Praler #26

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26 número

AGOSTO 2013

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AGOSTO DE 2013

UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO - FACULDADE DE ARTES E COMUNICAÇÃO - CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO

#vemprarua Quando a geração online full time descobriu que tinha voz e saiu das redes sociais para as ruas

Uma outra roupagem para velhos conhecidos Bruxas, vampiros, monstros e personagens de contos de fadas não são mais o que eram antigamente...

Bate-papo Luiz Feier Motta - Dublador Percival Puggina - Arquiteto

Guerra mundial Z ARGO Coluna Prestes - o avesso da lenda ...


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Editorial

AGOSTO 2013

O CHAMADO DAS

RUAS

Q

uem tem entre 30 e 45 anos, durante muito tempo, foi parte da última geração no Brasil a ter tomado as ruas para reivindicar seus direitos. Naquela época, no começo dos anos 90, a prática nem era tão nova assim: pouco mais de meia década antes multidões já haviam tomado as ruas do país clamando pelas Diretas, um povo ávido por democracia. Nos vinte anos anteriores a isso, as ruas foram palco de outro tipo de protesto, mais perigoso, na fase mais obscura que o país já viveu. Mas três décadas de silêncio é tempo demais. E ao longo desse tempo, as pessoas se perguntavam, nas ruas, se o povo havia silenciado por comodismo ou pela falta de hábito. Havia uma crítica velada às novas gerações. E justamente essa nova geração sentiu o gosto de clamar por direitos, ainda que os clamores justos possam ter se perdido entre tantas reivindicações e outros objetivos torpes. Se essa geração teve o prazer de se fazer ouvida, os futuros jornalistas do NEXJOR tiveram o duplo prazer de poder cobrir esse momento ao mesmo tempo que o vivenciavam - e poder reproduzir, nesta edição do PraLer, o conteúdo produzido por eles, tal e qual foi postado no site durante o especial multimídia que o Núcleo Experimental organizou para marcar sua cobertura do evento. Na edição em que o bimensal PraLer retorna ao formato tablóide, mais prático para o manuseio, traz também colaborações de alunos do curso, duas ótimas entrevistas com o dublador Luiz Feier Motta e o arquiteto Percival Puggina, além das críticas culturais do Caderno Z e do especial EUREKA, que investiga as transformações de personagens icônicos da cultura popular e dos contos de fadas no mundo contemporâneo.

Boa Leitura

SUMÁRIO 3 4 5 6

ACONTECE OPINIÃO CRÔNICA BATEPAPO

Versão brasileira - Luiz Feier Motta

7 BATE PAPO Política, religião e cartas desaforadas - Percival Puggina 8 REPORTAGEM Uma ideia de sustentabilidade 9 REPORTAGEM E você aí, reclamando?

ESPECIAL - EUREKA DE NOVO

O jornal PraLer/Zer é uma publicação bimensal do Núcleo Experimental de Jornalismo da Agecom/UPF. Toda a produção textual é composta por contribuições voluntárias dos alunos da Faculdade de Artes e Comunicação e estagiários no Núcleo Experimental de Jornalismo. REDAÇÃO n Supervisão geral Bibiana de Paula Friderichs n Editor Fábio Luis Rockenbach n Diagramação Sammara Garbelotto - Fabio Rockenbach ATENDIMENTO AO LEITOR Nathalia Leal Conselho Editorial: Bibiana de Paula Friderichs, Fábio Luis Rockenbach, Luis A. Hofmann, Cassiano Del Ré, Sônia Bertol, Olmiro Cristiano Lara Schaeffer, Otávio Klein e Arthur Ferraz. Projeto Gráfico Editorial: João Carlos Tiburski (in memorian), Luis Hofmann e Fábio Rockenbach. Universidade de Passo Fundo: Reitor: José Carlos Carles de Souza; Vice-Reitora de Graduação: Neusa Maria Henriques Rocha; Vice-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Leonardo José Gil Barcellos; Vice-Reitora de Extensão e Assuntos Comunitários: Bernadete Maria Dalmolin; Vice-Reitor Administrativo: Agenor Dias de Meira Júnior. Diretor da Faculdade de Artes e Comunicação: Cassiano Del Ré; Coordenadora do curso de Jornalismo: Bibiana de Paula Friederichs As opiniões expressas em artigos assinados por colaboradores não representam a opinião da Nexjor e são de responsabilidade única de seus autores. ENTRE EM CONTATO CONOSCO NEXJOR -Núcleo Experimental de Jornalismo - FAC UPF Universidade de Passo Fundo - BR 285, Bairro São José - Faculdade de Artes e Comunicação - Prédio D2 - Passo Fundo/RS - CEP: 99052900. Fones: (54) 3316 8489 / (54) 3316 8487 nexjor@upf.br - www.upf.br/nexjor

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Uma outra roupagem Bruxos? Talvez heróis Era uma vez... Eles ainda mordem? Os mortos vivos chegaram!

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ESPECIAL - #VEMPRARUA

CADERNO Z 20 21 21 22 23 24

Detona Ralph O menino do dedo verde As boas mulheres da China Argo Guerra Mundial Z Coluna Prestes: O Avesso da Lenda


Acontece

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Curtas

Curtas

Prêmio Esso de Jornalismo em outubro

Três eventos de jornalismo investigativo

n A edição 2013 do Prêmio Esso de Jornalismo está com inscrições abertas. Concorrem trabalhos veiculados por emissoras entre 16 de agosto de 2012 e 14 de agosto deste ano, data-limite para a realização de inscrições. A distinção abrange as categorias Telejornalismo, Reportagem, Fotografia, Informação Econômica, Informação Científica-Tecnológica-Ambiental, Educação, Primeira Página, Criação Gráfica/Jornal, Criação Gráfica/Revista, além de quatro prêmios regionais e um grande prêmio. O valor da premiação fica entre R$ 3 mil e R$ 30 mil. Os vencedores, anunciados em 16 de outubro.

n Três grandes eventos internacionais devem levar cerca de 1,2 mil participantes ao Rio de Janeiro neste ano e, entre eles, renomados jornalistas investigativos. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) será a anfitriã da 8ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo, realizada pela Global Investigative Journalism Network; e da 5ª Conferência Latino-Americana de Jornalismo Investigativo, do Instituto Prensa y Sociedad; além do seu próprio congresso internacional, que neste ano chega à 8ª edição. Os três eventos ocorrerão simultaneamente, de 12 a 15 de outubro, na PUC-RJ.

Encontro Nacional de Assessores de Imprensa n Inicia nesta data o 19º Encontro Nacional de Jornalistas em Assessoria de Imprensa (Enjai), que será realizado, no Rio’s Presidente Hotel, no Rio de Janeiro. Até 25 do mesmo mês, serão promovidos debates sobre assessoria de imprensa nos grandes eventos e o interesse público do jornalismo. A programação será composta por quatro painéis, distribuídos ao longo dos quatro dias do evento. A expectativa dos organizadores é reunir cerca de 300 pessoas, entre profissionais e estudantes. O evento é organizado pela Federação Nacional dos Jornalistas e pelo Sindicato de Jornalistas local.

Prêmio Jornalistas&Cia n Estão abertas as inscrições para o Prêmio Jornalistas&Cia, que neste ano distribuirá um total de R$ 107 mil líquidos entre os vencedores. Podem concorrer matérias veiculadas de 1º de setembro de 2012 a 31 de agosto de 2013. A novidade deste ano fica por conta da criação da categoria especial Água, que dará R$ 10 mil ao melhor trabalho jornalístico sobre o tema, independentemente de plataforma (jornal, revista, televisão, rádio ou webjornalismo). As inscrições podem ser feitas através do site www.premiojornalistasecia.com.br, onde é possível obter mais informações e acessar o regulamento completo.

Prêmio Abrelpe de Reportagem n A Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) recebe inscrições para o seu Prêmio de Reportagem. Como o tema ‘Novos rumos para a gestão de resíduos no Brasil’, a distinção busca incentivar a discussão do tema na mídia. Podem ser inscritas reportagens veiculadas entre 1º de outubro de 2012 e 30 de setembro de 2013. Mais informações estão disponíveis no endereço www. premioabrelpe.org.br.

Congresso da Agert n A Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (Agert) recebe inscrições para o congresso deste ano. Em sua 22ª edição, o evento levará o tema ‘Capacitando pessoas, integrando mídias’ e será realizado de 13 a 15 de outubro, no Hotel Serrano Resort & Convention Center, em Gramado. As emissoras que inscreverem seus profissionais terão desconto especial. Além disso, cada congressista receberá credencial com livre acesso ao centro de convenções e direito a assistir a todas as palestras e shows. O pacote ainda inclui hospedagens, refeições, material de apoio, certificado de presença e participação nos sorteios e brindes. Os cadastros devem ser feitos através do preenchimento de ficha de inscrições e de pagamento, que pode ser o depósito ou por meio do boleto bancário. Dúvidas podem ser esclarecidas através do telefone (51) 3212.2200 ou pelo e-mail financeiro@agert.org.br.

XII Seminário Internacional da Comunicação n A PUCRS sedia, em novembro, a 12ª ediçao do Seminário internacional da Comunicação com o tema “Imaginário em rede: comunicação, memória e tecnologia”. O evento acontece em Porto Alegre de 5 a 7 de novembro e a programação traz ao Brasil nomes de peso, como Pierre Lévy, Howard Rheingold, Georges Bertin, Philippe Joron, Roberto Almeida, Vincenzo Susa, Denis Fleurdorgee Sébastien Charles. Os professores Ivan Izquierdo e Lucia Santaella completam a lista de conferencistas. O seminário tem 13 grupos de trabalho e recebe trabalhos até o dia 19 de agosto. Para quem não apresentar trabalhos, a inscrição pode ser feita até o dia 28 de outubro. Mais informações no site do evento http://www.pucrs.br/famecos/pos/ seminariointernacional/

Mostra Competitiva do SET Universitário n Estão abertas as inscrições para a mostra competitiva do 26º SET Universitário - evento promovido pela Faculdade de Comunicação Social da PUC, que neste ano ocorrerá entre 16 e 18 de setembro. A iniciativa busca valorizar a produção acadêmica de todo o País, na área de Comunicação. Para participar, é necessário estar matriculado em cursos de graduação das áreas de Jornalismo, Radialismo e TV, Publicidade e Propaganda, Propaganda e Marketing, Relações Públicas ou Cinema e Produção Audiovisual. A inscrição é gratuita e pode ser feita até esta data, sendo permitido o cadastro de até 30 trabalhos de uma só vez. O regulamento e o formulário de inscrições estão disponíveis no endereço www.pucrs.br/famecos/set.

Estudantes cobrirão Conferência de Jornalismo Investigativo Abraji irá selecionar 35 universitários para acompanhar o evento, que ocorrerá em outubro Um grupo de 35 estudantes terá a oportunidade de cobrir a Conferência Global de Jornalismo Investigativo, que acontecerá de 12 a 15 de outubro, no Rio de Janeiro. Trata-se de uma iniciativa da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em parceria com a Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O evento será realizado simultaneamente ao Congresso de Jornalismo Investigativo da entidade e à Conferencia Latinoamericana de Periodismo de Investigación (Colpin).

Os acadêmicos escolhidos para o programa formarão uma redação que ao longo de quatro dias atualizará o blog oficial do evento com matérias, vídeos e infográficos interativos. Além disso, durante o mês de agosto, o grupo participará de um curso prático que abordará temas como técnicas de reportagem, jornalismo de dados, novas narrativas e jornalismo empreendedor, com palestras de jornalistas consagrados. Para participar, é necessário estar cursando Jornalismo, a partir do 5º período, e preen-

cher o formulário de inscrição até 29 de julho. Os selecionados estarão isentos de inscrição no congresso e, ao final da cobertura, receberão um certificado de participação. As

inscrições se encerram em 29 deste mês e os selecionados serão revelados dia 31. Mais informações podem ser obtidas pelo email coberturaabraji@ gmail.com.

Conferência Global de Jornalismo Investigativo n A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) realiza pela primeira vez no Brasil a Conferência Global de Jornalismo Investigativo. O evento irá reunir de 11 a 14 de outubro, no Rio de Janeiro, jornalistas e especialistas que irão debater assuntos recorrentes e atuais. Os palestrantes deverão discorrer sobre temas como organização de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, acesso a informações públicas, planejamento urbano, administração pública, política, entre outros. Oficinas práticas de técnicas jornalísticas, como utilização de banco de dados, reportagem com auxílio de computador e investigação de contas públicas, também estarão na programação. A conferência acontecerá em paralelo à 8ª edição do Congresso Nacional da Abraji e à 5ª edição da Conferência Latino-americana de Periodismo de Investigación, e deve reunir cerca de 1,2 mil profissionais.


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Opinião

AGOSTO 2013

TEVÊ LISÃO A cultura das telas planas Julia Maziero Possa

Acadêmica de jornalismo - Segundo semestre

Partiram os trambolhos que entalavam as estantes: agora são as telas planas que vão dominar o mundo. Chega de poeira desnecessária, de balcões gigantes, de sabedorias eternas: tudo isso vai mudar por que as telas planas são a porta da felicidade no novo mundo. OK... Nem tanto, mas tá quase. Que me perdoem os dinossauros, mas finura é essencial. Inspiradas em Guerra nas Estrelas, ninguém mais está interessado em ver novela nas telas gordas. Hoje ou é tela plana ou não é. O consumidor não está mais tão modesto – e, convenhamos, é por isso que as planas fazem tanto sucesso. Plenitude consumada, chega de se envenenar televisamente. Hoje é vai ou racha, é romance ou terror, não existe mais “namoro ou amizade” – agora é “namoro ou Netflix?” Chegou a nova era da tevê: programas religiosos banham os horários nobres – quem precisa de Deus, Alá ou Jeová quando se tem uma tela de 58? – programas com altíssimo cunho moral: vamos ver quem dança melhor o quadradinho de oito! – e sabedoria sendo despachada aos lotes: afinal, Theo é ou não o cara? Que me perdoem os politicamente corretos, por favor. Só queria dizer que o alto calão da televisão brasileira está por um fio. Chacrinha morreu mas quem se importa? O jornalismo é ameaçado por um bando de paparazzi doidos – os principais responsáveis em acabar com nosso diploma, por sinal. Celso Portiolli segue os passos de Silvio Santos – será que vai acabar curtindo uma peruca também? Maísa virou Vanderléia e Wanderleia sumiu da mídia, será que as raízes brasileiras não estão sendo ofuscadas por esse brilho superficial todo? Já dizia algum sábio do qual não recordo o nome: o povo é o que o povo vê. Será que o povo sendo generalizado está preparado pra perceber o que realmente é? Será que todo mundo, depois do almoço de domingo, que senta no sofá e fica procurando por canais e só encontra as mesmas mulheres montadas na maquiagem e quadros infames, está sendo obrigado a assistir isso? Será que tudo não passa de uma conspiração maluca pra deixar o povo burro? Será que somos manipulados pelo governo? Será que estou perdida neste mar de “serás”? Não precisa responder. Só tente desligar a sua TV, pelo menos um minutinho durante o dia. Pode testar, coloca o celular pra cronometrar caso for assim tão difícil. Pare pra pensar o que realmente importa. Será que Elvis Morreu? Será que Rubens Paiva era o inimigo central do governo ditatorial? Será que o apocalipse zumbi vai acontecer qualquer hora dessas? Será que o seu carinha não está pensando em te ligar agora? Será que você não está se preocupando demais? Será... será... Será que o mundo termina? Isso não sei, mas tenho certeza que a novela não vai ter uma revelação tão bombástica assim. Sério, vai por mim. Vivemos num mundo de clichês, somos cronometrados pelos ponteiros do relógio. Telas planas só vieram pra deixar tudo como sempre quisemos que fosse: simples, rápido e – o sonho do cabelo de muitas mulheres – liso.

