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CAPA
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PRATAS DA CASA n Ao completar 18 anos, o curso de Jornalismo apresenta dois egressos de sua primeira turma: Ana Cristina Spannenberg e Cristiano Gobbi
CULTURA n Resenha do livro Culturas Extremas, de Massimo Canevacci
CULTURA n Vitor e Lu Cafaggi criam releitura dos quadrinhos da Turma da Mônica e aguçam as lembranças dos leitores das inesquecíveis histórias
REPORTAGEM n A história do Afroreggae, um movimento com o objetivo de promover a inclusão e a justiça social
REPORTAGEM n Você sabe qual a função de um vereador? Saiba o que eles podem fazer e o que os representantes dos cidadãos de Tapejara realizaram no último ano
GRANDES NOMES DO JORNALISMO n O pensamento, a contribuição e o legado de José Hamílton Ribeiro ao jornalismo brasileiro
TECNEWS n Fique ligado em todas as novidades do mundo tecnológico
REPORTAGEM n Casa Maria da Penha acolhe mulheres vítimas de violência e seus filhos e oferece um ambiente de segurança e paz
IMAGENS PRECOCES n Conheça algumas narrativas imagéticas dos alunos de Jornalismo da FAC/UPF
EDITORIAL n A coordenadora do curso de Jornalismo, professora Dra. Bibiana de Paula Friederichs, apresenta a primeira edição da revista Radar
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Uma sombra que não desvanece
AGENDA
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CURSOS E EVENTOS Os 50 anos do golpe militar e a importância da cidade de Passo Fundo são revelados em reportagem especial e entrevistas com protagonistas e estudiosos
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Entrevista
Juremir Machado da Silva fala do papel da mídia brasileira durante o regime militar e aponta as implicações daquelas decisões para a atualidade
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Especial
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Infografia
Os 50 anos do golpe militar que marcaram de forma sombria a história do Brasil são lembrados em reportagem especial
Infográfico relembra os acontecimentos de 31 de março e 1º de abril de 1964 e os presidentes anteriores a 1964
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EVENTOS Making Of – UPF Data: 18 a 20 de agosto de 2014 Onde: UPF (local a ser definido) Inscrições: Nexjor/FAC 10º Congresso Brasileiro de Jornais da ANJ Data: 18 e 19 de agosto de 2014 Onde: Hotel Sheraton – São Paulo Site: http://www.anj.org.br/cbj/ XXXVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação Data: 1 a 5 de setembro de 2014 Local: Unicentro/Unila/UDC - Foz do Iguaçu - PR Site: http://www.unicentro.br/intercom2014/
3 FAMECOS promove o SET Universitário em setembro
27º SET Universitário PUC Data: 22 a 24 de setembro de 2014 Onde: P UCRS - Porto Alegre Inscrições: http://set.eusoufamecos. net/ Semana Acadêmica da FAC Data: 06 a 10 de outubro de 2014 Onde: UPF (local a ser definido) Inscrições: DACG 12º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo IV Encontro de Jovens Pesquisadores em Jornalismo (IV JPJor) Data: 6 a 8 de novembro de 2014 Local: UNISC – Santa Cruz do Sul Site: http://www.sbpjor.org.br/sbpjor/
Reportagem
Um jornal com a cara da resistência: conheça a importância de O Pasquim no confronto, contestação e protesto ao regime
UDC, em Foz do Iguaçú, é um dos locais que receberão o Intercom em setembro
CURSOS
Semana da Arte e do Design da UPF Data: 03 a 07 de novembro de 2014 Onde: UPF (local a ser definido) Inscrições: FAC
PRÊMIOS
EXTENSÃO n A Audioteca auxilia deficientes visuais ao inclui -los no universo da leitura
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PESQUISA n O projeto Mídias Comunitárias em Passo Fundo registra uma parte da história da comunicação na cidade
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INTERCÂMBIO n As espanholas Andrea Gómez Puente e a Ana Márquez contam como conheceram o Brasil em oito meses de intercâmbio
Imagem de fundo: instalação no Memorial da Resistência no Ceará, que ocupa o prédio onde ficava a sede da Polícia Federal no período ditatorial.
Cursos de aperfeiçoamento online do COMUNIQUE-SE n Edição de texto em TV Data: 04/08 n A comunicação em ano eleitoral Data: 06/08 n Aplicação de media training Data: 28/08 n Gêneros textuais e as Mídias Data: 16/08 n Fundamentos da Comunicação e TV Digital n Videocurso TV e Comunicação - Boni n Videocurso O Mundo do Futebol com Zico ONDE: http://cursosonline.uol.com.br/
Prêmio José Lutzenberger de Jornalismo Ambiental Inscrições: até 28/08/2014 Site: www.premiojornalismoambiental.com.br. XVII Prêmio Automação (Associação Brasileira de Automação-GS1 Brasil) Inscrições: até 07/10/2014 Site: www.gs1br.org/premiacaoimprensa. Prêmio CNT de Jornalismo Inscrições: até 11 de agosto de 2014. Site: http://premiocnt.cnt.org.br/ Paginas/Inicio.aspx
EDITORIAL
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Editorial
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sta é a primeira revista produzida pelo curso de Jornalismo da Faculdade de Artes e Comunicação da Universidade de Passo Fundo. Seu lançamento acontece justamente no momento em que completamos a maior idade. São 18 anos de muito trabalho do grupo de professores que forma seu colegiado, buscando compreender as transformações latentes no campo da comunicação, bem como as suas implicações na sociedade, e traduzir tudo isso em conteúdos práticos e reflexivos na sala de aula. O objetivo era, e segue sendo, um só: formar bons profissionais, jornalistas que possam contribuir e até mesmo transformar o cenário ao seu redor com narrativas plurais e qualificadas. Também podemos dizer que, nesse período, muitos alunos esmeraram-se – e até hoje se esmeram – para fazer jus à profissão que escolheram e, com isso, encher a história do nosso curso de orgulho. Penso que esta revista reflete um pouco esse desejo e essa trajetória. Nas páginas a seguir, você encontrará o conteúdo jornalístico materializado em diferentes estruturas: reportagens, notícias, pequenas notas, depoimentos, entrevistas, infográficos, resenhas e fotografias. Se divertirá com o belo infográfico produzido pelo Marcus sobre as horas que antecederam o golpe e também poderá refletir sobre os impactos que esse momento decisivo na história do Brasil teve sobre nossa cidade, Passo Fundo, por meio das palavras da Thaís. Se inquietará com as frases impactantes de Juremir Machado, em uma conversa conduzida pela Maryana sobre jornalismo e política. Se emocionará com a sensibilidade da história contata pelas alunas Eduarda, Lidiane e Natália sobre uma casa cujo maior desejo é permanecer vazia. Conhecerá aspectos da obra de Massivo Canevacci pelo olhar curioso do Guilherme. E, aproveitando o momento político único que vivemos no Brasil, poderá, a partir do trabalho do quarteto formado por Cassiano, Jonathas, Jordana e Luis, pensar sobre o papel daqueles que elegemos. Mas, mais do que isso, também incluímos entre as sessões um panorama do que acontece no curso: ensino, pesquisa, extensão e histórias que revelam por onde andam nossos ex-alunos. Radar é o resultado da parceria entre o Núcleo Experimental de Jornalismo, nossos alunos e os professores das mais diversas disciplinas da graduação. Muita gente se empenhou para ela dar certo e se tornar uma publicação regular do curso, porque acreditamos na máxima de que “jornalismo é um trabalho de equipe”, e juntos podemos produzir informação de qualidade para, com isso, entender e mesmo mudar o mundo ao nosso redor. Boa leitura! ;)
EXPEDIENTE A Revista Radar é uma publicação do curso de Jornalismo da Faculdade de Artes e Comunicação da Universidade de Passo Fundo com suporte técnico do Nexjor. A publicação tem distribuição gratuita. Coordenadora do curso de Jornalismo Dra. Bibiana de Paula Friderichs Diretor da Faculdade de Artes e Comunicação Me. Cassiano Cavalheiro Del Ré
Produção de textos Estagiários do Núcleo Experimental de Jornalismo e estudantes do curso de Jornalismo da FAC/UPF Edição Prof. Me. Fábio Luis Rockenbach e prof. Ma. Maria Joana Chaise Revisão de textos Núcleo Experimental de Jornalismo - UPF Projeto gráfico e diagramação Prof. Me. Fábio Luis Rockenbach e Marcus Freitas/Nexjor
ENTRE EM CONTATO CONOSCO NEXJOR - AGECOM - Universidade de Passo Fundo - BR 285, Bairro São José - Faculdade de Artes e Comunicação - Prédio D2 - Passo Fundo/RS - CEP: 99052-900. Fones: (54) 3316 8489 / (54) 3316 8487 nexjor@upf.br - www.nexjor.com.br
Revista Radar
nº 01 – Julho/2014
Universidade de Passo Fundo
Reitor: José Carlos Carles de Souza Vice-reitora de Graduação Rosani Sgari Vice-reitor de Pesquisa e PósGraduação Leonardo José Gil Barcellos Vice-reitora de Extensão e Assuntos Comunitários Bernadete Maria Dalmolin Vice-reitor Administrativo Agenor Dias Meira Júnior
Foto Liliane Ferenci Terceiro nível de jornalismo
FOTOGRAFIA
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Imagens precoces Foto Daniela Agostinetto Terceiro nível de jornalismo
Liliane Ferenci
Foto Roger Gritti Terceiro nível de jornalismo
Além das letras, jornalistas são eternos apaixonados por imagens. Em movimento ou estáticas, tanto faz. O importante é o sentido que carregam e a expressão que demonstram. Conheça algumas narrativas imagéticas dos alunos de Jornalismo da UPF e colabore com a próxima edição da revista, enviando suas imagens para nexjor@upf.br
Daniela Agostinetto
Daniela Agostinetto
REPORTAGEM
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Fotos: Eduarda Perin
Existe uma Casa mãe Casa Maria da Penha, em Passo Fundo, oferece proteção, segurança e diálogo a mulheres violentadas
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izem que coração de mãe não tem tamanho. Sempre cabe mais um. Seu espaço é suficiente para afagar e acalentar quem necessita de carinho e atenção. Seja filho biológico ou de criação, o coração materno se doa a quem precisa. Refugia, acolhe e ama sem distinção, não importa a cor, a raça e a crença. Coração de mãe também perdoa. Você foi embora? Pode voltar a qualquer hora. Mães não negam ajuda. O coração, neste caso, não se trata do órgão propriamente dito e a mãe em questão não é uma pessoa específica. A expressão define uma casa. Uma casa que tem coração de mãe e acolhe mulheres agredidas, que foram forçadas a sair do seu ninho e abandonar seus lares para proteger a vida: a Casa Maria da Penha. Helena é uma das mulheres acolhidas. Tem coração gigante e sorriso largo, que desaparece quando conta as dificuldades que tem passado. Ela é uma das 7,2 milhões de mulheres com mais de 15 anos que já sofreram agressões no Brasil. Essas agressões geralmente acontecem dentro de casa, o lar que deveria servir como abrigo e se torna
EDUARDA PERIN LIDIANE RIBEIRO NATÁLIA PELLENZ
Acadêmicas do curso de Jornalismo * Produzido na disciplina de REPORTAGEM
Helena tem coração gigante e sorriso largo, que desaparece quando conta as dificuldades que tem passado...
