terra e nela
centes lucros".
Não se vê o que isso tenha de intrinsecamente ilícito ou danoso.
Todo proprietário tende (e deve tender) a tirar de sua terra pro dutos "crescentes" em quantidade e qualidade. E o faz para auferir proventos "crescentes"... com van tagem concomitante para o bem
Confusão tenden
instrumentos de trabalho". Ou,
ainda, quando há "exploração" dos "que nunca tiveram acesso" à terra ou aos ditos instrumentos.
Ou, por fim, quando há "especu
lação, que permite o enriqueci mento de alguns à custa de toda a sociedade".
Exploração do trabalhador, especulação anti-social, eis o que
não reside, aparece apresentado aí caracteriza a "terra de explora abstrativamente como "o capital" ção". Ora, este sentido de "lucro" que visa dois fins encarados como é arbitrariamente adotado pelo IPT, e não corresponde ao da danosos: linguagem corrente... mas ao da a) "crescer continuamente"; b)"gerar sempre novos e cres
ciosa acerca do conceito de lucro
há "exploração do trabalho da queles que perderam a terra e seus
doutrina marxista.
Tudo isto, que parece asseme lhar de modo alarmante a doutri
Semelhança alar mante com a dou trina comunista
na do IPT com a doutrina comu
nista, torna ainda mais premente a necessidade de uma definição cla ra da CNBB sobre as várias per guntas há pouco feitas relativa mente aos conceitos de "trabalho"
e de "trabalhador" (cfr. Comentá rio ao n.° 83). Na falta do que, o comum. IPT não deixa grande dúvida a O IPT parece atribuir, por sua respeito de seu pendor de favore
vez, à palavra "lucro", não o sentido equivalente a provento cer a propriedade de dimensões familiares, com prejuízo das pro líquido da produção, mas outro. "Lucro" seria, segundo ele, a por priedades grandes e médias. Ob centagem espúria que tocaria ao viamente porque nega a proprie
capital por uma participação nos dade em si mesma,e só reconhece como fonte de enriquecimento le (33) Não estranha, pois, o elogio que o gitimo o trabalho.
órgão comunista "Voz da Unidade"(n.° 1, 30 de março a S de abril de 1980) faz do IPT, notadamente à distinção entre os conceitos de
terra de exploração e terra de trabalho, os quais
qualifica como sendo "titeis efáceis de serem assimilados pelos camponeses num trabalho de conscientização". Et pour cause...
Não é possível passar adiante sem formular, entretanto, ainda
uma pergunta a respeito do tópico 84. A "especulação" que acarrete o 165
Confusão
tam
bém sobre "espe culação"
Propriedades de tamanho pe queno (familiar),
médio,grande e supergrande compõem a es trutura agrária brasileira.
O
documento
da
CNBB não leva em conta essas
distinções, e induz a atribuir à
propriedade
grandes defei tos (muitas ve zes reais) que existem caracteristicamente na
propriedade su pergrande.
V »
o bem comum e a propriedade privada não se contrapõem como pólos opostos, e em conflito de força. Pelo contrário, a ordem natural pede que coexistam em harmonia.
O que constitui bem o oposto do que pressupõe o documento episcopal
Igreja e problemas da terra.
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Secção l
"enriquecimento de alguns à custa que lesam quer o comprador — de toda a sociedade"'é obviamente freqüentemente rústico — da gle nociva, do ponto de vista social, ba rural, quer os compradores dos como também toda a concentra lotes menores, próximos aos cen ção fundiária tal, que a terra esteja tros urbanos. em mão de um número exíguo de Mas estas eventualidades não proprietários grandes e médios. justificam o enfoque evidentemen Porém, ainda aqui o IPT emprega te unilateral e carregado de anti uma palavra corrente como "espe patia, com que o IPT se refere à culação" em um sentido arbitra "especulação". Com efeito, segun riamente restritivo. do já foi dito, esta última palavra Especular em imóveis pode comporta, além de seu óbvio sen ser, por exemplo, comprar para tido pejorativo, outro não pejora vender com lucro. Ou comprar tivo, que o IPT omite arbitraria sem o intuito imediato de plantar, mente. E com tal omissão, foca mas para constituir, com suas lizando toda especulação como economias, um fundo de reserva má, o IPT coloca em posição destinado a garantir o futuro do desfavorável todo especulador ho proprietário e de seus herdeiros. nesto. O que redunda, por sua vez, Ou,ainda, para revender o imóvel em mais um fator de cerceamento quando estiver valorizado. Estás da legítima liberdade do proprie operações são lícitas, segundo a tário rural. doutrina católica? O IPT contraria, pois, o sentir Por vezes, investimentos imo de todos os moralistas católicos biliários que não importam ime tradicionais, ao afirmar sumaria diatamente em plantio nem em mente que o proprietário benefi pastoreio podem até favorecer o ciado pela valorização de suas bem comum. O "especulador" que terras se- locupleta com um lucro compra uma terra inculta e a lesivo a todo o corpo social. É revende loteada a terceiros, pode notório que, em todos os tempos, atrair com isto riquezas e trabalho e sem oposição da Igreja, os pro para o lugar. Neste sentido, ele prietários se reputaram,em inteira participa, como fator indireto mas tranqüilidade de consciência, do autêntico, do aproveitamento efe nos da accessio de valor de seus tivo da terra. O investidor que imóveis. aplica em terras suas economias, Assim como, segundo o direi não com o intuito de cultivar, mas to, "res perit domino" {a coisa como fundo de reserva p^ra si e perece por conta do dono), do sua família, tem,segundo todos os mesmo modo "res fructificat do moralistas, um verdadeiro direito mino" (os frutos de uma coisa à valorização que o povoamento pertencem ao seu dono), o que se
progressivo acarrete para sua pro entende do acréscimo decorrente priedade, como arcará também do curso natural das coisas, sem a com os eventuais prejuízos de uma colaboração do trabalho humano. estagnação ou retrocesso econô mico.
Como todas as atividades ou
aplicações essencialmente legíti mas, também estas podem ser aci dentalmente ilegítimas. Por exem
plo, quando a manutenção da terra inculta lesa ponderavelmente o bem comum. Ou quando o loteamento é feito segundo preços
Em suma, o IPT tende a subes
timar, cercear, desdourar, tolher, negar tudo quanto na vida do campo resulta do direito de pro priedade. E a só admitir como legítimo — enquanto só apresenta como digno de proteção da Igreja e do Estado — o fator trabalho. E, 167
Un ilaieralidade:
tudo em prol do trabalho e nada
em proldo capital
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo l
ao que parece, trabalho manual. IPT o seu conceito de comunitaImpostação evidentemente mar rismol Questão capital, que o IPT
xista, que por sua vez conduz à
deixa flutuando no ar.
luta de classes.
De qualquer forma, é notória a propensão do documento a que o território brasileiro seja, por assim dizer, "tribalizado", e o salariado, extinto. Com que fundamento nos
TEXTO DO IPT
85. Terra de trabalho é a terra pos suída por quem nela trabalha. Não é terra
documentos tradicionais do Su
para explorar os outros nem para especu premo Magistério pleiteia ele tão lar. Em nosso pais, a concepção de terra imensa transformação? Ele não o de trabalho aparecefortemente no direito popular de propriedade familiar, tribal, diz! Cooperativas e famílias, tri comunitária, e no da posse. Essas formas bos e grupos comunitários de ín de propriedade, alternativas à exploração dios, de mestiços ou de brancos, capitalista, abrem claramente um amplo eis as modalidades de organização caminho, que viabiliza o trabalho comu nitário, até em áreas extensas, e a utiliza ção de uma tecnologia adequada, tornan do dispensável a exploração do trabalho alheio.
Propriedade tri bal, propriedade comunitária: me tas ideais do !PT
rural que o IPT aplaude. O IPT afirma que essa trans formação "viabiliza o trabalho co munitário, até em áreas extensas,
e a utilização de uma tecnologia COMENTÁRIO adequada". Em que experiência se O IPT é coerente consigo funda ele para isso? Onde, no quando, ao prorromper em louvo Brasil ou fora do Brasil, há provas res à "terra de trabalho", mencio
dessa "viabilidade", não neste ou
na, com uma complacência visível, naquele caso, mas para todo o as várias modalidades de proprie território de uma nação? Talvez dade não capitalista: a "proprieda nos kolkhozesl Sempre omisso em de familiar", a "tribal", a "comu
nitária", e a mera "posse" do não proprietário. E, a essa altura, os
provar, o IPT silencia a esse res peito.
É porém digno de nota que,
louvores se transformam em pro mesmo neste contexto laudatório, grama: essas ^formas de proprie as esperanças de resultados práti dade, alternativas à exploração cos, enunciadas pelo IPT,são mo capitalista, abrem claramente um destas. Ele se limita a afirmar a amplo caminho, que viabiliza o mera "viabilidade" do sistema, e trabalho comunitário .... tornan sua simples capacidade de utilizar do dispensável a exploração do "até [!] em áreas extensas" (a trabalho alheio"(destaques do au exclamação é do autor), "uma tor). Da propriedade individual à tecnologia adequada". Tudo so propriedade comunitária, eis a mado, a única afirmação do IPT trajetória que o IPT deseja para a sobre os frutos concretos do regi agricultura brasileira. me que ele tanto quer implantar,
Qual é, entretanto, no pensa
Fundamentação nos
documentos
pontifícios? — Ne nhuma. Na expe riência de outros
países? — Tam bém nenhuma
mento do IPT, o verdadeiro senti
consiste em que tal regime... pode funcionar! Menos não se pode
do do adjetivo "comunitário"? A esse respeito, o IPT se mostra
prometer (34).
pouco claro. Pois ele procura ex plicar o sentido de "propriedade
(34) A incompatibilidade natural entre pro dução abundante e distribuição igualitária foi
comunitária" pelo conceito de
formulação espirituosa, mas igualmente lúcida
"trabalho comunitário". Porém
e precisa, por Victor Hugo, o controvertido romancista francês do século passado; "O comunismo e a lei agrária pretendem ter encontrado solução para o segundo problema
não explica o que seja este último.
Na vasta gama de significados que medeia entre comum e comunis
mo, onde precisamente situa o 168
posta ao alcance de todo observador em uma
[a distribuição da riqueza]. Eles, porém, se enganam. A distribuição que propõem mata a produção. A distribuição igualitária extingue a
A única promessa: isto funcionará. — Pode-se pro meter menos?
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Entre o regime atual, e o que o IPT deseja, uma comparação a que a
CNBB se es
quiva
Ora, no caso concreto, o IPT
Secção /
Está aí outro ponto essencial,
não pede apenas a instauração de em que o IPT se manifesta estra um regime novo, mas a supressão nhamente omisso. Ele se põe sim de um regime antigo. Uma tal plesmente em atitude de subestima reforma só poderia ser pleiteada ou de rejeição a todas as formas de em virtude da comparação entre propriedade que não se identifi um regime e outro. Entre o atual, quem com essas de sua preferência
portanto, cuja produção está tão
metafísica!
acima do mero funcionar, e o
outro, do qual só se espera que funcione.
Inadvertidamente, o próprio IPT faz a comparação! O que visa o IPT? Aplicação férrea da metafísica igualitária
TEXTO DO IPT
87. É oportuna a advertência de João
põe-se a pergunta: é realmente o
XXHI: "Não é possível estabelecer, a priori. qual a estrutura que mais convém à empresa agrícola, dada a variedade dos
bem de toda a coletividade, ou
meios rurais no interior de cada pais e.
princípios igualitários abstratos, inspirados aparentemente na dou
entre os seus membros e estruturas, cor
À vista desta constatação, im
mais ainda, entre os diversos países do pelo menos o da classe dos traba mundo. Contudo, quando se tem um lhadores manuais, que o IPT visa? conceito humano e cristão do homem e da Ou quer ele tão-só a aplicação, família, não se pode deixar de considerar com um teorismo implacável, de como ideal a empresa quefunciona como
comunidade de pessoas:então as relações,
respondem às normas da Justiça (...). De
trina da Igreja e no zelo pelos modo particular, deve considerar-se como menos afortunados?
TEXTO DO IPT
ideal a empresa de dimensões familiares, Nem se pode deixar de trabalhar para que uma e outra cheguem a ser realidade, de acordo com as condições ambientais" (Mater et Magistra. n.° 139).
86. Há no pais uma clara oposição
88. Nò caso de pequenos e médios
entre dois tipos de regimes de proprieda de: de um lado. o regime que leva o
produtores,y7co evidente que muitos sSo
conflito aos lavradores e trabalhadores rurais, que é a propriedade capitalista; de outro, aqueles regimes alternativos de propriedade, mencionados antes, que es tão sendo destruídos ou mutilados pelo
capital: o da propriedadefamiliar, como a dos pequenos lavradores do sul e de outras regiões: o da posse, no qual a terra é concebida como propriedade de todos e
cujosfrutos pertencem àfamília que nela trabalha, regime difundido em todo o pais e sobretudo na chamada Amazônia Legal: a propriedade tribal e comunitária dos
involuntariamente transformados em ins
trumentos da exploração de seus seme lhantes. através da subordinação da sua produção aos interesses das grandes em presas que exercem um controle crescen
te, direto e indireto, sobre a economia agropecuária e que são as beneficiárias em última instância do seu trabalho e da
riqueza extraída da terra.
COMENTÁRIO Aflora
mais claramente
no
povos indígenas e de algumas comuni
presente tópico do que em outros, uma lacuna do IPT,a qual projeta
dades rurais.
efeitos deformantes sobre todo o
panorama por ele traçado acerca do problema fundiário. Lido com atenção corrente, o O que entende o IPT por "pro priedade capitalista"? Toda pro tópico dá a impressão de que, no priedade que não é de dimensões panorama agrofundiário brasilei familiares, ou não tem caráter ro, só existem: a) os "pequenos e médios pro tribal nem comunitário, é necessa riamente capitalista? dutores";
COMENTÁRIO
Será capitalista toda propriedade que for"fami liar", "tribal" ou "comunitária"?
emulação. E conseqüentemente o trabalho. É essas pretensas soluções. Matar a riqueza não é uma partilha feita pelo açougueiro, que mata
distribui-la"(Les misérables, Garnier-Flamma-
aquilo que divide. É pois impossível aceitar
rion, Paris, 1967, tomo II, pp. 369-370). 169
Uma classifica ção das proprie dades rurais...
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
b) ^as grandes empresas que dos estatísticos há sobre esta ma téria? Em temas como este, o
.... são as beneficiárias em última
... que coloca mal as grandes pro priedades
A classificação omite as empre
sas supergrandes
instância do seu trabalho [isto é, adjetivo ""muitos" é dos mais resdo trabalho dos pequenos e mé valadios. Por exemplo: se se diz que em uma cidade há muitos dios proprietáriosf*. É normal que, ante esse qua roubos, a afirmação implica a dro, as simpatias do leitor se existência de um índice mais ou voltem para os **pequenos e mé menos corrente e normal da inci dios produtores'* e sua antipatia dência desse crime em várias cida para '^as grandes empresas" apon des congêneres. É em função de tal tadas como sanguessugas. Toma padrão que a palavra muitos toma da esta posição, o leitor passa sentido. Em função de que padrão adiante, julgando ter entendido é freqüente a irregularidade, aliás bem a conclusão a que o longo altamente reprovável, denunciada período de 61 palavras conduz. pelo IPT? Este se mostra vago a A realidade não é tão simples tal respeito. De outro lado, muitos não quanto o IPT a descreve: Onde há produtores tidos por eqüivale a todos. Se o ""controle médios, há necessariamente pro crescente, direto e indireto, sobre dutores tidos por grandes. Pois, a economia agropecuária" atinge a por definição, o médio é equidis- ""muitos" produtores, ipso facto tante entre o grande e o pequeno. não atinge a todos. Não é fácil E se não houvesse produtores explicar como, então, as tais ""gran grandes, os maiores dentre os des empresas" exercem uma como médios seriam inevitavelmente que tutela global sobre a ""riqueza extraída da terra". Dir-se-á que foi qualificados de grandes. Ora, o ■ tópico se abstém de objetivo do IPT dizer, no presente qualquer referência aos grandes tópico, que as exceções que esca produtores. De que maneira? pam a esse controle são tão raras, Ao tratar das ""grandes empre que a produção,tomada como um sas", ele confunde — numa desig todo, está sujeita ao tal controle nação genérica e ambígua — enti artificial e injusto. Mas, para que dades especificamente diversas. esta assertiva fosse verdadeira, se Pois o leitor fica sem saber se essas ria preciso que quase todos os ""pe ""grandes empresas" são rurais, ou quenos e médios produtores" (e tão-só comerciais, e portanto ur não apenas ""muitos" deles)fossem banas. Pois é explicável que sejam ""transformados em instrumento urbanas as empresas que organi da exploração" etc. O que é noto zam a compra em larga escala, da riamente inverídico.
produção rural, e lucram manipu lando os preços desta. A que conduz mais esta con
O leitor talvez se pergunte qual
fusão? A grande propriedade rural a utilidade desse destrinçamento, recebe críticas que, fundadas só palavra por palavra, do sentido do no fato de ser ela grande, não são presente tópico. justas, mas que não raras vezes Como adiante se verá, é pela são merecidas pela grande empre importância intrínseca da matéria Ambigüidade ten denciosa sobre a
ação das empre sas "supergran des^
sa intermediária.
nele tratada. Convém entretanto
Ao denunciar o mal, o tópico não lhe indica com precisão a freqüência:""muitossãoinvoluntarlamente transformados ...."(des
registrar desde logo a importância que este tópico apresenta sob um ponto de vista que lhe é de algum modo extrinseco (isto é, referente
taque do autor). — ""Muitos"?
à sua linhagem e ao seu método
Quantos? — pergunta-se. Que da
de exposição). Com efeito, aflora
170
Para conhecer a
técnica da expo sição do IPT
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Secção I
com particular nitidez no presente consiste na direção da empresa, tópico uma técnica de exposição nas atividades de compra e venda
que contribui ponderavelmente que o andamento desta comporta, para a força de penetração das nos contatos com as repartições teses e das insinuações do IPT. físcais e com a complicada e exi Consiste ela no uso freqüente de gente máquina burocrática do ambigüidades, de generalizações País. Não é raro que o proprietá vagas, de contradições mais ou rio médio exerça alguma outra menos implícitas, de omissões des profissão no centro urbano pró tras, tudo operado em passagens ximo: professor, advogado, médi essenciais, por assim dizer incrus co, veterinário etc. Seus filhos tadas em um contexto simples e habitam em geral a cidade durante claro. Assim, o leitor tem diante o ano letivo, para estudar e con dos olhos um panorama que nem quistar diplomas secundários ou é inteiramente falso, nem inteira
universitários.
mente verdadeiro.
O grande proprietário, que Desse modo, imaginando ter sempre cultiva sua terra por meio
entendido tudo com clareza, o de trabalhadores manuais assala
leitor pode ser conduzido a con riados, vive — em função de sua clusões das quais ele mesmo não propriedade rural, bem como dos tem o controle. centros urbanos médios e grandes A análise do significado pre — uma vida que, guardadas as ciso, por assim dizer de cada proporções, é análoga à do pro palavra do texto, nos ajuda a prietário médio. perceber a cada passo o alcance Cumpre acrescentar que, fre dessa técnica. qüentemente, o regime de salariado, costumeiro em nossas fazen
das, é conjugado com a parceria Pequenos, mé dios. grandes e
supergrandes na estrutura rural do Brasil,
As propriedades pequenas
Na realidade, as propriedades rurais no Brasil não podem ser classificadas simplesmente, como pequenas, médias e grandes. Há que mencionar também as super
ou meação. Tal quadro geral resulta, em
as de dimensões familiares, ou
situação econômica sensivelmente
considerável parte, do princípio consignado na legislação brasilei ra, e aceito como pressuposto indiscutível pela opinião pública, grandes: à maneira da classifícade que na família cabe a cada filho ção que se faz hoje das potências, um quinhão igual ao dos demais, no panorama internacional. na herança paterna. Assim, cada As propriedades pequenas são casal que morre deixa os filhos em
pouco mais. Elas comportam a inferior à sua própria, o que pro colaboração eventual de dois ou duz nos padrões sociais em que três assalariados. Em geral, o pe viverão os filhos, efeitos fáceis de queno proprietário e sua famUia imaginar. trabalham com as próprias mãos, A aversão social a qualquer ainda quando tenham assala forma de decadência é, no ho riados. As propriedades médias
mem, um reflexo do instinto de
Nas propriedades médias, o conservação. Cada qual cuida ha trabalho manual costuma estar a bitualmente de sua situação sóciocargo de assalariados, alguns está econômica com esmero análogo veis, outros temporários. Pode ao que dedica ao cuidado de seu ocorrer, em certas situações, que o próprio corpo. Ele procura, para proprietário ajude um pouco o esse corpo, a saúde, o bem-estar,a trabalho manual. Mas, em qual aparência correta e digna. Não só, quer caso, sua principal atividade portanto, o esse, isto é, o existir, 171
As propriedades grandes
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
mas ainda o bene esse, isto é, o conforto. E deseja correlatamente, para sua situação social, estabili dade, largueza, possibilidade de
Titulo /
consumidor, ou por vezes admite o intermediário como acionista.
Mas também ele próprio é sócio da empresa do intermediário. Sem promoção etc. dúvida, o proprietário meramente Diante da perspectiva de que a grande não tem poder econômico herança rural paterna não lhes para tanto. E o mais das vezes não
bastará para se manterem exata passa de produtor. mente no nível dos pais, ao qual Quando o proprietário super estão afeitos, os filhos — até grande (e também o muito grande)
mesmo dos grandes proprietários com prole numerosa — tendem a abraçar profissões complementares à da agricultura, quando não a abandonar inteiramente o campo.
As propriedades supergrandes
é pessoa física, e não jurídica, os efeitos da sucessão hereditária po dem ser outros. Pois não é raro
que a propriedade muito grande ou a supergrande contenha áreas ainda inexploradas, que possibili Muito diversa é a situação dos tem aos herdeinós aplicar seu tra proprietários supergrandes. Ao balho integralmente na agricultu contrário dos grandes, são o mais ra, e evitar, pelo aproveitamento das vezes pessoas jurídicas (fre de tais áreas, a diminuição do qüentemente sociedades anôni padrão sócio-econômico a que es mas). O próprio da pessoa jurídica tão habituados. De outro lado, consiste em poder atrair capitais tais propriedades proporcionam que excedem de muito o vulto de ordinário meios suficientes pa normal do patrimônio do grande ra que os herdeiros possam apli agricultor. Pela própria natureza car, de imediato, os mais moder das coisas, as relações das pessoas nos recursos para fazer render jurídicas com os assalariados são com crescente intensidade as áreas impessoais, "mecânicas*' e frias. A já exploradas. O que não só os magnitude dos investimentos fei absorve a todos na vida rural, tos pelas supergrandes lhes permi como lhes permite também a cobi te mecanizar em grau tão intenso a çada manutenção do padrão cultura, que chegam a aplicar só sócio-econômico. em máquinas muito mais do que o valor global de uma proprieda de normalmente tida por grande. Esse fato leva ao anonimato Quem lê o tópico 88 — como nas relações entre o proprietário tantos outros do IPT — é levado a supergrande e o trabalhador, ao confundir o proprietário grande minguamento do papel dos traba com o supergrande. E a aceitar lhadores manuais e conseqüente subconscientemente como válidas
desemprego destes (desde que não para os grandes, as criticas que o se trate de mão-de-obra qualifica IPT faz, não raras vezes com da), e à valorização de técnicos — pequenos ou médios burgueses —
responsáveis pela conservação e aproveitamento integral das má quinas. O agricultor supergrande mui tas vezes não se distingue de modo claro do comerciante. Pois, ou vende ele próprio seus produtos no mercado, a ponto de atingir direta ou quase diretamente o 172
razão, aos supergrandes. Ora, sucede que o número de supergrandes é muito menor do que o das grandes, na escala das propriedades fundiárias brasilei ras. De onde ter o IPT por efeito — em virtude de suas próprias incorreções de linguagem e de exposição — atingir de fato, e sistematicamente, as propriedades grandes.
Grandes e super grandes: confu são nociva às pri meiras
mhM :-4 rf t r'*B
>í~ *#íT-'^:í*JÍlÍ»^/-'*.»ÍV^
..-^^Oí^,
O problema agrário não se resolverá pela mera ação da justiça. É necessário recorrer também á caridade cristã.
*'0 comunismo e a lei agrária pretendem ter encontrado solução
para o segundo problema (a distribuição da riqueza). Eles, porém, se enganam.
A distribuição que propõem mata a produção. Á distribuição igualitária extingue a emulação. E conseqüentemente o trabalho.
É uma partilha feita pelo açougueiro, que mata aquilo que divide. É pois impossível aceitar essas pretensas soluções.
Matar a riqueza não é distribuída" (Victor Hugo).
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo l
Cumpre acrescentar que o IPT bém se misturam — e nem sempre faz às propriedades supergrandes como a parte mais forte — produ críticas por vezes exageradas e tores rurais supergrandes.
vagas. É oportuno um exemplo. O
A intervenção do Poder público no setor agropecuá-
Não é necessário insistir sobre
IPT se refere, com louvável incon
os inconvenientes tão óbvios dessa
formidade, às manipulações de preços de produtos agropecuários, operadas por intermediários (n.°s 43 a 46). Essas manipulações frus tram muitas vezes o produtor mal
situação, a qual pode exercer in fluência sobre o próprio Poder público. Entretanto, da atuação deste último, na específica linha de fatos
pago e exaurem a economia do da qual aqui se fala, pouco ou consumidor (35). Mas o IPT omi nada diz o IPT, quando, pelo te de mencionar outro fator que contrário, tem sido tantas vezes pesa duramente sobre as popula fator importante do quadro de ções rurais e urbanas: é a interven anomalias contra a qual o mesmo ção do Poder público na fixação IPT investe. dos preços da produção agrope Por que tal omissão? Como cuária. Tal intervenção múltipla, explicá-la dentro da lógica do assídua, caprichosa, tantas vezes IPT?
sem rumo definido, flutua ao sa
Não é difícil.
bor de superiores conveniências
A animadversão do IPT vai
Explicação: aver são àpropriedade individual
toda ela para a propriedade priva do. Conjuga-se ela por vezes com da, máxime quando é individual determinados interesses indus E, portanto, as suas simpatias triais e cambiais privados, aliás tendem para a coletivização da não raras vezes vantajosos para o economia. Ora, como denunciar a bem comum. De todo este intrin ação deletéria do Poder público,
econômicas e financeiras do Esta
cado entrelaçamento só podem ter quando é precisamente em benefí noção cabal uns poucos super- cio dele que a coletivização se empresários e supertécnicos, e opera? nunca ou quase nunca o agricul
tor, ainda que grande. Essa política de preços produz sobre o mercado os efeitos mais
variados, e dá origem a especu lações(no pior sentido da palavra) de bolsa, contra as quais em geral só as empresas supergrandes po dem defender-se. Pois só elas dis
TEXTO DO IPT
89. Cumpre distinguir entre proprie dade capital!^ da terra e propriedade privada da terra. Enquanto a primeira é utilizada como instrumento de exploraçSo do trabalho alheio, a segunda é usada como instrumento de trabalho do próprio
põem dos departamentos de estu trabalhador e de sua familia, ou cultivada do especializados, dos serviços de pelo proprietário com mSo^e-obra assa
informação e dos técnicos que
lariada, tendo função social e respeitando os direitos fundamentais do trabalhador.
permitem prever metodicamente "A propriedade particular ou algum do as mudanças de política de preços mínio sobre os bens exteriores conferem a antes mesmo que estas sejam da cada um o espaço absolutamente necessá rio à autonomia pessoal efamiliar:devem das ao público. ser considerados como um prolongamen Em conseqüência, tudo isso forma um emaranhado de interes
ses políticos, bancários, indus
triais, comerciais, nos quais tam
(35)Sobre esse tema ver também Titulo II,
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária —
to da liberdade humana" (Gaudium et Spes, /I.O 71).
COMENTÁRIO
hostilidade do IPT em rela- Uma distinção
® propriedade pnvada parece ^'"^Çddizadora...
Considerações econômicas. Cap. III, 2, A, c. flagrantemente desmentida pela 174
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
... mas confusa, inconsistente e
tendenciosa
a)Quanto aocon ceito de trabalho
Secção I
primeira frase do presente tópico, Se, pelo contrário, "cultivar" a qual distingue a ^^propriedade significa também dirigir o traba privada da terra** — mencionada lho manual sem participar dele, o com evidente simpatia — da "pro IPT comporta uma aceitação efe priedade capitaUsta da terra**, tiva da propriedade pequena, mé mencionada, pelo contrário; com dia ou grande. Porém, não da antipatia óbvia. propriedade supergrande, o que se Qual o sentido e o fundamento pode conceber em termos de Dou dessa distinção? O IPT nada diz trina Católica, feitas as necessá
de preciso a tal respeito. As frases seguintes criam, com efeito, sensível ambigüidade acer ca do direito de propriedade. O que desinfla as esperanças que a
rias precisões e ressalvas. Aceitação efetiva, foi dito há pouco. Porém não sem descon fiança. O IPT, ao falar da pro priedade não familiar, lembra a justo título que ela deve desem penhar uma "função social" e
frase inicial despertara. O que caracteriza a terra capi talista é: a "exploração do traba respeitar "os direitos fundamen lho alheio**. Ou seja, do trabalho tais do trabalhador**. Nada mais que não é o do próprio dono. Já se justo. viu (cfr. Comentário aos n.°s 83, Contudo, por que relembrar
84 e 85) toda a ambigüidade do IPT a respeito do conceito de trabalho e o caráter exploratório que ele tende a conferir ao sala-
essas exigências só no tocante às propriedades em que trabalham assalariados? Por que não acen tuar que a pequena propriedade "trabalho também possa se tomar injusta e
riado, considerado alheio**. Assim, a distinção entre faltar à sua função social a mesmo "propriedade capitalista** e "pro título? Quando, por exemplo, os priedade privada** parece esfuma- proprietários — cônscios de que
jamais poderão possuir mais do Considere-se agora a definição que seu alvéolo na estrutura rural, de **propriedade privada**: é aque e privados portanto da.estimulan la "cultivada pelo proprietário te esperança de enriquecer — tra çar-se.
COM
mão-de-obra
assalariada**
balham a terra molemente, e com
(destaque do autor). O que quer o intuito único de suprir às neces dizer isto, ao certo? Dentro da sidades suas ou dos seus? Ou, ótica peculiar do IPT, o que é ainda,^ quando a pequena proprie cultivar? Ê trabalhar a terra com dade se pulveriza tanto, que não as próprias mãos? Ou é dirigir, comporta um cultivo em escala sem a participação manual, o tra plenamente rentável, a ponto de, balho dos assalariados? A pergun por vezes, nem sequer atender às ta é de capital importância para necessidades elementares do miniconhecer que tipo de estrutura fundiário e de sua família? Função social, o direito de rural o IPT visa implantar. Com efeito, se "cultivar** a propriedade a tem. Porém — co terra significa principal ou exclusi mo já foi dito — não só ele. Pois até o direito à vida tem função vamente trabalhar a terra manual mente (segundo a doutrina mar social, que os jovens exercem com xista, só o trabalho confere direito sacrifício de seu sangue, quando ao fruto da terra), o IPT admite são convocados para o campo de
apenas as propriedades pequenas, batalha. Não é explicável que o e as médias tão pequenas que quase se confundam com estas. O que,em termos de Doutrina Cató lica, é inadmissível.
IPT pareça ignorar isto, e só em
relação ao direito de propriedade lhe ocorra falar em função social. Como se este fosse um direito
175
b) Quanto àfun ção social da pro priedade
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
diminutae rationis e intrinseca-
Por certo, o trabalho pode ser
mente propenso a voltar-se contra
uma das fontes do direito de
propriedade. Porém de maneira Ademais, aqui ainda o IPT nenhuma é a únka fonte dele. fala de respeito aos **díreítos fun Negá-lo importaria em negar a damentais do trabalhador'*. E por apropriação da coisa perdida ou o bem comum.
que também não pede o mesmo
abandonada, a herança, a doação,
para os direitos do proprietário? todos os modos de aquisição, en Por fim, não é explicável que o fim, nos quais o trabalho não IPT nada diga da função social do tenha entrado. trabalho: função entretanto de Ou seja, como há pouco foi grande alcance em várias situa dito, importaria em redpzir o fun ções, como greves de trabalhado damento da propriedade ao traba res rurais na época das colheitas etc. lho. O que de nenhum modo é consoante com a Doutrina Cató
lica (cfr. Textos Pontifícios ao fim c) Quanto à pró pria essência do
direito de pro priedade
A estes vários fatores de per desta Secçâo). plexidade cabe acrescentar mais um. O IPT, no mesmo tópico 89, qualifica a terra de ^instrumento de trabalho": designação estranha, que subverte todo o conceito de propriedade. A terra é, por certo, um fator de produção. Porém não precisamente um instrumento de
do próprio trabalhador e de sua família". — A posição do IPT face à pequena propriedade de dimen sões familiares, trabalhada pelo proprietário e por sua família com
trabalho. Pois instrumento é o
o auxílio eventual de um ou outro
** .... instrumento de trabalho
apetrecho de que se serve alguém trabalhador contratado, salta aos para tornar mais forte ou mais ágil olhos na leitura de todo o docu sua ação sobre algo. Não é porém mento, em particular no presente aquilo sobre o qual tal ação se tópico. O IPT a reputa, não só exerce.
uma forma de propriedade ideal
Assim, o anzol ou a rede são em seus aspectos sociais, cuja im
instrumentos de trabalho do pes cador. O mar e os peixes, pelo contrário, não são para ele ins trumentos de trabalho, mas algo
plantação é desejável sempre que congruente com os direitos cons tituídos de terceiros, e com a natureza da terra e da lavoura (e
sobre o que seu trabalho se exerce. além disto não vai a Gaudium et Em outros termos, o dirjeito de Spes) mas como uma forma de propriedade tem por objeto a coi propriedade absolutamente dese sa. Quando o homem se apropria jável, quer do pbnto de vista social de uma res nullius (coisa de nin quer do econômico, para os 8,5
guém), adquire sobre esta coisa o milhões de quilômetros quadrados
direito de propriedade. É o que de nosso tão variegado País-contiacontecia, por exemplo, com al
nente. Na perspectiva do IPT,em
gum navegante que chegasse ou- regime de propriedade privada, só trora a uma ilha inabitada. a propriedade de dimensões fami
Ao qualificar a propriedade liares é inteiramente justa, só ela como instrumento de trabalho, o não cria problemas sócio-econô^ IPT parece fazer da propriedade micos. Só ela, enfím, constitui a uma mera derivação do direito do plenitude da normalidade na vida homem ao fruto de seu trabalho. do campo.
O que restringe sensivelmente o
A força desta impostação se
âmbito e o próprio sentido do faz notar especialmente à vista dos direito de propriedade. traços pronunciadamente marxis176
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
tas que constituem parte saliente da própria contextura do IPT. Com efeito, a redução de toda a estrutura agrária a uma galá xia de pequenas propriedades fa miliares, interligadas entre si por cooperativas rurais (sem as quais
Secçõo I
Mas essa aceitação tem, na lógica do IPT, as características da re signação.
Pois enquanto, segundo o utopismo do IPT,só a propriedade de dimensões familiares realiza ideal
mente a justiça e a paz social, porque "a terra é de quem a tra balha", a média e a grande pro priedade têm pelo menos algo de ra), fica a um passo do regime injusto. Por esta razão, e também soviético dos kolkhozes. Passo porque — segundo o panorama que qualquer disposição legisla do IPT, configurado na perspecti tiva — referente, por exemplo, à va da luta de classes — o emprega autoridade "coordenadora" das dor é suposto sempre de ter os cooperativas sobre as minipro- impulsos da ave de rapina, em priedades, e do Estado sobre as relação ao empregado. cooperativas — poderá facilmente Daí naturalmente — sempre transpor. segundo a perspectiva do IPT — a Assim, a meta última e ideal multiplicação crescente das "ten apresentada pelo IPT a seus leito sões sociais" na vida do campo. res(segundo a qual ele se empenha Tensões essas cuja solução é croniem formar a mentalidade destes) camente o fracionamento da terra está a dois passos do comunismo em propriedades familiares segun agrário, se tanto. do a legislação agrária vigente, cuja aplicação efetiva o IPT aceita como alternativa viável (cfr. n.® 99)(36). Parece em certa contradição Para criar tais "tensões", agra com este aspecto óbvio do IPT o vá-las e levá-las ao paroxismo, fato de que o documento não bem se sabe quanto atuam no rejeita de modo inteiramente ex Brasil, por toda parte onde conse plícito a grande e a média pro guem instalar-se, as conhecidas priedade. Comunidades Eclesiais de Base Sempre que em um texto se faz (CEBs). notar uma contradição, a boa Assim, a "resignação" do IPT exegese procura encontrar a linha em relação à grande e à média de pensamento segundo a qual propriedade tem muito de inauesses elementos contraditórios se têntico e de precário. elas não podem levar a efeito os grandes investimentos financeiros inerentes à mecanização da lavou
conciliam no espírito do texto. Assente a posição do IPT so bre a pequena propriedade de dimensões familiares, é natural que o leitor influenciado pelo espí rito do documento tenda a desejar
De inautêntico, pois as espe ranças utópicas na pequena pro priedade familiar, sopradas pelo IPT (e pelos pronunciamentos congêneres que o antecederam e sucederam), não podem deixar de
que a parcela ainda não cultivada induzir, mais cedo ou mais tarde,
do território nacional seja dividida ao desejo do fracionamento rural em minipropriedades de dimen os trabalhadores das grandes e sões familiares. médias propriedades atuais, de Na parte do território já culti vada, é concebível, dentro desta
(36) O art. 15 do Estatuto da Terra diz
lógica, que ele aceite (talvez pro
expressamente: "A implantação da Reforma Agrária em terras particulares será feita em caráter prioritário, quando se tratar de zonas
bono pacis) a sobrevivência de
propriedades médias e grandes.
críticas ou de tensão sociar.
177
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
suscitar, em favor desses fracionamentos, condutores de massas
Título I
COMENTÁRIO
Quem redigiu o IPT parece ter sedentos de popularidade, de criar sentido bem o quanto abre o no campo um clima psicológico flanco a críticas, com todas as suas "conscientizado" e irrequieto, fa imprecisões, sempre propícias à vorável às reivindicações das Co munidades Eclesiais de Base esquerda. De onde ter então pro (CEBs); em suma à "nicaragua- curado alguma escapatória para ção" do País, tão desejada por elas. Aqui estaria uma. Por certo, ninguém pode pedir importantes elementos de nossa a um documento de Moral Social "esquerda católica" (37). precisões de técnica jurídica es A "aceitação" da grande e da pecializada. média propriedade pelo IPT é Mas a Moral tem suas pró portanto, além de inautêntica, prias precisões, mais nobres e por fundamentalmente precária. Ela isso mesmo mais subtis do que as sujeita essas formas de proprieda do próprio Direito positivo, o de, assim "aceitas", a um deperecimento a fogo lento.
qual dela deriva.
Lento? Não conterá este adjeti vo certo otimismo? À vista da ên fase agro-reformista do IPT, quantas razões há para que essa "lentidão" se desenvolva segundo a lei da gravitação universal de Newton: isto é, que a divisão das propriedades se dê com um ímpe to que esteja na razão direta de seu tamanho, e na razão inversa do quadrado da distância que as
da Moral são também os do Direi
com a terminologia jurídica indis pensável para a formulação dos grandes princípios de ordem legal. O tópico 90 em nada justifica as graves ambigüidades e omissões
separa da coletivização final. O que, tudo, deixa ver com quanto empenho o IPT empurra o País rumo a uma sociedade igualitária
TEXTO DO IPT
no campo, como aliás também na cidade.
Ressalvas que não justificam nem
remedeiam
as graves omis sões do IPT
Outrossim, como os princípios to, o verdadeiro moralista sabe tratar sua matéria sem contundir
do IPT. E também em nada as remedeia.
91. "A terra é uma dádiva de Deus". Ela é um bem natural que pertence a todos e não um produto do trabalho. Mas, é o trabalho sobretudo que legitima
a posse da terra. É o que entendem os TEXTO DO IPT
90. Não pretendemos, com as distin ções acima, trazer umaformulaçãojurídi ca com a precisão técnica qitò os textos de lei devem ter. Queremos, antes, indicar quais os valores positivos que se incluem no direito de propriedade privada e quais
posseiros quando se concedem o direito de abrir suas posses em terras livres, desocupadas e nSo trabalhadas, pois en tendem que a terra é um patrimônio comum e que enquanto trabalharem nela,
nSo poderSo ser expulsos.
COMENTÁRIO
"E o trabalho sobretudo que os contra-valores queforam introduzidos pela ganância opressora dos poderosos. legitima a posse da terra"... (des Confiamos à objetividade dos juristas a taques do autor). missão de encontrar fórmulas jurídicas A frase traz à mente o prin adequadas para a defesa do direito de cípio marxista segundo o qual o acesso à propriedade da terra para aqueles que efetivamente querem cultivá-la de principal fator de produção é o trabalho manual. Propriedade so modo produtivo. bre a terra não há. Cessado o (37) Cfr. "Catolicismo", n.® 355-356, julhoagosto de 1980.
178
trabalho, cessa o direito do tra balhador sobre a terra.
Frase que faz pensar na concep
ção marxista do trabalho manual
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Secção I
Não se sabe se,segundo o IPT, ção da palavra "sobretudo**, na esse principio se refere ao direito frase aqui comentada. de propriedade ou à posse. E — Se é o trabalho que "sobre
caso se refira também à proprie dade — cabe perguntar se qual quer terra desocupada escapa ao direito do proprietário pelo pró prio fato da desocupação. A essa pergunta, o IPT impõe
tudo** legitima a posse, parece que, segundo o IPT, há outros fatores que — embora em plano inferior
— também a legitimam. Quais são eles? Escorregadio, o IPT nada diz a respeito. E passa a expor as que se responda afirmativamente. conclusões concretas que tira do
Pois sentencia a liceidade de qual
princípio posto. Ora, estas conse
quer pessoa sem terra **conceder- qüências são tais que negam impli se** o **direíto de abrir suas posses citamente a existência de outra
em terras livres, desocupadas e fonte do direito de propriedade NÃO TRABALHADAS** (destaque do que não o trabalho: "os posseiros autor). .... entendem que a terra é um O que quer dizer aí "livres**? patrimônio comum e que enquan Terras que são, por assim dizer, to trabalharem nela, não poderão
propriedade de ninguém {res nul- ser expulsos**. Portanto, segundo lius)! Em tese não as há. Pois toda o IPT, a presença do trabalhador terra que não esteja sob domínio na terra abandonada dá-lhe direi privado é devoluta, e como tal to sobre ela. E esse direito cessa,se pertence ao Estado. a deixa de trabalhar o posseiro(38). Note-se de passagem quanto é estranho que o IPT autorize e até
incite qualquer um a que penetre
TEXTO DO IPT
em terras "livres** e ali se instale
92. Importa, enfim, não esquecer a sem nenhum título legal nem auto terra de moradia, problema particular rização judicial. Contra o dono mente angustioso nas periferias urbanas, das terras — o particular ou o onde asfamílias são obrigadas a viver em
^tado — cada um pode assim ser
condições desumanas de promiscuidade e insegurança, e de onde, muitas vezes, são
juiz em causa própria! Aqui, o expulsas, até com violências, para se IPT se mostra não só marxista,
Se o IPTquis des fazer dúvidas, não poderia ter
sido menos efi caz...
como subversivo, pois incita à transgressão das leis civis e penais, isto é, ao roubo da terra. Se o IPT entendeu consagrar o princípio clássico da Moral cató
atenderem interesses das empresas imo
biliárias ou por razões de urbanização. 93. Essa expulsão da terra de mora dia se apresenta mais injusta e desumana, porque asfamíliasficam expostas ao total desabrigo e abandono.
lica, segundo o qual a propriedade (38) O lema "A terra para os que a da terra não depende do cultivo trabalham" é caro aos revolucionários. San dela, nem da ocupação habitual tiago Carrillo, o bem conhecido secretário(cfr. Textos Pontifícios ao fim geral do Partido Comunista Espanhol, o co mentou nestes termos: "Em outubro de 1917, da Secção H), não o poderia ter Lênin conseguiu concretizar a aliança dos feito de modo mais obscuro e mais
próprio a ser interpretado por qualquer leitor em sentido preci samente contrário. Com as vanta
gens obviamente daí decorrentes para a demagogia,a subversão e a luta de classes.
Note-se, por exemplo, a fun
operários com a maioria dos camponeses pro clamando:'A terra para os que a trabalham'. Foi o slogan decisivo que permitiu aos bolcheviques tomar o poder"(MaUana Espaãa, Colección Ebro, Paris, 1975, p. 225).
Ainda que, por meio de interpretações benévolas, se procure matizar muito o sentido do lema, ele se encaixa como uma luva no
contexto do IPT,com o inequívoco significado que lhe dá o líder comunista ibérico.
179
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo /
Textos Pontifícios
Títulos legítimos de aquisição da propriedade e o problema da justa distribuição das riquezas A instituição da família acarreta a hereditariedade dos bens
Leão XIII
injustiça a ninguém, por mais que alguns digam o contrário, quem se apodera de uma coisa abandonada ou sem dono; de
Encíclica Rerum Novarum de 15 de maio de 1891:
outra parte a indústria que alguém exerce em nome próprio,e com a qual as coisas se
natureza não impõe somente ao pai de família o dever sagrado de alimentar e
transformam ou aumentam de valor, dálhe direito sobre os produtos do seu
sustentar seus filhos: vai mais longe.Como
trabalho".
os filhos refletem a fisionomia de seu pai e [Documentos Pontifícios, Vozes, Petró-
são uma espécie de prolongamento da sua pessoa,a natureza inspira-lhe o cuidado do seu futuro e a criação dum patrimônio que os ajude a defender-se,na perigosajornada
Pio XI
polis, fase. 3, 5.® ed., 1959, pp. 21-22].
É lícito aos abastados que se
da vida, contra todas as surpresas da má fortuna. Mas esse patrimônio poderá ele enriqueçam justa e devidamente criá-lo sem a aquisição e a posse de bens Encíclica Quadragesimo Annoáe 15 de permanentes e produtivos que possa transmitir-lhe por via de herança?" maio de 1931: "Nem é vedado aos que se empregam [Documentos Pontifícios^ Vozes, Petróna produção aumentarjusta e devidamen polis, fase. 2, 6.° ed., 1961, p. 9]. te a sua fortuna;antes,a Igreja ensina que é justo que quem serve a sociedade e lhe aumenta os bens se enriqueça também Inviolabilidade do direito de desses mesmos bens conforme a sua propriedade e do direito de herança condição, contanto que se faça com o respeito devido à lei de Deus e salvos os Encíclica Quadragesimo Ánnoáe 15 de direitos do próximo, e os bens se maio de 1931: empreguem segundo os princípios da fé e "Devem sempre permanecer intactos o da reta razão". direito natural de propriedade e o que tem [Documentos Pontifícios, Vozes, Petróo proprietário de legar os seus bens". polis, fase. 3, 5.® ed., 1959, p. 51].
Pio XI
[Documentos Pontifícios, Vozes, Petrópolis, fase. 3, 5.* ed., 1959, p. 20].
Títulos legítimos de aquisição da propriedade são a ocupação das coisas sem dono e a indústria, que aumenta o valor das coisas Encíclica Quadragesimo Annoáe 15 de maio de 1931: Pio XI
A lei natural requer que o trabalho esteja aliado ao capital Encíclica Quadragesimo Annoát 15 de maio de 1931:
"Exige, porém, a lei natural, ou a vontade de Deus por ela promulgada,que
se mantenha a devida ordem na aplicado dos bens naturais aos usos humanos: ora semelhante ordem consiste em ter cada
"Títulos de aquisição do domínio são a
coisa o seu dono. Daqui vem que,a não ser
ocupação de coisas sem dono,a indústria ou a chamada especificação, como o demonstram abundantemente a tradição
que alguém trabalhe no que é seu,deverão
de todos os séculos e a doutrina do Nosso
Predecessor Leão XIII. De fato, não faz 180
aliar-se as forças de uns com as coisas dos
outros; pois que umas sem as outras nada produzem. Isto precisamente tinha em vista Leão XIII,quando escrevia: *de nada
Pio XI
"Somente quem recusa ao homem esta dignidade de pessoa livre pode admitir a possibilidade de
substituir o direito de propriedade privada (e, conseqüentemente, a propriedade privada em si mesma), por não se sabe que sistema dè seguros ou garantias
legais de direito público" (Pio XII).
"A teoria socialista da propriedade coletiva deve absolutamente
repudiar-se como prejudicial àqueles mesmos a que se quer socorrer,
contrária aos direitos naturais dos
J
indivíduos, como desnaturando
as funções do Estado e perturbando
a tranqüilidade pública"(Leão XIII).
"A Igreja ensina que é justo que quem serve a sociedade e lhe aumenta os bens se enriqueça também desses mesmos bens conforme a sua
condição, contanto que se faça com o respeito devido à lei de Deus e salvos os direitos do próximo, e os bens se
empreguem segundo os princípios da fé e da reta razão" (Pio XI).
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
vale o capital sem o trabalho, nem o Não é licito abolir a propriedade trabalho sem o capital* (Enciclica Rerum particular por meio novarum, § 28). Por conseguinte, é inteiramente falso atribuir,ou só ao capital de impostos excessivos ou só ao trabalho, o produto do concurso Enciclica Rerum Novarum de 15 de de ambos; e é injustíssimo que um deles, negando a eficácia do outro,se arrogue a si maio de 1891: todos os frutos**. "Condição indispensável para que [Documentos Pontifícios, Vozes, Petró- todas estas vantagens se convertam em polis, fase. 3, S." ed., 19S9, pp. 22-23]. realidades é que a propriedade particular não seja esgotada por um excesso de
Leõo XIII
encargos e de impostos. Não é das leis humanas, mas da natureza, que emana o
O regime do salariado é conforme à justiça
direito da propriedade individual; a auto ridade pública não o pode pois abolir; o que ela pode é regular-lhe o uso e conci Enciclica Quadragesimo Annoát ISde liá-lo com o bem comum. É por isso que
maio de 1931: Pio XI
ela obra contra a justiça e contra a huma
nidade quando, sob o nome de impostos, sobrecarrega desmedidamente os bens dos substituí-lo por um contrato de sociedade, particulares**. dizem um absurdo e caluniam maligna [Documentos Pontifícios, Vozes, Petrómente o Nosso Predecessor que na polis, fase. 2, 6.a ed., 1961, p. 30].
"Os que dizem ser de sua natureza injusto o contrato de trabalho e pretendem
enciclica Rerum novarum não só admite a
legitimidade do salário, mas procura regulá-lo segundo as leis da justiça**. A propriedade privada não [Documentos Pontifícios, Vozes, Petrópode ser substituída por um polis, fase. 3, 5.® ed., 1959, p. 27].
sistema de seguros ou garantias legais de direito público A justiça não exige a participação
do operário na propriedade e na gestão da empresa
Discurso de 20 de maio de 1948 no
Instituto Internacional para a Unificação do Direito Privado:
"Estas reflexões [relativas à tendência
Radiomensagem de 14 de setembro de 1952 ao Katholikentag de Viena: Pio XII
**Por isso a doutrina social católica se
pronuncia, entre outras questões, tão
conscientemente pelo direito de proprie dade individual. Aqui estão também os motivos profundos por que os Papas das Encíclicas sociais, e Nós mesmo, Nos recusamos a deduzir, quer direta, quer indiretamente, da natureza do contrato de trabalho o direito de copropriedade do
de regular as relações entre os homens unicamente na base do direito público] valem acima de tudo nas questões de direito privado relativas à propriedade. Este é o ponto central, o foco ao redor do qual, por força das coisas, gravitam os vossos trabalhos. O reconhecimento deste
direito está seguro ou desmorona com o reconhecimento dos direitos e dos deveres
imprescritíveis, inseparavelmente ineren tes à personalidade livre,recebida de E)eus.
operário no capital da empresa e, Somente quem recusa ao homem esta conseqüentemente, seu direito de codire- dignidade de pessoa livre pode admitir a ç3o. Importava negar tal direito, pois por possibilidade de substituir o direito de trás dele se enuncia um problema maior. propriedade privada (e, conseqüentemen O direito do indivíduo e da família à te, a propriedade privada em si mesma), propriedade é uma conseqüência imediata por não se sabe que sistema de seguros da essência da pessoa, um direito da ou garantias legais de direito púbüco**. dignidade pessoal, um direito onerado, é [Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità verdade, por deveres sociais; não é porém Pio XII, vol. X, p. 92]. exclusivamente uma função social**.
[Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità Pio XII, vol. XIV, p. 314].
182
■ Destaques em negrito e subtítulos do autor
Pio XII
Secção J
Conclamaçõo final à mobilização dos trabalhadores
em prol da Reforma Agrária
TEXTO DO IPT
constituem ipso facto "injustiças institucionalizadas".
A objetividade deste modo de
III — Nosso compromisso pastoral
94. Deus continua a zelar pelo seu
ver supõe provado que a proprie dade individual é injusta em si mesma.
Na realidade, injustiça institu cionalizada no mais amplo sentido Quefaremos para que a terra seja um bem da palavra é o regime comunista, de todos? o qual, negando a propriedade povo. E, por meio da vida do seu povo, Ele nos interpela.
Que faremos para que a dignidade da individual e até a famflia, importa pessoa humana seja respeitada? Quefaremos para que a sociedade brasi em negar a pessoa humana. leira consiga superar a injustiça institucio nalizada e rejeitar as opçõespolíticas antiTEXTO DO IPT evangélicas? Consideramos como algo po sitivo o questionamento aqui levantado. Entretanto, entendemos que sem ações Por isso, concretas que já respondam a es^es desa fios, a Igreja não será sinal do amor de Deus pelos homens.
95. 1? — Queremos, como primeiro
gesto, procurar submeter o problema da posse e uso dos bens da Igreja a um exame e a uma constante revisão quanto à sua
COMENTÁRIO
destinação pastoral e social, evitando a
especulação imobiliária e respeitando os direitos dos que trabalham na terra.
A expressão **iiijustiça Institu cionalizada", legitima em si mes COMENTÁRIO ma, é freqüentemente utilizada no jargão reformista e socialista de "Posse e uso dos bens da nossos dias. No sentido literal, Igreja": de fato, além da posse e denuncia ela uma situação da qual uso, a Igreja tem habitualmente o a injustiça é ostensivamente o direito de propriedade sobre seus
princípio rector, a mola propulso
bens imóveis. Por que não men
ra e o efeito sistemático.
cionar tal direito?
Para quem é infenso à pro Mais uma vez, tendência a priedade individual, os regimes reduzir a propriedade ao mero sócio-econômicos nesta baseados fato do uso e da posse... 183
Mais uma vez, minimalizaçâo do conceito de pro priedade
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
TEXTO DO IPT
96. 2? — Assumimos o compromis so de denunciar situações abertamente injustas e violências que se cometem em áreas de nossas dioceses e prelazias e combater as causas geradoras de tais
Titulo I
e os nossos meios a serviço de sua causa,
também em conformidade com os mes mos compromissos (Puebla. n° 1162).
COMENTÁRIO
A referência às 'justas inicia Injustiças e violências, em fidelidade aos tivas e organizações dos trabalha compromissos assumidos em Puebla dores" deixa campo aberto para (Puebla. nP 1160). uma colaboração ostensiva com organizações comunistas. O único COMENTÁRIO
Posição simplista sobre a complexi dade de muitos
problemas sociais e econômicos
A CNBB estende além do limi
critério para a colaboração é, se gundo esse texto, o mérito da reivindicação. Não se preocupa o
te específico sua missão de legíti mo juiz do que, no plano moral, é IPT com a doutrina e as metas de justo ou injusto, violento ou não, quem seja o parceiro dessa colabo
ração. O que redunda bem exata mais de ensinar os princípios da mente na "politique de Ia main tendue" oferecida pelos comunis doutrina católica sobre essa maté ria, e de os aplicar às situações de tas aos católicos já nos anos 30, e fato como são vistas pelo consen recusada pelos Papas Pio XI so geral do público (ou então dos e Pio XII. técnicos e dos homens experien
em matéria fundiária. Pois, ade
tes), pretende decidir sobre situa TEXTO DO IPT
ções de fato, acerca das quais não
há consenso de uns nem de outros, 98. Nossa atuação pastoral, cui e isto como se lhe fosse dado dando de não substituir as iniciativas do conhecer até seus últimos mean povo. estimulará a participação conscien
dros os fenômenos econômicos,
te e crítica dos trabalhadores nos sindica
não raro vertiginosamente com
tos. associações, comissões e outras for
plexos de nossos dias: conheci mento este que seria entretanto
indispensável para um pronuncia mento moral sobre os aspectos de facto, de questões dessa ordem. Guardadas as proporções, o
mas de cooperação, para que sejam real mente organismos autônomos e livres, de fendendo os interesses e coordenando as reivindicações de seus membros e de toda sua classe.
COMENTÁRIO
mesmo cabe dizer do combate às
A mesma observação feita ao tópico anterior: nenhuma reco mendação do IPT para que os sentam in concreto em cada Dio católicos evitem pertencer a orga cese ou Prelazia. nismos comunistas, ou que sejam, O tópico 96 se mostra muito quer instrumentalizados, quer in simplista ao enunciar esse propó filtrados por agentes do comu
**causas geradoras de tais injus tiças e violências", como se apre
sito de intervenção, de tal maneira que não se sabe quais as atribui ções que o poder espiritual deixa ao temporal em matéria fundiária,
nismo.
TEXTO DO IPT
a não ser o de mero executor dos
ditames daquele primeiro.
99. 4° — Apoiamos os esforços do homem do campo por uma autêntica Reforma Agrária, em várias oportunida
des já definida,que lhe possibilite o acesso TEXTO DO IPT
à terra e condições favoráveis para seu
cultivo. Para efetivá-la, queremos valori
97. 3? — Reafirmamos o nosso apoio zar, defender e promover os regimes de às justas iniciativas e organizações dos propriedade familiar, da posse, da pro trabalhadores, colocando as nossasforças priedade tribal dos povos indígenas, da 184
Omissão sobre a nocividade da
colaboração com os comunistas
Secçõo J
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
propriedade comunitária em que a terra é
a "valorizar, defender e promo
concebida como instrumento de trabalho.
ver", o IPT só visa fazê-lo em benefício das formas de proprie
Apoiamos igualmente a mobilização dos trabalhadores para exigir a aplicação
e/ou reformulação das leis existentes, dade aqui enumeradas. Ficam ex bem como para conquistar uma política cluídas desse benefício, portanto, agrária, trabalhista e previdencidria que a propriedade média (ou, pelo venha ao encontro dos anseios da popu
lação. Apoiamos também a criação do Parque Yanomami na forma que evite a redução oufragmentação daquele territó rio tribal, e insistimos na urgente demar cação das demais reservas indígenas, in clusive daquelas que se situam nas áreas
menos, a propriedade média-média e a propriedade média-grande), a propriedade grande e a supergrande.
de fronteira do nosso país.
Quanto à propriedade tribal, o COMENTÁRIO O IPT pleiteia uma
"autêntica
Reforma Agrária"
"Apoiamos os esforços do ho mem do campo por uma autêntica Reforma Agrária*'. — Até aqui, a reivindicação de uma Reforma Agrária veio aflorando cá ou lá no IPT, sem entretanto enunciar-se
explicitamente, Mas tudo, ao lon go do documento, preparava para o lance crítico e culminante, da
"Já
definida".
por quem?
IPT deixa ver, maiis uma vez, seu
simplismo característico. Essa for ma de propriedade não é senão
A propriedade tribal, modelopa ra o homem civi lizado?
corolário de todo o modo de ser
dos povos ditos primitivos. Pre tende o IPT, à maneira de corren tes desvairadamente "atualizadas",
que o status desses povos seja desejável para o homem contem
porâneo? Neste caso, quais os
argumentos que dá em prol de tão explícita formulação de tal deside- espantosa conclusão? Nem sequer ratum. Por fim, aqui está procla um só. mada, quase se diria, a toque de Ou pretende o IPT que a clarim, a reivindicação. propriedade tribal pode ser prati cada fora do contexto dos povos ditos primitivos, e mereça prefe " .... Reforma Agrária, em rência sobre outras modalidades várias oportunidades já definida". de propriedade? Neste caso, onde — Por quem? Trata-se de uma oferece o IPT as provas de tal? Em definição que se vem repetindo parte nenhuma... (39). uniformemente, ou de definições diversas? Simplesmente diversas, ou mais bem contraditórias? So
A hostilidade do IPT se volta úni ca e exclusiva mente contra os
patrões.
Nunca
contra os comu
nistas
Outra manifestação de sim bre esses vários pontos de tanto plismo do IPT: ele beneficia igual interesse para a matéria, o IPT mente a "propriedade comunitária nada diz. em que a terra é concebida como um instrumento de trabalho". Que relação há entre essa estrábica Foi visto anteriormente que o concepção da terra como instru
IPT parece reconhecer a legitimi mento de trabalho e o caráter dade da propriedade privada comunitário da propriedade? O (cfr. n.°s 71 e 74). O presente IPT não se explica sobre o as tópico deixa bem claro que (na sunto, deixando ao leitor a possivaga e minguada medida comen tada a propósito dos n.°s 71 e 74) (39)Sobre a nova corrente missiológíca que o IPT realmente o reconhece, apresenta o índio como modelo para o homem entretanto a título de tolerância
civilizado; ver Plínio CorrEa de Oliveira,
ou condescendência, e não de
TribaHsmo indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI. Editora Vera
aprovação e aplauso. Pois quanto
Cruz, São Paulo, 7.» ed., 1979).
185
A terra concebida como "instru mento de traba lho"
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária? Titulo I
bilidade de imaginar o que en tenda...
Trabalhadora de
todo o mundo,unl-vos" (Karl Marx)
portante matéria). Os poderes Le gislativo e Executivo decidiriam sobre o assunto, segundo a Cons
tituição, depois de largo debate
Por fim, o IPT conclama à em que participasse a opinião **mobilização dos trabalhadores pública (41).
para exigir a aplicação e/ou refor
mulação das leis existentes** em
matéria a^ária. Uma das alterna tivas aceitas de modo absoluto
Considerado o IPT em seu
pelo IPT é, portanto, a aplicação conjunto, e especialmente neste da legislação sobre reforma agrá tópico, patenteia-se o caráter diriria atualmente vigente (mas até gista do agro-reformismo da CNBB. aqui parcamente aplicada). Em outros termos, tal agroEsta se compõe, como é sabi do, do Estatuto da Terra e de mais reformismo não é resultante de
de 340 diplomas legais sobre a matéria (40). Esses diplomas legais forçosa mente completam em algo o Esta tuto da Terra, mas em algo tam
anseios nascidos do autêntico po vo brasileiro, e formulado por figuras expressivas deste. É um
agro-reformismo modelado segun do princípios igualitários abstra
bém o alteram. E, por fim, pelo tos, de caráter metafísico, que menos em parte, se completam e uma minoria de ideólogos mais ou se alteram mutuamente. Colocar menos intelectualizados quer im simplesmente em vigor um ema por ao País. Tal imposição deve resultar da ranhado de leis assim inter-relacionadas, máxime em se tratando ação conjunta desses ideólogos,
de reforma tão importante, a ser não propriamente sobre o povo aplicada, como um todo legal, genuíno, mas sobre vastos seg sobre o todo geopolítico que é o mentos populares massiflcados, is Brasil, parece verdadeira aventu
to é, desarticulados e reduzidos a
ra. Pois esse emaranhado de leis, mera massa humana (42). Bem se aplicado, trará no seu bojo as como sobre os órgãos de governo conseqüências legais mais impre que, distintos enquanto tais do vistas, e uma torrente de tensões e povo, de fora e de cima deste processos judiciais que durante ponham em prática uma legisla anos manterão em posição dúbia ção que do povo não nasceu.
incontáveis situações concretas, com prejuízo para as partes inte ressadas e para a produtividade do
campo no País. A a^r segundo os princípios democráticos que arvo
A ação agro-reformista sobre as massas tem sido executada
através de duas redes — não seria
ra, o IPT, na perspectiva de uma
aplicação do Estatuto da Terra,
(41) A posição deste livro, contrária à
deveria pedir que se fizesse um
Reforma Agrária, obviamente não implica em incitar à transgressão das leis vigentes. Mas
projeto de lei de consolidação de
todos os dispositivos vigentes, pa ra então, sobre esse projeto, opi
tão-somente em pedir ao Poder público que não amplie o cumprimento delas, sem antes
animar um largo diálogo entre os vários setores
narem os técnicos e homens expe
de opinião pública interessados no magno
rientes, bem como a CNBB (ob servada a distinção entre os aspec
diájogo — todo ele pacífico e desenvolvido na
tos temporais e espirituais da im-
pronunciem contra essa nefasta Reforma.
(40) Cfr. Paulo Torminn Borges, Estatuto
assunto. Bem entendido, implica isto sim, aconselhar os católicos brasileiros a que, nesse
mais estrita obediência à ordem legal — se
(42) A distinção aqui feita entre povo e massa se funda no monumental texto de Pio
da Terra, Pró-livro, São Paulo, 1979, 275 pp. XII citado no fim desta Secção. 186
Secção J
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
melhor dizer tenazes? — comple- massas, e o político que representa o povo autêntico, é a mesma que mentares. Uma rede, uma tenaz, é cons separa o demagogo do homem de tituída pelos órgãos clássicos e Estado, e a demagogia da demo convencionais do capitalismo pu cracia, em que o ensinamento blicitário agro-reformista: televi tradicional da Igreja vê uma das são, rádio e imprensa. Como tam formas de governo lícitas. Essencialmente dirigista, o bém da imprensa dita alternativa, a qual se jacta de anticapitalista, e IPT pleiteia a intervenção drástica talvez não o seja em vários casos do Poder público, para realizar seu ideal igualitário, o qual tem concretos. Outra rede, outra tenaz — um alcance metafísico. Quer ele muito mais efíciente, porque os que a Reforma Agrária faça com a meios clássicos da macro-publici- estrutura sócio-econômiça vigente dade se vão desgastando rapida o que o carpinteiro, empunhando mente junto ao público (prova-o a uma plaina, faz com uma prancha: repercussão da imprensa alterna nivelá-la. Que efeitos pode tal tiva) — é a publicidade por assim nivelamento trazer para a abun dizer de boca a ouvido, efetuada dância da produção e, portanto,
Á metafísica igualitária do IPT
para a prosperidade comum? O pelas Comunidades Eclesiais de IPT se despreocupa disto. Interes-
no País com eficácia crescente
Base (CEBs). Estas últimas, emanadas dos meios católicos de esquerda, pro pagam o descontentamento e a agitação, com a insistência e a amplitude de um chuvisco que
sa-lhe tão-só seu desígnio meta físico. Iguale-se tudo, e o que suceder depois se arranjará como puder. Para o IPT, à maneira do que afirmam os autores marxistas, a
jamais cessa, através da lamúria igualdade rural é um postulado de "conscientizante" e reivindicatória estrita justiça, um fim em si (in dos **agentes**, para seus familia dependente de seus resultados res, amigos, colegas de trabalho, concretos), objeto de seu entusias companheiros de viagem nos ôni mo todo met^ísico. E as motiva bus, metrôs e trens de subúrbio (com a inevitável recomendação de "passar adiante*'), no anoni mato das grandes cidades neuró ticas e agitadas. Em conseqüência, a massa, com a impressionabilidade ê a mutabilidade descrita por Pio XII, pode tornar-se subitamente agres siva.
Tudo isto o sentem os políti
ções sócio-econômicas menos lhe valem em si mesmas, do que como pretextos para chegar a essa igual dade (43).
Cabe, por fim, aqui uma pala vra sobre esse ideal metafísico. O
IPT é redigido por Bispos. É na tural que se pergunte em que medida essa metafísica igualitária
cos, não poucos dentre os quais encontra fundamento nos docu propendem assim a candidatar-se mentos tradicionais do Supremo a líderes dessa indignação de mas sa. Destes, os agitadores esperam
Magistério.
que imponham,pela força da lei, o (43)"O comunismo — é dito no programa do PÚCS — cumpre a missão histórica de que sem eles, a massa, em alguma libertar todos os homens da desigualdade convulsão mais ou menos efêmera,
poderia ser induzida a impor pela lei da força.
A linha divisória entre o polí
tico que não representa senão
social, de todas as formas de opressão e exploração .... O comunismo dará aos homens aquilo com que sonharam ao longo de séculos e milênios.
Somente quando os meios de produção passam a ser propriedade social e a exploração
187
A doutrina tradi
cional da Igreja condena o igualitarismo social e econômico
"Ao condenar claramente o capitalismo, o modelo econômico
vigente e ao declarar-sefavorável a uma autêntica Reforma Agrária, a 18A Assembléia Geral da CNBB deu uma valiosa
contribuição para, como diz o próprio documento de Itaici (Igreja e problemas da terra), a construção do Homem novo, base de uma nova sociedade" ("Voz da
Unidade", de 30-3 a 5-4-80, órfão oficial do PCB).
