Oficina de escrita Disciplina: Português
Desabafo de um Diário Neste verão sufocante, aqui estou cheio de calor, escondido contra a minha vontade. Trancaram-me “a sete chaves”, tento escapar-me, mas o cadeado não me deixa. Tenho apenas o orifício da chave para procurar alguma brisa fresca e ver o mundo que me rodeia… Tenho passado aqui dias, semanas até meses. Os únicos momentos em que posso olhar o mundo são aqueles em que o Paulo me abre para me contar as suas alegrias, as suas ânsias e preocupações. O que ele não sabe é que eu também tenho sentimentos; umas vezes estou triste, outras alegre, mas não posso partilhar isso com ninguém. Infelizmente, ele não sabe nada sobre mim. Tenho o sonho de conhecer o mundo, de conviver com outros livros, de sair livremente sem ninguém me prender, de gritar o que sinto para toda a gente ouvir, para me libertar de vez, sem segredos nem mistérios; ser apenas um livro, e por irónico que seja, ser um livro aberto. Por outro lado, não deixo de gostar dele, do Paulo, afinal eu sou o seu único confidente e tornámo-nos grandes amigos. O Paulo é uma pessoa muito conservadora e só pensa no trabalho. Por vezes desliga do mundo e fica só com a sua solidão, sem conviver com ninguém, apenas ele e eu. Quando não está a trabalhar, está comigo. De uma coisa eu tenho a certeza, eu sou o seu melhor companheiro. Todos os dias fico à espera do momento em que ele me vem contar o seu dia e as suas aventuras e desventuras, pois essas são as únicas que eu vivo. A não ser isso, contentome em piscar o olho à enciclopédia em frente, ainda que ela nem se aperceba que eu existo, e claro, em ouvir os novos textos do Paulo, pois ele quer ser escritor! Enfim, tenho de aproveitar a única motivação que me resta e ver se conquisto de vez a minha apaixonada… Desejem-me sorte!
Joana Neves, 8ºE
Oficina de escrita Disciplina: Português
Uma segunda oportunidade Era uma noite quente de verão e a minha dona tinha decidido ir ao Jardim Zoológico no dia seguinte. Sabia disto porque ela deixara um “post-it” colado na minha capa com a mensagem: “Amanhã, Zoo às 10h” Naquela noite, pegou em mim e folheou-me até chegar à página onde tinha ficado no dia anterior. Leu alguns parágrafos, mas logo começou a fechar os olhos lentamente, até que me colocou na mesa de cabeceira, com os óculos pousados sobre mim. Já de manhã, notei pelos buraquinhos das persianas os raios de sol a iluminar o meu título “Cidades de Papel”. Ela levantou-se e colocou-me dentro de uma mochila desportiva, com uma maçã e uma máquina fotográfica. Sentia-me intoxicado com o odor daquela maçã que nunca parava quieta! A meio da manhã, lá no Zoo, tirou da mochila a maçã já muito pisada e lembrou-se de mim. Tirou-me e pousou-me num banco de jardim. De repente, uma girafa impressionante aproximouse. Eu nunca tinha visto um animal destes tão perto, sem ser nas descrições do meu autor! Foi uma experiência simultaneamente fabulosa e aterradora! Nisto, a minha companheira afastouse, pois os amigos chamaram-na. E eu? Eu fiquei ali, sozinho e abandonado, com as minhas folhas a esvoaçarem ao vento... Ficaria ali para sempre? No momento em que me questionava, vi um rapaz a aproximar-se. Virou-me de costas, leu o meu resumo e ficou comigo! Percebi que tinha feito um novo amigo, um companheiro a quem iria contar a minha história e fazer ficar acordado até tarde para ler as minhas aventuras. Toda a gente merece uma segunda oportunidade para ser feliz, até mesmo um objeto vulgar como eu! Carolina Jorge, 8ºD
Oficina de escrita Disciplina: Português
Desabafos de uma B.D…
Sou um livro de B.D. e estou aqui abandonado na biblioteca de um idoso de 80 anos, que mora nesta casa desde que nasceu. Longe vão os anos em que fazia as delícias dos mais novos… Não é que me considere velho, mas já conto com 15 primaveras! Felizmente é a minha idade que me dá o meu valor. Que saudades dos tempos em que era amado e estimado pela criança que me tinha na sua posse… Hoje, em pleno século XXI, tenho receio do que estará para vir, pois já não existe interesse pela leitura. As enciclopédias e até os dicionários mais antigos disseram-me que, não muito antes de eu acordar na livraria, eram poucos os que sabiam ler e que só os mais ricos é que conseguiam estudar, só poucos é que desenvolviam o gosto pela leitura. Mas chega de falar do passado, concentremo-nos mais no presente