XANA ABREU
PELOS OLHOS DELA
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XANA ABREU PELOS OLHOS DELA
OUT 2018
TUDO O QUE SOMOS CAPAZES DE SONHAR Ainda ao longe, explodem as cores. São janelas para um incêndio, como é belo o fogo, como atrai e ilumina. Ao aproximarmo-nos, as personagens de cada quadro tornam-se concretas, reconhecemos os elementos imediatos, são maiores do que nós ou são do nosso tamanho. Ainda mais perto ainda, continuando, distinguimos novas camadas, detalhes dentro de detalhes. Então, porque nos inclinámos ou porque esse mundo nos puxa, podemos cair no seu interior. Somos Alices, caímos infinitamente num país das maravilhas. Nesse livro, em conversa com o Chapeleiro, Alice afirma que os sonhos não são realidade. Na lógica incontestável da sua loucura, o Chapeleiro responde-lhe com uma pergunta: e quem decidiu o que é o quê? Ou seja, quem decidiu o que é sonho e o que é realidade? Os quadros de Xana Abreu colocam-nos essa mesma questão. Povoados de animais humanizados ou de humanos animalescos, sugerem-nos histórias. Essas narrativas não são óbvias, requerem uma lógica que transcenda o superficial. A mesma fantasia que dá forma a essas figuras é necessária para interpretar as situações em que as encontramos. Esse desprendimento das leis físicas e naturais é a liberdade do sonho. Absolutamente livres e abundantes de sonhos são as crianças. Não faltam marcas dessa presença. O homem e a mulher feitos apenas com riscos e um círculo no lugar das cabeças, ou a pequena casa geométrica, de porta e janelas abertas, são reminiscências dos primeiros desenhos que todos fizemos, como se tivesse passado uma menina por ali a fazê-los. As personagens que compõem os quadros parecem saídas de contos infantis. Com boa vontade, poderiam traçar-se ligações diretas a contos bem conhecidos. E o que dizer dos olhos das personagens centrais de cada quadro? São olhos enormes de criança, seguem-nos. Quando pensávamos que éramos nós que vínhamos vê-los, são eles que nos fixam, não nos deixam, não se cansam de avaliar-nos. Os quadros parecem ser uma espécie de rosto completo desses olhos. Os elementos flutuam à sua volta, cobrem a sua superfície, interagem com eles, espetam-lhes dedos. A leitura que podemos fazer é bastante ampla. Disse-nos Freud que os sonhos são expressões do subconsciente. Assim, há uma ponte que liga essas imagens irreais ao real, há um caminho simbólico. Se olharmos diretamente para os olhos presentes nestes quadros, o realismo com que são desenhados, contrastante com a fantasia de tudo o resto, parece abrir também um caminho, uma ligação entre aqui e lá. Talvez por isso, o autorretrato com Lou Reed, que canta Walk on the Wild Side, mas que também canta Perfect Day.
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XANA ABREU PELOS OLHOS DELA
JOSÉ LUÍS PEIXOTO
Pelos olhos dela ou pelos meus olhos? A leitura não perde ambiguidade até quando encontramos palavras escritas no próprio quadro. Uma das questões curiosas desses textos breves é o uso da terceira e da primeira pessoa do singular, deixando a dúvida: ela ou eu? E também os segredos e os códigos das crianças, que piscam os olhos, ainda os olhos. Ou que perguntam ladainhas ao tempo, trava-línguas que nos sugerem essa dimensão: se há um lugar, habitado por todo este elenco de criaturas, qual é o tempo deste mundo? Quais as histórias que antecedem os episódios que testemunhamos? O que acontecerá depois? Esta é a pergunta que as crianças sempre fazem quando escutam contos. O passado e o futuro são certezas que garantem a vida e a viabilidade de um universo. A pintura de Xana Abreu é um universo coerente. Podemos viajar nele, visitar os seus planetas, contemplar os seus arco-íris, ser iluminados pela claridade das suas constelações. Durante essa travessia, encontramos um espaço à nossa medida, que precisa da nossa atenção, sensibilidade e inteligência para existir. Será um sonho? No fim do livro de Lewis Carroll, Alice desperta e ficamos com a sensação de que tudo foi apenas um sonho. Mas as palavras do Chapeleiro continuam pertinentes: e quem decidiu o que é o quê?
ÍLHAVO, 2018
Nuno Sacramento & Xana Abreu
AS SETE VIDAS DE XANA ABREU A Xana Abreu tem sete vidas. Como os gatos. Porém, ao contrário dos felinos nossos amigos, cada vida da Xana não representa nova oportunidade após um imprudente acidente. Na história da Xana não há espaço nem tempo para acidentes. Cada vida é fruto dos múltiplos talentos da Xana. Conheci-a como percussionista e vocalista de uma das mais inventivas e originais bandas do início deste século, mas o singular percurso da Xana Abreu já tinha começado muito antes e continuou até aos dias de hoje, sem dar qualquer sinal de abrandamento ou aburguesamento. O que mais me fascina na Xana, para além da sua versatilidade, é a coerência que consegue trazer para tudo aquilo em que se envolve. Apesar de ser capaz de se expressar maravilhosamente através de diversas artes, a Xana Abreu consegue manter um fio condutor e uma assinatura personalizada: em primeiro lugar na qualidade inatacável que coloca em todas as suas obras, depois na absoluta criatividade, no universo rico e contemporâneo. A Xana Abreu faz sempre das pessoas o Verbo da sua obra. Trabalha para elas. E sabe que o Amor é o mais poderoso combustível para fazer aproximar as pessoas, obrigando-as a serem melhores. Cada trabalho da Xana, seja uma canção, um espectáculo, um livro ilustrado ou uma pintura, é um amparo, uma compaixão, um veículo de ternura.