Igreja quer reforma^jERNANDO GOMES: BISPOS DEFENDEfliSp 0>
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REFORMA AGRARIA NO PAIS^ESDE 195®'
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Um consenso pela reformaafrrária '
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^ - Üocamrnto final da C.VB8 rejeiu "o c.píufcmo ee e. cotcavkMBunbk' _
^pwva reforma otária
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Igreja condena regime vigeilte CTBB ojJpi e ci^liBaiia p«li hiu à. ampa e pnipae rtiorm» iirani * parlrAelrib^aiW"
Secção J
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
A essa pergunta responde ade quadamente o livro Reforma
Agrária — Questão de Consciên
COMENTÁRIO
Aparece aqui o "compromisso** de condenar o "coletivismo mar
cia (pp. 62 a 75), que transcreve numerosos textos pontifícios, os xista de cujos malefícios temos quais mostram como a justa or notícia em outros países**: só o
Existe um coleti
vismo
louvável?
"coletivismo marxista**? (des orgânica desigualdade entre os taque do autor). E um coletivismo
dem na sociedade decorre de uma
homens e as famílias. Foram eles
não marxista?
reproduzidos ao fim do Capítulo V (Parte I), com a certeza de que ninguém apontará documento pontifício posterior que se contra ponha a quanto nesses textos foi
A condenação da CNBB se funda só nos maus efeitos que este teve "em outros países**, e não nos motivos doutrinários que levaram os Papas a condenar o coletivismo enquanto tal, e antes mesmo de qualquer experiência, e com fun damento na incompatibilidade
afirmado.
TEXTO DO IPT
deste com a doutrina católica.
100. 5® — Empenhamo-nos em de fender e promover as legitimas aspirações dos trabalhadores urbanos —
muitos
Aliás, note-se de passagem que o tópico aqui comentado não con vence. Com efeito, destoa ele de
deles expulsos do campo — em relação
tal maneira da linha geral e de aos direitos necessários a uma existência muitos outros tópicos do IPT,que digna da pessoa humana, especialmente é impossível evitar a impressão de no que se refere ao direito a terreno e moradia, alterando o regime de proprie que, se tivesse sido posto apenas dade urbana e da especulação imobiliária, ad cautelam, não estaria redigido e ao direito fundamental ao trabalho e
de outra maneira.
Justa remuneração.
COMENTÁRIO
Neste tópico, o IPT enuncia claramente seu intuito de "alterar
TEXTO DO IPT
102. 7® — Renovamos nossos com
o regime de propriedade urbana**. promissos de aprofundar nas comunida Em que sentido? — Obviamente des eclesiais, rurais e urbanas, a vivência Evangelho — convictos da sua força com base nos mesmos princípios do transformadora — como maneira mais com que pleiteia a Reforma Agrá eficaz de a Igreja colaborar com a causa ria, como foi várias vezes obser vado no decorrer deste trabalho
(cfr. IPT n.° 4). TEXTO DO IPT
101. 6° — Comprometemo-nos a
dos trabalhadores. Nessas comunidades, os cristãos, impulsionados pela graça de Detts, iluminados pelo Evangelho de Je sus e animados pela palavra da Igreja — por exemplo, pela enciclica "Mater et Magistra"do Papa João XXIII— entram num processo de constante conscientiza ção e adquirem, cada vez mais, uma visão
condenar, de acordo com o documento de
critica da realidade. Com os irmãos nafée
Puebla, tanto o capitalismo, cujos efeitos funestosforam em parte apontados neste
ganizar uma nova sociedade. Com eles,
documento, como o coletivismo marxista
todos os trabalhadores, procuraremos or apoiados em Deus, Espertaremos um
de cidos malefícios temos notícia em outros pai^ (cf. Puebla, n9 312, 313 e
novo espirito de convivência.
546).
sério com os trabalhadores, precisamos
do homem pelo homem se toma impossível, é que se abre caminho para a igualdade efetiva, não simplesmente formal, dos homens, para sua verdadeira libertação.
é a igualdade real e tmiversal dos homens" {Fundamentos de Marxismo-Leninismo, Edi
Esta obra Histórica o comunismo a leva
avante. Um dos seus grandes princípios sociàis
103. Assumindo um compromisso
torial Progreso, Moscou, 1964, p. 863). Com as devidas adaptações, este tópico poderia muito bem ser parte integrante do texto do IPT.
189
Tópico que não convence
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
alimentar sua e nossa coragem e sua e nossa esperança, especialmente na hora
das dificuldades e dasperseguições. Assim constantemente reanimados pela lem brança da promessa e da certeza da
Titulo I
problemas sócio-econômicos de veria ser adequadamente explana do em tais documentos.
Pelo contrário, o IPT a bem dizer não tem uma palavra sobre comunidade e cekbrada no mistério da os exercícios de piedade e a práti Eucaristia, os cristãos cumprirão entre ca dos Mandamentos. A ação da seus irmãos trabalhadores, sua missão de Igreja é focalizada como se esta fermento, sal e luz. 104. Assim, a Igreja contribuirá per última não fosse senão mera força manentemente na construção do homem psico-social de caráter natural, novo, base de uma nova sociedade. pronta a jogar toda a sua influên libertação trazida pelo Senhor, vivida na
COMENTÁRIO
A Igreja devenor malmente come
çar pelo ensino da doutrina
Documentos cla
ros, lógicos e acessiveis sobre o
problema agrofundiário... como oIPTnãoé
Omissão sobre a necessidade de classes sociais
hierarquizadas e harmônicas
Omissão quanto à necessidade da
oração e da prá tica dos Manda mentospara a so
lução dos proble mas sociais e
econômicos
cia tradicional num embate. Este
teria em mira, não a derrota dos
O tipo de irregularidades visa que pregam a luta de classes, mas das por estes ^^compromissos** é pelo contrário, a ajuda da luta de absolutamente sintomático da lin classes, pela tomada de posição guagem simplista, vaga e confusa em favor de uma classe — a dos usada pelo IPT. pobres — contra a outra classe, A Igreja é essencialmente Mes isto é, a dos ricos. Nos ensinamen tra de doutrina. Toda ação que ela tos do Supremo Magistério têm desenvolva deve, pois, começar especial realce a condenação da normalmente pelo ensino da dou luta de classes e a afirmação do trina e pela discussão esclarecedo princípio de colaboração entre ra com os que desta última diver elas (cfr. Textos Pontifícios ao fim gem. do Capítulo V, na Parte I). Para desenvolver sua ação pas Quanto a posição do IPT, toral em matéria de reforma agrá neste e em outros pontos,tenha de ria, a CNBB agiria muito louva- afim com a do comunismo, não é velmente se empreendesse a publi preciso dizê-lo. O IPT brinca com cação de documentos inteiramente
fogo. É o menos que dele se pode
claros, lógicos, acessíveis, sobre o problema agrofundiário. Algo de bem diverso do que é o IPT. Seria ademais conveniente que essas publicações fossem especia lizadas para as várias classes so ciais, e pusessem particular aten
dizer a tal respeito. Porém ele não manifesta um empenho — propor cionado à gravidade do perigo com o qual assim brinca — em
ção em ensinar a cada classe seus
católicos não se deixe instrumen
direitos e deveres. No IPT nada
talizar pelo comunismo. Se o efei to desejado pelo IPT fosse essa instrumentalização, seu texto não precisaria ser muito diverso do que é (44).
transparece que deixe entrever es se tal plano. Tais publicações deveriam ser inspiradas no único ideal cristão genuíno, de uma sociedade cons tituída por classes sociais harmô nicas e proporcionadamente desi guais, que cooperam entre si para
evitar que o público confunda sua posição com a do comunismo. Nem em advertir que a ação dos
(44) O jornal comunista"Voz da Unidade", sucessor do"Voz Operária" como órgão ofícial do PCB, em seu n." 1, de 30 de março a S de
abril de 1980, faz os mais francos elogios ao
o bem comum como os dedos da mão. O IPT nada diz a esse
IPT:
respeito. O papel da oração e da obser
.... pode ser considerado como um marco de
"O documento 'Igreja e problemas da terra' relevância no trabalho que há cerca de 28 anos a CNBB vem dedicando ao problema da terra,
vância dos Mandamentos da Lei tanto a nível de estudos teóricos como atrav^
de Deus como condições funda mentais para a solução de todos os 190
de atuação prática, com a Pastoral da Terra. A importância do documento se deve, antes de
tudo, ao inequívoco posicionamento crítico em
Posição afim à do comunismo
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
relação ao regime capitalista e em relação ao
Secçõo J
posições progressistas no seio da CNBB".
mo^lo de desenvolvimento econômico que
E conclui: "Ao condenar claramente o
vem sendo imposto ao pais pelos vários gover nos militares. Neste sentido, a votação com a qual o documentofoi aprovado — 172 votos a favor. 4 contra e 4 abstenções — assume um significado especial, já que nunca se havia
capitalismo, o modelo econômico vigente e ao declarar-sefavorável a uma autêntica Reforma Agrária, a 18a. Assembléia Geral da CNBB deu uma valiosa contribuição para. como diz o próprio documento de Itaici. 'a construção do
conseguido reunir tantos votos em torno às
Homem novo. base de uma nova sociedade".
Textos Pontifícios
O princípio de subsidiariedade no problema da delimitação entre as esferas de ação da iniciativa privada e do Estado A posição da Igreja no tocante às relações entre o Estado e a iniciativa privada — considerada esta não só no
campo econômico, como em qualquer outro — não é liberal nem socialista.
Segundo a doutrina liberal, a função do Estado se cinge à esfera política, e só
intervém na esfera privada para a punição
própria iniciativa e indústria, para o conilar à coletividade, do mesmo modo passar para uma sociedade maior e mais elevada o que sociedades menores e
inferiores podiam conseguir, é uma injustiça, um grave dano e perturbação da boa ordem social. O fim natural da
sociedade e da sua ação é coadjuvar os seus
dos crimes, bem como para a manutenção
membros, e não destruí-los nem absorvê-
da ordem ou dos bons costumes. A
los.
doutrina da Igreja reputa minimalista esta
Deixe, pois, a autoridade pública ao
concepção. Segundo a doutrina socialista,afunção
cuidado de associações inferiores aqueles
do Estado, além da esfera política, pode
negócios de menor importância, que a absorviam demasiado; poderá então de
abarcar, em princípio, ti^a a esfera
sempenhar mais livre, enérgica e eficaz
privada. Socialismo eqüivale, pois, a
mente o que só a ela compete,porque só ela o pode fazer: dirigir, vigiar, urgir e
totalitarismo. As diversas correntes socia
listas só divergem entre si quanto à latitude
reprimir, conforme os casos e a necessida
com que convém ao Estado exercer em concreto seu poder, em vista das circuns
de requeiram. Persuadam-se todos os que governam de que quanto mais perfeita
tâncias deste ou daquele país.
ordem hierárquica reinar entre as várias
A posição da Igreja — exposta nos textos a seguir apresentados — evita
agremiações, segundo este princípio da função 'supletiva' dos poderes públicos,
ambos os extremos. Nem socialista, nem
tanto maior influência e autoridade terão
liberal, ensina ela o princípio de subsidia riedade, enunciado especialmente por Pio XI e retomado em expressos termos por
estes, tanto mais feliz e lisonjeiro será o
João XXIII.
Esse princípio também está subjacente
estado da nação".
[Documentos Pontifícios, Vozes, Petrópolis, fase. 3, 5.® ed., 1959, pp. 31-32].
na famosa distinção entre povo e massa, feita por Pio XII em texto incluído nesta Secção.
Com o apoio da massa, reduzida a não mais que uma simples
A mais perfeita ordem hierárquica máquina, o Estado pode impor se define pelo princípio dafunção seu arbítrio à parte "supletiva" dos poderes públicos melhor do verdadeiro povo Encíclica Quadragesimo Annoáe 15 de maio de 1931: Pio XI
Radiomensagem de Natal de 1944:
^"O Estado não contém em si e não Pio XII
**Assim como é injusto subtrair aos
reúne mecanicamente num dado território
indivíduos o que eles podem efetuar com a
uma aglomeração amorfa de indivíduos. 191
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo /
Ele é, e na realidade deve ser, a unidade
aliás, como qualquer outro ramo da
orgânica e organizadora de um verdadeiro
atividade humana — não é por natureza
povo.
uma instituição de Estado;ela é,ao invés,o produto vivo da livre iniciativa dos indivíduos e de seus grupos livremente
Povo e multidão amorfa, ou,como se costuma dizer, 'massa', são dois conceitos
diversos. O povo vive e se move por vida constituídos". própria; a massa é de si inerte, e não pode [Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità ser movida senão por fora. O povo vive da Pio XII vol. XI, p. 63]. plenitude da vida dos homens que o compõem, cada um dos quais — em seu
próprio posto e a seu próprio modo — é A socialização total tornaria uma pessoa consciente das próprias responsabilidades e das próprias convic pavorosa realidade a imagem ções. A massa, ao invés, espera o impulso terrijícante do Leviatã de fora, fácil joguete nas mãos de quem Radiomensagem de 14 de setembro de quer que desfrute seus instintos ou impressões, pronta a seguir, vez por vez, 1952 ao Katholikentag de Viena: hoje esta, amanhã aquela bandeira. Da "Se os sinais dos tempos não enganam, exuberância de vida de um verdadeiro
povo a vida se difunde,abundante,rica,no Estado e em todos os seus órgãos, infundindo-lhes com vigor incessantemen te renovado a consciência da própria
responsabilidade, o verdadeiro senso do
bem comum. Da for^ elementar da massa, habilmente manejada e utilizada, o Estado pode também servir-se: nas mãos ambiciosas de um só ou de vários que as tendências egoisticas tenham agrupado
Pio XII
na segunda fase das controvérsias sociais, em que já entramos,têm precedência(com relação à questão operária, que dominou a
primeira fase)outras questões e problemas. Citemos aqui dois deles: A superação da luta de classes por uma recíproca e orgânica ordenação entre o empregador e o empregado. Pois a luta de classes nunca poderá ser um objetivo da
ética social católica. A Igreja sabe que é
sempre responsável por todas as classes e artificialmente, o mesmo Estado pode, camadas do povo. com o apoio da massa,reduzida a não mais Ademais, a proteção do indivíduo e da que uma simples máquina, impor seu família, frente à corrente que ameaça arbítrio à parte melhor do verdadeiro arrastar a uma socializado total, em cujo povo:em conseqüência,o interesse comum ílm se toiliaria pavorosa realidade a fica gravemente e por largo tempo atingido imagem terrificante do Leviatan. A Igreja e a férida é bem freqüentemente de cura difícil".
travará esta luta até o extremo,pois aqui se trata de valores supremos: a dignidade do
[Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità homem e a salvação da alma". Pio XII. vol. VI, pp. 238-239]. [Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità Pio XIf vol. XIV, p. 314].
Economia normalmente sujeita ao Estado: inversão
da ordem das coisas
O totalitarismo invasor, uma tentação para o Estado Carta de 14 de julho de 1954 à 41.°
Discurso de 7 de maio de 1949 à IX Conferência da União Internacional das
Associações Patronais Católicas: Pio XII
"Não há dúvida de que a Igreja também — dentro de certos limitesjustos — admite
Semana Social da França:
"A fidelidade dos governantes a este
ideal de proteger a liberdade do cidadão e servir ao bem comum será, além do mais, sua melhor salvaguarda contra a dupla tentação que os espreita ante a amplidão
a estatização e julga 'que se pode legitimamente reservar aos poderes pú crescente de sua tarefa: tentação de blicos certas categorias de bens, os que fraqueza, que os faria abdicar sob a
apresentam um tal poderio que não seria pressão conjugada dos homens e dos possível,sem pôrem perigo o bem comum, acontecimentos; tentação inversa de estaabandoná-los às mãos dos particulares' tismo, pela qual os poderes públicos se (Enciclica Quadragesimo Anno — A. A. substituiriam indevidamente às livres S., V. XXIII, 1931,p. 214). Masfazer desta iniciativas privadas para reger de maneira estatização como que a regra normal da imediata a economia social e outros ramos organização pública da economia seria da atividade humana. Ora,se não se pode subverter a ordem das coisas. A missão do hoje negar ao Estado um direito que lhe direito público é com efeito servir o direito recusava o liberalismo, não é menos privado,e não absorvê-lo. A economia — verdade que sua tarefa não é,em princípio. 192
Pio XII
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Secçõo J
assumir diretamente as funções econômi cas, culturais e sociais que dependem de
entre os quais, naturalmente,não cogita de contar-se a si próprio". outras competências; ela consiste antes em [Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità assegurar a real independência de sua Pio XII. vol. XIX, p. 30]. autoridade de maneira a poder conceder a tudo o que representa um poder efetivo e valioso no país uma parte justa de responsabilidade sem perigo para a sua O principio de subsidiariedade própria missão de coordenar e de orientar Encíclica Mater et Magistra de 15 de todos os esforços para um fim comum maio de 1961: superior". "De início, deve-se afirmar que no [Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità campo econômico a parte principal Pio XII, vol. XVI, pp. 465-466]. compete à iniciativa privada dos cidadãos,
quer ajam isoladamente, quer associados de diferentes maneiras a outros para a
Pio XII
O apelo excessivo à intervenção
consecução de interesses comuns.
do Estado conduz à
expostos por Nossos Antecessores, é
ruína o próprio Estado
também necessária a presença operante da autoridade civil, com o fim de promover
Discurso ao VII Congresso da União Cristã dos Chefes de Empresas e Dirigen
retamente o incremento dos bens mate
Contudo, nessa questão, pelos motivos
riais, dirigindo-o para o progresso da vida tes da Itália(UCID)de 7de março de 1957: social e, portanto,em benefício de todos os "Atribuindo a todo o povo a tarefa cidadãos. Essa ação do Estado, que protege, própria, se bem que parcial, de ordenar a economia futura, estamos muito longe de estimula, coordena, supre e completa, admitir que esse encargo deva ser confiado apóia-se no 'princípio de subsidiariedade' ao Estado como tal. Entretanto, ao (A. A. S., XXIII, 1931, p. 203), assim observar o andamento de certos congres formulado por Pio XI na Encíclica Quadragesimo Anno:'Permanece, contu sos, mesmo católicos, em matérias econô micas e sociais, pode-se notar uma do, firme e constante na filosofia social tendência sempre crescente para invocar a aquele importantíssimo princípio que é intervenção do Estado, de modo que se inamovivei e imutável: assim como não é tem por vezes como que a impressão de que lícito subtrair aos indivíduos o que eles esse é o único expediente imaginável. Ora, podem realizar com as próprias forças e sem dúvida alguma, segundo a doutrina indústria, para confiá-lo à coletividade,do social da Igreja, o Estado tem seu papel mesmo modo passar para uma sociedade próprio na ordenação da vida social. Para maior e mais elevada o que sociedades desempenhar esse papel, deve mesmo ser menores e inferiores poderiam conseguir,é forte e ter autoridade. Mas os que o uma injustiça ao mesmo tempo que um invocam continuamente e lançam sobre ele toda a responsabilidade o conduzem' à
grave dano e perturbação da boa ordem.O
fim natural da sociedade e de sua ação é
ruína e fazem mesmo o jogo de certos coadjuvar os seus membros e não destruípoderosos grupos interessados. A conclu los nem absorvê-los* (ibid p. 203)". são é que dessa forma toda responsabili ["Catolicismo" n.® 129, setembro de 1961, dade pessoal nas coisas públicas vem a P- 3]. cessar, e que se alguém fala dos deveres ou das negligências do Estado, refere-se aos ■ Destaques em negrito e subtítulos do deveres ou faltas de grupos anônimos.
autor
193
Joõo XXIII
Secção K
O IPT, novo cavalo de Tróia do comunismo
TEXTO DO IPT
tico-econômico estiver afavor dos lucros do pequeno número de capitalistas, e enquanto o modelo educacional servir de
instrumento de manutenção desse siste Conclusão
105. Fazemos esse pronunciamento exatamente quando se defere hoje à agri cultura uma grave responsabilidade no
atendimento às exigências energéticas al ternativas e à urgência de aumentar nos sas exportações.
ma, inclusive desestimulando a vida rural
e seus valores, então não terá solução verdadeira a situação de injustiça e de exploração de trabalho da maioria.
COMENTÁRIO
Quem ler a primeira frase deste
tópico conceberá a esperança de
106. Receamos que o desempenho que os oportunos ensinamentos de
dessas tarefas sirva de novo pretexto para atropelar os direitos dos humildes, em
cuja defesa assumimos o nosso compro misso de pastores. Esse receio não é
infundado. Entre as formas de neocolonialismo denunciadas por João Paulo II,
aparece hoje como ameaçadora uma orga nização da economia internacional que defere ao Brasil e a outras nações subde senvolvidas a função de fornecedores de
João Paulo II, em Puebla (cfr. Secção G, nota 25) tenham por fim a merecida repercussão no IPT: a frase fala, com efeito, não só em mudança de "estrutura*', como também de "mentalidade".
Parece ser a porta aberta para valorizar a missão religiosa e mo
alimentos e matérias-primas de origem agrícola às nações que controlam aquela
ral do Clero.
economia. Nesse contexto, grandes estra
pois. Esta mudança de mentalidade
tégias intensivas de capital reforçariam a condição de dependência da economia
Mas a desilusão vem logo de
é focalizada especificamente do ponto de vista dos problemas so ciais e econômicos,com subestima 107. Entendemos que aproblemática ou preterição dos magnos assun dos trabalhadores rurais e urbanos e a tos espirituais e religiosos para os problemática da terra só terão solução verdadeira se forem mudadas a mentali quais, sobretudo, foi instituída dade e a estrutura em que funciona a por Jesus Cristo a Santa Igreja nossa sociedade. Biquanto o sistema polí Católica Apostólica Romana. brasileira e haveria de precipitar o proces
so de proletarização dos nossos homens do campo.
195
Esperança que se esvai
Título I
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
TEXTO DO IPT
COMENTÁRIO
Encerrada a análise do IPT, 108. Por outro lado, reconhecemos que a experiência e a criatividade de nosso cumpre dizer, não mais quanto a povo que cultiva a terra podem indicar este ou àquele texto, mas aos caminhos novos para o aproveitamento
de tecnologias alternativas e de formas comunitárias e cooperativas de uso dos instrumentos de trabalho.
109. Essa sociedade será construída
tópicos todos considerados em seu conjunto: suas omissões, lacunas, ambigüidades ou erros jogam sis
As omissões, la
cunas. ambigüi dades e erros do
IPT Jogam siste maticamente con
tra a propriedade
tematicamente em favor de uma
com o esforço de todos, com a necessária concepção do que ele chama o participação dos jovens, com a união e "problema da terra", em que o organização dos fracos, aqueles que o mundo tem por desprezíveis e que Deus papel do trabalho é hipertrofiado escolheu para confundir e Julgar os pode a ponto de se tomar exclusivo, ou rosos (cf. ICor l,26ss).
110. Finalmente, expressamos nosso especial apoio e estímulo a todos os animadores de comunidade, agentes pas torais e membros de organismos e entida
(talvez!) quase tanto. E o papel da propriedade é explanado de ma neira a que ele se tome inteira ou (talvez!) quase inteiramente vazio. Assim, o IPT é, a seu modo,
des que, ao longo dos últimos anos, realizaram tarefas de Pastoral da Terra, um novo cavalo de Tróia. Na Pastoral Indigenista, Pastoral Operária e aparência anódino, ele contém no
outrasformas de PastoralJunto aos mar ginalizados e somamos nosso trabalho ao
bojo o inimigo armado, pronto a atacar, a saquear e a incendiar. Ou das outras Igrejas Cristãs unidas pelo seja, seu texto está inçado de mesmo ideal. imprecisões, lacunas, omissões e 111. Pedimos ao Senhor que nos ilumine,e nos dêforça e coragem para pôr erros que, difundidos com a chan
em prática os compromissos quefizemos. 112. Pedimos aos nossos irmãos na
cela da CNBB em todo o País, tende a derrubar, em nome da
Religião Católica, a propriedade privada. O que os comunistas, desde 1917 até nossos dias,jamais conse ajude a darmos aquele testemunho de guiram, nem haveriam de conse unidade que Be mesmo pediu na hora de oferecer sua vida por nós (cf. Jo 17). guir em nome do ateísmo...
fé e na esperança, os cristãos todos de nossas comunidades, que assumam conos co esses compromissos. A tarefa será de toda a Igreja. Que o Senhor nosfortaleça e nos
Textos Pontifícios
Os ensinamentos de Leão XIII sobre os problemas sociais e econômicos:
síntese promulgada pelo Papa São Pio X Tendo em vista a dramática confusão
de idéias sobre problemas sociais e econômicos, a qual se vai alastrando pelos
Na sociedade deve haver
meios católicos com evidente vantagem
ricos e pobres unidos por um laço comum de amor
para a expansão do comunismo, é oportuno divulgar uma síntese dos princípios ensinados sobre a questão por
Deus a estabeleceu, é formada de
Leão Xlll. Condensou-os o grande e santo Pontífíce Pio X em seu Motu proprio Fin
elementos desiguais,como desiguaissão os membros do corpo humano; tomá-los
"1 — A sociedade humana, tal qual São Pio X
dalla prima de 18 de dezembro de 1903, todos iguais é impossível:resultaria disso a própria destruição da sociedade humana sobre a Ação Popular Católica: 196
o documento Igreja e problemas da terra é, a seu modo, um novo cavalo de Tróia.
Na aparência anódino, ele contém no bojo o inimigo armado, pronto a atacar, a saquear, a incendiar. Ou seja, seu texto está inçado de imprecisões, lacunas, omissões e erros...
s
A 18.* Assembléia Geral da CNBB aprova a Reforma Agrária em Itaici (SP).
... que, difundidos com a chancela da CNBB em todo o País, tendem a derrubar, em nome da Religião Católica, a propriedade privada. O que os comunistas, desde 1917 até nossos dias, jamais conseguiram, nem haveriam de conseguir em nome do ateismo...
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
(Enciclica Quod Apostolici Muneris). não os expor às seduções corruptoras e aos II — A igualdade dos diversos perigos do escândalo; não os desviar do membros sociais consiste somente no fato espírito de família e do amor da economia; de todos os homens terem a sua origem em não lhes impor trabalhos desproporcionaOeus Criador;foram resgatados por Jesus dos às suas forças ou pouco convenientes Cristo e devem, segundo a regra exata dos para a idade ou para o sexo (EncícUca seus méritos, ser julgados por E>eus e por
Ele recompensados ou punidos (Enciclica Quod Apostolici Muneris). III — Disto resulta que, segundo a ordem estabelecida por Deus, deve haver
na sociedade príncipes e vassalos,patrões e proletários, ricos e pobres, sábios e
ignorantes, nobres e plebeus, os quais todos, unidos por um laço comum de amor, se ajudam mutuamente para alcançarem o seu fím último no Céu e o seu bem-estar moral e material na terra
(Enciclica Quod Apostolici Muneris). IV — O homem tem sobre os bens da
terra, não somente o simples uso,como os brutos, mas também o direito de
Rerum Novarum). IX — Os ricos e os que possuem têm obrigação de caridade de socorrer os
pobres e indigentes, segundo o preceito evangélico. &te preceito obriga tão gravemente que dele serão exigidas contas de maneira especial no dia do Juízo,como disse o próprio Jesus Cristo (Mt. 25) (Enciclica Rerum Novarum). X — Os pobres, por conseqüência,não se devem envergonhar da indigência, nem desprezar a caridade dos ricos, olhando para Jesus Redentor,que,podendo nascer entre as riquezas, Se fez pobre para enobrecer a pobreza e enriquecê-la de méritos incomparáveis para o Céu
propriedade, tanto a respeito das coisas (Enciclica Rerum Novarum). XI — Para a soluço da questão que se consomem com o uso,como das que o uso não consome (Enciclica Rerum operária muito podem contribuir os Novarum).
V — A propriedade particular, fruto do trabalho ou da indústria,de cessão ou de
doação, é um direito indiscutível na natureza, e cada um pode dispor dele a
seu arbítrio (Enciclica Rerum Novarum). VI — Para resolver a desarmonia entre
capitalistas e os operários com instituições
destinadas a socorrer as necessidades e a
aproximar e reunir as duas classes. Tais as sociedades de socorros
mútuos e de
seguros particulares, os patronatos para crianças e, sobretudo, as corporações de artes e ofícios (Enciclica Rerum Novarum).
os ricos e os proletários é preciso distinguir a justiça da caridade. Só bá direito de reivindicação, quando a justiça for lesada (Enciclica Rerum Novarum).
XII — A este fim visa especialmente a ação popular cristã ou democracia cristã, com as suas obras múltiplas e variadas.
VII — O proletário e o operário têm as seguintes obrigações de justiça: fornecer por inteiro e fielmente todo o trabalho contratado livremente e segundo a eqüidade; não lesar os bens nem ofender as
compreendida no sentido já fixado pela autoridade,o qual está muito afastado do sentido da social democracia [nome com
violentos na defesa dos seus direitos e não
da fé e da moral católica e sobretudo o
transformar as reivindicações em motins (Enciclica Rerum Novarum). VIII — Os capitalistas e os patrõestêm
nenhuma
Mas esta
democracia cristã deve ser
que se designavam então a si mesmos, conjuntamente, o socialismo e o pessoas dos patrões; abster-se de atos comunismo]e tem por base os princípios princípio de não prejudicar de maneira o
direito
inviolável
da
as seguintes obrigações de justiça: pagar o justo salário aos operários; não causar
propriedade particular (Enciclica Graves de CommuniY\ \Actes de S. S. Pie X, Bonne Presse,
prejuízo às suasjustas economias,nem por
Paris, tomo I, pp. 109-110].
violências, nem por fraudes, nem por usuras evidentes ou dissimuladas;dar-lhes
liberdade de cumprir os deveres religiosos;
198
■ Destaques em negrito e subtítulos do autor
Abrindo os olhos do leitor
Um marco a mais na luta de meio século, do autor e da TFP
Ao fim deste estudo, deseja o autor formular algumas palavras de esclarecimento e de esperança. Sem dúvida, o efeito mais ime diato do presente livro consiste em abrir os olhos do leitor para a influência nociva que sobre ele possam exercer, quer a leitura do IPT, quer certos ventos que so pram a partir de organismos da CNBB, ou ainda de veículos de comunicação social inspirados pe la "esquerda católica". Com essa atitude, tomada pelo autor não só em nome pessoal, como também enquanto Presi
dade, se desenvolve sempre — e não podia deixar de ser assim — sob o signo da fidelidade e do respeito. Pois aquela e este são integrantes da tradição cristã a que a TFP serve. Assim, não se veja no presente
dente do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da
da Sagrada Hierarquia. Valha pois o presente livro
estudo uma invectiva contra a
CNBB, nem contra qualquer per sonalidade católica, eclesiástica ou leiga. Divergir de idéias ou de
metas não importa em ataque
pessoal. É apenas enunciar e justi ficar seu próprio pensamento, guardando a consideração e a fídelidade devidas a todo membro
Tradição, Família e Propriedade, como um cortês convite ao diá o presente livro constitui um mar logo com quem discorde do pensa co a mais na luta de meio século, mento aqui afirmado (1). É o convite enunciado sem que vem sendo levada a cabo no Brasil — e progressivamente em (1) Em sã lógica, a aceitação desse convite onze outros países — em defesa da deve ser tanto mais cordial quanto mais entu civilização cristã, contra a agres siasta do Concilio Vaticano II seja um católico são ideológica, psicológica e polí de esquerda. Pois diz a Constituição Pastoral tica do comunismo internacional. Sob o signo da fidelidade e do respeito
Essa luta, que em seu aspecto
positivo importa na apologia e no incremento de três dos valores
hoje em dia mais combatidos pelo possante adversário, ou seja, a tradição, a família e a proprie
Gaudium et Spes: "Promovamos no seio da própria Igreja a mútua estima, respeito e concórdia, admitindo
toda a diversidade legitima, para que se estabe leça um diálogo cada vez maisfrutífero entre todos os que constituem o único Povo de Deus, sejam os pastores, sejam os demais cristãos. O que une osfiéis é com efeito muito maisforte do que aquilo que os separa. Nas coisas
201
Cortvite <03 diálogo
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
muita esperança de que seja acei da opinião nacional. Constituemto. Pois nestes cinqüenta anos, a no todos os que, por fidelidade à TF? e o autor deste estudo só doutrina tradicional da Igreja, por encontraram uma oportunidade preocupações patrióticas de índole para o diálogo elevado, franco e sociológica ou econômica, ou en cordial. Esta oportunidade, é pre fim pela defesa de seus legítimos ciso que se diga, deveram-na a S. direitos, se opõem à Reforma Emcia. o Cardeal D. Paulo Eva- Agrária reivindicada pela CNBB, risto Ams. Circunstâncias infe
Um método: al-
ternaçõo de silên cios plúmbeos e estrondos publi citários
bem como à Reforma Urbana
lizes impediram porém que esse com que esta já acena. diálogo prosseguisse. Talvez se A esses múltiplos opositores apresente algum dia ocasião para da Reforma Agrária, a TFP con tornar isto público. vida para que, todos, somemos Fora disso, a TFP — e o autor forças, numa nobre frente única deste estudo — a cada obra que cujos componentes tenham em publicam só têm encontrado dian vista — neste momento crítico da te de si uma alternação de silên vida do País — tão-só o que nos cios plúmbeos, simulando des une nesta matéria,e releguem para dém, ou de estrondos publicitá um provisório olvido tudo quanto rios carregados tão-só de incre- em outras matérias eventualmente pações desprovidas de interesse nos separe. doutrinário. Queira Nossa Senhora Apa Tal não impediu, aliás, que o recida, Rainha do Brasil,conceder público brasileiro tivesse dado a esse esforço comum sua pro constantemente a esses livros uma
acolhida incomum (2).
telo inestimável. Com essa sú plica ilca concluído o presente estudo. Pois a TFP está bem certa
Frente única con
tra a Reforma Ágrária
de que o êxito dos esforços que assim se coliguem não se conse
Tudo isto posto,cumpre acres centar que o presente livro tam bém importa em cordial e aten cioso convite a outro largo setor
com a ajuda d Ela, não há êxito que não se possa esperar...
necessárias reine a unidade, nas duvidosas a
rarem e promoverem o diálogo com eles"
guirá sem Ela. E também de que,
liberdade, em tudo a caridade"{Compêndio do (Compêndio do Vaticano II, Vozes, Petrópo Vaticano II. Vozes, PetrópoUs, 10." ed., 1976, Us, 10." ed., 1976, n.® 13). n.» 92).
E para os Srs. Bispos, o decreto Christus Dominus, preceitua até que tomem a iniciativa
(2)Os livros difundidos pela TFP alcançam com facilidade várias edições e dezenas de
desse diálogo: "É principalmente tarefa dos
milhares de exemplares vendidos pelos sócios e cooperadores da entidade diretamente ao pú
Bispos irem ao encontro dos homens, procu
blico.
202
Sob a proteção de Nossa Senhora
Aparecida
Queira Nossa Senhora Aparecida, Rainha do Brasil, conceder ao esforço comum de todos os anti-agro-reformistas sua proteção inestimável, Com esta súplicafica concluído o presente estudo. Pois a TFF está bem certa de que o êxito dos esforços que assim se coliguem não se conseguirá sem Ela. E também de
que, com a ajuda dEla, não há êxito que não .
se possa esperar...
Ls .
B
mi^||
^r centenas de só
cios e cooperadores da TFP
chegam a Apa recida em
ro
maria, após ha ver caminhado
22 quilômetros, em ato de desa
gravo pelo atentado sacrDe-
go que desfez em pedaços a
Imagem da Rai nha do Brasil, em
maio
de
/i ^
•VjV
-tf--
Documentação I
Em grave risco o instituto da propriedade rural: os livros Reforma Agrária —Questão de Consciência e Declaração do Morro Alto — A TFP intervém
na controvérsia agro-reformista, no Brasil nos anos 60
1960
caráter pessoal pelos componentes do grupo de **<I^tolicismo**, só pouco a pouco e organicamente será assumido pela TFP.
Fundação da TFP
26 de julho. — Funda-se em
Outubro. — Artigo de lança 1. leira de Defesa da Tradição, 2 mento do livro Reforma Agrá-
Artigo de lança
* ria — Questão de Consciência, Família e Propriedade, entidade de caráter cultural e cívico, de inspiração escrito pelo Prof. Plinio Corrêa de católica. A Sociedade tem, ainda, Oliveira especialmente para "Cato objetivos filantrópicos. A iniciativa licismo**.
ciência
São Paulo a Sociedade Brasi
do ato é do Prof. Plinio Corrêa de
Oliveira, líder católico de renome internacional, com larga folha de serviços prestados à Igreja e ao País.
3^ o10best-seller de novembro. — Sai a lume Reforma Agrária
mento de Refor
ma Agrária — Questão de Cons
Sai a lume RA-
QC
— Questão de Consciência, de
São sócios fundadores os elementos
D. Antonio de Castro Mayer, Bispo
que constituíam então a direção do grupo de "Catolicismo"(mensário de cultura que se edita sob a égide do Bispo de Campos, D. Antonio de Castro Mp yer), o qual, por sua vez, tivera ori ,em no antigo grupo do
de (Tampos, D. Geraldo de F^oença
ram no decurso do debate travado em
4 16 de novembro. — A convite
Sigaud, Bispo de Jacarezinho, Plinio Corrêa de Oliveira e Luiz Mendonça de Freitas. Tem início a grande luta doutrinária contra o agro-socialismo. Quatro edições no Brasil, com trinta "Legioná lo"(na época semanário ofi mil exemplares. Uma edição na Ar cioso da Arquidiocese de São Paulo). gentina, uma na Espanha e uma na As primeiras atividades da TFP ColômMa. Total das sete edições: 39 mil exemplares. contra o comunismo se desenvolve
todo o País a propósito da reforma Os autores de da Comissão de Economia da RA-QC na As agrária. De tal debate participaram os Legis * Assembléia Legislativa de São sembléia membros do grupo de **Catolicismo** lativa de São bem como os insignes Prelados de Paulo, os autores de RA-QC são Paulo (Dampos e Jacarezinho, respectiva convidados a.falar sobre o projeto de mente D. Antonio de Castro Mayer e Revisão Agrária do Governo esta D. Geraldo de Proença Sigaud. O dual. Animados debates no salão do conjunto de atividades exercido em plenário. 205
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
O ^iscopado paulista toma posição
contra
RA-QC
Esclarecimento
do Bispado de Campos
Promoção de D.
Sigaud a Arce
5^ 5madedec^zembro. — Em prograTV cercado de sensacionalismo, o Bpiscopado pau lista dá a público um comunicado, lido por D. Hélder, em favor do projeto socializante de Revisão Agrá ria. "Condenação** indireta do livro RA-QC. O comunicado provoca rea ções desfavoráveis ao Bpiscopado em largos setores da opinião pública, e nos meios rurais em geral.
6^ 20 de dezembro. — O Secretário do Bispado de Campos,
Título I
dades: adesão escrita de 1.200 univer
sitários paulistas e 470 curitibanos.
n ^ (RS) Julho.o—abaixo-assinado Inicia-se em Bagéde 27 mil agricultores em re púdio ao agro-reformismo confiscatório e socialista. A moção contém um ato de solidariedade às teses de
RA-QC. Bm julho de 1963, os auto res do livro fazem a entrega das 27 mil assinaturas ao Congresso Na cional.
* Pe. Bloes Netto, publica um 't ^ 6 de agosto. — No artigo
Diamantina D. Geraldo de
*1 ^
24 de outubro. — Debate
^^ na TV Tupi de São Paulo
entre o Prof. Plinio Corrêa
de Oliveira e o deputado pedecista e ex-Prefeito de Brasília, Sr. Paulo de Tarso. Tema: Ct^italismo e socia
ção contra RAQC. Itíplica do Prof. Plinio Cor rêa de Oliveira
Repto aos econo
7^ 31Sé depromove dezembro. — A Santa a Arcebispo de Proença Sigaud, um dos autores de RA-QC.
Artigos do escri
tores favorável à RA-QC
Esclarecimento mostrando que o ensi Procura-se um economista mistas para que namento dos Bispos não é infalível, e, favorável à reforma agrá refutem RA-QC no caso de discrepância de doutrina ria, publicado na imprensa diária, o entre eles, o fiel deve se conformar ao Bng. Plinio Vidigal Xavier da Sil ensinamento pontifício. veira, sócio-fundador da TFP, repta os partidários da reforma a que refu tem a parte econômica de RA-QC.
bispo
tor Gustavo Cor-
Abeàxo-assinado
de 27 mil agricul
1961 lismo: qual a posição da Igreja? 8Jmeiro. — Bm uma série de M29e30de outubro. — Con^ três artigos para a imprensa ^ ferências do Prof. Plinio diária, o escritor Gustavo Corção ataca com veemência RA-QC. Responde o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira,com uma série de três artigos também na imprensa diária, nos quais mostra que o ilustre jornalista havia
convite da União Estadual dos Estu dantes e dos Diretórios Acadêmicos
o livro com a devida atenção.
muito concorridas e aplaudidas.
9^ Goiânia, Fevereiro.D.—Fernando O Arcebispo de Gomes,
"1 ^
Corrêa de Oliveira em Belo
Horizonte sobre reforma agrária, a
Debate
rui
TV
entre o Prof. Pli nio Corria de Oliveira e o Sr. Paulo de Tarso
Conferências do Prof Plinio Cor rêa de Oliveira em Belo Hori zonte
de Engenharia, Medicina, Odonto-
lo^a e Farmácia da Universidade de formulado suas críticas sem antes ler Minas Gerais. As conferências foram
Artigo
de
D.
Fernando Gomes
contra RA-QC. Réplica de D. Antonio de Cas
tro Mayer
Manifesto contra atttação comunoprogressista nas Faculdades
13 de dezembro. — Edital
de Campos sobre
titulado A Igreja e a inva
a invasão de terras
ataca RA-QC na revista de sua
Arquidiocese. Replica D. Antonio de são de terras no Estado do Rio. Nele Castro Mayer pelas páginas de "Ca se proclama a iliceidade da invasão tolicismo**. O Arcebispo tréplica e das propriedades e a legitimidade da "Catolicismo** se incumbe de mostrar defesa do proprietário contra essas que a resposta de D. Fernando Go
invasões, máxime nos casos de clara
mes não desfez os argumentos do Bispo de Campos.
omissão da Polícia.
*1 f\
Abril. — Universitários do
1962
X Vj# gnipo de "Catolicismo** de São Paulo e Curitiba lan
çam manifesto de repúdio à atuação comuno-progressista de núcleos estu dantis de esquerda em diversas Facul 206
Edital da Diocese
2^ J ^ da EHocese de Campos in
16^
3 de março. — Comuni-
cado O livro "Reforma Agrária — Questão de Cons-
Documentação I
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Declarações Cardeal
contra
do
Motta
RA-QC
Réplica dos dois Bispos co-autores do livro
Carta aberta dos autores de RA-
ciência" e o Efiiscopado Nacional, no
de São Paulo, feitas contra RA-QC munista, de D. Geraldo de Proença na imprensa internacional. O Purpu- Sigaud, e 110 mil exemplares (cinco edições) do Catecismo Anticomunis rado nada responde. ta, igualmente da autoria de D. Ge raldo Sigaud. de /L4-gC dirigem,através
n9de junho. — Os autores
QC ao Presidente Goulart
cesanos contra os ardis da seita comu
qual o Arcebispo de Diamantina e o nista, de D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos refutam declara treze mil exemplares (duas edições) ções do Cardeal Motta, Arcebispo da Carta Pastoral sobre a seita co
* da imprensa diária, carta aberta ao Presidente João Goulart
sob o titulo A Reforma Agrária e o caráter sagrado do direito de proprie dade, -apontando as graves con^qüências da reforma constitucional pretendida pelo Governo, que tor naria possível a desapropriação das terras por preço inferior ao justo valor, com pagamento em títulos da dívida pública resgatáveis a longo
1963 ■ Novas tomadas de atitude em face
do projeto de reforma constitucional atentatória ao direito de propriedade, encaminhado ao Congresso pelo Governo Goulart:
^^
prazo.
21 de março. — Categórico
Telegrama
telegrama dos autores de
autores de RA-
* RA-QC ao Presidente da Interpelação JUC paulista
Julho. — Por iniciativa dos República, repudiando o intento de
*1 O
Q
universitários de **Catoli-
dos
QC ao Presidente Goulart
reformar a Constituição.
* cismo** em Belo Horizonte, seiscentos universitários dessa Capital interpelam a JUC paulista a respeito de uma ambígua **terceira posição** nem capitalista nem comunista por ela assumida. Silêncio da JUC. Esvaziamento de
greve estudantil em
Belo
Hori
zonte
^^
9 <k maio. — Os Bispos
^
co-autores de RA-QC pu-
* blicam o edital Reforma
ma constitucional
Constitucional e "Reformas de ba
* ^uram** em Belo Horizon te a greve subversiva decretada pela UNE em todas as Faculdades do País.
Goulart.
Agosto. — Universitários do grupo de "Catolicismo**
a
se": esclarecimentos doutrinários, re
batendo a posição insustentável do ponto de vista da doutrina católi ca, assumida pela cúpula da CNBB, ao apoiar a reforma constitucional pretendida pelo Governo João
1 IW
Edital sobre
pretendida refor
Reação exacerbada e inútil dos pi
quetes grevistas. O movimento pare-
Julho. — A TFP assume
dista se esvazia e o mito da UNE é
o conjunto de atividades pública da TFP
deflacionado na capital mineira.
Início da atuação
até então exercidas a título
pessoal pelo Prof. Plinio Corrêa de Manifesto na Fa culdade de Direi to de São Paulo:
Dez
afirmações
anticomunistas
^f\
9 de setembro. — Ao fim Oliveira e pelos colaboradores que
jr\j das convulsões estudantis,
congregara sob a bandeira do jornal
* universitários do grupo de
"Catolicismo**. Tem início assim a
"Catolicismo** em São Paulo lançam nas Arcadas o manifesto Dez afir
atuação pública da TFP.
19 de julho, — Os quatro mações anticomunistas, proclamando autores de RA-QC lançam sua posição doutrinária a respeito dos * o manifesto A lavoura bra acontecimentos que sacudiam o Brasil sileira à beira da derrocada socia e o mundo naqueles dias. lista — Apelo ao Congresso Nacional, ^ 't 1962. — O grupo de "Ca- apontando os aspectos de totalita
25
Cartas Pastorais
de D. Mayer e de D. Sigaud contra aseita comunista.
Catecismo comunista
anti
X I
tolicismo** inaugura neste rismo agrário, atentatório ao direito * ano o sistema de venda de de propriedade, constantes do substi obras nas ruas, diretamente ao pú tutivo Afrânio Lages ao projeto de blico. São difundidos até o íim de reforma agrária do Deputado Milton 1963, 11.500 exemplares(três edições) Campos. Aprovado no Senado, o da Carta Pastoral prevenindo os dio substitutivo foi derrotado na Câmara. 207
Manifesto
dos
autores de RA-
QC sobre o subs titutivo Afranio Lages
Divulgando Ca t
... „ i. r
tolicismo e o
bras doutriná rias em Ubera
ba (MG).
Além de intensa atuação doutrinária anticomunista, a TFP desenvolve também uma ação em favor dos pobres, inspirada na justiça e na caridade cristãs. Distribuindo presentes de Natal aos favelados em Sâo Paulo.
Família e Propriedade são dois pilares sobre os quais a civilização católica nasceu e prosperou, A TFP, em face da maré montante divorcista, opôs vigorosa resistência em campanhas que mostraram que o divórcio não contava com a popularidade que a propaganda lhe atribuía.
Em 1975, difu são da Carta Pastoral Pelo casamento
in
dissolúvel,
de
D. Antonio de
Castro Mayer. Aspecto da cam panha em São Paulo.
■
Titulo I
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Interpelação ao deputado Franco
^
/«//lo. — Universitários do
y Q grupo de "Catolidsmo" lan-
• Esta e outras atitudes anteriormen
te tomadas pelos autores de RA-QC e
* çam em Belo Horizonte pela TFP ao longo da luta contra as
Montoro
uma interpelação ao deputado pede- "reformas de base** em geral, e a cista André Franco Montoro, a res
reforma agrária em particular, con
peito da nebulosa 'Herceira posição*', tribuíram decisivamente para a for por ele assumida em entrevista à mação do clima ideológico que propi imprensa. Adesão de 7.400 univer ciou, por sua vez, a Revolu^o de 64. sitários de vários Estados, a esta
interpelação. Resposta evasiva do Ort Prof. Franco Montoro através da
yW
imprensa. Cem universitários da Fa
^ abril. — Os autores de RA'QC publicam pela * imprensa e enviam aos
membros do Congresso Nacional o es de São Paulo pedem ao parlamentar tudo A Reforma Agrária Aniz Badra-
Estudo dos auto
res de RA-QC: Janguismo sem Jango
culdade de Direito da Universidade
resposta clara e objetiva. Silêncio do Ivã Luz: Janguismo sem Jango, em que denunciam manobra solerte para fazer aprovar lei de reforma agrária fortemente dirigista e atentatória ao direito de propriedade. O projeto foi sustado no Senado, depois de ter sido aprovado na Câmara.
deputado Montoro.
1964 Abaixo-assinado contra a CUTAL
^ Janeiro. — Abaixo-assinay / do de repúdio à realização ^(\ jll
* do Congresso comunista da CUTAL (Central Única de Trabalha
dores da América Latina), em Belo Horizonte ou em qualquer parte do
Brasil. Sob a inspirado da TFP, em dois dias, universit^os, estudan tes secundários, comerciários e ope
rários de Belo Horizonte, alguns dos
Outubro. — Os oautores de iL4-QClançam livroDc-
Declaração
do
Morro Alto
claraçõo do Morro Alto, no qual apresentam um programa
positivo de política agrária sem eiva de socialismo. Duas edições, 22.500 exemplares.
■ Tomadas de posição em face dos
quais já eram e outros vieram a ser projetos de reforma constitucional e sócios ou cooperadores da entida de, coletam trinta mil assinaturas; no Rio e em Curitiba, mais 32 mil assinaturas. O Congresso da CUTAL
de Estatuto da Terra:
^ -l j
* senadores, do estudo O di
realizou-se em Brasília, constituindo um verdadeiro fracasso.
reito de propriedade e a livre ini ciativa no projeto de emenda cons titucional n.° 5/64 e no projeto de Es
Interpelação à Ação Católica de
^O
Belo
* são de católicos mineiros autores de RA-QC analisam os fortes promove uma interpelação à Ação traços socialistas do referido projeto. Católica de Belo Horizonte para que
Horizonte
Março-abril. — Com o a-
4 de novembro. — Distribuição entre deputados e
conús-
defína com clareza sua posi^o ideo
formas de base** do Governo Gou
^
24 de dezembro. — Aprovados a emenda constitu-
* cional e o Estatuto da Ter ra, a TFP publica o Manifesto ao
cos subscrevem o abaixo-assinado.
povo brasileiro sobre a Reforma Agrdria, no qual consigna sua cons
Silêncio constrangido da Ação Ca
ternado diante do fato e reitera seu
tólica.
pensamento sobre a matéria.
lart. Em 38 dias, 209 mil católi
210
Estatuto da Terra
tatuto da Terra. Neste documento, os
lógica, e justifique em termos de j doutrina católica seu apoio às **re-
Estudo (hs auto
res de RA-QC sobre oprojeto de
Manifesto sobre
a aprovação do Estatuto da Terra
Documentação II
O direito de propriedade e a livre iniciativa no projeto de emenda constitucional 5164 e no projeto de Estatuto da Terra
coletividade. Importa isso em esque cer que é, em última análise, de
I. Introdução: o direito de propriedade e a livre iniciativa, direitos da
indivíduos que se constitui a socie dade. Tudo quanto engrandece o indivíduo engrandece a sociedade. E
reciprocamente.
Essas considerações bastam para
pessoa humana e princípios mostrar que velar pela propriedade privada e pela livre iniciativa implica fundamentais da em velar por elementos fundamentais civilização cristã do bem comum. Os autores do presente estudo desejam esclarecer preliminarmente o
alcance do duplo critério sob o qual consideram os projetos de Estatuto
Mas, dir-se-á, quando ocorre con flito entre os direitos do indivíduo e
da Terra e da correspondente emenda constitucional, ora em curso no Con gresso Nacional. Não é raro ouvirem-se, sobre a
da sociedade, é cabível velar por
matéria, considerações segundo as
chamados a cumprir sua função so
quais o direito de propriedade cons
cial. Pois todo direito individual — e
aqueles e não por estes? Nos casos em que tal conflito ocorre, os direitos individuais são
tituiria um privilégio pessoal, oposto
não apenas o de propriedade — tem
por natureza ao bem comum. E a livre iniciativa seria, na mesma ordem de
uma função social a cumprir.
idéias, uma forma de atividade vol
ção a fazer. E que a verdadeira
Mas ainda ^ui há uma pondera
tada fundamentalmente para o bem
soluço em casos de conflito não
do indivíduo, mas esquecida por is
consiste em imolar as pessoas em holocausto à sociedade, ou permitir que esta se dissolva para não sacri
so mesmo dos interesses da coleti vidade.
O defeito de ambas essas maneiras
de ver está em que consideram o
ficar as pessoas. Quem fala em função fala em órgão. A função social de um direito
indivíduo, com suas posses e suas liberdades, como um perigo para a individual está para este como qual211
Título /
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
quer função está para o respectivo que nada têm de comum com o órgão. Nestas condições, o ponto de liberalismo desenfreado da Revolu equilíbrio consiste em que o órgão ção Francesa e das escolas econô execute plenamente sua função, micas do século XIX, são infensos mas esta não mutile nem extenue o
não só os liberais, raros em nossos
órgão.
dias, como as pessoas de formação
É o que objetivamos com os pre jetos de emenda constitucional e de
consciente ou subconscientemente so cialista. Tendem estas cada vez mais a ver
Estatuto da Terra.
no progressivo dirigismo estatal a
sentes reparos e sugestões aos pro
normalidade da vida. O homem, elas
o vêem, sempre mais, agindo quando a lei e o Estado mandam agir e Digamos algo agora a respeito da parando quando eles mandam parar. livre iniciativa. Sendo o homem um ente dotado
Esta tendência aflora em vários dis
positivos do Estatuto da Terra, que de inteligência e vontade, está em sua adiante analisaremos. Ainda aí há, para a consciência natureza prover por si mesmo à pró pria subsistência. Este é o funda cristã, um justo equilíbrio a preservar mento do direito do homem à livre entre livre iniciativa e Poder público. iniciativa. Quando se lhe nega esse direito, ele é um escravo.
Esse direito, como todos os ou tros, tem suas legitimas limitações:
Velando por que a propriedade privada e a livre iniciativa não sejam 1. Ele não pode ser exercido con mutiladas pela emenda constitucional trariamente aos direitos de terceiros e pelo Estatuto da Terra, cumpri ou da sociedade; 2. Nenhum homem é capaz de
mos um dever de nossa consciência cristã.
A livre iniciativa e a propriedade
prover só por si a todas as suas privada são princípios basilares da necessidades. No que ele não se baste, civilização cristã. Encontram elas fun damento na própria lei de Deus.
deve auxiliá-lo subsidiariamente a fa
mília. No que esta não baste a si Se violentar a consciência da me própria, deve auxiliá-la o município. nor e mais obscura das pessoas traz E assim por diante se chega, de ação para quem sofre e para quem pratica subsidiária em ação subsidiária, até o a violência conseqüências imprevi Estado (ou União, na atual estrutura síveis e das piores, o que se dirá dos política do Brasil). É o que se chama efeitos que podem advir da imposição o princípio de subsidiariedade,esplen de uma lei — antes diríamos de todo didamente desenvolvido na Encíclica um código rural — que violente a consciência cristã de toda uma nação, Mater et Magisíra. da mais populosa nação católica da A ação do indivíduo só deve ser coarctada quando comprovada e gra
terra?
O Poder público se verá obrigado
a desenvolver uma ação cada vez mais ação dos grupos e órgãos subsidiá rígida para, ao longo dos anos, ir rios, de si, não é feita para coarctar sujeitando a Nação ao molde que sua mas para completar a ação individual. consciência repele. Com isto se dete ^tá na índole desta doutrina ad riorará progressivamente nossa vida mitir que habitualmente os homens pública, nossas instituições tomarão sabem exercer com suficiente capaci uma fisionomia sombria e draconia dade as profissões a que se dedicam,e na, a que é tão avesso o feitio afável e que grosso modo, ressalvadas as até carinhoso do brasileiro, e com situações excepcionais, a serem com tudo isto só poderá lucrar a dema provadas em cada caso, o exercício gogia que a imensa maioria de nosso reto dessas miríades de atividades povo repudiou formalmente através individuais realiza o bem comum. do glorioso movimento de 31 de Infelizmente, a esses conceitos. março. vemente nociva ao bem comum. A
212
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Cortsiderações doutrinárias
II. O direito de propriedade no projeto de emenda constitucional w.® 5164
Documentação II
homens, para que estes se servis sem deles habitualmente por apro priação. "Se é licito ao homem apropriarse desse modo dos bens que existem, sem dono, na natureza, e consumi-los,
pelo mesmo motivo lhe é permitido e no projeto apropriar-se destes bens, já não para de Estatuto da Terra os consumir, mas para fazer deles instrumento de trabalho. Assim aque Segundo a doutrina católica, o le que se apropria de um peixe, não direito de propriedade,em seus vários para o comer, mas para usá-lo como
aspectos — isto é, a propriedade dos isca. Esta verdade é ainda maisfácil bens, e dos instrumentos e fatores de perceber quando alguém toma um necessários à sua produção — não objeto inapropriado e sem utilidade, resulta de uma concessão do Estado, um silex, por exemplo, e, afiando-o, mas da ordem natural das coisas, lhe confere uma utilidade que não posta por Deus.
tinha. Pois esta utilidade nova do
As seguintes considerações expli cam a gênese e a legitimidade do direito de propriedade: "Todo ser vivo é dotado por Deus de um conjunto de necessidades, de órgãos e de aptidões que estão postos entre si numa intima e na tural correlação. Isto é, os órgãos e as aptidões de cada ser se des
silex é produto do trabalho, e todo
tinam diretamente a atender às ne cessidades dele.
"O homem se distingue dos outros seres visíveis por ter uma alma espi ritual dotada de inteligência e vonta de. Pelo principio de correlação que acabamos de enunciar, a inteligência serve ao homem para conhecer suas necessidades e saber como satisfazêlas. E a vontade lhe serve para querer efazer o necessário para si. Está,pois,
homem, por ser naturalmente dono de si, é dono de seu trabalho e do
fruto que este produz.
"Mas o homem vê que suas neces sidades se renovam. Sua natureza,
capaz de apreender e recear o perigo de um suprimento instável, desejosa por si mesma de estabilidade, pede que ele disponha de meios para se garatítir contra as incertezas dofutu
ro. É pois licito que ele, além de ser dono de bens e de meios deprodução, acumule pela poupança o produto de seu trabalho, prevenindo assim o futuro. E sendo o caso, se torne
também dono dafonte de produção. A apropriação de reservas móveis e de
bens imóveis assim sejustifica inteira mente"(Reforma Agrária — Questão
na natureza humana conhecer e esco
de Consciência — D. Geraldo de
lher o que lhe convém. "Ora, estasfaculdades não seriam
Proença Sigaud, Arcebispo de Dia mantina, D. Antonio de Castro
úteis ao homem se ele não pudesse Mayer, Bispo de Campos, Plinio estabelecer um nexo entre si e aquilo Corrêa de Oliveira e Luiz Mendonça de que precisa. De que adiantaria,por de Freitas — 4." edição, p. 33). exemplo, ao habitante do litoralsaber Assim, não tem o Estado, em que no mar há peixes, como estes são princípio, o direito de cercear a pro pescados, ter vontadefirme de enfren priedade privada a não ser nos casos tar as ondas e efetuar a pesca, se não em que, comprovadamente, contrarie lhefosse licitoformar um nexo com o ela necessidades graves do bem co peixe pescado, de forma a poder mum, e não haja outros meios de trazê-lo à terra e dispor dele, com atender a essas necessidades. exclusão de qualquer outra pessoa, Em princípio a emenda constitu para sua nutrição? Esse nexo se cha ma, no caso, apropriação. Opescador
cional e o Estatuto da Terra chocam-
sua natureza de ser inteligente e livre.
se com essas considerações, pois: a) declaram desapropriáveis os imóveis rurais não usados, ou inadequada mente usados; b) ressalvando, na aparência, da ação desapropriatória
E Deus criou os seres úteis aos
do Estado os imóveis rurais adequa-
se torna proprietário do peixe. Este direito depropriedade resulta para ele
— para qualquer pessoa, pois — da
213
TFP promove jornadas anticomunistas para trabalhadores rurais do Nordeste
A TFP organizou jornadas anticomunistas para traba lhadores da zona canavieira em Alagoas, Paraíba e Per nambuco. Os lemas eram desenvolvidos em palestras,
representações teatrais, projeção de filmes, audiovisuais etc. E também na inauguração de oratórios em louvor de
Nossa Senhora de Fátima, a qual, aparecendo na Cova da Iria em 1917, alertou o mundo contra o perigo comunista.
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
damente usados, na realidade sujei
Documentação II
propriedade enquanto expõem ao ris
tam a ela grandíssimo número destes. co de desapropriação os imóveis ru
Esse último ponto será objeto de
rais não usados ou insuficientemente
ulterior desenvolvimento.
usados, e admitem como notório que nossa situação agrária apresenta pro blemas graves que tais desapropria ções, e só elas, podem resolver. Ora,
/. A doutrina católica e a
desapropriação das terras não cultivadas, ou
inadequadamente cultivadas, nos projetos
nem isto é notório, nem as mensa gens e justificativas de ambos os projetos apresentam nesse sentido a menor prova. Como mostramos no
livro Reforma Agrária — Questão de Consciência, os dados estatísticos
Cuidemos agora do problema da de que se pode dispor orientam o legitimidade da desapropriação dos espírito em sentido oposto, e esses imóveis rurais não usados ou mal dados não foram, até agora, objeto de qualquer refutação convincente. A esse respeito, afirmemos antes Por outro lado, o Brasil é um país de tudo que, segundo a doutrina de Constituição escrita e rígida, a qual católica, o direito de usar ou não usar só pode ser reformada em condições usados.
um imóvel rural é inerente à proprie
muito especiais, e mais difíceis que as que se exigem para modificar a legis Encíclica Quadragesimo Ánno:"(...)a lação ordinária. fim de pôr termo às controvérsias que Está na índole de nossa Consti acerca do domínio e deveres a ele tuição, como das congêneres, que os inerentes começam a agitar-se, note- direitos fundamentais da pessoa hu se em primeiro lugar o fundamento mana fiquem inscritos nela, a salvo do assente por Leão XIII, de que o vaivém das leis ordinárias. direito de propriedade é distinto do Ora, aprovado o projeto de emen seu uso (Ene. Rerum Novarum.§ 35). da constitucional, o direito de pro Com efeito, a chamadajustiça comu- priedade dos imóveis não usados ou dade. Ensinou-o o Papa Pio XI na
tativa obriga a conservar inviolável a
usados insuficientemente ficará ex
divisão dos bens e a não invadir o
posto a todos os riscos. Como prova remos no item seguinte, algo de aná do próprio domínio; mas que os logo se poderá dizer da propriedade proprietários não usem do que é seu, das terras convenientemente aprovei senão honestamente, é da alçada não tadas. É, pois, todo o direito de direito alheio, excedendo os limites
da justiça, mas de outras virtudes, propriedade relativo a imóveis rurais cujo cumprimento 'não pode urgir-se que ficará desprotegido. por vias jurídicas' (cfr. Ene. Rerum E isto, repetimos, sem que se Novarum)". E mais adiante:"Éalheio tenha provado a necessidade da desa à verdade dizer que se extingue ou se propriação dos imóveis rurais não perde o direito de propriedade com o usados e insuficientemente usados não uso ou abuso dele".
O direito de não usar inclui a
(nem, ainda menos, dos convenien temente usados) na realidade bra
fortiori o de usar de modo deficiente sileira. ou inadequado. Esse direito só pode sofrer res trição caso o uso insuficiente ou o não
uso da terra traga à sociedade um dano grave, que não possa ser reme
Para compreender os dispositivos concernentes à desapropriação dos
diado de outro modo.
imóveis não explorados ou mal ex Mas esse dano grave precisa ser plorados, cumpre antes de tudo ter comprovado. Não se pode restringir em vista os seguintes conceitos adota ou aluir com fundamento em um fato incerto um direito certo.
Baseados nesses princípios, dize mos que a emenda constitucional e o Estatuto da Terra ferem o direito de
dos pelo Estatuto da Terra;
• "Art. 4.° — Para os efeitos desta lei são estabelecidas as seguintes definições de imóvel rural, suas várias 215
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
modalidades, bem como as de parce- condições que garantam nível de vida leiro. Cooperativa Integral de Refor não inferior ao assegurado pela remu neração que constitui o salário míni ma Agrária, e Colonização: I — «Imóvel Rural», o prédio mo regional: rústico, de área continua, qualquer § único — (...). que seja a sua localização, que se destina à exploração extrativa, agrí • Art. 5.° — A área fixada nos termos do art. 4.°, inciso II, alí cola, pecuária ou agroindustrial, quer através de planos públicos de valori nea «d», é o módulo da proprie zação, quer através da iniciativa pri dade rural para todos os efeitos des vada:
ta lei.
II — «Propriedade Familiar», o imóvel rural que atenda simultanea mente as seguintes condições: a) seja direta e pessoalmente ex plorado pelo agricultor e suafamília, ou com eventual ajuda de terceiro: b)absorva toda aforça de traba
§ 7.® — Em cada zona, com características econômicas e ecológi cas homogêneas, serãofixados módu los, naforma do art. 48, § 1.°, alínea «a», separadamente para tipos de ex ploração que nela possam ocorrer: hortigranjeira: agrícola intensiva: agrí
lho do conjunto familiar: c)garanta-lhes a subsistência,pro gresso social e econômico:
cola extensiva:pecuária intensiva:pe cuária extensiva: extrativa florestal e
III — «Minifúndio», o imóvel
rural que, dentro das condições regio nais, ainda que suficiente para o sustento de uma família, não lhe possibilite progresso social e econô mico conforme os termos do inciso II deste artigo: IV — «Latifúndio», o imóvel rural
outras.
§ 2° — Nos casos de exploração mista, os módulos serão fixados pe la média ponderada das partes do imóvel destinadas a cada um dos
tipos de exploração considerados no § 7.®".
A desapropriação dos latifúndios será feita "especialmente nas áreas a) exceda a dimensão máxima prioritárias" (Estatuto da Terra, art. fixada na forma do art. 48, § I.°, 23 — item I) e portanto também fora alínea «b», desta lei, tendo em vista as delas. Note-se que, segundo a estra condições e sistemas agrícolas regio nha terminologia do projeto de Esta que:
nais:
tuto da Terra, latifúndio não é só um
b) ainda que não excedendo o limite referido na alínea anterior, mas de área igual ou superior à dimensão do módulo de propriedade rural, seja mantido inexplorado em relação às possibilidades físicas, econômicas e sociais do meio, visando afins especu lativos, ou seja explorado comformas manifestamente deficientes ou inade quadas, de modo a vedar-lhe a inclu
imóvel de dimensões superiores às permitidas pela lei, mas qualquer propriedade de área igual ou superior ao "módulo", desde que não seja usada,ou seja explorada "comformas manifestamente deficientes ou inade quadas" (art. 4.® — item IV — letra Uma propriedade de dimensão familiar pode ser considerada latifún dio. E todo latifúndio cuja área seja são no conceito a que se refere o superior a três vezes o "módulo" é desapropriável (art. 22 — § 3.® — inciso seguinte: V — «Empresa Rural», a pessoa letra "a**). Fica, pois, plenamen física ou jurídica, pública ou privada, te caracterizado o papel do não uso que explora racionalmente imóvel ru ou do uso inadequado da proprie dade, como elemento de desapro ral, o qual, simultaneamente: a)apresente rendimentos conside priação. O art. 23,item VII,do.Estatuto da rados satisfatórios e explore uma
percentagem mínima de Área agricul-
Terra também é inteiramente conclu
tável, a ser fixado pelo IBRÁ, de dente neste sentido: acordo com as condições ecológicas e • "Art. 23 — O Poder público, para econômicas da região: efeito de realizar desapropriações, b)adote práticas conservacionistas: c)ofereça aos que nele trabalham. nos termos da presente lei e da sua 216
Documentação //
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
regulamentação, observados os pla nos regionais, deverá ter em vista a seguinte prioridade: 2. Também C-J;
VII — as terras cujo uso atual não seja, comprovadamente, através de estudos procedidos pelo IBRA, o adequado à sua vocação de uso eco
as
terras
bem
cultivadas estão expostas ao arbítrio
do
IBRA
em
matéria expropriatória
Quem ler sumariamente os 133 artigos do projeto de Estatuto da Há uma circunstância que agrava Terra poderá ficar com impressão de a colisão entre esse sentido expropria- que ele confere ao Poder público tório dos projetos de emenda consti meios efetivos para promover a exnômico".
tucional e de Estatuto da Terra, e a doutrina católica.
