Dossier Temático VFV - Nível mais básico

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TEMA 6

PNEUS USADOS A. NÍVEL MAIS BÁSICO

A HISTÓRIA DO PNEU... Em 1839 o americano Charles Goodyear inventou o processo de vulcanização1 da borracha, dando a conhecer as suas principais características: resistência e elasticidade. Mais tarde (em 1846), um engenheiro ferroviário escocês, Robert William Thomson, fabricou a chamada “roda aéria” e registou a patente. Esta consistia num tubo composto por lona e borracha, posteriormente vulcanizada e coberta com couro. Em 1888, John Boyd Dunlop, cirurgião veterinário escocês, imaginou uma roda que associasse tela, borracha, couro e ar, sendo este pneu rapidamente aplicado às bicicletas, vindo a substituir as anteriores rodas de madeira. Em resposta aos desenvolvimentos de Dunlop, os irmãos Michelin (André e Edouard Michelin), em 1891 inventaram um pneu de mais fácil manutenção, que enchia através de uma válvula e permitia a sua remoção e substituição em caso de dano. Até essa altura os pneus eram fixos demorando mais de três horas para serem substituídos (Figura 1). Estes pneus são considerados os antepassados dos pneus actuais.

Figura 1. Ferreiros arrefecem uma roda e endireitam o suporte (SCRAN, 2006).

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Vulcanização: processo que consiste em submeter a borracha a um aquecimento (140ºC) prolongado com enxofre (aproximadamente 7%) em presença de óxidos metálicos. Serve para eliminar inconvenientes da borracha, como ser dura e quebradiça no Inverno, mole e pegajosa no verão, e macia, não oferecendo resistência à tracção e ao desgaste.

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COMO É CONSTITUÍDO O PNEU? O pneu é um componente dos veículos que assegura a sua aderência ao solo e, ao mesmo tempo, pela sua elasticidade, participa na suspensão, amortecendo os choques resultantes da desigualdade do pavimento. A estrutura do pneu actual é composta por uma carcaça formada por fios têxteis ou de aço dispostos em camadas sobrepostas e impregnadas de borracha. É esta carcaça que permite o pneu resistir à pressão e suportar a carga. Na Figura 2 é apresentada a composição de um pneu.

Figura 2. Composição de um pneu (BRASILTIRES, 2006).

O fabrico de um pneu começa com a selecção de vários tipos de borracha juntamente com óleos especiais, negro de carbono, pigmentos, antioxidantes, silicone e outros aditivos, combinados para oferecer as características desejadas. Compostos diferentes são utilizados para a produção de diferentes partes do pneu, sendo depois efectuada a sua montagem. O primeiro componente é o perfil interno, uma borracha especial, resistente ao ar e à penetração, e que tem a forma de um tubo. A seguir são colocadas a lona e a cinta que geralmente são feitas de poliéster e aço, e que dão ao pneu força e flexibilidade. Os fios de aço revestidos de bronze são colocados em dois arcos os quais são implantados na parede lateral do pneu para formar o talão. A banda de rodagem e as paredes laterais são colocadas sobre as lonas e cintas, sendo depois todas as partes firmemente unidas. O resultado é o chamado pneu verde ou não curado. A última etapa é curar o pneu. O pneu verde é colocado dentro de um molde e é insuflado, formando assim o desenho do piso (banda de rodagem) e as informações

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na lateral do pneu. Em seguida o pneu é aquecido dando-se a vulcanização para ligar todos os componentes e curar a borracha. No final, todos os pneus são inspeccionados, e amostras aleatórias são retiradas da linha de produção e testadas. O pneu pode ter ou não câmara-de-ar. Os pneus que não têm câmara-de-ar denominam-se tubeless, não se distinguindo dos outros pelo exterior. De um modo geral, é normalmente o ar insuflado no interior, sob uma determinada pressão, que dá a forma ao pneu e que lhe confere grande parte da sua elasticidade. Recentemente têm sido concebidos novos pneus bastante diferentes dos habituais, alguns, por exemplo, sem ar, como os Tweel da Michelin, e outros com multi-câmaras de ar, como os da Bridgestone.

