Atenção Básica: deficiências são apontadas por autoridades Copa D´Or recebe Simpósio de Síndrome Metabólica Campos inaugura Serviço de Verificação de Óbitos, único do estado
A saúde no Brasil não tem cara!
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EDITORIAL Há tempos a Atenção Básica à Saúde no Brasil vem apresentando deficiências. É unânime entre os representantes das principais instituições médicas do país a convicção de que o modelo de gestão adotado em todo o território brasileiro está longe de ser considerado ideal. A realidade aponta para a falta de quase tudo: principalmente de dignidade, tanto para os médicos, que se veem impedidos de realizar seu trabalho com eficiência, como para os pacientes, que são submetidos a condições muitas vezes subumanas. A fragilidade da infraestrutura na Atenção Básica tem prejudicado todo o sistema de Saúde. Os problemas são inúmeros, desde a quantidade insuficiente de médicos e não cobertura de algumas especialidades à falta de medicamentos e indisponibilidade de equipamentos e materiais para a realização de exames simples. Infelizmente, o processo de revitalização deste sistema à beira do caos caminha para um abismo ainda mais assustador. O número exorbitante de escolas de Medicina (e a possibilidade deste número crescer ainda mais) gera grande preocupação no que diz respeito à qualificação dos profissionais que serão “jogados” no mercado. É preciso uma ampla discussão sobre o que é fundamental na Atenção Básica. Ouvir de quem mais entende do assunto, médicos e pacientes, as mudanças necessárias para que a Atenção Primária à Saúde forneça o que as eles realmente necessitam e este segmento, enfim, receba um selo de qualidade. Luiz José de Souza
ATENÇÃO:
O IX Congresso de Clínica Médica do Estado do Rio de Janeiro, acontecerá em setembro de 2014, com uma programação científica, atualizada e abrangente. Diante da dificuldade de reservar o Centro de Convenções do Rio de Janeiro, ainda não definimos o local do evento. Há grande probabilidade de acontecer em Búzios-RJ. Assim que houver uma decisão, comunicaremos.
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ÍNDICE NOSSA CAPA A saúde no Brasil não tem cara!
GESTÃO 2012/2014 PRESIDENTE: Luiz José de Souza 1° VICE PRESIDENTE: Abdon Hissa 2° VICE PRESIDENTE: Antônio Carlos Moraes 1° SECRETÁRIO: Messias Moreira de Souza 2° SECRETÁRIO: Rubens Basile 1° TESOUREIRO: Francisco Almeida Conte 2° TESOUREIRO: Sávio Silva Santos DIRETOR CIENTÍFICO: José Galvão Alves COMISSÃO DE CULTURA E SOCIAL: Eduardo Augusto Bordallo CAPÍTULOS: MEDICINA DE URGÊNCIA/EMERGÊNCIA: Édno Wallace MÉDICO DE FAMÍLIA: Lucas Medeiros CASOS CLÍNICOS E SESSÃO CLÍNICO-PATOLÓGICA: Edino Jurado da Silva RADIOLOGIA E IMAGENOLOGIA: Marta Carvalho Galvão
DIRETORIA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MEDICINA DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA/REGIONAL DO RIO DE JANEIRO
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Palavra do Presidente....................................Página 3
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SVO é inaugurado em Campos............................Página 5
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Artigo: Polimiosite por Toxoplasmose................Página 6
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Artigo: Situação da Saúde no Brasil.................Página 7
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Atenção Básica: falta infraestrutura................Página 8
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Saúde vive momento dramático..........................Página 9
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Plano gerencial para Atenção Básica................Página 10
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Distrito Sanitário ................................Páginas 12 e 13
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Atenção Básica em Campos ......................Páginas 14 e 15
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Copa D´Or recebe Simpósio de Síndrome Meatabólica.....
Gestão 2012-2014 PRESIDENTE: Dr. José Galvão Alves (Santa Casa do Rio de Janeiro) 1º VICE-PRESIDENTE: Evandro Tinoco 2º VICE-PRESIDENTE: Marcelo Assad 1º SECRETÁRIO: Lucas Medeiros 2º SECRETÁRIO: Gustavo Freitas Nobre 1º TESOUREIRO: Dr. Luiz José de Souza (Campos-RJ) 2º TESOUREIRO: Paulo Tinoco DIRETOR CIENTÍFICO: Marcelo Montera COORDENADOR DA COMISSÃO ÉTICA E DEFESA PROFISSIONAL: Rubens Basile
EXPEDIENTE Revista Notícias da Clínica Médica Nº 6 - Setembro de 2013 Uma publicação da Sociedade Brasileira de Clínica Médica-RJ E-mail: sbcm.rol@terra.com.br sbcmrj@gmail.com Home page: http://www.sbcmrj.org.br Editoria e Produção: Neusinha Siqueira DRT-1167/90 Marketing e Propaganda: Valéria Ferraz (22) 99415548 Textos: Tatiana Freire Fotos: Moisés Batista, Tatiana Freire, Portal Ururau, Vilson Correa, Ademar dos Santos, Wellington Cordeiro Programação Visual: Luiz Carlos Lopes Gomes Revisão: Tatiana Freire e Dr. Luiz José de Souza Circulação: semestral Tiragem: 2.000 exemplares Distribuição: Dirigida e gratuita Impressão: Borzan Colaboradores: Dr. Luiz José de Souza, Dr. Fernando Sábia Tallo, Dr. Antônio Carlos Moraes, Dr. Antônio Carlos Lopes, Dr. Francisco Arthur de Souza Oliveira e Dr. Jair Araújo Júnior. A revista “Notícias da Clínica Médica” não se responsabiliza por opiniões ou conceitos emitidos em artigos publicados.