O art. 45 prevê que em certas
áreas, nas quais se verificam crises ou tensões, se deve proceder à Reforma Agrária,"com progressiva eliminação dos minifúndios e dos latifúndios". Assim, nessas áreas o remédio normal para a tensão ou crise é pelo menos em parte a desapropriação. Esse modo de proceder não parece tomar em consideração que a região critica constitui parte integrante de um País em cujo imenso território cabem uma área apropriada conside rável e uma imensa reserva de terras
propriação e fraccionamento de imó veis rurais, mas que só íicam sujeitos a essa ação expropriatória os imóveis inexplorados, ou mal explorados, cu jos proprietáiios, indolentes, incom petentes, ou ávidos de ganhar na mera especulação, não proporcionem exis tência condigna ao trabalhador rural e sua família, nem produzam sufi cientemente para contribuir para o progresso rural do País. Assim, pense-se o que se pensar da desapropriação das terras acima refe ridas, pelo menos afigurar-se-ia certo que os proprietários diligentes e bem sucedidos estarão fora do perigo de uma expropriação.
devolutas. O art. 45 procede como se O art. 4.°, com suas várias defi cada área crítica fosse um pequeno nições, e especialmente as de "mini país independente. Ora, a justiça manda que só se fúndio" (item III), "latifúndio"(item
IV)e "empresa rural"(item V), parece deixar claro que esta última nenhuma sanção tem que temer. E isto tanto mais quanto o art. 22,§ 3.®, letra "b", através do povoamento de outras declara taxativamente que as "empre áreas já ocupadas mas suscetíveis de sas rurais" não estão sujeitas a desa melhor aproveitamento, ou, confor propriação.
recorra à desapropriação no caso de os problemas da área crítica não terem nenhuma possibilidade de se rem resolvidos pelo Poder público
me o caso, de terras devolutas.
É compreensível que esta restrição
Segundo esse princípio, caberia à ação expropriatória do Poder públi quanto às zonas críticas a seguinte co seja reputada como preciosa pelos ordem de prioridade: a) aproveita que, por motivos ideológicos, ou na mento das terras devolutas, no inte defesa de seus direitos de proprietá resse da expansão interna do País; b) rios, têm o desejo de evitar que,sob a não sendo isso possível por motivo de alegação especiosa de combate ao excesso de despesas ou outras razões, latifúndio e ao minifúndio, o Estatu deve o Poder público canalizar o to da Terra propicie de fato a frag superávit de população para as áreas mentação de todos os imóveis rurais não sobrecarregadas do ponto de para impor ao Brasil uma estru vista demográfico; c) só em último tura agrária constituída exclusiva mente de propriedades de dimensão caso a desapropriação. Mas, perguntar-se-á, pelo menos familiar. Realmente, abolida a garantia as áreas devidamente cultivadas e de tamanho permitido pelo Estatuto da constitucional contra os abusos da Terra escapam à ação desapropriató- ação expropriatória do Estado, mercê ria do Estado? É o que veremos no da emenda constitucional proposta pelo Executivo, contra esses abusos a item seguinte. 217
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo l
Única defesa que resta são os mencio fica facultado ao Poder público voltar nados dispositivos do Estatuto da a sua ação expropriatória contra um Terra.
número indefinido, e certamente mui
Isto posto, legítimo é que pergun to grande, de propriedades. temos de que alcance concreto serão Análoga afirmação se pode fa essas garantias, uma vez que seja zer, como se verá pouco adiante, aprovado o Estatuto da Terra. no que se relaciona com a qualifi cação das zonas prioritárias pelo IBRA, e correspondentemente nas respectivas esferas, com a atuação Ponderemos inicialmente que o das IBRAR. latifúndio (art. 4.° — item IV)ou é tal Também se poderiam fazer essas em virtude de seu tamanho, ou em observações, mutatis mutandis, a pro
virtude de ser inexplorado ou explo rado de modo defíciente ou inade
pósito das possibilidades de pressão tributária contra as propriedades
quado. Ora, quanto ao tamanho, dir-se-ia talvez, feita uma primeira leitura do art. 4.°, inciso IV, letra "a", combina
grandes e médias.
do com o art. 48, § 1.°, letra "b", que ele é bem definido: será latifúndio
Antes de entrar nestes pormenores, cumpre acentuar que alcance prático
toda propriedade que exceda a seis-
eles têm.
Muitos são, no Brasil e fora dele, os estudiosos que, levados por uma rém, se desfaz com uma análise mais visualização romântica da pequena atenta dos aludidos dispositivos. Es propriedade familiar, nela vêem a tes estabelecem "os limites máximos", solução perfeita e quiçá única de acima dos quais toda e qualquer todos os problemas rurais. Dedicamcentas vezes o módulo médio da
respectiva zona. Essa impressão, po
propriedade é latifúndio. Mas deixam se eles a inquéritos, análises e estatísti aberta a possibilidade de ser marcado cas cujos resultados se lhes afiguram um nível qualquer, inferior a este, sempre comprobatórios da tese bem para caracterizar o latifúndio. Qual a amada. Se pessoas com essa tendência medida mínima deste nível? O Estatu — enfática e impetuosa como soem
to da Terra não o diz. Fica ele, pois, ao critério dos regulamentos que o Executivo pode fazer e alterar a qualquer momento, e que forçosa mente deverão ter adaptações às di versas zonas e culturas, adaptações essas também deixadas ao arbítrio do Executivo.
O latifúndio ainda pode ser tal em razão de outro critério (art. 4.° — item IV — letra "b"). É o de estar
ser as tendências utópicas — forem nomeadas por algum Presidente da
República para constituir o órgão supremo do IBRA, nenhum recurso
há no Estatuto da Terra para garantir contra elas a sobrevivência da pro priedade grande e média. A isto ficará reduzida a garantia do direito de propriedade no Brasil! Fatos
bem
recentes
mostram
quanto é possível à demagogia iludir a inexplorado, ou "explorado com for opinião pública e através do exercício mas comprovadamente deficientes ou regular do sufrágio universal assenhoinadequadas". rear-se do poder. Se o Estatuto da Ora, em que casos uma forma de Terra estivesse vigente sob o governo exploração é "deficiente"! Em que de nossos dois últimos Presidentes,
casos é simplesmente "inadequada"! nada, absolutamente nada os teria Quem decidir dessa questão — e é o impedido de exercer uma ação tre Poder público — terá a faculdade de
mendamente niveladora na estrutura
classificar ou desclassificar como lati
rural brasileira.
fúndio ou empresa rural um imóvel Para isto lhes teria sido de especial determinado. E poderá fazê-lo, dado socorro o art. 26, que, considerando o silêncio do Estatuto da Terra, por irreversíveis as desapropriações feitas meio, também, de regulamentos. pelo IBRA, expõe os proprietários a Assim, apesar da aparente nitidez uma ação dispendiosa, longa, resolvídas classificações contidas no art. 4.°, vel tão-somente em perdas e danos 218
Documentação II
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
calculados em nossa moeda eventual
mente depreciada.
apreciável tensão. Uma pequena ten são não importa, de si, em crise. A terminologia do Estatuto da Terra, pela inesperada sinonímia en tre crise e tensão, amplia muito o
Vejamos agora, através da análise de diversos artigos, que oportunida
conceito de crise, e com isto toma
des o Estatuto da Terra oferece para
que a Reforma Agrária pode ser aplicada.
que pessoas dotadas da aludida men
ainda maior o número de casos em
Para se dar conta disto, basta talidade dêem livre curso, caso colo cadas à testa do IBRA ou das IBRAR, repetir a propósito do conceito de
às suas tendências expropriatórias: tensão as perguntas acima feitas rela tivamente ao conceito de crise.
• "Art. 45 — O IBRA promoverá a realização de estudos para o zo- • "§ /.° (do art. 45) — Para a elaboração do zoneamento e ca neamento do Pais em regiões homo gêneas do ponto de vista sócio-econô- racterização das áreas prioritárias se mico e de características da estrutura
rão levados em conta, essencialmente,
agrária, visando a definir:
os seguintes elementos:
/ — As regiões críticas que estão
a) a posição geográfica das áreas,
exigindo uma Reforma Agrária com em relação aos centros econômicos de progressiva eliminação dos minifún várias ordens, existentes no País: b) o grau de intensidade de ocor dios e dos latifúndios: II — As regiões em estágio mais rências de áreas em imóveis rurais avançado de desenvolvimento sociale acima de 1000 hectares e abaixo de econômico e nas quais não ocorram
50 hectares:
tensões nas estruturas demográfica e
c)o número médio de hectares por pessoa ocupada: d)as populações rurais, seu incre
agrária; r.../'.
mento anual e a densidade específica Que características deve ter uma da população agrícola: zona para ser considerada crítica? Em e) a relação entre o número de outros termos, que é definidamente proprietários e o número de rendei uma crise? Qualquer que seja o grau ros, parceiros e assalariados em cada de intensidade de uma crise, constitui
área".
rá ela razão suficiente para determi nar uma reforma de estrutura? Na
hipótese negativa, a partir de que grau passa a crise a ser razão suficiente para o dito fim? Que características se exigirão para definir esse grau? QUem determina quando a crise deve ser resolvida pela "progressiva elimina ção dos minifúndios e latifúndios"! Por exemplo, se há vários meios,
entre os quais também este, para debelar a crise, quando é o caso de usar este ou os outros meios?
O inciso II se refere às regiões
O advérbio "essencialmente", na cabeça deste parágrafo, se presta a confusão. Significa apenas "necessa riamente"! Ou também "principal mente"! Em que medida esses fatores
se deverão conjugar com os outros, não "essenciais", para os quais o Estatuto da Terra deixa a porta aber ta? Quais são esses fatores não "essen
ciais", variáveis provavelmente, pelo menos em grande número de casos, de zona para zona? Em que medida se combinarão
onde não cabe a Reforma Agrária. entre si os elementos definidos nas Como esta cabe nas "regiões críticas" letras "a" e "e"? Segundo que crité (I) e não cabe nas regiões "nas quais rios? não ocorram tensões"(II), vê-se que, E se considerarmos cada um des para o Estatuto da Terra, crise eqüi ses elementos isoladamente, como de vale a tensão, pois para ele existe crise terminar, quanto a cada um deles,em onde há tensão, e reciprocamente. De que consiste uma situação de "tensão"! Uma observação que se pode rela si a palavra "crise" é mais enérgica
do que a palavra "tensão": uma pe quena crise sempre importa em uma
cionar com vários dos fatores analisa
dos a seguir é que eles são considera219
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
dos de um modo apenas estático, abstração feita das formas de explora ção que existam nas áreas respectivas ou a que estas se prestem. Ora, tais fatores só exprimirão a realidade
Elemento "e" — Quanto a este fator, sempre para efeito de determi nação da "tensão'\ cabe uma pergun ta análoga, relativa não só à zona, como às características de cada tipo
concreta se se tiver em conta essa
de cultura.
forma de exploração. Mas, a ser ela tida em conta, tal é a multiplicidade de aspectos a ponderar quanto a cada elemento, que nenhuma lei e nenhum regulamento poderá abranger todos esses aspectos. E isto porá em mãos
• "§ 1° (do art. 48) — Nas áreas
prioritárias de Reforma Agrária se rão complementadas as fichas cadas trais elaboradas parafornecer aos Esta
dos ba^s para os lançamentosfiscais, do IBRA uma latitude de apreciação com dados relativos ao relevo, às às vezes indefinida.
Consideremos agora em si mes
pendentes, à drenagem, aos solos e a
outras características ecológicas que
mos alguns destes elementos:
permitam avaliar a capacidade do uso atual e potencial, a fixar uma classi Elemento "b" — Quanto a este ficação das terras para os fins de elemento támbém cabem várias per realização de estudos micro-econôguntas. A "ocorrência" de que trata micos, visando, essencialmente, à de esta alínea "b" tem significado bem terminação por amostragem para ca diverso em terras destinadas à pecuá da zona e forma de exploração: ria ou à lavoura, às atividades hortia) das áreas mínimas ou módulos granjeiras por exemplo,de sorte que a de propriedade rural determinados de
adoção de um critério único para a ponderação deste fator, aplicável a quaisquer terras, chegaria ao absur do. Será, pois, indispensável relacio
acordo com os elementos enumerados
em conta a influência de circuns tâncias locais sobre o alcance con
quais não excederão a 600 vezes o
creto deste fator. Por exemplo, ele
nem a 600 vezes a área média dos
pesará de um modo em zonas me
imóveis rurais, na respectiva zona;
neste parágrafo e mais, a força de trabalho do conjunto familiar médio, o nível tecnológico predominante, a nar este elemento com os diversos renda familiar a ser obtida; tipos de uso da terra. De outro lado, b) dos limites máximos permiti ao fazer essa relação, será preciso ter dos de áreas dos imóveis rurais, os
módulo médio da propriedade rural
canizadas ou facilmente mecanizá-
c)das dimensões ótimas do imóvel veis, e de outro modo em zonas rural do ponto de vista de rendimento
que não o sejam. Segundo que cri térios estabelecer esta relação para o efeito de caracterizar uma eventual "tensão"?
Elemento "c" — Quanto a este fator caberiam perguntas análogas às formuladas para o anterior.
econômico;
d) do valor das terras em função das características do imóvelrural, da classificação e capacidade potencial de uso e da vocação agrícola das terras;
e) determinação dos índices míni
mos de produtividade agrícola, para confronto com os mesmos índices
Elemento "d" — Este fator dá
obtidos em cada imóvel rural nas
ensejo também,sempre para o mesmo
áreas prioritárias de Reforma Agrária".
fim, a diversas perguntas. A impor tância da população, de seu incremen Letra "a" — Este parágrafo e sua to e densidade, varia forçosamente de letra **a**, enunciando as informações significado segundo as diversas zonas. que o Estatuto da Terra reputa neces Assim, um será o seu alcance no
sárias para "a determinação por amostragem, para cada zona eforma Paraná e em Santa Catarina. Quais os de exploração", da extensão da pro elementos a ter em vista e a combinar priedade familiar, ou seja, "das áreas entre si, para determinar em cada mínimas ou módulos de propriedade caso a importância desse fator, e a rural", põem em evidência a multi existência de uma possível "tensão"! plicidade e complexidade dos critérios polígono das secas, outro no Norte do
220
Documentação //
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
a serem seguidos, bem como a in
da vocação agrícola? Em que medida
fluência das circunstâncias locais na
se combinarão esses três critérios?
avaliação do alcance de cada critério. Pode o último tornar-se preponderan O órgão a quem compete determinar te? o módulo — o IBRA ou a IBRAR, Letra "e" — Cada imóvel das também neste ponto o projeto não é claro — ficará em sua própria esfera zonas prioritárias passará, pois, por com uma elasticidade de movimentos um exame, feito à luz de um critério análoga à que terá o IBRA na deter sobre o qual o Estatuto da Terra não dá qualquer indicação. Como fixar minação das zonas criticas. esses índices mínimos?
Letra "b" — Essa amplitude de movimentos do órgão competente é
— Assim, pois, a margem de apre circunscrita pela letra "b** no que diz ciação deixada ao órgão competente respeito à existência de propriedades torna, como de início dissemos, inde muito grandes. Não pode ele admiti- finido o número dos imóveis rurais las além das medidas expressamente sujeitos à desapropriação. designadas aqui. Porém, fica com a atribuição de reduzir "os limites má ximos permitidos de áreas dos imó veis rurais"em toda a gama que vai de uma propriedade-módulo até seiscentas vezes o tamanho desta. Segundo
• "Art. 57 — O imposto territorial rural será regulado pela lei esta dual, nos limites e de acordo com as
normas gerais traçadas nesta lei. A lei estadualfixará a alíquota do imposto
que critérios se fará essa limitação,em entre os limites de 0,2% e 0,5%, para obtenção do valor básico para a tribu ção, que dá ao órgão competente os tação, fazendo essa alíquota incidir
cada zona? Essa formidável atribui
meios de modelar larguissimamente sobre o valor cadastral inscrito pelo nossa estrutura rural, poderá eviden IBRA, como previsto no artigo 48, § temente ser exercida em 1965 com um
7.°.
§ 7.° — Levando-se em conta a critério que em 1970, por exemplo,já esteja substituído por outro mais res área total agricultável do conjunto de imóveis de um mesmo proprietário no País, esse valor básico será multipli Letra "c" — Os critérios para a cado por um coeficiente de progres
trito.
qualificação dessas "dimensões óti
sividade de acordo com a tabela
mas" ficam indeterminados no Esta
seguinte:
tuto da Terra.
a) área total, no máximo, igual à média ponderada dos módulos de
Letra "d" — Entre as várias per área estabelecidos para as várias re guntas que se poderiam fazer quanto giões em que se situem as proprie a esta alínea sobreleva uma, referente
dades: coeficiente 1;
b) área maior do que 1, até 10 à "vocação agrícola" de uma terra. O conceito de "vocação agrícola'\ que vezes o módulo definido na alínea várias vezes se encontra no projeto, o "a": coeficiente 1,5: c) área maior do que 10, até 30 que significa? É o aproveitamento quantitativa e qualitativamente mais vezes o módulo definido na alínea
adequado? Neste caso, uma terra "a": coeficiente 2,0; d) área maior do que 30, até 80 pode ter várias vocações agrícolas equivalentes. Com que critério o ór vezes o módulo definido na alínea gão competente preferirá uma delas? "a": coeficiente 2,5: e) área maior do que 80. até 150 Influirá, neste critério, a maior remu
neração do produto para o proprietá vezes o módulo definido na alínea rio? Então, a vocação agrícola pode "a": coeficiente 3.0: f) área maior do que 150. até 300 oscilar com as circunstâncias do mer cado? A conveniência que tenha o vezes o módulo definido na alínea País, de se plantar um produto de "a": coeficiente 3.5: g) área maior do que 300. até 600 preferência a outro para atender ao conjunto de seu desenvolvimento, po de influir também na caracterização
vezes o módulo definido na alínea "a": coeficiente 4,0: 221
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
h) área superior a 600 vezes o a) na proporção em que a explo módulo definido na alínea "a": coefi ração se faça com rentabilidade infe ciente 4,5. rior aos limites mínimos fixados na § 2° — O produto da multipli forma do § 7.° do art. 48 e com base cação do valor básico pelo coeficien no tipo, condições de cultivo e nível te previsto no parágrafo anterior, será tecnológico de exploração — coefi multiplicado por um coeficiente de cientes que aumentem o valor do localização, que aumente o imposto imposto variando de 1,0 a 1,5, na em função da proximidade aos cen forma a ser estabelecida na regula tros de consumo definidos no inciso II mentação desta lei; do artigo 8 e das distâncias, condi b) na proporção em que a explo ções e natureza de vias de acesso aos ração sefaça com rentabilidade supe referidos centros. Tal coeficiente, va rior ao mínimo referido na alínea riando no território nacional de 1,0 a anterior e, segundo o grau de atendi 1,6, será fixado por tabela a ser mento à vocação econômica da terra, baixada por decreto do Presidente da emprego de práticas de cultivo ou de Reptiblica, para cada região conside criação adequadas, e processos de rada no zoneamento previsto no ar beneficiamento ou industrialização tigo 45. dos produtos agropecuários — coefi § — O valor obtido pela cientes que diminuam o valor do aplicação do disposto no parágrafo imposto, variando eles de 1,0 a 0,4, na anterior será multiplicado por um .forma a ser estabelecida pela regula coeficiente que aumente ou diminua mentação desta lei. aquele valor, segundo a natureza da § 5.° — Quando o imposto ter posse e as condições dos contratos de ritorial rural lançado for superior ao trabalho na forma seguinte: do exercício anterior, mesmo quando a) segundo o grau de alheiamento a área agricultável explorada de um do proprietário na administração e imóvel rural for inferior ao mínimo nas responsabilidades de exploração necessário para classificá-lo como em do imóvel rural, segundo a forma e
presa rural, nos termos do art. 4.°,
natureza dos contratos de arrenda
inciso V, alínea "a", serápermitido ao seu proprietário requerer ao Estado
mento e parceria, e quanto àfalta de atendimento de condições condignas de conforto doméstico e higiene aos arrendatários, parceiros e assalaria dos — coeficientes que aumentem aquele valor variando de 1,0 a 1,6, na forma a ser estabelecida na regula mentação desta lei;
b) segundo o grau de dependência e de participação do proprietário nos frutos, na administração e nas respon sabilidades da exploração do imóvel rural; em função dasfacilidades con cedidas para habitação, educação e saúde dos assalariados — coeficientes que diminuam o valor do imposto de 1,0 a 0,3, naforma a ser estabelecida na regulamentação desta lei. § 4.° — Uma vez obtidos os elementos cadastrais relativos ao item
III do art. 48 e fixados os índices previstos no § 7.° daquele artigo, o valor obtido pela aplicação do dispos to no parágrafo anterior será multi plicado por um coeficiente que au mente ou diminua aquele valor se gundo as condições técnico-econômicas de exploração, naforma seguinte: 222
redução até 50% do imposto lançado, desde que elabore projeto de amplia ção da área explorada e o mesmo seja considerado satisfatório pelo órgão competente do IBRA, em função das características ecológicas da zona on de se localize o referido imóvel. § (5.° — Para pleitear o benefício de que trata o parágrafo anterior, o proprietário anexará ao requerimento comprovante de aprovação do pro jeto pelo órgão competente do IBRA. § 7.° — O órgão competente do
IBRA deverá pronunciar-se no prazo de 90 dias, contados da apresentação do projeto, considerando-se este a-
provado desde que não haja pro nunciamento.
§8.° — Aprovado o projeto, o proprietário terá o prazo de 90 dias para assinar, junto ao órjgão compe tente do IBRA, termo^de compro misso de sua execução. § 9.° — Se aa final de 2 anos,
contados da data da aprovação do projeto, não estiverem executados no
mínimo 30% dos trabalhos nele pre-
Documentação II
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
vistos, O IBRA fará ao Estado com de cada "forma" e de cada "natureza" petente notificação, para efeito de ser dos vários contratos de arrendamento cobrada a parte reduzida dos impos e parceria? Quais são as "condições tos lançados, acrescida da devida condignas de conforto doméstico" correção monetária prevista nesta lei". para os arrendatários, parceiros e assalariados, e como estabelecer os
Depois de ver a impressionante amplitude de movimentos que o Esta
diversos níveis de deficiência nesta matéria de modo a refleti-los no
tuto da Terra confere ao Poder pú blico federal, através do IBRA ou das
coeficiente de que trata este pará grafo?
IBRAR, para promover a desapro Parágrafo 4.° — Como fixar os priação de imóveis rurais, não é despiciendo notar que o mesmo pro níveis mínimos de rentabilidade "com jeto acrescenta — pondo-os em mãos base no tipo, condições de cultivo e do Poder público estadual — meios nível tecnológico da exploração"? Co de pressão tributária também inde mo refletir os vários níveis de renta finidos em boa parte. Estes meios bilidade no coeficiente de que trata a podem,em vários casos, determinar o letra "a"? É bem de ver o que há de vago na proprietário a fraccionar o seu expressão "vocação econômica da ter imóvelAs funções tributárias do Poder ra". Como se definem os vários graus público estadual devem ser exercidas de "atendimento" a essa vocação? E o segundo os critérios constantes do art. maior ou menor "emprego de práti 56, e o peso de cada um desses cas de cultivo ou de criação adequa critérios para a fixação do quantum das"? Adequadas segundo que crité do imposto territorial rural vem dis rios? Nem sempre a resposta a esta criminado no art. 57 e respectivos última pergunta será fácil, como à primeira vista se poderia supor. De parágrafos. que importância são os múltiplos e Sem nos determos no que apresen tam de arbitrário, e portanto de inex diversificados "processos de benefipressivo, vários dos coeficientes aí ciamento ou industrialização dos pro indicados, registremos que o cômputo dutos agropecuários" no coeficiente do imposto territorial rural apresenta, de que trata a letra "b*'? sob certo aspecto, muito menos fluiParágrafo 5.° — A atribuição aí dez do que os critérios adotados pelo art. 45 e seus parágrafos para o conferida ao Poder público, de tanta zoneamento e a caracterizado das expressão eleitoral — poisjoga com o áreas prioritárias de Reforma Agrária. modesto patrimônio de numerosos Contudo, algo do indefinido e requerentes eventuais — também não arbitrário que observamos relativa é circunscrita por critérios objetivos. mente ao art. 45 se projeta, como é Para que o requerimento seja aceito natural, no art. 57, e particularmente ou não, basta que o projeto que nos seus parágrafos 2.° e 3.°. Ve deverá acompanhá-lo "seja conside rado satisfatório pelo órgão compe jamos: tente".
Parágrafo 2.° — "O coeficiente de Parágrafos 6.°, 7.°, 5.° e 9.° — A localização" deverá comportar adap tações conformes ao que observamos imprecisão aludida se reflete neles. relativamente ao art. 45, § 1.°, le tra "a".
Parágrafo i.° letra "a" — Quais os vários graus possíveis de "alheiamento do proprietário na administra
Poder-se-ia objetar, é verdade, que a se exigirem critérios que garan tissem a propriedade privada contra o eventual furor igualitário do Poder público, nenhuma lei de Reforma Agrária seria possível, e que esses
ção e nas responsabilidades de explo ração do imóvel rural"., e qual o reflexo de cada grau sobre o coefi ciente de que trata este parágrafo? riscos são inerentes a toda modifi Qual a repercussão, nesse coeficiente. cação legal da estrutura rural.
223
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo /
Se se aceitar este argumento, fi • "§ (do art. 22) — Salvo por cará confessado pelos próprios promotivo de necessidade ou utilida pugnadores da Reforma Agrária com de pública, e excetuados os imóveis alteração da estrutura rural que ela rurais caracterizados como minifún traz inevitavelmente riscos tais. Será
dio nos termos desta lei, estão isentos
oportuno expor a eles o Brasil, depois de desapropriação:
das perígosissimas experiências das
a) (...):
quais acabamos de sair? É razoável
b) os imóveis que satisfizerem os
que a eles nos sujeite o Governo requisitos pertinentes à empresa rural, oriundo de um glorioso movimento enumerados no art. 4.°, inciso V".
feito precisamente para afastar o País de tais precipícios?
Este dispositivo só isenta de desa
Subindo dessas justas e ponderá propriação os imóveis que o IBRA veis razões de oportunidade para reputar bem explorados. nível mais alto, acrescentemos que seria preciso provar que a permanên • "Art. 23 — O Poder público,para cia da atual estrutura agrária expõe efeito de realizar desapropriações, certamente o Brasil a riscos ainda
nos termos da presente lei e da sua
maiores, para justificar que se faça regulamentação, observados os pla uma tal Reforma Agrária agora. nos regionais, deverá ter em vista a Ora, bom é repetir que esta de segyinte prioridade: monstração ninguém a fez de modo C-j satisfatório, e nem sequer a mensa VI — as áreas que apresentem gem e a justificativa que acompanham elevada incidência de arrendatários, os projetos de emenda constitucional parceiros e posseiros: e de Estatuto da Terra. VII — as terras cujo uso atual não seja, comprovadamente,através de es-
tudosprocedidos pelo IBRA,o adequa do à sua vocação de uso econômico". Para reforçar ainda mais a de
monstração de que a ação expropriaQue é uma "elevada incidência"? tória do IBRA poderá atingir um O índice varia de região para região? número indefinido de propriedades Di-lo-á o IBRA.
tidas por bem exploradas segundo o
Essa incidência "elevada" — digase de passagem — parece ser, para o te percorrer mais alguns artigos do Estatuto da Terra, um mal em si,
senso comum, não será desinteressan Estatuto da Terra:
• "§ tinico (do art. 4.°) — Não se considera latifúndio: a) o imóvel rural, qualquer que seja a sua dimensão, cujas caracte rísticas recomendem, sob o ponto de vista técnico e econômico, a explo ração florestal, desde que esta esteja sendo racionalmente realizada, me diante planejamento adequado.
O imóvel utilizado para explo ração florestal será latifúndio ou não
posto que ele não fala em incidência "exagerada".
O critério segundo o qual serão
analisados os estudos previstos no item VII será o do IBRA.
• "Art. 39 — Osprojetos elaborados para regiões geo-econômicas ou
grupos de imóveis rurais que possam ser tratados em comum devem con signar: (...)".
Não se pense que os imóveis rurais bem aproveitados só serão suscetí veis de expropriação caso se situem
a critério do IBRA.
em regiões geo-econômicas passíveis de Reforma Agrária. O presente ar • Art. 5.° — (ver o texto acima). tigo, referindo-se aos projetos de Re forma Agrária, fala de "grupos de Os critérios para fixar módulo fi imóveis rurais que possam ser trata cam a cargo do IBRA; ora, é em função dos em comum", distinguindo-os ex do módulo que se determinam os limi pressamente daquelas "zonas geo-eco tes permitidos da grande propriedade. nômicas". 224
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Documentação II
pareça um conjunto de disposições mais ou menos desconexas e arbitra
3. O espírito dos projetos:
riamente justapostas.
preconceito sistemático a favor da propriedade de dimensões familiares —
Freqüentes são hoje os pensadores e tratadistas, os homens de ação, políticos, grande e média propriedade — jornalistas e agitadores que vêem no tra balho a única fonte legítima do ganho. tendência contrária Toda forma de lucro que resulte do ao salariado, arrendamento capital se lhes afigura ilegítima. Daí o considerarem que na agri e parceria tendência contrária à
cultura a única forma verdadeiramen
No estudo de uma lei, importa te justa de propriedade é a que faça do
altamente determinar-lhe o espirito. É cultivador direto o proprietário de esta uma tarefa muitas vezes difícil
todos os frutos. E a forma idealmente
porque um diploma legal não é um eficiente da propriedade é a de dimen tratado, e por isso há que conjugar e sões familiares. interpretar com o máximo de acuiO salariado, a parceria e o arren dade seus vários dispositivos, a fim de damento, inerentes á exploração da chegar a resultados concludentes. média e grande propriedade, se lhes Por mais difícil que seja essa afiguram injustos, sobretudo o úl tarefa, não há como fugir a ela, pois a timo, no qual o proprietário aufere determinação do espirito da lei é lucros sem efetuar qualquer trabalho, indispensável muitas vezes para: 1. nem sequer de direção.
sua mais exata interpretação; 2. a fixação dos rumos segundo os quais agirão os órgãos criados por ela; 3. o conhecimento da orientação que terá a jurisprudência ao apreciar as ques tões resultantes da sua aplicação; 4. o estudo das características que deverão ter as leis corolárias.
Essa tarefa particularmente se im põe quanto ao projeto de Estatuto da
Terra. Com efeito, contém ele: a) numerosas definições; b) a explicitação de escopos de caráter definida mente fílosóflco-moral, como seja a justiça social (art. 1.° — § 1.°, art. 19, art. 21 — § 2.0 — letra art. 106); c) a enunciação de outros escopos em cuja caracterização entra muito de fllosóflco-moral, como ocorre com a função social da propriedade (art. 2.° — §§ 1.° e 2.°, art. 15, art. 16, art. 21 — § 2.° — letra "a**). Mais do que em outros diplomas le gais será importante perguntar quanto a este, com utilização de todos os elemen
tos hermenêuticos, qual o seu espMto. Por isto, é indispensável investi gar o que chamaríamos a "linha de
coerência" do projeto de Estatuto da Terra. Ou seja, investigar se há uma
E chamam de "acesso à terra" o
processo pelo qual se promove a
transferência das propriedades gran des e médias para os assalariados, meeiros ou arrendatários, e o frac-
cionamento delas em propriedades de dimensões familiares. A reforma agrá
ria expropriatória é um dos meios que mais se apreciam nessa escola, para a promoção do "acesso à terra".
Quanto às pequenas propriedades assim constituídas, podem elas acu mular — sempre segundo essa escola — as vantagens da propriedade fami
liar e da grande, desde que se unam em cooperativas. Um cooperativismo rural total é, pois, o corolário da total fragmentação das terras. É inerente a tal escola uma ten
dência dirigista e igualitária. O curso dos fatos, entregue livremente a si mesmo, conduz à desigualdade na estrutura agrária. De modo geral, ele não chega a bom termo senão quando segue os planos dos técnicos, exe cutados através dos órgãos adminis trativos e paraestatais colocados à disposição deles. Daí um duplo sentido dirigista nas leis inspiradas por essa escola:
doutrina segundo a qual tudo nele se explique de modo perfeitamente har a) Direção geral da agricultura mônico e satisfatório, e sem a qual ele (como aliás de toda a economia) 225
Diante do atual recrudescimento da
ofensiva agro-reformista, a TFPnãose manteria à altura de sua missão se
se recolhesse a um cômodo silêncio.
Bem pelo contrário, ela desmereceria das gloriosas tradições que tiveram
origem no decurso da luta iniciada com a elaboração, e depois a difusão, por todo o território nacional, do best-seller Reforma
Agrária — Questão de Consciência, no período 1960-1964.
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Posso e devo ser contro a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Documentação II
sobre as propriedades médias ou gran pico: "As alterações propostas no art. des, enquanto não se consegue sua frag 156, §§ l°e3.°, tendem a possibilitar, mentação. Esse dirigismo prepara, de no anteprojeto de reforma agrária, resto, tal fragmentação, por medidas a orientação que se espera dar à ex que,de um ou de outro modo,vão trans tensão da propriedade rural"(o ne formando a propriedade individual em grito é nosso). coletiva. É como a escola entende a de Eis aí bem focalizado o nosso te mocratização da empresa rural. ma. Qual essa orientação? Consiste ela em propiciar a formação de proprieda b) Direção cooperativa de todas as des grandes, médias e pequenas? A res propriedades de dimensão familiar, dire posta é clara: a "orientação" consiste ção esta que uns concebem com rigidez exclusivamente em dividir glebas menor, outros maior. Quando essa rigi grandes ou médias, ou aglutinar mini dez chega ao extremo,tal sistema toma o fúndios, para formar propriedades de nome de "kolkoziano". Assim se con dimensão familiar. Ouçamos a men cebe, nessa escola, a justiça social. sagem: "Pretende aquele anteprojeto [de Estatuto da Terra] que a divisão Segundo essa corrente, ainda, se das terras agricultáveis se faça em entende que a plena produção e a áreas de dimensão suficiente para. função social da propriedade só se através do cultivo direto pelo lavra alcançam através de imóveis de di mensão familiar.
Na terminologia, em muitas das
dor,e suafamília, garantir-lhes a sub sistência e o progresso econômico e social".
formulações que usa, essa escola pa
O projeto de Estatuto da Terra não cogita jamais da hipótese de ser realidade, difere dela profundamente. recomendável a aglutinação de pro A escola católica absolutamente priedades familiares para formar imó não participa do exclusivismo em veis médios ou grandes. OIBRA pode favor da propriedade familiar, se bem muito, ele pode talvez quase tudo. que deseje sua expansão. O acesso do Não pode, porém, fazer isto. trabalhador à terra, reputa-o muito O Estatuto da Terra tem em mira auspicioso, mas não se lhe afigura proibir o quanto possível o acúmulo desejável que elimine o salariado, o de imóveis, nas mãos do mesmo arrendamento e a parceria, que são dono, sejam eles grandes ou peque-^ formas de exploração rural lícitas e nos, por ser tal acúmulo fundamen rece confundir-se com a católica. Na
muitas vezes insubstituíveis.
Neste estudo mostraremos que a "linha de coerência" do Estatuto da
talmente incompatível com a explo ração direta. Não só facilita ele a
desapropriação das terras pertencen
Terra — segundo quanto nele se pode tes a um mesmo dono, como nas zonas de colonização proíbe o acúmu trina que desde o início deste item lo de glebas e força a exploração vimos referindo. direta. Muitos de seus favores, ele os Pô-lo-emos aqui em evidência reserva às sociedades ditas democrati quanto à estrutura agrária e o direito zadas ou abertas, e chega ao extremo de propriedade, e, na parte III deste de negar o direito de propriedade às trabalho, quanto à livre iniciativa e o outras empresas, isto é, àquelas que dirigismo. Ficará assim caracterizado não se abrem para um grande número o espírito do Estatuto da Terra, e, de sócios ou acionistas, e, naturalmente, ipso facto, da emenda constitucio para o ingresso dos trabalhadores no colher de indicativo — está na dou
nal que lhe é correlata.
quadro social. Por fim, o Estatuto da Terra se mostra infenso ao sala
riado, à parceria e ao arrendamento. Passemos pois à análise da linha de coerência do Estatuto da Terra em
matéria de propriedade privada. Analisemos agora alguns disposi A mensagem presidencial que a- tivos do projeto de Estatuto da Terra companhou o anteprojeto de emenda que justifícam essas nossas diversas
constitucional contém o seguinte tó
asserções: 227
Sou católico; posso ser contra a Reforma Agrária?
• "§ 1° (do art. 1.°) — Reforma Agrária é o conjunto de providên cias que, através da modificação do regime de posse e uso da terra, pro mova sua melhor distribuição, visan
Titulo /
putará extinto o direito de proprie dade das sociedades fechadas que não se transformarem em abertas, e negálo-á às sociedades fechadas que se vierem a constituir.
A expressão "em condomínio" é do a atender à justiça social e ao ininteligível no contexto, pelo que se aumento da produtividade". deve tê-la por erro de redação. Como se vê, o direito à proprie Fica bem claro que a promoção da justiça social é correlata com o au dade das sociedades ditas fechadas mento da produtividade, e que o sofre aqui um golpe gravíssimo, em projeto vê realizada fundamentalmen benefício do princípio da chamada te uma e outra coisa por modificações democratização. E este, aplicado tão estruturais. Estas, a Reforma Agrária sistematicamente, redundará em di
minuir quanto possível o caráter pri priedades conforme o módulo de vado, ou seja, individual, da pro dimensão familiar, como no projeto priedade exercida pelas pessoas jurí dicas. Expressão da tendência a tor se vê. nar desde logo a propriedade grande o "§ 4.^ (do art. 2.°) — A todo ou média tão pouco individual quan agricultor assiste o direito de per to possível. Grande ou média, di manecer na terra que cultiva, dentro dos zemos, pois este dispositivo eviden termos e limitações desta lei, obser temente não tem aplicação às proprie vadas, sempre que for o caso, as dades de dimensão familiar. as leva a cabo constituindo as pro
normas dos contratos de trabalho".
A expressão "direito" é muito forte. Por certo a eqüidade pede que todo bom agricultor permaneça quan to possível na terra que cultiva. As sim, compreende-se que a lei, por um conjunto de estímulos e moderadas pressões, promova quanto possível a
• "Item IV (do art. 4.°) — "Lati fúndio" [é] o imóvel rural que: a) exceda a dimensão máxima fixada na forma do art. 48, § /.°, alínea "b", desta lei, tendo em vista as
condições e sistemas agrícolas re gionais:
b) ainda que não excedendo o
estabilizado do trabalhador rural. limite referido na alínea anterior, mas Compreende-se até que procure favo de área igual ou superior à dimensão recer com alguma freqüência seu aces do módulo de propriedade rural, seja so à propriedade do solo. Nada disto, mantido inexplorado em relação a entretanto, caracteriza um direito no possibilidades físicas, econômicas e sociais do meio, visando a fins espe sentido exato da palavra. Simetricamente com a continui
dade no solo, que a eqüidade pede
para o trabalhador rural, está o direi to propriamente dito do dono, de ser estável na posse de sua gleba. Quanto o Estatuto da Terra exagera a pri meira, e quanto por má orientação expropriatória ameaça o segundo!
culativos, ou seja explorado comfor mas manifestamente deficientes ou inadequadas, de modo a vedar-lhe a
inclusão no conceito a que se refere o inciso seguinte".
O Estatuto da Terra, muito cor reto em toda a sua linguagem, entre tanto comete aqui um erro singular. • "Art. 3.° — O Poder Público Latifúndio, a etimologia bem o diz, e reconhece a entidades privadas, o uso o consagra,é um imóvel notável nacionais ou estrangeiras, o direito à por sua extensão. Na linguagem cor propriedade da terra, em condomínio, rente a palavra tomou um sentido quer sob aforma de cooperativas, quer pejorativo: designa o imóvel rural como sociedades abertas constituídas exageradamente grande. O conceito de latifúndio é, assim, exatamente na forma da legislação em vigor. oposto ao de minifúndio, que o art. § único — ("•)"•
4.°, iteni III, define adequadamente Entendido este dispositivo no seu como o imóvel rural exageradamente sentido natural, o Poder público re pequeno. 228
Documentação II
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Pois bem. De tal forma está no
dade de dimensões familiares atri
espirito do Estatuto da Terra que a buem a esta, no plano filosófico como
propriedade ideai é a de dimensão fomiliar, que a palavra latifúndio, oposta a este ideal, lhe serve para designar não só o imóvel rural que reputa exageradamente grande (letra "a"), mas todo o que é inadequada
no prático, encontram-se aqui reu nidas. Se um deles tivesse que redigir algo nessa matéria, muito normal mente redigiria o art. 19. • "Art. 21 — O Poder Público,para
implantar a Política Agrícola e para efeito de facultar o acesso à propriedade da terra, além das provi dências diretas ou indiretas que obje tivam criar ou melhorar as condições lhe cola o rótulo que serve para rurais, utilizar-se-á dos seguintes mente explorado (letra "b"). De sorte
que uma propriedade de dimensão familiar, quando bem explorada, se chama propriedade familiar. Mas, se mal explorada, o Estatuto da Terra
qualificar tudo quanto é mau: é en tão... um "latifúndio". Singular erro de terminologia que no contexto do
projeto se mostra realmente signi
meios: (...).
§ IP - r...;. § 2.° - (...). § - r.../'.
ficativo.
o acesso à propriedade da terra é apresentado como um bem em si, sem zelará pela gradativa extinção das nada que o condicione ou circuns formas de ocupação e de exploração creva, o que conduz à abolição do da terra que contrariem sua função salariado. Bem outra é a linguagem do projeto quanto à propriedade pri social". • "Art. 19 — A Reforma Agrária vada. objetiva regular as relações entre o homem e a terra favorecendo um • "§ 3.° (do art. 22) — Salvo por motivo de necessidade ou utilida sistema de propriedade que promova a justiça social no campo, aumente o de pública, e excetuados os imóveis
M • "Art. 16 —
O Poder Público
bem-estar do trabalhador rural, inclu
rurais caracterizados como minifún
sive de sua família, contribua para o
dio nos termos desta lei, estão isentos
desenvolvimento econômico do Pais,
de desapropriação: a) os imóveis rurais que em cada
com a gradual extinção do minifún dio e do latifúndio". A função social da terra só é vista como realizável através da formação
zona não excedam de 3 vezes a
dimensão do módulo de propriedade rural, fixado nos termos do art. 4.°, inciso II;
de propriedades de dimensão fami C-J'liar, obtida por meio da fragmen Veja-se até que ponto o Estatuto tação das propriedades grandes e médias, ou da aglutinação de mini da Terra, tão propenso a acabar com as propriedades grandes e médias, fúndios (cfr. art. 24). O art. 16,considerado à luz do art. reputa simpática a pequena dimen 19, impõe ao IBRA uma missão são: ela lhe parece capaz de resgatar até o inconveniente da má produção. deveras grave. Qual o alcance, no art. 19, da expressão "sistema de propriedade"? • "Art. 24 — Em áreas de mini fúndio, o Poder Público tomará as Ela é bastante vaga. Na enumeração dos vários escopos que o sistema de medidas necessárias para a organi propriedade a ser favorecido deve ter zação de unidades econômicas ade em vista, há um esquecido: a defesa quadas, em atinência ao disposto na presente lei, promovendo, se necessá dos direitos do proprietário. Do proprietário, ou mais precisa rio, a desapropriação para posterior mente do proprietário não-trabalha- aglutinação e redistribuição das ter dor, pois o proprietário-trabalhador ras compreendidas nessa área". pode-se considerar incluído na enu Este artigo reconhece a possibi meração. Todas as virtudes que os partidários exclusivistas da proprie lidade de áreas inteiras constituídas 229
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo /
de minifúndios e lhes prevê a agluti
§3.° — Não poderá ser bene nação. Por que não se admite também ficiário desta lei, quanto à distribui a conveniência de análoga medida ção da terra, o proprietário rural,
para áreas de empresas rurais de salvo no caso dos incisos I, II e IV
dimensão familiar, desde que, por deste artigo, nem quem exerça qual haverem malogrado, haja necessida
quer função pública, autárquica ou
de de as converter em médias ou em órgão paraestatal ou, ainda, inves grandes? tido de delegação parafiscal. § - (...)".
• "Art. 27 — As terras desapropria
das para osfins de Reforma Agrá ria ou que de qualquerforma vierem a ser incorporadas ao patrimônio do IBRA, de acordo com o disposto nesta lei, respeitada a ocupação de terras devolutasfederais, manifestada em cultura efetiva e morada habitual,
O item I representa medida infensa a toda propriedade não familiar.
Por que recusar ao proprietário de imóvel desapropriando esta possibili dade, máxime quando ela poderia facilitar nos processos de desapro priação acordos vantajosos para o só poderão ser distribuídas: Poder público? Verossimilmente por I — sob a forma de propriedade que o Estatuto da Terra pressupõe familiar, resultante da execução de que para toda terra a mais justa e projetos, nos termos das normas a- melhor forma de explorado é a direta. provadas pelo IBRA: Quanto aos parágrafos 2.° e 3.°, (...). por que dispor assim, senão para § único — f.../*. impedir perpetuamente a aglutinação
Pressupõe que a dimensão ideal de qualquer terra é a familiar.
de glebas formando grandes ou mé dias propriedades? Mais uma vez, o projeto pressupõe que a propriedade de dimensão familiar é sistematica
• "Art. 28 — As terras adquiridas
mente melhor.
pelo Poder Público, nos termos desta lei, deverão ser vendidas a • "Art. 57 — O imposto territorial
candidatos que atendam às condições de maioridade, sanidade e de bons
rural será regulado pela lei esta dual nos limites e de acordo com as
antecedentes ou de reabilitação, e de normas gerais traçadas nesta lei. A lei acordo com a seguinte ordem de estadualfixará a alíquota do imposto preferência:
entre os limites de 0,2% e 0,5%, para
I — ao proprietário de imóvel obtenção do valor básico para a
desapropriando, desde que explore tributação,fazendo essa alíquota inci diretamente a terra;
II — aos que trabalham no imó
dir sobre o valor cadastral inscrito
pelo IBRA, como previsto no artigo
vel desapropriado como posseiros, 48, § 7.°. assalariados, parceiros ou arrenda tários;
§
— Levando-se em conta a
área total agricultável do conjunto de imóveis de um mesmo proprietário no
III — aos agricultores cujas pro priedades devam alcançar a dimensão País, esse valor básico será multi da propriedade familiar da região; plicado por um coeficiente de pro IV — aos agricultores cujas pro gressividade de acordo com a tabela priedades sejam comprovadamente seguinte: (...). insuficientes para o sustento próprio e § 2.° - (...). de sua família; § - r...;. V — aos tecnicamente habilita § 4.° - (...). dos, naforma da legislação em vigor, § 5.° - (...). através de cursos especializados de § ó.o - (...). agricultura. § 7.° - (...). § - (...). § SP - r...;. § 2.° — Em cada uma dessas § 9.° — (...)". classes só poderão adquirir lotes os trabalhadores sem terra, salvo as ex
ceções da lei. 230
A circunstância de possuir alguém várias áreas afigura-se como indese-
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Documentação II
Disposição draconiana tendente a jável no quadro do Estatuto da Terra, ainda mesmo que se trate de várias evitar que, nas áreas a serem coloni áreas pequenas e bem exploradas. O zadas, se dê o fato reputado suma projeto deseja evitar não só a grande mente indesejável no Estatuto da propriedade, mas o grande proprietário, Terra, que é o aparecimento do pro manifestamente porque não lhe agra prietário não-trabalhador com traba da senão o proprietário-trabalhador. lhadores assalariados. Dir-se-á em sentido contrário que é normal que quem tem mais pague • "§ 3.° (do art. 95) — No caso de alienação do imóvel arrendado, o maior imposto, e que aqui se atende tão-somente o principio da propor arrendatário terá preferência para ad cionalidade dos ônus. Se assim fosse, o quiri-lo em igualdade de condições,
dispositivo tributaria as propriedades devendo o proprietário dar-lhe conhe na proporção exclusiva de seu valor, e cimento da venda afim de que possa exercitar o direito de preempção den não também de sua área. tro de 30 dias, a contar da noti
• "§ 2.° (do art, 65) — A empresa ficação judicial ou comprovadamente rural, definida no inciso V do art. efetuada, mediante recibo". 4.°, desde que incluída em projeto Medida hirta e draconiana. Des de colonização, deverápermitir a livre
participação dos respectivos parcelei- natara o arrendamento, conferindoros na constituição de seu capital. lhe característica de co-propriedade e desindividualizando correspondente
Imposição da chamada democra tização da propriedade, nas zonas de colonização. Obrigar a empresa rural a aceitar a participação dos "parceleiros" no seu capital é contra o direito natural. "Parceleiros" — diga-se de passagem — signifíca aqui evidente mente o trabalhador rural, o que contradiz a definição do art. A.°, inciso VI, verbis: "VI — "Parce-
leiro"[é] aquele que adquirir parcela ou quota-parte de uma propriedade comum, em área de projeto de Re forma Agrária ou de colonização". • "Art. 67 — Os projetos de colo nização, destinados à ocupação e valorização econômica da terra, em
que predominem o trabalho assalaria
mente, em alguma medida, a pro
priedade particular. É a aplicação lógi ca da norma por demais genérica e va ga do art. 2°,§ 4.°, de que quem traba lha a terra tem direito de nela ficar.
0 princípio correlato ao desta medida é que o trabalhador deve de preferência optar por continuar a serviço do mesmo proprietário. Por este princípio não vela o projeto, omitindo qualquer medida de estí mulo que a respeito caiba. Sugerimos que este dispositivo seja substituído por outro conceden do uma redução no imposto de lucro imobiliário para o proprietário que assegure a preferência ao arrendatário. • "Art. IDO — Quanto aos legíti
do ou contratos de arrendamento e
mos possuidores de terras devolu-
parceria, não gozarão dos benefícios previstos nesta lei".
tasfederais, observar-se-á o seguinte: 1 — o IBRA promoverá a discri
minação das áreas ocupadas por pos Mais uma expressão de que o seiros, para a progressiva regulari Estatuto da Terra tende a evitar a zação de suas condições de uso e formação de propriedades que não posse da terra, providenciando, nos casos e condições previstos nesta lei, a sejam de dimensão familiar. emissão dos títulos de domínio:
II — todo trabalhador agrícola • "§ 2° (do art. 69) — No caso em que o adquirente, ou seu sucessor, que à data da presente lei tiver ocu venha a desistir da exploração direta, pado e cultivado pacificamente por os imóveis rurais, vendidos nos ter
mais de um ano terras devolutas, terá
preferência para adquirir um lote da dimensão do módulo de propriedade lamento prever as condições em que rural, quefor estabelecido para a região, se dará essa reversão". obedecidas as prescrições da lei". mos desta lei, reverterão ao patri mônio do alienante, podendo o regu
231
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Ao art. 100 deveria ser acres
centado um inciso III dispondo que '^todo aquele que por cinco anos ininterruptos, em terras devolutas, sem oposição do Poder público, tiver ocupado e cultivado uma área igual ou superior ao módulo,adquirir-lhe-á o domínio mediante sentença declara-
Titulo /
rá promover a desapropriação da propriedade territorial rural, median
te pagamento de prévia e justa inde nização em títulos especiais da Divida Pública, com cláusula de exata corre
ção monetária segundo índices fixa dos pelo Conselho Nacional de Eco nomia, resgatáveis no prazo máximo
de vinte anos, em parcelas anuais se evitaria que deste artigo decorresse sucessivas, assegurada a sua aceita somente a formação de propriedades ção, a qualquer tempo, como meio de de dimensão familiar, como faz supor pagamento de até 50% do imposto sua redação atual. territorial rural e como pagamento do preço de terras públicas. Parágrafo 2.° — (...). Parágrafo 3.° — A desapropria Mas, dír-se-á, se unicamente a ção de que trata o parágrafo I.° é da propriedade de dimensões familiares é competência exclusiva da União e
tória devidamente transcrita**. Assim
que está na linha dè coerência do limitar-se-á às áreas incluídas nas Estatuto da Terra, como compre zonas prioritárias,fixadas em decreto ender que ele admita, em vários de do Poder Executivo, só recaindo so seus dispositivos, a existência de pro bre propriedades rurais cujaforma de
priedades de outras dimensões, e até exploração contrarie o disposto neste artigo, conforme a lei definir. Parágrafo 4.° — A indenização É preciso ter em mente que os em títulos somente sefará quando se acontecimentos bem recentes do País tratar de latifúndio, como tal con provaram que é impraticável a im ceituado em lei, excetuadas as ben plantação imediata de um sistema feitorias necessárias e úteis, que serão as favoreça quando constituem em presa rural?
constante só de propriedades de di mensão familiar, e que, em conse
sempre pagas em dinheiro.
qüência, só gradativamente a ele se
Parágrafo 5.° — (...). Parágrafo 6.° — f.../*.
pode chegar. Assim, o Estatuto da Terra não
O presente dispositivo do projeto
pode deixar de tolerar a existência de de emenda constitucional faculta ao
imóveis mais vastos, impedindo em Poder público desapropriar imóveis bora, quanto possível, que se consti rurais mediante indenização em títu tuam,e favorecendo, quanto possível, los da dívida pública. que se fraccionem. Em virtude dele, o proprietário À medida que o permitam as expropriado receberá em pagamento, circunstâncias, poder-se-á ir amplian por seu valor nominal, títulos sujei do essa ação fraccionadora por sim tos a flutuações de cotação em todo o ples ato do Executivo, graças à já período em que forem resgatáveis. E demonstrada fluidez dos conceitos de este período pode chegar a ser de empresa rural e latifúndio.
vinte anos. Chamar a isto de justa indenização importa em forçar além de toda medida o sentido da palavra
4. O pagamento das indenizações em titules
"justo**. Bem é de ver que, se fosse com
da divida pública: grave injustiça segundo
extrema urgência delas, seria admis
a doutrina católica
sível a presente disposição. Como foi
provado que o bem comum tem grave necessidade de tais desapropriações,e
dito, porém, nada disso se provou. • "Art. 6.° (da emenda constitucio nal) — Ao art. 147 acrescentem-se os seis parágrafos seguintes:
Assim, este dispositivo da emenda
constitucional é a justo título quali ficado como dos mais passíveis de
Parágrafo 7.° — Para os fins censura entre as proposituras do Exe cutivo concernentes à reforma agrária.
previstos neste artigo, a União pode 232
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
IIL O dirigismo no
Documentação II
faça lhe tenha sido permitido ou imposto expressamente por lei, e tudo que não faça lhe tenha sido proibido por lei.
Estatuto da Terra
Um ou outro desses pressupostos aflora aqui ou acolá em mais de um cabia fazer sobre a livre iniciativa e o dispositivo deste capítulo. dirigismo já foram feitas na parte II, Outra observação genérica a que o item 3. Limitemo-nos aqui tão-somen capítulo IV dá lugar é que ele revela te a comentar um a um os vários grande e louvável interesse pela tutela dispositivos em que aflora o sentido dos direitos do parceiro e do arren dirigista do Estatuto da Terra. datário, mas lhe falta simetricamente As considerações genéricas que
alguma medida de preocupação pela situação do proprietário. L Dirigismo em matéria de A conclusão das observações aqui feitas não é pela supressão deste arrendamento e parceria capítulo, mas por um reexame funda As disposições do título III, capi mental da matéria, com vistas a supri tulo IV, do Estatuto da Terra — "Do mir algumas disposições, tornar me liso e da posse temporária da terra", nos draconianas outras, substituir o aplicam ao arrendamento rural, e à recurso fácil das proibições absolutas
parceria no que a esta caiba, princí pios que têm inspirado a legislação de emergência referente ao inquilinato
por medidas de estímulo ou compres são mais elásticas etc.
urbano.
Afirmando embora que é próprio ao Estatuto da Terra dispor sobre a repressão de abusos existentes na
Entrando na apreciação mais dire
ta do assunto,seria preciso dizer antes
matéria, consideramos que — analo de tudo que, havendo embora conhe gamente ao que tem sucedido às cidos abusos em matéria de arrenda nossas sucessivas leis do inquilinato, e mento e parceria, disto não se deduz ao recente projeto do Executivo regu automaticamente que a lei os deva lando a locação urbana (cfr. "Repa suprimir, máxime na amplitude e com ros e Sugestões ao Projeto de Lei do o rigor previstos no capítulo IV. Inquilinato de iniciativa do Exmo. Sr. Não nos consta que hajam sido
Presidente da República", por Plinio feitos estudos destinados a provar que os abusos têm sido bastante genera deste capítulo deixam transparecer lizados para justificar estes dispositi pressupostos dos quais alguns não se vos. Em todo caso, admitindo que tais podem de todo aceitar, e outros são abusos ocorram com alguma intensi recusáveis pelo menos em parte. Tais dade em algumas partes do País, não Corrêa de Oliveira) — as normas
pressupostos são:
está provado que valha a pena por causa deles restringir a liberdade de contratar arrendamentos e parcerias
a) que todo abuso, desde que não seja raro, deve ser reprimido por lei; em toda a imensa extensão do terri tório nacional. Faltou neste capítulo a b) que tal repressão pode ser im parcimônia legislativa que deve carac posta a todo o território nacional, se terizar o verdadeiro legislador e a bem que os abusos só ocorram em nação bem organizada: péssima resalgumas áreas; publica plurimae leges. Por exemplo, teria sido preferível c) que toda repressão de abusos dotar o IBRA de poderes para aplicar deve consistir em uma norma proi estes dispositivos tão-somente nas bindo absolutamente de fazer algo, ou zonas em que suas investigações de mandando absolutamente fazer algo; monstrassem a ocorrência freqüente de abusos.
d) que o normal da legislação é ser tal, que tudo quanto uma pessoa
Outra observação a fazer é que em seu conjunto o presente capítulo ex233
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
prime frieza, para não dizer certa antipatia, em relação à parceria e ao arrendamento, coisa que se nota aliás
Titulo I
contidas nos itens XI e XII do art. 98 e nos itens V e VI do art. 99.
também em outras partes do Estatuto • "§ 5.° (do art. 95) — Á alienação
ou a imposição de ônus real ao da Terra. Esta posição não nos pa rece justificada. A prática revela que imóvel não interrompe a vigência dos uma e outro podem prestar serviços contratos de arrendamento ou de muito importantes em determinadas parceria, ficando o adquirente subsituações. E a boa doutrina prova que rogado nos direitos e obrigações do em si
mesmos nada têm eles de
alienante".
contrários à justiça social e ao exercí cio da função social da propriedade.
Rígido. Melhor seria assegurar Só é compreensível que assim não adequadas indenizações a serem pa pense quem vê na propriedade de gas pelo comprador ao arrendatário ou parceiro que ele viesse a despedir. dimensão familiar a única forma na tural e perfeita de propriedade, quer do ponto de vista filosófico, quer • "Item II(do art. 98)— Presume-se prático. O que no projeto de Estatuto feito no prazo mínimo de 3anos, o da Terra é um pensamento freqüente, arrendamento por tempo indetermi ora explícito, ora implícito. nado, observada a regra do item anterior".
• "Item I(do art. 99)— Oprazo dos
contratos de parceria, desde que Consideremos agora alguns dispo sitivos do capítulo em apreço:
não convencionado pelas partes, será no mínimo de 3 anos, assegurado ao parceiro o direito à conclusão da
• "§ 2°(do art. 95) — Os preços de arrendamento e de parceria,fixa
colheita pendente, observada a norma constante do inciso I do art. 98".
dos em contratos, serão reajustados
periodicamente, de acordo com os índices aprovados pelo Conselho Na
Muito rígidos, pois importam em proibir todos os arrendamentos e par cional de Economia. Nos casos em cerias por tempo indeterminado, in que ocorra exploração de produtos dispensáveis em certas situações. com preços oficialmente fixados, a O Estatuto da Terra exagera a relação entre os preços reajustados e tutela ao arrendatário e ao parceiro, os iniciais não pode ultrapassar a tratando-os um pouco como menores relação entre o novo preço fixado de idade que não podem ter a liber para os produtos e o respectivo preço dade de contratar por prazo curto ou na
época
do contrato, obedeci
indeterminado.
das as normas do regulamento des ta lei".
Este parágrafo parece proibir, pa ra todo o País, majorações superio res aos índices de correção monetária do CNE. Não consta que se tenha provado a necessidade de tal restri
• "Item IV (do art. 98) — Em igualdade de condições com estra
nhos o arrendatário terá preferência à renovação do arrendamento, devendo o proprietário, até 6 meses antes do
vencimento do contrato, fazer-lhe a competente notificação das propostas ção à liberdade de contrato, máxime existentes. Não se verificando a noti para todo o território nacional. A ficação, o contrato considera-se auto matéria deveria ser estudada pelo maticamente renovado, desde que o IBRA, para eventual elaboração de locatário, nos 30 dias seguintes, não outro projeto de lei, ou então dever- manifeste sua desistência ou formule
se-ia, em condições estabelecidas pelo regulamento, aplicar este dispositivo tão-só em zonas caracterizadas pelo IBRA, com possibilidades de recurso
nova proposta, tudo mediante simples registro de suas declarações no com petente Registro de Títulos e Do cumentos".
• "Item II(do art. 99)— Expirado o Comentários análogos cabem a prazo, se o proprietário não qui respeito de várias das disposições ser explorar diretamente a terra por
ao Judiciário.
234
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Documentação II
conta própria, o parceiro em igual autonomia dos "parceleiros** em rela dade de condições com estranhos terá ção às cooperativas e destas em rela preferência parafirmar novo contrato ção ao Poder público. Nada é possí de parceria". vel prever de muito preciso sobre o grau de sentido dirigista do possante Hirtos. Exageradamente genéri organismo cooperativista criado pelo cos. O arrendatário ou o parceiro vive Estatuto da Terra, nem sobre a liber muitas vezes na proximidade, e quase dade de movimentos do IBRA para na intimidade do proprietário e de sua lhe impor funda nota dirigista, in família. As condições de moralidade e dependente mesmo de leis coroconvívio daí decorrentes influem na
lárias.
renovação do contrato. Entretanto, é
Vejam-se também estes dois dis impossível demonstrar que a proximi positivos: dade do arrendatário e do parceiro, ou dos seus, não convém ao proprie • "§ tinico (do art. 3.°) — Os esta tário e aos seus. Todo o aspecto tutos das cooperativas e demais humano das relações de arrenda
sociedades que se organizarem na mento e parceria ílca excluído, dando forma prevista neste artigo deverão lugar a uma insuportável coarctação ser aprovados pelo Instituto Brasilei da liberdade de contrato. ro de Reforma Agrária (IBRA), que estabelecerá condições mínimas pa • "Item X (do art. 98) — O arren ra a democratização dessas socie
datário não responderá por qual quer deterioração ou prejuízo a que
dades".
não tiver dado causa".
O IBRA é que decide, sem mais restrições, sobre todos estes pontos.
Norma excessiva, se se referir ao
dano causado pelo empregado do • "Art. 27 — As terras desapropria arrendatário. Supérflua se excluir esse das para osfins de Reforma Agrá caso. ria ou que, de qualquer forma, vie rem a ser incorporadas ao patrimônio • "Item IV (do art. 99) — O pro do IBRA, de acordo com o disposto prietário assegurará ao parceiro nesta lei, respeitada a ocupação de que residir no imóvel rural, e para terras devolutasfederais, manifestada atender ao uso exclusivo da família em cultura efetiva e morada habitual, deste, casa de moradia higiênica e só poderão ser distribuídas: área suficiente para horta e criação de (••)• animais de pequeno porte". III — para a formação de glebas previstas nos projetos e destinadas à
À fixação pelo regulamento e pelo exploração extrativa, agrícola, pecuá IBRA do que seja moradia higiênica está aqui deixada uma amplitude excessiva, que pode dar margem até a medidas persecutórias de caráter polí tico. Conviria que neste ponto a lei fosse mais minuciosa, restringindo
quanto possível as tendências arbitrá rias e dirigistas da administração.
ria ou agro-industrial. por associações de agricultores organizados em sis tema cooperativista:
(...).
§ único — (...)".
Por que impor o sistema coope rativista? O Estatuto da Terra mani
festa seu sentido dirigista ao fazer tal imposição.
2. Dirigismo em matéria de cooperativas e "parceleiros" Quanto às perspectivas de diri
gismo em matéria de cooperativas, o
3. Dirigismo em matéria de colonização
Estatuto da Terra as abre largas, mais No que diz respeito à colonização, por seu silêncio do que pelo que diz. também apresenta o projeto várias Leiam-se por exemplo os arts. 70 a 77. disposições de sentido dirigista. Ve Nada dispõem eles sobre o grau de jamos algumas delas: 235
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo /
• "Art. 23 — o Poder Público,para • "Art. 69 — Os lotes de projetos de colonização podem ser: efeito de realizar desapropriações,
I — PARCELAS, quando se des nos termos da presente lei e da sua regulamentação, observados os pla tinam ao trabalho agrícola do parcenos regionais, deverá ter em vista a leiro e de sua família cuja moradia, quando não for no próprio local, há seguinte prioridade: de ser no centro da comunidade a que r...;; V — as áreas destinadas a em
elas correspondem;
II — URBANOS, quando se des preendimentos de colonização, quan do estes não tiverem logrado atingir tinam a constituir o centro da comu nidade, incluindo as residências dos seus objetivos. trabalhadores dos vários serviços im plantados nos núcleos ou distritos, Nem sempre será claro se o obje eventualmente as dos próprios parcetivo foi atingido ou não: quem deci leiros, e as instalações necessárias à dirá a respeito? E se vários objetivos localização dos serviços administra foram atingidos, ou o foi em boa tivos, assistenciais, bem como das parte o objetivo principal? E quem atividades cooperativas comerciais, decidirá se esse objetivo já devia ter artesanais e industriais. § 1.° — Sempre que o órgão sido atingido, ou ainda pode vir a sêcompetente do Ministério da Agricul lo? Sempre o IBRA. tura ou o IBRA não manifestarem
• "Art. 66 — Os projetos de colo dentro de 90 dias da consulta a nização particular deverão ser pre preferência a que terão direito, os lotes viamente examinados, quanto à me de colonização poderão ser alienados: a) a pessoa que se enquadre nas todologia, pelo IBRA, que inscreverá a entidade e o respectivo projeto em condições e ordem de preferência registro próprio. Tais projetos serão previstas no art. 28; ou aprovados pelo Ministério da Agri b) livremente, após 5 anos conta cultura, cujo órgão próprio coorde dos da data de sua transcrição. § 2.° — No caso em que o nará e Jiscalizará a respectiva exe adquirente, ou seu sucessor, venha a cução. § 1.° — Sem prévio registro da desistir da exploração direta, os imó entidade colonizadora e do projeto, e veis rurais, vendidos nos termos desta sua imprescindível aprovação, ne lei, reverterão ao patrimônio do alienhuma parcela poderá ser vendida em nante, podendo o regulamento prever programas particulares de colo as condições em que se dará essa nização.
reversão.
§ 2.° — O proprietário de terras próprias para a lavoura ou pecuária, interessado em loteá-las para fins de urbanização ouformação de sítios de recreio, deverá submeter o respectivo
§ — Aplica-se o disposto no parágrafo anterior aos casos em que os adquirentes mantenham inexplo radas áreas suscetíveis de aproveita mento, desde que existam, à dispo projeto à prévia aprovação e fiscali sição dos mesmos, condições objeti zação do órgão competente do Minis vas para sua exploração, na forma tério da Agricultura ou do IBRA, que o regulamento desta lei esta belecer. segundo a espécie. § 4.° — Na regulamentação das § - r-../'. matérias de que trata este capítulo, o Estatuto da Terra não defíne o com a observância das primazias já
sentido e a medida em que o IBRA pode impor condições para a apro vação dos projetos particulares de colonização, deixando o campo aber to a que, por exemplo, exija que o parcelamento se faça em propriedades
codificadas, serão estabelecidos: a) as exigências quanto aos títulos de domínio e à demarcação de di
de dimensão familiar.
nos e glebas de uso comum, bem como dos preços, condições de financia
Comentário análogo a esse vale
para o parágrafo 1.°. 236
visas;
b) os critérios para fixação das áreas limites de parcelas, lotes urba
mento e pagamento;
Documentação II
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
c) O sistema de seleção dos parce- e anticristão de vários dispositivos leiros e artesãos; limitações para dis dos projetos de emenda constitucio tribuição, desmembramentos, aliena nal (Projeto n.° 5/64) e de Estatuto ção e transmissão dos lotes; sanções da Terra (Projeto n.° 16/64), para o
pelo inadimplemento das cláusulas de que pedimos toda a atenção do ilustre Presidente da República e dos dignos colonização; d) os serviços que devem ser asse membros do Congresso Nacional. Estamos certos de que, movidos gurados aos promitentes comprado res, bem como os encargos e isenções um e outros pelo desejo de salvaguar tributárias que, nos termos da lei, lhes dar a propriedade privada e a livre iniciativa, saberão encontrar os meios sejam conferidos". necessários para promover o progres Ao Poder público não é lícito so rural do Pais sem prejuízo desses interferir de tal forma nas atividades dois princípios basilares da ordem das empresas de colonização de cará social cristã. ter privado. São Paulo,4 de novembro de 1964. O § 2.° implica em que um "parceRoma, 7 de novembro de 1964. leiro" não possa ter mais de uma propriedade' rural. E acarreta como conseqüência que, por invalidez defi D. Geraldo de Proença Sígaud nitiva, ele possa perder o lote (par Arcebispo de Diamantina cela) por pura e simples reversão deste ao patrimônio do alienante. D. Antonio de Castro Mayer O § 4.° torna particularmente Bispo de Campos frisante a intervenção do Poder pú blico na colonização particular.
