O Visconde e a Megera - Lorraine Heath # 3

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O Visconde e a Megera (The Viscount and the Vixen)

Os Sedutores de Havisham Livro 3 Lorraine Heath

Sinopse O amor gera loucura. O visconde Locksley assistiu ao seu pai depois da morte de sua querida esposa. Mas quando seu pai se prepara para se casar com a caçadora de fortunas Portia Gadstone, Locke é obrigado a tomar medidas drásticas para impedir que aquela beldade deslumbrante se aproveite do marquês. Um casamento de prazer mútuo pode ser conveniente, na verdade... desde que sentimentos inconvenientes não interfiram. Desespero forçou Portia a concordar em se casar com um louco. O arranjo oferecerá a proteção que ela precisa. Assim ela acredita, até que o bonito e sedutor filho do marquês, distraidamente ler as letras miúdas... e toma o lugar de seu pai! Agora, o tranquilo – e, mais importante ainda, seguro – casamento que Portia planejou foi lançado em favor de alguém que está fervendo de tentação e potencial desgosto. Porque quando ela começa a se apaixonar por seu marido diabolicamente sedutor, seus segredos sombrios surgem e ameaçam arruinar os dois – a menos que Locke esteja disposto a arriscar tudo e abrir seu coração para o amor.

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Capítulo 1 Havisham Hall, Devonshire Primavera de 1882

Killian

St. John, o visconde Locksley, passou pelo corredor silencioso sem dar muita atenção ao relógio de carvalho embutido. Ele tinha seis anos quando descobriu que não podia tocá-lo, e que o objetivo do relógio era marcar a passagem do tempo. Mas com a morte da mãe de Locke, pelo menos para o pai, o tempo tinha parado abruptamente. Quando uma criança não tem conhecimento, ele aceita o que ele aprende como uma verdade absoluta de como as coisas são feitas. Ele acreditava que os únicos cômodos de qualquer lar que os criados arrumavam eram os que estavam em uso. Em Havisham Hall, eles arrumavam o quarto onde ele dormia, a pequena sala de jantar em que ele comia, os aposentos ocupados por seu pai e a biblioteca em que seu pai às vezes trabalhava em sua escrivaninha. Os outros cômodos eram mistérios escondidos atrás de portas trancadas. Ou assim tinha sido antes que o Duque de Ashebury e o Conde de Greyling, juntamente com suas esposas, foram mortos em um terrível acidente de trem em 1858. Pouco tempo depois, seus filhos ainda crianças - foram levados para Havisham Hall para que fossem cuidados e educados por seu pai, o Marquês de Marsden, pois tanto o duque quanto o conde o havia nomeado como guardião de seus filhos. Com a chegada deles ali, também vieram todos os tipos de conhecimento, incluindo a confirmação de que seu pai estava completamente louco. Agora quando Locke entrou na pequena sala de jantar, ele parou abruptamente ao ver seu pai sentado à cabeceira da mesa, lendo o jornal que o mordomo obedientemente passava todas as manhãs. Normalmente, o homem mais velho tomava suas refeições em seus aposentos. Mais surpreendente ainda, era pelo fato de que seu cabelo branco geralmente despenteado, agora tinha sido aparado e escovado, seu rosto barbeado e suas roupas ajustadas. Locke não se lembrava de outro momento em que seu pai havia tomado tanto cuidado com sua aparência. Nas raras ocasiões em que ele saía de seu santuário, ele se parecia mais com um espantalho maltrapilho. 3


Com a chegada de Locke, o mordomo colocou café em uma delicada xícara de porcelana antes de partir para pegar outro prato. Como habitualmente ele era o único a comer nesta sala, ele mantinha suas refeições simples e pequenas. Nenhum aparador com ofertas sortidas para escolher. Apenas um prato com a comida que o cozinheiro tinha preparado. Seu pai ainda não o notara, mas o senhor da mansão costumava passar boa parte do seu dia e da sua noite absorvido em seu mundo particular, onde as lembranças de tempos mais felizes floresciam. — Bem, esta é uma surpresa agradável, — disse Locke ao sentarse, tentando se livrar de suas preocupações sobre as finanças cada vez menores da propriedade. Suas apreensões o haviam prendido antes do amanhecer e resultou em seu sequestro na biblioteca por mais de duas horas em busca de uma resposta que continuasse a iludi-lo. Ele decidiu que o sustento era necessário para aguçar sua mente. — O que motivou sua mudança na rotina? O pai virou a página coberta de tinta, sacudiu o jornal e endireitou-o com um estalo do pulso. — Achei melhor levantar e me mover antes que minha noiva chegasse. Com sua xícara a meio caminho da boca, Locke bateu os olhos fechados. As lembranças do pai haviam se tornado cada vez mais nebulosas ultimamente, mas certamente ele não estava sentado ali esperando a chegada de sua mãe; Certamente ele não acreditava que era o dia do seu casamento. Abrindo os olhos, devolvendo a xícara ao seu pires, Locke estudou aquele estranho que amava apesar de todas as suas excentricidades. Ele parecia com qualquer outro lorde começando seu dia. Ao contrário de qualquer outro senhor, no entanto, ele acreditava que sua esposa morta assombrava os pântanos. O mordomo retornou e colocou o prato cheio de ovos, presunto, tomates e torradas na frente de Locke. Antes que ele pudesse voltar para seu posto na parede, perto da porta, Locke olhou para ele. — Gilbert, você ajudou meu pai a se vestir esta manhã? — Sim, meu senhor. Como ele não tem criado particular, fiquei mais do que honrado em cuidar dos deveres. — Ele se inclinou e sussurrou: — Ele insistiu em tomar banho também, Milorde, e nem é sábado. — Ele ergueu as sobrancelhas brancas como se isso fosse uma grande novidade, depois endireitou a coluna, parecendo bastante orgulhoso do fato de ter banhado o marquês no meio da semana. — Você sabe por que ele estava tão incomodado? — Sim, meu senhor. Ele vai se casar esta tarde. A Sra. Dorset está preparando o banquete de casamento enquanto conversamos e a Sra. 4


Barnaby acordou cedo para limpar a sala de estar da frente, já que os votos devem ser trocados lá. É um dia esplêndido, para mais uma vez ter uma senhora se instalando em Havisham. Só não havia nenhuma dama, exceto na mente distorcida e demente de seu pai. — Ela tem um nome? — Tenho certeza que sim, milorde. A maioria tem. Locke tinha aprendido já há algum tempo que a paciência era necessária para poder lidar com os poucos criados que tinham permanecido ao longo dos anos. Posições que nunca foram substituídas por novatos, mas como ocorreram mortes ou aposentadorias, alguns subiram de posição. Agora, talvez fosse hora de pensar em contratar um mordomo mais novo, exceto que era difícil imaginar o Havisham Hall sem Gilbert no comando. Ele tinha sido o segundo mordomo antes de assumir, quando o mordomo anterior morreu enquanto dormia há quase vinte anos. Além disso, poucos eram mais adequados para trabalhar e aceitar a estranheza que ocorria dentro dessas paredes. — Por acaso você sabe quem é? — Madeline Connor, talvez? Minha mãe? — Se você quiser saber sobre a minha noiva, — seu pai curvou o punho, dobrando o jornal e colocando-o na mesa, — por que você não me pergunta? Estou sentado bem aqui. Porque ele não gostava da tristeza que tomaria seu pai quando ele percebesse a verdade: a noiva dele havia partido há trinta anos. Ela morreu na noite em que lutou tão valentemente para trazer seu único filho ao mundo. — Quando ela chega? — Ele perguntou indulgentemente, com o canto do olho assistindo Gilbert se retirar para seu canto. — Por volta das duas. O casamento acontecerá às quatro horas. — Ele ergueu a mão, mexeu os dedos retorcidos. — Eu queria dar a ela um pouco de tempo para me conhecer. Estranho. Seus pais se conheceram quando crianças, imaginaramse casados desde o começo, pelo menos de acordo com seu pai. Ele arqueou uma sobrancelha. — Então você não a conhece? Ele levantou um ombro magro. — Nós nos correspondemos. Locke pensou que não poderia haver algo notavelmente mais perturbador do que seu pai acreditar que ele ainda estava com trinta e tantos anos, como no passado, e prestes a se casar com a sua mãe de novo. — Pode me dizer, qual é o nome dela? — Sra. Portia Gadstone. Locke não pôde deixar de olhar. Isso era pior, muito pior, do que 5


ele previra. — Uma viúva, presumo. — Não, Locke, estou tomando para senhora, uma mulher que já tem um marido. Pense garoto. Claro que ela é viúva. Não tenho tempo para garotas nervosas que exigem paciência e educação. Quero uma mulher que conheça bem o corpo de um homem. Ele mal podia acreditar que estava tendo essa conversa ridícula com seu pai. — Se é gratificação sexual o que procura, posso trazer uma camponesa. Por que passar por todo o incômodo do casamento? — Eu preciso de um herdeiro. Embora fosse impróprio para um lorde soltar sua mandíbula, Locke o fez de qualquer maneira. — Eu sou seu herdeiro. — Sem planos de se casar. — Eu nunca disse que não iria casar. — Ele decidiu que nunca iria amar. Sabendo que seu pai tinha caído na loucura depois de perder o amor de sua vida, ele não tinha nenhum desejo de dar a qualquer mulher seu coração e correr o risco de viajar pelo mesmo caminho. — Então, onde ela está, esta mulher que você vai se casar? — Seu pai perguntou, olhando em volta como se esperasse que ela se materializasse em um canto a qualquer segundo. — Você chegou ao seu trigésimo ano há dois meses. Eu era casado aos vinte e seis e pai aos trinta. No entanto, você ainda está fora semeando a veia selvagem. Não tanto quanto antes, e se ele levasse suas responsabilidades mais a sério, provavelmente também enlouqueceria. — Eu vou me casar, pai. Só que eventualmente. — Eu não posso correr esse risco. Eu preciso de outro herdeiro. Eu serei amaldiçoado se eu deixar meu primo ganancioso Robbie e seu herdeiro bêbado herdarem. Eu não vou ter meu título viajando pelo ramo da nossa árvore genealógica, eu prometo a você. E nem Havisham Hall. Você herdará primeiro, sim, mas quando você der o seu último suspiro, seu irmão, pelo menos com trinta e tantos anos, o meu filho mais novo, dependendo da fertilidade do ventre desta menina, estará por perto para intervir. Espero que ele não tenha sua aversão ao casamento e já terá o próximo herdeiro alinhado. Seu pai estava respirando pesadamente como se tivesse corrido ao redor da sala enquanto entregava sua diatribe1. Locke ficou de pé. — Pai, você está doente?

Diatribe - na Grécia antiga, dissertação crítica que os filósofos faziam acerca de alguma obra; crítica severa e mordaz. 1

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Ele acenou com a mão. — Estou cansado, Locke, simplesmente cansado, mas preciso garantir o meu legado. Eu deveria ter casado antes, para garantir um sobressalente. Mas eu estava sobrecarregado de tristeza. — Ele afundou no encosto da cadeira, como se lhe restasse poucas forças. — Sua mãe, abençoada seja, deveria ter ido descansar em paz em vez de esperar por mim aqui. Declarações como aquela sempre rasgou Locke, tornando o trato com seu pai muito mais desafiador. Sua mãe não estava nos pântanos esperando por ele. Seu pai simplesmente se recusou a deixá-la ir. — Eu vou me casar, pai. Eu vou fornecer um herdeiro. Eu não vou deixar seus títulos ou suas propriedades irem para o primo Robbie. Eu simplesmente tenho que encontrar a mulher certa primeiro. — Uma mulher com uma disposição grosseira que ele nunca poderia amar. — A Sra. Portia Gadstone poderia ser a única, Locke. Eu diria que, se você gostar dela quando a encontrarmos, serei um cavalheiro, saio de perto e lhe darei minha bênção para que você possa casar com ela ainda nesta mesma tarde. Como se Locke estivesse aberto para isso acontecer. Infelizmente para a Sra. Gadstone, quando ela chegasse, ele a conduzira de volta para a porta. ****** O Marquês de Marsden precisa de uma mulher forte, saudável e fértil para fornecer um herdeiro. Enviar consultas sobre esta publicação. Enquanto a carruagem sacolejava na estrada, Portia Gadstone dobrou o anúncio que havia tirado do jornal e o colocou de volta na bolsa. Voltando sua atenção para a paisagem sombria, ela refletiu que não era tão triste quanto a sua vida. Concordar, sem dó ou piedade, em se casar com um homem que toda Londres sabia que perdera sua sanidade mental, dizia tudo. Sua vida estava em frangalhos, ela não tinha dinheiro e não tinha mais para onde se virar. Mas o casamento com o marquês combinava perfeitamente com seus planos. Havisham era uma grande propriedade em Devonshire, no limite de Dartmoor. Isolado. Ninguém nunca visitava. O marquês nunca saía. Era improvável que alguém pensasse em procurá-la ali. Mas se o fizessem, ela seria uma marquesa, uma mulher que ganhara poder poder que ela estava disposta a exercer se necessário, para se proteger e tudo mais o que ela amava. O marquês mandara fundos para essa viagem, mas temendo a 7


descoberta de sua fuga, não comprara passagem de trem, nem bilhete de carruagem, optando viajar por meio de transporte dos correios. O cocheiro, um sujeito grande e corpulento, teve a gentileza de não incomodá-la e, esperançosamente, depois de entregá-la ao seu destino, esqueceria que ele já a viu um dia. Enfiando a mão na bolsa, tirou um doce de menta de um saco de papel e colocou-o na boca. Ela viajou por muito tempo, estava cansada e com fome, mas reclamar agora não lhe faria bem algum. Melhor apenas seguir em frente com o planejado, não importa o quão desagradável pudesse ser, e ela estava certa de que hoje o dia seria preenchido com nada além de desagrado. Mas ela insistiria e garantiria que o marquês nunca se arrependesse de fazê-la sua esposa. Enquanto percorriam uma curva, ela viu o edifício monstruoso preto como a alma de Satanás, com torres e espirais alcançando os céus - surgindo diante dela, ficando maior a cada vez que os cascos dos cavalos batiam no chão. Não poderia ser outro senão Havisham Hall. Um calafrio percorreu sua espinha. Se ela tivesse outra escolha ... Só que ela não tinha. Com o casamento dela com o marquês, ela entraria no círculo aristocrático. Marquesa de Marsden. Ela conquistaria respeito simplesmente por causa de sua posição ao seu lado. E a criança que ela entregasse a ele estaria segura, sob sua proteção. Ninguém ousaria prejudicar a criança. Ninguém se atreveria a machucá-la. Nunca mais. ****** De pé em uma janela do andar de cima, olhando para a entrada, Locke riu alto da cena abaixo dele. Ela chegou em um carro de correio. Um treinador de correspondência, pelo amor de Deus. Essa farsa poderia ser mais ridícula? Ele não teve uma boa impressão dela. Ela parecia um pouco pequena, miúda. Curvas amplas. Ela usava preto. Isso não augura nada de bom para o sucesso de um casamento. Um ridículo grande chapéu preto cobria a cabeça dela, um véu cobrindo seu rosto. Ele pensou que ela poderia ter cabelos escuros. Difícil dizer. O condutor corpulento se esforçou para pegar um baú grande do alto da carruagem e colocá-lo nos pés da mulher. Ele tirou o chapéu, subiu de volta ao assento e foi embora. Ninguém ficava em Havisham. Ela girou nos calcanhares e começou a marchar com firmeza em 8


direção à residência. Locke desceu as escadas. Ele tinha que acabar com essa loucura. Um barulho ecoou pelo vestíbulo assim que ele chegou. Ela certamente estava determinada a usar a aldrava. Ele abriu a porta. Ela levantou o véu, e ele se viu olhando para o mais incomum tom de olhos que ele já tinha visto. A cor lembrou-o de uísque, cheio de tentações, inebriante e ameaçando arruinar um homem. — Eu estou aqui para casar com seu senhorio, — disse ela em uma voz rouca que causou tudo abaixo de sua cintura para vir a atenção imediata. Dane-se tudo para o inferno. Em vez de garantir uma moça da aldeia para seu pai, ele deveria considerar garantir uma para si mesmo. Obviamente ele tinha estado há muito tempo sem uma mulher se apenas a voz daquela foi o suficiente para obter isso nele. — Vai buscar o meu baú. Endireitando-se, ele se ergueu em toda a sua altura, o que o fez elevar-se bastante sobre ela. — Você presume que eu seja o lacaio? Deu-lhe uma olhada lenta que fez com que sua pele se apertasse, como se seus dedos estivessem se arrastando onde quer que seus olhos lhe tocassem. Quando sua leitura foi completa, ela levantou o pequeno nariz. — Mordomo, lacaio, não importa para mim. O baú precisa ser trazido. Traga-o para dentro — Você também acha que Lorde Marsden vai lhe dar uma olhada e ainda vai desejar se casar com você? — Eu tenho um contrato com ele. Ele vai se casar comigo ou vai pagar um bom dinheiro. Seu pai pode ter mencionado esse pequeno fato. Obviamente Locke tinha julgado mal todos os problemas que seu pai poderia causar de dentro de seus aposentos. Ele pensou que seu pai não fazia mais do que olhar ansiosamente pela janela, na esperança de ter um vislumbre de seu amor brincando sobre o pântano. — Minha querida, — seu pai anunciou, de repente ao lado de Locke, pegando sua mão e pressionando um beijo, mesmo quando ele conseguiu artisticamente contorná-la passando por Locke e entrar no vestíbulo. — É um prazer conhecer você. Abaixando-se em uma profunda e graciosa reverência, ela sorriu para o pai como se ele fosse a resposta para todos os desejos infantis que já fizera. — Meu senhor, estou muito feliz por estar aqui, mais até do que posso dizer. Locke estreitou os olhos. Por que alguém na terra de Deus teria algum prazer em se colocar no pequeno canto do mundo do inferno? E 9


ainda havia uma intrigante honestidade em seu tom que ele não podia negar. Ela era tão boa atriz assim? — Locke, pegue o baú, depois se junte a nós na sala de estar. Seu pai parecia absolutamente fascinado. Nada bom, nada bom se Locke tivesse alguma esperança de reprimir esse arranjo. — Eu vou acompanhá-lo no salão primeiro. O baú está perfeitamente seguro onde está. Ninguém vai sair com ele, e eu serei amaldiçoado se vou perder uma única palavra dessa conversa. — Você é bastante impertinente para um servo, — ela repreendeu, com margem suficiente para indicar que ela estava garantindo sua posição como senhora da mansão e lembrando-lhe de seu lugar dentro dela. — Eu concordaria - se eu fosse um servo. Como eu aparentemente vou me tornar seu filho antes que a tarde termine, permita-me apresentar-me: Killian St. John, o visconde Locksley, ao seu serviço. — Ele zombeteiramente fez uma reverência. Ela tinha que ser tão louca quanto o pai dele. Ou uma mulher com a intenção de se aproveitar da loucura de outra pessoa. Ele apostaria no último. Havia uma nitidez calculada nesses olhos. Ele não confiava neles - ou nela – nem um pouquinho. Mais uma vez ela fez uma reverência profunda, elegantemente, mas para ele não havia sorriso nem emoção alguma. A rapidez com que ela vestiu sua armadura o fascinou, mais ainda porque ela o julgou com precisão uma ameaça. Ela não era boba. — É um prazer, meu senhor. Oh, ele duvidava muito que isso acabasse sendo assim. — Por aqui, minha querida. Temos muito pouco tempo para nos familiarizarmos antes das núpcias. — Seu pai conduziu-a até a sala de visitas, colocando-a em uma cadeira confortável perto da lareira. A poeira levantou-se quando ela se acomodou na almofada gorducha. Muito pelas habilidades de limpeza da empregada. Seu pai pegou a cadeira em frente a dela. Locke se jogou no sofá, sentando no outro extremo para obter o melhor ângulo para observála. Ela era jovem, não podia ter muito mais que vinte e cinco anos. Sua roupa era bem feita, em excelente estado. Sem desgaste, sem farrapos. Ela ergueu os braços, pegando o alfinete de chapéu, e os peitos empinados se ergueram também. Eles eram do tamanho perfeito para encher as palmas das mãos. Essas mesmas mãos podiam atravessar sua cintura, fechar em torno dela, atraí-la contra ele. Por que diabos ele estava pensando essas coisas que não tinham qualquer relação com sua estratégia? 10


Ela tirou o chapéu da cabeça e ele prendeu a respiração. Seu cabelo era de um vermelho ardente que rivalizava com as chamas de uma lareira ardente. Os fios pareciam pesados, abundantes e em perigo de desmoronar a qualquer momento. Ele imaginou quantos grampos precisaria remover para fazer exatamente isso. Não muitos, ele apostaria. Dois, três no máximo. Mudando para aliviar o desconforto de seu corpo reagindo como se ele não estivesse perto de uma mulher desde que ele deixou a sala de aula, ele colocou o braço ao longo das costas do sofá, lutando por uma indiferença que não estava sentindo. Ele não se importava com o cabelo, os olhos ou a figura dela. Ou aqueles lábios gordos e cheios, o tom de rubis. Ele se importava com os motivos dela. Por que uma mulher tão jovem e atraente como ela estaria disposta a casar com um homem tão velho e decrépito quanto seu pai? Ela tinha que ter jovens fanfarrões bajulando-a. Ela chamava a atenção. Então o que ela esperava ganhar aqui que ela não poderia ganhar em outro lugar? — Agora, minha querida — seu pai começou, inclinando-se para frente. — Aqui estamos, milorde! — A sra. Barnaby cantou quando entrou, carregando um serviço de chá. Seu cabelo, mais branco do que preto, foi puxado para trás em seu coque apertado de costume, seu vestido preto passado até a perfeição. — Chá e bolos, tal como pediste. — Depois de colocar a bandeja na pequena mesa que descansava entre as duas cadeiras, ela se endireitou, inclinou a cabeça para o lado enquanto estudava sua convidada, franzindo a testa. — Ela é bastante jovem, meu senhor. — Uma mulher velha não vai me dar um herdeiro, agora essa vai, não é Sra. Barnaby? — Eu suponho que sm. — Ela fez uma pequena reverência, seus joelhos artríticos rangeram quando ela fez isso. — Bem-vinda a Havisham, Sra. Gadstone. Devo servir o chá? — Não, eu vou cuidar disso, obrigada. — Oh. — Os ombros da Sra. Barnaby caíram. Ela estava obviamente desapontada por ser dispensada antes de ouvir qualquer coisa que ela pudesse compartilhar abaixo das escadas. — Isso vai ser tudo, Sra. Barnaby, — seu pai disse gentilmente. Soltando um enorme suspiro, ela se virou para ir embora. Locke estendeu a mão. — Eu vou querer as chaves, Sra. Barnaby. Ela bateu a mão sobre o grande anel pendurado em sua cintura como se ele tivesse pedido as joias da coroa e ela estivesse determinada 11


a protegê-las com sua vida. — Elas são minha responsabilidade. — Eu posso ter necessidade delas. Eu vou devolvê-las para você mais tarde. — Sua necessidade dependia de como seria esta conversa. Com uma expressão teimosa, ela relutantemente entregou-as antes de marchar da sala com a justa indignação brilhando em ondas. Ele não sabia por que ela se agarrava as chaves com tanta tenacidade quando eram mais enfeite que uso. Ele supunha que elas anunciavam sua posição na casa, uma que ela adquiriu porque ficou por perto quando muitas das empregadas tinham ido em busca de pastos mais verdes. Ou aqueles menos assombrados. Voltando sua atenção para a Sra. Gadstone, ele observou fascinado enquanto ela lentamente tirava uma luva de pele de carneiro preta como se ela gostasse de expor algo proibido. Um quarto de polegada por um quarto de polegada frustrante. No entanto, ele parecia incapaz de desviar o olhar quando sua mão macia e imaculada foi revelada. Sem cicatrizes. Nenhum calo. Sem sardas. Ela tomou o mesmo cuidado ao tirar a outra, e ele lutou contra a visão daquelas mãos pequenas, perfeitas e sedosas, deslizando vagarosamente por seu peito nu. Com cuidado, ela colocou as luvas em seu colo como se ignorasse completamente o efeito que sua lenta revelação poderia ter sobre um homem. Embora ele apostasse metade de sua fortuna futura, sabia exatamente do que se tratava. — Lord Marsden, como você prefere o seu chá? Sua voz rouca deslizou por sua espinha, acomodando-se em sua virilha, droga de tudo. Ela parecia uma mulher recém-saciada. — Uma abundância de açúcar, por favor. Locke ficou olhando enquanto ela servia, acrescentando vários cubos, mexeu e ofereceu a xícara de chá no pires, junto com um sorriso terno, para o marquês, que sorriu de volta como se agradecido pela oferta, quando na verdade detestava chá. — E como prefere seu chá, lorde Locksley? — Certamente como minha mãe, você deveria me chamar de Locke. Seu olhar veio para suportar o dele, seus olhos tão afiados quanto um florete finamente afiado. Deus, ela estava disposta a cortá-lo em fitas. Ele gostaria de vê-la tentar. — Ainda não sou sua mãe, lorde Locksley, eu sou? Eu fiz alguma coisa para te ofender? Inclinando-se para frente, ele enfiou os cotovelos nas coxas. — Eu estou simplesmente me esforçando para entender por que uma 12


mulher tão jovem e adorável como você estaria disposta a se deitar de costas para um homem tão enrugado, e como meu pai pode deslizar em cima dela. — Locke! — Seu pai berrou. — Você foi longe demais. Dar o fora. — Está tudo bem, meu senhor, — ela disse calmamente, nunca tirando o olhar desafiador de Locke, nem vacilando, nem corando, nem mesmo arqueando uma sobrancelha em forma fina para ele. — Não vejo que a posição preferida de seu pai para o acoplamento seja realmente sua preocupação. Talvez ele me leve em pé enquanto vem para mim por trás. Ou de joelhos. Ou de cabeça para baixo. Mas eu lhe garanto que ele não ficará enrugado. — Então ela lentamente baixou aqueles malditos olhos de uísque para o colo dele, e ele amaldiçoou a traição de seu pênis. Com detalhes surpreendentes, imagens dele com ela em todas aquelas posições passaram por sua mente. Ele ficou tão duro e dolorido que não poderia ter levantado e saído se quisesse. E ela sabia muito bem disso. — Chá. Meu Senhor? — Não. — A palavra saiu estrangulada. Parecia que todas as facetas do corpo dele estavam decididas a traí-lo. Seus lábios deliciosos se curvaram em um sorriso presunçoso e triunfante. Ela se virou para o pai dele. — Posso te oferecer um pedaço de bolo para acompanhar o chá, lorde Marsden? Apesar da inocência de suas palavras, tudo o que ele queria fazer era arrastá-la contra ele, reivindicar sua boca como sua própria e ver se tinha gosto tão ácido quanto parecia.

Capítulo 2 B

— ravo! — Marsden exclamou, aplaudindo, seus olhos verdes animados. — Eu ouso dizer, Sra. Gadstone, você certamente colocou o meu filho em seu lugar. Bem feito! — Por favor, você deve me chamar de Portia. Ao enfrentar Locksley, ela ganhou alguns pontos a seu favor com Marsden, porém, ele ainda era a causa que levou tudo dentro de Portia 13


para evitar que sua mão tremesse enquanto ela entregava um pedaço de bolo ao marquês. Tremores estavam em cascata por dentro dela, como uma cachoeira sem fim. Não foi apenas a indignação justa que a estava fazendo tremer. Era uma atração estranha e indesejada pelo visconde Locksley que estava acendendo todas as malditas terminações nervosas que ela possuía. Embora ela nunca tivesse o conhecido, ela tinha ouvido bastante histórias sobre ele, escutado como as mulheres se jogavam sobre sua beleza. Ela soube quem ele era no momento em que ele abriu a porta. Porém, ela não estava preparada para o magnetismo que seus incríveis olhos esmeralda tinham despertado dentro dela ou o desejo que a atingiu com tanta força que ela quase girou nos calcanhares e correu atrás da carruagem que ela tinha vindo. Seus cabelos, negros como a meia-noite, mais compridos do que os da moda, serviam para fazer a brilhante tonalidade de seus olhos se destacarem ainda mais. Ela nunca em sua vida teve uma reação visceral imediata a qualquer homem. Que ela o achava incrivelmente atraente, lhe atrapalhava além da medida, era inteiramente inaceitável e notavelmente perigoso. Apesar da maneira rude e desagradável com que ele estava fazendo isso, ela sabia que ele estava se esforçando para proteger seu pai e não podia deixar de respeitá-lo e admirá-lo por isso. Infelizmente para ele, ela tinha alguém para proteger também e ela iria fazê-lo a qualquer custo, com todos os meios disponíveis para ela. Sua mente, seu corpo, sua alma. Ela usaria todos eles, de qualquer maneira que fosse necessária - não importa o quão difícil ou desagradável fosse para alcançar seu objetivo. Com o canto do olho, ela viu quando ele colocou uma grande mão dentro de sua jaqueta e retirou algo do bolso. Um recorte de jornal que ele começou a desdobrar. Com base em seu tamanho, ela sabia exatamente como isso seria lido. Parecia que ele estava se preparando para disparar a próxima tacada nesse confronto de vontades, declarado silenciosamente. Ela reforçou suas defesas. — Você gosta do campo, Sra. Gadstone? — O marquês perguntou gentilmente. Ela gostaria de tê-lo conhecido quando ele era mais jovem. Ela suspeitava que ele fosse encantador. — Forte, — declarou Locksley antes que ela pudesse responder. Ao contrário de seu filho, que infelizmente estava com falta de charme. Embora não se soubesse disso com base em todas as risadas sobre ele, as mulheres de Londres o faziam. Ele havia levado a metade delas para a cama, se as histórias fossem consideradas. Marsden suspirou com óbvio aborrecimento. — Eu compartilhei 14


meu anúncio com você para que soubesse as qualificações que eu procurava, não para que você pudesse usá-lo contra a Sra. Gadstone. Ela e eu já nos correspondemos várias vezes. Eu sei que ela cumpre todos os requisitos que eu busco em uma mulher para me dar um herdeiro. — Certamente, então não pode haver nenhuma objeção à minha desconfiança. — Seu olhar estreitado pousou sobre ela como uma coisa pesada que poderia esmagar uma mulher mais fraca. — Forte, — ele repetiu. — Você deve perdoar minha impudência, sra. Gadstone, mas não parece que você tem forças para empurrar uma cadeira de um lado para o outro da sala. — Eu, no entanto, tenho forças para chamar um lacaio para fazer isso por mim. — Quantas casas você já visitou, onde a governanta serve o chá? — Ele ergueu as chaves que havia pegado antes e as sacudiu um pouco, o tilintar ecoando entre elas. — Nossa equipe interna inclui apenas o mordomo, o cozinheiro e a governanta. — Certamente você tem os meios para fornecer mais pessoal. — Nós temos, mas meu pai está mais confortável com o pessoal que temos. Ela sorriu ternamente para Marsden. — Então eu serei também. — Contrate quantos você quiser. A mandíbula de Locksley se apertou e ela lutou para manter a expressão neutra. Parecia que ele não estava apenas envolvido em uma batalha de vontades com ela. Havia uma nitidez para Marsden que desmentia os rumores de sua loucura. Sua proteção contra ela já lhe assegurava que tomara a decisão correta ao responder ao anúncio dele. — Saudável, — Locksley vociferou. Desta vez, ela não conteve a presunção. — Eu nunca estive doente um dia na minha vida. — Mesmo quando criança? — Mesmo quando criança. Eu nunca tive cólica. Nem febril. Eu ainda tenho todos os meus dentes, então eles são saudáveis também. Você se importaria em contá-los? — Lamentou a última oferta quando seus olhos escureceram como se ele os contasse passando a língua sobre eles, ela esperou ansiosamente por sua réplica, agradecida quando ele simplesmente estalou a língua e deu uma pequena sacudida na cabeça dele. — Eu vou tomar sua palavra para isso. 15


Ela estava realmente surpresa por ele acreditar em qualquer coisa. Enquanto ele a estudava, ela esperou, temendo o último, esperando que ele pudesse poupá-la. — Fértil? Desgraçado. Aqui estava a parte complicada. — Havia um filho. Uma coisa querida e doce. Ele morreu antes de seu primeiro ano. Locksley se encolheu, seus olhos mostrando arrependimento, como se ele desejasse não ter perguntado, tanto quanto ela. — Sinto muito pela sua perda. Não foi minha intenção causar-lhe dor. Pelo menos ele possuía alguma compaixão, mesmo se ele estivesse colocando-a em seus passos. Ela deveria parar por aqui, mas ela chegou longe demais para deixar qualquer dúvida quanto à sua adequação. Caso ela se casasse com o marquês, era evidente que seu filho teria um papel importante em suas vidas, e ele era o herdeiro aparente. Ela estaria fornecendo o sobressalente. Era importante que ela e Locksley não estivessem constantemente em conflito. — O menino era saudável e forte. Ele morreu por culpa própria. A mulher que deveria cuidar dele... foi negligente. — Ela se virou para Marsden. — Não contratarei babá ou governanta para supervisionar os cuidados de seu filho. Eu cuidarei dele pessoalmente. Ele crescerá até a maturidade, bom e nobre, merecedor do nome da sua família. — Eu nunca duvidei disso, minha querida. — Ele levantou uma sobrancelha para seu filho. — Terminou com o seu inquérito? Temos apenas uma hora antes da chegada do vigário. Ela se perguntou como ele sabia disso sem olhar para o relógio. O relógio no suporte da lareira estava obviamente quebrado. Mostrara que, às onze horas e quarenta e cinco minutos, quando ela entrou, continuou a pensar a mesma hora e minutos, embora se sentisse como se uma eternidade de segundos intermináveis tivesse passado. — Eu gostaria de alguns momentos a sós com a Sra. Gadstone para garantir que ela entende exatamente no que ela está concordando. — Como mencionei, ela e eu já nos correspondemos. Eu contei tudo a ela. — Tenho certeza que você tenha feito isso. Mas, às vezes, uma perspectiva diferente pode causar maior clareza. — Eu não quero que você a persiga. Seu olhar deslizou para ela. — Ela não me parece alguém que é 16


facilmente expulsa. Foi respeito que ela ouviu em sua voz? Ou um desafio? Pegando o anel de chaves, ele moveu seu corpo longo e magro. — Permita-me mostrar a você qual será sua nova casa, Sra. Gadstone. Juro que vou me comportar como um bom cavalheiro. Ela não queria ficar um tempo sozinha com ele, e não era porque temia que ele se comportasse mal. Ela estava relativamente certa de que ele não faria. Sua preocupação era por ele ser bonito demais, muito tentador, muito másculo. Ela sabia pelas fofocas que ele não vivia uma vida de completo lazer, mas gostava de viajar para lugares bárbaros e desafiadores do mundo. Seus ombros eram largos e musculosos, mas não em excesso. Havia uma suavidade em sua forma. Ela podia imaginálo nadando, galopando sobre os pântanos, erguendo um machado para cortar madeira com igual medida. Ela deveria recusar, assegurar-lhe que não era necessário. Sua mente estava decidida. Como se adivinhasse seus pensamentos, ele inclinou o queixo para baixo, seu olhar penetrante. Um desafio. Maldito seja ele! Lentamente ela pegou suas luvas. Se ele oferecesse seu braço, ela iria querer a camada extra de material que separa sua pele da dele. Levantando-se, ela respirou fundo. — Eu ficaria muito feliz em ter você me levando em um passeio pelo lugar. — Você não precisa ir com ele, — disse Marsden. — Não se preocupe. Tenho certeza que ele vai se comportar. E eu quero que seu filho e eu nos tornemos amigos rapidamente. — Ela olhou para o filho de quem ela sabia que era melhor seguir mantendo distância. — Vamos? Ele se aproximou e estendeu o braço. Engolindo em seco, ela colocou a mão no antebraço dele. Ela estava errada. O couro não oferecia proteção alguma contra o calor da carne, a firmeza de seus músculos e a masculinidade crua que irradiava através dele. Se ela não achasse que ele iria chamá-la de covarde, ela voltaria e diria a ele que tinha mudado de ideia. Mas a única coisa que ela podia afirmar com certeza era que nunca fora covarde. Ela poderia se defender contra ele, manter uma distância segura entre eles. O problema era que ela não tinha certeza se queria.

Quando ela colocou a mão em seu braço, seu corpo reagiu como 17


se ela tivesse colocado toda sua forma nua contra a dele. Que diabo era o problema com ele para ter uma reação tão forte à sua proximidade? Ele estaria indo para a aldeia nesta mesma noite. Ele não podia ficar nesta residência, imaginando-a na cama do pai... Ele apertou os dentes fortemente até que sua mandíbula doeu. Ele não estava viajando nesse caminho em sua mente. Levando-a para o corredor, ele amaldiçoou cada respiração que enchia suas narinas, seus pulmões, com sua fragrância de jasmim. Nenhum perfume de rosa comum para ela. Nada nela era comum. Mas ainda assim ele não conseguia entender por que ela iria se casar com um homem velho quando ela poderia ter um novo filho. — Peço-lhe desculpas por minha insensibilidade em questionar sua fertilidade. Eu não queria trazer lembranças tão devastadoras. — A dor nos olhos enquanto ela falara sobre seu filho o atingira como um soco no estômago. Se ele pudesse voltar e cortar a língua antes de começar sua inquisição estúpida, ele teria feito. — O menino nunca está longe dos meus pensamentos, lorde Locksley. Sua morte me assombra e guia minhas ações. Como você pode ver, é para o seu bem, pois faz com que eu me apegue à sua causa. Sei que você está se esforçando para proteger seu pai de alguém que se aproveitaria dele. Garanto-lhe que não lhe desejo mal. — Ainda assim, sra. Gadstone, estou desconcertado a respeito de por que você não procuraria o amor, mas estaria disposta a se casar com um homem que é pelo menos trinta e cinco anos mais velho do que você. — Eu conheço o amor, meu senhor. Isso não dá segurança. Agora estou com falta de segurança. — Por quanto tempo você foi casada? — Nós ficamos juntos por dois anos. — Como ele morreu? Ela suspirou. — Doença. Ele teve febre. — Mais uma vez, minhas condolências. A quanto tempo? — Seis meses. — Ela olhou para ele, levantando levemente os lábios. — Você deveria pedir ao seu pai para deixar você ler nossa correspondência. Todas as suas perguntas seriam respondidas. Ele duvidou disso. Ele suspeitava que uma vida não seria longa o suficiente para obter as respostas para as inúmeras perguntas que ele tinha sobre ela. 18


— Todos os relógios da residência estão quebrados? — perguntou ela, quando passaram por um alto no corredor. Ele começou a escoltá-la em um lance de escadas. — Tanto quanto eu sei, nenhum deles está. Eles foram todos simplesmente parados na hora do meu nascimento e no momento da morte da minha mãe. — Meia hora era o tempo todo que ela tinha sido dada para segurá-lo, o tempo todo que ele tinha sido dado para conhecer seu amor. — Como sua mãe morreu? — Eu a matei. — No topo da escada, ele se virou e encarou-a, surpreso ao ver horror gravado em suas feições finamente formadas. Aparentemente, a correspondência de seu pai para ela não respondeu a todas as perguntas. — Durante o parto. Por que você acha que ele me chamou de Killian? Seus olhos se arregalaram levemente. — Tenho certeza que é apenas coincidência. Ele não seria tão cruel com uma criança, para rotulá-lo de assassino. — Eu não estou certo que a crueldade era sua intenção. Ele apenas queria garantir que nenhum de nós jamais esqueceria. Eu acredito que é importante que você entenda como que e a vida aqui em Havisham Hall. Vamos começar por aqui, vamos? — Examinando as chaves no anel, ele encontrou o que precisava, enfiou na fechadura, girou e abriu a porta. Ele varreu as teias de aranha antes de estender o braço em direção à sala enorme, com suas paredes espelhadas que eram de dois andares de altura. — Esse é o grande salão. Eles organizaram um baile magnífico aqui no Natal antes da morte da minha mãe.

Portia hesitou apenas um segundo antes de pisar o limiar e entrar no patamar que levava às escadas que desciam para a sala com cheiro de mofo. Com cautela, esperando que o chão sem graça cedesse sob seus pés a cada passo, caminhou até o corrimão. Ela queria envolver as mãos em torno dele, permitir que ele fornecesse algum tipo de apoio, mas estava coberto por uma espessa camada de poeira. Até onde ela podia ver, tudo estava adornado em camada de pó, decorado com teias de aranha rendadas. Nas janelas sujas que cobriam uma parede, as cortinas vermelhas desbotadas foram puxados para trás, revelando partículas de poeira valsando à luz do sol da tarde que entrava e tocava nos vasos cheios de talos de flores secas, suas flores há muito perdidas. — A caminho de daqui, passamos por várias salas com portas fechadas. Eles estão todos negligenciados como este? — Ela perguntou suavemente, quase reverentemente. O cenário parecia exigir silêncio. 19


— Sim. Depois do que aconteceu com minha mãe, meu pai ordenou que nada fosse tocado, que tudo na residência fosse deixado exatamente como estava quando ela morreu. Tentando entender que tipo de impacto crescer em uma casa como esta poderia ter em um rapaz, ela olhou por cima do ombro para ele. Ele estava alto e ereto, seu rosto sem demonstrar tristeza, nem felicidade, nem alegria, nem tristeza. Ele estava acostumado a essa tentativa bizarra de manter tudo como estava. — Mas nada permanece o mesmo, nada fica inalterado. — Não, não fica. — Você está crescido agora. Tenho a impressão de que é você quem gerencia as coisas. Por que você não arrumou os quartos, restaurou ao que eles eram? — Porque isso iria perturbar meu pai, assim como contratar pessoal adicional, ter novos rostos andando pela casa, iria perturbá-lo. Então ele viveu nesta casa sombria cheia de suas memórias vazias. Para o pai dele. Ela não podia deixar de acreditar que ele era um homem capaz de grande amor, grande compaixão. Ela tinha um pensamento fugaz que, se ela confessasse tudo a ele, ele faria o certo. Que moça idiota ela seria se pensasse que ele a olharia com outra coisa que não nojo. Não, ela estava sozinha nessa questão, tinha que cuidar de suas próprias necessidades, proteger o que era dela. — Você não pode competir com ela, Sra. Gadstone. Minha mãe. — Eu não tenho essa intenção. Sei o que seu pai exige, o que ele quer de mim. Eu aceito todas as limitações do nosso relacionamento. — Por que você está disposta a se contentar com tão pouco? Porque foi sua única oportunidade de ganhar tanto. — O filho que eu lhe der será um senhor. — Ele será o sobressalente. Ele não herdará até eu morrer. Na verdade, ela duvidava que ele herdaria. Locksley se casaria, ganharia seu próprio herdeiro. — Ainda assim, ele será o Senhor St. John qualquer que seja seu nome. Ele se moverá nos círculos certos, terá oportunidades e se casará bem. Quanto a mim, serei a marquesa, também me moverei nos círculos certos e estarei muito bem provida. Ele me prometeu uma casa de dote. — Ela olhou por cima do corrimão. — Podemos ir para baixo? — Se você quiser. Não era que ela gostasse, era mais que ela precisava se livrar das 20


dúvidas que tinham começado a surgir. Se existia outro jeito de se salvar, ela não conseguia ver. Ele ofereceu seu braço; ela quase recusou, exceto pelo fato que ela não conseguia usar o corrimão empoeirado. Quando ele começou a conduzi-la pelas escadas cobertas com o carpete vermelho desbotado, ela não gostou de notar o quão forte ele era, quão resistente. Ou que ele cheirava a madeira de sândalo tingido de laranjas. Assim que chegaram ao centro da sala, ela recuperou a mão, virou-se em um círculo lento e imaginou que todo aquele salão teve uma vez uma orquestra tocando na varanda, os convidados dançando valsa, Lorde e lady Marsden divertindo-se. — O que você vai fazer depois que ele se for? — Ela perguntou baixinho. — Perdão? Virando-se para encará-lo, percebeu, com sua expressão vazia, que, embora pudesse considerar seu pai velho e enrugado, ele não aceitara de verdade que seu pai estava no fim de seus anos, mas ele não estaria aqui para sempre. — Quando seu pai morrer, você restaurará essa mansão à sua magnificência? — Eu não tinha pensado nisso. Ele realmente não tinha. Ela podia ver em seus olhos, e ela gostava dele por isso. Como deve ter sido crescer aqui sozinho? Só que ele não estava sozinho. O duque de Ashebury, assim como o conde de Greyling e seu irmão gêmeo eram protegidos de seu pai, e todos moravam aqui quando eram crianças. — Está certo. — Eles se referem a todos vocês como os Sedutores de Havisham. Ele arqueou uma sobrancelha escura, seu olhar se intensificou como se pudesse ver diretamente em sua alma e ler cada história ali gravada. — Parece que você já se move nos círculos certos. Droga. Ela não estava sendo tão cautelosa quanto deveria quando falasse com ele. — Eu li as folhas de fofoca. — Precisando distraí-lo, ela deu toda a atenção para a parede de janelas, as portas de vidro que levavam para fora. — Podemos sair para o terraço? — Eu insisto. Faz parte da turnê. Ele liderou o caminho, sacudiu o ferrolho e abriu a porta. — Depois de você. 21


Ela pisou na varanda de pedra, caminhou até o corrimão de ferro forjado e ficou olhando para o que, obviamente, havia muito tempo fora jardins, mas que já havia sido tomados pela natureza. Ainda aqui e ali permaneciam evidências de que grande cuidado havia sido tomado com ele. — Nenhum jardineiro. — Não. Nossa equipe externa é formada por um chefe dos criados que também serve como cocheiro e um par de rapazes estáveis. — Uma pena. Eu gosto tanto de jardins e flores. Seu pai nunca sai da residência então? — A resposta não foi fornecida em sua correspondência? Ela desviou o olhar para ele. — Eu não pensei em perguntar. Cruzando os braços sobre o peito, ele apoiou o quadril no corrimão, criando a imagem da masculinidade crua. — Eu me pergunto o que mais você poderia não ter pensado em perguntar. — Eu estava me esforçando para conversar, meu senhor. Eu não me importo se ele sai. Eu obtive as respostas para as perguntas que importavam para mim. — Talvez eu deva ler sua correspondência. Eu gostaria de saber quais perguntas importavam para você. — Eu sou um livro aberto, meu senhor. — Eu duvido muito disso. — Você é um tipo suspeito. — Estou errado? Não, com certeza ele não estava. Ela realmente tinha segredos que manteria cuidadosamente guardados dele e de seu pai. Ela duvidava que o marquês se importasse, mas suspeitava que o filho dele se importaria muito. Marsden queria apenas um herdeiro. Locksley queria entendê-la. — Eu suponho que você vá para Londres, para a temporada. Ela gostaria de saber os meses que ele estava fora. — Ocasionalmente. Não com a frequência que deveria. Eu não gosto de deixar meu pai sozinho. Embora pareça que ele pode entrar em confusão tanto quando estou aqui, ou enquanto eu estiver fora. — Comigo, você não vai deixá-lo sozinho. Você pode ir a Londres tanto quanto quiser. Eu também ouvi que você gosta de viajar. Onde você pretende se aventurar para a próxima vez? 22


— Eu não viajei para nenhum lugar já há alguns anos. Não tenho planos para nenhuma viagem num futuro próximo. — Mas, afirmo novamente, comigo aqui, você é livre para fazer o que quiser, ir onde quiser. — Por que me passa a impressão de que você está se esforçando para se livrar de mim? Porque ela era boba e ele não. Ainda assim, ela sabia o valor de um bom blefe. — Estou simplesmente tentando ser uma mãe adequada para você. Dar-lhe alguma liberdade. Diminuir seus fardos. Desdobrando os braços, ele se adiantou e tocou o polegar nos lábios dela, antes de muito lentamente delineá-los, seu olhar fixo em sua boca. Calor bateu nela. Enquanto ele estava apenas acariciando, parecia que ele estava traçando ao longo da própria essência dela. — Tenho que confessar, sra. Gadstone, que vou ter muita dificuldade em ver você como minha mãe. — Você prometeu se comportar. — Soando sem fôlego, sua voz rouca, cada parte do seu corpo ligada com o dele, ela o amaldiçoou por sua habilidade de despertar a vida que ela estava se esforçando tanto para manter protegida. — Então eu prometi. Mas você ainda não é casada. Parece que devemos pelo menos provar um ao outro antes de você ser. Ele se mudou. A mão dela subiu para o centro do peito dele, duro e firme. Sob seus dedos, ela podia sentir o batimento constante de seu coração, a tensão correndo por ele. — Não. Seus olhos ficaram pesados, sonolentos. — Com medo que você goste demais? Aterrorizada que ela realmente estivesse apaixonada por isso. Embora ele sem dúvida estivesse testando sua lealdade. — Estou prometida a seu pai. Ele inclinou a cabeça ligeiramente. — A noiva é um pouco exagerada, não é? Você respondeu a um anúncio. Não é como se ele a visse do outro lado do salão de baile, enredasse-se em sua beleza e cortejasse você. Antes de hoje, você nunca conheceu. — Ainda assim, devemos nos casar. — O que pode doer em simplesmente ter uma amostra? — Apesar de sua mão empurrando-o, ele conseguiu inclinar-se até que sua respiração roçou sua bochecha. — Ele nunca vai saber. 23


— Eu saberei. — Então você está com medo. Eu aposto que você é tão consciente de mim quanto eu sou de você. — Você perderia essa aposta. — Prove-o. — Seus lábios, macios e quentes, pousaram no canto de sua boca. — Prove que você não está atraída por mim, que não há nada entre nós. — Ele pressionou os lábios para o outro canto. — Certamente sua determinação em se casar com meu pai não será desfeita por um beijo. Era perigoso, muito perigoso. Ela precisava empurrá-lo para longe, sabia que era o certo, mas sua força parecia deixá-la enquanto ele mordiscava seu lábio inferior. Seus olhos se fecharam quando o calor a inundou. Sua ternura a pegou desprevenida. Fazia tanto tempo desde que alguém lhe mostrara alguma ternura, já que alguém a atraíra com uma leve lambida na costura de sua boca. Ela não pôde evitar que o gemido escapasse, e ao ouvir ele deve ter visto ela se render, porque a gentileza recuou e sua boca desceu sobre a dela, quente e dura, faminta e gananciosa. Ela deveria empurrá-lo para o lado, chutá-lo, pisar no pé dele, mas a consciência estava brilhando entre eles desde que ele abriu a porta. Ele era jovem e viril. Onde estava o mal em um último beijo da juventude, de estar em braços robustos e fortes, de ter seus seios achatados contra um peito firme e largo? Tudo dentro dela gritava que ela deveria correr. Mas sua boca estava trabalhando sua deliciosa e gloriosa magia. E ela se derreteu contra ele.

Capítulo 3 Foi o pior erro que ele fez em sua vida. Pior do que o tempo que ele enfureceu um senhor da guerra tribal ao flertar com sua filha ou nadar no Nilo e quase se tornar o prato principal de um crocodilo ou interpretar mal o tempo e ser pego em uma nevasca no Himalaia. Ele sabia que tinha cometido um grave erro no julgamento, incitando-a até que ela finalmente abriu a boca para ele e acolheu seu ataque. Se ele tivesse pensado por um minuto que seu pai tinha sincero afeto por essa mulher, se ele achava que ele a via como algo diferente 24


de um meio para um fim, ele não teria se entregado, teria mantido distância, teria sido fiel à sua palavra para permanecer um cavalheiro. Mas aqueles lábios deliciosos que soltavam tais réplicas azedas, que davam somente um leve toque quando ela sorria, aquele prazer prometido que seria encontrado em seus braços, eram simplesmente muito tentadores para qualquer homem mortal resistir. Ele apenas queria um gosto, um gostinho, e então ele poderia se mover para uma moça de taberna esta noite. Só agora ele sabia que isso seria quase impossível. Ela tinha gosto de hortelã-pimenta, e ele suspeitava que, se folheasse sua bolsa, encontraria um pouco dos doces duros. Ela sem dúvida chupou um, assim como ela estava agora chupando sua língua, levando ele à distração, fazendo com que ele apertasse seus braços ao redor dela com mais força. Ela era ousada, ardente, tão aventureira quanto ele. Seu pai queria uma mulher que conhecesse o corpo de um homem. Ele tinha a sensação de que a sra. Portia Gadstone podia virar um homem do avesso, torcê-lo e fazê-lo agradecer por mais. Puxando a boca da dela, ele olhou para ela. Seus olhos estavam aquecidos, sua respiração superficial. Empurrando seus ombros, ela recuou, encostou-se ao corrimão e encarou-o como se não tivesse feito nada para se envergonhar. — Espero que tenha gostado do que teve, meu senhor. Quando eu estiver casada com seu pai, não haverá mais amostras. Tão gentil, tão calma, mas o rubor em suas bochechas a entregou. Ela não estava aparentando ter sido tão afetada pelo beijo como ela estava se esforçando para aparecer. O que a fez aprender a proteger suas emoções assim? O que havia acontecido para fazê-la tão cautelosa em revelar como ela realmente se sentia? Ela não demonstrou nada, daquilo. Ele duvidava que descobriria alguma coisa sobre ela lendo a correspondência, pelo menos nada que estivesse abaixo da superfície. Cada palavra que ela falou foi calculada para revelar apenas o suficiente para satisfazer. Mas ele também era mestre em manter distância, não mostrado nada de si. Ele não queria conhecer ninguém bem, ainda menos que eles o conhecessem. O coração estava melhor protegido dessa maneira. Se ninguém se importasse, ninguém poderia fazê-lo afundar no desespero. “Proteger sua sanidade a todo custo,” esse era seu mantra. — Eu lhe garanto que você não tem nada com que se preocupar. Eu nunca matei meu pai. E as mulheres casadas nunca foram do meu gosto. Eu não tenho respeito por aqueles que se envolvem em engano. Ele pensou ter visto a menor das hesitações. Embora talvez fosse 25


simplesmente alívio, por saber que uma vez que os votos fossem trocados, ele daria a ela um amplo espaço. Com um suspiro, ela olhou ao redor. — Acredito que já vi o suficiente, lorde Locksley. Seu pai sem dúvida está começando a se preocupar. Eu deveria voltar para ele. — Certamente, depois de tal intimidade, podemos ser um pouco menos formais. Por favor me chame de Locke. —Ele ofereceu seu braço. — Eu acredito que posso fazer o meu próprio caminho. — Como se para provar isso, ela avançou, seus saltos clicando sobre as pedras, assim que ela cruzou a soleira. Enquanto ele seguia a uma distância discreta, ele gostava dessa visão dela, do conjunto rígido de sua coluna, do sedutor balanço de seus estreitos quadris. Fechou a porta do terraço, seguiu-a pelas escadas e começou a trancar a entrada do grande salão. — Isso é realmente necessário? — Ela perguntou. — Com apenas adultos morando aqui, certamente é o suficiente simplesmente dizer a eles para não abrirem as portas. Depois de trancar a porta, ele se virou para ela. — Aparentemente o fantasma da minha mãe não pode viajar através de portas trancadas, então quanto mais delas estiverem trancadas, mais provável é que ela permaneça no pântano. Ela ficou boquiaberta para ele, os olhos arregalados de surpresa. — Não me diga que em toda a correspondência trocada, meu pai deixou de mencionar que a propriedade é assombrada? — Certamente você não acredita nisso. — Claro que não acredito. Mas ele sim. Tenho certeza que uma vez que ele tenha visitado sua cama esta noite, ele irá avisá-la para trancar sua porta depois que ele partir e nunca dormir com uma janela aberta. Nunca saia nos pântanos à noite. Ela vai te pegar. — Precauções para fazer jovens rapazes se comportar. — Mas eu não sou mais um jovem rapaz, mas as precauções continuam. — Eu suponho que eu deveria estar aliviada, então, já eu que não acredito em fantasmas também. — Girando em seu calcanhar, ela desceu as escadas. Ele gostou muito dessa visão, teve que aproveitar enquanto podia. Ele havia dito a verdade para ela. Ele não iria cornear seu pai. 26


Depois que se casassem, ele a evitaria como se carregasse a peste. Ele alcançou-a no vestíbulo, ficando apenas alguns centímetros de distância dela, enquanto entravam na sala de estar. Seu pai estava caído na cadeira, os olhos fechados. Sua mão foi para o peito. — Meu Deus. — Ela se virou para Locke, o pânico refletido em seus olhos. — Ele está morto? Ela parecia genuinamente preocupada, mas depois, com a morte prematura antes de os votos serem trocados, ela perderia a casa do dote e qualquer outra coisa que seu pai lhe tivesse prometido. Seu pai soltou um ronco estrondoso. Com um gritinho, ela pulou de volta. Rindo, Locke passou por ela. — Para alguém que não acredita em fantasmas, você é terrivelmente nervosa. — Eu temi que ele estivesse morto. — Ainda não. Ele está simplesmente propenso a adormecer em momentos estranhos. — Ele se ajoelhou ao lado da cadeira, enrolou a mão no ombro do pai e deu-lhe uma pequena sacudida. — Pai, acorde. Os olhos de seu pai se abriram, desfocados, distantes. — Linnie está chamando por mim? Seu apelido para a mãe de Locke, Madeline, que aparentemente detestava ser chamada de Maddie. — Não. — Bom. Eu tenho tempo para me preparar para o jantar. Ela despreza quando estou atrasado para o jantar. — Sra. Gadstone está jantando com você esta noite. — É mais fácil trazê-lo ao presente do que esmagá-lo, fazendo-o enfrentar a verdade de seu passado. — Sra. Gadstone? — Não conheço a sra. Gadstone. Locke olhou por cima do ombro e arqueou uma sobrancelha para Portia. Está vendo no que você está se metendo? Ela entrou na frente do marquês. — Eu sou a Sra. Gadstone, meu senhor. Portia Gadstone. O rosto de seu pai se iluminou e ele estalou os dedos. — É claro. Eu me lembro agora. Você gostou da sua visita à residência, minha querida? — Foi muito esclarecedor. Colocado com cuidado, pensou Locke. — Sente-se e me conte tudo sobre isso, mas primeiro onde está o 27


vigário? Ele deveria estar aqui agora. — Tenho certeza de que ele está a caminho, — assegurou Locke. — Se você de fato o informou que ele precisava estar aqui. — Ele estava esperando que ele só tivesse feito isso em sua mente. Portia voltou para sua cadeira. Locke sentou-se no final do sofá, mais perto dela desta vez, embora ele não pudesse compreender por que ele queria menos distância entre eles. — Pai, ocorreu-me que talvez seja melhor esperar alguns dias antes de prosseguir com o casamento, dar à sra. Gadstone a oportunidade de se acostumar com o que sua vida aqui implicará. — Nem simples, nem prático, Locke. Concordei em pagar-lhe cem libras por dia, o casamento está atrasado. — Eu imploro seu perdão? — Eu assinei um contrato. Se ela não se casar hoje, tenho que pagar cem libras por dia até ela se casar. Se eu cancelar o casamento completamente, tenho que pagar dez mil libras. Locke ficou de pé. — Você ficou louco? — Claro que ele tinha. Ele ficou louco anos atrás. — Eu tive que dar a ela algum tipo de garantia de que ela não estava fazendo essa viagem por nada. Que minhas intenções eram honradas. Que eu não estava procurando tirar vantagem. Mas ela estava. Locke desviou o olhar para Portia, que estava usando um sorriso sedutor, mas quase inocente, seus olhos nele, gritando satisfação, como se ela o tivesse superado. A bruxinha. Ela mencionou o contrato. Quando ela entrou pela porta, ela já tinha sabido que não importava o quanto ele não desejasse, este casamento iria acontecer, ou ele ia pagar uma bolsa pesada para ela. Ela disse isso. Ele estava tão encantado com seus olhos malditos que não tinha pensado em questionar aquilo. — Eu quero ver este maldito contrato. — Eu pensei que você poderia querer vê-lo, — ela disse docemente. Estendeu a mão para dentro da bolsa, tirou um pequeno estojo de couro, desamarrou o cordão e retirou vários feixes dobrados de papel. Ele pegou-os da mão dela e começou a vasculhar o conteúdo. — Rasgá-los não vai adiantar, — disse ela alegremente. — Meu advogado tem uma cópia. — Eu tenho uma cópia também. Não está ajudando, pai. 28


Ele leu as palavras cuidadosamente. O marquês de Marsden pode estar louco, mas ele não era um idiota. Ele teria dado a si mesmo um caminho de fuga. E lá estava ele, cuidadosamente escondido entre um jargão de palavras. Locke quase riu em voz alta, o velho e astuto debochado. Ele era esperto. Locke deslizou seu olhar para Portia Gadstone e, pela primeira vez, claramente a viu pelo que ela realmente era. Uma mercenária, uma caçadora de títulos, alguém querendo subir acima de sua posição, e que usaria de todos os meios necessários para realizar seu objetivo, inclusive tirando proveito de um cavalheiro idoso. O tipo de mulher que ele nunca poderia cultivar para cuidar, nunca poderia amar, nunca poderia dar seu coração. Ela era perfeita. — Eu vou casar com ela.