lugar de humilhação, insegurança e desafeto. Assim como Helena, diversas mulheres agredidas já ocuparam os cômodos da Casa Maria da Penha. Quando o corpo se cansa das agressões, das humilhações e do sofrimento e a alma não aguenta viver sem liberdade, as mulheres procuram a Delegacia para registrar boletim de ocorrência e são convidadas a conhecer a Casa. Um lugar simples, sem luxo, que possibilita diálogo, segurança e proteção, onde mulheres desconhecidas criam vínculos, pois compartilham a mesma realidade: a violência doméstica. Helena não está sozinha. A casa abriga atualmente outra mulher marcada pela violência, que atinge cinco mulheres a cada dois minutos no Brasil, Antônia. O nome verdadeiro, assim como o de Helena, não pode ser revelado. Além do nome escondido, Antônia esconde seu rosto ao falar dos atos de humilhação que sofreu. A crueldade foi tanta que o parceiro não maltratou apenas seu corpo. Sua honra também foi ferida. A violência que Antônia sofreu se reflete em sua dificuldade de comunicação. Ela não consegue expressar com
A “Casa Mãe” também acolhe crianças e oferece a elas um ambiente de segurança e paz
cesso jurídico contra os agressores. Audiências são marcadas e algumas providências são adotadas por meio da Lei Maria da Penha, como medidas protetivas que impedem a aproximação do agressor à vítima. A Casa oferece abrigo até que a família se sinta segura e confortável para voltar ao seu lar. Algumas mulheres preferem sair antes, outras permanecem mesmo com o fim do processo judicial. Durante a estadia na Casa Maria da Penha, as tarefas diárias são divididas entre as mulheres, que acabam criando laços pela dor que partilham, mas as histórias são diferentes. Helena tem dentro de si um sopro de esperança. “A partir de agora tudo vai mudar”, diz ela, com seu sorriso que contagia. Já Antônia ocupou a Casa outra vez. Já sofreu, tentou recomeçar, mas voltou para o abrigo. Esse é um problema comum. “Muitas mulheres voltam para seus parceiros, por dependência econômica ou emocional e são agredidas novamente”, conta uma das assistentes sociais que trabalham na Casa e que também prefere ter o nome não divulgado. O endereço do abrigo é mantido
em segredo, mesmo estando mais perto do que se imagina. A Casa se localiza logo ali, na Rua Esperança, no Bairro Recomeço. É um lugar de proteção integral, onde as mulheres recebem atendimentos psicológico, social e jurídico que contribuem para a superação dos problemas enfrentados. Os quartos da Casa não se parecem com suítes de um hotel cinco estrelas, mas são naquelas camas simples que a vontade de sonhar ressurge. A pequena cozinha reúne as mulheres, que são livres para preparar as refeições. Na mesa, além da comida partilhada, elas alimentam a esperança de viver em harmonia no seu próprio lar. A Casa Maria da Penha é um lugar para recomeçar. Oferece assistência, proteção e incentivo, mas, ainda assim, carrega as marcas da violência doméstica. A Casa mãe não tem tamanho. Sempre cabe mais um. Seu espaço é suficiente para afagar e acalentar quem necessita de carinho e atenção, mas seu maior desejo é permanecer vazia.
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REPORTAGEM
clareza o que viveu. “Ele tentou mexer na minha menina”, conta cabisbaixa. O agressor não feriu apenas sua parceira, mas também tentou agredir de forma cruel a dignidade de uma das filhas de Antônia. A violência doméstica não atinge apenas a mulher, atinge a família. Os filhos das mulheres agredidas são humilhados, sofrem com a mãe e também precisam de apoio. A Casa Maria da Penha abriga mulheres e seus filhos. Helena tem dois, uma menina de seis meses e um menino de 13 anos. Já Antônia tem cinco filhos, um deles usuário de drogas. “Ele já passou por uma casa de recuperação, mas fugiu. Hoje não sei onde ele está”, conta. Dois dos cinco filhos de Antônia habitam a Casa, um menino de 12 anos, com uma deficiência que lhe impede de andar, e uma menina de sete meses, com olhar desconfiado, talvez consequência da violência que sofreu junto com a mãe na gestação. A Casa proporciona às crianças, um espaço de segurança e de paz. Alguns brinquedos e filmes infantis são oferecidos para que o ambiente seja agradável para os pequenos enquanto as mães esperam o pro-
7 Estatísticas indicam que mais de 72 milhões de mulheres com mais de 15 anos já sofreram agressões no Brasil
TECH NEWS
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ÔÔ SITE COMPILA NEWSGAMES NACIONAIS E INTERNACIONAIS
60 LIVROS DE JORNALISMO
GRÁTIS
PARA DOWNLOAD
Uma fonte de livros e recursos é sempre útil, principalmente na correria diária do fazer jornalístico. Todo ano, a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) disponibiliza gratuitamente vários livros e estudos publicados para download. Entre os títulos disponíveis estão “O Rádio Brasileiro na Era da Convergência”, “Vozes da democratização e cidadania: a polêmica global-local”, “Sociedade da Informação e Novas Mídias: participação ou exclusão?” e vários outros. O site Ferramentas Foca compilou e postou todos os links disponibilizados esse ano. Você pode conferir os títulos e baixá-los pelo link bit.ly/1r5C23f ou acessando o QR code acima.
Dica de ferramenta ÔÔ INFOGR.AM
Criar infográficos interativos é um trabalho árduo, mas existem ferramentas na web que auxiliam bastante nisso, e o Infogr.am é uma delas. Com uma interface prática e intuitiva, o software conta com considerável quantidade de
itens customizáveis (cores, fontes, tipos de gráfico, upload de imagens) para criar gráficos interativos de barras, pizzas e outros. Depois de feito, basta aplicar o código embed no seu portal e interagir com seu infográfico.
A convergência de notícias no formato de games vem há tempos como um dos campos mais férteis do jornalismo online, mas ainda carece de fontes mais completas de pesquisas. É nesse ponto que o projeto Newsgame Vault soma muito aos pesquisadores ou interessados. Ligado ao site Jornalistas da Web, o repositório foi criado pelo jornalista Mario Lima Cavalcanti e traz mais de cem jogos catalogados até o momento. É possível pesquisa-los utilizando vários critérios, como país de origem, ano de lançamento e desenvolvedor/empresa responsável. No Brasil, a Superinteressante é o veículo com mais tradição no assunto, mas G1, Folha de SP e Zero Hora também já publicaram newsgames em seus portais ou especiais multimídia. Você pode acessar o projeto pelo endereço newsgamevault.com ou pelo QR code ao lado.
ÔÔ BBC COLLEGE OF JOURNALISM ABRE ACESSO PARA O MUNDO INTEIRO Desde junho, o site da Faculdade de Jornalismo da BBC está aberto para o mundo inteiro. Antes, somente usuários britânicos podiam acessar a página. Além de vários estudos interessantes, o site disponibiliza áudios e vídeos. Conforme o anúncio oficial da BBC, o site vai ficar pelo menos 12 meses aberto gratuitamente. O endereço é bbc. co.uk/academy/journalism.
Do Golpe ao jornalismo atual com
Juremir Machado da Silva Em 50 anos incontáveis mudanças ideológicas, sociais e política ocorreram no país. De uma época sombria que ficou marcada e reinou na imprensa brasileira durante os 21 anos de Governo Militar, passamos a um século de liberdades e possibilidades na era da internet. Para entender melhor esse passado e as mudanças que ele implicou para os dias atuais, o Nexjor foi bater um papo com o jornalista, escritor e Doutor em Sociologia pela Universidade de Paris, Juremir Machado da Silva. MARYANA RODRIGUES estagiária NEXJOR
Nexjor: Você critica a nãodivulgação de casos de corrupção durante a ditadura - casos inclusive mais escandalosos que os atuais. De que maneira a divulgação e a repercussão dos casos da época poderiam fazer alguma diferença naquele cenário, ou para o Brasil de hoje? Juremir: Sempre faz diferença porque a transparência conta muito. O que acabou acontecendo foi a criação de uma falsa ideia sobre o regime militar. Muitas pessoas ainda hoje pensam que foi um tempo de transparência, de falta de corrupção, de moralidade, em que tudo estava bem e reinava a honestidade. Tudo porque a mídia não podia divulgar os casos de corrupção, gerava essa falsa ideia de uma sociedade perfeita. Impedia de punir as pessoas que se corrompiam e além de tudo produzia essa informação inadequada sobre o período. Teria contribuído, talvez, para não ter gerado essa sensação de impunidade que domina o Brasil e que tem a ver também com esse fato de que a corrupção permitiu que pessoas enriquecessem sem que nunca tenha havido realmente severas punições. A tortura grassou e os torturadores não foram punidos, é outra forma de corrupção, e tudo isso gera uma falsa ideia do país. Nexjor: Hoje ainda há uma parte da sociedade que defende a volta da ditadura. Esse pensamento representa uma falta de conhecimento sobre os acontecimentos, falta de memória ou a ditadura tinha
um lado bom que foi visto apenas por parte da população? Juremir: Ditadura não tem lado bom. O que tem é isso, é ignorância, ideologia, mas principalmente desconhecimento do que aconteceu naquela época. Alguns até tem conhecimento mas por ideologia ou por má fé escondem o que sabem. A maioria desconhece inteiramente o que aconteceu naquela época e fica imaginando que foi de um jeito quando foi de outro totalmente diferente. Nexjor: Você escreveu sobre a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, referindo-se à ela como uma farsa, uma repetição falha de 1964. Quais semelhanças ideológicas podemos perceber entre as duas? Juremir: A semelhança ideológica existe. São pessoas de extrema direita que não conseguem conviver bem com a liberdade, com a democracia, com a diferença, com um certa desordem que é típica da democracia, manifestações livres, reivindicações, greves, críticas, contestações. Que gostariam de voltar atrás para um mundo de uma ordem impositiva, de autoritarismo, onde se podia reprimir tudo aquilo que incomodava. São pessoas que realmente não sabem conviver com a demo-
A imprensa errou em tudo. Apoiou o golpe e apoiou a ditadura...
ENTREVISTA
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cracia e que sonham com um período autoritário, que felizmente ficou para trás. Nexjor: A imprensa brasileira também foi submetida à censura e perseguição, mas há algo que ela poderia ter feito, principalmente no início, em 1964, e que acabou não fazendo? Qual foi o grande erro da imprensa durante a ditadura? Juremir: Depois de 1968, com a censura, a imprensa começou a criticar um pouco o regime militar. Mas de maneira geral, os grandes jornais apoiaram o golpe e a ditadura. Ajudaram, criaram atmosfera para o golpe e deram sustentação à ditadura. O erro da imprensa é total. O que deveria acontecer era que todos os jornais, Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, todos deveriam pedir desculpas porque ajudaram a manter o Brasil em uma ditadura durante mais de 20 anos. Nexjor: Há um ditado popular que diz: “Olhar o passado para entender o presente”. Essa frase faz sentido nesse contexto? Qual a importância de recuperar acontecimentos, como a morte de Jango
para o contexto atual e para as mudanças que ainda virão no país? Juremir: A gente nunca prevê o futuro com garantia de que não vai ter erro. Somos sempre capazes de cometer novos erros, mas é fundamental estudar o passado, não só para saber onde erramos, mas até para poder julgar, punir, compreender. Inclusive temos curiosidade sobre o passado, temos vontade de entender como as coisas aconteceram. Claro que o objetivo sempre é esse, olhando bem o passado para não repetir os erros. Não é uma garantia, mas é importante tentar.
Jornalista é jornalista, e os demais são diletantes.
Nexjor: No livro ‘A miséria do jornalismo brasileiro’ você afirma que “brigar com a imprensa provoca exclusão”. O senhor já passou por isso, assim como vários profissionais da imprensa. Como essa política de exclusão interfere no jornalismo de hoje? Que caminhos esses profissionais excluídos por suas posições podem seguir?
matéria sobre o meu livro na Folha de São Paulo, no O Globo, no Estadão, na revista Veja. É uma forma de exclusão. Como nosso mundo é bem multifacetado, sai na Carta Capital, na internet, no Correio do Povo, e em uma infinidade de outros veículos, mas recebe essa exclusão da grande imprensa. É preciso trabalhar nas brechas, trabalhar nas margens, acreditar no que faz e continuar apesar desse tipo de segregação.
Juremir: Por exemplo, eu publiquei um livro agora, 1964 golpe midiático-civil-militar, que mostra o quanto a imprensa apoiou o golpe e a ditadura. Obviamente que tu não vais encontrar
Nexjor: Como você enxerga o papel do jornalista brasileiro, tendo em vista os problemas sociais, os grandes acontecimentos que estão por vir e os protestos recorrentes?