Estes reparos e sugestões, apre sentados, cordial e atenciosamente, no interesse do Brasil e da civilização cristã, evidenciam o caráter socialista
Plínio Corrêa de Oliveira Presidente do Diretório Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da
Tradição, Família e Propriedade Luiz Mendonça de Freitas
237
Em 1964, a Nação se encontrara, de um momento para outro, na iminência de um golpe comunista. O desfecho inesperado da crise teve como
conseqüência uma brusca e profunda distensão da maioria
GbORIOStt
anticomunista do País.
Tal distensão, generalizada, difusa, mas profunda, levou diversos setores da
opinião pública —"dopados"assim pela despreocupação eufórica do período pós-Revolução — a assistir inertes à aprovação da Emenda Constitucional n.^ 10 e do Estatuto da Terra. No comício do dia 13 de março de 1964, no Rio, com a presença de Jango, oradores, cartazes e
manifestantes deixaram bem claro quanto o PCB contava lucrar com a implantação da Reforma Agrária socialista e confiscatória.
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"
Documentação III
Manifesto ao povo brasileiro sobre a Reforma Agrária
A Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade está cônscia de cumprir um dever sagrado para com a Pátria e a civili zação cristã ao erguer hoje sua voz, em meio a um silêncio completo, ou quase tanto, para se dirigir a toda a
mau sentido socialista). Agora, em face da emenda constitucional n.° 10 e
do Estatuto da Terra, que em subs tância repetem o projeto do governo deposto, a vida e o ardor de há pouco parecem não mais existir. Não se pense que esse fato decorreu de uma Nação brasileira sobre a reforma a- súbita e imponderada mudança de grária consubstanciada na emenda atitude ideológica ou tática dos opo constitucional n.° 10 e no Estatuto da sitores da reforma agrária socialista e Terra.
confiscatóría. Trata-se de um arrefeci
mento geral, que atingiu todos os setores da opinião pública sem discri
I. A opinião pública e a aprovação da reforma agrária
minação e se manifestou de modo flagrante, não só no marasmo dos adversários do agro-reformismo, co
mo na tibieza dos aplausos conven cionais de quase todos oS que, sendo
1. Antes do mais, é necessário um
agro-reformistas, tinham diante de si
esclarecimento sobre o significado do silêncio estranho em que a opinião pública presenciou a aprovação da reforma agrária.
a tarefa sempre grata e atraente de bater palmas a uma medida desejada com todo o aíinco pelo alto.
Todos temos na memória com
quanta vitalidade, com que ardor se
2. Melhor se compreende o signi ficado desta grande atonia analisan-
dividiram, há meses atrás, as corren
do-lhe as causas.
tes de pensamento, os partidos polí ticos, as organizações de classe, no debater os prós e os contras da
tia, não são muito raros na História.
reforma agrária proposta pelo então Presidente João Goulart. Chegou-se
mesmo a afirmar na imprensa que os marcos divisórios entre os partidos políticos haviam desaparecido,só res tando dois campos, o dos adeptos e o dos opositores da reforma agrária Qá então tomada essa expressão só no
Acessos como este, de súbita apa
Eles exprimem um estato de euforia confiante, e ao mesmo tempo de extenuação e de enfastiamento de uma opinião pública que acaba ape nas de sair de um período de grandes convulsões. A Nação se encontrara, de um momento para outro, às portas do comunismo. Reagindo contra o perigo, mobilizou ela suas forças vi239
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
vas para uma luta que ameaçava ser titânica. O desfecho inesperado da
Título /
parágrafos, incisos e alíneas. Consu mou-se assim às carreiras um dos
crise, poupando ao País a camiílcina mais importantesfatos da vida nacio iminente, varrendo o regime comuno- nal desde a Independência. corruptor, e alçando ao poder a figura Senadores e Deputados bem ha por todos acatada do ilustre Marechal viam deixado ver, de início, sua in quietação diante do projeto de Es Castello Branco, teve como conse qüência uma distensão brusca e pro tatuto da Terra apresentando a este funda, que correspondia a um anseio 425 emendas e 9 substitutivos. geral de paz, de ordem e de trabalho. Mas foi mister passar sobre tudo. Daí o voltar-se cada qual inteira Em 22 dias de debates e votação, a mente para suas atividades privadas, propositura teve de ser aprovada. O com o propósito de fruir — despreo Congresso agiu aliás de modo descupado de novas crises — a tranqüi concertante, introduzindo nela rapi lidade readquirida. damente cerca de 170 modificações, Esta atitude, de gregos e troianos, quase todas insignificantes. Com o foi um erro. Nela se exprimiu o vezo apoio das bancadas janguistas, os tão freqüente entre nós, de servirmos representantes das correntes que de puseram Jango fizeram através da atividades privadas, desinteressados aprovação da emenda constitucional da vida cívica. Ela teve por efeito que e do Estatuto da Terra a "reforma" as notícias sucintas divulgadas de que Jango queria. Só um pugilo de o País exclusivamente no setor das
quando em quando pela imprensa, sobre uma reforma agrária de inicia tiva governamental, a quase ninguém alarmaram. Pois parecia de todo inve rossímil que uma reforma agrária pudesse constituir um perigo na or dem de coisas surgida do glorioso
membros do Congresso, cujos nomes a História há de reter, soube discor dar, neste passo, do Executivo irre dutível.
Em meio a tanto açodamento, a voz destes bravos mal pôde chegar ao conhecimento do público. E mais ou
Movimento de 31 de março.
menos no momento em que chegava,
Essa causa psicológica, genérica e profunda, fez com que larguíssimos setores da opinião pública assistissem **dopados** pela despreocupação eufó rica do período de pós-revolução a
a atenção deste foi convergindo num
crescendo para um episódio de impor tância bem menor na ordem profunda dos fatos, mas que se desenvolvia em lances palpitantes. Foi o caso Mauro aprovação da emenda constitucional Borges, em Goiás. Irrompeu ele na n.<> 10 e do Estatuto da Terra. vida nacional, por coincidência, no momento exato em que ao agro-
3. Circunstâncias mais próximas reformismo convinha fazer-se pouco concorreram para acentuar largamen notado pela opinião pública, para te o alheiamento da opinião nacional. ^cançar mais facilmente sua alme O projeto do Estatuto da Terra, jada vitória. extenso, prolixo, usando de uma ter Cumpre ainda observar que os minologia por vezes confusa, não órgãos de cúpula da imensa rede de poderia ser assimilado pela opinião associações representativas da classe
pública média senão ao cabo de uma
rural, aos quais competia conjurar
longa divulgação. O debate no Legislativo seria a
tantos fatores adversos, alertando seus associados e o Brasil, ou não
ocasião normal para que o público se atuaram, ou mobilizaram meios de esclarecesse sobre o conteúdo do pro ação nitidamente desproporcionados jeto. Mas a urgência imposta pelo às necessidades do momento. Este governo para a tramitação dele — fato é notório. Não nos compete como aliás também da emenda cons analisá-lo, nem dele queremos fazer titucional — estrangulou os debates,e base para qualquer comentário, me constituiu obstáculo a que fosse escla nos ainda para uma censura. Regis recida a opinião nacional. tramo-lo tão-somente,e a isto não nos Em trinta dias o Congresso teve podemos furtar pois ele contribuiu que examinar, emendar e votar um muito sensivelmente para que se man projeto de 133 artigos e mais de 500 tivesse descuidada grande parte da 240
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Documentação III
opinião que — convém lembrá-lo ainda uma vez — há poucos meses
atrás vibrava a respeito do assunto.
Por fim, não é de todo sem interesse II. O Estatuto da Terra, esse desconhecido notar que do próprio setor empresa
rial partira um tal ou qual apoio à
reforma agrária, com a publicado de
Os autores de "Reforma Agrária
um livro faustoso e pouco consistente que visava dar ao agro-reformismo
— Questão de Consciência" elabora ram um estudo sobre os projetos de que resultaram a emenda constitu
certo **tonus** conservador; como se a
reforma agrária, abrindo as portas cional n.° 10 e o Estatuto da Terra, para a reforma industrial e comer considerados especialmente do ponto cial, não representasse, por assim de vista do direito de propriedade e da dizer, o suicídio da classe daqueles livre iniciativa. mesmos que editavam tal livro. Tão complexo é o Estatuto da Terra que, meramente sob esse duplo 4. Como se vê, não é a uma ângulo e excluindo tantos outros as mudança ideológica e tática do setor anti-agro-reformista, e menos ainda é só a essa mudança, que se deve o ocorrido. Uma conjugação de fatores próximos e remotos, de vária natu
pectos alarmantes de ambas as propo-
situras governamentais, o estudo em apreço, feito com toda a concisão, encerra 35 laudas datilografadas. Mal houve tempo para elaborá-lo e distri reza, é que a isto conduziu. buí-lo aos Srs. Senadores e Deputa Pelo contrário,aquele setor, escla dos, os quais só à última hora o recido e alertado, está apresentando receberam. Quanto a uma divulgação sintomas animadores de reatividade. resumida e para conhecimento po Prova-o a acolhida que vem tendo pular, não foi possível promovê-la a a "Declaração do Morrp Alto", da tempo. qual se esgotou em um mês a primeira Por isto talvez, nenhum órgão edição de 12 mil exemplares. Esse privado, que saibamos, procedeu à trabalho, que tem por autores o divulgação de uma súmula dos pro Bxmo. Revmo. Sr. D. Geraldo de jetos em termos facilmente acessíveis Proença Sigaud, S.V.D., Arcebispo ao grande público,como também não de Diamantina, o Exmo. Revmo. Sr. cogitou disso o governo. Pena é que
D. Antonio de Castro Mayer, Bispo assim tenha sido, pois o esclareci
de Campos, e dois signat^os deste mento da opinião pública é inerente manifesto, o Prof. Plinio Corrêa de
ao que o regime atual tem de mais
Oliveira e o economista Luiz Men
básico e característico.
donça de Freitas, resume em sua
Agora pelo menos, promulgadas
primeira parte os aspectos essenciais ambas as leis, pode a Sociedade do livro "Reforma Agrária — Ques Brasileira de Defesa da Tradição, tão de Consciência", e na outra con Família e Propriedade informar o tém um programa positivo de política público de alguns traços do Estatuto agrária elaborado pelos autores desse da Terra, que para ele continua a ser livro, ouvida uma distinta comissão um grande desconhecido. Claro está de fazendeiros e técnicos da região de que se trata da enunciação sintética de Amparo, Bragança Paulista e Sul de apenas alguns aspectos do imenso Minas. texto legal. A difusão da "Declaração do Morro Alto", feita por todo o Brasil pela Sociedade Brasileira de Defesa da TYadição, Família e Propriedade, e IIL O direito de propriedade a acolhida vitoriosa que ela teve, bem no Estatuto da Terra demonstram quão viva permanece em
nosso Pais a receptividade para uma Especialmente desconhecidos e en atuação cívica que, dentro da mais tretanto dignos de nota são os dispo escrupulosa è intransigente legalida sitivos da lei que deixam mutilada e de, continue a opor barreiras ao agro- agonizante a propriedade rural no reformismo socialista e confiscatório. Brasil. 241
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo /
1. A tendência fundamental do social, quer da plena produtivi Estatuto da Terra em matéria de
dade.
Quanto a este princípio, e, pois, quanto a seus corolários e suas con a) promove ele ativamente o frac- seqüências, está a lei em formal desa cionamento de terras não só devolucordo com o citado livro "Reforma tas, como também particulares, estas Agrária — Questão de Consciência", últimas mediante desapropriação; que, não regateando embora sua sim b) esse fraccionamento visa sem patia à propriedade de dimensão fa pre constituir uma propriedade ou miliar, afirma também ser inteira "parcela" que corresponda ao "mó mente conforme à justiça social a dulo rural" — as expressões são do propriedade grande e média, e ser Estatuto da Terra — isto é, que tenha eventualmente maior a capacidade de tão-só a extensão necessária para ser produção destas do que a da proprie cultivada pessoal e diretamente pelo dade familiar, de acordo com a natu reza do solo, da cultura, etc. proprietário e sua família; A Sociedade Brasileira de Defesa c) a "parcela", resultante da refor da Tradição, Família e Propriedade ma agrária, não pode ser vendida a pleiteia pois a existência simultânea e quem já for proprietário rural. O harmônica em nosso País dos três "parceleiro" só pode ser dono de uma tipos de propriedade, a grande, a "parcela". Se deixar de explorar dire média e a pequena, em vez de uma estrutura rural consiste em que:
tamente sua terra, esta reverterá ao estrutura rural socialista, constituída alienante;
tão-somente de pequenas glebas.
d) as "parcelas" serão reunidas, 2. O processo pelo qual se desen cooperativas das quais o Estatuto da cadeia o mecanismo expropriatório Terra não diz que autoridade terão do Estado é o seguinte: sobre os proprietários, nem que auto
em todo o território nacional, em
a) ocorrendo em uma região, a juízo do Instituto Brasileiro de Re Público; forma Agrária (IBRA) — órgão au e) incorreto em sua terminologia, tárquico na dependência direta da
ridade
sobre
elas
terá o Poder
confuso e passível eventualmente das Presidência da República — um esta mais perigosas interpretações, é o art. do de crise ou de tensão, o Instituto 3.°: "Art. 3.° — O Poder Público promove ali, por meio de desapro reconhece às entidades privadas, na priações e fraccionamentos, a altera cionais ou estrangeiras, o direito à ção da estrutura agrária. Às áreas em propriedade da terra em condomínio, condições como estas, o Estatuto da quer sob a forma de cooperativas Terra qualifica de áreas prioritárias quer como sociedades abertas consti de reforma agrária. Como ele não tuídas na forma da legislação em define em que consiste nem a crise vigor". Que é aí "condomínio"? Pre nem a tensão, um número indefinido tenderia o dispositivo negar o direito de propriedades rurais fica assim su à propriedade da terra às sociedades jeito aos riscos da reforma agrária; que não tenham "forma de coopera b) para o fim acima, o IBRA tiva" ou não sejam "abertas"? Pena é que, introduzindo centenas de modi promove a criação de um órgão local, ficações no projeto do Executivo, o a Delegacia Regional do Instituto Congresso haja deixado intacto este Brasileiro de Reforma Agrária (IBRAR), que procede aos estudos e misterioso artigo; fixa os planos para as desapropria f) em síntese, o que hoje se con ções, e as executa; vencionou chamar a "filosofia" da lei
c) em cada área prioritária haverá considerar para todo o território na um órgão — Comissão Agrária — cional a propriedade de dimensão constituído por um presidente no familiar como o único tipo inteira meado pelo IBRA,três representantes mente satisfatório de propriedade, dos trabalhadores rurais e três dos quer do ponto de vista da justiça proprietários, um representante de consiste, no Estatuto da Terra, em
242
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Documentação III
entidade pública ligada à agricultura e nar. A desapropriação nunca será um representante de estabelecimentos anulada judicialmente. O imóvel de de ensino agrícola. A esse órgão sapropriado não poderá voltar às caberá, entre outras coisas, instruir e mãos do seu dono, a quem se permite encaminhar os pedidos de aquisição e apenas pleitear o ressarcimento de de desapropriação de terras, e mani perdas e danos. festar-se sobre os candidatos a estas.
3. As normas para a desapropria ção em áreas prioritárias são as se guintes: a) O IBRA demarcará no País
5. A indenização pelo imóvel expropriado, reputada justa pelo Estatuto da Terra, não será idêntica
ao valor venal, pois em sua fixação se levarão em conta também outros
fatores (indicados no art. 19, § 2.°, regiões de características econômicas letra "a").
e ecológicas homogêneas, e estabe lecerá para cada região, segundo os 6. A forma de pagamento, para os vários gêneros de exploração rural, a chamados latifúndios, poderá-ser, se dimensão da propriedade familiar, gundo a emenda constitucional n.° 10, isto é, daquela que pode ser explo mediante títulos da dívida pública, rada pessoal e diretamente pelo proresgatáveis no prazo máximo de 20 priet^io e sua família; anos,com juros que serão de 6%a 12%, b) ainda que perfeitamente bem a juízo do Poder Executivo. Esses explorados, serão qualificados de lati títulos terão seu valor nominal su fúndio e sujeitos a desapropriação jeito a correção monetária e, pois, todos os imóveis cuja extensão for garantido em princípio contra a infla superior a 600 vezes o módulo da ção. Porém seus portadores não terão zona; ou ainda aqueles cuja extensão garantias contra o risco de, no mer exceder a 600 vezes a média das áreas
cado, serem estes títulos cotados abai
das propriedades rurais da zona;
xo do valor nominal.
c) o IBRA fixará para cada região
os tipos de exploração que repute mais adequados, e o nível de produ IV. A livre iniciativa tividade que devem apresentar. As no Estatuto da Terra propriedades que não se conforma rem com os padrões do IBRA esta rão automaticamente incluídas na ca
Não nos podemos alongar nesta
tegoria de latifúndios, qualquer que exposição. E, assim, sobre o impor tante aspecto em epígrafe apenas ob
seja a sua dimensão (desde que supe rior ao módulo), ficando sujeitas por tanto a desapropriação;
servaremos aqui que:
a) pela imensidade de atribuições
que o Estatuto da Terra põe nas mãos do IBRA, não só fica este com ção as terras não cultivadas; poderes expropriatórios dos mais am e) ainda que inexplorados ou mal plos, como recebe umafunção verda explorados, não estarão sujeitos a deiramente diretiva no que diz res desapropriação os imóveis rurais que peito às atividades agropecuárias de d) estarão sujeitas a desapropria
tiverem até três vezes a área corres
todo o Pais;
pondente ao módulo;
b) com efeito, contra quem não í) estarão igualmente sujeitos a explorar suas terras como o entender desapropriação os minifúndios, isto é, o IBRA, ficará reservado a este, em as propriedades de área inferior ao um grande número de casos, o recur módulo, e que por isto não bastam, a so de brandir o gládio expropriatório; juízo do IBRA, para o sustento do agricultor e sua família. c) com a repercussão indireta de tudo isto, jamais no Império ou em 4. Decretada a expropriação^ e outra fase de nossa vida política terá não havendo acordo, o IBRA ingres havido tal soma de poderes em mãos sará em juízo, obtendo imissão limi do Chefe de Estado; 243
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agraria?
Titulo I
está nas medidas restritivas adotadas
Estatuto da Terra a opinião pública. Bem como para fazer sentir aos par tidos políticos — tão omissos lamen
por este a respeito de salariado, par
tavelmente nesta matéria, com exce
ceria e arrendamento. Estas medidas são conformes à "filosofia" do Esta
ção dos esquerdistas de todos os
d) outra forma de cerceamento da livre iniciativa no Estatuto da Terra
tuto. Pois este, se permite a exis tência de imóveis de dimensão supe rior à familiar, explorados segundo as
matizes, desde o PDC ao comunismo
— e aos Poderes Públicos, o que pensam, o que sentem e o que querem.
diretrizes dele, entretanto reserva to
A perspectiva em que as circuns tâncias nos colocam constitui para o
da a sua dileção e suas esperanças
Brasil uma verdadeira encruzilhada, a
melhores para as propriedades de mais grave de sua história. É bem verdade que a muitos dimensão familiar. Ora, a implan tação destas em todo o Brasil supõe brasileiros honrados mas inadvertidos por força a extinção da parceria, do passa despercebido que o aspecto arrendamento e, em larga medida, mais ameaçador do perigo comunista é, nestes dias, o deslizar do País para também do salariado. o comunismo através de sucessivas leis socialistas.
V. Perspectivas propicias
Mas se as correntes de opinião esclarecidas e previdentes, que reco nhecem no avanço do socialismo pro
Esta enumeração não tem de mo gressista, "demo-cristão" ou que ou do algum o sentido de um dobre de tro nome tenha, esse deslizar certeiro finados. Com efeito, apresenta o Es se bem que macio do Brasil para o tatuto da Terra um aspecto pelo qual comunismo, souberem fazer sentir tudo ainda poderá ser salvo, à medida sua influência junto aos Poderes Pú
que a opinião nacional, devidamente
blicos, criarão entraves salutares à
esclarecida e despertada desse como
expansão do agro-reformismo em
que letargo hipnótico em que esteve
nosso País.
imersa, se vá afirmando.
E queira Deus que assim seja, para a grandeza do Brasil nas vias da civilização cristã. Mesmo porque, se
Temos à frente do País um militar
ilustre, que tem timbrado em respeitar as liberdades constitucionais. Apro não erguermos barreiras agora ao veitar delas para agir dentro da lei é socialismo agrário, amanhã começa um direito, e mais do que isto é um rão a ferver os fermentos da reforma dever. da empresa industrial e comercial. Agir em que sentido? O Estatuto Para tanto não falta o exemplo da Terra confere ao IBRA, já o contagioso do que estão empreenden dissemos, atribuições imensas. Mas do as cúpulas esquerdistas da Demo estas podem ser definidas e circuns cracia Cristã em outros países da critas, por meio de disposições regula- América do Sul. Mas esta é outra mentares ou leis corolárias,com gran questão, complexa e rica em perigo de proveito para o direito de proprie sos desenvolvimentos, da qual não é lugar de tratar aqui. dade e a livre iniciativa. O que cabe, pois, é que, não só a Sociedade Brasileira de Defesa da São Paulo, 24 de dezembro de 1964 TYadiçõo, Família e Propriedade, mas todas as associações de classe, todos
os grupos sociais, todos os brasilei ros, enfim, cônscios dos riscos que corre com a mutilação do direito de propriedade e da livre iniciativa a própria civilização cristã, cooperem para esclarecer sobre o conteúdo do
244
O Diretório Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da
Tradição, Família e Propriedade Plinio Corrêa de Oliveira Presidente
(Seguem as demais assinaturas)
Apêndice
106 Bispos brasileiros favoráveis à Reforma Agrária
Reforma agrária,
expressão inicial mente pouco de finida
Até 1960, constituíam minoria es
parsa e numericamente insignificante os brasileiros que cogitavam em re forma agrária. E nem era essa expres
pelo proprietário atual, a Reforma Agrária a subdivide depois entre tra balhadores rurais que a recebem grá tis ou mediante compensação irrele
são usada num sentido defínido. Fora
vante.
do minguado arraial comunista, a reforma agrária era uma nebulosa
Esse o significado corrente de Reforma Agrária.
com a qual acenavam — ou brin
À vista das enormes áreas deso
cavam — uns poucos originais. cupadas de nosso território-continenA partir da grande celeuma agro- te, tal Reforma Agrária importa num reformista dos anos 60 e dos estron esbulho. Pelo que aprová-la no plano dos episcopais agro-reformistas cor- doutrinário importa, por sua vez, em relatos, cujo espírito e cuja meta se pôr em xeque o próprio direito de consubstanciaram tão adequadamen propriedade. te no Estatuto da Terra de 1964, a Em nossa linguagem corrente, é reforma agrária passou a ser — com agro-reformista quem quer que aceite fases de intensidades variáveis — tema de todas as conversas. A expressão fi xou-se a partir da
grande celeuma agro-reformista dos anos 60
Significação cor rente: remodela
ção compulsória da estrutura agrí cola
esbulho
Reforma Agrária: conteúdo defini
o conteúdo da reforma. Tanto os que
do, dimensões e
desejam um fracionamento limitado a parte do território nacional, ou afe
contornos variá-
"Reforma Agrária"... A expressão fixou-se e é hoje familiar a todos os tando tão-só os imóveis rurais muito brasileiros. Mas continua tendo, em grandes, como quem reivindique a nossa linguagem quotidiana, um con partilha de todas as propriedades teúdo de contornos não inteiramente grandes ou médias e — agravante — a definidos. Porém, denso de signi efetivação da partilha em toda a área ficação. cultivada do Pais. As dimensões^ os Se bem que tal significação não contornos da reforma são variáveis, esteja expressamente incluída nem em dentro das próprias fileiras agro-re "Reforma" nem em "Agrária", o bra formistas. sileiro médio entende por "Reforma O IPT pleiteia para a Reforma Agrária" uma remodelação compul Agrária os contornos mais amplos, sória de nossa estrutura agrícola, ten isto é, a divisão em alvéolos iguais de dente a fragmentar propriedades me todo o solo. diante indenização sensivelmente in
A Reforma Agrá ria importa num
Para situar-se ante a Reforma
ferior ao preço corrente da terra. Um Agrária, um observador atento, so confisco drástico e mal velado, por bretudo quando é católico, não pode tanto. A terra assim "desocupada" deixar de tomar em consideração. 247
O IPTpleiteia os contornos
mais
amplos para a Reforma Agrária
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
ademais do IPT, outros pronuncia mentos emanados de Bispos, ou de organismos episcopais brasileiros. Na Os Bispos brasi leiros entendem a
expressão do mes mo modo que o público a que se dirigem
Titulo I
Com efeito, é concebivel que al guém faça restrições à doutrina do IPT, não porém às medidas concre
sua quase totalidade, são eles favo tas que este preconiza. Ou que consi ráveis à Reforma Agrária. E, é claro, dere excessivas tais medidas, e deseje desde que se dirijam ao público usan uma Reforma Agrária menos ampla, do essa expressão sem outras quali ficações, entendem-na como o pú blico a entende. Pois não há inter-
se bem que também ela lesiva do direito de propriedade. Enquanto a opinião nacional es
locuçâo válida entre homem e ho mem, ou entre homem e multidão,
pera tais esclarecimentos, fica sempre de pé que, com estes ou aqueles
senão admitindo que os interlocu contornos, a substância da Reforma tores usam uma linguagem comum. Agrária foi aprovada por 106 Srs. Os Bispos que se pronunciam a favor Bispos, seja em declarações indivi da Reforma Agrária, aceitam-lhe o duais, seja em pronunciamentos cole conteúdo que a linguagem corrente tivos, anteriormente ou posteriormen atribui a esta.
Embora com con
tornos variáveis, a substância da
Reforma Agrária foi aprovada em pronunciamentos de 106 Srs. Bis
pos, além do IPT
te ao IPT.
Por excesso de matéria, não é
Até que ponto os Bispos que apro varam o IPT se
sentem
compro
metidos com documento?
o
Apelo para que esclareçam o pú blico
Com que contornos cada Bispo a concebe? Dentro do significado gené rico acima explicitado, querem-na
possível transcrever neste Apêndice todos esses pronunciamentos,os quais são simplesmente aqui catalogados. O documentário a seguir apresen tado consta pois da relação, em or dem alfabética, dos Srs. Cardeais,
mais ampla ou menos ampla? Até que ponto se sentem individualmente com Arcebispos e Bispos que se decla prometidos com os documentos epis raram favoráveis a uma Reforma copais coletivos que aprovaram, dos Agrária, com a indicação da respec tiva fonte em que se encontram tais quais o mais recente é o IPT? Uma vez que aconselham ao povo pronunciamentos (I). a Reforma Agrária, seria normal que especificassem qual a amplitude que desejam para esta. Está no dever do Bem entendido, a presente relação médico não só prescrever a substân cia curativa, mas dosá-la... e assinar a não pretende ser completa. Ela abarca receita. simplesmente o material que a TFP Os Bispos que prescrevem ao Pais pôde coligir. a medicação desastrosa da Reforma A documentação competente en Agrária seriam lógicos consigo mes contra-se nos arquivos da entidade, à mos se dissessem que dose dela reco disposição de todos aqueles que,devi mendam a este pobre País. E caso damente credenciados, se apresentem essa dose não seja tão carregada como para examiná-los. Não obstante tra no IPT, o que exprime verdadei tar-se de documentos de domínio ramente seu pensamento: o pronun público, aparecidos na imprensa, ou ciamento individual, ou o pronuncia que podem ser adquiridos nas livra rias, a TFP prontifica-se a fornecer mento coletivo que aprovaram? Aqui fica um apelo para que sobre aos interessados, mediante reembolso estes dois pontos — a dosagem de das despesas, cópias xerox dos mes agro-reformismo e a identidade des mos. Muitos dos Srs. Bispos fizeram ses Bispos com o IPT — eles melhor declarações sobre a Reforma Agrária esclareçam o público.
não inteiramente claras, sendo difícil
Objeções e restri ções possíveis ao
IPT por parte de ^pos que entre tanto apoiam a
Reforma Agrária
Talvez não seja supérfluo notar que uma pessoa pode levantar obje-
determinar se a ambigüidade resulta das próprias declarações, ou da ma neira como os jornais as publicaram.
^s ao IPT — por exemplo,acerca da influência marxista que se faz sentir (1) O sinal (*) indica que se trata em tópicos deste — e, ao mesmo tem de documento coletivo no qual ocorre po, apoiar a Reforma Agrária. o nome do Sr. Bispo. 248
A presente rela ção não pretende
ser completa Documentação à disposição dosin teressados
Declarações am
bíguas nãoforam incluídas
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Apêndice
Assim, não é possível classificá-las Aloísio, "Jornal de Brasília", 19-2-80. quer como favoráveis quer como con • Os 15 anos do Estatuto da Terra trárias à Reforma Agrária, razão pela (Discurso pronunciado em 2 de de qual não foram aqui incluídas. zembro de 1979), "SEDOC, março de 1980, cols. 879-884.
Cardeais D. Alfredo Vicente Scherer —
Arcebispo de Porto Alegre e Pre sidente do Regional Sul III da CNBB
D. Avelar Brandão Vilela, Ar
cebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil • Cardeal Primaz condena estrutura
feudal, "Estado de Minas", Belo Ho • Na missa de despedida, cardeal rizonte, 28-3-76. defende os colonos,"O Estado de S. Paulo", 1-7-78.
• D. Avelar falou, "Correio da Ba hia", 10-5-79.
•"Não me dês a pobreza nem as riquezas, apenas, o necessário para • D. Avelar diz que aumento traz viver"! A Voz do Pastor, "Correio do déficit, "Jornal de Brasília", 10-5-79. Povo", Porto Alegre, 20-3-79. • Documento mais importante é • Cardeal Scherer quer uma política mensagem do Papa aos Bispos,"Jor que proteja o pequeno agricultor / A nal do Brasil", 8-6-80. Voz do Pastor ,"Correio do Povo", • Bispos afirmam que fome é cau
Porto Alegre, 26-2-80. sada pela ganância, "A Tarde", Sal • Bispos e Provinciais do Rio Gran vador (BA), 8-11-80. de do Sul enviam Mensagem aos • Oração Dominical,"A Tarde",Sal Drabalhadores Rurais * (Encontro vador (BA), 9-11-80. dos Bispos e Provinciais do Rio Grande do Sul, Viamão,9 de abril de 1980), "Revista Eclesiástica Brasilei
D. Eugênio de Araújo Sales, ra", vol. 40, fase. 158,junho de 1980, Arcebispo do Rio de Janeiro pp. 335-337(ver também "Correio do Povo", Porto Alegre, 10-4-80; "No • D. Eugênio: Egoístas se opõem à tícias" — Boletim semanal da CNBB reforma agrária, "O Globo", 19-8-72 — Ano XI, n.° 18, 2 de maio de 1980; (ver também "A Notícia", Rio de "SEDOC, maio de 1980, cols. 1104- Janeiro, 19-8-72). 1107).
• Padre João Bosco,"Jornal do Brasü", 16-10-76.
D. Frei Aloísio Lorscheider,
O.F.M. — Arcebispo de Fortaleza D. Frei Paulo Evaristo Arns, • V Congresso Estadual dos Traba O.F.M. — Arcebispo de S. Paulo lhadores Rurais / Palavras de D. • D. Arns,"Diário de Pernambuco",
Aloísio (Porto Alegre, 6 a 9 de julho de 1971), "SEDOC", novembro de
13-8-79.
• Igreja pede urgência na Reforma Agrária / Dom Paulo quer reforma • Reforma agrária foi tema de D. agrária que não beneficie o capita Aloísio com Prieto, "Folha de S. lismo, "Tribuna da Bahia", Salvador, 1971, cols. 621-623.
Paulo", 25-3-76.
3-9-79, pp. 1 e 6. Globo", • Força do Povo e Religião / En 7-2-/9. contro com o Pastor,"O São Paulo", • D. Aloísio vê na reforma agrária a 7 a 13-9-79. solução, "A Província do Pará", Be • Arcebispos retomam luta pela re lém, 2-5-79. forma agrária, "O São Paulo", 7 a • Reforma
Agrária, "O
• Problema de terras é grave diz D. 13-9-79. 249
Os pronunciamentos individuais
dos Bispos não engajam a CNBB. Entretanto, quando favoráveis à reforma agrária, constituem valiosas manifestações de apoio de elementos de '*base*' da CNBB à orientação agro-reformista que o organismo vai tomando.
D. Cândido Padim, Bispo de Bauru (SP)
D. José Maria f*ires, Arcebispo da Pa raíba, tem sido um dos mais ferrenhos
propugnadores de uma Reforma Agrária socialista e confiscatória.
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Apêndice
• D. Evaristo, por uma sociedade • Igreja Católica também dá seu nova, "Folha de Londrina", 2-12-79. apoio aos invasores, "A Voz dos • Dom Paulo defende preocupação Trabalhadores", Goiânia, abril-maio
da Igreja com questão agrária,"Folha
de 1980.
de S. Paulo", 2-2-80.
• Cardeal Arns: — Não queremos o bagaço, "O Dia", Rio de Janeiro, D. Geraldo Fernandes Bijos, 16-4-80.
C.M.F. — Arcebispo de Lon drina (PR)
• Comunicação do Episcopado do Paraná sobre os problemas da terra * (Documento da XXV Assembléia Re D. Alberto Gaudêncio Ramos gional, Curitiba, 17 de fevereiro de
Arcebispos
— Arcebispo de Belém • D. Alberto pede união na Cam
panha,"O Estado do Fará", 21-2-80.
D. Antonio Barbosa, S.D.B. —
Arcebispo de Campo Grande
1978), "Boletim da Comissão Pasto ral da Terra", ano IV, n.° 15, marçoabril de 1978, pp. 10-14.
D. Geraldo de Proença Sigaud,
S.V.D.—Arcebispo Resignatário de Diamantina (MG)
• Arcebispo pede tranqüilidade nos • Bispo de Diamantina admite pena problemas fundiários, "O Globo", 23-2-80.
de morte contra crime, "Jornal do
Brasil", 27-1-80, p. 8.
D. Armando Cirio, O.S.J. —
Arcebispo de Cascavel
D. Hélder Pessoa Câmara —
Arcebispo de Olinda e Recife
• Comunicação do Episcopado do
Paraná sobre os problemas da terra ♦ • Dom Hélder quer Igreja ao lado (Documento da XXV Assembléia Re dos oprimidos, "Estado de Minas",
gional, Curitiba, 17 de fevereiro de
17-2-71.
1978), "Boletim da Comissão Pas • Eu ouvi os clamores de meu po toral da Terra", ano IV, n.® 15, mar- vo * (Documento de Bispos e Supe
ço-abril de 1978, pp. 10-14.
riores Religiosos do Nordeste, 6 de maio de 1973),"SEDOC", novembro de 1973, cols. 607-629.
• D. Hélder lança campanha da Igre Arcebispo de Uberaba (MG) e ja pela Reforma Agrária em 30 de Presidente do Regional Leste II novembro,"Jornal do Brasil", 1-9-79. da CNBB • Dom Hélder diz que a Igreja reu nirá povo pela Reforma Agrária,"A • Bispo de Uberaba acusa os que Tarde", Salvador, 3-9-79. têm medo de perder privilégios / Ser • Reforma Agrária terra para quem mões em cadeia no triângulo, "O trabalha na terra (Centro de DÍefesa Dia", Rio de Janeiro, 10-5-80. dos Direitos Humanos, Secretariado D. Benedito Ulhoa Vieira —
Re^onal do Nordeste II da CNBB), D. Fernando Gomes dos Santos
— Arcebispo de Goiânia
Edições Paulinas, São Paulo, Cole
ção Cadernos Pastorais, 1979(Apre sentação por D. Hélder Câmara).
• Marginalização de um Povo f Gri • Bispos apelam para a não vio
to das Igrejas *(Documento de Bispos lência — Bispos tangem gado em Alagamar, "A União", João Pessoa, 6-1-80, pp. 1 e 12.
do Centro-Oeste, Goiânia, 6 de maio de 1973).
251
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo /
• "Estatuto da Terra só beneficiou duro com o povo,"A Tarde", Salva patrões", "Diário do Povo", Campi dor (BA), 7-11-80. nas, 30-1-80.
• D. Hélder defende reforma agrá ria, "Jornal do Brasil", 6-9-80.
• Cantata pra Alagamar (Prefácio), Discos Copacabana, São Bernardo do Campo (folheto sem data). • A Igreja dos Pobres na América Latina, por José J. Queiroz (org.). Livraria Brasiliense Editora,São Pau lo, 1980, pp. 89-90.
D. Jaime Luís Coelho — Arce
bispo de Maringá (PR) • Comunicação do Episcopado do Paraná sobre os problemas da terra • (Documento da XXV Assembléia Regional, Curitiba, 17 de fevereiro de 1978),"Boletim da Comissão Pastoral da Terra", ano IV, n.° 15, marçoabril de 1978, pp. 10-14. • Os direitos e a Justiça Social no 4.° Encontro de Justiça e Paz * (4.°
D. José Freire Falcão — Arce
bispo de Teresina e Administrador Apostólico de Pamaíba (PI) • Nota da Comissão Episcopal da CNBB do Regional Nordeste I*(São Luís, 25 de agosto de 1970), in Pas toral da Terra, Estudos da CNBB-11,
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reiro de 1980), in José Queiroz(org.), A Igreja dos pobres na América Latina, Livraria Editora Brasiliense,
São Pauío, 1980, pp. 82-92. • D. José: a Igreja dos oprimidos, "O Norte", João Pessoa, 9-3-80.
Encontro Estadual da Comissão Pon D. José Maria Pires — Arce tifícia de Justiça e Paz do Paraná, bispo de João Pessoa e Presidente
Apucarana, 1.° de dezembro de 1979), do Regional Nordeste II da CNBB "Voz do Paraná", Curitiba, 15 a 21 de
• Juventude rural, produtividade em potencial (Palestra para membros do Clube 4S, março de 1972) in Do Centro para a Margem (coletânea de D. JoAo José da Mota e Albu Cartas Pastorais, Palestras, Entrevis querque — Arcebispo de São tas, Declarações do Arcebispo da
dezembro de 1979.
Luís do Maranhão
Paraíba), Editora Acauã, João Pes
soa, 1978, pp. 13-21. • Nota da Comissão Episcopal da • Eu ouvi os clamores de meu po CNBB do Regional Nordeste I*(São vo * (Documento de Bispos e Supe Luís, 25 de agosto de 1970), Pastoral riores Religiosos do Nordeste, 6 de da Terra, Estudos da CNBB-11, Edi maio de 1973),"SEDOC",novembro ções Paulinas, São Paulo, 1976, pp. 130-133.
de 1973, cols. 607-629.
• Sobre os problemas do campo
• Eu ouvi os clamores de meu po vo * (Documento de Bispos e Supe (Terceira Carta Pastoral, dezembro riores Religiosos do Nordeste, 6 de de 1975), op. cit., pp. 30-34. maio de 1973),"SEDOC,novembro • Sobre o sofrimento dos agricul tores (Quarta Carta Pastoral, 5 de de 1973, cols. 607-629.
março de 1976), op. cit., pp. 35-39. • O homem livre, imagem de Deus (Discurso de paraninfo geral dos conD. José Floriberto Cornelis, cluintes da UFPb,dezembro de 1976), O.S.B. — Arcebispo de Alagoi- op. cit., pp. 110-119. nhas (BA) • Sobre o compromisso da Igreja • Bispo diz que o Estado tem sido com os fracos e os oprimidos (Carta 252
Apêndice
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Pastoral, 12 de fevereiro de 1978), op. agrária,"Folha de S. Paulo", 10-2-80. cit., pp. 40-49. • Questão da terra une alas liberal e • Os direitos humanos e a prática da conservadora em Itaici, "Jornal do não-violência (Discurso pronunciado Brasil", 11-2-80. em Governador Valadares, setembro • D. Cabral vê marxismo na lingua de 1978), op. cit., pp. 155-167. gem empregada,"Folha de S. Paulo", • Dom José reza missa para os 200 camponeses,"O Norte", João Pessoa,
15-2-80.
23-2-79.
• D. José Maria Pires: Igreja vai D. Nivaldo Monte — Arcebispo continuar ao lado do povo,"O Nor de Natal te", João Pessoa, 25-3-79.
• Bispo refuta inspiração marxista, • No Ecem, d. José pede reforma "Tribuna da Imprensa", Rio de Ja agrária, "O Norte", João Pessoa, neiro, 20-2-80. 31-7-79.
• Bispos apelam para a não violência / Bispos tangem gado em Alagamar, D. Pedro Fedalto — Arcebispo "A União", João Pessoa,6-1-80, pp. 1 de Curitiba e 12.
• Dom José reafirma sua posição e a
• Compromissos com os agriculto res f A Voz do Pastor, "Voz do
da Igreja no caso Alagamar-Piacas, Paraná", 15 a 21-3-80. "O Norte", João Pessoa, 8-1-80. • Comunicação do Episcopado do • Policia Militar sitia Alagamar, Fo Paraná sobre os problemas da terra * lha de S. Paulo", 13-1-80. (Documento da XXV Assembléia Re • Alagamar, a resistência no campo, gional, Curitiba, 17 de fevereiro de 1978),"Boletim da Comissão Pastoral "O São Paulo", 11 a 17-1-80. • "Posse da terra em comum" / CNBB inicia Assembléia com propos ta alternativa para o campo ,"Folha
da Terra", ano IV, n.® 15, marçoabril de 1978, pp. 10-14.
de S. Paulo, 6-2-80.
Bispos
D. José de Medeiros Delgado
Silva, O.F.M. Cap. — Bispo de
D. Frei Adalberto Paulo da
— Arcebispo Resignatário de For
Viana (MA)
taleza
• Depoimento na CPI do Sistema
• Nota da Comissão Ej>iscopal da Fundiário (23 de setembro de 1977), CNBB do Regional Nordeste I*(São "Diário do Congresso Nacional", Se Luís, 25 de Agosto de 1970), in Pas ção I, Suplemento ao n.® 121,28-9-79, toral da Terra, Estudos da CNBB-11, p. 1346. Edições Paulinas, São Paulo, 1976,
pp. 130-133. D. Afonso Felipe Gregory — D. Luciano José Cabral Duarte
— Arcebispo de Aracaju e Vicepresidente do Conselho Episcopal Latino-Americano — CELAM
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro, Presidente do Regional Leste I da CNBB
• Bispos voltam a defender tese da reforma agrária, "Folha de S. Pau
• Pela restauração da fé, "Veja", lo", 18-8-79. 30-1-80. • CNBB aponta problemas da terra • Desapropriação de terras, uma me e defende posseiros, "BIP Jornal" dida oportunista, "O Estado de S. (órgão do Secretariado de Pastoral Paulo", 10-2-80. da Arquidiocese do Rio de Janeiro), • D. Luciano não teme a reforma ano III, n.® 25, março de 1980. 253
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Título l
D. Afonso Maria Ungarelli, Executivo do Araguaia^ M.S.C. — Bispo-Prelado Resig- Brasil", 10-2-80. natário de Pinheiro (MA)
*Jornal do
• Nota da Comissão Episcopal da CNBB do Regional Nordeste I*(São D..Albano Bortoletto CavalLuís, 25 de agosto de 1970), in Pas toral da Terra^ Estudos da CNBB-11,
LiN — Bispo Auxiliar de Curitiba e membro da Comissão Episcopal
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• Depoimento na CPI do Sistema
13-6-80.
Fundiário (23 de setembro de 1977), "Diário do Congresso Nacional", Se ção I, Suplemento ao n.° 121,23-9-79, D. Alberto Frederico Etges — p. 1257. • Comunicação do Episcopado do Bispo de Santa Cruz do Sul(RS) Paraná sobre os problemas da terra * • Bispos e Provinciais do Rio Gran (Documento da XXV Assembléia Re de do Sul enviam Mensagem aos gional, Curitiba, 17 de fevereiro de Trabalhadores Rurais * (Encontro 1978),"Boletim da Comissão Pastoral dos Bispos e Provinciais do Rio da Terra", ano IV, n.° 15, março-
abril de 1978, pp. 10-14. • Igreja tem na família objetivo
Grande do Sul, Viamão,9 de abril de 1980), "Revista Eclesiástica Brasilei
ra", vol. 40, fase. 158,junho de 1980,
maior de ação, "Gazeta do Povo", pp. 335-337(ver também "Correio do Povo", Porto Alegre, 10-4-80; "No Curitiba, 21-6-79. tícias" — Boletim semanal da CNBB
— Ano XI, n.® 18, 2 de maio de 1980; "SEDOC, maio de 1980, cols. 1104D. Frei Alano Pena, O.P. —
1107).
Bispo de Marabá (PA) e VicePresidente do Regional Norte II da CNBB
D. Aldo Gerna, F.S.C.J. — Bis
• Mensagem ao Sr. Presidente da po de São Mateus (ES) República (Encontro de Goiânia, 22 • Roteiros de reflexão para uma de junho de 1975), in Pastoral da Terra, Estudos da CNBB-11, Edições
conscientização social. Secretariado
Diocesano da Pastoral(Apresentação Paulinas, São Paulo, 1976, pp. 35-36. de Dom Aldo Gerna, 29 de junho • Reforma, "Jornal do Brasil", de 1977). 3-2-78.
• Bispos querem política fundiária mais justa, "O Estado do Pará", 12-9-79 (ver também "O Liberal", Belém, 12-9-79).
D. Aloísio Sinésio Bohn — Bispo de Novo Hamburgo (RS)
• Igreja vê com pessimismo Grupo • Bispos e Provinciais do Rio Gran254
Apêndice
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
de do Sul enviam Mensagem aos Trabalhadores Rurais * (Encontro
dos Bispos e Provinciais do Rio Gran de do Sul, Viamão, 9 de abril de 1980), "Revista Eclesiástica Brasilei
D. Antonio Celso Queiroz —
Bispo Auxiliar de São Paulo e membro da Comissão Episcopal de Pastoral da CNBB
ra", vol. 40, fase. 158,junho de 1980, • CNBB tenta conciliar hoje as ten pp. 335-337(ver também "Correio do dências em conflito, "Folha de S. Povo", Porto Alegre, 10-4-80; "No tícias" — Boletim semanal da CNBB
Paulo", 14-2-80.
• Puebla para nossa Páscoa,"O São
— Ano XI, n.° 18, 2 de maio de 1980; Paulo", 6 a 9-4-79. "SEDOC", maio de 1980, cols. 11041107).
D. Angélico Sândalo Bernardi-
D. Augusto Petró — Bispo de Uruguaiana
NO — Bispo Auxiliar de São Paulo • Bispos e Provinciais do Rio Gran • A terra e os trabalhadores, se
gundo Dom Angélico, "Companhei ro", São Paulo, 27-2 a 11-3-80.
de do Sul enviam Mensagem aos Trabalhadores Rurais * (Encontro
dos Bispos e Provinciais do Rio Gran de do Sul, Viamão, 9 de abril de
1980), "Revista Eclesiástica Brasilei ra", vol. 40, fase. 158,junho de 1980,
D. Ângelo Rivato, S.J. — Bis- pp. 335-337(ver também "Correio do po-Prelado de Ponta de Pedras Povo", Porto Alegre, 10-4-80; "No tícias" — Boletim semanal da CNBB (PA) — Ano XI, n.° 18, 2 de maio de
• Para Dom José, miséria é que in
1980;"SEDOC", maio de 1980, cols.
centiva as invasões,"O Liberal", Be lém, 13-9-79.
1104-1107).
D. Antonio Batista Fragoso —
D. Benedito Zorzi — Bispo de Caxias do Sul (RS)
Bispo de Crateús (CE)
• Defesa dos Direitos Humanos(Cir • Eu ouvi os clamores de meu po cular de 20 de setembro de 1975), vo * (Documento de Bispos e Supe "Revista da Arquidiocese", Goiânia, riores Religiosos do Nordeste, 6 de novembro de 1975, pp. 764-767. maio de 1973),"SEDOC", novembro de 1973, cols. 607-629.
• Bispos e Provinciais do Rio Gran
de do Sul enviam Mensagem aos Tra balhadores Rurais * (Encontro de da terra, "Boletim da Comissão Pas Bispos e Provinciais do Rio Grande toral da Terra", ano 2, n.° 3, março- do Sul, Viamão, 9 de abril de 1980), abril de 1976, p. 11. "Revista Eclesiástica Brasileira", vol. • Nota da Comissão Episcopal da 40, fase. 158, junho de 1980, pp. CNBB do Regional Nordeste I*(São 335-337 (ver também "Correio do Luís, 25 de agosto de 1970), in Pasto Povo", Porto Alegre, 10-4-80; "Notí
• Ceará: Bispos debatem problemas
ral da Terra, Estudos da CNBB-11, cias" — Boletim semanal da CNBB — Edições Paulinas, São Paulo, 1976, Ano XI, n.° 18, 2 de maio de 1980; "SEDOC\ maio de 1980, cols. 1104pp. 130-133. 1107).
• Bispos combatem reforma que con centre propriedade,"Folha de S. Pau lo", 27-4-79.
• Igreja quer reforma participada de
D. Benjamim de Souza Gomes —
Bispo de Paranavaí (PR)
lavrador, CIC n." 1405, 24-7-79.
• Povo deve lutar por liberdade, • Bóias-frias decidem pedir reforma "Diário de Pernambuco", Recife, agrária, "Jornal do Brasil", 26-5-80. • Comunicação do Episcopado do 26-7-79. 255
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
Paraná sobre os problemas da terra * Comissão Pastoral da Terra da (Documento da XXV Assembléia Re Região Araguaia-Tocantins
gional, Curitiba, 17 de fevereiro de 1978),"Boletim da Comissão Pastoral • Marginalização de um Povo — da Terra", ano IV, n.° 15, março- Grito das Igrejas * (Documento de Bispos do Centro-Oeste, Goiânia, 6 abril de 1978, pp. 10-14. de maio de 1973). • Este é D. Pedro, bispo do Ara D. Bernardo José Nolker, C. guaia, "Diário do Povo", Campinas,
SS.R. — Bispo de Paranaguá(PR)
17-2-80.
• Lavradores reunidos clamam por • Comunicação do Episcopado do justiça, "CIC — Centro Informativo Paraná sobre os problemas da terrü * Católico", Petrópolis, ano XXIX, n.° (Documento da XXV Assembléia Çle- 1453, 24-6-80. gional, Curitiba, 17 de fevereiro de
1978), "Boletim da Comissão Pasto ral da Terra", ano IV, n.° 15, março- D. Cláudio Colling — Bispo de
abril de 1978, pp, 10-14.
Passo Fundo (RS) • Bispos e Provinciais do Rio Gran
D. Bruno Maldaner — Bispo de do Sul enviam Mensagem aos Tra balhadores Rurais * (Encontro de de Frederico Westphalen (RS) Bispos e Provinciais do Rio Grande • Bispos pedem devolução de terras do Sul, Viamão, 9 de abril de 1980), ocupadas aos índios e reforma agrá "Revista Eclesiástica Brasileira", vol. ria no Sul, "Jornal do Brasil", 19-12- 40, fase. 158,junho de 1980, pp. 33575 (ver também "Revista de Cultura 337 (ver também "Correio do Povo", Porto Alegre, 10-4-80; "Notícias" — Vozes", abril de 1976, p. 64). Boletim semanal da CNBB — Ano • Bispos e Provinciais do Rio Gran XI, n.o 18, 2 de maio de 1980; "SE de do Sul enviam Mensagem aos Trabalhadores Rurais * (Encontro DOC", maio de 1980, cols. 11041107).
dos Bispos e Provinciais do Rio Grande do Sul, Viamão, 9 de abril de 1980), "Revista Eclesiástica Brasi D. Frei Cláudio Hummes, O. leira", vol. 40, fase. 158, junho de 1980, pp. 335-337 (ver também "Cor F.M. — Bispo de Santo André e reio do Povo", Porto Alegre, 10-4-80; membro da Comissão Episcopal de Pastoral da CNBB CNBB — Ano XI, n.° 18, 2 de maio • O problema dos Migrantes e dos de 1980; "SEDOC", maio de 1980, Favelados, "ABC Litúrgico"(Sema cols. 1104-1107).
"Notícias" — Boletim semanal da
nário Litúrgico da Diocese de Santo André), ano 1, n.® 26, 1-6-80.
D. Cândido Padim, O.S.B. —
Bispo de Bauru (SP)
D. Climério de Almeida Andra
de — Bispo de Vitória da Con • Reforma Agrária, "O Globo", 3quista (BA) 12-79 (p. 5, 2.0 clichê). • D. Thomaz Murphy prepara relato Terra marxista e fora da doutrina da questão criada com as acusações social da Igreja, "Jornal do Brasil", a Bispo, "Jornal do Brasil", 20-2-79.
• D. Luciano acha o Documento da
13-2-80.
D. Cristiano Portela de Araú D. Frei Celso Pereira de Al jo Pena — Bispo Resignatário de meida, O.P. — Bispo de Porto Divinópolis (MG) Nacional (GO) e Presidente da • Bispo defende como prioridade re256
Apêndice
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
forma agrária corajosa, "Diário de DOC", maio de 1980, cols. 1104Pernambuco", Recife, 23-8-78.
1107).
• Igreja e Problemas da Terra / Co mentários e aplicação à realidade gaú cha, "Renovação" (Regional Sul 3), D. Domingos Gabriel WisniewsPorto Alegre, n.® 135, abril de 1980.
Ki — Bispo de Comélio Procó• Bispo adverte para o perigo da pio (PR)
violência,"Jornal do Brasil", 7-11-80.
• Comunicação do Episcopado do • Apelo do Bispo, "O Estado de S. Paraná sobre os problemas da terra *
(Documento da XXV Assembléia Re gional, Curitiba, 17 de fevereiro de 1978),"Boletim da Comissão Pastoral
Paulo", 11-11-80.
da Terra", ano IV, n,® 15, março-
D. Eliseu Simões Mendes —
abril de 1978, pp. 10-14.
Bispo de Campo Mourão (PR)
• Os direitos e a Justiça Social no • Comunicação do Episcopado do 4.° Encontro de Justiça e Paz * (4.° Paraná sobre os problemas da terra * Encontro Estadual da Comissão Pon (Documento da XXV Assembléia Re tifícia de Justiça e Paz do Paraná, gional, Curitiba, 17 de fevereiro de Apucarana, 1.° de dezembro de 1979), I978),^'Boletim da Comissão Pastoral "Voz do Paraná", Curitiba, 15 a 21 da Terra", ano IV, n.° 15, marçode dezembro de 1979.
abril de 1978, pp. 10-14.
D. Frei Edilberto Dinkelborg, D. Epaminondas José de Araújo
O.F.M. — Bispo de Oeiras-Floria- — Bispo de Palmeira dos índios no (PI) e Presidente do Regional (AL) Nordeste IV da CNBB
• Marginalização de um Povo / Gri • Nota da Comissão Episcopal da to das Igrejas *(Documento de Bispos CNBB do Regional Nordeste I*(São do Centro-Oeste, Goiânia,6 de maio Luís, 25 de agosto de 1970), in Pas de 1973). toral da Terra, Estudos da CNBB-11,
Edições Paulinas, São Paulo, 1976, pp. 130-133. D. Estanislau Amadeus Kreutz
— Bispo de Santo Ângelo (RS) D. Edmundo Luís Kunz — Bispo • Bispo de Santo Ângelo prega a distribuição de terras com justiça, Auxiliar de Porto Alegre "Correio do Povo", 27-3-80.
dos bispos
do Sul ao de S. Paulo",
• Bispos e Provinciais do Rio Gran de do Sul enviam Mensagem aos Trabalhadores Rurais *(Encontro de
• Terra, discussão quente em Itaici,
Bispos e Provinciais do Rio Grande do Sul, Viamão, 9 de abril de 1980),
• Protesto
presidente,
"Folha
14-4-77.
"O São Paulo", 8 a 13-2-80.
• Bispos e Provinciais do Rio Gran
"Revista Eclesiástica Brasileira", vol.
de do Sul enviam Mensagem aos 40, fase. 158,junho de 1980, pp. 335Trabalhadorés Rurais *(Encontro de 337 (ver também "Correio do Povo", Bispos e Provinciais do Rio Grande Porto Alegre, 10-4-80; "Notícias" —
do Sul, Viamão, 9 de abril de 1980),
Boletim semanal da CNBB — Ano
"Revista Eclesiástica Brasileira", vol. XI, n.® 18, 2 de maio. de 1980; 40, fase. 158,junho de 1980, pp. 335- "SEDOC, maio de 1980, cols. 1104337 (ver também "Correio do Povo", 1107).
Porto Alegre, 10-4-80; "Notícias" — • Divulgação do Incra irrita setores Boletim semanal da CNBB — Ano da Igreja, "O Estado de S. Paulo", XI, n.° 18, 2 de maio de 1980; "SE-
17-5-80.
257
'i-::
o CARDEAL SCHERER E A
REFORMA AGRÁRIA
■ a) A favor da Reforma Agrária "Os grandes proprietários, proclamamo-lo sem
; i cessar, devem conformar-se com a redução dos seus haveres. A disseminação da propriedade é um pos-
I tulado fundamental de uma ordem social aceit^el e justa" ("Correio do Povo", Porto Alegre, 3-1-62). "No setor rural, entre asformas de distribuição da : propriedade está em primeiro lugar a reforma agrária. .... Se nas desapropriações na reforma agrária a compensação sefaz pelo valor real, em se tratando de
latifúndios, continuará a mesma desigualdade de fortuna e ela se estenderá a outro setor, fora do
I vo", 12-1 -68). s i
agrário, pela inversão do preço fabuloso obtido em propriedades imobiliárias urbanas"("Correio do Po-
"Nós semprefomosfavoráveis à reforma agrária e o bispado gaúcho tem se batido por isto há muito tempo"("O Estado de S. Paulo", 1.0-7-78).
^ b) Sem violência i.J
"É indispensável que se façam reformas sociais,
•J políticas e econômicas que removam as raízes da violência existente nos sistemas e nas estruturas i Todos haveremos de lutar contra a injustiça e a
1 opressão, mas os métodos e os meios diferem subsm tancialmente dos recursos de agressão, de injúria e destruição que empregam os adeptos da violência" D., Vicente S^herer, Cardeal-Arcebispo de Porto Alegre;
("Correio do Povo", l.°-4-80).
BISPO RADICAL BRAME PELA
REFORMA AGRÁRIA
"Malditas todas as
propriedades privadas..." Ouçamos D. Pedro Casaldáliga, Bispo de São Félix do Araguaia, Mato Grosso, em seu livro "Tierra nuestra, libertad" (1). Consideremos primeiramente sua maldição a todas
as propriedades, bem como a todas as cercas que as protegem e de algum modo as simbolizam: "Malditas sejam todas as cercas! Malditas todas as
propriedades privadas que nos privam de viver e de amar!
Malditas sejam todas as leis,
compostas habilmente por umas poucas mãos
para amparar cercas e bois e tornar escrava a Terra E escravos os humanos!
>
A Am JW
Outra é a Terra nossa, homens, todos!
A humana Terra, livre, irmãos!"
^■^31 Para um Bispo agro-reformista "prá frente" como D. Pedro Casaldáliga, trajes episcopais sui generis: remo, chapéu de palha e toalha substituem o báculo, mitra e esteia tradicionais.
Reforma Agrária radical Na Carta Pastoral de sua sagração, em outubro de 1971, o Bispo-Prelado de São Félix aílrma:
"O que vivemos nos deu a evidência da iniqüidade do latifúndio capitalista, como pré-estrutura social (1) Editorial Guadalupe. Buenos Aires, novembro de 1974, 152
páginas, com um **Poema-prólogo** altamente elogioso de Ernesto Cardenál.
radicalmente injusta; e nos confirmou na clara opção
de repudiá-la. Sentimos, por consciência, que também nós devemos cooperar para a desmitificação da propriedade privada. E que devemos urgir — com
tantos outros homens sensibilizados — uma Reforma
Agrária justa, radical, sociologicamente inspirada e realizada tecnicamente, sem demoras exasperantes, sem intoleráveis camuflagens" (2). (2) "Jornal da Tarde", São Paulo, 27-5-72.
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo /
D. Frei Estêvão Cardoso de A- de do Sul enviam Mensagem aos
VELAR — Bispo de Uberlândia Trabalhadores Rurais *(Encontro de Bispos e Provinciais do Rio Grande (MG) do Sul, Viamão, 9 de abril de 1980), • Marginalização de um Povo / Gri "Revista Eclesiástica Brasileira", vol. to das ^ejas *(Documento de Bispos 40, fase. 158, junho de 1980, pp. do Centro-Oeste, Goiânia,6 de maio de 1973).
335-337 (ver também "Correio do Povo", Porto Alegre, 10-4-80; "No
• Mensagem ao Sr. Presidente da tícias" — Boletim semanal da CNBB República (Encontro de Goiânia, 22 — Ano XI, n.° 18, 2 de maio de
de junho de 1975), in Pastoral da Terra, Estudos da CNBB-11, Edições Paulinas, 1976, pp. 35-36. • Bispo defende como prioritária re forma agrária corajosa, "Diário de Pernambuco", Recife, 23-8-78.
1980; "SEDOC, maio de 1980, cols. 1104-1107).
D. Gerardo Andrade Ponte —
Bispo de Petrolina (PE)
• Bispo diz que Episcopado sabe • Por uma repartição justa da terra, mais que tecnocratas,"Voz de Naza ré", Belém, 16-3-80.
• Reforma Agrária,"O Estado de S.
"Boletim da Comissão Pastoral da
Terra", ano III, n.° 11, julho-agosto 1977.
Paulo", 16-10-80. D. Guido Maria Casullo — BisD. Francisco Austregésilo de
po-Prelado de Cândido Mendes (MA)
Mesquita Filho — Bispo de Afo • Nota da Comissão Episcopal da gados da Ingazeira (PE) CNBB do Regional Nordeste I*(São Luís, 25 de agosto de 1970), in Pas vo * (Documento de Bispos e Supe toral da Terra, Estudos da CNBB-11, riores Religiosos do Nordeste, 6 de Edições Paulinas, São Paulo, 1976,
• Eu ouvi os clamores de meu po
maio de 1973),"SEDOC",novembro de 1973, cols. 607-629.
• O abraço do Papa ou Puebla acon tecendo, por Antonia Maria do Nas cimento (Toinha) e Adélia Carvalho, Vozes, Petrópolis, 1979 (Apresenta ção por D. Francisco Austregésilo). • Bispos apelam para a não vio lência / Bispos tangem gado em Alagamar,"A União", João Pessoa, 6-1-80, pp. 1 e 12. D. Francisco Manoel Vieira —
Bispo Auxiliar de São Paulo
pp. 130-133.
• Do Turi ao Gurupi — Informativo
da Prelazia, Cândido Mendes(MA), ano I, n.° 1, janeiro/agosto de 1973 (mimeografado), p. 18 (ver também n.o 2,setembro-outubro de 1973,p.4). D. Henrique Froehlich, S.J. —
Bispo de Diamantino (MT) • Depoimento na CPI do Sistema
Fundiário(31 de rtiaio de 1977),"Diá rio do Congresso Nacional", Seção I,
Suplemento ao n.® 121, 28-9-79, p. 468-469.
• Da terra ouve-se o grito: Nasce o
Salvador!(Novena de Natal da Re gião Episcopal de Osasco), Editora Vozes, Petrópolis, 1980 (Apresenta ção por D. Francisco, Bispo de Osasco).
D. Henrique Gelain — Bispo de Vacaria (RS) • Bispos e Provinciais do Rio Gran
de do Sul enviam Mensagem aos Trabalhadores Rurais *(Encontro de D. Frederico Didonet — Bispo Bispos e Provinciais do Rio Grande do Sul, Viamão, 9 de abril de 1980), de Rio Grande (RS) "Revista Eclesiástica Brasileira", vol. • Bispos e Provinciais do Rio Gran 40, fase. 158, junho de 1980, pp. 260
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Apêndice
335-337 (ver também "Correio do Boletim da Comissão Pastoral da Povo**, Porto Alegre, 10-4-80; "Notí Terra**, ano III, n.° 11, julho-agosto cias** — Boletim semanal da CNBB —
1977.
Ano XI, n.® 18, 2 de maio de 1980; • Bispos denunciam grilagem e pe "SEDOC*, maio de 1980, cols. 1104- dem reforma agrária,"O Estado de S. 1107).
D. Jacó Roberto Hilgert —
Paulo**, 2-9-77.
• Uma vontade de organizar,"O São Paulo*', 8 a 13-2-80.
Bispo de Cruz Alta (RS) • Agricultores fazem passeata em D. JoÂo Aloysio Hoffmann — Ijui criticando previdência rural, "Correio do Povo**, 13-3-80.
• Bispos e Provinciais do Rio Gran de do Sul enviam Mensagem aos Trabalhadores Rurais *(Encontro de Bispos e Provinciais do Rio Grande do Sul, Viamão, 9 de abril de 1980), "Revista Eclesiástica Brasileira**, vol. 40, fase. 158,junho de 1980, pp. 335337 (ver também "Correio do Povo**, Porto Alegre, 10-4-80; "Notícias** — Boletim semanal da CNBB — Ano
Bispo de Erexim (RS)
• Bispos e Provinciais do Rio Gran de do Sul enviam Mensagem aos Trabalhadores Rurais *(Encontro de
Bispos e Provinciais do Rio Grande do Sul, Viamão, 9 de abril de 1980), "Revista Eclesiástica Brasileira**, vol.
40, fase. 158,junho de 1980, pp. 335337 (ver também "Correio do Povo**, Porto Alegre, 10-4-80; "Notícias" — Boletim semanal da CNBB — Ano
XI, n.o 18, 2 de maio de 1980; XI, n.® 18, 2 de maio de 1980; "SEDOC**, maio de 1980, cols. 1104- "SEDOC*, maio de 1980, cols. 11041107). 1107).
D. Jaime Chemello — Bispo de
D. José Bezerra Coutinho —
Pelotas (RS)
Bispo de Estância (SE)
• Bispos e Provinciais do Rio Gran • Bispo diz que o Estado tem sido de do Sul enviam Mensagem aos duro com o povo,"A Tarde", Salva Trabalhadores Rurais *(Encontro de dor (BA), 7-11-80. Bispos e Provinciais do Rio Grande do Sul, Viamão, 9 de abril de 1980), "Revista Eclesiástica Brasileira", vol.
40, fase. 158,junho de 1980, pp. 335-
D. José Brandão de Castro, C.
337 (ver também "Correio do Povo", SS.R. — Bispo de Propriá (SE)
Porto Alegre, 10-4-80; "Notícias" — • Eu ouvi os clamores de meu po Boletim semanal da CNBB — Ano
XI, n.® 18, 2 de maio de 1980; "SEDOC*, maio de 1980, cols. 11041107).
vo * (Documento de Bispos e Supe riores Religiosos do Nordeste, 6 de maio de 1973),"SEDOC", novembro de 1973, cols. 607-629.
• Bispo considera a reforma agrária D. Jaime Collins, C.SS.R. — exigência cristã, "Jornal do Brasil", 11-2-77 (reproduzido em "A Defesa",
Bispo-Prelado de Miracema do órgão Informativo da Diocese de
Norte (GO)
Propriá, 11-1-11).
• Este é D. Pedro bispo do Ara • Igreja defende reforma agrária, guaia, "Diário do Povo", Campinas, "Diário do Povo", Campinas,11-2-77 17-2-80.
(reproduzido em "A Defesa", órgão Informativo da Diocese de Propriá,
27-2-77). D. Jairo Ruy Matos da Silva — • Carta Pastoral do bispo de Pro Bispo de Bonfim (BA) priá(Natal de 1976),"SEDOC*,mar • Por uma repartição justa da terra. ço de 1977, cols. 945-947. 261
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
• Depoimento na CPI do Sistema e defende a reorganização da FAG,
Fundiário(20 de abril de 1977),"Diá "Correio do Povo", Porto Alegre, rio do Congresso Nacional", Seção I, 16-8-78. Suplemento ao n.® 121, 28-9-79, pp. • Reforma Agrária em debate-1 /
204-205.
• Reforma Agrária é única solução, "Diário de Pernambuco", 29-9-78. • Codevasf será interrogada / Re forma,"Diário de Pernambuco", Re cife, 14-10-78.
D. Ivo: A situação do campo está intolerável, "Zero Hora", Porto Ale gre, 26-7-79.
• CNBB pede ao Incra que faça reforma agrária, "O Estado de S. Paulo", 28-9-79.