Capítulo 4 Em horror, ainda se recuperando da proclamação de Locksley, Portia observou quando ele se virou para Marsden. — Eu suponho que você não tem objeções. O marquês sorriu —Nenhuma. Eu esperava esse resultado quando tudo foi dito e feito. Locksley se voltou para ela. — O que você diz, Portia? Muito melhor ser minha esposa do que minha mãe, não acha? — Não. — A palavra saiu dura, abrupta, mas por dentro ela estava gritando: Não, não, não, não! Ela não podia se casar com o visconde. Absolutamente não poderia. Ela estava aqui para se casar com o marquês. Um velho que achou que precisava de um herdeiro quando já tinha um. Não seu filho robusto, que fez seu interior vibrar cada vez que ele olhou para ela, seu corpo aquecer quando ele a tocou, fez todo o seu ser dissolver em uma poça aquecida quando ele a beijou. Ela não podia se casar com ele. — Não, — ela repetiu com a autoridade de sua condenação. 29


Com um estalo de língua, ele jogou os papéis no colo dela e se acomodou no sofá em uma sala insolente, com o braço apoiado nas costas, os dedos batendo alegremente. — Então o contrato é nulo e vazio e terminamos aqui. — Não. — Ela olhou implorando para Marsden. — Você e eu vamos nos casar. Foi com isso que concordamos. Ele deu-lhe um sorriso triste, as rugas mudando em seu rosto. — Foi o que discutimos em nossa correspondência, mas o contrato foi redigido de maneira um pouco diferente. Afirma que você deve me fornecer um herdeiro. — Eu não posso lhe fornecer um herdeiro se eu não for casada com você. — Você estará fornecendo a ele um herdeiro, fornecendo-me um, — disse Locksley, sua voz repleta de arrogância. Empurrando sua atenção para ele, ela queria arrancar aquele sorriso convencido de seu rosto gloriosamente bonito. Ele pensou que tinha ganhado, quando nem sabia o que ela estava lutando, o que estava em jogo. Se ela contasse a ele... Deus, se ela dissesse a ele que ele não estava sendo compreensivo, ele não entenderia. Ele a expulsaria tão brutalmente quanto a família dela. — O contrato declara que você se case e forneça ao marquês de Marsden um herdeiro. Não especifica com quem você se casa. Se você me der um filho, você, em essência, lhe deu seu herdeiro. E realmente muito mais arrumado. Se você der um filho ao meu pai, você apenas lhe dará um sobressalente. Que pode ou não herdar. Dê-me um filho e você forneceu o próximo herdeiro aparente. Honestamente, Portia, não entendo por que você não está se jogando em mim. Isso é o que você quer, não é? Um filho que herdará títulos, propriedades, poder e riqueza. É que você se opõe a ser meramente uma viscondessa em vez de uma marquesa? O título de marquesa virá eventualmente, mas talvez não em breve suficiente para suas aspirações. Ela sentiu desgosto e repulsa em sua voz. Como o casamento com ele poderia ser agradável quando ele a odiava antes que os votos fossem trocados? Mas se ela dissesse não, para onde ela iria? O que ela faria? Como ela sobreviveria? Ela não podia voltar para o que sua vida tinha sido. Isso a destruiria. Ele a destruiria. Ela levantou-se e virou-se para a lareira. Frio, tão frio. Ela desejou que houvesse um incêndio, mas duvidava que até mesmo isso a aquecesse, já que ela estava gelada até a medula de seus ossos. Ela 30


precisava encontrar uma razão para ele deixá-la de lado, enquanto assegurava que Marsden ainda iria querer ela. — Mas certamente você quer uma mulher nobre, alguém com uma linhagem orgulhosa para ficar ao seu lado. — Não era um dos requisitos do meu pai. Não há necessidade de que seja um dos meus. — Ele é um bom homem, meu filho, — disse o marquês. — Você não poderia querer um melhor. — Oh, eu suspeito que ela pudesse. Por que você não vai lá fora dar uma olhada e vê se consegue ver o vigário chegando, diga a ele que precisamos de um pouco mais de tempo? — Boa ideia. Dê a vocês dois um momento sozinho para resolver as coisas. Ela ouviu o rangido de seus ossos quando ele se levantou, o arrastar de seus passos quando ele saiu. Ela não queria ficar sozinha com o filho dele. Nunca mais ela queria ficar sozinha com ele. Ela estava ciente de Locksley, de repente, de pé ao lado dela, o calor e o poder que emanavam dele, mesmo que ele não a estivesse tocando. Por que ela teve que ser tão criticada por ele? — Você me julgou corretamente, Portia, quando disse que queria proteger meu pai. Farei o que for necessário para protegê-lo de qualquer um que ouse tirar vantagem dele ou lhe desejar mal. — Mas eu lhe disse que não lhe desejo mal. Eu lhe darei outra criança, companheirismo, ausência de solidão. — Eu não confio em você para não tirar vantagem dele. Como você viu, ele nem sempre está no seu perfeito juízo. Ela o encarou. — Então você vai se casar com uma mulher que você detesta? — Eu não tenho interesse algum em amor. Eu nunca tive. Eu assisti isso enlouquecer meu pai. Eu não vou seguir esse caminho. Mas eu preciso de um herdeiro. Eu não podia fazer melhor do que casar com uma mulher que está disposta a me deixar levá-la por trás, de joelhos ou de cabeça para baixo. Ela bateu os olhos fechados. Ela estava tentando chocá-lo, colocálo em seu lugar, fazer com que ele parasse. Essa abordagem certamente não produziu os resultados que ela queria. Ele tocou o dedo na mandíbula dela. Abrindo os olhos, ela se afastou. 31


Ele inclinou a cabeça, zombeteiramente levantando um canto daquela boca perversa. Não era exatamente a resposta no terraço. Maldito. — Você não pode negar que há uma atração entre nós, então teremos pelo menos isso. Posso assegurar-lhe que na minha cama você encontrará prazer. — Mas como você é arrogante. — Eu viajei o mundo. Eu aprendi muitas coisas boas. Você se beneficiará do conhecimento. — E fora da cama? — Nós seremos educados um com o outro. Respeitosos. O dia será seu para fazer o que quiser. A noite será minha. A maneira como seus olhos escureceram com as últimas palavras, disse-lhe exatamente como a noite lhe pertenceria. Ela não temia o que ele poderia fazer com ela; temia apenas que ela não fosse capaz de resistir a cair sob o feitiço dele. Certa vez, ela se entregou de corpo e alma para um homem que exibia confiança, ousadia, firmeza, mas cada aspecto dele empalidecia quando comparado com Locksley. Ele não apenas conhecia seu lugar no mundo, mas também o possuía, comandava-o. Ela suspeitava que ele nunca teve dúvidas, nunca se questionou. Ela foi atraída para essa autoconfiança como uma mariposa para uma chama bruxuleante brilhante. Ele poderia destruí-la muito facilmente se ela não fosse cuidadosa. Mas sem ele, ela não tinha sequer um vislumbre de esperança pela sobrevivência. — Eu vou ter uma mesada? Ele sorriu sombriamente. — Naturalmente, minha pequena mercenária. — Quantos? — O que lhe agradaria? — Um milhão de libras por mês. Ele riu, um som rico e profundo que circulou ao redor dela, através dela, e fixou residência em sua alma. — Cinquenta. — Cem. — Setenta e cinco. Ela poderia se contentar com isso, reservar o suficiente para garantir que nunca voltaria a ser uma sem dinheiro, ela não dependeria 32


totalmente da gentileza dele. Ele segurou o rosto dela, e desta vez ela ficou como estava, deulhe permissão para tocá-la. — Você nunca vai sofrer em minhas mãos. Eu posso ser muito generoso. Ela quase zombou. Ela já ouvira isso antes, mentiras pintadas tão lindamente, só que ela era jovem e ingênua o suficiente para acreditar nas falsidades, abraçá-las, fixar todas as suas esperanças e sonhos nelas. Nunca mais ela cairia sob o feitiço de qualquer homem ao ponto de perder o controle de si. — Então, no caso de você precisar de um lembrete, sempre há isso. Ele cobriu a boca dela com a sua, instigando os lábios a se separarem, depois a língua dele acariciando lentamente a dela, criando sensações que ela queria negar que trouxessem qualquer tipo de alegria. Mas o que deveria ser ganho? Ela já havia perdido sua vantagem. Ele não iria se afastar e permitir que ela se casasse com Marsden. E ela não podia arriscar sair daqui sem nada. De repente ele era sua única esperança. Se ela não o enfurecesse ainda mais, se ela o agradasse como esposa, talvez ele a protegesse com tanta vigilância e determinação quanto seu pai. Então ela se levantou na ponta dos pés, colocou os braços ao redor do pescoço dele e achatou os seios no peito dele. Ele sabia que ela era viúva. Nenhum sentido em jogar a falta tímida. Ela sabia como dar prazer a um homem. Certamente não seria difícil ter intimidade com ele. Com um grunhido, ele a puxou para ele, inclinou ligeiramente a cabeça, levou o beijo mais fundo. A fome passou por ele. Necessidade. Ele a queria. Ela podia sentir o quão mal ele pressionou contra sua barriga. Ela entendeu que era imprudente, perigoso aceitar seus termos quando ela sabia tão pouco sobre ele, exceto pelo que ouvira das fofocas. Mas ele era o menor de duas escolhas desfavoráveis. Recuando, respirando pesadamente, ele roçou o polegar sobre os lábios inchados e formigantes. — Tire um dia para pensar sobre isso. Vale cem libras para mim para que você tenha a certeza. Com isso ele a soltou abruptamente, fazendo-a cambalear para trás e se dirigiu para a porta. Por alguma estranha razão, suas palavras apagaram todas as suas dúvidas. — Eu não preciso de um dia. Isso o fez parar. Ele se virou de novo. — Você tomou sua decisão? 33


Ela chegou no momento em que respondeu ao anúncio. Ela não tinha escolha. Ela nunca teve escolha. — Eu vou me casar com você.

Locke ficou surpreso com o grande alivio que tomou conta dele. Ele não tinha percebido o quão desesperadamente ele queria que ela dissesse sim. Não que ele quisesse uma esposa, mas ele a queria em sua cama, com sua boca deliciosa e suas palavras ácidas e seus olhos de uísque. Ele gostava do jeito que ela o desafiava, suspeitava que ela estaria desafiando-o todas as noites. Eles poderiam se divertir um com o outro. Não é ideal para um casamento, mas também não é o pior motivo. Ele estendeu a mão para ela, viu quando ela respirou fundo antes de caminhar até ele e colocar a mão na dele. Ele apertou os dedos dela antes de envolver o braço em volta da dobra do cotovelo e acariciar a mão dela, onde agora descansava em seu antebraço. — É vulgar regozijar-se, — disse ela. — Você estaria fazendo o mesmo se fosse ao contrário. — Ele arqueou uma sobrancelha por suas palavras. — Você sabe que você faria. Ela deu a ele um meio sorriso que o fez desejar que os votos já fossem trocados para que ele pudesse fechar a porta e levá-la contra a parede. — Acho que vamos nos dar esplendidamente, — disse ele com absoluta fé e confiança. — Nós nos entendemos. — Não tão bem quanto você imagina. Ele encolheu os ombros. — Bem o suficiente. Eu sei tudo que preciso saber. — Ele não precisava conhecê-la melhor, não queria conhecê-la melhor. Ele não iria cuidar dela. Ela era o meio para um fim. Uma companheira de cama para ele. Um herdeiro de Havisham. Fora isso, ele não exigia mais nada dela. Enquanto ele a escoltava até o vestíbulo, a porta da frente se abriu e seu pai entrou, com o vigário a reboque e sorriu brilhantemente. — Ela concordou em aceitar você em meu lugar? — Ela realmente o fez. — Maravilha. — Ele se aproximou, pegou a mão dela, apertou-a. — Eu não poderia estar mais feliz. Você será também feliz, minha querida, isso eu prometo a você. Permita-me apresentar o reverendo Browning. Browning era apenas um pouco mais velho que Locke, 34


relativamente novo em seu posto. Não sabia por que o incomodava ver o homem segurando a mão dela por mais tempo do que julgava necessário. Ele não estava com ciúmes. Ele não se importava com ela o suficiente para ficar com ciúmes, mas era possessivo. — Vigário. — Ele não queria que a palavra saísse como um rugido, mas fez o homem magro pular para trás, soltando Portia, seu rosto se tornando um vermelho manchado. — Lord Locksley, parabéns. Então, vamos logo a isso? Ele olhou para a noiva. — Preto parece um mau presságio para um casamento. Há algo diferente de preto nesse seu baú? Ela assentiu. — Que mulher interessante não teria algo diferente de preto para usar? Ele esperava que ela fosse interessante em muitas áreas. — Por que não damos a minha noiva uma chance de se refrescar depois de sua longa jornada? — Ele assumiu que foi longa. Mas de repente, percebeu que não tinha ideia de onde ela vinha. Porém, não importava. Ela poderia ter viajado de Timbuktu por tudo que ele se importava. — Eu preciso ver o baú da minha senhora. Então, eu vou encontrar com vocês senhores na biblioteca para esperarmos só um pouco antes que os votos sejam trocados.

Ainda se recuperando da súbita mudança nos planos, Portia observou seu futuro breve marido sair pela porta. Marsden deu um tapinha no ombro dela. — Estou tão feliz, minha querida. — Eu vim aqui para casar com você. Ele olhou para ela com tristeza. — É melhor assim. Ela se perguntou se esse não tinha sido o plano dele o tempo todo. Ela se igualou à loucura com estupidez. Que tola ela tinha sido, mas então ela suspeitava que as almas mais desesperadas eram facilmente enganadas. Locksley voltou para a residência, o baú equilibrado em um dos ombros. Ela pensou que ele iria buscar um dos rapazes do estábulo para carregar, obviamente tinha julgado mal sua força. Ele poderia facilmente matá-la se ele desejasse, poderia considerar se ele soubesse a verdade sobre sua situação. Ela teria que ter muito cuidado se notasse que ele estava preocupado. 35


— Vou te mostrar o seu quarto. Siga-me, vamos subir as escadas — ele ordenou. Ela quase se opôs ao tom dele, mas percebeu que ele, sem dúvida, estaria pedindo pouco para ela. Era o preço que ela estava pagando pela segurança. Ela começou a subir as escadas. — Eu não sei se eu já conheci um senhor que pode levantar um baú com tanta facilidade. — É sempre uma vantagem para quem viaja e tem que carregar seus próprios suprimentos e equipamentos. — Eu teria pensado que você contrataria outros para isso. — Para algumas coisas, sim, mas eu gosto de garantir para que nunca eu seja surpreendido sem ter o que preciso. — No patamar, ele disse: — Para a esquerda. O corredor era largo o suficiente para que eles pudessem caminhar um ao lado do outro. Estava limpo, arrumado, mas não havia flores, nem pequenos ornamentos para torná-lo agradável. — O quarto do meu pai fica lá. — Ele virou-se ligeiramente para a esquerda. — O da minha mãe está bem ao lado do dele. Não é preciso dizer que você nunca vai pisar lá. No entanto, ele se sentiu obrigado a dizer isso. Ela se perguntou se alguma vez chegaria um momento em que ela não estivesse irritada com ele. — Onde fica seu quarto de dormir? — Fim do corredor, última porta à direita. — E meu? — Fim do corredor, última porta à direita. Ela parou de andar. Ele se virou para ela, arqueou uma sobrancelha. — Eu não vou ter meu próprio quarto? — Ela perguntou irritada. Certamente Marsden havia preparado um quarto para ela ou ele esperava que ela compartilhasse um com ele? Ele não se importaria de compartilhar, mas com Locksley? Ela estava certa de que ele dominaria o espaço. — Eu não vejo o porquê, não é? Você estará comigo a noite toda. — Ainda assim, pode ser bom ter um lugar onde eu possa ser eu mesma. — Você não está sendo você mesma agora? Ele tinha que ver algo sinistro em tudo o que ela falasse? — Eu 36


simplesmente quis dizer o meu pequeno santuário onde eu pudesse relaxar, seria muito apreciado. — O quarto é grande com uma área de estar que deve ser suficiente. Não vou incomodar você durante o dia. — Porque você tem sua biblioteca. Sentirei como se fosse uma prisioneira se for colocada em um só quarto. — Você pode usar a sala de estar. — Ele girou nos calcanhares. — O que diabos tem nesse baú? É pesado como o diabo. Então ele era humano, afinal, não algum deus que pudesse equilibrar o mundo em seus ombros. Ela teve uma satisfação sombria ao saber disso. Ele chegou ao final do corredor. — Você pode pegar abrir a porta? Ela estava tentada a ter seu tempo doce fazendo isso, mas ela precisava mantê-lo em um clima amigável para garantir que as coisas entre eles se tornassem o mais agradável possível. Depois de abrir a porta, ela o seguiu, viu quando ele colocou o baú ao pé de uma cama enorme, e não conseguiu deixar de imaginar ele deitado ali com seu corpo grande e poderoso pairando sobre ela. Sua boca ficou seca. Circundando o quarto impregnado com seu cheiro de sândalo e laranja, ela não se surpreendeu com a masculinidade absoluta, a madeira escura da mobília, o papel de seda das bordas nas paredes, o pano cor de vinho cobrindo as cadeiras e o sofá diante da lareira. Havia também uma grosseria no cenário. Apenas a quantidade mínima de mobília, nenhuma bugiganga bagunçando qualquer superfície para fornecer qualquer percepção de seu gosto. Ela supôs que estava dizendo o suficiente sobre suas preferências. Ele se importava apenas com coisas que eram úteis. Ela teria que garantir que ele a considerasse útil. — Não há penteadeira, — disse ela. — Perdão? Virando-se, ela o descobriu inclinar-se negligentemente contra uma das colunas da cama. — A maioria das senhoras exige uma penteadeira para se preparar adequadamente. — Eu vou providenciar uma para você. Era bem possível que tivesse alguma, sem uso, em outro quarto de dormir, mas como nada deveria ser perturbado... — Obrigado. 37


— Enquanto isso, vou mandar a Sra. Barnaby para ajudá-la. — Eu agradeço. Eu não vou demorar. — Leve o tempo que precisar. O vigário não vai a lugar nenhum e nem eu. — Ele se dirigiu para a porta, parou, e olhou para ela. — Não é tarde demais para mudar de ideia. Já era tarde demais antes de ela chegar. — Sua maneira de cortejar precisa de algum trabalho. Sua risada encheu a sala. — Acho que vamos nos dar bem, Portia. — Espero que sim. Vai durar por longos anos. — Nós estaremos esperando por você na biblioteca. A Sra. Barnaby pode te mostrar o caminho. Então ele se foi, deixando-a sozinha com suas preocupações. Abrindo sua bolsa, precisando de algo familiar para ajudar a resolver, ela pegou uma bala de hortelã e colocou em sua boca. Depois de colocar a bolsa na cama, caminhou até a janela e contemplou a selvageria da terra que cercava a mansão. Se o marquês nunca saísse, talvez ela pudesse domá-lo. E certamente nesta enorme mansão, ela poderia reivindicar uma pequena sala como sendo sua. Ela pressionou a testa contra o vidro, sentiu as lágrimas ameaçar caírem e amaldiçoou sua fraqueza para a perdição. Ela estava ganhando o que queria, mas não a pessoa com quem ela esperava. Em vez de alguns anos de casamento, ela teria uma vida inteira. Seria uma vida inteira antes que ela adquirisse sua casa de dote, sua independência. Se ela e o visconde se derem bem, ela sabia que os anos à frente dela seriam extremamente longos.

Entrando na biblioteca, Locke foi recebido com o riso robusto de seu pai e do vigário. Ele realmente achava que um homem de Deus deveria ser mais solene, mas Browning obviamente estava gostando do aguardente que o marquês lhe oferecera. Os dois homens estavam sentados em frente à lareira, cada um segurando um copo meio cheio de líquido âmbar. Locke foi até o aparador, serviu-se de dois dedos de uísque e juntou-se a eles, pressionando o ombro contra o suporte da lareira. Parecendo muito feliz, seu pai levantou o copo. — Felicidades para o noivo. Tomando um gole, Locke considerou. — Há a pequena questão da licença. 38


Seu pai deu um tapinha no peito. — Licença especial bem aqui. Locke estendeu a mão. — Posso? Seu pai enfiou a mão dentro do bolso do paletó, tirou o papel dobrado e entregou a Locke, que deu um rápido puxão para abri-lo. — Meu nome está sobre isso. O marquês nem sequer teve a decência de parecer arrependido. — Eu estive perseguindo você por dois anos para se casar. Você pode me culpar por cutucar as coisas? — E se eu não tivesse sido tão ingênuo? — Eu tenho uma licença em meu nome. Eu não ia quebrar minha promessa para a garota com quem ela se casaria hoje. Não fique tão descontente. Você está atraído por ela, isso era óbvio na sala de estar. Eu aposto que você a beijou quando a pegou sozinha. Ele nunca duvidou da nitidez do pai, apenas sua capacidade de permanecer na realidade. — Quanto você realmente sabe sobre ela? — Ela é forte, saudável e fértil. Isso é tudo que é necessário para ela lhe fornecer um herdeiro. Você trancou seu coração, Locke. Eu sei disso, então se você poderia amá-la nunca foi uma consideração. Nem aparentemente era amor sua consideração pela sua pequena mercenária. — Quantas mulheres responderam ao seu anúncio? — Ela foi a única. — Ele inclinou o rosto. — Parece que tenho uma reputação de ser louco. Me faz uma possibilidade arriscada. Sua mãe não teria gostado de qualquer maneira, do meu casamento. Mas ela ficará emocionada com a notícia de que você tomou uma esposa. O vigário começou a se mexer na cadeira, como se tivesse percebido que tudo dentro dessa casa poderia não estar certo. Locke não se lembrava dele ter visitado antes. — Você está bem, Browning? — Oh, sim, apenas considerando que tudo isso é um pouco convencional. — Você não ouviu que os St. Johns são raramente convencionais? Como se temendo que ele pudesse tê-los insultado, ele disse: — A igreja apreciará os novos bancos que o marquês está fornecendo. Então foi assim que ele conseguiu que o vigário concordasse em realizar o casamento aqui. Deveria saber. Todos tinham um preço, incluindo sua adorável noiva. Ele não se ressentia disso, mas tampouco sentiria qualquer calor por ela. Ele a via como pouco mais do que um alto custo. 39


Cada pensamento em sua cabeça se perdeu quanto ela entrou em um vestido de pele de alabastro azul profundo, sem mangas, revelando, o que o vestido negro mantinha coberto. Seu pescoço era longo, ombros delicados e o leve aumento que indicava que ele poderia ter julgado mal como seus seios encheriam suas mãos. Eles provavelmente transbordariam. Ele queria arrastar as luvas brancas que passavam pelos cotovelos dela tão lentamente quanto ela havia tirado a preta. Ela arrumou o cabelo de tal forma que exigia que ele bagunçasse tudo. Antes de esmagar o copo, colocou-o no suporte da lareira. Ele queria agarrá-la, levá-la ao seu quarto de dormir e ter o seu caminho com ela agora, neste exato momento. Os votos poderiam ser trocados mais tarde. O olhar sensual que ela lhe deu lhe disse que ela sabia o caminho exato que seus pensamentos viajavam. — Ela não é uma visão de beleza? — Sra. Barnaby declarou. Ela era uma visão de sensualidade crua, e ela sabia muito bem disso. Ah, mnha pequena megera. Ela pretendia fazê-lo sofrer até que ele pudesse levá-la para a cama. Ah, sim, eles iriam se dar bem esplendidamente. Seus longos passos engoliram a distância que os separava. Tomando a mão dela, ele segurou o olhar dela enquanto pressionava seus lábios em suas juntas enluvadas. — Eu aprovo. Ela piscou lentamente enquanto um canto de sua boca deliciosa se erguia. — Eu pensei que você poderia. — Afaste-se, Locke, — disse seu pai, empurrando em seu ombro. — Você não deveria estar tão perto da noiva até que esteja trocando votos. Meu filho é um selvagem. Permita-me acompanhá-la até a sala de estar. Ele certamente se sentiu incivilizado, bárbaro quando seu pai lhe ofereceu seu braço e ela colocou sua pequena e delicada mão sobre ele. Consolou-se por saber que assim que os votos fossem trocados, ele a levaria para a cama.

Corra, corra, corra! Sua mente gritou esse refrão constante enquanto o marquês a acompanhava até a sala de estar. Sentindo-se como se estivesse atravessando um pesadelo, Portia lutou para conter o tremor que ameaçava explodir a qualquer momento. Nunca em sua vida ela viu uma fome tão desenfreada nos olhos de um homem. Quando Locksley pegou sua mão, pressionou seus lábios contra ela, não importava que ela 40


usasse luvas. O calor que emanava dele era tal que ela se sentiu queimada. Quando entraram no vestíbulo, ela sabia que, se fosse inteligente, sairia direto para a porta. Ela não era inexperiente para os homens quando se tratava do que eles eram capazes, mas ela suspeitava que nada do que ela tinha aprendido a preparara para o que Locksley iria lhe dar. Ela pensou que ser provocadora lhe daria a vantagem, e tudo o que tinha feito era fazer com que ela percebesse que poderia estar completamente fora de seu elemento com ele. Mesmo agora, ela sentiu o olhar dele na nuca, atravessando os ombros nus, descendo até os quadris, e de volta. Suas mãos sem dúvida seguiriam a mesma jornada depois do anoitecer. Por que, por que, por que ela não leu o contrato com mais cuidado? Por que seu advogado não apontou suas falhas? Por que o visconde tinha que ser tão protetor do marquês? Quando entraram na sala, Marsden segurou-a enquanto o vigário ia ficar em frente à lareira. Locksley se juntou a ele lá. Ele ofuscava o outro homem. Ela não queria considerar como mais tarde esta noite ele poderia diminuí-la. Engolindo em seco, ela resistiu a sua resolução de não permitir que seu tamanho ou seu comportamento a intimidasse. Ouvindo o barulho dos pés, ela se virou e viu três criados correndo para o quarto. Todos pareciam ser apenas um pouco mais jovem que Marsden. — Permita- me apresentar minha equipe, — disse o marquês. — Eles servirão como testemunhas. Gilbert, nosso chefe de mordomo, a Sra. Dorset, nossa cozinheira, e claro, você conheceu a Sra. Barnaby. Eles fizeram uma reverência, sorriram brilhantemente, pareciam completamente à vontade, como se isso fosse uma ocorrência cotidiana. — Um prazer, — ela murmurou, se esforçando para envolver a cabeça em torno do fato de que isso estava acontecendo, enquanto se perguntava se alguma vez houvesse uma variedade estranha de convidados para um casamento. — Eu trouxe-lhe estas. — Sra. Dorset estendeu um punhado de flores murchas, seu sorriso brilhante de esperança. — Uma noiva deveria ter flores. Eu as peguei do prado. — Obrigada. Eles são lindas. A mulher fez uma reverência antes de voltar para a fila. Marsden levou Portia até o vigário, esperou enquanto ela mediu mentalmente a distância até a porta e teve um último pensamento selvagem de que 41


deveria correr para ela. Browning pigarreou. — Quem dá essa noiva? — Eu dou — Marsden anunciou, colocando a mão no braço de Locksley antes de recuar uma vez mais, de modo que agora estava ao lado de seu filho, aparentemente servindo como seu padrinho. O vigário falou sobre a santidade do casamento, como se nem ela nem Locksley realmente entendessem o significado do que estavam fazendo, como se o que estava acontecendo ali não passasse de uma completa farsa. Cada palavra batia nela como se fosse entregue com uma marreta. Se ela fosse decente, ela pararia essa afronta, mas se ela fosse decente, ela não estaria aqui. Ela manteve o olhar fixo no tecido do pescoço de Locksley, em como perfeitamente estava atado. Muito mais fácil do que olhar nos olhos dele, vendo a acusação ali, a desaprovação porque ela procurara se casar com o pai para ganhar - só o que ele achava que ela desejava ganhar não era o que ela queria obter. Depois que o vigário recitou os votos que deveria repetir, ela abriu a boca, apenas para encontrar o dedo de Locksley sob o queixo, queimando-a quando ele levantou a cabeça até que ela encontrou o olhar dele. Por que diabos o homem não teve a decência de usar luvas para uma ocasião tão solene? — Não faça seus votos para o meu pano no pescoço. — Eu não estava planejando. — Ela não teve nenhum conforto em ser uma das menores mentiras que ela disse neste dia. Por que ele teve que tornar o momento muito mais difícil ao insistir que se olhassem enquanto trocavam votos? — Repita as palavras para ela, Browning, — ele ordenou. — Eu me lembro delas, — ela disparou de volta, odiando o modo como ele a estudou como se esperasse que ela se envolvesse em algum comportamento nefasto. Mesmo sabendo que ela deveria ir embora, ela não conseguia fazer seus pés se moverem daquele ponto. Era mais que os dedos dele e os olhos dele a segurando em cativeiro. Era a autoridade absoluta que ele exercia. Ele nunca se rebaixaria a outro. Ele defenderia o que era dele. Ela sabia disso com absoluta certeza, e uma vez casados, ela seria dele. Ela deveria ter negociado termos melhores do que uma mesada e o dia pertencendo a ela, mas já era tarde demais. Depois de todo o seu cuidadoso planejamento e conspiração, como isso importava mais, ela cedera com muita facilidade. Mas ela não iria se arrepender, não quando ela estava ganhando seu objetivo final. Calmamente, e com uma voz muito mais firme do que ela sentia, 42


ela reiterou as frases, grata que notavelmente estava ausente qualquer referência ao amor, que no mínimo as promessas que eles estavam fazendo eram honestas, não hipócritas. Ela cuidaria, honraria e obedeceria, na doença e na saúde, até a morte. Ainda estava despreparada para ouvir os mesmos votos que se repetiam em sua voz forte e profunda, com os olhos penetrando os dela como se quisesse que eles marcassem sua alma. Finalmente, o dedo dele caiu do queixo dela, mas mesmo não suportando mais, ela não conseguia se afastar dele. — Temos um anel? — O vigário finalmente sussurrou. — Ah, sim. — Marsden deu um tapinha nos bolsos, um após o outro, como se tivesse esquecido onde o colocara. — Aqui está. — Ele entregou a Locksley. — Era de sua mãe. Com suas palavras, o estômago de Portia apertou com tanta força e tão dolorosamente que ela quase dobrou. — Você está certo sobre isso? — Locksley perguntou baixinho. — Completamente. Solenemente, ele se virou para Portia, pegou a mão dela Ela enrolou o punho. Não posso. Ela olhou para Marsden, para a esperança e a alegria refletidas em olhos tão verdes quanto os do filho. — Você amava sua esposa. Seu filho e eu não nos amamos. Isto é simplesmente um casamento de extrema conveniência. Você não pode realmente querer que eu use seu anel precioso. — Linnie quer que você use. Eu compartilhei suas cartas com ela. Ela aprova você. Oh, Deus, ele realmente estava louco. Talvez Locksley não estivesse apenas salvando seu pai dela, mas salvando-a de seu pai. Embora o visconde não se importasse nem um pouco com ela, então por que ele se importaria se ela estivesse atrelada com um louco? — Diga algo com sentido para seu pai, — ela implorou a Locksley. — Amarre um pedaço de barbante ao redor do meu dedo. Isso funcionará muto bem. — Uma vez que ele determinou seu curso, não há nenhum outro sentido para ele. — Mas zomba do que eles compartilharam. — Não, não, minha querida, — disse Marsden. — É um testemunho de nossa crença de que você será uma esposa verdadeira e boa para nosso amado filho. 43


Só que ela não era boa. Se ela fosse, ela não estaria aqui agora. Se ela fosse boa, ela iria embora. Locksley apertou a mão dela. — Desenrole seus dedos. — Você não pode querer fazer isso. — Nem queria me casar hoje, mas aqui estou eu. Abra sua mão e vamos fazer logo isso. Relutantemente, ela fez o que ele pedira, viu quando ele deslizou a luva pelo braço, por cima da mão, antes de passá-la para o pai. Respirando fundo, ele guiou um lindo anel de pequenos diamantes e esmeraldas em seu dedo. Ele se encaixava perfeitamente, o que, por algum motivo, tornava tudo ainda pior. Ela sentiu o peso extremo disso, o calor que absorvia da pele dele enquanto ele a segurava. — Com este anel, eu te recebo, — disse ele solenemente. Ela ergueu o olhar para ele, a magnitude do que eles acabaram de fazer, tornando difícil respirar. Ela era casada. Com Visconde Locksley. Não foi o que ela planejou acontecer. Ela tinha um desejo insano de pedir desculpas, para dizer que sentia muito. Ela seria tão boa e verdadeira esposa quanto poderia ser, mas isso não significava que ele não viria a odiá-la. Que ela pode até vir a se odiar. — Agora eu os declaro senhor e lady Locksley. Você pode beijar a noiva. Seu marido - seu marido! – ele baixou a cabeça, dando-lhe o que ela assumiu que seria o último beijo casto que ele lhe daria. Sua boca roçou levemente a dela como se não tivesse acontecido nenhuma paixão entre eles antes. Ele mal havia recuado antes de Marsden passar os lábios por sua bochecha. — Bem-vinda à família. Eu não posso te dizer como você me fez feliz neste dia. Ela desejou poder reivindicar felicidade também. Então ela se viu cercada pelos servos, apertando a mão dela, abraçando-a, oferecendo parabéns. Mas quando ela olhou por cima do ombro para o marido, ele estava olhando para ela como se tivesse acabado de descobrir algo sobre ela que preferia não saber.

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Capítulo 5 Locke

não tinha conseguido levar sua esposa até o quarto depois da cerimônia porque a sra. Dorset preparara um banquete que estragaria se não fosse servido imediatamente. À mesa, na pequena sala de jantar, sentou-se à frente do pai, com a esposa - a mulher dele! - à esquerda de Locke, perto do coração frio, e do vigário à direita. Enquanto tomava seu vinho, considerou a possibilidade de que sua esposa mercenária aparentemente estivesse de posse de uma consciência. Quando ela questionou a aceitação do anel se surpreendeu além de qualquer medida. Ele esperava que ela desse uma olhada nas joias cintilantes e salivasse. Mas ela não tinha. Aparentemente ela não estava confortável com isso. Mesmo agora, depois de tudo, ela brincava com ele, girava como se quisesse removê-lo. Ele não achava que era porque simbolizava que ela era casada. Era porque simbolizava o amor e entre eles não havia nenhum, nem mesmo um vislumbre. Nem jamais existiria. Ambos sabiam disso. — De onde vem sua família, Lady Locksley? — perguntou Browning, e ela se encolheu um pouco, obviamente ainda não satisfeita com o endereço. Outra surpresa. Ele teria pensado que ela aceitaria isso, insistiria em que ele se dirigisse a ela como tal. — Yorkshire, — ela disse baixinho. — A propriedade da família do conde de Greyling é em Yorkshire, — disse Locke, perguntando-se por que ele não pensou em fazer a mesma pergunta para ela no início do dia. Mas então na hora ele não se importava de onde ela tinha vindo. Ele só se importava que ela partisse com a devida pressa. Pela primeira vez desde que tinham tomado seus lugares, ela olhou para ele. Ele não sabia por que ele teve tanta satisfação em finalmente ter sua atenção. — Eu não estou familiarizada com isso. — Você deve notificar Gray e Ashe do seu casamento, — ordenou seu pai. — Peça-lhes que nos visitem. Nós vamos celebrar. — Estou ansioso para conhecer seus amigos, — disse ela. — Eles são mais irmãos que amigos. — Ele tinha seis anos quando eles chegaram aqui. Eles cresceram juntos, compartilharam aventuras, travessuras e perdas, o último criando um vínculo mais forte entre eles 45


do que poderia ter sido de outra forma. — Você tem muita sorte de tê-los então. E ele de repente se perguntou quem estava lá para ela. A maioria das mulheres enchiam a igreja com parentes e amigos. — Nós vamos ter que convidar sua família para visitar também. Delicadamente, ela tocou o guardanapo nos lábios. — Eu não tenho família. — Nenhum parente que se importaria que você é agora uma viscondessa? — Ninguém. Então quem diabos ela queria impressionar? Não que ela não estivesse ganhando muito para si mesma. Talvez isso bastasse, que era tudo sobre ela. Ela e seu filho. Ela queria que qualquer futura criança a quem ela desse à luz tivesse vantagens. Com ele como pai, eles certamente o fariam. — Lorde Marsden... — começou ela. — Você deve me chamar de pai, — ele interrompeu. — Eu não poderia ser tão presunçosa. — Estamos relacionados agora. Eu insisto. Ela inclinou a cabeça ligeiramente como se concordasse, mas ele não acreditou nem por um momento que ela realmente estava cedendo ao pedido de seu pai. Ela estava simplesmente se esforçando para evitar uma discussão durante o jantar. Aprendiz rápido, sua esposa. — Gostaria de saber se você pode ser gentil o suficiente para me dizer um pouco sobre Locksley como um rapaz. Por que diabos ela pediria para ele fazer isso? Gargalhando, seu pai se recostou na cadeira. — Ele não deixou você fazer nenhuma pergunta? Não, suspeito que ele não tenha feito isso. Tomando outro gole de vinho, Locke a estudou, tentando decifrála, saber o que ela estava procurando. Incomodava imensamente que ela parecesse genuinamente interessada. Portia não se importava com ele, então o que ganharia sabendo alguma coisa sobre o passado dele? — Ele não gostava de usar sapatos, — disse seu pai. — As pessoas pensaram que eu o negligenciei porque ele estava sempre correndo descalço, mas ele simplesmente se recusava a ficar de sapato. 46


— Eu gostava da sensação de grama sob meus pés, — ele se sentiu obrigado a admitir. — Além disso, é mais fácil subir descalço. — Ah, sim, ele era um macaquinho. Escalava tudo. Árvores, escadas. Certa vez, eu o encontrei agachado perto do teto da minha biblioteca. Quase me deu um ataque de aflição. De alguma forma, ele se enfiou no canto e subiu. Ele tinha apenas três anos. Se ele tivesse caído... Eu ainda começo a suar quando penso sobre esse resultado horrendo. Assim que o peguei com segurança, bati-lhe até minha mão cansar. Eu me arrependi depois, fiquei com medo de acabar com seu senso de aventura. Uma semana depois, ele estava subindo pelas prateleiras. Ela examinou-o com tanta intensidade que ele queria se mexer na cadeira. Em vez disso, ele bebeu mais vinho. Ele não queria que ela o investigasse, decifrando-o, conhecendo os detalhes de sua criação. Nada deveria ser desvendado. No que lhe dizia respeito, não havia necessidade de palavras ditas entre eles. — Você não estava com medo de estar tão alto? — Ela perguntou. — Eu não me lembro do incidente em tudo. — Mas você se lembra de subir? — Árvores, paredes externas. Onde quer que eu pudesse colocar uma mão ou um ponto de apoio. — Você ainda escala? — Ela parecia realmente interessada, o que aumentou sua culpa, já que ele estava interessado em apenas uma coisa dela. — Em uma das minhas viagens, escalei uma pequena montanha. Escalada tem suas vantagens. Vou subir em você antes que a noite termine. — De repente ela corou, e ele se perguntou se ela tinha lido seus pensamentos. — Talvez eu te leve para escalar algum dia. — Gostaria disso. Eu escalei árvores quando era menina. Gostava de me esconder. Eu era meio que uma idiota. — De quem você estava se escondendo? Ela riu levemente. — Oh, você sabe, jogos, brincadeiras, escondeesconde, esse tipo de coisa. Com base na maneira como ela não segurou seu olhar, ele não estava certo de que os jogos estavam envolvidos. O que isso importava? Por que eles estavam discutindo isso? Ele não queria saber sobre sua infância, seu passado ou qualquer outra coisa. Ele não queria vê-la como uma menininha com tranças, levantando as saias e subindo em uma árvore. 47


O que importava agora era que ela estava em busca de ganhos e, por causa disso, ele havia começado o dia solteiro e acabado casado e ainda não havia experimentado totalmente o produto. Ela voltou sua atenção para o pai dele. — Você subiu em árvores, meu senhor? — Linnie estava sentada em uma árvore quando a conheci. Ela era a alpinista. Me persuadiu. Desafiou-me na verdade. Me chamou de covarde. Eu tive que mostrar a ela, eu te digo. Então eu subi. Do nosso poleiro, vimos a noite cair. Foi tão bonito. Com ela, eu vi como eu nunca tinha visto antes, reconheço a grandiosidade disso. Mas então era hora de ir para casa. E eu congelei. Eu estava bem, enquanto eu estava olhando para cima. Olhar para baixo fez meu estômago se agitar. — Como você desceu? — Perguntou Portia. — Ela pegou minha mão e me disse “mantenha os olhos em mim, eu não vou deixar você cair." Eu tinha doze anos, ela oito anos. Nunca tirei meus olhos dela. Mas ainda assim caí de qualquer maneira, forte e rápido. — Você ficou gravemente ferido? Ele piscou para Portia, sorriu com boa lembrança. — Eu me apaixonei por ela. Então Locke vem naturalmente com seu amor por escalar. Ele pegou isso de sua mãe. Ele não sabia disso, nunca tinha ouvido essa história, só sabia que eles se interessaram um pelo outro desde cedo. Não querendo entristecer seu pai, ele evitou fazer perguntas sobre sua mãe. Talvez por si mesmo também, porque ele não queria saber o que ele poderia ter perdido por não ter ambos os pais presentes em sua vida. — Você a amava há muito tempo, — disse Portia, sua voz cheia de um sentimento de admiração. — Toda a minha vida. Bem, exceto nos primeiros doze anos, mas eles dificilmente contam. Quando a conheci, foi como se minha vida começasse de novo. — Ele deu um tapinha na mesa antes de levantar a taça de vinho. — E falando da vida começando de novo, estamos aqui para celebrar um casamento. Para meu filho favorito e minha nova filha. Que vocês nunca tire os olhos um do outro. Portia ergueu o copo, mas não olhou para Locke. Ele suspeitava que era porque ela não queria que ele visse as lágrimas que haviam se acumulado, mas seu perfil as revelou brilhando no canto do olho. Foi uma revelação. Ela era sentimental, com um coração suave que ela não queria que ele visse. 48


Entornando o vinho que restou em seu copo, ele teve um desejo insano de dizer a ela que ele não a deixaria cair. Mas ele manteve seus pensamentos para si mesmo porque sabia por experiência própria que, ao longo daquele caminho, estava a loucura.

Depois do jantar, Portia e Locke se retiraram para a biblioteca, onde serviram um copo de vinho para cada um deles, enquanto seu pai acompanhava o vigário até sua carruagem. Eles se sentaram diante da lareira, em um silêncio constrangedor, o único som que se ouvia era o crepitar do fogo que ardia na lareira. No entanto, apesar de todo o calor gerado, ela não conseguia se aquecer. Seu marido - meu Deus, marido cujos olhos nunca se desviaram dela como se esperasse que ela tentasse fugir com a prata da família. Ele achava que ela era uma mercenária quando sabia que tudo bem e bem que o dinheiro não poderia protegê-la com tanta eficiência quanto ele e sua posição na sociedade poderiam. Ocorreu-lhe que talvez ele estivesse mentalmente despindo-a, mas por que se preocupar em fazer isso quando poderia levá-la ao seu quarto e arrancar suas roupas com tanta pressa quanto ele desejasse? Com base em seus primeiros beijos fervorosos, ela suspeitava que seu acoplamento seria rude e rápido. E frequentemente. Ela não se lembrava de ter encontrado um homem que pudesse parecer tão viril e capaz quando não fizesse nada além de sentar, bebericar e encará-la. — Quanto tempo leva para se dizer adeus a um vigário? — Ela finalmente perguntou, olhando para as chamas, porque era mais fácil do que olhar em seus olhos e ver a luxúria por ela, refletida ali. Saber o quanto ele a queria era uma espécie de moeda, se ela pudesse determinar como gastá-lo sem irritá-lo. — Eu suspeito que meu pai esqueceu que estávamos esperando por ele, e ele se retirou para seus aposentos. Ela se atreveu a olhar para ele então, o modo como os dedos longos dele estavam enrolados em volta da haste do vidro, e tentou não pensar em como eles poderiam se fechar em torno dela mais tarde. — Você deveria verificar ele? — Ele é um homem adulto. Ela abaixou a cabeça, e deu-lhe um sorriso triste. — Ainda hoje cedo você pensou que ele era incapaz de escolher uma esposa. — Há uma enorme diferença entre decidir se deve se recolher durante a noite e decidir se deve se casar. Bem, havia isso, ela supôs. Engolindo em seco, ela se forçou a 49


segurar o olhar dele. — Eu suponho que vamos consumar nosso casamento hoje à noite. Nunca tirando os olhos dela, ele abaixou a cabeça ligeiramente. — Depois de terminar seu porto e ficar um pouco mais relaxada. — Estou relaxada. Ele simplesmente olhou para ela. Ela não estava, droga. Mas era imperativo que consumassem o casamento, que ele não fosse capaz de reivindicar uma esposa imprópria, que ele não tivesse nenhuma justificativa para uma anulação. Não que ela quisesse que ele visse o desespero nela ou entendesse a importância de seu lugar em sua vida. — Talvez eu deva ir na frente, que a Sra. Barnaby me ajude a preparar... — Eu vou estar fazendo todo o preparo que precisa ser feito. — Eu simplesmente quis dizer que ela poderia me despir... — Eu vou me despir também. — Eu pensei em ter alguns momentos sozinhos, para me preparar, para vestir minha camisola... — Você não vai precisar de uma camisola. — Em algum ponto... — Não essa noite. — Você tem que ficar me interrompendo constantemente? Ele deu-lhe um sorriso diabólico que prometia promessas malcriadas. — Não vejo sentido em atrasar nossa partida para o andar de cima com palavras que não vão mudar nada. Termine seu porto. Ela tomou apenas um gole, porque ela não ia ser ordenada sobre isso. Ela também tinha expectativas, e elas não incluíam se curvar a todos os seus desejos. Ele poderia simplesmente esperar até que ela estivesse pronta. Olhando ao redor, ela concentrou sua atenção em um canto distante da sala. — Foi aí que você se enfiou e subiu ao teto? Ele nem se incomodou em olhar para trás. — Pelo que entendi, sim. Este cômodo tinha um teto incrivelmente alto, uma enorme lareira, enormes janelas e várias áreas de estar. — Eu posso ver porque seu pai estava apavorado. Se você tivesse caído, você poderia ter quebrado o seu pescoço. — Mas eu não caí. Você gostaria de algo diferente do porto? 50


Balançando a cabeça, ela tomou outro gole do vinho espesso e doce. — Você não bebeu muito vinho durante o jantar, — ele meditou. — Eu nunca gostei muito de vinho. Para mim um pouco já é o bastante. Eu suponho que você beba em excesso. — Embora ela nunca tenha ouvido nenhuma história dele sendo três lençóis ao vento. — Eu prefiro manter meu juízo sobre mim. Sem dúvida porque ele testemunhou seu pai perdendo o dele. Ela achava que gostava de Marsden, e também achava que ele parecia doce. Seu próprio pai tinha sido um homem rigoroso e controlador. Ela não achava que Locksley estaria morando aqui se o pai dele fosse igual ao pai dela. Ele certamente não teria a intenção de protegê-lo, ao extremo de se casar com uma mulher que, antes desta tarde, ele nem sabia que existia. — Quando você era um garoto, você tinha medo de seu pai? — Quando eu era um jovem rapaz, não temia nada. — Ele empurrou a cabeça para trás e para o lado, indicando o canto mais distante. — Obviamente. — Você tem medo de alguma coisa agora? — Ficar louco. O que certamente vai acontecer se eu demorar muito mais tempo para levá-la para a cama. — Colocando o copo de lado, ele se levantou, elevando-se sobre ela. Seu coração bateu contra suas costelas. Ela rapidamente abaixou o que restava de seu porto, perguntando-se freneticamente se deveria pedir outro. Ele estendeu a mão para ela. Uma mão tão grande. Nenhum aspecto parecia macio. Ela podia ver calos e evidências de cortes, pequenas cicatrizes aqui e ali. Ela se perguntou brevemente o que ele faria para ter mãos que se parecessem mais com as de um trabalhador do que com um cavalheiro. Sem dúvida, eles eram lembranças de suas aventuras. Antes que ela pudesse decidir se deveria, de fato, pedir-lhe para encher o copo, ele pegou-a e colocou-a na mesa ao lado da cadeira. Inclinando-se, envolveu ambas as mãos em volta dos cotovelos e puxou-a para os pés dela. — Para uma mulher que falou tão ousadamente sobre o acoplamento desta tarde, você parece bastante nervosa. — Nós mal nos conhecemos. Não tenho certeza do que esperar de você. — Espere ser grato por você estar na minha cama, e que nossos aposentos esteja bem longe dos aposentos do meu pai, então ele não 51


pode te ouvir gritando de prazer. — Você é tão malditamente arro... Sua boca cortou a dela quando ele a puxou contra ele. Camada de pano não forneceu nenhuma barreira contra o calor que escorria de seu corpo para o dela, como se ele já estivesse começando a reivindicá-la, como se cada aspecto dele fosse possuí-la antes que a noite terminasse. Durante sua curta vida, ela experimentou raros momentos de puro terror. Este foi um deles. Os últimos meses ensinaram-na a separar sua mente do físico, ensinaram-na na sabedoria de não se importar, de dispensar a emoção, de se manter à parte da realidade do que estava realmente acontecendo. Era a razão pela qual ela sabia que podia mentir debaixo de um homem mais de três décadas mais velho sem náusea, sem lágrimas, sem arrependimentos. Mas Locksley derrubou suas barreiras como se as tivesse construído com galhos. Ele não estava contente em simplesmente pegar. Ele queria possuir. Ela sentiu isso na pulsação de seu pulso em sua garganta, onde ela colocou os dedos, na vibração de seu peito quando ele rosnou e tomou o beijo tão profundo que ela sentiu como se ele estivesse explorando sua alma. Ela não era estranha aos modos dos homens, e ainda assim ele parecia desafiar tudo o que ela conhecia e entendia. Ela nunca conhecera um homem que emitisse uma fome tão poderosa, para dar a impressão de que a paixão que aumentava entre eles consumiria não só ela, mas também ele. Que ele acolheu isso. Ele apoiou as mãos em ambos os lados da cabeça dela, inclinando-a ligeiramente para melhor posicionar-se para o ataque. No entanto, apesar de toda a voracidade de sua urgência, ela nunca sentiu como se não pudesse se afastar, como se não pudesse impedi-lo. Se ela quisesse. Mas ela não queria se afastar. E isso era o que a aterrorizava. Que ele de alguma forma conseguiu despertar a devassa dentro dela, que ele a fez ansiar por todos os sonhos que ela teve quando era jovem e inocente. Que ele a fez acreditar que talvez fossem atingíveis, que de fato aqueles sonhos existiam. Rasgando a boca da dela, respirando pesadamente, ele olhou para ela. — Isso é o que eu quero. O fogo e o vigor. Não o rato assustado. Eu quero a leoa na minha cama. Uma leoa? Se ao menos ele soubesse a verdade sobre Montie... Ele a envolveu em seus braços como se ela pesasse pouco mais que uma nuvem no céu. Nunca antes um homem a carregara. Ela não 52


queria admitir o quão salva e segura ele a fazia se sentir quando ele saiu da biblioteca com um propósito, porém, se ela aprendeu alguma coisa sobre ele neste dia, foi que ele fazia tudo com determinação. Ela sabia, sem sombra de dúvida, que estava prestes a se tornar sua esposa de verdade. Não haveria como voltar atrás quando ele a reivindicasse. Quando ele subiu as escadas dois degraus de cada vez, a culpa feriu sua consciência. Ela deveria confessar tudo, antes que fosse tarde demais. Seu casamento poderia ser anulado. Ela poderia se afastar com vergonha e aflição, encontrar uma maneira de sobreviver, proteger tudo o que ela precisava proteger. Como se uma resposta milagrosa se revelasse de repente quando não tinha nenhuma antes. Eles passaram da porta fechada do quarto do pai. Seus passos rapidamente engoliram a distância até o quarto no final do corredor. Ele a queria. Ela podia sentir isso na tensão que irradiava através dele. Ela poderia dar a ele qualquer coisa que ele gostasse, tudo o que ele desejava. Ele poderia perguntar qualquer coisa dela e ela não recusaria seu pedido. Ele poderia exigir qualquer coisa e ela não iria lutar contra ele. Ela poderia fazê-lo grato por tê-la. Ela poderia garantir que ele nunca se arrependesse. Quanto a seus próprios arrependimentos, ela encontraria forças para ignorá-los ou viver com eles. Ela estava muito perto de ter o que ela desejava - o que ela precisava para sobreviver - para deixar a culpa vencer a sensatez. Fome ou festa. Frio ou calor. Morte ou vida. Ele abriu a porta, atravessou e fechou com um chute. Ela esperava ser jogada na cama, as saias levantadas sobre sua cabeça, ser tomada por um impulso poderoso, pois a lei agora lhe dava o direito de possuir. Em vez disso, ele colocou-a em pé no chão, devagar, gentilmente, no centro do quarto. A cama se erguia atrás dele, mas de repente ele parecia não ter mais muita pressa, como se qualquer loucura que o tivesse atraído para trazê-la aqui tão apressadamente, tivesse sido domada, amarrada. Mas a febre em seus olhos quando ele a olhou mostrou que ele estava perigosamente no seu limite, que havia um talento primitivo nele, que uma vez desencadeado poderia destruí-la. Ela deveria ter ficado assustada, aterrorizada. No entanto, ela não conseguia sentir nada além de admiração e um desejo de levá-lo até a cama e ordenar que ele fizesse o mesmo com ela. Ele não estava mais a tocando, e ainda assim, causava tremores em cascata através dela. Suas terminações nervosas formigavam e sua pele parecia doer por seu toque. Fazia tempo desde que ela ansiava pelo toque de um homem. 53


Não desde que ela perdeu a inocência. Não desde que ela conheceu a traição. Lentamente, seguindo o decote de seu vestido, ele deslizou levemente a ponta de um dedo comprido e grosso de um ombro para baixo, sobre o volume de um seio, depois o outro, antes de viajar até o ombro oposto, mal tocando o tecido, principalmente marcando sua pele com um calor que devastou totalmente seu plano de permanecer indiferente. Seus olhos nunca deixaram os dela, e ela temeu que ele pudesse ler a confusão e ela parecer uma mulher fraca para ele. Ela deveria saber que ele não teria ficado contente com a frieza em sua cama. Ele guiou o dedo de volta ao longo do caminho até que ele retornou ao início da trilha que ele havia mapeado como o explorador que ele era. Ele deslizou seus dedos para baixo pelos braços, todo o caminho até a ponta dos dedos, antes de voltar-se. — Eu gosto de seus braços à mostra, — disse ele, sua voz baixa, feroz, profunda. — Não use luvas no futuro. Depois do jantar, ela não as colocou de volta. Por mais que ela quisesse, ela não conseguia se arrepender naquele momento. — Seria impróprio. Um canto de sua boca se encolheu, seus olhos escureceram. — Antes que esta noite termine, você aprenderá que eu gosto de muitas coisas impróprias. Vire-se. Ela disse que ele poderia levá-la por trás. Ela não podia culpá-lo agora por querer isso. Erguendo o queixo, usando sua determinação de aço, ela se virou e só então se atreveu a apertar os olhos fechados, esperando pelo ataque. — Você ficou tensa novamente, — disse ele. — Eu já te disse. Eu não te conheço bem o suficiente para saber o que esperar. — E eu lhe disse para esperar prazer. — Você está tomando seu tempo doce em entregá-lo. Sua boca aquecida aterrissou na junção onde seu ombro encontrava seu pescoço. — Nós temos a noite toda, Lady Locksley. — Ele mordiscou seu caminho até o ouvido dela. — Eu quero você molhada, quente, e me implorando para levá-la. Um arrepio de antecipação percorreu sua espinha. — Talvez seja 54


você quem implore, meu senhor. Sua língua delineou a concha de sua orelha. — Estou contando com isso. Ela virou a cabeça, seu olhar batendo no dele. — Você quer que eu faça você implorar? Ele sorriu. — Eu quero que você tente. — Ele pressionou um beijo em sua têmpora. — Mas ainda não. Não até ter o prazer de tirar suas roupas. E seus grampos de cabelo, aparentemente, porque ele enterrou os dedos no cabelo dela, removendo-os um após o outro, jogando-os no chão sem cuidado. Olhando para frente, olhando para o fogo baixo que queimava na lareira, ela tentou entender o homem. Ele a queria. Ela não tinha nenhuma dúvida, e ainda assim ele estava tirando o tormento com uma doçura que nunca havia experimentado antes. Quando seu cabelo caiu, ele rosnou com satisfação e juntou um pouco nas mãos. — Estava desejando fazer isso durante o dia todo. E eu queria tocá-lo. Tão grosso e sedoso. — É rebelde. — Eu gosto rebelde. — Mesmo em uma esposa? — Isso não posso dizer, já que só tive uma por algumas horas. Mas eu gosto de cabelos rebeldes em minhas amantes. Ela odiava a centelha de ciúme que a atravessava, reconheceu a ironia em sua reação. Não era como se ela estivesse vindo para ele virgem. — Quantos desses você já teve? Ele lentamente colocou o cabelo sobre o ombro e beijou a nuca dela. — O suficiente para saber como lhe trazer prazer. Seus olhos se fecharam. Parecia que sua ideia de prazer envolvia muito tormento. Seus lábios viajaram por seu ombro, logo antes de seus dedos delinearem sua pele onde ela encontrava o tecido. Como um toque tão leve poderia afetá-la tão profundamente, alcançá-la até o centro de sua feminilidade? Quando ela respondeu ao anúncio, ela fez isso esperando um acoplamento sem paixão. Ela dificilmente estava preparada para todas as sensações que ele tão facilmente despertava nela. Sentiu um puxão no colarinho de seu vestido, estava ciente de que ele os puxava completamente, de modo que o material começou a se abrir e logo ficou escancarado. O vestido era pesado o suficiente 55


para começar a cair de seus ombros. Ela empurrou as mãos para o corpete para segurá-lo no lugar. Por que ele não apagou as luzes? Consciente dele se roçando nela, abriu os olhos para encontrá-lo em pé na sua frente. — Abaixe os braços, — ele disse baixinho. Não exatamente uma ordem, e ainda assim ela não achava que ele toleraria qualquer desobediência. Ela queria um casamento amigável, sem temperamentos ruins, sem punhos voando. Segurando suas mãos, ela abaixou-as para os lados. Com apenas um dedo de cada mão, ele cutucou os ombros de seu vestido até que a seda deslizou por seu corpo. Seus olhos se voltaram para as ondas de seus seios, e ela viu o calor espelhado no verde, mesmo que ela ainda estivesse coberta com seu espartilho e camisa. E mais uma vez, ele traçou o dedo ao longo da linha onde o tecido encontrava a pele. Ela queria empurrar os seios contra as palmas das mãos dele, queria um toque seguro, um toque completo, não essa provocação irritante que estava colocando todas as terminações nervosas em chamas. — Vire-se, — ele ordenou, e ela teve perversa satisfação no fato de que ele soava como se estivesse estrangulado. Pelo menos ele não foi completamente afetado. Quando chegasse a vez de tirar a roupa, ela iria tão devagar, insistiria nisso. Fazer ele sofrer. Embora agora que ela estava de frente para a cama, olhando para ela, ela não sabia se poderia ir devagar. Seu corpo ansiava por carícias seguras, a dureza de sua forma pressionando a suavidade dela. Uma série de puxões e as cordas de seu espartilho se soltaram. Depois também caiu, deixando apenas o linho fino de sua camisa. Mais uma vez ele se moveu na frente dela, seus olhos escurecidos. — Eu julguei mal o tamanho de seus seios, — disse ele. — Eles são menores do que eu pensava. — Desapontado? Ele balançou a cabeça lentamente. — Não. Ele segurou o peito dela, e ela não conseguiu conter o gemido quando quase caiu no chão, quase agarrou a mão livre dele e apertoua contra o outro seio. Era tão bom ter o toque firme de sua palma grande, seus dedos suavemente amassando, como se quisesse testar a plenitude do que ela tinha a oferecer. Ela queria gritar para ele arrancar todo o resto, e levá-la para a cama, tomá-la. Dessa vez, quando começou a arrastar o dedo pelo decote, ele o enfiou embaixo do tecido, afastando-o, aproximando-se do monte, e ela 56


sabia que o dedo dele ia roçar o mamilo. Um grito horrendo, um grito quase feroz, assustou-a, fez com que ele xingasse baixinho antes de marchar até a janela e puxar a cortina para o lado. — O que foi isso? — Ela perguntou. Ele caminhou até a porta. — Espere aqui. Como se ela estivesse indo para algum lugar em seu estado seminua. — O que é isso? Mas ele estava fora da porta, batendo-a ao sair correndo. Ela correu até a janela, puxou a pesada cortina de veludo para o lado e olhou para fora. Uma lua quase cheia cobria a terra de azul, fornecendo luz suficiente para que ela pudesse ver uma figura sombria à distância correndo sobre os pântanos. Então ela avistou outra figura. Ela reconheceu a forma deste. Era seu marido, correndo da casa, obviamente em busca da pessoa que ela não podia mais ver. Teria sido o pai dele lá fora? Tinha que ser. Ela não podia imaginar Locksley correndo atrás de qualquer outra pessoa. O que o marquês estava fazendo lá fora e o que ele estava gritando? Embora ela tivesse ouvido os rumores, ela não acreditava que o marquês de Marsden - já que ele não estava trancado em um asilo - era realmente louco. Parecia que ela poderia estar enganada.