....................................................Página 16, 17, 18 e 19 l
FMC realiza VIII Semana Científica ................Página 20
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Acadêmicos apresentam trabalhos sobre dengue.Página 21
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Artigo: Perfil da epidemia por dengue............Página 22
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Serviço de Verificação de Óbitos de Campos é o único do estado
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Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), inaugurado no último dia 31 de agosto, no Hospital Escola Álvaro Alvim, em Campos, é o único do estado do Rio de Janeiro. A estrutura funcionará 24 horas por dia, de domingo a domingo, recebendo corpos e liberando documentos. A principal função do SVO é atestar a causa de mortes não identificadas. Este Serviço não altera o funcionamento do Instituto Médico Legal (IML), que continuará realizando necropsias nos corpos cujas mortes se deram de forma violenta. Instalado estrategicamente em Campos, o SVO atenderá as regiões Norte e Noroeste fluminenses. O Serviço de Verificação de Óbito representa uma aliança entre os municípios, o governo do estado e o Ministério da Saúde. Participaram da solenidade de inauguração o diretor-superintendente da instituição, Jair de Araújo Junior; presidente da Fundação Benedito Pereira Nunes (FBPN), Márcio Sidney Pessanha; os coordenadores do Serviço, Luiz José de Souza e Verônica Lima; o ex-presidente da FBPN, Almir Jesus do Nascimento; o superintendente da Vigilância Epidemiológica e Ambiental da Secretaria Estadual de Saúde, Alexandre Otávio Chieppe; o diretor de Vigilância em Saúde, Charbell Kury; o secretário da Família e Assistência Social, Geraldo Venâncio e o deputado Estadual Roberto Henriques. Luiz José de Souza, que divide a coordenação do SVO com
Autoridades inauguram oficialamente SVO
Verônica Lima, destacou que “o SVO era uma reivindicação antiga. O Serviço vai viabilizar o esclarecimento de diagnósticos, junto com a cadeira de Patologia da Faculdade de Medicina de Campos, além de auxiliar nas pesquisas, já que Campos é um polo de produção científica”, disse. Já o secretário da Família e Assistência Social, Geraldo Venâncio, que também é médico, foi além. “A partir de agora não podemos errar muito no diagnóstico. Temos uma responsabilidade ainda maior”, alertou. O representante da secretaria Estadual de Saúde, Alexandre Otávio Chieppe, afirmou que o SVO vai promover a qualificação do processo de investigação de óbitos e, consequentemente, uma diminuição significativa de mortes por causas indeterminadas, em razão do serviço de anatomia patológica instalada. “É um ganho histórico para o estado. Em outras regiões do país, o serviço reduziu significativamente o número de óbitos por patologias até então não esclarecidas”, revelou Chieppe.
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Polimiosite por Toxoplasmose em paciente Imunocompetente:
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RELATO DE CASO
toxoplasmose, zoonose causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, pode se apresentar de diversas formas clínicas, sendo assintomática na maior parte dos casos, principalmente nos hospedeiros imunocompetentes. Polimiosite, assim como miocardite, encefalite, pneumonite e hepatite são descritas como manifestações adquiridas após infecção aguda ou após reativação de infecção latente, observadas mais frequentemente em indivíduos imunodeprimidos. No dia 30 de Janeiro de 2013, paciente do sexo feminino, 24 anos, residente em Macaé, branca, solteira, estudante, compareceu ao serviço ambulatorial do Centro de Referência da Dengue com o quadro de dor em membros superiores (MMSS) e membros inferiores (MMII), associado à fraqueza muscular proximal com limitação do movimento de abdução do braço. Apresentou também eritema facial em região malar e em MMSS não pruriginosos, dificuldade para deambular e manter-se em posição ortostática. Negava febre, porém relatava história prévia recente de quadro infeccioso com presença de adenomegalia cervical dolorosa no período inicial. Ao exame físico foi observado edema (+/4) em MMSS e (++/4) em MMII. Ao exame neurológico apresentava diminuição da força muscular em região proximal dos MMSS (grau 3) e reflexos profundos preservados. Sinais vitais e demais sistemas sem alterações. Dentre os achados laboratoriais, destacavam-se sorologias anti-toxoplasmose IgM, IgG e IgA reagentes; Teste de avidez anti-toxoplasmose IgG: 0,229 UI/mL; FAN: 1/640; AST: 717 mg/dL;