Em 19 de março de 1969, estima-se que entre 500mil e 800 mil pessoas participaram da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, contra o governo João Goulart (Foto: Arquivo Jornal do Brasil)
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Núcleo de Fotografia e Memória – UNIFRA
Ou, retomando o tema da última edição da revista de jornalismo da ESPM, “para que serve o jornalismo” hoje, onde todos podem ser “criadores” de conteúdo? Juremir: Eu não acredito nessa ideia. Jornalista é jornalista, e os demais são diletantes. Jornalista tem um compromisso específico com a apuração de dados, com a busca da verdade, com a revelação de coisas. É a frase de George
... o objetivo sempre é esse, olhando bem o passado para não repetir os erros.
Orwell “jornalismo é quando se publica alguma coisa que alguém não queria que fosse publicado, o resto é publicidade”. O jornalismo tem esse compromisso de trazer à tona aquilo que não se quer que venha à tona, e boa parte do que a gente encontra na internet não tem nada a ver com isso. São pessoas se autopromovendo, muitas fazendo sua propaganda, conversa fiada. O jornalismo está com seus dias garantidos. O jornalismo é a arte, a missão de trazer à tona aquilo que os outros querem esconder. E isso leva tempo, exige técnica, esforço. Só profissionais fazem isso, ninguém vai ficar fazendo isso o tempo inteiro só por fazer, sem ganhar nada. Um ou outro pode contribuir com uma informação, com um depoimento, mas não são mais do que fontes. Só o profissional é que faz dessa atividade uma missão e entrega sua vida à isso. Nexjor: Em entrevista ao Nexjor, em 2013, você citou os ‘blogueiros’ como jornalistas corajosos e o jornalismo online como ‘inovador’. Onde está a raíz desse diferencial: está na plataforma, que permite mais possibilidades, ou na forma de pensar do usuário? A nova geração tem consciência das possibilidades que tem em mãos? Juremir: Nem tudo que é online é
O jornalismo está com seus dias garantidos.
jornalismo, mas tem jornalismo online. Tem blogueiros aí que fazem jornalismo, vão fixar uma pauta, fazer apuração de dados, verificar essas informações, escrever um texto condicente, divulgar um vídeo, fazer um trabalho jornalístico completo. O inovador é a possibilidade da interação muito mais imediata mas principalmente a liberdade que eles têm por não dependerem de ninguém mais a não ser da consciência deles. Há uma liberdade de expressão que talvez fosse encontrar limites nos veículos tradicionais.
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REPORTAGEM DE CAPA 12
THAÍS BIOLCHI
estagiária NEXJOR
“Falar sobre flores pode não ser o melhor, mas é o mais seguro.”
A
frase do jornalista Argeu Santarém ajuda a entender como foi a década de 1960 no Brasil, um período marcado pela repressão e pela supressão das liberdades, inclusive a de expressão. Em 2014 completam-
se 50 anos do Golpe Militar, um dos períodos mais nebulosos da história do país, onde prisões, torturas e a censura à imprensa eram parte do cotidiano. Cinquenta anos que muitos gostariam, mas que não devemos esquecer. Para chegar ao ponto de intervenção militar, o governo brasileiro sofreu muitas mudanças. O movimento de queda do poder de João Goulart foi o marco inicial da ditadura no Brasil e fez com que o país passasse pelos chamados “anos de chumbo”. Os cidadãos foram do plebiscito a favor do presidencialismo, em janeiro de 1963, ao Comício de Jango na Central do Brasil, em 13 de março
Foi por meio de um Golpe Militar que o Brasil passou a ser governado por um regime ditatorial. Foram 21 anos que jamais serão esquecidos. de 1964. Contra as reformas de base propostas pelo presidente, passaram à ‘Marcha da Família com Deus pela Liberdade’. E no dia 31 de março de 1964, forças do exército começaram a se deslocar para o Rio de Janeiro, com o objetivo de depor João Goulart. Isolado e sem apoio, Jango preferiu não revidar e fugiu do Rio de Janeiro, se auto exilando no Uruguai. Com a promessa de uma nova república democrática, o Brasil entrava, sem saber, nos 21 anos mais obscuros de sua história recente. Em 1967, o poder ficava centralizado com uma nova constituição. Os futuros atos institucionais deixariam ainda mais claro que não haveria
REPORTAGEM DE CAPA
ses. Dispomos de forças mais do que suficientes para manter a ordem, a tranquilidade e a liberdade do povo. O Rio Grande do Sul, convocado pelo Brasil, mais uma vez cumpriu com o seu dever”. ÔÔ IMPRENSA CERCEADA
Em breve estada em Passo Fundo o governador Ildo Meneghetti passa a tropa em revista (Foto: Czamanski Fotografia)
espaço para a democracia, somente retomada em 1985. ÔÔ PASSO FUNDO: DE TERRA DE PASSAGEM À CAPITAL DO ESTADO Quando a cidade de Passo Fundo foi fundada, em 1827, os moradores não imaginavam que de uma terra de passagem para tropeiros, o município do norte do Rio Grande do Sul se tornaria - nem que, por poucos momentos - a capital do Estado. A crise imposta pela Ditadura de 1964 afetou todos os municípios do país, e colocou em alerta as capitais brasileiras que temiam sofrer invasões. Simpático à mobilização militar, o então governador do Estado, Ildo Meneghetti, ao anunciar a transferência da sede do governo gaúcho para Passo Fundo, disse: “chegou a hora em que o Rio Grande pede o sacrifício supremo de seus filhos.
Chegou a hora em que o Rio Grande pede o sacrificio supremo de seus filhos Ildo Meneghetti, governador do estado, ao anunciar a transferência da sede do governo para Passo Fundo
Não negaremos esse sacrifício. Seguiremos nossas tradições de lutas”. O Quartel do Segundo Batalhão Policial da Brigada Militar de Passo Fundo, tornava-se, assim, de 1º a 6 de abril, a sede do governo estadual. Na época, Passo Fundo detinha um poderoso aparato da polícia militar e devido à influência de Leonel Brizola sobre o Estado, eram grandes as possibilidades de confrontos no Rio Grande do Sul. De acordo com a historiadora e professora da Universidade de Passo Fundo, Ironita Machado, a cidade também foi sede do Departamento de Ordem Política e Social, o DOPS, onde eram planejadas e executadas ações de repressão civil-militar. Durante a Ditadura também agiu na cidade o Comando de Caça aos Comunistas, e por isso o governo do Estado sabia que o município era a escolha certa para refúgio. Chegado ao fim o período de Passo Fundo como capital dos gaúchos, no dia 6 de abril, o governador Meneghetti, que retornava à capital Porto Alegre, se manifestou: “ao tomar esta atitude estava certo de que, na valorosa cidade de Passo Fundo, encontraria apoio necessário para organizar as forças de libertação do nosso Estado e combater com eficiência a tentativa de implantar no país uma ditadura comunista. Podem ficar tranquilos os rio-granden-
O grande potencial de militares em Passo Fundo e a Lei de Imprensa que vigorava na época - baseada na Constituição de 1946 e 1967 - regulavam a liberdade de manifestação do pensamento e de informação. A imprensa servia de aliada às forças políticas golpistas e foi considerada uma área de vital segurança pelo governo, durante e pós-golpe militar. Mesmo assim, havia entre os jornalistas posições contrárias. O jornalista passo-fundense Ivaldino Tasca, considerado na época um ‘agitador’, era repórter no jornal O Nacional e comenta que o período entre 1964 até 1985 foi um dos mais nebulosos da história. “Eu escrevia com medo, e media as palavras, mesmo que não parecesse”, lembra. Celestino Meneghini, também jornalista, recorda a ação dos policiais: “Uns extrapolavam, outros controlavam tudo. Eram os donos do mundo”. No ano de 1964, o Jornal Diário da Manhã publicava em todas as suas edições um editorial que posicionava a opinião da empresa sobre as graves questões envolvendo o governo e os militares. A partir daí, podese dizer que a censura começou a ser praticada nos meios de informação do município: todas as edições do mês de abril de 1964 do Diário da Manhã desapareceram dos arquivos. Elas alertavam a população sobre a possível aniquilação da democracia no país. Quem trabalhava no Exército, mas não apoiava a repressão que o Golpe causava, muitas vezes nem participava das ações organizadas pelo regime. Soldado nos anos 60, José Tumelero comenta que as ações de censura e violência ficavam a cunho das organizações secretas mantidas na época e que para soldados era incumbida a segurança das ruas. O jornalista e historiador, José Ernani de Almeida, que à época trabalhava como radialista, lembra que sempre
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escreviam com o cuidado de não colocar algo em seus textos que se tinha como proibido pelo regime. “Do descobrimento à independência ou morte, até o refrão dos trabalhadores do Brasil do Vargas, passando pela ordem e progresso dos positivistas republicanos de 1989 a chegar ao odioso ‘ame ou deixe-o’, a censura sempre esteve presente”, declara Ernani. ÔÔ A MAIOR VÍTIMA DA REPRESSÃO NA CIDADE A participação da cidade de Pas-
Intervenção norte-americana
A
ditadura no Brasil foi resultado, também, do cenário político internacional. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos e União Soviética disputavam cada nação e seus potenciais. Assim, os Estados Unidos tinham claras intenções de garantir a sua hegemonia sobre o continente americano. Para tanto, apoiaram a instalação de governos ditatoriais em diferentes locais da América Latina, inclusive no Brasil, para defenderem e assegurarem que o sistema capitalista perpetuasse no continente americano e consequentemente no mundo
so Fundo nos desdobramentos políticos do Golpe Militar mudou a vida de toda a população, em especial a dos profissionais que tentavam informar os acontecimentos. Preso, vítima de repressão, enquadrado criminalmente por matérias publicadas em veículos legais, João Baptista de Melo Freitas foi um dos passo-fundenses que sofreu com as práticas do regime contra a população que não estava enquadrada nos moldes do governo. Na época, jornalista e funcionário da Câmara Municipal de Passo Fundo, João Freitas era submetido a intensas observações por parte dos militares. Desde 1962 a Subsecretaria de Inteligência do governo federal tinha registros sobre fatos e situações envolvendo o jornalista. O maior crime pelo qual ele era acusado era o de tornar públicas suas opiniões, em época onde criticar era crime. No livro Denuncismo e censura nos meios de comunicação de Passo Fundo, de José Ernani de Almeida, o responsável pelos pedidos de prisão, capitão Grey Belles, declarava que Freitas “era o cérebro da Câmara de Vereadores e exercia muita influência como jornalista. Tinha uma posição destacada em Passo Fundo”. Por três vezes o jornalista, que mantinha atuação discreta junto
ao PCB - Partido Comunista Brasileiro -, foi preso acusado de estar realizando ‘atividade de caráter subversivo’. José Ernani de Almeida comenta em seu livro que “o terrorismo por ele exercido, e que era temido pelas autoridades da época, era o das palavras, das opiniões”. João Freitas foi levado à prisão de Porto Alegre por duas vezes. Na primeira, foram 35 dias longe da família e impossibilitado de exercer a profissão. Conforme José Ernani cita em seu livro, João nunca confirmou ter sido violentado na prisão. Quando foi libertado, seu direito de escrever havia sido suspenso, suas colunas continuaram sendo escritas, porém nunca publicadas. João Baptista de Melo Freitas morreu aos 54 anos, vítima de câncer. ÔÔ DEMOCRACIA A PLENOS PULMÕES A palavra “democracia” vem do grego “demos” e significa povo. Em um governo democrático o poder e a responsabilidade cívica são exercidos por todos os cidadãos. Democracia é o que o povo brasileiro buscou durante os 21 anos de repressão que o Golpe Militar gerou no país. O regime militar foi autoritário e traumático. Eleger um presidente da República, depois de duas dé-
cadas de militarismo, foi uma das maiores conquistas da população brasileira. Em 1984 a democracia viria a vencer a elite militar. O movimento ‘Diretas Já’ foi um marco brasileiro e levou milhões de pessoas às ruas exigindo a democracia no Brasil. Os quinze meses de campanha das Diretas abalaram o regime militar e abriram caminho para governantes de esquerda. José Ernani Almeida se refere ao período como sendo uma página infeliz da história da nação, e lembra que a cidadania custou a chegar. “Que nos livremos para sempre de episódios que aconteceram em um passado não tão distante e que prevaleça sempre a liberdade de expressão”, avalia José Ernani.