Capítulo 6 Locke não sabia por que ele se incomodou em correr. Ele sabia exatamente onde encontraria seu pai, onde sempre o encontrava eventualmente. No túmulo da marquesa de Marsden. Até esta noite, ele nunca tinha entendido por que seu pai tinha insistido em enterrar sua mãe perto de uma árvore em sua propriedade, em vez de no cemitério ao lado da igreja na vila onde todos os seus antepassados anteriores descansavam. Mas depois de ouvir o conto no jantar, ele ficou se perguntando se era aquela árvore em que seu pai conheceu a garota que acabaria se tornando o amor de sua vida. Quando ele viu seu pai se aproximando do túmulo, soube que ele 57


estava indo direto para lá e que não estava planejando vagar pelos pântanos, Locke diminuiu o passo, e se pôs a andar. A lua estava brilhante o suficiente para que ele não tivesse se incomodado com uma lanterna. Ele lutou para não ficar irritado com a interrupção. Ele certamente não queria abandonar sua noiva, embora suspeitasse que a curiosidade havia tirado o melhor dela e ela olhou pela janela para ver o pai e o filho correndo pelos campos, como se os cães do inferno estivessem beliscando seus calcanhares. Não há dúvida de que agora ela estava começando a perceber o destino do qual ele a salvou. Ele ainda estava lutando para entender sua decisão precipitada de se casar com ela. Para proteger seu pai, sim, mas ele poderia ter feito isso pagando a taxa exorbitante estipulada no contrato. Talvez se a renda das minas estivesse florescendo, se ele não tivesse um uso melhor para o dinheiro... Não, mesmo assim, ele teria sido pressionado a entregar uma pequena fortuna a uma mulher intrigante que não fizera nada além de responder ao anúncio de um louco. Ela, sem dúvida, esperava ser paga, embora talvez, de fato, tivesse ganho exatamente o que procurara. Difícil dizer com ela. O que ele sabia era que ele a deixara em brasa como se ela estivesse se acendendo. Ele podia sentir a consciência acendendo toda vez que ele tocava sua pele na dela. Não importava se não fosse nada mais que a ponta do dedo. Ela reagiu como se tivesse colocado todo o seu corpo nu contra o dela. Ele mal podia esperar até que ele realmente fizesse. Ele queria ir devagar, para saborear, mas condenação, mais de uma vez ele chegou perto de arrancar suas roupas, em seguida, arrancado as suas próprias. Ele a queria de costas, naquela cama, olhando para ele quando ele a levasse. Com um gemido, ele empurrou as reflexões para o lado. Haveria tempo para tudo isso depois. Agora, ele teria que lidar com seu pai. Quando ele se aproximou do homem deitado sobre o túmulo, ele podia ouvir os soluços, os pedidos. Como se uma mulher morta tivesse o poder de puxá-lo deste mundo para o outro. Ele não achava que seu pai estivesse em perigo real aqui fora. Havia ocasionalmente cobras e raposa, mas as criaturas eram mais tímidas que agressivas. Quando menino, Locke já havia visto um lobo não que alguém acreditasse nele, já que os lobos não eram conhecidos por perambular por essas partes. Por um tempo ele temeu que ele fosse tão louco quanto seu pai, avistando criaturas que não existiam. Mas certamente, se esse fosse o caso, ele teria imaginado vê-lo novamente. A bela criatura o hipnotizou. 58


Então ele não esperava encontrar seu pai atacado por algum animal selvagem. Mas ele era frágil e uma noite nos pântanos não lhe traria nada de bom. Locke ficou de pé, esperando até que os soluços diminuíssem, mas os lamentos continuaram. — Por que você não vem por mim, Linnie? O menino está casado. Ele não estará sozinho. Então, era mais do que a falta de um herdeiro que estimulasse a teatralidade de hoje. — Estou pronto. Venha e me leve. Rangendo os dentes, Locke lutou para não ouvir o desespero na voz de seu pai. Finalmente, quando já não conseguia mais ouvir os apelos do pai, ajoelhou-se e pousou a mão no ombro do marquês. — Pai, é hora de voltar para a residência. — Por que ela não vem? Você é casado agora. Meu trabalho está terminado. Então ele estava certo em relação ao pequeno drama de hoje. Tudo tinha sido concebido como um meio de garantir uma esposa para Locke. — Eu só quero estar com ela novamente, — disse seu pai. — O nevoeiro está aumentando. O frio vai penetrar em seus ossos. Você vai conseguir sua morte. Precisamos ir. — Eu não posso. — Ele soltou outro soluço, um que soou como se tivesse sido arrancado de seu peito. — Eu não posso deixá-la novamente. Ela virá para mim se eu ficar aqui. Não, pai, ela não vai. — Nós precisamos ir, — insistiu Locke. — Deixe-me aqui. Pelo amor de Deus, desta vez apenas me deixe aqui. — Eu não posso. — Eu não posso deixá-la, não de novo. Não me faça. Quantas vezes eles tiveram essa conversa? Quantas vezes Locke o seguiu até aqui? Quantas vezes ele esperou até que a umidade do nevoeiro encharcasse suas roupas, gelasse seus ossos? Mas agora seu pai era frágil demais para enfrentar a dureza da natureza. Com resignação, Locke embalou seu pai em seus braços. Ignorando seus 59


fracos protestos, ele se levantou e começou a caminhar de volta para a mansão. Normalmente, depois que seu pai se acalmou, Locke segurou a fechadura da porta do quarto em que seu pai dormia. Hoje à noite sua mente estava em Portia, em fugir para o refúgio que seu corpo oferecia. Ele ignorou a rapidez com que a mente de seu pai poderia escapar da realidade. Seu pai não lutou contra ele. Os soluços diminuíram, recuaram completamente quando chegaram ao solar. Locke seguiu pelos vários corredores e subiu as escadas. Entrou no quarto principal e colocou o pai na cama. — Vamos tirá-lo dessas roupas úmidas e sujas. — Quando Locke começou a removê-las, seu pai mal respondeu, apenas olhou para a janela. — Eu sinto falta dela, Locke. Sinto falta dela terrivelmente. — Eu sei. — Você não pode saber. Você nunca amou uma mulher. Você não pode entender como ela pode se tornar uma parte da sua alma, uma parte do seu todo. Quando ela vai embora, ela deixa para trás um vazio, um vazio que ninguém mais - nada mais - pode preencher. Então ele ficou feliz em não amar, não dar tanto poder a qualquer pessoa. Quando ele levou o pai para as gavetas, Locke pegou a camisola, colocou-a na cabeça e começou a enfiar os braços magros nas mangas. — Eu estava errado em forçar você a se casar? — Perguntou o marquês. — Você não me forçou. Nós poderíamos ter pagado a ela. Ou eu poderia ter permitido que você se casasse com ela. — Você gosta dela então? — Eu acho que ela vai provar uma distração interessante, e ela certamente é bastante gentil. — Talvez você venha a amá-la, — seu pai murmurou, quase distraidamente. — Não, — Locke assegurou a ele. — Eu me casei com ela porque sei que ela é do tipo que eu nunca amaria. — Como você deduziu isso no pouco tempo em que esteve com ela? 60


— Ela é uma caçadora de títulos. — Eu acho que você está errado. Sem dúvida, ela está caçando alguma coisa, mas duvido muito que seja um título. Ele não gostou da incerteza que deslizou através dele. Ele a julgara com precisão. Ele estava bem certo disso. — Não importa mais. Já foi feito. Finalmente, com a camisola no lugar, ele levantou as cobertas. — Para a cama agora. — Tranque a porta. — Eu vou. — Mas abra a janela. Talvez sua mãe venha me visitar mais tarde. Ninguém ia visitá-lo. Mesmo assim Locke foi até a janela, virou o trinco e abriu-a. Era pequena demais para o pai fugir e, mesmo que conseguisse, a queda no chão era um impedimento. Enquanto o marquês podia orar pela morte, ele não era alguém que tiraria a própria vida. Voltando para a cama, Locke colocou as cobertas ao redor de seu pai antes de abaixar a chama na lâmpada. — Boa noite, pai. Ele se virou para a porta e deu de cara com Portia parada no limiar. Ele se perguntou quanto tempo ela estava lá, o que ela poderia ter ouvido. Não que isso importasse. Ele tinha sido honesto com ela sobre por que ele se casou com ela. Ela seria uma tola de ter ilusões de outra forma. — Olá, minha querida, — disse seu pai. — Eu queria ter certeza de que você estava bem. — Seu olhar disparou entre ele e seu pai para que ele não tivesse certeza de quem ela estava checando. Ela tinha mudado em sua camisola. Com seu vestido e anáguas desaparecidas, ele podia ver que ela era um pouco mais magra do que ele imaginara, parecia um pouco mais vulnerável. Ele sacudiu esse pensamento. Não havia absolutamente nada vulnerável sobre a mulher que o desafiara naquela tarde. — Bem minha querida. Apenas cansada. — Seu pai acenou com a mão. — Vá em frente, Locke. Veja a sua noiva. Vou esperar aqui pela sua mãe. Fechando os olhos, ele suspirou quando ele balançou a cabeça. Quando os abriu, não gostou de ver a pena refletida na expressão dela. — Durma bem, meu senhor, — disse ela antes de entrar no 61


corredor. Juntando-se a ela, Locke fechou a porta e girou a chave. — É seguro trancá-lo? — Ela perguntou. — Mais seguro que não. Gilbert vai destrancá-lo antes que o sol apareça. — Ele ficou surpreso com a preocupação em seus olhos. Se tivessem perguntado, ele teria afirmado que ela não se importava nem um pouco com alguém que estivesse em perigo, mas ela certamente parecia estar um pouco agitada e preocupado com seu pai. — Ele vai ficar bem. É melhor que tê-lo a passear pelas charnecas. Se ele não tivesse gritado, talvez não soubéssemos até manhã e, quem sabe em que estado ele estaria? — Então ele sai frequentemente? Ele inclinou a cabeça. — Eu geralmente sou capaz de pegá-lo antes que ele saia pela porta. Esta noite eu estava ocupado de outra maneira. Uma lâmpada no corredor fornecia luz suficiente para que ele pudesse vê-la corar. Ela endireitou sua espinha, ergueu seu queixo. — Eu suponho que devemos voltar a isso. Ele se perguntou se seria possível uma mulher parecer menos satisfeita com a perspectiva de estar na cama. Talvez ele estivesse indo devagar demais para o gosto dela. Depois que ele tirasse as roupas dela, ela ficaria muito feliz de estar com ele. Mas primeiro... — Depois de correr atrás do meu pai, vou precisar de um banho antes de me juntar a você. Ele pensou que era alívio que viu no rosto dela até que ela disse em um suspiro ofegante, — Oh, um banho seria adorável. Ele se amaldiçoou por não ter considerado que ela poderia ter preferido que ele fizesse mais do que trocar de roupa depois de seu retorno. — Eu costumo tomar banho em um quarto perto da cozinha. Eu poderia puxar a banheira aqui... — Não é preciso isso. Estou perfeitamente feliz em usar qualquer sala de banho que seja mais conveniente. Ele esperava que ela fosse mais exigente, mais insistente e que ela fosse mimada. Ele não gostava desses aspectos imprevistos sobre ela que ele estava descobrindo, queria que ela fosse precisamente o tipo de mulher que ele julgou ser: alguém que sempre colocava suas próprias necessidades, vontades e desejos em primeiro lugar. — Vou demorar um pouco para aquecer a água. Eu vou te procurar quando estiver pronto, devo? 62


— Você vai fazer isso sozinho? — Eu não vou acordar os servos idosos a esta hora da noite. — Verdade seja dita, ele sempre preparava seu próprio banho, cuidava da maioria de suas próprias necessidades. — Eu não quero que você tenha esse problema para mim, então. — Sem problemas. Eu preciso preparar apenas um banho. Nós vamos nos banhar juntos. Houve aquele rubor novamente, só que desta vez era uma tonalidade mais rude. Não era muito gentil da parte dele se deleitar em fazê-la corar, e mesmo assim ele fez. Isso o fez querer sorrir e já tinha se passado um bom tempo desde que ele honestamente, sorriu com tanto prazer. Há tempos que houve alguma alegria verdadeira em sua vida. Não desde que os pupilos de seu pai alcançaram a maioridade e voltaram para suas propriedades ancestrais. Oh, ele se divertiu muito quando os viu em Londres ou quando viajaram, mas a alegria aqui - dentro desta mansão, nesta terra - era praticamente inexistente. Ele estava contente com isso. Era o jeito das coisas. No entanto, ele sentiu de repente aquela pequena faísca de algo que não conseguia identificar, percebeu que poderia desfrutar de momentos com ela fora da cama, tanto quanto ele iria apreciá-los nela. Seu olhar percorreu lentamente o corpo dele, e seu corpo se retesou em resposta à sua leitura. Quando ela finalmente chegasse a tocá-lo, ele provavelmente explodiria. — Considerando seu imenso tamanho, — ela disse, — não vejo como nós dois podemos nos encaixar na banheira. — É uma banheira bastante grande. — Foi uma das poucas indulgências que ele se permitiu. Especialmente feito para que ele pudesse se esticar nela. Embora tenha sido preciso aquecer vários caldeirões de água para enchê-la, ele nunca se importou. Ele gostava de tomar um banho vagaroso. Ele ia aproveitar ainda mais com ela lá dentro com ele. Ela assentiu. — Vou precisar prender meu cabelo. — Como eu disse, vai demorar um pouco para prepará-lo. Eu irei chamar você. Seus lábios se levantaram no menor dos sorrisos. — Eu estarei esperando. Ela girou nos calcanhares, voltando para o seu - seu quarto deles de dormir. A culpa feriu sua consciência, deixando-o desconfortável. — Portia? 63


Ela se voltou para ele. Engolindo, ele limpou a garganta. — Eu não sei há quanto tempo você estava lá, o que você pode ter ouvido... — Eu não tenho ilusões quanto à sua opinião sobre mim, meu senhor, ou o que é que você quer de mim. Para ser sincero, eu esperava que você simplesmente jogasse minha saia sobre a minha cabeça e fizesse do seu jeito comigo. Estou bastante aliviada ao descobrir que você está disposto a me dar alguma consideração. — Você se casou comigo pensando que eu iria me forçar em você? — Casei com você sabendo que as mulheres têm muito pouco a dizer sobre como são tratadas. Ele não ia perguntar sobre o casamento dela. Ela disse que amava o homem. Certamente ele não havia abusado dela. — Eu te disse que você iria encontrar prazer na minha cama. — Homens frequentemente mentem, Lord Locksley. Ou eles superestimam sua capacidade de... por favor. Com uma opinião tão pobre dos homens, por que diabos ela estava aqui? — No entanto, você procurou outro casamento? — Como mencionei, procurei segurança. — Aquele pequeno sorriso de novo, como se ela estivesse se divertindo com uma piada particular. — Os homens também tendem a não ouvir quando as mulheres falam. Eu estarei esperando por você. Quando ela se afastou, desta vez ele não a impediu. Ele não se sentiria culpado porque ela estava plenamente consciente de que, para ele, esse arranjo não se baseava em nada mais do que na parte física. Considerando o pouco que se importavam um com o outro, ele provavelmente poderia dispensar o banho, mas queria um acoplamento longo e vagaroso - e queria mais do que somente um antes que a noite terminasse. Virando-se, ele desceu as escadas. Ele poderia ter se oferecido para trazer a seu pai uma camponesa, poderia ter considerado encontrar uma para si mesmo no início do dia, mas a verdade é que ele não tinha o hábito de tirar proveito das mulheres na área - mesmo tendo algumas disponíveis. Ele tinha a obrigação de cuidar de seu bemestar, não de se aproveitar. Ele adquiriu seus prazeres em Londres e ele não esteve lá há um bom tempo. Então ele estava ansioso para ter intimidade com sua jovem esposa, especialmente porque ela conhecia bem o corpo de um homem. Seu pai estava certo sobre isso. Nenhuma mulher nervosa, mas 64


uma que pudesse lhe mostrar uma coisa ou outra. Embora ele ainda não tivesse entendido como levá-la de cabeça para baixo. Na cozinha, ele colocou três caldeirões de água no fogão para começar a aquecer antes de entrar no que há muito tempo havia sido designado como a sala de banho. Ele encheu a banheira de cobre até a metade. Quando a água no fogão começasse a ferver, ele a colocaria na banheira. Ele gostava de seu banho quente, fumegante. Ele se perguntou se seria agradável para sua esposa. A esposa dele. Soltando sua risada, ele se perguntou como era que esse termo veio a ser associado a ele. Curvando-se, ele abriu bem os braços, agarrou os dois lados da banheira e riu novamente. Normalmente ele não estava propenso a tomar decisões precipitadas, e certamente não acordara naquela manhã com a intenção de se casar no final do dia. No entanto, isso aconteceu. O que diabos ele estava pensando? Ele não podia negar que ela era uma garota atraente e ele não se importava com a ideia de tê-la em sua cama. Mas para tomá-la como sua esposa quando ele não sabia absolutamente nada sobre ela, exceto que ele nunca poderia amá-la? Ele deveria ter pagado a ela. Com um pouco mais de esforço, ele poderia ter chegado em uma quantia razoável. Só que ele não queria negociar com ela. Diabo o levasse. Ele não sabia se já conhecera uma mulher com tanta determinação e ousadia quanto ela. Ele apostaria as minas de estanho que ela realmente não esperava se casar, que ela tinha vindo aqui esperando ir embora com uma boa quantia. Ele queria melhorá-la, com sua arrogância e sua capacidade de olhar para ele como se soubesse precisamente o quanto ele queria possuí-la. Mais o tolo era ele. Então, por que ele simplesmente não jogou as saias dela e a levou? Porque ele a queria tão molhada e ansiosa por ele quanto ele estava duro e desesperado por ela. Pode não haver nada entre eles, exceto o físico, mas, por Deus, ele iria aproveitar ao máximo disso. Ele ia atormentar e torturá-la. Ele ia tê-la implorando para tê-lo dentro dela. Sua risada, dura e profunda, ecoou ao seu redor. Ele poderia ter tido tudo isso sem se casar com ela. Ela não estava imune a ele. Os poucos momentos em que estiveram juntos no terraço provaram isso. Ele poderia tê-la convencido a sair com uma quantia insignificante. Só que ele não queria que ela fosse embora. 65


Essa era a verdade, e ele não podia mais explicar por que, mais do que ele poderia decifrar onde exatamente eles encontrariam veias de estanho escondidos dentro da terra. Balançando a cabeça, ele se levantou. Ele estava casado antes de planejar, com uma mulher que não tinha interesse em conhecer. Não é verdade. Ele queria conhecê-la. Seus seios, seus ombros, o refúgio entre suas coxas. Ele queria se familiarizar com seus gritos de prazer, suas mãos acariciando-o, sua tensão envolvendo-o. Mas um banho primeiro. Ele despejou apenas uma panela de água fervente na banheira. Aqueceu a água a uma temperatura confortável. Ele deixaria os outros até descobrir como ela gostava da água do banho. Consideração dele. Quando ele começou a sair da sala para buscá-la, ele parou, olhou para os arredores espartanos. Um banco de madeira que ele usava para puxar as botas, algumas estacas nas paredes onde pendurava as roupas que não estavam em uso. Não é o mais romântico dos lugares. Eles não consumariam o relacionamento deles aqui, mas eles certamente poderiam se conhecer, acariciar e provocar um ao outro... Condenação. Ele ia deixá-la aproveitar seu banho sozinha. Cortejar uma mulher ao lado de uma cozinha não era nada atraente. Não que ela exigisse ser cortejada. Ela era sua esposa, mas ele estava bem ciente de que a primeira vez que eles se reuniriam daria o tom para o casamento deles. Ele queria noites agradáveis, agradáveis e aquecidas com sua pequena mercenária. Mas quando ele chegou em seu quarto de dormir, ele descobriu que ela estava deitada de lado adormecida em cima das cobertas, como se ela meramente quisesse relaxar um pouco enquanto esperava por ele. Uma mão descansava sob sua bochecha, a outra estava apertada, quase protetora, contra seu estômago - o lugar onde seu filho cresceria dentro dela. O bebê que faria seu pai feliz. Seu herdeiro. O peso disso caiu pesadamente em seu peito. Ele planejara se casar, planejara fornecer um herdeiro. Só não por um tempo ainda, mas ele não poderia culpar seu pai por empurrá-lo. Ashe e Gray já tinham seus herdeiros. Era hora dele também ter o seu. O mais silenciosamente possível, ele se aproximou da cama e estudou sua esposa cuidadosamente. No sono, ela parecia mais jovem, mais inocente, mas uma mulher com sua língua ácida não podia ser totalmente inocente. Pela primeira vez, ele se perguntou como teria sido o casamento dela, como o marido a tratou. Ela amava o homem. Ela nunca amaria Locke. 66


Ele não estava preparado para a dor que o pensamento lhe causou. Não precisava de amor, não queria, e certamente não daria. Irritou-o que ele estava de repente bastante curioso sobre ela. Ele não tinha interesse nela, exceto pelo surto que ela proporcionaria ao corpo dele e ao herdeiro que ela lhe daria. Um herdeiro e um sobressalente. Uma imagem de uma menininha ruiva olhando para ele com olhos de uísque. Ele não queria uma filha. Ele não queria sentir. Ele não queria nada que desafiasse sua sanidade. Era melhor não se importar, perder-se no trabalho, administrar as propriedades, cumprir seu dever. Seu dever exigia que ele plantasse sua semente nesta mulher. Ele faria isso tão sem emoção quanto possível. Ele garantiria que ela nunca tivesse qualquer dúvida em relação ao tom estritamente profissional de seu relacionamento. Ele ia usá-la assim como ela planejara usar o pai dele. Para ganho, para adquirir o que ele precisava. Fora isso, ela poderia ir ao diabo. Ela também podia tomar banho de manhã. Havia demorado. Não há sentido em acordá-la agora. Ele não queria uma apática vindo junto. Estendendo a mão através dela, ele agarrou os cobertores e os colocou sobre ela. Prendendo a respiração, ele observou enquanto ela se mexia, se acomodando sob as cobertas, e ele lutou para não imaginála se contorcendo e se acomodando embaixo dele. Girando nos calcanhares, dirigiu-se à sala de banho, esperando que a água esfriasse, porque agora precisava desesperadamente de um banho gelado para extinguir seus desejos.

Capítulo 7 Portia não conseguia se lembrar da última vez que dormiu tão profundamente, e tão bem. Sentir-se completamente descansada foi quase o suficiente para fazê-la acreditar que estava a salvo. Com um gemido baixo e um alongamento lânguido, ela lentamente abriu os olhos para uma sala inundada de luz e para seu marido no lavatório, guiando lentamente uma navalha no pescoço e no queixo. Ele usava apenas calças. Sua boca ficou seca quando ela avistou seus ombros largos e musculou-se. Ela tinha visto e sentido a evidência de que ele não passava seus dias descansando, mas ainda assim a 67


perfeição de seu físico bronzeado era um pouco inquietante. Nem uma grama de excesso o atrapalhava. Ele era todo o músculo com fio, tendão e força. Ela estava bastante hipnotizada observando o movimento de seus músculos enquanto ele se barbeava. — Você está acordada, eu vejo. — Sua voz profunda cortou o silêncio. Seu olhar bateu no dele, refletido no espelho oval pendurado acima do lavatório, e ela se perguntou quanto tempo ele poderia estar olhando para ela. Suas bochechas aqueceram. — Você não me acordou para o meu banho. — Parecia cruel. — Ele inclinou a cabeça para trás, começando a raspar o outro lado. — Você parecia perdida para o mundo. Um banho está esperando por você quando estiver pronta. Não vai levar muito tempo para que a sra. Barnaby possa aquecê-lo. Respirando fundo, ela tentou recuperar seu equilíbrio. — Eu suponho que você está voltando para a cama. Ela estava grata que suas palavras saíram fortes e seguras, sem dar nenhuma indicação de que ela estava tremendo com o pensamento dele tirando as calças e subindo em cima dela. Um canto de sua boca se encolheu, seu olhar nunca deixou o dela, embora a navalha começasse a mover-se ao longo de sua mandíbula. — O sol está no céu. Eu perdi minha chance. Mesmo sabendo que o quarto não estava iluminado por velas, ela se sentou e olhou para a janela. Não poderia ser muito do amanhecer. Seu olhar caiu no travesseiro ao lado do dela. Afundado de onde a cabeça dele havia descansado. Ele dormiu com ela, mas ela estava em um casulo de cobertores. Ele não poderia tê-la tocado se quisesse. Virou-se para ele. — Mas precisamos consumar o casamento. Passando a toalha sobre o rosto, ele se virou do espelho, seu sorriso se alargando. — Você está ansiosa para me ter? — Eu simplesmente quero garantir que tudo seja legal, que você não possa anular esse casamento por um capricho. Ela odiava a maneira como ele a examinava, como se ele tivesse os meios para explorar sua alma, cada canto oculto dela. Ele inclinou a cabeça para o lado. — Eu vou saber alguma coisa hoje para me fazer querer desfazer esse casamento? — Não, claro que não. — Espero que ele nunca descubra sobre 68


isso. Faria tudo ao seu alcance para garantir que ele não o fizesse. — Mas como mencionei ontem, busquei casamento por segurança. Eu não posso me sentir segura se você puder afirmar que eu não fiz meus deveres de esposa. — Deveres? — Com um aceno de cabeça, ele estendeu a mão para a camisa sobre uma cadeira de espaldar reto. — Você me convenceu de que devemos esperar por esta noite, pois parece que vou precisar de mais tempo do que pensei para garantir que você não veja o nosso acoplamento como um dever. — Ele encolheu os ombros e começou a abotoá-lo. Ela saiu da cama. — Você pode tomar todo o tempo que quiser agora. — Infelizmente, minha querida esposa, tenho responsabilidades que requerem que eu vá para as minas hoje. Esta noite terá o suficiente. Seria. Ela sabia disso. Ela estava sendo tola de se preocupar com esse aspecto. O que mais um dia machucaria? Além disso, isso lhe daria a chance de se acostumar com a ideia de que ela estará indo para a cama com um marido jovem, viril e excessivamente masculino, em vez de um marido curvado e enrugado. Ela poderia sustentar suas defesas para não dar a impressão de que ele tinha a habilidade de controlá-la com um toque. Ele pegou o lenço do pescoço. — Você não tem um criado, — disse ela. Uma declaração não é uma pergunta. — Você conheceu todos os empregados internos. Ela andou até ele e bateu levemente as mãos de lado. — Eu vou fazer isso. — Eu não tinha considerado essa vantagem de ter uma esposa. — Você está zombando de mim. — Provocando. Há uma diferença. — Ontem você não me pareceu como alguém que provocaria. — Você não me pareceu como alguém que faria algo pelos outros. Ela ergueu o olhar para o dele, mais uma vez inquieta com a forma como ele parecia estar estudando-a. — Parece que estávamos ambos errados. Ela deu um tapinha no nó. — Pronto. — E pegou seu colete. 69


Ele se virou para o espelho, ergueu o queixo ligeiramente. — Você fez um excelente trabalho. — Eu costumava arrumá-las para Montie. — Segurando o colete para ele, desenhando-o sobre os braços, sobre os ombros, ela fez uma careta pelo deslize de sua língua. Ele estava muito distraído, com alguma sorte, talvez ele não tinha prestado atenção às suas palavras. Ele a encarou. — Montie? Parecia que a sorte não a favoreceria hoje. Ela começou a abotoar a seda preta. — Meu marido. — Você sente falta dele? — Um músculo pulou em sua mandíbula quando se apertou, fazendo-a pensar que ele desejou ter mordido a pergunta. — Não, — ela respondeu honestamente, pegando sua jaqueta, segurando-a para que ele pudesse virar e deslizar os braços para dentro. Só que ele não se virou. — Eu pensei que você o amava. — Eu fiz. Só não tanto no final. — Ela não sabia o que a possuíra para admitir isso. Ela odiava Montie no final. Desprezou-o uma vez que ela descobriu a mágoa que ele era capaz de infligir, percebeu que ele não merecia sua afeição. Por um momento, pareceu que Locksley poderia dizer algo mais, expressar sua tristeza pelo fato de o amor não ter sido duradouro. Em vez disso, ele simplesmente virou as costas. Ela quase riu de sua tolice por pensar que ele poderia ter se importado com o fato de que seu coração havia sido quebrado com tal indiferença insensível. No dia anterior, Locksley alegara não ter interesse no amor. Sinceramente nem ela. Ele havia roubado sua família e a levado à ruína, ainda tinha a capacidade de destruí-la e destruir o que ela estava se esforçando para realizar se ela não fosse cuidadosa. A jaqueta se encaixou no lugar lindamente, obviamente feita sob medidas para ele. Não havia razão para isso, mas ainda assim ela não conseguiu se impedir de deslizar as mãos pelos ombros dele, como se precisasse endireitar o tecido. Ele se afastou, alisou um braço, embora ela não conseguisse ver nenhum fiapo ali. — Eu tenho que verificar alguns papéis na minha mesa, então daqui a pouco eu vou para o café da manhã. Você está convidada a se juntar a mim depois do seu banho. — Ele olhou para ela. — Embora sua presença não seja necessária. Afinal, é de dia. Se eu não te ver lá, tenha a certeza de que voltarei ao anoitecer, e o casamento 70


será consumado com toda a pressa. Se isso fosse feito apressadamente, eles poderiam fazê-lo agora. Ela poderia fazer isso acontecer. — Você vai me ajudar a vestir? — Sra. Barnaby pode ver isso. Eu não tenho nenhum interesse em colocar roupas em você. Apenas em tirá-las. Com isso, ele saiu, fechando a porta em seu rastro. Ela respirou fundo. Por um breve momento, ela temia que ele pudesse ser um perigo para o seu coração. Graças a Deus ela julgou corretamente ontem. Ele era exatamente o tipo de bunda arrogante que ela nunca poderia amar.

Quando ela acordou com aquele gemido suave, tinha levado tudo dentro dele para não pular na cama e levá-la naquele momento. Não importava que seu rosto estivesse coberto de espuma ou que ela o distraísse de tal maneira que ele quase cortou sua jugular. Ele podia pensar em piores maneiras de sair do que com aquele som delicioso soando em seus ouvidos. Como uma mulher pode ser tão gloriosamente sensual ao acordar? De pé na janela da biblioteca, observando a neblina começar a se dissipar, ele admitiu que não tinha nenhuma papelada que precisasse ver. Ele só queria lhe dar tempo para se banhar e talvez se juntar a ele para o café da manhã. Ele também poderia ter adiado as minas, mas estar ao alcance dela sem tocá-la teria testado sua sanidade. Quando ela se ofereceu naquela manhã, ele se lembrou do acordo que fizeram e ele pretendia manter. O dia era dela; a noite era dele. Uma exceção os colocaria em uma ladeira escorregadia, e ela poderia decidir que ele não deveria ter todas as noites, e ele não tinha planos de abrir mão de um único momento desses. Quando finalmente chegou à sala de jantar, ficou desapontado ao descobrir que estava vazio, exceto por Gilbert, que imediatamente serviu o café antes de sair para pegar o prato. Picou seu temperamento que ela poderia o desapontar. Ele não se importava com ela, então não fazia sentido algum que ela provocasse qualquer emoção nele. Irritavao pensar que ainda pensava nela uma hora depois de tê-la deixado. Obviamente ela não lhe deu mais nenhuma contemplação. Ela tinha seu título, sua mesada, um banho... O último pensamento voou de sua mente quando ela entrou, suas bochechas coradas e rosadas, seu vestido azul-escuro, botões até a garganta, até os pulsos. Pelo menos não era o preto medonho em que ela chegara. Pelo menos ela não estava sendo hipócrita e fingindo estar de luto depois de casar com outro homem. Ela estava deixando sua dor de lado, o pouco sofrimento que poderia ter havido. Ele não conhecia 71


o marido, não queria conhecê-lo, mas ainda assim o incomodava que o homem tinha conseguido perder seu amor. Para tê-lo e não apreciá-lo, não ter se esforçado para mantê-lo Ele balançou a cabeça, recusando-se a percorrer esse caminho, e ficou de pé. Andou para a cadeira em frente a dele, e puxou para ela pudesse se sentar. Seu rubor se aprofundou. — Você não tem que esperar por mim. — Apenas uma cortesia simples para minha esposa. Ela se aproximou devagar, com cautela, como se esperasse que ele a jogasse na mesa e fizesse o que queria com ela. Com esse pensamento particular cruzando sua mente, ele percebeu que poderia ter sido imprudente convidá-la para o café da manhã. Enquanto se sentava, ele inalou a fragrância persistente de pele limpa, seu banho e uma nova aplicação de jasmim. Seu corpo reagiu como se ela tivesse começado a desabotoar a fileira sedutora de botões. Ele voltou rapidamente para sua cadeira antes que Portia pudesse ver como ela o afetou. Embora quando ele finalmente se acomodou e olhoua, ela deu-lhe um pequeno e secreto aplauso de seus lábios que sinalizou que ela sabia o impacto que ela tinha sobre ele. Ele temia que pudesse estar corando. Droga, dane-se tudo para o inferno. Graças a Deus Gilbert escolheu aquele momento para entrar segurando um prato. — Dê a Lady Locksley, — disse Locke, pegando o jornal como se fosse possível ele ler e entender qualquer coisa que fizesse sentido. — Bom dia, milady, — disse Gilbert. — Você prefere chá ou café? — Chá, por favor. Gilbert a serviu enquanto Locke lia a primeira sentença do artigo principal três vezes. Ele não conseguia se concentrar com ela na mesa, apesar de não querer se distrair com ela. Quando o mordomo foi buscar outro prato, ela disse: — Seu pai vai se juntar a nós? Arrumando seu jornal, Locke percebeu que hoje ela parecia consideravelmente mais jovem, menos cansada, menos perturbada. Mais bonita. Ontem tinha sido uma aparição, uma aberração. Ele limpou a garganta. — Ele geralmente faz suas refeições em seu quarto. Ontem foi uma exceção. — Então você faz as refeições sozinho? — Eu tenho vinho para me fazer companhia. 72


— No café da manhã? Ele sorriu. — Não, então eu tenho o jornal. — Não deixe minha presença impedir você de lê-lo. Você não precisa me entreter. — Eu não tinha planos para isso. — Ele poderia soar mais como um idiota? — Você viajou de onde, para chegar aqui? Ela parou no meio do caminho para pegar o chá, pareceu refletir sobre sua resposta, ou talvez fosse apenas sua resposta que lhe deu uma pausa. Acontece que, apesar de todas as informações sobre ele que ela ganhou na noite anterior, ela revelou muito pouco de si mesma. — Londres. Seu pai, sem dúvida, sabia onde ela estava quando ele teve que despachar sua correspondência para ela. — Você chegou em um transporte de correspondência. Eu teria pensado que meu pai teria lhe enviado dinheiro para que você pudesse viajar com mais luxo. — Ele fez justamente isso. — Ela levantou a taça, tomou um pequeno gole, seus lábios provocando a borda, a bebida aquecida. O que havia de errado com ele em pensar que nunca tinha visto algo mais provocativo em sua vida? Ela lambeu o lábio inferior, depois o superior. — Eu pensei em usar melhor os fundos. Melhorando meu guarda-roupa, por exemplo. — Certamente seu marido não te deixou sem dinheiro. — Ele não me deixou nada. Seu dinheiro era para jogos de azar e prazer. Então, fiquei muito desamparada e desesperada até que vi o anúncio de seu pai. — Ela abaixou a cabeça ligeiramente. — Você vai comer? Ele olhou para baixo e viu que um prato havia sido colocado diante dele. Olhando por cima, ele viu Gilbert em pé no seu lugar habitual. Como o diabo fez sua entrega sem que Locke percebesse? Ele não era o mais frágil dos pés nem o mais quieto. Era ela. Conseguiu, de algum modo, angariar toda a última atenção que possuía. Ele deveria parar de fazer suas perguntas agora. Ele não ia simpatizar com ela, não importando o quanto seu marido a tivesse abandonado. — Você disse que estava indo para as minas hoje, — ela pensou suavemente. — Sim, imediatamente depois do café da manhã. — Você vai entregar o meu subsídio para o mês antes de sair? Ele quase riu. Como foi fácil esquecer que o casamento com ela 73


tinha vindo com um preço. — Claro, minha pequena mercenária. Assim que terminarmos de comer. — Então devemos chegar a isso, não devemos? — Ela voltou sua atenção para os ovos mexidos. Por que razão, ele não podia determinar por que antes ele queria tanto que ela se juntasse a ele - exceto que por um tempo, ela fez a sala parecer não estar tão vazia.

Capítulo 8 Ela teve que tomar tanto cuidado ao responder suas perguntas que estava tentando além da medida. Nunca houve um marido. Ela não era viúva. Mas houve um amor, o que ela pensava ser um grande amor. Que tola ela tinha sido. Ela não ia cometer o erro de se apaixonar novamente. Ele não tinha interesse nisso e nem ela. O que deveria têlos feito perfeitos um para o outro. Em vez disso, serviu para amarrar seu estômago em nós. Ela poderia ter coagido o marquês a cuidar dela. Ela não tinha chance de fazer isso com seu filho obstinado. No entanto, ela sentiu esse desejo insano de ser tão honesta quanto podia com ele. Se ele descobrisse toda a verdade, pelo menos veria que ela limitou sua decepção tanto quanto pôde. Claro que, se ele descobrisse toda a verdade, tudo seria discutível, já que provavelmente ele a mataria de qualquer maneira. Colocaria suas mãos fortes sobre o pescoço dela e a sufocaria até tirar a própria vida dela. Mas ela não podia se preocupar com o futuro. Ela tinha que se concentrar no presente. E logo ele a conduzia pelo corredor até a biblioteca. Ele entrou no que ela estava certa poderia facilmente se tornar seu quarto favorito. Embora estivesse arrumado, ainda tinha um cheiro de mofo que não era completamente resultado de todos os livros que se alinhavam nas prateleiras. Ela se perguntou há quanto tempo havia passado desde que a sala foi arejada, os tapetes batidos e as cortinas lavadas. Ele caminhou até uma pintura de cães em uma caçada, virou-a de lado como se fosse uma porta e revelou um cofre. Enquanto ela não podia ver exatamente o que ele estava fazendo, ela ouviu uma série de cliques de metal. Então houve um claque. O tilintar de moedas, seguido por mais tilintar antes dele voltar a colocar a pintura no lugar. 74


Ele voltou para o lado dela, levantou a mão. Ela estendeu a palma da mão para cima. Ele deixou cair uma bolsa de veludo no centro. Ela estava incrivelmente tentada a abri-la e contar o dinheiro, mas tinha o peso correto e deveria haver alguma confiança em seu relacionamento. Ele deu-lhe, o que ela só poderia descrever como sendo um sorriso decepcionante antes de ir para sua mesa. — Vá em frente e conte, — ele disse. — Eu confio em você. Ele olhou por cima do ombro. — Não, você não confia. Ele tinha sido capaz de ler a mente dela? Isso seria lamentável. — Se eu descobrir logo depois, sei onde encontrar você. Ele colocou um quadril na borda da mesa, cruzou os braços sobre o peito largo. — Tudo o que você precisar eu vou comprar para você, então por que você precisa de uma mesada? — Para coisas que não são necessárias. — Tal como? Ela levantou um ombro. — Um chapéu frívolo. — Uma residência. — Um par extra de chinelos. — Comida. — Chocolates. — Uma nova vida. Proteção. Segurança. — Você é minha esposa, Portia. É meu dever cuidar de você. — O cuidado da minha pessoa, sim, mas o cuidado dos desejos do meu coração? Eu diria que você, sem dúvida, imagina como isso pode ser aborrecido. — Eu quero que você encontre a felicidade aqui. Ele quase a fez se sentir culpada por tirar proveito - quase. Mas muita coisa estava em jogo. Ela levantou a bolsa. - Eu tenho. Ele se levantou da mesa. — Tenho que ir para as minas. Aproveite seu dia. E esteja preparada para esta noite. Você não terá outro indulto. — Eu não pedi um, — ela lembrou-lhe bruscamente. — Eu estava disposta a ir nesta manhã, mas você me recusou. Ele caminhou até ela, quase a tocando. — Você não pode imaginar o que isso me custou. — Ele embalou seu rosto com uma mão grande e poderosa. — Isso provavelmente vai custar-me muito em tormento para o resto do dia, mas porra, se você não tem os lábios mais adorável que eu já vi. Então sua boca estava na dela, provando seu ponto. E maldito se 75


seus lábios fossem tão beijáveis. Estavam cheios, a boca larga e a língua tão habilidosa para acariciar e explorar. Ela se viu colada contra ele, não sabendo ao certo se ela o puxou ou ele quem a atraiu para perto. Não importava. O que importava era a forma como suas mãos a apalpavam de volta com segurança, com a posse, a maneira pela qual ele inclinava a cabeça para prová-la mais plenamente, fornecendo acesso para que ela pudesse prová-lo mais intimamente. O que quer que tenha comido no café da manhã foi substituído pelo café preto que ele bebeu. Ela não ficou surpresa por ele não ter começado a manhã com chá. Ela suspeitava que ele era um homem de desejos fortes em todos os assuntos: espíritos, comida, café, mulheres. Ele não a levaria levemente ou gentilmente. Ele poderia levá-la devagar, mas quando chegasse a hora, ele iria esmagá-la, ser tão exigente quanto ele era agora, insistir que ela não se contivesse, que ela desse tudo o que tinha. Ele podia ser o senhor da mansão, seu marido, chefe da casa, mas quando se tratava do colchão ela podia se garantir. Ela foi ensinada pelos melhores. Ela não recuaria, não permitiria que ele a dominasse entre os lençóis. Eles seriam parceiros iguais e verdadeiros. Um dia poderia vir a se arrepender de tê-la como esposa, mas ela fez um voto de que ele nunca se arrependeria de tê-la como parceira de cama. Interrompendo o beijo, ele a olhou, sua respiração acelerada e pesada. Ela lentamente passou a língua em volta dos lábios para ter um gosto final dele. Seu gemido era de uma criatura atormentada quando seus olhos escureceram. — Até hoje à noite, Lady Locksley, — ele disse antes de girar em seu calcanhar e sair do quarto. Ela não poderia fazer nada, a não ser ficar boquiaberta após ele sair. Ela esperava que ele a colocasse na mesa e a levasse ali mesmo. Querido Deus, mas ele era um homem de incrível restrição e força de vontade. Ela não seria capaz de dobrá-lo facilmente. Por outro lado, foi esse mesmo aspecto dele que a excitou. Ele poderia se manter firme contra qualquer um. Ele poderia salvaguardála, desde que ela lhe desse uma razão convincente para querer protegêla. Uma criança realizaria isso. Ela precisava garantir que eles iriam consumar esse casamento hoje à noite. Com suas moedas aninhadas no bolso da saia, ela passou meia hora na biblioteca olhando os livros, procurando encontrar algo para ler, para ocupar seu tempo. Mas não era a variedade de literatura que ela queria explorar. Era a residência em si, mesmo que não fosse nada mais que uma série de portas trancadas. Exceto que as fechaduras 76


tinham chaves. Ela desceu até a cozinha e encontrou a sra. Barnaby sentada em uma cadeira em seu escritório, tomando uma xícara de chá. — Sra. Barnaby — disse ela. Os olhos da mulher mais velha se arregalaram e ela se levantou, seus ossos rangendo ao longo do caminho. — Milady. — Sra. Barnaby, eu gostaria de pegar emprestado suas chaves por um tempo. Assim como no dia anterior a empregada bateu a mão contra o grande anel. — Eles são de minha responsabilidade. — Sim eu sei. E vou devolvê-las antes que o dia termine. Ela balançou a cabeça. — Sinto muito, Lady Locksley, mas eu não posso dar a você. — Oh, eu acredito que você pode. Ela balançou a cabeça com mais força. — Eu não posso. Com um suspiro profundo, Portia estendeu a mão. — Você pode e você vai. — Você não pode me obrigar. — Eu sou a senhora da mansão. — Vamos ver o que seu senhorio tem a dizer sobre isso. Antes que Portia pudesse responder, a mulher estava correndo mais rápido do que Portia achou que fosse capaz - para fora do quarto. — Sua senhoria foi para as minas, — ela gritou atrás dela. — Não o visconde, — a Sra. Barnaby gritou por cima do ombro. — O marquês. Ele não vai suportar isso de jeito nenhum. Portia quase a chamou de volta, quase rescindiu seu pedido, mas era uma questão de orgulho agora. Ela não ficaria intimidada, nem incomodaria o marido com isso. Ela estava relativamente certa de que ele concordaria com sua posição, mas era sua esperança diminuir seus fardos, não aumentar a eles. Se o marquês estava ou não de acordo com o direito dela de ter as chaves era outro assunto. Ela suspeitava que tinha a ver de como que a sua mente estava esta manhã. Ela seguiu a Sra. Barnaby pelas escadas e esperou do lado de fora dos aposentos do marquês quando a mulher bateu rapidamente. — Entre, — ele gritou. 77


Com destreza, a Sra. Barnaby abriu a porta e entrou. Portia entrou também. O marquês estava sentado numa grossa cadeira almofadada perto da janela, olhando para fora. — Ela quer minhas chaves, — anunciou bruscamente a Sra. Barnaby. Olhando por cima do ombro, Marsden apertou os olhos. Ele parecia menor hoje, mais frágil. — Quem quer suas chaves? — Lady Locksley. — Lady Locksley? Oh, meu Deus, ele já se esqueceu de quem ela era? Ela contornou a Sra. Barnaby. — Meu Senhor. — Ah, sim. — Ele ergueu um dedo retorcido. — Lady Locksley. Se ela quer as chaves, Sra. Barnaby, entregue-as a ela. — Mas ela não é a marquesa. Ela não é a dona da casa. — Ela é a esposa do meu filho. Ele gerencia os negócios agora, o que faz dela a dona da casa. Dê-lhe as chaves. — Não sabemos o que ela pode fazer com elas. — Eu suspeito, Sra. Barnaby, que ela vai abrir uma porta. — Eu poderia fazer isso por ela. — Obviamente, ela quer fazer por si mesma. Não é da nosso conta questionar a viscondessa, então entregue as chaves a ela. Com uma expressão amuada semelhante à que ela dera a Locksley no dia anterior, a Sra. Barnaby retirou o anel de sua cintura e o estendeu para Portia, que o pegou, sentindo como se tivesse acabado de ganhar algo significativo. — Eu preciso delas de volta, — disse a Sra. Barnaby, parecendo estar à beira de chorar. — Sim, claro. Vou devolvê-las no final desta tarde. Com um pigarro, a empregada marchou da sala. Portia caminhou para se aproximar de Marsden, embora ele tivesse voltado sua atenção para olhar pela janela. — Sinto muito que tivemos que incomodá-lo com esse pequeno mal-entendido, — ela disse suavemente. — Sra. Barnaby é uma boa alma, mas ela está acostumada a essa rotina. Ela passou muito tempo sem uma senhora a quem responder, 78


se considerava a senhora da casa. Minha culpa que eu nunca a corrigi. O dano foi feito no momento em que Locke terminou com suas viagens e se instalou para cuidar das coisas. — Isso não é um problema. Ela e eu resolveremos as coisas e nos daremos muito bem. — Eu tenho certeza que você vai, minha querida. — Seu olhar se voltou novamente para a janela. Portia se sentou em uma cadeira à sua frente. — Sentimos sua falta no café da manhã. — Você e meu filho precisam de tempo sozinhos para que possam se conhecerem melhor. Eu o vi sair mais cedo, indo para as minas, eu suspeito. — Ele piscou para ela. — Ele te deu o nosso herdeiro na noite passada? Ela supôs que quando alguém chegasse a certa idade, ele não sentiria mais a necessidade de censurar sua língua. — Eu adormeci. Uma expressão aturdida cruzou suas feições. — Eu pensei que ele teria mais entusiasmo, seria mais viril. Eu não achei que ele fosse tão indiferente ao ponto de você adormecer como se ele nem estivesse lá. Ela lançou uma risada consciente. — Não, não é nada disso. Ele estava preparando um banho depois de sua jornada nos pântanos. Eu estava esperando por ele e adormeci. — Ah, e ele foi educado demais para acordá-la. — Ele balançou a cabeça. — Um homem não deveria ser tão educado em sua noite de núpcias. Se prepare. Ele vai estar duas vezes mais excitado hoje à noite. Suas bochechas ficaram tão quentes que ela ficou surpresa que elas não acendessem. Ela tinha a necessidade de afastar a conversa da cama do filho. — Você está procurando por sua esposa? Ele balançou sua cabeça. — Ela não sai durante o dia. Sol não combina com ela. Então, eu apenas espero, observo as sombras se moverem com a luz do dia, se alongando conforme o dia enfraquece, até que a escuridão a traga de volta para mim. — Você a amava muito. — Ela era tudo para mim. Ainda é. — Ele franziu o nariz. — Ela fica com raiva de mim. Diz que eu perdi minha vida. Mas Ashe, Albert e Edward todos se casaram por amor. Mesmo com Albert e Edward que se casaram com a mesma mulher. Ela sabia que Albert havia morrido e que Edward se casara com a viúva de seu irmão na Suíça, o que criara um grande escândalo entre a 79


nobreza. — E agora Locke é casado. Eu não fiz mal algum para eles, então como eu poderia ter desperdiçado minha vida? — Eu não acho que você fez isso, — disse ela com convicção. — Você é uma coisa doce. Locke vai amar você. Seu peito se apertou. — Eu não exijo seu amor, meu senhor. — Todos nós precisamos de amor, minha querida. Quanto mais pensamos que não precisamos disso, mais fazemos. Mais uma vez, outro tópico que ela queria deixar para trás. — Você gostaria que eu lesse para você? Ele balançou sua cabeça. — Vá fazer o que você queria fazer com as chaves. — Desejo explorar um pouco a residência, mas não vou mexer em nada. Ele assentiu com a cabeça, um olhar distante em seus olhos, e ela suspeitou que ela o havia perdido, que ele estava fora nos pântanos com seu amor. De pé, ela se inclinou e deu um beijo no topo da cabeça dele. Ele mal a reconheceu. Agarrando as chaves, ela saiu do quarto, imaginando por onde começar. Pelos quartos. Ela poderia encontrar um e fazer secretamente seu quarto particular, exceto que Locksley estava correto. Quando ela usaria isso? Cada hora da noite seria passada em sua cama. Certamente havia outra sala que serviria melhor. Uma pequena biblioteca, uma sala de estar, um salão, um pequeno refúgio escondido onde ela poderia escapar para encontrar a paz. Ela não teria que contar a ninguém sobre isso. Seria seu santuário particular. E como o marquês parecia não ficar vagando, suas ações não o incomodariam, já que ele provavelmente não tropeçaria em qualquer cômodo que ela decidisse limpar. E limpá-lo seria a primeira coisa a ser feita. Ela tinha visto a evidência da negligência quando Locksley lhe mostrou o salão de baile, e foi repetida em todos os quartos em que ela pisou. Teias de aranha, poeira, flores decadentes. O odor sufocante do desuso. Ela precisava de um quarto com uma abundância de janelas para poder arejá-lo rapidamente. Mas, enquanto vagava por vários salões e salas de estar para salões de beleza e conservatórios, a melancolia começou a se firmar, apagando qualquer otimismo. Ela podia imaginar uma época em que 80


todos esses quartos eram bem cuidados, aconchegantes e acolhedores. Eles teriam atraído orgulho para o marquês e a marquesa. Uma tristeza ainda maior a percorreu quando percebeu que Locksley não tinha conhecido nada do que tinha sido uma vez. Ele cresceu com o abandono e dilapidação. Fechaduras nas portas não poderiam contê-lo. Sabendo o que descansara do outro lado das portas, agora podia sentir que se infiltrava nos corredores. Poderia ter sido melhor para todos se a estrutura tivesse queimado até o chão depois da morte da marquesa. Então ela abriu uma porta que a fez se sentir grata pela residência ainda estar de pé. A luz penetrava através de uma fresta na cortina de uma das janela, mas era o suficiente para ela ver que havia entrado em uma magnífica sala de música. Janelas se alinhavam em uma parede. Perto deles estava o maior piano que ela já tinha visto. Tão grande. Ou seria se a madeira escura fosse devidamente polida. Ela se aproximou com a reverência que merecia. Fazia anos desde que ela colocara os dedos no teclado, fora desde que saíra de casa. Ela se ofereceu para tocar para Montie, mas ele explicou que quando se tratava dela, ele só estava interessado na música da paixão que era criada entre os lençóis. Ela tinha ficado lisonjeada, tocada pela noção de que ele a queria tanto. Foi um tempo antes que ela entendesse que ser procurada por um único propósito criava uma existência muito solitária. O tipo que ela teria com Locksley. Pelo menos, ele foi honesto com ela, sendo franco com o que ele queria dela, apenas o mesmo que Montie queria, mas Montie a tinha conquistado com belas palavras e promessas de amor. Mesmo que Locksley os oferecesse, agora ela era muito esperta para acreditar em qualquer um deles. Ela não abriria seu coração para ele, apenas suas coxas. Ao aproximar-se do piano, ela queria chorar porque se passara tantos anos sem ser tocado, sem que ninguém ouvisse a gloriosa música com a qual encheria o ar. Não foi apreciado, não foi amado, seu potencial não realizado. Tocando uma tecla, se encolhendo quando um som metálico reverberou, ela não ficou surpresa por precisar de afinação, mas isso podia ser resolvido facilmente. Lentamente, ela começou a girar em círculo, parando quando notou o retrato em tamanho natural de uma mulher pendurada sobre a enorme lareira de pedra. Ela não estava particularmente atraente, mas havia calor em seus olhos, seu sorriso. Portia nunca tinha conhecido alguém sorrir durante uma sessão, mas ela não podia imaginar essa mulher sem uma expressão feliz. Ao se ver atraída pela pintura, ela deu 81


alguns passos mais perto. Baseado no estilo de seu vestido azul, ela tinha que ser uma marquesa recente, sem dúvida a esposa morta de Marsden. Ela estava coberta de poeira e teias de aranha, e ainda assim havia uma qualidade etérea que parecia brilhar quando seu entorno deveria ter entorpecido a pintura. — Como você foi afortunada por ser tão amada, — ela sussurrou. Segurando os braços, Portia completou seu círculo, sua alegria crescendo enquanto ela observava as várias áreas de estar, as prateleiras exibindo livros, estatuetas e vasos, e as várias decorações dispostas em toda a sua espera para serem liberadas de sua mortalha de poeira. Batendo palmas, ela soltou o menor dos gritos. Ela encontrou seu espaço particular.

Era final da tarde quando Locke, coberto de suor e sujeira, entrou na cozinha. Ele não sabia por que acreditava que, se trabalhasse nas minas ao lado dos mineiros, era mais provável que a sorte sorrisse e descobrissem uma veia rica em estanho mesmo depois de dois anos sem nada encontrar. Isso deixou os homens desconfortáveis quando ele começou a cavar ao lado deles. Ele era um senhor. Levaram um tempo para eles aceitarem sua ajuda, sua determinação. Mas ele gostava de alongar os músculos, empurrando-se até o limite da exaustão física. Isso impediu que sua mente viajasse pelo caminho do desespero. Hoje isso o impediu de quebrar sua promessa à esposa de que o dia pertencia a ela. Ele não deveria tê-la beijado antes dele sair, porque o gosto dela tinha ficado com ele muito tempo, manteve o corpo tenso e na necessidade até que ele tinha ido para baixo para os boxes, onde havia sempre o perigo de que ele não iria sair. Então talvez seu pai tivesse direito a isso. Ele realmente precisava ter o próximo herdeiro alinhado. Robbie, sem dúvida, deixaria as minas irem, venderia a terra, já que não fazia parte da implicação do título. Ele não apreciaria sua herança ou o que os marqueses que vieram antes dele construíram. — Você chegou um pouco cedo, — a Sra. Dorset disse a ele, um sorriso conhecedor no rosto. — Embora, para ser sincera, eu estivesse esperando você mais cedo, com uma nova noiva e tudo mais. Já está aquecendo a água do banho há algum tempo. Ele tinha o hábito de tomar banho depois de um dia nas minas, razão pela qual ele havia criado um quarto para tomar banho perto da 82


cozinha. Para a conveniência de obter água quente e não rastrear a sujeira pela residência. Mesmo ele não estando particularmente satisfeito com o quão ansioso ele estava para estar com sua esposa, ele não tinha nenhum desejo de que ela o visse nesse estado, para saber que ele estava envolvido em um trabalho árduo para garantir seu futuro - ou o quanto setenta e cinco libras por mês, estava realmente lhe custando. Eles não eram realmente um casal que compartilhava alegrias e responsabilidades. Eles eram apenas companheiros de cama. Ou eles seriam no fim da noite. Ainda assim, quando terminou de tomar banho e fazer a barba, viu-se sentindo falta dos dedos dela, atados no lenço do pescoço, enquanto vestia as roupas que havia mudado naquela manhã antes de sair. Para as minas, ele precisava de material mais resistente. Quando saiu da sala de banho, quase tropeçou na Sra. Barnaby, que parecia estar aguardando sua aparição. — Ela levou minhas chaves, — anunciou ela, apertou as mãos na cintura, a testa profundamente franzida. — Ela? — Sua esposa. — Para qual propósito? Ela revirou os olhos exageradamente. — Para abrir as portas. Ele assumiu isso. Em retrospectiva, sua pergunta foi bastante inútil. Ele nem se incomodou em considerar como Portia encheria seu dia. Obviamente, vagando pelos corredores e enfiando o nariz onde não deveria. — Ela ainda não devolveu-as, e está quase escuro. Elas são de minha responsabilidade. Eu avisei seu senhorio... — Você falou com meu pai sobre isso? Ela assentiu. — Eu queria sua aprovação antes de entregá-las a ela. Ela não é a marquesa. — Ela é, no entanto, a senhora da mansão. Seus olhos se arregalaram com o tom autoritário, que ele não pretendia que saísse tão forte, mas, independentemente de quão pouco ele pudesse se importar pessoalmente com Portia e seus pequenos dedos gananciosos, ela era sua esposa e, como tal, receberia o respeito que merecia. A boca da Sra. Barnaby curvou-se. — Seu pai disse a mesma coisa. 83


Claro que ele tinha dito. — Onde vou encontrar Lady Locksley? — Perguntou ele. — Eu não sei. Eu não sou sua guardiã. Vagando por aí em algum lugar, suponho. Ele não estava particularmente satisfeito com a resposta dela. Ele e seu pai antes dele tinham sido muito frouxos com os criados. Talvez fosse hora de incitar a sra. Barnaby a se aposentar. Ele consideraria isso. Enquanto isso, ele tinha uma esposa para localizar. Ela poderia estar em qualquer lugar neste mausoléu maciço. Quando ele começou a caminhar, ele considerou que ela provavelmente tinha ido em busca de um quarto de dormir que ela pudesse reivindicar sem que ele soubesse. Lá em cima então. Ele deveria ter perguntado por quanto tempo ela estava na posse das chaves. Havia talvez cinquenta aposentos. Quanto tempo levaria para ela passar por eles, para encontrar um que fosse adequado para ela? Ter seu próprio quarto seria um desperdício. Ela tinha que entender isso. Cada momento de cada noite seria gasto com ele. Ele deixou isso bem claro. Ele estava na metade da escada quando parou, pensou. Talvez ela apenas quisesse explorar. Ele e os protegidos de seu pai tinham certamente feito sua parte roubando as chaves da governanta e se esgueirando para os quartos à meia-noite. Talvez ele planejasse uma pequena aventura para sua esposa, a levasse em uma excursão nas primeiras horas quando tudo rangia e gemia. Ele pensou nela se agarrando a ele... Não, ela não era de se agarrar. Ele sabia disso instintivamente. Ela provavelmente estaria liderando o caminho. A noite estava caindo. Logo ela estaria procurando por ele. Assim, ele deveria simplesmente se estabelecer em sua biblioteca e esperar. Só que quando ele desceu as escadas, ele não estava com vontade de esperar por ela. Ele queria encontrá-la, descobrir exatamente o que ela estava fazendo. Era possível que ela estivesse planejando coletar pequenos itens que trariam um bom dinheiro, coisas que ela acreditava que não seriam notadas como desaparecidas. Embora a verdade fosse que ele não podia vê-la como uma ladra, não importava quanto dinheiro parecesse importar para ela. O irritou quando ela lhe pediu 75 libras naquela manhã, irritou-o mais ainda quando ele percebeu que ela queria contá-lo. Eles tinham um acordo comercial. Segurança para um herdeiro. Era bobo da parte dele culpá-la agora, quando soubera o tempo todo que ela só se importava com títulos e moedas. 84


Ela não ia roubar nada, mas ele suspeitava que ela estivesse fazendo o inventário, se esforçando para determinar quanto valiam. Ela sem dúvida seria metódica sobre isso. Se ela estivesse destrancando todas as portas, examinando o conteúdo de todos os cômodos, duvidava que ela já tivesse subido. Sem dúvida, ela ainda estava no nível principal em algum lugar. Ele andou a passos largos pelos corredores, experimentando portas. Trancado, trancado, trancado. Mas quando chegou ao fim de um corredor monstruosamente longo e largo, ele pôde ver uma leve faixa de luz que só podia sair de uma porta aberta. Calando seu passo, ele cautelosamente se aproximou e olhou para dentro, completamente despreparado para a visão que o cumprimentou. Com um lenço cobrindo os cabelos e as mangas enroladas até os cotovelos, ela estava de joelhos perto de uma estante de livros, puxando itens da prateleira de baixo, limpando-os, colocando-os de lado. De repente, com um grito, ela pulou para cima e para trás. Ele viu a enorme aranha correndo, correndo... Ela levantou a saia ligeiramente e parou o progresso da criatura para sempre com um duro pisoteio. Ele olhou para o pé, que tinha descido com uma determinação infalível. — Você está vestindo um dos meus calçados? — Ele perguntou incrédulo. No começo, ela o encarou de frente, os olhos arregalados, aquela deliciosa e adorável boca ligeiramente aberta. — Você está em casa. Ele não gostou do jeito que suas palavras pareciam perfurar sua armadura, o fez feliz por ele estar em casa. Ele estava acostumado a tomar banho, beber, jantar tranquilo, ler à noite. Sozinho. Sempre sozinho até que ele olhou para seu pai antes de se aposentar. A solidão tinha sido a ordem da noite. Ela ia mudar tudo isso, quer ele quisesse ou não. — De fato, eu estou. A bota? Erguendo a saia, ela estendeu o pé, virando-o de um lado para outro, como se surpreendesse ao encontrar o couro preto polido envolvendo uma boa parte de sua perna. — Seus pés são muito maiores que os meus, o que torna mais fácil matar as aranhas e fornece uma pequena distância delas enquanto eu faço isso. — Ela olhou para ele. — Há um número desordenado delas aqui. E são incrivelmente grandes. E bestialmente feia. — Aranhas cardeais, tinha aversão a elas.

sem 85

dúvida.