E DEPOIS DE UTILIZADOS... Os pneus condicionam directamente a estabilidade, o conforto e a segurança do veículo, pelo que devem ter uma manutenção periódica e adequada. Quando já não reúnem as necessárias características de segurança não devem continuar a ser utilizados, passando a ser considerados pneus usados. Estes pneus podem ser encaminhados para recauchutagem, o que normalmente acontece aos pneus dos veículos pesados. A recauchutagem é uma forma de reutilização, possibilitando que os pneus voltem a adquirir as características necessárias para serem novamente usados. Os pneus em fim de vida podem igualmente ser entregues nos pontos de recolha ou serem deixados nos locais onde é efectuada a substituição por pneus novos (empresas especializadas, oficinas, etc.), sendo, neste caso, o encaminhamento para os pontos de recolha da responsabilidade das empresas. Os pontos de recolha são locais espalhados pelo território de Portugal, onde todas as entidades públicas ou privadas podem entregar, livre de encargos, quaisquer tipo e quantidades de pneus. Para a localização dos pontos de recolha consultar http://www.valorpneu.pt O que é importante não acontecer é o abandono dos pneus usados ou a sua queima a céu aberto (ambos proibidos por lei). Os pneus contêm substâncias poluentes que se libertam para a atmosfera quando queimados sem as necessárias condições, tendo alguns de nós já observado fumo negro proveniente da queima de pneus. Para efectuar a gestão dos pneus usados foi criada a VALORPNEU - Sociedade de Gestão de Pneus, tendo o Sistema Integrado de Gestão de Pneus Usados, sido licenciado em 7 de Outubro de 2002. Esta entidade gestora tem como objectivo a

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organização e gestão do sistema de recolha e destino final de pneus usados, englobando todos os pneus comercializados em Portugal. Mais informação sobre a Valorpneu pode ser consultada em http://www.valorpneu.pt

RECAUCHUTAGEM A recauchutagem ou reconstrução de pneus, consiste fundamentalmente em aproveitar a estrutura resistente do pneu gasto (liso), sempre que em boas condições de conservação, e incorporar-lhe nova borracha de piso (Figura 3). Com esta operação, o pneu mantém basicamente as mesmas características técnicas e de comportamento do pneu original, a custos muito inferiores.

Piso (banda de rodagem)

Parte do pneu aproveitada

Figura 3. Pneu num processo de recauchutagem (SEIÇA, 2006).

Relativamente ao pneu novo, na recauchutagem poupa-se cerca de 75%, quer em termos de matéria-prima quer de energia, o que se traduz em vantagens económicas e ambientais. Em média, é possível efectuar a recauchutagem uma vez em pneus de veículos ligeiros, duas a três vezes em pneus de veículos pesados ou industriais, e cerca de dez vezes em pneus de avião (Quercus, 2006). O processo de recauchutagem pode ser realizado a frio ou a quente, envolvendo normalmente seis etapas: inspecção inicial, raspagem, preparação do piso, reparação, vulcanização e inspecção final. Informação mais detalhada sobre o processo pode ser encontrada: em português - http://www.netresiduos.com/cir/index_a.htm (seleccionar Pneus do lado esquerdo e depois a meio da página Recauchutagem (reutilização) em inglês http://www.etrma.org/pdf/Retreading_process.pdf

A opção por pneus recauchutados representa uma alternativa mais económica, sobretudo em relação aos pneus para veículos pesados.

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Para que se garanta a segurança dos pneus recauchutados é imprescindível satisfazer duas condições, o produto cumprir as especificações do fabricante e o seu processamento ter um bom padrão de qualidade. Sempre que se garanta o referido anteriormente, a recauchutagem é a melhor solução, uma vez que permite aumentar o período de vida útil do pneu, reduzir o consumo de energia e diminuir o gasto de matéria-prima.

RECICLAGEM E VALORIZAÇÃO ENERGÉTICA Após a entrega dos pneus num ponto de recolha, normalmente são encaminhados para reciclagem ou para valorização energética, sendo da responsabilidade da VALORPNEU a gestão de todo este processo. Em certos casos, os recauchutadores dirigem-se aos pontos de recolha e seleccionam alguns pneus usados para recauchutar. Os pontos de recolha têm que cumprir os requisitos definidos pela VALORPNEU. Por sua vez, a entidade gestora deve cumprir os objectivos nacionais de gestão para pneus usados estabelecidos na legislação em vigor2, onde são definidas percentagens mínimas de recolha, de recauchutagem e de reciclagem de pneus usados e referido que deve ser efectuada a valorização dos restantes pneus (com excepção dos recauchutados ou reciclados). Mais informação pode ser encontrada no Dossier Temático “Pneus Usados” – Nível mais avançado ou em http://www.valorpneu.pt Com base nestas metas, a VALORPNEU gere as quantidades de pneus usados que envia para as indústrias de reciclagem ou para as empresas autorizadas para efectuarem valorização energética. Em Portugal existem duas indústrias de reciclagem de pneus usados3: a BIOSAFE, que utiliza a tecnologia de trituração mecânica, e a RECIPNEU, que recorre a tecnologia criogénica. Estas indústrias produzem granulados de borracha de diversas dimensões, originando também um resíduo têxtil com algum metal que não tem aproveitamento, devendo ser depositado em aterro ou valorizado energeticamente. Os granulados de borracha produzidos podem ter diversas aplicações, como por exemplo, campos de futebol sintéticos, campos polidesportivos, pisos de parques infantis, betume modificado com borracha para pavimentação de estradas, produtos para automóveis e produtos moldados (como para casa e jardim). 2