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No antigo Altar da Pátria, localizado na avenida Brasil, esquina com a General Neto, Meneghetti faz um de seus discursos (Foto: Czamanski Fotografia)
João Vicente Goulart:
“Era uma criança de sete anos e evidentemente não tinha a dimensão da tragédia que estava se abatendo sob o Brasil.” Fernanda Algayer e Janaína Sá*
N
ascido no Rio de Janeiro em 1956, João Vicente Goulart acompanhou seu pai, João Goulart, por anos no exílio em território uruguaio. Em 1976, retornou ao Brasil e formou-se em Filosofia pela PUC-RS. Com a influência de Jango, entrou para a política em 1982, assumindo o cargo de deputado estadual pelo PDT. Em 2004, criou o Instituto Presidente João Goulart, entidade que, segundo João Vicente, visa ao resgate das lutas políticas do período militar brasileiro. Recentemente, o Instituto participou do processo de exumação dos restos mortais de João Goulart junto à Comissão da Verdade e à Secretaria Nacional dos Direitos Humanos. A Comissão Nacional da Verdade foi instalada em 16 de maio de 2012 para investigar violações aos direitos humanos dos períodos que vão entre 1946 a 1988. Apesar de convidar vítimas e acusados para depor, não necessariamente punirá estes últimos. A confissão dos envolvidos é, antes de qualquer coisa, para enriquecer o arquivo e tornar mais claras as investigações. Realizado nos dias 27 e 28 de março em Florianópolis-SC, o encontro da Rede Alfredo de Carvalho, voltada à história da mídia no Brasil teve como tema os 50 anos do golpe militar de 1964. Conversa-
mos com João Vicente no primeiro dia do evento. Ele frisou o papel do Instituto João Goulart, assim como o atraso do país em instalar uma comissão da verdade.
...o Brasil necessitava disso, para rever a sua memória e cicatrizar as suas feridas. Sobre a instalação da Comissão da Verdade de São Paulo
Qual a sua memória mais marcante da época do golpe militar? A memória que tenho são flashes apenas. Eu era uma criança de sete anos e evidentemente não tinha a dimensão da tragédia que estava se abatendo sob o Brasil. Nós só viemos a ter um conhecimento sobre tudo isso depois, no exílio, à medida que íamos crescendo, crescendo em um país diferente, mas no momento era apenas flash de um dia diferente, de um dia conturbado. Qual o papel do Instituto Presidente João Goulart? O Instituto, que completa 10 anos em 2014, foi criado exatamente para o resgate das lutas políticas, da luta do presidente João Goulart não somente como homem, como presidente, mas também para resgatar a sua luta política e esse é o papel que vínhamos desempenhando até agora, através da criação de documentários, filmes. Estamos agora tentando fazer um memorial da liberdade e democracia presidente João Goulart, no eixo monumental em Brasília, que é uma obra
João Vicente, na Alcar Sul 2014: lembranças do dia da fuga são apenas “flashes” do que para ele, ainda criança, foi “um dia diferente”
do Niemeyer. Enfim, o Instituto está sempre em função do resgate das lutas entre capital e trabalho. Como foi depor na Comissão da Verdade sobre um passado tão delicado? Eu dei um ou dois depoimentos para a Comissão da Verdade de São Paulo e acho importante. Acho que a Comissão da Verdade – apesar de o Brasil estar atrasado em 20 anos, pois foi o último país latinoamericano que instalou sua comissão da verdade – ela veio em bom momento, algo que o Brasil necessitava para rever a sua memória e cicatrizar as suas feridas.
O GOLPE Militar
RADAR Agosto | 2014
em 6 momentos
Os acontecimentos que marcaram os dias 31 de março e 1º de abril alterariam a história do Brasil pelos próx imos 21 anos. Relembre-os nos seus principais momentos.
INFOGRAFIA Por: Marcus Freitas
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Ministério
da Guerra
3 Palácio das Laranjeiras
RIO DE JANEIRO
Palácio da Guanabara
Palácio Guanabara
4 1
Ministério da Guerra
2 cabana
a Forte de Cop
6
Palácio Laranjeiras
5 Forte de Copacabana
PRESIDENTES E SEUS PRINCIPAIS ATOS ANTES DE 1964 FLORIANO PEIXOTO
1891 - 1894
Nacionalista e centralizador, lançou a ditadura de salvação nacional. Venceu a Segunda Revolta da Armada.
DEODORO DA FONSECA
1889 - 1891
Por decreto de Deodoro, o Brasil deixou de ser um país oficialmente católico em 7 de janeiro de 1890.
CAMPOS SALLES
AFONSO PENA
1906 - 1909
Incentivou a criação de ferrovias, interligou a Amazônia ao Rio de Janeiro pelo fio telegráfico e criou a NOB.
1898 - 1902
Dedicou-se a valorização da moeda. Criou o imposto do selo e a “política dos governadores”.
HERMES DA FONSECA 1910 - 1914 Enfrentou a Revolta da Chibata em 1910, que durou 2 anos.
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31 DE MARÇO DE 1964
1
Chega ao Palácio Guanabara a notícia de que o comandante da 4ª Região Militar, General Olímpio Mourão Filho, e o g overnador de Minas Gerais, José de Magalhães Pinto, se declararam contra o governo de Jango e não mais obedecem ao poder central.
04h30
INFO-
2
Um pelotão de subtenentes 05h00 golpistas toma o controle de metade do prédio do Ministério da Guerra a fim de proteger o chefe do Estado-Maior do Exército, Castello Branco. A outra metade do prédio permanece ocupada por militares governistas.
3
1º DE ABRIL DE 1964
Cinco carros de combate tanques M-41 - de golpistas se dirigem ao Palácio das Laranjeiras onde se encontra o presidente Jango e numerosos membros do seu governo. 16h00
GRAFIA
4
Temor de um ataque aéreo na Guanabara: aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) fazem uma série de voos rasantes sobre o Palácio.
16h10
5
Oficiais golpistas ocupam o Forte de Copacabana. No terreno ao lado está o QG da Artilharia da Costa, dominado por governistas. Apesar da tensão, não há confronto.
6
12h15
Tanques do Exército, que se encontravam no Palácio das Laranjeiras, atravessam as ruas da cidade e defendem o Palácio da Guanabara, onde reside Carlos Lacerda, favorável às movimentações militares.
Metralhadora .30 mm M1919 Velocidade máxima: 72,3 km/h
Tripulação máxima: 4
Alcance máximo: 163 km
Peso: 23,5 toneladas
Altura: 2,88 m
Canhão M32 76 mm
17
16h00
Capacete
Máscara de gás Cacetete Largura: 3,65m
ARTHUR BERNARDES 1922 - 1926
Defensor dos recursos naturais, fez a reforma da Constituição de 1891 em 1926.
WASHINGTON LUIS
GETÚLIO VARGAS
1951 - 1954
Criou as leis trabalhistas e investiu na infraestrutura: o IBGE, Petrobrás, Eletrobrás, Chesf, Vale do Rio Doce e outros.
1926 - 1930
Criou o Conselho de Defesa Nacional e enfrentou a crise do café e a crise internacional (Bolsa de NY em 1929).
JUSCELINO KUBITSCHECK
JOÃO GOULART
1961 - 1964
Tentou diminuir participação de empresas estrangeiras. Criou limite para remessas de lucro para fora do Brasil.
1956 - 1961
A grande obra de JK foi a construção de Brasília, a nova capital do Brasil.
REPORTAGEM 18
RADAR Agosto | 2014
do italiano paschino: jornal ou panfleto difamador EDUARDA RICCI PERIN Estagiária NEXJOR
Brasil, 1964. Um golpe militar derruba o governo do então presidente João Goulart. Inicia o período de ditadura no país, que se estenderia por 20 anos. Brasil, 1968. Acontece o “golpe do golpe”: o Ato Institucional nº 5 em 13 de dezembro, durante o governo do general Costa e Silva. O AI-5 oficializou a ditadura e deu poder de exceção aos governantes para punir os que fossem inimigos do regime. No mesmo ano, em uma conversa na mesa de bar, um grupo de amigos chargistas, jornalistas e cartunistas discutem a necessidade da criação de um veículo de comunicação alternativo que denunciasse a ditadura no Brasil. Surge então, O Pasquim.
O
tabloide semanal tinha ar de confronto, contestação e protesto. Tinha como fórmula: ironia + humor. O editor chefe era o passofundense Tarso de Castro, mas o grupo responsável pelo semanário era formado por muita gente. Entre eles, o cartunista Jaguar, os jornalistas Sérgio Cabral e Luiz Carlos Maciel e nomes como Ziraldo, Millôr e Claudius. O Pasquim surgiu como imprensa alternativa e ofereceu o que os grandes jornais, que tinham que sobreviver em meio à censura, não ofereciam. É o que conta a Profª Drª Sônia Bertol, “A população, sedenta de informação elevou O Pasquim a um patamar que ninguém esperava. Ele se tornou o mais importante representante da imprensa anti-hegemônica” lembra. Os números confirmam a popularidade do Pasquim: na primeira edição foram 14 mil exemplares, na segunda dobraram a tiragem. O jornal chegou a vender 200 mil exemplares em uma
Tarso não conseguiu mandar a entrevista a tempo. Mas, teve a ideia de colocar meia dúzia de fotos e no lugar da entrevista somente “blablabla” Prof. Sônia Bertol, sobre a entrevista que Tarso de Castro não conseguiu fazer com Brigitte Bardot no Brasil
única semana. “O Pasquim foi fonte de informação que ajudou o Brasil a voltar a democracia”, define a professora Sônia, que durante a dissertação de seu mestrado sobre a história do jornalista e editorchefe de O Pasquim, Tarso de Castro, conversou com o amigo e parceiro de Tarso na criação do jornal, o cartunista Jaguar. Muitas das histórias que aquele grupo de amigos viveu durante os vinte anos do semanário, Sônia Bertol ouviu
Para a prof. Sônia Bertol, autora de “Tarso de Castro – o editor de O Pasquim”, o jornal foi o maior representante da imprensa alternativa no Brasil
REPORTAGEM
RADAR RADAR Agosto||2014 2014 Agosto
19 19
de Jaguar. Uma delas, a professora relata: “Quando Brigitte Bardot estava no Brasil, Tarso de Castro foi entrevistá-la para O Pasquim em Búzios e Jaguar estava no Rio de Janeiro para o fechamento do jornal. Tarso não conseguiu mandar a entrevista a tempo. Mas, teve a ideia de colocar meia dúzia de fotos e no lugar da entrevista somente “blablabla”. Jaguar seguiu literalmente o conselho do editor-chefe, e O Pasquim teve duas páginas de fotos e no lugar do texto: ”blablabla”. O público interpretou esse fato como se a única coisa que interessava na atriz francesa fosse a imagem e não o que ela teria a dizer. Algumas coisas conspiravam a favor do jornal”, conta a professora. Outro fato que aconteceu por acaso em O Pasquim é relatado no documentário “Pasquim: a subversão do humor” da TV Câmara, pelo cartunista Jaguar: “Eu era cartunista, chargista, nunca tinha escrito nada. (...) Entrevistei Ibrahim Sued na primeira edição de
O Pasquim e na hora de transcrever a entrevista, como não sabia nada da técnica jornalística e o jornal tinha que ser fechado, acabei escrevendo exatamente como eu perguntei e ele respondeu”, conta Jaguar, que ainda acrescenta: “Isso resultou em uma revolução na imprensa porque foi a primeira vez que publicaram um texto da maneira que a gente fala”. A oralidade - transcrever uma entrevista da forma como foi feita, mostrando a espontaneidade do entrevistado - é um dos traços de O Pasquim que a imprensa atual carrega. A charge, caricatura, uso do humor, ironia e linguagem informal são também influências deixadas pelo jornal. ÔÔ O FIM Tudo ia bem para O Pasquim até que em 1970, depois que o jornal publicou uma sátira do célebre quadro de Dom Pedro às margens do Ipiranga, um suposto “surto de gripe” invadiu a redação afastando quase todos que
compunham o periódico. Neste momento, já que o jornal não podia noticiar a verdade e dizer que, na realidade, seus colaboradores tinham sido presos pelo governo, a capa de O Pasquim estampou uma mensagem subliminar: “Enfim, um Pasquim inteiramente automático. Sem o Ziraldo, sem o Jaguar (...) Sem a redação, sem a contabilidade”. Depois da prisão e de algumas bancas que vendiam jornais alternativos serem bombardeadas, O Pasquim perdeu força, os anunciantes se afastaram, a censura era cada vez mais forte. O jornal sobreviveu por muito tempo, mas já não tinha a antiga formação. A última edição, de número 1 072, foi publicada em 11 de novembro de 1991.