que também não é melhor… Um grande colecionador acabou por me encontrar, após outras pessoas me terem dado uso. Vestiu-me um fato de plástico bem apertado e colocou-me numa estante junto com os meus primos, a ganhar pó. Infelizmente, este pobre coitado, que no início parecia ter gostado tanto de mim, foi atraiçoado pela idade e está acamado. Pelo que os filhos têm comentado, o pobre homem está no fim da sua vida. Também nós, os livros, acabaremos por chegar a um fim. Quer sejamos livros policiais, romances ou até bíblias, todos acabaremos por desaparecer deste mundo, com a humidade ou por culpa de um qualquer leitor menos veterano… O meu sonho é que quando o meu momento chegar, a história que contenho dentro de mim tenha marcado alguém. Basta uma só pessoa, e o objetivo pelo qual um dia acordei numa livraria estará cumprido. Diogo Hipólito, 8ºD
Oficina de escrita Disciplina: Português
História de uma gramática Passaram-se muitos anos e eu permaneço ainda naquela prateleira do meio de uma estante da sala de estar de um casal de professores, agora já reformados. Antes sentia-me cada vez mais apertada, no meio de tantos livros que ali iam chegando. Hoje, porém, já ninguém me toca, já não procuram a minha ajuda. Na verdade sou uma gramática de outros tempos, até imagens coloridas eu tenho. Lembro-me bem quando ia passear todos os dias até à escola, dentro de uma pasta pequena, onde quase não cabia. Aquele barulho da sala de aula, com as crianças tagarelas a quererem folhear-me rapidamente até encontrarem o que precisavam, punha-me a cabeça à roda. Elas gostavam muito de ver as minhas imagens e eu adorava sentir aquelas mãos traquinas nas minhas folhas. De repente, fazia-se silêncio e todas recolhiam aos seus lugares, quando a professora Maria, já enervada com tanta agitação, resolvia pôr ordem na sala. Então, pegava-me furiosamente e afastava-me lá mais para o canto da secretária, como se eu tivesse a culpa daquela desordem toda. Hoje, no mesmo lugar da estante, os raios de sol que passam através dos vidros das enormes janelas da sala ainda chegam até mim. Como eu gostaria que as pessoas também viessem até mim para me pegar e procurassem nas minhas páginas, já um pouco gastas pelo tempo, respostas para as suas dúvidas.. Agora já não sou precisa! Olho triste para aquele computador, em cima daquela mesinha de centro e que roubou o meu lugar. Agora, é ele que vai passear dentro daquela pequena pasta castanha, quando as netas do casal Oliveira vêm cá para casa. Mas estas crianças são muito curiosas e mexem em tudo. Tenho esperanças que, quando me encontrarem, me queiram levar. Esse será um dia muito feliz para mim!
Constança Fernandes de Oliveira 8ºE – Nº7
Oficina de escrita Disciplina: Português
Livros de histórias de Halloween Sou um livro de histórias de Halloween. Estou numa estante com muitos livros de vários temas e tipos: de Corrida, manuais de Matemática e de Português. Tenho à minha volta duas mesas, algumas cadeiras, armários, e uma televisão. O meu dono chama-se Ivan. É um rapaz negro, de cabelo curto e olhos verdes. Tem 12 anos e é muito estudioso. A disciplina preferida dele é Português. Gosta muito de ler e de escrever. Quando pega em mim, lê-me calmamente, deitado no sofá, ele não gosta que ninguém o incomode. Adora aventuras fantásticas, de preferência com personagens do outro mundo: vampiros, morcegos, fantasmas, bruxas, etc. Tenho cem páginas e as minhas folhas estão ainda novas, são brancas como a neve e de tamanho normal. As minhas imagens são pequenas mas muito coloridas. Pedro Rodrigues, nº11, 7D.
Um livro de poesia Sou um livro de poesia com muitas rimas e fui adoptado numa Feira do Livro, em Ansião. Vivo numa prateleira cheia de livros de poesia. Na verdade, sou um sortudo, calhei numa família muito simpática. O meu dono gosta muito de livros e de ler e nunca deixa que os livros ganhem pó. Eu passo os dias a viajar, pois os meus donos gostam muito de ler poesia, sobretudo versos de Camões, e fazem-no sempre que têm um tempinho livre. Talvez por isso, estão quase sempre felizes. E é claro que eu fico imensamente feliz quando eles me abrem! Infelizmente, desde que apareceu o computador já pouca gente pega em livros. Hoje, a maioria das pessoas, para ser mais rápido, vai à Internet. Enfim, são novas tecnologias que mudaram o mundo…o nosso também.
Renato Granada Nº12, 7ºD