Dizem

que

Wolsey


— Homem inteligente. Aproximando-se dela, ele se perguntou por que ele se sentia atraído por ela mais do que nunca. Ela se parecia mais com uma varredoura de rua do que a esposa de um senhor. Ainda assim ele era atraído por ela. — Você tem uma teia de aranha no seu cabelo... — O que? Não! — Ela começou a dar um tapa na cabeça. Ele agarrou seus pulsos. — Fique firme. Embora parecesse bastante petrificada, ela ficou absolutamente parada. Ele nem tinha certeza de que ela estava respirando. Aqueles olhos de uísque tinham uma certa confiança nele que ele não queria decepcioná-la. De alguma forma, ela parecia mais vulnerável com o rastro de sujeira em sua bochecha. Ele não gostou dela estar naquele estado. Ele preferia ela forte e resistente. Ele passou as costas da mão pelos fios sedosos que descansavam contra o cabelo e o cachecol dela, afastando-os. — Pronto. Tudo acabou. — Eu odeio aranhas. — Então você desprezaria entrar nas minas. Sua testa franziu. — Você entra nelas? Ele não quis revelar como passava o dia. — Ocasionalmente. Afinal de contas, nós as possuímos; portanto, cabe a mim dar uma olhada. — Uma mudança no tópico estava em ordem. — O que você está fazendo aqui? — Eu acho que a resposta é óbvia. Com o perigo de as aranhas desaparecerem, ela estava de volta ao seu corpo. Muito mais fácil de lidar. — Então eu suponho que a melhor pergunta é por que você está fazendo isso quando eu já afirmei que a mudança perturba meu pai? — Certamente este quarto é longe o suficiente e ele nunca saberá o que fiz aqui. — Ela se afastou, varreu os braços como se abrangesse tudo que os cercava. — É um lugar tão glorioso. Como eu poderia deixar isso em desordem? Ela correu para o piano. A luz fraca a deixou em silhueta, e ainda assim ele podia ver seu sorriso brilhante. — Isso não é lindo? Ou será assim que eu tiver polido. Eu poderia tocar para você à noite. — Eu tinha um tipo diferente de jogo em mente. Seus ombros caíram, e toda a exuberância pareceu vazar dela como o ar fazia de um balão. — Sim, claro. Boba de mim pensar que 86


poderíamos ter mais. — Ela arrastou um dedo ao longo de uma borda curva, inalou profundamente. Desapontamento irradiava dela. Ele odiava ter matado o sorriso dela. — Você toca? Ela olhou para ele. — Eu faço. Não desde que saí de casa, então estou terrivelmente sem prática, e o piano precisa de afinação, então, sem dúvida, não seria uma experiência prazerosa para você. Mas esta sala... deve ter sido tão magnífica uma vez. Ele lutou para se convencer de que ela queria essa magnificência para si mesma. Que ela queria que a grandeza desta sala aumentasse sua própria majestade, e ainda assim ele não conseguia se convencer da verdade disso. Havia uma honestidade em sua voz quando ela falou da sala que o fez pensar que ela estava sendo mais sincera com ele naquele momento do que tinha sido desde que ele abriu a porta para ela ontem à tarde. Não tinha nada a ver com bugigangas, moeda, título ou ganho. Ela viu este cômodo como poderia ter sido uma vez. Durante toda a sua vida ele se esforçou para não ver nenhum dos aposentos como haviam sido no passado, não queria ver o potencial neles, nunca quis imaginar o riso ecoando entre as paredes, a alegria se espalhando pelos tetos, alegria varrendo o chão. Essas salas serviam apenas como evidência de que nada de bom poderia vir do amor, que era melhor evitar... — É sua mãe? — Ela perguntou ternamente, cortando seus pensamentos. Ele não queria que ela fosse afetuosa ou agradável. Ele queria que ela ficasse tão fria quanto as moedas que ela desejava. Ainda assim ele seguiu o olhar dela em direção ao retrato pendurado sobre a lareira. Seu pai possuía uma miniatura da mesma mulher que ele sempre carregava consigo e às vezes mostrava a Locke. Seus olhos, seu sorriso sempre o atraíam. Quando rapaz, ele se ressentia por ela ter morrido, por tê-lo deixado. Passaram-se muitos anos antes que ele entendesse que ela não tinha escolha. Olhando para ela por trás de uma camada de sujeira, ele podia entender por que seu pai a amava. Mesmo que ela existisse agora apenas em óleos, sua imagem parecia vibrante. Ela possuía a habilidade de aquecer seu coração, fazê-lo sentir-se culpado por não ter aceitado a oferta de Portia para tocar o piano para ele. — Sim. — Eu não pensei assim a princípio, mas quanto mais eu olhei para ela de diferentes ângulos, eu decidi que ela era muito bonita. — Linda o suficiente para deixar um homem louco. — Perder ela o deixou louco, não ela. Há uma diferença. 87


Ele olhou para ela. Um canto da boca e uma sobrancelha ligeiramente inclinada para cima. — Você ficaria louco se eu morresse, — disse ela por provocação. Lentamente, ele balançou a cabeça, não querendo levar essa questão adiante. — Eu não vou te dar meu coração, Portia. Eu fui claro sobre esse aspecto do nosso relacionamento. Podemos ter o casamento anulado amanhã se você entrar nesse arranjo acreditando que poderia de alguma forma adquiri-lo. Ela empalideceu, sem dúvida à menção de um casamento anulado que negaria a ela tudo o que buscava ganhar. — Não tenho ilusões sobre o que você quer de mim, meu senhor. Suponho que devemos nos apressar para a consumação deste casamento. Por que seu tom arrogante poderia fazê-lo se sentir tão idiota, quando, para começar, deveria meramente perguntá-la por que ela havia procurado o casamento com seu pai? Ele tocou a poeira em sua bochecha e ela ficou imóvel, muito quieta. Com seu olhar seguindo, ele arrastou o dedo ao longo da mancha que passou pela boca até o queixo. — Você está precisando de um banho. Vou levar a banheira até o quarto de dormir. — Você não precisa se incomodar. Ele não queria que ela fosse atenciosa, droga. Ele precisava que ela exigisse mimos. — Como você, sem dúvida, descobriu esta manhã, a sala de banho permanece fria. — Pressionando o polegar no queixo, ele esfregou a sujeira, se perguntando por que isso o fascinava tanto, por que ele gostava de vê-la em um estado tão desordenado. — Sra. Barnaby quer suas chaves de volta. — Claro. Eu cuidarei disso imediatamente. Ele moveu o polegar até o lábio inferior, acariciando e desejando mordiscá-lo, mas se sua boca chegasse perto dela, era provável que a jogasse em cima do piano que ela parecia gostar e possuiria ela naquele momento. Isso certamente lhe daria um polimento. Mas ela precisava de um banho. Ele precisava de comida e bebida. E ele não queria levála rapidamente ou de qualquer maneira. Não na primeira vez deles. Todos os outros aspectos de seu relacionamento podem ser duros e desajeitados, mas ele não toleraria isso no quarto de dormir. Isso exigiu paciência da parte dele. Ele viveria com o tormento de não possuí-la por enquanto. Mas antes que a noite terminasse, ele reivindicaria o corpo dela como seu próprio. ****** 88


Enquanto ele a escoltava da sala, Portia ficou um pouco surpresa - baseada na maneira como seus olhos escureceram enquanto esfregava seu queixo - que ele não a jogou em um sofá próximo e levantou suas saias. Uma vez fora, ela trancou a porta, já temendo o encontro que ela teria com a Sra. Barnaby a respeito das chaves de manhã. Ela ia recuperar o quarto, quer Locksley gostasse ou não. Quando ele não estivesse por perto, ela se divertiria tocando piano. Ela entendeu que era a casa dele e as regras dele, mas algumas precisavam ser quebradas. Continuando pelo corredor, ela ficou muito consciente de seu andar irregular, seu chinelo sussurrando ao longo do chão, sua bota estralando. — Como está conseguindo manter minha bota? — Ele perguntou. — Eu enfiei jornal no dedão e ao redor dos lados enchendo o espaço ao redor do meu pé. Um truque que aprendi com minha mãe, que sempre comprou nossos sapatos um pouco para que pudéssemos crescer neles e eles durariam mais. — Nossos sapatos? Você tinha irmãos? Ela fez uma careta. Quanto menos ele soubesse sobre ela, melhor as coisas seriam para ela. Enquanto ela tinha estado terrivelmente desapontada por ele não ter interesse em vê-la tocar o piano para ele, ela encontrou algum conforto em seu querer apenas pelo seu corpo. Não era provável que ele fizesse perguntas ou se aprofundasse em seu passado. Mas ela queria limitar suas mentiras, porque a verdade era sempre mais fácil de lembrar. — Duas irmãs e um irmão. — Ontem à noite, você disse que não tinha família. Porque eu não tenho. — Eles estão mortos? Seria muito mais simples dizer sim. — Não. Mas eles não aprovaram Montie. Então eu tive que escolher ele ou eles. — Você escolheu ele. Ela assentiu. — Mas certamente depois que ele morreu... — Eles não querem nada comigo. — Mesmo que você esteja casada com um nobre? — Eu poderia casar com um príncipe da Inglaterra e eles não me 89


perdoariam. — Ela podia senti-lo estudando-a. Ela falou demais. Ele ia continuar a questionar, e quando ele soubesse a verdade, a anulação que ele havia sugerido anteriormente se tornaria uma realidade. O que ela estava pensando para ser tão descuidada com o que ela revelou? — Por aqui, — disse ele, virando-se por um corredor. Confusa pela direção, ela parou, apontou para outro corredor. — Esse caminho leva às cozinhas. Tenho quase certeza disso. — Estamos fazendo um desvio. — Para qual propósito? — Não é certo uma mulher questionar seu marido. Ou qualquer homem, ela estava bem ciente disso. Se ela tivesse questionado Montie, poderia não estar nessa posição indecorosa. Mas ela não ia cometer o erro de confiar cegamente novamente. — Você não me pareceu do tipo que gostaria de uma ovelha como esposa. — Como você está ciente eu nem queria uma esposa. Havia isso, ela supôs. Então, quando ele começou a andar de novo, ela o seguiu. Ela abriu as portas neste corredor no início do dia. Ela sabia que eles não continham nada nefasto, nada que lhe desse motivo de preocupação. — Mas você precisa de um herdeiro, então, eventualmente, você teria querido uma esposa. — Não queria, nunca quis, mas eventualmente eu teria uma. — Então minha chegada simplesmente mudou seu tempo. Parando na frente de uma porta, ele a encarou. — Não diga como se isso fosse uma questão pequena e que você me fez um grande favor. — Antes que ela pudesse chegar a um pouco de gracejo, ele estendeu a mão. — As chaves. — Há apenas um investigação além da porta. — Eu sei. — Ele estalou os dedos. — As chaves. Deixou cair o anel na palma da mão larga e começou a separar o ferro. — Você não fez um inventário muito próximo ou detalhado dos quartos, — ele murmurou. — Eu não inventariei nada deles. — Por alguma razão, ela foi insultada por sua crença de que ela faria. — Você achou que eu estava procurando por prata? Eu estava apenas esperando encontrar um cômodo que serviria como um santuário. Ele segurava uma chave entre o polegar e o indicador. — Então 90


você apenas olhou para dentro e continuou? — Para a maior parte sim. Até que descobri a sala de música. Foi como se ela falasse comigo. Ele arqueou uma sobrancelha grossa e escura sobre aqueles penetrantes olhos verdes. — Você percebe que isso faz você parecer louca. Ela zombou. — As paredes não falaram literalmente comigo, seu tolo. Eu simplesmente quis dizer que achei a sala acolhedora. — Mesmo com as aranhas? Ela torceu os lábios. — Nem tanto quando as descobri. — Ela bateu a bota no chão. — Mas eu consegui logo dar conta delas. — Então você fez. Antes de se virar, ela quase pensou ter visto admiração brilhando em seus olhos. Ele destrancou a porta, abriu-a e entrou. — Este foi o estúdio da marquesa, — anunciou enquanto ele atravessava para uma pequena escrivaninha. Ela podia ver agora. Com a mobília mais delicada, as cores mais claras. Pode ter sido uma sala alegre, tinha mais de uma janela estreita. Na mesa, ele abriu uma porta para revelar uma variedade de cantos e recantos. Abrindo uma gaveta, ele enfiou a mão dentro e retirou um anel de chaves, o círculo de metal muito menor do que o usado pela governanta. Ele estendeu a mão para ela. — Então você não precisa incomodar a sra. Barnaby pelas chaves no futuro. Ela olhou para a oferta, perguntando por que seus olhos estavam ardendo. Ele estava fazendo mais do que entregando-lhe pedaços de ferro. Ele estava demonstrando que confiava nela, que ela tinha um lugar verdadeiro dentro da casa, em sua vida. Ele estava entregando a liberdade dela, mais do que ela teve em um bom tempo. Lentamente, reverentemente, ela as pegou dele. — Eu não sei o que dizer. — Não há nada a dizer. Você é a senhora da mansão. Você tem direito a um conjunto de chaves. É claro que ele arruinaria o gesto com um tom seco, mas ela não iria deixá-lo abafar completamente seu espírito. — Como você sabia que elas estavam aqui? — Eu vou te dizer durante o jantar. Enquanto isso, estou faminto e você ainda precisa do seu banho. — Então esperarei isso, para você me contar mais tarde. — Ela se 91


virou para ir. — Lembre-se, — ele chamou atrás dela. — Não use luvas. Ela olhou por cima do ombro, dando-lhe seu sorriso mais perverso. — Eu não esqueci. De fato, pretendo usar muito pouco, exceto meu vestido. Menos coisas para você se preocupar mais tarde. Pense nisso durante o jantar. Com seu calçado incompatível, sua saída não estava tão equilibrada quanto ela gostaria, mas com um gemido baixo, inclinou a cabeça e os dedos se apoiando na mesa atrás dele conseguira dar-lhe uma grande satisfação. A noite poderia pertencer a ele, mas pertenceria a ele apenas em seus termos.

Capítulo 9 Ela ia deixá-lo louco. Ele estava bastante certo disso enquanto bebia seu uísque, olhava pela janela da biblioteca para a escuridão e aguardava a chegada dela. Depois de levantar a banheira, ele ficou incrivelmente tentado a se encostar na parede e ver como ela tirava as roupas, enquanto entrava na banheira, enquanto pingava água sobre sua pele. Mas se ele tivesse ficado, duvidava que ela tomasse tanto quanto seu menor dedo do pé antes de ele tê-la nas costas. Ansiava por ela com uma ferocidade que ele não queria reconhecer. Nunca antes uma mulher o afetara como ela. Então ele saiu simplesmente para provar - mais para si mesmo do que para ela - que ele podia. Ele nunca teria esperado encontrar Portia ajoelhada limpando. É verdade que a sra. Barnaby já não era mais tão jovem e seus esforços ontem com a sala de visitas tinham sido tristemente escassos, mas ela tornara a sala habitável. E ela era a governanta. Era seu trabalho manter a casa. Mas Portia tinha começado a ver as coisas sozinha, tinha sido desconfortável com ele preparando seu banho. Ela não queria ser mimada. Ele não esperava isso, não sabia bem o que fazer com ela. Todas as mulheres com quem ele já tinha estado queriam ser mimadas, insistiam nisso. Na verdade, elas queriam elogios constantes, numerosas bugigangas e toda a sua atenção. 92


Com base nas razões de Portia para estar aqui, o que ela esperava ganhar, o que ela procurava, ela deveria procurar ser mimada mais do que qualquer mulher que ele já conheceu. Mas ela estava coberta de poeira e teias de aranha, com sujeira no rosto e nas mãos. Algo estava errado com ele por achar isso tão incrivelmente sensual. Esposas de senhores não rastejavam na lama. No entanto, ela parecia confortável com isso. Quem era Portia Gadstone St. John? Um pouco tarde para estar se perguntando isso, velho amigo. Ele não queria ficar intrigado ou fascinado por ela. Ele não queria conhecê-la. Ele apenas queria se deitar com ela, satisfazer sua luxúria, garantir que ela ganhasse o título de casamento que ele conquistara. Ouvindo passos leves, ele olhou por cima do ombro. Cristo, ela era linda. Se ela entrasse num salão de baile usando aquele vestido roxo que revelava seus ombros de forma tão atraente e sugestiva, ela teria cem pretendentes. Por que responder um anúncio de um homem velho? O que importava agora? Ela era sua esposa. — Você abandonou as botas, eu vejo, — disse ele enquanto ela se aproximava, seus chinelos de cetim, ocasionalmente, aparecendo por baixo da bainha de sua saia. — Você está aqui agora. Tenho certeza que você vai me salvar de qualquer criatura horrível de oito patas. Ele teve o pensamento passageiro de que ele a salvaria de qualquer coisa. — Com base no balanço de suas saias, parece que você não está usando anáguas. — Ele realmente não esperava que ela honrasse suas palavras sobre não usar roupas de baixo. Ela estava apenas tentando provocá-lo. Ela inclinou a cabeça, uma maldade em seu sorriso. — Sem anáguas. Apenas um espartilho, caso contrário meu corpete cairia de maneira imprópria. Sua boca ficou seca. — Apenas um espartilho? — Apenas um espartilho. Bem e meias. Elas eram necessárias para os sapatos. Mas você não precisa remover a seda para ter o seu caminho comigo. Ou mesmo os sapatos para esse assunto. Imaginou-a nua, exceto pelas meias e sapatos, as pernas no ar. — Calçolas? 93


Ela balançou a cabeça, os dentes pressionando o lábio inferior. — Chemise? Outro sorriso provocante. — Espartilho apenas. — Jesus. — quando ele tomou o que restou de seu uísque, ele não perdeu seu olhar de satisfação. Seu pai estava certo. Havia vantagens definidas em se casar com uma mulher com experiência. Ele estava começando a se perguntar por que os homens cobiçavam tão altamente a virgindade em suas noivas. — Uma bebida antes do jantar? — Não, obrigado. Bem, ele precisava de outro. A caminho do aparador, ele passou pela mesa. Ocorreu-lhe que ele poderia levá-la até lá. Livre de saiotes, subiria as saias até a cintura, desabotoaria suas calças, afundava-se nela antes que eles comessem. Mas ele teve a impressão de que ela iria vê aquilo como uma vitória dela. Ele resistiria por mais algum tempo. — O jantar está servido, meu senhor, — anunciou Gilbert. Uma pena. A bebida esperaria. Caminhando até Portia, ele estendeu o braço. Ela colocou a mão sobre ela, e apertou. — Eu não teria feito objeções à mesa, — ela disse docemente, antes de soltar seu braço e sair da sala, balançando os quadris provocativamente. Com os dentes cerrados, ele lançou uma maldição feroz. Ele estava tão focado em salvar seu pai de Portia que ele não tinha considerado a necessidade de se salvar.

Montie tinha sido atraído por ela, queria ela. Ele deixara isso claro na noite em que se apresentou. Mas ele nunca olhou para ela com a intensidade latente que Locksley fez. Enquanto ele se sentou em frente a ela, a vários metros de distância, ela estava bem ciente do desejo que vinha dele quando o vinho foi servido. Embora o desejo parecesse muito manso, uma palavra. Ele queria espalhá-la sobre a mesa e fazer o seu caminho com ela. Ela tinha visto em seus olhos. Ela não sabia se ficaria lisonjeada ou insultada por ele ter conseguido manter seus impulsos sob controle. Ela seria sábia para não provocá-lo tão descaradamente, para não dar a impressão de que ela era um pouco devassa, mas precisava do casamento consumado antes que o sol se levantasse. Era a única 94


maneira de garantir que este arranjo não pudesse ser facilmente desfeito, era a única maneira de garantir uma medida de proteção se Montie descobrisse onde ela estava escondida. Ela tinha sido cuidadosa, nunca usando seu nome durante sua viagem, nunca usando um transporte principal. Daí a viagem no correio, onde nenhuma pergunta havia sido feita, além de seu destino. Ela se sentia relativamente segura, e sempre havia uma chance de que Montie agradecesse sua ausência quando ele descobrisse. Ainda assim, um casamento consumado era essencial para sua estratégia. Recusou-se a sentir-se culpada porque o seu plano tinha dado errado e ela era agora a esposa do visconde em vez do marquês. Ela não iria reconsiderar seu plano simplesmente porque Locksley mostrara uma gentileza momentânea e lhe dera uma série de chaves. Ou porque ele realmente parecia se importar com seu pai. Ou porque ele parecia capaz de destruí-la com pouco mais que um toque. E enquanto ela poderia dizer a si mesma que ela queria que este casamento fosse consumado para seu próprio ganho pessoal, ela não podia negar que o vislumbre que ele tinha lhe dado, da paixão que a aguardava em sua cama, agora tinha seu próprio corpo vibrando com necessidades, que a fez desejosa de que ele realmente a levasse ali naquela maldita mesa. Ficar satisfeita com isso. Parar de torturá-la deixando-a tão obstinada. Gilbert interrompeu seus pensamentos enquanto colocava uma tigela de sopa de tartaruga diante dela. Então ele colocou um em frente do visconde. A testa de Locksley franziu-se. — Você pode trazer toda a comida, Gilbert. Não temos convidados hoje à noite. Então ele tomou seu jantar da mesma forma que fez no café da manhã - com facilidade para os servos e sem alarde. Ela não podia imaginar Montie sendo tão atencioso, sabia com certeza que ele não seria. Servos serviam e ele viveu para ser servido. Ele nunca tinha sido abusivo, mas ele era extremamente habilidoso em garantir que aqueles ao seu redor entendessem seu lugar. Seu coração se despedaçou quando finalmente chegou a entender o lugar dela na vida dele. — Sra. Dorset diz que não podemos mais servir tudo em um prato, não agora que há uma dama em casa - explicou Gilbert, parecendo um tanto culpado. — Então você vai andar de um lado para o outro durante o jantar? — Aparentemente, senhor. Locksley suspirou. — Então, pelo amor de Deus, pelo menos 95


coloque o vinho na mesa para que eu possa servir a mim mesmo. — Sra. Dorset... — Nunca vai saber. — Muito bem, senhor. — Depois de ver o vinho, ele recuou para ficar junto à parede. Seu marido parecia descontente, um homem que não gostava de ser servido. Ela se recusou a deixar essa descoberta fazê-la gostar dele. Ele arruinara seus planos cuidadosamente planejados - mesmo que suas razões fossem elogiadas. Ela provou a sopa. Deliciosa. Não admira que ninguém tenha discutido com a Sra. Dorset sobre como a refeição seria servida. — Você ia me dizer como sabia sobre as chaves, — ela disse baixinho. Diversão dançando em seus olhos, ele se inclinou para trás e levantou sua taça de vinho. — Então eu vou. Os meninos protegidos do meu pai e eu nos imaginávamos intrépidos aventureiros. Nós tirávamos as chaves da Sra. Barnaby depois que ela adormecia e explorava as várias salas durante as últimas horas da noite. — Com o tamanho deste lugar, isso poderia levar anos. Ele assentiu, tomou um gole de vinho. — Quase três, se bem me lembro. Nós éramos como arqueólogos, classificando os escombros de uma civilização arcaica, catalogando nossas descobertas, mas garantindo que nada parecesse perturbado. Enquanto ele disse isso com facilidade, ela não perdeu a tristeza - e culpa - que brevemente tocou o verde dos olhos dele. A civilização arcaica tinha sido a vida de seus pais. Ela se perguntou como teria sido crescer com tão pouco conhecimento do passado. — E quando você cresceu, continuou a explorar, mas mudou-se para o mundo. — Por um tempo. — Você sente falta? Gilbert pegou as tigelas e desapareceu por uma porta. Locksley bateu na taça de vinho. — Espero que ela não tenha preparado uma abundância de comida. Eu não gosto de desperdício. — Eu falo com ela amanhã, devo aprovar o menu. Certifique-se de que não seja muito. Ele assentiu. — Você sem dúvida achará mais fácil lidar com ela do que com a sra. Barnaby. 96


Uma mulher que governava uma cozinha? Ela duvidava muito, mas ela foi criada para administrar uma casa. Ela poderia assumir essa tarefa com bastante facilidade. — Você não respondeu minha pergunta. Você sente falta de viajar? — Às vezes. — Ele deu-lhe um sorriso tentadoramente perverso. — Mas então explorar vai estar no meu futuro muito próximo, não é, Lady Locksley? Calor lavou sua pele. — Você deve sempre virar a discussão nessa direção? — Você é a única sentada aí sem suas calçolas. — É muito lindo, na verdade. A seda do meu vestido contra minhas regiões inferiores. Ele riu sombriamente. — Deus, você é uma provocação. A maioria das mulheres é tímida quanto à cama. — Eu não sou, e você gosta disso. Ele ergueu o copo em uma saudação. — Maldito se eu não fizer. Ela não confiava muito no sorriso que ele lhe dava. Ele a deixou ganhar com muita facilidade. Ela tinha a sensação de que ele a faria pagar mais tarde - em gritos de prazer que poderiam quebrar as janelas. Ela suspeitava que o que ela sabia de prazer ia empalidecer ao lado do que quer que ele entregasse. Ela antecipou e temeu isto. Gilbert entrou e colocou um prato de cordeiro assado e batatas diante dela. Ela levantou o olhar para encontrar Locksley a estudando. Ela estava começando a desejar pelo menos colocar suas calçolas. — Como foi tudo nas minas? Ele estreitou os olhos, seu rosto mudando para uma resolução fria. — Não se preocupe, minha pequena mercenária, seu dinheiro está seguro. — Não era isso — Ela parou, incapaz de culpá-lo por sua baixa consideração por ela. Certamente ela deu a impressão de que estava aqui apenas para ganhar. Sua antipatia e desconfiança por ela lhe davam um escudo. Mas estava ficando difícil para se manter no lugar. — Eu estava apenas perguntando depois do seu dia. Se você achou satisfatório. É isso que boas esposas fazem. Um canto de sua boca se inclinou para cima. — Você está planejando ser uma boa esposa? — Dentro da razão. 97


Ele riu profundamente. — Pelo menos você é honesta. Só que ela não era. Ela desejou que pudesse ser, mas a opinião dele sobre ela era muito baixa. Em vez de levá-la para a cama, ele se livraria dela. Com toda a pressa devida. — Eu quero que as coisas sejam agradáveis entre nós. — Quando o jantar terminar, as coisas serão mais que agradáveis entre nós. Ela soltou um bufo muito sem graça. - Mais uma vez, sua mente deve sempre ir para lá? Ela queria que um homem a desejasse por mais do que seu corpo. Marsden teria querido companhia. Ela deveria ter insistido que se casasse com o marquês. Não que esse homem teimoso e obstinado tivesse permitido, não importando as razões que ela desse. — Eu pensei em você por uma boa parte do dia, — ele disse baixinho. Ela revirou os olhos. — Comigo na cama, tenho certeza. — Às vezes. — Ele desviou o olhar para sua taça de vinho, passando o dedo lentamente para cima e para baixo na haste, assim como ele, sem dúvida, estaria arrastando sobre ela em pouco tempo. Parecia que ele não era o único cuja mente continuava a viajar para o quarto. — Às vezes me pergunto o que realmente trouxe você aqui. Seu olhar, atraente e exigente, bateu no dela. Se ela pensasse por um momento que ele realmente se importava, que ele seria decente sobre isso, ela poderia confessar tudo. — O anúncio do seu pai. — Ela odiava que as palavras saíssem em um resmungo. — Você sabia que eles o chamam de o marquês louco de Marsden? Ela deu um leve aceno de cabeça. — É por isso que você passa tão pouco tempo em Londres? — Como você sabe quanto tempo passo em Londres? — Acredito que mencionei as folhas de fofoca. Verdade seja dita, estou bastante viciada em lê-las. Você e os outros sedutores são frequentemente denunciados. — Ela franziu a testa. — Como o apelido surgiu, a propósito? — Nós costumávamos quebrar as regras em nossa juventude. Mas éramos sempre perdoados. Nossos passados nos tornaram figuras tão trágicas que nos safamos de uma boa dose de mau comportamento. — Você também era conhecido por ser imprudente. — Nós erávamos de fato. Ashe quase se tornou um jantar de leão 98


uma vez. E é claro que Albert morreu no safári, deixando Edward para herdar o título, depois de fingir por meses ser Albert. Foi uma loucura. — Eu me lembro nos jornais. Isso criou um grande escândalo quando sua duplicidade foi descoberta. — Isso aconteceu. Então ele fez algo ainda mais audacioso ao levar a viúva de seu irmão para a Suíça e se casar com ela. Eles não são bem aceitos ainda, mas as pessoas estão começando a se aproximar. Quando eles visitarem aqui, esperarei que você os recebam. — Claro. Eu não sou uma pessoa que atira pedras. Ele segurou seu olhar. — E por que isso, Lady Locksley? Ela parou, sua respiração tímida sobre deixar seus pulmões. Eu sei o que é ser desonrada, banida, expulsa. — Tinha algumas pedras lançadas em seu caminho? — Perguntou ele. Mais que algumas. — Como mencionei, minha família não aprovou Montie. — Ele não me aprovou. — Mas nosso amor era grandioso o suficiente para que isso não importasse. — Esse último comentário acabou sendo uma mentira, mas ela tinha acreditado nisso de todo o coração. — Mas você não está procurando amor agora. — Não, meu senhor. Eu fechei meu coração para isso. É mais fácil assim. — Outra mentira, esta perpetuada por seu eu cínico porque ela sabia que ele nunca a amaria e era inútil desejar o contrário. Por outro lado, nem ela jamais o amaria. Mas a vida com Montie ensinara-a a esconder seus sentimentos e ela se tornara muito boa nisso. Ela esperava apenas que não tivesse aprendido a escondê-los de si mesma.

Ela lambeu o pudim de sua colher, lenta e provocativamente, o tempo todo fazendo pequenos gemidos que o fizeram endurecer, sua pele apertar, sua respiração engatar. Ele não tinha dúvida de que ela sabia exatamente o quanto ela o atormentava e estava se divertindo em fazê-lo penar. Ele queria estrangulá-la. Ele queria beijar cada centímetro dela. Ele queria rir, soltar uma grande gargalhada barulhenta que ecoaria em todos os cantos da mansão. Ele não conseguia se lembrar de uma época em que ele gostasse tanto de uma mulher - e ele ainda tinha que apreciá-la completamente. 99


Seu próprio pudim permaneceu intocado. — Talvez você gostaria de comer também minha sobremesa, — ele ofereceu quando ela finalmente colocou a colher de lado. — Você não gosta de pudim? — Ela perguntou. — Eu não gosto muito de doces, o que deve ser o motivo de gostar de você. Você é tão ácida. Surpresa, ela lavou suas feições. — Você gosta de mim? Ele disse isso? Que se lixe tudo, ele tinha dito. Sem pensar nas repercussões ou como ela poderia interpretar as palavras. Que ela pudesse encontrar esperança nelas para algo mais entre eles. — Você me desafia, Portia. Não posso negar que gosto desse aspecto do nosso relacionamento. Eu nunca gostei muito de choramingar falhas. Ela deu-lhe um olhar lascivo. — Que tal ronronar? Oh, sim, ele definitivamente queria que ela ronronasse. — Há mais alguma coisa a ser revelada, Gilbert? — Não, meu senhor. O pudim foi o último pedaço. Graças a Deus. Ele empurrou a cadeira para trás, levantou-se. Ele pensou por meio segundo, em convidá-la a ir à biblioteca para um conhaque depois do jantar. Mas ele estava cansado de atrasar o inevitável, de fingir ser um cavalheiro, quando ela conseguiu tão facilmente transformá-lo em um bárbaro que só queria violá-la da cabeça aos pés. Sentiu-se bastante predador andando até o final da mesa, e alguns de seus pensamentos devem ter aparecido, porque, de repente, ela pareceu um pouco cautelosa com ele. Boa. Ela poderia ter a mão superior fora da cama, mantendo ele duro e pronto para ela, mas por Deus, ele teria a vantagem uma vez que eles pousassem no colchão. Ele puxou a cadeira, esperou que ela se levantasse com tal elegância, afastando-se da mesa. Ele a pegou em seus braços, tendo satisfação em seu pequeno grito. Seu rosto ao nível do dele, ela olhou para ele. — Certamente você pretende desfrutar de uma bebida depois do jantar. Tudo o que ele queria era beber no uísque de seus olhos. Não que ele fosse tolo o suficiente para declarar essa bobagem. — Acho que atrasamos as coisas por tempo suficiente. Ele observou os movimentos delicados de sua garganta enquanto ela engolia. Ele ia mordiscar esses tendões frágeis muito em breve. 100


Então ele ficou incrivelmente ciente do contorno de suas pernas, seu calor penetrando em seus braços. Nada de anáguas. Ele gostou disso. Ele pensou ter detectado um tremor percorrendo-a antes que o pequeno queixo arredondado se projetasse uma fração e ela deu um aceno quase imperceptível. Enquanto ela lambia os lábios, ela colocou a mão logo abaixo de sua mandíbula, seus dedos pousando contra o pescoço dele, onde o pulso dele pulsava em um ritmo errático. Ela abaixou os cílios levemente, convidativamente. — Estou ansiosa para descobrir se você é tão bom quanto você diz. Se ele soubesse que esposas zombavam e provocavam mais sedutora do que a saia leve mais bem paga que ele já experimentara, ele poderia ter tomado uma mais cedo. Ele pode ter rosnado ou talvez ele tenha soado como se estivesse estrangulando, porque quando ele começou a sair da sala com rapidez, ela riu levemente, passando a mão sobre uma parte do peito e ombro, o que quer que ela pudesse alcançar. Inclinando-se, ela beliscou sua orelha. — Continue assim, sua pequena sirigaita, e eu não vou poder subir as escadas. — Eu gosto que você me queira. Querer era uma palavra muito mansa, mas ele não queria assustála, revelando a extensão de quão desesperadamente ele a desejava. Tampouco queria dar-lhe tanto poder sobre ele. Ela seria a única incapaz de andar antes que a noite terminasse. Ele já sabia que uma vez não seria o suficiente para ele. Inferno, uma dúzia de vezes pode não ser suficiente. Quando ele alcançou as escadas, ela colocou a cabeça em seu ombro, e um protetor feroz varreu através dele que quase o fez tropeçar para trás. Algo sobre o gesto de confiança o fez se arrepender de que ele a queria apenas para um propósito: aquecer sua cama. Desde o momento em que ele abriu a porta para ela, ele teve um desejo insano de possuí-la, reivindicá-la... ganhá-la. Ele não acreditava nos motivos dela para concordar em se casar com o pai. Isso não mudou. Ele estava determinado a melhorá-la em seu próprio jogo - em retrospectiva, ocorreu-lhe que ele poderia ter entrado direto na armadilha dela, mas ele não conseguia se arrepender. Não quando isso garantia que ela estaria se contorcendo debaixo dele. E ela se contorceria. Ela poderia tentá-lo e jogar o flerte impertinente, mas ele era o mestre da noite. No topo da escada, ele desceu pelo corredor em direção ao seu 101


quarto, consciente de sua respiração encurtar-se, da antecipação que o percorria. Ela incitou seus próprios desejos com tão pouco esforço. Ele estava louco por querer isso desesperadamente. Ele passou pelo quarto do pai, parou, amaldiçoando. Ele não queria perturbações esta noite, sem interrupções. Uma vez que ele a tinha em seu quarto com a porta fechada, ele não queria que fosse aberto até o amanhecer. — Devemos verificar o seu pai, — ela disse suavemente. Ele não gostava do aperto no peito porque ela soava como se ela realmente se importasse com o seu pai. Não importava como ela se sentia sobre o marquês. Locke não ia se importar com ela, recusava-se a permitir-se a amolecer em sua direção, para ser acondicionado em torno de seu dedo. O relacionamento deles era definido pela distância emocional. Convinha a ambos. Ainda assim, ele parou. — Eu não demorarei mais que um momento. Espere aqui. Ele estava se inclinando para lhe dar um rápido beijo nos lábios quando a raiva correu por suas feições e o acalmou. — Eu não sou um cachorro para ser comandado, — disse ela. — Desejo dar boa-noite ao marquês, e assim farei, com ou sem a sua aprovação. Ele considerou lembrá-la do lugar de uma mulher - obedecer ao marido em todos os assuntos - mas isso sem dúvida resultaria em uma briga, já que ela não era do tipo que obedecia a ninguém. Foi um dos aspectos que a atraiu. Além disso, ele gostava que ela não fosse uma violeta murcha, que ela estivesse frente a frente contra ele, até mesmo pisaria no dedo do pé se fosse necessário. Mas ele precisava de algum tipo de vitória, então ele correu para um beijo rápido antes de virar para a porta e dar uma batida forte. — Entre, — anunciou seu pai. Abrindo a porta, ele indicou para ela precedê-lo. Ela dançou com um floreio vitorioso. Ela estava precisando ser domada, mas ele não queria matar seu espírito. De pé atrás dela, ele lutou para não estimar quantos segundos levaria para desfazer os laços de seu vestido. — Doze, — anunciou seu pai. Locke olhou por cima do ombro para onde seu pai estava sentado perto da janela. — Perdão? — Você levará doze segundos para conseguir desfazer esses laços. Sua mandíbula se esticou. Ele não gostava de ser tão fácil de ler. 102


— Oito. — Nós não estamos aqui para discutir os meus laços, — ela repreendeu, e ele gostou que ela não murchava ou gaguejou com o conhecimento de que eles estavam discutindo o que estava por vir. — Estamos aqui para ver se você precisa de alguma coisa antes de nos recolhermos aos nossos aposentarmos. — Um herdeiro. Mas eu vou conseguir isso depois que você se recolher. — Honestamente, meu senhor, você precisa expandir seus interesses. Talvez você queira que eu leia para você um pouco. — Não, — Locke rosnou. Ela olhou para trás inocentemente, e ele sabia que não havia inocência nela. A mulher perversa estava apenas procurando atormentá-lo ainda mais. — Nós não estamos lendo para ele hoje à noite, — ele disse. — Como você desejar. — Ela se virou para seu pai. — Sentimos sua falta durante o jantar — Eu prefiro jantar aqui. — A solidão não lhe faz bem, meu senhor. — Eu nunca estou sozinho, minha querida, e você deve me chamar de pai. Ela corou então. Ela realmente não estava confortável com isso, e ele brevemente se perguntou por quê. — Bem, se não há nada que você precisa, vamos para a cama, — disse ele. — Pouco cedo para a cama. Locke lutou para não olhar. Eles não tinham apenas discutido suas amarras e um herdeiro? — Eu tive um longo dia. As rugas no rosto do pai se deslocaram para baixo. — Eu vi você cavalgando, para as minas que eu suponho. Você tem ido muito lá ultimamente. Alguma coisa está errada? Ele não planejava discutir os problemas com ele, especialmente não esta noite. — Tudo está bem. Portia deu-lhe um olhar especulativo que ele não queria interpretar. — Eu vou estar trancando a porta agora, — ele disse ao marquês gentilmente. — Eu só queria que você soubesse. 103


Seu pai acenou com a mão, como se estivesse incomodado com uma mosca. — Continue. Sua mãe estará aqui em breve. Locke não queria se sentir culpado por isso. Era para a proteção de seu pai tanto quanto qualquer outra coisa. — Você tem certeza de que tem tudo o que precisa?" — Eu não tenho tudo que preciso desde que sua mãe morreu. Mas não importa. Você não precisa ouvir os resmungos de um homem velho. Vá dormir com sua esposa. Me dê meu herdeiro. Com essas palavras, sua culpa diminuiu, e ele percebeu que o topo das orelhas de Portia ficou vermelho. Talvez ela corasse mais do que ele pensava. Apenas nem sempre em seu rosto. Interessante. Ele teria que explorar a possibilidade ainda mais. Ele gostou da ideia dela corar em outras áreas. Andando para frente, ela beijou o pai na bochecha. — Bons sonhos, meu senhor. — Pai, — insistiu o marquês. Ela sorriu, assentiu, tentou parecer contrita, mas não repetiu a palavra. Locke tinha a sensação de que nunca faria. Ela passou por ele, saiu pela porta. — Ela é uma beleza, não é? — Perguntou o pai, recuperando a atenção de Locke. — Mais bonita do que a sua mãe, mas não conte isso à sua mãe. — Ele deu um tapinha no peito. — A beleza de sua mãe estava toda dentro. Portia tem um bom bocado lá também. Não esqueça de olhar para lá. A mulher era uma megera conivente. Que seu pai não conseguiu ver, apenas reafirmou que Locke havia tomado a decisão correta em se casar com ela. Ela teria o pai envolvido em seu dedo cinco segundos depois que os papéis do casamento fossem assinados. — Eu só preciso que ela aqueça minha cama. Eu não tenho que gostar dela por isso. — Não seja tolo, Locke. Abra esse maldito coração de vocês. Então eu posso viver minha vida na miséria, se ela morrer? Não é provável. — Durma bem, pai. Quanto a si mesmo, ele não pretendia dormir uma única piscadela.

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Capítulo 10 De pé no corredor, ela lutou para ignorá-lo enquanto ouvia ele dizer ao pai que não gostava dela. Ela tomou algum consolo no fato de que ele não parecia desprezá-la. E ele lhe dera as chaves. Pode não haver afeição perdida entre eles, pois a deles seria uma relação civil. Pelo menos fora da cama. Ela suspeitava que ia ser bastante indomável dentro dele. Saindo, fechou a porta, girou a chave, esperou um segundo, como se precisasse de um momento para se esquivar do manto que o acompanhava depois de passar algum tempo com o pai. Então ele a encarou, sem dar nada, nenhuma de suas dúvidas, suas preocupações, seus problemas. — O que há de errado com as minas? — Ela perguntou. Sua mandíbula se esticou, seus olhos se estreitaram. — Não há nada de errado nas minas. — Você respondeu tão depressa - de forma tão concisa - que eu tinha certeza de que você não queria discutir o assunto com ele. — Eu não fiz isso. — Ele deu um passo mais perto dela. — Meu pai ama suas minas. Comece a falar sobre elas e ele pode continuar por horas. Eu tenho pouca paciência para isso hoje à noite. Ele levantou-a em seus braços e começou a caminhar em direção ao seu quarto de dormir. — Parece que você não tem nenhuma paciência, — ela disse. — Seja grata por isso. Tão brusco, e ainda assim ele não era um homem duro, um homem que ela deveria temer. Um homem duro teria mandado seu pai ser colocado em um asilo mental. Um homem duro não faria concessões a servos idiossincráticos. Um homem duro já a teria tomado. Ele cruzou o limiar, chutando a porta fechada em seu rastro. Desta vez ele a colocou mais perto da cama, a uma curta distância do colchão. — Vire-se, — ele ordenou. Empurrando de volta qualquer receio, qualquer desejo de conhecê-lo melhor antes que ele tivesse o seu caminho com ela, ela se virou, seu olhar caiu sobre o edredom grosso, perguntando se ela deveria afastá-lo, mas ela suspeitava que nada sobre o que seguiria 105


seria muito arrumado. Sete segundos foi tudo o que precisou para ele ter as tiras do vestido desfeitas. Seu dedo calejado roçou a borda inferior de seu espartilho, logo abaixo da parte baixa de suas costas, sobre a curva de suas nádegas. Então sua boca, quente e úmida, seguia o mesmo caminho, fazendo com que o orvalho aquecido se acumulasse entre suas pernas. A doce tortura era quase mais do que ela podia suportar. Finalmente, ele se endireitou e começou a trabalhar nos laços de seu espartilho. Graças a Deus, porque ela mal podia respirar quando a antecipação passou por ela. Ela queria provocá-lo com o que ela não estava usando, mas o pensamento se agitou na borda de sua mente que ele seria capaz de reivindicá-la tão facilmente. Tão pouco separou sua pele, sua feminilidade dele. Seis segundos no espartilho. Ela apertou a mão contra o estômago para evitar que as roupas caíssem. Ele estava definitivamente se movendo mais rápido hoje à noite. Em menos de um minuto ela estaria de costas. Ele arrastou o dedo ao longo de sua espinha, para baixo, para cima. Ele achatou as palmas das mãos contra as omoplatas e moveu lentamente as mãos ao redor dos ombros, afastando o vestido até que ele caiu no chão. O espartilho seguiu para baixo. — Quem teria pensado que alguém com uma coluna tão delicada teria tal coluna? — perguntou ele, e ela poderia jurar que ouviu admiração em sua voz. — Tire a roupa. Ela fez o que ele pediu, depois se virou. — Você está apenas... — Indo me comandar a noite toda? morreu em seus lábios. Ela não sabia se alguém a olhara com tanta fome, uma fera faminta disposta a fazer qualquer coisa para saciar seus desejos. — Cristo, você é linda. — Ele segurou as mãos sob os seios, o polegar e o indicador apertando os mamilos, não muito forte, nem muito suavemente, como se soubesse exatamente o que ela precisava. Engolindo em seco, ela resistiu ao impulso de pegar o vestido e se cobrir. Sua leitura, tão aquecida, tão intensa, a fez se sentir exposta. Inferno, ela foi exposta, em desvantagem. — Retire sua jaqueta. Ele sorriu sombriamente. — Só minha jaqueta? Ela inclinou o queixo, esforçando-se para parecer mais ousada do que se sentia. — Tudo. Aquele sorriso cresceu, tão perverso, tão insultuoso, tão cheio de promessas. — Como minha dama comanda. 106


Ela realmente não esperava que ele obedecesse, nunca realmente sentiu-se igual em seu relacionamento com Montie, mas Locksley não se fez senhor dela. Ele jogou a jaqueta no chão. Seus dedos foram para os botões de seu colete. Sem pensar, ela se adiantou e cobriu as mãos dele com as dela. Ela podia sentir a tensão irradiando através dele. O que ele estava tentando provar por ainda não levá-la? Que ele poderia resistir a seus encantos? Ela podia sentir o quão difícil a batalha era. Ela deveria ter pena dele. Pena que ela queria sua rendição. — Eu vou fazer isso. Nunca tirando os olhos dos dela, ele abaixou a cabeça em concordância, abriu bem os braços. Ela não confundiu o gesto de submissão, sabia que era apenas uma pausa na guerra. — Nós não temos que estar em desacordo, — ela disse baixinho enquanto trabalhava nos botões. — Não estaremos. Eu diria, que nós temos o mesmo objetivo: colocar você na cama. — Ele se afastou do colete, enviou-o voando para onde a jaqueta havia pousado. Ela desenrolou o lenço do pescoço dele. — Ainda sinto que estamos fazendo isso como se fosse uma competição. Sua mão veio descansar logo abaixo de sua mandíbula e, com o menor dos estímulos, ele inclinou a cabeça para trás. — Você me quer mais. Ela queria, droga. Ela queria que ele ansiasse por ela, implorasse, estar à sua mercê. Ela queria estar no controle porque ela não tinha estado antes. Depois de soltar o laço do pescoço, ela o jogou de lado. — Você não me ama. — Ela desabotoou a camisa dele. — Você nunca vai me amar. — Ela removeu as abotoaduras cravejadas de ônix preto, embalando-as na palma da mão, sem saber o que fazer com algo tão obviamente caro e bem trabalhado. Ele pegou-as, levou-as para a mesa de cabeceira, colocou-os ali. Ele arrastou a camisa sobre a cabeça, jogou-a no chão antes de encarála. Ela tinha visto a forma magnífica dele quando ela acordou naquela manhã, e ainda assim ainda tomou fôlego. O tendão e o músculo, a maneira como sua pele estava esticada sobre uma forma moldada à perfeição. Seus olhos nunca a deixaram, ele caiu em uma cadeira próxima e começou a tirar as botas. — Você não gosta de mim, — ela continuou, se odiando por ter soou tão sem fôlego, que sua voz ficou tão rouca e profunda com o simples pensamento de passar a língua sobre o mamilo, ao longo de suas costelas, indo mais baixo até que ela provasse sua essência. 107


— Eu mencionei gostar de você mais cedo. — Comparando-me a pudim, que é muito lisonjeiro. Então você disse ao seu pai que você não precisa gostar de mim para me deitar. Ele estreitou os olhos. — Você não deveria ouvir isso. — Mas ouvi. Mas eu não me incomodo com isso. Nada. Eu não gosto de você também. — Uma pequena mentira. Era difícil não gostar de um homem que exalava tal percepção sensual, que se movia como um animal predatório. — No entanto, eu pelo menos quero garantir que você me deseje. Concluída sua tarefa, ele se levantou e caminhou até ela, seu olhar vagando por cada centímetro visível para ele, e ela desejou ter tirado as meias e os chinelos enquanto ele tirava as botas. Ela se sentiu um pouco tola com eles ainda no lugar. Parando, ele embalou um dos seios dela, sacudiu o polegar sobre o mamilo perolado. — Eu nunca desejei tanto alguém. Sua boca desceu sobre a dela, dura, exigente. Seus braços se fecharam ao redor dela, achatando seus seios contra o peito dele, enquanto suas mãos se apoiavam em ambos os lados de sua coluna e viajavam para cima. O calor tórrido tomou conta dela, suas pernas ficaram fracas e ela passou os dedos pelas costas largas para que tivesse algo sólido para segurar. Ele arrastou os lábios para baixo de sua garganta, ao longo de sua clavícula, beliscando e lambendo como ele foi fazendo, deixando para trás a promessa de devorá-la quando tudo foi dito e feito. Ela tinha pouca dúvida de que iria acordar de manhã para descobrir-se coberta de pequenas contusões amorosas. Amor. Ela quase zombou. Nunca haveria amor entre eles. Mesmo o que estava passando entre eles agora não se assemelhava ao amor nem um pouco. Era tudo sobre possessão, reivindicando o que ele ganhou através do casamento, apropriando-se do que agora era seu por direito. Ela deveria ter se ressentido, quão facilmente ele a fez querer se render, como simplesmente ele inflamava o fogo de seus próprios desejos. Ela nunca pediu que um homem tomasse posse completa do jeito que ela fazia para ele se juntar ao corpo dele com o dela. Nem mesmo Montie. Independentemente do seu amor por ele, ela nunca sentiu essa necessidade intensa, esse medo de que, se ele de repente a soltasse e fosse embora, ela poderia muito bem morrer. Ele moveu sua boca para baixo, e ela arqueou para trás, seus seios como uma oferenda para um deus. Sua boca agarrou seu mamilo e ele sugou com gosto. Chorando com prazer desprotegido rasgando-a, ela 108


levantou a perna para o quadril dele, pressionando seu núcleo feminino contra o comprimento duro e firme dele. Mesmo através do pano, ela podia sentir o calor escaldante. Gemendo baixo, uma mão - dedos esticados - apoiando-a nas costas, ele se moveu para o outro seio e pegou enquanto a mão livre segurava a parte de trás da perna levantada e caminhava até o joelho dela, voltando para baixo, enquanto ondulava contra ela, fazendo-a ficar molhada, desejar uma intimidade mais profunda. Para onde foi a respiração dela? Por que seu coração não podia diminuir? De repente, ela se viu em seus braços mais uma vez e antes que pudesse apreciar completamente sua posição, ele a jogou na cama, seguiu-a para baixo com um rosnado feroz, mais uma vez tomando sua boca, sua língua mergulhando profundamente como se ele temesse partir. Pedaços dele inexplorados e, ainda assim, como ele poderia fazê-lo ao mapear tão detalhadamente? Ela nunca tinha sido tão afetada por um beijo, mas então ele mexeu com faíscas dentro dela para a vida na primeira vez que ele colocou sua boca na dela. Ela odiava admitir que poderia passar a vida inteira a beijá-lo e nunca ter o suficiente.

Ele estava relutante em admitir que poderia nunca ter o suficiente simplesmente beijando-a. A maneira como sua boca luxuriosa se movia por baixo dele, o acolheu, fazendo-o antecipar seu entalhe dando as boas-vindas e fechando-se ao redor de seu pênis. Porque ele a queria tão desesperadamente, ele lutou para conter as necessidades do seu corpo, recusando-se a ceder muito rapidamente à tentação dela. Mas antes que a noite terminasse, ele planejava conhecê-la de todas as maneiras possíveis. Ela era incrivelmente linda, cada centímetro dela perfeita. Ela poderia trazer qualquer homem que ela quisesse ficar de joelhos. Ele prometeu então que nunca iria estar de joelhos por ela. Respirando com dificuldade, ele arrancou a boca da dela, enfiou os dedos nos fios grossos e sedosos do cabelo dela e começou a remover os alfinetes. Ofegando, ela disse: — Teria sido mais fácil se você tivesse feito isso em pé. — Eu não queria que nada obstruísse a minha opinião. — Ele penteou o cabelo sobre os travesseiros, o vermelho glorioso em contraste com o lençol branco. Todo o tempo, as mãos dela deslizaram sobre o peito, os ombros, as costas como se ela não conseguisse se fartar de tocá-lo. A satisfação em saber que ela o queria tanto quanto ele a queria era diferente de tudo que ele já conhecera. 109


Inclinando-se, ela acariciou a língua ao redor do mamilo. Colocando a mão sob a parte de trás de sua cabeça, ele a abraçou e saboreou o tormento dela raspando os dentes sobre a pele sensível antes de dar uma mordida rápida que fez suas bolas apertarem. Ele nunca esteve com uma mulher que ele considerava igual a ele quando se tratava de dar prazer. Sua ousadia o inflamava. Se ele não tivesse mantido as calças, já estaria enterrado profundamente dentro dela - e essa era a razão pela qual ele ainda precisava removê-las. Ele não sabia por que, mas quando se tratava dela, ele queria mais do que abater sua luxúria. Se isso era tudo que eles já tinham, ele queria que valesse o preço de sua liberdade que ele pagou por isso. Ele poderia não amá-la, talvez não gostasse particularmente dela, não confiasse nela completamente, mas ele honraria os votos que dera a ela. Ele permaneceria fiel, ele a respeitaria, ele a honraria como uma esposa deve ser honrada. Mas por trás de uma porta fechada, ele a queria indomável e selvagem, descarada e corajosa, uma megera de primeira ordem. Ela mordiscou-o e cravou as unhas nas nádegas dele. Puxando o cabelo para trás - gentil mas com força -, ele raspou os dentes ao longo da sua garganta. Seus olhos se fecharam, seus lábios se separaram ligeiramente. Pelo menos ela não tentou fingir imunidade aos seus encantos. Ele temia que ela tomasse o rumo de ser fria e frágil, de se esforçar para conter o que ele mais queria dela. Mas aqui pelo menos não havia jogos entre eles. Havia apenas uma necessidade crua que ameaçava destruir sua sanidade.

Abruptamente ele a soltou, sua boca a deixou, e Portia se jogou de volta no monte de travesseiros macios. Ela estava acostumada a ser levada rapidamente, a ter pouca coisa de antemão. Ela pensou que poderia morrer se ele não abrisse logo as calças e a possuísse. Ele estava entre suas coxas, sentando em seus calcanhares. Seria muito fácil para ele soltar os botões e libertar-se. Ela estava molhada o suficiente. Ele iria deslizar para dentro. Seu olhar roçou sobre ela e ela sentiu quase tão claramente como ela sentiu seus dentes um momento antes. Ele começou lentamente a arrastar os dedos ao longo do interior de suas coxas, do topo de suas meias até seus cachos ruivos. Acima. Baixa. Acima. Ela agarrou seus pulsos. — Pare de me torturar. Seus olhos escureceram, seu sorriso era sensual. — Eu apenas comecei. 110


Ele se aproximou dos pés dela. — Eu pensei que você me queria. — Ela odiava o tom petulante, e ainda assim ela parecia incapaz de evitar revelar sua decepção que ele já não estava indo para ela como um homem possuído. — Oh, eu quero. Só não estou convencido de que você me quer. Como ela poderia não querer ele? Ele era todo musculoso e forte. Peito largo e estômago liso. Ela observou seus músculos se esticarem enquanto ele tirava o chinelo, jogou-o de lado, depois fez o mesmo com o outro. Ele cruzou as mãos grandes e poderosas ao redor do pé esquerdo. Ele começou a amassar a ponta do pé, o arco, o calcanhar, enquanto estudava o pé como se fosse a coisa mais interessante dela. Ela nunca teve seus pés tratados com tal cuidado maravilhoso. Era tão adorável que ela queria fechar os olhos e afundar nas sensações, mas ela não conseguia tirar os olhos dele, não queria deixar de ver os movimentos dele, a maneira como os lábios dele se separavam quando ele Levou o pé à boca e deu um beijo nos dedos dos pés, no peito do pé, no tornozelo, antes de desviar o olhar para ela, um desafio nas profundezas verdes, enquanto colocava o pé coberto de meias contra a abertura das calças, contra o cume duro. Aceitando o desafio, ela começou a esfregar o pé ao longo do comprimento maravilhoso e surpreendente dele. Ela queria vê-lo, todo ele, tão desnudo quanto ela. Inclinando-se ligeiramente para a frente, ele começou a desatar a fita que segurava sua meia no lugar acima do joelho. Quando estava solto, ele afastou a meia, revelando uma polegada de pele, antes de enrolá-la novamente para cobrir meia polegada. Uma polegada e meia, as pontas dos dedos dele tocando a pele dela, criando pequenos e deliciosos tremores que sacudiam através dela. Ela quase enlouqueceu antes que a meia fosse completamente removida, deixando o pé descalço contra a calça. Ela pressionou com mais força, sentindo uma grande satisfação no tônus de sua mandíbula. Sem esperar que ele desse atenção ao outro pé, colocou-o no peito, deu-lhe liberdade para circular o mamilo. Esta meia saiu com tanta rapidez que ela não se surpreenderia ao descobrir que estaria destruída quando ela a pegasse do chão mais tarde. Com um rugido feroz, ele abriu as pernas largas, acomodou-se em seu estômago e respirou fundo, mexendo os cachos entre as coxas. Então sua boca estava sobre ela, seus dedos separando as dobras, sua língua acariciando lentamente. Ela gritou com o inesperado prazer que ondulou através dela. 111


Ela fechou os olhos com força, não querendo vê-lo se regozijando com a reação dela, mas como ele poderia se vangloriar quando sua boca continuava a trabalhar sua magia, sugando e beliscando, acariciando e sacudindo o broto inchado? Quando ela finalmente abriu os olhos, ela não viu nenhum deleite, simplesmente um homem empenhado em criar onda após onda de sensação. Deslizando os braços sob as coxas, levantando-as ligeiramente, ele segurou seus seios, seus dedos brincando com seus mamilos. Seus quadris se balançaram, dando-lhe acesso mais fácil e ele pegou. A construção foi lenta, mas intensa. Ela passou os dedos pelo cabelo dele, raspou os dedos sobre os ombros fortes dele. Ele prometeu o prazer dela. Ela certamente não esperava que ele entregasse assim. Ela nem sabia que isso era possível. Ela se sentiu mais estimada naquele momento do que jamais se sentiu com um homem que amava. Lágrimas picaram seus olhos. Lágrimas porque ela foi uma tola. Lágrimas porque ela provavelmente era uma idiota agora para dar o corpo dela livre para experimentar todas as sensações que Locksley estava trazendo à vida dentro dela. Com a língua, os lábios, os dedos, os murmúrios, ele insistiu para que ela soltasse e voasse. Longos e lentos golpes de sua língua, áspero veludo sedoso, dois de seus dedos dentro dela, abrindo-a antes que sua língua lambesse sua essência. Ele explorou tão completamente, tão intensamente. Ela queria resistir à atração da liberação completa e total - e, ao mesmo tempo, queria aceitar esse dom absoluto e altruísta. Seu corpo se esticou, alcançou... rendeu-se. Prazer rasgou através dela, através de todas as terminações nervosas, cada músculo, cada centímetro de pele, das pontas dos dedos através do couro cabeludo, formigando, expandindo, contraindo. Apertando seus olhos com força, ela gritou - uma bênção, uma maldição - enquanto seu corpo convulsionava e seus membros se debatiam. Suas mãos embalando suas costelas eram as únicas coisas que a mantinham ancorada na cama. Ela lutou por respirar, por equilíbrio, mesmo quando seus lábios se abriram em um sorriso de satisfação. Ele soltou-a, afastou-se. A cama mudou com seus movimentos, mas ela era muito letárgica para se importar. Quando ela finalmente conseguiu reunir a força para abrir os olhos, ele se levantou acima dela, as calças foram embora, seu pênis grosso sobressaindo orgulhosamente, a visão dele tomando o pouco fôlego que lhe restava. Ele era magnífico e poderoso. — Você parecia gostar disso, — disse ele. 112


— Não seja tão presunçoso, — ela ordenou. Ele riu sombriamente quando ele dobrou os cotovelos, inclinouse e mordiscou seus lábios. — Eu sabia que as coisas entre nós seriam boas na cama. Só que não tinham sido bons para ele, ainda não. E ela precisava disso, precisava da semente dele derramar dentro dela. Empurrando-se para cima, ela pressionou a boca contra a garganta dele, erguendo os quadris, ciente dele pairando tão perto. — Leve-me. Me faça sua. Com um grunhido, ele empurrou seus quadris para frente, seu eixo deslizando seguro e profundo, esticando-a, enchendo o vale entre suas coxas. — Oh, Cristo, — ela murmurou. Ela pensou que deveria ter doído, porque ele era muito maior do que ela estava acostumada, e ainda assim ele assegurou que ela estava molhada, mais do que pronta para recebê-lo. Ela não queria que ele fosse tão atencioso. Não queria gostar dele. Tudo seria muito mais fácil se ela não sentisse nada por ele. Mas enquanto ele se balançava contra ela, ela temia que pudesse ter julgado mal o poder da intimidade que compartilhariam. Mesmo agora, ele não estava irremediavelmente se metendo, esforçando-se para conseguir sua própria libertação. Ele acariciou seu seio, fechou a boca ao redor da ponta, amamentou. Ele deslizou a mão ao longo das costas dela, sobre o quadril dela, ajustando a posição para que ele pudesse mergulhar mais profundamente. Foi maravilhoso, cada impulso entregue com propósito, com um objetivo. Ela podia senti-lo enrijecer sob as pontas dos dedos, sabia que ele estava pairando na cúspide, que o próximo impulso poderia ser o último, poderia enchê-la com sua semente. O pensamento dele clímax a inflamou. Ela não conseguia tirar os olhos dele. Até o cabelo preto dele estava envolvido, agitando-se contra a testa com seus esforços. Seu próprio prazer voltou a se acumular, a pressão aumentando. Ela não queria essas sensações, não queria o modo como faziam seu corpo se enrolar ao redor dele, agarrar-se a ele como se ele fosse sua única esperança de salvação. No entanto, ele se recusou a ser negado. Ele continuou a atormentá-la com a boca, as mãos e o pênis – tudo funcionando em conjunto para garantir que ela se perdesse no turbilhão de prazeres. Bateu abaixo dele, ela estava mais uma vez chorando quando um orgasmo rasgou através dela e as estrelas explodiram dentro dela. Ele deu um último empurrão poderoso que quase a levantou da cama, seu próprio gemido gutural ecoando ao redor dela enquanto seus músculos se contorciam sob seus dedos. Ele enterrou o rosto na curva do ombro 113


dela, a boca cobrindo o pescoço em orvalho enquanto ele lutava para recuperar o fôlego. Ele manteve seu peso fora dela, mas quando a razão começou a voltar para ela, ela percebeu que seus braços estavam tremendo com a tensão. Ela cruzou as mãos ao redor deles. — Relaxe, — ela pediu. — Eu vou esmagar você. — Eu sou mais forte do que pareço. Ele riu, e pela primeira vez, ela pensou que o som poderia ter sido misturado com um pouco de alegria. Ele se levantou nos cotovelos, colocou as mãos em ambos os lados do rosto dela e passou os dedos pelas bochechas dela. — Estou pensando agora que talvez você possa mover a cadeira pela sala. — Agora não; Eu mal posso levantar um dedo no momento. De manhã talvez. Ele sorriu como se estivessem compartilhando uma piada particular, e ela percebeu que o sorriso poderia devastar seu coração. Ela gostava demais, gostava de quão acessível ele o fazia. Ele saiu de cima dela, rolou para fora da cama e começou a se afastar dela. Sentando-se, ela balançou as pernas para o lado. — Espere aí, — disse ele quando chegou ao lavatório e mergulhou um pano na água. — Eu vou limpar você. Ela parou, não por causa das palavras dele, mas porque Montie nunca tinha feito tal cortesia para ela. Ela foi quem viu as coisas quando terminaram. — Você não precisa. Ele olhou por cima do ombro. — Eu quero. — Com um brilho malicioso em seus olhos, ele começou de volta. — Se eu tiver sorte e fizer isso corretamente, levarei a outra rodada.

Capítulo 11 Ele fez isso corretamente. Isso levou a outra rodada. Uma que foi um pouco mais rápida que a primeira, mas não foi menos intensa. 114


Ela estava tão machucada que no começo ele pensou que fosse virgem. Mas não havia sangue para limpar. E ela estava muito confortável com o corpo de um homem para não ter estado por perto antes. Ainda se ele não soubesse melhor, ele acharia que o prazer que ela experimentou a pegou de surpresa. Eles finalmente conseguiram mover a roupa de lado. Ela estava deitada de costas, um braço levantado, a mão brincando com os fios de cabelo dele, enquanto ele descansava em um cotovelo e arrastava os dedos sobre o esterno, ao longo de suas costelas. Ele tentou descer do lado dela até os quadris dela, apenas para descobrir que ela estava um pouco delicada. Quem teria pensado? — Eu nunca fiz isso, — ela disse baixinho. Ele parou, a mão a um quarto de polegada de distância de seu peito. — Você era virgem? Mas você era casada. Não havia sangue. Ela riu levemente, passando os dedos por cima do couro cabeludo dele. — Não, apenas deite aqui depois, apenas... Eu não sei. É como se o prazer não tivesse se dissipado completamente, e estamos mantendo vivo ainda tocando. — Seu marido não tocou em você depois? — Ele queria morder a língua por fazer a pergunta, odiava ainda mais a centelha de ciúme que acendeu dentro dele porque outro homem a conhecia como ele. Ela balançou a cabeça. — Ele sempre adormeceu logo depois. Ele segurou seu peito. — E você? Ela levantou um ombro. — Observava ele. Me Sinta solitária. — Ela emitiu um som que era em parte zombeteiro, em parte, risada. — Estou sendo boba. Não quero falar sobre antes. Ele não queria saber que ela achou seu amor menos do que satisfatório, que ela poderia ter aprendido que não valia a pena a dor que poderia trazer. Ele apertou as costelas dela, sentiu-a enrijecer - sem dúvida, na expectativa de ele ir ao seu lado para atormentá-la com cócegas. Outra noite ele poderia. Não essa noite. Esta noite era sobre construir confiança para que todas as noites fossem tão boas ou melhores que essa. — Resplendor, — disse ele. — Perdão? — Uma mulher uma vez... Passei algum tempo descrevendo a maneira como ela se sentia após o sexo como um brilhante, me disse que eu não poderia deixá-la ou adormecer até que o brilho fosse embora. Ela se referiria a isso como o resplendor. 115


— É melhor se sentir assim. Ela era bonita? — Ela balançou a cabeça. — Eu sinto Muito. Você não precisa responder isso. Ele gostava que ela soasse quase ciumenta. — Você pode me imaginar com uma mulher feia? Ela o estudou até que ele ficou desconfortável com sua leitura e estava considerando que era hora de voltar a vasculhá-la, antes que essa conversa fosse para algum lugar que ele não queria que fosse. — Sim, — ela finalmente disse. — Mas você estaria com ela por gentileza. — Eu não sou um santo. Eu gosto de beleza em minhas mulheres. — Inclinando-se, ele lambeu a língua sobre o mamilo, tomou satisfação em seu suspiro suave, antes de levantar a cabeça e olhá-la novamente. — Mas existem todos os tipos de beleza no mundo, algumas nem sempre claramente visíveis. Mesmo aquelas aranhas que você odeia têm dentro delas para criar as teias mais intricadas e bonitas. — Você olha abaixo da superfície das coisas. — Eu reconheço que nem todas as coisas devem ser julgadas pela sua aparência. — Você teria se casado comigo se eu fosse um sapo? Se aqueles olhos de uísque dela ainda tivessem o desafio que eles mostravam — Provavelmente. Embora eu seja muito grato por você não ser um sapo. Seus lábios se curvaram levemente enquanto movia a mão pela nuca e começava a acariciar. — Bem, você tem a voz de um sapo de qualquer maneira. — Perdão? Suas bochechas coraram rosa pálido. — Minha voz. É profunda. Como um sapo. — É uma das coisas mais sensuais sobre você. Ela parecia genuinamente surpresa. — Você não sabia disso? — Ele perguntou. Lentamente, ela balançou a cabeça. — Eu tenho ouvido que é bastante impróprio. — Por seu marido? Sua resposta não foi nada mais do que seu rubor se aprofundar. Ele não pôde se conter. — Perdoe-me por perguntar, mas por que diabos 116


você se casou com ele? Ele parece um idiota completo. Rindo, ela rolou para o lado e enterrou o rosto contra o peito dele. Ele não queria admitir o quanto ele gostava de tê-la ali, a respiração dela deslizando ao longo de sua pele, a sensação de seu sorriso se alargando. — Ele era. Eu simplesmente não percebi até que fosse tarde demais. Seus ombros esguios e delicados estavam tremendo com o riso quando ele fechou os braços ao redor dela e a abraçou. Querido Deus, mas o amor nunca fez nenhum favor a ninguém. Isso fez com que seu pai enlouquecesse, fizera com que Portia se casasse com um homem indigno dela. Ele deveria deixar isso para lá. Ele sabia tudo o que precisava saber e, ainda assim, sua natureza competitiva recusava-se a permanecer em silêncio. — Você encontrou satisfação em sua cama? Sua risada parou abruptamente. Ela inclinou a cabeça para trás, enquanto ele inclinava a sua para baixo. Ele não sabia por que era imperativo que ele olhasse nos olhos dela quando ela respondesse. Mesmo que a resposta dela não fosse da sua conta; Ao diabo com isso. — Às vezes, — ela sussurrou. — Mas não como eu tive com você hoje à noite. Sua boca desceu sobre a dela, dura e exigente. Ela iria encontrar satisfação em sua cama pelo menos mais uma vez antes de ir dormir.