ALT: 188 mg/dL; VHS: 55 mm/h; CPK: 16230 U/L; Aldolase: 73,3 U/L; LDH: 852 U/L; Sorologias antidengue IgM e IgG reagentes num primeiro momento, negativando posteriormente. O exame oftalmológico não evidenciou anormalidades. A eletroneuromiografia mostrou padrão miopático primário sem acometimento neuronal. Diante do caso clínico relatado, algumas hipóteses diagnósticas foram levantadas. A investigação foi destinada às patologias de origem auto-imune: lúpus eritematoso sistêmico, dermatomiosite, polimiosite, doença mista do tecido conjuntivo; de origem infecciosa: HIV, citomegalovirose, mononucleose infecciosa, dengue, toxoplasmose; assim como síndromes neurológicas. A evolução do quadro clínico associada aos achados laboratoriais permitiu direcionar o raciocínio, afastando os diagnósticos diferenciais. A sorologia antidengue representou um achado falso positivo durante o curso clínico. Logo, as manifestações clínicas, laboratoriais e sorológicas com soroconversão dos títulos de IgG, associadas ao padrão da eletroneuromiografia permitiram realizar o diagnóstico de polimiosite por toxoplasmose, não sendo necessária a realização da biópsia muscular por se tratar de indivíduo imunocompetente, como descrito na literatura. Destaca-se ainda, a importância da sorologia não apenas para instituição do tratamento adequado, mas também para estabelecer a correlação polimiosite-toxoplasmose. Por: Luiz José de Souza – Presidente da SBCM-RJ e Especialista em Clínica Médica. Yuri Tavares – Acadêmico do 8° período da Faculdade de Medicina de Campos.
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Situação da saúde em nosso País
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nfelizmente, a saúde pública do nosso país vive um momento de imensa gravidade devido à vários fatores que mencionaremos neste artigo. O principal fator da precariedade na assistência é o baixo investimento nessa área. Nos últimos anos, o investimento na saúde foi bem inferior do que a inflação e ao custo com o custeio e recursos humanos. É lamentável o comportamento demagógico eleitoreiro dos governantes, principalmente da Presidente Dilma Rousseff e do Ministro Alexandre Padilha. Estes liberaram um decreto irresponsável e sem ouvir quem tem conhecimento técnico da saúde no País, que são: comissão de especialistas junto ao MEC, as boas escolas médicas, entidades médicas, sociedades de especialidades e a Academia de modo geral, ou seja, o projeto foi decretado sem a avaliação do ensino médico. Atualmente temos em nosso país 202 escolas médicas, sendo que mais de 100 destas escolas foram fundadas nos últimos 15 anos. Deste grupo, a grande maioria são particulares e muitas delas não apresentam condições técnicas para estar funcionando e fornecendo ensino de qualidade. Dos médicos que se formam por ano no Brasil, somente 40% tem acesso à Residência Médica, os 60% restantes entram para o mercado de trabalho com péssima formação e sem condições técnicas em exercer as atividades básicas para atender aos pacientes. Este grupo de 60% deveria ser o alvo do Ministério da Saúde para entrar em programas de treinamento, adquirindo melhor formação e exercendo uma boa assistência à população. Esta medida imposta mascara a realidade brasileira, lançando um projeto político e consequentemente utilizando mão-de-obra barata. Em recente concurso realizado pelo conselho regional de medicina de são Paulo, 55% dos formandos foram reprovados. É evidente que não precisamos de mais médicos, não precisamos de mais faculdades e não precisamos aumentar o número de vagas nas escolas médicas, o essencial é aumentar o recurso para a saúde com melhor gerenciamento, sem corrupção e melhor preparo do médico antes de leva-lo para o interior, associado à uma política salarial estável e incentivadora para os bem-qualificados aceitarem trabalhar nas regiões periféricas. Para solucionar a atenção básica destinada à população periférica em nosso país, alguns fatores deveriam ser adotados como investimento em infraestrutura, criação de distritos sanitários - atuando com equipes multidisciplinares (enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, odontologia e outros); Na área médica, clínicos, pediatras, ginecologistas e obstetras, e ambulatórios de especialidades; Estes distritos sanitários na região populosa periférica teria toda a estrutura necessária para a atenção primária e secundária. Investindo em laboratórios, Raio-X convencional, ultrassonografia, eletrocardiograma e medicamentos; Organização em transporte, sistema de acesso regulado, prontuário clínico e cartão de identificação do usuário. O médico espanhol, português e cubano, e brasileiros recém-formados ou estagiários não terão condições em dar
Luiz José de Souza
boa assistência sem a infraestrutura adequada para o bom atendimento à população. O médico de cuba representa uma situação de alta gravidade, pois existe um problema ideológico. Em cuba a ditadura coloca 1 médico para uma população de 600 habitantes e representa um único emprego, portanto ele é obrigado a aceitar, caso contrário, morre de fome. Outra medida governamental importante é mudar o currículo das escolas médicas, valorizando Semiologia, Clínica Médica, Pediatria, ginecologia, obstetrícia e, urgências e emergências. Concluímos então, que este decreto presidencial foi totalmente inadequado. As entidades médicas, professores de medicina, escolas médicas e principalmente a comissão de especialistas que existem junto ao MEC e Conselhos Regionais de Medicina não devem aceitar este decreto, caso contrário o governo da presidente Dilma Rousseff, irá acabar com o futuro da medicina no País. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica e diretor da UNIFESP, o professor Antônio Carlos Lopes: “Podemos perder tudo na vida, menos a morte evitável”. Precisamos sim, de ensinos de qualidade e boas escolas médicas, integradas com os hospitais de ensino, proporcionando uma melhor formação profissional e uma assistência de qualidade aos pacientes. Em toda a minha vida médica, trabalhei e trabalho prestando atendimento ao paciente do SUS, justamente por este motivo, tenho uma visão da situação atual do sistema unificado de saúde e a dificuldade em executar um atendimento de qualidade. Luiz José de Souza Presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica/Regional-RJ