Redução não é a solução! Jenifer Schmidt

Jornalista - formada pela UPF em 2013

Um dos assuntos que vem sendo motivo de debate em todo o Brasil é a redução da maioridade penal dos 18 para os 16 anos. Ouvindo a opinião das pessoas, eis que me surpreendo com o que escutei da maioria delas: - “Se o jovem já pode votar aos 16 anos, então também já pode responder criminalmente pelos seus atos”. Ora, o que tem a ver uma coisa com a outra? Não vamos misturar lé com cré. Se essa comparação fosse realmente de fundamento, não seria mais fácil então aumentar para 18 anos a idade em que o cidadão deve votar? Acredito que uma coisa nada tem a ver com a outra, tratando-se de um assunto tão sério. Será que um jovem menor de idade que comete um crime deve ser colocado em uma cela junto com um cidadão de 45 anos, por exemplo? Será que a caminhada de vida deles é semelhante, tamanha diferença de idade? Que oportunidades teve esse jovem que tão cedo entrou para o mundo do crime? Teve uma boa base familiar? Teve oportunidade de estudar e se qualificar? Recebeu orientação psicológica? Provavelmente a resposta para estas perguntas seja: Não! Precisamos, antes de dizer que somos a favor da redução da maioridade penal, analisar todo o contexto em que o possível “criminoso” está inserido. Não acredito que alguém nasça bandido. Acredito sim, que o sistema, a sociedade, as injustiças, a desigualdade, a fome, a violência doméstica e tantas outras decepções que as pessoas vêm acumulando ao longo dos anos, as façam partir para o mundo do crime, das drogas, não como uma opção, mas como uma possível solução. “Se não tenho trabalho, ninguém me contrata, pois não sou qualificado e ainda moro longe... Mas eu preciso comer, me sustentar de alguma forma”... Aí fazem campanha para as pessoas não darem esmola. E aí? … “Sentado em casa no conforto da minha poltrona, assistindo o noticiário na TV, é fácil dizer que um jovem de 16 anos que matou um colega também menor de idade é um assassino. Claro, ele manipulou uma arma de fogo, é um bandido!” Não! “Onde está meu filho da mesma idade deste garoto no turno inverso à escola? No curso de Inglês às segundas e quartas-feiras. Terças e quintas-feiras no cursinho de pré-vestibular. Sábado, passeando com os amigos no shopping, sim, porque sábado é dia de folga, de fazer compras, de ir pra balada, de planejar as férias de inverno... Mas o que teria motivado esse jovem de 16 anos a matar outro jovem? É um pivete mesmo! Deve ir pra cadeia!”

PUBLIQUE SEU TEXTO

Penso que nós, cidadãos, devemos olhar a redução da maioridade penal com olhos de seres humanos. Não podemos ficar alheios ao que acontece ao nosso redor e simplesmente fecharmos o vidro do carro ao sermos abordados por uma criança vendendo bala no sinal. O fato dela ser pobre, não faz dela um bandido. Talvez a exclusão social a que ela seja submetida, sim, possa conduzi-la ao mundo do crime, repito: não por opção, mas como uma possível solução. Penso que simplesmente jogar o jovem nos presídios já lotados, sem um apoio psicológico, sem uma ressocialização, não vai ajudá-lo em nada, ao contrário, vai transportá-lo a um novo mundo, ainda mais perigoso. E eu não tenho dúvidas de que este jovem, menor de idade, merece uma segunda chance, afinal, errar é humano e um adolescente em fase de formação, caso escolha um caminho errado, pode sim ser resgatado e inserido de volta à sociedade. Penso que se aprovada a redução da maioridade penal, estaremos tratando as consequências quando deveríamos tratar as causas. E se há tempo ainda para pensarmos e refletirmos sobre o assunto, que o façamos, afinal, nem todos nascemos sob um teto, assim como nem todos têm uma boa estrutura familiar, portanto, que não sejamos apenas espectadores do assunto, mas sim, partícipes ativos de uma sociedade não que mata, manda matar e vai chorar no velório, mas sim de uma sociedade mais fraterna e humana e que vejamos o outro como um irmão, independente do seu histórico familiar, social ou econômico. E que, principalmente, tratemos um jovem de 16 anos, de fato, como um jovem de 16 anos.

...simplesmente jogar o jovem nos presídios já lotados, sem um apoio psicológico, sem uma ressocialização, não vai ajudá-lo em nada, ao contrário, vai transportá-lo a um novo mundo, ainda mais perigoso.

Os textos da seção OPINIÃO refletem unicamente a posição de seus atores e não refletem, necessariamente, a opinião do Núcleo Experimental de Jornalismo. Para publicar seu texto, envie para o email nexjor@upf.br São aceitas contribuições de acadêmicos de qualquer curso da Faculdade de Artes e Comunicação da UPF.


Crônica

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O tempo não volta Maryana Rodrigues Estagiária NEXJOR

Estava sentada no banco de madeira de um shopping, desses que ficam no meio do corredor e não se pode esticar demais as pernas para prevenir um pisão nos dedos. A loja na minha frente era uma relojoaria, das mais finas. Atrás de mim uma loja de skates com uma caixa de som na porta, tocando antigos sucessos. Eu esperava uma colega da faculdade há mais ou menos duas horas. Já tinha dado cinco voltas no shopping e não aguentava mais o tédio das vitrines. No intervalo entre olhar para o relógio e para o celular, senta-se uma senhora ao meu lado, devia ter 60 anos ou mais. Cabelos brancos e corpo esguio. Ela escolheu o meu banco, mesmo tendo outros três vazios ao longo do corredor. Não por acaso, queria companhia. Juntou as mãos e as acomodou no colo como quem sente frio. Começou a falar, nem mesmo disse

seu nome ou sequer perguntou o meu, mas já estava me contando sobre os chocolates que havia comprado para o neto, da irmã que havia perdido há algum tempo, das águas termais que frequentava e da saudade da juventude. - Olha menina, é horrível essa dor nas minhas costas, e eu nunca pensei que ossos pudessem doer tanto. Achei engraçado, ou preocupante, porque eu, uns 40 anos mais nova, já sentia dores nas costas. Ela continuou falando, me contou que adorava comer balas enquanto assistia televisão, mas teve que parar por causa da diabetes, e que as vezes escondia as caixas de bombom em cima do guarda-roupas. Seus filhos eram muito chatos e não gostavam que ela oferecesse doces aos netos. Na loja de skates atrás de nós começou a tocar a música Epitáfio dos Titãs. “Devia ter amado mais, ter chorado

mais, ter visto o sol nascer...” A velhinha se comoveu atrás de seus óculos. - Essa música me faz ter vontade de voltar no tempo. Pena que o tempo não volta. Enquanto a gente é jovem e tem vontade, as vezes faz regime ou não tem dinheiro ou tempo. Quando a gente é velho tem dinheiro e tempo, mas não tem vontade. Por isso faça as coisas que tu gosta enquanto é jovem, minha filha. Tinha certeza que passaria o dia pensando nas palavras da velhinha. Minha colega então chegou. Me despedi da senhora, não perguntei seu nome, apenas desejei-a tudo de bom. Naquele momento abandonei o regime, caminhei até o McDonald’s e aceitei fritas grandes por 50 centavos a mais.

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Bate-papo

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Versão brasileira Há que odeie, há quem não consiga assistir a um filme sem. A dublagem nas produções cinematográficas é um recurso que possibilita a tradução do conteúdo de um filme ou desenho animado para outro idioma.

João Vicente Mello da Cruz Estagiário NEXJOR

ração decente. Raramente se ganha grana dublando. Evidentemente há exceções. Quem consegue ser diretor, talvez consiga viver com um pouco mais de dignidade. Infelizmente, é a realidade. Nexjor - Como anda o mercado da dublagem em meio a essa “marginalização” do filme dublado ao legendado? O mercado sempre foi muito competitivo tanto para os estúdios quanto para os profissionais. E a remuneração é por hora de trabalho. Então se você dublar bem num mês terá um salário razoável, mas no mês seguinte você poderá trabalhar pouquíssimo. É muito instável. E para dublar você precisa ter tempo disponível, e não remunerado, o que complica ainda mais a carreira. Não é fácil!

É

assim que muitos filmes e também outros produtos audiovisuais ganham uma “versão brasileira”, que ficam famosas nas vozes de muitos dubladores que permanecem no anonimato. O dublador Luiz Feier Motta trabalha com dublagens há mais de 30 anos, emprestando a sua voz para atores como Sylvester Stallone, Steven Seagal, Pierce Brosnan, Arnold Schwarzenegger e Chuck Norris. Em entrevista, ele conta como funciona a profissão, como anda o mercado de dublagem e também o que uma pessoa interessada precisa para se tornar dublador.

Nexjor - Como entraste nessa profissão? Na verdade fui ao Rio em 1981 para atuar como ator. Pois aqui em Caxias eu participava de um grupo teatral, Grupo Ribeiro Cancela, e eu achava que levava jeito para a coisa. Meu diretor, Sr. Almirante João Francisco também achava e me incentivou a tentar seguir a carreira profissionalmente. Mas chegando ao Rio, participando do Curso Jaime Barcelos para formação de atores, no qual fiquei classificado em primeiro lugar num concurso realizado em fevereiro de 1981, logo percebi que o caminho seria longo e muito difícil. Eu precisava me manter, me alimentar, me vestir, pagar aluguel, etc. Por orientação e, até incentivo do meu professor, Daniel Barcelos, hoje ator da Tv Globo, e alguns amigos que fiz até àquela época, comecei

a procurar os estúdios de dublagem e rádios. Meu primeiro teste de dublagem foi na Telecine, hoje extinta, onde comecei a trabalhar imediatamente, onde comecei a aprender a dublar. E em setembro do mesmo ano, após realizar testes em quase todas as emissoras de rádio do Rio, fui admitido na rádio Globo FM. E aí fui trabalhando com radio e dublagem paralelamente. Para ser um bom dublador você precisa de ter uma ótima dicção, leitura dinâmica e, principalmente, interpretação; ser um ator em dublagem. Nexjor - Como é a rotina do trabalho de dublador? Como que tu recebe os papéis dos atores e dos filmes que tu vai dublar? Quanto à rotina, você entra no estúdio sem saber o que vai fazer. Você é orientado pelo diretor de du-

blagem sobre o papel e sobre o ator que você dublará. Os diálogos já estão traduzidos. O trabalho do dublador é sincronizar a sua própria voz sobre o movimento labial do ator, interpretando o personagem. Parece simples, mas não é. Para dominar esta técnica leva-se muito tempo. Hoje os cursinhos de dublagem facilitaram um pouco, reduzindo o tempo de aprendizagem. Na minha época não existiam os cursinhos e aprendia-se assistindo dublagem nos estúdios. Mas mesmo assim, se o candidato a dublador não tiver “talento”, dificilmente chegará ao topo da profissão. Nexjor - Qual é o lado difícil e desafiador da profissão, se ele existe? O lado negativo da profissão, na minha opinião, é a falta de reconhecimento material, ou seja, remune-

Nexjor - Quais os requisitos que alguém interessado na profissão de dublador deve atender? Qual o caminho que ele deve trilhar? Para ser um bom dublador você precisa de ter uma ótima dicção, leitura dinâmica e, principalmente, interpretação; ser um ator em dublagem. Para atuar profissionalmente, o candidato a dublador, precisa ter em primeiro lugar, o seu registro profissional de Ator. Sem ele, nada feito. Depois, fazer um curso de dublagem e aí, entrar no mercado, que é extremamente competitivo. Os cursinhos lançaram muitas pessoas no mercado, e este mercado é muito pequeno. Qual os papéis que tu mais gostou de dublar? E qual dublagem tu acha que é referência, tipo, em um filme que marcou. Quanto às minhas dublagens, gosto muito de dublar o Stallone, apesar de não ser um ótimo ator. Dublar o Pierce Brosnan (007) também me gratifica muito. Mas o que eu mais gostei foi de dublar o Morgan Freeman em Deep Impact (Impacto Profundo) e Menina de Ouro na versão que foi exibida na Tv Globo. Pois também existe uma outra dublagem (paulista) que foi para DVD e Blu Ray. Particularmente, levo o meu trabalho muito a sério, pois gosto do que faço, independente de qual ator dublo e de que filme for. Me orgulho de todas as dublagens que realizei nestes anos todos.


Bate-papo

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Política, religião e cartas desaforadas Percival Puggina, arquiteto, escreve semanalmente no Jornal Zero Hora e coloca nas páginas a sua opinião sobre tudo: desde a política até a religião Sammara Garbelotto Estagiária NEXJOR

rquiteto por formação, há 44 anos. Filho de um político e de uma poetisa, a herança paterna o fez se apaixonar pelos fios, por vezes confusos, da política brasileira. Curiosamente, engajou-se, também, na Igreja Católica. Tornou-se Doutor em Doutrina Social Católicae ativista político. Semanalmente, pode ser encontrado nas páginas da Zero Hora, onde coloca toda a essência do seu pensamento.