Locke a acordou antes do amanhecer para que ele pudesse tê-la antes que a luz do sol invadisse o quarto. Então - embora ela o tenha convidado para ficar - para provar a si mesmo que ele ainda possuía força de vontade suficiente para resistir aos encantos dela, ele se vestiu e foi até a biblioteca para estudar seus livros. Em vez disso, não conseguiu se concentrar, ele continuou vendo-a sentada na cadeira diante da lareira naquela primeira noite. Eles provavelmente passariam muitas noites ali. Ou lá ou no seu quarto ou vagando pelos corredores. Não era como se ele estivesse fornecendo a ela uma abundância de opções. Não que ela precisasse de alguma opção. Ela estava lá para aquecer sua cama, fornecer-lhe um herdeiro. Ela não deveria fazê-lo querer rir. Ela não deveria fazê-lo querer dar-lhe mais. Nem deveria fazê-lo feliz por sua presença quando ele entrou na sala de jantar no café da manhã, depois de se cansar de olhar para a cadeira vazia na biblioteca. Ela estava vestida no azul escuro que tinha usado no dia anterior, o que ele supôs sinalizar que ela iria arrumar um pouco mais a sala de música. Ele se absteve de levantar as 117


saias para ver se ela estava novamente ostentando uma de suas botas. — Bom dia, — ele disse enquanto se sentava. — Novamente. Ela corou. — Bom dia, meu senhor. Eu não tive a oportunidade de expressar as palavras antes. — Você se comunicou muito bem sem elas e me proporcionou um bom dia de verdade. — Ele quase riu vendo Gilbert ficar vermelho como uma beterraba enquanto servia o café de Locke. — Eu vou pegar o seu prato, meu senhor, — ele disse rispidamente antes de desocupar a sala rapidamente. — Eu acho que você o envergonhou, — disse Portia, levantando sua xícara de chá. — Eu não tenho certeza se ele já teve uma mulher. Seus olhos se arregalaram. — Verdade? — Não é como se Havisham estivesse repleta de oportunidades para flertes. Por que você acha que eu viajei pelo mundo? — Para as aventuras. — A maioria das mulheres é uma aventura. Ela começou a cortar o bacon. — Em comparação, tenho certeza de que empalidece. — Procurando por um elogio? Erguendo a cabeça, ela segurou seu olhar, sacudiu a cabeça. — Não. Ele poderia ter deixado ir se ele não soubesse sobre a bunda que ela se casou. — Eu nunca estive mais intrigado por uma mulher. — Mas você deve ter conhecido algumas mulheres exóticas. — Algumas, e se continuarmos falando sobre elas, talvez eu me lembre delas bem o suficiente para mudar minha resposta. — Nenhuma foi memorável? Não desde que ela entrou pela porta. Gilbert reentrou e colocou o prato na frente de Locke, depois assumiu sua posição junto à parede. Locke não tinha vontade de discutir suas conquistas em frente ao mordomo ou de dar a impressão de que precisava tranquilizá-lo. Servos não deveriam ter opiniões, mas ainda assim ele não queria a censura do velho cavalheiro. Ele pegou um ovo. — Eu preciso ir à aldeia. Sei que o dia é seu e não pretendo 118


interferir nisso, mas achei que talvez você poderia querer vir junto. Ele tentou dar uma olhada rápida no rosto dela, avaliar sua reação, depois desistiu de se importar com a comida no prato e olhou diretamente para ela. Ele não se importou em encontrar sua surpresa tão gratificante. — Eu gostaria muito disso, — disse ela. Ele se importava ainda menos com o alívio que passou por ele com sua resposta. — Bom. Pensei em colocar um anúncio no Village Cryer, o jornal local, deixando que saibam que estamos buscando um par de empregadas domésticas que faça tudo e alguns rapazes para transportar as coisas ao redor até que você possa entrar em contato com o escritório de registro do servo em Londres para contratar alguns lacaios adequados. — Você está contratando servos? — Eu não posso ter minha esposa brincando na lama. Se você pretende limpar a sala de música, precisa de alguém para fazer isso. E você vai querer contratar uma criada particular. A Sra. Barnaby não deveria estar subindo e descendo as escadas com seus joelhos velhos. O sorriso que ela lhe deu fez seu peito desconfortavelmente apertar. Era como se ela achasse que ele lhe dera o maior presente do mundo. — Eu não preciso ir para Londres para obter lacaios ou qualquer empregada. Eu gosto da ideia de contratação local. Eu posso ensinar as meninas o que elas precisam saber - com a ajuda da Sra. Barnaby, é claro. Garota esperta, por ter certeza de que a empregada se sentia útil. — E Gilbert poderia ensinar aos rapazes como um lacaio se comporta. Você não poderia, Gilbert? — Ela perguntou. Em toda a sua vida, Locke nunca tinha visto o mordomo ficar tão ereto. Ele assentiu. — Começando como lacaio aqui, eu agradeço a oportunidade de manter alguns rapazes fora das minas. Perdi dois irmãos lá. Eles eram apenas garotos na época. A tristeza tocou seus olhos. — Sinto muito pela sua perda. — Eu agradeço, minha senhora, mas já faz quase quarenta anos agora. — A mineração é mais segura nos dias de hoje, — disse Locke. — Nunca é seguro quando você está indo abaixo do solo, — 119


Gilbert resmungou. — Não está contradizendo o homem que paga o seu salário, você está, Gilbert? — Perguntou Locke. — Não, meu senhor. — Ele olhou para a frente. — As minas são mais seguras agora? — Perguntou Portia a Locke. — Elas são, e eu não permito que crianças trabalhem nelas. Ela recostou-se, como se tivesse descoberto algo importante sobre ele. — Você se importa com as crianças. — Eu me preocupo que o trabalho seja feito corretamente, e as crianças às vezes são descuidadas. — Ele não sabia por que ele não disse a ela que uma vez ele viu uma criança sem vida sendo carregada das minas, e não queria ser responsável pela morte de outro corpo tão pequeno. — Elas são mais adequadas para brincar do que trabalhar. — Você pode soar tão rude quanto quiser. Eu acho que você se importa com elas. — Pense o que quiser. Foi uma decisão comercial. — Eu sempre penso o que quero. Portanto, estou mais convencida do que nunca de que solicitar serviçais em Londres não é o caminho a seguir. Podemos ensinar o pessoal aqui, fornecer outras oportunidades de emprego. — Não estamos abrindo uma escola para servos. Duas empregadas-de-todo-trabalho e dois lacaios. — E a criada particular — lembrou para ele. Ele assentiu. — E um Valete2, — disse ela. — Eu não preciso de um Valete. — Você é um senhor. — Eu não preciso de um Valete. Ela torceu os lábios em uma demonstração de desaprovação, sem dúvida em sua teimosia, em vez de sua falta de um ajudante para vestilo. — Talvez seu pai devesse ter um. — Ele raramente sai do quarto. O que o homem faria?

2

Valete - designa um empregado dedicado a servir como atendente pessoal a seu empregador

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— Eu suponho que você tenha um ponto. Claro que ele tinha. Ele não era de argumentar simplesmente por uma questão de argumentar, embora tivesse que admitir que nunca tinha gostado de ir contra ninguém tanto quanto contra ela. Ele gostava que ela o desafiasse, ela não tinha medo de mostrar sua posição. Ele voltou sua atenção para seus ovos. — Você costuma cavalgar? — Eu não gosto de cavalos. Eles são tão grandes, com dentes tão enormes. Eu prefiro ir em uma carruagem. Suas palavras o surpreenderam, pois ele a imaginou como alguém que apreciaria galopar sobre os pântanos, com o cabelo solto dançando livremente atrás dela. — Eu pensei que você fosse mais destemida. — Não quando se trata de cavalos. Um incidente quando criança sempre me assustou. — Eu não notei nenhuma cicatriz em você, e eu fiz um exame minucioso. Ela deu-lhe um olhar penetrante e deu um tapinha no peito. — Aqui. Tinha que ter sido horrível para deixá-la com medo de cavalgar. Ele quase perguntou por detalhes, mas não queria saber de nada que pudesse ter acontecido durante a infância, não queria sentir nenhuma simpatia por ela. — Será uma carruagem então. Para hoje. Embora possamos ter que trabalhar em sua aversão aos cavalos. Eu gosto de cavalgar. Eu suspeito que você também. — À noite? Sobre os mouros? Esse é o único momento que nos resta enquanto prometo a você que nunca andaria a cavalo durante uma hora que me pertencesse. — Costumo cavalgar sobre as charnecas à noite. Pode ser bastante revigorante. — Eu pensei que você tivesse me avisado para não sair à noite a menos que absolutamente precisasse. — Eu posso ter você como alguém que presta atenção aos avisos? — Não. — Ela deu-lhe um pequeno sorriso perverso. — Quando você quebrou essa regra? — Quando eu tinha quinze anos. Havia a maior lua no céu, uma lua de sangue. Eu queria estar sob sua luz, então escapei, montei um cavalo e cavalguei até o amanhecer. — Durante todo esse tempo, você nunca viu o fantasma de sua 121


mãe? — Nem uma vez. — Talvez quando você fugiu, ela entrou. — Eu duvido. Uma tristeza entrando em seus olhos, ela olhou para as janelas. — Há uma parte de mim que deseja que seu pai realmente a veja. — Talvez seja o suficiente que ele acredita que ele faz. Ela deu sua atenção de volta para ele, uma ligeira ruga entre as sobrancelhas. — Eu não posso imaginar um amor tão grandioso. — O seu não era? Lentamente ela balançou a cabeça, melancolia lavando-a em ondas. — Não, nem mesmo no começo, quando nosso amor era novo e inexperiente. — E seus pais? Eles não se amavam? — À sua maneira, suponho que sim. — Ela levantou-se, dando o fim do assunto. Ele não tinha certeza do porquê ele perguntou. — Eu deveria me preparar para o nosso passeio. Ela saiu da sala e ele teve a mais estranha conclusão: queria que o amor que lhe custara tanto tivesse sido grandioso.

Capítulo 12 A pequena carruagem aberta continha um único banco, então Portia sentou-se ao lado de Locksley enquanto ele manipulava habilmente os dois cavalos. Ela não ficou surpresa com a habilidade dele ou com o fato de ele não ter escolhido um veículo que exigisse um motorista. Ele estava acostumado a fazer por si mesmo. Ele não parecia se importar ou considerava ser mimado como o que merecia. Ela sabia que precisava parar de compará-lo a outros homens que conhecera e, no entanto, não parecia conseguir se controlar. Ele possuía não apenas uma força física, mas também uma interna. Ela não podia imaginá-lo sucumbindo à loucura, duvidando de si mesmo, questionando suas habilidades - não podia imaginá-lo sendo alguma coisa a não ser 122


confiante em suas crenças e ações. Ela estava muito feliz por ele ter pedido que ela se juntasse a ele. Enquanto ela recebia o tempo para si mesma, ela queria ser mais do que simplesmente sua companheira de cama. Ela queria significar algo para ele, o que era uma coisa boba para desejar e ainda assim ela fez. Embora eles não falassem, havia conforto no silêncio. Ela achou agradável estar com ele silencioso, porque ele não estava tentando saber mais sobre o passado dela. Às vezes, quando ele fazia suas perguntas, a guarda dela disparava e se preocupava que ele pudesse descobrir algo que ela não queria que ele soubesse. Ele era esperto demais, muito perceptivo. Se ele não fosse, ela agora estaria casada com seu pai. Ela não estaria dando uma volta com seu marido. A aldeia apareceu, mais cedo do que ela esperava. — Nós poderíamos ter caminhado, — ela murmurou. — Eu não tenho tempo. Eu preciso ir para as minas. — Você não tem um capataz para supervisionar esses assuntos? — Ela perguntou. — Eu gosto de ficar de olho nas coisas. — Incluindo eu, eu suponho. — Especialmente você. Ela ficou surpresa com a pontada que suas palavras trouxeram. — Eu não vou fugir com a prata. — Eu não achei que você faria isso. Você é inteligente o suficiente para saber que eu iria encontrá-lo e fazer você pagar. Ela suspeitava que ele a faria pagar da maneira mais agradável possível. Ele não a atacou como um homem que jamais machucaria uma mulher. Desacelerando a carruagem, ele parou os cavalos em frente a uma loja com uma placa que dizia “Village Cryer”. Na vitrine estava a que parecia ser a primeira página de uma edição recente. Ele proclamou: — Lord Locksley Toma Esposa! — Parece que o vigário tem sido um sujeito ocupado espalhando sobre nosso casamento — reclamou Locksley. Ela não sabia se deveria ficar lisonjeada ou alarmada. — Até que ponto esse jornal tem alcance? — A janela está lá, mas tenho certeza que poderíamos ter outra impressa se você quiser colocar no correio para sua família. 123


Ela olhou, não surpresa ao encontrá-lo estudando-a, avaliando sua reação. — Eles não se importariam. — Não lhe daria uma sensação de satisfação para deixá-los saber que você não fez muito mal para si mesma? — Eu não sou tão mesquinha para ter prazer em ostentar minha boa sorte. Você acha que o vigário relatou nosso casamento para o Times? — Eu duvido que tenha ocorrido a ele que Londres se importaria. — Isso ocorreria ao seu pai. — Improvável. Sua vida gira em torno de Havisham. Ele não se importa com quem sabe que estou casado. Ele só se importava que eu me casasse. Locksley saltou, segurou os cavalos e deu a volta para lhe oferecer a mão. — Você está desapontada por não ter sua recente posição adquirida anunciada? Ela não o culpava por pensar tão mal dela, mas ela estava ficando cansada disso, especialmente depois da noite passada, especialmente quando ele parecia estar feliz por estarem juntos. Colocando sua mão na dele, ela levantou o queixo. — Mas está anunciado. Toda a aldeia deve saber. Embora ninguém vagando pelas ruas estivesse correndo para parabenizá-los, o que não a incomodou nem um pouco. Ela apenas queria ter certeza de que as notícias de suas núpcias ainda não haviam chegado ao Times. A possibilidade de nunca aparecer no jornal de Londres lhe trouxe mais alívio do que ele jamais poderia imaginar. Ela estava segura, protegida, escondida exatamente como queria. Ela desceu, foi remover sua mão, só que os dedos dele se fecharam mais forte ao redor dela. — Por que sempre me resta a impressão de que você não é totalmente honesta comigo? — Perguntou ele. — Por que eu sempre fico com a impressão de que você é um tipo incrivelmente suspeito? — Ela ofereceu em refutação. Ela queria responder que nunca mentiu para ele, mas havia uma ou duas coisas que ela disse a ele que não eram completamente verdadeiras ou exatamente como ela havia revelado. — Se eu não fosse, você seria casada com meu pai. Você pode negar, depois da noite passada, que está contente por não estar? — Eu suspeito que dormiria mais se eu fosse casado com ele. 124


Ele sorriu, e ela absteve-se de tocar o canto daquela boca deliciosa que tinha feito coisas tão más para ela depois que o sol se pôs. — Eu sugiro que você cochile quando voltarmos para Havisham, se o sono é o que você deseja, pois você vai ter menos ainda esta noite. — E quando você vai dormir, meu senhor? — Quando eu me saciar de você. — Você está me desafiando para garantir que você nunca faça? — Você aceitaria se eu estivesse? Ela começou a enrolar seus lábios em seu sorriso lascivo, depois parou. Ela não tinha vontade de brincar com ele, de ser com ele o que fora para Montie. — Eu darei o meu melhor se é isso que você quer. Suas sobrancelhas se uniram. — O que você estava pensando naquele momento? Ela balançou a cabeça. — Algo bobo. Impossível. Devemos chegar aos nossos recados, não deveríamos? Antes que as pessoas comecem a especular sobre o motivo de estarmos apenas aqui, como se fôssemos alguns tolos. — Você pode ser muitas coisas, Portia, mas tola não é uma delas. Eu apostaria minha vida nisso. — E eu aqui me acostumando a ter você por perto. — Você está admitindo que eu perderia essa aposta? — Somos todos tolos. Uma vez ou outra, meu senhor. É a única maneira pela qual podemos nos tornar sábios. — Talvez um dia você me fale sobre essas lições tolas. — Não espere por isso. — Não sonharia com isso. Vamos achar alguns servos, vamos? Seus dedos afrouxaram o aperto, e ele pegou a mão dela e colocou-a no antebraço, antes de conduzi-la ao escritório do jornal. O cheiro de tinta era acentuado, a impressão ocupando boa parte do pequeno espaço. — Lord Locksley! — Exclamou um homem com cabelo grisalho sentado atrás de uma mesa, quando ele se levantou. — Parabéns estão em ordem, eu ouvi. — Eu diria, Sr. Moore, que você escreveu sobre isso. O rosto do homem ficou vermelho, o rubor subindo até a linha 125


do cabelo. — O vigário disse que ocorreram núpcias e, como é meu trabalho relatar as notícias, fiz isso imediatamente. Eu o ofendi? — De modo nenhum. Lady Locksley, permita-me apresentar o Sr. Moore, nosso intrépido proprietário de jornais e repórter. Seus dedos estavam manchados de tinta, as lentes de seus óculos grossos, e ela imaginou-o trabalhando até tarde da noite, tentando determinar as melhores palavras para anunciar qualquer novidade que ele precisasse anunciar. — É um prazer, Sr. Moore, — disse ela. Ele deu a ela uma reverência arrebatadora. — O prazer é meu, minha senhora. O Reverendo Browning alegou que você era uma moça linda. É bom saber que um homem de Deus não mente. Ela estava ciente do calor que abanava suas bochechas, e Locksley dando a sua garganta uma limpeza dura como se advertindo o homem que ele tinha sido totalmente inapropriado com seus elogios. Moore saltou, deu um passo para trás e lançou seu olhar entre ela e o visconde. — Como posso lhe ajudar? — Ele perguntou. — A viscondessa precisa de alguns criados, — disse Locksley, enfatizando seu título. — Queremos colocar um anúncio no Cryer. Moore se animou ainda mais, e ela se perguntou se era a ideia de um senhor fazer uso de seu amado jornal ou a noção de moedas nos bolsos. — Muito bem, meu senhor. — Também precisamos de alguém para afinar um piano. — As palavras do marido a assustaram, pois ela pensou que a ideia de afinar o piano era proibida e a discussão foi encerrada. — Existe alguém local ou devemos enviar para Londres? — Sr. Holt seria ideal. Ele mantém o órgão na igreja afinado. — Envie um aviso a ele, então, que ele é necessário em Havisham. — Sim, meu senhor. Como você gostaria que fosse seu anúncio? — Vou deixar isso para Lady Locksley. — Ele foi até a janela e olhou para fora, enquanto ela seguia Moore de volta para sua escrivaninha desordenada. Ela pensou que talvez o marido estivesse enojado consigo mesmo por perguntar sobre o afinador, por indicar que ela tinha permissão para tocar piano. Ou talvez simplesmente não estivesse confortável com as mudanças que ela queria fazer. Mesmo assim a alegria espiralando através dela era afiada e inconfundível. Ele pode resmungar, mas ele não ia negar o que ela queria. Ela não queria que ele fosse extraordinariamente gentil, porque 126


não queria gostar dele, porque isso apenas aumentava o peso de sua culpa. Ela faria tudo o que pudesse para tornar sua casa um lugar agradável para morar. Que estranho que, quando fugiu de casa, acreditasse que estava ganhando liberdade e, agora, casada, estava encontrando mais do que jamais teve ou conhecera. Quando o anúncio foi escrito para sua satisfação, ela se aproximou para se juntar ao marido na janela. — Nós terminamos. — Muito bom. — Ele ofereceu o braço e ela pegou. — Obrigado, Sr. Moore, — disse ele antes de escoltá-la para fora. Uma vez que estavam no calçadão, ela disse: — O anúncio estará no jornal de amanhã, então suponho que eu comece a entrevistá-los. — Eu suspeito que você começará a entrevistar hoje. O papel de jornal é meramente uma formalidade. Moore é o maior fofoqueiro da aldeia. Ela riu levemente. — Verdade? Ele deu-lhe um sorriso lacônico. — Ele é muito bom em não espalhar contos falsos, mas ele é mais o 'pregoeiro' do que o seu papel. — Você não gostou que ele me achasse bonita. — Eu não gostei que as palavras dele fossem inapropriadas. Você é uma dama, não uma louca, mas como já faz uns trinta anos desde que havia uma dama, suponho que os aldeões podem ter se tornado negligentes em suas maneiras. É a única razão pela qual não enfiei meu punho no nariz dele. Ela piscou, encarou, surpresa com as palavras dele. — Você teria batido nele? — Você é minha esposa, Portia. Você receberá o respeito que merece como tal ou eu saberei o motivo. E se ela não merecesse o respeito? Ela não pensaria sobre isso, deixaria o passado para trás, se tornaria uma mulher que merecia seu respeito, que era digna de ser sua esposa. — Você me respeita? — Ela perguntou. — Como eu percebo você não é o ponto. Agora eu tenho outro assunto para ver. Vamos andar? — Eu gostaria de ter uma noção da aldeia. Suponho que passarei algum tempo aqui. — Desistindo de sua mesada mensal? — Ele perguntou quando 127


começaram a caminhar para o norte. Ela não ia gastar um centavo. Ela iria acumular tudo, caso chegasse a hora em que ela se encontrasse novamente sozinha. — Eu pensei que você fosse comprar tudo o que eu preciso. — Nada frívolo. Como a afinação de um piano? Ela realmente não sabia o que fazer com esse homem. — Quem vai decidir se é fútil? — Eu devo, é claro. — Eu não consigo entender você, Locksley. Por um lado, você parece ser incrivelmente dominador e, por outro lado, é incrivelmente gentil. Ele franziu o cenho, os sulcos em sua testa profunda, seus olhos tão duros quanto as gemas que sua sombra refletia. — Eu não sou gentil. — Você me deu as chaves. — Porque eu não queria ter que lidar com uma chateada Mrs. Barnaby todos os dias. Nunca confunda praticidade com gentileza. — Vou manter isso em mente. — Ela se perguntou por que ele estava tão decidido a não ganhar seu afeto. Ela supunha que tinha a ver com a sua aversão ao amor. Talvez ele temesse que, se ela fosse cuidar dele, ele pudesse retribuir. Era óbvio, enquanto vagavam pelas ruas, que muitos dos aldeões conheciam Locksley, mas havia uma deferência às suas saudações: uma sacudidela do chapéu, uma rápida reverência, um silenciosamente falado — Meu senhor, minha senhora. — Uma abordagem muito diferente do encontro com o Sr. Moore. Ela sem dúvida forneceria algum tipo de presente para os aldeões no Natal. A aldeia em que ela fora criada ficava perto da propriedade de um conde, e a condessa sempre entregara uma cesta de comida para a família de Portia no Natal. Portia tinha considerado a mulher tão elegante, tão refinada, tão bem vestida, mas era igualmente óbvio que só o dever a trouxera até a casa deles. Portia não pretendia dar a impressão de que se considerava acima dessas pessoas, que considerava a tarefa seu dever. Enquanto andavam, ela contou cinco tabernas. Ela suspeitava que o marido tivesse frequentado todas elas. Locksley os levou para outra rua. Passaram por uma hospedaria e um ferreiro. No final da estrada, havia um grande prédio com enormes portas que se abriam. O sinal acima deles dizia "armários e tal." 128


Locksley começou a guiá-la em direção a ela. Ela estava bastante certa por que eles estavam aqui, e de repente ela não queria que ele lhe desse outro presente. Cavando em seus calcanhares, ela resistiu até que ele parou e olhou para ela. Ela balançou a cabeça. — Eu não preciso de uma penteadeira. — Você me disse que as senhoras precisam delas. — Eu estava sendo difícil. Ele arqueou uma sobrancelha. — Ao contrário de agora, quando você está sendo tão complacente? — Você está me permitindo ter criados. Você está providenciando para o piano ser afinado. Eu posso ficar sem uma penteadeira. Ou posso encontrar uma em um quarto abandonado. — Eu já disse que não é uma opção. Ela não podia explicar por que ela não estava confortável com isso. Ela simplesmente não estava. — Eu não esperava que você fosse tão generoso. — Eu disse a você que eu seria. Você me achou um mentiroso? — Não, eu apenas... é demais, muito cedo. — Embora fosse reconfortante saber que ele não estava se esforçando para ser gentil, mas estava meramente honrando sua palavra. — Eu não tenho tempo para discutir, Portia. Eu preciso ir para as minas. Estamos aqui, e se não fizermos isso agora, vou ter que vir à aldeia outro dia. Então vamos resolver isso, vamos? Ele não esperou que ela respondesse, mas simplesmente colocou a mão de volta em seu braço e a levou para o prédio enorme. Aparas de madeira cobriam o chão; a fragrância azeda de cedro encheu o ar. Três homens estavam trabalhando. Dois deles pareciam ser um pouco mais velhos que Locksley, o último consideravelmente mais jovem. Um dos homens mais velhos parou de planejar uma tábua e caminhou na direção deles. Uma fina camada de serragem cobria seu rosto e roupas. — Senhor, — ele disse quando chegou até eles. Ele inclinou a cabeça para ela. — Milady. Parabéns a vocês dois nas recentes núpcias. Ela supunha que suas roupas denunciassem que ela era a nova viscondessa. A última coisa que ela esperava era ser considerada da nobreza, independentemente de seu casamento. — Obrigado, senhor Wortham, — disse Locksley. — Estamos aqui porque Lady Locksley está precisando de uma penteadeira. Eu pensei que você poderia estar à altura da tarefa. 129


— Na verdade, meu senhor, ficaria honrado. Eu aposto que já faz quase trinta anos que fizemos qualquer coisa para Havisham Hall. Esse privilégio foi para o meu pai. — Então parece que estamos muito atrasados, — disse Locksley. — Talvez, meu senhor. — O olhar de Wortham se lançou entre ela e Locksley. — No entanto, a última peça que fizemos para Havisham nunca foi entregue. E acontece de ser uma penteadeira. O marquês estava fazendo isso para sua esposa — ele mudou o peso de um pé para o outro — como uma surpresa para depois... — Ele limpou a garganta — ...dela dar à luz. Então ele não quis mais. Mas nós mantivemos isso. Você gostaria de vê-lo? — Sim, — disse Locksley sucintamente. Wortham se virou; Locksley deu um passo para segui-lo; Portia agarrou seu braço. Ele parou, olhou para ela. — Você não pode estar pensando em levá-lo, — ela disse a ele. Locksley segurou seu olhar. — Por que não? — Era para ser um presente de seu pai para sua mãe. — O que ele nunca recolheu, então está apenas sentado aqui por trinta anos. Ela queria agarrar seus ombros e agitar algum sentido nele. — Você não tem um osso sentimental em seu corpo?

Ele suspirou profundamente, como se chegasse ao fim de sua paciência com ela. — Sr. Wortham, isso foi pago? — ele gritou. — Sim, meu senhor. Locksley deu-lhe um olhar aguçado. — É impraticável ter outro feito quando temos um bom tempo sentado aqui sem uso. — E se o seu pai acontecer de vê-lo — Isso não vai acontecer. Não há razão para ele entrar no nosso quarto. — Mas ele deveria vê-lo sendo levado pelo corredor até o quarto de dormir? — Eu duvido que ele se lembre disso, Portia. Ele raramente se lembra de que dia da semana é. — Mas foi o presente dele para ela. 130


A respiração correu para fora dele em um rápido bufo. — Pelo menos olhe para isto. Se for horrível teremos outro trabalhado. Só que não era horrível. Era simplesmente a peça de mobília mais bonita que já vira. Tinha seis gavetas laterais, três de cada lado do grande espelho oval. A moldura do espelho era um círculo de rosas entalhadas. As pernas da mesa eram grossas e curvas, com fitas de flores enroladas ao redor delas. — É linda. — O pau-rosa dá uma aparência elegante, — disse Wortham. Era mais que a madeira. Foi todo o detalhamento intrincado. — Você acha que Lady Marsden sabia que algo tão bom estava sendo feito para ela? — Eu não penso assim, milady. — Muito triste. — Não sabíamos o que fazer com isso desde que o senhorio pagou por isso. Temos mantido polido e bem cuidado por todos esses anos. Uma pena que não seja usada. Ela olhou para Locksley. Ele estava estudando a penteadeira como se fosse apenas um bloco de madeira, não algo que tivesse sido criado com muito cuidado. — Seu pai era muito habilidoso, Sr. Wortham. — Sim, minha senhora, ele era. Ele ficaria satisfeito em saber que estava sendo apreciado e usado. — Eu suspeito que minha mãe iria usá-la muito bem, — disse Locksley calmamente. Portia virou o olhar para ele. Ele simplesmente encolheu os ombros. — Pelo que entendi, ela era uma mulher muito generosa. Ela odiaria ver essa peça desperdiçada. Portia assentiu. — Eu suponho que faz sentido levá-la. — Quando você pode entregá-la, Sr. Wortham? — Perguntou Locksley. — Amanhã, meu senhor. — Muito bem. Vou enviar-lhe um pagamento com o dobro da sua taxa normal de entrega e vou dar um bônus pelo cuidado que você deu a essa peça ao longo dos anos. — Não há necessidade para isso, meu senhor. — Pode não haver necessidade disso, mas é definitivamente garantido. 131


— É melhor não discutir com ele, — disse Portia a Wortham. — Uma vez que ele tenha decidido algo, ele pode ser bastante teimoso. Ela pegou a visão da boca de Locksley se curvando quando ele se afastou dela. Não sabia por que sempre lhe agradava fazê-lo sorrir ou por que seu comentário a Wortham a fazia se sentir tão bem. Conhecer o marido encheu-a de uma sensação de satisfação, bem como de medo, porque temia que ele tivesse o poder de destruir o que restava de seu frágil coração.

Então ela pensou que o conhecia, sabia? Bem o suficiente para falar dele para um trabalhador como se fossem amigos. Ele não gostava que ela pudesse realmente descobrir, gostava ainda menos das coisas que ele estava antecipando sobre ela. Ele sabia que seus olhos se arregalariam de surpresa e prazer quando perguntou sobre o afinador do piano. Ele sabia que ela não ficaria totalmente confortável tomando a penteadeira. Mas era ridículo gastar dinheiro para ter outra quando seu pai já havia comprado uma que não tinha sido usada por mais de um quarto de século. Ele não teve nenhuma satisfação em sua capacidade de prever suas reações. Tomou muito menos em sua capacidade de prever a sua. Portanto, ele decidira fazer algo totalmente imprevisível e levá-la aos Chás e Bolos de Lydia antes de voltarem para Havisham. Quando entraram, aqueles olhos sombreados de uísque brilhavam com prazer absoluto. E ele amaldiçoou sua estupidez. Ele estava sendo muito complacente. Não ajudava em nada que isso sempre causasse essa estranha sensação de inchaço no peito que tornava difícil respirar por alguns segundos sempre que ela lhe dava um sorriso rápido. Ele não queria que ela sorrisse. Ele não queria que os olhos dela brilhassem. Ele não queria que ela expressasse gratidão a ele. Quando se sentaram em uma mesa perto da janela, ela começou a tirar as luvas devagar. Ele não se opôs quando ela as usou para a jornada. Era apropriado, afinal, e ele precisava que sua esposa fosse apropriada. Mas ela teve que removê-las de uma maneira tão lasciva que o fez querer levá-la a um quarto superior na taverna do outro lado da rua e despir todas as peças de roupa que ela usava? Limpando a garganta, ele voltou sua atenção para a atividade além da janela, para as pessoas que passavam, continuando com seus negócios. Ele passou muito pouco tempo na aldeia, algo que sem dúvida deveria ser remediado agora que ele tinha uma esposa. Eles devem ter mais presença no futuro, garantir que eles sejam respeitados e não temidos por serem loucos. 132


— Foi muito gentil da sua parte dobrar a quantia que você vai pagar pela entrega, — disse ela. — Prático, Portia. Fará com que seja mais fácil para Wortham encontrar alguém disposto a carregar a penteadeira. — Ele podia sentir seu olhar perfurando-o. Ele voltou sua atenção para ela. — Da mesma maneira que estaremos pagando seus empregados, dobre a taxa. Ninguém gosta de passar algum tempo em Havisham Hall assombrada. — Com quem você brincou? — Perguntou ela. — Antes que as crianças protegidas do seu pai chegassem? — Ninguém. Sua expressão refletia tristeza. — Não fique tão triste, Portia. Eu não conhecia nada diferente, então não era como se estivesse sozinho. Ela franziu a sobrancelha e ele se absteve de estender a mão para suavizar as dobras delicadas com o polegar. — Você não pode se lembrar de subir ao teto na biblioteca do seu pai, mas você se lembra que não estava sozinho? — Eu deveria pensar se tivesse ficado sozinho que isso teria causado uma boa impressão e eu me lembraria disso. Eu não lembro. Assim como eu não estava sozinho antes da sua chegada. Estou contente com a minha própria companhia. — Não era totalmente verdade. Ele tinha começado a ter uma sensação de que algo faltava, de uma necessidade de algo mais, mas ele não iria compartilhar isso com ela e dar-lhe qualquer tipo de poder. Ela era uma distração bastante agradável, mas ele não precisava dela em sua vida. Uma jovem trouxe um bule e um prato de bolos. Depois que ela saiu, Portia colocou chá no copo de Locke e depois no próprio. — Seu pai não gosta de chá, não é? — Ele detesta isso. O que o entregou? Seus lábios se curvaram para o mais leve sinal de sorriso. — A abundância de açúcar que ele pediu, seguido pelo fato de que ele não conseguiu tomar um gole. — Você é intensamente observadora. — Eu tento ser. Leva a menos mágoa. Observando enquanto ela mordiscava delicadamente o bolo, ele disse a si mesmo que sua tristeza não era da sua preocupação. Ele certamente não estaria causando nenhuma, já que isso exigiria que ela se importasse com ele, e ele não iria dar a ela o motivo para seguir esse caminho. Ainda assim, importunava para ele. — Você aprendeu isso da maneira mais difícil? 133


Ela tomou um gole de chá, parecia estar contemplando sua resposta. — Na minha juventude, tendia a ver as coisas como eu queria que fossem, em vez de como elas eram. Eu estava inclinada a julgar mal as pessoas e suas intenções. Ele se inclinou para frente. — O que seu marido fez para perder seu amor, Portia? Ter um caso? Ela olhou para a xícara, circulou o dedo ao longo da borda. — Ele tinha uma queda por mulheres solteiras, — ela disse tão baixinho que ele quase não a ouviu. — Você nunca precisa se preocupar que eu seja infiel. Considero os votos que fizemos e os levo muito a sério. Ela olhou para ele através de cílios baixos. — E se você se apaixonar por outra pessoa? — Eu já te disse. O amor não é para mim, então isso não vai acontecer. — Eu descobri que o amor não é tão facilmente controlado. — Nos meus trinta anos sobre esta terra, eu nem senti a centelha disso. — Não é verdade. Você ama seu pai. Caso contrário, você não seria tão protetor para ele como você é. — Estou apenas exibindo o dever de um filho. Mordendo o lábio inferior, ela balançou a cabeça, revirou os olhos. — Você é delirante se você acredita nisso. Ele amava seu pai. Amava Ashe e Edward... e amava Albert. Mesmo o Perdendo. Mas uma mulher? Ele nunca amou uma mulher. Ele há muito tempo fechou seu coração para a possibilidade de nutrir sentimentos profundos por qualquer mulher. — Meu senhor, minha senhora? — Perguntou uma voz feminina, hesitante. Acolhendo a interrupção de seus pensamentos, a essa discussão, ele se virou para a jovem que segurava as mãos dela a sua frente. Seu vestido era modesto, um pouco gasto nos punhos e na gola, mas ela estava arrumada. Nem uma única mecha de cabelo loiro estava fora do lugar. Ele empurrou a cadeira para trás, levantou-se. — Sim? — Eu sou Cullie Smythe. Não quero interromper, mas ouvi dizer que você estava procurando uma empregada de todo trabalho. Eu gostaria de me candidatar para o cargo, e fiquei me perguntando se 134


estaria tudo bem se eu fosse à mansão esta tarde para ver sobre isso. — Não há necessidade de esperar, — disse Locke, puxando a cadeira para mais longe. — Sente-se, senhorita Smythe. Lady Locksley pode entrevistá-la agora. — Agora? — Sua esposa perguntou, seus olhos enormes e redondos. — Por que não? Estamos aqui. Ela está aqui. — E a chegada dela efetivamente acabou com uma conversa indesejada. Além disso, ele estava ansioso para ver como Portia se comportava, já que era improvável que ele estivesse presente para as outras entrevistas. — Sim, por favor, sente-se, senhorita Smythe, — disse Portia. Depois de ajudar a mulher, Locke voltou sua atenção para o exterior, tentando dar a impressão de que ele não estava nem um pouco interessado no que estava acontecendo, quando na verdade ele tinha curiosidade suficiente para matar uma dúzia de gatos. Ele não sabia por que todos os aspectos de Portia o fascinavam. Ele queria vê-la interagindo com outras pessoas. Ele queria observá-la de longe, mas perto o suficiente para ouvir. — Você tem alguma experiência? — Ele a ouviu perguntar à senhorita Smythe. — Eu mantive a casa da minha mãe por dois anos, desde que minha mãe morreu. Com o canto do olho, ele viu Portia colocar a mão sobre a de Miss Smythe em um gesto reconfortante que, por algum motivo inexplicável, fez seu peito apertar. — Sinto muito pela sua perda, — ela disse suavemente com genuína tristeza refletida em sua voz. — Eu sei que é muito difícil perder uma mãe. Quantos anos você tem? — Dezessete. — Se você vier trabalhar em Havisham, você residirá lá. Tem medo de fantasmas, senhorita Smythe? — Não tanto quanto temo passar fome. — Isso é uma possibilidade? — A preocupação verdadeira na voz de Portia indicava que ela seria uma senhora justa. Locke não queria que ela abusasse dos empregados, mas também não queria que ela se importasse tão profundamente. Tudo o que ele aprendeu sobre ela contradizia o que ele tinha originalmente assumido, e isso o perturbou. — Sim, — disse Miss Smythe. — Eu estive pensando em ir a Londres na esperança de garantir uma posição, mas trabalhar em 135


Havisham me permitiria ficar mais perto de casa, o que seria uma dádiva de Deus, já que eu não tenho vontade de sair, na verdade não. — Quem cuidaria da casa do seu pai? Mais uma vez, sua preocupação por algo que não deveria pesar em sua decisão. Não era o lugar deles se preocupar com o motivo pelo qual as pessoas faziam o que faziam. — Minha irmã, — respondeu a senhorita Smythe. — Ela tem idade suficiente agora para gerenciar as coisas. — Ela estilizou seu cabelo? Eu gosto muito disso. — Não, minha senhora. Eu consertei isso. — Você consideraria servir como minha empregada particular em vez de empregada doméstica? Locke voltou sua atenção para a mesa. Ele podia ver apenas Portia, mas sua expressão era suave, esperançosa, cheia de gentileza nem de longe a expressão fria que exibia quando a interrogara naquela primeira tarde. Se ela tivesse olhado para ele como ela agora olhava para a senhorita Smythe - ele poderia ter resistido a ela, visto como um perigo para seu coração, e facilmente a mandaria em seu caminho com uma bolsa mais pesada. — Oh, minha senhora. Eu estaria encantada para ir para uma posição como essa. Portia sorriu. — Exatamente porque eu quero você na posição, senhorita Smythe. Eu aprecio a modéstia. Locke quase zombou. Portia não tinha um osso modesto em seu corpo, mas ele foi atingido com a percepção surpreendente de que talvez ela já tivesse tido, que talvez ela tivesse sido tão ansiosa e inocente quanto a Srta. Smythe - antes que seu marido traísse seu amor e sua confiança nele. Locke tinha uma imagem inquietante de uma jovem e ingênua, dando seu coração a um canalha que não merecia isso. Por um momento insano, ele desejou que ele a conhecesse na época, apenas o tempo suficiente para um olhar passageiro. Ele teria mantido a distância, não teria desejado ser enlaçado por seus encantos sem culpa. Não que ele teria sido. Tal coisa nunca lhe atraiu, e quase se arrependeu disso. — Eu não sei o que dizer, milady. — Diga sim. — Mas eu não sei como ser empregada de uma dama. 136


— Eu vou te ensinar. — Bem, eu suponho que seria uma tola em não aceitar, não seria? — Você não me parece uma tola, senhorita Smythe. — Então eu ficaria feliz em aceitar a posição. E vou dar o meu melhor. — Eu não esperaria menos. Você poderia se mudar amanhã? — Eu posso me mudar esta tarde. Portia sorriu sublimemente. — Esperarei ansiosamente recebê-lo em Havisham Hall. Suas palavras foram como um chute no estômago de Locke. Quando foi a última vez que alguém foi recebido em Havisham Hall? Ele teria dificuldade em dizer que as crianças protegidas de seu pai haviam sido bem-vindas, pelo menos a princípio. Além de Ashe e Edward, com suas famílias, ninguém nunca visitou ou foi recebido em Havisham. Sua mente se recuperando com sua consciência da mudança para a rotina que Portia estava trazendo para Havisham, ele mal percebeu a saída da senhorita Smythe. — Você está bem? — Perguntou Portia. Mais uma vez, a preocupação dela - exceto que foi dirigida a ele, e ele não queria esse tipo de cuidado dela. Ele assentiu bruscamente. — Sim, mas atrasamos nosso retorno ao solar por tempo suficiente. Você deve terminar seu chá. — Eu terminei. Ela começou a raspar a cadeira. Ele correu para ajudá-la. Quando ela estava em pé, ele disse: — Foi muito gentil da sua parte dar-lhe uma posição tão elevada na casa. — Ela estava desesperada - aproximando-se de nós aqui, não querendo esperar até um momento apropriado, não querendo arriscar perder a chance de ganhar uma posição. Ela vai trabalhar duro. — Talvez ela seja apenas ambiciosa. Ela balançou a cabeça. — Não. Conheço o olhar de desespero e sei até onde uma pessoa vai quando ela se encontra num beco sem saída. Além disso, eu gosto dela. Acho que nos daremos bem. Contornando-o, ela se dirigiu para a porta. Seguindo atrás dela, ele esperava que ela não tivesse vindo a conhecer o olhar de desespero enquanto olhava para seu reflexo em um espelho. 137


Capítulo 13 Ele pensou em Portia enquanto ele estava nas minas. Pensou nela enquanto galopava seu cavalo sobre os mouros em direção à mansão. Pensou nela enquanto se banhava e enquanto caminhava pelos corredores em busca dela, quase certo de onde a encontraria. Na sala de música. Ele não ficou desapontado. Cruzando os braços sobre o peito, ele se inclinou contra o batente da porta e simplesmente observou. De pé sobre uma escada, tirando o pó do retrato de sua mãe, ela estava vestida como estivera no dia anterior, sem sua bota, pois agora ela tinha dois rapazes a disposição, um mais ou menos 15 centímetros mais alto que o outro, para lidar com as aranhas traquinas. Os novos lacaios moviam móveis para que duas jovens mulheres - uma delas, Cullie - pudessem enrolar os vários tapetes. Ele suspeitava que eles iriam ser batidos de manhã, junto com as cortinas que já haviam sido removidas. Outra jovem usava uma vassoura de cabo longo para varrer a poeira e as teias de aranha das paredes. Lençóis brancos haviam sido colocados sobre o piano para protegê-lo de qualquer poeira que girasse. Tanta atividade nesta sala, mas todos pareciam saber o que eles deveriam fazer. O que ele não entendia era por que Portia - uma caçadora de títulos, uma mulher em busca de prestígio e posição estava no meio das coisas, em vez de ficar do lado de fora apenas ordenando a seus novos criados. Se um estranho entrasse, ele iria confundi-la com uma empregada. Por que ela não estava dominando sua posição sobre essas pessoas? Embora ele não pudesse negar que gostava de observar os movimentos dela: seus quadris balançavam enquanto ela limpava o pó, a maneira como o tecido de seu corpete se esticava enquanto ela alcançava o canto intricadamente esculpido da moldura dourada. Ouvindo um grito curto e agudo, ele estava prestes a virar na direção do som - sem dúvida a empregada na janela - quando viu Portia fazendo o mesmo, só que seu poleiro era precário. Ela se moveu rápido demais, com muita força. De repente ela engasgou, seus braços se agitaram... Ele havia conseguido apenas meia dúzia de saltos frenéticos em sua direção antes dela pousar nos braços do lacaio mais alto, que sorria estupidamente sobre ela como se tivesse adquirido o prêmio em algum jogo justo do condado. Locke estava completamente despreparado para 138


a raiva que o invadiu porque o homem estava segurando sua esposa. Não importava que ele a salvasse do mal. Só importava que ele sorria como um bufão. Portia sorriu para ele, deu um tapinha no ombro dele. — Você pode me libertar agora, George. Ele fez isso, lentamente abaixando seus pés no chão. Afastandose, ela roçou as saias antes de olhar para cima e espionar Locke. A única coisa que o impediu de remover permanentemente o sorriso do rosto do rapaz era o fato de que o sorriso que ela deu a Locke era mais brilhante e mais acolhedor do que o que ela dera ao lacaio. — Você voltou, — disse ela. Que diabo era o problema com ele? O que ele se importava se ela estava feliz em vê-lo? Por que ele deveria estar com raiva porque um trabalhador musculoso salvou sua esposa de uma rachadura na cabeça? Ele deveria ser grato por isso. Em vez disso, ele estava pronto para despedir o homem. — Por que você está trabalhando quando temos empregados para fazer as coisas? — Ele exigiu saber. Ele sacudiu a cabeça em direção à escada. — Você poderia ter quebrado o seu pescoço. — Improvável. Não foi tão longe. No máximo, teria machucado meu traseiro. Embora eu seja grata a George por me resgatar. — Ela deu um tapinha no braço de George antes de olhar para as janelas. — Sylvie, por que você gritou? Está tudo bem? Sylvie, do cabelo preto e olhos azuis que eram redondos demais, fez uma reverência. — Eu vi o senhorio parado na porta. Sua presença me pegou de surpresa. — Eu disse a você que você não tem que fazer uma reverência toda vez que você é abordada. A garota fez uma reverência. — Sim, minha senhora. Com uma paciente sacudida de cabeça, Portia se voltou para Locke. — Quanto tempo você estava lá? — Não muito tempo, mas, novamente, Portia, por que você está subindo escadas e espanando? — Há muito a ser feito. Eu não vi mal algum em ajudar. — Eu não quero você escalando escadas, — “e caindo nos braços de homens jovens e bem construídos,” — e colocando meu herdeiro em risco se você já estiver grávida. 139


Ela empalideceu a tal ponto que ele ficou surpreso que ela não desmaiou. — Sim, claro. Eu não estava pensando nisso. — Ela balançou a cabeça. — Você está certo. Eu não vou mais subir escadas. Eu vou encontrar outro jeito de ajudar. Ele não sabia por que, mas não se sentia vitorioso com sua aquiescência. Por que sua mulher tem que constantemente confundilo? Ele determinou seu caráter antes de se casar com ela. Ela não tinha o direito de não ser como ele sabia que ela era. — Eu vou ter seu banho preparado, — disse ele, muito mais bruscamente do que ele pretendia. — Não há necessidade. George e Thomas podem ver para puxar a banheira e enchê-la. Desde que você quer que eles façam o trabalho deles. Contanto que eles não estivessem imaginando ela naquela água. Que diabo era o problema com ele? Ele teve mulheres em sua vida e nunca experimentou ciúmes - mesmo quando ele estava plenamente consciente de que ele não era o único amante delas. Mas isso era diferente. Ela era sua esposa. Eles trocaram votos. Então não era ciúme que ele estava experimentando, estava sendo apenas cuidadoso de uma certa expectativa dela e daqueles ao seu redor. Os servos do sexo masculino não deviam cobiçar ela, sorrir para ela ou embalá-la em seus braços. O treinamento estava definitivamente em ordem. Ele falaria com Gilbert sobre isso. — Você está certa, — disse ele agora. — Nós vamos ter os lacaios para ver isso. — Muito bom. Permita-me apresentar você. — Ela se virou para os outros na sala e bateu palmas. — Por favor, venha para frente. — Eles fizeram o que ela pediu, embora um pouco hesitante. — Fila, — ela ordenou. — Fiquem de pé em linha reta. Uma vez que eles foram posicionados para sua satisfação, ela se moveu para um lado. — Cullie você já conheceu, é claro. Ele acenou para a garota. — Cullie. — Senhor. — Um rápido golpe de reverência. — Sylvie. Quem deu a ele três reverências. Ele assumiu que ela teria feito uma reverência até que seus joelhos cederam se Portia não tivesse colocado a mão em seu braço e dissesse: — Isso é suficiente. Marta foi a última empregada doméstica. Uma muito boa reverência dela. Os rapazes, George e Thomas, seguiram com arcos. — É um prazer ter todos vocês em Havisham Hall, — disse Locke. 140


— É realmente assombrada? — Perguntou Marta. Sylvie espetou seu cotovelo no lado de Marta. — Você não deveria fazer perguntas para seu senhorio. — Está tudo bem, — disse Locke. — Mas, não, não é assombrada. — Eu vi o fantasma dela nos pântanos, — disse George. — Apenas névoa rodopiante, garanto-lhe, — disse Locke. — Mas... — Você não contradiz seu senhorio, — disse Portia severamente. Porque a nobreza nunca está errada. Havia uma qualidade sarcástica em seu tom. Antes que Locke pudesse colocá-lo à prova, Portia estava de pé diante dele. — George, julguei mal sua disposição para esta posição? O rapaz apertou a mandíbula e balançou a cabeça. — Não, minha senhora. — Espero que não, mas tenha em mente que não tolerarei qualquer comportamento que não seja do meu agrado, nem manterei em nosso emprego quem quer que me irrita ou a seu senhorio. — Sim, minha senhora, mas eu a vi. — Pode ser melhor manter isso para si mesmo. — Sim, minha senhora. Ela enfrentou Locke. — Você queria acrescentar alguma coisa? Ele balançou a cabeça lentamente. A mulher era mercurial. Um momento ela estava agindo como se fosse a igual dos empregados e no próximo ela se reafirmou como a senhora da casa. Um camaleão sortudo. Durante suas viagens, ele viu criaturas suficientes com a capacidade de se misturar ao ambiente que ele sabia que poderiam ser muito perigosas, tinha a sensação de que o mesmo poderia ser dito sobre ela. — Não, eu acredito que você lidou bem com isso. — Certo. — Ela bateu palmas novamente ganhando a atenção de todos. — Como está quase anoitecendo, vou começar minha preparação para o jantar. Cullie, vem comigo. Sylvie e Marta, ajudem a sra. Dorset na cozinha. Thomas e George, falem com o Sr. Gilbert quando você tiver visto o meu banho. Você estará esperando por mim na biblioteca, meu senhor? Como se houvesse outro lugar para ele esperar. — Sim, eu vou. 141


Levaria um tempo, entretanto, então ele decidiu visitar seu pai. Ele foi primeiro à biblioteca pegar um copo de uísque antes de ir para o quarto principal. Ele bateu na porta, esperou o pai convidá-lo a entrar. Uma vez lá dentro, ele entregou um copo ao pai, encostou um ombro na janela perto de onde seu pai estava sentado e observou o céu escurecer e as sombras se espalharem sobre o céu e a terra. — Eu queria que você soubesse que contratamos alguns criados, — disse ele ao pai. — Estou ciente. Portia apresentou-os para mim mais cedo. Acho que o George vai ser difícil. Uma atenta observação — Ela pode mantê-lo em seu lugar. — É respeito isso que ouço na sua voz? — Perguntou o pai. Ele bebeu seu uísque, manteve o olhar lá fora. — Apenas uma observação. — Cuidado, Locke, você vai começar a gostar da garota. — Eu não desgosto dela. — Ele colocou as costas contra a parede, estudou o líquido âmbar em seu copo. O tom rico lembrou seus olhos. — Ela está confortável em lidar com as pessoas. Ela está igualmente confortável fazendo o trabalho. Um momento ela dá a impressão de que ela é uma moça do campo, no próximo ela assume os ares da nobreza. Quem realmente ela é? Seu pai permaneceu em silêncio. Locke olhou para ele com raiva. — Não há mal em me dizer. — Plebeia, como ela disse. — E o marido dela? — Bem o suficiente para que ela administrasse uma casa. Pelo menos ela alegou administrar um. — No entanto, ele a deixou sem nada. — Os homens nem sempre são os melhores que podem ser. Nem, infelizmente, eles sempre apreciam as mulheres em suas vidas. Ou ele era jovem o suficiente para pensar que havia tempo de sobra para fazer arranjos para ela no caso de sua morte. Provavelmente é isso. Você nunca espera morrer jovem. Sempre haverá hora de ver os negócios mais tarde. Locke olhou de volta para os pântanos. Quase escuro agora. — Eu gostaria de ler as cartas que ela escreveu para você. Seu pai riu baixinho. — Isso seria muito fácil. Se você quiser saber 142


algo mais sobre ela, pergunte, fale com ela, tenha um discurso. Flerte. Ele olhou para seu pai. — Um homem não flerta com sua esposa. Seu pai olhou para ele como se o tivesse pego fazendo algo que não deveria. — Não seja tolo, garoto. Claro que ele faz. — Ele a obteve. Qual é a questão? — O objetivo é fazer com que os olhos dela brilhem como a mais rara das joias, para dar cor às suas bochechas, para fazer com que os cantos de sua boca apareçam levemente. Para deixá-la saber que ela é apreciada, ainda considerada especial, vale o esforço. Para dar-lhe a causa de se apaixonar um pouco mais. Eu flertei com sua mãe até o dia em que ela morreu. — Ele levantou um ombro magro, arredondado com a idade — Ainda faço de vez em quando. Levou tudo dentro de Locke para não revirar os olhos. — Confie em mim, ela se sentiu muito bem ontem à noite na minha cama. Seu pai não se absteve de revirar os olhos, fez isso com muito exagero e evidente desapontamento. — O namoro é tão importante fora da cama quanto nela - em alguns aspectos, até mais. Eu falhei de forma miserável em educar você quando se trata de mulheres. — Eu sou bem educado em relação às mulheres. — Quando se trata de seu prazer físico, não tenho dúvidas. Mas um relacionamento requer mais do que isso para florescer. Locke bebeu o restante de sua bebida. Ele não precisava de nada para florescer. — Você deveria se juntar a nós para o jantar. — Você precisa de tempo a sós com sua esposa. — Eu tenho a noite toda para apreciá-la sem companhia. — E você gosta dela. Nenhum ponto em não admitir isto. — Mais do que eu esperava. — Então eu não vou interferir. — Você não estaria interferindo. Suspeito que ela aceitaria sua presença. Seu pai coçou o queixo, o arranhão de seus dedos sobre a barba criando um som suave e áspero. — Não essa noite. — Talvez devêssemos contratar um Valete para você. Seu pai balançou a cabeça. — Gilbert serve bem o suficiente. Você não deveria estar com sua esposa agora? 143


— Ela está se preparando para a noite. Mas sim, eu deveria estar aguardando-a. — Ele se afastou da parede, indo em direção à porta. — Locke? Ele parou e se virou. — Se você quiser saber mais sobre seu passado, pergunte a ela. Eu suspeito que ela receberia bem seu interesse. — Eu sei tudo o que preciso saber, pai. Eu estava apenas conversando. — É um homem insensato que mente para si mesmo. Então ele supôs que iria para o túmulo como um homem incrivelmente insensato.

Capítulo 14 Três noites depois, quando voltou de um dia nas minas, Locke ficou desapontado ao encontrar a porta da sala de música trancada. Ele se acostumou a encontrar sua esposa lá, a ter alguns minutos para observá-la antes que alguém o visse espreitando na porta e engasgasse ou gritasse de surpresa. Apesar de afirmar de que nenhum fantasma pairava, parecia que alguns ainda esperavam o súbito aparecimento de uma aparição. Ele não gostou muito que ele ansiou ver Portia no final do dia, que ela tinha tão rapidamente se tornado uma parte intrincada de sua vida. Acordou com ela nos braços, tendo a sorte de descobrir que o sol ainda estava por nascer, e começou a manhã com um estimulante encontro sexual. Ela era a parceira mais entusiasta que ele já conhecera - ou talvez simplesmente sentisse satisfação em dar-lhe prazer. Seus gemidos e gritos inflamavam seus desejos. Mesmo agora, de pé diante da maldita porta trancada, ele a queria. Mas ele não iria levá-la, não até que eles jantassem. Ele estava determinado a manter algum controle, para não deixá-la ver quão desesperadamente ele a queria nua e debaixo dele. Ele pressionou o ouvido na porta, ouvindo atentamente para garantir que ela e os criados não estavam lá dentro, não o haviam 144


trancado sem querer - ou intencionalmente, para esse assunto. Ele considerou buscar as chaves da Sra. Barnaby, a fim de ter certeza de que ninguém estava dentro da sala, mas estava tão quieto do outro lado que parecia altamente improvável que alguém estivesse escondido lá dentro. Então, onde ela estava? E por que irritava o diabo que tivesse passado meia hora desde o banho e ele ainda não a tivesse visto? Ele quase bateu com o punho na maldita porta, estava feliz por não tê-lo feito quando se virou para encontrá-la em pé no corredor, a cabeça meio inclinada como se o estivesse estudando por um tempo. Ela já estava vestida para a noite em seu vestido azul com o cabelo empilhado naquele estilo intrigante que pedia que seus dedos amassassem. Agora que ela tinha seus criados, ela não dependia mais dele para o banho. Ele não ia ficar com ciúmes de um par de lacaios, porque eles poderiam cuidar de suas necessidades. Eles estavam carregando a água, pelo amor de Deus, não lhe trazendo prazer. — Você estava procurando por mim? — ela perguntou, com um sorriso de imensa satisfação, como se já soubesse a resposta, o que é claro que ela sabia. — É quase noite. — Assim é. — Ela ofereceu-lhe um olhar sensual, meio abaixando os cílios. Droga. Ele começou silenciosamente a proferir o jantar de refrão primeiro. Jantar primeiro. Jantar primeiro. — Eu não estava esperando encontrar a porta trancada, — disse ele, perguntando por que ele parecia tão descontente. Porque ele a queria agora. E ele estava se negando. — Nós terminamos de arrumar o quarto esta tarde. Eu pensei em dar uma revelação oficial depois do jantar. Talvez até toque para você. Ele começou a perseguir em direção a ela. — Que tipo de jogos você tem em mente? Pressionando os lábios juntos, ela revirou os olhos. — Eu quis dizer o piano. Está afinado, parece maravilhoso agora. Ele não parou até que suas pernas estavam roçando suas saias e sua mão estava embalando sua mandíbula. — Talvez uma música. Então sua resistência quebrou e ele reivindicou sua boca como sua própria. Ele não entendia essa necessidade de possuí-la que continuamente vasculhava ele. Talvez tenha sido a ânsia com que ela o acolheu, a velocidade com que ela colocou os braços ao redor de seu pescoço ou pressionou seu corpo contra o dele. Talvez tenha sido o fervor com que sua língua explorou e exigiu que ele não se contivesse. 145


Seu zelo quando se tratava de paixão era igual ao dele. Ele não definiu o tempo nem estimulou uma faísca em uma chama. Ela combinou com ele passo a passo. Ela criou uma conflagração com seu primeiro toque. Ela era corajosa, ousada e intrépida dentro da cama e fora dela. Ele pensou no anúncio de seu pai. Ele procurara as coisas erradas em uma esposa e, de alguma forma, Locke acabara com uma que excedia as expectativas. Ele arrancou sua boca da dela, olhou para aqueles olhos de uísque fumegantes. Seus lábios estavam molhados e inchados. Ele ia fazer outras partes dela molhadas e inchadas depois do jantar. Ele se encolheu. Não, depois de uma música na sala de música. Uma melodia. Para humor dela. Para dar a impressão de ser um bom marido, em vez de ser um bom marido que ele era. Cristo, agora ele deveria ter perdido algum interesse nela, a novidade deveria ter passado despercebida. Em vez disso, tudo parecia ter aumentado dez vezes. Se ele acreditasse em bruxas, ele poderia ter pensado nela. — Eu preciso de uma bebida antes do jantar, — afirmou, lutando por um tom neutro que não daria a guerra em curso dentro dele para ir em frente e tê-la agora, aqui neste corredor, contra uma parede. — Vou juntar-me a ti. Como se ela tivesse escolha. Ele podia ver através das janelas no final do corredor que a escuridão havia caído. Ela era sua agora. Absolutamente e completamente - até que o sol mais uma vez surgisse.