• Agrária, "Estado de Minas", Belo • Considerações de Dom Ivo sobre Horizonte, 22-5-80. Estatuto da Terra que faz 15 anos, "Correio do Povo", 21-11-79. D. José Eugênio Correia — Bis
• D. Ivo critica Estatuto,"O Estado de S. Paulo", 21-11-79.
po Resignatário de Caratinga(MG) • CNBB critica desrespeito à lei da • Abra a porta / Cartilha do povo terra, "O Norte", João Pessoa, de Deus (Edição para uso nas Dio 30-11-79. ceses de Caratinga, Teófilo Otoni, • Assembléia da CNBB inicia deba Divinópolis e Araçuaí. Aprovação de tes, "Folha de S. Paulo", 5-2-80.
Dom Quirino A. Schmitz, Bispo de Teófilo Otoni; Dom José E. Correia,
• D. Ivo realça a coerência, "Folha de S. Paulo", 15-2-80.
Bispo de Caratinga e Dom Silvestre L. Scandian, Bispo de Araçuaí, 2 de • CNBB condena a concessão de in novembro de 1978), Edições Pauli- centivos fiscais às grandes empresas nas. Caxias do Sul, 2.^ edição, 1980. agrícolas,"Jornal do Brasil", 23-2-80. • Presidente da CNBB rebate críti
casfeitas ao documento da terra,"Voz
D. José Gomes — Bispo de Cha- de Nazaré", Belém, 16-3-80. pecó e Presidente do CIMI — • Bispos e Provinciais do Rio Gran Conselho Indigenista Missionário de do Sul enviam Mensagem aos Trabalhadores Rurais *(Encontro de
• Bispos pedem devolução de terras
Bispos e Provinciais do Rio Grande ocupadas aos índios e reforma agrária do Sul, Viamão, 9 de abril de 1980), no Sul, "Jornal do Brasil",19-12-75 "Revista Eclesiástica Brasileira", vol.
(ver também "Revista de Cultura
40, fase. 158,junho de 1980, pp. 335-
Vozes", abril de 1976, p. 64). 337 (ver também "Correio do Povo", • Bispo critica exploração e pede Porto Alegre, 10-4-80; "Notícias" — reforma, "Diário de Pernambuco", Boletim semanal da CNBB — Ano Recife, 9-11-78. XI, n.o 18, 2 de maio de 1980; "SEDOC", maio de 1980, cols. 1104• A reforma agráriaéessencial,**CoT1107). reio do Povo", Porto Alegre, 16-3-80. • Juiz vai mesmo decretar o despejo • CNBB promete dar terras se dos agricultores, "O Estado", Floria- INCRA provar ociosidade, "Jornal nópoüs, 22-10-80.
do Brasil", 20-5-80.
D. José Ivo Lorscheiter — Bis
D. José Joaquim Gonçalves —
po de Santa Maria (RS) e Presi Bispo Resignatário de Cornélio dente da Conferência Nacional Procópio (PR) dos Bispos do Brasil — CNBB • Comunicação do Episcopado do • Bisposfarão levantamento,"O Es tado de S. Paulo", 14-5-71.
Paraná sobre os problemas da terra• (Documento da XXV Assembléia Re
gional, Curitiba, 17 de fevereiro de • D. Ivo fala sobre reforma agrária 1978),"Boletim da Comissão Pastoral 262
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
da Terra", ano IV, n.° 15, março-
abril de 1978, pp. 10-14.
Apêndice
ra acabar com brigas pela terra, "O Fluminense", Niterói, 26-10-79.
• Bispo defende reforma agrária, "Folha de S. Paulo", 28-10-79. D. José Lamartine Soares —
• La riforma agraria, problema ur Bispo Auxiliar de Olinda e Recife gente per risolvere i confliti deisettore,
•
ouvi os clamores de meu po
"L'Osservatore Romano", 14-11-79.
vo * (Documento de Bispos e Supe • CNBB pode dialogar com PP sem riores Religiosos do Nordeste, 6 de compromisso partidário / Reforma maio de 1973),"SEDOC", novembro agrária, "Jornal do Brasil", 12-1-80. de 1973, cols. 607-629.
• Fazendeiro morto no Araguaia,"O Estado de S. Paulo", 4-6-80.
Dom Luciano lamenta os proble D. José Maria Maimone, S.A.C. • masem Xambioá,"O Globo",24-5-80.
— Bispo de Umuarama (PR)
• CNBB contesta declarações de Jar• Comunicação do Episcopado do bas Passarinho, "Jornal de Brasília", Paraná sobre os problemas da terra * 13-6-80. (Documento da XXV Assembléia Re
gional, Curitiba, 17 de fevereiro de 1978),"Boletim da Comissão Pastoral da Terra", ano IV, n.° 15, março-abril
de 1978, pp. 10^14.
D. Luís CoLUSSi — Bispo de
Lins(SP) • Os direitos e a Justiça Social no 4.° Encontro de Justiça e Paz * (4.° En
D. José Mauro Ramalho de A-
contro Estadual da Comissão Ponti
LARCóN Santiago — Bispo de fícia de Justiça e Paz do Paraná, Apucarana, 1.° de dezembro de 1979), Iguatu (CE) "Voz do Paraná", Curitiba, 15 a 21 de
• Nota da Comissão Episcopal da
dezembro de 1979.
CNBB do Regional Nordeste I♦(São Luís, 25 de agosto de 1970), in Pasto ral da Terra, Estudos da CNBB-11, Edições Paulínas, São Paulo, 1976, D. Luís Gonzaga Fernandes — pp. 130-133.
Bispo Auxiliar de Vitória
• Discurso na posse do Governador
Tarcísio de Miranda Burity, da Pa D. José Rodrigues de Souza, raíba,"SEDOC", novembro de 1979,
C.SS.R. — Bispo de Juazeiro
cols. 432-442.
(BA) • Por uma repartição justa da terra, "Boletim da Comissão Pastoral da
Terra", ano III, n.° 11, julho-agosto 1977.
D. Manoel Pereira da Costa —
Bispo de Campina Grande (PB) • Bispos apelam para a não violên
cia I Bispos tangem gado em AlagaD. Luciano Pedro Mendes de
mar,"A União", João Pessoa,6-1-80, pp. 1 e 12.
Almeida, S.J. — Bispo Auxiliar de São Paulo e Secretário Geral da Conferência Nacional dos Bis
pos do Brasil — CNBB
D. Manuel Edimilson da Cruz
— Bispo Auxiliar de Fortaleza
• Bispos querem política fundiária • Nota da Comissão Episcopal da mais justa, "O Estado do Pará", CNBB do Regional Nordeste I*(São 12-9-79.
• Bispo defende reforma agrária pa
Luís, 25 de agosto de 1970), in Pasto ral da Terra, Estudos da CNBB-11, 263
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo I
Edições Paulinas, São Paulo, 1976, (Introdução de D. Moacyr Grechi). pp. 130-133. • Proposta a reforma nas terras da
• Em ouvi os clamores de meu po Igreja, "Folha de S. Paulo", 6-2-80. vo * (Documento de Bispos e Supe • "Getat é ilegítimo", "Diário do riores Religiosos do Nordeste, 6 de Povo", Campinas, 10-2-80. maio de 1973),"SEDOC", novembro • Romaria debate problemas dos de 1973, cols. 607-629. sem-terra, "Folha da Manhã", Porto
Alegre, 21-2-80. D. Marcelo Pinto Carvalheira • Migrações, "Boletim da Comissão
— Bispo Auxiliar de João Pessoa Pastoral da Terra", ano VI, n.° 27,
março-abril de 1980, pp.. 11-18 (Ex • Compromisso com osfracos e opri traído do Boletim "Nós Irmãos", da midos (Carta Pastoral, 12 de feve Prelazia de Acre-Purus). reiro de 1978), "SEDOC, maio de • Depoimento na CPI do Sistema 1978, cols. 1025-1030. Fundiário(11 de maio de 1977),"Diá • Sobre os moradores da proprie rio do Congresso Nacional", Seção I, dade da Arquidiocese^ "O Norte", Suplemento ao n.° 121, 28-9-79, p. João Pessoa, 2-12-79.
308.
• O problema da terra, "SEDOC*, maio de 1980, cols. 1143-1145.
D. Mario Teixeira Gurgel, S.
D.N. — Bispo de Itabira-Coronel Fabríciano (MG) D. Nei Paulo Moretto — Bispo • Igreja quer fixação do homem no Coadjutor de Caxias do Sul(RS) campo, "Jornal do Brasil", 23-2-80. • Citando Itaici, bispos pregam me lhor distribuição da terra, "Folha da Manhã", Porto Alegre, 25-2-80. D. Mauro Morelli — Bispo • Bispos e Provinciais do Rio Gran Auxiliar de São Paulo e Presiden de do Sul enviam Mensagem aos te do Regional Sul I da CNBB Trabalhadores Rurais *(Encontro de • Igreja promete dividir seu latifún Bispos e Provinciais do Rio Grande do Sul, Viamão, 9 de abril de 1980), dio, "Veja", 13-2-80. "Revista Eclesiástica Brasileira", vol. 40, fase. 158,junho de 1980, pp. 335337(ver também "Correio do Povo", D. Moacyr Grechi, O.S.M. — Porto Alegre, 10-4-80; "Notícias" — Bispo-Prelado de Acre e Funis e Boletim semanal da CNBB — Ano ex-Presidente da Comissão Pasto XI, n.° 18, 2 de maio de 1980; ral da Terra "SEDOC, maio de 1980, cols. 1104• Mensagem ao Sr. Presidente da República (Encontro de Goiânia, 22
de junho de 1975, in Pastoral da Terra, Estudos da CNBB-11, Edições Paulinas, São Paulo, 1976, pp. 35-36. • Criação da Comissão de Terras (Carta enviada ao Episcopado comu
1107).
D. Olívio Aurélio Fazza,S.V.D.
— Bispo de Foz do Iguaçu (PR) • Fixar o homem à terra é preocu pação da Igreja, "Voz do Paraná",
nicando a organizado da Comissão 23 a 29-6-79 (ver também "Gazeta do Pastoral da Terra e as "Resoluções finais do Encontro de Goiânia"),"O São Paulo", 10 a 16-1-76.
Povo", Curitiba, 21-6-79).
D. Frei Orlando Octacilio Dotflitos (Comissão Episcopal de Pas n, O.F.M. Cap. — Bispo de toral), Estudos da CNBB-13, Edições Barra(BA), membro da Comissão
• Pastoral da Terra-2: posse e con
Paulinas, São Paulo, 2.® edição, 1977 264
Episcopal de Pastoral da CNBB e
Apêndice
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Presidente da Comissão Pastoral da Terra
Araguaia (PA) e Presidente do Regional Norte II da CNBB
• Barra quer reforma agrária^ "Jor • Bispos revêem declaração, "Folha nal do Brasir, 28-9-78.
de S. Paulo", 10-2-80.
• Bispo mostra aflição deflagelados, • Igreja vê com pessimismo Grupo "Estado de Minas", 16-5-79.
Executivo do Araguaia, "Jornal do
• Figueiredo recebe a CNBB hoje / Brasil", 10-2-80. Reforma agrária, "Folha de S. Pau • Possível mudança no Ipar ainda sem confirmação, "O Estado do Pa lo", 28-5-79. • Mensagem ao povo de Deus, "O rá", 2-8-80. São Paulo", 28-12-79 a 3-1-80. D. Paulo Hipólito de Sousa Li-
• Decretos não bastam, diz Igreja^ "Diário do Povo", Campinas, 7-2-80. BóRio — Bispo Resignatário de
Parnaíba (PI)
• Citando Itaici, bispos pregam me lhor distribuição da terra, "Folha da • Nota da Comissão Episcopal da CNBB do Regional Nordeste I*(São Manhã", Porto Alegre, 25-2-80. • Bispos afirmam que fome é cau Luís, 25 de agosto de 1970), in Pasto sada pela ganância, "A Tarde", Sal ral da Terra, Estudos da CNBB-11,
vador (BA), 8-11-80.
Edições Paulinas, São Paulo, 1976, pp. 130-133.
D. Frei Osório Wilibaldo Stof-
FEL, O.F.M. — Bispo-Prelado de D. Pedro CasaldAliga, C.M.F. Rondonópolis (MT^ — Bispo-Prelado de São Félix do • Igreja de Rondonópolis denuncia Araguaia (MT) situação agrária (Manifesto do Bispo • Uma Igreja da Amazônia em con e do Presbitério da Prelazia),"CIC — flito com o latifúndio e a marginaCentro Informativo Católico", Petró- lização social (Carta Pastoral de Sa polis, ano XXVII, nf 1373, 12-12-78 gração Episcopal, 10 de outubro de (ver também "Boletim da Comissão 1971), in Igreja x Governo: os do Pastoral da Terra", ano IV, n.® 19, cumentos da CNBB, São Paulo, Ed. novembro-dezembro de 1978, p. 18). Símbolo, Ed. Extra, CNBB, 1977. • Marginalização de um Povo / Gri D. Frei Pascâsio Rettler, O. to das Igrejas *(Documento de Bispos
F.M. — Bispo de Bacabal(MA) do Centro^este, Goiânia, 6 de maio de 1973).
• Nota da Comissão Episcopal da • Questão Agrária, uma questão de CNBB do Regional Nordeste I*(São política / Depoimento de Dom Pedro Luís, 25 de agosto de 1970), in Pasto Casaldáliga, Bispo de São Félix do ral da Terra, Estudos da CNBB-11, Araguaia—MT, perante a CPI da Edições Paulinas, São Paulo, 1976, terra (Brasília, 14 de junho de 1977), pp. 130-133. Centro de Estudos Migratórios, São • Eu ouvi os clamores de meu po
Paulo (mimeografado)(Ver também
vo * (Documento de Bispos e Supe "Diário do Congresso Nacional", Se riores Religiosos do Nordeste, 6 de ção I, Suplemento ao n.® 121, 28-9maio de 1973),"SEDOC",novembro 79, p. 530). • D. Casaldáliga diz que o Incra é • Bispo de Bacabal alerta para con instrumento inoperante de reforma, vulsões sociais, "Jornal de Brasília", "Diário de Pernambuco", 23-7-78. 21-3-80. • Casaldáliga acha Getat embroma ção, "Tribuna da Imprensa", Rio de de 1973, cols. 607-629.
D. Patrick Joseph Hanrahan, Janeiro, 4-2-80. C.SS.R. — Bispo de Conceição do • D. Casaldáliga: "a solução precisa 265
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
vir dos posseiros'\ "Diário do Po
vo'*, Campinas, 10-2-80. • D. Casaldáliga elogia documento dos bisposy "Diário do Povo", Cam pinas, 13-2-80. • Este é D. Pedro, bispo do Ara guaia, "Diário do Povo", Campinas, 17-2-80.
Titulo /
Dom Quirino A. Schmitz, Bispo de Teófilo Otoni; Dom José E. Correia, Bispo de Caratinga e Dom Silvestre L. Scandian, Bispo de Araçuai, 2 de novembro de 1978), Edições Paiilinas, Caxias do Sul, 2.® edição, 1980. • Igreja quer fixação do homem no campo, "Jornal do Brasil", 23-2-80.
• O problema da terra, "SEDOC", maio de 1980, cols. 1143-1145.
• Sangue da terra / A luta armada D. Rino Carlesi, F.S.C.J. — no campo, por Murilo Carvalho, São Bispo Prelado de Balsas (MA) Paulo, Ed. Brasil Debates, 1980 (A- • Eu ouvi os clamores de meu presentação de D. Pedro Casaldá
povo'(Documento de Bispos e Supe
liga). riores Religiosos do Nordeste, 6 de • D, Casaldáliga culpa latifúndios e maio de 1973),"SEDOC", novembro múltis pela questão agrária,"Folha de de 1973, cols. 607-629. S. Paulo", 21-10-80.
• Os 15 anos do Estatuto da Terra, "SEDOC, março de 1980, cols. 891894.
D. Pedro Filipak — Bispo de Jacarezínho (PR) • Comunicação do Episcopado do D. Romeu Alberti — Bispo de Paraná sobre os problemas da terra * Apucarana (PR) e membro da (Documento da XXV Assembléia Re Comissão Episcopal de Pastoral gional, Curitiba, 17 de fevereiro de da CNBB 1978),"Boletim da Comissão Pastoral da Terra", ano IV, n.® 15, março-abril • Comunicação do Episcopado do
de 1978, pp. 10-14.
Paraná sobre os problemas da terra * (Documento da XXV Assembléia Re gional, Curitiba, 17 de fevereiro de
1978),"Boletim da Comissão Pastoral D. Pedro Paulo Koop, M.S.C. da Terra", ano IV, n.® 15, março-abril — Bispo Resignatário de Lins(SP) de 1978, pp. 10-14. • Reforma agrária ainda é a meta, • Os direitos e a Justiça Social no "Jornal do Brasil", 2-12-79.
• Igreja paulista apóia posseiros,"O Globo", 19-5-80.
4.° Encontro de Justiça e Paz ♦ (4.° Encontro Estadual da Comissão Pon
tifícia de Justiça e Paz do Paraná, Apucarana, 1.° de dezembro de 1979), "Voz do Paraná", Curitiba, 15 a 21 de dezembro de 1979.
D. Frei Quirino Adolfo Sch- • Unidade dos bispos não espanta MiTZ, O.F.M. — Bispo de Teófilo D. Hélder, "Diário do Povo", Cam Otoni(MG) pinas, 10-2-80. • Bispo denuncia despejos em Teó filo Otoni, "Estado de Minas", 24-2-78.
D. Severino Mariano de Aguiar
• Reforma Agrária preocupa Igreja, — Bispo Resignatário de Pesquei "Mensageiro de Santa Rita", Franca, ra (PE) maio de 1979, p. 51.
• Eu ouvi os clamores de meu po
• Abra a porta / Cartilha do povo vo * (Documento de Bispos e Supe de Deus(Edição para uso nas Dioce riores Religiosos do Nordeste, 6 de ses de Caratinga, Teófilo Otoni, Divi- maio de 1973),"SEDOC",novembro nópolis e Araçuai. Aprovação de de 1973, cols. 607-629. 266
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações doutrinárias
Apêndice
D. Servilio Conti, I.M.C. — • A Igreja e a questão dos índios, Bispo-Prelado Resignatário de "Companheiro", São Paulo, 26-3 a
Roraima e Vigário-Geral da Dio 8-4-80. cese de Santa Maria (RS) • Dom Balduíno acusa latifundiá • Bispos e Provinciais do Rio Gran
rios: — Usam a "bruxa comunista"
para roubar tudo, até a vida dos
de do Sul enviam Mensagem aos índios, "O Dia", Rio de Janeiro, Trabalhadores Rurais *(Encontro de 30-3-80. Bispos e Provinciais do Rio Grande do Sul, Viamão, 9 de abril de 1980), • D. Tomás critica nota sobre terras "Revista Eclesiástica Brasileira", vol. da Igreja, "Folha de S. Paulo",
40, fase. 158, junho de 1980, pp. 20-5-80. 335-337(ver também "Correio do Po • O problema da terra, "SEDOC", vo", Porto Alegre, 10-4-80; "Notí
maio de 1980, cols. 1143-1145.
cias" — Boletim semanal da CNBB —
Ano XI, n.° 18, 2 de maio de 1980; • Campanha do Governo e dos gran "SEDOC", maio de 1980, cols. 1104- des proprietários,"Boletim da Comis são Pastoral da Terra", ano VI, n.° 1107).
28, maio-junho de 1980, pp. 17-18. • Dom Tomás acusa direita de fo
D. Silvestre Luís Scandian, S. mentar radicalismo, "Folha de S. V.D. — Bispo de Araçuaí (MG) Paulo", 4-11-80. • Abra a porta / Cartilha do povo de Deus(Edição para uso nas Dioce ses de Caratinga, Teófilo Otoni, Divinópolis e Araçuaí. Aprovação de Dom Quirino A. Schmitz, Bispo de Teófilo Otoni; Dom José E. Correia, Bispo de Caratinga e Dom Silvestre L. Scandian, Bispo de Araçuaí, 2 de novembro de 1978). Edições Paulinas, Caxias do Sul, 2.® edição, 1980.
D. Tomás Guilherme Murphy, C.SS.R. — Bispo Auxiliar de São Salvador da Bahia
• Bispos afirmam que fome é cau sada pela ganância, "A Tarde", Sal vador (BA), 8-11-80.
D, Urbano José Algayer —
D. Frei Tomás Balduíno, O.P. Bispo Auxiliar de Porto Alegre e
— Bispo de Goiás e Vice-Presi- Secretário Regional da CNBB-
dente do CIMI — Conselho Indi- Sul 3 genista Missionário • Bispos e Provinciais do Rio Gran
• Marginalização de um povo / Gri
de do Sul enviam Mensagem aos Trabalhadores Rurais *(Encontro de
to das Igrejas *(Documento de Bispos Bispos e Provinciais do Rio Grande do Sul, Viamão, 9 de abril de 1980), "Revista Eclesiástica Brasileira", vol. • Até indígenas serão favorecidos 40, fase. 158,junho de 1980, pp. 335pela abertura política, diz dom Bal 337 (ver também "Correio do Povo", duíno, "Folha da Tarde", Porto Ale Porto Alegre, 10-4-80; "Notícias" — do Centro-Oeste, Goiânia, 6 de maio de 1973).
gre, 4-2-78.
Boletim semanal da CNBB — Ano
XI, n.° 18, 2 de maio de 1980; Igreja por questão de terras,"Tribuna "SEDOC, maio de 1980, cols. 1104-
• Polícia tem novo atrito com a
da Bahia", Salvador, 16-8-78. • D. Luciano acha o Documento da
1107).
• Carta especial à
redação
de
Terra marxista e fora da doutrina SEDOC, "SEDOC", maio de 1980, social da Igreja, "Jornal do Brasil", cols. 1104-1105. 13-2-80. • Divulgação do Incra irrita setores
• Que tal revolução, ao invés de da Igreja, "O Estado de S. Paulo", reforma?,"O São Paulo", 15 a 21 de 17-5-80. fevereiro de 1980.
• Comissão mista gaúcha quer re267
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
forma agrária^
*Jornal do Brasir
Título I
sada pela ganância^ "A Tarde", Sal
4-9-80.
vador (BA), 8-11-80.
D. Valdir Calheiros de Novais
D. Frei Walter Michael Ebe-
— Bispo de Volta Redonda (RJ) JER, O.P. — Bispo de União da Vitória (PR) • Reforma agrária na Igreja^ "Diário • Comunicação do Episcopado do do Povo", Campinas, 13-2-80. Paraná sobre os problemas da terra ♦ (Documento da XXV Assembléia Re D. Valfredo Bernardo Tepe, gional, Curitiba, 17 de fevereiro de O.F.M. — Bispo de Ilhéus (BA) 1978),"Boletim da Comissão Pastoral da Terra", ano IV,n.® 15, março-abril • Bispos afirmam que fome é cau- de 1978, pp. 10-14.
268
Carlos Patrício dei Campo
sou CATÓLICO: POSSO SER CONTRA A
REFORMA AGRÁRIA?
II
POSSO E DEVO SER
CONTRA A REFORMA AGRÁRIA Considerações econômicas
Carlos Patrício dei Campo Garcia Huidobro Engenheiro agrônomo pela Universidade Católica do Chile. Formado em Economia Agrária(M. S.) pela Universidade da Califórnia, Berkeley (EUA).
Professor de Econometria da Escola de Economia e Administração da Universidade Católica do Chile; professor de Economia Agrária e Desen volvimento Econômico do Departamento de Economia Agrária da Faculdade de Economia e Administração da Universidade Católica do Chile.
Como membro do Centro de Investigações Econômicas da Universidade Católica do Chile e do Departamento de Economia Agrária da mesma Universidade, participou e dirigiu vários trabalhos na área de desenvolvimento econômico e avaliação de projetos. Foi coordenador e professor do Programa de Pós-Graduação da Escola de Economia e Administração e do Departamento de Economia Agrária da Universidade Católica do Chile.
Foi também assessor agrônomo do Departamento de Economia da Produção do Ministério da Agricultura do Chile e de várias entidades ptrivadas. Radicado no Brasil desde 1972, trabalhou como assessor econômico de
diversas empresas e vem prestando assistência administrativa e financeira à
Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade.
Introdução
Antes de iniciarmos a análise do documento Igreja e proble mas da terra (o qual, daqui por diante, será designado pelas ini ciais de seu título, IPT), parece-nos necessário apresentar algumas obser vações de caráter geral, que serão desenvolvidas ao longo deste estudo, e que constituem um fundo de quadro
se abstiveram de proceder com esse
rigor de método, que teria enrique cido muito a análise por eles apre sentada. Em vista de tal omissão, o presente estudo faz uma breve des crição dos traços fundamentais das
principais correntes de pensamento atualmente predominantes no campo econômico: a escola neoclássica, a
a ter presente durante a sua leitura. escola Aspectos econô micos
do
IPT
O IPT não ana lisa correntes de
pensamento eco nômico
estruturalista
e
a
escola
A posição assumida pelo IPT neomarxista. diante da situação econômico-social Confrontando a posição do IPT da agricultura no Brasil abrange tanto sobre os problemas de nossa agri aspectos de ordem moral como aspec cultura com a dessas correntes, não é tos de ordem econômica. Nosso es difícil verificar que ela está baseada tudo se restringe exclusivamente aos em uma concepção impregnada de aspectos econômicos das questões le princípios estruturalistas e neomarvantadas pelo documento. xistas. A esse respeito, existem várias Partindo dessa concepção, o correntes de pensamento, tanto no documento afirma que os problemas Brasil como no Exterior, que diver agrários do Brasil decorrem funda gem no diagnóstico e nas soluções mentalmente das estruturas sóciopropostas. Seria altamente desejável econômicas vigentes, e propõe uma que o IPT tivesse analisado essas transformado global dessas estru diversas correntes de pensamento turas, especialmente uma drástica Re econômico e se tivesse pronunciado forma Agrária. sobre elas do ponto de vista da moral A visão que o IPT apresenta da individual e da social, que são de sua gênese da crise brasileira, bem como especifica competência. Desta forma, os remédios que propõe, só formam o documento poderia dar a conhecer um todo coeso se se tem como fundo os aspectos verdadeiros e os erros das diversas correntes, contribuindo as
de quadro a doutrina marxista. Ade
mais, em vários pontos do documento
sim para esclarecer os problemas e afloram múltiplas formulações explí ajudar a apontar as soluções. Lamen citas coerentes com essa doutrina, o tavelmente, os autores do documento
que revela uma inspiração ideológica 271
Concepções truturalistas
es e
neomarxistas im
pregnam o IPT
Um lodo coeso com fundo de quadro marxista
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Título II
marxista. Assim, a aplicação de suas mais grave, pois os estudos e os espe teses pode levar o Brasil por um cialistas são simplesmente ignorados. Seria de esperar que, na ausência caminho cujo ponto terminal é a instalação do regime marxista na vida de tais referências, o IPT fosse pelo menos rico em formulações e racio
rural.
Por outro lado, ao mencionar "a
cínios que justificassem as suas diver
gravidade e a complexidade do pro blema no meio urbano, que merecerá oportunamente a nossa atenção"(n.° 4), os autores do IPT já deixam entrever que pretendem advogar uma reforma urbana, para introduzir um
sas afirmações e conclusões. Mas
modelo similar em outro setor da
em nossa análise agrupamo-los em
também nisso o texto é pobre. No IPT, os diversos argumentos
Método adotado
de ordem econômica encontram-se
neste estudo
esparsos ao longo do texto, sem ligação metódica. Para maior clareza,
economia brasileira. Como o regime três categorias: marxista constitui um todo, a acei 1) os que se referem aos pro tação de tais reformas trará como blemas de nossa agricultura; conseqüência inevitável a recompo 2) os que se referem às causas sição, segundo moldes marxistas, de
desses problemas; 3) as soluções propostas. País. Não nos ocuparemos de todos os O objetivo do presente estudo é demonstrar que — ao contrário do problemas abordados no IPT, mas
toda a estrutura sócio-econômica do
Verdadeiras causas dos proble-
mas agrários
qyg afirma o IPT — razões ponde
apenas daqueles que, pela sua impor ráveis provam que as verdadeiras tância no contexto do documento, ou causas dos problemas agrários do na problemática da reforma agrária, Brasil não residem no sistema econô exigem uma análise particular. mico vigente, mas sim em erros na Não pretendemos esgotar o tema política econômica adotada. Procu da reforma agrária (1). Limitamo-nos ramos mostrar também que o IPT a estudar a posição do IPT em face da não observou
alguns pressupostos mesma. Um trabalho global sobre os
metodológicos, básicos em qualquer vários aspectos da reforma agrária deveria incluir uma avaliação das Assim, chama a atenção a pobreza conseqüências econômicas e sociais
análise científica.
dos aliás poucos dados que o do que sua implantação poderia trazer, cumento apresenta. Por sua impor acompanhada de uma análise de ex tância, o tema exigiria uma análise periências análogas realizadas em ou Outra caracterís-
tica do IPT: po-
breza de dados
com base em melhores dados e esta tísticas. Tratando-se de tema de ordem
tros países. Também deveria avaliar
os efeitos que uma mudança na polí tica econômica agrária teria sobre a econômica, o qual, em princípio, es- produção, a renda e o emprego. Não
^ competência e à autoridade
sendo essenciais para a consecução de
dos Srs. Bispos,seriam indispensáveis nosso objetivo imediato, tais aspectos referências a estudos e autores repre poderão ser objeto de um futuro sentativos das várias escolas de pen estudo. samento econômico, para fundamen O leitor notará, sem dificuldade, tar a análise em bases científicas e dar que o autor deste trabalho aceita consistência às soluções propostas. todas as críticas da escola neoclássica No Título I — Posso e devo ser
às escolas estruturalista e neomar-
contra a Reforma Agrária — Consi xista. Quer isto dizer que ele aceita, derações doutrinárias, o IPT foi sem restrições, todos os princípios da apontado como parco, e até como escola neoclássica?
subsuflciente quanto à documentação em matéria doutrinária — matéria
entretanto inerente à missão espiritual dos Bispos. Quanto à matéria econô mica — a qual exorbita (no sentido etimológico da palavra; sai fora da órbita) dessa missão — a mesma lacuna se faz sentir de modo ainda
272
(I) Em nosso estudo adotaremos para a expressão Reforma Agrária a mesma conven ção estabelecida no Titulo I deste volume:escri ta com iniciais maiúsculas,indicará uma Refor ma Agrária de caráter socialista e confiscatório;
o uso de iniciais minúsculas se aplicará a uma reforma agrária não necessariamente atentató ria ao direito de propriedade.
A visão que o documento Igreja e problemas da terra apresenta da gênese da crise brasileira,
bem como os remédios que propõe, só formam um todo coeso se se tem como fundo de quadro a doutrina marxista. Ademais, em vários pontos do documento afloram múltiplas formulações explícitas coerentes com essa doutrina, o que revela
uma inspiração ideológica marxista. Assim, a aplicação de suas teses pode levar o Brasil por um caminho cujo ponto terminal é a instalação do regime marxista na vida rural
Os Bispos D. Moacyr Grechi (Acre e Purus), D. José Gomes(Chapecó - SC)e D.Jaime Ruy Matos da Silva(Bonfim - BA) falam à imprensa por ocasião de uma assembléia plenária da CNBB em Itaici.
Titulo II
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Posição do autor ante a escola neoclássica
Cabe aqui um esclarecimento. O ceitos não socialistas, é bem menos importante nas atuais circunstâncias. socialismo, mas faz também restrições Pois, se a escola neoclássica apresenta à escola neoclássica. Vários autores perigos graves, eles são, no total, anti-socialistas fizeram, com talento e menos graves e menos próximos que competência, a crítica do socialismo. os do socialismo. Seria fugir à natureza e aos limi Infelizmente, a crítica de pensadores anti-socialistas à escola neoclássica tes do presente trabalho fazer aqui a autor é inteiramente contrário ao
tem sido formulada de um modo
crítica da escola neoclássica. Nosso
muito escasso, pobre e irregular. Isto
único objetivo é proceder à análise
se explica, pois o socialismo é a meta dos argumentos econômicos contidos principal, e até específica, dos diver no documento Igreja e problemas da sos partidos socialistas. Não conhece terra. Uma observação final: o presente mos, no entanto, partidos políticos que tomem idêntica posição frente à trabalho não se destina especifica escola neoclássica, que não tem, por
mente a especialistas ha área econô
tanto, o mesmo dinamismo das esco
mica. Por essa razão, adotamos uma
las impregnadas de socialismo. Ao linguagem e uma forma de exposição passo que a luta contra o socialismo é um tanto mais acessíveis, mantendo, um imperativo cívico de primordial no entanto, o rigor na análise e a importância, a luta contra os erros da forma sintética no desenvolvimento escola neoclássica, a partir de con do tema.
274
Capítulo I
Os problemas sócio-econômicos da agricultura brasileira, segundo o documento "Igreja e problemas da terra"
Segundo o IPT,a situação precária
dos pequenos
na agricultura ca racteriza-se por:
Os autores do documento Igreja e 3) Os agricultores são forçados a problemas da terra (IPT) lançam migrar, em busca de melhores condi uma denúncia; existe uma verdadeira
c)migrações
ções de trabalho;
perseguição, um "estrangulamento",
4) Houve uma redução nas opor d) poucas opor tunidades de emprego na agricultura; tunidades de em des na agricultura; pequenos proprie 5) Existe uma exploração da prego e) exploração da tários, pequenos produtores não- mão-de-obra temporária. mão-de-obra tem proprietários (arrendatários, parcei Antes de comentar as partes do porária uma "expropriação" dos mais humil
ros e posseiros), trabalhadores rurais
documento que tratam do assunto, é
(assalariados permanentes e tempo necessário chamar a atenção para rários, parceiros nâo-autônomos) e dois pontos: índios. a)O IPT utiliza cifras globais para O "estrangulamento" traz como fundamentar seus argumentos. Sendo conseqüência, segundo o IPT, que milhares de homens do campo têm que migrar de seus lugares de origem, quer para outras regiões agrícolas, quer para as cidades, quer ainda para países vizinhos. Também muitos se transformam em trabalhadores tem
porários, viajando de uma região para outra à procura de trabalho. Final mente, para os que ficam, configurase uma "expropriação", por condi ções aviltantes de salário e de renda em geral.
Em síntese, o IPT aponta princi palmente cinco problemas na agricul tura brasileira: a) inacessibilidade à propriedade
1) O acesso do trabalhador rural
Com base em ci
fras globais...
o Brasil um país de dimensões conti
nentais, coexistem nele regiões com características as mais diversas, dan do como resultado uma grande varie dade de situações. Embora tenha sido
elaborado à vista de relatórios prove nientes de diversas regiões do País, na realidade o documento não leva em
consideração as diferenças regionais, e por isso não faz as devidas dis tinções.
b) Quanto ao termo "estrangu lamento", podemos atribuir-lhe vá rios sentidos: diminuição do número de pequenos produtores, renda baixa, desemprego etc. O documento não
... e avaliação dos problemas so mente através de
fatos que pode riam ser sintomas de crise...
deixa claro o que entende por "es
à propriedade da terra torna-se cada
trangulamento", limitando-se a co-
da terra
vez mais difícil;
b) o "estrangula mento"dopeque no produtor
2) A atual estrutura agrária pro voca um "estrangulamento" do pe
mentór alguns fatos (migração, dimi nuição do número de empregos etc.), chega-se a um que poderiam ser interpretados como ... diagnóstico vago
queno produtor;
sintomas de uma crise na pequena 275
e confuso.
Titulo II
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
agrícultuFa; mas não chega a deter minar precisamente em que consis tiria essa crise.
1. A terra seria inacessível
para o lavrador Para o IPT. a
propriedade
da
terra está se tor nando inacessível
De acordo com o IPT, tomar-se
no IPT é que a diminuição relativa do número de produtores proprietários, em relação ao número de produtores não-proprietários, é um indicador de que a propriedade da terra vem se tornando cada vez mais inacessível ao trabalhador rural.
Ora, este índice, por definição, não é adequado para medir a acessi bilidade à propriedade da terra. Vá rias razões contribuem para isso: a) O índice independe do tama
índice inadequa do para medir a inacessibilidade à
propriedade
da
terra:
proprietário da terra está cada vez nho da população ativa agrícola. mais difícil para os lavradores: "....a Apresenta, pois, uma visão parcial da propriedade da terra vem se tornando realidade. inacessível a um número crescente de
Um exemplo esclarece nosso pen samento. Suponhamos que a popula E em abono da tese cita os se ção ativa seja igual a 20, dos quais 5 guintes dados estatísticos: "Em 1950, são produtores proprietários, 10 pro
lavradores ..." (n.° 9).
a) independe da variação da po pulação ativa
apenas 19,2% dos lavradores não dutores não-proprietários e 5 meros eram proprietários dos seus estabele assalariados. O índice utilizado pelo cimentos rurais. Em 1975, essa por
centagem tinha subido para 38,1%. Em 1950, para cada lavrador nãoproprietáric havia 4,2 que eram pro prietários. Em 1975, para cada lavra dor não-proprietário havia apenas 1,6 proprietários".
IPT seria igual a 0,50(5 -j- 10 = 0,50).
Imaginemos agora que a popu lação ativa dobre para 40, dos quais 10 sejam produtores proprietários, 5 produtores não-proprietários e 25 as salariados. O índice aumentaria para 2,00 (10 ^ 5 = 2,00) e indicaria me "Se analisarmos a situação em lhora na acessibilidade à propriedade relação aospequenos produtores agrí da terra, o que contradiz a própria colas, verificaremos que ela é ainda evidência dos números. mais grave. Em 1975, para cada Um indicador que melhor refle lavrador proprietário havia um nãotiria a difusão da propriedade e, por proprietário da terra, no que se refere tanto, o grau de acessibilidade a ela, aos estabelecimentos com menos de seria a relação número de proprietá 20 ha. Se nos limitarmos aos esta rios/total de população economica belecimentos com menos de 10 ha. que constituem mais da metade das mente ativa agrícola. No exemplo unidades de produção do país, nota citado, a relação se manteve cons tante, igual a 0,25. remos que para cada lavrador pro b) O valor do índice depende de prietário há 1,3 lavradores nãofatores alheios à difusão da proprie proprietários" (n.°s 11 e 13).
dade da terra. A maioria dos autores
considera os pequenos produtores
A. índice inadequado para medir a acessibilidade
à propriedade da terra
não-proprietários, especialmente os arrendatários e parceiros, como per tencentes à mão-de-obra da agricul tura. Muitos dos pequenos produto
res não-proprietários poderiam então
A partir dos dados acima apresen ser considerados como verdadeiros tados, infere-se que, de acordo com o assalariados, remunerados segundo documento, os lavradores sem terra
um sistema diferente. Se isto é assim,
seriam aquelas categorias de traba lhadores rurais denominados pelo censo agropecuário como arrendatá
o índice está viciado, pois não há sentido em que uma mera mudança no sistema de pagamento do trabalho, rios, parceiros e ocupantes. Logo, na agricultura, afete o índice que mede estão excluídos da categoria de lavra a acessibilidade à propriedade da dores os trabalhadores mrais mera mente assalariados.
O que basicamente está afirmado 276
terra.
Mais ainda, olhando o problema
por um prisma diferente, não seria
b)depende defa tores alheios à di
fusão da proprie dade
da
terra
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
absurdo considerar a condição de
Capitulo I
com abundantes terras devolutas, a
produtor não-proprietário como uma posse é freqüentemente um meio para etapa de transição para a de produtor o agricultor tornar-se proprietário; de proprietário. Deste modo, uma dimi modo que se pode considerar uma nuição do índice produtor proprietá certa porcentagem dos posseiros co rio/produtor não-proprietário, ao in mo verdadeiros proprietários. Infeliz vés de indicar uma piora na acessi mente, não há dados para estimar bilidade à propriedade da terra, pode- essa porcentagem. fia ser um indício de melhora futura.
c)não considera a "mobilidade ver tical" do lavrador
Feitas estas ressalvas sobre as
c) O índice não toma em consi deração a "mobilidade vertical" do
limitações dos dados disponíveis, va mos tentar avaliar a difusão da pro lavrador. Ainda que a relação produ priedade da terra, considerando como tor proprietário/produtor não-pro proprietários aqueles que são proprietário piore, é possível que muitos dutores-proprietários. lavradores, considerados individual No quadro 1 aparece a porcen mente, passem para a categoria de tagem de proprietários em relação proprietários, e muitos dos que já o ao total da população economica mente ativa (PEA) agrícola. Como podemos ver, de 16,9% em 1950, ela subiu para 23,6% em 1970.
eram aumentem o tamanho de suas
propriedades. Não existem dados pa ra avaliar esta mobilidade do lavra dor. Tal mobilidade ofereceria o ín
Uma análise mais precisa sobre a
dice mais correto para exprimir a
difusão da propriedade da terra de acessibilidade à propriedade da terra. veria estudar a relação entre o nú
Limitação dos
É difícil fazer uma estimativa da
taremos do total da população agrí
dados para medir
variação do número de proprietários, pois os censos não fornecem este tipo de informação. Quando o censo fala de proprietários^ refere-se àqueles proprietários de terra que são, simul taneamente, produtores. Com isso, os proprietários que dão sua terra em arrendamento ou parceria não figu
cola economicamente ativa os meno
ram no censo como tais.
res de 25 anos(entre 10 e 24 anos)e as mulheres.
Descontamos as mulheres, na su
posição de que a grande maioria delas é dependente, tendo seu trabalho uma função suplementar no valor do salá rio familiar. Não consideramos os ho
mens menores de 25 anos pelo fato de
Outro fator que difículta conhecer que, até essa idade, na grande maio o número de proprietários é a exis ria dos casos, é natural que as pessoas tência de posseiros ou ocupantes. É não tenham condições de se tornarem sabido que em países como o Brasil, proprietárias.
QUADRO 1. — Porcentagem de proprietários em relação à
população economicamente ativa (PEA) agrícola
PEA agrícola Produtores-propríetários Porcentagem
1970: 23.6% de população ativa agrícola...
belecer essa relação com base nos dados do censo. Para tal efeito,descon
da terra no Brasil
tários
tários:
mero de proprietários e a parte da população agrícola ativa potencial mente proprietária. Tentaremos esta
B. Difusão da propriedade
a variação no nú mero de proprie
Aumento signifi cativo da porcen tagem de proprie
1950
1960
1970
9.886.934
11.825.940
13.090.358
1.668.143
2.401.322
3.094.861
16,9
20,30
23,60
Fonte; Censos Demográficos 1950, 1960 e 1970 Censos Agropecuários 1950, 1960 e 1970. 277
... ou 42.2%. ex cluindo as mulhe
res e osjovens
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo II
A partir do quadro 2, e ape
rios e parceiros, no sentido de consti tuírem sistemas de posse da terra. dos, cremos que não é errado afirmar Sem pretender chegar a nenhuma que em tomo de 40% da população conclusão definitiva, devido à própria agrícola ativa potencialmente proprietá limitação das comparações interna ria é de fato proprietária, e que essa por cionais, é interessante chamar a aten centagem aumentou si^úfícativamente ção para o fato de que, segundo um
sar das limitações dos dados utiliza
Banco
Muridial
indica o Brasilco
mo o pais em de senvolvimento com menor por
centagem de tra balhadores
sem
terra
entre os anos de 1950 e 1970 (1). estudo do Banco Mundial, dentre os Em princípio, um aumento deste países em via de desenvolvimento, o porcentual não revela necessariamen Brasil é aquele que tem maior porcen te uma melhora na acessibilidade á tagem de trabalhadores com terra
propriedade da terra. Ele reflete só um aumento no número de proprietá rios em relação ao total da popula ção economicamente ativa potencial mente proprietária. Parece-nos que o fato de que 40% dos que poderiam ser proprietários agrícolas cheguem a sê-lo, revela um
panorama da difusão da propriedade da terra diferente do que sugere a
(proprietários, parceiros e arrendatá
rios), em relação ao total da popula ção economicamente ativa do setor agrícola (2).
2. A atual estrutura agrária estrangularia'* a pequena agricultura
leitura do IPT.
Para o efeito de se estudarem as Com o objetivo de concluir que os relações entre o homem do campo e a grandes estabelecimentos estão "es terra, é habitual considerar cõmo trangulando" os pequenos, o IPT
argumenta: "O estrangulamento da pequena agricultura .... está intima mente associado à expansão das pas (1)0 último censo populacional é de 1970. tagens e à política inadequada de rePortanto, não dispomos de dados da popula
trabalhadores com terra os arrendatá-
ção economicamente ativa para o ano de 197S. florestamento. Em 1970, os estabele As cifras a respeito, fornecidas pelo Plano cimentos agropecuários com mais de Nacional de Amostras de Domicílio (PNAD), estimadas por meio de uma amostra, apresen tam distorções que tornam inconveniente seu (2) Banco Mundial, Land Reform, Sector uso para uma análise como a presente. Policy Paper, Washington, 1975, p. 62.
QUADRO 2. — Porcentagem de proprietários em relação à
PEA agrícola potencialmente proprietária
1950
PEA total
PEA feminina
1960
1970
9.886.934
11.825.940
13.090.358
732.900
1.174.759
1.257.659
PEA masculina (10-24 anos)
3.653.889
4.151.472 (♦)
4.502.157
TOTAL
5.500.145
6.499.709
7.330.542
Prod utores-proprietários
1.668.143
2.401.322
3.094.861
30,3
36,9
42,2
Porcentagem
Fonte: Censos Demográficos 1950, 1960 e 1970 Censos Agropecuários 1950, 1960 e 1970. (*) Para o ano de 1960, o censo não fornece a população economicamente ativa masculina entre 10 e 24 anos. Foi calculada somando a população economica
mente ativa masculina entre 10 e 19 anos(que figura no censo), mais uma porcentagem da população economicamente ativa masculina entre 20 e 29 anos (56,3%), calculada com base nos dados do censo demográfico de 1970. 278
Expansão das pastagens e reflorestamento
pro
vocariam o "es
trangulamento" da pequena agri cultura
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
20 ha. tinham 50,6% da sua área
Capitulo /
considerando o País como um todo,o
tomados por pastos e apenas 8,5% que o IPT afirma não está de acordo por lavouras. Já os pequenos produ com a realidade apresentada pelos dados. Ainda que as pastagens tivessem tores, com estabelecimentos de menos de 20 ha., dedicam 50,1% de suas terras tido um aumento maior do que o da à lavoura e 21,1% à pecuária"(n.° 15). lavoura, que implicações teria isto Esta parte do IPT torna claro para com o "estrangulamento" da agricul o leitor o caráter vago e impreciso do tura? Esse aumento não teria, de si, diagnóstico feito pelos seus autores. influência na situação econômica dos
Em princípio, a expansão das pastagens significaria uma pressão sobre a pequena agricultura se fosse promovida em prejuízo da lavoura. De fato, não foi o que ocorreu. No quadro 3, vè-se que entre os anos
belecimentos menores de 20 hectares,
maiores esclarecimentos sobre o tema, ver o
havido uma tendência diferente. Mas, Anexo II).
QUADRO 3. — Distribuição da área agrícola por alguns tipos de uso (áreas em 1.000 ha.)
Área agrícola
Lavoura
Área
total
í
Pastagens Área %
Floresta plantada Área %
1950
232.211
20.100
8,7
107.633
46
1.129
1960
249.862
30.223
49
2.070
0,49 0,89
1970
294.145
35.772
154.138
52
1.658
0,56
1975
323.896
42.207
12,1 12,1 13,0
122.335
165.652
51
2.864
0,88
Fonte; Censos Agropecuários, 1950, 1960, 1970 e 1975 (tabulação própria).
QUADRO 4. — Estabelecimentos menores de 20 ha. em relação ao número total de estabelecimentos
Participação Total no Brasil Número
Área
tuação do peque no agricultor
pastagens seria uma possível diminui
pecuária diminuiu sua participação, em relação ao total. Como se pode enquanto a lavoura aumentou. Naturalmente, tratando-se de ci (3) Isso não quer dizer que muitos pequenos fras globais, pode perfeitamente acon produtores não enfrentem dificuldades. (Para
tecer que em algumas regiões tenha
sariamente na si
pequenos produtores (3). O único efeito que se poderia espe rar de uma expansão relativa da área de
ção do número de pequenos produto res, dedicados especialmente à lavoura. No quadro 4, aparecem o nú de 1950 e 1970 a participação de ambas aumentou proporcionalmente; mero e a área ocupada pelos esta
e entre os anos de 1970 e 1975 a
O aumento da à-
rea de pastagens não influi neces
Menores de 20 ha. Número
Área
(%) Número Área
1950
2.064.642
232.211.106
1.056.119
7.949.492
1970
4.924.019
294.145.466
3.288.078
19.826.327
51,15 66,78
3,42 6,74
1975
4.993.252
323.896.082
3.334.864
19.227.730
66,79
5,94
Fonte: Censos Agropecuários, 1950, 1970 e 1975(tabulação própria). 279
Houve cresci
mento da peque na agricultura
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Título II
ver, no período de 1950-1975 houve toda a Nação. Neste caso a solução é crescimento tanto do número de pro simples, e se reduz a uma mudança na dutores quanto da área total ocupada, política econômica, de maneira a
em uma proporção maior do que o permitir que os preços relativos refli tam a realidade do mercado (4). total da agropecuária do País. Entretanto, a taxa de aumento
relativo do número de produtores foi menor no período de 1970-1975 do que no período 1950-1970. E a área total ocupada por esses pequenos estabelecimentos diminuiu no período de 1970-1975.
Isso poderia revelar uma mudança nas relações contratuais do trabalho na agricultura, porém não necessaria
mente um "estrangulamento" provo cado por razões estruturais; pois,consi derando que se manteve invariável a estrutura econômica no período, os pe
5. As migrações segundo o IPT: um processo necessariamente
persecutório Uma visualização da agricultura
As migrações se
brasileira de acordo com a escola
riam resultado de
neomarxista consideraria a migração
um processo per secutório...
como um processo necessariamente
persecutório. O migrante agrícola quenos estabelecimentos ora aumenta sempre teria sido forçado a abando ram, ora diminuíram sua importância nar seu lugar de origem, sem que relativa em relação ao conjunto.
Razões econômi
cas explicam va riação na compo
sição da produ ção agropecuária
Principal
causa
de eventual "es
trangulamento"
da pequena agri cultura estaria na
política econômi ca, e não na es
trutura agrária
houvesse razões — de conveniência
Em outros termos, o IPT ignora econômica e outras — que levassem o aspectos essenciais que explicam a agricultor a migrar. Ele seria uma composição da produção do setor espécie de "nômade**, que encontra agrícola. É por todos reconhecido que sempre, onde quer que vá, uma situa no Brasil a agropecuária é sensível à ção de explorado,de "expropriaçõo". variação nos preços relativos. Portan Essa visualização emerge claramente to, em certa forma, as variações no do IPT,como se pode comprovar nos uso da terra explicam-se por mudanças textos que citaremos abaixo. nos preços relativos, que tomam mais Não nos parece supérfluo esclare rentável ora uma atividade, ora outra. cer que a simples postulação da hipó A mudança nos preços relativos po tese da existência de um processo de origin^-se de uma verdadeira altera migratório, com as características aci ção na situação do mercado, ou pode ma apresentadas, não define uma dever-se a alterações"exó^nas"provo visualização neomarxista. O que ca cadas por intervenções governamentais. racterizaria essa posição seria a afir No primeiro caso, a resposta do mação de que tal processo é indispen setor agrícola, alterando a composi sável para o crescimento econômico ção de sua produção, contribui para capitalista; e isso está implícito no uma melhora no l^m-estar de toda a documento ao defender, como única Nação, ainda que eventualmente pos solução, a reforma total do atual sa prejudicar transitoriamente um de sistema econômico, como veremos terminado setor dentro da agricultu mais adiante. ra. Em razão disso, se para impedir o Por outro lado, podemos observar eventual estrangulamento de um setor desde já que a política econômica dentro da agricultura se propugnam me seguida no passado, prejudicial à didas que impeçam a respoáa do setorà agricultura, contribuiu para aumentar mudança dos preços,acaba-se por preju esse processo migratório. Mas,apesar dicar toda a Nação, mesmo aqueles seto disso, cabem algumas ponderações res que se pretende defender, pois eles para avaliar corretamente a situação conseguiriam um nível melhor de ren do referido processo. É o que faremos da, a médio prazo, se se realocassem nos comentários que seguem. em vista da nova situação criada. No segundo caso — ou seja, quan (4) Não negamos a necessidade de uma do a variação nos preços relativos é intervenção governamental quando apareçam provocada artificialmente e fora da discrepâncias entre os preços privados e os preços sociais. Quando nos referimos à "realirealidade do mercado— a variação dade do mercado", temos em mente estes na produção seria prejudicial para últimos. 280
...que o marxis mo considera ine rente ao cresci mento econômi
co capitalista
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
O IPT se refere ao fenômeno
migratório nos seguintes termos: "Há no país, milhões de migran tes, muitos dos quais obrigados a sair do seu lugar de origem, ao longo dos anos .... Uma grande parte dos lavra dores migrou para as grandes cidades à procura de uma oportunidade de
Capüulo /
custo da migração,é o principal fator que influi na decisão de migrar (5). Portanto, quanto maior for a dife rença de rendas, maior será a tendên cia para migrar. A política econômica prejudicial à agricultura contribuiu para aumentar tal diferença e, portan
A política econô mica exacerbou o
processo
migra
tório
to, alimentou o processo migratório trabalho, indo engrossar a massa do campo para a cidade.
marginalizada que vive em condições subumanas nas favelas, invasões e alagados, em loteamentos clandesti B. Migração, nos, cortiços e nas senzalas modernas uma alternativa válida dos canteiros de obras da construção Em um país como o Brasil, em civil" (n.°s 25 e 26).
A migração é ne
franco desenvolvimento econômico, cessária para a
A. Migração,
um fenômeno natural
Migração, umfenômeno rutturai...
...devido à conju gação de doisfa tores:
a)diferença de oportunidades nas regiões b) legitima aspi
ração pelo pro gresso
com vasto território, enormes rique zas naturais inexploradas e baixa densidade populacional,é natural que
colonização
do
País
exista um número relativamente alto
A forma pela qual o IPT apresen de migrantes. O crescimento normal ta tudo o que se refere à migração do País foi e continuará sendo basea deixa a impressão de que ela constitui, do na exploração dessas riquezas, o que torna inevitável — e, mais do que em si, uma anomalia, um mal. isto, promissor, fecundo e estimulan Na realidade não é assim. Histori camente, o processo migratório pre te — o processo migratório quando considerado globalmente. cede ou é concomitante com o desen Por isso, não é necessariamente volvimento econômico, cultural e so cial de uma nação. A história do condenável, do ponto de vista econô mico, o seguinte fenômeno apresenta Brasil é um exemplo disso. do pelo IPT: Esse fenômeno se deve essencial
mente a dois fatores. Em primeiro lugar, as oportunidades de desenvol
res têm se deslocado do Rio Grande
vimento social e econômico estão
do Sul em direção ao Mato Grosso.
"Milhares de pequenos agriculto
necessariamente em continua mudan
Em virtude do escasseamento e do
ça, e são diferentes nas várias regiões. Em segundo lugar, é próprio não só aos povos mais desenvolvidos, mas também àqueles menos desenvolvi dos, ou ainda aos primitivos que subitamente se põem a progredir, ter uma legítima aspiração pelo progres so, ou seja, pela procura de melhores condições de vida, tanto espirituais
preço exorbitante da terra nos seus lugares de origem, esses agricultores não têm condições de ampliar suas próprias oportunidades de trabalho e de garantir a seusfilhos, que crescem e constituem família, a possibilidade de continuarem na lavoura. Só lhes
resta migrar" (n.® 42). Em princípio, nada há de anormal A procura ds me em que o agricultor migre de uma lhores oportuni como materiais. A conjugação desses dois fatores região para outra, à procura de me dades...
produz a migração. Um dos obstácu lhores oportunidades. Foi assim que los para o progresso de uma região ou se constituiu o Brasil de hoje, para só de uma nação é exatamente a falta de falar do Brasil. mobilidade no uso e distribuição dos
É normal também que os filhos de
agricultores, esforçados e com expe Numerosos estudos comprovam riência, migrem para regiões mais que o principal componente na deci distantes, com terras mais baratas. recursos.
do de migrar é a possibilidade de uma família encontrar melhores opor (5) Mundlak, Y., Migración dei Campo a Ia tunidades fora do lugar de origem. — Andlisis Empírico Basado en Daíos Em outros termos, do ponto de vista Ciudad Rurales, "Cuadernos de Economia**, Pontifícia
econômico, a diferença entre a renda
Universidad Católica de Chile, 15(45): 143-161,
atual e a esperada, comparada com o
agosto 1978.
281
...é normal para agricultores com
espírito de inicia tiva...
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
... e não significa necessariamente
perseguição
no
lugardeorigem
para ali se transformarem em médios ou grandes proprietários. O fato de haver migração agrícola de uma região para outra não signifi ca necessariamente que o agricultor foi "expulso" de sua região de origem.
Título II
seja, 60% dos chefes de família mi grantes residiam há mais de 10 anos no lugar de destino, e 75% há mais de 6 anos.
Que sentido há em considerar
como migrante uma pessoa que reside Ao contrário, vantagens econômicas e há 5 ou 10 anos no mesmo lugar? Do outras podem tê-lo levado a isso. ponto de vista sociológico, não nos parece correto continuar definindo
C. Migração,
um fenômeno inflado
tais famílias como migrantes. Espe cialmente com as conotações que o IPT atribui ao termo.
O IPT fala em milhões de migran tes. Algumas publicações falam em 30 milhões, outras em 40 milhões. A definição de migrante toma as conclusões
do
IPT pouco signi ficativas
A maioria dosmi
grantes se integra no destino
Esses números,aparentemente tão elevados, deixam de impressionar ao se tomar conhecimento da definição de migrante, utilizada pelo censo; migrante é aquele não natural do município. Assim,todos os que nasce
ram em um município diferente da quele onde residem são considerados migrantes (6). Por outro lado, o migrante é considerado como tal, independentemente do tempo de resi dência na região. Recente estudo revela que os mi
D. No destino do migrante: fracasso ou êxito? Está na lógica da visualização neomarxista do processo de desenvol
vimento econômico capitalista, sus tentar que o migrante, expulso de seu lugar de origem, vá perambulando de destino em destino,sem encontrar um
Ofracasso inevi
tável do migrante está na lógica neomarxista
lugar para se estabelecer e progredir. Ou que,chegando a um destino qual quer, se incorpore à massa dos pobres do lugar, ficando em uma situação igual ou pior que a anterior. O que sucede com o migrante no
grantes se integram facilmente no seu destino? Quantos fracassam? lugar de destino (7). Para se ter uma Quantos progridem? idéia aproximada da antigüidade do Martine e Peliano, baseados no As migrações migrante em seu lugar de destino, o último censo populacional (1970), contribuem posi estudo citado tabulou o número de procuram dar resposta a esta e a tivamente para o famílias migrantes e as naturais das outras perguntas, limitando-se às re progresso do País...
regiões metropolitanas. Do total de giões metropolitanas do Brasil (São famílias, 63,72% eram migrantes, e Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizon 36,28% eram naturais. Das famílias
te, Porto Alegre, Curitiba, Recife, Salvador, Fortaleza e Belém)(8), as nham menos de 10 anos de residência quais acolhiam, em 1970, 36% do correspondiam a 40,15%, e as que total de migrantes do Brasil.
migrantes, aquelas cujos chefes ti
tinham menos de 6 anos de residência
Os leitores interessados em conhe
correspondiam a 24,83% do total. Ou cer pormenores sobre o assunto pode rão encontrá-los no Anexo I. Para (6) Segundo pesquisa direta feita em Belo
não alongar o texto desta nossa análi Horizonte, os migrantes intrametropolitanos se, daremos aqui apenas os pontos (pessoas que nasceram em um municipio dessa região metropolitana e que residem atualmente essenciais. em outro município da mesma)representavam Os autores descrevem o que tem 6,6% do total de migrantes. Para outras re sucedido com os migrantes em alguns giões metropolitanas não se têm estatísticas a esse respeito, mas é lógico supor que quanto aspectos básicos, como educação,ca maior o número de municípios de uma região tegoria ocupacional, lugar de residên
metropolitana, maior o número de migrantes cia e renda. A evolução desses aspec intrametropolitanos (Martine, G.; Peliano, tos refletiria a situação econõmico^ no Mercado de TYabalhò Metropolitano. Série Estudos para o Planeja social do migrante. De um modo geral, concluem que mento N." 19, Brasília, IPEA, 1978, p. IQ). quanto maior é o tempo de perma(7) FIBGE, O gum/ro das Famílias em
^micíhos
Chefe Migrante Natural, Série
(8) Martine, G.; Peliano, J. C. P., op. cit.. p. 6.
282
...mas tiveram as
pectos negativos
'x- ií.
íí&vrmriaí'; .■'iVí.'*
Segundo estudo do Banco Mundial, dentre os países em vias de desenvolvimento, o Brasil é aquele que tem maior porcentagem de trabalhadores com terra (proprietários, parceiros e arrendatários), em relação ao total da população economicamente ativa do setor agrícola.
vv-
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Título II
nência do migrante no lugar de desti ceis para muitos dos setores menos O quadro trágico no, melhor é sua posição,do ponto de favorecidos da sociedade, o quadro pintado pelo IPT vista dos fatores acima mencionados.
trágico pintado no IPT não se coadu- l^reaíu^^*^"^
Entretanto, em torno de 37 a 45% na com a realidade.
deles reemigraríam (limitações meto dológicas e dos dados disponíveis obrigam a ver com precaução esta estimativa). Por outro lado, J. Pastore (9) e
Gibbon (10), com base em outras fontes de informação,como o Progra ma Nacional de Amostras de Domicí
lio e declarações de Imposto de Ren da, respectivamente, mostram a exis
4. As oportunidades de emprego teriam diminuído na agricultura o IPT apresenta a seguinte afir mação:
"Entre 1950e 1970, as oportunida Uma visão super des de trabalho para terceiros na ficial do censo avertical, que transformou a estrutura agropecuária, assalariados e parceiros gropecuário indi ca diminuição
tência de uma alta mobilidade social social brasileira. Tomando em consi
subordinados, caíram em cerca de um
deração não os próprios estratos so ciais(com base nos quais se fazem as análises de distribuição de renda), mas os indivíduos, uma porcentagem significativa destes se movimenta dos
milhão e meio de empregos"(n? 14).
estratos inferiores para os superiores em lapsos relativamente curtos de tempo. Se no processo migratório uma grande parte dos migrantes não progredisse no local de destino, esta
Sem tomar em consideração as
riam ser chamados de trabalhadores
agrícolas (empregados permanentes, empregados temporários e parceiros
dro 5.
(9)Pastore, J., Desigualdade e Mobilidade Social no Brasil. São Paulo, EDUSP, 1979.
(11) Os dados dos censos agropecuários
(10) Gibbon, V. H. S., Distribuição de
sobre o pessoal ocupado na agricultura são muito precários, especialmente quando se pre tende agrupá-los por categorias. Tal precarie dade decorre da própria maneira como os
QUADRO 5. — Pessoal ocupado na agricultura segundo a condição do trabalhador rural
1950
1970
1975
a) Responsáveis dos estabelecimentos e membros
6.022.033
14.106.190
16.374.435
não remunerados da família
b) Empregados permanentes Empregados temporários Parceiros subordinados
1.420.867
1.155.292
1.553.097
2.308.377
1.488.416
1.696.865
1.245.557
602.264
561.336
229.927
159.959
4.974.801
3.475.899
3.971.257
10.996.834
17.582.089
20.345.692
Outros Total
c) Total geral
Fonte: Censos Agropecuários, 1950, 1970 e 1975. 284
entre 1950-1970
limitações dos dados dos censos (11), é bem verdade que houve uma queda no volume de emprego dos que pode
subordinados), entre os anos de 1950 e 1970. Mas também é verdade que mobUidade social não seria viável. houve uma significativa reversão des Portanto, se bem que caibam cor sa tendência entre os anos de 1970 c reções á fim de evitar situações difí- 1975, conforme nos mostra o qua
Renda e Mobilidade Social — a Experiência Brasileira, "Revista de Economia", FGV, 33 (3): 325-372, julho/setembro 1979.
das oportunida des de emprego
Reversão da ten dência entre 1970 -1975
Capitulo I
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
Neste período houve um aumento ros na agricultura deveria considerar no número de empregos, que passou também esta categoria de pequenos de 3.475.899 trabalhadores para estabelecimentos. Uma certa proporção dos peque 3.971.257, ou seja, aumentou a uma taxa média anual de 2,8%. Dentre os nos produtores não-propríetários de trabalhadores rurais, a categoria que ve aparecer no censo como trabalha mais aumentou foi a dos permanen dores temporários; como também uma tes, cujo número subiu a uma taxa de certa porcentagem de produtores nãopropríetários com mais de 10 ha. deve 7% ao ano. Antes de tentar avaliar mais preci fazer parte da força de trabalho de samente o que sucedeu com o empre terceiros na agropecuária. Se, a título
go na agricultura, é necessário ter meramente exemplificativo, e sem con presente que, devido ao próprio pa siderar as limitações metodológicaslia drão de desenvolvimento econômico das ao problema,somamos a categoria comum à grande maioria dos países,é de trabalhadores agrícolas com a dos pe normal esperar uma diminui^o rela quenos produtores não-propríetários
tiva da mão-de-obra na agricultura, (menos de 10 ha.), a diminui^o de em pregos para terceiros que houve entre em relação ao total. Uma avaliação mais correta do os anos de 1950 e 1970decresce signifi
que sucedeu com a mão-de-obra na cativamente, melhorando a situação agricultura, especificamente do "tra no ano de 1975 (ver quadro 6). Finalmente, os dados do censo balho para terceiros"^ exige ter em conta as limitações dos dados censi- não tomam em consideração a totali tários e o sem-número de formas de dade dos trabalhadores volantes. É relações contratuais existentes no sabido que essa categoria de trabalha mercado de trabalho no setor agríco dores teve um aumento significativo, la. A eventual diminuição no enapre- e portanto sua exclusão das cifras de go,em uma determinada categoria de empregos de terceiros, na agricultura, trabalhadores, não reflete necessaria contribui para subestimar seriamente mente o que aconteceu com as opor as oportunidades de trabalho desta tunidades de emprego na agropecuá categoria. ria como um todo. Algumas formas de parceria e ar rendamento cons
tituem oportunidades deemprego
Para uma avaliação do mercado
de trabalho na agricultura, deveriam ser incluídos como mão-de-obra em
5. "Bóias-frias":
pregada no setor agrícola os pequenos vitimas da parceiros autônomos e os pequenos estrutura agrária? arrendatários; pois estes constituem formas de emprego de força de traba A respeito dos trabalhadores vo lho, mais do que empresas ou estabe lecimentos agrícolas autônomos (ver lantes na agricultura, o IPT comenta: Anexo II). Portanto, uma análise "Os que não conseguem resistir a mais precisa do trabalho para tercei essas diferentes pressões e agressões. dados sfio apresentados, pois eles aparecem
expressos em termos de homens/empregados,e não em termos de jornadas equivalentes/em pregadas.
mo de empregados temporários contratados por mfts (idem, pp. 40-41), observa-se que em dezembro aparece a cifra de 2.955.663 pessoas, ou seja, uma diferença de 1.258.798 em relação
Em segundo lugar, certa porcentagem dos ao quadro anterior (74% a mais). É difícil responsáveis dos estabelecimentos e membros imaginar uma flutuação tão acentuada no
não-remunerados da família, deve fazer parte emprego temporário durante o mês, especial dos "empregados temporários". Desse modo,
mente considerando o País como um todo.
Por outro lado, os dados do censo agro pecuário não consideram expressamente os trabalhadores volantes ou "bóias-frias". Parte deles pode aparecer na categoria de temporá rios mas, ainda assim, de acordo com a defini ção usada pelo censo, muitos não figuram gados temporários na agropecuária (FIBGE, como mão-de-obra empregada. Estas são algumas observações que nos Censo Agropecuário de 1975, Brasil, vol. I, p.
somando todas as categorias,facilmente ocorre dupla contagem. Um exemplo da precariedade dos dados é o caso dos empregados temporários. Segundo o último censo agropecuário (1975), em 31 de dezembro daquele ano havia 1.696.865 empre
36). Analisando outro quadro estatístico do mesmo censo, em que figura o número máxi
levam a tomar com muita reserva os dados de
emprego baseados np censo.