A

Percival Puggina, nascido em Santana do Livramento da década de 40, carrega consigo a realização do sonho que todo acadêmico de jornalismo carrega apenas na mente: uma página do Word, em branco, livre e gritante – escreva o que quiser. Arquiteto, ele mais parece um desses jornalistas – raros – que querem a mudança e veem no jornal – ou no on-line – a oportunidade de ouro para fazer a hora e não esperar acontecer. Jornalismo x política Nexjor: Em tempos de eleição se discute muito o papel do jornalismo na política brasileira. Como eleitor e como alguém que tem uma página semanal para falar o que quiser, como você vê a relação jornalismo x política e como essa relação influencia na escolha do eleitor e da própria sociedade? Bom… É preciso ler além do jornal, da revista, da foto, além da ordem das palavras. Depois de muito pensar, eu compreendi e tenho a clara convicção de que numa sociedade de massa, principalmente numa sociedade de massa como a brasileira – onde o nível cultural é muito deficiente, cujo nível de compreensão, mesmo dos fenômenos políticos, é muito precário – a imprensa tem um papel fundamental de educação e de auxílio na interpretação dos fatos. Com raras exceções esse papel não é cumprido.

Nexjor: E, de forma prática, qual é esse papel? A imprensa precisa ir além da superfície dos fatos, mergulhar no profundo, na origem dos problemas que temos. Se a imprensa não trouxer esse tipo de análise para a reflexão do leitor – falo claramente do jornal, da TV, do blog e de todas as novas formas de mídias disponíveis – quem fará? Se a imprensa não deixar em segundo plano aquelas pequenas questões que são parte da política, mas que não são a política, quem fará? Falo, por exemplo: “o que um candidato disse do outro, o que aconteceu na reunião, o que um criticou e outro aceitou” – isso é parte da política, mas não é a política. A política ou está voltada para realizar o bem comum, ou é uma porcaria de que ninguém precisa e que está aí para atrapalhar. E a imprensa precisa educar a sociedade para compreender o fenômeno político. Eu faço uma avaliação em relação ao futebol: a imprensa esportiva analisa a partida – jogou assim, jogou assado,

Eu arrumo muito inimigo por falar minha opinião. Mas nós temos que sair do mutismo. Eu digo uma coisa diferente do que a maioria diz, e é só a minha visão.

aconteceu isso por causa daquilo, se tivesse feito de outra maneira teria acontecido outra coisa – analisam-se as posições e as funções de cada jogador. Analisam-se as causas e as consequências. Na imprensa política, raramente, se vê

esse tipo de análise e aí acontece o desvirtuamento do seu papel social. Não acredito que seja por falta de capacidade, mas por falta de interesse do leitor, talvez. Mas, se a imprensa não fizer, continuaremos a ter uma política de barbaridade. E, em função dessa característica da imprensa esportiva, as pessoas sabem quais são os grandes clubes, os melhores jogadores, os melhores técnicos, conhecem a história, conhecem o símbolo. O torcedor tem do clube de futebol uma memória cidadã clubística superior à que ele tem como cidadão político e é um contra censo. Futebol é futebol, política é muito mais importante. E raramente se faz isso, poucos fazem, poucos criticam. E a sociedade é sempre desorientada para a história errada. O povo não se engana, o povo é enganado. Outros o enganam. Desenganar e desiludir é uma função de esclarecimento que as pessoas não podem fazer sozinhas, mas têm que ser ajudadas.

Opinião x jornalismo imparcial Nexjor: Colocar a opinião na página do jornal é muito arriscado. Optando por colocar o teu pensamento, ali, você já foi prejudicado em algo? Mas claro que já fui prejudicado. Eu arrumo muito inimigo por falar minha opinião. Mas nós temos que sair do mutismo. Eu digo uma coisa diferente do que a maioria diz, e é só a minha visão. Não estou mudo e tenho espaço para proporcionar o contraditório, mas pode ter certeza de que isso não me rende afetos.

Religião x jornalismo Nexjor: Falar de política é complicado e a religião não fica atrás. Você assume a sua crença de forma muito clara. Como lidar com a relação jornalismo e religião? Eu nunca tive nenhum prejuízo no jornal em função de minhas opiniões e nunca fui “barrado” em função da minha escolha religiosa. Recebo muitas mensagens de leitores com críticas, mas nada que me intimide. Às vezes recebo umas cartas desaforadas que respondo: “Muito obrigado pela crítica, o senhor está contribuindo para o aumento das cartas

mal educadas que recebi” e nunca mais me escrevem. Nexjor: É muito falado em imparcialidade no jornalismo. Isso existe? Percival Puggina: Meu ponto de vista é que quem escolheu jornalismo escolheu uma carreira extraordionária. Eu já quis fazer jornalismo, fiz vestibular aos 50 anos, frequentei poucas aulas e pedi pra sair porque eu não teria tempo para me dedicar a isso. E em função disso eu acho que, em uma parte do jornal, você precisa ser imparcial entre aspas e há uma parte aberta, de opinião mesmo. Na parte aberta, onde eu escrevo, é um espaço livre de exposição de ideias. Mas, nas entrelinhas das matérias, é ruim quando se percebe que há uma tendência, a menos que essa tendência seja explicitada pelo veículo. Tu não podes te vestir de isento para produzir uma matéria de forma que seja mais conveniente para ti. Não é muito honesto.


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Reportagem

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Uma ideia de sustentabilidade A casa ecológica localizada em um sítio em Passo Fundo foi criada por Alexandre Zaffari é exemplo de economia e sustentabilidade

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Eduarda Ricci Estagiária NEXJOR

ideia de ecologia, reciclagem e reaproveitamento sempre esteve presente na vida do casal, Alexandre e Analice Zaffari. Foi quando, em 2009, surgiu a ideia de construir uma casa sustentável. As influências para a construção da casa, foram muitas, como por exemplo, o movimento escoteiro, que Alexandre participava quando criança. Para ele, o escotismo traz o amor pela natureza e também a ideia da ecologia. “Participando do movimento escoteiro, fui estimulado a gostar de sustentabilidade e também a ser criativo.” conta. A criatividade que Alexandre se refere, reflete também no interior da casa. Diversos móveis são resultado do reaproveitamento, como os banquinhos, feitos de latas de tinta vazias. Na casa sustentável, Alexandre e sua esposa guardam boas histórias.”As ideias que trouxe, para a construção da casa, vieram das experiências que tive em minha vida. Já viajei por 17 países, então, de cada lugar que visitei trago uma história” fala Alexandre. A construção da casa sustentável envolveu o apoio de muitas pessoas, principalmente da esposa, Analice Zaffari. “A ideia foi toda dele, a criatividade é dele,

mas eu sempre apoiei e ajudei no que precisou.” conta Analice. Outro exemplo de apoio que Alexandre recebeu foi de um amigo, que pesquisava sobre a técnica chamada Superadobe, e deu a ideia das paredes serem construídas de terra. A construção A base da casa é feita de pneus cheios de terra, dificultando a entrada da umidade. Foram usados 27 postes de madeira para sustentar a casa e as paredes seguiram a técnica do Superadobe, com terra e ráfia. Todos detalhes internos da casa, foram feitos com sobras de construções e vidros reaproveitados. Algumas paredes internas e móveis da casa são feitas com a madeira OSB, cultura dos Estados Unidos. A água vem de um poço e é aquecida por painéis solares que captam a energia do sol, aquecendo a água das torneiras e chuveiros da casa. O casal enfrentou alguns problemas na construção da casa:

Os planos de sustentabilidades do casal não param com a construção da casa. Eles ainda planejam terminar o muro de pneus, captar a energia do catavento que tem na frente da casa, implantar um projeto de aproveitamento da água da chuva e instalar painéis fotovoltaicos para aproveitar a energia solar.

uma parede cedeu um pouco e teve que ser reforçada e uma parede interna feita de bambu teve que ser retirada por problemas com caruncho. Já o forro da casa sustentável é de caixas de leite e isopor, não deixando o calor entrar. Segundo Alexandre, a parte da eletricidade foi bem complicada. “Nenhum eletricista aceitou fazer a fiação da casa, então tive que fazer um curso de eletricidade, e completei a instalação” conta. Próximos planos Os planos de sustentabilidaa construção da casa. Eles ainda planejam terminar o muro de pneus, captar a energia do catavento que tem na frente da casa, implantar um projeto de aproveitamento da água da chuva e instalar painéis fotovoltaicos para aproveitar a energia solar.

Foram usados 27 postes de madeira para sustentar a casa e as paredes seguiram a técnica do Superadobe, com terra e ráfia.


Reportagem

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E você aí, reclamando? “… Mas é claro que o sol vai voltar amanhã, mais uma vez, eu sei…”. Nem passava pela cabeça do “poeta” Renato Russo que sua música ajudaria a contar uma história tão bela

Edivane Bloedow Estagiária NEXJOR

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açanã Andrei Ávila Baptista, 19 anos, nasceu em Condor, pequeno município do interior do estado. Desde cedo o jovem convive com um problema de visão, mas o sonho de ser jornalista falou mais alto e, hoje, o estudante é um dos futuros profissionais que serão formados pela Universidade de Passo Fundo. Deficiências Visuais “Para ser jornalista é preciso estar atento a tudo e é necessário informar as pessoas com a maior seriedade possível”. Iaçanã já demonstra desde o primeiro semestre que a ética imposta na profissão deve ser seguida e que ele a considera de extrema importância para o trabalho de qualidade. Além disso, o jovem admite que nunca pensou em seguir outra carreira, pois o jornalismo é um sonho antigo e um amor incondicional. Iaçanã passou por muitas dificuldades e preconceitos, mas resolveu seguir e enfrentá-los de cabeça erguida, já dizia Renato Russo: “Nunca deixe que lhe digam que você

nunca vai ser alguém”. Por mais que a força de vontade seja enorme, o estudante se depara com algumas limitações técnicas para participar das disciplinas práticas, como planejamento gráfico e editoração, pois envolvem imagens e cores. A coordenadora do curso de jornalismo, Bibiana de Paula Friderichs, afirmou que o colegiado do curso está empenhado em encontrar alternativas que permitam ao aluno construir esses conhecimentos técnicos específicos: “algumas adaptações são necessárias e estamos tentando descobrir qual é o melhor caminho de fazê-las. Todos nós aprendemos com isso”. Iaçanã também conta com a colaboração do SAES que, por meio de tecnologia assistiva, dá suporte, ampliando o tamanhos das letras no material impresso necessário para acompanhar as aulas. Além de todo o apoio recebido pela coordenação do curso e também pela universidade, Iaçanã tem, dentro da sala de aula, pessoas que acreditam e confiam em seus esforços. O professor Lutecildo Fanticelli diz que a diferença de apren-

dizado se limita a questões técnicas, mas o interesse do aluno o deixa otimista. “Ele parece bastante interessado e da minha parte não noto dificuldades, ele é um aluno que senta na frente, pergunta bastante e ver o interesse do aluno é bom para o professor”. A garra de Iaçanã surpreendeu colegas que afirmam ter um exemplo de superação em sala de aula. Bruna Focking diz que o jovem é muito especial. “A gente não tendo nenhum problema fica reclamando da vida e ele está sempre feliz, chega dando “oi” pra todo mundo e isso é gratificante pra nós”. Julia Possa diz que os laços de afeto se estenderam e agora Iaçanã já é um grande amigo. “Ele é um excelente amigo que não enxerga, literalmente, pelos teus bens e sim pelo que você é”. Iaçanã superou o preconceito e a dúvida, acreditou que era capaz e mostra que quando se quer algo, é necessário lutar e acreditar. A mensagem da bela canção de Renato Russo “… Quem acredita sempre alcança…” foi bem interpretada por Iaçanã e agora ele pode cantá-la em alto e bom som. É como o jovem mesmo fala “não desistam,

sigam em frente, a vontade supera tudo, nós quando estamos com vontade, ninguém para”. E a baixa visão, o preconceito e as incertezas ficaram aonde? Bem, elas nunca foram as protagonistas principais.


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Uma outra roupagem

Sammara Garbelotto

mitológico, participam de um

Jornalista, formada na FAC em 2013 esquema simbólico aberto e

Era uma vez... Clássicos inflexíveis. Heróis, vilões e um final previsível. A princesa, presa na torre, aguarda ansiosa a chegada de um príncipe que, montado em seu cavalo branco, derrota bruxas, madrastas ou rainhas más para, enfim, chegar ao altar e conquistar um “felizes para sempre”em poucas páginas. Um vampiro assassino, sem sentimentos ou qualquer resquício de humanidade. Um deus acima do bem e do mal e distante do homem. Esse cenário, era uma vez. O que se vê, hoje, por todos os lados – das páginas dos livros aos intervalos das séries na TV – são personagens reinventados que assumiram uma nova identidade, ainda que a sua essência permaneça a mesma. Essa mudança se deve ao ser humano, que assume características diferentes para cada época em que está inserido. Doutor em Filosofia e professor da Universidade, Francisco Fianco destaca que há necessidade de mudança e que esta é evidente: “Os personagens da literatura são mais vivos do que os da história. Estão sempre sendo reinventados, pois, ao fazerem parte de um sistema

mutável, que acompanha as transformações dapsique humana conforme suas necessidades”. Essas necessidades caminham juntamente com a transformação social e, justamente por isso, o produto consumido pelo homem – seja ele de ordem intelectual ou não -, se quiser sobreviver, deve adaptar-se. “Estamos, inegavelmente, vivendo uma época de transformação, uma transição social e psicológica que alcança todos os aspectos da existência humana. E isso se reflete, obviamente, na criação literária”, explica Fianco. Eládio Weschenfelder, mestre em Literatura, concorda. Para ele, há pelo menos duas razões para que as transformações nos clássicos aconteçam. A primeira atinge a ideologia. “Se busca o ‘politicamente correto’, simplesmente. Devido ao caráter marcadamente negativo dos textos tradicionais – já que estes apresentam personagens repletos de vícios e maldades – alguns autores da modernidade buscam inverter o caráter e a conduta dos personagens antagônicas”, explica Weschenfelder, que continua destacando que são os vilões que sofrem as principais mudanças: “Textos com personagens antigos tomados de vícios e maldades, agora, se apresentam com

nova face, nova roupagem, repletas de virtualidades”, conclui. A outra razão, segundo Eládio, atinge o aspecto literário: “Do ponto de vista literário, artístico, há um desvio intertextual denominado paródia, em que se mantém os personagens do texto-base, a trama do texto antigo, invertendo-lhe o sentido, a significação”, comenta. Para ele, as reinvenções, de qualquer criatura ou texto, podem ser consideradas paródias que estão em acordo com a primeira razão, já que satisfazem a moral e a ética. É o caso dos bruxos. De Blair à Harry Potter, quase tudo mudou. Humanizado, o portador da varinha ganhou o público e a crítica. Aqueles que antes eram condenados a fogueiras são, hoje, motivo de saudade e nostalgia dos fãs que cresceram ao lado do bruxo. “De maneira geral, estas transformações recuperam, em muitos aspectos, características originais das lendas no seu momento de surgimento”, destaca Fianco. Harry não está sozinho: os contos de fadas que nasceram da mente dos Grimm também optaram por mudar o seu final. Princesas fogem das pompas de um vestido e do concreto de um castelo para se encontrarem em meio a uma batalha entre espadas e armaduras. O ideal não é mais tão bem visto assim: “Desconfiamos ime-