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Falta total de infraestrutura inviabiliza Atenção Básica de qualidade
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grande problema está na falta total de infraestrutura da Atenção Básica. Não há a menor condição de os médicos trabalharem dignamente e, consequentemente, não há como o paciente ser atendido com dignidade”. O posicionamento é do presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM) e diretor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Antônio Carlos Lopes. Ele defende que a maioria dos profissionais que atende neste segmento é recém-formada, muitas vezes oriunda de escolas que não se preocupam de fato em preparar seus alunos. “Adotou-se a política de Medicina pela janela do gabinete, como se o profissional trabalhasse apenas pelo computador e não fosse responsável por diagnosticar, ouvir seu paciente e conhecer profundamente os problemas em questão”, criticou. Lopes foi enfático ao afirmar que não admite que os estudantes de Medicina sejam preparados para trabalhar exclusivamente no Sistema Único de Saúde (SUS), até porque, ainda de acordo com o diretor da Unifesp, “muitos deles não tem condições, sequer, de trabalhar no SUS”. A razão deste grave problema foi apontada por Antônio
Antônio Carlos Lopes
Carlos. Ele revelou que “muitas das instituições de ensino em Medicina no Brasil não selecionam quem entra e quem sai do curso”. Ele finalizou lembrado que “tudo o que diz respeito à Atenção Básica é muito relativo. As coisas simples devem ser consideradas graves para que continuem sendo simples. Atenção Básica envolve diagnóstico e isso é de muita responsabilidade”, alertou Antônio Carlos Lopes.
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“A triste realidade é que estamos vivendo um momento dramático”
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ssim como em outros diversos setores, os atendimentos de urgência e emergência no Sistema Único de Saúde (SUS) também sofrem com a falta de estrutura e organização. A política nacional divide esta área em quatro grandes grupos: Unidade Básica de Saúde (UBS), Atendimento Móvel, Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) e Pronto-Socorro. Como não há eficácia em nenhum deles, o sistema sofre uma reação em cadeia, que inicia com a precariedade nas UBSs e termina com a superlotação dos prontos-socorros. A constatação é do presidente da Associação Brasileira de Medicina de Urgência e Emergência (Abramurgem), Fernando Sabia Tallo. Ele ainda foi enfático ao afirmar que se não houver mudanças, o sistema não sobreviverá.
“O problema é mais grave do que se imagina. O ideal seria que oito em cada 10 casos fossem solucionados nas UBSs. Mas, acontece exatamente o inverso. Mesmo os casos mais simples chegam aos prontos-socorros e a consequência disso é a superlotação”, revelou Tallo. Ele ainda ressaltou que, por não confiar no serviço prestado nas UBSs, em muitas situações o paciente vai direto ao pronto-socorro. “Este é outro comportamento que leva ao caos. Ainda assim acaba sendo compreensível, já que o exame mais banal solicitado na UBS pode levar até mais de dois meses pra ser realizado. Diante desta e de várias outras questões, não há quem dê crédito ao serviço prestado. A triste realidade é que estamos vivendo um momento dramático”, disse.
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O que falta é um Plano Gerencial de Saúde no Brasil
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negavelmente, a Atenção Básica no país é um problema grave, crônico, que merece total atenção e melhorias imediatas. Na opinião do chefe do Serviço de Clínica Médica do Hospital Copa D´Or, Antônio Carlos Moraes, há anos a saúde é vista por espasmos de solução e isso inviabiliza, de fato, a mudança do sistema. Segundo ele, umas das alternativas para a implantação de um sistema de Saúde pleno é a elaboração de um Plano Gerencial de Saúde nas três esferas: municipal, estadual e nacional. “A saúde no Brasil é vista por espasmos de solução. São realizadas campanhas isoladas para sanar apenas um problema específico. Quando na realidade a necessidade é outra. Precisamos de educação básica. Deveríamos ter uma disciplina voltada para saúde nas escolas públicas. Os pais deveriam participar deste processo. É preciso que haja também o fortalecimento do sistema de Saúde da Família. Os postos de saúde precisam estar estruturados: não só com médicos, mas com a equipe multidisciplinar completa”, defendeu. Ele foi além. “Nenhuma das esferas de governo tem um Plano Gerencial de Saúde. O programa Mais Médicos é uma prova disso. É apenas mais um caso relegado ao espasmo de solução mencionado anteriormente”, finalizou.