285
Dados do censo
não permitem es timar correta
mente as oportu nidades de traba
lho para terceiros
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo n
não conseguem continuar como pos obra. Como também a legislação tra seiros, colonos, parceiros, arrendatá balhista rural vigente favoreceria a rios, moradores: transformam-se em substituição de mão-de-obra perma proletários, em trabalhadores à pro nente pela temporária (12). cura de trabalho Tiõo só no campo, Qual é a extensão do fenômeno? mas também na cidade. É sabida a Qual é a situação econômica e social situação dos trabalhadores avulsos do trabalhador volante?
em amplas regiões do pais, conheci Não há dados sólidos para avaliar Notória afcdtade dos como bóias-frias em São Paulo, o número de volantes na agricultura, dados para cor Minas Gerais, Paraná, Rio de Janei e sua variação nos últimos anos. reta avaliação da sittMção e núme ro, Goiás: ou como 'clandestinos'em Entretanto, alguns estudos têm ro dos trabalha Pernambuco:ou 'volantes'na Bahia e pretendido quantificar o número de dores volantes em outras regiões. As oportunidades volantes. Considerando como volan
Otrabalho volan
te é próprio da agricultura, po rém três fatores parecem tê-lo exacerbado:
de emprego para esses trabalhadores tes todos os trabalhadores rurais com são sazonais, o que os impede de domicilio urbano (13), de acordo com trabalhar todos os meses do ano. Para o último censo demográfico haveria atenuar as dificuldades que enfren 1.546.883 volantes em uma população tam, aceitam deslocar-se para grandes ativa agrícola total de 12.578.064 distâncias, levados pelo 'gato', longe pessoas (14), representando portanto da família, sem qualquer direito tra 12,3% do total. Gonzalez e Bastos, balhista assegurado. Trabalhadores utUizando uma tabulação especial do de São Paulo são encontrados, em censo demográfico, calcularam estas certas épocas do ano, trabalhando no porcentagens para os Estados de Per Paraná ou em Minas Gerais"(n? 48). nambuco(13,1%), São Paulo(26,6%), A existência do trabalho volante Paraná (7,4%) e Goiás (14,5%)(15). na agricultura não reflete necessaria Gomes da Silva e Rodrigues (16) mente uma situação anômala, provo (12) Numerosos estudos e declarações atri cada por "diferentes pressões e agres sões". O trabalho volante surge da buem ao Estatuto do Trabalhador Rural, pro mulgado em 1963, a responsabilidade pelo própria natureza do processo produ aumento do trabalho volante na agricultura tivo agrícola, que requer mão-de-obra (ver, entre outros: Paiva.R. M.; Schattan,S.; em volumes diferentes em suas diver
Freitas. C. F. T., Setor Agrícola do Brasil —
sas etapas. Em qualquer parte do Comportamento Econômico. Problemas e Pos São Paulo,Secretaria da Agricultu mundo esse fenômeno se produz, sibilidades. ra, 1973). tanto nas agriculturas mais desenvol (13) Gonzales. E. N.; Bastos. M. I., O vidas quanto nas mais primitivas. Trabalho Volante na A^icultura Brasileira. a)o monocultivo b)a mecanização c)a legislação tra balhista
É claro que determinadas situa
Reunião Nacional sobre Mão-de-obra Volante
ções podem exacerbar a estaciona- na Agricultura, Botucatu, setembro 197S. (14) FIBGE, Censo Demográfico de 1970. lidade nas necessidades de mão-de- Brasil, vol. I, p. 76, quadro 20.
obra, ou favorecer a substituição da
mão-de-obra permanente por tempo rária. Assim,é sabido que o monocul tivo de algumas lavouras, e certo tipo
(15) Gonzales.E. N.; Bastos. M. I., op.cit., p. 254.
(16) Silva.!. G.da; Rodrigues.V. L. G.S., O Bóia-FTia — Contradições de uma Agricul
em Tentativa deDesenvohimento.'*Refar de mecanização, aumentam a estacio- tura ma Agrária**, ABRA,Campinas, Ano V, N?s 9
nalidade na demanda de mão-de- e 10, setembro-outubro 1975.
QUADRO 6. — Trabalho por terceiros na agropecuária
1950
Produtor não-proprietário (menos de 10 ha.)
1970
1975
249.085
1.381.845
1.420.214
Trabalhadores agrícolas
4.974.801
3.475.899
3.971.257
Total
5.223.886
4.857.744
5.391.471
Fonte: Censos Agropecuários, 1950, 1970 e 1975. 286
Um limite infe rior de 12.3%..
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A forma pela qual o documento Igreja e problemas da terra apresenta tudo o que se refere à migração deixa a impressão de que ela constitui, em si, uma anomalia, um maL Na realidade, não é assim. O processo migratório
preenche ou é concomitante com o desenvolvimento econômico, cultural e social de uma nação.
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
...e um limite su
perior de 55,13%...
Título n
pretendem estimar o número de vo ziano da Silva (19)é, entretanto, bem lantes por meio dos dados cadastrais diverso. O autor distingue, em pri do INCRA (17). De acordo com esses meiro lugar, três categorias de volan dados, no ano de 1972 havia 6.844.849 tes, que diferem em sua situação temporários, para um total de econômica e de segurança no traba 12.414.509 trabalhadores rurais. Ou lho: volantes permanentes, que traba seja, 55,13% dos trabalhadores rurais lham todo o ano para a mesma
fazenda; volantes eventitais ou espo
seriam volantes (18). ...mostram a im
precisão na esti mativa do núme ro de volantes
riamente volante, no sentido de um trabalhador que não tem seu domicí
lio permanente no meio rural, e que percorre diversas regiões trabalhando em tarefas diversas. Muitos pequenos proprietários, parceiros e arrendatá
superior
a) permanentes
b) esporádicos
faz parte da mão^e-obra regular(em
dados do INCRA permitem supor grande parte constituídos por meno que eles sobrestimam significativa res em idade escolar, velhos e mulhe mente o número de volantes. Em res de volantes); e os volantes tempo primeiro lugar, o trabalhador tempo rários, que alternam empregos rurais rário (não-permanente)não é necessa e urbanos,trabalhando na agricultura
Limite
categorias
A amplitude que esses dados reve rádicos, que trabalham menos de dois lam dá uma idéia da dificuldade para meses por ano, nas épocas de picos de avaliar corretamente a magnitude do salários, e cuja grande maioria não fenômeno. Duas características dos
sobreestimado
TYês
de volantes:
c) temporários
entre 60 e 240 dias no ano.
A importância relativa de cada uma dessas categorias varia muito,de
acordo com a região. O estudo apre senta uma estimativa aproximada, segundo a qual existiriam 35% de rios, trabalham como assalariados volantes permanentes,50% de esporá temporários nas fazendas. dicos e 15% de temporários. Em segundo lugar, nas estatísticas Os esporádicos correspondem, cadastrais do INCRA figura o núme grosso modo,a membros das famílias ro máximo de temporários enq)rega- dos volantes permanentes e temporá dos no ano. Isso acarreta necessaria
rios. Portanto, o número de famílias
mente uma dupla contabilização, es
volantes seria bem menor do que o total de volantes. Por outro lado, muitos dos volantes temporários são pequenos produtores (proprietários,
pecialmente tratando-se de cifras glo bais. Esses breves comentários bastam
para revelar o caráter precário das arrendatários, parceiros ou posseiros). informações disponíveis sobre a mag Estas considerações permitem su nitude do fenômeno **bóia-fria**. De por que uma parte considerável de qualquer forma, existem fortes indí volantes tem certo grau de continui cios de que houve um aumento no dade no trabalho agrícola. Natural trabalho volante na agricultura, espe mente, isso deve variar muito de uma cialmente em algumas regiões. região para outra; contudo não há É também notória a falta de estu estudos conclusivos que tornem possí dos acurados e completos sobre a vel traçar um quadro mais geral e situação econômica dos volantes. Os objetivo da situação. estudos disponíveis analisam casos Não existem informações sobre o particulares, ou são de uma generali valor do salário de uma família de dade tal que não permitem conclusões volantes. Há quem afirme que have seguras sobre a sua verdadeira situa ria famílias que recebem 50 a 70 mil ção. Sem embargo disso,em conformi cruzeiros por mês, nas épocas de dade com a tônica geral do documen maior emprego (20). to, o IPT apresenta a situação difícil, e Sem pretender subestimar os abupor vezes dramática, de muitos tral»-
Ihadoies volantes, como sendo uma situação generalizada e continua.
O panorama sugerido por Gra-
(19) Silva, J. F. Grazianoda. OBóia-Fria: Ehtre Aspas e com Pingos nos ís, III Reunião
Nacional de Mão-de-obra Volante na A^cultura, Depto. de Economia Rural da Faculdade
de Ci&ncias Agronômicas da UNESP,Campus (17) INCRA, Estatísticas Cadastrais Brasília, 1974.
I.
(18)Silva, J. O.da; Rodrigues, V. L. G.S., op. cit., p. 16, quadro 2. 288
de Botucatu (SP), 1977.
(20) Declarações de FAbio de Salles MbiRELLES na CPI da Agropecuária, **Infonnativo FAESP", dezembro 1979.
Continuidade de trabalho do vo lante
O valor dos salá rios dos volan tes
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
Capitulo I
deveria ser apontado pelo IPT como um fator auspicioso na melhora das ção do 'bóia-frúi' condições de vida do trabalhador tanto ponderar o exagero com que o pelas descrições IPT apresenta a situação deles, che rural. O quadro 7 contém a evolução jornalísticas gando a falar em "venda"át volantes. do salário na agricultura para 16 A esse respeito, observa Graziano Estados. DA Silva; "A visão urbana que se O mesmo quadro mostra um au tem, alimentada por inúmeras descri mento acentuado de todos os índices, ções jornalísticas, é de que há um a partir de 1970. O salário deflacioleilão ou escolha diária de volantes, nado (descontada a inflação) aumen com os turmeiros gritando o salário a tou a uma taxa anual de 8% para os ser pago naquele dia e a turma diaristas, e de 5% para os permanen descendo e subindo nos caminhões à tes. O salário real (salário nominal medida que se fazem os lances. Não comparado com os preços dos ali Freqüentes dis torções da situa
sos que aparecem nas relações de trabalho dos volantes, deve-se entre
me parece que essa seja a situação
mentos) aumentou a taxas anuais de
normal, mas ao contrário, que o leilão 5% e 2%, para diaristas e permanen só ocorra em situações excepcionais e tes respectivamente. que dele participem apenas os que Por outro lado, houve uma dimi O salário rural se aproximou do ur estamos chamando de volantes espo nuição, de 100% para 30%, na dife rádicos e os volantes temporários, rença entre o salário urbano e o bano ficando defora os'bóias-frias'perma salário rural (22). nentes. Em outras palavras, o leilão é Quanto à produção agropecuária, O aumento da sempre um fenômeno temporário" é por todos reconhecido que, apesar produção foi su ao da po (21). da política econômica prejudicial à perior pulação agricultura, esta aumentou sua pro dução a uma taxa superior à do crescimento da população, fornecen 6- Alguns progressos do ao mesmo tempo mais da metade
que o IPT ignora Alguns aspectos positivos da rea lidade rural:
das divisas do País.
No quadro 8, verificamos que no período 1973-1978 o setor agro na descrição de certos fatos da reali pecuário aumentou sua produção a dade agrária brasileira — o que impli uma taxa anual de 4,8%, correspon ca a negação implícita dos seus aspec dendo 2,8% à lavoura e 7,9% à tos positivos — chama a atenção no pecuária (23). IPT a ausência de qualquer referência explícita a aspectos positivos dessa (22) Bacha, E. L., Crescimento Econômico, realidade. Uma visão equilibrada dos Salários Urbanos e Rurais: o Caso do Brasil, problemas, sobretudo objetivando "Pesquisa e Planejamento Econômico",9(3): Além dos erros e unilateralidades
apresentar uma solução para eles,
585-628, dezembro 1979, p. 606. *
•
*
exige ter em mente os aspectos positi O presente estudo já estava concluído quan vos da realidade onde esses problemas do foi publicado o Prognóstico 80/81, do se inserem. Caso contrário, o mais Instituto de Economia Agrícola da Secretaria Agricultura do Estado de São Paulo. provável é que a solução que se venha da O Prognóstico mostra que no Estado de a propor, longe de resolver tais pro São Paulo a tendência de aumento do salário
blemas, acabe por criar outros novos agrícola manteve-se até o ano de 1978, dimi a) a evolução do salário real
b)crescimento da produção agro pecuária
nuindo a partir daí a uma taxa média anual ou exacerbar os antigos. ordem de 4%. A publicação não fornece Como exemplos dessa omissão, da dados para o resto do País. citamos a ausência no IPT de qual Supondo que essa mudança da tendência do quer referência à evolução dos salá salário real ocorrida no Estado de São Paulo
rios na agricultura, e ao crescimento tenha se dado de igual modo no resto do Pais, não anularia a melhora havida no salário da produção agropecuária e sua con ela real, conforme os dados que apresentamos. tribuição no fornecimento de divisas ao País.
(23) O leitor poderá encontrar um amplo estudo sobre a tendência da produção agro
O aumento do salário real, ocorri pecuária do Brasil, até o ano 1960, em Maver. do na agricultura nos últimos anos, Dom Antonio de Castro;Sigaud. D. Geraldo (21) Silva, J. F. Graziano da. op. cit.
DE Proença; Corrêa de Ouveira, Plínio; Frei tas, Lviz Mendonça de, Reforma Agrária — Questão de Consciência, São Paulo, Editora
289
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Título 11
É de se notar o fato de que nos na produção agrícola (provavelmente anos de 1975 e 1978 houve diminuição Vera Cruz, 1960, Parte II (Aspectos Econô micos), Cap. VII.
por razões alheias ao setor como tal — secas ou geadas, por exemplo), o que faz com que a taxa de aumento anual no período apareça subestimada.
QUADRO 7. — índices de salários rurais de poder aquisitivo constante 1966-1977 — Brasil (16 Estados) (1970 = 100)
Diarista
Ano
Salário deflacionado
Permanente Salário real
Salário deflacionado
Salário real
1966
104
95,2
109
100
1967
107
103
114
109
1968
104
109
106
111
1969
102
105
101
105
1970
100
100
100
100
1971
110
101
112
102
1972
113 122
99,7 97,6
114
1973
99,4 98,1
1974
160
126
140
111
1975
169
135
142
113
122
1976
161
126
136
106
1977
161
134
139
116
Fonte: Bacha, op. cit., p. 623. Obs.:
Salário deflacionado =
Salário monetário
Deflator implícito do PIB Salário monetário
Salário real =
Custo de ahmentação no Rio de Janeiro
QUADRO 8. — Variação da produção agropecuária brasileira (em '%)
Ano
Lavoura
1974
12,4 - 2,0
1975
1976
0,4
1977
11.7
1978
-7,3 2,8
1973/78!
Pecuária
Agropecuária
0,0
8,5 3,4 4,2 9,6
14,0 12,3 5,3 9,7
7,9
Fonte: Centro de Estudos Agrícolas, IBRE/FGV, apud Ministério da Agricultura, op. cit., p. 29. 290
- 1,8 4.8
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
Se dividimos a produção agrícola (lavoura) em produtos exportáveis e
Capitulo I
agricultura (a relação de preços inter nos entre os produtos industriais e os
produtos domésticos (alimentos), po
produtos agrícolas) poderia estar in
demos verificar que no período de 1962 a 1976 a produção dos exportá
dicando uma "escassez" relativa de alimentos.
veis aumentou a uma taxa anual de
No quadro 9, fica comprovado
que mais de 50% das exportações de 4% ao ano. Restringindo os dados são provenientes do setor agrope ao período de 1968 a 1976, as taxas de cuário. Os dados referentes ao ano aumento foram respectivamente de de 1979 revelam que aproximadamen 9,09% e 3,32% ao ano (24). te 43% das exportações foram prove Esses dados revelam uma tendên nientes do setor agrícola (excluindo o cia decrescente no aumento da produ café solúvel) (25). ção de alimentos, especialmente se Sobre a contribuição da agricul comparada com o aumento da produ tura no fornecimento de divisas ao ção de exportáveis; mas, de qualquer Pais, o IPT a ela se refere apenas para maneira, os aumentos da produção criticá-la, como um desvio da finali foram maiores que os aumentos da dade própria da agricultura, que seria população. fornecer alimentos ao povo. Ora, se o setor agrícola for submetido a uma Os números indicam um desem penho razoável do setor produtor de política econômica adequada, ambas alimentos, apesar da penalizaçâo a as finalidades se harmonizarão, tendo 6,26%, e a dos domésticos a uma taxa
O aumento
da
produção de ali mentos foi maior
que o da popu lação
Possível diminui
ção da disponi bilidade de ali mentos em rela
ção ao aumento
que esteve sujeito. Entretanto, não
como resultado um maior bem-estar
da demanda
indicam necessariamente um aumento
para a Nação.
na disponibilidade de alimentos, pois a demanda depende não só do aumen to da população, mas também da elasticidade de demanda/ingresso dos alimentos (relação entre a porcenta gem de aumento no consumo e a porcentagem de aumento na renda), que é relativamente alta nos setores populacionais de menor renda. A deterioração dos termos de intercâm bio entre o setor não-agrícola e a
7. Considerações finais deste capítulo Ao encerrar este capítulo sobre o modo como o IPT apresenta os pro blemas da agricultura brasileira, tor
na-se necessário fazer algumas ponde rações e dar uma visão de conjunto do Não negamos a
que até aqui foi analisado.
É necessário observar, inicialmen (24) Barros, J. R. Mendonça de. Política e Desenvolvimento Agrícola
no
Brasil,
in
te, que os comentários feitos até aqui
Ensaios sobre Poiíiica Agrícola Brasileira, pp. 9-3S, São Paulo, Secretaria da Agricultura, 1979, p. 20, quadro 2.
(25) Banco Central do Brasil, "Boletim", vol. 16, N? 7, julho 1980.
QUADRO 9. — Exportações dos principais produtos agrícolas brasileiros (em USS milhões FOB)
1973
1974
1975
1976
1977
1978
Agropecuários
4.529,6
5.359,4
7.598,8
1.669,6 6.199,2
2.591,6
5.315,7 3.354,2
6.662,3
Não-agropecuários
3.503,4
7.951,0
8.669,9
10.125,6
4.540,6 12.139,4
6.564,1 4.881,7 11.445,8
73,1
67,5
61,3
65,2
62,6
57,6
Produtos
Total
Participação dos agropecuários (%)
Fonte: CACEX, apud Ministério da Agricultura, op. cit., p. 3l. 291
existência de pro
blemas na agri cultura...
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
...mas apontamos os exageros e er
ros de interpre tação
Titulo II
não pretendem negar que existam assunto. Ou, na ausência destes, fazer problemas na agricultura. O nosso notar a necessidade dos mesmos. Na objetivo foi tão-só mostrar que o IPT da disso aparece no IPT. contém exageros, generalizações, e É geralmente admitido que a mãoaté erros que não encontram base nos de-obra não-qualificada constitui o dados disponíveis. Esses dados não setor de renda mais baixa em qual permitem conhecer com sufíciente se quer país. Uma vez que ela se con gurança e amplitude a real situação centra especialmente no setor agríco da pequena agricultura e a dos traba la, bolsões de pobreza devem encon lhadores agrícolas em geral. trar-se nesta categoria. Agrava a si Por outro lado, a existência de
Bolsões de pobre za na agricultura
tuação a menor renda relativa da
uma grande variedade de situações agricultura em relação às demais ati entre as diversas regiões agrícolas do vidades (ver Anexo II).
Brasil, pede que essa realidade seja cuidadosamente tomada em conside
ração se se quiser chegar a uma
medida válida para todo o setor agrí cola. O documento não atende a essa
diversidade regional. Veriíicamos que, ao contrário do
que afirma o IPT, os dados disponí veis revelam uma difusão significativa Uso simplista do termo "estrangu lamento"
da propriedade da terra. Chama a atenção o caráter espe cialmente simplista do IPT em sua análise com relação ao pequeno pro dutor rural, proprietário e não-proprietário da terra. Ao referir-se a
Também verificamos ser exagera da e unilateral a afirmação de que está havendo uma verdadeira "expulsão" de lavradores do campo para a cida de, engrossando os contingentes de pobres nas grandes metrópoles do País. As informações e estudos dispo níveis revelam que o processo migra tório contribuiu para uma significa tiva mudança na estrutura social do Brasil. Não ignoramos que houve distorções e exacerbações do proces so, que requerem remédio; mas, ape sar disso, não é possível inferir dos dados disponíveis uma realidade co
estes, ele fala de "estrangulamento", mo a descrita no documento. mas não diz em que consiste esse O empenho do IPT em pintar uma
"estrangulamento", e menos ainda realidade agrária de injustiça social qual a amplitude do mesmo. Limita- generalizada reflete-se ainda na omis
são completa de referências aos pro processo migratório, do qual seria a gressos e melhora na situação dò tra causa. Ora, uma análise objetiva exi balhador rural e ao comportamento giria um estudo mais detido,com base do setor agrícola na economia brasi se a inferir a sua existência através do
em trabalhos aprofundados sobre o leira.
292
Visão hipertro fiada do processo migratório
Omissão sobre os progressos na
agricultura
Capítulo II Três correntes
de pensamento econômico a respeito de problemas agrários
Uma vez analisados e ponderados ca. Por outro lado, o papel central na os problemas agrários apresentados distribuição e uso dos recursos é pelo IPT, devemos estudar as causas atribuído ao sistema de preços deter desses problemas de acordo com a minados pelo mercado. A ação do visualização do documento. Antes Estado é subsidiária, limitada a corri disso, porém, e para efeito de con gir as distorções que apareçam ao frontação, mostraremos o que pen longo do processo de crescimento
sam sobre o assunto as principais cor
econômico. A ordem econômico-social
rentes econômicas.
daí resultante se caracteriza pela desi gualdade social e econômica entre os diversos componentes da sociedade; tal desigualdade teria sua origem, em
1. As três correntes de
pensamento econômico a respeito de problemas agrários A literatura econômica apresenta inúmeros enfoques quanto aos países
última análise, na diversidade de ca
pacidades e potencialidades inerentes à própria ordem natural de todas as coisas.
B. Escola estruturalista Em essência, esta escola admite os
Distorções na e-
(1) agrupa esses diferentes enfoques postulados básicos da escola neoclás em três grandes correntes principais sica, ou seja, a propriedade privada de pensamento: neoclássica, estrutu- dos meios de produção e a livre iniciativa, bem como o papel funda ralista e neomarxista.
conomia dos paí
em via de desenvolvimento. Chenery
mental do sistema de mercado. Mas, em relação ao sistema de mercado,ela
A propriedade privada, a livre iniciativa, e a eco
nomia de mercado
A ação subsidiá ria do Estado
Á. Escola neoclássica
discorda dos pressupostos da escola
A escola de pensamento neoclás sica está intimamente ligada ao siste ma capitalista. Assim, reconhece a propriedade privada dos meios de produção e a livre iniciativa como
das forças do mercado conduz a uma distribuição ótima dos recursos e a
valores essenciais da ordem econômi
neoclássica, segundo os quais o jogo
(1) Chenery, H. B., The Structuralist Approach to Development Policy, World Bank Reprínt Series N° 20.
293
ses em desenvol vimento
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo II
um maior bem-estar social. Para os
estruturalistas, as estruturas sócio-
econômicas — especialmente dos paí ses em desenvolvimento — apresen tam inflexibilidades e distorções de
vulto que impedem que o sistema de preços determinados pelas forças do
2. Os problemas agrários segundo a escola neoclássica
mercado conduza a um crescimento
contínuo e estável, bem como a uma Necessidade
de
"reformas de es trutura"
Para esta escola, a causa princi conveniente distribuição da riqueza. pal da baixa produtividade dos fato Em conseqüência, para que o sistema res de produção "tradicionais" na de mercado opere adequadamente, agricultura (mão-de-obra e terra) não seriam necessárias **reformas de estru provém de problemas estruturais, mas tura". do fato de que os retornos sobre os investimentos em tecnologia mais mo derna são baixos para os agricultores (2). O uso de maquinária, fertilizan C. Escola neomarxista tes e sementes selecionadas aumenta a
O trabalho como
A escola neomarxista está direta
único fator legi
mente ligada, como é óbvio, à doutri
timo de produção
produtividade dos outros fatores, mas o seu uso pode não ser economica
na filosófica marxista. Segundo essa doutrina, a desigualdade é em si mesma um mal,e portanto o processo
relação aos fatores "tradicionais" tor
de desenvolvimento econômico deve
ser igualitário, reconhecendo no tra
balho o único fator legítimo de pro dução. O Estado deve ser o propulsor do desenvolvimento, não existindo a
propriedade privada dos bens de pro dução nem a livre iniciativa. O merca do não tem qualquer função diretiva.
mente rentável se os seus preços em nam o investimento neles menos ren
doso do que nestes últimos (3). Se, de um modo geral, a agricultu ra não se modernizou como teria sido
(2) Isto não si^fíca que em algumas regiões e casos particulares os aumentos de
produtividade e as mudanças tecnológicas te nham sido signifícativos. O que esta escola afírma é que, no Pais como um todo, os aumentos de produtividade e as mudanças técnicas não vêm sendo marcantes.
Do ponto de vista metodológico, não é errado considerar a escola neo-
clássica e a estruturalista como per tencentes ao mesmo grupo. Isso não quer dizer que as duas escolas coinci dam em relação a todos os aspectos
da teoria e da política econômica. Descendo do plano teórico ao plano pessoal, sabe-se que muitos estrutura
listas têm simpatia pelas idéias mar xistas, ou delas participam. Além disso desejamos ressaltar que as três escolas defínidas na forma aqui apresentada não constituem compartimentos estanques, e muitos economistas, embora possam ser con siderados como adeptos de uma das
escolas, dela podem divergir em as
pectos de maior ou menor importân cia.
Assim definidas sinteticamente as
três correntes de pensamento econô
mico, passaremos a analisar o que cada uma delas postula em relação à agricultura. 294
(3) ScHULTZ apresenta um modelo cujos elementos essenciais podem ser esquematizados da seguinte forma: 1) A existência de mão-de-obra em excesso é um fato que não se dá nas economias subdesen volvidas.
2)Em termos comparativos,não existem na
agricultura **tradicionar inefíciências signifícativas no tocante à distribuição de recursos.
3) Nela, o preço dos recursos para se conseguir um maior fluxo de ingressos é relativamente alto, e faz com que a taxa de retomo do capital seja baixa, o que, por sua vez, explica as baixas taxas de investimento. Em outros termos, os recursos "tradicionais"
são fonte cara de desenvolvimento agrícola. 4) Portanto, para transformar a agricultura "tradicional" em uma agricultura moderna,são essenciais o desenvolvimento e a aquisição de fatores de produção não-convencionais. 5) A variável fundamental que explica a adoção desses recursos não-convencionais é a rentabilidade.
6) O essencial, portanto, para o desenvol vimento agrícola, tanto econômico como so cial, é a produção, oferta e difusão de tais recursos a preços relativos baixos, de forma a
garantir uma alta rentabilidade de seu emprego (ScHULTZ, T. W., Transforming Tiraditional
Agriculture, New Haven and London, Yale University Press, 1964).
Baixa
rentabili
dade dos investi mentos no cam
po...
Capitulo II
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
...provocada por uma política de penalizaçõo da agricultura
desejável, foi porque a política eco tria nacional nascente, o que impli nômica seguida reduziu as expectati cou, em último termo, a sobrevalorivas de lucro e impediu, ou ao menos zação da taxa de câmbio. As conseqüências marcantes dessa não estimulou, o aumento de produti política foram as seguintes: vidade. a) Penalização da agricultura, por — Qual foi essa política? De modo geral, ela se caracterizou duas vias. A primeira foi a diminui por uma penalização da agricultura ção, em termos relativos, da receita em relação aos demais setores da das exportações agrícolas, obstaculieconomia (4). Essa penalização se zando-se assim uma via de crescimen processou por duas formas distintas, to para a agricultura. A segunda foi a correspondendo historicamente a dois proteção efetiva à indústria nacional, períodos: um que vai do final da em decorrência do que os insumos Segunda Guerra até a Revolução de modernos(máquinas,fertilizantes, se \96A\ outro que vai da Revolução de mentes etc.) tiveram seus preços ele vados (preço interno maior que o 1964 até os nossos dias. preço internacional) (5). Desta forma, a política comercial
A. A política econômica do pós-guerra até a segunda
de substituição de importações con
metade da década de 60
drões tradicionais de produção, au
A política econômica desse perío A política de substituição de do corresponde, grosso modo, à de importações... substituição de importações, conside rada na época como a única saída para os países em via de desenvol vimento. Tal política provocou um surto impressionante de industrializa
(4) Existe uma farta literatura que avalia a
penalização sofrida pela agricultura durante este período. Ver, entre outras obras: Mayhr, Dom Antonio de Castro; Sioaud. Dom Geral do DE PrOENÇA; CoRRêA DE OUIVEIRA. PlINIO; Freitas, Luiz Mendonça de. Reforma Agrária
— Questão de Consciência, São Paulo, Editora Vera Cruz, 1960, Parte II, Cap. IX, p. 298-306; Cap. X, p. 328-339. Pastore, A. C., Expor tações Agrícolas e Desenvolvimento Econômi co. Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior, Cadernos N" 2, Rio de Janeiro, 1979. JoHNSON, H. G., Economic Policies Toward
e não mediante uma significativa ino vação tecnológica. Estima-se que na segunda metade da década de 50 a agricultura trans feriu recursos para a indústria em uma proporção que chegou a ser em (5) A indústria nacional de fertilizantes, máquinas agrícolas e insumos em geral, come çou a desenvolver-se a partir da década de 60. Pode-se dizer que, hoje em dia, os preços das máquinas agrícolas nacionais estão em condi ções de competir com os de similares importa das.
Durante a década de 50, insumos como os
fertilizantes e pesticidas estavam sujeitos a um
regime preferencial de importação, represen
Alguém poderia afirmar que a política de
Política Comercial Brasileira no Setor Agríco la. in Araújo. P. F. Cidade de; Schuh. G. E., Desenvolvimento da Agricultura: Análise de Política Econômica,São Paulo, Pioneira, 1977,
créditos subsidiados para a agricultura com pensou os maiores custos dos insumos. Mas dificilmente o subsidio crediticio corrige as distorções provocadas por uma política comer
pp. 15-32. Melo, F. B. Homem de, A Política
cial errada.
Econômica e o Setor Agrícola no Período de
Isto porque um crédito subsidiado dificil mente é acessível a todos os produtores do setor. Ele é por definição escasso, especial mente em período de restrição de créditos.
35.
...a da
penalização agricultura,
devido à diminui
ção de receita de exportações e à proteção efetiva à indústria nacional
mentando seu produto principalmen te por meios extensivos de produção,
IPEA/INPES, 1975. Veiga, A., Efeitos da
33(1): 25-63, Rio de Janeiro,janeiro/março de 1979. Barros, J. R. Mendonça de. Política e Desenvolvimento Agrícola no Brasil, in Ensaios sobre Política Agrícola Brasileira. São Paulo, Secretaria da Agricultura, 1979, pp. 9-
re
nal tendesse a permanecer nos pa
tando um verdadeiro subsidio implícito. E)e qualquer forma, o subsidio não chegava a compensar inteiramente a taxação implícita nas exportações agrícolas. De outro lado, esta política provocou graves distorções no uso e Less Developed Countries, Washington, distribuição dos recursos, no setor agrícola Brookings Institution, 1967, pp. 70-76. Schuh. (Melo.F. B. Homem de.A Política Econômica e G. E., A Modernização da Agricultura Brasi o Setor Agrícola no Período de Pós-Guerra. leira: Uma Interpretação, in Contador.C. R., "Revista Brasileira de Economia",33(I): 25-63, Tecnologia e Desenvolvimento. Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, janeiro/março de 1979).
Pós-Guerra. "Revista Brasileira de Economia",
como
sultado...
tribuiu para que a agricultura nacio
ção da economia brasileira,em conse
qüência da proteção efetiva à indús-
...teve
Além disto, dificilmente o subsidio é adminis trado de tal forma que os preços relativos se igualem àqueles que se obteriam em uma situação de livre comércio.
295
A agricultura transferiu recur sos para a indús tria
wrt
No período 1973-1978 o setor agropecuário aumentou sua produção a uma taxa anual de
4,8%, correspondendo 2,8%
à lavoura e 7,9% à pecuária. rii
' *.
f
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
torno de 19% da renda da indústria
Capítulo II
ções, durante o segundo período foi
"gerar" divisas, pela promoção das b) A política de substituição de exportações. Mas esta foi feita espe importações promoveu o desenvolvi cialmente pelo incentivo das exporta mento de indústrias com utilização ções não tradicionais. Ou seja, pela relativamente mais intensa de capital promoção de atividades com utiliza
(6). Problemas de
emprego de mãode-obra nõo-qualificada
que de mão-de-obra. Por outro lado, a mão-de-obra exigida pela indústria nascente era de um certo grau de qualificação. Dessa forma, a referida política provocou um aumento da
ção relativamente mais intensa de
capital e mão-de-obra qualificada do que de terra e mão-de-obra não-quali ficada. Portanto, caiu-se novamente
na penalização relativa da agricultura. necessidade de recursos escassos (ca Essa liberalização do comércio pital e mão-de-obra qualificada), e exterior, iniciada após a Revolução
A crise do petróleo
uma diminuição relativa na demanda de 1964, sofreu uma mudança signi de recursos abundantes (terra e mão- ficativa logo após a crise do petróleo
de-obra não-qualificada). Isso produ
Volta
ziu, naturalmente, bolsões de desem
tuição de impor
em 1974. A partir daí a estratégia seguida foi, em certo sentido, uma prego, provocando o aparecimento de volta à política de substituição de populações marginais atraídas pelas importações, incentivando a indústria
Agravamento na distribuição de renda pessoal
grandes cidades, e uma agricultura de subsistência no campo (7). c) Sendo a mão-de-obra qualifica da mais escassa do que a não-qualifi cada, o aumento na procura da pri meira provocou uma diferenciação marcada nos níveis de salário, ou seja, um aumento significativo da desigual dade na distribuição da renda pessoal. A agricultura, penalizada como esta va, não era capaz de garantir um au
de base nacional e estabelecendo limi
dessas medidas, mas é visível que elas contribuíram para manter a penali zação da agricultura. A abertura do comércio exterior
é essencial para que a agricultura tenha condições de adotar técnicas mais modernas de produção, aumen
mento dos salários da mão-de-obra
tar a produtividade dos fatores tradi cionais e se tornar um absorvedor
temente pelo setor (8).
líquido de mão-de-obra, especialmen te da não-qualificada. Assim também, e como conseqüência, aumentariam
da década de 60
Excltisão da agri cultura nofomen to às exportações
os salários e ingressos na agricultura, e se tenderia a uma melhora na
distribuição da renda (9).
Para efeito de nosso trabalho,
(9) A política de modernização do setor
basta-nos fazer uma breve resenha da
agrícola, como meio de resolver os problemas de renda e de emprego, tem sido objeto de
política de comércio exterior e da
política de preços, especialmente para
debates nos meios acadêmicos.
produtos de consumo interno.
dernização, impostos pelo próprio mercado
A primeira poderia caracterizar-se como liberalizante do comércio exte
rior, com exclusão da agricultura. Se durante o primeiro período a estratégia foi "economizar" divisas através da substituição de importa-
Tem-se afirmado que existem limites à mo através de um "mecanismo de auto-controle"
(Paiva, R. M., Modernização e Dualismo
Tecnológico na Agricultura,"Pesquisa e Plane jamento Econômico", 1 (2): 171-234, Rio de Janeiro, dezembro 1971. Paiva, R. M., Moder nização e Dualismo Tecnológico na Agricultu ra: Uma Reformulação. "Pesquisa e Planeja mento Econômico", 5 (1): 117-161, Rio de Janeiro, junho 1975).
(6)Fishlow.A., Foreign TVade Regimes and Economic Development. citado por Pastore A. C., Exportações Agrícolas e Desenvolvi mento Econômico, Fundação Centro de Estu dos do Comércio Exterior, Cadernos N" 2, Rio de Janeiro, 1979, p. 16. (7) Pastore, a. C., op. cit., p. 18.
(8) Pastore, A. C., op. cit., p. 18.
tações
tes ou tarifas elevadas para a importa ção de similares estrangeiros. Não cabe aqui discutir a oportunidade
não-qualificada, empregada abundan
B. A política econômica a partir da segunda metade
à substi
A irracionalidade alocativa e de geração das inovações é apontada como a origem dos limites na modernização, mais do que uma
"fatalidade" inerente ao mercado de produtos agrícolas originados basicamente pela baixa elasticidade-renda desses produtos (Pastore, A. C,; Alves, E. R. A.; Rizzieri, J. A. B., A Inovação Induzida e os Limites à Moderniza ção na Agricultura Brasileira, in Alternativas
297
Necessidade da abertura do co mércio exterior para a agricultura
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
A política de pre ços mínimospara a agricultura...
Titulo II
Quanto aos preços internos, a mercado interno, gerando desvio de política de preços mínimos,então ado recursos deste para o setor produtor tada, tinha como objetivo garantir de exportáveis, agravando os proble estabilidade e renda mínima ao pro mas de abastecimento e preços para o dutor, simultaneamente com preços consumidor.
relativamente baixos para o consumi dor. Na realidade, essa política preju dicou o desenvolvimento do setor
produtor na agricultura, ao fracassar a tentativa de estabilização. Foram
...afetou especial mente
o
setor
produtor de ali mentos
3. Os problemas agrários segundo a
feitos tabelamentos e reajustes como escola estruíuralista reação a situações de curto prazo, e não dentro de um programa de longo O binômio latiA linha de pensamento desta esco prazo (10). Após a crise do petróleo, em 1974, la poderia resumir-se da seguinte for fúndio-minifúnprovoca bai diante da queda dos preços interna ma: a baixa produtividade da mão- dio xa produtividade cionais dos produtos agrícolas, e do de-obra e da terra seria conseqüência na agricultura aumento nos preços internos dos ali da incapacidade da agricultura brasi mentos, produziu-se simultaneamente leira de crescer e diversificar sua um maior controle desses últimos, por estrutura produtiva, em virtude do meio de tabelamentos e importações, sistema de propriedade e uso da terra, bem como de certo favorecimento dos caracterizado pelo binômio latifúnGrandes proprie produtos de exportação, para com dio-minifúndio. Por um lado, os gran pensar a queda dos preços interna des proprietários, diante de uma alta dades inexplo cionais (11). inflação, estariam interessados apenas radas Dentro da penalização sofrida pe na capitalização com a simples posse lo setor agrícola como um todo, o da terra, sem se preocupar em explo setor produtor de alimentos parece ter rá-la adequadamente. Com isso o sido mais afetado do que o setor acesso à terra, por parte dos traba
produtor de bens de exportação. Isto lhadores que desejam explorá-la, fica provocou maior atraso relativo do ria reduzido. Por outro lado,a peque setor produtor de alimentos para o na propriedade (minifúndio) ficaria sem possibilidade de crescer, pela de Desenvolvimento para Grupos de Baixa própria característica de agricultura Renda na Agricultura Brasileira: Teoria e de subsistência, empregando apenas Metodologia. EMBRAPA, CER, ESALQ, lEA,IPE, UFC,UFV,Purdue, 1974, vol. 2, pp. mão-de-obra familiar, de baixa pro 185-240). Posteriormente, a necessidade da abertura
dutividade.
do comércio exterior para a agropecuária foi apontada como condição para que sua"moder nização" redunde em uma absorção líquida de
bar com o binômio latifúndio-mini-
Uma reforma agrária visando aca
mão-de-obra (Pastore, A. C.; Barros, J. R.
fúndio provocaria melhor utilização dos recursos disponíveis (terra e mão-
Mendonça de. Absorção de Mão-de-obra e os Efeitos Distributivos do Progresso Tecnológico
de-obra), aumentando seu emprego, sua produtividade e a produção agrí
na Agricultura, "Revista Brasileira de Econo
mia", 30 (3); 263-293, julho/setembro 1976). Recente estudo levanta objeções sobre a teoria da "modernização", na linha da existên cia de obstáculos de natureza técnica (caracte rística dos recursos naturais), e econômica(ca racterística da demanda interna e externa de
produtos agrícolas) que dificultariam a adoção contínua e generalizada de novas técnicas
(Paiva, R. M., Modernização Agrícola e Pro cesso de Desenvolvimento Econômico: Proble
mas dos Países em Desenvolvimento, in En
A reforma agrária apontada como solução:
Em essência, três são os funda
mentos com base nos quais esta escola
de pensamento procura justificar o que acima se enuncia: a) A existência de uma grande variedade de tamanhos de exploração na agricultura provaria que não existe um tamanho único e ótimo de produ
ção. Portanto, não se poderia afir mar que uma reforma agrária, ao
(10) Barros, J. R. Mendonça de. Política e
alterar a distribuição dos tamanhos
das propriedades agrícolas, prejudica saios sobre Política Agrícola Brasileira, pp. 9- ria a produtividade dos recursos. 35, São Paulo, Secretaria da Agricultura, 1979. Pelo contrário, evidências empíri (11) Idcm, ibidem. cas mostrariam que quanto maior é o 298
sistência
cola total.
saios sobre a Política Agrícola Brasileira, São Paulo, Secretaria da Agricultura, 1979). Desenvolvimento Agrícola no Brasil, in En
Pequenas pro priedades com agricultura de sub
a) as proprieda des pequenas ex plorariam melhor a terra
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
Capitulo II
tamanho da propriedade, maior é a gundo aspecto está relacionado com a ociosidade da terra. Isso faria com
existência de um excedente de mão-
que as maiores propriedades fossem de-obra, pressuposto nas teorias so bre desemprego "disfarçado" (13). A reforma agrária seria a solução para constituir sistemas familiares de pro
...e reduziria oex cedente de mãode-obra
as menos efícientes. Logo, uma redu ção no tamanho médio seria conve niente para aumentar a produtivida
dução, nos quais a mão-de-obra, re b) O binômio latifúndio-minifún- munerada de acordo com sua produ dio não seria influenciável pelo mer tividade média, faz com que, através cado; ou seja, as variações nos preços de um aumento no emprego, a pro de da terra e da mão-de-obra.
b) os latifúndios não reagiriam aos incentivos do mercado
relativos de produtos e fatores não dutividade marginal se aproxime de teriam reflexo proporcional na pro zero (14). dução. Os latifúndios não reagiriam, pois não estariam interessados em maximizar os lucros, e os minifún
dios produziriam apenas para a sua
c) a estrutura fa miliar de produ ção seria a única eficiente
A Reforma Agrá dições para o de senvolvimento...
entre as
escolas neoclássica e estruturalista
Simpliflcadamente, podemos di Dois diagnósti zer que a escola neoclássica sustenta cos divergentes: termos, o preço social ou alternativo que os problemas sócio-econômicos a)distorções pro vocadaspelapolí da mão-de-obra seria próximo de da agricultura provêm das distorções tica econômica zero, discrepando do preço privado. no sistema de mercado, provocadas b) distorções Uma estrutura agrária que remune basicamente por uma política econô provocadas pela oferta de mão-de-obra. Em outros
rasse a mão-de-obra conforme a sua
ria criaria as con
4. Análise comparativa
subsistência, por falta de terras. Des se modo, mesmo que ocorressem for tes alterações nos preços, não haveria uma mudança significativa no uso dos recursos e na produção agrícola. c) Na agricultura estaria caracte rizada uma situação de "excesso" de
mica errada; a escola estruturalista,
produtividade média, permitindo um por sua vez,sustenta que esses proble nível de emprego tal que a mas têm sua origem na própria estru produtividade marginal chegasse a ser tura econômica, por exemplo na dis próxima de zero, seria ótima do tribuição da propriedade da terra, o ponto de vista social. A estrutura que impediria o adequado funciona agrária correspondente seria baseada mento do mercado. na propriedade familiar; ou,em geral, É claro que as duas correntes em um sistema familiar de produção. propõem soluções diferentes. A estru Esta escola de pensamento não turalista afirma que a reforma agrária nega necessariamente a importância é a condição prévia para o desenvolvi de uma adequada política econômica mento econômico contínuo e equili para a agricultura. O que ela afirma é brado, e para a melhora da situação que qualquer política econômica seria social, especialmente dos que vivem ineficaz, caso não se fizesse previa no campo. Já a escola neoclássica mente uma reforma de estruturas que sustenta que a reforma agrária não é eliminasse os obstáculos que o atual necessária, bastando apenas corrigir a sistema impõe. orientação da política econômica. Em outros termos, pode-se dizer que esta escola de pensamento baseia Latin América, in A. O. Hirschman [ed.], seu diagnóstico fundamentalmente em in Latin American Issues, Nova York, 1961, dois aspectos, amplamente discutidos citado por Kindleberger, C. P., Economic Denas teorias sobre o crescimento eco
velopment, Nova York, McGraw-Hlll, 1965, p.
nômico. O primeiro aspecto se refere às pré-condiçôes para o desenvolvi
221.
mento. A reforma agrária seria o
(13) Lewis, a., Economic Development With Unlimited Supplies ofLabor, Manchester School, 1954, pp. 131-191.
meio para eliminar os obstáculos que impedem que se dêem as condições (14)Georgescu-Roecen, N., Economic Thepara o desenvolvimento (12). O se- ory and Agrarian Economics, in Analytical Economic Issues and Problems, Harvard Uni-
versity (12)Carroll, T. F., The Land Reform Issue
Press, Cambridge, Massachussetts,
1966, pp. 359-397.
299
estrutura econô mica
Duas soluções di vergentes:
a) mudança na política econô mica
b) Reforma Agrária
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo II
tura, como terra, clima, distância dos
A. Analogias
centros de consumo, capacidade em
Necessidade de aumentar a pro
dutividade e a efi ciência na agri cultura
Desigual distri buição da renda e problemas de em prego
Em linhas gerais, o pensamento das duas escolas coincide no seguinte: a) A agricultura deve contribuir para o bem-estar geral, não apenas aumentando a produção, mas ao mes
presarial, relações contratuais entre capital e mão-de-obra etc. A existên cia de grande variedade de tamanhos de propriedade não significa que, para um determinado conjunto desses
mo tempo aumentando a produtivi fatores, não exista um tamanho único dade média, especialmente da mão- ótimo de produção (16). Quanto à afirmação de que os de-obra empregada no setor. Com isso a agricultura atingiria dois objetivos: agricultores não reagem aos preços, fornecer uma quantidade de alimentos Delfim Netto (17)e A. C. Pastore(18) cada vez maior para toda a população, demonstram o contrário. A reação criando condições favoráveis para um dos agricultores brasileiros aos preços aumento da renda real dos que vivem é equivalente à das economias mais fora do campo, e simultaneamente au avançadas. Os neoclássicos consideram que o mentar o emprego e a renda per capita
dos que trabalham na agricultura. excesso de oferta de mão-de-obra b) No caso específico do Brasil, o suposto pela escola estruturalista na País enfrenta, do ponto de vista
realidade não ocorre, ou, quando
social, dois problemas fundamentais: uma desigual distribuição da renda, com bolsões de pobreza em alguns setores (15); e problemas de emprego, especialmente nos setores mais mo
muito, verifica-se em uma extensão
sem maior significado para explicar os problemas da agricultura (19). O subdesenvolvimento e a pobre za existentes em algumas regiões ou destos da população. setores da agricultura não são prove c) Ao cumprir os objetivos mencio nientes de um problema estrutural, nados na letra "a", a agricultura tem mas resultam de políticas econômicas um papel fundamental na resolução que dificultam o seu desenvolvimento dos problemas apontados na letra e sua capacidade para aumentar o nível de emprego (20).
B. Discrepâncias Numerosos
As propriedades grande, média e pequena devem coexistir?
(16) Bray, J. o., Intensidad de Uso de Ia Tierra en Relación al Tamano dei Prédio en el
Valle Central de Chile, in Revista "Finis
estudos, elaborados Terrae", Santiago, N° 24, 1959.
segundo a escola neoclássica, negam o (17) Delfim Netto, A. etalii. Agricultura e valor das evidências empíricas nas Desenvolvimento Econômico no Brasil, Estu quais os estruturalistas baseiam seus dos ANPES N° 5, São Paulo, ANPES, 1965. diagnósticos. (18) Pastore, A. C, A Resposta da Pro A escola neoclássica justifica a dução Agrícola aos I^eços no Brasil, São existência de grande variedade de Paulo, APEC, 1973. (19) ScHULTZ, T. W., TYansforming TYatamanhos de propriedade, pela hete-
Agriculture, New Haven and London, rogeneidade dos recursos na agricul- ditional Yale University Press, 1964; Haderler, G., Criticai Observations on Some Current No-
tions in the Theory of Economic Development, pormenorcs o problema da distribuição de "L'Industria", N.° 2, pp. 3-5, 1957, in Meier, (15) Não é nosso objetivo estudar em seus
renda no Brasil. Devemos observar apenas que,
em gerai, os estudos sobre a matéria concor dam em que o aumento da desigualdade na distribuição de renda foi maior no setor não-
agrícola do que na agricultura. Entretanto, conhecidos economistas sustentam que o au
mento da desigualdade na distribuição da renda é natural na primeira fase do desenvol vimento, tendendo a diminuir à medida que o
País atinge maiores níveis de renda. No caso
específico do Brasil, pode-se provar que, ao lado desse aumento, houve importante dimi
nuição da pobreza (Fields, S., Who Benefits
G. M., Leading Issues in Development Eco-
nomics, New York, Oxford University Press, 1964; ViNER, J., Some Reflections on the Concept of "Disguised Unemployment", in Meier, op. cit. (20) Alguns economistas reconhecidamente pertencentes à escola neoclássica defendem
uma reforma agrária "parcial", para resolver
situações extremas de pobreza rural em regiões claramente delimitadas (ver, por exemplo, Pai va, R. M., O Problema da Pobreza na Agri cultura, XV Reunião Anual da Soe. Bras. de Economia Rural, Universidade Federal de Vi
from Economic Development:an Examination of Brazilian Growth in 60's, "American Eco
çosa, SOBER, vol. I, Viçosa (MG), julho
nomic Review", 67 (4): 570, setembro 1977).
Na lógica dessa escola, uma reforma agrária
300
1977, pp. 1-23).
A estrutura agrá ria atual é sensí vel ao mercado
O custo alterna tivo da mão-de-
obra é igual a zero?
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
Há portanto discrepâncias entre as duas escolas de pensamento, no que se refere tanto às causas pelas quais,a agricultura não vem cumprin do inteiramente seus objetivos, quan to à solução para que eles sejam atin gidos. Ambas, entretanto, reconhecem
Capítulo II
parte da doutrina marxista que se ocupa dos fenômenos históricos e sociais, o materialismo histórico. Daí
então a necessidade de se apresentar os princípios fundamentais dessa dou trina, para que fique clara a visuali zação que a partir dela se tem dos problemas econômicos.
que a agricultura, apesar de tudo,
registrou um aumento no produto per capita e forneceu matérias-primas A. Aspectos essenciais da abundantes, além de uma grande doutrina social marxista parcela das divisas do País.
Segundo Marx, a causa principal,
Materialismo
determinante do desenvolvimento so
5. Os problemas agrários segundo a
cial, é a produção de bens materiais. No processo de produção interferem dois fatores: 1) — as forças produti
escola neomarxista
meios de trabalho ou de produção:
vas (o homem com seu trabalho, e os
instrumentos, ferramentas, máquinas, o pensamento econômico neo
matérias-primas, a terra, os trans
marxista não constitui, propriamente, portes etc.); 2) — as relações de um corpo de doutrinas e de princípios produção (posição do indivíduo em que, embora decorrentes da filosofia face da propriedade dos meios de marxista, possam ser dela desvincula trabalho ou de produção). dos. "Para Marx, a economia política O modo de produção é o resultado não tem nenhum direito ao titulo de da conjugação desses dois fatores, e ciência autônoma, independente, que constitui a base econômica da socie incide sobre pretensosfatos econômi
cos. Que é ela, então? É uma ciência histórica, para descobrir as leis histó ricas (isto é, as leis do devenir), e que se ocupa de uma formação econômico-social determinada, o capitalis
dade, a que os marxistas denominam infra-estrutura. As doutrinas, as insti tuições políticas, jurídicas, culturais, religiosas etc. são determinadas — sempre de acordo com a teoria mar xista — pela infra-estrutura, e rece
bem o nome de superestrutura. Essa, em resumo, a teoria sobre o papel A economia, para os marxistas, decisivo do modo de produção no está, pois, intimamente vinculada à desenvolvimento da sociedade, tese mo, em sua estrutura e em seu deve
nir" (21).
fundamental no materialismo histó se justifícaría quando se dessem os pressu postos estruturalístas. Assim,se em uma região
propriedades mal exploradas por displicência dos proprietários coexistissem com grande número de pequenos produtores e trabalha dores rurais incapazes de progredir por insu
ficiência de recursos naturais e pela falta absoluta de alternativas, então seria indicada a
redistribuição das terras inexploradas poten cialmente produtivas. Ora, parece evidente que no Brasil não se pode falar de falta de alternativas. A abun
rico, que é a aplicação à sociedade do materialismo dialético, constituindo ambos a filosofia marxista.
A sociedade capitalista, de acordo com Marx, está polarizada em duas
classes opostas e em luta: a burguesia e o proletariado. A burguesia é a classe detentora dos meios de produ ção; o proletariado é a classe dos que
não têm nem bens nem rendas, viven dância de terras "devolutas" permitiria, por do unicamente da venda de seu traba meio de planos de colonização adequados, resolver os casos localizados, sem necessidade
de recorrer a medidas de expropriação,e com a vantagem de concorrer desse modo para apres sar a efetiva ocupação de todo o território brasileiro.
(21) Lefèbvre H., Le Marxisme, Presses Universitaires de France, Coleção "Que saisjer, 1969.
lho. O proletariado não é apenas pobre, mas empobrecido: ele é pobre não por culpa própria ou de circuns tâncias adversas, mas em virtude de
um sistema que produz a pobreza. Ou seja, o sistema econômico-social ba
seado na propriedade privada. Não podendo trabalhar para si. 301
Para os marxis tas, a sobrevivên
cia do regime da
propriedade pri vada é causa da ruína econômica...
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
...e o lucro não é senão trabalho
expropriado
Titulo II
por não dispor dos meios de pro B. A visualização econômica dução, o proletário é obrigado a vender o seu trabalho. De acordo com
neomarxisía
a teoria marxista da "mais valia'\ o
dos problemas agrários
proprietário dos meios de produção — o burguês — expropria uma parte da riqueza produzida pelo operário,
a escola neomarxista fundamenta sua
dando-lhe em troca de seu trabalho
apenas o salário que lhe permite alimentar-se e reproduzir-se, para as segurar a substituição da mão-deobra que se vai desgastando. Isto se passa, segundo Marx, da seguinte forma: com seu trabalho, o proletário cria para o dono dos meios de produ ção uma quantidade de valores maior do que o que ele recebe pela venda de sua força de trabalho. A diferença entre o "valor" de troca da mercado
Conseqüente com esses princípios,
Luta de classes
visualização das relações econômicas e sociais, existentes na agricultura,em uma constante luta entre os diversos
fatores que intervém no processo produtivo. O trabalho é o único fator de
o capital "expro
produção legitimo, e portanto o pro
pria" o trabalha
letário é o verdadeiro dono de todo o
dor
assalariado
produto gerado no processo produ
tivo. Com o aparecimento do capital como fator de produção diferente do trabalho, surgiu um conflito porque o
ria produzida (descontados os custos trabalhador passou a ser "expropria da produção)e o salário recebido pelo do"; pois no sistema capitalista a operário, constitui a mais valia^ fonte burguesia apropriou-se dos meios de
do lucro do capitalista, o qual, dessa forma, expropria parte da riqueza produzida pelo trabalhador. Marx: "O traba Marx afirma que o trabalho operá lho operário pro rio "produz a riqueza alheia e a duz a riqueza aIheia e a própria própria miséria". "Dia a dia se torna mais claro que as mesmas relações nas miséria" quais se produz a riqueza produzem também a miséria. Estas relações não
produzem a riqueza burguesa, a não ser produzindo um proletariado sem
produção, restando ao proletariado como única alternativa a venda de sua
força de trabalho (23). O marxismo vê na pequena pro
priedade familiar e na existência do pequeno produtor agrícola não-proprietário (parceiro, posseiro, arrenda tário) sistemas pré-capitalistas de pro dução, onde o capital não aparece como fator de produção inteiramente diferenciado do trabalho, pois o la vrador possui grande parte dos meios de produção, inclusive a terra (24). Esses pequenos produtores são
pre crescente". A causa da miséria e da alienação existentes no mundo é, portanto, a propriedade privada, e a libertação só também submetidos a um verdadeiro pode vir de sua eliminação. "Realizar "mecanismo de expropriação", por essa façanha libertadora do mundo é que a renda do capital (terra e instru vocação histórica do proletariado mentos de trabalho) não constitui
moderno", segundo Engels. Ao liber para eles um verdadeiro custo de tar-se, o proletário liberta ao mesmo produção. Aproveitando-se dessa cir tempo toda a humanidade, inclusive cunstância, o capitalismo comprime seus opressores, pois faz cessar a os preços dos produtos agrícolas,sem
causa mesma da opressão — a pro priedade privada. De nada servem os intentos diri
gidos para motivos pessoais de con duta. E preciso mudar as relações de produção que determinam as demais relações. Para libertar-se, o proletário tem que destruir a propriedade pri vada, pois é nela que reside a fonte determinante de sua situação de alie
nação total e de completo despojamento (22). (22) Lefèbvre, H., op. cit.; Kuusinen, O. V. ET ALii, Fundamentos de Marxismo-Leninismo
302
— Manual, tradución dei ruso. Editorial Progreso, Moscú, 1964; Afanassiev, V. G., Filo
sofia Marxista — Compêndio Popular, tradu ção do russo por Mário Alves e Almir Matos, Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1963; Wetter SJ, G. A. — Leonhard, W., La Ideologia Soviética, Editorial Herder, Barcelona, 1964, 678 pp.; Yurre, G. R., El Marxismo — Exposición y Critica, Biblioteca de Autores Cris-
tíanos, Madrid, 1976, 2 vols., 1078 pp. (23) Silva, J. F. Grazianodaetalii, Estru tura Agrária e Produção de Subsistência na Agricultura Brasileira, São Paulo, Editora
Hucitec, 1978, p. 1. (24) Idem, p. 3.
Os pequenos pro dutores são tam bém vitimas da
"expropriação" capitalista
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
Capítulo II
provocar uma diminuição signifíca-
Para eliminar a pobreza na agri
tiva na sua oferta. Isso torna viáveis
cultura, a escola neomarxista consi
salários mais baixos para os empre dera necessário suprimir o sistema gados do setor capitalista da econo capitalista de organização econômica mia (indústria e setor agrícola **mo- e social, pela abolição da propriedade derno"), aumentando a margem de privada dos meios de produção, me diante uma Reforma Agrária ampla e lucro, Esse mecanismo permite ao capi radical. A terra deve ser explorada tal exercer a "expropriação" do tra por meio de um sistema coletivo de balho, e formar o "exército industrial
trabalho, que deixe ao lavrador ape
de reserva". Permite ainda que o nas uma pequena área para o consu salário dos empregados no setor capi mo próprio. Nesse sistema a coletividade (o talista baixe até o nível de subsis tência. Isto se d.aria necessariamente; Estado socialista) é o depositário do pois, na suposição de que o produtor "excedente", que ela distribui de acor tivesse um ingresso inferior ao do do com determinadas metas e prio trabalho, ao invés de produzir por si
ridades,evitando o enriquecimento de uns poucos e o empobrecimento da
mesmo.
maioria.
assalariado, ele ofertaria sua força de
O migrante, inte
priação" do pequeno produtor agrí
cito industrial de
cola, e correlato com ele, o setor
propriado" do trabalhador. mento econômi
co
capitalista...
Portanto, o marxismo considera
pelo capital
dades
Para o neomar-
xismo, a Refor ma Agrária é um fim em si
e a estruturalista
Como vimos acima, para os neomarxistas o crescimento econômico
capitalista "exige" a existência de um mico capitalista a "exploração" do setor atrasado,fornecedor de mão-detrabalho pelo capital, e apresenta a obra, para que o processo de acumu pobreza do pequeno na agricultura lação de capital não se deteriore.
inerente ao desenvolvimento econô
como condido necessária para um ...exige a explora ção do trabalho
com as desigual
C. A visualização neomarxista
"moderno" da agricultura expulsa a analisada mão-de-obra permanente, e ambos os pelas outras escolas fenômenos criam o processo migrató rio, que garante a oferta de trabalho Não corresponde ao objetivo deste para o setor capitalista (agrícola e trabalho fazer uma análise compa não-agrícola) a um nível de salário de rativa exaustiva entre as diversas es subsistência. colas de pensamento. Basta assinalar Esse mecanismo de "expropria- alguns aspectos essenciais. ção" é a mola propulsora do desen volvimento econômico capitalista, ba a) A escola neomarxista seado na acumulação da "mais valia" ou lucro, verdadeiro excedente "ex-
O desenvolvi
...para acabar
Junto com o processo de "expro-
grante do "exér reserva"
As reformas de estruturas são ne cessárias...
Para a escola estruturalista, este
fato não representa uma exigência do caso de ocorrer uma melhora na crescimento econômico capitalista in renda do trabalho, a "mais valia" genere, mas é característico da pridiminuiria, deteriorando-se o proces so de acumulação e estancando o fossem diminuindo. Isso levaria os salários crescimento econômico (25). necessariamente a um nível de subsistência, crescimento econômico contínuo. No
pela tentativa dos capitalistas de impedir a (25) De acordo com Marx, o capitalismo estaria destinado ao colapso, devido a uma contradição interna que levaria necessaria mente à pauperização do proletariado, isto conduziria a uma revolução vitoriosa e à implantação do regime socialista. Segundo esta visualização, o crescimento econômico se daria na linha de um sistema
ricardiano. (^er dizer, devido aos retornos marginais decrescentes do capital a longo
prazo, o processo de acumulado de capital, provocado pelo reinvestimento dos excedentes, iria se deteriorando à medida que os lucros
diminuição de seus lucros. O resultado fínal seria a estagnação do crescimento econômico e a miséria do proletariado (cfr. Sunkel, O.; Paz, P., a Teoria do Desenvolvimento Econô
mico, São Paulo, DIFEL, 1976, pp. 103 e 109).
A evidência histórica provou que este co lapso do capitalismo não se deu. Mas a escola
neomarxista manteve a tese de que seria inerente ao processo de desenvolvimento eco nômico capitalista a existência de um setor
econômico pré-capitalista atrasado e pobre, que garantisse a manutenção dos salários a um nivel de subsistência (Silva, J. F. Graziano da ETALII, op. cit., pp. 12-13).
303
Para o estrutura-
lismo, a Reforma Agrária é uma pré-condição
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo II
meira fase do crescimento, quando a capital físico. São elementos essen sociedade se transforma de eminente
ciais ao crescimento econômico a
mente agrícola em industrial,situação substituição dos fatores de produção que os estruturalistas afirmam corres e a mudança tecnológica (27). Estu ponder à da maioria dos países em via dos feitos para o Brasil e para outros de desenvolvimento. países mostram que têm papel pre ponderante no crescimento econômi
b) A escola neomarxista e a neoclássica O enriquecimen to de poucos às custas da maioria não é uma condi
A escola neoclássica nega a neces sidade de um aumento na concen
tração de renda para que o cresci
ção necessária
mento econômico capitalista se pro
para o crescimen
duza de forma contínua e a taxas
to econômico ca
elevadas. Segundo esta escola, ne
pitalista
nhum fundamento lógico ou evidên cia empírica justifíca tais pressupos tos. O relevante é considerar o im
co a eficiência da distribuição dos recursos, a "qualidade" do capital e o "capital humano" (28). Desta visualização provêm as me
didas de política econômica que a escola neoclássica propõe para a solu ção dos problemas da agricultura. Por exemplo, a eliminação das tari fas de proteção negativas, investi mentos em pesquisa tecnológica, as sistência técnica e extensão rural etc.
Nada leva a pensar, segundo a
pacto do processo de crescimento escola neoclássica, que o crescimento econômico na distribuição da renda, econômico capitalista se encontre em mais do que a relação inversa, isto é,a um beco-sem-saída no dilema cresci-
ção de capitalfí sico não explica o
concentração da renda como exigên mento-distribuição de renda. cia do crescimento econômico (26). Ao contrário do que afirma a (27) SoLOw, R., A Contribution to the escola neomarxista, para a escola Iheory of Economic Growth, "The Quarterly
crescimento eco nômico
neoclássica o crescimento econômico
Joumal of Economics", LXX (1): 65-94, feve
não se reduz a mera acumulação de
reiro 1956.
A mera acumula
(28) ScHULTZ, T. W., Investment in Human
Capital,' "American Economic Review", LI, (26) Lanooni, C. G., a Política Econô mica do Desenvolvimento, Rio de Janeiro, FGV/APEC, 1978, pp. 23-24.
304
março 1967. Langoni, C. G., As Causas do
Crescimento Econômico do Brasil, Rio de Janeiro, APEC, 1974.
Capítulo III
Causas dos problemas econômico-sociais da agricultura nacional, segundo o documento "Igreja e problemas da terra"
Como vimos no Capítulo I, o documento carece de objetividade quando avalia a situação do homem do campo. Independentemente disso, analisaremos neste capítulo as dife rentes razões apresentadas pelo IPT como causas da situação nele descrita.
to econômico nossa análise da distri
buição da propriedade da terra, não nos deteremos em considerações de ordem moral — inclusive no tocante à.
justiça — eventualmente relacionadas com o assunto.
Chamamos a atenção do leitor
Um exemplo de
mau uso de cifras Para efeito de clareza e método, para a circunstância de esses dados se globais agruparemos estas causas em duas referirem ao País como um todo.
categorias: estruturais e econômicas. Entretanto, existe uma grande diver sidade de concentração de proprie dade da terra entre os Estados e as
L
Causas estruturais
A. A concentração da
propriedade da terra
regiões; diversidade essa que deveria ter sido tomada em consideração pelo IPT, para melhor avaliação do signi ficado da distribuição da propriedade da terra no País.
Para pessoas desprevenidas, e O IPT afirma que a propriedade alheias aos temas econômicos, os da terra está concentrada nas mãos de números apresentados pelo IPT pare uns poucos, e justifica essa afirmação ceriam indicar uma situação de extre Dados estatísti cos mostrariam
concentração da terra nas mãos de poucos
Cifras que pare ceriam
indicar
extrema anorma
lidade
com os seguintes dados estatísticos: ma anormalidade: mais de 50% dos "O Censo Agropecuário de 1975 estabelecimentos ocupam menos de
revelou que 52,3% dos estabeleci
3% da terra, e menos de 1% dos
mentos rurais do país têm menos de estabelecimentos ocupam quase 50% 10 ha. e ocupam tão-somente a es
da terra.
cassa área de 2,8% de toda a terra
possuída. Em contrapartida,0,8% dos a) Concentração versus difusão estabelecimentos têm mais de 1.000 da propriedade: hectares e ocupam 42,6% da área um ponto de vista histórico total. Mais da metade dos estabele Para se compreender o significado cimentos agropecuários ocupa menos de 3% da terra e menos de 1% dos desses números é necessário ter pre estabelecimentos ocupa quase me
sentes duas características da agricul
tade" (n.° 8). Limitando estritamente ao aspec
tura brasileira. Em primeiro lugar, historicamente, a
colonização do 305
O Brasilfoi colo
nizado a partir de grandes proprie dades
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo II
imenso território brasileiro foi feita
quase exclusivamente com base em
Nessa situação, 50% dos estabele
cimentos de menor área ocupam
grandes propriedades, a partir das 28,6% da terra. quais se foram constituindo as pro Imaginemos que os quatro gran priedades médias e as pequenas (1). des proprietários, querendo promo Em segundo lugar, como verificamos ver os seus próprios trabalhadores no Capítulo I, existe no Brasil uma sem terras, decidam distribuir 50% da
significativa difusão da propriedade da terra, especialmente de pequenas e médias propriedades. Ambos os fatos tendem a provocar uma distribuição
área ocupada por suas propriedades, e o façam da seguinte forma: 50 trabalhadores recebem 5 ha. cada um;
20 recebem 50 ha.; 20 recebem 75 ha.;
da terra como a atualmente existente. e outros 3 recebem 250 ha. A nova Um exemplo arit mético ilustra como...
Um mero exemplo aritmético ilustra situação aparece no quadro 11. nosso pensamento. Suponhamos, por O que terá então acontecido com a exemplo,quatro estabelecimentos que distribuição da propriedade da terra? ocupam 7 mil ha., distribuídos se 52% dos proprietários de menor área
... a difusão da propriedade pode
gundo o quadro 10.
parente maior
ocupam agora apenas 3,6% da terra, e
só 4% dos proprietários de maior área (1) Mayer, Dom Antonio de Castro; Si-
GAUD, Dom GERALDO DE PrOENÇA;CoRREA DE Oliveira, Plínio; Freitas, Luiz Mendonça de. Reforma Agrária — Questão de Consciência, São Paulo, Editora Vera Cruz, 1960.
ocupam 50% da terra. Embora tenha havido difusão efetiva da proprie dade, os porcentuais indicam maior concentração. Assim, verifica-se que a difusão da propriedade da terra a
QUADRO 10.
Quantidade
Tamanho
Número
% Simples Área
Número
Área
Menos de 10 ha.
0
0
0
10 a 50 ha.
0
0
0
0
50 a 100 ha.
0
0
0
0
0
100 a 500 ha.
0
0
0
0
500 a 1.000 ha.
2
2.000
50
Mais de 1.000 ha.
2
5.000
50
28,57 71,43
Total
4
7.000
100
100
QUADRO 11. —
Quantidade
Tamanho
Número
Área
% Simples Número
Menos de 10 ha.