Especial

diatamente das promessas maravilhosas do ideal, o que nos permite eleger um ogro simpático como protagonista e colocar o já destronado príncipe encantado como vilão da história. Nós, ogros, agradecemos”, brinca Fianco. O professor comenta, ainda, que nem sempre o antagonismo se torna virtude, como citado por Eládio. “Existem, por vezes, contos de fadas, que recuperam a obscuridade e a seriedade de suas primeiras versões, sem o filtro de amenização que as tornaram mais suaves para poderem ser apresentados às crianças sem tanto choque”, comenta. Vide A Garota da Capa Vermelha, uma releitura de Chapéuzinho Vermelho. Talvez a principal mudança esteja nos sedentos por sangue. De Drácula a Edward, os vampiros assumiram características peculiares e, ainda que brilhem, a sua nova versão – com uma dose a mais de escrúpulos – caiu no gosto popular. Mas nem só de Edward o mundo dos vampiros vive. Entre séries, livros e filmes, talvez sejam a criatura mais presente da cultura contemporânea. Cultura essa que insiste em explorar o herói: entre Homem Aranha e Super-Homem há uma infinidade de personagens que DC Comics e Marvel deram à luz. E, ainda que nascidos em uma outra época, voltam à tona em versões que contam aspectos da

sua vida que os quadrinhos preferiram esconder. Heróis se tornaram muito mais humanos. “Nossa subjetividade contemporânea, por uma série inumerável de fatores, não lida bem com idealizações, ou seja, estamos começando a entender a vida e as pessoas como passíveis de imperfeição”, comenta Fianco. Os mitos não ficaram de fora. Do alto da sua incapacidade de falha, deuses foram reconfigurados e assumiram aspectos muito mais próximos da humanidade. Atena, Hermes e Poseidon viraram pais de pré-adolescentes. Esses, por sua vez, à certa idade se descobrem semi-deuses. E, mais uma vez, a necessidade humana de ser melhor ou de ter poder se sobressai sobre a realidade do mito. E, fechando a lista dos que preferiram adotar uma nova roupagem, estão “eles”. Nos últimos tempos outra criatura anda tomando o feed de qualquer rede social. Eles continuam andando por aí, sem rumo, à procura de um cérebro para comer. Sim, os zumbis estão em evidência. E não é de hoje, Michael Jackson que o diga. A literatura, por fim, vive. “Essa reinvenção toda é a literatura alimentando-se da própria literatura, garantindo, de certa forma, a sobrevivência da arte literário”, conclui Eládio. Então, que seja “era uma vez” de novo.


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Bruxos? Talvez heróis Eles foram dispensados das fogueiras. Seus rituais, antes condenados à obscuridade, estão agora abertos às possibilidades da luz. Suas varinhas, antes escondidas, são objetos de desejo. Bruxos? Não no sentido que a palavra remete. Não mais. Outrora destinados aos amantes do terror, os bruxos invadiram a cultura contemporânea e trocaram de papel: são heróis. Da câmera na mão de Blair aos efeitos visuais de Harry Potter, um grande caminho foi percorrido. Caminho esse que teve início muito antes. O bruxo no cinema não é novidade. Em 1966, por exemplo, um dos filmes que fez com que homens e mulheres se encolhessem foi Bruxa – A Face do Demônio ou The Witches. Na época, a migração de grandes atores para o terror deu crédito ao gênero e o longa, estrelado por Joan Fontaine e que marca o fim de sua carreira, se consagrou como um dos mais importantes da época. A história envolve uma professora, uma cidade pequena, um casal adolescente e estranhos acontecimentos que impedem uma rotina normal. Rituais de magia negra movem a trama que é carregada de suspense. Um ano depois do lançamento de A Face do Demônio, Viy – O Espírito do Mal traz, segundo a crítica, o horror de verdade para a cena. Depois de

se perder, o personagem central se envolve e mata acidentalmente uma jovem que, na verdade, é uma bruxa. Dias depois, acaba passando três noite velando o caixão de uma jovem - a mesma Bruxa - que renasce durante a noite para tentar matá-lo. A do que se imagina: má. A maldade, no entanto, se perde no meio do caminho e com a chegada de Sabrina às telas, a bruxaria se torna ingênua e passa longe de qualquer menção ao terror. Na série – exibida entre 1996 e 2000 nos EUA – e no filme, também de 96, Sabrina é uma adolescente que, ao se deparar com poderes, não sabe bem como usá-los. A bruxa, enquanto figura do imaginário humano, adentra na comédia. Ao lado de Sabrina, As Bruxas de Eastwick ajudam a representar a nova fase. Eis que em 1997 chega às bancas inglesas o primeiro exemplar de uma série que modificaria qualquer estereótipo que o cinema ou que a literatura tenham imposto para o bruxo. Último representante da classe, Harry Potter, transformou um cenário construído através dos anos com poucas páginas. Tornouse herói. Não assumiu a característica horripilante dos primeiros bruxos e não deixou que a comédia invadisse a narrativa. Talvez tenha unido ingredientes: um bruxo que não sabe como usar seus po-

deres, um vilão capaz de atrocidades inimagináveis em um filme cuja classificação é livre, um herói – ou anti-herói – cheio de defeitos e que, apesar de qualquer erro – é o único capaz de solucionar grande parte das problemáticas que o enredo apresenta. Harry Potter nunca foi um filme infantil. É, sim, uma história que cresceu com o seu público. E, além da mudança do cenário, apresenta – metaforicamente – uma mudança social. O professor e doutor em Filosofia, Francico Fianco, explica que a história de Potter pode ser compreendida como a própria mudança no contexto social. Gerações mais antigas estavam acostumadas com histórias cujos personagens desenvolviam suas aventuras de forma prática e braçal utilizando, para isso, força física. Ele comenta, ainda, que “os heróis eram guerreiros, mesmo que tivessem poderes especiais, suas peripécias eram de combate físico e geralmente espelhavam as relações de forças políticas mundiais”. A pós-modernidade, no entanto, contribuiu para que a transformação social atingisse, também, a cultura: “Conforme esses conflitos foram ficando mais amenizados no imaginário social, outras questões foram surgindo”, inicia. “A presença marcante da tecnologia – que não deixa de ser, aos olhos leigos, uma es-

pécie de magia – é uma constante na nossa vivência cotidiana. Logo, as habilidades puramente físicas de antes, são substituídas por habilidades cognitivas de operação de instrumentos”, conclui. Ele compara, ainda, as varinhas e os encantamentos com o controle remoto ou o teclado de um computador: “as novas gerações manipulam com maestria”, acrescenta. De fato, a mudança que o garoto da cicatriz carrega, vai além da proposta narrativa: Potter e Voldemort, em seu conflito que dura sete livros, modificaram uma geração inteira. E, para Fianco, foi uma transformação democrática “pois abre espaço àqueles que eram até então menosprezados numa sociedade que valorizava demasiadamente a força física e refletem, também, um equilíbrio de gênero, já que muitas vezes o herói

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é salvo pela sua colega, Hermione.” Além disso, Harry Potter modificou a forma do jovem ver a literatura. A professora Tania Rösing, no lançamento da 13º Jornada Nacional de Literatura, destacou que a juventude, hoje, ao contrário do que se pensa, lê. “O jovem lê Harry Potter, lê Senhor dos Anéis, lê livros enormes. Por que ele gosta disso? É preciso entender o porquê disso para que possamos entender o jovem e trabalhar com ele”, comentou a coordenadora das Jornadas, na época. Eládio Weschenfelder, Mestre em Literatura, acrescenta que essa transformação acontece porque “a literatura moderna se apropria de temas literários da tradição, mas opera a inversão de sentido” e isso, de forma inconsciente ou não, proporciona novidade. E o que se quer é isso: novidade.


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Era uma vez... Os castelos foram destruídos. Os príncipes não são mais esperados. As princesas assumiram as rédeas das próprias carruagens. Os Contos de Fadas se reinventaram – conquistaram novamente, espaços midiáticos, mas ficaram diferentes: os finais não são mais felizes, o início não é tão inocente e as amarras das histórias são mais fundamentadas na ação. Nos contos originais, que surgiram como uma ramificação das fábulas, o herói ou heroína, geralmente, enfrenta grandes obstáculos antes de triunfar, de fato, sobre o mal. Ainda, o amor é uma espécie de fio que percorre a narrativa inteira – por vezes, o fio se confunde entre obstáculos, mas, jamais, se perde. Caracterizados, basicamente, por uma busca pessoal por parte do herói – seja ela de realização pessoal ou amorosa. Mas onde, nisso tudo, entram as fadas? Na maioria das tradições, as fadas como símbolo do amor. Sempre ligadas ao sentimento eram retratadas, inicialmente, como sendo elas próprias as amadas. A cristianização do mundo, como destaca Nelly Novaes Coelho em seu livro, Os Contos de Fadas, trouxe um novo sentido para as criaturas: tornaram-se então, mediadoras do amor. Nas pági-

nas que se seguiram, tornaramse uma espécie de madrinha dos apaixonados. Cinderela é o principal exemplar da situação. A jovem que tem duas irmãs e uma madrasta realiza o sonho de princesa com ajuda de uma varinha mágica. A história não é nova, mas continua a ser repetida. Cinderela perde seu sapatinho de cristal e, com ele, encontra o seu príncipe. Inocente, ingênuo e tradicional, é bem diferente de A Nova Cinderela. No filme, de 2004, a Cinderela gosta de hambúrguer e seu sapatinho é, na verdade, um allstar. O que perde é o celular. A mudança, apesar de pequena, é, segundo o doutor em Filosofia e professor da Universidade, Francisco Fianco, a recuperação de uma tradição antiga: “de maneira geral, estas transformações recuperam, em muitos aspectos, características originais das lendas no seu momento de surgimento”, explica. Ainda no hall de princesas, Rapunzel é, talvez, a que apresente maiores modificações. Na história original, dos irmãos Grimm, publicada em 1812, Rapunzel vive com uma bruxa que a tranca em uma torre. A única ação da princesa é cantar. Assim, atrai o príncipe. A descoberta dos encontros pela bruxa acaba com Rapunzel, grávida, vivendo em um deserto e o príncipe cego.

Na última adaptação, Enrolados, o potencial da história ruma para os homens. A mudança no título, por exemplo, deixa de lado o estereótipo de “filme de princesa” para se centrar em ser simplesmente um longa animado com um casal protagonista. A história acompanha a modificação: a primeira metade se centra em um ladrão que rouba as tiaras de uma princesa; na sua fuga, encontra a torre onde Rapunzel está presa e tenta se esconder por lá. Rapunzel, no entanto, não é uma princesa comum: com uma frigideira em punho e utilizando de seu cabelo consegue se defender, nocautear o ladrão e esconder a tiara que ele roubou. A princesa, aqui, tem atitude e não passa despercebida. Assim como nas últimas adaptações de Branca de Neve. Em Branca de Neve e o caçador, por exemplo, a princesa ganha armadura – assim como em Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton. Ambas lutam pelo que desejam – seja reconquistar um reino ou destruir um ogro. Os príncipes – quase sempre sem nome – ficam em segundo plano, assim como o amor – ainda que os dois sejam elementos essenciais para o desenvolvimento da trama. Uma das produções que mergulhou fundo nas adaptações é a série da ABC Once Upon a Time.

Em duas temporadas retrata a reunião de todos os contos de fadas em um mesmo mundo. Centrada em Snow White e Charming, a série é um apanhado de histórias transportadas para o mundo real. Na tela, Cinderela é amiga de Chapéuzinho Vermelho que é, na verdade, o Lobo Mau. As mudanças deram certo. Once Upon a Time é uma das séries de maior audiência do canal. As transformações, como destaca Eládio Weschenfelder, mestre em Literatura, é o que mantém as histórias vivas.

(...) os finais não são mais felizes, o início não é tão inocente e as amarras das histórias são mais fundamentadas na ação.


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Eles ainda mordem? Terror. Medo. Desconfiança. Um cenário escuro. Noite e névoa. De repente, ele aparece. E, logo, não está mais ali. Restam, apenas, os rastros de um assassinato – uma mordida na jugular. Romance. Desejo. Curiosidade. O cenário é uma escola. Não há sol, mas é dia. Quando ele aparece, camuflado entre os alunos, o olhar de 100% do público feminino – na escola, nas salas de cinema, nas páginas de um livro – se voltam para ele. Mas ele não pode ficar por muito tempo. O desejo por sangue humano não o consome, mas o incomoda. Ele prefere salvar vidas caçando animais. De Drácula a Edward Cullen: Em que momento as transformações de gênero, linguagem e narrativa romperam com a própria essência do vampiro? Drácula, o romance de 1897, é uma espécie de diário com cartas de diferentes personagens. Há diferentes contextos, mas um fato se assemelha: por onde passa, conde Drácula deixa um rastro de morte e destruição. Foi adaptado ao passar dos anos e é considerado um dos grandes responsáveis pela caracterização do vampiro enquanto pertencente ao terror. Mais de um século foi capazes de criar Os Cullen. O Vampiro deixa de ser um monstro, para tornar-se o par ideal. Ele deixa de andar somente a noite, pois consegue, desde que não tenha sol, se adaptar a claridade. E quando há sol… Bem, ao invés de pegar fogo, explodir e morrer, eles brilham. E, ainda, por optarem pelo “vegetarianismo vampiresco” tem os olhos cor de mel. E, para finalizar,

se relacionam com lobisomens e, ao lado deles, são personagens centrais de uma disputa pelo coração de uma humana. Stephenie Meyer, autora da saga Twilight, é, hoje, uma das mulheres mais ricas do mundo. Sua história, ainda que contraditória, foi capaz de render rios de dinheiro. Por quê? Para o professor da Universidade de Passo Fundo, Francisco Fianco, os motivos vão de encontro a uma nova proposta de sexualidade e romance. Ele explica: “Os vampiros passaram de opositores dos lobisomens – naquilo que poderíamos chamar de uma narrativa simbólica da luta de classes dentro de um sistema feudal; sendo os lobisomens a caracterização exacerbada dos camponeses aos olhos dos aristocratas e os vampiros a personificação do parasitismo dos nobres na sociedade do Antigo Regime – para pares românticos ideais”. Ele cita, ainda, o caráter sedutor e lascivo dos vampiros que vai, também, de encontro à aristocracia feudal. Sedução essa que permite a quebra de regras religiosas impostas na Idade Média, mas que, ainda hoje, exercem certa influência sobre sociedades cristãs. “Percebermos que essas regras de castidade, por exemplo, eram frequentemente seguidas à risca pelos plebeus e raramente observadas pelos nobres e pelo clero. A transformação do vampiro permite a inserção desta sexualidade latente em um contexto puritano como o dos Estados Unidos, no qual a problemática da relação sexual adolescente é muito mais neurótica do que no nosso contexto católico-tropical do ‘depois eu me arrependo’”, continua.