Antecipação era um afrodisíaco. Portia não pôde deixar de acreditar nisso enquanto apreciava sua sobremesa. Ela havia sido tentada mais cedo a destrancar a porta, e compartilhar com Locksley, de uma vez, os resultados dos esforços dela - e de seus empregados. Mas durante todo o jantar, ela formigou com a consciência do que estava por vir. Enquanto ela sabia que era muito provável que ele não ficaria tão tocado com a sala como ela estava agora que ela estava totalmente limpa e organizada e tudo de volta em seu lugar, seu entusiasmo para a partilha não foi obscurecido. Era o seu santuário. Ela fez isso com cada aranha morta, cada teia de aranha varrida, cada mancha de poeira removida, cada polegada de madeira polida, cada pedacinho de tecido e carpete batido até que os anos de negligência desaparecessem. Com aquela sala arrumada e vibrante novamente, ela podia imaginar a magnificência que outrora abrangia toda a residência. Era uma pena, até um crime, que esta casa tivesse sido arruinada. Ela queria 146


devolver a Locksley o que essa casa havia sido uma vez. O fato de ele ter crescido com tanta decadência e negligência a entristeceu além de toda razão. Ela sabia que ele gostava dela apenas para o conforto físico que ela poderia fornecer, mas ela o via como mais, queria mais entre eles. Ela não tinha dúvidas de que demoraria a chegar, mas talvez em alguns anos depois de ter enchido sua vida com o riso das crianças... Se não por outro motivo, esta residência precisava ser ajustada para voltar ao normal, para que seus filhos conhecessem alegria, conforto e felicidade. Este chafurdar, permitindo que a residência continuasse seu lento declínio, não podia continuar. Ela não permitiria, mesmo sabendo que tinha que se mover sem pressa e com cautela para trazê-lo para o lado dela. Ela poderia ter entrado neste casamento como um último recurso, mas ela estava determinada que nenhum deles jamais iria se arrepender. Enquanto dava sua última mordida no pudim e deixava de lado a colher, Thomas se aproximou para pegar o prato. Não sabia ao certo onde Gilbert havia encontrado o uniforme dos lacaios ou a Sra. Barnaby havia conseguido a roupa para as criadas. Como os empregados agora cheiravam a cedro, ela assumiu que os itens haviam sido guardados em caixas de cedro em algum lugar, simplesmente esperando pelo dia em que a residência seria trazida de volta à vida. Ela olhou para o final da mesa. O marido terminou o vinho e estava recostado, com o cotovelo apoiado no braço da cadeira, o queixo apoiado na mão, o dedo acariciando logo abaixo do lábio inferior. Aquele dedo a acariciaria mais tarde. — O que você está pensando? — Ela perguntou. — Não tenho certeza de que já testemunhei alguém exibindo tanto prazer ao comer sobremesa. No começo, eu pensei que era porque você tinha passado um tempo sem doces, mas se fosse esse o caso, você deveria estar acostumada com isso agora. Mas eu posso realmente ver o seu entusiasmo quando estamos perto do final da refeição. — Comemos sobremesa apenas em raras ocasiões quando eu estava crescendo. Meu pai era um homem rigoroso que não acreditava em praticar práticas que trouxessem prazer. — Você não parece ter adotado suas crenças. Ela balançou a cabeça. — Acredito que devemos garantir a felicidade onde pudermos. Fico feliz quando como pudim e onde está o mal nisso? Eu também fico feliz quando estou tocando piano. Vamos logo para a sala de música? 147


Ele empurrou a cadeira para trás, levantou-se e começou a andar na direção dela. — Eu vou querer passar pela biblioteca primeiro por um pouco de porto. Ele parou na cadeira dela, puxou-a para fora e estendeu a mão. Não até ela estar em pé, quando ela disse: — Eu adicionei decantadores de licor para a sala de música. Um canto de sua boca se curvou. — Você é muito boa em determinar minhas necessidades. Ela sorriu. — Eu tento. A maneira como seus olhos escureciam, ela duvidava que ela conseguisse passar pela primeira música antes que ele a estivesse levando para o quarto dele. Ela supôs que havia piores coisas do que ser loucamente desejada pelo marido. Ela colocou a mão no braço dele e lutou contra os nervos que subitamente apareceram, fazendo-a duvidar que ele teria algum prazer em seus esforços, que ele se importaria com a sala recuperada, que ele iria se importar com ela. . Ela não precisava de amor, mas de repente se viu desejando. O que a tornava realmente uma garota muito boba, já que ele não era um homem para amar, mas talvez com o tempo ele sentisse algum afeto por ela. Para esta noite, ela apenas queria que ele gostasse da sala tanto quanto ela. Quando chegaram ao destino, ela tirou a chave de um pequeno bolso escondido em seu vestido e estendeu-a para ele. — Você pode fazer as honras. Com uma inclinação de cabeça em reconhecimento, ele pegou a oferenda, destrancou a porta e abriu-a. Ela deslizou pela soleira, depois se virou rapidamente para avaliar a reação dele enquanto ele a seguia para dentro. Locke estava familiarizado com o ambiente, é claro. Ele os explorou quando menino, e ele a observou e aos criados trabalhando para arrumar as coisas. No entanto, ele não estava preparado para a magnificência que o saudou. Todas as superfícies de madeira, vidro e mármore brilhavam. Flores frescas em vasos perfumavam o ar. As cortinas sobre as janelas foram atraídas para revelar a noite. — Você mudou a mobília. Parecia uma coisa insignificante de dizer, mas ele estava tendo dificuldade em conciliar este cômodo com o que ele sempre conhecera. — Mariposas fizeram um belo banquete aqui. Eu mantive o que 148


era aproveitável. O Sr. Wortham recuperou várias peças. Alguns ainda estão com ele, mas eu estava impaciente demais para compartilhar a sala. Estou muito satisfeita com a forma como tudo ficou ajustado. E ela também estava nervosa. Ele podia ouvir no tom metálico de sua voz. Normalmente tão rouca e sensual. Sua opinião importava. Ele não queria se importar com ela; não queria que ela se importasse com ele. Mas ele não podia negar a verdade. — Você fez um trabalho notável. Ele olhou para o retrato sobre a lareira. Ele nunca soubera que as cores pareciam tão ricas, pois a pintura parecia tão real que, por um momento, parecia que sua mãe poderia realmente sair da tela e entrar no quarto. Ele deu vários passos em direção ao quadro. — Fiquei muito feliz em descobrir que era apenas poeira entorpecendo o retrato, — disse Portia. Outros retratos foram espalhados nas paredes por toda a sala, mas sua mãe dominava. — Eu gostaria de tê-la conhecido, — Portia refletiu suavemente. — Meu pai raramente falava dela. — Talvez você devesse perguntar a ele sobre ela. — Isso só vai deixá-lo mais triste. — Ele se virou na direção do canto onde antes havia visto os decantadores. — Você se importaria com algo para beber? — Não, obrigado. Ele se serviu com um dedo de uísque, bebeu mais dois dedos antes de encará-la. — A sala te incomoda? — Ela perguntou. Isso não o aborreceu, mas isso o perturbou. Ele estava acostumado com a decadência. Isso foi uma mudança. Talvez ele não fosse tão diferente de seu pai. Ele não gostava de alterações. — Vai levar algum tempo para me acostumar, eu suponho. — Você prefere voltar para a biblioteca para terminar sua bebida? Ele queria ir para seu quarto de dormir, mas se fizesse isso mostraria que de alguma forma ele foi tocado pela reforma da sala. Isso o perturbou ainda mais porque ela foi capaz de ver que ele não estava completamente confortável aqui. Ele não queria que ela o conhecesse tão bem. Então, enquanto ele poderia querer sair, ele ficaria. — Eu gostaria de ouvir você tocar piano. O sorriso que ela lhe deu tomou seu fôlego, e ele não conseguia 149


compreender por que seu marido teria vagueado. Ele mesmo tinha um desejo irracional de fazer o que fosse necessário para mantê-la sorrindo. — Fique à vontade, — disse ela antes de girar nos calcanhares e caminhar até o instrumento brilhante. Ele suspeitava que ela mesma o tivesse polido, com cuidado, usando traços muito semelhantes às carícias que alguém dava a um amante. Quando ele se acomodou em uma cadeira próxima, nem uma única partícula de poeira se levantou. Antes da morte de sua mãe, ele suspeitava que todos os compartimentos haviam sido mantidos como intocados. Ele teve um pensamento momentâneo de que seu pai fizera para sua mãe um desserviço ao permitir que a residência caísse em negligência. Nunca se importara antes que Portia chegasse. Não havia ninguém para vê-lo, exceto para aqueles que residiam dentro dessas paredes. E o que eles se importavam? Incomodava-o perceber que talvez devessem ter se importado. Ele focalizou seus pensamentos em assuntos mais agradáveis, em Portia, enquanto ela se abaixava para o banco. — Estou um pouco sem prática, — ela disse, — então não julgue com muita severidade. Ele quase respondeu que não era de julgar, mas ambos sabiam que isso era mentira. Ele a julgou antes mesmo de chegar a Havisham Hall, antes que ele conhecesse a cor de seus olhos ou a sombra de seu cabelo, antes que ele soubesse que sua língua ácida poderia matá-lo com palavras e beijos. — Eu criei o hábito de evitar entretenimentos musicais o máximo possível, então tenho pouco contra o qual comparar você. Então, por favor, prossiga sabendo que eu provavelmente não ficarei desapontado. Ela colocou os dedos nas teclas. Ele bebeu seu uísque e esperou. Seus olhos se fecharam. O primeiro acorde atingiu profundamente, reverberando por toda a sala, e o que se seguiu foi uma melodia assombrosa que o atravessou e ameaçou atraí-lo. Ele observou a maneira como Portia se balançava com os movimentos de seus dedos. Sua cabeça inclinou ligeiramente para trás e ela parecia estar perdida em êxtase - sem ele. Ele se recusou a ter ciúmes de um maldito instrumento musical. Mas querido Deus, observá-la era em si uma experiência sexual. Ele estava começando a entender o que ela poderia ter sentido quando entrou na sala e viu pela primeira vez o piano abandonado, por que ela precisou colocar essa câmara em ordem. Ele tinha chamado a sua alma e agora ela estava libertando a alma, absorvida pela música que ela tão habilmente criou. 150


Ele não deveria ter ficado surpreso. A partir do momento em que ela entrou pela porta da frente, ela se jogou em tudo com total abandono, quer o estivesse vencendo durante uma inquisição, quer beijando-o, ou arrumando um quarto, ou comendo a sobremesa. Ela possuía uma natureza apaixonada a qual ele mal havia tocado. Neste momento, ela o hipnotizou, puxou-o para dentro como se tivesse tecido uma teia ao redor dele e estivesse puxando-o para frente. Ele não queria estar no limite observando. Ele queria estar no meio de sua paixão, queria experimentá-la, aprimorá-la. Deixando de lado o copo, ele se levantou. O mais silenciosamente possível, para não perturbá-la, ele se aproximou. Quando ele estava perto o suficiente dela, ele se ajoelhou e colocou a mão em volta da bainha de sua saia. Seus olhos se abriram e ela olhou para ele. — Continue tocando, — ele ordenou, levantando as saias e posicionando-se entre suas pernas.

Continue tocando? Ele estava louco? Se não fosse pelo desafio perverso em seus olhos antes que ele desaparecesse sob suas saias, ela poderia tê-lo chutado para fora do caminho. Em vez disso, ela retornou os dedos para as teclas enquanto ele apoiava seus quadris e a deslizava até a borda do banco. Ela tocou um acorde errado, encolheu-se. Ela não ia permitir os beijos que ele estava arrastando ao longo do interior de sua coxa para distraí-la. Não importava que ela mal pudesse respirar ou que de repente ela estava tão quente que poderia jurar que o quarto havia sido incendiado. Então sua boca pousou no broto de seu desejo e ela quase saiu do banco. Em vez disso, ela bateu as teclas enquanto a língua dele circulava, enquanto o prazer aumentava. Ela baixou a cabeça para trás, incapaz de se concentrar na melodia, simplesmente tocando acordes aleatórios. O que importava quando ele estava fazendo coisas ousadas e perversas, quando ele estava distraindo-a, fazendo com que ela ficasse empoleirada no limiar de tantas sensações incríveis que a rodeavam, instigando-a a gritar... — Locke, que diabo... Com um grito ao ouvir o som da voz de Marsden, Portia ficou de pé, ouviu uma mistura de acordes tocando quando a cabeça de Locksley atingiu a parte de baixo do piano. Com uma dura maldição, ele rastejou para fora debaixo de suas saias, para fora de baixo do piano, até que ele estava de pé ao lado dela, não muito satisfeito com a interrupção baseada na expressão dura que manchava seu rosto. — O que você estava fazendo lá embaixo? — Perguntou o 151


marquês. As bochechas do marido queimavam de um vermelho vivo que, em qualquer outra ocasião, ela teria recebido com satisfação e brincado com ele. — Ouvir qualquer acordes que precisem ser sintonizados. — Parece que você poderia ter feito isso tão bem - se não melhor - daqui. O absurdo disso tudo. Ela não pôde evitar. Ela começou a rir tanto que as lágrimas se formaram e suas pernas enfraqueceram. Cobrindo a boca com a mão, ela caiu de volta no banco. — Não é engraçado, Portia, — Locksley afirmou sucintamente, claramente tão irritado com ela agora como estava com seu pai. — Sinto muito. — Mas ela não conseguia impedir que as risadas explodissem. Ela estava mortificada por ter sido pega com a cabeça do marido aninhada entre as coxas. Ou era chorar ou rir, e ela aprendera há muito tempo que era sempre melhor rir. Respirando fundo, trabalhando para abafar as risadas, ela pressionou as palmas das mãos contra as bochechas queimando. Elas estavam, sem dúvida, tão vermelhas quanto as de Locksley. — Que diabo você está fazendo aqui? — Ele perguntou ao pai. — Eu ouvi o piano. — Ele deu um passo à frente. Ele obviamente vestiu sua jaqueta rapidamente quando um lado do colarinho estava debaixo, preso sob o tecido em seu ombro. — Eu pensei que era Linnie tocando. Ela adorava tocar piano. Ela era tão boa nisso. — Eu não sou muito boa, — Portia se sentiu obrigada a dizer. — Você estava maravilhosa. Você vai tocar para mim? — Antes que ela pudesse responder, ele acrescentou: — Locke, me traga um pouco de uísque. — Então ele caiu na cadeira que Locksley tinha deixado. Com um suspiro, Locksley foi até a esquina, parando para pegar o copo ao longo do caminho. Ela viu quando ele acrescentou uísque ao copo antes de servir um pouco para o pai. Ela se virou para Marsden. — Eu temia que você pudesse ficar chateado por eu ter arrumado este cômodo. Ele olhou em volta como se apenas notasse. — Eu não estive aqui desde que a perdi. Era seu lugar favorito para estar. Além de estar na minha cama, claro. O calor que estava desaparecendo das bochechas de Portia voltou. Ela estava grata por ele não ter visto o que havia acontecido naquela sala, e até ficou mais feliz por ela ter feito isso valer. 152


— Sua menção inadequada à sua cama está fazendo minha esposa corar, — disse Locksley ao entregar um copo ao pai. — Por que é que fazer amor, que pode ser tão glorioso, é apenas sussurrado como se fosse algo insignificante? — Perguntou o marquês. — Ou feito debaixo de um piano. Ela poderia jurar que ouviu Locksley rosnar. — Eu te disse. Eu estava me esforçando para ouvir os acordes com mais clareza. — Você está surdo? Locksley sentou-se em uma cadeira perto de seu pai. — Eu ficaria muito grato por não ouvir você falando mais sobre isso. — Você nunca foi uma pessoa que gostasse de ser provocado. Além disso, compreendo perfeitamente como esta sala e a música podem seduzir. Acho que você foi concebido em cima do piano. — Oh, meu Deus, — resmungou Locksley. — Há algumas coisas que eu prefiro não saber. — E muitas coisas que você deveria, mas eu não falei para você. Ela está nos observando agora, você sabe. Sua mãe. Acho que a agrada espiar através das cortinas separadas e nos ver sentados aqui. Observou a tristeza percorrer lentamente o rosto do marido e soube que ele estava incomodado com a fantasia de seu pai de que a marquesa de Marsden ainda era capaz de examiná-los. — Devo tocar agora? — Perguntou ela, na esperança de iluminar o humor de Locksley. Marsden levantou o copo. — Por favor. Em vez de tocar da memória como fizera antes, ela usou a partitura que estava posicionada no piano para indicar que era provavelmente a última música a ser tocada, ou talvez tivesse sido simplesmente enfileirada para ser tocada no futuro. Não importava. Estava certa de que, em algum momento, a marquesa de Marsden fizera a música para o marido. Quando os dedos dela voaram sobre o teclado, ela ousou um rápido olhar para o marquês. Ele parecia tranquilo, com os olhos fechados, a boca ligeiramente erguida nos cantos. Ela esperava que ele estivesse recordando lembranças agradáveis. E ela se perguntou se chegaria um dia em que o próprio marido se lembraria de lembranças agradáveis sobre ela.

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Capítulo 15 Uma semana depois, Portia destrancou uma porta e levou seus novos membros da equipe para um cômodo que ela tinha quase certeza de que era a sala da manhã3 da marquesa. No outro extremo, as janelas se projetavam para criar uma pequena alcova, com estantes de livros ao longo da parede de cada lado. Ela podia se imaginar encolhida - livro na mão - em uma das duas grandes poltronas perto das janelas e lendo para uma menininha aninhada na outra. — Vamos começar? — Ela ordenou enquanto abria as cortinas, tossindo enquanto a poeira flutuava em torno dela. Como o marquês não parecia perturbado com a arrumação da sala de música - na verdade, ele parecia apreciá-la, já que se juntava a eles todas as noites pouco depois de ela começar a tocar - ela atacara o gabinete da marquesa com gosto. Agora ela tinha um lugar onde ela poderia escrever cartas - se ela tivesse alguém que gostaria de receber uma carta dela. A cozinheira a encontrava lá todas as manhãs para examinar o cardápio da refeição da noite. Ela mantinha a comida do meio-dia simples - pão, queijo e às vezes sopa. Ela levaria uma bandeja para o quarto de Marsden e levaria a refeição para lá. Sem muita inspiração, ela poderia convencê-lo a falar sobre seu amor. Ela achava que era a coisa mais maravilhosa do mundo que depois de tantos anos, ele ainda podia amar sua Linnie tão profundamente. Ela desejou ter a oportunidade de conhecer a mulher, embora durante as visitas da tarde com o marquês, Portia estivesse começando a ter uma ideia da personalidade e do temperamento de sua esposa. Claro, ao longo dos anos, sem dúvida ele a idealizou, pois certamente nenhuma mulher poderia ser tão perfeita assim. Mas ela obviamente tinha sido perfeita para o marquês. Ao contrário de Portia, que era claramente a pior escolha de uma esposa que o visconde poderia ter feito. Embora ultimamente, ela estava achando um pouco difícil acompanhá-lo à noite. Ela começou a tirar uma soneca após seu tempo com o marquês, para que ela não ficasse completamente exausta quando o marido não estivesse contente com uma sessão de sexo, mas estivesse com disposição para duas ou três, geralmente fazendo com que eles continuassem por muito tempo. Depois da meia-noite. Não que ela se importasse. Ele era incrivelmente minucioso e nunca ficou satisfeito a menos que seu prazer se igualasse 3 Em algumas casas grandes e antigas, a sala da manhã é uma sala de estar que recebe o sol pela manhã.

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ou excedesse o dele. Ela não estava acostumada a tais considerações. Às vezes a culpa a incomodava porque ele era um marido muito melhor do que ela era uma esposa. Quando ela começou a examinar cada peça de mobília para determinar o que precisaria ser levado ao Sr. Wortham para um pouco de conserto, ela supôs que teria mais energia para as noites se parasse de ajudar os funcionários enquanto eles trabalhavam para fazer cada quarto habitável. Mas estar envolvida fez com que os dias passassem mais depressa. Ela ficou dois anos sendo pouco mais do que um enfeite, esperando para ser retirada da prateleira. Ela se deleitava com toda a atividade durante o dia, embora tivesse começado a terminar uma hora antes, para poder tomar banho e vestir-se quando Locksley voltasse das minas. Ele era bastante pontual, sempre chegando em casa pouco antes do pôr do sol. Depois que a mobília foi arrumada, os tapetes enrolados e as cortinas puxadas para baixo, para que todos pudessem receber uma boa sacudida, Portia começou num conjunto de prateleiras, retirando os livros um por um e limpando cuidadosamente os anos de poeira acumulada. Ela não sabia por que Locksley insistia em ir às minas todos os dias. Ela achava que ele seria mais bem servido para contratar um capataz capaz de cuidar dessas questões. Afinal, Locksley nasceu para ser um lorde, não um trabalhador. Mas sempre que ela tentava falar com ele sobre as minas, por que ele precisava ficar de olho nas coisas, ele simplesmente dizia: — Não se preocupe, Portia. Eu tenho os meios para lhe fornecer sua mesada. Seu tom era sempre tão maldoso que ela às vezes queria chegar do outro lado da mesa e beliscar seu nariz. Foi o único aspecto de seu arranjo que a desapontou - que ele achou uma falta nela, por querer segurança financeira. Se ela tivesse insistido que Montie lhe desse uma mesada - e se tivesse previsto de que precisaria escapar dele - ela teria tido opções; ela não teria sido forçada a escolher um caminho que a deixou triste e arrependida, por confiar em Montie. Mas ela o amou e confiou nele e acreditou quando ele prometeu sempre cuidar dela. Havia um tolo maior, em toda a Inglaterra, do que ela? Ela não seria tão tola desta vez. — Veja lá o seu senhorio, voltando das minas, — Cullie anunciou. Piscando, Portia levantou os olhos da pilha de livros que estava escolhendo - ela queria que voltassem às prateleiras de acordo com o autor - e olhou pelas janelas. A tarde se foi. Ela aprendeu a julgar a hora pelas sombras, pois não conseguia consertar os relógios, regulando o tempo de novo. Isso, ela decidiu, poderia de fato perturbar o marquês. 155


Ela se levantou e entrou na alcova para ter uma visão melhor do cavaleiro. Ele parecia ser do mesmo tamanho de Locksley, mas sua roupa estava errada. Em vez das roupas bem costuradas que o visconde usava, o traje do homem era grosseiro e não se moldava ao seu corpo. — Quando esta sala estiver pronta, — Cullie disse, — você pode sentar aqui à tarde e aguardar o retorno de seu senhorio. — Só que não é o seu Senhor — O homem estava mais perto agora. Seu chapéu gasto estava puxado para baixo sobre a testa, sombreando grande parte do rosto, mas ela podia ver o forte corte quadrado de sua mandíbula. Ela balançou a cabeça. — Por que ele está vestindo roupas tão monótonas? — Bem, ele não quer usar suas roupas nas minas. Elas ficariam arruinadas bem rápido enquanto ele estiver trabalhando — disse Cullie. As sobrancelhas de Portia estavam tão profundas que ela pensou que poderia se dar um arraso. — Ele realmente não trabalha nas minas. Quando Cullie permaneceu em silêncio, Portia se virou para ela. A garota parecia ter medo de ser demitida. — Cullie? Ele não trabalha nas minas. O olhar de Cullie percorreu a sala, pousando em cada empregado como se esperasse que um deles falasse. Finalmente, ela colocou os olhos de volta em Portia, lambeu os lábios, respirou fundo. — Sim, minha senhora, ele trabalha lá. — Não, ele vai de vez em quando para verificar as coisas. — Ele disse a ela isso. — Essa é a extensão do envolvimento dele. Cullie sacudiu a cabeça. — Não, minha senhora. Ele trabalha nas minas. — Você quer dizer cavar minério? — Sim, minha senhora, e levou algum tempo para os mineiros se acostumarem a ele estar ao lado deles, mas desde que o estanho está quase acabando, ele está tentando ajudá-los a encontrar mais. Quase acabando? Ela se virou de novo, mas não conseguia mais ver Locksley. Ele sempre vinha a ela cheirando a um banho recente. Parte da razão pela qual ela tinha começado a se preparar antes era para que a banheira voltasse ao banheiro quando ele voltasse para casa. Ela pensou que ele era simplesmente meticuloso sobre estar limpo. Em vez disso, ele estava trabalhando para se livrar de qualquer evidência de seus esforços. — Nós terminamos aqui por hoje, — ela falou enquanto saía da sala. 156


— Você vai querer tomar um banho antes do jantar? — Cullie perguntou. — Mais tarde. Primeiro ela precisava ter uma palavra com o marido.

Locke jogou a água fumegante na banheira da sala de banho. A Sra. Dorset não entendeu por que ele não mandou um dos lacaios preparar seu banho, mas os empregados eram de Portia, não dele. Ele não precisava tirá-los de qualquer tarefa que sua esposa fizesse. Além disso, quanto menos pessoas o vissem nesse estado desorganizado, melhor. Depois de pousar o balde, ele arqueou as costas e olhou para o teto. Cristo, ele estava cansado. Mas sabia que uma vez que visse Portia, o cansaço desapareceria. Seu sorriso de saudação sempre parecia revitalizá-lo. Ele até começara a apreciar os recitais noturnos, não mais os vendo como um atraso irritante para a sua posse dela, mas sim abraçando-os como uma lenta construção sensual da consciência. Ela encontrava um pouco de êxtase ao deslizar os dedos sobre o marfim, e ele ficava encantado ao observá-la. Ela era uma sereia, atraindo seu pai para fora de sua reclusão. Todas as noites ele seguia para a sala de música. Locke tinha começado a derramar um uísque e colocá-lo na mesa ao lado da cadeira favorita do pai, antecipando a chegada da marquesa. Às vezes seu pai falava do amor de sua vida. Nas últimas noites, Locke aprendeu mais sobre sua mãe do que aprendeu em todos os anos anteriores. Aparentemente, ela tinha sido um pouco diabólica: corajosa, forte e ousada. Ele só conhecia seu pai como um homem quebrado, mas talvez ele não estivesse tão machucado quanto Locke sempre pensara. Gemendo, ele esticou os braços e depois baixou os dedos para a água. Tépido demais. Outro balde de água fervente deve fazer o truque. Balançando ao redor, ele ficou sem visão quando Portia parou do lado de dentro da porta. Ele já tinha deixado de lado sua jaqueta coberta de sujeira e tirado as luvas, mas a sujeira se instalara nas dobras de seu rosto e pescoço. Ele estava bem ciente de seu estado desgrenhado - e horrivelmente fedorento. Seu olhar vagou lentamente sobre ele como se nunca o tivesse visto antes. — Você trabalha nas minas, — ela declarou baixinho, mas com confiança. Ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, ela poderia descobrir a verdade. Ele teria preferido mais tarde, mas considerando que ela agora 157


tinha alguns servos adicionais, e cada um deles sem dúvida estava relacionado com alguém que trabalhava nas minas, ele não via nenhum ponto em negar a verdade, embora ele não fosse confessar também. Aparentemente, ela tinha a sabedoria para interpretar com precisão o silêncio dele. — Seu pai sabe? — Ela perguntou no silêncio que seguiu suas palavras anteriores. — Não, e eu prefiro que ele não saiba. Eu também prefiro que você saia para que eu possa ver o meu banho. — Quanto tempo passou desde que houve qualquer minério? — Eu não discutirei as minas com você, mas pode ficar tranquila, você receberá sua mesada... — Dane-se, Locksley! — ela o interrompeu com tanta veemência que ele virou a cabeça para trás como se ela tivesse lhe dado um tapa. Embora Deus o ajude, o fogo queimando em seus olhos era um afrodisíaco que poderia tê-lo atraído se ele não estivesse envergonhado por ela ter sabido a verdade de seus dias. — Você honestamente acredita que essa é a razão pela qual estou perguntando? Você é um Lorde. Você não deveria estar cavando nas minas. — Sou outro conjunto de mãos, para as quais não preciso pagar um salário. — Então já faz um tempo. — Seu tom refletia um fato da mesma forma que um advogado poderia apresentar seu caso diante do banco. Por que ele se sentia como se fosse o único culpado? Ela deu um passo em direção a ele. Ele recuou, bateu na banheira, amaldiçoou, empurrou a palma da mão para acalmá-la. — Não se aproxime de mim. Estou fedendo desagradavelmente e provavelmente vou fazer você desmaiar. Um canto da boca dela se inclinou para cima. — Eu não sou tão delicada como tudo isso. Por que você não me contou? — Porque não é da sua conta. Agora ela era a única a recuar como se tivesse sido esbofeteada. — Sou sua esposa. — Seu trabalho é aquecer minha cama e fornecer meu herdeiro. Esses são seus deveres de esposa. A propriedade, a administração dela e a renda, são meus deveres. Nada se ganha discutindo-os. — Uma diminuição de seus fardos, talvez? 158


— Mais provável que seja um acréscimo, já que, sem dúvida, você vai começar a me importunar por detalhes ou ressentimentos se eu sugerir que você não gaste tão frivolamente. Isso não vai acontecer, Portia, então eu não vejo porque você precisa se preocupar com os meus problemas. Ela deu um aceno brusco. — Às vezes, Locksley, você é um idiota. Com isso, ela girou nos calcanhares e saiu do quarto. Por razões que ele não conseguia entender, ele riu. Longo, alto e duro. Então ele fez algo ainda mais confuso. Ele se moveu para o lado da banheira, agarrou a borda e soltou todo o seu poder até que ele a derrubou e enviou água em cascata pelo chão. Inclinando a cabeça, ele cerrou os punhos. Droga. Droga. Droga. Ele nunca quis que ela soubesse a verdade de como ele passava seus dias, vasculhando freneticamente a terra, desesperado para encontrar até mesmo a minúscula veia de minério, para descobrir alguma evidência de que existia mais minério, que seu futuro financeiro não era completamente e totalmente sem esperança.

Quase uma hora e meia depois, ele estava na janela da biblioteca, tomando uísque. Ele tinha vindo diretamente da sala de banho, agora vestindo as roupas que vestira naquela manhã antes de vestir o traje mais robusto e rude que usava quando ia para as minas. Portia estava certa. Ele tinha sido um idiota. Ainda corria o risco de se comportar como um, porque não conseguia se livrar da raiva que o atravessava agora que ela conhecia a verdade da situação dele. Ele estava envergonhado por ter sujado as mãos, engajado em um trabalho árduo que nenhum cavalheiro deveria. Que ele não tinha prestado mais atenção às minas quando chegou à sua maioridade, que não havia notado antes que seu pai não era um bom administrador. Que ele retornou ao solar todas as noites coberto de suor e sujeira. Já era ruim o suficiente que os aldeões locais soubessem. Mas ele podia imaginar Portia em Londres assistindo a um chá, rindo com um grupo de senhoras, rindo da ideia de ele trabalhar para o jantar como se não tivesse nascido em uma posição elevada na sociedade. Ouvindo os passos, ele se virou um pouco e viu quando ela entrou na biblioteca, vestindo o vestido azul profundo que sempre a fazia parecer tão incrivelmente impressionante, que sempre o fazia querer remover a seda com toda a pressa. Isso o insultou agora porque ele suspeitava que ela iria se opor quando ele fosse tocá-la com as mãos que o atormentavam. Ela havia se casado com ele, assumindo que ele 159


fosse um cavalheiro, mas um cavalheiro não passava o dia no ar úmido e gelado da mina. Um cavalheiro não fedia a trabalho em vez de jogar. Ele não estava certo de que ela se juntaria a ele para o jantar agora que ela sabia a verdade. Ele odiava o alívio que o inundava porque ela estava aqui, que ela não o deixava ficar sozinho. Ela parou abruptamente diante dele, os olhos de uísque procurando suas feições, e ele se perguntou o que ela via agora quando ela olhou para ele. Um homem que temia que pudesse ser um mordomo pior do que seu pai, um homem que não deveria tê-la levado para esposa, que não deveria se esforçar para engravidá-la quando ele não tinha certeza se as terras voltariam a ser rentável. Ele também não deveria estar trazendo um herdeiro para este mundo, e ainda assim ele parecia incapaz de não possuí-la todas as noites. Às vezes, quando ele se encontrava perdido no calor dela, seus problemas desapareciam. No entanto, eles sempre voltavam com o sol, sempre Seus pensamentos se detiveram quando ele percebeu que ela estava segurando algo em direção a ele. Olhando para baixo, viu descansando na palma da sua mão a bolsa de veludo que ele lhe entregara na manhã seguinte ao casamento. — Estou devolvendo as moedas para você. Eu vou manter um registro do que me é devido, e você pode me pagar o valor quando as minas forem novamente lucrativas. — Eu não preciso das moedas devolvidas. — Ainda assim, vou devolvê-las. — Eu não as quero. Ela girou nos calcanhares, marchou até a escrivaninha e jogou-as no centro dela. — Eu estou dando elas de volta. Você não tem escolha.

O rugido que ecoou pela sala foi o de um animal ferido. Portia se virou para ver Locksley se aproximando dela. Ela quase subiu as saias e correu. Mas ela fugiu duas vezes antes em sua vida, e nada de bom tinha vindo disso. Desta vez ela se manteve firme. Ele jogou o copo de lado. Aterrissou no tapete sem se despedaçar. Então suas mãos estavam em sua cintura e ele a levantou sobre a mesa, ficando entre as pernas dela. Seus olhos verdes estavam selvagens, cheios de raiva. Ela pensou que deveria ter ficado assustada, mas acreditava que não importava o quão louco ele pudesse ficar, ele não a machucaria. Seu orgulho estava machucado, marcado, golpeado. Ela podia ver isso agora, desejou que 160


ela tivesse entendido o quanto custava a ele trabalhar nas minas. Por que ele não podia ver como era notável que ele simplesmente não se sentasse e esperasse pelo melhor? Que como ela, ele faria o que devia para corrigir uma situação horrenda? — Eu não quero o dinheiro sangrento, — ele disse. — Eu não quero que você seja gentil, generosa ou compreensiva. Ela ergueu o queixo determinada. — Nunca confunda praticidade com gentileza. Você precisa dos fundos agora para garantir que tenhamos mais no futuro. Com sua risada sombria ecoando ao redor, ele balançou a cabeça. — Eu não quero que você seja prática. Eu não quero que você traga música e sol, e sorrisos para esta casa. Eu quero você por um objetivo e apenas por um objetivo. — Com aquelas mãos grandes e fortes que lhe trouxeram tanto prazer, ele agarrou seu corpete, espartilho, camisa e rasgou-as com um único puxão que fez seus seios se derramarem. — Isso é tudo o que eu quero de você, — ele rosnou antes de tomar um mamilo em sua boca e chupar forte. Ela inclinou a cabeça para trás quando o prazer a atravessou. — Eu sei. — Eu não quero que você me faça querer antecipar o fim do dia. — Ele se moveu para o outro seio, fechando a boca ao redor da pérola e puxando. — Eu sei disso, — ela mal conseguiu se firmar quando sensações percorreram através dela. — Eu não vou gostar de você. Eu não vou cuidar de você. Eu não vou amar você. Ele colocou o rosto perto do rosto dela, seu olhar penetrando no dela. — Eu não vou te dar meu coração. Nunca. Ela assentiu com a cabeça bruscamente. — Eu sei. — Eu não quero você na minha vida. Eu só quero você na minha cama. — Eu sei, — ela repetiu, o que mais ela poderia dizer? Ela sabia. Ele enterrou o rosto contra os seios dela, fechou os braços firmemente ao redor dela. — Eu não vou amar você, — enfatizou lentamente, ardentemente, e ela não podia deixar de se perguntar se ele estava se esforçando para convencer-se mais do que a ela, de que as palavras que ele falou eram verdadeiras. Ela também se perguntou se seria o suficiente para eles se ela o amasse. Passando os dedos suavemente pelo cabelo dele, ela repetiu suavemente: — Eu sei. 161


Ele pressionou os lábios no interior de um dos seios, precisando apenas virar a cabeça ligeiramente para beijar o outro. — Eu não quero que você tenha um gosto tão bom, para eu me sentir tão bem. Erguendo as pernas, ela as envolveu ao redor dele o mais firmemente que pôde, considerando todas as anáguas inconvenientes que ela usava. Talvez ela devesse aplicar sua regra a respeito de luvas em suas roupas íntimas - nunca para ser usada na residência. Ela passou os dedos pelo cabelo dele, trouxe as mãos até que ela estava segurando o rosto dele entre as palmas das mãos, inclinando a cabeça para cima para que ela pudesse segurar seu olhar. — Eu sei exatamente o que você não quer. O que você quer, meu senhor? Sua dura maldição pouco antes de ele se aproximar para reivindicar sua boca não deveria tê-la encantado, mas a intensidade crua dele por dela tinha prazer e satisfação em espiral através dela. Ela pensou que ele poderia muito bem devorá-la com o febril com o qual ele tomava posse de seus lábios, sua língua. Sempre havia uma selvageria entre eles, mas naquele momento era mais indomável, mais incivilizado do que jamais fora. Ela sabia que ele tinha sido espancado e machucado por sua descoberta, mas a verdade era que isso só a fazia querê-lo ainda mais. Eles eram mais parecidos do que ele jamais perceberia, dispostos a fazer o que fosse necessário para proteger aqueles que precisavam de proteção, para garantir um futuro seguro para aqueles que amavam. Embora ele alegasse não amar ninguém, ela estava bem ciente de que ele se importava profundamente com seu pai, pelas propriedades, pela terra. Ela foi imprudente ao esperar que alguns de seus cuidados fossem direcionados a ela. No entanto, quando sua boca aquecida marcou sua garganta com uma série de beijos e mordidas, ela não pôde deixar de sentir que, dentro do reino do prazer, ela pertencia a ele como ele pertencia a ela. Assim eles se comunicavam com mais honestidade do que em qualquer outro momento. Não havia barreiras, nem mentiras, nem decepções. Assim, pelo menos, havia necessidade crua, desejos primitivos e desejos declarados. Com um braço ao redor de seus quadris, ele a arrastou até a beirada da mesa, levantou as saias, abriu as calças e mergulhou fundo e seguro. Seu grito de prazer se misturou com seu gemido de prazer. — Você é malditamente tão boa, — ele rosnou, antes de capturar novamente sua boca, sua língua dançando em um ritmo que combinava com os movimentos de seus quadris, abraçando forte suas costas. Agarrando-se a ele, ela apertou os braços ao redor dos ombros 162


dele. Ela era uma desgraça de apreciar tanto esse acoplamento inadequado, com o ar frio flutuando sobre seus seios, seus mamilos tensos formigando enquanto seu casaco esfregava sobre eles. Aqui na biblioteca, na mesa, ele bombeou para dentro dela com força e rapidez. Sua boca deixou a dela para saboreá-la em outro lugar: o queixo, a garganta, a pele sensível logo abaixo da orelha, onde o pulso pulsava freneticamente. Tentando conter seus gritos, ela mordeu o lábio inferior, mas a ação não fez nada para abafar seu grito quando finalmente se separou em seus braços, tremendo com a força de sua libertação. Seu gemido foi de um conquistador quando ele ficou tenso, derramando sua semente nela. Com as pernas, ela apertou os quadris dele, apertou os músculos ao redor dele. Ele empurrou, grunhiu antes de deixar cair a cabeça no ombro dela. — Você arruinou esta mesa para mim, — disse ele, sua respiração vindo em rajadas duras e curtas. — Como posso trabalhar aqui agora sem ver você esparramado sobre ela? — Eu não estou esparramada. Erguendo a cabeça, ele segurou seu olhar brevemente antes de abaixar os olhos para seus seios. — Você não pode ir jantar assim. Ela riu levemente. — Não, eu suponho que não posso. Recuando, ele baixou as saias e começou a fechar as calças. Ela não queria reconhecer o quão vazia estava com a partida dele. Ele tirou a jaqueta e colocou sobre os ombros dela. Ela mal tinha apertado a abertura quando de repente se viu em seus braços, sendo carregada do quarto. — Eu posso andar, — disse ela. — Depois do jeito que você gritou, eu suponho que você está muito fraca. Suas pernas ainda estão tremendo. Ela sentiu o calor inundar seu rosto. — Você também não estava tão quieto, você sabe. — E de quem é a culpa? Ela não se incomodou em esconder o sorriso quando colocou a cabeça no ombro dele. Gilbert entrou no corredor. — Meu senhor, o jantar... Lady Locksley está bem, meu senhor? — As costuras de sua roupa se desfez, Gilbert. 163


Portia bateu a mão sobre a boca para impedir que a risada explodisse. — Meu Senhor? — Minha costureira londrina não é tão talentosa com uma agulha quanto eu fui levada a acreditar, — disse Portia, surpresa por ela ser capaz de manter sua voz tão firme. — A costura dela não aguentou como deveria. — Como você pode imaginar, Gilbert, Lady Locksley teve um grande choque. Nós estaremos jantando em nosso quarto. Faça Cullie trazer uma bandeja em uma hora. — Em uma hora, senhor? — Gilbert perguntou enquanto pulava para fora do caminho deles, apesar de seus joelhos artríticos, quando Locksley passou por ele e entrou no vestíbulo. — Uma hora, Gilbert. Preciso acertar os nervos da minha esposa primeiro. Uma vez que eles subiram as escadas, ela pegou o lóbulo da orelha entre os dentes e beliscou suavemente, saboreando seu gemido, mas querendo que soasse mais torturado. — Quando chegamos ao nosso quarto, é melhor você arrancar tudo. Chega de proteção. Seu grunhido de resposta serviu para fazê-la desejar que ele andasse mais rápido.

Ele nunca conhecera uma mulher como ela - nunca. Seguindo com seu conto sobre as costuras, ela combinava com Lady Godiva por ousadia, e ele podia imaginá-la andando nua pelas ruas sem um único rubor se formando em qualquer lugar em sua pessoa. E maldito seja se ele não a quisesse novamente com uma ferocidade que o fez se sentir como um bárbaro. Depois que ele chutou a porta de seu quarto fechado atrás dele, ele fez exatamente como ela sugeriu e arrancou o resto de suas roupas de seu corpo. Havia algo imensamente satisfatório e feroz na penugem de seda e cetim rasgadas, do jeito que Portia simplesmente ficava lá parada e deixava que ele fizesse o que queria com ela, os olhos ardendo com necessidades que combinavam com as dele. Quando ela estava completamente nua, ele a ergueu de volta em seus braços, levou-a para o pé da cama e a jogou de bruços, deixando as pernas dela sobre o colchão. Respirando pesadamente, ela se levantou sobre os cotovelos e olhou por cima do ombro para ele enquanto ele arrancava suas próprias 164


roupas, botões saltando e pingando no chão com sua pressa. Tão desesperado para possuí-la, ele considerou apenas desabotoar suas calças novamente, mas ele gostava demais da sensação de sua pele sedosa contra a dele. Ele ia levá-la rápido e duro, mas por Deus, ele não queria nenhum pano entre eles desta vez. Quando ele tirou a última de suas roupas, ele se colocou entre suas coxas, separando-as com uma extensão de suas próprias pernas. Inclinando-se sobre ela, ele colocou uma série de beijos ao longo de seu ombro, seguindo a curva de seu pescoço. — Você disse que eu poderia levá-lo por trás, — ele murmurou. Seus olhos se aqueceram. — Eu disse. Ele abraçou os quadris dela, levantou-os ligeiramente e mergulhou nas profundezas fundidas, seu grito de satisfação ecoando entre eles. Ele deslizou uma mão ao redor até que ele escovou os cachos apertados em seu ápice, então separou as dobras e apertou um dedo para o broto inchado. Ele aplicou mais pressão, acariciando-a enquanto acariciava-a lentamente para dentro. Ela choramingou e balançou. Ele choveu beijos entre suas omoplatas, podia senti-la apertando em torno dele enquanto seus gemidos se transformavam em gemidos guturais e suas respirações se tornavam irregulares. — Solte-se, Portia, — ele murmurou perto de sua orelha antes de rodar sua língua ao longo da delicada concha. — Voa. Seu grito veio quando ela se lançou contra ele, e seus músculos se fecharam ao redor dele. Ele agarrou seus quadris e bateu nela um mero punhado de vezes antes de sua própria liberação rasgar através dele, escurecendo as bordas de sua visão até que tudo que ele podia ver era seu perfil, com cílios meio abaixados, lábios entreabertos. Afundando-se, ele pressionou seu rosto contra o dela, colocando os braços para que ele suportasse seu peso, e seu peito mal deslizou pelas costas dela. Mas foi o suficiente para domar a fera que se enfureceu dentro dele, a que queria que ela fosse diferente do que ela era, uma caçadora de títulos e fortuna, essa com quem ele se casara. Ela moveu o braço ligeiramente, e sua mão estava de repente em seu cabelo, segurando-o perto. E ele percebeu com infalível exatidão que havia cometido muitos erros em sua vida, mas, quando se tratava dela, ele poderia ter feito o maior de todos, porque era bem possível que ele pudesse vir a cuidar muito dela. E essa foi a última coisa que ele queria. Infelizmente, ele temia que fosse tarde demais para se preocupar com o que queria.

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Capítulo 16 Portia se inclinou para frente de seus travesseiros confortáveis, pegou uma uva da bandeja que descansava perto de seus joelhos e colocou a fruta vermelha escura em sua boca. Descansando ao pé da cama, onde há pouco tempo ele a levou com entusiasmo desenfreado, seu marido bebericou seu vinho. Seu olhar se dirigiu para o peito dela. Talvez porque ela não tivesse puxado seu roupão tão firmemente em torno dela como ela poderia ter feito e ela deixou um bom pedaço de carne visível. Ela não sabia por que tinha tanto prazer em provocá-lo com flashes de pele. — Não se esqueça de mandar uma mensagem para a sua costureira de Londres que você está precisando de outro vestido azul, — disse ele. Ela balançou a cabeça. — Eu tenho vestidos suficientes. Sua mandíbula retesou por um instante antes de relaxar, e ela sabia que ele estava tendo objeções à sua economia, que ele se sentia insultado pela sua noção de que ele não poderia cuidar adequadamente dela. — Não naquele tom de azul. É o meu favorito, pois realça o vermelho no seu cabelo. Ela riu levemente. — Como se eu precisasse de alguma coisa para realçar o vermelho do meu cabelo. Obra do diabo, meu pai costumava dizer. — Quando seus olhos se estreitaram, ela desejou que ela mordesse de volta as palavras - melhor ainda mordesse sua língua. — Por que ele diria isso? — Perguntou Locksley. Suspirando, ela colocou outra uva na boca, mastigando devagar. Não achava que a bandeja de frutas, queijos e carnes fatiadas tivesse sido originalmente preparada para o jantar, mas suspeitava que a Sra. Dorset tivesse decidido que seria necessário um jantar mais simples e leve para uma refeição em um quarto de dormir. Portia engoliu em seco. — Porque nem meu pai nem minha mãe têm cabelo ruivo. O dela é um marrom escuro, o do meu pai é loiro. Embora eu sempre achasse que seu bigode sugeria vermelho quando o sol batia bem, mas ele nunca reconheceu isso. — Ele acusou sua mãe de ser infiel? — Não, ele simplesmente achava que eu tinha mais do diabo em mim do que eu deveria. — E na ocasião acreditava que ele poderia bater 166


nela. Mas ela não queria viajar por esse caminho e, como Locksley fizera uma pergunta pessoal... — Há quanto tempo as minas não produzem estanho? Ele pegou a garrafa de vinho na bandeja e despejou mais em seu copo. — A quase dois anos. — Essa é a razão pela qual você parou de viajar. Ele tomou um gole e assentiu. — Parecia prudente. As minas ainda estavam produzindo, mas sua produção estava diminuindo. Em todos os anos em que estive longe daqui, meu pai nunca negligenciou as propriedades, mas o mordomo manifestou preocupação que o Marquês não estava levando a diminuição da renda a sério. — Ele ergueu um ombro e o deixou cair de volta. — Então percebi que era hora de me preparar para a tarefa. Descobri que gostava do desafio, especialmente porque tudo não estava indo muito bem. Acho que acharia chato se não houvesse nada para se preocupar. Ela suspeitava que ele se sentiria tedioso. Um homem que gostava de escalar montanhas certamente não se contentaria em apenas passear por terra firme. — Então, cerca de seis meses depois que eu assumi, as minas pararam de produzir completamente, — acrescentou. — E você começou a trabalhar nelas, — afirmou. — Achei que poderia ter mais sorte em descobrir o que os mineiros haviam perdido. Sem mencionar que isso me levou à distração para não ficar sentado esperando a notícia de que uma nova fonte de minério havia sido atingida. — Os senhores que eu conheço não se importariam. Eles continuariam a brincar e deixariam seus pais se preocuparem com isso. — Então eu suspeito que eles encontrarão suas propriedades em ruínas quando herdarem. As coisas estão mudando para a aristocracia. Não acho que possamos continuar alegremente sem reconhecer que estamos prestes a nos tornar obsoletos. — Sempre haverá uma aristocracia. — Mas nosso papel está diminuindo. Ou, no mínimo, nosso estilo de vida despreocupado deve mudar. Não podemos continuar sendo mimados sem perceber que isso tem um custo. Ele colocou uma fatia de presunto e um pouco de queijo em um 167


biscoito e comeu como se quisesse sinalizar o fim da conversa. Mas ela ainda não estava pronta para deixar passar. — Eu não posso imaginar que você já foi mimado. — Não aqui, não realmente. Nós tínhamos tão poucos servos. Eu gosto de fazer por mim mesmo. Uma das minhas primeiras noites em um clube de cavalheiros - eu estava na sala de estar, sentada perto do fogo, saboreando um pouco de conhaque. Um senhor mais velho, um conde, estava sentado perto. Ele chamou um lacaio porque o fogo precisava ser mexido e de uma tora adicionada. E eu pensei: “Se você está com frio, então levante-se do seu rabo e mexa o fogo você mesmo”. Aqui nós nunca chamamos um servo em uma sala para cuidar de algo que nós mesmos poderíamos cuidar. Foi ao mesmo tempo esclarecedor e perturbador quando começamos a ir para Londres. Ajustando um travesseiro atrás das costas, ela se acomodou. — Você deve ter triturado seus dentes naquela primeira tarde, quando eu disse que chamaria um lacaio para mover a cadeira para mim. Ele a estudou atentamente, tão completamente que ela sentiu a necessidade de se contorcer, e foi tudo o que ela pôde fazer foi ficar quieta. — Você mentiu naquela tarde, Portia. Você não chamaria um lacaio. Você mesmo mudaria. Por que você queria que pensássemos de outra forma, para te ver como uma mulher altiva e esnobe? — Como aquele conde que não mexeria em suas próprias brasas, toda mulher aristocrática que eu conheço parece desamparada. Eu pensei que o mesmo comportamento seria esperado de mim. — Sobre o que mais você mentiu? Muita coisa. Com um fogo baixo crepitando na lareira, seu corpo saciado por prazer e comida, seu marido falando com ela como se ela fosse igual a ele, ela quase contou tudo a ele - mas que bem viria disso agora? A simpatia entre eles se estilhaçaria, total e completamente, para nunca mais voltar. Disso ela estava certa. — Você deveria contar ao seu pai sobre as minas — ela disse, empurrando qualquer possível confissão nos cantos mais distantes de sua mente. Ele deu um sorriso rápido que refletia a sua expectativa de que ela evitaria sua pergunta e ainda viraria o assunto de volta para ele, e sua decepção por ela ter feito justamente isso. Ele estava começando a conhecê-la muito bem, mas toda a decifração de suas ações não revelaria seus segredos. — Ele não precisa se preocupar com as minas. — Mas se, como você afirma, ele os administrou muito bem até recentemente, ele pode ter algumas ideias para oferecer. 168


— Ele não vai saber exatamente onde encontraremos mais minério. Não é como se ele tivesse a capacidade de ver através do solo e na terra. — Então você vai continuar escavando e ficando frustrado quando seus esforços não colherem recompensas? — Por enquanto. Eu não estou pronto para desistir disso. Em algum lugar deve haver mais. E até então ele simplesmente continuaria a rasgar a terra ao lado dos mineiros, para se colocar em risco. Ela tinha ouvido falar de cavernas. — É seguro? — Reforçamos as paredes à medida que avançamos. Não houve um acidente em anos. Ela assentiu, mas ficou pouco confortável com suas palavras. Enquanto ela admirava sua determinação de entrar diariamente nas minas que antes forneceu uma renda para a propriedade e trabalhar ao lado dos mineiros, ela também detestava que ele se colocasse em perigo. Para quê? Riqueza? Ela queria diminuir seus fardos, mas suspeitava que só havia acrescentado a eles. — Eu poderia deixar um lacaio e empregada ir. Eu posso deixar todos irem. — Ainda não estamos muito desamparados, Portia. Falando dos servos, você terminou aqui? — Ele acenou com a mão sobre a bandeja. — Sim. Devo chamar alguém para levar embora? — Eu vou cuidar disso. — Ele rolou para fora da cama, pegou a bandeja e levou-a para a mesa baixa junto ao fogo. Quando ele voltou, ele se esticou ao lado dela, descansando em um cotovelo, e arrastou os dedos da mão livre ao longo de sua clavícula. — O que eu disse antes, quando estávamos na biblioteca, é indesculpável. — Você estava chateado que eu descobri o seu segredo. — Talvez até um pouco envergonhado de ser pego trabalhando quando a nobreza não trabalhava. Embora ela não fosse dizer isso para ele. — Além disso, Locksley, não tenho ilusões quanto aos seus sentimentos por mim. Ele deslizou a mão pelo pescoço dela, parando bem perto de sua mandíbula, o polegar acariciando a delicada pele onde pulsava seu pulso. — Eu gosto de você, Portia. Muito mais do que é sábio. — Eu nunca me importei muito com homens sábios. Ele deu um sorriso para ela. — Eu amo tanto suas respostas, sua tendência a falar o que pensa. Eu gosto de ter você fora da cama tanto quanto nela. 169


Ela se perguntou se ele notou o salto em seu pulso por suas palavras. Seria muito mais simples para os dois se ele quisesse apenas sexo. Por que ela tinha que se sentir tão feliz que ele gostasse mais? Ele poderia facilmente quebrar seu coração. Ela poderia até ferir o dele. Melhor se seus corações não estivessem envolvidos, mas que Deus a ajudasse, ela queria algo profundo, duradouro e verdadeiro com ele. Ela queria ser digna do anel que ele colocou em seu dedo, uma linda faixa de ouro com esmeraldas e diamantes que simbolizava um amor eterno. Não que ela esperasse ter o amor dele, mas o que ele sentia por ela certamente morreria se ele soubesse a verdade. Inclinando a cabeça ligeiramente para baixo, ele roçou os lábios de leve sobre os dela, tão suavemente quanto uma borboleta pousando em uma pétala. A ternura era muito mais devastadora do que a posse rápida que ele exibira anteriormente. Gentileza poderia desfazê-la, poderia enchê-la com tantos arrependimentos. — Portia, — ele sussurrou, pressionando um beijo no canto da boca dela. — Portia. — Seus lábios tocaram o canto perto de seu olho. — Portia. — Sua respiração deslizou sobre sua têmpora. — Killian, — ela sussurrou com um suspiro suave quando seus olhos se fecharam e ela começou a derreter nos travesseiros e colchão. Sua boca voltou para a dela, um pouco mais exigente. Ela separou os lábios, congratulou-se com o lento e seguro golpe de sua língua sobre a dela. Passando os dedos pelos cabelos dele, ela apertando. A batida rápida na porta a assustou. — Senhor? — Danação, — Locksley rosnou. — Gilbert tem o pior tempo do mundo para aparecer. — Pelo menos eu agora estou decentemente coberta. — Eu vou remediar isso assim que eu retornar. — Ele se empurrou da cama. Quando ele voltasse, ela removeria a camisa e a calça que ele vestira antes de Cullie chegar com a bandeja de comida. Ele abriu a porta. — O que é isso, Gilbert? — Sua senhoria está na sala de jantar esperando por você. — Meu pai está na sala de jantar? — Sim. Ele não vai nos deixar começar a servi-lo até que você e Lady Locksley estejam lá. — Você disse a ele que estamos jantando no nosso quarto esta noite? 170


— Eu não poderia dizer isso a ele, meu senhor. Pode colocar imagens em sua cabeça de outras coisas acontecendo aqui. Um tipo decente não discute aposentos. Seu marido soltou um grande suspiro. — Eu vou descer em um momento. — Ele fechou a porta, pressionou a testa contra ela. — Parece que estamos jantando de novo, — ofereceu Portia. Virando-se, ele começou a abotoar a camisa. — Não há necessidade de você descer. Eu vou fazer companhia a ele. — Não seja ridículo. Vou chamar por Cullie. Vai demorar um pouco, mas vá na frente e junte-se ao seu pai. Ele caiu em um cadeira e começou a puxar suas botas. — Eu não tenho ideia por que ele decidiu jantar conosco esta noite. — Solidão, suspeito. Talvez ele quisesse sua companhia por algum tempo, uma hora ou um pouco mais, enquanto eu toco piano. — Se for qualquer coisa dessas, então é sua companhia que ele anseia. Acho que você o lembra de como as coisas eram antes da morte da minha mãe. — E como era isso? — Cheia de vida.

Quando Locke se dirigiu para a sala de jantar, nunca se sentira mais agradecido por uma interrupção em sua vida. Ele estava à beira de confessar que ele gostava mais de Portia; ele tinha afeição genuína por ela. Uma vez que essas palavras fossem ditas, não haveria volta. Na biblioteca, ele expressou todas as coisas que ele não queria, como se isso o impedisse de sentir algo por ela. Como se estivesse dentro de sua natureza não se importar, não ser capaz de nutrir sentimentos. Ela devolveu a mesada, ofereceu-se para reduzir sua equipe, estava preocupada com o bem-estar dele. Claro que ela estava, ele se repreendeu. Até que ela fornecesse um herdeiro, ela corria o risco de perder tudo isso. Mas esse argumento correu oco e falso. Ela havia se mostrado naquele primeiro dia. Mas não o seu eu completo. Ela era composta de inúmeras facetas, complexas e intrigantes. Ele poderia passar a vida inteira tentando desvendar os mistérios de Portia Gadstone St. John. Droga, que tudo fosse para o inferno se ele não quisesse aquela vida com ela. Ele a queria em sua vida até que seu cabelo ficasse 171


prateado e sua visão se desvanecesse. Ele a queria quando seu corpo estava rígido e curvado. Ele se casou com ela, esperando não querer mais dela do que as noites. Mais que tolo ele era porque agora ele a queria a cada segundo de cada dia. Ele entrou na sala de jantar. Seu pai, sentado à cabeceira da mesa, inclinou-se ligeiramente como se quisesse ver ao redor de Locke. — Portia ainda está se preparando, — disse ele ao pai, puxando a cadeira ao pé da mesa. — Perdoe nosso atraso. Não esperávamos que você jantasse conosco. — Eu decidi que queria conversar tanto quanto ouvir música. Ela está mudando as coisas, Locke. Mais rapidamente do que eu esperava. Locke se virou para o mordomo. — Pelo amor de Deus, Gilbert, sirva-nos um pouco de vinho. — Sim, meu senhor. Uma vez que o vinho foi servido, Locke pegou seu copo, rodou o conteúdo da Borgonha. — Eu posso dizer a ela para parar, deixar as coisas acontecerem como eram. — Ela faz o que você diz a ela? Locke não conseguiu impedir que o sorriso se espalhasse por seu rosto. — Normalmente não. — Você casou-se com ela porque pensou que se ela se casasse comigo ela me negligenciaria. — Eu deduzi que ela poderia se aproveitar, sim. Presumi que eu seria mais capaz de mantê-la na linha. O mais estranho é que gosto que ela seja ferozmente independente. Seu pai assentiu com satisfação. — Eu sabia que você faria isso. — Você conheceu sua natureza feroz através de suas cartas? O marquês encolheu os ombros. — Eu achei que sim. Até agora, ela é muito como eu esperava, levando o touro pelos chifres, fazendo deste lugar o dela. Sabe quando saio do meu quarto e entro no corredor, sinto cheiro de jasmim e não de laranjas? Sua mãe sempre cheirava a laranjas. Eu pensei que se eu não permitisse que nada mudasse, minhas memórias dela permaneceriam fortes. O mais estranho é que, desde que Portia chegou, minhas lembranças de sua mãe estão mais fortes do que nunca. E falando no anjo... Seu pai empurrou a cadeira para trás e se levantou. Locke olhou para trás, meio que esperando ver a mãe parada ali. 172


Mas era sua esposa em um vestido verde-claro. Ele queria ter tomado mais cuidado com o azul. E ele se perguntou se seu pai a consideraria um anjo se soubesse como Portia induziu Locke a fazer as coisas mais perversas com ela, se o pai soubesse que ela poderia se garantir em um quarto de dormir. Se ela tivesse se casado com o pai dele, o marquês de Marsden estaria morto ao amanhecer de sua primeira noite com sua nova esposa. Verdadeiramente Locke salvou seu pai ao tomar seu lugar. — Desculpe, estou um pouco atrasada, — disse Portia enquanto sentava-se na cadeira que Locke segurava para ela. — Bobagem, minha querida. — Disse seu pai sentando-se. — Eu deveria ter avisado que eu tinha decidido começar a me juntar a você para o jantar. O olhar de Portia oscilou entre Locke, quando ele se instalou em seu lugar, e seu pai. — Então, isso é para se tornar uma ocorrência regular? — Se você não se importa. — Claro que não, embora tendamos a jantar um pouco mais cedo. A testa do pai franziu-se. — Você já comeu então? — Só um pouco de queijo e frutas, — assegurou Locke. — Estou faminto agora. — Ele sinalizou para Gilbert, que imediatamente saiu para, sem dúvida, ordenar aos lacaios. — Então me diga, minha querida, — começou seu pai, — qual quarto você está arrumando agora? — Acredito que seja uma sala matinal ou talvez a biblioteca da marquesa. Tem algumas estantes de livros. Os sofás e as cadeiras estão cobertos de tecido amarelo com flores bordadas. — Ah, sim, minha Linnie gostava de ler naquela sala à tarde. Olhando através das janelas, ela podia me ver retornando das minas. Uma vez eu entrei naquela sala para descobrir que ela estava nua e esperando por mim. Deus, como ela riu do olhar no meu rosto. Ela teve uma risada contagiante. Eu não conseguia ouvir sem rir de volta. Locke pigarreou. — Portia, acredito que precisamos ter todos os móveis da casa estofados, se não forem completamente substituídos. — Não seja puritano, Locke, — disse o pai. — Acho maravilhoso que vocês tenham se amado tanto, — disse Portia. 173


Bom Deus, nenhum dos dois tinha vergonha alguma? Ele se considerava um libertino, mas suas façanhas eram pequenas em comparação com as de seu pai. — Se eu soubesse que nosso tempo juntos seria tão curto, eu nunca teria passado um momento longe dela. — Você pode não ter gostado tanto de saber, porque se você soubesse teria se distraído com o pensamento de perdê-la, — disse Portia. — Existe isso. Suponho que não saber é um presente. Graças a Deus os servos chegaram com a primeira refeição. Certamente agora seu pai iria para uma conversa mais apropriada. — A propósito, — seu pai disse, — Ashe e Edward chegarão em uma quinzena com suas famílias. Pode querer arrumar a sala de bilhar. — Não nos diga que você levou minha mãe na mesa de bilhar, — declarou Locke sucintamente. Seu pai piscou para Portia. — Como quiser. Eu não vou te contar. Ela teve a audácia de rir. Um arrepio frio percorreu Locke com a percepção de que, se ela não estivesse mais aqui, ele ainda ouviria sua risada ecoando dentro dos cômodos.

Capítulo 17 Portia olhava para seu reflexo no espelho de sua penteadeira, um pouco nervosa com a chegada dos protegidos do marquês esta tarde. Uma coisa era desfilar sobre a aldeia como esposa do visconde. Outra bem diferente era socializar com damas respeitáveis que estavam bem acima dela, não só no posto, mas também em reprovação quando se tratava de comportamento. Afinal, uma era casada com um duque, a outra com seu segundo conde. Enquanto o segundo casamento da condessa e a chegada prematura de sua criança haviam criado um grande escândalo, isso não mudava o fato de que ela tinha sangue nobre correndo em suas veias. — Se eu não te conhecesse melhor, diria que você temia o dia de hoje, — disse Locke. 174


Ela olhou para onde ele estava sentado para calçar suas botas. Terminado com a tarefa, ele se inclinou para frente, os cotovelos apoiados em suas coxas. Tão incrivelmente bonito, tão seguro de si. Ele não tinha planos de ir às minas hoje. Ela suspeitava que ele não iria até depois que os hóspedes fossem embora. — Eu estou simplesmente tentando decidir qual vestido usar. — Balançando no banco, ela encarou-o diretamente. — Eu não quero te envergonhar ou me comportar de uma maneira que eu não deveria. Estreitando os olhos, ele a examinou. — Com certeza, quando você respondeu ao anúncio do meu pai, você esperava entreter a nobreza. — Para ser sincera, não. Eu sabia que ele era um recluso e pensava que meu tempo seria gasto com ele e ele sozinho. — Ela acenou com a mão. — Oh, eu pensei que você poderia estar aqui na ocasião, mas eu suspeitava que você não gostaria de ter nada a ver comigo. — Se você nunca esperou para entreter, por que diabos você está arrumando os cômodos? A sala de bilhar não estava no topo de sua lista, mas pensando agora, acreditava que deveria ter sido. Isso traria prazer ao marido. Quando ela andou pela casa na primeira vez, ela viu evidências de pegadas deixadas por garotos jovens. Com o passar dos anos, a poeira os cobria, mas não os preenchia. Ela podia imaginar a excitação que os atravessara quando descobriram o conteúdo daquela sala em uma de suas excursões à meia-noite. — Porque parecia uma vergonha para uma residência tão magnífica como esta ser abandonada. Certamente você quer que seus filhos valorizem sua herança. Como eles podem fazer isso se deixar tudo para apodrecer? Ela também limpou o berçário. O marquês sentara-se na câmara e observara enquanto ela e os criados cuidavam dessa tarefa. Ele tinha um sorriso suave como se estivesse vislumbrando seus netos dormindo e brincando lá dentro. A culpa se apoderou dela e não conseguiu se livrar completamente. As mulheres eram muito mais intuitivas que os homens. Talvez isso fosse o que ela temia: que as mulheres vissem através dela, reconhecessem as razões por trás de seu desespero, e iriam descobrir seu segredo. Quanto aos quartos para os hóspedes, descobrira que Ashebury e Greyling tinham dois quartos no corredor. Eles somente precisavam ser arrumados. Ela não gostou que seu marido ficou calado e continuou a estudála como se estivesse começando a perceber a verdade sobre ela. 175


— Eu sou uma plebeia, Locksley, — ela se sentiu obrigada a lembrá-lo. — Minerva também é. A esposa do duque de Ashebury. — A mãe dela é da nobreza, então ela tem sangue azul nas veias. Independentemente disso, ela cresceu entre a aristocracia. O pai dela é rico o suficiente para que um rei pedisse a mão dela. — Leu isso nas folhas de fofoca, não é? Fofocas compartilhadas por duas mulheres que ela conhecia, mulheres bobas como ela, que achavam que estavam indo em busca de coisas melhores apenas para se encontrarem em uma situação muito pior. — Tenho medo de dar um passo errado e eles vão pensar que você é um tolo por me tomar como sua esposa. Depois de desdobrar aquele seu corpo alto e magro que apenas uma hora antes a fizera gritar seu nome, ele se aproximou dela, agachou-se e tirou os fios soltos do cabelo dela do rosto. — Você pode ter nascido um plebeia, Portia, mas agora você é uma dama. Como tal, você terá respeito e nada que fizer será questionado - muito menos por aqueles que estão chegando hoje. O marquês de Marsden é a coisa mais próxima de um pai que Ashe e Edward tiveram por quase um quarto de século agora. Desde o momento em que chegaram, eles se tornaram meus irmãos. Pense neles como família. Quanto às esposas, são mulheres extraordinárias. Garanto-lhe que eles não vão julgar. Mas se o fizerem, eles vão te achar notável. Seus lábios se separaram ligeiramente, ela olhou para ele, surpresa por seu elogio, ele raramente lhe oferecia elogios. Como se estivesse envergonhado, ele se levantou e foi para a porta. — Use o vestido lavanda. Com isso, ele se foi. As coisas entre eles estavam mudando - lenta e irrevogavelmente. Ele estava vindo para realmente cuidar dela. Ela estava bastante certa disso. Ela não se sentiria culpada por isso, não desejaria que ela não estivesse cuidando dele também. Em vez disso, ela apenas oraria para que ele nunca soubesse da verdade.