50
250
10 a 50 ha.
20
1.000
51,5 20,6
50 a 100 ha.
Área 3,57 14,28
20
1.500
20,6
100 a 500 ha.
3
750
3,1
21,43 10,71
500 a 1.000 ha.
2
1.000
Mais de 1.000 ha.
2
2.500
2.1 2,1
35,73
97
7.000
100
100
Total
306
14,28
implicar uma acorKentração dela
Capitulo III
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
partir da situação em que predo minam as grandes propriedades(atra
dos sobre a ocupação da terra em um
grupo de países e continentes. O
vés de herança,colonização etc.) pode porcentual da terra ocupada por 50%
conduzir a índices que revelam au mento de concentração.
dos estabelecimentos de menor área é colocado em ordem decrescente. Os
outros dados são: o porcentual da terra ocupada por 5% dos estabele b) A concentração da propriedade, cimentos maiores, e a superfície mé o sistema econômico vigente dia dos estabelecimentos agrários, em
e o bem-estar da Nação
hectares.
Podemos classificar esses países
A liberdade em matéria econômi ca leva a uma de
sigual distribui ção da proprie dade
da
terra
Sob outro ponto de vista, pode-se em três grupos: no primeiro, 50% dos afirmar que,em uma economia basea estabelecimentos de menor área pos da na propriedade privada e na livre
suem entre 21,8% e 19,6% da terra; no iniciativa, a distribuição dos meios de segundo, entre 13,9% e 5,1% e no produção tende necessariamente a ser
terceiro grupo a participação varia desigual. O grau dessa desigualdade entre 3,9% e 0,5% depende da situação concreta em que se O primeiro grupo está formado desenvolve o processo de produção. Dependerá das características dos re por países que sofreram umaReforma Agrária intensa, nos quais o tamanho cursos naturais, da distância dos cen
tros de consumo, da política econô mica agrária, das características cul turais da população, das caracterís ticas dos mercados etc. (2).
No quadro
12 aparecem da
(2) É claro que podem surgir situações que favoreçam abusos por parte de alguns poucos,
de forma a apropriarem-se abusivamente da terra. Mas é difícil imaginar que este fato se dã no âmbito de uma nação inteira.
QUADRO 12. — Áreas ocupadas, em relação ao total (de área), pelos estabelecimentos de menor e maior área, correspondentes respectivamente a 50% e 5% do total de estabelecimentos.
País
50% menores
5% maiores
Área média (ha.) 4,0 4,2
Filipinas (1960)
21,8
31,2
índia (1960)
20,6
24,5
RAU (♦) (1961)
19,6
38,8
Canadá (1961)
13,9 8,5
30,5 50,1 52,8 56,8
21,1 125,2 231,4
45,8 53,5
43,3 963,1
67,0
30,2
Áustria (1960) Estados Unidos (1969) Nova Zelândia (1960) Reino Unido (1960)
8,0 6,9
África do Sul (1960)
5,1 3,9
Colômbia (1960) BRASIL (1960) América do Sul (1960) Venezuela (1961) Austrália (1960) México (1960)
África (1960)
6,5
3,4 2,9 1,6 1,2 0,7 0,5
67,1 69,5 86,8
3,2 146,4
78,0
85,3
71,1 87,2 1.858,3
86,8 87,2
134,4
176,9
Fonte: Hoffman & Graziano da Silva, op. cit., pp. 15-16 (tabulação própria).
(*) República Árabe Unida (Egito e Síria) 307
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
O BrasH tem lona
das menores con
centrações de propriedade da América
Latina
Titulo 11
médio é de 4 ha. O segundo está Os estruturalistas alegam a exis formado pelos chamados países de tência de um excedente de mão-desenvolvidos, e o terceiro pelos países obra que faria os salários, do ponto considerados em vias de desenvol de vista da economia como um todo, vimento. serem próximos de zero. Logo, do O Brasil é um dos países que ponto de vista "social", uma estrutura apresenta a mais alta porcentagem de familiar de produção seria mais efi participação, dentro do terceiro gru ciente. A desigualdade apresentada na po, e significativamente maior do que distribuição da propriedade da terra a média da América Latina.
seria um fator que contribuiria para
Em todos os países do segundo e produzir desemprego e pobreza no do terceiro grupos, com exceção da campo. Inglaterra e do Canadá, 5% dos esta Como já vimos no capítulo sobre
belecimentos (de maior área) ocupam as diferentes escolas de pensamento, mais de 50% da superfície agrícola. muitos autores negam a existência de Por outro lado, em todos eles 50% um excedente de mão-de-obra signifi dos estabelecimentos (de menor área) cativo. ocupam menos de 9% da área agrí Ainda mais, dada a situação con cola. creta da agricultura no Brasil, os Donde se conclui que a relativa problemas de renda e emprego expli concentração da propriedade da ter cam-se, em grande medida, por uma ra, que estas cifras revelam, confirma política econômica que favoreceu ati que ela é fruto natural de uma ordem vidades com uso intensivo de capital e econômica baseada na propriedade penalizou aquelas que empregam privada e na livre iniciativa. abundante mão-de-obra não-qualifiNão se pode afirmar, portanto, cada, como a agricultura (ver Cap. II, que os dados relativos à distribuição 2).
da propriedade da terra no Brasil revelem uma situação anômala e ex
cepcional. Em outros termos, dita distribui
ção não pode ser apontada como uma das causas dos problemas econômicosociais da agricultura. Nada indica que ela não é condizente com as
Logo, os problemas de renda e
emprego na agricultura independem da distribuição da propriedade da terra. Eles provêm do fato de que ela, em amplos setores, não teve condi ções de se "modernizar", aumentan
do a produtividade e emprego de mão-de-obra.
características dos recursos e do mer
cado em geral. Pode-se, portanto, afirmar que, do ponto de vista priva B. As grandes propriedades do, a atual distribuição da proprieda não explorariam de da terra é conveniente para o adequadamente suas terras melhor uso dos recursos na agricul tura. O IPT considera "de impressio É verdade que algumas medidas nante atualidade para a situação bra concretas de política econômica — sileira" os seguintes textos, seleciona por exemplo, a política de créditos dos da Constituição Pastoral Gausubsidiados e a política de incentivos dium et Spes: fiscais — podem ter contribuído para "Em muitas regiões economica
concentrar a propriedade da terra. É
mente menos desenvolvidas existem
difícil quantificar o impacto de tais extensíssimas propriedades rurais, medidas nessa concentração; mas, de mediocremente cultivadas ou reserva qualquer modo, elas são causas even das para fins de especulação, en tuais de natureza política, mas de ne quanto a maior parte da população nhum modo de natureza estrutural. carece de terras ou possui só parcelas Sendo estes comentários verda
deiros do ponto de vista privado, poder-se-ia argumentar, como o fa zem os estruturalistas, que a atual distribuição da propriedade da terra é inconveniente do ponto de vista social. 308
irrisórias.... Portanto,são necessárias reformas nos vários casos:....,distri
buir as propriedades insuficientemen te cultivadas por aqueles que as pos sam tornar rendosas"(n? 76). E aplica ao Brasil as seguintes
o problema do emprego no Bra
sil não provém da estrutura agrária
Capítulo III
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
Feitas estas ressalvas básicas, pas palavras de João Paulo II aos agri cultores de Oaxaca (México): "De saremos a explicar porque o valor de
vossa parte, responsáveis pelos povos, classes poderosas que mantendes, por vezes, improdutivas as terras dite escondem o pão que falta a tantas famílias .... ; Não é justo, não é
produção por hectare é maior nas pequenas propriedades do que nas grandes, e como daí não se pode inferir que as primeiras usem necessa riamente melhor suas terras.
humano, não é cristão continuar com
certas situações claramente injustas" a) Composição da produção por (n.°78). tamanho de estabelecimentos Na base dessas afirmações do IPT É sabido que as pequenas proprie estaria a constatação de que o valor
da produção por hectare na pequena dades se especializam na lavoura. No propriedade é muito maior do que na quadro 14, aparecem as porcentagens grande e na média. Embora não de uso da terra de acordo com vários tenham sido incluídos no texto, servi
ram de base para os estudos em Itaici
estratos de tamanho.
Os estabelecimentos inferiores a
os dados estatísticos do quadro 13, 20 ha. dedicam 60% da área à lavou
provenientes do Censo Agropecuário
ra. Nos estabelecimentos inferiores a
de 1970.
50 ha., 44% da área estão dedicados à
Já nos referimos à intensidade de lavoura, especialmente à temporária. exploração da terra quando tratamos Nos estabelecimentos de tamanho das diferentes escolas de pensamento médio (50 a 1.000 ha.), a área dedica econômico (ver Cap. II, 4, B). O da à agricultura varia entre 10% e documento não apresenta nenhuma 15% do total. As propriedades gran prova de que a grande e a média des (maiores de 1.000 ha.) dedicam à propriedades usem mal as suas terras. lavoura somente 4% de sua superfí Valor da produ ção por hectare, índice inadequa do para medir a eficiência no uso da terra
É necessário observar também que cie (4). o valor da produção por hectare não é, em si, um indicador de eficiência no uso da terra. A maximização da
(4) Ainda que não se possa afírmar que a propriedade com menos de 20 ha. seja respon sável pela maior parte da produção de ali
produção por hectare nunca pode ser mentos, é notório que nas propriedades médias
um critério de eficiência (3).
(3) As razões para isso aparecem em qual quer texto básico de economia. Os diversos insumos devem ser utilizados até que o valor do produto marginal deste se iguale a seu preço. Portanto, o critério de máxima produ ção somente coincide com o de máxima efi ciência na hipótese de o preço unitário do insumo ser igual a zero.
e pequenas se concentra a produção propria mente agrícola. 80% da área dedicada à lavoura se localiza nos estabelecimentos com menos de
500 ha.(FIBGE, Censo Agropecuário de 1975, Brasil, vol. 1).
Devido ao autoconsumo existente nas pe quenas propriedades, especialmente nas de
menor renda, a oferta de produtos agrícolas para o mercado se concentra nas propriedades médias(Silva, J. F. Graziano da et alii, Estru-
QUADRO 13. — Valor da produção animal e vegetal segundo o tamanho dos estabelecimentos (1970)
Menos de
% do valor total da produção % da área total agrícola Valor da produção/ha. (Cr$ 1.000)
Menos de
Mais de
10 ha.
20 ha.
1.000 ha.
17,8
30,0
12,6
3.1
6,7
39,5
489
377
27
Fonte: Censo Agropecuário, 1970.
Ref.: CNBB, 18.® Assembléia Extraordinária (fevereiro 1980), Doe. 8, Anexo B, Quadro X.
309
Nas pequenas
propriedades pre domina a lavoura
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Nas grandes pro priedades predo minam apecuária e a exploração florestal
Titulo //
O contrário ocorre com pastagens pria natureza desses dados, eles não (pecuária) e florestas (produção ex- medem a variação na composição das tratíva vegetal). As propriedades pe existências (5). Deste modo, não são quenas têm 32% de sua área em considerados como produção pecuá pastagens e 11% em florestas. Os esta ria os aumentos nas existências, pro belecimentos médios têm entre 54% e venientes de nascimentos, e a mudan 63% de sua área em pastagens, e 18% ça em sua composição (idade e peso em florestas. Os
estabelecimentos
do gado, por exemplo). Fato análogo
grandes têm 55% em pastagens e 30% se dá no caso das plantações flores O que explica os em florestas. Como a produção por tais. dados rrferentes ao valor da pro dução por hectare
hectare na lavoura é maior que a Nesta linha de raciocínio, quais produção por hectare nas outras ati quer despesas diretas ou investimen vidades, é natural esperar que os tos feitos no exercício, com o intuito
estabelecimentos.com maior porcen
de gerar uma produção futura ainda
tagem de lavoura tenham maior valor não realizada — ou, se realizada,
de produção por hectare, especial mente se comparados com as proprie dades maiores, mais dedicadas à pe cuária e à exploração florestal.
Os dados do cen so subestimam a
produção pecuá ria e a florestal
ainda não vendida — representam uma produção atribuível ao mesmo exercício.
Isto ocorre especialmente nas ati
vidades pecuárias e florestais, com b) Limitação dos dados do censo longo período de maturação. Pela própria natureza dos dados do censo, para medir o valor esta produção **em processo" não é da produção por hectare tomada em consideração. Sem prejuízo do fato de que o Portanto, como as atividades pe valor da produção por hectare em um cuárias e florestais se concèntram nas
propriedades maiores, o valor da naturalmente maior do que o de um produção das mesmas fica significa outro dedicado à pecuária ou à pro tivamente subestimado, quando cal
estabelecimento dedicado à lavoura é
dução extrativa vegetal, os dados do culado com base no censo. Isso res
censo tendem a subestimar a produ tringe o significado de comparações ção pecuária e a florestal. Pela pró- entre o valor de produção por hectare nos diversos tamanhos, feitas com tura Agrária e Produção de Subsistência na Agricultura Brasileira, SSo Paulo, Editora
base nesses dados.
Uma agravante toma ainda menos
Hudtec, 1978. p. 234). O fato de a produção agrícola estar con
centrada nas propriedades médias e pequenas não é, de si, um indicador do melhor uso da
terra nessas propriedades. Mas é iim fator importante a ter presente quando consideramos os efeitos econdmioo-sodais da política penalizante para a agricultura.
(5) o censo estíma o valor da produção pecuária pelo total dos animai» vendidos,sacri ficados ou consumidos, e pela venda de leite. Isto somente corresponderia ao verdadeiro
volume de produção em uma situação de equilíbrio, o que não é o caso do Brasil.
QUADRO 14. — Uso da terra (cm %)
Tamanho
(ha.)
Pastagens
Lavoura
Permanente Temporária
Em descanso
Naturais
Artificiais
Matas e Florestas Naturais Plantadas
Terras produtivas não utilizadas
Menos de 20 Menos de 50
11 8
47
2
18
6
8
0,5
8
34
2
24
8
11
12
50 a 500 500 a 1.000 Mais de 1.000
3 2 1
11
0,8 0,5 0.2
41
13
19
0.5 0,5
47
16
17
1
10
44
13
29
1
8
8 3
Fonte: Censo Agropecuário, 1975 (tabulação própria). 310
11
?
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
As propriedades médias e grandes têm uma porcen tagem de área inaproveitável maior do que as pequenas
significativa essa comparação. O porcentual de área inaproveitávei e de reserva florestal (por razões legais), em relação ao total da área, é signi ficativamente maior nas grandes pro priedades do que nas pequenas. O quadro 15 mostra que 28% da área das propriedades de mais de
Capitulo ///
blema, pode-se dizer que o fazendei ro está sujeito a três restrições essen
ciais, ao optar entre várias alternati vas de exploração. A primeira condi
das. Consideremos com mais detalhes
produção por hectare nas grandes propriedades é diminuído por uma subestimação do valor da produção e
limitantes
pois não dependem dele; a segunda
por uma sobrestimação da área efe
porcentual se reduz a 8,6%. Portanto, o cálculo do valor da
tores
os diversos produtos e os fatores de produção, os quais para ele são fixos,
tivamente explorável. Em outros ter
priedades superiores a 10.000 ha. Nas propriedades inferiores a 25 ha. este
tão sujeitas a fa
ção se refere à relação de preços entre
são as necessidades de recursos que ca da atividade exige;e a terceira condição é a disponibilidade que ele tenha de certo tipo de recursos, como capital e terra, não variáveis significativamente a curto ou médio prazo (6). O processo decisório pelo qual, implícita ou explicitamente, passa qualquer fazendeiro está sujeito às restrições ou condições acima aponta
1.000 ha. não são suscetíveis de explo ração, elevando-se a 35% nas pro
As opções entre as diversas ativi dades rurais es
mos, para efeito de comparação com o segimdo tipo de condições, ou seja, base na produção por hectare, o as exigências de recursos inerentes a cálculo deveria considerar a produção cada ramo de atividade. Em tese, o pequeno proprietário A área,fatorlimi por área efetivamente cultivável, e poderia optar entre a lavoura, a tante do pequeno não por área total. fa pecuária e a produção florestal. En proprietário, vorece a opção tretanto, na prática tal flexibilidade é pela agricultura c) Tamanho dos estabelecimentos mínima, e ele tem que se dedicar à e eficácia no aso da terra atividade que lhe consome menor Os dados acima analisados reve
área, a qual é seu fator limitante. É
lam,em síntese, que as pequenas pro
sabido que em geral a lavoura exige menor área que a pecuária e que a
priedades (menores de 50 ha.) dedi cam grande parte de suas terras à la exploração florestal para atingir um voura, e que as médias e grandes mesmo nível de renda. De onde a
propriedades se **especializam** na produção pecuária e florestal. Que fatores conduzem o fazen deiro a essa opção? Simplificando um tanto o pro
(6) Está-se supondo que o objetivo do fazendeiro é maximizar seus lucros, o que, aliás, é direta ou indiretamente confirmado por numerosos estudos.
QUADRO 15. — Área total inaproveitávei e reserva florestal por estrato de tamanho (em 1.000 ha.)
Tamanho (ha.)
Área total
Área inaproveitávei
Participação (%)
reserva florestal
Menos de 10
5.004
356
Menos de 25
20.481
1.761
64.545
6.059
100 a 1.000
Menos de 100
115.429
14.515
1.000 a 10.000
119.844
27.948
Mais de lÒ.OOO
70.456
24.755
370.275
73.277
Brasil
7,1 8,6 9.4 12,6 23,3 35,1 19,8
Fonte: INCRA, Estatísticas Cadastrais/1, 1974 (tabulação própria). 311
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
opção do pequeno proprietário pela lavoura.
A situação de um grande ou mé dio proprietário é diversa. Ele pode optar entre as várias alternativas, pois não tem restrições quanto à área, mas tem-nas freqüentemente quanto à qualidade de terra. O termo qualida de refere-se não somente às carac
terísticas topográficas, físicas ou quí
Titulo II
fúndios improdutivos". Constituem estes as propriedades de tamanho superior a um módulo e inferior a 600
módulos,.nas quais se exploram me nos de 70% das terras suscetíveis de
exploração (9).
Caberiam várias observações a respeito do real significado dos "la tifúndios por exploração". Aqui nos limitaremos a algumas delas.
micas, mas também à distância dos De acordo com os dados do centros de consumo, vias de acesso, INCRA, 73% da área agrícola do clima etc. Ograndeproprie tário tende a di
versificar ou a op tar pela pecuária ou pela explora çãoflorestal
Assim, supondo a possibilidade de total de 393.230.232 ha., 287.143.260 ha. pertenceriam a "latifúndios por tural do grande ou médio produtor é exploração") (10). diversifícar sua produção ou especia lizar-se na produção pecuária ou na (9) Mais exatamente, de acordo com o vantagem econômica, a tendência na
florestal, conforme as características
dos recursos de que dispõe (7). Logo, nada se pode inferir sobre a eficiência do uso da terra a partir da mera constatação de que as pequenas propriedades se dedicam mais à la voura, e as médias e grandes à pe cuária e à exploração florestal (8).
d) O "latifúndio por exploração" "Latifúndio por exploração": ver dadeiro latifún dio?
Brasil cairiam nessa categoria (de um
É freqüente a afirmação de que a grande propriedade explora mal suas terras, pois, de acordo com os dados do INCRA, haveria um número mui to considerável dos chamados 'lati
fúndios por exploração", também de signados correntemente como "lati-
INCRA, latifúndio por exploração é a pro priedade com área entre um e 600 módulos,em que a parte explorada é menor ou igual a 70% da área explorável, e/ou ém que o "coeficiente de condições sociais"(í)e o "coeficiente de
produtividade"(b)sejam ambos maiores que I (INCRA, Manual de Cálculo, Departamento
de Cadastro e Tributação, BrasQia, Í974, p. 22). O "coeficiente de condições sociais"(f) considera três aspectos: a) Fator de "participação e dependência", que mede aspectos como lugar de moradia do proprietário, administração da exploração,ori gem da renda do proprietário, natureza do proprietário (pessoa jurídica ou física) etc. b) Fator de "ocupação", que mede o bemestar dos residentes no imóvel por meio de um coeficiente que relaciona o número de pessoas
residentes por módulo e o número de pessoas residentes por casa de moradia existente na propriedade. c) Fator de "responsabilidade na explo
ração", que estima em que medida o pro (7) Dois fatos induzem a pensar que a
prietário explora diretamente a propriedade ou a dá em arrendamento ou parceria.
grande propriedade dispõe de recursos naturais
Em geral, o coeficiente está calculado de
mais pobres do que a média e a pequena. O
maneira a serem favorecidas as propriedades
primeiro é que — como vimos anteriormente —
as grandes propriedades têm maior proporção
pequenas e médias, exploradas diretamente pelo proprietário que faz uso intensivo de mão-
de terras inaproveitáveis. O segundo fato é a
de-obra.
verificação de que a área média das proprie acesso, é significativamente maior do que no
O "coeficiente de produtividade"(5)é um fator que pretende estimar a intensidade de exploração da fazenda, tomando em conta o porcentual de terra explorada, grau de inves
restante do Pais. De acordo com os dados cadastrais do
explorações.
dades nas regiões de fronteira, mais distantes dos centros de consumo e com dificuldades de
INCRA(INCRA,Estatísticas Cadastrais N.° l, Brasília, 1974), o tamanho médio dos imóveis rurais no Brasil era de 109 ha. Na região Norte, S43 ha.; no Nordeste, 86 ha.; no Sudeste, 78 ha.; no Sul, 40 ha.; e no Centro-Oeste, S98 ha.
timentos e o rendimento dos diversos cultivos e
Infelizmente, não se dispõem de informa ções para saber em que medida esses coefi cientes contribuíram para caracterizar os imó
veis considerados como "latifúndios por explo ração". Em todo o caso, parece depreender-se da lógica dos referidos coeficientes que um imóvel em que se explore mais de 70% de sua
(8) Aqui nos limitamos a considerar as condições que, grosso modo, variam entre os diversos tamanhos de propriedade. Evidente mente, fatores mais importantes influem na intensidade de uso da terra, como a mudança técnica e os preços relativos. Exemplos claros da ação desses fatores são o aumento da área
tante na definição do "latifúndio por explo ração" é a porcentagem de área explorada.
plantada de soja e o aproveitamento dos cerrados para o cultivo.
Brasília, 1974, p. 311, Quadro 1.19.
312
área explorável, dificilmente terá ambos os coeficientes (S e T) simultaneamente maiores
que 1. Isto indicaria que o fator mais impor
(10) INCRA, Estatísticas Cadastrais N." I,
73% das terras no Brasilsão malex
ploradas?
Se, de um modo geral, a agricultura não progrediu tanto como teria sido desejável, foi porque a política econômica adotada reduziu as expectativas de lucro, e impediu, ou ao menos não estimulou, o aumento da produtividade.
-à£m Solar da Baro
nesa, em Cam
pos (RJ). An tiga sede da fa zenda dos Ba
rões de Muriaé.
É hoje casa de estudos do Ins tituto Interna cional da Cul
tura, da Acade mia
Brasileira
de Letras.
Aspecto de super-fazenda-empresa. Nela não há sede-solar para longas estadias de um proprietário e de sua família.
Quando vai apressado à fazenda, o diretor da empresa se aloja em dois ou trSs cômodos contíguos a seu escritório. Para o avião em que viaja, há na fazenda uma pista. As residências dos colonos não são mais de grossas paredes de alvenaria, nem são cobertas com telhas de barro cozido. O colono da fazenda-empresa mora freqüentemente em casas de construção ligeira, cobertas com telhas de cimento-amianto. O panorama é marcado por galpões para armazenamento da colheita e abrigo da maquinária.
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iídkr
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo II
Se tomamos em consideração a reconhecido por todos, de que o setor distribuição dessas propriedades entre agrícola no Brasil é sensível aos pre os diversos estratos de tamanho dos ços, e que, portanto, de modo geral, imóveis, verificamos que entre 75% e usa racionalmente seus recursos (12).
92% das propriedades superiores a
100 ha., e 53% das propriedades de 50 a 100 ha., seriam "latifúndios por 2. exploração" (11). Logo, de acordo com os dados do INCRA,o mau uso da terra não seria
exclusivo das grandes propriedades. Ao contrário, as propriedades "mal
trabalhadas", especialmente as supe
Causas econômicas
A. Alguns aspectos da Política Econômica
Ao longo do texto, o IPT se refere
riores a 100 ha.,, se distribuiriam de
a numerosas situações de natureza
modo mais ou menos uniforme nos diversos estratos de tamanho. Sob
econômica que seriam prejudiciais, de modo especial, às classes mais mo
este aspecto, a eficiência no uso da destas da vida rural brasileira. Pro terra seria independente do tamanho curaremos analisar cada uma delas. das propriedades. As normas de preenchimento da a) A distribuição
"declaração para cadastro do imóvel rural" exigem que se coloque, como
área
aproveitável não explorada
dos financiamentos Uma das causas da situação em
(ANUC), a coberta por matas natu que se encontram os pequenos pro rais (fora da reserva legal) que não dutores seria a distribuição dos finan está sendo explorada no momento do ciamentos: ".... a politica de distri cadastramento. Com isso, a ANUC é buição do crédito, beneficia os gran sobrestimada, porque a abertura de des mais do que os pequenos,embora áreas se dá por etapas, e é freqüente mais numerosos ...." (n.° 16). encontrar fazendas com áreas consi
Os autores do IPT baseiam-se nas
deráveis de mata, reservadas para exploração futura.
cifras que aparecem no quadro 16, onde se verifica que 66,8% dos estabelecimentos agrícolas (menores de 20 ha.) recebiam 12,5% do valor dos financiamentos, e 32,8% dos esta belecimentos(maiores de 20 ha.)rece biam 87,4% dos financiamentos. Como se pode observar, o quadro
O Manual de Cálculo do INCRA
(ver nota 9) revela que, ao calcular a ANUC, é necessário somar certas
áreas à área aproveitável não explo rada, declarada pelo proprietário. As mais significativas delas são a de pastagens e a de pastoreio temporá 16 confronta o valor total dos financia rio, as quais devem ser acrescentadas mentos com o número de proprie quando o cadastro revela ausência de dades em cada categoria. Esta com pecuária. Ora,as normas de preenchi paração é irrelevante, se considerar mento do cadastro fazem com que mos que o montante do financiamen facilmente o proprietário coloque co to depende do volume dos negócios, mo área de pastagem, áreas que na ou seja, em certa medida,do tamanho realidade não são economicamente das propriedades, mas nunca do nú utilizáveis, e que portanto não com mero delas. A não ser que, por portam a existència de pecuária. Esta exemplo, se pretenda conceder a um norma do Manual de Cálculo pode sitiante o mesmo financiamento que conduzir a significativa sobrestima- se concede a uma grande empresa ção da ANUC. agropecuária, ou vice-versa. Parece-nos que estas observações são suficientes para indicar o quanto
o conceito de "latifúndio por explo ração" é confuso, quando usado para ayaliar o bom ou mau uso da terra.
Sobretudo levando em conta o fato, (II) INCRA, op. cit., quadros 1.19 e 1.01. 314
(12) A respeito da relaç9o entre tamanho dos estabelecimentos e eficiftncia, o leitor po
derá encontrar outros argumentos em Mayer, Dom Antonio de Castro; Sioaud,Dom Geral do DE Proença; Corrêa de Ouveíra, Plinict, pRErtAS, Luiz Mendonça de. Reforma Agrá ria — Questão de Consciência, Parte II ("As pectos Econômicos^, Cap. III.
IPT: a política de crédito bene
ficia os grandes mais do que os pequenos
Outro
exemplo
demauusodeda-
dos
Uma
estatísticos
corrqtara-
irrelevante
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
Estabelecendo a relação entre o valor dos financiamentos e a distri
Capitulo ///
necessariamente suficiente, nem que o uso de crédito foi igualmente intenso
buição da propriedade da terra (13), em ambas as categorias (14). vemos que, segundo esses dados,exis te certa proporção na distribuição do b) A política de crédito.
incentivos fiscais
O quadro 17 mostra que 6,74% da área total, que correspondem aos
A política de incentivos fiscais é
estabelecimentos de área inferior a 20 criticada pelo IPT nos seguintes ter
ha., receberam 12,5% do valor total mos: dos financiamentos; e 93,26% da área, "A política de incentivos fiscais é IPT: incentivos que correspondem aos estabelecimen uma das causas fundamentais da ex fiscais favorecem tos superiores a 20 ha., receberam pansão das grandes empresas agro a minoria em da 87,4%. Por conseguinte, não podemos pecuárias à custa e em detrimento da detrimento maioria concluir, a partir desses dados, que a agricultura familiar. Até julho de distribuição dos financiamentos foi 1977, a Superintendência do Desen
prejudicial aos pequenos produtores. volvimento da Amazônia havia apro Entretanto, destas considerações, vado 336 projetos agropecuários, nos não podemos afirmar que o valor dos quais seriam investidos 7 bilhões de financiamentos recebidos por eles foi cruzeiros. Dessa importância, apenas (13)Em princípio, a comparação devuria ser
(14) Estudos disponíveis revelam que as
feita com o volume de produção. Por não dispormos da informação adequada, empre
propriedades maiores têm uma proporção
gamos os dados referentes a área,válidos como
aproximação.
maior de suas despesas financiadas com cré dito (Melo, F. B. Homem de, A Política Econômica e o Setor Agrícola no Período de
QUADRO 16. — Número de estabelecimentos e distribuição dos fínanciamentos por tamanho (em %)
Estabelecimentos
Tamanho (ha.)
(n.®)
Valor total dos financiamentos
Menos de 20
66,8
12,5
Mais de 20
32,8
87,4
Fonte: Censo Agropecuário, 1970.
Ref.: CNBB, 18.' Assembléia Extraordinária (fevereiro 1980), Doe. 8, Anexo B, Quadro IX.
QUADRO 17. — Área dos estabelecimentos e distribuição dos financiamentos por tamanho (em %)
Tamanho (ha.)
Estabelecimentos
Valor total dos financiamentos
(área)
Menos de 20 Mais de 20
6,74 93,26
12,5 87,4
Fonte: Censo Agropecuário, 1970 (tabulação própria). 315
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo II
2 bilhões correspondiam a recursos a região, abrindo caminho para que, próprios das empresas, enquanto os posteriormente, pequenos e médios restantes 5 bilhões, mais de 70% do proprietários possam explorar a terra.
total, eram provenientes dos chama
Em segundo lugar, não é verdade
dos incentivos fiscais" (n.° 18). que o incentivo fiscal favoreça neces "A política de incentivos fiscais sariamente uma minoria, em prejuízo desvia dinheiro de todos para uso de da maioria. A difusão de benefícios uma minoria, não atendendo às exi
gências do bem comum. Esse dinheiro deixa de ser aplicado em obras de interesse público para ser desfrutado, como coisa própria, pela grande em presa" (n? 19).
que escapam aos proprietários dos projetos fundamenta e justifica o in centivo tributário, que corresponderia ao custo dos benefícios não captados
pelos donos do projeto (17). A não ser dessa forma,dificilmen
'Sem pretendwmos justificar even
te um particular poderia decidir-se a tuais distorções na aplicação concreta explorar essas terras. Portanto, os tivos 'fiscais: da politica de incentivos fiscais, dese incentivos fiscais beneficiam não ape
Em principio, a politica de incen a) não prejudica os pequenos
jamos ressaltar que ela favoreceu o aumento do número de propriedades grandes, mas não necessariamente em prejuízo do número das pequenas, ao contrário do que o IPT afirma, sem dar nenhum fundamento.
b)favorece o bem comum
c) e viabiliza no vas áreas para os pequenos e mé dios
estabeleci
mentos
nas os donos dos projetos, mas tam bém a sociedade como um todo,espe cialmente os médios e pequenos pro prietários em potencial. Pois é dessa forma que se torna viável para eles a exploração de terras nessas regiões.
Os projetos em implantação na Amazônia Legal abarcam cerca de 8 milhões de hectares (15); isto repre senta apenas 2,7% do total das terras economicamente aproveitáveis para a agropecuária,existentes na Amazônia (16). Logo, não se pode afirmar que aquelas empresas estão monopolizan do a posse da terra e impedindo a pro liferação de propriedades pequenas e
consideram, nos diversos projetos, os números estimados, que divergem dos
médias. Ao contrário, muitos dos
números reais. É sabido que as ins
Evidentemente, não
afirmamos
com isso que a utilização dos fundos públicos nos projetos de incentivos fiscais é, necessariamente, o melhor
investimento que o Governo possa fazer, do ponto de vista da Nação como um todo.
Além disso, os autores do IPT
investimentos realizados nos projetos tituições encarregadas de controlar a trazem benefícios que favorecem toda implantação desses projetos glosam muitas despesas e inversões, por não Pós-Guerra,"Revista Brasileira de Economia", estarem previstas no projeto, mas que 33(1): 25-63, Rio de Janeiro,janeiro/março de apesar disso são feitas, não dando 1979, p. 49). direito a uma contrapartida de in Outros trabalhos revelam que uma parte centivo fiscal. relativamente pequena dos aumentos havidos Finalmente, é preciso observar nos créditos rurais são utilizados pelo pequeno produtor (Meyer, R. L.; Adams, D. W.; Rask, que o sistema de incentivos fiscais, N.; AraOjo, P. F. Cidade de. Mercados de para a abertura de novas fronteiras Crédito Rural e os Pequenos Agricultores do agrícolas ou recuperação de áreas, é Brasil, in Araújo, P. F. Cidade de; Schuh, G.
E., Desenvolvimento da Agricultura: Análise de Política Econômica, pp. 151-204,São Paulo, Pioneira, 1977, p. 199). Entretanto, diversos estudos mostram que existe uma inter-relação entre o uso do crédito
por parte do pequeno produtor e o atraso tecnológico a que está sujeito. Uma eventual mudança tecnológica neste setor da agricultura
uma forma de ampliar a participação da iniciativa privada nesses empre endimentos. Caso contrário, a coloni zação ficaria reduzida a ser feita, em
ritmo mais lento, por uns poucos par ticulares possuidores de grandes capi-
poderá acarretar um aumento do uso do crédito por parte de tal setor. (15) Silva, P. M. Melo da. Os Incentivos Fiscais como Instrumento de Desenvolvimen
to. Belém (PA), SUDAM, 1978.
(16) A área total aproveitável para agro
pecuária é de 300 milhões de hectares(INCRA, Razões para a Ocupação da Amazônia — Informe A, Brasília, novembro 1977). 316
(17) Em termos econômicos, a isenção
tributária é o custo que o Governo tem para pagar as "extemalidades"(beneficias reais, mas
não captados pelo dono do projeto), que o projeto leva embutido. Em outras palavras, os benefícios privados (captados pelo dono do projeto) não cobrem os custos totais deste, daí a necessidade de que parte dos recursos seja proveniente dos incentivos fiscais.
Os incentivosfis cais: um meio de
ação governa mental através da
iniciativa privada
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
tais; ou pelo Estado, com as conse qüentes distorções e inefíciências ge ralmente admitidas.
c) Comercialização da produção Examinemos a seguinte afirmação
Capitulo Ilí
d) Á política comercial e de preços Passemos por fim a outro aspecto da política econômica, apresentado
raro mais de 50%
do preço final
ço dos alimentos...
pelo IPT no seguinte grupo de afirma ções:
"O alimento considerado caro pe "É necessário considerar, também, lo consumidor urbano e que o produ a prática sistemática do atravessa tor agrícola considera barato e insufi mento na comercialização dos produ cientemente pago pelo comprador, tos agrícolas. Em muitos produtos beneficia, ainda, uma outra categoria
do IPT: IPT: os interme diários retêm não
IPT:o baixo pre
destinados ao consumo urbano, como
econômica
acontece com osgêneros alimentícios essenciais, os setores comerciais inter
pagamento dos produtos do trabalho do lavrador aparece, de fato, como
mediários — transportadores, ataca
mão-de-obra barata na contabilidade
a) permite salá rios baixos
Aquilo que falta no
distas e varejistas — costumam reter
Cumpre evitar as tendências mono-
pollsticas na co mercialização
A FA O considera
normais margens de
comercializa
ção superiores a 50%
e no lucro da empresa nacional e não raro mais de 50% do preço final multinacional. Quando o lavrador pago pelo consumidor" (n.°45). compra alguma coisa produzida pela O texto conduz o leitor a imagi indústria .... paga caro, em compara nar que existe uma verdadeira explo ção com os seus próprios ganhos; ração generalizada do produtor pelo quando vende o seu produto, que vai intermediário. É inegável que, em ser consumido na cidade, só consegue determinadas circunstâncias, tal si vendê-lo barato em comparação com tuação pode ocorrer, especialmente os lucros da grande indústria benefi quando a intermediação é monopó- ciada pelo barateamento do preço da lica ou quase monopólica, nas regiões força de trabalho. Estamos diante de onde o produtor quase não tem alter uma clara transferência de renda da nativas para a comercialização de sua pequena agricultura, produtora da produção. maior parte dos alimentos, para o Mas o fato de em alguns casos o grande capital" (n.°46). intermediário receber mais de 50% do Embora pareça reconhecer que a valor pago pelo consumidor não re política econômica seguida penalizou presenta, de si, uma anomalia. Con a agricultura, o IPT sustenta que a forme estudo realizado pela FAO, penalização recaiu apenas sobre a para um grande número de produtos pequena agricultura, e favoreceu o as referidas margens de comerciali grande capital industrial. Teria casti
b) beneficia o grande capital
c) penaliza só os pequenos
zação são consideradas normais(18^ gado a pequena agricultura porque Por outro lado, o IPT ignora os esforços feitos nos últimos anos para
ela é a grande fornecedora dos ali
melhorar
capital porque alimentos mais baratos
a
comercialização. Por
mentos; e teria favorecido o grande
abastecimento e mercados satélites
permitem salários mais baixos, e por tanto maiores lucros. Isto teria signi
(das 75 unidades em operação em
ficado uma verdadeira transferência
exemplo, a constituição de centrais de
1978, 57 foram construídas a partir de de renda da pequena agricultura para 1975), os aumentos na capacidade de o grande capital.
armazenagem e ensilagem (a capaci
O mecanismo real
dade estática cresceu de 22.891 mil
de penalização...
O mecanismo pelo qual a política comercial seguida penalizou a agricul toneladas em 1973, para 47,558 mil tura e favoreceu o setor não-agrícola é em 1978), construção de terminais outro, bem mais complexo do que o pesqueiros e outras iniciativas (19). apresentado pelo IPT. A penalização se produziu pela política de comércio (18) FAO, La Comercialización: Su In
fluencia en Ia Productividad, Campafla Mun dial Contra el Hambre, Estúdio Básico N." 4, Roma, 1962.
exterior e de câmbio; de tal forma que a renda atual percebida pelo setor agrícola é inferior à que haveria no caso de um comércio mais livre.
(19) Ministério da Agricultura, Contri
buições do Setor Agrícola para o Desenvolvi
sempcnho N." 1, Brasüia, BINAGRI Edil.,
mento Nacional 1974-1978, Relatórios de De-
1979, p. 55.
317
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
...recai sobre to
do o setor agrí cola
Titulo II
A penalização recai, portanto, so visualização neomarxista dos proble bre todo o setor agrícola (grandes, mas econômicos da agricultura (ver médias e pequenas propriedades), Cap. II, 5).
produtor ou não de alimentos. Se bem que sobre as primeiras recai '^om freqüência uma maior penalização, B. O modelo econômico por tabelamentos exógenos ad hoc de Para caracterizar pormenorizada seus preços. Por outro lado, o favorecimento mente, segundo o IPT, o modelo do setor não-agrícola não se produz econômico em vigor no Brasil, agru pelo sacrifício da mão-de-obra empre paremos as afirmações mais significa gada no setor. Ele se faz por meio de tivas em duas categorias: aquelas que preços mais altos de seus produtos em caracterizam o modelo propriamente relação aos preços que vigeriam em dito, e aquelas que descrevem os seus uma situação de livre comércio, devi
frutos.
dos à proteção efetiva proveniente da sobrevalorização cambial, e às medi
a) Características do modelo
das específicas de tarifas e subsídios. Alimentos mais baratos permitem sa
segundo o documento
lários nominais mais baixos, favore
econômico,
1) ".... a propriedade é um bem cendo eventualmente o empregador. Mas, isso não significa que tal favo absoluto, usado como instrumento de recimento prejudique o trabalhador, exploração" (n.°36). 2)"O modelo de desenvolvimento pois o bem-estar deste depende do econômico adotado favorece o lucro salário real.
Ao contrário do que afirmam os ilimitado dos grandes grupos econô autores do IPT, essa política favore micos" (n.°36). 3) "Excedentes agrícolas têm sido ceu a mão-de-obra, em especial aque la com certo grau de qualificação. extraídos à custa da redução das con dições de vida dos lavradores"(n.°37). 4) "O desejo incontrolado de lu tos provoca aumento no salário real. No caso da mão-de-obra não-qualifi- cros leva a concentrar os bens produ Pois o aumento no preço dos produ
cada, ela seria prejudicada pela pena zidos com o trabalho de todos nas num proces lização da agricultura, e não pelo mãos de pouca gente favorecimento da indústria (20). so cumulativo resultante da explora Os esforços para não prejudicar o ção do trabalho ...." (n.°38). salário real, e o intuito de criar 5)"Estamos diante de amplo pro empregos mais bem remunerados e de cesso de expropriação dos lavradores melhor qualificação, explicam em par ...." (n.°39). te a relutância das autoridades eco
nômicas em liberar o comércio, e
assim diminuir a penalização da agri cultura.
Uma analogia en tre o IPT e a es
cola neomarxista
Ao se referir à política comercial e de preços, o IPT afirma existir "um certo caráter perverso no mecanismo de preços", que prejudica o pequeno produtor agrícola e favorece o gran de. Assim, um erro de política eco
Das citações acima surge, quase
pela força da evidência, a semelhança com a visualização neomarxista dos
problemas agrários brasileiros (ver Cap. II, 5), segundo a qual o cresci mento econômico foi conseguido por
um processo de acumulação de capi tal resultante da exploração do tra balho.
Nada aparece no documento que nômica parece ser apresentado como justifique o afirmado, nem tampouco uma exigência do sistema econômico aparece referência às opiniões de ou vigente. É clara a analogia com a tras escolas de pensamento divergen(20) Seria de esperar, com relação à mãode-obra qualificada, uma oferta de trabalho não infinitamente elástica. Por outro lado, um preço do produto superior ao do livre comér cio significa um deslocamento da demanda para a "direita". Quer dizer, o salário real resultante seria maior do que o existente em
318
uma situação de livre comércio. A penalização do setor agrícola provoca uma diminuição relativa na demanda de mãode-obra não-qualificada, gerando um desequilí
brio que pressiona para baixo o salário real da categoria, tanto na agricultura quanto na indústria.
Frases
caracte
rísticas sem pro vas...
...mas inspiradas no marxismo
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
Capitulo III
tes, como vimos anteriormente (ver 'todos ganharam, porém uns mais-do Cap. II, 2). que outros" (ver Cap. II, 5, C, b). Por outro lado, com base em estu
b) Frutos do modelo, segundo o documento
dos recentes (ver Anexo I) pode-se demonstrar a limitação das análises
de distribuição da renda para medir a
De acordo com a visualização dos situação econômico-social real dos in autores do IPT, as principais con divíduos. Pois elas não consideram a seqüências do modelo econômico em
vigor podem ser resumidas nas se
mobilidade vertical. Quando trata mos da situação do migrante no lugar
guintes expressões: de destino, fizemos referência a esses 1) enriquece uns poucos às estudos, os quais provam a existência custas da pobreza ou da miséria da de uma alta mobilidade social verti maioria" (n.°35). As
conseqüên
cias, em
outras
frases típicas
cal, fato que mudou significativamen
2) Ocasiona a concretização te a estrutura social brasileira (ver localizada da injustiça institucionali Anexo I). zada de que fala o documento de Todas essas considerações condu Puebla" (n.°35).
zem a uma visualização da realidade
3) Acarreta "....forte dependência econômico-social do Brasil significa externa, no que se refere à tecnologia, tivamente diferente daquela descrita
ao capital e à energia" (n.°36). 4) Produz
pelo documento.
rápido crescimento
da dívida externa, ...." (n °36).
Frutos de natureza econômica
Dentre os frutos do modelo eco
nômico — tal como o apresenta o IPT No que se refere à segunda catego — podemos distinguir duas catego ria de frutos do modelo econômico rias: os de natureza social (enriqueci apontados pelo IPT (dependência e mento de uns poucos à custa da dívida externas), estudos disponíveis miséria da maioria, e a "injustiça ins explicam a sua origem na conjuntura
A
dependência
e a dívida externa não são inerentes ao sistema
titucionalizada") e os de natureza econômica internacional e em erros da política econômica, e não no ternas). modelo econômico vigente. Tais estu
econômica (dependência e dívida ex Frutos de natureza social Uma visão distor
cida da situação econômico-sociaí do País como um
todà^
dos atribuem a atual situação a vários erros da política econômica (21):
No Capítulo I ficou demonstrada — a política de industrialização a falta de dados que permitam avaliar baseada na substituição radical de corretamente a situação do lavrador.
importações, que vai da Segunda
Demonstramos também que não é Guerra até a década de 60. Como
possível inferir, a partir dos poucos vimos anteriormente, essa política pe nalizou a agricultura, contribuiu para
dados e estudos disponíveis, a reali
dade descrita pelo documento. concentrar a distribuição da renda No tópico que comentamos, o IPT pessoal, e dificultou o aumento do amplia desinibidamente seu horizon emprego necessário para absorver a
te, passando a considerar não apenas grande massa de mão-de-obra nãoo setor agropecuário, mas toda a
qualificada existente no País. Além
economia. Ele se refere, mais propria
Na realidade, to
dos ganharam, porém uns mais do que os outros
disso, contribuiu para a entrada de mente, à concentração da distribuição capital estrangeiro, com tecnologia de da renda no Brasil. uso intensivo de capital nas ativida Já fizemos anteriormente algumas des mais protegidas. Contribuiu tam considerações mostrando que, conco- bém para aumentar a dependência ex mitantemente com o aumento na
terna, pelo aumento da necessidade
concentração da renda, produziu-se de importação de matérias-primas,
uma diminuição significativa da po
tecnologia e bens de capital;
breza (ver Cap. II e nota 15). Os dados disponíveis não levam á con
clusão de que uns poucos se enrique
(21) Pastore, a. C., Setor Externo: Proble
mas e Alternativas, "Digesto Econômico", N.®
ceram ás custas da pobreza ou da 265, Ano XXXVl, pp. 73-in,janeiro-fevereiro miséria da maioria. Ao contrário. 1979. 319
A política de in
dustrialização
Titulo II
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
A política de ex portações
— a política de promoção de Diante desse panorama, o Governo exportações, seguida a partir da se decidiu controlar as importações por gunda metade da década de 60,conti meio de proibições, depósitos prévios nuou penalizando a agricultura, pois, e aumento nas tarifas. Essa tributação das importações na prática, as medidas para promo ver as exportações falharam em re trouxe como conseqüência uma tribu lação aos setores tradicionais de pro tação das exportações, pois o aumen to do preço dos insumos importados produziu o aumento do preço dos — a política para enfrentar a crise similares nacionais, os quais fize do petróleo. Sendo o petróleo indis ram subir o custo dos produtos ex dução;
A crise do petró leo
pensável, devido à dificuldade de sua portáveis. Ou seja, a diminuição da substituição a médio ou curto prazo, taxa de aumento- das importações o aumento repentino de seus preços, viu-se acompanhada por uma redu no ano de 1974, provocou um aumen ção na taxa de aumento das ex portações. to extraordinário no défícit da balan Em certo sentido, voltou-se à polí ça comercial (da ordem de 7 bilhões de dólares, em 1974). Quando eclodiu tica econômica de substituição de a crise,já estava preparado o II Plano importações, com aparência de eco Nacional de Desenvolvimento, que incluía substanciais volumes de inves
nomia aberta.
Portanto, as verdadeiras causas
timentos governamentais. O Plano dos problemas da balança de paga era incompatível com a situação eco mentos e da dívida externa que o nômica internacional, criada com a Brasil enfrenta residem não apenas na dependência do petróleo estrangeiro, crise do petróleo. Como a receita tributária não era mas também em erros na política fis suficiente para fínanciar tais inves cal (investimentos governamentais e timentos, o Governo recorreu à emis dívida interna), na política monetária são de títulos, para colocá-los junto (incapacidade para controlar o au
ao público. Para tomar viável essa forma de financiamento, a taxa de
juros internos viu-se aumentada, tor nando vantajoso o endividamento ex
terno a juros mais baixos. Os investimentos governamentais, superiores ao que a economia bra
mento da oferta de moedas, provoca do pela entrada de recursos externos),
e na política comercial (controle das importações e exportações, e política cambial).
— Participação estatal na econo- A estatização da mia. O gigantismo das empresas esta- economia excedente de demanda interna; este, tais, conseqüência direta da política por sua vez, provocou um déficit na balança de pagamentos, e in sasse a competir no uso de recursos,em forma sileira podia suportar, criaram um
flação. Voltou-se à polí
Por outro lado, a política seguida
tica de substitui
para financiar esse déficit teve o efeito
ção
de realimentá-lo, ao descontrolar-se a
de impor
tações
oferta de moeda com a entrada de
distorcida, com o setor de produção de ali mentos. Esses veriam seus preços relativos aumentados, prejudicando o setor. Mas se o incentivo às exportações se reduz a não penalizá-las, e simultaneamente se elimina a penalização do produtor para o mercado
recursos externos, originando um au interno (por exemplo, o tabelamento dos pre mento substancial da dívida (22). ços dos alimentos), a eventual vantagem rela tiva que o setor exportador poderia obter seria conveniente para t^o o setor agrícola e para o (22) Com relação à divida externa, o IPT afírma que ela constitui um tributo para a
agricultura, o qual "agrava poderosamente" as condições de vida e de trabalho da população rural
Esta afirmação só se explicaria supondo
País em geral Se, ao contrário, o setor produtor de alimentos continua penalizado, a sua situação não se deve à "dívida externa", mas à política comercial seguida. Com o intuito de avaliar as implicações da magnitude da dívida, o documento a divide pela população do Brasil Este é outro racio
que o IPT se refira ao pequeno produtor, que, como vimos, se "especializa" na produto de cínio que não tem qualquer base lógica. Seria o alimentos. Entretanto, ela só seria válida na
hipótese de que, para enfrentar a dívida ex terna, se recorresse a incentivos para as expor
tações agrícolas, permitindo que o setor expor tador agrícola, favorecido artificialmente, pas320
mesmo que comparar a situação financeira de duas firmas por meio da dívida per capita de cada uma: ou seja, da divisão do montante da dívida pelo número de funcionários de cada uma.
Colheita de co cos no Nordeste.
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Os problemas levantados pelos autores do IPT não são
originários da estrutura econômica do País, e muito menos de sua estrutura agrária, mas surgem de erros na política econômica adotada.
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo II
acima descrita, é responsabilizado como uma das principais difículdades
para controlar a divida externa e a inflação. Recentemente (23), foram
apontadas as dificuldades para con trolar as decisões dessas empresas,
3. Algumas considerações finais deste capítulo
que respondem por 74% dos emprés timos externos do País, 60% dos
Ao longo da nossa análise, temos
investimentos da economia nacional e
procurado deixar claro para o leitor a
distinção fundamental entre política econômica e modelo econômico, bem Esse é um claro exemplo das sérias
65% da poupança financeira.
distorções introduzidas no sistema como a influência de cada um nos
econômico. A empresa estatal, o Estado-empresário, especialmente quando adquire a importância que tem no Brasil atual, escapa às regras do jogo,
problemas da agricultura brasileira.
Sem essa distinção, facilmente se cai rá em erro ao tentar identificar as
causas dos problemas agrários.
O IPT coloca toda a ênfase na mercado. Constitui-se em verdadeiro censura ao modelo econômico. Os
não passando pelo crivo do exame do
erros de política econômica que ana mente nos rumos da economia, mas lisa representam um aspecto colateral cujas decisões facilmente são tomadas no seu conjunto, e ainda assim são setor autônomo, que influi decisiva
à revelia da realidade econômica. apresentados como que inerentes ao
modelo econômico vigente. Os problemas levantados pelos Além disso, como ficou claro no autores do IPT não são, portanto, f^pítulo I, o IPT contém unilateralioriginários da estrutura econômica do dades e exageros, que conduzem a País, e muito menos de sua estrutura uma visão distorcida dos problemas agrária, mas surgem de erros na agrários brasileiros. O conjunto des política econômica seguida, erros que ses dados transmite aos leitores a im conduzem a uma intervenção cada pressão de que todos os problemas vez maior do Estado na economia, derivam do modelo econômico. A
aproximando-se de um verdadeiro conseqüência lógica e imediata é que capitalismo de estado. este precisa ser mudado, por meio de ampla reforma de estruturas, a come
çar por uma profunda Reforma Agrária. Como facilmente se depreende do Banco Central, conferência na Escola Supe destas considerações, a lógica que rior de Guerra,de 15-7-80;apud discurso do Sena dor Luiz Cavalcanti no dia 16-10-80;'*Diário do torna explicável esse enfoque do IPT (23) Carlos Geraldo Lanooni, Presidente
Congresso NadonaT, Se^o II, a° 127, 17-10-80.
322
é inerente à visualização neomarxista.
Capitulo IV
Solução para os problemas agropecuários, segundo o documento "Igreja e problemas da terra"
O IPT propõe uma Reforma Agrária radical
Não é de estranhar que o IPT favoráveis para seu cultivo. Para efe proponha não só uma Reforma Agrá ria radical, mas também uma mu
tivá-la, queremos valorizar, defender e promover os regimes de propriedade
dança profunda do atual sistema eco- familiar, da posse, da propriedade
nômico-social do Brasil, pois é o que tribal dos povos indígenas, da pro priedade comunitária em que a terra é
está na lógica do documento. Se gundo seus autores, os erros da polí
tica econômica seguida na agricultura não são suficientes para explicar os
concebida como instrumento de tra
balho" (n.° 99).
"Terra de trabalho é a terra pos
problemas econômico-sociais que o suída por quem nela trabalha. Não é setor enfrenta. A explicação estaria terra para explorar os outros nem na própria natureza do sistema eco para especular. Em nosso país, a nômico atual, o qual, para sobreviver, concepção de terra de trabalho apa precisa explorar o trabalho. Seria rece fortemente no direito popular de inerente ao sistema a "injustiça insti propriedade familiar, tribal, comuni tucionalizada".
tária e no da posse. Essas formas de
propriedade, alternativas à explora ção capitalista, abrem claramente um
1. Á Reforma Agrária que o IPT propõe
amplo caminho, que viabiliza o tra balho comunitário, até em áreas ex tensas, e a utilização de uma tecno
logia adequada, tornando dispensável Assim como, a partir de diversas a exploração do trabalho alheio" citações, podemos extrair com toda a (n.° 85). clareza a visualização que o IPT "'A terra é uma dádiva de Deus'. apresenta do modelo econômico atual
Ela é um bem natural que pertence a mente:-em vigor no Brasil (ver Cap. todos e não um produto do trabalho. III, 2, B), assim também alguns dos Mas, é o trabalho sobretudo que textos mais significativos nos permi legitima a posse da terra. É o que tirão discernir o modelo alternativo entendem os posseiros quando se que ele propõe: "... Apoiamos os esforços do ho mem do campo por uma autêntica
concedem o direito de abrir suas
posses em terras livres, desocupadas e
não trabalhadas, pois entendem que a
Reforma Agrária, em várias oportu terra é um patrimônio comum e que nidades já definida, que lhe possi enquanto trabalharem nela, não po bilite o acesso à terra e condições derão ser expulsos" (n.° 91). 323
Título II
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
IPT,é aquela que utiliza mão-de-obra assalariada "tendo função social e respeitando os direitosfundamentais tica de desenvolvimento econômico e do trabalhador"), que o IPT não pretende "valorizar, defender e pro social" (n.° 53). "Entendemos que a problemática mover". a estrutura fundiária e seus
aspectos sociais é fundamental e con dicionam o sucesso de qualquer polí
A solução está na mudança de es trutura e menta
lidade
dos trabalhadores rurais e urbanos e a
problemática da terra só terão solu ção verdadeira se forem mudadas a B. Os frutos da mentalidade e a estrutura em que
Reforma Agrária proposta
funciona a nossa sociedade. Enquan
Se o IPT é superficial ao avaliar a to o sistema político-econômico es tiver a favor dos lucros do pequeno atual situação dos pequenos na agri número de capitalistas, e enquanto o cultura, ele o é mais ainda ao descre modelo educacional servir de instru
O IPT não anali sa os resultados
do que propõe
ver os frutos do modelo que propõe,
pela simples razão de que se abstém de falar a respeito. Nada aparece que e seus valores, então não terá solução revele qual seria a nova situação dos verdadeira a situação de injustiça e de pequenos na agricultura, nem como a mento de manutenção desse sistema,
inclusive desestimulando a vida rural
exploração de trabalho da maioria" nova situação melhoraria suas con (n.° 107).
dições de vida, e tampouco qual seria o resultado econômico das modifi
cações propostas.
A. Características
do modelo proposto Das citações acima, sobressaem Para o IPT,a ter
ra não é um capi tal, é um instru mento de trabalho
principalmente as seguintes: 1) ".... valorizar, defender e pro
Em vista dessa carência do docu
mento, que em rigor de lógica o desqualificaria, acreditamos ser ne cessário apresentar brevemente quais seriam as conseqüências da implan tação do modelo proposto.
mover os regimes de propriedade
familiar, da posse, da propriedade a) O papel da agricultura tribal dos povos indígenas, da pro
priedade comunitária em que a terra é concebida como instrumento de tra balho".
2) ".... é o trabalho sobretudo que legitima a posse da terra". 3) "Essasformas de propriedade, alternativas à exploração capitalista, abrem claramente um amplo cami nho, que viabiliza o trabalho comu
no desenvolvimento econômico
Antes de estudarmos as possíveis Importância da conseqüências da implantação desse agricultura para... modelo, faremos uma breve resenha
do papel da agricultura no desenvol vimento econômico de um país como o Brasil. Papel este que um modelo
agrícola deve ter como meta facilitar e promover.
Resumidamente, o papel da agri cultura é o seguinte: 1) garantir o emprego de mão-de- ... garantir empre quada, tornando dispensável a explo obra, especialmente da não-qualifi- go equilibrado de ração do trabalho alheio". mãoHÍe-obra Desses textos, aflora com nitidez cada (fator abundante em um país em quanto a estrutura agrária proposta desenvolvimento), de forma equili pelo documento está impregnada de brada, permitindo também o forne idéias neomarxistas. A estrutura agrá cimento de trabalhadores para o setor ria ideal seria pois aquela onde hou não-agrícola na medida da expansão nitário, até em áreas extensas, e a
utilização de uma tecnologia ade
O regime de as salariado. segun do o IPT, deve ser desestimulado
E os sistemas de
produção ideais são os coletivos e
familiares
vesse a posse coletiva da terra, não deste; 2) constituir um eleniento impor houvesse assalariados, e onde a pro priedade privada fosse reduzida a tante na expansão do mercado in mera propriedade familiar. Ou seja, terno de produtos industriais e de uma estrutura agrária em que predo serviços em geral; 3)fornecer alimentos de modo tal minem sistemas de produção cole tivos ou familiares. O regime de que não se deteriorem os termos de assalariado fica limitado à "proprie intercâmbio, e ser um gerador de dade privada" (na conceituação do divisas; 324
Expandir o mer cado interno
Fornecer alimen
tos e gerar divisas
Capitulo IV
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
Ser fonte de ca pital Condição neces sária:
aumento
de produtividade e eficiência
4) ser fonte de capital para o essa pergunta supõe que se man desenvolvimento econômico em geral.
É claro que só é possível à agri cultura cumprir esse papel, de forma contínua, por meio do aumento da produção e do ingresso líquido,acom panhados um e outro de uma melho
que influem na produtividade e na
ma Agrária pro
eficiência agrícola. Trata-se, portan to, de avaliar unicamente o impacto da transformação no uso e posse da
da na produtivi dade e eficiência?
ria na produtividade e na eficiência
tornar-se-ia difícil saber se a origem
em geral. Caso não haja um aumento na produtividade, os aspectos compe titivos na contribuição da agricultura ao desenvolvimento econômico glo
de uma eventual mudança na eficiên cia e produtividade dos recursos se
bal entram em conflito.
de financiamento, assistência técnica,
Assim, por exemplo, um aumento
terra coeteris paribus. Caso contrário,
deveu à Reforma Agrária ou à apli cação de vultosos recursos em forma infra-estrutura etc.
A opinião quase unânime dos do emprego na agricultura, se fosse acompanhado por uma diminuição especialistas é que. para evitar uma na produtividade média, poderia ter queda na produtividade, ao se impor como conseqüência uma diminuição uma transformação do uso e posse da na oferta de produtos agrícolas para o
terra, é necessário que tal transfor
mercado (alimentos e gêneros expor
mação venha acompanhada de am
táveis), com a conseqüente diminui
plos programas de financiamento,
ção da capacidade de compra de formação de entidades para a comer
produtos industriais, e menor capa cialização de produtos e insumos cidade de poupança. Assim também, agrícolas, assistência técnica e exten um aumento na produção de expor
são rural etc. (1).
Portanto, é de se esperar que a táveis pode provocar uma diminuição na produção de alimentos para con Reforma Agrária, coeteris paribus, provoque uma diminuição da produ sumo interno etc. Mantendo constantes os termos ção e da produtividade na agropecuá de intercâmbio entre a agricultura e a ria, com todas as conseqüências vistas indústria, somente é possível aumen anteriormente (2). tar a renda dos que vivem no campo
por um incremento de sua eficiência. Dessa forma, a agricultura expandirá
(1) Banco Mundial, Land Reform, Sector Policy Paper, Washington, 1975.
o mercado interno e será fonte de
(2)Cline defende a tese de que um fracionamento da propriedade e uso da terra provoca
mão-de-obra e de poupança. A chave
ria, de si, uma melhora na produtividade e um
para inferir quais serão os frutos de aumento na produção agrícola (Cline, W. R., um modelo consiste pois em averiguar
qual será o seu efeito na produti vidade e na eficiência em geral.
Economic Consequences of a Land Reform in Brazil. North Holland Publishing Company, Amsterdam-London, 1970).
Entretanto, a análise empírica apresentada
padece de limitações que invalidam seriamente
Pergunta essencial
É de se esperar que uma Refor
tenham constantes os demais fatores
b) Impacto da Reforma Agrária na produtividade e eficiência agrícolas A pergunta essencial a responder, no caso concreto que estamos comen
tando, é a seguinte: que impacto teria na produtividade e eficiência da agri
suas conclusões.
O autor estimou funções de produção tipo Cobb-Douglas para 18 setores de produção,
concluindo que existiriam retornos constantes à escala; de tal forma que uma redistribuição dos tamanhos dos estabelecimentos não provo
caria uma perda de eficiência. Ora, devido às características dos dados empíricos utilizados na análise (amostra obtida por meio de crosssection de estabelecimentos de diversos tama
cultura a transformação de uma es
nhos) e a partir de pressupostos válidos no
trutura de propriedade da terra — em
caso, a função de produção estimada deve
que coexistem grandes, médias e pe
á escala. Portanto, dessa análise não se pode
quenas propriedades — em outra, na qual predominem a mera posse e a
inferir que seja essa a situação real. Em outro tópico, o autor relaciona o
propriedade comunitária e coletiva, e onde a propriedade privada fique reduzida à pequena propriedade fa
do uso de recursos, chegando à conclusão de que quanto maior for o tamanho do estabele
miliar?
Em rigor de lógica, a resposta a
necessariamente apresentar retornos constantes
tamanho do estabelecimento com a intensidade
cimento, menor será a intensidade do uso de
reèiitsos. Logo, uma Reforma Agrária provo caria uma melhora na produtividade e no nível 325
voque uma que
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Intervenção esta tal maciça
Pauperizaçõo ge neralizada
Socialização ge ral na agricultura
Título II
Caso se implante no Brasil um resultante seria uma estrutura agrária modelo agrário como o apresentado socializada, acompanhada de uma pelo IPT, duas conseqüências são de agricultura de subsistência, com que recear: da na produção e na produtividade. 1) uma intervenção estatal maciça na agricultura, para tentar evitar a c) Uma melhora ilusória queda da produtividade. Isto se faria na situação do trabalhador criando organizações de crédito, insti tuições de controle do comércio de A baixa renda dos pequenos esta A principal causa insumos e de produtos,instituições de belecimentos familiares é fruto da da baixa renda pesquisa e de assistência técnica; e se baixa produtividade da mão-de-obra do pequeno pro chegaria até à direção de fazendas e da terra nesses estabelecimentos. O dutor não está na falta da terra coletivas ou comunitárias etc.; problema deles, no que se refere à 2) ou então o surgimento de uma produção, reside na falta de capital, agricultura de subsistência, dedicada no atraso tecnológico e na carência de a produzir para consumo próprio, capacidade empresarial, mais do que com a conseqüente diminuição na na falta de terra (ver Anexo II). oferta de alimentos para a população, O bom senso indica que, antes de diminuição na produção de exportá pensar em uma reforma da estrutura veis e matérias-primas etc. Em outras da propriedade da terra, visando au palavras, uma verdadeira pauperi- mentar o número dos pequenos pro zação geral.
dutores familiares, seria necessário
É de se recear uma falta de recur sos e de organização para sustentar a estrutura artificial e gigantesca que um processo da Reforma Agrária exige. Além disso, a intervenção esta tal no processo produtivo agrícola, e na comercialização de produtos e de insumos, faz com que tendam a desa
orientar e incentivar os pequenos produtores atualmente existentes. O que pensar, por exemplo, de um
médico que, ao invés de impedir o avanço da doença, proponha como
remédio a difusão da doença pelo organismo todo, para depois iniciar o
processo de cura? É o que o IPT
parecer os incentivos de mercado na distribuição e uso de recursos. Tal
propõe para a agricultura.
Alguém poderia argumentar que a
A distribuição da
tendência conduz necessariamente a
simples distribuição de terras faz com
terra a quem não
distorções que redundam, em última que melhore a situação daqueles que análise, em uma queda de produção e não a têm. Se prescindirmos do aspec de eficiência do próprio setor agrícola. to moral, considerando apenas o eco Todas essas considerações levam a nômico,esse argumento poderia pare concluir que, caso se implantasse no cer concludente. Entretanto, na reali Brasil o modelo proposto pelo IPT,a dade, alguns fatores fazem com que essa melhora seja apenas aparente, ou de produção. Entretanto, o modelo empregado ao menos incerta. Pois o que propria (uma função logaritmica, tendo como variável mente refletiria uma mudança na dependente valor adicionado por hectare, e como variáveis independentes, tamanho de exploração e preço da terra) revela erros de
especificação que o invalidam para efeitos de predição, e tomam duvidosa a signifícância estatística de seus coeficientes. Os índices de
correlação múltipla (R') são, na maioria dos casos, baixíssimos para análises desta natureza, o que reflete ausência no modelo utilizado de
variáveis significativamente associadas ao valor adicionado por hectare. O leitor poderá encontrar uma análise mais
detalhada de algumas das conseqüências do problema aqui comentado em Pastore. A. C; Alves, E. R. A.; Rizzieri, J. A. B., A Inovação Induzida e os Limites à Modernização na Agricultura Brasileira, in Alternativas de De senvolvimento para Grupos de Baixa Renda na
situação econômica do beneficiado
seria a comparação entre o fluxo de renda líquida futura,a extrair da terra
recebida, e os salários que ele perce beria como empregado. Ora, essa diferença depende do que aconteça com a produtividade e a eficiência. A
situação atual do pequeno proprie tário pode ser um indicador do que sucederia, no caso de uma proliferação maciça de pequenos produtores (3). (3) Paiva mostra que a divisão do produto líquido do setor agrícola entre os trabalhadores — o que seria equivalente a uma divisão teórica
Agricultura Brasileira: Teoria e Metodologia. equitativa dos estabelecimentos e dos recursos EMBRAPA, CER, ESALQ, lEA, IPE, UFC, agrícolas — daria a cada trabalhador uma UFV, Purdue, 1974, vol. 2, pp. 185-240. renda inferior ao salário mínimo de São Paulo, 326
a tem não melho ra necessaria
mente a situação
do "beneficiado"
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
d) Uma observação final
Capitulo IV
Estaria, entretanto, fora dos obje tivos e da natureza deste trabalho
A propaganda re formista não di vulga os resulta dos de países que fizeram Reforma Agrária
Um fato digno de nota,é que toda detalhar todo o conjunto das medidas a propaganda que se faz para a necessárias para um adequado desen implantação da Reforma Agrária não volvimento da agricultura, do ponto dá destaque aos resultados obtidos de vista social e econômico. Há estu nos países em que ela foi implantada. dos categorizados que tratam da ma Nada mais eficiente para obter ade téria com objetividade e competência sões a um projeto do que a divulgação (4). Assim, limitamo-nos às medidas dos resultados de experiências ante essenciais.
riores. A comprovação prática da teo O pressuposto fundamental dessas ria dá enorme força à argumentação. medidas está em que a maior ou Mesmo no que se refere à litera menor pobreza existente na agricul tura econômica especializada, a po tura provém da baixa produtividade breza dos estudos sobre o assunto é rural, conseqüência direta do atraso
"Moderniza
ção" do setor agrícola
relativo do setor. Deste modo, inde tais resultados fossem satisfatórios, pendentemente da distribuição da seria natural que os infatigáveis pro- propriedade da terra, a solução do pagandistas da Reforma Agrária os problema reside em modernizar a proclamassem aos quatro ventos. agricultura (5). Fazendo notar essa pobreza de A primeira seria a eliminação, a Eliminação da dados sobre os resultados das Refor curto prazo, da penalização do setor sua penalização desnorteante... e sintomática. Pois se
mas Agrárias já implantadas, deseja mos ressaltar a necessidade de estudos
agrícola, por meio de uma mudança na política comercial e de preços. Isso
detalhados desses resultados, antes de
aumentaria a rentabilidade da ativi
se pensar em uma Reforma Agrária dade agrícola, criando condições para para o Brasil. A importância do a adoção de novas técnicas de pro assunto exige que especialistas quali dução. É provável que a melhora nos ficados façam estudos sérios e bem preços dos produtos agrícolas, espe fundamentados dessas experiências, a cialmente dos alimentos, a curto pra partir de dados estatísticos conclu zo penalize a categoria de baixa renda dentes, enriquecidos por análises do setor não-agrícola. Adequadas me comparativas com o desempenho de didas transitórias de política fiscal outras estruturas agrárias, e incluindo poderiam aliviar esse impacto. comparações com as situações ante A segunda medida essencial, a riores à reforma. médio e longo prazo, seria fazer Na ausência desses indispensáveis investimentos substanciais em pesqui estudos e dados, cumpre sublinhar o sas tecnológicas, em assistência téc que a lógica nos apresenta; ou seja, nica e em extensão rural. que a Reforma Agrária será ineficaz A pesquisa tecnológica deveria para resolver os problemas de produ deter-se mais especialmente no campo tividade e eficiência da agricultura no biológico-químico, que podem produ Brasil. zir grande impacto na produtividade por hectare, e daí um efeito significa tivo sobre a renda e o emprego nos se 2. A solução alternativa tores mais atrasados da agricultura.
que o IPT ignorou Analisado o modelo proposto pe lo IPT, apontaremos algumas medi das para aprimorar o modelo econô mico vigente.