Ainda que latente, a sexualidade permanece um tabu. Enquanto Drácula usa da sedução para conquistar vítimas, Edward se casa com Bella antes de qualquer aproximação sexual. É a prova, para Fianco, de que a transformação permitiu, apenas, que se falasse sobre sexualidade de uma forma mais liberal, ainda que na prática a vivência permaneça sob regras religiosas. “Simultaneamente ao surgimento e desenvolvimento do que poderíamos chamar de “vampiro beijoqueiro”, aquele que beija, mas não morde, percebeu-se um aumento crescente das alianças de “pureza”, como se pureza e castidade tivessem alguma relação intrínseca”, destaca. Ainda há esperança! Mas Crepúsculo não é a última palavra sobre vampiros. Gradativamente, as transformações do gênero estão tomando o caminho de volta para casa. A série The Vampire Diaries, ainda que semelhante à Twilight no quesito “vampiros bonzinhos”, apresenta um elemento essencial na volta ao terror: os vampiros matam. Ainda que possam parecer bonzinhos, no decorrer de quatro temporadas os personagens mudam trocam de lado e enfrentam vilões que, sem qualquer pena, causam destruição. E, por fim, o romance, em TVD, deixa de lado questões de pureza ou castidade. Ainda assim, falta algo. Algo que André Vianco é capaz de suprir. Quando Edward Cullen brilhou, pela primeira vez, quando exposto ao sol, Vianco riu. Não por menosprezar a obra de Stephenie Meyer, mas por falar desse universo há 5 anos. “Quando comecei a publicar, Bella ainda estava no jardim de infância”, ele se diverte. Ainda assim, ele é consciente

De Drácula a Edward Cullen: Em que momento as transformações (...) romperam com a essência do próprio vampiro?

de que o sucesso de Crepúsculo impulsionou a sua história: Não sou oportunista, mas o sucesso de “Crepúsculo” deu força ao gênero vampiresco e eu vendi muito ano passado. “Depois que ficam órfãs de Stephenie, as pessoas acabam correndo para os meus vampiros”, conta. A migração, no entanto, exigiu adaptação. Os vampiros de André não brilham e não são bonzinhos: “não gosto de vampiro light e politicamente correto”. Se precisassem ser definidas em uma palavra, as obras de André seriam caracterizadas por sangue. Assassinato e morte carregam os enredos desde a primeira página – e é assim que ganham o público. Hoje ele é um dos nomes mais importantes do terror nacional. Seria a gênese de um novo Drácula?


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Os mortos vivos chegaram!

O

s zumbis dominaram a cultura pop. Sem qualquer hesitação, abandonaram a característica típica do terror. Tornaram-se ícones de uma geração cujas definições fogem de qualquer tipificação. O momento cultural representa uma grande quebra de tabus, ainda que de forma lenta. Como retratado, desde o início da série, os zumbis não são os únicos: tudo começou com os bruxos que, quando humanizados, se aproximaram do leitor/ expectador e ganharam sua preferência. Depois o “era uma vez” se reinventou: princesas que fugiram do patriarcalismo imposto e tornaram-se as heroínas da própria história. Os vampiros foram os últimos a invadirem livros, séries e filmes – e não, Twilight não foi o primeiro e nem o único a fazer isso. Agora, desde que The Walking Dead migrou dos quadrinhos, produzidos desde 2003, por Robert Kirkman e se tornou uma série de televisão desenvolvida por Frank Darabont que quebra recordes de audiência a cada episódio, é a vez do zumbi. A chegada “deles” na literatura, no cinema, na TV ou nos

quadrinhos não representaria qualquer coisa: eles sempre estiveram ali. A essência da mudança está no status que a criatura atinge: eles não são odiados ou temidos, mas pelo contrário, assim como os bruxos, foram humanizados e aproximaramse do público. Quando a humanização não acontece, ainda assim, eles ganham a torcida de quem os assiste ou lê. As mudanças são graduais, indiscutíveis e reflexos das transformações da sociedade: “Estamos, inegavelmente, vivendo uma época de transformação, uma transição social e psicológica que alcança todos os aspectos da existência humana. E isso se reflete, obviamente, na criação literária”, destaca o professor da Universidade de Passo Fundo, Francisco Fianco. Com os zumbis, no entanto, as mudanças são um pouco diferentes. Fianco explica: “Todos os monstros tem uma história, uma identidade, menos eles. Os zumbis são originalmente lerdos, pouco inteligentes, anônimos e alvejáveis sem culpa alguma, alimentam-se de carne humana e, mais especificamente, de cérebros humanos”. Ele comenta, também, os

mortos vivos podem ser considerados uma analogia do próprio ser-humano inserido num universo fluído e pós-moderno: “Massificados, somos, como eles, apenas um rosto a mais na multidão; alimentamo-nos dos demais na medida em que estamos inseridos em um modelo de produção capitalista baseado no lucro a qualquer custo”. The Walking Dead não foi pioneira, mas foi o ápice da criação zumbi. Na série, o medo e a busca por sobrevivência acabam sendo piores inimigos do que os próprios zumbis. Ainda que a série retrate o desastre de um mundo pós-apocalíptico aborda, também, a esperança – o que induz a torcida por um ou dois personagens. Outra produção recente, Meu Namorado é Um Zumbi, adaptação de Marion, fala da nostalgia que as criaturas sentem. No filme, ambientado em um pós-apocalipse zumbi – óbvio! -, onde humanos se escondem e zumbis não acham que são uma ameaça. Mais uma vez, o cinema humaniza um monstro. A história é, basicamente, um romance: um dos zumbis – segundo a crítica uma mistura de Romeu, Edward e Wall-E –

se apaixona pela namorada de uma vítima. Por fim, são inúmeros os filmes que retratam o pós-apocalipse zumbi e a busca por sobrevivência. Guerra Mundial Z, com Brad Pitt, Planeta Terror, com Rose McGowan, Zumbilândia, Madrugada dos Mortos e Resident Evil são exemplos de filmes onde o zumbi conquista o público – sem, necessariamente, ser assustador. Talvez, o professor destaca, a inserção dessas criaturas nas produções mais recentes sirva para uma reflexão: “Enquanto eles comem miolos, nós nos alimentamos das ideias alheias sem perceber porque somos educados para a incapacidade do pensar autônomo. A única diferença é que a nossa agonia é a da vida, e não a da morte”, comenta. O fato é que os zumbis foram humanizados – ainda que de forma irônica ou infantil – o que indica certa esperança. “A representação dos mortos vivos como reumanizáveis a partir da capacidade de amar nos dá certa esperança de que algo em nós ainda possa ser recuperado, o que é maravilhoso, ainda que não passe de auto ilusão”, conclui.


Capa

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#vemprarua Redação NEXJOR

Em junho, uma onda de protestos ganhou as ruas do Brasil. A mobilização, da mesma forma que a insatisfação, foi geral. A Redação do Núcleo Experimental de Jornalismo participou da cobertura das ações em Passo Fundo e, nas próximas páginas, você pode entender como o movimento #vemprarua chegou por aqui.

O despertar

NOTA: os textos da reportagem #VEMPRARUA mantém, no PraLer, o mesmo texto da cobertura factual feita pelo site do NEXJOR durante as manifestações, preservando seu caráter original de postagens e sem edições posteriores.

T

udo começa com uma pequena e quase imperceptível mobilização. Aos poucos, surge um grupo. Logo, as ruas estão tomadas por gente que espera por algo. E, ali, em meio a uma multidão, todos se tornam um. Um povo, unido, que, mesmo que não anseiem pelas mesmas coisas, grita numa mesma voz. Os protestos pelo mundo inteiro silenciaram governos, ideologias, partidos; uniram bandeiras e vozes. Calada por muito tempo, a sociedade resolveu falar. Pelo globo, os protestos ensaiam mudanças que colocam a sociedade em um papel que foge à passividade. E, então, chegou a vez do Brasil acordar. Em meio à discussões que buscavam definir o melhor zagueiro ou atacante ou, ainda, estádio para uma seleção brasileira prestes a estrear na Copa das Confederações, milhões de pessoas tomaram

as ruas do país e, desta vez, não gritavam gol. Gritavam palavras de ordem. Palavras que estavam guardadas desde o movimento contra Collor. Palavras que exigem direitos e evocam melhorias nos serviços públicos. Milhões de pessoas unidas por uma mesma causa: o país. A gênese dos protestos está no aumento das passagens de transporte público por todo o mapa. A insatisfação com as condições de serviço somada ao aumento significativo colocou a população nas ruas. Mas não é só por isso. O aumento das passagens torna-se apenas um entre tantos motivos pelos quais cartazes são levantados. Entre investimentos para a Copa do Mundo e descaso com a saúde e educação, a população pede por um país melhor. Surge, apoiado nas redes sociais, o movimento #vemprarua. Como numa espécie de dominó, um protesto acontece atrás do outro e todos são capazes de construir a história de um país que é, sim, gigante – ainda que adormecido há um bom tempo. Mas esse #gi-

O pequeno e imperceptível sinal de mobilização se tornou o foco da mídia.

ganteacordou e embalado pelo lema “amanhã vai ser maior!”, os protestos inundaram as ruas dia a dia. Facebook e Twitter têm papel fundamental no processo de construção de cada manifestação: grupos no Facebook se tornam espaços propícios para combinações entre manifestantes. A organização de todas as pessoas que saíram às ruas, nos últimos dias, se deu, em grande parte, graças ao abrange da rede social que é capaz de diminuir distâncias e gerar proximidade e intimidade. O pequeno e imperceptível sinal de mobilização se tornou o foco da mídia. Os jornais e plantões de notícia conquistaram maior horário na programação e emissoras como a Rede globo, por exemplo, transmitiram cerca de 3h de cobertura em tempo real das manifestações, interrompendo um jogo da Copa das Confederações e cancelando transmissões de novelas. O movimento ultrapassou as fronteiras do país: os brasileiros foram pras ruas, também, em outros países – ganharam Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, Es-


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#vemprarua

tados Unidos, Turquia, México, Estados Unidos. As fronteiras não foram capazes de suportar tamanha mobilização e os brasileiros, ainda que espalhados, são apenas um. Na última terça-feira, em frente ao Congresso em Brasília, os manifestantes convocaram, em coro, um novo protesto. “Não podemos parar por aqui. (…) Só vamos parar quando colocarmos um milhão, dois milhões, três milhões, vinte milhões aqui pra falar para eles que não está certo o que eles fazem.”. Então, ontem, às 18h, o Brasil parou. De uma ponta a outra o país foi para a rua e, lado a lado, caminhou na direção da mudança. De fato, foi maior. Em Passo Fundo, nem a

chuva impediu que seis mil vozes se unissem e caminhassem pela Av. Brasil. Entre cartazes, tinta no rosto, placas e apitos, a cidade caminhou pelas ruas. A população tinha rosto e voz, mas não tinha idade. Crianças pequenas viram os pais lutarem por seu futuro ao mesmo tempo em que idosos viram uma geração se levantar. E o apoio não veio apenas do chão: do alto dos prédios, luzes piscavam e panos brancos ganhavam as janelas. De dentro dos carros, aplausos. As vozes, nas ruas, convocavam a população para a rua. Da calçada, o grito prosseguiu: “Vocês, jovens, são o futuro do país. Depende de vocês!”. O protesto, que iniciou às 18h, na Av. Brasil, rumou para

Capa a Prefeitura – de portas fechadas. De lá, os manifestantes voltaram para o centro. Do alto do trio elétrico, um deles deu o recado: “Muita gente aqui vai dormir com a alma lavada e o orgulho de ser passo-fundense, de ser gaúcho. Vamos voltar para o Centro e continuar nosso protesto.”. Na voz, o hino; na mão, o cartaz; no rosto, a expressão – todos e cada um carregavam consigo o desejo de ser responsável pela mudança. O protesto, na cidade, encerrou de forma pacífica e democrática: uma votação definiu data e hora para novo protesto. Hoje, às 18h, os passo-fundenses vão, novamente, para as ruas. Protesto, sim, mas, mais que isso, a sociedade brasileira se une para fazer história.

Muita gente aqui vai dormir com a alma lavada e o orgulho de ser passo-fundense, de ser gaúcho.


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#vemprarua

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Motoristas e cobradores largam os volantes e ganham as ruas

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gigante que acordou também despertou motoristas e cobradores. A onda de protestos e reivindicações que toma o Brasil se alastrou até atingir os trabalhadores do transporte público da cidade de Passo Fundo, e o ato não foi organizado por manifestantes que exigiam a revogação no aumento da passagem. A Avenida Brasil dessa vez foi tomada pelos próprios motoristas e cobradores que, ao estacionar os ônibus em suas garagens, permaneceram à tarde desta sexta-feira, dia 5, na rua. Em diálogo com a comunidade local, Brigada Militar e representantes do poder legislativo, os integrantes do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Público de Passo Fundo (Sindiurb) caminharam da Prefeitura Municipal até o Fórum da cidade, onde permaneceram parte da

Não a violência era a principal mensagem da manifestação realizada pelos motoristas e cobradores (Foto: Guilherme Cavalli)

tarde em ato de protesto. A segurança para o trabalhador, especialmente para os motoristas e cobradores, foi o principal motivo que levou às ruas cerca de 150 pessoas -- dados fornecidos pela organização. “O foco central da manifestação é a falta de segurança nos ônibus, mas não só nos ônibus. A brigada está perdendo mil homens, então está havendo um retrocesso, isso não pode acontecer”, comenta o presidente do Sindiurb, José Doebber. Além da manifestação, durante a manha aconteceu uma reunião com integrantes do Sindicato e o prefeito em exercício, onde encaminharam-se documentações com exigências de maior segurança nos bairros. Para tal, uma carta foi produzida com intenção de pautar reinvindicações movidos pela violência que os trabalhadores do transporte

“ ”

A única arma que temos é vir à rua.