No Decreto-Lei nº 111/2001, de 6 de Abril, alterado o seu cálculo pelo Decreto-Lei nº 43/2004, de 2 de Março. 3 Para actualização desta informação deve ser consultada a “Lista de Operadores de Gestão de Resíduos Não Urbanos” em: http://formatoverde.pt/inr/logrnu/

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Mais informação sobre as tecnologias utilizadas e as aplicações dos granulados de borracha pode ser consultadas em: BIOSAFE – http://www.biosafe.pt RECIPNEU - http://www.recipneu.com Em termos de valorização energética, tradicionalmente os pneus eram enviados para a cimenteira de Maceira-Liz da SECIL, embora actualmente também tenha licença para efectuar a sua queima a cimenteira do Outão (SECIL). Os pneus usados são aproveitados para auxiliar o aquecimento dos fornos, necessário para o fabrico do cimento. A empresa de recauchutagem NORTENHA pode igualmente queimar pneus, sendo neste caso produzida energia eléctrica e vapor, para consumo da empresa, e o que resta vendido à EDP. A deposição em aterro de pneus usados é regulada por legislação específica, estando estabelecido que actualmente não devem ser enviados pneus para deposição em aterro, sendo apenas excepção os pneus de bicicleta e os pneus com diâmetro superior a 1400mm, caso não tenham outro destino.

RESULTADOS DA VALORPNEU A VALORPNEU, apesar de ter entrado em actividade apenas em 1 de Fevereiro de 2003, conseguiu cumprir as metas estipuladas na legislação nacional para Janeiro desse mesmo ano, como se pode observar na Figura 4. 97 98 99 98

100 90

95 86 75

80 70

61

69 66 66 65

%

60 50 40 27 26 25 26 27 30

30 20 10

0 Taxa de Recolha

Taxa de Recauchutagem 2003

2004

2005

2006

Taxa de Reciclagem 2007

Meta

Figura 4. Resultados no período de 2003 a 2007 e comparação com as metas legais de Janeiro de 2007 (Valorpneu, 2008).

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O sistema tem funcionado próximo da sua capacidade máxima de recolha, tendo atingido em 2006 os 99,1%. Concisamente os resultados da actividade da ValorPneu são positivos ultrapassando os objectivos fixados relativamente à taxa de recolha no âmbito do SGPU e da taxa de reciclagem.

REFERÊNCIAS BRASILTIRES (2006). Saiba tudo sobre pneus. Página da Internet da empresa Brasil Tires LTDA, consultada em Abril de 2006. http://www.braziltires.com.br/tudosobrepneus/pneus.html#corte QUERCUS (2006). Recauchutagem de pneus. Página da Internet da QUERCUS – Associação Nacional de Conservação da Natureza (Centro de Informação de Resíduos), consultada em Abril de 2006. http://www.netresiduos.com/cir/index_a.htm SCRAN (2006). Dunlop - and the Pneumatic Tyre. Página da Internet da SCRAN (learning resource base and toolset), consultada em Abril de 2006. http://www.scran.ac.uk/news/news.php?id=237 SEIÇA (2006). Actividade. Página da Internet da empresa SEIÇA Reconstrução de pneus, consultada em Abril de 2006. http://www.seicapneus.com VALORPNEU (2008). Relatório Anual & Contas 2006. VALORPNEU – Sociedade de Gestão de Pneus, Lda. Lisboa, Março 2008.

BIBLIOGRAFIA ETRMA (2008). Tyre history. Página da Internet da European Tyre & Manufacturers Association. Consultada em Abril de 2006.

Rubber

MTL (2006). A história da primeira mota até aos dias de hoje. Página da Internet do Moto Clube de Lisboa, consultada em Abril de 2006. http://www.mclisboa.com/content.php?article.64 RMA (2006b). How a tyre is made?. Página da Internet da Rubber Manufacturers Association, consultada em Abril de 2006. http://www.rma.org/tire_safety/tire_basics/how_a_tire_is_made/ TudoSobreRodas (2006a). A história da bicicleta. Página da Internet TudoSobreRodas. Consultada em Abril de 2006. http://www.tudosobrerodas.pt/i.aspx?imc=2489&ic=5785&o=3919&f=5785

de

TudoSobreRodas (2006b). Bridgestone desenvolveu um novo pneu com multi-câmara de ar. Página da Internet de TudoSobreRodas. Consultada em Abril de 2006. http://www.tudosobrerodas.pt/i.aspx?imc=2489&ic=4916&o=9458&f=7794 VERBO (1963). Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura. Volume 15º. Editorial VERBO. Lisboa.

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