Antônio Carlos Moraes
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Distrito Sanitário: saída para ofer
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Jair Araújo
fragilidade tanto da Atenção Básica à Saúde, quanto da Atenção Secundária à Saúde, em todo o Brasil, na concepção do diretor do Hospital Escola Álvaro Alvim, Jair Araújo Júnior, está diretamente ligada à falta de organização. Ele defende que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem uma ótima estrutura elaborada, enfraquecida apenas por sua execução. Diante desta constatação, Jair elaborou o projeto de criação de Distritos Sanitários, os quais, ainda de acordo com ele, garantiriam a cobertura integral de assistência à saúde da população. Pensado há cerca de 10 anos, o projeto sugere que sejam criadas Policlínicas em pontos estratégicos dos municípios, para assistir num plano secundário todos os pacientes que já recebem atendimento primário nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) localizadas em torno delas. Cada uma das Policlínicas tem capacidade para dar suporte à no mínimo cinco e no máximo 10 UBSs. “Pensando numa população de 500 mil habitantes e levando em conta que cada uma das Policlínicas atenderá a oito UBSs, seria necessária a construção ou otimização de 16 unidades. Se refizéssemos a geografia das cidades pensando só na Saúde e implantássemos os Distritos Sanitários, esta quantidade seria ideal para oferecer 100% de cobertura no que diz respeito à saúde da população. A consequência
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recer cobertura integral à Saúde
mais desejada é que, sem burocracia, resolveríamos 90% dos problemas de saúde. Os outros 10% seriam atendidos através de marcação de consulta e não seria necessário haver fila em hospitais”, explicou. Jair enfatizou que na linha de cuidado entre a Atenção Básica à Saúde e a Atenção Quaternária existe um buraco: a Atenção Secundária. “A criação dos Distritos Sanitários melhoraria, e muito, esta questão. Todo lugar onde tem uma unidade 24 horas, se houver obras de adaptação e otimização pode se transformar nestas Policlínicas. Então é preciso mapear nos municípios onde estariam distribuídos estes Distritos, tendo as Policlínicas como centro de assistência de prevenção e educação. Trata-se de uma questão simples, óbvia, mas que precisa ser executada”, disse. 24 Horas — O projeto ainda prevê a construção, em anexo às Policlínicas, de pequenas unidades com atendimento 24 Horas, já que as UBSs funcionam das 7h às 19h e a população em torno das Policlínicas pode precisar de atendimento primário fora deste horário. A ideia é criar um espaço para funcionar com um pediatra e um clínico de plantão dia e noite, com repouso pediátrico e adulto, ambulância, enfermagem 24 horas e medicação. “Este projeto não é uma receita pronta, mas uma formulação teórica para ser adaptada a cada realidade onde possa ser útil”, finalizou o diretor do HEAA e autor do projeto de Distritos Sanitários.
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Em Campos
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Francisco Arthur de Souza Oliveira
Prefeitura de Campos está construindo um novo modelo de assistência em Atenção Básica da Secretaria de Saúde, cuja principal missão é ampliar, qualificar e humanizar a assistência no município, integrando os níveis de atendimento no Sistema Único de Saúde. Uma das principais ações já implantadas diz respeito à criação do maior Programa Municipal de Imunização do Brasil. Esta referência nacional serviu de inspiração para que o Ministério da Saúde incluísse uma série de novas vacinas no Programa Nacional de Imunização (PNI). Em maio de 2009, teve início esta estratégia com a implantação da vacina antipneumocócica 7 valente, que, em julho de 2010, foi substituída pela antipneumocócica 13 valente, reduzindo em 40% a mortalidade infantil. Em setembro de 2010, foi lançada a vacina contra o HPV; em Março de 2011, a vacina contra a Hepatite A, reduzindo em mais de 80% a cir-
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Atenção Básica ganha reforços culação do vírus que transmite a doença. Em março de 2013, o município passou a garantir a vacina contra a varicela, de forma pioneira. De acordo com o vice-prefeito e secretário de Saúde, Francisco Arthur de Souza Oliveira, o Doutor Chicão, a cidade é pioneira em diversas outras áreas e oferece 339 itens na Relação Municipal de Medicamentos, tornando Campos o município com o maior catálogo de remédios disponibilizados à população. A lista de medicamentos que o Ministério da Saúde oferta contém menos de 140 itens. Isso significa que o município disponibiliza mais que o dobro de remédios exigidos pelo governo federal. A política de descentralização de serviços da Secretaria de Saúde de Campos também é um dos avanços registrados e está facilitando a vida da população. Desde 2010, cerca de 170 mil pessoas fizeram exames laboratoriais simples (sangue, fezes e urina), em 54 unidades de saúde. Até 2008, apenas os quatro grandes hospitais da cidade prestavam os serviços. O próximo desafio é implantar a Estratégia Saúde da Família (ESF) em todo o município, transformando o modelo atual de UBS em ESF e facilitando o acesso do cidadão ao
sistema de Saúde. Outra meta é consolidar a política nacional de atenção psicossocial dentro das ações desenvolvidas no município. A cidade vai contar com quatro dispositivos de enfrentamento ao crack e outras drogas: uma Unidade de Acolhimento Infanto-juvenil (UAI), a transformação do Caps AD em Caps AD III (24h), Residência Terapêutica e o Consultório na Rua. No Estado do RJ, com exceção da capital, Campos será o único município com uma estrutura de UAI e Consultório na Rua. “Já criamos o Comitê Municipal Intersetorial de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas e aderimos ao programa federal “Crack – é possível vencer”. Implantar a internação compulsória na Clínica de Recuperação Geremias de Mattos Fontes e o tratamento ao público feminino também é nossa estratégia. A Clínica foi implantada em 2012 e já atende ao público masculino, sem demanda reprimida”, disse Chicão. Além disso, 12 novas UBS estão sendo construídas, objetivando o fortalecimento da ESF. Outra estratégia da Secretaria é diminuir a taxa de mortalidade materna e infantil no município, reorganizando o pré-natal e aumentando o diálogo com as maternidades.