Prefeito Luciano anuncia redução no preço da passagem

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m entrevista coletiva no dia 01 de julho, o prefeito de Passo Fundo Luciano Azevedo fez três anúncios em relação ao transporte público no município. Primeiramente a redução de R$2,70 para R$2,60 no valor da passagem do transporte interurbano, sendo o decreto publicado amanhã e o novo preço estabelecido ainda essa semana. O valor foi estabelecido através de cálculos técnicos e da análise dos preços nas grandes cidades. “Depois das reduções, a média nas principais cidades nacionais ficou de R$2,62, ainda estamos abaixo”, destaca Luciano. Anunciou ainda o encaminhamento de um projeto de lei a Câmara de Vereadores que amplia a composição do Conselho Municipal de Transportes. “Com a finalidade de torná-lo mais democrático, tornar a fiscalização mais assistida e incluindo os movimentos sociais, das entidades estudantis e de outras entida-

des”, afirma o prefeito. Outro anúncio foi à abertura de um processo licitatório do transporte coletivo, que visará atender os desejos da população. Serão algumas etapas, a primeira iniciando em agosto com uma consulta pública, em que a população poderá expor suas opiniões, fazer os seus pedidos, reclamar. Realizado esse processo haverá uma avaliação técnica para ver o que realmente é cabível, sempre relacionado à estrutura da cidade. “Para que se possa casar o desejo da população com a consulta técnica, com a viabilidade técnica”, destaca Luciano. Depois a comunidade escolherá entre o que os técnicos decidirem mais adequado. Há uma previsão de um ano para que esse processo seja finalizado. Para o prefeito as manifestações tiveram grande relevância no momento de tomar essas decisões, mas que a redução se deve à isenção do PIS e Confins por parte do governo fede-

Primeira etapa do processo licitório do transporte público inicia em agosto com uma consulta públia. ral. “Alguns prefeitos no Brasil tomaram a decisão no mesmo dia, não quisemos tomar a decisão por impulso, nós fomos além, pensando em uma decisão definitiva”, destacou.

““Depois das reduções, a média nas principais cidades nacionais ficou de R$2,62, ainda estamos abaixo”- Prefeito Luciano (Foto: Fabiana Beltrami)

coletivo sofrem diariamente. A manifestação se encerrou por volta das 17 hrs, quando os manifestantes voltaram para frente da prefeitura. “Queremos trabalho com segurança”, “dignidade ao trabalhador”, “melhor condições de trabalhos”, eram frases que emplacavam os cartazes que eram embalados ao som do Hino Nacional cantado pelos caminhantes. Reclamações foram feitas pela população diretamente ao Tenente Coronel Bica, que esteve no local para dialogar com os manifestantes. “Temos uma necessidade de segurança permanente e efetiva, não que demore 2 horas para vir”, relata o presidente do Sindicato na carta entregue a população. O informativo também descreve as dificuldades que os trabalhadores enfrentam quando discam para o telefone da Brigada Militar, que muitas vezes informa não possuir viaturas para atender as ocorrências. “A única arma que temos é virmos à rua” explica Doebber, antecipando próximas iniciativas do Sindicato contra a violência.


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Das ruas à Câmara: O povo faz do plenário sua casa

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o dia 4 de abril de 2013, às 18 horas, começava a primeira manifestação pela revogação do preço da passagem em Passo Fundo. Desde lá, foram 12 atos. O povo foi para a rua e em 1º de julho, o prefeito de Passo Fundo, Luciano Azevedo anunciou a redução da tarifa em 10 centavos, porém, não foi o suficiente. Segundo o estudante, Luis Guilherme Fagundes, o povo não foi ouvido. Era preciso uma atitude que chamasse mais a atenção do governo. Então, um grupo de quinze manifestantes, incluindo o estudante, assistiram a sessão ordinária do dia 8 de julho, as 15 horas e ocupam a Câmara de Vereadores desde então.”É importante que se diga que a ocupação não tem conexão com o Cômite de Lutas Sociais, foi uma decisão de apenas algumas pessoas.” destacou Luis. As reivindicações dos ocupantes são as seguintes: revogação do preço da passagem de ônibus, mudança no horário da sessão plenária, que atualmente é às 15 horas, discussão sobre o salário dos vereadores que é de 10 mil reais, licitação já e passe livre, assunto que já é pauta no país e os ocupantes querem trazer para Passo Fundo. Na parte da manhã, os vereadores Márcio Patussi, representando a presidência da Câmara, Eduardo Peliciolli e Claudia Furlanetto receberam um documento com as reivindicações dos ocupantes (citadas acima), que será repassado aos demais vereadores. Na parte da tarde, os mani-

(...) o povo não foi ouvido. Era preciso uma atitude que chamasse mais a atenção do governo.

festantes deram algumas condições para que o espaço seja desocupado para a sessão ordinária, marcada para amanhã (10), às 15 horas. Os ocupantes tinham quatro condições: eles pediram que os cartazes não fossem retirados durante a sessão, que assim, como os vereadores, eles também tivessem o direito de se pronunciar durante a sessão. Queriam que

a sessão fosse toda pautada em cima das reivindicações e por último, que a Câmara de Vereadores convidasse o prefeito Luciano Azevedo e o vice-prefeito, Juliano Roso. Depois de discutir com os doze vereadores que estavam presentes na Câmara, Márcio Patussi entregou um documento aos manifestantes com as decisões: Os vereadores concederam um tempo para que os manifestantes falassem na sessão e o prefeito e vice serão convidados. Também decidiram que as reivindicações serão discutidas na sessão, porém, não aceitaram que os cartazes continuassem no local onde os vereadores permanecem durante a sessão, somente onde o público tem o direito de ficar. Os manifestantes prometeram se reunir para decidir se permanecem na Câmara. Continue acompanhando a cobertura da ocupação nas nossas redes sociais. Já no dia 10 de julho, a ocupação pode tomar novos rumos após negociações. As negociações para a desocupação da Câmara dos Vereadores continuaram nessa manhã. Incluindo a revisão e alteração das propostas já apresentadas no dia 9. O presidente da Câmara, Márcio Tassi informou a imprensa, que pretende usar as medidas cabíveis para reintegração da posse da Câmara, depois de que por dois dias, o diálogo com os ocupantes não teve

resultado. Já os manifestantes, aceitaram desocupar a Câmara somente se algumas exigências fossem aceitas. Eles querem que no mínimo 12 vereadores (no total, são 21) assinem um termo de compromisso com três questões. O agendamento da audiência pública referente ao aumento da tarifa do transporte público, a inauguração da CPI do transporte coletivo público e a mudança do horário da sessões plenárias das 15 horas para às 18 horas. Os vereadores pretendem discutir as questões e responder aos ocupantes.

Manifestantes, vereadores e falta de diálogo Passo Fundo vive a ágora – praça – Grega ao recordar a lógica da política antiga que trazia as decisões para a praça, como exemplo de democracia participativa. Manifestantes fazem da Câmara Municipal de Passo Fundo sua casa desde segunda-feira, dia 8, quando um grupo com cerca de 20 pessoas ocupou a sede do Poder Legislativo após a sessão do dia. Como sequência dos 12 atos realizados na cidade desde as primeiras manifestações, a ocupação do espaço público vem relatar as inquietações dos movimentos sociais quanto à falta de negociação entre poder legislativo e população. Tendo como principais revindicações a revogação imedia-

Cartazes mostravam as reinvindicações dos manifestamtes (Foto: Eduarda Ricci)

ta do aumento das passagens, a licitação para a contratação do transporte público e a alteração do horário da sessão da câmara das 15 para as 18 horas, os manifestantes fazem desses direitos o porquê de ocuparem o local. Sobre as reivindicações, o vereador Márcio Patussi, atual representante do Poder Legislativo, posiciona a câmara como quem já se propôs a realizar uma audiência pública através da Comissão de Bem Estar Social – Cebes. Sobre a segunda reivindicação, a instauração de uma comissão parlamentar para que se levante a necessidade de licitações para o transporte público, o vereador lembra que a mesma já foi proposta em sessão, porém não obteve as assinaturas necessárias para a organização do parlamento – assinaturas que não chegaram a sete. Quando o assunto é à mudança do horário das sessões, Patussi ressalta a economia de se permanecer com as sessões durante a tarde. “O que nos podemos ofertar, e assim o faremos, é o agendamento dessa audiência pública que é uma das pautas de reivindicação” comenta o vereador. Diante a mudança de horário das sessões para a 15 horas, o jovem que encontra-se a 3 dias na Câmara, Guido Lucero, diz


Capa

#vemprarua que o corte de custo pode acontecer através da diminuição dos salários dos vereadores e dos cargos de confianças que esses sustentam. “Se a gente vive em uma democracia, ela faz com que todos estejam presentes, e todo mundo decida. Como o povo vai se fazer presente em horário de trabalho? Quando o comércio está aberto? Quando as escolas ainda estão funcionando? Sinceramente se é para haver corte de gastos, comecemos pelos salários dos vereadores. Não por cortar a participação do contribuinte, que é quem mantem essa casa”, ressalta o estudante de letras, Guido. Parte da polêmica encontra-se nos cartazes que emplacam a bancada dos vereadores. Frases como: “da copa eu abro mão”, “queremos $ pra saúde e educação”, “2,60 é um assalto”, “procura-se políticos honestos”, “Precisamos da nossa casa de trabalho” Márcio Patussi (Foto: Guilherme Cavalli)

AGOSTO 2013 “os vândalos são vocês e estão no poder”, expressam a indignação com a política e a atuação governamental do momento. Os manifestantes exigem a permanência dos cartazes para a próxima sessão, que viria a ser hoje. “A câmara alegou que não podia deixar os cartazes por uma instrução legal e normatizada, a qual não nos foi apresentado” relata Luis Guilherme Fagundes, um dos estudantes que permanece na Câmara sobre a posição tomada pelos vereadores quanto à permanência dos cartazes. Na tentativa de convenção entre Câmara e manifestantes, na manhã de hoje o vereador Márcio Patussi recebeu uma segunda petição. Essa solicitava a assinatura de um número de 12 vereadores – sendo no total 21 – como compromisso de iniciar o debate sobre as questões propostas em um prazo de 30 dias. “A todo tempo nos procuramos o diálogo, o equilíbrio nas manifestações, tanto do poder, quanto dos ocupantes, e entendemos também que algumas reivindicações propostas por eles são de nossa responsabilidade, mas

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aquilo que nos podemos oferecer nesse momento, de imediato, é o agendamento da audiência”, comenta o vereador sobre as futuras posições da câmara. O impasse pela permanência dos cartazes colocou abaixo toda a negociação feita até a manhã do dia de hoje, 10, quando os manifestantes decidiram que não tirariam os cartazes da plenária. “Nós dissemos que não iríamos tirar os cartazes, e mantivemos a posição de que não tiraríamos os cartazes. Mantendo essa posição, frente ao vereador Márcio Patussi, ele nos disse que então, toda a tratativa do dia anterior, referente a sessão plenária, estava encerrada e nada do que tinha sito tratado ali continuaria valendo” comenta Luís Guilherme Fagundes. Conforme o vice-presidente do Legislativo, Márcio Patussi, os vereadores decidiram aguardar a saída dos manifestantes até a próxima sexta-feira. Caso isso não venha a acontecer, a direção da Câmara pedirá via Ministério Público a desocupação do local.

Passo Fundo para junto com o Brasil

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população brasileira está envolvida em uma onda de protestos que se alastram desde o mês de junho. Com inúmeras pautas distintas, as pessoas buscam as ruas para expressar suas indignações diante de tudo que está acontecendo no nosso país. Lutam pelo fim da corrupção, diminuição das tarifas dos coletivos urbanos, passe-livre, contra a homofobia, diminuição de impostos. Muitas pautas, uma só caminhada. Onze de julho está sendo chamado de “Dia Nacional das Lutas”, uma greve geral que mobilizou várias centrais sindicais de todo o país, envolvendo milhares de trabalhadores, estudantes e aposentados. Cada classe tem seu pedido, entre eles estão: o fim do fator previdenciário, 10% do PIB para a Educação Pública, 10% do PIB para a Saúde Pública, redução da Jornada de Trabalho, valorização das aposentadorias e reforma agrária. Em Passo Fundo, a mobilização foi intensa. A grande massa de manifestantes, dos diferentes grupos se concentrou na chama “Esquina Democrática”, na Rua Bento Gonçalves com a Avenida Brasil. O transporte intermunicipal e interurbano não funcionou, temendo algum tipo de violência por parte dos manifestantes, além do bloqueio das estradas.