O passo-fundense que foi o epicentro do Pasquim O passofundense Tarso de Castro foi criado na redação do Jornal O Nacional, fundado por seu pai Mucio de Castro. Como é relatado no livro “Tarso de Castro – o editor de O Pasquim” escrito por Sônia Bertol, foi no O Nacional que Tarso revelou sua vocação de cronista, jornalista crítico e polêmico, perceptivo e atento ao que se passava ao redor. Ele tinha uma coluna que usava o pseudônimo TDC. Certa vez, nessa coluna Tarso fez uma crítica ao espírito natalino e aos valores cristãos que eram enfatizados na véspera da data, sendo que durante o ano ele via tanta injustiça e coisas erradas na cidade. Com a opinião polêmica, Tarso de Castro comprou briga com uma das maiores autoridade da cidade: o bispo daquela época, que procurou seus pais. Tarso se mudou para a capital do Rio do Grande do Sul, e como já tinha o feeling jornalístico, começou a trabalhar no jornal do Samuel Wainer, o Última Hora. Fez amizade com Wainer e passou a trabalhar no Última Hora do Rio de Janeiro. No Rio, fez amigos cartunistas e jornalistas. Desse grupo e das discussões nas mesas de bar, surgiu O Pasquim. Tarso foi o grande mentor, editor e responsável pelo periódico.
JORNALISMO 20
RADAR RADAR Agosto || 2014 2014 Agosto
GRANDES PERSONAGENS
GRANDES NOMES DO JORNALISMO
JOSÉ HAMÍLTON RIBEIRO
Um repórter do tamanho do Brasil Se sempre existe uma ironia nas grandes histórias reais, a história que envolve o drama do repórter José Hamilton Ribeiro durante a cobertura na guerra do Vietnam vai muito além da criatividade de qualquer repórter. Dono, então, de quatro prêmios Esso de jornalismo (dois pela revista Quatro Rodas, em 1963 e 1964, e outros dois pela saudosa revista Realidade, em 1967 e 1968) o paulista José Hamílton Ribeiro foi enviado por Realidade para cobrir a Guerra do Vietnam em 1968. Saiu inteiro do Brasil, e voltou sem uma perna. Quase morreu ao pisar em uma mina e seu drama transformouse em parte da história do jornalismo brasileiro. A ironia, na história de José Hamílton, é ter passado por seu drama enquanto acompanhava tropas americanas que avançavam em um caminho chamado pelos nativos de “Estrada sem alegria”. Ao todo, foram sete prêmios Esso, um recorde nunca alcançado por nenhum outro jornalista, que não por acaso lhe deram o título informal – posteriormente eternizado em livro - de “O Repórter do Século”. Um título, aliás, que José Hamílton, em uma simplicidade que lhe é característica, considera “abusivo”. Para o jornalista,
nada se faz sozinho, e todo repórter precisa de estrutura, apoio, equipe, um local para publicar. “De que adiante ser um grande repórter e não ter onde publicar?” “O Repórter do Século”, coletânea de suas reportagens vencedores do Esso, e “O Gosto da Guerra”, livro em que narra seu inferno vietnamita, são seus livros mais famosos, mas há outras preciosidades lançadas pelo jornalista no mercado editorial. Uma delas é “Os Tropeiros”, registro de uma jornada de mais de 1.700 quilômetros no lombo de mulas, uma viagem de 66 dias entre o Rio Grande do Sul e São Paulo. São registros de um compromisso entre informação, testemunho, vivência e jornalismo que são raros nos dias de hoje, tanto pelo ritmo
A série Grandes Nomes do Jornalismo destina-se a apresentar, principalmente aos novos estudantes de jornalismo, a cada edição de RADAR, o perfil de um grande profissional, suas contribuições e seu papel na história do jornalismo.
como pelos espaços destinados a esse tipo de reportagem (alguns jornais, como a Zero Hora, de Porto Alegre, cede espaços para jornalistas como Carlos Wagner e Humberto Trezzi publicarem matérias especiais que ainda resgatam o estilo de jornalismo tão bem representado por José Hamílton Ribeiro em seus tempos de Realidade). ÔÔCOMEÇO NO RÁDIO, CONSAGRAÇÃO NO JORNALISMO IMPRESSO O paulista nascido em 1935 em Santa Rosa do Viterbo começou trabalhando em rádio, em uma função bem diferente daquela que o consagraria. “Quando eu estava no jornal O Tempo, e ganhava pouco e não recebia (risos), arranjei um emprego na Rádio Bandeirantes, da meia-noite às 6 da manhã.
DIFÍCIL? Em qualquer lugar que vá, José Hamílton Ribeiro costuma ser “brindado” com a mesma pergunta, de forma quase mecânica: é difícil ser jornalista com apenas uma perna? A insistência na pergunta, ao longo dos anos, fez com que ele criasse, também, uma resposta automática que se tornou conhecida e, talvez até por isso, fez com que a pergunta parasse de ser feita. Difícil com uma perna só? - É mais difícil do que com duas, sim, mas também é mais fácil do que com quatro!
Porque de hora em hora a Bandeirantes dava as notícias e tinha que ter lá um redator para escrever as notícias de hora em hora.” afirma, em entrevista ao Jornalistas & Cia. Foi somente na imprensa escrita que se destacou como uma rara testemunha de histórias cuja humanidade sabia captar e contar ao leitor como poucos. Conseguiu transformar histórias repletas de tecnicismos em informação fácil ao alcance do leitor – como a história da primeira cirurgia cardíaca realizada no interior do Brasil. Foi na imprensa escrita, principalmente em revistas, que tornou-se, enfim, um modelo para um tipo de jornalismo que hoje parece apenas uma lembrança distante. Se o cargo de redator-chefe de Quatro Rodas lhe rendeu dois prêmios e muita experiência, foi em Realidade que trouxe as mais valiosas contribuições ao jornalismo do Brasil. A revista, aliás, surgiu pelas mãos da mesma equipe que, com José Hamílton, transformara a Quatro Rodas em um sucesso que perdura até hoje (que incluía os jornalistas Mino Carta, Sérgio de Souza, Narciso Kalili, entre outros). José Hamílton ficou na redação da revista automobilística para manter o padrão instaurado, mas não demorou para ser realocado para Realidade, que talvez tenha sido a mais importante revista de reportagens da história do jornalismo brasileiro. O próprio José Hamílton costuma reler as matérias que escreveu nas duas revistas, mas confessa não gostar de revisitar sua reportagem mais lembrada – e curiosamente não premiada –, justamente “Eu estive na guerra”, quando contou aos seus leitores o drama vivido no Vietnam. A reportagem é um exemplo do compromisso do repórter com seus leitores, independente de seu próprio drama. Por exemplo, ainda em Realidade, desistiu de fazer uma reportagem sobre o preconceito racial no Brasil quando não conseguiu “ficar preto”. Queria sentir na pele o preconceito para poder passar a sensação aos leitores. Tomou remédio para estimular a produção de melanina e banhos de imersão
RADAR Agosto | 2014
JORNALISMO
“O sujeito vai ser jornalista, primeiro, por vocação, e será bom se tiver formação.”
com permanganato de potássio, mas não funcionou. A maquiagem ficou artificial demais. Desistiu da reportagem. “Não dá para fazer reportagens como essas por telefone ou pela internet. Zé Hamilton vai lá, nem sempre correndo risco de vida, como aconteceu no Vietnã, mas sempre se mostrando disponível a ver, ouvir, sentir.” afirma Ricardo Kotscho, celebrado jornalista e autor de importantes livros sobre a arte da reportagem, na introdução de “O Repórter do Século”. Não chegou a se formar. Quando estava por entrar no último ano da Faculdade de Jornalismo, na Cásper Líbero, em São Paulo, e era vice-presidente do Centro Acadêmico, uma greve conduzida pelo CA irrompeu e trouxe consequências para o futuro jornalista. “O objetivo era modesto: substituir todos os professores.” diz ele, rindo. “Os estudantes decidiram que os professores eram todos ruins.” O resultado da movimentação foi que José Hamílton, junto de outros colegas, não foram expulsos, mas tiveram suas matrículas negadas no semestre seguinte – mas muito do que havia por se ver na faculdade já havia sido assimilado pelo estudante. Em tempos de discussão sobre a validade do diploma, o mais laureado jornalista do Brasil não vê distinção na importância entre a vocação e a formação. “As duas estão ligadas. O sujeito vai ser jornalista, primeiro, por vocação, e será bom se tiver formação.” explica, no programa UFSC Entrevista. Do interior, foi para a principal emissora do país. Contratado pela Rede Globo em 1981 para atuar no Globo Repórter, ficou apenas um ano no programa e já em 1982 foi para o Globo Rural, convidado por Humberto Pereira e Gabriel Romeiro. De lá, nunca mais saiu, apesar de já ter recebido propostas. Trocou o jornalismo impresso pela televisão, mas não vê muitas diferenças entre os dois, apenas que “na televisão é mais difícil enganar”. Assim, “escondido” nas manhãs da Rede Globo em matérias sobre agricultura e pecuária, o mais premiado jornalista da história do Brasil segue em atividade, aos 79 anos, esbanjando vigor e criatividade. O próprio José Hamílton tenta, em seu livro de coletâneas, resumir o que é preciso para ser um grande repórter: “...um pouco, vaidade, um pouco, espírito de aventura, um pouco, ambição profissional. E muito – muito mesmo – desse compromisso entre romântico e missionário que todo jornalista leva consigo de estar onde a notícia estiver, para denunciar a injustiça, a iniqüidade, o preconceito, o uso abusivo da força, do dinheiro e do poder, seja ele militar, econômico, político ou de patrulhamento”.
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DOR NA ESTRADA SEM ALEGRIA “Ele foi na frente, seguindo o mesmo caminho usado pelos enfermeiros. E eu fui atrás dele. Nem bem dei cinco passos quando o estrondo de uma explosão povoou inteiramente meus ouvidos. Um zumbido agudo e interminável brotava na minha cabeça. Uma nuvem negra de fumaça fez desaparecer tudo à roda e eu tive a impressão, nítida, de que a bomba explodira exatamente em cima do soldado Henry. Quando a fumaça se dissipou um pouco e eu ainda não via Henry, imaginei que ele tivesse sido projetado para longe e a essa hora já devia até estar morto. Ele apareceu na minha frente, de repente, com o rosto transformado numa máscara de horror. - Henry, você está bem? Ele não respondeu e continuou caminhando em minha direção. Senti-me sentado e não descubro por quê. Entrevi Shimamoto saindo da fumaça e ainda lhe perguntei. - Shima, você está ok? Ele trazia uma cigarro aceso e tentou colocá-lo na minha boca. Não aceitei. Senti na boca um gosto ruim, como se tivesse engolido um punhado de terra, pólvora e sangue - hoje, eu sei, era o gosto da guerra. Então senti um repuxão violento da perna esquerda e só aí tive consciência de que a coisa era comigo. A perna esquerda da calça tinha desaparecido e eu estava, naquele lado, só de cueca. [...] A bota inteira tinha saltado, levando pé, canela, barriga da perna, osso, músculo, perna – nem sei se era minha uma bota no chão, de pé, amarradinha, minando sangue.” (O Gosto da Guerra, pg 20)
REPORTAGEM
RADAR Agosto | 2014
Votem em mim!