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Simpósio de Síndrome Me discute obesidade e suas
Leonardo Fabiano, Érika Guedes, Ana Pitella, Ricardo Bruno e Antônio Carlos Moraes
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pesar da gravidade do problema, grande parte da população ainda não se deu conta de que a obesidade é uma realidade nacional e que o sobrepeso pode acarretar uma série de doenças que vão desde os distúrbios psicológicos às formas mais graves das doenças cardiovasculares. Atualmente, 50% dos brasileiros estão obesos. Índice cerca de 20% maior que o registrado nos últimos 50 anos. Estes e inúmeros outros dados alarmantes foram
José Galvão
apresentados durante o Simpósio de Síndrome Metabólica para Clínicos, em 31 de agosto, no Hospital Copa D´Or, no Rio de Janeiro. Médicos convidados, especialistas de diversas áreas, desmistificaram a doença, o tratamento e seus riscos. Com base em estudos, a pesquisadora do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares (Gota) do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (IEDE), Isabela Bussade, mostrou que na maioria
dos casos, pais gordos têm filhos obesos, muitas das vezes devido ao estilo de vida adotado pela família. Ela disse ainda que pessoas que convivem diariamente com dois amigos obesos tem 200% de chance de se tornarem obesos também. A localização da gordura nos pacientes acima do peso deve ser observada. Quanto maior for o acúmulo de gordura na parte central do corpo, maior a probabilidade dele sofrer doenças cardiovasculares. A circunferência abdominal,
Amé Fern
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etabólica consequências
élio Godoy, José Galvão e nando Azevedo
por exemplo, é um dos critérios adotados pelos médicos para avaliar o paciente em relação aos riscos decorrentes da obesidade. O ideal é que o excesso seja distribuído na parte periférica do corpo. Mas, isoladamente, isso não significa que o paciente esteja imune ao risco de desenvolver os mesmos quadros daqueles que centralizam a gordura na região central. Na verdade, os mais suscetíveis às doenças cardiovasculares são aqueles cujos
Érika Guedes
corpos imitam o formato de um funil: largos em cima e finos embaixo. A hipertensão também faz parte do contexto de síndrome metabólica. Leonardo Corrêa, coordenador da Cardiointensiva do Hospital Copa D´Or foi enfático ao apontar que a mortalidade por doenças cardiovasculares aumenta gradativamente a partir da pressão arterial aferida em 115/75. Atualmente, cerca de 30% da população mundial adulta sofre de hipertensão arterial. São fatores de risco: idade,
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O fármaco é secundário no tratamento da obesidade. Primário é entender a necessidade de mudança de hábito. O efeito do tratamento, seja ele qual for, (apenas com remédios, com dieta, exercícios ou com os três simultâneos) tem durabilidade de seis meses. Depois disso há o reganho de peso. Obesidade e padrão de consumo estão diretamente ligados”. Isabela Bussade
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Lucianne Tannues, Luciana Lopes e Isabela Bussade
Devemos voltar o olhar para o não-HDL. Na verdade, é ele o marcador de doenças cardiovasculares. E não mais o triglicerídeos, como se pensava antes”. Rodrigo Moreira, pesquisador do Serviço de Metabologia do IEDE.