Os atos foram marcados pelas manifestações, bandeiras sindicais, caminhadas, gritos de guerra e bloqueio da Avenida Brasil.

passeata: “Os agricultores conseguem suas terras de forma digna e trabalhadora, e vem pessoas que querem tirar esse direito de-

Uma quinta-feira atípica

Agricultores nas ruas

Quem percorreu as ruas de Passo Fundo hoje, percebeu que a rotina foi quebrada. Lojas fechadas, ruas sem ônibus, povo na rua. Em que aspectos as manifestações afetaram a população da cidade? Logo na manhã, a população foi surpreendida pela falta do transporte público na cidade. Nas paradas de ônibus, havia pessoas que esperavam e precisavam do transporte. Foi o caso da aposentada Lourdes Martins de Lima, ela dependia do ônibus para levar seu marido, Dinis Borges da Silva, ao médico. O casal não aprova os atos de manifesto. ”O país está indo bem, as manifestações só servem para fazer bagunça” disse Dinis. Outro que foi afetado pela paralisação do transporte, foi o funcionário da empresa Italac, João Luis Pereira. “Agora não ainda mais, só amanhã para voltar ao trabalho” disse. Mesmo quem não participava das passeatas, se envolvia com a movimentação. Enquanto os agricultores tomavam as ruas da Avenida Brasil nessa manhã, o aposentado, Generoso Rodrigues acompanhava as manifestações e apoiava o movimento. “Tem que lutar e ir para a rua, só assim acredito que o Brasil possa mudar” falou. A empresária Elis Regina também defendeu a

Trabalhadores do campo de Passo Fundo e região foram às ruas, no dia 11, por três motivos que, segundo o grupo presente, possibilitam melhores condições de trabalho: contra o emplacamento de maquinários agrícolas, a favor do salário maternidade de seis meses e contra a ocupação de terras pelos indígenas. Buscam nas ruas atenção e solução dos seus problemas. Por volta das 9h 30 min, o protesto iniciou no monumento da Caravela, junto a BR 386, e seguiu por toda a Avenida Brasil. Os manifestantes eram guiados por um grupo do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, que conduziram a

Mesmo quem não participava das passeatas, se envolvia com a movimentação (Foto: João Vicente Mello)

passeata com palavras de ordem les?” questionou. e expondo as reivindicações. Para prosseguir pela principal avenida da cidade os agricultores seguiram o caminho em fila, com organizadores sempre solicitando respeito e civilidade. A via pública não foi totalmente fechada, eles decidiram por ocupar apenas a metade da rua, alegando que as suas reinvindicações eram a favor da ordem. Márcio Cassel, presidente da Sintraf Sarandi e da Fetraf Sul, destacou que nem todos os trabalhadores puderam comparecer na manifestação, mas que a pauta de reivindicações é de conhecimento de todos. Disse ainda, que este é o melhor momento do país para que cada pessoa possa dizer quais são os grandes problemas que afetam sua vida e a sua comunidade. Outro ponto abordado foi a segurança. Os agricultores alegam que não estão protegidos e que o cenário da agricultura brasileira está corrompido devido a tomada de áreas cultivadas pelos indígenas. Durante a manhã o manifesto seguiu pelo bairro Boqueirão fazendo duas paradas, a primeira em frente ao Detran RS – em que foi ressaltado o posicionamento dos agricultores sobre o emplacamento dos maquinários agrícolas – e a segunda, na Avenida Brasil, onde ocorreu o encontro de todos os manifestantes da manhã. Após o meio dia, os manifestantes seguiriam até a sede da Funai – Fundação Nacional do Índio – no município.


Cotações Excepcional Muito bom Bom Regular Fraco

CINEMA

Detona Ralph! Nostalgia. Essa é a palavra de ordem

Sammara Garbelotto Estagiária NEXJOR

O roteiro não é inovador. O tema, também, não. No entanto, Detona Ralph é um dos melhores, se não o melhor, filme sobre os bastidores dos brinquedos. No longa, bonecas ou carrinhos não ganham vida enquanto ninguém está olhando, mas personagens de vídeo-game têm a sua intimidade exposta. O game-over, aqui, não é o fim. Ralph é um vilão que, ao longo do dia, destrói prédios. Conserta-Tudo-Felix-Jr é o herói que, nas mãos de quem controla o game, restaura a construção e, ainda, dá uma lição no Ralph. Game-over, tela preta e, aí, então, a verdade aparece: Ralph freqüenta a reunião dos vilões anônimos e deseja, na verdade, ter o reconhecimento

de Felix ou, no mínimo, não ser mais o vilão. O desenrolar da trama, a partir desse ponto, ganha contrastes que valem o ingresso: por exemplo: Ralph é um personagem de um jogo de 8 bits que, em busca de aventura, acaba em um jogo em alta definição, em um planeta alienígena e com insetos gigantes. A cena é, não só um retrato das diferenças entre os jogos consoles e os games modernos como, também, um retrospectiva do universo do universo gamer. A decisão de Ralph, de tentar fugir do vilão que é, acaba resultando num possível apocalipse do mundo dos games. Pois é, Ralph, na melhor das intenções, põe em risco todos os personagens. A aventura resulta no seu encontro com Vanellope Von Schweetz e a

A tridimensionalidade, em Detona Ralph, serve para humanizar um personagem de vídeo-game e a produção, que leva o nome da Disney, não peca no ritmo e nem na ambientação.

relação ganha um quê de Meu Malvado Favorito. Juntos, os dois tentam restaurar a ordem e, de forma previsível, mas não entediante, os dois descobrem que heroísmo nem sempre é dar uma lição no vilão. Outro destaque relevante no longa é a presença de famosos dos games. Sonic, Chun-Li e Bowser, o vilão do Super Mário, fazem participações especiais e interagem com Ralph. A integração dos games dá um ar divertido e nostálgico a quem assiste: especialmente os nascidos a partir do fim dos anos 80. Dirigido por Rich Moore, que dirigiu, também, Os Simpsons, a animação é um destaque, também, visualmente. O 3D não joga, simplesmente, as coisas no rosto do espectador, mas revela surpreendentes efeitos visuais que dão maior realidade aos

personagens e, especialmente nas aventuras de Ralph, veracidade às expressões. A tridimensionalidade, em Detona Ralph, serve para humanizar um personagem de vídeo-game e a produção, que leva o nome da Disney, não peca no ritmo e nem na ambientação. Na versão brasileira, Tiago Abravanel empresta sua voz a Ralph, que, na versão americana, é interpretado por John C. Reilly. O herói ganha a voz de Jack McBrayer e Rafael Cortez, e a pequena Vanellope tem a voz de Sarah Silverman e Mari Moon. A animação chegou no Brasil sem possibilidades de legenda e, incrivelmente, a dublagem não ficou ruim: os três conseguiram emprestar ao personagem o sentimento que ele pedia, sem exageros ou acomodações.


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TEATRO

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LIVROS

O menino do dedo verde As boas mulheres da China

Eduarda Ricci Perin Estagiária NEXJOR

“Descobri uma coisa extraordinária. As flores não deixam o mal ir adiante” escreve Maurice Druon em “O menino do dedo verde” no ano de 1957. Desde lá, Druon foi eleito à Academia Francesa, foi ministro da cultura, foi idolatrado, lembrado, cultuado e morreu em abril de 2009 deixando grandes obras para a história da literatura francesa e mundial. Entre elas, a série “Os Reis Malditos”, com uma temática bem diferente de seu livro infantil cultuado, mas é “O menino do dedo verde” que sobrevive ao tempo. Prova disso é que, em Passo Fundo, o Grupo Ritornelo de Teatro adapta a obra de Druon e ainda consegue transmitir toda a emoção da estória criada pelo francês com criatividade para retratar a inocente e mágica vida de Tistu. É Ana Marques, atriz do Grupo Ritornelo, que resume o poder da estória de transmitir a todos nossa capacidade de transformação. ”É possível que cada pessoa transforme o mundo ao seu redor, basta querer e começar com pequenas atitudes”. Marques se

refere a uma obra envolvente, pois mesmo sendo fictícia, trata de assuntos do nosso dia -a-dia e encanta por conseguir transmitir nossos desejos de um mundo melhor. Com o seu dom do dedo verde Tistu faz florescer rapidinho, qualquer semente em qualquer lugar. Tistu faz nascerem flores com o toque do seu polegar e transforma a realidade do mundo em sua volta. Com a pureza e a sinceridade própria de uma criança, Tistu nos emociona pelo fato de que o personagem vive além das expectativas da sociedade. Como um menino rico e filho do dono da cidade de Mirapólvora pode preferir plantar flores a se preparar para assumir a rica empresa de armas de seu pai? Maurice Druon várias vezes afirma que os adultos não entendem as crianças e que teimam em acreditar nas suas idéias pré-estabelecidas, idéias que perturbam o sono de Tistu. A maneira como o autor aborda a reação do menino quando sai do seu mundinho para conhecer hospitais, prisões e favelas, faz o leitor pensar sobre a injustiça e a desigualdade. Druon parece defender a maneira que Tistu enxerga o mundo pode

ser encarada como modelo – em que a coragem é maior que o medo. O final da obra literária não é clichê como finais de livros infantis, onde todos vivem felizes para sempre. Quando achamos que nada mais pode acontecer na estória, nos surpreendemos. Como diz Druon “As histórias nunca param onde a gente imagina. Vocês pensavam talvez que tudo já estivesse dito e que já conhecessem Tistu muito bem. Pois fiquem sabendo que nunca conhecemos ninguém completamente.” Um dos motivos pelos quais a obra de Druon permanece viva é que ele escreve para todas as idades. Livro de linguagem simples e infantil é quase uma poesia. Livro para ler e reler, a obra tem riqueza de detalhes e provoca o imaginário do leitor. O autor usa da linguagem metafórica para que o leitor consiga envolver-se na estória e ao mesmo tempo entender que vivemos a realidade de Tistu o tempo inteiro. A intenção de Druon é nos dizer que todos nós podemos plantas boas atitudes. Você também não é como todo mundo, você também tem o dedo verde.

Obra baseada em relatos de mulheres chinesas que passaram pelas mais diferentes dificuldades, As boas mulheres da China é mais um daqueles livros de tirar o fôlego, além de uma grande lição de vida.

Ângela Prestes

Acadêmica do curso de Jornalismo

Um livro daqueles para o qual você não dá nada. Começando pela capa, que não é nem um pouco atrativa e esbarrando, mais tarde, no preconceito com o nome da escritora, Xinran. O que o livro de uma jornalista chinesa tem a contribuir com a prática da profissão ou com nossas próprias experiências? O país é assolado por uma severa censura, o que, supostamente, não daria espaço para os jornalistas realizarem seu trabalho. Mas é justamente esse o caminho que leva a obra a ser tão cativante e interessante: a dificuldade pela qual a escritora passou ao tentar mostrar à população, por meio de um programa de rádio –Palavras na brisa noturna – o que as pessoas, em especial as mulheres desse país sofreram e ainda sofrem. Publicada em 2003, pela editora Companhia das Letras, na obra, Xinran constrói a narrativa por meio de relatos, diversificados e emocionantes, de mulheres que passaram pelas mais diferentes dificuldades. O primeiro, um dos mais impactantes, é a história de uma menina que sofria abusos do pai, adorava ficar no hospital e tinha como animal de estimação uma mosca. O modo com que a escritora conta a história, cheia de detalhes, faz com que consigamos sentir o momento pelo qual a menina passava, suas dificuldades e apreensões. Os demais casos expostos no livro, que tratam de abusos sexuais contra as mulheres, privação de direitos e supressão de sonhos, também passam ao leitor as vivências dessa parte da sociedade. A obra coloca em questão o papel social do jornalismo. Xinran recebia cartas de suas ouvintes, contava as histórias no ar, dava conselhos. Mesmo tendo que tomar cuidado com tudo o que falava, ela deu espaço àquelas que queriam e precisavam ser ouvidas. Também inovou ao receber ligações ao vivo no programa, o que era extremamente arriscado na época, pois a rádio na qual trabalhava poderia ser fechada se alguma coisa desse errado. Além disso, Xinran dá uma lição de como fazer uma boa entrevista e revela a dificuldade encontrada para abordar assuntos difíceis com mulheres que sofreram muito. Por exemplo, ao entrevistar algumas administradoras de um orfanato, que perderam toda a família no terremoto de 1976, passou pela provação de encaminhar uma entrevista que trouxe lembranças bastante difíceis. Ao contar todas essas histórias, mescladas com sua própria experiência, Xinran também mostra as dificuldades de uma China em processo de modernização, mas com uma cultura ainda opressora e sufocante. Suas histórias são baseadas principalmente na época da Revolução Cultural no país. Assim, a escritora consegue mostrar ao leitor as dificuldades pelas quais os cidadãos passaram. Emocionante, sensibilizante, chocante. As boas mulheres da Chinaé um livro para aqueles que gostam de ler histórias reais, conhecer culturas diferentes e descobrir um outro lado da mulher, muito mais revelador. Xinran é jornalista, radialista e escritora chinesa. Nasceu em Pequim em 1958 e trabalhou em Nanquim até 1997, quando se mudou para Londres sozinha e após um ano buscou seu filho Pan Pan.


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DVD

Argo Uma prateleira cheia de prêmios e um nome pra ficar na história

Sammara Garbelotto

Jornalista - Formada pela FAC em 2013

Subestimaram Ben Affleck. Aquele que era simplesmente o jogador de basquete número 10 de Buffy, a Caça Vampiros, cresceu. Passou por fases nas quais a atuação lhe rendeu o Framboesa de Ouro e cuja beleza ou namoro com Jennifer Lopez era o único atrativo da mídia. Não acreditaram no talento de Ben Affleck. Ele acreditou. E tentou, insistiu, amadureceu e se encontrou. Sua melhor performance não está na frente das telas – ainda que emArgo tenha provado saber o que faz. Por trás delas, na direção, Affleck se superou. Trajetória Há cinco anos, com Medo da Verdade, optou por um novo caminho. Depois, com Atração Perigosa, se mostrou apaixonado pela indústria cinematográfica. Com a última produção, Argo, a crítica percebeu que Affleck não estava experimentando, mas que deliberava cada ação. Agarrou vários prêmios que o fim de 2012 e o início de 2013 trouxeram, do Globo de Ouro de Melhor Filme em Drama ao BAFTA – Oscar Britânico. Conquistou, ainda, o Critics Choice Award, o Directors Guild (Melhor Diretor), o Producers Guild (Melhor Produtor), o Screen Actors Guild (Melhor Elenco), além de prêmios dos críticos da Flórida, de San Diego e de Southeastern. Para completar, foi eleito o melhor diretor do ano pelo Sindicato dos Diretores dos Estados Unidos. Oscar A crítica, essa que o aplaudiu, vaiou o Oscar. A Academia sequer lembrou de indicar Affleck para o prêmio de diretor. Foi preciso se redimir. No dia 24, a estatueta de melhor filme – que Spielberg, Tarantino e Ang Lee cobiçavam – foi parar na prateleira – inundada de prêmios -- de Affleck. Nenhuma surpresa, foi merecido. Argo merece a estatueta de Melhor Filme porque arrecadou US$ 132,8 milhões nas bilheterias americanas e foi produzido com