Agora você vai saber o que um vereador faz, mesmo que não o veja trabalhando 22 CASSIANO TIEZERIN JONATHAS KOCHE JORDANA SITENESKI LUIS ALBERTO NETO
Acadêmicos do curso de Jornalismo Produzido na disciplina de REPORTAGEM
E
les são eleitos a cada quatro anos, possuem um espaço para fazer reuniões e têm a missão de aproximar a população do executivo. Os vereadores são “a voz do povo” de uma cidade. Mas você já parou para pensar realmente no que eles fazem? O que podem e o que não podem fazer? “Começar e levar até o fim um projeto”, diz a aposentada Lourdes dos Santos (70). Já a funcionária Simone Dallagnol (27) brinca com a pergunta: “Não sei, não vejo eles trabalhando”. Jaci Costa, de 34 anos, chega bem perto de acertar o que os vereadores fazem na prestação de seus serviços à administração pública: “Fiscalizar, acompanhar a distribuição de recursos, sugerir e elaborar projetos”. Para início de conversa, é preciso esclarecer que um vereador não tem poderes para elaborar uma lei, nem mesmo um projeto de lei. Esta é uma tarefa do Poder Executivo, que no âmbito municipal é exercido pelo prefeito e vice-prefeito. O que ele pode fazer são indicações de projetos de lei. Estas indicações funcionam como ‘sugestões’ dos vereadores sobre coisas que estão faltando ou que precisam ser melhoradas na cidade. Feitas formalmente, elas serão votadas em sessões da câmara de vereadores e então encaminhadas para o prefeito da cidade analisar. Se ele achar que o assunto merece virar um projeto, ele então o elabora, e o remete para a Câmara para que possa ser votado. Caso aprovado, poderá então ser sancionado e publicado, agora na forma de lei, não de projeto. “O Vereador é o representante do povo na Câmara de Vereadores e
tem como função principal legislar sobre as matérias de importância para a comunidade local, apresentando propostas que melhorem as condições de vida da sociedade, nas áreas da saúde, educação, segurança pública, saneamento e outras tantas que repercutem diretamente na vida das pessoas e na atividade produtiva da cidade”, explica o advogado e especialista em Direito Administrativo, Júlio César de Carvalho Pacheco. Pacheco, que já foi assessor da Câmara dos Deputados em Brasília, também pontua que o vereador deve fiscalizar o Poder Executivo, denunciando abusos de poder e ilegalidades, bem como fiscalizando a gestão dos recursos públicos. Fora das competências dos vereadores está a realização de obras e serviços, uma vez que esta é uma função do executivo. Mas o que o vereador pode fazer, por meio das indicações, é sugerir os serviços públicos, as obras públicas e o que mais se verificar como necessidade da população. Os vereadores eleitos são, na maioria das vezes, pessoas ‘comuns’ da comunidade e cidade onde vivem. Têm mais contato direto com o povo, pois não possuem tantos compromissos como o prefeito da cidade. Por isto, estão mais por dentro das necessidades das pessoas, onde elas estiverem. Seja no centro da cidade, no ramo da indústria ou nos mais pequenos bairros e ruas. O ‘representante do povo’ deve fazer jus ao nome por estas caraterísticas. Outra peculiaridade é que Câmara de Vereadores sempre realiza suas sessões e outros atos solenes de portas abertas. Ou pelo menos deveria. Isso significa que é um lugar para que todos possam entrar em contato direto com administração pública. ÔÔ SENTADOS NA BANCADA
Você já viu o que é uma indicação e para que ela serve. Agora que você
Não sei [o que eles fazem], não vejo eles trabalhando Simone Dallagnol, sobre o que fazem os vereadores
já entendeu como funciona esta parte da administração pública, vamos aos resultados de nossa pesquisa de campo. Nós buscamos todas as indicações de projetos de lei que foram feitas no ano de 2013, primeiro ano de mandato da atual gestão da cidade de Tapejara, e analisamos sobre o que estas sugestões versam. De 60 Indicações de projetos de leis feitas por vereadores de Tapejara em 2013, a maioria é relativa a obras públicas.
Número de indicações em 2013 Paulo Cesar Lângaro (PDT): 19 Zalmair Roier (PP): 8 Celso Piffer (PPS): 8 Ramir José Sebben (PMDB): 7 Daniel de Matos (PP): 5 Márcio Canali (PMDB): 5 Rodinei Bruel (PDT): 4 Marcelo Panho (PMDB): 1 Bancada do PDT: 1 Bancada do PDT e PP: 1 Celso Piffer e Márcio Canalli: 1 Paulo Lângaro e Rodinei Bruel: 1 Elizabete Favaretto (PMDB): 0 Umberto Bolsonello (PMDB) 0
REPORTAGEM
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Câmara de Vereadores (na foto, a de Tapejara-RS) é um espaço onde o cidadão pode entrar em contato com a administração pública (Foto: divulgação)
Segundo a lista oficial de indicações que recebemos do assessor de imprensa da Câmara de Vereadores, Cristian Pozzer, ao todo foram realizadas 60 indicações, sendo oito de autoria de vereadores diferentes. Houve também quem quis dividir a autoria das indicações, sendo duas indicações feitas em parceria, além de uma de autoria da bancada do partido (PDT), e uma com autoria de duas bancadas de partidos diferentes em parceria (PDT/PP). Apenas uma destas 60 indicações não foi aprovada nas sessões da Câmara. Paulo Lângaro foi o vereador que mais propôs indicações. Fez 19 sozinho e uma em parceria com o vereador Rodinei Bruel. Durante a produção desta reportagem, tentamos fazer contato com o assíduo indicador de projetos de lei, mas não obtivemos sucesso. Também contatamos o vereador que menos sugeriu propostas, Marcelo Panho, igualmente sem sucesso. Ele fez apenas uma indicação no ano de 2013. Houve também, entre os 11 vereadores tapejarenses, dois que, aparentemente, não fizeram indicação nenhuma. Doze meses, 365 dias. Umberto Bolsonello e Elizabete Favaretto ganharam a taça. Ambos os vereadores foram procurados para se manifestar sobre o assunto, entretanto não manifestaram interesse em participar. A maioria das indicações propostas pelos vereadores de Tapejara versava sobre obras públicas, que incluem a construção de novas obras e a melhoria das já existentes. Asfaltamento e pavimentação de ruas, reformas no pórtico de entrada da cidade e iluminação pública foram
os tópicos mais indicados. Mas principalmente asfaltamento. O curioso é que a preferência apontada pelas pessoas entrevistadas sobre os temas que mais mereceriam atenção na cidade foi educação, que recebeu apenas uma indicação. Em nossa enquete 44,4% das pessoas responderam que a educação deve ter prioridade no desenvolvimento da cidade, seguida pela saúde, com 22,2% dos votos. O que se pode concluir com os resultados obtidos é que o tema obras públicas teve preferência no ano de 2013 entre os vereadores de Tapejara. É compreensível, uma vez que estas obras sempre alcançam uma magnitude e visibilidade maior, - seguindo a lógica do “quem não é visto não é lembrado” - do que as indicações que se destinam ao interior dos bairros e instituições, onde ficam mais ‘escondidas’. Mas nem por isso devem cair no esquecimento, pois é dever do vereador saber as necessidades da população em todas as áreas, e trabalhar para que elas sejam sanadas. E você, já sabe em quem vai votar na próxima eleição?
A maioria das indicações propostas pelos vereadores de Tapejara versava sobre obras públicas [...] mas o curioso é que a preferência apontada pelas pessoas entrevistadas sobre os temas que mais mereceriam atenção na cidade foi educação...
REPORTAGEM INTERCÂMBIO
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Afroreggae
ou... um jeito de mudar o mundo? 24
ANA MÁRQUEZ E ANDREA GÓMEZ Intercambistas do curso de Jornalismo
O principal crime Há quase 20 anos, José Pereira de Oliveira Junior (1969, Rio de Janeiro) levantou uma das principais instituições culturais do Brasil, o AfroReggae, uma organização que começou atuando no Rio de Janeiro, mas já desenvolve projetos em todo o país. José Júnior tem tatuado em seu antebraço direito a palavra Thor, o deus do trovão, e no esquerdo a estrela de David. Sem dúvida, seu corpo é uma espécie de retábulo das divindades místicas do meio mundo. Senta-se à mesa com Luiz Inácio Lula da Silva ou Emilio Botín. Depois, pode penetrar no interior de uma favela, estando cara-a-cara com os senhores das drogas,
que acontece no Brasil é a falta de educação. Isso mata mais que um tiro. As favelas são associadas com a pobreza extrema e são vistas como o resultado da má distribuição de riqueza do país. Dentro de uma favela não há apenas tráfico, nem pobreza. Há muitos ‘favelados’ bons, trabalhadores, muita gente que tem a condição de sair, mas não sai porque a favela é a sua casa. A violência das favelas é externa, não interna. Há muitos universitários que saem todas as manhãs da favela para estudar nas universidades, buscando melhorar sua vida e sua favela. Querem que sua família e seus amigos tenham uma melhor vida. Precisam buscar um consenso de não violência e não armamento. E se cada um fizer a sua parte, tudo poderia funcionar melhor. Se começa a mudar em cada casa, em cada bairro, em cada cidade.
pessoas perigosas que não valorizam a própria vida. Zé Junior, como é conhecido, está entre os poucos que falam com Deus e com o diabo. E ambos tendem a respeitá-lo. José Júnior entrou em contato com o lumpemproletariado carioca aos 12 anos, quando estava no centro da favela Providência para comprar cocaína a seu irmão. Nunca provou a cerveja nem o prazer do vinho. Muito menos a senação que provoca a maconha ou qualquer outra droga. “Reggae era uma coisa de maconheiro”, diz, ao contar quando começou promovendo festas de funk. Logo conheceu uma pessoa que curtia re-
INTERCÂMBIO
REPORTAGEM
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ggae. Ele não gostava dessa música, mas terminou trocando suas festas para reggae já que proibiram o funk. Teve sucesso e decidiu fazer outra, que foi a maior festa do reggae do Rio. Não sabia como tanta gente podia ir à festa vindos de todos os lugares do Rio de Janeiro. Neste momento, deu-se conta de que faltava um meio de comunicação que falasse da cultura negra. Por esta razão, criou o jornal “Afroreggae Notícias”, sem nenhum dinheiro. Na quarta edição do mesmo, ele chegou às favelas e lá teve muita repercussão, mas “as pessoas que moravam lá queriam mais que informação, queriam formação”, lembra. Nascimento de AfroReggae Fundada em 1993, com o objetivo de promover a inclusão e a justiça social, utilizando a arte, a cultura afro-brasileira e a educação como ferramentas que sirvam como alicerces para a sustentabilidade e o exercício da cidadania, a ONG AfroReggae foi apadrinhada pelo músico Caetano Veloso e pela atriz Regina Casé. Seu trabalho passa pela cultura, pelo desenvolvimento social e humano, mas tem um objetivo fundamental que é formar empreendedores. Há jovens formados pelo AfroReggae, com idades entre 16 e 25 anos, mais idolatrados nas favelas que os traficantes. Sua finalidade principal é trabalhar com as crianças. O grupo AfroReggae têm projetos nas áreas mais problemáticas do país: Vigário Geral, Morro do Cantagalo, Parada de Lucas, Complexo do Alemão, Vila Cruzeiro e Nova Era. Por meio de música, teatro e circo, o grupo vem modificando a realidade das favelas do Rio de Janeiro. A ONG cria oportunidades para que os jovens descubram seus potenciais, vençam as vulnerabilidades socioeconômicas e construam uma nova perspectiva de vida, longe das drogas. .
OS PROJETOS
A principal finalidade do projeto Affroreggae é mudar as crianças.
O AfroReggae utiliza atividades artísticas para tentar diminuir os abismos que separam negros e brancos, ricos e pobres, a fim de criar pontes de união entre os diferentes segmentos da sociedade. Além da atuação em diferentes regiões de risco social, o Afroreggae conta com nove grupos artísticos, 40 projetos em execução, sete centros multimédia, todos no Rio de Janeiro, além de três emissoras de TV, onde debatem ideias e problemas que afetam a vida das favelas. Junior ainda conta com um programa chamado “Conexões Urbanas”, no canal Multishow. AR21 é o projeto mais conhecido do grupo cultural. Esta banda, que mistura rap, funk, reggae, rock e batucada, é a principal vitrine musical da entidade, com dois discos gravados e turnês por diversos países de todo o mundo. Tem reconhecimento internacionalmente, como é percebido quando os ex-favelados foram convidados para abrir o maior show de rock’n’roll da história do Brasil, a apresentação dos Rolling Stones. “As letras são nossas. Nossa inspiração é muito variável, depende do momento que nós estamos vivendo. Nosso primeiro disco tem uma linguagem mais de protesto. O segundo fala de uma forma mais agregadora, fala do amor, da esperança”, diz Dino, o vocalista da banda. Poucos sabem que Zé Junior escreve algumas das letras do grupo.