obesidade, sedentarismo, tabagismo, etilismo, consumo de sal excessivo, fatores genéticos, gênero e etnia. Outra constatação é de que há relação direta entre síndrome metabólica e diabetes. Segundo a pesquisadora do Serviço de Metabologia do IEDE, Erika Paniago Guedes, até o final de 2013 haverá cerca de 306 milhões de diabéticos no mundo. De acordo com o chefe do Serviço de Metabologia do IEDE, Amélio Godoy Matos, Quanto mais peso o paciente tiver, menor a sensibilidade à insulina. O tecido adiposo chega no seu limite de expansão e a gordura se estoca em locais inapropriados. Durante o evento também foi revelado que 64% dos obesos sofrem de apneia obstrutiva do sono, sendo 40% dos homens e 25% das mulheres. A interrupção total ou parcial da respiração durante o
sono tem ligação com sobrevida e mortalidade, segundo o palestrante Fernando Azevedo, pneumologista do Hospital Copa D´Or. Ele defendeu ainda que a apneia também se relaciona diretamente com a síndrome metabólica, uma vez que a privação do sono faz aumentar o desejo por glicose. A ingestão exagerada leva à obesidade, que leva à inflamação do sistema e, consequentemente leva à síndrome metabólica. Diante de todos os males oriundos da obesidade, ficou claro que é preciso evitar e combater a doença que origina tantas outras. Só há uma forma de fazer isso: promovendo a mudança de hábito. Seja através de reeducação alimentar, dieta, exercício físico ou uso de medicamentos, o paciente precisa buscar a melhoria da qualidade de vida e deve fazer isso com acompanhamento médico.
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Isabela Bussade
Tínhamos que ter programas como “Obesidade Zero”, “Diabetes Zero” e não o “Fome Zero”. Hoje em dia, até na África as doenças cardiovasculares matam mais que a fome”. Ricardo Bruno, professor do Serviço de Ginecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Lucianne Tannus
Rodrigo Moreira
Fernando Azevedo
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FMC realiza VIII Semana Científica
Nélio Artiles, diretor da FMC, na abertura do evento
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Faculdade de Medicina de Campos (FMC) realizou sua VIII Semana Científica, entre os dias 11 e 13 de setembro. Alunos dos cursos de Medicina e Farmácia tiveram a oportunidade de agregar conhecimento durante o evento que recebeu palestrantes de renome nacional e internacional. Como de costume, os graduandos elaboraram trabalhos para concorrer a prêmios. A abertura oficial ocorreu na noite de quarta-feira, no anfitetatro Dr. Jair Araújo
Júnior. A primeira conferência magna foi ministrada por José Cássio de Moraes, que é doutor em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP), colaborador da Organização Panamericana de Saúde, do Ministério da Saúde e da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo. Ele abordou o tema “Avaliação do impacto das vacinas na morbimotalidade das doenças infecciosas”. Já na quinta-feira (12) o palestrante foi Gleison Guimarães, presidente do
Departamento de Distúrbio do Sono da Sociedade Brasileira de Pneumologia. Ele também é medico coordenador do Laboratório do Sono do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho/URFJ, médico da Unidade de Pesquisa Clínica em Pneumologia da UFRJ. Gleison discorreu sobre o tema “Distúrbios do sono”. Na sexta-feira (13), último dia do evento, foram realizadas duas conferências: sobre “Abordagem do paciente com IAM na Sala de Emergência” para os alunos de Medicina; e sobre o tema “Atuação do farmacêutico nas análises clínicas: desafios e perspectivas”, para os alunos de Farmácia. “Fico muito satisfeito em realizar esta VIII Semana Científica da FMC. Estou diretor há oito anos e organizamos este evento desde o primeiro ano de gestão. Fico feliz por ter conseguido manter a jornada, que é de muita qualidade”, destacou o diretor da FMC, Nélio Artiles Freitas. PRÊMIO — Acadêmicos do CRD foram premiados na VIII Semana Acadêmica da FMC. O trabalho ““Pseudotrombocitopenia: relato de caso” tirou 1º lugar na categoria pôster. Já o trabalho “Perfil dos sinais e sintomas da dengue durante epidemia do sorotipo 4 em Campos tirou 3º lugar ana categoria Oral.
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Epidemia do sorotipo 4 da dengue em Campos foi alvo de estudos
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VIII Semana Científica da Faculdade de Medicina de Campos recebeu 50 trabalhos dos estudantes dos cursos de Medicina e Farmácia. Dois deles abordaram a dengue como tema. Um dos estudos, elaborado pelo aluno Magno Carvalho, do 5º ano de Medicina, analisou o “Perfil dos sinais e sintomas da dengue durante epidemia do sorotipo 4 em Campos”. O acadêmico usou como base para as pesquisas uma amostra de 600 prontuários do primeiro atendimento de pacientes assistidos pelo Magno Carvalho: 3º lugar no trabalho oral Centro de Referência da Dengue, em Campos, entre os meses de janeiro a abril deste ano. as mesmas: febre, mialgia, cefaleia, dor retro-orbitária (dor O objetivo foi identificar através de levantamentos quais atrás dos olhos). Como diferencial, o surto do sorotipo 4 proforam os sinais e sintomas mais comuns nos pacientes que tivocou dores lombares e mipotais nos pacientes. veram a confirmação da doença, durante a epidemia. AtraO trabalho de Carlos Magno foi o penúltimo trabalho vés de comparação de dados, chegou-se à conclusão que apresentado na sexta-feira (13). as manifestações clássicas da doença foram basicamente
Casos mais graves de hepatite por dengue foram registrados em mulheres
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endo como base uma amostra de 3,5 mil pacientes assistidos no Centro de Referência da Dengue, em Campos, entre os meses de janeiro e julho, o trabalho com o tema “Aspartato aminotransferase e alanina aminotrasferase com dengue sorotipo 4”, elaborado pelo acadêmico Felício Stenio Schuenk Rozete em parceria com um grupo composto por outras cinco pessoas, avaliou a alteração de enzimas que indicam agressão ao fígado. O aumento provocado por esta alteração pode apontar quadro de lesão no órgão. Segundo dados do trabalho, 53% do pacientes pesquisados apresentaram alterações, a maioria delas menos significativas. Do total, apenas 0,4 dos casos apresentou alterações graves: número de enzimas 10 vezes maior que o considerado normal. Neste nível, a alteração caracteriza hepatite por dengue. O que chamou a atenção é que todos os casos graves foram registrados em pacientes do sexo feminino. Numa próxima etapa, o acadêmico vai estudar o porquê da forma mais grave da doença ter acometido apenas mulheres. Uma das observações feitas durante a apresentação foi que o medicamente paracetamol, quando oferecido em doses
Felício Rozete também elaborou trabalho sobre dengue
elevadas, pode levar a alterações hepáticas. “Esta constatação foi apresentada há alguns anos num trabalho do Dr. Luiz José de Souza. Depois disso, a droga deixou de ser a principal indicação nos casos de dengue e foi trocado pela dipirona”, explicou Felício.