Tendo visto os cocheiros de uma janela no andar de cima, Locke havia escoltado Portia para fora, para que pudessem receber seus convidados. Ele não ficou surpreso que os quatro cocheiros chegaram ao mesmo tempo, dois com o brasão de Ashebury e os outros com o brasão de Greyling. Ele assumiu que seus amigos se encontrariam para 176


que pudessem chegar juntos para que tivessem a mesma primeira impressão de sua esposa. Ele não sabia por que o nervosismo de Portia chamava sua natureza protetora. Talvez porque desde que chegara a Havisham Hall, ela fora tão ferozmente independente, que ele achava que ela nunca duvidaria, nunca hesitaria, nunca pensaria duas vezes. Ele não gostava que ela parecesse vulnerável, suscetível a sofrer. Se ele tivesse aberto a porta para ver a preocupação nos olhos dela e o número de vezes que ela lambeu os lábios enquanto esperava que os cocheiros parassem, ele poderia ter ficado com mais pena dela naquele primeiro dia. Ele ainda não teria permitido que ela se casasse com seu pai, mas as coisas entre eles poderiam ter começado em um pé diferente. — Você não tem que provar nada para eles, — ele disse calmamente, e ela virou a cabeça para encará-lo. Ele não gostava dos momentos em que ela parecia tão jovem, tão vulnerável. — Eles não me pediram para aprovar a escolha deles para suas esposas. Eu não vou pedir que eles aprovem a minha. — Eles sabem como nosso casamento aconteceu? — Eu não tenho certeza do que meu pai disse a eles. Eu apenas escrevi que eu tinha tomado uma esposa - apenas um pouco de informação, caso eles viessem nos visitar. Mostre-lhes a coragem e força de caráter que você me mostrou naquele primeiro dia e você se sairá bem. — Foi mais fácil pelo fato de que eu não me importava se você gostava de mim ou não. Ele riu. — Eu não me importo se você também gostava de mim. — Eu não gostava. Eu te achei um idiota pomposo. Ele sorriu. — Imagine-os da mesma maneira então. — Eu prefiro que eles gostem de mim um pouco. Eles iam adorá-la. Ele endureceu com o pensamento que tinha surgido tão facilmente, com tanta segurança. Se eles se sentiriam assim em relação a ela, como ele não poderia? Exceto que ele se recusou a permitir que qualquer coisa além de sua cabeça, governasse suas emoções. Era simplesmente prático gostar dela, pois isso tornava as coisas entre eles mais agradáveis e divertidas. Ele não iria confundir praticidade com amor. Graças a Deus, os cocheiros finalmente pararam. Ele precisava voltar sua atenção para outros assuntos além de se esforçar para explicar seus pensamentos ridículos. Antes mesmo que ele percebesse o que estava fazendo, sua mão estava na cintura de Portia, dando um aperto suave. — Vamos apresentá-los a Lady Locksley. 177


****** Portia estava determinada a ser uma boa anfitriã. Seus pais tinham entretido com frequência suficiente para que ela aprendesse desde cedo a fazer alguém se sentir confortável. Na ocasião, eles até receberam a nobreza em sua casa. Mas nenhum de seus convidados tinha sido tão importante em um nível pessoal, como aqueles que estavam saindo das carruagens, eram para Locksley. Ela não só queria deixá-lo orgulhoso, ela queria que ele ficasse satisfeito com seus esforços. Permanecendo onde estava, observou quando criados e crianças saíam das duas últimas carruagens, enquanto o marido cumprimentava com um aperto de mão e uma batida no ombro, o homem que agilmente pulou do primeiro veículo com um escudo ducal. O duque de Ashebury. Tinham a mesma altura, o cabelo do duque não era tão preto quanto o de Locksley. Ao lado de Ashebury, seu marido parecia mais sombrio e perigoso, mais proibido. Ele parecia ser o tipo que sua mãe a teria advertido contra. No entanto, foi ele quem salvou ela. Ela sacudiu esse pensamento quando o duque se virou e ajudou a descer da carruagem, uma mulher com cabelos que pareciam ao mesmo tempo escuros e vermelhos, dependendo de como o sol brincava sobre eles. A ex-Miss Minerva Dodger, agora a duquesa de Ashebury. Seu sorriso estava sorrindo quando ela deu um abraço em Locksley. Portia ficou surpresa com a pontada de ciúmes que lhe perfurou o peito. A mulher era casada com um duque arrojado. Ela não ia procurar um flerte com o visconde, embora seus modos fáceis contassem a Portia que ela ficaria tão confortável se cumprimentasse um príncipe ou um rei. Mas então, de acordo com as folhas de fofoca, o dote de Minerva havia se igualado ao tesouro de alguns países pequenos. Portia assumiu que quando alguém foi agraciado com tanto dinheiro, ficaria relaxado em torno de qualquer pessoa. Um cavalheiro de cabelo de trigo e uma senhora de cabelos escuros saíram da carruagem do conde e aproximaram-se de Locksley. Ele abraçou a mulher, deu um beijo na bochecha dela. A condessa de Greyling, que conquistou os corações de dois condes. Então Locksley estava apertando a mão de Greyling. Trocaram algumas palavras, um sorriso, uma risada. Observando a camaradagem compartilhada entre o grupo, Portia nunca se sentira tão isolada ou sozinha. Instintivamente, ela sabia que nunca abandonariam um ao outro, independentemente de erros tolos ou erros de julgamento. Ela trocaria sua alma por tal lealdade em amigos ou família. 178


Locksley se virou para ela e estendeu a mão. Tomando uma respiração profunda e trêmula, ela caminhou até ele, colocou a palma da mão contra a dele agradecendo por seus dedos que se fecharam firmemente ao redor dos dela. — Permita-me a honra de apresentar minha esposa, Portia. — De acordo com sua carta, eu esperava que ela fosse um sapo, — disse Ashebury. — Agradavelmente surpreso ao descobrir que ela não é. — Eu não a descrevi na minha carta. — Exatamente. — Não fale dela na terceira pessoa como se ela não estivesse aqui, — disse Minerva, batendo no braço do marido de brincadeira, antes de se virar para Portia. — Ashe é um fotógrafo. Ele passa muito tempo observando como as coisas aparecem e tentando capturar a verdade sobre elas através das lentes de sua câmera. Então Portia estava determinada a nunca se sentar para ele, porque ela não precisava dele descobrindo sua verdade. — É um prazer conhecer você, sua Graça. — Oh, por favor, não seja tão formal. Eu sou Minerva. Esta é a Julia. — Ela indicou a mulher de cabelos escuros. — E Grey. — Eu prefiro Edward, — disse Greyling, pegando a mão de Portia e pressionando um beijo em seus dedos. — Ele ainda não está muito confortável com o título, — disse Julia, entrando e dando um leve beijo na bochecha de Portia. — Bemvinda à família. — Obrigada. Espero que você encontre as acomodações a seu gosto, mas se houver alguma coisa... — O que você está fazendo, querida? — Edward perguntou, e Portia olhou para vê-lo abaixando-se para uma pequena menina com menos de três anos que estava segurando a perna da calça e olhando ao redor. Ele a ergueu em seus braços. — Diga olá, Lady Allie. Ela enterrou o rosto no ombro dele. — A filha do meu irmão é um pouco tímida com estranhos. — E um inferno, no entanto, uma vez que ela se acostumar com você, — Ashe assegurou Portia. Ela recebeu apenas uma breve introdução aos herdeiros Ashebury e Greyling, mantidos por suas babás, antes que Locksley os levasse para o terraço onde o marquês os aguardava. 179


O afeto que ambos os casais e seus filhos sentiam por Marsden era óbvio e reconfortante. Também era evidente que ele adorava as crianças, sem dúvida parte da razão pela qual ele tinha tomado as coisas em suas próprias mãos para adquirir um herdeiro. Lágrimas ameaçavam a brotar enquanto imaginava o amor que ele daria ao filho. Toda Londres poderia pensar que ele estava louco, mas ela sabia que quando se tratava de amor, ele poderia muito bem provar ser a pessoa mais sadia que ela já conheceu. — Isso não foi tão ruim, foi? — Locksley perguntou perto de sua orelha, de pé um pouco atrás dela. Ela balançou a cabeça. — Eu gosto bastante deles. Seu pai é maravilhoso com as crianças. — Ela observou o marquês pegar a mão de lady Allie e começar a andar com ela pelo mato. Portia suspirou. — Eu preciso começar a trabalhar no jardim. — Hoje não, — ele reclamou. Ela riu. — Hoje não. — Mas logo. Se Marsden não se opusesse. Talvez ela plantasse as flores favoritas de sua esposa. Observando-o, admirando seus protegidos e suas esposas, observando as crianças, tudo a fez desejar o calor da família que nunca teve, pelo amor que ela sabia que seu marido nunca teria por ela.

— Então, como você a conheceu? — Edward perguntou. — Ela não é familiar. Ele, Ashe e Locke estavam sentados em cadeiras perto da lareira da biblioteca, copos de uísque na mão. Portia levara as mulheres para o salão da manhã para tomar uma xícara de chá. Seu pai alegara estar precisando de um cochilo, embora Locke suspeitasse que ele estivesse brincando com as crianças no berçário. Ele não se sentiria culpado porque seu pai parecia se deliciar tanto com os pequenos e Locke ainda tinha que fornecer-lhe um herdeiro. — Conhece todas as mulheres de Londres, não é? — Algumas poucas, sim. Como solteiro, Edward tinha sido o mais promíscuo entre eles, mas como o segundo na linha do título, ele nunca esperava se casar. Então ele se apaixonou pela viúva de seu irmão e foi isso. — Então ela é de Londres? — Ashe perguntou. — Ela viajou de Londres. Sua família vive em Yorkshire. — Ele deu a Edward um olhar aguçado. — Gadstone? — Não estou familiarizado com o nome. 180


Locke fez uma careta. — Na verdade, Gadstone é seu nome de casada. Eu não sei o nome da família dela. — É estranho isso, — Ashe pensou. — Meu pai arranjou para me casar com ela. Até ela chegar para o casamento eu nunca a conheci. Ashe e Edward trocaram olhares antes de Ashe dizer: — Eu imploro seu perdão? — É uma longa história, mas meu pai colocou um anúncio para uma esposa. Ela respondeu. Exceto que eu não confiava nela. — Então você se casou com ela? — Edward perguntou incrédulo. — Melhor eu do que meu pai. — A coisa toda soou ridícula e o fez parecer um tolo. — Ele assinou um maldito contrato afirmando que a garota iria se casar quando ela chegasse. Era ele ou eu. Edward começou a rir. — O espertinho inteligente. Eu apostaria que o tempo todo ele planejou que fosse você. — Você ganharia essa aposta. Eu percebi um pouco tarde. Não que eu tenha reclamações. Ela é bastante talentosa e bastante talentosa em áreas onde eu aprecio talento. — Boa na cama, então? — Ashe perguntou corajosamente. — Maravilhosa na cama. — Seu pai estava atrás de você para tomar uma esposa, — Edward apontou. — Ele nunca gostou muito de nós não obedecendo-o, não é? — Ele parece... — A voz de Ashe sumiu enquanto ele estudava seu uísque. — Mais feliz, suponho, é a palavra que estou procurando. Mais à vontade. — Portia mudou as coisas por aqui um pouco. Elas não são mais tão sombrias. — corrigindo. Nem todas as mudanças que ela fez eram visíveis. Ele esperava que simplesmente a qualquer momento os relógios começassem a funcionar por conta própria. — Já faz um tempo desde que meu pai estava caçando fantasmas sobre os pântanos. — Você não acha que ele está no andar de cima enchendo as cabeças das crianças com histórias de fantasmas que os arrebatam durante a noite, não é? — Edward perguntou, com clara preocupação em sua voz. — Eles são muito jovens para compreender plenamente o que ele 181


pode estar narrando, — Ashe assegurou. — Allie não é. Ela é afiada como um chicote. Puxou ao pai dela. Se eu não terminar com uma história para dormir, ela vai me lembrar na noite seguinte exatamente onde parei. Incrível as coisas que ela compreende e lembra. — É difícil criar a filha do seu irmão? — Locke perguntou. Edward balançou a cabeça. — Não se passa um dia que eu não queira que Albert ainda esteja aqui, mas ter Allie na minha vida não é difícil, mesmo que eu não seja a pessoa que a gerou. Eu vejo muito Albert nela. O que significava que ele via muito de si mesmo. Embora Locke nunca tivesse tido dificuldade em separar os gêmeos, algumas pessoas o fizeram. — Você acha que temos tempo antes do jantar para um passeio rápido no pântano? — Ashe perguntou. — Pensei que você nunca perguntaria, — disse Locke.

— Eu poderia ficar nesta sala o dia todo, — Minerva falou com um suspiro suave. Portia as levara para a sala da manhã para saborear o chá e os biscoitos. Elas estavam sentadas na área perto das janelas que se projetariam para um jardim se houvesse um. Teria sem dúvida no próximo ano, seria assim antes que ela tivesse flores desabrochando. — Sempre que visitávamos, — Julia começou, — eu ficava curiosa sobre os quartos escondidos atrás de portas fechadas, mas sempre tive medo de encontrar um fantasma à espreita. — Não, só aranhas — assegurou Portia. Julia visivelmente estremeceu. — Você é corajosa. — Dificilmente. Só fiquei triste ao pensar que tudo o que restava estava em ruína. — Esta casa precisava de um toque de mulher por muitos anos, — disse Julia. — Estou feliz por estares aqui. Parece diferente, mais acolhedora, menos assustadora. E o marquês parece bastante contente. — Ele está antecipando um herdeiro. — Você está grávida? — Perguntou Minerva. Portia rapidamente sacudiu a cabeça. — É muito cedo. 182


Minerva sorriu. — Na verdade não. Pode acontecer pela primeira vez com a mesma facilidade que em qualquer outro momento. É claro que estou assumindo que Locksley exerceu seus direitos de marido. Portia se perguntou se de repente ela havia pousado no meio do verão. Sua pele era úmida e quente. — Fervorosamente e com bastante frequência, — ela disse, sua voz baixa. Ela discutiu homens com franqueza e abertamente com algumas outras mulheres quando morava em Londres. Ela não sabia por que ela estava desconfortável com essas duas. Talvez por serem damas e ela sempre supusesse que as mulheres de escala superior nunca conversavam sobre o que se passava por trás de portas fechadas. — Honestamente, Minerva, pare com isso — disse Julia, fazendo Portia agradecer pela repreensão. — A pobre Portia está ficando vermelha como uma maçã. Nem todo mundo é tão confortável quanto você em discutir assuntos tão íntimos. — Mas nós deveríamos estar. Não deveria haver vergonha em nossos corpos ou no modo como eles funcionam. Faz parte da vida, ser comemorado de verdade. — Você gostaria de mais chá? — Portia perguntou, pronta para ir para algo menos pessoal. — Espero não ter ofendido, — ofereceu Minerva. — Não, não mesmo. — Oh, lá vão eles, — disse Julia. Portia olhou para a janela onde sua convidada estava olhando. Ela viu Locksley e os outros galopando sobre os pântanos. — Você diz isso como se esperasse. Voltando-se para ela, Julia sorriu suavemente. — Eles costumam sair logo após chegarmos. Acho que isso os lembra de quando eram jovens e selvagens, embora suspeite que naquela época eles esperavam ver um fantasma. — Julia os conhece melhor do que ninguém, — disse Minerva. — Bem, eu conheço meu marido melhor do que ela, é claro, mas ela os conhece há mais tempo. — Estou na família há mais tempo, — admitiu Julia. — Embora eles não possam ser relacionados pelo sangue, eles são uma família. Albert e Edward tinham apenas sete anos quando seus pais morreram. Ashe tinha oito anos. Locke tinha seis anos, era o mais novo, quando eles se mudaram para cá. Portia se encolheu até a beira da cadeira. — Deve ter sido 183


estranho para ele. Ele me disse que estava muito sozinho antes deles chegarem, não tinha outras crianças com quem brincar, nem mesmo da aldeia. — Pelo que entendi, sim, ele estava bastante isolado aqui. O marquês ainda estava nas profundezas de seu desespero pela perda de sua esposa, apesar de ter passado anos desde sua morte. Ele nunca abusou deles, no entanto. Você não vai ouvir nenhum deles dizer uma palavra ruim sobre ele. Ainda assim, ela tentou imaginar como tinha sido para Locksley. Talvez ele tenha escalado paredes para ganhar a atenção do pai. — Como ele era quando você o conheceu? Julia riu. — Mais jovem do que ele é agora. Acho que faz oito anos desde que o conheci. Ele sempre foi mais contemplativo que os outros. Mais silencioso. Não era uma pessoa para se envolver em conversas ociosas. Não que as senhoras parecessem se importar. Contanto que ele dançasse com elas, elas não se importariam se ele não falasse nada. Embora na verdade ele raramente tenha assistido a um baile. — Ela balançou a cabeça. — Para ser sincera, ele quase nunca passava tempo em Londres. Acho que ele prefere a solidão e a esterilidade desse lugar. — Embora eu ache que provavelmente não há tanta solidão agora que você está aqui, — disse Minerva. — A propósito, como você conseguiu capturar sua atenção e atraí-lo para o casamento? Portia soltou um suspiro profundo. Ela realmente não queria entrar em detalhes. — O marquês providenciou. Eu exigi segurança; ele exigiu um herdeiro. Locksley obedeceu. Eu não acho que você encontrará um casamento em toda a Grã-Bretanha que seja baseado em mais conveniência que o nosso. — Mas você o ama, — disse Minerva. Portia sentiu como se Minerva tivesse batido com o punho fechado na área macia logo abaixo do esterno. Ela não era mais uma garota ingênua e jovem, tola o suficiente para se apaixonar por um homem que nunca a amaria de verdade. — Não. Ela queria que a palavra soasse mais verdadeira, soasse mais firme. — Você percebe que ele se importa com você, — Julia ofereceu. Mais uma vez, Portia estava se sentindo quente, quase tonta. Ela forçou as palavras a saírem. — Garanto-lhe que ele não tem afeição profunda por mim. Julia e Minerva trocaram um olhar de compreensão. 184


— Minha querida, acredito que você está errada sobre isso, — disse Minerva. — Com base no jeito que Locksley olha para você, eu diria que ele está obcecado. Ela balançou a cabeça. Ele não podia amá-la. Isso tornaria as coisas mais difíceis se ele fizesse isso. Ela se casou com ele porque sabia que ele nunca a amaria. Era muito mais fácil quando ele queria dela apenas uma coisa, quando ele a via como meramente uma companheira de cama, um corpo a ser usado. Que seu coração bobo ansiasse pelo amor dele era apenas um pensamento desejoso. Não era prático, e sua cabeça sabia que era uma noção terrível. — Você está errada, — insistiu Portia. — Ele jurou nunca amar. — Ela tem razão, Minerva, — disse Julia. — É o seu mantra favorito para repetir. — Ele pode repetir tudo o que quiser. O coração quase nunca ouve o que dizemos. Tem uma tendência a seguir o seu próprio caminho. Ele pode não estar loucamente apaixonado, mas eu apostaria toda a minha fortuna que seu coração não está trancado tão firmemente quanto ele poderia desejar. Ao contrário do que Minerva poderia acreditar, Portia sabia que isso não previa nada de bom para o futuro dela.

Locke não se lembrava de estar com uma mulher que fez seu peito inchar com orgulho. Ele certamente não esperava isso de Portia quando ele se casou com ela, mas então nada sobre seu casamento era como ele previu. Bem, exceto pelo que passou no quarto de dormir. Ele julgou suas habilidades corretamente lá. Mas ele não tinha previsto que ela seria uma excelente anfitriã. Durante o jantar, a comida tinha sido esplêndida, o vinho excelente, a conversa agradável. Não importava o que era discutido, Portia estava familiarizada com eles - não pessoalmente, mas com base em suas façanhas capturadas nas páginas de fofocas. Ela mencionou antes que ela os leu, mas agora ele estava começando a pensar que a mulher os devorou. Ele fez uma anotação mental para começar a entregar em Havisham Hall o jornal de Londres. Ele também precisava pedir algumas partituras mais recentes. Os que sua esposa usava para entretê-los na sala de música eram remanescentes de sua mãe. Portia parecia perfeitamente contente com eles, mas ele se perguntou que tipo de música ela preferiria interpretar. Ele se viu pensando muito sobre ela, mesmo quando se preveniu contra a curiosidade. 185


Ashe e Edward pareciam gostar dela. As mulheres obviamente gostavam. Embora ela fosse uma plebeia, ela se encaixa muito bem com a aristocracia, poderia se manter. Um camaleão. O que lhe deu uma pausa. Onde ela aprendeu a se sentir confortável em todas as esferas da vida? Ashe se inclinou. — Ela é maravilhosa, merecendo melhor do que um homem que afirma não ter coração. — Sua performance é merecedora de silêncio, — Locke respondeu em voz baixa. Ashe teve a audácia de apenas rir. O marquês se juntou a eles para o jantar, e agora ele estava sentado com os olhos fechados, o rosto relaxado. Locke imaginou que ele estava viajando de volta a uma época em que outra mulher tocava piano para ele. Locke passou uma boa parte de sua vida sem fazer perguntas sobre sua mãe, não querendo trazer memórias que pudessem perturbar seu pai. Só agora ele estava começando a perceber que, ao restringir sua curiosidade, ele poderia estar permitindo que seu pai permanecesse perdido em sua dor. Embora, para ser honesto, nem ele quisesse saber o que a morte de sua mãe havia lhe negado: um puxão de cabelo na hora de dormir, um sorriso suave quando suas lições eram feitas satisfatoriamente, uma risada gentil quando ele a presenteara com um punhado de flores silvestres depenadas. Sua vida teria sido diferente se sua mãe não tivesse morrido. Ele nunca quis realmente reconhecer esse fato. Ele optou pelo pragmatismo e aceitou a vida como era. Portia o fez ansiar por mais. Ela o fez querer abraçar a vida com uma paixão inflexível. Apesar de todas as alegações dela serem comuns, não havia nada de comum nela. Os acordes finais que ela atingiu duraram, como memórias relutantes em desaparecer. Todos aplaudiram. Ela abaixou a cabeça, corou. Sempre o surpreendia que uma mulher tão ousada como ela corasse. Isso a tornava ainda mais cativante, o que não era o que ele particularmente queria - e, ainda assim, Ashe estava certo. Ela merecia um homem disposto a abrir seu coração para ela. — Alguém mais se importaria em tocar? — Ela perguntou. — Eu nunca dominei o piano, — disse Minerva. — O que é estranho, considerando quão ágil são os seus dedos quando se trata de trapacear com as cartas, — Ashe respondeu com muito orgulho refletido em sua voz. — Você trapaceia com as cartas? — Portia repetiu. 186


— Na ocasião, se eu precisar vencer. Depende das apostas. Eu posso te ensinar se você quiser. — Eu não acho que isso seja necessário, — disse Locke, embora não se lembre de uma única vez em que sua esposa tenha seguido seus decretos. Se ela quisesse aprender a trapacear, encontraria um jeito assim como arrumara os quartos que proibira de serem arrumados, mostrou-lhe as possibilidades para que ele não pudesse objetar. Ela era inteligente assim. Nunca pedindo permissão, mas arriscando sua ira e conseguindo evitá-la quando tudo foi dito e feito. — Para ser sincera, estou exausta, — disse Julia. — Tem sido um dia longo, com a viagem e tudo. Eu acredito que vou ter que me render. — Nós dois então, vamos? — Edward perguntou, ficando de pé e ajudando sua esposa. Locke não sabia se ele se acostumaria com Edward sendo tão solícito com ela. Por anos, Edward alegou abominar a mulher e ela o desprezou. Que estranho agora vê-los tão profundamente apaixonados. Seu pai se levantou da cadeira, foi até a janela e olhou para fora. — Linnie apreciou ver todos vocês aqui esta noite. Locke trocou olhares com Ashe e Edward. Apesar de todas as mudanças que Portia havia anunciado, algumas coisas permaneceram intocadas. — É um pouco tarde, — admitiu Locke. — Devemos, sem dúvida, todos nos recolhermos. Seu pai se virou. — Quando chegar a hora você vai me enterrar ao lado dela. Como se Locke considerasse qualquer outra coisa. — Sim, bem, o tempo não vai chegar por um bom tempo ainda. — Eu suponho que você está certo. Ainda há muito a ser feito, embora você seja o único que precisa estar fazendo isso. Um herdeiro, Locke, você precisa de um herdeiro. — Estou trabalhando nisso, pai. — Todas as noites. Não que ele achasse a tarefa assustadora ou desagradável. Caracterizar como trabalho era impreciso. — Então todos nós devemos ir para a cama e deixá-lo voltar para isso, — disse seu pai. Locke não conseguiu reprimir seu gemido. Honestamente, o homem não pensava antes de falar. Ele teria um tempo se educando caso decidisse voltar a Londres e à sociedade. Seu pai começou a 187


conduzi-los como se fossem crianças novamente. Talvez em sua mente eles fossem. Era difícil dizer às vezes quando o pai dele escorregava para o passado. No corredor de seus aposentos, Locke desejou uma boa noite, enquanto Portia desejou-lhes doces sonhos. Somente depois deles fecharem as portas, deixando Locke, Portia e seu pai no corredor, ele se virou para o marquês. — Às vezes você diz as coisas mais inapropriadas pai. — Tenho idade suficiente para não me importar. O tempo é curto. Eu devo ser direto. — Ele piscou para Portia. — Você foi uma anfitriã maravilhosa, minha querida. Eu sabia que você seria. — É fácil quando a nossa companhia é tão agradável. — Você parece cansada. — Tem sido um longo dia. Seu pai a estudou como se procurasse alguma coisa antes de finalmente assentir. — Eu suponho que sim. Vejo vocês dois de manhã. — Ele entrou no quarto. Locke virou a chave na porta, trancando-o. — Eu gostaria que você não tivesse que fazer isso, — disse ela. Ele também desejou isso. — Muitas memórias despertaram hoje. Ele estará vagando pelos pântanos se eu não o fizer. — Ele parecia tão contente hoje à noite. Locke quase virou a chave para o outro lado. Porque ele acredita que minha mãe estava olhando pela janela. Não me faça sentir culpado pelo meu desejo de mantê-lo seguro. — Você está certo, claro. Eu sinto Muito. Ele ofereceu seu braço, conduziu-a ao seu quarto de dormir, lutando para ignorar os movimentos que ouvia nos aposentos pelos quais passavam. Parecia que seus amigos estavam muito excitados. Não que ele tenha culpado eles. Algo sobre o isolamento aqui despertava seus instintos mais básicos. Em Londres, ou durante qualquer de suas viagens, ele nunca esteve tão desesperado para possuir uma mulher quanto estava por possuir Portia. Se ele não estivesse se esforçando para manter um pouco de decoro e distância, ele teria pegado a mão dela e corrido para o seu quarto. Fechando a porta atrás deles, ele girou ao redor para encontrá-la esperando no centro do quarto, de costas para ele. Desamarrar seu vestido se tornou um ritual noturno. Depois de tirar o casaco, jogou-o em uma cadeira próxima. Seu colete e o lenço do pescoço se juntaram 188


a ele antes que ele se aproximasse dela. Ele pressionou seus lábios na nuca dela. Em um suspiro suave, ela baixou a cabeça. — Meu pai estava correto. Você é uma anfitriã excepcional. — Os servos adicionais ajudaram. Por que ela estava sempre tão relutante em levar crédito por suas conquistas? Naquele primeiro dia, a modéstia não era algo que ele esperava dela. Ele trabalhou desamarrando seu vestido. — Você terá que contratar mais enquanto continua limpando a residência. — Eu pensei que eu iria parar com esses esforços até que as minas esteja rendendo novamente. Seus dedos pararam na parte baixa de suas costas. Ele desejou que ela não conhecesse a verdade das minas. — Não há necessidade. Não somos mendigos, Portia. Ainda não. Ele soltou seu vestido até o chão. Depois que ela saiu, ela o encarou. — Você vai discutir a situação da mineração com Ashebury e Greyling? — Ela perguntou. — Não. Eles não sabem nada sobre mineração. — Ele embalou sua bochecha. — Você é uma incrível dama da mansão. Deixe-me cuidar de você. Uma vez que ele teve todas as suas roupas removidas e seu cabelo solto, ele a ergueu em seus braços e a levou para a cama. Outro ritual. Ele não sabia por que gostava tanto, quando ela podia facilmente caminhar pelos poucos metros restantes. Mas gostava que ele ditasse o ritmo, que ele determinasse se fossem devagar ou depressa. — Role sobre o seu estômago, — ele ordenou. Ela não objetou. Ela nunca fezia, e pela primeira vez, ele se perguntou se ela diria a ele se havia algo que ela não gostasse. Ashe e Edward estavam mais em sintonia com suas esposas. Ficou evidente a noite toda. Eles sem dúvida saberiam se a esposa estava exausta muito antes de se retirarem para o quarto de dormir. Não era que ele não prestasse atenção nela. Ele simplesmente não conhecia Portia, assim como seus amigos conheciam suas esposas. Mas então conheceram suas esposas por muito mais tempo do que ele conhecia a sua. No entanto, mesmo quando ele procurava uma desculpa, ele sabia que a verdade era que ele não tinha nenhum desejo de realmente conhecê-la. Abrindo uma gaveta na mesa ao lado da cama, ele chegou e retirou um frasco. — O que é isso? — Ela perguntou. 189


— Um óleo com aroma de almíscar que comprei durante uma de minhas viagens. O vendedor me garantiu que traria prazer elevado. Eu pensei em testar isso em você. — Se o prazer que você me traz for aumentado ainda mais, eu provavelmente expirarei no local. Foi bom que ele tenha removido o colete. Os botões podem ter explodido com o inchaço de seu orgulho. Ele nunca duvidou que ele lhe trouxe prazer. Ele não podia explicar por que ele queria dar-lhe muito mais. Ele também não sabia por que um arrepio de pressentimento passara por ele ao pensar nela morrendo. — Vamos tentar, não é? — Perguntou ele, escovando o cabelo de lado até que tudo se agrupasse em seu travesseiro. Ela subiu nos cotovelos. — Com pessoas por perto? Eu não preciso estar gritando esta noite. — Morda o lençol. — Ele arregaçou as mangas da camisa, afrouxou os botões do colarinho. Ele tirou a tampa do frasco, colocou um pouco de óleo na palma da mão e esfregou as mãos rapidamente para aquecer o líquido. Ele pressionou as mãos nas costas dela. Com um gemido, ela se jogou contra o colchão e fechou os olhos. Ele tomou longos movimentos vagarosos para cima e para baixo de cada lado de sua espinha, bem ciente de ela ficar límpida sob seu toque. — Qual o nome do seu pai? O aperto retornou instantaneamente. — Porque perguntas? — Quando eu estava conversando com Ashe e Edward mais cedo, na biblioteca, eles tinham perguntas para as quais eu não tinha respostas. Isso me deixou curioso. — Ele não está mais na minha vida, então seu nome não é de interesse. Ele moveu os dedos em círculos sobre os ombros dela. Ela lhe disse isso antes, mas de repente pareceu importante que ele soubesse, se não aquilo, pelo menos alguma coisa sobre ela. — Compartilhe comigo uma lembrança de sua infância. Ela suspirou longa e suavemente. — Eu estou muito cansada. Então suas defesas estavam baixas e ele era o pior tipo de canalha para se aproveitar, mas então um idiota deve viver de acordo com sua reputação. — Você é muito boa em entretenimento. Você aprendeu essa habilidade em casa? — Sim, muitas vezes recebíamos visitas e esperávamos fazer um bom show. 190


Franzindo a testa, ele acariciou o comprimento de suas costas, amassou seu traseiro sedutor. — Que tipo de show? — Que éramos uma família feliz. Que meu pai era um bom homem. — Ele não é mais? Ela rolou de costas. Ele deu-lhe um sorriso diabólico. — Você está pronto para eu massagear sua frente? — Estou pronta para você parar com as perguntas. Quem eu era, como as coisas eram - elas não importam agora. Nós. O que é ou não está entre nós. Deixei tudo isso para trás. — Tudo o que? Ela balançou a cabeça. — Não importa. Você se casou comigo sem se importar. Não importa agora. — Ele te machucou? Com uma careta, ela fechou os olhos. — Ele não acreditava em poupar a vara. Eu diria isso. Ele se perguntou se as lembranças da mordida da vara lhe causaram uma careta. Ela não tinha cicatrizes, mas uma pessoa podia infligir dor sem marcar a pele. Ela abriu os olhos. — Por favor, deixe o passado no passado. Palavras que ele frequentemente murmurava em conexão com seu pai. Se ele tivesse prestado atenção a elas, talvez Locke tivesse uma atitude diferente em relação ao amor, talvez ele não fosse agora casado com Portia ou pingasse óleo perfumado em seu peito, observando-o se acumular no oco entre seus seios. Colocando o frasco de lado, ele espalmou os dedos, juntou um pouco do óleo em seus polegares e começou a espalhá-lo sobre a pele, até a clavícula, até os quadris. Ele não deveria se preocupar com o fato de que Ashe e Edward sabiam o menor dos detalhes sobre suas esposas, enquanto ele não sabia quase nada sobre a sua. Ele sabia o que importava. Ela não era avessa a trabalhar. Ela não considerava ser superior a ninguém. Ela era uma excelente anfitriã, gentil com seu pai, e preocupada com as minas não por causa do que o fracasso poderia negar a ela, mas pelo que poderia negar à propriedade. Estendendo a mão, ela passou os dedos pelo cabelo dele, segurando a palma da mão na parte de trás da cabeça dele e puxandoo para baixo até que os lábios dele encontraram os dela. Ela nunca só recebeu apenas. Ele deveria saber que ela não iria fazer isso hoje à 191


noite, não importa o quão exausta ela alegasse estar. Ele a levou devagar, gentilmente. Sem pressa, sem necessidade de bolhas, sem fúria. Quando a paixão aumentou e ela estava na beira, ele cobriu a boca, engoliu seus gritos, saboreava seu corpo apertando em torno dele, desencadeando sensações que ameaçavam despedaçálo, mesmo quando o faziam se sentir mais poderoso, invencível. Arfando, ainda tremendo no rescaldo da explosiva liberação, ele rolou para o lado, puxou-a para perto, sacudiu os lençóis sobre os dois. Ela estava certa. O passado não importava, mas amaldiçoado se ele não desejasse que a conhecesse quando ela era uma menina então agora ele saberia tudo sobre ela.

Capítulo 18 Como

eles tinham convidados, aparentemente Portia havia instruído a sra. Dorset a preparar uma variedade de ofertas de café da manhã para serem colocadas no aparador para que todos pudessem pegar o que quisessem. Locke não poderia culpar a variedade, achandoa bastante agradável para não ser sobrecarregada com a oferta banhada do cozinheiro baseada em seu humor. Todo mundo estava aqui, incluindo seu pai; todos exceto Portia. Sua ausência o surpreendeu, porque ele esperava que ela fosse a primeira à mesa para garantir que tudo correspondesse às expectativas e cumprimentasse seus convidados. Por outro lado, ele não foi capaz de resistir a tê-la novamente esta manhã antes de se preparar para o dia. Depois de ajudá-lo a se vestir, ela voltou para a cama como sempre fazia "por mais alguns minutos". Ele sem dúvida a esgotara. Como marido, ele era um idiota. Não que ela parecesse se importar. — Quanto tempo vocês estão ficando? — Ele perguntou agora, tentando não pensar nas minas e como ele estava ansioso para voltar para elas. — Só até amanhã, — disse Ashe. — Queríamos receber sua esposa na família, mas não podemos ficar por muito tempo. Você virá a Londres para a temporada? — Eu estou considerando isso. — Ele realmente pensarou em assistir bailes, tendo a oportunidade de dançar com Portia, caminhar 192


com ela em seu braço. Ele queria que as pessoas vissem que ela era mais que graça e beleza. Ele queria que eles vissem tudo o que ela era capaz de realizar. Ele queria que eles a vissem como anfitriã, a dama da mansão. Ele estava realmente considerando pedir a ela para organizar um baile em sua residência em Londres? Como seu pai nunca havia voltado a Londres depois da morte de sua esposa, a residência na cidade nunca havia sido abandonada embora nem estivesse realmente viva. Portia mudaria isso. Ela passava pelos corredores e pelos quartos, iluminando-os com sua presença sozinha. Ela iria... Cullie entrou na sala em um ritmo bastante rápido, mas então a menina tendeu a se mover rapidamente, não importando o que ela estivesse fazendo, uma característica que ela sem dúvida adotou de sua senhora. Uma vez chegando a ele, ela se abaixou. — Sua senhoria não está se sentindo bem esta manhã — ela disse baixinho, mas sua voz ainda parecia continuar quando todos se animaram. — Ela não vai se juntar a você no café da manhã. Ela queria que você soubesse, para que você pudesse continuar com o seu dia e não estar esperando por ela. Ele estava de pé antes mesmo de perceber que havia jogado o guardanapo. Portia nunca ficou doente - ou assim ela alegou, muito presunçosamente para não ser verdade. Então, o que o diabo estava errado com ela e por que seu coração estava martelando e seu estômago se agitando como se ele fosse o único doente? Ela estava bem esta manhã. Ela o ajudou a abotoar sua roupa e amarrou o lenço no pescoço como fazia todos os dias. Que ela queria voltar para a cama por alguns minutos não era motivo para alarme. — Vamos cuidar dela — ofereceu Minerva quando ela e Julia afastaram as cadeiras e se levantaram. Ashe, Edward e seu pai foram rápidos em seguir. — Ela não vai querer interromper o café da manhã de vocês, — ele insistiu. — Se é o que eu acho que é - a condição de uma dama -, eu duvido que ela queira que você vá para lá também. Condição de uma dama? O significado daquelas palavras bateu nele. Claro. Sua menstruação. Ele não tinha pensado no fato de que eles estavam juntos há quase um mês e ele era capaz de apreciá-la todas as noites. Minerva estava correta. Evitar esse aspecto do casamento era atraente, pois ele não considerava que o casamento significava estar com uma mulher durante o tempo dela. — Tudo bem. Sim. Eu apreciaria que você a visse. 193


— Muito bom. — Minerva deu sua atenção para Cullie. — Traga um pouco de chá com mel e algumas bolachas para o quarto de dormir da Senhora Portia. As senhoras desapareceram retomaram a suas cadeiras.

pela

porta.

Os

cavalheiros

— Você pareceu um pouco doente por um momento, — Edward disse. — Ela nunca fica doente, então eu estava preocupado. — Você está começando a se preocupar com ela, — disse seu pai, seu sorriso quase um regozijo. — Não seja ridículo. Ela serve a um propósito, nada mais. — Ele pegou o café, notou os dedos tremendo e voltou a mão para o colo. Sua reação não teve nada a ver com qualquer sentimento caloroso que pudesse ter em relação a ela, mas apenas o momento inconveniente da situação. Ainda assim, quando os outros começaram a falar, ele não conseguia parar de olhar para o arco e desejando que ele tivesse sido o único a ir até ela.

— Por que você não contou a ele o que realmente suspeita? — perguntou Julia enquanto subiam as escadas. — Porque não é coisa minha para dizer a ele, mas com base em sua pergunta, eu estou supondo que você pensa a mesma coisa. — Minerva tinha suspeitado desde o momento em que ela foi apresentada a Portia. Uma das razões pelas quais ela era tão habilidosa em trapacear era que ela era muito boa em ler pessoas e situações. Portia tinha um brilho nela que não tinha nada a ver com felicidade conjugal. Quando chegaram à última porta, ela bateu rapidamente na madeira, esperou até que Portia mandou que entrassem, depois girou a maçaneta. Entraram para encontrar a anfitriã enrolada em posição fetal, o rosto pálido, os olhos sem brilho. — Oh, pensei que você fosse Cullie, — disse ela, empurrando-se para cima. — Não se levante, — disse Minerva, correndo e pressionando-a para baixo. — Nós só queríamos verificar você, não incomodá-la. Sua empregada disse que você não está se sentindo bem. — Quando estou me mexendo, fico um pouco enjoada. Eu pensei que descansar por um tempo poderia ajudar. Minerva sorriu para Julia, que assentiu. 194


— Minha indisposição é motivo de sorrir, — Portia disse um pouco irritada. — Estamos sorrindo porque você está exibindo sinais de estar com uma criança, — Minerva disse a ela. Portia sacudiu a cabeça. — É muito cedo. Julia se moveu em volta da cama, sentou-se no colchão e pegou a mão de Portia. — Quando foi sua última menstruação? Minerva nunca conhecera ninguém que parecesse tão relutante em responder a uma pergunta quanto Portia, mas algumas senhoras ficavam envergonhadas com as necessidades e funções de seus corpos. Ela própria nunca foi particularmente uma pessoa tímida, mas entendia que o fato de os curiosos não serem particularmente bem-vindos, apesar de suas boas intenções. — Não consigo me lembrar. — Portia piscou várias vezes, apertou os lábios, como se estivesse se esforçando para resolver uma resposta difícil em um teste. — Algum tempo antes de eu chegar aqui. — E você está casada há um mês — disse Julia suavemente. — Eu diria que há uma boa chance de você estar grávida, não é mesmo, Minerva? — Eu diria, que sim. — Ela também sentou na beira da cama e apertou a mão de Portia. A nova viscondessa parecia positivamente assustada, como se tivesse sido pega fazendo algo que não deveria. — Mas a náusea... não é cedo demais? — Eu tinha quase dois meses quando comecei a me sentir mal, mas acho que todas as mulheres são diferentes, — disse Julia. — E você, Minerva? — Eu concordo, somos todos diferentes. Julia riu. — Não, quero dizer, quando você sentiu náusea? — Quase desde o começo. Você já teve algum outro sinal, Portia? — Eu tenho me cansado ultimamente, mas eu pensei que era porque eu estava trabalhando duro para preparar as coisas. — Aí está, — disse Minerva. — Eu diria que Marsden vai pegar o neto que ele deseja.

Ele esperou o máximo que pôde. Quando as damas não voltaram imediatamente para informá-lo de que tudo estava bem, ele subiu as 195


escadas e entrou no quarto sem se incomodar em bater. Que Minerva e Julia estavam sentadas em ambos os lados de Portia, segurando as mãos dela, causaram medo frio para lavá-lo. Enquanto ele nunca testemunhou uma cena no leito de morte, o que ele viu foi exatamente como ele imaginava que seria. As bochechas de Portia não estavam rosadas. Seus olhos não se iluminaram com desafio quando ele chegou. Seu pai gostava imensamente de Portia. Ele não sabia se seu pai sobreviveria a perdê-la se ela sucumbisse a uma doença e se tornasse outra mulher que tivesse morrido muito jovem dentro dessa residência. — Vou mandar chamar um médico, — ele falou agitado, odiandose por agora parecer ser incapaz de raciocinar direito. — Eu não acho que seja necessário, — disse Minerva, levantandose, sorrindo suavemente. O sorriso não o acalmou. — O que há de errado com ela então? — Nós vamos deixá-la dizer a você. Quando Minerva e Julia saíram, ele tentou se consolar com o fato de nenhuma delas parecer particularmente preocupada. No entanto, ele parecia incapaz de fazer seu coração parar seu trovão dentro de seu peito. Quando ele começou a caminhar em direção à cama, sua esposa se levantou. Ele acelerou o passo, chegando até ela a tempo de ajudar a afofar os travesseiros atrás das costas. Endireitando-se, ele ficou rigidamente diante dela. — Então, que doença lhe acometeu? Seus lábios se curvaram levemente. — Não tenho certeza se estou doente. Em vez disso, pode haver uma chance de eu estar grávida. Se ele não tivesse apoiado nas pernas, firmando os joelhos, poderia ter tropeçado para trás. Em vez disso, ele apenas olhou para ela, imaginando por que de repente não havia ar leve em seus pulmões. Ele não queria que uma criança atrapalhasse seu tempo com ela, não queria considerar que, como sua mãe, ela poderia morrer no parto. O pai levara três anos para levar a sua marquesa grávida. Locke de repente percebeu que ele queria pelo menos tanto tempo com Portia. Mais até. — Tão cedo? Ela recuou, baixou o olhar para o colo e puxou um fio no edredom. — Eu pensei a mesma coisa, mas tem sido apontado para isso – você mesmo chegou a pensar nisso – que isso poderia ter acontecido desde a primeira vez que nos reunimos. — Ela ergueu os olhos para ele. — Eu admiti ser fértil, afinal. A acidez em seu tom colocou seu mundo de volta. Ela não era sua mãe. E ela já sobreviveu a trazer uma criança ao mundo. Ele encostouse no poste ao pé da cama, cruzou os braços sobre o peito, desejando 196


que os malditos tremores que passavam através dele cessassem. — Então você realmente é fértil. Mas ainda assim ele não achava que ela seria fértil. Ela inclinou o queixo. — Espero que seu pai fique mais feliz com isso do que você parece estar. — Ele ficará. — Ele fez uma careta. — Não é que eu não esteja feliz; é só mais cedo do que eu esperava. — O que é muito estúpido da sua parte, considerando quantas vezes você derramou sua semente em mim. Ele não pôde deixar de sorrir. Ele não gostava de vê-la tão vulnerável, mas ela estava voltando para si mesma e, ao fazê-lo, a tensão no peito dele diminuiu. Ele sem dúvida estava se preocupando por nada. — Não me lembro de suas objeções. — Arrogante... — De repente, ela empalideceu, jogou as cobertas, saiu da cama e correu feito louca pela sala. Alarmado, ele se afastou da cama. — Portia? Ela parou no lavabo e inclinou a cabeça sobre a tigela. Cautelosamente, ele se aproximou, bem ciente de que ela não se movia, mas respirava em breves suspiros. — Portia? Balançando a cabeça, ela levantou a mão. Ele colocou sua mão nas costas dela e começou a movê-la em círculos lentos. — Relaxe. Vai ficar tudo bem. — Meu estômago... continua cambaleando, mas nada vem. — É assim que você sabe que está grávida? — Isso e eu não tive minha menstruação. Ele estava bem ciente desse fato, já que ele era capaz de ter o seu caminho com ela todas as noites. Droga. Sua semente provavelmente se enraizou pela primeira vez. Ela fechou os dedos em um punho; sua respiração ficou mais fácil. — Sinto muito que você não esteja bem, — ele murmurou. — Isso não é nada comparado com o que está por vir. Ele não queria contemplar o que ela iria suportar para trazer seu filho para o mundo, o risco que ela estava tomando para dar a ele um herdeiro de sangue. Ele preferiu ter mantido as calças abotoadas. — Foi muito doloroso trazer seu primeiro filho ao mundo? 197


Sob os dedos, ele sentiu ela endureceu. — Tudo o que uma mulher sofre vale a pena para ter um filho. Ele duvidava que sua mãe concordasse. Uma batida soou na porta. — O quê é? — Ele gritou, não dando as boas-vindas à intrusão. A porta se abriu e Cullie entrou. — Trouxe o chá e as bolachas. A duquesa acha que isso vai ajudar a acalmar o estômago de Milady. — Certo. Coloque a bandeja na mesa ao lado da cama. Com um rápido bater de saltos sobre a madeira, Cullie atravessou a sala, largou a bandeja e saiu precipitadamente. — Ela sempre se move tão rapidamente? — Locke perguntou. — Eu acho que seu tom brusco a enerva. — Eu estava apenas tentando evitar que alguém perturbasse você. Com um suspiro profundo, ela se endireitou. — Eu acho que você conseguiu isso. Vou dar uma chance ao chá. Ela voltou para a cama, subiu e pegou a xícara de porcelana da bandeja. Ele voltou para sua posição encostado na cabeceira da cama e viu quando ela soprou levemente o chá. Seu corpo reagiu como se ela estivesse soprando levemente sobre ele. Em um momento como este, ele era um mulherengo absoluto. — Quanto tempo você vai se sentir ruim assim? — Perguntou ele. — Difícil dizer. A náusea não deve durar muito mais tempo, eu não deveria pensar. Eu já estou me sentindo melhor. Pode voltar amanhã e qualquer número de dias depois disso. Eu suponho que é o meu corpo se ajustando para carregar uma vida. Cristo. Vida. Uma vida que eles criaram juntos. Mesmo sabendo que todo o propósito por trás desse arranjo ridículo tinha sido fornecer o próximo herdeiro, Locke nunca tinha verdadeiramente contemplado a responsabilidade disso. — Você não parece muito feliz com a perspectiva de um filho, — disse ela calmamente antes de beber seu chá, seus olhos fixos nele. — Parece ridículo dizer isso, mas eu não esperava que acontecesse logo. Não estou infeliz com isso. Ela piscou coquete. — Bem, isso me faz sentir melhor. — Portia. — O que ele poderia dizer? Ele não esperava que sua 198


semente fosse tão competente; embora, para ser honesto, ele nunca tivesse testado sua própria fertilidade. Antes dela, ele sempre se embainhou quando estava com uma mulher. — Eu estou... Encantado com a perspectiva de um herdeiro... — Poderia ser uma menina. Ele ficou surpreso com o quanto a possibilidade de uma filha o agradou. Uma com o cabelo vermelho vibrante de Portia e os olhos de uísque. Alguém que viveria sua vida como solteirona porque ele não deixaria um homem chegar a menos de um metro dela. — Eu gostaria muito disso. Seus olhos procurando os seu rosto, ela abaixou sua xícara. — Você gostaria? — Eu iria gostar muito. — Ele limpou a garganta, procurando uma maneira de tranquilizá-la de que ele não estava insatisfeito com os acontecimentos. — Eu ficaria igualmente satisfeito com um menino. Enquanto a criança estiver saudável e você... — Sobreviva. Ele pensou. E percebeu que a preocupação sobre ela estava socando qualquer tipo de alegria que ele deveria sentir neste momento. — ...e você não ache a experiência uma grande provação. — Você está pensando em sua mãe, — ela disse ternamente. Por que ela parecia conhecê-lo melhor do que ele a conhecia? — Sou forte e saudável. — Mas suas palavras não ofereciam nenhuma garantia porque, até onde ele sabia, sua mãe também era forte e saudável. — Eu não vou morrer. Empurrando-se para longe do poste, ele subiu, inclinou-se sobre ela e passou os lábios sobre os dela. — Eu vou te cobrar essa promessa. Então ele saiu antes de dizer algo sentimental do qual se arrependesse. Ele não estava abrindo seu coração para a mulher. Ele apenas desejou que ele não estivesse cheio de um pressentimento que ameaçava remover qualquer raio de sol de sua vida.

A reação do marquês foi exatamente o tipo que qualquer mulher desejaria. Ele estava em êxtase. Portia tinha certeza de que, se ele tivesse suas roupas feitas sob medidas, como as do seu filho, seus botões estourariam no colete quando Locksley anunciou na sala de música naquela noite após o jantar que ela estava grávida. Ela ficou surpresa de que todos tivessem se comportado como se ficassem sabendo da notícia naquele momento, mas Portia supôs que eles queriam que fosse um momento maravilhoso para Marsden. 199


— Bravo! — exclamou ele, erguendo o copo de uísque. — Eu sabia que não levaria muito tempo, minha querida. Ela tinha percebido as mudanças já há algum tempo, sem energia nas tardes, seu estômago se sentindo um pouco enjoado pela manhã, mas ela manteve tudo para si mesma porque parecia muito cedo para anunciar que um bebê estava a caminho. Mesmo agora, ela não estava muito confortável com isso, mas Minerva e Julia forçaram sua mão. Ela ficou muito surpresa com a reação de Locksley. A morte de sua mãe obviamente o afetara mais do que ela imaginara, sem dúvida mais do que se pensava. Sentira a preocupação dele naquela manhã, quando soube de sua condição e atenuara qualquer empolgação que sentisse pela possibilidade de adquirir seu herdeiro. Embora ela realmente quisesse que essa criança fosse uma menina. Uma menininha doce a quem ela podia cuidar com o amor e a afeição que lhe haviam sido negados. — Teremos nosso herdeiro aqui antes que o ano acabe — disse Marsden, sorrindo largamente. — Pode ser uma menina, — ela disse a ele. — Talvez. — Ele bateu dois dedos em seu peito. — Mas aqui, eu sei que é um menino. — Independentemente do que seja, pai, você receberá a criança, — disse Locksley. — Naturalmente. — Ele deu-lhe uma piscadela secreta, como se ele não tivesse dúvidas de que ela estava carregando um menino. — Devo tocar alguma coisa no piano? — Perguntou ela, na esperança de afastar a discussão de sua gravidez. — Você deveria descansar esta noite, — disse Locksley. — Não é como se eu estivesse incapacitada. Eu me sinto perfeitamente bem agora. E eu não estou planejando apenas sentar por aí... bem, no entanto, restam muitos meses. Sua testa franziu. — Oito eu deveria pensar. — Às vezes os bebês chegam cedo. Eu fiz. Várias semanas antes, na verdade. Todos os meus irmãos vieram cedo. — Assim como Locke, — disse Marsden. Seu marido voltou sua atenção para seu pai. — Eu fiz? Marsden assentiu, estudando o uísque que restava em seu copo, como se desejasse não ter falado. — Duas semanas eu acho. Ou talvez 200


o médico calculou mal. Não é como se fosse uma ciência exata. Só podemos adivinhar quando a concepção realmente aconteceu. — Falando de médicos, vamos querer trazer um novo para a aldeia, — disse Locksley. — Mas Dr. Findley sempre esteve aqui. — Ele estava aqui quando eu nasci, não foi? — Sim. — Então nós queremos um diferente. Uma riqueza de tristeza em seus olhos, Marsden estudou seu filho. — Ele não poderia ter salvado sua mãe. Locksley se levantou da cadeira e caminhou direto para a mesa de decantadores. Se ela não o conhecesse melhor, pensaria que ele estava agitado, preocupado com sua saúde. — Ele vai dizer isso, não é? Ou talvez a gente vá a Londres quando o tempo de Portia se aproximar. Ela não queria estar perto de Londres. — O bebê deveria nascer aqui, na propriedade. — Ela está certa, — disse Marsden. — Nós vamos encontrar um novo médico. Locksley encheu o copo e voltou para a cadeira, mal aparecendo satisfeito. — Bom. Vou colocar um anúncio no Times. — Anuncie seu casamento também quando você fizer nisso. O estômago de Portia atou a esse comando, mas ela dificilmente poderia objetar sem levantar suspeitas. Além disso, realisticamente, o casamento dela com Locksley não poderia permanecer em segredo para sempre. Melhor apenas fazê-lo e esperar o melhor. — Eu sei que há precedentes para sua preocupação, — Edward disse baixinho, — mas tanto Julia quanto Minerva tiveram bebês e sobreviveram. — E os médicos sabem muito mais agora, não sabem? — Julia acrescentou. — Eu diria que a medicina tem melhorado muito. — Sem mencionar que Portia deu à luz antes sem efeitos negativos, — disse o marquês. Os olhos de seus convidados pousaram nela com um baque quase audível. — Você teve um filho? — Minerva perguntou, tristeza e pesar claramente refletida em sua voz. 201


— Ele morreu. — Ela balançou a cabeça. — Minha condição atual deve ser motivo de celebração e alegria, não de melancolia. Eu acredito que vou tocar. Antes que alguém pudesse se opor, levantou-se, caminhou rapidamente até o piano, sentou-se e tocou um acorde duro e profundo. Movendo-se para uma melodia mais leve e ritmada, ela permitiu que a música passasse por ela, acalmando seus nervos. Ela não pensaria que ela poderia não viver para ver essa criança crescer. O conde estava certo. Mulheres sobreviviam o tempo todo. Ela não ia passar os próximos meses preocupada. Tudo ficaria bem. Tinha que ficar. Depois de tudo o que ela fez, tinha que ficar bem.

Com o primeiro sussurro da aurora atravessando as janelas, Locke observou sua esposa dormir. Normalmente, ele teria lentamente acordado ela com beijos no ombro exposto e gentis cutucadas, mas ele não conseguia atrapalhar seu sono esta manhã. Não quando isso poderia acelerar o seu estômago. Ontem à noite ele a levou três vezes antes de ela adormecer satisfeita. Enquanto ele passava a maior parte do tempo olhando para a escuridão, ouvindo sua respiração rítmica, inalando sua fragrância de jasmim. Ele estava guardando as lembranças mais insignificantes como se ela fosse arrancada dele. Era ridículo que ele se preocupasse tanto quando outros assuntos o pressionassem: garantir que seu herdeiro herdasse uma propriedade digna com uma renda que o sustentasse. Em um único dia, tudo havia mudado; tudo parecia mais urgente. Ele precisava passar mais tempo nas minas, precisava que os homens trabalhassem com mais perseverança. Era mais imperativo do que nunca que eles encontrassem uma veia rica em minério em breve. Ele dobraria seus esforços, prolongaria as horas que eles trabalhavam. Mas mesmo quando ele contemplou mais horas, tempo gasto longe de Portia, algo dentro dele se rebelou. Ele queria mais horas, mais dias, mais meses com ela. Por que sua semente tem que ser tão malditamente potente? Os olhos dela se abriram. Seus lábios se curvaram em um sorriso suave. — Perdeu o interesse em mim agora que estou grávida? Ele amava sua voz logo de manhã, quando estava rouca de sono, rouca de desuso. Acrescentou um elemento sensual a seus gritos de prazer que sempre fizeram com que seu corpo se apertasse ainda mais. — A noite passada deveria ter te convencido do contrário. — Por que você não me acordou então? 202


Seu olhar desceu até o estômago dela, e ele se perguntou quando começaria a mexer, quando ele olharia para ela e veria a evidência de seu filho crescendo dentro dela. — Depois de ontem eu não tinha certeza se você estaria disposta a isso. Ela passou os dedos pelos cabelos dele, chamando a atenção dele de volta para os olhos. — A náusea não me atinge até mais tarde. — Ainda assim, não temos muito tempo com nossos convidados saindo em breve. Eu provavelmente deveria... Ela se sentou, o lençol escorregando até a cintura, deixando aqueles lindos seios expostos. Empurrando em seu ombro, ela o forçou de volta ao colchão antes de passar uma perna por cima dele e ocupar seus quadris. Inclinando-se, mordiscou seus lábios. — Não sou frágil. O apetite da mulher era tão insaciável quanto o dele. Ele nunca conhecera alguém como ela. Nem ele poderia resistir a ela. Três horas depois, depois de um bom descanso e de um desjejum descontraído, estava parado no caminho entre Portia e seu pai, observando as carruagens que transportavam seus amigos de infância e suas famílias desaparecerem pela alameda. — É bom vê-los indo tão bem, — disse o pai. — Eles estão felizes. Isso é o que mais importa. E eles têm seus herdeiros. — Ele deu um tapinha no ombro de Locke. — Você também vai ter o seu, em breve. Ele começou a se afastar, não na direção da mansão, mas na direção aonde a marquesa fora enterrada. Locke tinha pouca dúvida de que ele iria passar algum tempo conversando com a lápide de sua mãe. — Ele ficará desapontado se for uma menina, — disse Portia calmamente. — Eu duvido, — ele assegurou a ela. — Você não viu a atenção que ele deu Allie? Ela olhou para ele. — Você vai ficar desapontado? Contanto que ela não morresse, ele ficaria satisfeito. — Por que eu ficaria desapontado quando isso significa que nós teríamos que tentar ainda mais? Ela sorriu quando um rubor subiu por suas bochechas. — Você vai para as minas? — Como você está se sentindo? Ela pareceu surpresa com a pergunta dele. Ele notou durante o café da manhã que ela simplesmente mordiscou uma torrada e tomou 203


um gole de chá. — O mal-estar vai e vem, embora eu ache que vou me deitar por um tempo. — Eu posso ficar... — Não. Não há sentido nisso quando não há nada que você possa fazer. Eu não estou doente, Locksley. Tudo isso vai passar. Ele estava dividido entre desejar que sua gravidez passasse rapidamente e que levasse uma eternidade. A distração das minas seria bem-vinda, ocuparia seus pensamentos e afastaria todos os piores cenários que lutavam para se intrometer em sua paz de espírito.

Capítulo 19 Maio chegou com o tempo mais quente do que o habitual. Portia não suportava a ideia de limpar os quartos quando podia aproveitar o sol que aquecia seu rosto. Ajoelhando-se, inalando profundamente, ela sentiu satisfação com a fragrância da terra recém-virada. Exceto por um breve descanso para o almoço, ela passou o dia trabalhando para trazer o jardim de volta à vida. Na próxima vez que eles tivessem convidados, ela queria convidá-los para tomar chá no terraço. Então, mais cedo naquela manhã, uma vez que Locksley partiu para as minas, ela foi para a aldeia, visitou aqueles que tinham lindas flores desabrochando, e pediu algumas mudas de suas plantas favoritas. Ela nunca tinha sido beneficiada por tanta generosidade de estranhos, e ela tinha ficado se sentindo como se fosse aceita pelos aldeões, como se ela realmente pertencesse a este lugar. Então, quando ela voltou para Havisham, ela colocou os empregados para trabalhar. Os lacaios e os garotos do estábulo estavam fazendo grandes progressos nas invasões e no crescimento excessivo. As empregadas estavam puxando a vegetação indesejada. O marquês, louvado seja, estava revirando o solo com uma pá, criando um caminho estreito que se alinhava no terraço. Ela estava seguindo atrás dele, de joelhos, usando uma espátula para preparar um lugar para cada muda e semente, cuidadosamente colocando-a em sua nova casa, e gentilmente preenchendo o buraco. Ela esperava que eles sobrevivessem. — Como você sabe sobre jardinagem? — Marsden perguntou, 204


fazendo uma pausa de suas tarefas e descansando um cotovelo na pá. — Minha mãe. A única vez em que ela pareceu verdadeiramente feliz foi quando estava no jardim. Às vezes ela me deixava ajudar quando ela estava plantando ou podando. — Minha Linnie amava flores. Embora ela usasse um chapéu de palha de abas largas para sombrear seu rosto, ela levantou a mão para proteger os olhos do sol enquanto olhava para ele. — Baseado no que você me contou dela, não estou surpresa. Eu imagino que esses jardins eram lindos. Ele se agachou ao lado dela. — Eles eram. Eu não deveria ter deixado eles ficarem nesse estado. Ela ficará feliz em ver que você está trazendo de volta. Mas devemos contratar um jardineiro. Esta área é enorme. Não podemos deixar que você faça todo o trabalho, e esses criados vão reclamar se você os mantiver ocupados por muito tempo. — Talvez uma vez que as plantas estejam florescendo, contrataremos alguém. — Não precisa esperar. Não é como se não pudéssemos pagar. Ela não tinha certeza se as palavras dele eram verdadeiras. Fazia algumas semanas que ela soubera a verdade, já que observava Locksley voltar à noite e notou a depressão abatida de seus ombros. Seu banho sempre parecia refrescá-lo, e nunca houve qualquer evidência de sua preocupação quando ele se juntava a ela a noite. Ele assegurou- lhe que eles não eram mendigos, mas ela suspeitava que eles se encontrariam em um ponto de incômodo, se eles não assistissem seus gastos. — Eu vou discutir isso com Locksley, — disse ela, na esperança de afastar Marsden do tema de suas finanças. — Eu gosto que vocês dois conversem sobre as coisas. Linnie e eu decidíamos tudo juntos. Ela era minha parceira em todos os sentidos. Ela iria... Sinos começaram a tocar. — Cristo, — Marsden murmurou, ficando de pé com uma velocidade que surpreendeu Portia. — O que é isso? — Ela perguntou. As empregadas levantaram as saias e começaram a fugir da mansão na direção em que Locksley ia todas as manhãs. Os lacaios, ainda segurando suas pás, seguiram em seus calcanhares. Trepidação cortou Portia e ela se levantou. — O que é isso? — John, apronte uma carruagem! — Marsden gritou para 205


o cocheiro. Portia agarrou o braço do marquês e perguntou de novo, com mais força: — O que é isso? O que aconteceu? — Houve um acidente nas minas.