CULTURA
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nies e Warriors – Os Selvagens da Noite e até séries como Chaves. Quem assistiu bastante televisão nos anos 80 e 90 terá boas surpresas durante a leitura. Vitor e Lu (acima, à direita): criadores de “Valente” criam uma obra -prima com peersonagens icônicos
Laços
BEM AMARRADOS Impecável em todos os aspectos, Laços é uma releitura inesquecível da turminha mais conhecida dos gibis brasileiros MARCUS VINÍCIUS FREITAS Jornalista, colaborador NEXJOR
A viagem no tempo é uma das utopias que mais fascina o homem. Mesmo sendo algo impossível, basta um objeto, cheiro, som ou qualquer coisa que aguce os sentidos para nos transportar às memórias mais queridas. Quando o assunto é quadrinhos, vale dizer que a turma criada por Mauricio de Sousa é parte significativa das lembranças de muita gente. A obra Turma da Mônica: Laços, releitura criada pelos irmãos Vitor e Lu Cafaggi, é uma nostálgica viagem no tempo até as recordações que levamos do Bairro do Limoeiro. A obra faz parte do selo Graphic MSP que iniciou seus trabalhos com a coletânea “MSP 50, um projeto especial editado por Sidney Gusmão e dividido em quatro partes, cada uma reunindo 50 artistas – autores como Ziraldo, Fábio Yabu, Fábio Moon, Gabriel Ba e Larte participaram da primeira edição – que desenham suas próprias versões dos personagens. A partir disso, surgiu a ideia de recriar não penas tirinhas, mas histórias completas da turma. Astronauta Magnetar (2012), do autor Danilo Beiruth, foi o primeiro lançamento e
trouxe uma visão mais intimista do personagem, além de um traço mais puxado para os gibis de super-heróis. Foi durante a produção do primeiro MSP 50 que Mauricio de Souza conheceu o trabalho de Vitor e sua irmã, e os convidou para recriar uma história inteira. O quadrinista explica que a ligação com Mônica e cia. vem de longe. “As revistas da turma foram meu primeiro contato com a linguagem dos quadrinhos. Quando era bem pequeno, os gibis de super-heróis eram um pouco cansativos pra mim, tinham muito texto e valiam mesmo só pelas imagens. A Turma da Mônica não, eu queria ler, eu queria entender o que aqueles personagens estavam fazendo”, explica, lembrando que desde sempre gostou de desenhar. ÔÔ RUMO À AVENTURA A trama de Laços começa com o desaparecimento de Floquinho. Com um “plano infalível” em mãos, a turma inteira se reúne e sai em busca do cão de estimação do Cebolinha. A maioria dos personagens é mencionada, nem que seja de relance, mas o foco é no quarteto Mônica, Magali, Cascão e Cebolinha. As referências pipocam pelas páginas e vão de filmes como Conta Comigo, Goo-
ÔÔ INFÂNCIA Mas não é somente de referências e influências externas que a base de Laços foi criada. Para Lu e Vitor, a ideia era “apresentar nossa visão de cada um desses personagens e, ao mesmo tempo, ser fiel à visão que cada pessoa já tinha deles. Queríamos uma história que conversasse com a infância das pessoas”. A sinceridade, o respeito e, principalmente, o carinho dos autores pela obra original estão explícitos em cada quadrinho, desde a recriação das roupas até a expressão facial de cada personagem. “Com isso, as pessoas acabam se identificando com a gente, se enxergando em nosso trabalho. A Turma da Mônica faz, ou fez parte da infância de muita gente. Lu e eu procuramos resgatar esse sentimento”, completa Vitor. O nível de atenção e cuidado com os detalhes é percebido, por exemplo, na passagem de tempo. À medida que anoitece as cores e as sombras acompanham a hora, ajudando bastante o leitor a entrar no clima da história. E se tratando de carinho e detalhes, a homenagem a Mauricio de Sousa é uma das partes mais emocionantes de toda a história. “Queríamos que ele participasse diretamente da história. Mauricio é praticamente um personagem, tão conhecido quanto seus personagens”, explica Vitor, ressaltando que foi um orgulho enorme ter uma história de infância do próprio Maurício na sua versão da turma. Essa parte é diferenciada com traços mais suaves e um visual envelhecido, um tom meio sépia para dar sensação de tempos atrás, seguindo o mesmo estilo no prólogo e epílogo. Tanta atenção só poderia resultar em algo atemporal, provavelmente o quadrinho mais relevante e bonito lançado esse ano no país. A obra criada pelos irmãos Cafaggi será lida, relida e lembrada por muito tempo, especialmente para aqueles que cresceram com a Turma da Mônica. Para falar a verdade, é muito bom voltar no tempo, basta folhear as páginas para revisitar laços, cujos nós nunca irão desatar.
CULTURA
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“Sair do social e entrar na metrópole significa, para mim, perceber as culturas eXtremas (X-terminadas) de formas móveis, irrequietas, opositoras” Massimo Canevacci
CULTURAS EXTREMAS MUTAÇÕES JUVENIS NOS CORPOS DAS METRÓPOLES GUILHERME CAVALLI Ex-estagiário NEXJOR
Ao trazer o tema das revoluções comunicacionais ocorridas e impulsionadas pela tecnologia pós-industrial, Massimo Canevacci recolhe aspectos culturais para mostrar como esses estão metamorfoseando-se. Culturas extremas é uma obra que nasce de uma “imensa insatisfação”, já que as pesquisas jornalísticas que tentaria responder, não conseguiam apreender realmente as “culturas juvenis”. O texto tem como linha norteadora desconstruir a ideia da cultura juvenil como algo perene ou imutável. É por essa corrente de pensamento que o autor decorre sobre os significados líquidos de cultura, como quem diz não aos panoramas contextuais e metodológicos que “organizam” determinada sociedade. Massimo Canevacci brinda a relevância de seus estudos ao apresentar as variadas e fluidas formas de comunicação que chamou de “Metrópole Comunicacional”. Sobre essa, o autor chama a atenção para a relevância dos novos fluidos que surgem e que por vezes se tornam mais importantes do que
compreendemos e fixamos como o conceito tradicional de sociedade, conceito descrito pelo autor como inútil e deprimido . Talvez seja esse o motivo, a desconstrução para efetivação da pluralidade, que faz da obra Cultura extremas uma reunião de fragmentos em análise de múltiplos meios de informação. A metrópole polifônica proposta por Canevacci traz para o diálogo elementos que são tratados como subalternos para todos que propõem-se ao método científico centralizado. A heterogeneidade dos elementos trazidos pelo autor hoje são tônicos relevantes para a compreensão dos “módulos diferentes e escorregadios de cultura”. O autor propõe objetos de compreensão: tatuagens, raves, vídeoarte, ciberspaço, e passa a indicar uma multiplicidade de métodos e perspectivas de análise para “descentralizar o método, multiplicá-lo em seu próprio agir”. Massimo constrói (ao desconstruir) a partir da assimetria, como quem diz sim para a espontaneidade metodológica. Essa é a proposta de Canevacci para a libertação de todos os tipos de cultura. Logo, nascem da morte da contra cultura, as culturas intermináveis. Nessa
perspectiva migra-se do conceito “contra” que ganhava até então tonalidades marxistas em sua denúncia da estrutura socioeconômica, para sobretudo, o “contra” do “cruzamento de novas formas de pensar”. “Tais culturas [intermináveis] não são mais contra: nem contra uma cultura dominante, que justamente não existe mais e que, de qualquer modo, dilui-se numa série policêntrica de poderes em competição entre si”. É o fim das subculturas, por essas transmutarem-se em culturaX.
Tais culturas [intermináveis] não são mais contra: nem contra uma cultura dominante, que justamente não existe mais
EGRESSOS
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Em 2014, o curso de Jornalismo da UPF atinge a maioridade. São 18 anos de formação de profissionais que hoje contam histórias de pessoas, ajudam a produzir sentidos sobre a realidade que vivemos e interagem com fontes e conteúdos em todos os cantos do Brasil, além de alguns que desbravam o universo do Jornalismo no exterior. Para os estudantes que hoje fazem a história do curso de Jornalismo, é fundamental conhecer essas histórias, saber um pouco mais sobre essas pessoas, sobre suas escolhas pelo jornalismo e as opções que foram se apresentando a eles durante a carreira. Esse espaço é destinado a isso, a retratar histórias dos egressos do curso de Jornalismo da UPF. Se você quiser contar a tua história ou mesmo se conhece alguém que seja fundamental constar nesse espaço, entre em contato pelo email nexjor@upf.br.
Caminhos do jornalismo Ana Cristina Spannenberg* z Há 18 anos, uma série de coincidências me trouxe ao jornalismo. Assim que conclui o ensino médio, em 1994, não havia na UPF curso que me chamasse atenção, por isso mudei para Curitiba e fui estudar Ciências Sociais na UFPR. A experiência foi bastante proveitosa, principalmente por ver que o mundo era muito maior que Passo Fundo. Após um ano, percebi que não queria ser socióloga, pois achava que meu trabalho ficaria limitado à docência e à pesquisa. Nessa época, a UPF abriu o Curso de Jornalismo e resolvi pedir transferência. Já havia participado de grupos de teatro, me considerava comunicativa e adorava ler, mas não sentia nenhuma inclinação especial pelo jornalismo. Entretanto, a profissão me seduziu logo no primeiro semestre e, na metade de 1996, já estava estagiando. Com a produção da monografia e do PEX redescobri o prazer de pesquisar, que já tinha percebido em Ciências Sociais, e resolvi tentar a vida acadêmica. Um ano após a formatura, em 2001, entrei no mestrado em Comunicação e Cultura Contemporâneas, na Universidade Federal da Bahia, e acabei cursando, também na UFBA, o doutorado em Sociologia, concluído em 2009. Após dez anos morando em Salvador, ingressei na Universidade Federal de Uberlândia/MG como pesquisadora e professora da graduação e do mestrado. Embora tenha tentado fugir, a vida se encarregou de me trazer de volta ao caminho da docência e da pesquisa, porém não sem antes apontar um rumo bem específico e definitivo para ele: o jornalismo.
* Jornalista formada pela Universidade de Passo Fundo (2000), mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas (2004) e doutora em Sociologia (2009), pela Universidade Federal da Bahia. Professora Adjunta do Curso de Comunicação Social : Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia/MG. E-mail: anaspann@gmail.com
Caminhos do jornalismo Cristiano Gobbi z Cheguei ao jornalismo meio que por acidente. Cursava Direito na UPF quando um amigo me falou de uma vaga como revisor no Jornal Diário da Manhã. Fui aceito e um mês depois trabalhava na reportagem. O Direito acabou em segundo plano e meu projeto de tornar-me jurista sucumbiu de vez ao surgimento da faculdade de Jornalismo da UPF. Nessa época eu já atuava como repórter da RBS TV Passo Fundo, em 1996, quando ingressei na primeira turma da Faculdade de Artes e Comunicacão. Foi uma especial experiência fazer parte deste surgimento e aprender com mestres como Tibursky, Tau Golin, Benami Bacaltchuck, Ginez Leopoldo, só para citar alguns. Tão logo terminei o curso fui transferido para a RBS TV Porto Alegre onde trabalhei por um ano, no plantão da madrugada. Até que resolvi deixar o telejornalismo para experimentar outras linguagens. Fui aprovado no projeto de trainee da Editora Globo em São Paulo, onde atuei como editor da versão online da revista Época. Era um tempo em que a internet surgiu como veículo jornalístico e não se sabia muito bem como domar aquele potro selvagem com toda sua instantaneidade. O projeto São Paulo foi interrompido pelo convite da RBS TV para voltar a trabalhar na reportagem, desta vez em Florianópolis, onde atuei por quase três anos. Em um período de férias visitei amigos em Salvador e resolvi passar um tempo maior na cidade. E por aqui já estou há onze anos. Fui repórter de rede do SBT e hoje sou repórter do Jornal da Band. Neste meio tempo também trabalhei na coordenação do jornalismo de duas campanhas políticas. Se a vida me permitir, ainda pretendo alçar novos voos nessa profissão em processo de mutação.