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Perfil da Epidemia por dengue em
2013
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dengue representa na atualidade a arbovirose mais importante no mundo. São os arbovírus mais disseminados geograficamente, encontrados em áreas tropicais e subtropicais, segundo alguns autores. Ao longo dos últimos anos, temos observado períodos com intenso aumento no número de casos da doença, cada qual apresentando características diferenciadas no que diz respeito à epidemiologia, manifestações clínicas, gravidade dos casos, número de internações e de óbitos, assim como das complicações associadas a esta patologia. Esta pluralidade é explicada pela existência de quatro sorotipos distintos do vírus responsável pela doença (DENV-1; DENV-2; DENV-3 E DENV-4), que já se encontram em circulação no Brasil e em vários outros países acometidos pela mesma. Entramos no ano de 2013 já observando um aumento significativo do número de casos registrados da doença em várias regiões do país e em Campos dos Goytacazes não foi diferente. A partir da segunda semana de janeiro, os atendimentos no Centro de Referência da Dengue presente na cidade começaram a aumentar abruptamente, anunciando a antecipação da epidemia que era esperada principalmente para os meses de Abril e Maio, período associado à eclosão das epidemias nos anos anteriores. No decorrer das semanas, pudemos observar algumas diferenças no perfil epidemiológico e clínico da doença que ocorreu principalmente pela circulação do sorotipo quatro (DENV-4). Análises de prontuários revelaram que adultos jovens e indivíduos de meia idade foram mais acometidos do que crianças e idosos. Sintomas como febre, cefaleia, mialgia e dor retro orbitária permaneceram entre as manifestações mais comuns, associados à artralgia, rash cutâneo e prurido, muito observados nessa epidemia. Sintomas incomuns como a dor lombar, em membros inferiores e parestesias também foram observados, mesmo que em menor proporção. Outras características observadas foram: o desenvolvimento de miopatias agudas na fase inicial da doença e hemorragias em locais diversos com frequência de alguns episódios
Epidemia: sala de hidratação lotada
em paciente sem plaquetopenia. Já sinais de alerta, como por exemplo: dor abdominal intensa, hipotensão arterial, sinais hemorrágicos e disfunções hemodinâmicas foram pouco observados, evidenciando o caráter mais brando desse sorotipo viral com menor número de casos graves e consequentemente com menor número de internações e complicações. Porém, o número de atendimentos ambulatoriais aumentou de maneira significativa, tendo 24.031 atendimentos de janeiro a agosto, com 18.350 suspeitos/notificados e 5.405 casos confirmados neste mesmo período. Acompanhamos ainda nesta epidemia a presença de casos diferenciados como a transmissão vertical de dengue por uma gestante assintomática, a síndrome de Guillain-Barré pós-infecção por dengue e a polimiosite por toxoplasmose em paciente imunocompetente, todos enviados como pôsteres ao XLIX Congresso de Medicina Tropical ocorrido no início do mês de agosto em Campo Grande - MS. Tais casos mostraram a importância de avaliar as possíveis complicações associadas aos quadros de dengue e da imposição de outros diagnósticos diferencias na evolução clínica do doente. Vários estudos têm sido realizados com o objetivo de detalhar os principais eventos envolvidos na fisiopatologia da doença e de suas complicações. O desenvolvimento da vacina contra o vírus ainda encontra-se em fase experimental, deixando algumas dúvidas quanto a sua relação custo-efetividade. Diante disso, destacamos a importância do controle e da assistência de qualidade aos casos de dengue presentes no município, o que auxilia na acessibilidade e organização dos serviços, no manejo clínico da doença, no controle de complicações e óbitos, bem como na redução dos impactos econômicos gerados pela dengue. Por: Luiz José de Souza – Presidente da SBCM-RJ e Especialista em Clínica Médica Magno Carvalho – Interno do 5º da Faculdade de Medicina de Campos
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