NO ATELIER, 2018
VASCO SACRAMENTO
E sempre com um tremendo sentido de responsabilidade profissional, de dignidade pela actividade maior que é ser Artista. Com uma imensa capacidade de superação, fazendo da resiliência a sua maior força. No fundo, a carreira artística da Xana é uma metáfora perfeita da sua personalidade e do seu percurso de vida. Mulher de consensos, sabe que é muito mais sábio e divertido liderar pelo sorriso que chefiar pelo chicote. Após se ter consagrado como a maior artista infantil de que há memória em Portugal, era previsível, e até aceitável, que Xana Abreu pudesse agora serenar e recolher os louros da sua esmagadora popularidade junto dos mais novos, mas a lucidez da artista permite-lhe saber que o comodismo é incompatível com a sua criatividade e inquietude. Assim, no último ano resolveu revelar ao Mundo o que todos os que lhe somos próximos já sabíamos: Xana Abreu é uma artista plástica para as próximas décadas. O sucesso e o génio são evidentes e estão demonstrados na exposição que agora apresenta. Por tudo isso, Xana Abreu merece as sete vidas de cantora, compositora, instrumentista, realizadora, artista infantil, ilustradora, artista plástica e todas as outras que ainda estão para chegar.
Xana Abreu
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EXPOSIÇÃO
SEGUE-ME
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AcrÃlico sobre tela, 200x160cm, 2018
XANA ABREU PELOS OLHOS DELA
ACORDA!
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AcrÃlico sobre tela, 205x233cm, 2018
XANA ABREU PELOS OLHOS DELA
NA TUA PELE
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AcrÃlico sobre tela, 60x60cm, 2018
XANA ABREU PELOS OLHOS DELA
CARNAVAL I
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AcrÃlico sobre tela, 120x180cm, 2018
XANA ABREU PELOS OLHOS DELA
MISS MARGOT
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AcrÃlico sobre tela, 180x120cm, 2018
XANA ABREU PELOS OLHOS DELA
DIÁRIO DE VIAGEM
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Acrílico sobre tela, 120x180cm, 2018
XANA ABREU PELOS OLHOS DELA
CARNAVAL II
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AcrÃlico sobre tela, 120x120cm, 2018
XANA ABREU PELOS OLHOS DELA
DOCE SEGREDO
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AcrÃlico sobre tela, 120x120cm, 2018
XANA ABREU PELOS OLHOS DELA
NAS TUAS ASAS
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AcrÃlico sobre tela, 60x60cm, 2018
XANA ABREU PELOS OLHOS DELA
NA TUA INFÂNCIA
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Acrílico sobre tela, 60x60cm, 2018
XANA ABREU PELOS OLHOS DELA
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VAI PASSAR O HOMEM-GALO
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XANA ABREU PELOS OLHOS DELA
Acrílico sobre tela, 100x120cm, 2018
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MÁSCARAS
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Acrílico sobre tela, 120x120cm, 2018
XANA ABREU PELOS OLHOS DELA
DESLUMBRAMENTO
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AcrÃlico sobre tela, 120x120cm, 2018
XANA ABREU PELOS OLHOS DELA
ASSALTO DE PLÁSTICO
Acrílico sobre tela, 120x120cm, 2018
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CONTRATEMPO
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AcrÃlico sobre tela, 100x100cm, 2018
XANA ABREU PELOS OLHOS DELA
PEZINHOS DE LÃ
Acrílico sobre tela, 100x100cm, 2018
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CV
XANA ABREU Xana Abreu é uma artista multifacetada que gosta de explorar diferentes vertentes artísticas. Pintora, cantora, atriz, compositora, letrista, ilustradora. Desde que é gente, perde-se e encontra-se no mundo das artes. É na criação de projectos que se sente viva e concretizada. Desde muito nova que dizia querer ser pintora. Durante uma infância sem luxos teve de aprender a criar as suas roupas e os seus brinquedos. Desenvolveu, por necessidade mas também com grande talento, uma imensa (inesgotável) capacidade criativa. Desabrochou nesta grande artista/mulher cuja arte temos o privilégio de poder conhecer. Xana Abreu nasceu em Lisboa, em 1975. Frequentou a Escola de Artes António Arroio e a Faculdade de Belas Artes - Universidade de Lisboa (curso de pintura). Desde muito nova que ilustra inúmeros livros para Portugal, Brasil e alguns países africanos.
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XANA ABREU PELOS OLHOS DELA
LISBOA, 1975 No campo da pintura, tem vindo a realizar diversas exposições individuais e colectivas. O seu talento tem sido reconhecido por grandes marcas portuguesas, tendo recentemente encetado parcerias no sentido de democratizar a sua arte, seja na estampagem de tecidos ou em porcelanas. Paralelamente e também desde sempre, canta e compõe músicas e letras, tendo gravado inúmeros álbuns e temas musicais. A artista é actualmente conhecida do grande público de Portugal, Angola e outros países, no meio musical e televisão, como Xana Toc Toc. Já recebeu 12 galardões de platina pelos seus DVDs e CDs de sucesso, tendo vendido mais de 250.000 unidades, os seus vídeos têm mais de 190 milhões de visualizações no youtube, 15.000 livros vendidos e inúmeros espectáculos esgotados.
CURADORIA Nuno Sacramento MONTAGEM Lília Figueiras TEXTOS José Luís Peixoto Vasco Sacramento FOTOGRAFIA Nuno Horta DESIGN Nhdesign www.nhdesign.pt IMPRESSÃO Orgal, Impressores TIRAGEM 500 exemplares PATROCÍNIO Destiny Arround Vidal Tecidos DATA Outubro 2018