menos de US$ 45 milhões. Merece porque não peca pelo exagero e nem deixa faltar nada. Merece porque não é um filme de atuações expansivas, mas que privilegia o realismo de uma situação. Merece porque, apesar de falar dos americanos, não te deixa mergulhar num universo alienado de defesa. Argo merece porque é extremamente completo. Ficção? História e ficção se confundem além dos limites estabelecidos: Argo, o longa de Affleck, é a narrativa de uma produção cinematográfica falsa em meio a uma história real. 1979, Crise de Reféns no Irã. O país está em ebulição: o aiatolá Khomeini chega ao poder e reacende questões geográficas, políticas, religiosas e sociais. O cenário é complexo: o antigo xá ganhou asilo político nos Estados Unidos. O novo governo, dessa vez em comunhão com o povo iraniano, vê nos americanos inimigos, já que o país apoiou o governo opressor do antigo xá. A população se revolta, as ruas ficam lotadas, os gritos pedem a imediata presença do exgovernante. Os protestos, carregados de rancor e violência, chegam à embaixada americana. De 58 pessoas que estavam no local, apenas 6 conseguiram fugir. 52 foram mantidas reféns por 444 dias. Os que escaparam foram abrigados, de forma sigilosa, pelo embaixador canadense. A CIA precisava, então, de uma forma para tirá-los em segurança do país. “A melhor pior ideia” surgiu da mente de Tony Mendez – interpretado, no filme, por um surpreendente Affleck. Uma produção de Hollywood como fachada para a operação. Com um surrealismo exacerbado, Argo te coloca na trama do início ao fim. A curva dramática nunca foi tão bem usada: apresentação, conflito, clímax, complicação, final satisfatório. Repetidas vezes. Você não sai do filme. Você não olha para o lado. Atenção x Exposição Nos primeiros minutos, Argo já exige atenção máxima: mesclas de desenhos, fotos, reportagens e interpretação explicam o cenário

e o contexto que o filme aborda. A narração melancólica, o ritmo das imagens, o tema abordado – tudo, ali, te transporta para uma atmosfera de terror. O mesmo acontece nas cenas nas quais os manifestantes invadem a embaixada americana. Com saltos, a câmera mostra a invasão, ao mesmo tempo em que acompanha a fuga. A tensão é permanente. E, talvez, nesse momento se apresente a única ressalva de Argo: um americanismo que levemente se torna tangível. Mesmo que, por vezes, você se perceba torcendo para que americanos se saiam bem, em cima do muro é onde Affleck prefere ficar. A posição de Affleck fica exposta na edição. Digna de aplausos, intercalou realidade e ficção, cenários, contextos e detalhes que se tornam essenciais diante de um filme que exige concentração. A cena na qual Argo – o da ficção/operação – é apresentado é a comprovação de que Affleck optou por não escolher um lado. Atores lendo um roteiro cuja destruição do planeta é o foco ao mesmo tempo em que uma televisão transmite uma iraniana falando da destruição de seu país pelos Estados Unidos. O “fim” dos atores, o fim da mensagem iraniana, silêncio. O público decide quem escolher. Palmas. E a fórmula se repete. Durante todo o filme, cenários se encontram, conflitos aparecem e o ritmo envolve. Ainda que a tensão permaneça constante e – especialmente no final – se torne surreal demais, a dose não causa ressaca.

Drama, suspense, política, humor. A mistura, ainda que não tenha dado certo na carreira de ator de Affleck, em Argo funciona Outro aspecto a ser ressaltado é que há preocupação com a história e com a memória americana. Por se tratar de fatos reais e, mais, de uma operação da CIA, Affleck precisou ter cuidado: o longa explicita, a todo instante, o trabalho de pesquisa e fidelidade aos acontecimentos da época através, por exemplo, do resgate jornalístico e da comparação de fotografias de atores e interpretados no fim do filme. Ironia acertada Além disso, o diretor faz uma crítica carregada de ironia à prórpia indústria cinematográfica. Enganação e falta de escrúpulos são responsabilidades da dupla de atores coadjuvantes John Goodman e Alan Arkin que no papel do premiado maquiador – por Planeta dos Macacos -- John Chambers e o produtor Lest Siegel deixam claro a falsidade que permeia os estúdios de Hollywood. Sem medo de errar, Affleck arrisca, aposta. Movimentos de câmera e ângulo, aliados à trilha sonora são capazes de captar sensações – a cena em que Affleck está sozinho no quarto, depois de ter sido desencorajado a seguir em frente consegue transpassar toda a impotência que o personagem sentia naquele momento. E Ben Affleck acerta de forma magistral. O diretor, que chegou há poucos anos, tem muito a ensinar.


AGOSTO 2013

CINEMA

Guerra Mundial Z Guerra biológica, superpopulação, luta por espaço.... e um pouco de Brad Pitt

Guilherme Cavalli Estagiário NEXJOR

Guerras biológicas sempre deram pano pra manga na indústria cinematográfica. Eu, Robô (Alex Proyas), Resident Evil (Paul W.S. Anderson), Matrix (Andy e Lana Wachowshi), Extermínio (Danny Boyle): há tempos que roteiros que projetam uma humanidade transformada ou mesmo que transformam a humanidade, rendem grandes bilheterias para os cinemas. Muitos clássicos das telinhas vieram das folhas, como O Poderoso Chefão, do romance homônimo de Mario Puzo, Um corpo que cai, da dupla de escritores Pierre Boileau e Thomas Narcejac, Laranja Mecânica, de Anthony Burgess, assim como toda a saga Harry Potter, da escritora britânica J.K. Rowling. Não foi diferente nas 368 páginas que se tornaram os 116 minutos do filme Guerra Mundial Z. Claro que isso não significa que esse venha a ser um clássico. O livro homônimo do norte -americano Max Brooks invade a American way of life por depoimentos colhidos por Gerry Lane, funcionário da ONU que atravessa o mundo numa corrida contra o tempo para impedir uma pandemia que está ameaçando dizimar a humanidade inteira. Com seu tom científico, frio como corpos que morreram, caracteriza as formas de como sobreviver diante uma pandemia que está desafiando exércitos e governos. A literatura serve como um manual para conduzir as famílias a sobreviverem diante dos acontecimentos que marcam a era Bush, período de um governo hegemônico que batalha para ditar ao mundo o seu viés de conduta. O cotidiano é também o que credita o início do filme de Marc Forster, ao apresentar nas primeiras cenas uma típica família norte americana que come panqueca no café da manhã e enfrenta engarrafamento no trânsito metropolitano ao levar os filhos para a escola – nem precisamos falar da Pepsi em determinado momento do

filme. Em sua introdução, traz memórias que resgatam a natureza de uma humanidade que, por vezes escondendo doenças nas frestas da história, despertam patologias ao som de gritos e gemidos de mortos vivos. Mal desconfiamos ao ver o filme que o antibiótico que poderá auxiliar na preservação da humanidade nessa “guerra biológica”, encontra-se no próprio cerne da questão: o benefício de ser doente. Sigamos apenas no filme. Epidemias globais sempre estiveram presentes na história do cinema – desde os anos 20 – que como arte, não só imita, mas cria realidades. Com o primário na classe zumbiresco, The Bad (1920), inaugura-se uma nova maneira de fazer arte nos palcos e nas salas de cinema, como uma válvula de escape que libera as angústias reprimidas das guerras e seus resultados em formas de humanos transformados – zumbis. Em diálogo com os primórdios dos zumbis de Hollywood, Guerra Mundial Z -- mesmo que com suas contradições de filmagens e roteiro devido às brigas entre elenco e produção – inova na temática que traz os mortos à vida. Já

não são zumbis sedentários que caminham lentamente. A produção herda a audição apurada por parte dos zumbis dos demais filmes – teria o compositor da trilha do filme, Marco Beltrami, parte nisso? – mas caracteriza a nova casta, já antiga no cenário hollywoodiano, como ágeis e ativos na colonização de sua espécie, lembrando então Extermínio e Morada dos Mortos que trazem zumbis ágeis. Provavelmente, se fosse o caso de você ser mordido quando iniciou a ler essa resenha, já integraria a massa que faz o governo Norte Americano e a Organização das Nações Unidades, no filme, perderem o controle da situação por não saberem como posicionar-se diante de uma pandemia desconhecida. (Qualquer semelhança com a atualidade política brasileira é mera coincidência). Esse descontrole é a tensão que embasa toda a história do filme, que procura descobrir as origens e as curas para o mal que oprime a todos. A guerra biológica se instaura como processo de opressão, rememorando os primeiros anos da América aos olhos da Europa – o detalhe é que a opressão inverteu seus sujeitos. A sétima

arte nos permite essa inversão de papéis. A nova guerra mundial traz a temática de “onde ocorreu” o surgimento de espécies como o clímax da narrativa. Não respondendo à pergunta que propõe para nortear a composição narrativa do filme, Marc Forster, em sua adaptação para as telinhas, encontra no antídoto do problema de “como sobreviver”, os melhores momentos do filme. Sem saber o motivo para o aparecimento dos zumbis, uma equipe de pesquisadores vai, de país em país – a faixa de gaza, talvez por um grande acaso, está na lista de território visitado – à procura de vestígios que expliquem o que levar à transformação e a criação de uma classe não reconhecida até então. Cabe a pergunta: o enredo tem a pretensão de movimentar novamente as salas de exibições com uma possível continuação ou o “I always want more” é a proposta de Marc Forester? Ou, mesmo, nenhuma das duas? Ah, talvez a diferença desse para os demais seja que traz Brad Pitt como estrela principal, mas isso nem é a melhor coisa do filme.

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AGOSTO 2013

DVD

Coluna Prestes: O Avesso da Lenda Clarissa Battistella

Estudande de jornalismo - sétimo semestre

Dessa vez Brum não se posiciona. Apenas narra e insere os depoimentos.

Assim como acontece com muitos repórteres ao explorar uma pauta, Brum deparou-se com uma história diferente do que esperava. Os relatos, um por um, foram desmitificando a lenda da Coluna Prestes e, ao invés de narrações de coragem e honra, revelam um mundo miserável de invasões, abusos e mortes. Hermogêneo Dias Messa, de Santo Ângelo, combatente das forças revoltosas de Prestes, que seguiu por 15 estados do país, fuzilando friamente quem tentasse impedir a caminhada, foi quem anunciou: “Eu só vou lhe dizer que se tivesse uma toca, eu enfiava a minha mulher e todas as mi-

nhas filhas dentro e ficava só com a cabecinha de fora. E aí terminava pra mim a Coluna Prestes”. A autora do polêmico livro-reportagem trouxe para o cenário da imprensa brasileira algumas facetas ainda não conhecidas – afinal, se o contador da história for o próprio protagonista, ela costuma ser parcial. Com a narrativa da Coluna não seria diferente: fala quem tem boca, mas, nesse caso, não basta ter boca, é preciso ser encontrado. E, até então, os encontrados da narrativa eram os guerreiros revoltosos, não os pobres miseráveis, moradores de algum canto perdido do país. Em Coluna Prestes: o avesso da lenda, Brum insere o leitor na guerrilha – essa sim a verdadeira protagonista – , e faz com que sintamos a miséria e a dor que ficaram para trás. Nada mais óbvio, em se tratando de rebeldes, porém inesperado, por saber que os mesmos rebeldes esperavam apoio dos moradores. Quem espera por algum apoio, afinal, não destrói física e moralmente o apoiador. “Do outro lado da Bahia, mantinham a eterna esperança de obter apoio e armas para realizar o, a estas alturas embolorado, sonho de marchar sobre o Rio de Janeiro”. Esse é o momento em que o leitor questiona a inteligência do líder do grupo: Prestes. Tão esperto em suas táticas de ataque, mais esperto em se tratando da fuga, que, por mais de uma vez, se configurou impossível – frisado pela autora no livro – porém, não se dando conta de que, com os ataques, o apoio se tornaria inviável. Dessa vez Brum não se posiciona. Apenas narra e insere os depoimentos. A guerrilha que foi formatada com o pretexto de derrubar o governante, dessa vez, trouxe os dois lados, ou mais que dois: o de Prestes e sua alusão ao heroísmo, o de registros guardados por familiares de militares, que perseguiram, incansavelmente, o inimigo, e o dos moradores que, se não bastassem as necessidades que já passavam, sentiram,

naquela época, o medo. De forma a aproximar ainda mais o leitor da tropa de revoltosos, a maioria gaúchos, e tornar a história mais fidedigna, Brum narra o enredo com uma linguagem gaudéria, mas, quando chega ao sertão, é a linguagem de lá que se encontra. Diante das informações adquiridas, adjetiva os locais e tanto as pessoas que encontrou, como as que não encontrou, mas que conheceu depois das lei-

Eliane Brum é perita em inserir o leitor na história e fazer com que ele se sinta parte do livro.

turas e histórias que lhe foram contadas. Essa leitura nos transporta para 70 anos do passado, inserindo-nos nas fazendas e cidades da época, de forma a compreender a miséria que já existia. Ao mesmo tempo, são descritos os dias atuais, deixando claro que, apesar de muitos anos se passarem, a miséria perdurou e irá perdurar em boa parte do sertão. Tanto é verdade que, apesar de existir circulação de jornais e até mesmo sinal de rádio, muitos desconhecem o que foi, e que já se foi a época dos revoltosos, por aqueles arredores: “Eu não sei o que era porque eu não compreendia e até hoje não compreendo por que foi essa revolta”, diz Manoel Lopes, 90 anos, morador de Rio de Contas. Eliane Brum é perita em inserir o leitor na história e fazer com que ele se sinta parte do livro. Com sua sensibilidade nas descrições

escreveu outras duas obras: A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago, 2006) e O Olho da Rua – Uma repórter em busca da literatura da vida real (Editora Globo, 2008). Acreditando que nenhuma matéria vale mais que uma vida, deixa transparecer durante sua narração que uma ideologia não vale mais que uma vida, principalmente quando essa ideologia torna as próprias vítimas, inocentes. Ao invés de um final feliz, o que se encontra na obra é uma irreversível carnificina, que, depois de publicada, não se apagará com tempo.

a autor a

D

ois anos, três meses e seis dias. Tempo digno de respeito em se tratando de uma revolução. Esse foi o tempo que 1.500 homens, liderados por Luiz Carlos Prestes, levaram para percorrer o Brasil, carregando uma utopia: a bandeira da liberdade. Construída pelos próprios revolucionários, ao longo de 70 anos, se não é desmentida, ao menos a história é contraposta por Eliane Brum, jornalista autora do livro: Coluna Prestes: o avesso da lenda, que percorreu os 25 mil quilômetros da Coluna Prestes arrecadando depoimentos de quem vivenciou os tempos da rebeldia desse grupo.

Eliane Brum é formada pela PUC do Rio Grande do Sul, em 1988. Sua trajetória enquanto jornalista tem como resultado 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de um romance (Uma Duas) e de três livros de reportagem: além de Coluna Prestes: O Avesso da Lenda, há, ainda, A Vida Que Ninguém Vê e O Olho da Rua. É coeditora de dois documentários (Uma história Severina e Gretchen Filme Estrada). É, também, colunista da Época.


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