* Egresso da primeira turma do Curso de Jornalismo da UPF, é atualmente repórter do Jornal da Band, em Salvador. Suas experiências profissionais incluem passagens por veículos de Rio Grande do Sul, São Paulo e Florianópolis
O que é que o Brasil tem?
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Ana não imaginava que a Jornada de Literatura era tão grande
Há mais de 8 meses, duas estudantes espanholas vieram para o Brasil. Conhecer a cultura daqui mudou a vida delas... PRISCILA KAIPER estagiária NEXJOR
C
omo será a cultura brasileira? Como será o povo? Do que eles gostam e quais os lugares mais bonitos para conhecer? Essas eram as curiosidades de Ana Márquez e Andrea Gómez Puente. No segundo semestre de 2013, elas saíram de Madrid, capital da Espanha, e desembarcaram no Brasil com um grupo de 28 estudantes de diversos países. O objetivo principal do intercâmbio era aprender um novo idioma, mas elas acabaram descobrindo muito mais. Ana e Andrea são estudantes de Jornalismo. Ana ama fotografia. Já Andrea tem uma grande paixão por jornalismo esportivo. Por falar em esporte, as estudantes descobriram um Brasil bem diferente do ‘’país do futebol, samba e caipirinha’’ que era apresentado a elas na Espanha. ‘’Nos mostravam apenas o que gera turismo no Brasil. Quando chegamos aqui, quebramos alguns estereótipos’’, afirma Ana. As intercambistas já visitaram oito estados brasileiros. Além do Rio Grande do Sul, elas já conheceram o Ceará, Amazonas, São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro. As alunas estudam na Universidad Carlos III de Madrid, uma das universidades conveniadas ao Programa de Intercâmbio Acadêmico da UPF, e logo nas primeiras aulas perceberam a diferença do ensino nas duas Instituições. Na Espanha a teoria é mais densa, aqui
no Brasil elas aprenderam bastante a prática do conteúdo. ‘’A relação com os professores na Espanha é mais formal, não temos muito acesso. É preciso agendar um horário para entrar em contato com eles’’, ressalta Andrea. As estudantes afirmam que aqui no Brasil os professores são mais próximos dos estudantes, o que facilita o aprendizado. A proximidade não se destacou apenas com os professores, mas com os brasileiros em geral. ‘’Um dos fatos pelos quais eu moraria no Brasil são as pessoas, porque são muito abertas e amáveis’’, afirma Andrea. As meninas foram muito bem recebidas pelos estudantes daqui, e já fizeram muitas amizades. Ana ressalta que achou os brasileiros muito parecidos com os espanhóis, ‘’pessoas hospitaleiras como as da Espanha’’.
INTERCÂMBIO
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Um dos fatos pelos quais eu moraria no Brasil são as pessoas, porque são muito abertas e amáveis. Andrea Gómez Puente
Acostumadas com a literatura espanhola - e nomes como Gustavo Adolfo Bécquer, Federico García Lorca, Carmen Laforet - as intercambistas também conheceram um pouco da literatura brasileira. Elas participaram da cobertura da 15ª Jornada Nacional de Literatura integrando a equipe do Núcleo Experimental de Jornalismo da UPF. ‘’Não tínhamos ideia de que o evento era tão grande’’, ressalta Ana. Participar da Jornada foi fundamental para que entendessem a dimensão da movimentação cultural em Passo Fundo. Do Brasil as estudantes vão levar na bagagem muito aprendizado e a riqueza de enxergar com os próprios olhos a cultura de um povo. “Só por sair da comodidade do meu país, ir até um lugar que até então eu desconhecia e ter a oportunidade de mudar qualquer tipo de estereótipo que eu possuía, já valeu cada segundo”, afirma Ana. Ver a diferença entre um estado e outro, e compreender que o Brasil vai muito além do país da Copa são coisas que Andrea vai levar pra vida toda. A maior vitória elas já tiveram: o aprendizado rompendo barreiras. Ênfase na prática e relação menos formal com professores chamaram a atenção de Andrea
PESQUISA
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Comunicação feita pela comunidade e para a comunidade Foto: Luana Hemerich
Com o objetivo de ampliar os conhecimentos em Comunicação Comunitária, o professor e pesquisador Otávio José Klein coordenou o projeto de pesquisa Mídias Comunitárias em Passo Fundo LUANA HEMERICH estagiária NEXJOR
Quem faz e como é feita a comunicação impressa em comunidades na cidade de Passo Fundo? Essa foi a pergunta norteadora do projeto de pesquisa Mídias Comunitárias em Passo Fundo, realizado entre 2011 e 2012 pelo pesquisador do curso de Jornalismo da UPF, Otávio José Klein. O estudo buscou identificar e entender o universo das mídias comunitárias da cidade de Passo Fundo ao fazer um inventário das mesmas, contribuindo assim com o registro da história da comunicação comunitária do município. O projeto também buscou reunir informações sobre as organizações mantenedoras dos veículos - comunitárias, religiosas, sindicais e não-governamentais -, seu funcionamento e o papel que essas mídias desempenham nessas instituições. A pesquisa esteve vinculada à disciplina de Comunicação Comunitária, uma das disciplinas optativas do curso, e contou com a participação de um grupo de alunos do Jornalismo. A comunicação comunitária tem como característica identificar e transmitir os interesses da comunidade em que está inserida. Na prática, é o uso dos meios de comunicação pelas comunidades. De acordo com Klein, coordenador do projeto, os meios, ou instrumentos de comunicação comunitária, são movidos pelo bom funcionamento da comunicação. “Não tem como objetivo o seu crescimento [dos meios]. O tamanho da mídia de uma comunidade deve ser o tamanho da comunidade”, explica o professor Otávio. Segundo ele, o principal motivo para não haver muitos estudos voltados para esse meio é porque eles não têm um impacto econômico, ou sucesso midiático. As instituições pesquisadas possuem ao todo 598.316 membros filiados, sem
A pesquisa constatou que o jornal impresso é o meio mais utilizado para a comunicação nas instituições, especialmente as tradicionais
O tamanho da mídia de uma comunidade deve ser o tamanho da comunidade
contar os seus dependentes. Nesse caso é preciso considerar que um membro pode filiar-se a mais de uma organização. “Mesmo assim, esse dado é surpreendente em relação ao número de habitantes da cidade, o que leva a crer que existe uma influência muito grande destas instituições no seu entorno, especialmente por algumas instituições religiosas que mantêm o seu jornal para a região atingindo vários municípios”, comentou o professor. Foi constatado também que o jornal impresso é o meio mais utilizado para a comunicação das instituições mais tradicionais, especialmente os clubes, as igrejas e os sindicatos. De acordo com o pesquisador e professor, a principal razão do uso da mídia impressa tem relação com a sua menor complexidade, tanto na produção como na distribuição da informação. O jornal Curtas e Notas, mantido pelo Sindicato dos Bancários, foi um dos veículos de comunicação comunitária estudados. O jornal teve início há vinte anos, levando informação, de forma resumida, aos bancários e bancárias em seus locais de trabalho. “O objetivo do jornal sempre foi fazer um contraponto ao que é divulgado pela mídia hegemônica, procurando levar à categoria a visão dos trabalhadores sobre o que acontece ao seu redor e no mundo”, explicou Nelson Antônio Fazenda, um dos responsáveis pelo jornal.
Resultados
A pesquisa foi realizada com 23 instituições mantenedoras de jornais impressos e mostrou que 30% deles possuem uma tiragem de até um mil exemplares, podendo ser considerados pequenos, pois 39% possuem quatro páginas, 26% possuem oito páginas e 18% deles possuem até 12 páginas. Esses jornais são produzidos em grande parte por voluntários. A presença de profissionais da comunicação na produção ocorre em 43% dos veículos. O questionário ainda revelou como é feita a distribuição dos impressos, quais as dificuldades encontradas com a produção e a circulação e como é feita a sustentação dos veículos. A partir do estudo foi po ssível concluir que as limitações mais presentes na comunicação comunitária de Passo Fundo são a falta de competência técnica e, ligado a isso, a carência de recursos financeiros. Ainda, Klein destaca um problema recorrente nas instituições estudadas, que tem a ver com a questão metodológica da comunicação comunitária, onde não se percebe, com raras exceções, a participação da comunidade na produção e na gestão dos seus meios de comunicação.
A palavra escrita através do som
EXTENSÃO
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O Projeto de Extensão Audioteca transforma em áudio qualquer documento escrito, com o objetivo de incluir no mundo da leitura deficientes visuais 31 Prof. Valmíria, (à esq) durante as gravações no Laboratório de Rádio da FAC: próximo passo é disponibilizar o download gratuito dos áudios
Como funciona?
Au.di:o.te.ca. Definição: coleção organizada de documentos sonoros, como discos e fitas magnéticas, em local dotado de equipamento para ouvi-los. Esse é o significado encontrado no dicionário para a palavra audioteca. Mas para Iaçanã Andrei Ávila Baptista é muito mais do que isso. O estudante do III nível do curso de Jornalismo convive desde cedo com um problema de visão e, para superar essa deficiência, conta com o auxílio do projeto de extensão Audioteca para receber em áudio os livros que utiliza em aula. O projeto foi criado com o objetivo de adaptar, produzir e disponibilizar, em áudio, textos de diferentes naturezas, facilitando o acesso de pessoas cegas ou com baixa visão aos materiais que antes só estavam disponíveis de forma visual, promovendo, assim, a acessibilidade e a inclusão dos sujeitos nos distintos espaços sociais e respeitando as diferenças e
suas demandas. A Audioteca nasceu em 2004, em uma parceria entre a Associação Passofundense de Cegos (APACE), o Serviço de Apoio ao Estudante (SAES) e o curso de Jornalismo da UPF. Com essa prática, o projeto também contribui para que os alunos de Jornalismo se apropriem dos elementos da linguagem sonora, repensem o compromisso social do profissional da comunicação e descubram novos segmentos de trabalho. Coordenada pela professora Valmíria Balbinot, a Audioteca é aberta à comunidade em geral. De acordo com ela, o próximo passo é catalogar e disponibilizar os áudios para download gratuito e, assim, abastecer os acervos de outras associações e núcleos. "O projeto contribui para o crescimento individual, seja para melhorar a linguagem sonora ou para iniciar o caminho em uma escolha profissional”, afirma.
Hoje no Brasil existem cerca de 582 mil cegos, 500 só na região de Passo Fundo. A APACE conta com 180 associados, entre pessoas com baixa e nenhuma visão, e 11 delas estudam na UPF e podem ser beneficiados pela Audioteca.
Para que um livro seja tornado um documento sonoro, o pedido chega até a Faculdade de Artes e Comunicação (FAC) através do SAES ou da APACE, é gravado e editado por um aluno bolsista do projeto e reencaminhado para quem solicita. O tempo de gravação pode variar de acordo com o livro. Um texto simples, por exemplo, pode levar até uma semana para ser concluído. No momento em que são gravados, os livros são lidos de uma forma que expresse emoção, mas nunca interpretando. Quem grava também procura não utilizar efeitos sonoros, pois se busca que o material em áudio seja uma versão aproximada do livro impresso. “Com o projeto buscamos disponibilizar o acesso à informação correta, mas com o mínimo de interferência de interpretação, para permitir uma experiência mais próxima possível da leitura comum”, afirma a professora Valmíria.
Quem participa?
Integram o projeto um aluno do curso de Jornalismo, que grava e edita os áudios, voluntariamente ou não, e os deficientes visuais que contam com as gravações para ouvir o que antes só era acessível de forma visual.
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Contracapa
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