(4) SiGAUD, Dom Geraldo de Proença; Mayer, Dom Antonio de Castro; CorrEa de
Oliveira, Plínio; Freitas, Luiz Meneionça de. Declaração do Morro Alto, São Paulo, Editora Vera Cruz, 1964.
(5) "Modernizar" não significa necessaria mente mecanizar. Significa especialmente me lhorar a capacitação da mão-de-obra e do
e apenas pouco superior ao da maioria dos
produtor, obter melhor difusão de informa
Estados do Nordeste (Paiva, R. M., Os Baixos Níveis de Renda e de Salários na Agricultura Brasileira, in Contador, C. R., Tecnologia e Desenvolvimento Agrícola, Rio de Janeiro, IPEA/INPES, 1975, p. 209).
ções, e aperfeiçoar os diversos mercados para que o produtor utilize seus recursos o mais efi
cientemente possível. Essa melhora na eficiên
cia freqüentemente não implica o emprego mais intensivo de máquinas.
327
Investimentos em
pesquisas e tec nologia
Caso se implante no Brasil um modelo agrário como o apresentado pelo documento Igreja e problemas da terra, duas conseqüências são de recear-se: 1. Uma intervenção estatal maciça na agricultura, para tentar evitar a queda da produtividade: 2. Surgimento de uma agricultura de subsistência, dedicada a produzir para consumo próprio.
Na China: Re
forma Agrária? Ou escravidão
agrária? O regi me comunista determinou o
emprego de tra balhos forçados em grande esca la a partir de 1950. Deles par ticiparam inclu sive funcionários
e professores universitários.
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
Estudos existen tes comprovam
sua eficiência
Duas
medidas
complemeniares
Capitulo IV
Numerosos estudos realizados no renda. Programas de apoio à microBrasil (6) e no Exterior (7) compro empresa urbana, desenvolvidos no vam a eficácia dessa política para Brasil, podem ser de grande valor resolver os problemas de renda e de para testar medidas análogas para o emprego na agricultura, e demons setor rural (8). tram que ela possibilita ao setor Para os casos em que o fator terra agrícola exercer um papel essencial no é uma restrição inamovível, por seu desenvolvimento geral do País. tamanho ou por sua qualidade, seria Para terminar, resta considerar conveniente elaborar planos de colo algumas medidas que complementam nização com o intuito de realocar os objetivos da linha geral acima esses pequenos proprietários em re traçada, especialmente no que diz giões mais aptas ao cultivo. respeito aos seus efeitos favoráveis Em relação à colonização agrária sobre o emprego e a renda nos seto no Brasil, a experiência revela resul res menos favorecidos.
tados contraditórios. No entantb, os
Para os setores de baixa renda, estudos disponíveis mostram que é
cujo fator limitante não está no ta manho da propriedade nem na quali
possível contornar os obstáculos que conduziram ao fracasso numerosas
dade da terra, medidas tendentes a
iniciativas, e indicam como fatores
melhorar sua acessibilidade ao mer
cado formal de capitais, junto com
essenciais de êxito a seleção e capa citação do colono, juntamente com a
uma adequada assistência técnica e
existência de vias de acesso e canais
empresarial, poderiam ser de grande de comercialização para atingir o efetividade para uma melhora em sua
mercado (9).
(6)Alguns estudos distinguem na agricultu ra dois setores: um setor exportador moderno, e um setor atrasado, que produz para o mercado interno (Barros, J, R, Mendonça de;
DLEBEROER, C. P., Economic Development,
Gramam, D. H., A Agricultura Brasileira e o Problema da Produção de Alimentos. "Pesqui
sa e Planejamento ^onômico", 8 (3): 697-726,
Nova York, McGraw-Hill, 1965, Cap. 12; JohnSON, H. G., Economic Policies Toward Less
Developed Countries, Washington, Brookings Institution, 1967; Schuh, G. E., O Desenvolvi mento da Agricultura no Brasil. Rio de Janei ro, APEC, 1976; Araújo, P. F. Cidade de;
Rio de Janeiro, dezembro 1978), O setor exportador, apesar de prejudicado pela política de comércio exterior, viu-se favo recido pelos preços da conjuntura internacio
Schuh, G. E. (coord.). Desenvolvimento na
nal. Isso incentivou uma melhora na produtivi
os efeitos favoráveis da eliminação da proteção negativa dos produtos agrícolas(Valdés, E. A.,
dade, e favoreceu a dinamização do setor. O setor produtor de alimentos, ao contrá
rio, está sujeito a uma política que o penaliza
Agricultura: Educação, Pesquisa e Assistência Técnica. São Paulo, Pioneira, 1975). Outros estudos têm medido especificamente Trade Policy and Its ^fect on the Elxíernal Agricullural Trade of Chile 1945-1965. "Ame-
duplamente: tabelamento dos preços de seus
rican Journal of Agricultural Economics", 55
produtos, e preços relativos altos de insumos essenciais. Como conseqüência, temos um setor
(2): 154-164, maio 1973).
atrasado, com um mínimo de absorção de novas
(8) Valiosas experiências sobre a a.ssistên-
tecnologias. Além disso, produtos atualmente não-cx-
cia à microempresa urbana estão em curso no
portáveis poderiam vir a constituir-se em im portantes fontes de renda para a agricultura, e
tados cm diversos países. Sobre o assunto, ver, por exemplo: Fuenzalida, L. A., Criação Mais
Brasil, baseadas em trabalhos análogos execu
de divisas para o Pais, caso fosse adotada uma
Rápida de Emprego e Renda Mediante a
política econômica na linha dos comentários aqui apresentados(Thompson. L.; Schuh, G. E.,
Expansão e Modernização de Microempresas. "Revista Econômica do Nordeste", 7 (2): 253-
Política Comercial e Exportações: o Caso do Milho no Brasil. "Pesquisa e Planejamento Econômico", 8 (3): 663-693, dezembro 1978).
(CE), abril/junho 1976; Watanabe, S., Reflec-
(7) A importância da agricultura, como
283, Banco do Nordeste do Brasil, Fortaleza tions on Current Policiesfor Promoting Small Enterprises and Subconiracting. "Intemational Labour Review", 110 (5): 405-422, Genebra
um setor dinâmico nos países em vias de desenvolvimento, tem sido amplamente tratada
(Suíça), novembro 1974; Barros, F. J. O. Ro-
em numerosos estudos.
Médias Indústrias: Anáilise dos Problemas, In
Uma política comercial não prejudicial para a agricultura, uma melhora em sua eficiência
centivos e sua Contribuição ao Desenvolvimen
com a adoção de novas técnicas, especialmente aquelas não poupadoras de mão-de-obra,
BALiNHO de; Modenesi, R. L., Pequcnos e
to, Relatório de Pesquisa N.° 17, IPEA/ INPES, Rio de Janeiro, 1973, 192 pp.
investimentos em pesquisas tecnológicas, pro gramas educacionais e de extensão rural etc.,
(9) Tavares, V. P. et alii. Colonização Dirigida no Brasil, IPEA/INPES, Rio de
são medidas amplamente recomendadas (Kin-
Janeiro, 1979.
329
A política de co lonização agrária
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Título II
Há, naturalmente, problemas de menos de não prejudicar, as formas custo de tal política, os quais devem de trabalho que estabelecem uma
ser tomados em consideração para ligação mais estreita entre o traba estabelecer as devidas prioridades. lhador e o proprietário da terra. A Segundo o estudo anteriormente ci maior difusão da parceria e do colotado, os projetos que foram bem nato seria uma forma de diminuir o dirigidos alcançaram o seu autofi- número dos trabalhadores volantes nanciamento.
na agricultura. Iria nesta mesma linha
Em relação à mão-de-obra empre gada na agricultura, os problemas de ordem sócio-econômica parecem con centrar-se especialmente no traba lhador volante, ou "bóia-fria". Seria adequada uma revisão da legis lação trabalhista atualmente vigente,
o fomento de atividades não-agrícolas no setor rural, por meio do comércio e indústria de pequeno porte (10).
com o intuito de favorecer, ou ao
330
(10) Anderson, d.; Leiserson, M. W., Rural Nonfarm Employment in Developing Countries, In Economic Development and Cultural Change, 28 (2); 227-248, The University of Chicago Press, janeiro 1980.
Sumário e conclusão
ção" do lavrador, isto é, do pequeno
produtor proprietário, do pequeno
I. Objetivo e método do presente trabalho
produtor não-proprietário e do assa lariado.
2) Esse "estrangulamento" tem sua
origem na própria natureza do sis Análise econômi
ca do IPT
Nosso trabalho teve por objetivo tema econômico vigente, o capita essencial comentar, do ponto de vista lismo. Está na essência do sistema a econômico, o documento elaborado exploração do trabalhador, que é pela CNBB sobre os problemas da "expropriado" de parte significativa
...
que tem sua
origem no capita lismo
terra. Para facilidade de exposição, do fruto do seu trabalho, pelo pro agrupamos os assuntos contidos no cesso de acumulação de capital neces documento em três tópicos: sário ao crescimento econômico capi — os problemas econômicos da talista. agricultura; 3) Logo, a solução para acabar — suas causas;
com esse "estrangulamento" está na
— a solução proposta.
mudança radical do sistema econô
Solução: Refor ma
Agrária...
Para melhor compreensão da dou mico vigente no País, mediante uma trina econômica subjacente no do profunda Reforma Agrária, que cumento, apresentamos uma descri transforme a estrutura da proprie ção sumária das principais correntes dade da terra. de pensamento econômico aplicáveis
aos países em vias de desenvolvi mento, enfatizando os aspectos rela cionados com a agricultura.
2. O lavrador brasi
leiro sofre um "es trangulamento"...
i. Uma opção mal fundamentada Pela própria natureza do tema, o
Tese central do IPT
IPT trata largamente de aspectos de ordem estritamente econômica, que
A tese central do IPT pode ser
escapam à autoridade dos Srs. Bispos.
sintetizada nos seguintes termos:
Seria então de esperar que, ao tratar
1) Na economia brasileira, em
desses aspectos, o IPT fizesse referên geral, e mais especialmente na agricul cia às opiniões das diversas correntes tura, existe um "estrangulamento", de pensamento econômico relacio uma "exploração", uma "expropria- nadas com o tema. 331
Faltam dados
referências
r
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Título II
Em rigor de lógica, sendo muitos expulsa, mas por encontrar melhores oportunidades em outras regiões;
dos assuntos, por natureza, sujeitos a diversidade de opiniões, o documento
— a migração, em si, não é um
deveria limitar-se à mera descrição
mal. Pelo contrário, é um fenômeno
das diversas opiniões. Caso optasse
necessário ao desenvolvimento econô
por alguma, deveria dar as razões de
mico do País;
tal escolha.
Infelizmente, não encontramos no
documento nada que esclareça esses
— boa parte dos migrantes progri de nos locais de destino.
— Transformação de lavradores
pontos. Como fica demonstrado ao em "bóias-frias", vivendo em condi longo de nossos comentários, ora
ções miseráveis.
mais ora menos claramente ele consi
Faltam estudos que permitam avaliar corretamente a situação dessa
dera a questão exclusivamente a par tir da visualização econômica neomarxista e da estruturalista, igno rando outras opiniões. Além do mais, não demonstra porque sua visuali zação seria a correta, e não mostra em
que as outras seriam condenáveis.
"Bóias-frias":
quadro exagera do
e
unilateral
categoria de trabalhadores rurais. É inegável a situação precária e difícil de muitos deles. Mas alguns autores mostram que tal situação varia muito nas diversas regiões, e que grande número desses trabalhadores volantes
goza de estabilidade e segurança no trabalho.
4, Afirmações inexatas e imprecisões do IPT A, Os problemas econômicos da agricultura
— Condições de vida paupérrimas de parceiros e arrendatários. O IPT não faz referência a ne
nhum estudo, nem apresenta números para provar essa afirmação. Os dados
disponíveis são limitados para permi tir avaliar corretamente a situação
dessa categoria. É entretanto sabido que, dependendo da região, muitos se
Difusão da pro priedade
a) O IPT afirma que a terra está encontram em boa situação, embora cada vez mais inacessível aos lavrado
existam bolsões importantes de po
res. Mostramos que o índice utilizado
breza.
pelo documento não é adequado para medir a acessibilidade à propriedade
c) O documento não contém ne
nhuma referência a aspectos positivos
da terra. Pelo contrário, verificamos
Aumento na área
dos
estabeleci
mentos
no panorama agrícola do Brasil. Por que a terra está difundida no Brasil, exemplo, não menciona o aumento segundo certos padrões internacionais do salário real ocorrido na agricul para países em vias de desenvolvi tura; nem o aumento na produção mento. agrícola, que foi superior ao cres b) O "estrangulamento" Ú2i peque cimento populacional; tampouco o na agricultura se veria refletido em: papel essencial da agricultura no for — Diminuição do número e da necimento de divisas e matérias-pri área dos pequenos estabelecimentos. mas ao País. Em resumo, o IPT apre Ora, os dados disponíveis mos senta um diagnóstico exagerado, uni tram que houve um aumento substan lateral e, na maioria dos casos, sem
cial tanto no número quanto na área fundamento em dados ou estudos de dos estabelecimentos, embora a taxa
referência.
de aumento tenha decrescido no pe ríodo 1970/1975. Migração não é fator de miséria, mas de progresso
— Migração de milhões de peque nos agricultores e lavradores, expul
B. Causas dos problemas na agricultura
sos da terra onde trabalhavam. A
migração seria causa de miséria e
penúria. Na realidade, os dados e estudos
disponíveis sobre o fenômeno de
1)A concentração da propriedade
Concentração da
da terra seria causa da miséria da
terra não é causa
maioria.
Provamos que nada indica que monstram que: essa concentração está relacionada — a maioria migra não porque é com os bolsões de pobreza existentes
332
de miséria
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
Sumário e Conclusão
na agricultura. Verificamos que a Com o objetivo de mostrar a atual distribuição da terra está de possibilidade de uma solução alterna acordo com a condição histórica em tiva, descrevemos os pontos essen que se deu a colonização do Brasil. ciais de uma política econômica que, 2) Os grandes proprietários explo respeitando a atual estrutura econô rariam mal a terra, impedindo a mui mica, produza uma melhora substan tos o acesso a ela.
O documento não apresenta qual
cial da renda e do emprego na agri cultura. Tal solução baseia-se em uma
quer prova que fundamente sua acu reformulação da política comercial e sação. Os dados e estudos disponí de preços — tendente a acabar com a veis não confirmam o que se diz no penalização do setor agrícola —,e na documento. destinação de recursos significativos 3) O mecanismo dos preços dos para pesquisa tecnológica, assistência alimentos teria um 'caráter perverso, técnica e extensão agrícola. Todas que prejudicaria a pequena agricul essas medidas estão fundamentadas tura em beneficio do grande capital. na opinião de especialistas de reco Verificamos que esse mecanismo é nhecida autoridade.
fruto de uma política comercial erra
da, que penalizou não só o pequeno agricultor mas todo o setor agrícola. Além disso fizemos notar que, em 5. conseqüência, não se trata de um
problema inerente ao sistema econô mico vigente. Modelo econômi
co e política eco nômica
Visão sintética das
teses defendidas no presente estudo
4) O modelo econômico atual é a causa principal dos problemas econô Depois de ver as teses do IPT micos não só da agricultura, mas da sobre os problemas da agricultura no Nação em geral. Brasil e os principais reparos que do O documento não dá qualquer ponto de vista econômico a elas prova de porque e como isso ocorre fizemos, apresentamos, de modo sin
ria. Citamos conhecidos estudos que tético, nossa própria posição em rela acusam como responsável por esses ção aos mesmos problemas: problemas a política econômica segui 1) Os dados disponíveis não per da. Apontamos a coincidência, neste mitem afirmar que na economia em ponto, entre a visualização neomar-
geral, e na a^cultura em particular,
xista e a apresentada no documento. existe uma situação generalizada de exploração do trabalho.
C Solução para os problemas da agricultura Reforma Agrá ria: falsas pre missas e falsa solução
Segundo o IPT, caberia uma úni
As análises da distribuição da renda demonstram que esta aumen tou sua concentração, mas não no
sentido de que os ricos ficaram mais
ricos e os pobres mais pobres, mas no
ca solução, sem a qual nenhuma sentido de que "todos ganharam,
medida seria eficaz; a mudança pro
porém uns mais do que outros".
funda do atual sistema econômico- Houve portanto uma redução da po
social, e em especial da estrutura da breza. propriedade rural, mediante uma ra Concomitantemente, a estrutura dical Reforma Agrária. social brasileira sofreu profunda mo Mostramos como, a partir das dificado, como conseqüência da alta
premissas que fundamentam o diag
mobilidade social revelada por apro
nóstico do IPT, chega-se forçosa
fundados estudos sobre a matéria.
mente à necessidade de uma Reforma Sendo a agropecuária e a mão-deAgrária. Sendo falsas essas premissas, obra não-qualificada, cada qual em como ficou provado com base em seu sentido próprio, a atividade e a dados e estudos de conhecidos espe categoria de menor renda, é expli cialistas, não só a Reforma Agrária cável que nelas se encontrem bolsões
não representa uma solução, mas sua de pobreza.
aplicação provocaria problemas ain da muito mais graves.
2) Os bolsões de pobreza não têm sua origem na estrutura agrária vi333
Solução
verda
deira: reformula ção da política econômica
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo II
gente, nem no modelo econômico exorbitante (no sentido etimológico atual, mas em erros na política eco da palavra; isto é, sai fora da órbita nômica. Esses erros provêm de uma própria), pela natureza mesma do concepção dirigista da economia, que tema, e improcedente^ pelos defeitos pretendeu induzir um crescimento da análise apresentada. Significa isso que os assuntos econômicos não de econômico divorciado da realida de, provocando distorções e inefi vem entrar no âmbito das conside rações dos Srs. Bispos? De modo ciência. 3)Por conseguinte,a solução para algum. Mas devem entrar na ordem e a melhora da distribuição da renda e, no lugar próprios. A forma mais alta e mais nobre de na medida do possível, a eliminação da pobreza, não está na reforma das promover uma ordem sócio-econôestruturas, mas na reformulação da mica justa e de acordo com a Dou política econômica, que deve tender trina Católica, é a influência na escala para uma redução do dirigismo e da de valores da sociedade. E isto se faz intervenção governamental na econo
através da mudança das mentalida-
mia, permitindo que esta se oriente des. Desta maneira (utilizando uma mais de acordo com as condições do linguagem econômica), os "gostos e mercado. Devido às características dos recursos naturais do Brasil e de
preferências" da sociedade mudariam, a tecnologia e o processo de inovação tecnológica tomariam outros rumos,
seu capital humano, essa política ten derá a produzir aumento da renda e dando como resultado, de acordo do emprego, e a beneficiar os setores com as características dos recursos atualmente menos favorecidos.
naturais do País, uma ordem sócioeconômica diferente.
Para isso não só não é necessário
eliminar o sistema de mercado, su
6. Consideração final
primir a propriedade privada e a livre iniciativa, mas, pelo contrário, é in Não podemos dar por concluída dispensável defender e promover uma nossa análise dos aspectos econô e outra, pois constituem a garantia de micos do documento Igreja e pro que os desejos e preferências da socie blemas da terra, sem antes fazer, dade se realizem com a maior ampli
ainda que de passagem, uma conside
tude; e, na medida em que sejam
ração final. Como já dissemos na introdução, nosso trabalho se limitou aos aspec tos econômicos do problema da re forma agrária. Evidentemente, estes não são os aspectos mais importantes
conformes com os desígnios da Pro vidência, a sociedade poderá chegar a uma largueza de bens, e, em especial, a um brilho e esplendor difíceis de
nem os mais relevantes no assunto.
imaginar.
Esta forma de considerar os pro blemas econômicos não é o que se vê
Muito acima deles estão os aspectos no IPT. O que se observa, pelo morais e filosóficos, que envolvem contrário, é um fundamental erro de
toda uma concepção do mundo e do alvo: o IPT inculpa um sistema eco nômico em si legítimo, e ignora os universo. Sobre a relação íntima entre os vícios morais da sociedade contempo aspectos morais e econômicos, múlti rânea, que levam a produzir na ordem
plas considerações poderiam ser fei
social e econômica frutos muitas ve
tas, mas foge ao objetivo do nosso trabalho analisar com amplitude esse tema. É suficiente ressaltar aqui o seguinte: Na introdução qualificamos a in tervenção da CNBB nos problemas econômicos da Reforma Agrária de
zes podres e maléficos.
334
Em outras palavras, no IPT apa rece uma profunda e grave ambigüi dade, que conduz a uma tomada de posição em sintonia com a visuali zação neomarxista dos problemas econômico-sociais do Brasil.
DECLARAÇAO DO MORRO ALTO PONTOS ESSENCIAIS
DE UM PROGRAMA POSITIVO
DE POLÍTICA AGRÁRIA Síntese do programa de política agrária de
acordo com os princípios de Reforma Agrária — Questão de Consciência, publicado em 1964 sob o título Declaração do Morro Alto:
1. Difusão do regime de cooperativas, evitandose no entanto a hipertrofia e o exclusivismo cooperativista.
2. Política de preços mínimos, como meio de regular o mercado, diminuindo o risco e a incerteza
próprios à atividade agrícola.
É necessário evitar, entretanto, os perigos de uma intervenção excessiva do Estado, o qual poderia chegar a exercer um papel tutelar, em vez do de mero regulador.
3. Fomento da industrialização dos produtos agropecuários no próprio campo, como meio de melhorar a situação econômica, tanto do lavrador
como do produtor agropecuário. 4. Construção de uma ampla rede de armazéns, silos e instalações complementares, como meio de regular o mercado agropecuário.
A obra foi lançada á venda em livrarias e nas ruas centrais
bahiaS das principais cidades do País. Exposição de lançamento em Salvador (esquerda) c flagrante da campanha em —
**
São Paulo.
5. Política de créditos condizente com a própria natureza da atividade agrícola. São recomendáveis
medidas para tornar acessível o crédito aos pequenos produtores, tanto proprietários como arrendatários e parceiros.
6. Desenvolvimento da indústria nacional de fertilizantes e inseticidas, de maneira a baratear seu
produto, permitindo ganhos significativos tanto na renda do produtor, como no ingresso real do consumidor das cidades.
I. Estímulos para a racionalização da indústria
empregados, os quais carecem de uma sene de
de maquinaria agrícola, de maneira a torná-la mais serviços de tipo social, pelo fato de viverem no campo. Daí o dever do proprietário de cuidar acessível aos lavradores. 8. Desenvolvimento de um adequado sistema de seguro agrícola.
adequadamente das condições de habitação e saúde e, de modo especial, da formação espiritual dos seus
9. Evitar uma política de preços à revelia do empregados. mercado, como tabelamentos, importações intempes tivas etc. O barateamento do custo de vida deve ser
procurado mediante oferta abundante e regular de gêneros à população, e não criando artificialismos que tendem a conferir excessiva rigidez à economia do mercado.
Or^
10. Adequados programas de colonização e zoneamento agrícola, de maneira a incentivar a inicia tiva privada em tais empreendimentos. II. Evitar imediatismo nas medidas de caráter
financeiro e cambial, que com freqüência aumentam os riscos e incertezas dos produtores rurais.
12. Cumpre ao Estado reprimir eventuais abusos da iniciativa particular. Deve fazê-lo com o intuito não de estrangulá-la, mas de favorecer sua sobre vivência e difusão.
13. A melhora do salário real só pode provir de uma melhora da produtividade do setor agrícola,
fruto de uma política agrícola condizente com as linhas básicas aqui traçadas.
A Declaração do Morro Alto aponta ainda a responsabilidade do proprietário rural pelos seus
... ^
Em Fortaleza, o •• •
público mostrou muito interesse
pela "Declara ção do Morro
Alto", que tam
bém foi posta à venda em livra
ria (acima).
Anexo I
o migrante no destino, êxito ou fracasso?
Numerosos estudos têm tratado
lação natural na maioria das cidades"
do problema da migração no Brasil. (p. 20). Para efeitos de nosso trabalho de
avaliar a situação do migrante, em
2) Categoria ocupacional (2): "O tempo de residência é uma variável
pregamos três estudos, os quais se
crucial, tendo-se observado uma me
baseiam em fontes de informação diferentes. O trabalho de George
populacional de 1970; o de José
lhoria progressiva e significativa na hierarquia ocupacional, com a per manência em praticamente todas as regiões metropolitanas" (p. 54). 3) Localização (refere-se a "nú
Pastore, as informações do Programa
cleo" e "periferia" dentro da região
Nacional de Amostras de Domicílio; e
metropolitana): "Os naturais residem proporcionalmente menos na peri
Martine e José Carlos P. Peliano utiliza os dados do último Censo
o de Virgilio H. S. Gibbon, as decla rações do Imposto de Renda.
feria que os migrantes; para estes, no
entanto, verifica-se uma razão direta entre tempo e local de residência na metrópole. Dada a relativa vantagem
Martínec Peliano (1) analisam a evolução do migrante levando em sócio-econômica do núcleo, a maior conta vários fatores: concentração de migrantes na peri 1) Educação; "É interessante ob feria reforçaria e explicaria, princi servar que o nível educacional dos palmente para os recentes, sua des migrantes melhora sensivelmente com vantagem ocupacionalface aos natu o tempo de residência em todas as rais" (p. 63).
regiões metropolitanas, à exceção de 4) Renda: "De um modo geral, Recife e Belém. Assim, pode-se ver poder-se-á afirmar, segundo os dados que, embora os migrantes recentes
que na população economica
apresentem um perfil educacional ni
mente ativa masculina os migrantes se
tidamente desfavorável, os migrantes
apresentam em condições ligeiramen te maisfavoráveis que os naturais
mais antigos se equiparam e mesmo
superam o nível educacional da popu- &itre as mulheres, a situação é mais uma vez invertida, visto que a popu(1) Martine, G.; Peliano, J. C. ?., Migran tes no Mercado de Trabalho Metropolitano,
(2) Os autores distinguem 5 estratos oçupa-
Série Estudos para o Planejameato N." 19,
cionais, os quais, por sua vez, abrangem 28
Brasília, IPEA, 1978.
categorias ocupacionais diferentes (p. 191). 337
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Título II
laçõo migrante predomina nasfaixas sistematicamente preponderam no de renda mais baixa" (p. 66). Estudando a renda segundo a
grupo. Por outro lado, é interessante
origem do migrante (lugar e proce
uma vez o padrão citado em todos os capítulos anteriores, a permanência dos migrantes, tanto homens como
observar que, corroborando
mais
dência), verifícam-se diferenças signi ficativas. Em geral, os grandes grupos migratórios provenientes do Nordeste estão em situação de inferioridade em relação ao natural do lugar. Apesar disso, é significativa a melhora na sua
pação da pobreza urbana nas ativida
situação, quanto maior é o tempo de
des totais" (p. 126).
residência no lugar de destino:
mulheres, nos mercados de trabalho
metropolitanos, geralmente implica uma redução substancial da partici
Todas essas considerações nos le
"De modo geral, poder-se-á dizer vam a concluir que o processo migra que os nordestinos em SÕo Paulo e tório representa, em muitos casos,
Rio de Janeiro estão desproporcio- uma fonte de progresso para os estra
nalmente concentrados nas duas fai xas intermediárias de renda, isto é, CrS 101-200 e Cr$ 201-500 (dados de 1970). Isto eqüivale a dizer que os nor destinos, nas duas metrópoles nacio nais, servem para preencher as necessi
tos populacionais menos favorecidos e para o País em geral (4). Entretanto, os autores levantam
uma objeção metodológica, que se gundo eles limita as conclusões acima
apresentadas. A limitação provém da
dades de mão-de-obra não-qualificada própria natureza dos dados censitáe semi-qualificada, cujos rendimen rios, segundo a qual, em principio, a tos
se
situam
em
torno, ou um
melhora detectada nos migrantes po
pouco mais acima, do salário mínimo. de dever-se tanto a uma melhora
Vale observar, porém, que a situação efetiva como a um processo de repul desses grupos em São Paulo e Rio de sa dos elementos menos aptos, obri Janeiro tende a melhorar sistematica gados a reemigrar depois de uma mente à medida que aumenta o tempo permanência relativamente curta. de residência daqueles que se mantêm Os dados do censo referem-se a na população economicamente ativa, "estoques líquidos" de migrantes, isto é, observa-se um esvaziamento de
Quer dizer, referem-se aos "sobrevi
participação nafaixa de CrS 101-200,
ventes"àos riscos de mortalidade e re-
que inclui a metade dos migrantes emigração. recentes, afavor de maior concentra Não existindo dados para medir ção nas duasfaixas de renda imedia tamente superiores" (p. 83).
diretamente a amplitude dessa "sobre vivência". os autores utilizam os mes
Finalmente, qual a importância mos dados censitários por um método do migrante na constituição da po indireto. Supondo uma taxa constan breza urbana? (3) Citamos o estudo
te de migração, os "sobreviventes"
mencionado:
foram estimados através do número
"Os dados apresentados .... ten médio anual de migrantes que decla dem a sugerir que. pelo menos na raram haver chegado nos períodos população economicamente ativa 1959-1964 e 1964-1967, reajustando masculina, a participação relativa nos aquela média pela taxa de crescimengrupos de pobreza urbana não varia sistematicamente entre migrantes e (4) Sendo inegável esta afirmação, entre tanto é preciso fazer algumas ponderações. Sc é
naturais: em sete regiões metropoli tanas as diferenças são mínimas, en quanto que Belém e Fortaleza apre
para as grandes cidades, é notória a falta de
sentam padrões contraditórios de di ferenciação porstatus migratório. En
recursos destas para poder absorver grandes contingentes de mão-de-obra não-qualifícada,
tre as mulheres, porém, as migrantes
bem certo que muitos progridem ao migrar
tornando precária a situação de muitos deles.
Isto não significa condenar o processo migra tório como tal, mas implica em não o favorecer.
(3) O estudo que comentamos define pobre
É reconhecido que a rápida industrialização
za urbana como a situação daquele setor da
feita através da política econômica descrita
população economicamente ativa cujo limite
neste trabalho (ver Cap. II, 2) exacerbou este
superior de renda coincide, grosso modo. com
processo. Tal desequilíbrio será corrigido à
o valor do salário mínimo vigente nas regiões metropolitanas consideradas.
338
medida que a política prejudicial à agricultura for sendo eliminada.
Posso € devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
to populacional. A migração bruta foi
Anexo I
B
estimada pelo número médio anual de migrantes que declararam haver che
J. Pastore(5)analisa a mobilidade
gado no período 1967-1970, mais
social baseado em uma amostra do
PNAD/73 (Programa Nacional de O quociente entre aquelas duas Amostras de Domicílio de 1973) de cifras corresponde à porcentagem de chefes de família do sexo masculino, recente.
"sobrevivência", ou taxa de retenção. com idade entre 20 a 64 anos.
Para os migrantes chegados entre
Seu estudo prova a existência de
setembro de 1964 e setembro de 1967, uma significativa mobilidade, tanto
a taxa de retenção foi igual a 66%, e intergeracional (comparando a situa para os migrantes chegados entre os ção dos pais com a dos filhos) como anos de 1959 e 1964, foi de 55%. intrageracional(mudança da situação
Estaria fora dos objetivos deste do próprio indivíduo). trabalho discutir com detalhes a exa
tidão dessas estimativas. Pela própria qualidade dos dados com base nos quais foram calculadas, é claro que são cifras aproximadas, o que, aliás, os próprios autores reconhecem. Cabe aqui um comentário de or
O autor classifica os indivíduos
em 6 categorias: Baixa m/cnor.-lavra dores, seringueiros, pescadores; Baixa superior: trabalhadores braçais urba nos, engraxates, entregadores, faxi neiros; Médio inferior: eletricistas,
pedreiros, motoristas, barbeiros, en
dem geral, sobre a relação que os canadores, tapeceiros, carpinteiros;
Médio médio: desenhistas, músicos, autores fazem entre a taxa de reten ção assim estimada e as hipóteses locutores, compradores, mestres de sobre a existência de subemprego ou obras, pequenos proprietários, auxiexcedente de mão-de-obra. Segundo liares de escritório; Médio superior: eles, os valores encontrados tende agentes fiscais, corretores, adminis riam a confirmar aquelas hipóteses. tradores de serviços públicos, pro É claro que parte da melhora prietários de porte médio, represen detectada nos grupos migrantes com tantes comerciais; Alta: industriais, maior tempo de residência no destino, alta administração bancária, médicos, deve-se ao processo de seleção e de advogados, engenheiros, grandes fa eliminação dos menos aptos. Mas isso zendeiros. não significa que necessariamente to Não pretendemos fazer uma aná dos os eliminados são inadaptáveis, lise detalhada do estudo que aqui pois possivelmente alguns precisarão comentamos. Basta-nos ressaltar al de mais de uma tentativa para come guns aspectos que interessam para os çar a progredir. Alguns que aparecem objetivos do nosso trabalho. como eliminados, de fato mudam ou a) Mobilidade intergeracional reemigram, porque encontram opor Em primeiro lugar, dos chefes de tunidades ainda maiores em outro família considerados na amostra, lugar. 47,1% estavam em posição mais alta Portanto, sem conhecer qual é a que seus pais, em 1973; 41,6% perma porcentagem de eliminação que se neciam como seus pais, e 11,3% em pode esperar em um processo migra posição inferior (p. 109). Dos que se moveram, 80,6% subi tório "normal", para poder comparálo com a porcentagem atual estimada, ram e 19,4% desceram (p. 110). é difícil deduzir qualquer hipótese Em segundo lugar, a mobilidade é sobre a amplitude e a importância da tanto maior quanto menor é o estrato social (ver quadro 18). mão-de-obra de fato excedente. Têm seus filhos em posições me Estas ponderações,e mais a preca riedade dos próprios dados utilizados, lhores: 55% dos chefes de família do tornam duvidosa a hipótese levantada
estrato baixo-inferior, e 66,7% do
pelos autores acima referidos. Isto baixo-superior. não quer dizer que não existam situa Devido à mudança no mercado de ções de subemprego e desigualdades trabalho, e à definição empregada de de renda,fruto de desajustes favoreci dos pela política econômica várias (5) Pastore, J., Desigualdade e Mobilidade vezes caracterizada
neste trabalho.
Social no Brasil. São Paulo. EDUSP, 1979.
339
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Título //
estrato social, é natural esperar uma
significativamente altos para ditas ca
alta mobilidade do estrato baixo-infe-
tegorias.
rior. Mas a alta mobilidade do estralo
c) Evolução da estrutura social
baixo-superior, e a dos estratos mé
Essa alta mobilidade social verti
dios, revelam importante dinamiza- cal resulta necessariamente em uma ção da sociedade. mudança da estrutura social, ou seja, b) Mobilidade intrageracional em uma mudança das proporções em A mobilidade intrageracional foi que os indivíduos se distribuem entre
tâo elevada quanto a intergeracional. os diversos estratos sociais. Dos chefes de família estudados, Os dados empíricos foram obtidos 54,2% ascenderam de posição, 41,9% de tal forma que a época referente à se mantiveram imóveis, e 3,9% des situação dos pais coincide com a dos ceram (p. 134). Dos que se moveram, filhos no primeiro emprego (p. 129). 93,4% ascenderam, e 6,6% desceram. Portanto, a comparação da estrutura O fenômeno já descrito das dife social dos pais com a dos filhos, em renças de mobilidade entre os diver
1973, é um indicador da evolução da
sos estratos sociais se repete neste
estrutura social.
caso (ver quadro 19).
A
Dos chefes de família do estrato
classe "baixa" representava
baixo-inferior, 52,6% haviam ascen
71,8% dos chefçs de família na época dos pais, reduzindo-se para 46,7% em
dido de posição em 1973,com relação ao primeiro emprego; do estrato bai
1973. Por sua vez, a classe "média" na
tagem da ascensão diminui, manten
estrato, naturalmente com exceção do
do-se, de qualquer modo, em valores
baixo inferior. As cifras revelam uma
época dos pais correspondia a 26,2% xo-superior, dita proporção se eleva a do total, aumentando para 49,9% em 71,6%. 1973 (ver quadro 20). Já nos estratos médios, a porcen Esse fenômeno se repete em cada
QUADRO 18. — Mobilidade intergeracional por estratos sociais (em %) Tipo de mobilidade
Médio
Médio
Médio
superior
médio
inferior superior inferior
22,9
34,1
36,2
70,2
15,2 28,7 56,1
40,9
100,0
100,0
100,0
46,3 19,6 100,0
Alto
Ascendente Imobilidade Descendente Total
29,8
Baixo
66.7 23.8 9,5 100,0
Baixo Total
55,1
47,1
44,9
41,6
100,0
100,0
11,3
Fonte: Pastore, J., op. cit.
QUADRO 19. — Mobilidade intrageracional por estratos sociais (em Ç?i) Tipo de mobilidade
Alto
Ascendente
Imobilidade Descendente Total
72,7
Médio
Médio
Médio
superior
médio
inferior
Babto
superior inferior
24,9
41,5
27.2
71,6
47,2
59,5
22,0
52,6 47,4
13.3 100,0
6,4 100,0
100,0
27,3
27,9
45,0 13,5
100,0
100,0
100,0
Fonte: Pastore, J., op. cit. 340
Baixo
Total
54,2 41,9 3,9 100,0
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
Anexo /
mudança significativa na estrutura
qual a migração constitui um fator de
social do País.
deterioração das cidades, dos cida
dãos e dos próprios migrantes. Os O autor analisa a relação entre a resultados aqui encontrados vêm jun migração e a mobilidade social. O tar-se aos dados de vários estudos que resultado de sua análise pode ser mostram ser a migração um elemento
d) Migração e mobilidade social
de promoção tanto dos migrantes
sintetizado no quadro 21.
A mobilidade social do migrante é como dos naturais e que opera como significativamente maior que a do equalizador da estrutura social"(p. natural, tanto a intrageracional quan 184). O autor observa, no final de seu to a intergeracional. Isto revela o impacto positivo que trabalho, que este aspecto positivo da
a migração tem na melhora social. mobilidade social não deve conduzir à Para terminar, citainos textualmente
conclusão de que não existem pro
o autor:
blemas sociais. A mobilidade social
"O padrão geral de migração e vertical "positiva" indica uma me mobilidade no Brasil coloca em 'xe lhora em relação ao passado, porém que' a concepção popular segundo a não conduz necessariamente à con-
QUADRO 20. — Evolução da estrutura social (em %)
Situação dos pais
Estratos sociais
Situação dos filhos
1.° emprego
em 1973
6,5
13,8
0,6 0,7 6,9
9.3 6,9
7,3 25,2
64,9
59,8
30,0
100,0
100,0
100,0
2,0 3,1
Alto
Médio superior Médio médio Médio inferior
Baixo superior Baixo inferior Total
Fonte: Pastore, J., op. cit., p. 131, tabela
3,4 18,7
24,7 16,7
7.2.
QUADRO 21. — Tipos de mobilidade intergeracional
e
intrageracional (em %)
Mobilidade intergeracional
Mobilidade total Mobilidade ascendente
Mobilidade descendente
% ascendente
Mobilidade
intrageracional
Naturais
Migrantes
Naturais
Migrantes
52,8 41,6 11,2
68,0
53,6
65,4
56,5 11,6
49,7
61,6
4,0
78,7
92,5 7,5
3,8 94,2 5,8
46,3
34,6
% descendente
21,3
83,0 17,0
Imobilidade
47,2
31,9
Fonte: Pastore, J., op. cit., p. 182-184, tabelas 9.12 e 9.14 (tabela própria). 341
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo II
clusâo de que a situação presente é 2.627.183 para 1975) em categorias carente de pobreza.
de níveis de renda.
No quadro 22 aparecem as di versas categorias de renda e os prin cipais resultados. Gibbon (6) analisa o mesmo pro Nas colunas (1), (2) e (3) apare blema, baseado nas declarações do cem os índices de procedência dos Imposto de Renda das pessoas físicas, indivíduos de cada nível de renda no entre os anos 1970-1975. ano de 1975. Verificamos que, em Para tal efeito, o autor agrupa a todas as categorias, mais de 50% dos amostra dos declarantes(composta de indivíduos procediam de uma classe 2.189.801 indivíduos para 1970 e inferior de renda (PI); o máximo de
21% dos indivíduos procediam de (6) Gibbon, V. H. S., Distribuição de Renda
uma classe superior (PS); e (deixan
e Mobilidade Social: a Experiência Brasileira, "Revista Brasileira de Economia", 33 (3): 325-
do de lado a faixa de renda 8) um máximo de 30% permaneceu estável
372, FGV.julho/setembro 1979, pp. 328 e 365.
(PE).
QUADRO 22. — índices de procedência por faixa de renda
Classes
Faixa de renda anual (1975)
1
26.000 -
2
38.523 - 57.083
3
57.083 -
4
84.584 - 125.335
5
125.335 - 185.719
38.523
84.584
6
185.719 - 275.195
7
275.195 - 407.777
8
407.777 - 604.236
Procedência
(1) PE
(2) PS
(3) PI
0,30 0,30 0,29 0,30 0,28 0.26
0,21 0,17 0,15
0,50
0,23 0,40
Fonte: Gibbon, op. cit., pp. 328 c 365 (tabulação própria). Obs.: PE — Permaneceram estáveis
PS — Procedentes de um estrato superior PI — Procedentes de um estrato inferior
342
0,52 0,56
0,12
0,58
0,11
0,60
0,10
0,64
0,09
0,68
0,00
0,60
Anexo II
Situação do pequeno produtor rural
É notória a falta de estudos sufi
esperar que no primeiro se encontrem
cientemente amplos e profundos para bolsÕes de pobreza. se chegar a uma conclusão definida Langoni (1) constatou que em sobre a situação dos pequenos pro 1970 a renda média mensal no setor dutores na agricultura. agrícola representava 38,4% e 35,6% Dos estudos disponíveis, alguns das rendas dos setores secundário e são baseados em amostragem muito terciário, respectivamente.
restrita, e não passíveis de genera Verificou também que a diferença lizações, e os outros caem em simpli de renda entre as diversas regiões ficações que limitam seriamente suas agrícolas era significativa. De um máximo de Cr$ 448 e Cr$ 446 nos
conclusões.
Recentemente surgiram trabalhos Estados da Guanabara e do Rio de que realizam uma avaliação um tanto Janeiro (juntos) e de São Paulo, para mais acurada da situação do pequeno um mínimo de Cr$ 157 no Nordeste. produtor rural, não tanto pela riqueza Existem muitos estudos que quan e amplitude dos dados empíricos utili tificam a renda líquida recebida pelos zados, mas pela amplitude das aná pequenos produtores; alguns basea
dos em amostras localizadas, e outros
lises e teorias levantadas.
Para efeito de nosso trabalho, em dados censitários. Esses estudos
mostram que a renda média líquida percebida é relativamente baixa, exis magnitude do problema,e na segunda tindo entretanto uma grande varia
dividiremos nossa análise em duas
partes. Na primeira avaliaremos a apontaremos
as
suas
eventuais ção.
causas.
1. Magnitude dos problemas do pequeno produtor
Nicholis e Paiva (2), baseados em uma amostra limitada, constataram que 6,8% dos estabelecimentos do (1) Langoni, C. G., Distribuição da Renda e Desenvolvimento Econômico do Brasil, "Estu
Como já dissemos em outra parte de nosso trabalho, existe no Brasil
dos Econômicos", 2(5): 5-88, São Paulo, IPE, outubro 1972.
(2) Nicholls, W. H.; Paiva, R. M.. Ninety marcada desigualdade na distribuição Nine Fazendas: The Slructure and Productivity da renda, especialmente significativa of Brazilian Agricullure 1963, Graduatc Center quando se compara o setor agrícola for Latin American Studies, Nashville, Tennescom o não-agrícola. Assim, é de see, Vanderbiit University, setembro 1972.
343
Sou caiólico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Centro-Sul, e 2,5% do Nordeste, ti
Título ri
Duas razões levam-nos a estas
nham uma renda líquida (3) negativa, conclusões: correspondendo estes estabelecimen a) Em primeiro lugar, evidências tos aos estratos de menor área média.
empíricas revelam que a maioria de
E que a grande maioria delas (68,2%
pequenos proprietários, parceiros e
no Centro-Sul e 87,5% no Nordeste) arrendatários têm, eles e suas famí
menor renda, a qual eqüivalia apenas
lias, uma ocupação adicional. Estudo recente (7) apresenta dados significa
a 5,5 e 6,1 salários mínimos dessas
tivos neste sentido, obtidos de amos
se concentrava nos três estratos de
regiões. tras localizadas em quatro regiões: Contador (4) chega a resultados Vale do Ribeira (SP), Zona da Mata análogos, baseado em um levanta (MG), Campo das Vertentes (MG)e
mento de 1.771 estabelecimentos agrí
Canindé (CE). Dos pequenos proprie
colas em 7 Estados, no período de tários, o máximo de 58,4% (Campo 1962-1963. das Vertentes) e o mínimo de 30,9% Graziano da Silva (5)e Stein et alii (Vale do Ribeira) tinham ocupação (6), baseados nos dados cadastrais do adicional como parceiros e assalaria INCRA e nos dados do Censo, res
dos, e ainda como trabalhadores ur
pectivamente, chegam á conclusão de que os pequenos parceiros e arrenda tários possuem, em média, uma renda liquida anual abaixo do salário mí
banos.
Dos parceiros e arrendatários, o máximo de 77,1% (Campo das Ver tentes) e o mínimo de 51,1%(Vale do
nimo.
Ribeira) tinham ocupação adicional,
especialmente como assalariados pequeno produtor rural como verda eventuais (8). deiro empresário, o qual vive, ele e No dizer dos mesmos autores, sua família, exclusivamente da explo esses dados subestimam o número dos ração de sua terra. Entretanto, as membros da família que tinham tra evidências empíricas disponíveis re balho adicional, pois se referem ex Todos esses estudos encaram o
velam que o pequeno produtor pode clusivamente ao chefe da família.
b) Hm segundo lugar, a conju deiro trabalhador rural, cuja renda gação de uma série de características está composta não só pelo produto de dos parceiros e arrendatários aponta sua própria exploração, mas também na mesma direção. Com base nos pelos salários percebidos por ele e sua dados do trabalho de Graziano da família em empregos nas fazendas. Silva, podemos observar os seguintes No fundo, os sistemas de arrenda aspectos: mento e parceria, para grande núme 1) Os parceiros se concentram nas ro de pequenos estabelecimentos, são propriedades médias e grandes. A formas de pagamento que se alternam área média dos imóveis que utilizam com o regime de salariado. parceria é igual a 157,4 ha., bastante superior à área média total dos imó veis, correspondente a 109,4 ha,; 72% (3) Renda bnita menos despesas de explo das parcerias, era termos de superfí ração, incluindo gastos de manutenção e de ser considerado antes como verda
preciação do capital, e excluindo trabalho da
cie, concentram-se nas propriedades
família e juros sobre o capital.
superiores a 100 ha. (9).
2) A área média por parceiro é (4) Contador, C. R., Tecnologia e Renta bilidade na Agricultura Brasileira, Coleção geralmente bastante reduzida. Mais Relatório de Pesquisas N.® 28, IPEA/INPES, de 90% dos contratos de parceria têm 1975.
uma área até 25 ha., sendo que quase
(5) Silva, J. F. Graziano da et alii. Estrutura Agrária e Produção de Subsistência
70% têm um máximo de 10 ha., e
na Agricultura Brasileira, São Paulo, Editora Hucitec, 1978.
(6) Stein, L. et alii, As Novas Formas de TYabalho Assalariado e as Transformações da Agricultura Brasileira, III Reunião Nacional de Mão-de-obra Volante na Agricultura, Depar tamento de Economia Rural, Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 1977.
344
(7) Ministério da Agricultura, Comissão
de Financiamento da Produção (CFP),Pobre za Rural no Brasil: Caracterização do Proble
ma e Recomendações de Política. Coleção Análises e Pesquisas, vol. 16, 1979. (8) CFP, op. cit., p. 53. (9) Op. cit., p. 118.
Anexo II
Posso e devo ser contra a Reforma Agrária — Considerações econômicas
Não pretendemos com isso negar que existam problemas de pobreza 3) Nas propriedades com áreas mais ou menos freqüentes no setor
quase 40% têm um máximo de 5 ha. (10).
superiores a 100 ha. (daquelas que agrícola. O que queremos ponderar é têm parceria), a parceria só ocupa a necessidade de se avaliar com cui entre 20 e 25% da área total explo dado a situação dos pequenos produ rada. No caso das propriedades maio tores, tendo especialmente em vista a res de 10.000 ha., chega a 37% (11). variedade das relações contratuais 4) Cerca de 70% dos contratos de entre o trabalho e os demais fatores parceria dão moradia ao parceiro. de produção existentes na agricultura.
Portanto, a grande maioria mora na Neste sentido, seria interessante estu dar as prováveis inter-relações entre fazenda onde tem a parceria (12). Tudo isto conduz à idéia de que a as diversas formas de trabalho agrí parceria é um sistema complementar cola, pelas quais passa o mesmo de exploração, e que o parceiro pode trabalhador rural, bem como a pro ser conílgurado como assalariado, vável mobilidade deste entre as diver que trabalha simultaneamente algu sas categorias. mas áreas em parceria. Lx)go, pare ce não ter sentido falar de situação
paupérrima do parceiro, sem antes 2. Causas dos problemas tomar em conta o que ele recebe em do pequeno produtor forma de salário.
A baixa renda do pequeno esta belecimento (seja na pequena pro pérrimos como de parceiros que são priedade familiar, seja em uma par verdadeiros empresários com renda ceria, arrendamento ou posse)provém alta e, em muitos casos, com áreas de da baixa produtividade do traba lhador. Por sua vez, esta depende da parceria de tamanho considerável. Os dados disponíveis refletem produtividade da terra e do tamanho uma grande variedade na renda dos da área onde o trabalho se desen parceiros entre as diversas regiões, volve, coeteris paribus. As evidências empíricas disponí deixando ver uma grande diversidade de situações e de relações contratuais veis revelam que a produtividade por entre o proprietário da terra e o hectare (renda bruta por hectare) nos pequenos estabelecimentos é maior trabalhador rural. Algo de similar à parceria se dá no do que nos grandes (14). Alguém arrendamento, sendo que neste úl poderia concluir daí que a causa do timo caso podem-se distinguir mais "estrangulamento" do pequeno pro Estas considerações não ignoram
a existência tanto de parceiros pau
claramente duas categorias: uma, análoga à parceria; e outra, consti tuída por verdadeiros empresários independentes.
dutor é a falta de terra. Mas o fato de
que a renda bruta por hectare seja maior na pequena propriedade do que na grande, não significa que a renda
70% dos arrendamentos têm até 25 líquida não possa ser aumentada pela ha., e representam apenas 6% da área maior eficiência no uso dos recursos e total arrendada e 22% do valor da por uma mudança tecnológica. Isto parece reíletir-se no fato de produção gerada nos arrendamentos. Por outro lado, 7% dos contratos que, para imóveis de um mesmo apresentam área superior a 200 ha., tamanho, aqueles nos quais predo utilizam 72,5% da área total arren mina a **exploração capitalista da ter
dada, e participam com 42% do valor ra" têm renda bruta por hectare consideravelmente maior (para as da produção (13). Portanto, para boa parte dos ar propriedades inferiores a 50 ha. é rendatários cabem os mesmos comen
tários a respeito dos parceiros. (10) Op. cit., (11) Op. cit., (12) Op. cit., (13) Op. cit.,
p. p. p. p.
125. 119. 135. 147.
quatro vezes maior) (15). O que poderia indicar que a causa provável da baixa renda do pequeno produtor rural parece ser uma produ(14) Op. cit., p. 207. (15) Op. cit., p. 220.
345
Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?
Titulo II
tividade por hectare relativamente vência diante da incerteza, do que a baixa, provocada por má organização maximizar a renda com atividades e por uso de técnicas convencionais. comerciais de maior risco. É claro que com isso não estamos Esses três grupos de razões têm negando a existência de situações em sido amplamente debatidos na litera que a exigUidade do tamanho da tura especializada (16). propriedade ou a qualidade da terra Já tratamos da penalização do sejam fatores limitantes para melhora setor agrícola em outras partes deste na produtividade do pequeno pro trabalho. É necessário lembrar aqui dutor. Esses fatores limitantes podem que essa penalização foi mais acen tornar inviável qualquer mudança tuada nos produtos de consumo inter
técnica. Em que medida pesam uma no (alimentos), afetando mais espe razão ou outra? Não há dados dis cialmente os pequenos produtores. O poníveis para responder a essa per setor comercial produtor de "expor gunta. táveis" teve uma vantagem relativa Por que o pequeno proprietário em relação ao setor produtor de usa técnicas convencionais de pro alimentos. Isso poderia explicar o dução, sendo que, em princípio, sua fato de ter havido uma canalização substituição por técnicas e insumos dos investimentos em pesquisa tec não convencionais aumentaria signifi nológica, extensão rural e recursos cativamente sua renda? financeiros para o setor exportador, Três razões podem explicar esse em detrimento do setor produtor para fato. Em primeiro lugar, a penaliza- o mercado interno. De qualquer for ção do setor agrícola pode haver ma,existem evidentes imperfeições no reduzido a rentabilidade das técnicas mercado financeiro, que prejudicam o não convencionais, em favor das "tra
pequeno produtor.
dicionais". Em segundo lugar, certas A atitude do pequeno produtor imperfeições no mercado de capitais e frente ao risco,em certo sentido leva a na difusão de conhecimentos podem confirmar a hipótese levantada acima, afetar especialmente o pequeno pro de que o pequeno produtor tende a dutor. Isto redundaria em escassez de garantir sua sobrevivência com a pro capital, desconhecimento e falta de dução de seu estabelecimento, obten capacidade para aplicar técnicas mais do ingressos adicionais por meio de modernas. trabalhos assalariados paralelos, dele Em terceiro lugar, a atitude do e de membros de sua família.
pequeno produtor frente ao risco
leva-o mais a garantir sua sobrevi
346
(16) CFP, op. cit.
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349
ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DE FÁTIMA Ó Rainha de Fátima, nesta hora de tantos perigos para todos os católicos da América Latina, afastai dela o flagelo do comunismo ateu.
Não permitais que consiga instaurar-se, em tantos países nascidos e formados sob o influxo sagrado da Civilização Cristã, o regime comunista, que nega todos os Mandamentos da Lei de Deus.
Para isto, ó Senhora, conservai vivo e aumentai o repúdio que o comunismo encontrou em todas as camadas sociais da América Latina.
Ajudai-nos a ter sempre presente que: 1.°) O Decálogo nos manda "amar a Deus sobre todas as
coisas", "não tomar seu Santo Nome em vão" e "guardar os domingos e festas de preceito". E o comunismo ateu tudo faz para extinguir a Fé, levar os homens à blasfêmia e criar
obstáculos à normal e pacífica celebração do culto;
2.°) O Decálogo manda "honrar pai e mãe", "não pecar contra a castidade" e "não desejar a mulher do próximo". Ora, o comunismo deseja romper os vínculos entre pais e filhos, entregando a educação destes em mãos do Estado. O comunismo
nega o valor da virgindade e ensina que o casamento pode ser dissolvido por qualquer motivo, pela mera vontade de um dos cônjuges;
3.°) O Decálogo manda "não furtar" e "não cobiçar as coisas alheias", O comunismo nega a propriedade privada e sua tão importante função social;
4.°) O Decálogo manda "não matar". O comunismo em
prega a guerra de conquista comb meio de expansão ideológica e promove revoluções e crimes em todo o mundo;
5.°) O Decálogo manda "não levantar falso testemunho", e o comunismo usa sistematicamente a mentira como arma de propaganda.
Fazei que, tolhendo resolutamente os passos à infiltração comunista, todos os povos da América Latina possam contribuir para que se aproxime o dia da gloriosa vitória que predissestes em Fátima com estas palavras tão cheias de esperança e doçura; "POR FIM, O MEU IMACULADO CORAÇÃO TRIUNFARÁ" (Com Imprimatur de D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos)
Imagem Pere grina de Nossa Senhora de Fá
tima, que verteu lágrimas mila grosamente em Nova
Orleans
(EUA),em 1972.
à
i
f
A TFP recomenda
As doutrinas propugnadas pela TFP estão expostas em diversas publicações — livros, manifestos, declarações, comu nicados, cartas abertas etc. "Catolicismo" tem franqueado suas páginas para todos os
pronunciamentos da TFP. O leitor encontrará ainda, nesse prestigioso mensário de cultura católica, informações e notícias sobre as diversas atividades da associação.
Dos livros difundidos pela TFP, vários produziram, a seu tempo, tal impacto sobre os acontecimentos — quer no campo religioso, quer no campo temporal — que passaram a fazer parte da História de nosso País. Desses livros foram tiradas muitas
edições e vendidas dezenas de milhares de exemplares. Conhecê-los é indispensável para quem queira se formar um panorama autêntico e completo da luta contra o comunismo,em nosso País, no decurso dos últimos cinqüenta anos.
Em Belo Hori
zonte, denun ciando o IDOC
e os "grupos
proféticos" — organismos semi-clandestinos infiltrados na I-
greja.
555
• POR UM CRISTIANISMO AUTÊNTICO D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos Texto integral de nove Cartas Pastorais, uma Instrução Pastoral e uma Circular. — CARTAS PASTORAIS: Sobre a definição do dogma da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria {X^Sd)• Sobre problemas do apostolado moderno (1953)• Prevenindo os diocesanos contra os ardis da seita comunista (1961)• Castidade, humildade, penitência — caracterís ticas do cristão, alicerces da ordem social (1963)• Os Documentos Conciliares sobre Sagrada Liturgia e instrumentos de comunicação social (1963)• Considerações a propósito da aplicação dos Documentos pro mulgados pelo Concilio Ecumênico Vaticano 7/(1966)• Sobre a preser
vação da Fé e dos bons costumes (1967)• Sobre o Santo Sacrifício da Missa (1969)• Aggiornamento c (1971)• Instrução Pastoral sobre a Igreja (1965)• Circular sobre a reverência aos Santos Sacra mentos (1970).
• CARTA PASTORAL SOBRE
CURSILHOS DE CRISTANDADE
D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos Advertência sobre os erros que se introduziram nos até então incontrovertidos Cursilhos de Cristandade.
• CARTA PASTORAL
PELO CASAMENTO INDISSOLÚVEL
D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos Exposição precisa e acessível da doutrina católica sobre o divórcio-
• CARTA PASTORAL SOBRE A REALEZA DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos
• CARTA PASTORAL SOBRE A MEDIAÇAo UNIVERSAL DE MARIA SANTÍSSIMA D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos
Para entender o que se passa,
leia...
StoSMo
• O desenrolar desconexo e confuso dos aconte
cimentos mundiais produz o sentimento frustrante de que "não é possível entender mais nada". • Para quem se coloca no mirante da doutrina católica, esses acontecimentos têm entretanto uma
explicação. É a luta permanente entre o Bem e o Mal, entre a cidade terrena e a cidade celeste, de que falam os Santos, especialmente Santo Agostinho. • "Catolicismo" oferece a seus leitores uma
análise dos fatos à luz dos ensinamentos tradicionais
da Igreja. E mostra como o mundo se aproxima do momento ápice em que os inimigos de Deus tentarão o supremo esforço para a implantação de um estado de coisas totalmente contrário aos princípios do Evan
gelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. E disto exemplo frísante a sanha comunista, a qual atinge, nos dias que correm, o auge do cinismo. • "Catolicismo" mostra que, de outro lado, é de se esperar que, em tal emergência, a Providência
Divina intervenha de modo fulgurante para derrotar os sequazes de Satanás e implantar nesta terra o Reino do Imaculado Coração de Maria, conforme Nossa
Senhora manifestou em Fátima: "Por fim, o meu
Imaculado Coração triunfará". Isto é, a plena vigência dos princípios do Evangelho tanto na sociedade espi
ritual quanto na sociedade temporal. Pedidos à EDITORA PADRE BELCHIOR DE PONTES
S/C, Rua Dr. Martinico Prado 271, CEP 01224, São Paulo.
Meio século de
epopéia anticomunista Coleção "TUDO SOBRE A TFF'
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• A mais importante entidade civil anticomunista do Brasil narra ao público a sua luta heróica e incessante contra o perigo comunista que há meio
século se vem esforçando cada vez mais para precipitar nosso País no abismo da irreligião, tirania e miséria, em que jazem Cuba e os países do Leste. • Inspirada pelos documentos tradicionais dos Papas e na mais escrupulosa obediência às leis de Deus e dos homens, a TF? vem desenvolvendo com
coragem, serenidade e êxito em nosso País-Continente, a sua luta doutrinária contra o terrível adversário.
• EM DEFESA DA AÇÃO CATÓLICA Plínio Corrêa de Oliveira
Primeiro brado de alerta contra o progressismo nascente. • REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO Plínio Corrêa de Oliveira
Análise das causas e do dinamismo do processo
revolucionário que desde o fim da Idade Média vem destruindo a civilização cristã.
• REFORMA AGRÁRIA — QUESTÃO DE CONSCIÊNCIA D. Geraldo de Proença Sigaud, Arcebispo de Diamantina D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos Prof. Plínio Corrêa de Oliveira
Economista Luiz Mendonça de Freitas
Best-seller polêmico que alertou o povo brasileiro contra a Reforma Agrária socialista e anticristã. • ACORDO COM O REGIME COMUNISTA:
PARA A IGREJA,
ESPERANÇA OU AUTODEMOLIÇÃO? . Plinio Corrêa de Oliveira
Denuncia a manobra do comunismo que induz os católicos a aceitarem a
eliminação da propriedade privada em troca de uma tal ou qual liberdade de culto.
• DECLARAÇÃO DO MORRO ALTO Pelos mesmos autores de RA-QC Programa positivo de política agrária com o objetivo de resolver a fundo os
problemas do campo, sem desfigurar a estrutura rural vigente.
• BALDEAÇÃO IDEOLÓGICA INADVERTIDA E DIÁLOGO Plinio Corrêa de Oliveira
Descreve o processo certeiro e subtil pelo qual, através do diálogo irenista, muitos católicos se transformam inadvetidamente em comunistas. MK ommM >>•
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• A IGREJA ANTE A ESCALADA DA AMEAÇA COMUNISTA — APELO AOS BISPOS SIJ-ENCIOSOS Plinio Corrêa de Oliveira
Histórico dos quarenta anos de crise progressista e "católico-esquerdista" no Brasil. No mesmo volume, resumo do livro A Igreja do Silêncio no Chile — A TFP andina proclama a verdade inteira.
• TRIBALISMO INDÍGENA, IDEAL COMUNO-MISSIONÂRIO PARA O BRASIL NO SÉCULO XXI Plinio Corrêa de Oliveira
Denuncia a corrente missionária aggiornata que prega uma espécie de "luta de classes" entre silvícolas e brancos.
• FREI, O KERENSKY CHILENO
Fábio Vidigal Xavier da Silveira
Mostra como a política esquerdista do Presidente Frei preparou a ascensão de um governo marxista no Chile.
• AS APARIÇÕES E A MENSAGEM DE FÁTIMA CONFORME OS MANUSCRITOS DA IRMÃ LÜCIA
Antonio Augusto Borelli Machado
• COLEÇÃO "DIÁLOGOS SOCIAIS" 1. A PROPRIEDADE PRIVADA É UM ROUBO? — A propriedade privada: direito sagrado ou privilégio odioso?
2. DEVEMOS TRABALHAR SÓ PARA O ESTADO? — A propriedade privada: como pode servir ao bem comum? Qual a sua função social?
3. É ANTI-SOCIAL ECONOMIZAR PARA OS FILHOS? — Proprie dade privada e classes sociais: servidoras ou inimigas da família? 357
COSMli BEC.CAR VAREUfc 0>) CABi^OS f. JBARUüaPM «>) ^C.E STORNi MtCUEu BPCC-AR £B><EãTO P SURINI
EL
NACIDNAUSMO
• EL NACIONALISMO, UNA INCÓGNITA EN CONSTANTE EVOLUCIÓN
Cosme Beccar Varela Hijo, Carlos F. Ibarguren, Jorge M. Stomi, Miguel
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Beccar Varela e Ernesto P. Burini
HKognita
Comisión de Estúdios de Ia Sociedad Argentina de Defensa de Ia Tradición, Familia y Propiedad, Buenos Aires.
en constante evoliicion
• LOS "KERENSKYS" ARGENTINOS
Comisión de Estúdios de Ia Sociedad Argentina de Defensa de Ia lYadición, Familia y Propiedad, Buenos Aires.
• IL CREPUSCOLO ARTIFICIALE DEL CILE CATTOLICO
Cristianità, Piacenza, Itália
Coletânea de artigos do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e de manifestos da TFP chilena sobre as conseqüências ruinosas da instalação do marxismo no Chile.
• ALLENDE ET SA 'VOIE CHILIENNE'
POUR LA MISÈRE
Bureau Tradition-Famille-Proprieté, Paris.
• LA IGLESIA DEL SILENCIO EN CHILE — La TFP Proclama Ia Verdad Entera
Sociedad Chilena de Defensa de Ia D-adición, Familia y Propiedad, Santiago.
• IZQUIERDISMO EN LA IGLESIA: "COMPANERO DE RUTA" DEL COMUNISMO
EN LA LARGA AVENTURA DE LOS FRACASOS Y DE LAS METAMORFOSIS
Comisión de Estúdios de Ia Sociedad Uruguaya de Defensa de Ia Tradición, Familia y Propiedad, Montevidéu.
• DEVELOPPEMENT ET PAIX:
UN SOCIALISME MULTICOLORE AU SERVICE DU COMMUNISME
Jeunes Canadiens pour une Civilisation Chrétienne, Montréal.
Pedidos à EDITORA VERA CRUZ LTDA., Rua Dr. Martinico Prado 246, telefone: 221-8755, CEP 01224, São Paulo. 358
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Movidos por líderes filocomunistas, camponeses mar
cham pelas ruas de Recife em apoio a Fidel Castro, no auge da agitação agrária promovida pelas Ligas Cam ponesas, em 1962.
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O Brasil fica exposto, desta maneira, ao gravíssimo risco de uma luta de classes candente
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— bem exatamente como a quer ò comunismo — seguida, dia mais dia menos,
pela capitulação dos proprietários.
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Prof. Plinio Corrêa de Oliveiras
Presidente do Conselho Nàcional da TF
O documento "Igreja e proble mas da terra", aprovado pela 18/ Assembléia Geral da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil — CNBB — manifesta o anelo enfá
tico de que as grandes e médias propriedades rurais sejam dividi das, o que supostamente atenderia a um princípio de justiça cristã, estimularia a agricultura e bene ficiaria os trabalhadores.
O presente livro, "Sou católico: pbsso ser contra a Reforma Agrá
ria?",lançado pela SOCIEDADE BRA SILEIRA DE Defesa da Tradição, Família e Propriedade — TFP — mostra que tal partilha violaria os
princípios dá justiça cristã, condu ziria ao colapso a agricultura e le saria gravemente os trabalhadores.