Cavalgando na carruagem com o marquês nas rédeas, Portia chegou às minas para descobrir seu pior medo: Locksley foi um dos que ficaram presos quando um teto desabou. O marquês tinha investido na luta - na mina - para ajudar, o que a aterrorizava, embora ela entendesse sua necessidade de estar a serviço. Ela podia fazer pouco mais do que oferecer água aos trabalhadores que periodicamente emergiam para descansar um pouco enquanto outros, refrescados, ocupavam o lugar deles. Andava de um lado para o outro com as outras mulheres, torcia as mãos, e sempre que pensamentos horríveis sobre o pior resultado possível pairavam no fundo de sua mente, ela os espantavam fervorosamente. Locksley viajou pelo mundo, sem dúvida esteve em situações muito mais perigosas e saiu ileso. Ele sobreviveria a isso. — Não se preocupe, Milady, — disse Cullie, ao lado dela. — Os trabalhadores ainda não estariam no túnel se não houvesse esperança. — Poderia entrar em colapso ainda mais, levando todos eles. — Sim, mas não devemos pensar assim, e nunca vi você olhar o lado sombrio das coisas. Devo entrar e ver se consigo determinar que tipos de progresso foi feito? Ela balançou a cabeça. — Não há necessidade de colocar mais pessoas em risco. Além disso, aqueles que saem certamente compartilharão notícias se houver notícias para compartilhar. — Eles são muito impassíveis, não querendo levantar ou traçar esperanças, então eles mantêm seus pensamentos para si mesmos. Mas se eu fosse para provocá-los... — Não, deixe que eles se concentrem em suas tarefas. — Essa espera me deixa louca, embora. Portia soltou uma risadinha. — Eu também. — Você não deveria estar aqui, senhora, não em sua condição. — Eu não estou fazendo nada além de ficar por perto. Na residência, eu apenas ficaria andando e faria um buraco no carpete. — 206


E se preocupando ainda mais. Ela não sabia por que sentia que estar ali de alguma forma alteraria o resultado. Talvez essa tenha sido a razão pela qual Locksley trabalhasse nas minas. Era muito mais fácil estar presente e envolvido do que simplesmente esperar à distância por uma palavra de sucesso. Uma comoção na boca do túnel chamou sua atenção. Um grupo de homens, coberto de sujeira e fuligem, mal reconhecível, cambaleou para fora. No entanto, ela reconheceu um deles pela largura de seus ombros, o modo como ele se firmava. Ele poderia estar cavando terra com os outros, mas cada poro de seu corpo gritava nascimento nobre. Antes de pensar nisso, estava correndo para ele. Ele se virou e aqueles olhos verdes pousaram nela. Então ele sorriu, seu sorriso branco e brilhante naquele rosto coberto de terra. Ele estendeu os braços e ela saltou para ele. Ele a pegou e girou em torno dela. — Você está vivo! Você está seguro, — ela chorou. — Encontramos mais minério, Portia. Mais estanho. — Então sua boca estava na dela, faminta e gananciosa, apaixonada e tão cheia de vida. Ele cheirava a terra, rico e escuro. Quando ele se afastou, ela passou as mãos pelo cabelo dele, observando a sujeira espalhada pelo vento. — Eu pensei que houve um acidente. — Houve, mas encontramos a veia pouco antes do colapso. Nós sabemos que está lá agora. Saberemos para onde ir depois disso. — Isso não é perigoso? — Nós vamos reforçá-lo melhor. — Então ele estava beijando-a novamente.

Locke afundou na água quente. Preso dentro da mina, cercado pela escuridão, os pensamentos em Portia forneceram uma luz para sua alma enquanto ele encorajava os outros cinco homens enterrados com ele a trabalhar para se desenterrarem. Ele nunca pensou em não encontrar a liberdade, nunca considerou a morte como uma via de escape, porque isso o teria mantido longe dela. Quando ele saiu da mina e a viu correndo na direção dele, a alegria que o atravessara fora perturbadora. Ela estava começando a significar muito para ele, e ainda assim ele não conseguia afastar as emoções, não importando quão perigosas ou arriscadas fossem a sua sanidade. Agora ouvindo a porta se abrir, ele olhou por cima do ombro. Ele não deveria ser tão grato pela chegada de Portia, mas maldição se ele 207


não estivesse. — Eu pensei que você precisaria de uma bebida, — disse ela quando ela entregou-lhe um copo cheio de líquido âmbar. — Na verdade eu preciso. — Ele engoliu uma boa parte dela, congratulou-se com a queimação em seu peito. Ajoelhando-se ao lado dele, ela pegou um pano, mergulhou-o na água, esfregou sabão sobre ele. — Você vai me lavar? — Ele perguntou. Ela deu-lhe um sorriso atrevido. — Eu pensei que poderia laválo. Você estava com medo? — Aterrorizado. Seus olhos se arregalaram, e tudo o que ele queria era beber dentro. — Você estava mesmo? — Ela perguntou. Suspirando, ele não estava certo de como explicar isso. — Eu não estava com medo. Para ser honesto, fiquei mais desapontado comigo mesmo porque percebi que, se não conseguisse, estaria deixando uma grande lacuna. — Eu teria ficado com tanto medo. — Não, você não teria. — Ele arrastou o dedo ao redor do rosto dela. — Você teria encorajado os outros, levando-os a cavar com você. — Você me dá muito crédito. — Ela começou a limpar o pano sobre o peito. — Eu quero levá-la para Londres. Sua mão parou, perto de seu coração, e ele se perguntou se ela podia ouvi-lo batendo. — Por quê? — Para introduzir você na sociedade. — Isso não é necessário. — Você é minha esposa. Com certeza você entendeu que iríamos a Londres para a temporada. — Você não foi em anos. — A razão pela qual precisamos ir. Para nos restabelecermos, especialmente agora que uma criança está a caminho. Ela começou a esfregar seus ombros, seu pescoço. — Será que não podemos esperar até o próximo ano? 208


A maioria das mulheres adorava Londres e a temporada. Ele não entendia sua relutância. — O que há de errado com este ano? — Eu não conheço toda a etiqueta. Eu preciso aprender isso. — Tenho certeza que você sabe o suficiente para sobreviver. — A visita de seus amigos lhe mostraram isso. — Você tem muito mais fé em mim do que eu mesma. Ele tinha uma quantidade exagerada de confiança em sua capacidade de lidar com a camada superior. — Eu quero te mostrar, — ele admitiu. Inclinando-se, ele beijou o canto da boca dela. — Agora, tire suas roupas e junte-se a mim na banheira.

Capítulo 20 Um mês depois, quando a carruagem entrou em Londres, Portia lutou para manter sua apreensão escondida. Respirações longas, lentas e profundas tinham sido a ordem da jornada. Bem como um mantra se comandando para relaxar. Era altamente improvável que ela cruzasse com Montie, que ele descobrisse que ela havia retornado. E se ele soubesse, era possível que ele não se importasse depois de todos esses meses. Ele sem dúvida se esqueceu dela, arrumou outra pessoa. Ele nunca fora dispensável e gostava demais da companhia de uma mulher. Para não ficar sem o seu prazer, ele teria substituído Portia com rapidez suficiente. Ela estava quase certa desse fato, já que não tinha mais nenhuma ilusão sobre o que ela significava para ele: nada particularmente especial. Na verdade, Locksley a fazia se sentir mais valorizada do que Montie jamais a fizera se sentir. — Onde você morava? Com a pergunta inesperada perturbando o silêncio, ela voltou sua atenção para o marido, que se sentou em frente a ela. Eles tinham falado muito pouco durante a jornada, o que lhe convinha, já que ela usara seu tempo para se preparar mentalmente para o que a esperava aqui na cidade. — Perdão? — Quando você estava em Londres, onde você morava? 209


— Eu nunca disse que morava em Londres. — Mas você viajou de Londres. Ela tinha esquecido o quão protegida ela estava com ele quando eles se conheceram, pesando cada palavra, temendo que ela desse muito. Parecia errado agora voltar a velhos hábitos. — Sim. Mas eu não morava em Londres. Eu morava em uma casa nos arredores. O contrato acabou logo antes de eu me mudar para Havisham. — Você gostaria que nós passássemos por lá? — Eu não tenho nenhum desejo de visitar memórias antigas. — Arriscar-se a ser avistado por qualquer um que pudesse reconhecê-la. — Você não guardou nada da residência? — Nada. — Nada tinha sido dela para manter. — É tudo passado, Locksley, que é onde eu prefiro que permaneça. Não se deve ganhar nada sobre a situação ou minha tolice em levar um marido que não cuidaria de meu bem-estar no caso de sua morte. Ele suspirou, olhou pela janela. — Depois de todo esse tempo, Portia, acho que você deveria me chamar de Locke. — Isso implicaria uma intimidade que não compartilhamos. Seu olhar veio para ela. — Eu coloquei uma criança em sua barriga. Um casal não fica muito mais íntimo do que isso. Ela cruzou as mãos sobre a barriga, que estava arredondando. O novo médico que se mudou para a aldeia especulou, com base em seu tamanho, que gêmeos eram uma possibilidade. — Podemos ser fisicamente íntimos, mas não somos emocionalmente assim. Acho que podemos concordar com isso. Chamá-lo de Locke a faria se sentir mais perto dele, e ela estava se esforçando para proteger seu coração. — As pessoas vão achar estranho, — disse ele. — Quando você já se importou com o que as pessoas pensam? Ele sorriu. — Isso é algo que você lê em suas folhas de fofoca? Ela sorriu para ele. — Estou bastante certa de que li isso. Será que vamos ver muitas pessoas? — Eu suspeito que sim. Uma vez que a informações de que estamos na cidade se espalhar, certamente receberemos todos os tipos de convites. As pessoas ficarão ansiosas para conhecer minha esposa. Eles seriam convidados. Todos tinham uma curiosidade perversa 210


em relação aos Sedutores, e o fato de Locksley não ter ido a Londres há um bom tempo deixou as pessoas ainda mais curiosas sobre ele. — Eles vão nos perguntar como nos conhecemos. O que vamos dizer? — Que meu pai organizou a introdução e eu não pude resistir a me casar com você. Ela riu. — Esperto. Não é bem mentira. — Nem uma mentira. Você me tentou no momento em que abri a porta. Ele a atraiu também. Quando as lojas de Londres passaram pela janela, ela pensou que realmente deveria ter ido atrás da carruagem de correspondência. Ela não voltaria a Londres se tivesse. Marsden nunca a teria trazido aqui. Ela teria permanecido segura em Havisham. — E como eu poderia resistir aos encantos de seus atributos? — Ele perguntou. Com que rapidez os meses se passaram desde aquele dia. Se ela soubesse o quanto viria a se importar com ele, nunca teria se casado. Enquanto seu estômago apertava cada vez que ela pensava em estar em Londres, ela também queria deixá-lo orgulhoso, feliz por tê-la ao seu lado. Ela rezou para que ele não descobrisse nada sobre seu passado nesse período que estivessem na cidade, pois caso ele soubesse com certeza a desprezaria com cada fibra do seu ser. Saber a verdade o destruiria e a frágil ligação entre eles. Isso iria devastá-la também porque ela fez o impensável. Ela o amava.

Enquanto a carruagem atravessava os portões e seguia pela entrada que dava na frente de uma grande residência, Portia percebeu que já havia passado por aquela mansão quando esteve em Londres pela primeira vez. Ela fez um tour pelas áreas mais agradáveis porque esperava estar morando em uma delas logo que chegasse à cidade. Que menina boba ela tinha sido. E que estranho seus sonhos tivessem acontecido, mas não da maneira ou no tempo em que ela esperava. O gramado estava bem cuidado; flores coloridas margeavam o caminho pedregoso ladeado por altos elmos. A mansão em si era alta e larga, sem as torres altas e pontiagudas que caracterizavam Havisham. — Parece bem preservada, — disse ela. — Mais do que Havisham. Eu não costumo abrir todos os quartos quando estou aqui, mas eles não foram deixados para cair em desuso. Você verá que a equipe é pequena, apenas funcionários suficientes para cuidar das necessidades mínimas, esteja eu ausente ou aqui. Você 211


pode, claro, contratar pessoal adicional. — Vamos nos contentar com uma pequena equipe. — Portia... Ela deu-lhe um olhar aguçado, interrompendo-o. — Uma pequena equipe se adapta bem. Eu não vejo a necessidade de abrir tudo se não vamos nos divertir. — Nós podemos entreter. Seu estômago parecia ter caído no chão, mas foi apenas a carruagem que parou. — Que tipo de entretenimento? — Nós decidiremos sobre isso mais tarde, mas pelo bem do bebê, precisamos garantir que você seja aceita por toda Londres. Seu mundo não parecia parar de girar. — Parece um pouco cedo para se preocupar com o que devemos fazer pelo bem do bebê. — A ironia de suas palavras não lhe escapou, como era algo que ela sempre se preocupava, desde que ela percebeu que estava grávida... — Nunca é cedo demais para colocar o melhor à frente. Ele estava certo, claro. Ela empurrou os pensamentos opressores que a estavam bombardeando de lado. Ela conquistou seus amigos. O que eram mais algumas centenas? A porta se abriu e um lacaio que ela não reconheceu ofereceu-lhe a mão, enquanto dizia a Locksley: — Bem-vindo ao lar, meu senhor. Ele a ajudou a descer da carruagem. Locksley desembarcou, e estendeu o braço para ela. Ela fechou os dedos em torno dele, agradecida por saber que estaria confiando na segurança qe ele lhe transmitia nos dias e noites à frente. Ah, ela deveria ter pensado mais no fato de que o casamento com um homem mais jovem significaria retornar a Londres e fazer parte da Sociedade. — Em algum momento você será apresentada à rainha, — ele disse casualmente. Ela parou, seu estômago revirando, como não fazia há semanas. — Por quê? Ele a estudou como se ela tivesse aberto asas e estivesse prestes a levantar voo. — Porque você é uma viscondessa. — Eu sou um plebeia. — Por nascimento, mas pelo casamento agora você é uma dama. Minha dama. 212


Por quanto tempo? Por quanto tempo ela seria sua dama se tudo se desenrolasse? Ela havia se casado com ele por causa da proteção que ele lhe proporcionaria. Ele não tinha que oferecer isso sozinho. Ela apenas precisava usar a ameaça dele para garantir que nenhum dano acontecesse com ela. Ele estava certo. Ela era uma dama agora. Ela não podia ser tratada como se não merecesse nada. E se ela causasse uma impressão favorável na rainha - bem, esse tipo de aliança poderia realmente servir muito bem a ela. Com um aceno superficial, ela disse: — Vou precisar de um novo vestido. Ele sorriu, um sorriso largo satisfeito que ele sempre concedia a ela sempre que ele pensava que ele ganhava o seu caminho, o que a fazia às vezes disposta a ceder simplesmente para ver isso aparecer. — Substitua o azul enquanto você estiver fazendo isso. Era uma frivolidade, e ainda assim ela não conseguia se opor quando considerava o prazer que isso lhe traria. Simplesmente por tal pedido, realmente. Houve momentos em que ela ficou espantada por poder agradar-lhe tão facilmente. Ele a conduziu até os degraus e através de uma entrada principal onde outro lacaio segurava a porta aberta. Entrar nessa residência não era nada como entrar em Havisham. Cheirava a rosas e lírios, enquanto um sortimento era organizado em vários vasos ao longo da grande entrada. Em ambos os lados, havia salas, portas abertas, cortinas afastadas, de modo que a luz do sol pudesse se espalhar pelas janelas. Ela duvidava que encontrasse uma única teia de aranha ou aranha no lugar. Mais à frente, largas escadas subiam para o próximo nível. Um homem imponente se aproximou e inclinou a cabeça. — Bemvindo em casa, meu senhor. Locksley colocou a mão sobre a dela, onde descansou em seu braço. — Lady Locksley, permita-me apresentar-lhe Burns. — É um prazer, — disse ela. — O prazer é todo nosso, minha senhora. Eu juntei o pessoal. Enquanto ela caminhava ao longo da fila de criados, cada um cumprimentou-a com uma reverência ou uma inclinação de cabeça e uma recepção reverente. Ninguém aqui iria desafiá-la se ela quisesse as chaves. Assim que ela terminou de passar pelo último criado - a empregada da copa - os lacaios entraram carregando seus baús. Cullie, que seguia-os, arregalava os olhos enquanto ela observava o ambiente. Depois que Portia a apresentou a Burns, que ordenou que outra criada mostrasse a Cullie os dormitórios para que ela pudesse desempacotar 213


os baús, Locksley levou Portia para uma visita à residência. Os cômodos que não estavam em uso estavam envoltos em branco, mas não carregavam o cheiro de desuso ou pó de mofo. Com muito pouco esforço, apenas arrancando os lençóis, eles estariam prontos para os hóspedes. Quando chegaram à biblioteca, ela não ficou nem um pouco surpresa ao encontrar a mobília descoberta, flores frescas em um aparador perto da janela e livros enchendo as prateleiras. Tampouco ficou espantada quando o marido se separou dela e caminhou até uma mesa que abrigava uma variedade de decantadores de cristal. Enquanto ele se servia de uísque, ela foi até uma janela que dava para um lindo jardim. — Você acha que o jardineiro iria me deixar levar algumas mudas de volta para Havisham? — O jardineiro vai deixar você fazer o que quiser. — Locksley pressionou o ombro no parapeito da janela, olhou para fora, tomou um gole de seu uísque. — O que você acha do lugar? — Não é muito pobre. Ele riu baixo, seus olhos brilhando quando encontraram os dela. — Eu não ficaria surpreso em descobrir que você tinha descoberto antes de responder ao anúncio do meu pai. Teria sido a coisa mais sensata a se fazer, mas ela não se importava com quaisquer propriedades de Londres. Ela estava apenas preocupada em se afastar da cidade o mais rápida e secretamente possível. Ainda assim, suas suspeitas causaram um peso em seu peito. Depois de todo esse tempo, por que ele ainda achava que ela estava atrás da sua riqueza, do poder, e do prestígio? Será que ele já enxergava o caráter dela como realmente era? Embora com seu passado não houvesse nada para se gabar. — Para ser sincera, fiquei com a impressão de que seu pai nunca veio a Londres, então presumi que não havia residência. Ele ergueu o copo para que o sol pudesse brilhar através dele. — Muito bem. Ele não esteve em Londres desde que minha mãe morreu. — Esta é a sua residência então? — Não, é dele. Eu vou herdar, é claro, mas como ele nunca veio para cá, nunca houve um decreto que nada fosse tocado. Ela olhou para a lareira. — O relógio não está correndo, mas a hora não combina com a de Havisham. — Meu pai não os parou. Eu fiz isso. Eles me deixaram louco na 214


primeira noite em que fiquei aqui. — Então você parou — ela estreitou os olhos, concentrando-se nas mãos — às duas e quinze. De manhã, presumo. — Correndo por todo o maldito lugar como um louco, gritando para os servos se levantarem e pararem o tique-taque infernal. Jurei que podia ouvir o tique-taque em cantos distantes da residência, embora meu eu racional sabia que não podia ser o caso. — Uma vez que você se acostumar com o som, você realmente não percebe isso. Eu ouço a ausência de relógios mais do que a sua presença. O que suponho não faz sentido também. — Talvez com você aqui, eu não vou notar tanto o eco. — Ele voltou sua atenção para o jardim, engoliu mais scotch. Ele poderia viver aqui com os belos jardins e fragrâncias frescas, quartos preparados em um piscar de olhos. Em vez disso, ele optou por viver na sombria Havisham, porque seu pai e as minas precisavam dele. — Você gosta de Londres? — Ela perguntou. — Eu nunca cheguei a conhecê-la muito bem. Eu não fico muito tempo. Comparado com Havisham, é barulhenta e cheia de gente. Ela sorriu. — É isso. Eu sempre gostei da multidão e da agitação. — No entanto, você tomou a decisão de se casar com um homem que iria mantê-lo longe disso. — Eu descobri que outros aspectos da cidade não eram do meu gosto. — Ela realmente queria que eles não tivessem vindo para a cidade, que ele não a tivesse encarado diretamente, não tivesse começado a lentamente passar os olhos por ela como se ele procurasse as facetas defeituosas de sua existência. Seus olhos se estreitaram. — Você estava fugindo de algo. — Pobreza, — ela respondeu, girando em direção ao centro da sala. — Eu provavelmente deveria verificar Cullie, certifique-se — Foi mais do que isso, — disse ele em voz baixa. — Você é linda demais, muito inteligente, engenhosa o suficiente para ter convencido qualquer homem com meios a se casar com você, se você se dedicasse a isso. Você poderia ter ficado em Londres. — Tudo isso exigia trabalho e esforço. Responder ao anúncio do seu pai foi a solução mais simples. — Você não é uma pessoa para tomar o caminho mais simples. Também suspeito que não houve nada fácil em decidir casar-se com 215


um homem idoso que, segundo rumores, era louco. Ela se virou de novo. Ela deveria negar isso ou, melhor ainda, pressionar seu corpo contra o dele e distraí-lo dessa linha de raciocínio. Mas ela estava tão cansada de constantemente levantar a guarda. — Nem todas as minhas memórias daqui são agradáveis. Mesmo agora, estou lutando, para manter minhas razões para partir. Ele deixou de lado o copo, aproximou-se dela e segurou seu rosto entre as mãos fortes. Mãos que empunhavam picareta e pá. Mãos que acariciavam para comandar prazer. — Por que você partiu, Portia? Por que você veio para Havisham? Ela deveria contar a ele agora, não arriscar sua descoberta através de alguma palavra acidental ou descuidada. No entanto, ela chegou tão longe, trabalhou tão duro para colocar tudo atrás dela. — Nós concordamos em deixar o passado para trás. — Não acho que tenha sido o poder, o dinheiro ou o prestígio. Eu vi você em suas mãos e joelhos, limpando. Você não se importa com presentes ou roupas. Você não ostenta sua posição. Você fala com as pessoas como se fossem seus iguais. Todas as coisas que você ganhou ao se casar com um lorde, você não abraçou. Então, por que se casar com um lorde? — Segurança. Eu te falei isso. — Por que casar com um idoso? — Foi conveniente. Honestamente, Locksley, não sei por que estamos discutindo isso. — Eu quero entender você, Portia. — Não há nada para entender. — Ela considerou se afastar, recuando, mas ele a segurou com tanta insistência, não só com as mãos, como também com os olhos. — Quando me casei com você, eu me preocupei em conhecê-la apenas na cama. Agora, para minha grande consternação, quero saber tudo sobre você. Não, você não vai querer. Na verdade não. Finalmente, ele soltou seu abraço, e virou se. Ela fechou os punhos para se impedir de segurá-lo, se desculpando, implorando que ele a perdoasse. — Eu pensei em ir ao clube hoje à noite, — disse ele, empoleirado no canto da mesa. — Mas esse não é exatamente o lugar onde quero apresentar minha esposa à sociedade. 216


Se ele estava pensando em levá-la com ele, então ele estava se referindo ao Twin Dragons, um clube exclusivo para homens e mulheres. Ela nunca esteve lá dentro, embora tenha visto uma vez do lado de fora. Montie nunca a tinha levado a algum de seus lugares, mas ela sabia que ele frequentava aquele estabelecimento. Ela não tinha vontade de se encontrar com ele lá. — Concordo que um antro de jogos de azar não causará a melhor impressão. Você deveria ir sem mim. — Deixar você sozinha em nossa primeira noite em Londres dificilmente parece cavalheiresco. — Para ser sincera, estou bastante cansada da viagem e estava pensando em me recolher cedo. — Avançando, ela arrastou as mãos até o peito, sobre os ombros. — Talvez você esteja disposto a me despir antes de ir. Sorrindo, ele a puxou para perto. — Terei prazer em fazer isso, mas você sabe que eu não vou parar por aí. Ela apertou maliciosa em seu queixo. — Estou contando com isso.

Locke sempre gostou de passar o tempo no Twin Dragons, especialmente depois que o dono, Drake Darling, abriu o local para as mulheres. O estabelecimento oferecia jogos de azar, um salão de festas, uma sala de jantar, uma sala de reunião para todos os membros e uma variedade de áreas destinadas apenas a homens ou a mulheres. Então, alguém poderia se misturar com o sexo mais justo se fosse de espírito ou procurasse uma companhia menos excitante. Ele optou pela companhia menos empolgante. Mais do que isso, ele optou por uma atividade menos excitante: sentar-se na sala dos cavalheiros e beber uísque. Ele poderia ter feito o mesmo em sua biblioteca. Ele participara de um jogo de cartas, mas logo se cansara da tarefa. Geralmente ele adorava usar suas habilidades contra os talentos dos outros, mas ele encontrou-se constantemente desejando que Portia estivesse sentada ao lado dele. Com sua habilidade de não demonstrar nada dela, ele suspeitava que ela sairia com uma boa parte dos ganhos. Era o fato de que ela era tão boa em não se revelar que o fez saber que algo estava errado em Londres. Ele sentiu a tensão começar a irradiar dela enquanto se aproximavam da cidade. Tinha sido tão natural que ele não teria ficado surpreso se ela de repente pulasse da carruagem e começasse a correr de volta para Havisham. Londres a deixou ansiosa. Porque o marido dela morreu aqui? Porque ele quebrou o coração dela? Ele não podia deixar de acreditar que havia mais do que isso. A mulher que corajosamente tinha ido a 217


Havisham, não abandonara o casamento quando lhe ofereciam um cônjuge alternativo, não era de se deixar perturbar e, no entanto... — Noite, Locksley. Locke olhou para o homem esguio que havia interrompido suas reflexões. Ele sempre achou ele muito bonito e encantador para seu próprio bem. As mulheres tendiam a se reunir em torno dele. — Beaumont. — Se importa se eu me juntar a você? O conde de Beaumont, apenas alguns anos mais velho e alguns centímetros mais baixo que Locke, herdara seu título alguns meses antes de alcançar sua maioridade. Seus caminhos se cruzavam de vez em quando, principalmente aqui nos dragões. Eles eram mais conhecidos do que amigos, mas ele poderia oferecer uma conversa interessante que impediria Locke de voltar para casa umas meras duas horas depois de sair. Ele não queria que Portia pensasse que ele não suportaria ficar longe dela. — De modo nenhum. Enquanto acenava com dois dedos para um lacaio que passava, Beaumont jogou-se numa cadeira em frente a Locke. Ele ainda tinha um ar de menino, como se tivesse conseguido um elixir que o impedisse de envelhecer. — Eu entendo que parabéns pelo seu casamento estão em ordem, — disse ele a Locke quando um lacaio colocou um copo de uísque na mesa. Os lacaios memorizavam a preferência de bebida dos membros. Beaumont levantou o copo. — Eu desejo-lhe o melhor. Locke levantou seu próprio copo. — Obrigado. — O gole não satisfez tanto quanto poderia se Portia estivesse aqui com ele. Ele parecia gostar mais de tudo quando ela estava por perto. — Estou tentando lembrar o nome dela. Vi no jornal... Peony? — Portia. — Nome incomum. — Ela é uma mulher incomum. — Estou ansioso para conhecê-la. — Ele olhou em volta como se pudesse espiá-la em uma sala reservada apenas para cavalheiros. — Você trouxe ela aqui hoje à noite? — Não, ela está na residência descansando. A jornada a cansou. — Eu posso muito bem imaginar. Bastante longa uma jornada de Havisham. — Embora ninguém, além de Ashe e Edward, visitou Havisham, a maioria estava familiarizada com isso, se não por outra razão, além de espalhar as histórias de que era assombrada. — Como 218


você a conheceu? — Através do meu pai. Os olhos castanhos de Beaumont se arregalaram. — Fiquei com a impressão de que ele nunca saiu da propriedade. — Viver como um recluso não significa que alguém esteja isolado do mundo. Ele tem seus caminhos. Ele riu baixinho. — Sem dúvida. Meu pai sempre falava com carinho dele, lamentava que ele tivesse parado de vir a Londres ou de visitar nossa propriedade para o baile anual que minha mãe adorava oferecer. Locke compareceu a algumas dos bailes. Os assuntos da condessa de Beaumont eram lendários. Embora, com o seu falecimento, as festas rurais tenham cessado. Tudo mudou com a morte da matriarca. Como solteiro, Beaumont certamente não iria organizar festas em sua propriedade ou aqui em Londres. — E você Beaumont? Você deveria estar pensando em se casar em breve, eu imagino. — Querido Deus, ele poderia soar mais estabelecido e velho? Ele se sentia antigo. Onde uma vez ele abraçou o jogo, bebendo e procurando mulheres, no momento ele não queria nada além de estar em casa sentado diante de um fogo preguiçoso, ouvindo como Portia o cativava com histórias de seu dia. Não importava o quão mundanas ou desinteressantes fossem suas aventuras, ele ainda sentia prazer nelas, na maneira como seus olhos se iluminavam quando ela relatava o progresso feito na preparação de um cômodo. — Estou de olho em duas senhoras, com certeza. Provavelmente escolherei uma delas antes que a temporada termine, seguir em frente, por assim dizer. Como você, eu preciso de um herdeiro. Escolher uma delas? Soava atroz e terrivelmente injusto para com a garota. Mas, não tinha Locke pensado a mesma coisa quando ele decidiu tomar Portia como sua esposa? Ele a considerou perfeita, decidido por ela, porque ele achava que nunca poderia amá-la. Cristo, ela merecia melhor que isso. Ele ficou de pé. — Vai a algum lugar? — Perguntou Beaumont. — Eu devo pedir desculpas pela minha partida abrupta, mas há um assunto que requer a minha atenção. Não importa, mas uma dama, que parecia estar chegando perigosamente perto de segurar a chave de seu coração - não importava o quanto ele desejasse que fosse de outra forma. 219


Enquanto Locksley a deixara saciada, Portia não conseguira pegar no sono depois que ele saiu. Ela chamara Cullie e se vestira para o jantar, embora não gostasse muito de jantar sozinha. Agora se sentindo um pouco como um fantasma, ela vagou pelos corredores, esforçandose para ter uma noção melhor do lugar. A diferença entre essa residência e Havisham Hall era impressionante. Nem uma única porta estava trancada. Ela não precisava de chaves para entrar em qualquer cômodo. Todos eles, mesmo os que não estavam em uso, tinham flores. Mas eles não tinha o que ela estava realmente procurando: companhia. Ela sentia falta de Locksley, droga. Algo sobre a noite a tornava ainda mais solitária e desolada, fez com que ela perguntasse se deveria estar aqui - não tanto em Londres, mas com ele. Enquanto morava em Londres, ela nutria tantos sonhos de amor. Depois que ela partiu, ela pensou que tinha desistido deles, mas eles estavam trabalhando duro para aparecer. O amor de seu filho seria suficiente para sustentá-la, ou pelo menos era o que ela esperava, porque estava se sentindo ansiosa pelo amor de um homem. Ela caminhou até seu quarto de dormir - dela e dela sozinha. Não gostava que Locksley estivesse no quarto ao lado dela, mesmo que apenas uma porta os separasse. Como ela foi tola naquele primeiro dia de se sentir desamparada porque ela não teria um quarto próprio. Ela duvidava que fosse capaz de dormir sem seus braços ao redor dela. Talvez ela simplesmente tenha que ler até que ela o ouvisse retornar e então escorregar para a cama dele e seduzi-lo. Ela chamou Cullie, grata por sair das suas roupas apertadas. Ela teria que deixar de usar espartilho muito em breve, provavelmente deveria visitar uma costureira enquanto eles estivessem na cidade para adquirir alguns vestidos mais adequados. Parecia que todas as suas formas estavam mudando. Até seus sapatos estavam começando a ficar apertados. — Haverá qualquer outra coisa, Milady? — Cullie perguntou uma vez que ela terminou de escovar e trançar o cabelo de Portia. — Não. Eu te vejo pela manhã. — É emocionante estar em Londres. Portia não compartilhava seu entusiasmo. Ela queria estar em outro lugar. — Depois que você me ajudar a se vestir de manhã, você pode tirar o dia de folga, vá explorar. — Verdadeiramente? 220


— Eu vou te dar algum dinheiro do seu senhorio. Cullie sorriu brilhantemente. — Obrigado, minha senhora. — Peça a um dos lacaios que o acompanhe. Existem alguns elementos ruins nesta cidade. Você vai querer evitá-los. — Sim, eu vou. — Ela fez uma rápida reverência. — Boa noite, minha senhora. Com um sorriso, Portia sacudiu a cabeça e foi até a janela. Ela não sabia se alguma vez convenceria as mais novas servas de Havisham que não precisavam fazer uma reverência para ela o tempo todo. Olhando para fora, ela podia ver a neblina caindo, as lâmpadas da rua brilhando sinistramente através da névoa. Segurando-se, ela esfregou as mãos para cima e para baixo nos braços, tentando se livrar de uma sensação de mau presságio. Quando ela começou a se afastar, avistou uma carruagem se aproximando da entrada. Seu marido saltou antes que parasse completamente. Alarme correu por ela. Algo estava errado, ela tinha certeza disso. Ele tinha de alguma forma descoberto a verdade? Ou a notícia de algo terrível veio de Havisham? Ela correu para o corredor, estava a meio caminho das escadas, quando ele apareceu de repente no patamar. — O que está errado? O que aconteceu? — Ela perguntou. Seus longos passos engoliram a distância entre eles. — Eu descobri que não gosto de ir a lugares sem você. A alegria de suas palavras a atingiu exatamente quando ele a envolveu em seus braços. Rindo, ela apertou seu braços em seu pescoço. — Foi tão solitário aqui sem você. — Solitário. — Ele a levou para o quarto, colocou-a ao lado da cama. — Antes de você, eu nem sabia o que a palavra significava. — Certamente havia outros no clube para lhe fazer companhia. — Pessoas chatas que falam de novos métodos agrícolas, o flagelo das novas riquezas, seu fascínio pelas herdeiras americanas e torneios de tênis em Wimbledon. — Eu nunca joguei tênis. Ele estava beijando seu pescoço enquanto afrouxava os botões de sua camisola. — Eu vou te ensinar, mas por enquanto, eu tenho outro esporte em mente, um no qual você se destaca. Calor correu por seu corpo em seu elogio. Ela sabia que eles 221


estavam bem combinados entre os lençóis, mas ela gostava de ter a confirmação de que ela o agradava. O algodão macio escorregou ao longo de sua pele, se acumulando no chão. Ele atacou suas próprias roupas como se fossem um inimigo a ser vencido. Ela afastou as mãos dele de lado. — Nós vamos ter que contratar um Valete apenas para manter sua roupa. Passo metade do meu dia costurando seus botões de volta. — Dê a tarefa a uma das empregadas. — Eu gosto de fazer isso. — Quando ele estava longe nas minas, isso a fazia se sentir mais perto dele. Ela tinha feito o que ela prometeu a si mesma que nunca mais faria: ela tinha se apaixonado por alguém, por ele, mesmo sabendo que ele tinha o poder de destruí-la. Quando suas roupas foram deixadas em uma pilha desordenada, ele a levantou sobre a cama e se juntou a ela, pairando sobre ela, olhando-a, segurando seu olhar como se a visse pela primeira vez. Abaixando-se até os cotovelos, ele roçou os dedos sobre as bochechas dela, então ele reivindicou sua boca como se fosse o dono dela.

Ela era dele. Ele quase disse em voz alta as palavras que reverberavam em sua alma. Ela pertencia a ele da mesma maneira que as nuvens pertenciam ao céu e as folhas as árvores e minério a terra, cada parcela, um pedaço do todo. Ele não era de poesia, mas para ela desejava ter a habilidade de escrever sonetos. Ele desejou tê-la conhecido em um baile, cortejado ela corretamente com flores, passeios e caminhadas no parque. Mas os gestos românticos eram tão estranhos para ele quanto o amor. Ele nunca quis envolvimentos emocionais, mas ele não podia negar que ela tinha a capacidade de amarrá-lo em nós. Deslizando a boca da dela, ele roçou os lábios ao longo do queixo dela, saboreando seu gemido suave. Ela era tão rápida para se excitar. Ele amava isso nela. Desde o começo ela nunca jogou duro para entrar no quarto de dormir. Ela o acolheu, respondeu, devolveu. Era possível amar coisas sobre uma pessoa sem amar a pessoa? Tantas coisas sobre ela lhe davam prazer. O jeito que ela ria. O jeito que seus olhos ardiam quando ele a beijava. O jeito que ela cheirava depois que ela saía do banho. A fragrância que ela carregava depois que ele dava prazer a ela. Colocando as mãos em cada lado de suas costelas, ele deslizou para baixo até que ele poderia facilmente levar o bico de seu seio na 222


boca. Com um gemido urgente, ela levantou os quadris, pressionando sua feminilidade contra seu abdômen. Ele nunca tinha sido um para se gabar de suas façanhas ou para classificar seus encontros com mulheres. Ele aceitava que cada um seria diferente, não melhor ou pior, simplesmente diferente, e ele sempre achava prazer nas diferenças. Ele poderia ter uma vida inteira de cama e nunca ficar entediado. Mas esta noite ele não queria se deitar com ela; ele queria fazer amor com ela. Ele queria beijar cada centímetro dela, acariciar cada linha e curva, saborear cada aspecto dela. Ele queria seu perfume, aquecido com paixão, enchendo seus pulmões. Ele queria que ela chorasse enchendo seus ouvidos. Ele queria começar de novo, explorando-a como se ela fosse uma descoberta nova. Arrastando sua língua da ponta de um seio ao outro, ele estava ciente de suas coxas pressionando contra seus quadris como se temesse que ela voasse para longe se não estivesse segura. — Você é tão bonita, — ele murmurou, se abaixando, plantando beijos leves ao longo de cada uma de suas costelas. — Você me faz sentir bonita. Ele queria dar a ela tantos presentes: o dom do toque, o presente do prazer, o presente de um orgasmo estonteante. Ele a queria desmoronando em seus braços, queria abraçá-la depois que ela voltasse. Para ela, ele desejava ser romântico, desejando conhecer a arte de cortejar. Mas ele nunca planejou cortejar nenhuma mulher, sempre planejou ser prático sobre a escolha de uma esposa. Naquele primeiro dia ele foi prático sobre ela. Ele tinha visto uma mulher a quem ele nunca poderia amar. Só agora ele percebeu que não tinha visto nada. Ele estava cego.

Algo estava decididamente diferente hoje à noite. Ela não estava certa exatamente o que era. A necessidade era mais intensa, mais profunda. Ele beijou e lambeu o caminho até os dedos dos pés, tão devagar, tão provocativamente, quase como se estivesse adorando-a, como se ela fosse uma deusa que merecesse sua adoração. Ele se moveu de volta, demorando-se em sua coxa, provocando-a com uma promessa de que ele não iria parar por aí, que ele não tinha intenção de parar até que ela estivesse se contorcendo e implorando. — Não me atormente 223


Ele a lambeu, beliscou-a. — Eu gosto de quão rouca sua voz fica quando você está à beira do prazer. — Do que mais você gosta? Sua boca ficou em sua coxa, mas ele levantou seu olhar ardente para ela. Ela não sabia se ele já parecia mais perigoso ou mais atraente. — Eu gosto do jeito que você saboreia. Então ele estava provando... O ponto de mel entre suas coxas, e ela não estava mais à beira do prazer, mas caíra em seu vórtice, arqueando as costas, segurando os lençóis, sentindo como se todas as terminações nervosas tivessem se tornado vivas. Ele a fazia sentir coisas que ela nunca sentiu antes, experimentar sensações que apenas pairaram, nunca haviam sido completamente realizadas. Ele a levou a níveis que ela não sabia que existiam; ele a fez voar. Seus gritos ecoaram ao redor dela quando ela levantou voo. Ela ainda estava subindo quando ele mergulhou nela profundamente e com firmeza. Envolvendo suas pernas ao redor dele, ela raspou as unhas ao longo de suas nádegas, saboreando seu rosnado quando ele arqueou as costas e bombeou para dentro dela, mais rápido, mais duro... Seu profundo gemido, seu corpo estremecedor lhe disse que ele também estava subindo. Ela não pôde evitar. Ela riu, uma rápida explosão de alegria pura e não adulterada. Sua risada de resposta foi mais baixa, mais baixa, quando ele pressionou a testa na dela. — Não deixe isso subir à sua cabeça, mas eu nunca gostei de estar tanto com uma mulher. — É um pecado o quanto eu gosto do que fazemos. — Não seja ridículo. Somos casados, o que torna tudo legal no céu e na terra. — Mas nós fazemos coisas tão más. — Mmm. Tudo do melhor. Rolando fora dela, ele a trouxe contra o seu lado e lentamente arrastou os dedos ao longo de seu braço. Com a cabeça aninhada no canto do ombro, ela saboreou a batida de seu coração, imaginando se era possível que ele pudesse destrancá-lo um pouquinho.

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Capítulo 21 Portia deveria ter dado uma desculpa para que pudesse ter evitado ir a Londres, mas a verdade era que, mais cedo ou mais tarde, ela teria que voltar e confrontar seus demônios. Quanto mais cedo melhor, o passado tinha que ficar para atrás. Ela mandou o cocheiro levá-la a uma costureira – a que atendia às damas da nobreza em um dos estabelecimentos mais elegantes, segundo as folhas da fofoca - e lhe disse que voltasse para buscá-la em quatro horas. Uma vez que ela estava de posse de um vestido de baile lilás e outro vestido azul, ela saiu e contratou um cabriolé para levá-la para os arredores de Londres. Ela lamentou que o vestido azul não parecesse exatamente como o anterior, mas o que ela descreveu para a costureira não parecia muito certo quando ela terminou de desenhá-lo. Ainda assim, Portia não podia se arriscar a ir para Lola, a mulher que ela usou antes, não podia arriscar alguém reconhecendo-a, espalhando a notícia de que ela estava aqui, e a verdade de seu passado vindo à tona. Os clientes de Lola não incluíam nobres damas, mas aquelas para quem costurava roupas mantinham uma boa companhia de homens aristocráticos. O que levava a pergunta: O que diabos Portia estava fazendo andando lentamente pelo seu antigo bairro, passando por sua residência anterior? Ela não podia se demorar, não podia ficar na esquina e observar, na esperança de ver se tinha um novo morador agora. Mas ela pensou que, se passasse, poderia determinar se havia outro morador lá, Montie teria seguido em frente. Se ele a tivesse substituído, era bem possível que mesmo que ele a visse, ele não se importaria. Ele a ignoraria. Seu orgulho iria forçá-lo a agir assim. Ele tinha muito orgulho. Tanto quanto o pai dela. Ela pensou que todos os homens fossem iguais, até Locksley. Seria muito mais fácil se ela não tivesse vindo a gostar dele. Enquanto ela sabia que tinha sido errado casar com ele, - ele tinha sido tão desagradável quando eles se conheceram - que ela se convenceu de que ele merecia o que ele tinha: uma mulher do pecado que uma vez pertenceu a outro. Mas agora... Deus querido, ela venderia sua alma a Satanás e alegremente passaria a eternidade queimando no inferno pela chance de voltar no tempo, de ter dobrado o contrato quando ele o jogou de volta em seu colo, e ter saído da residência, fora de sua vida. Ela nunca esperou que 225


ele quisesse aparecer em público - em Londres, entre seus pares - com ela ao seu lado. Ela estupidamente pensou que ele a relegaria para o quarto como Montie tinha feito. Que ele a manteria presa em Havisham Hall. Que ela seria seu pequeno segredo sujo. Quando se aproximou do sobrado onde vivera por dois anos, as lembranças a assaltaram. A alegria, felicidade, tristeza, desgosto. Ela cresceu aqui nas mãos de um homem muito mais brutal que seu pai. Seu pai machucara sua carne. Montie seu coração jovem e vulnerável. Ela pensou que ficaria para sempre quebrada, mas de alguma forma se reestruturou e caiu mais uma vez. Uma porta se abriu, no sobrado ao lado do que fora dela. Portia congelou, nem mesmo se atrevendo a respirar, enquanto observava a jovem saindo. Sophie. Portia não sabia o sobrenome dela. Nesta parte de Londres, nessa rua em particular, as mulheres não possuíam seus sobrenomes. Portia se virou antes que pudesse ser vista e começou a caminhar na outra direção. Essa ação a envergonhou. Ela já desfrutou de chá com Sophie em numerosas ocasiões. Elas fingiam ser damas respeitáveis tomando chá da tarde delicadamente enquanto conversavam sobre coisas picantes que as damas respeitáveis nunca discutiam. Por meio de Sophie - que tinha a reputação de ser incrivelmente conhecedora das intimidades dos homens - Portia aprendera as habilidades necessárias para agradar a um homem, para agir com cautela, para manter seu interesse. Embora, em retrospecto, tivesse que admitir que aprendera muito mais com Locksley, ansiava por agradá-lo mais do que jamais desejara agradar a Montie. Foi um caminho estranho, esse que ela seguiu para chegar onde ela estava hoje. Sophie tinha sido fundamental para ajudá-la a escapar, fazê-la entender a realidade das coisas. E aqui estava ela, secretamente, desprezando aquela pessoa por medo de que ela fosse novamente julgada, que a única pessoa em quem ela confiava pudesse traí-la. Ela era mais forte que isso, melhor que isso. De repente, ela se virou. Mas Sophie não estava mais a vista. Ela odiava o alívio que a inundava. Ela estava segura, seu segredo estava seguro. Por enquanto. Ela queria esperar aqui e ver se alguém emergia de sua antiga residência, mas sua curiosidade, sua possível paz de espírito, não valia a pena. Além disso, se possivelmente Montie tivesse mudado de amante não garante que ele a deixaria em paz. Tudo o que ela podia fazer era esperar que seus planos não estivessem à beira de serem desvendados. ****** 226


— Eu gosto do seu novo vestido azul. Puxando as luvas em sua penteadeira, Portia olhou para o marido em pé na porta de comunicação entre seus quartos. Vestido com elegância com roupa da noite que incluía um casaco de cauda e colete pretos, uma camisa branca imaculada e uma gravata cinza-claro, ele era sem dúvida o homem mais bonito em quem já havia visto. — Não é igual ao anterior, — disse ela, perguntando-se como que depois de todos esses meses ele ainda conseguia tirar-lhe o fôlego. — Perto o suficiente. Uma pena que sua costureira anterior tenha fechado a loja. Uma pequena mentira que ela contou para explicar por que ela estava indo para uma costureira diferente. — Eu gosto da modista nova que eu encontrei. — Bom. — Seu passo foi lento, preguiçoso, quando ele se aproximou. — Também é uma pena que você use luvas. — É um baile apropriado. Uma dama respeitável usa luvas adequadas para um baile apropriado. — Como se para demonstrar, ela deu um puxão suave no final de cada luva onde repousava logo acima do cotovelo. Eles estavam em Londres há pouco mais de uma semana, não participando de nenhuma função social, porque ele não considerou nenhum deles grande o suficiente para a apresentação de sua esposa. Mas o baile organizado pelo duque e a duquesa Lovingdon de hoje à noite - era o momento certo, por serem um dos mais queridos casais em toda a Londres. Graças às folhas de fofocas, Portia sabia tudo sobre eles. O baile seria uma loucura, com muitas pessoas. Embora ela pudesse ser apresentada a todos que eram importantes, também era possível que ela conseguisse evitar encontrar alguém que não desejasse encontrar. Ela se levantou. — Deixe-me só pegar meu xale. Ela estava no processo de dar um passo e virar quando ele colocou a mão em seu ombro exposto. — Espere. Ele ainda tinha que colocar as luvas, e o calor de sua pele na dela a fez derreter um pouco. Como ela iria passar a noite sem revelar o quanto ela o queria quando ele a tocava? — Nós realmente precisamos sair? — ela perguntou, oferecendo seu olhar mais sensual e colocando uma mão enluvada para que descansasse parcialmente em seu colete, parcialmente em sua camisa. — Apresentar você à sociedade foi uma das razões pelas quais viemos a Londres. 227


— Eu pensei que você veio porque tinha assuntos para resolver. — Foi isso, e um desses assuntos envolve esta noite. Tenho me esquivado de perguntas sobre você desde que chegamos. No baile de Lovingdon, os curiosos serão apaziguados. — Eu me preocupo que eu possa envergonhar você. — Meu Deus, Portia, onde está a mulher a quem abri a porta, aquela que me confundiu com um lacaio? Aquela mulher não se importava com ele, não queria deixá-lo orgulhoso, só se importava com suas próprias necessidades. Ela inclinou o queixo. — Eu estava com a impressão de que você não estava muito interessado em mim naquele dia. Ele passou o dedo pela clavícula dela. — Ainda assim, você conseguiu me conquistar, não é? Seu coração bateu contra suas costelas. Por mais que ela ansiava por seu amor, ela não conseguia pensar em nada pior do que obtê-lo. — Aqui, uma coisinha para comemorar a noite. Olhando para baixo, ela viu a caixa de veludo preto que ele estendeu para ela. De onde veio isso? Um bolso da jaqueta, obviamente. Suas emoções já estavam cruas, seus nervos desgastados. Um presente dele só a encheria de mais arrependimentos. Ela balançou a cabeça. — Você já me deu o suficiente. Vestidos novos, uma penteadeira, o piano sintonizado... — Não vamos discutir sobre isso. — Mas é joias, não é? É muito, muito pessoal. — Você é minha esposa. — Não porque você queria que eu fosse. — Eu quero que você seja hoje à noite. — Com a mão livre, ele embalou sua bochecha. — Esta noite você será a mulher mais linda, a mais generosa, a mais misteriosa, a mais inteligente, a mais ousada. E a única sem uma peça de joalheria. Seu estômago se afrouxou. — Então, isso é para você, então sua esposa não parece ser uma pobretona. — Nós vamos dizer que é o caso, se permitir que você aceite. O que significava que não era o caso. — Era da sua mãe? — Não. Eu comprei esta semana. Ocorreu-me que nunca vi você usar joias. 228


— Eu uso um anel. — Então use isso também. — Ele pegou a mão dela e fechou ao redor do veludo. — Sempre se deve agradecer por um presente. — Eu nunca soube que não viesse sem amarras. — Sem amarras, Portia. Você é a esposa de um senhor e, como tal, você deve usar joias. Então era pelo orgulho dele. Mais fácil aceitar sabendo disso. Mas quando ela abriu o estojo, quando viu o lindo colar de pérolas e a pulseira combinando, não pôde deixar de soltar um suspiro de prazer. — Você gosta disso? Era estranho ouvir a dúvida em sua voz, saber que sua opinião importava. — Está perfeito. Simples mas elegante. Eu não sabia que você tinha tanto bom gosto. — Eu me casei... — Ele parou, limpou a garganta e pegou a caixa de veludo dela. Ela só podia supor que ele estava prestes a dizer que ele se casou com ela como um sinal de seu bom gosto, e então pensou melhor. Mostrou seu mau gosto, quer ele soubesse ou não. Tomando o colar, ele se moveu atrás dela e segurou-o em sua garganta. Olhando para seu reflexo no espelho, ela não podia acreditar como as pequenas pérolas a transformavam, pelo menos fornecendo a ilusão de que ela era uma dama. Ele colocou a pulseira no pulso dela. Ela tocou a mandíbula dele. — Eu não mereço você, e você certamente merece alguém melhor do que eu. — Eu tenho certeza que combinamos bem, se ambos achamos que o outro merece alguém melhor. Ela ficou arrasada ao perceber que ele achava que ela merecia alguém melhor que ele. Tudo o que ela podia fazer era garantir que ela fosse digna dele. Ela tocou os dedos nas pérolas frias em sua garganta. — Posso garantir-lhe que sou a mulher mais sortuda de toda Londres por ter você como meu marido. Colocando as mãos em seus ombros, pressionando os lábios na curva de seu pescoço, ele segurou seu olhar no espelho. — Depois que voltarmos para casa, vou tirar tudo de você, exceto as pérolas. Quando terminar com você, prometo que se considerará a mulher mais sortuda de toda a Grã - Bretanha. 229


Enquanto um marido tinha o direito de se sentar ao lado de sua esposa na carruagem, Locke preferia sentar-se em frente a ela, porque lhe dava a oportunidade de olhá-la completamente, observá-la mais de perto. De vez em quando a luz dos postes que passavam refletia as pérolas. Ele as comprara porque queria dar-lhe presentes, queria que ela tivesse tudo o que desejara. Estava esmagando-o perceber o quanto ele se importava com ela. Ela estava linda no vestido azul. Sempre que ela olhava para ele, havia sempre um ardor em seu olhar que fazia seu corpo reagir como se ela tivesse se despido. Mas foi mais do que o sexo que atraiu a ele. Era sua generosidade de espírito, pelo modo como ela se sentia desconfortável em aceitar algo tão simples quanto pérolas. Aqueles que a conheceriam esta noite seriam cativados. Ela poderia se manter. Disso ele não tinha dúvidas. — Não me ocorreu perguntar se você dança, — disse ele. Seus lábios se curvaram em um sorriso suave. — Eu participei a uma dança rural ou duas. E sou muito hábil em seguir. — Eu não tinha notado você sendo tão dócil como tudo isso. — Você não se importaria muito comigo se eu fosse dócil. — Não, eu não faria. — Ele gostava que ela era forte, ela sabia o que queria, foi atrás do que ela queria, mesmo que isso a tivesse levado para a porta de seu pai. — Você é amigo do duque e da duquesa de Lovingdon? — Perguntou ela. — Eu os conheço relativamente bem. Você vai gostar deles e eles vão gostar de você. Escolhi o baile porque a duquesa é particularmente gentil quando se trata de facilitar a entrada de novatos na sociedade. Nenhum deles tem preconceito contra os plebeus, uma vez que muitos de seus parentes próximos não são nobreza de nascença. — Eu não acho que a aristocracia é o que já foi uma vez. — Temo que você esteja certa. Eu suponho que não é preciso dizer que você não deve discutir o meu papel nas minas. — O trabalho não é nada do que se envergonhar. — Eu não estou envergonhado... — Só que talvez ele estivesse. Ele não disse a Ashe ou Edward que tinha cavado ao lado dos mineiros. — Eu simplesmente prefiro que meus negócios permaneçam privados. 230


— Estou orgulhosa de você, você sabe. Orgulhosa ser sua esposa. — Ela olhou rapidamente pela janela como se tivesse revelado demais. Sentia-se grato por ela estar absorta na paisagem que passava, em vez de olhar o choque e alívio que sem dúvida cruzavam suas feições. Ele geralmente era bom em manter seus pensamentos e seus sentimentos para si mesmo, mas ela de alguma forma sempre conseguiu desestruturá-lo. — É preciso muita coragem para fazer o que se deve quando vai contra a corrente. — Ela olhou para ele. — Eu sei que você prefere não estar trabalhando nas minas. — Todos os cavalheiros preferem uma vida de lazer. — Só que você nunca teve isso, não realmente. Não pode ter sido fácil crescer sem uma mãe. Então todas as viagens que você fez. Você foi em expedições que empurraram você para seus limites. Você voltou para casa para cuidar de seu pai, as propriedades. Nada fácil nisso. Eu te admiro, Locksley. Eu desejo... Sua voz sumiu, sua atenção voltou para a janela. — Você deseja o quê? — Ele perguntou. Ela balançou a cabeça. — Portia? — Eu gostaria que tivéssemos nos conhecido em circunstâncias diferentes. Em circunstâncias diferentes, no momento em que ele teria deduzido que ela era uma mulher que ele poderia gostar ou admirar, ele teria se afastado para proteger seu coração e sua sanidade. — Existe alguma outra situação em que possamos nos encontrar? Uma gargalhada triste e oca ecoou por toda a carruagem. — Não é nada particularmente ideal, tenho certeza. A carruagem diminuiu a velocidade e parou. Ela se inclinou para perto da janela. — Parece que chegamos. Há uma fila de veículos. — Ela tende a se mover rapidamente. Não deve demorar muito para chegar à frente. Portia balançou a cabeça, soltou um longo suspiro e tocou os dedos nas pérolas, divididas entre o desejo de acabar com tudo aquilo e esperar que o baile já tivesse terminado quando chegassem. Mas Locksley estava certo. A carruagem parou na curva mais cedo do que esperava. Um lacaio entrou em ação, abrindo a porta, ajudando-a a 231


descer. Uma vez que ela estava em pé ao lado da carruagem, ela podia ver que eles não estavam descarregando uma única carruagem de cada vez, mas estavam descarregando várias para que pudessem abrir caminho para o próximo grupo. Tantas pessoas vestidas com ornamentos gloriosos subiam os largos degraus que levavam à porta aberta. — Tente não ficar de boca aberta, — disse Locksley, oferecendo o braço para ela. — É uma residência incrivelmente grande. — É apenas uma residência. — É como dizer que a rainha é apenas uma mulher. — Para Albert, ela provavelmente era. — Dizem que ela governou o coração dele. Você acha que ele poderia esquecer que ela governou um império também? — Eu deveria pensar que o amor exigiria isso, mas não é minha área de especialização. Eles entraram no vestíbulo e Portia foi atingida não apenas por sua magnificência, mas pela sensação de que era realmente um lar. O amor residia aqui. Eles foram guiados para a sala da frente, onde eles depositaram seu envoltório, seu chapéu e sua bengala. Então eles seguiram a fila até as escadas. Locksley reconheceu aqueles que estavam mais perto deles, apresentou-a, mas ela estava muito admirada com o que estava ao seu redor para lembrar nomes. Ela uma vez sonhou com isso, de assistir a um baile como este. Ela pensou quando saiu de Fairings Cross que este era o seu futuro, apenas ela pensou estar ao lado de um homem diferente, alguém que a amava, alguém a quem ela amava. Ela finalmente chegou aqui, mas não como ela esperava. Eles atravessaram uma porta e pararam. Um cavalheiro anunciava os convidados, que então desciam ao salão de baile. Os espelhos brilhavam; os lustres brilhavam. Ela imaginou que o salão de baile em Havisham teria se aguentado contra este. Um casal estava diante deles. Ela estava bem ciente de Locksley se inclinando para baixo, roçando os lábios em sua orelha. — Estou igualmente orgulhoso de ter você ao meu lado esta noite, Portia. A gratidão tomou conta dela, mesmo quando a culpa atingiu sua 232


consciência. Antes que ela pudesse pronunciar uma sílaba, ele se endireitou, deu um passo à frente e entregou o convite ao mordomo. — Lorde e Lady Locksley! — Ele anunciou. Então o marido a escoltava pela escada abaixo que a levaria ao céu ou ao inferno.

Capítulo 22 Durante toda a jornada pelo interminável lance de escadas, Portia não apenas viu, mas sentiu todos os olhos se aproximando e temeu que alguém pudesse discernir a verdade e gritar: “Falsa, mentirosa, enganadora!” Mas ela ouviu apenas murmúrios silenciosos, avistou uma sobrancelha ou duas erguidas em curiosidade. Ela endireitou a coluna e ergueu o queixo. Ela passou boa parte de sua vida desempenhando um papel. Não há razão para parar agora. Ao pisar no salão, Locksley levou-a até o duque e a duquesa de Lovingdon, que cumprimentavam seus convidados. Eles eram um casal bonito, o duque tão moreno quanto seu próprio marido, a duquesa com o cabelo de um tom muito mais agradável de vermelho que o dela. Ela sempre achara que seu cabelo era ardente demais, forte demais - talvez porque seu pai achava que era um sinal de que ela possuía o diabo. — É um prazer conhecer você, — disse a duquesa com um sorriso gentil. — Estou honrada, — disse Portia, mergulhando em uma profunda reverência. — Onde você encontrou tal tesouro, Locksley? — Perguntou o duque. — Meu pai nos apresentou. E eu não pude resistir em me casar com ela. Portia reprimiu a careta com as palavras que ela tinha pouca dúvida de que ele estaria repetindo ao longo da noite. — Como está o marquês? — Perguntou Lovingdon. 233


— Muito bem. Mas não está viajando para a cidade, agora está se mantendo no campo. — Tendo perdido meu pai em tenra idade, eu invejo você um pouco com o seu ainda vivo. — Na maioria dos dias eu sou grato por sua presença, embora haja momentos em que ele se levanta para algum mal com o qual eu prefiro não ter que lidar. — Seu sorriso era autodepreciativo e quando ele piscou para ela, ela entendeu claramente que ela era o mal a que ele estava se referindo. — Devemos nos encontrar para o chá em algum momento, — disse a duquesa. — Estou ansiosa para isso. — Portia quis dizer as palavras mais do que ela pensava ser possível. Ela não tinha dúvida de que a duquesa se mostraria uma forte aliada, se alguém necessitasse dela. Enquanto Locksley a levava embora, ela lutou para se livrar de sua admiração por estar caminhando entre a nobreza e ser tratada como se fosse uma delas. Eles não tinham andado muito antes de estarem cercados por uma multidão louca de pessoas. Ela sabia que seu marido era um queridinho da Sociedade, facilmente perdoado por qualquer transgressão, mas era uma revelação testemunhar como ele era genuinamente bem-vindo e adorado - e a aceitação deles era transferida para ela. Como se ela fosse digna simplesmente porque ele a tomou para esposa. O leque de apresentações foi vertiginoso. Ela queria deixá-lo orgulhoso, mas era tudo tão avassalador quanto ela se esforçava para associar nomes que reconhecia com rostos que não reconhecia. Então havia aqueles que ela nunca tinha ouvido falar, casais mais velhos que poderiam ter sido focados em sua juventude, mas agora estavam acomodados na mediocridade. Locksley parecia conhecê-los todos, estava confortável com eles. Ela manteve sua postura perfeita, fez as reverências apropriadas quando necessário, expressou prazer em conhecê-los e fez questão de fazer uma pergunta antes que alguém lhe perguntasse, um pequeno truque que sua mãe lhe ensinara. Quando alguém tinha algo a esconder, era melhor ser aquele que ouvia do que aquele que falava. As pessoas sempre davam boas-vindas a uma oportunidade de falar sobre si mesmas, e o interesse dela por elas as lisonjeava. A atenção de sua mãe sempre foi fingida. Portia não foi. Durante todo o tempo que se lembrava, a aristocracia a enamorara. Essa pequena cativação levou a sua queda, se ela fosse honesta sobre isso. Estranho que sua desgraça a tivesse levado a estar onde ela pensara um dia estar. 234


— Preciso pedir perdão — disse Locksley, — mas a música favorita de Lady Locksley está começando e prometi uma dança para ela. Se você nos der licença... Antes mesmo que ela soubesse o que estava acontecendo, a mão dele estava em sua cintura e ele estava habilmente os envolvendo com os casais, fazendo com que eles se separassem com não mais do que um sorriso vistoso e uma palavra ocasional. Então ele a estava movendo sobre a pista de dança e, pela primeira vez desde a chegada, ela finalmente sentiu como se pudesse respirar. — Eu não estou familiarizado com essa música, — ela confessou. — Eles nunca nos deixariam ir se lhes disséssemos isso. Você se manteve bastante bem nas circunstâncias. — Todos eles amam você. — Eu não iria tão longe. Mas minha vida trágica os fez mais dispostos a fazer exceções para mim do que para outros. — Suspeito que muitas das senhoras solteiras estavam esperando arrastá-lo para o altar um dia. Havia alguma que você imaginasse? — Ela não sabia por que nunca pensara em perguntar antes - talvez porque sua popularidade no papel parecesse distante -, mas tendo finalmente testemunhado isso pessoalmente, ela achou impossível ignorar. Ele poderia ter tido alguém. — Um pouco tarde para estar perguntando isso. Ele jurara nunca amar, mas isso não significava que ele não gostasse. Ela inclinou o queixo. — Você está certo. Eu diria que você não poderia ter se importado muito com ela se estivesse disposto a desistir dela tão fácil e rapidamente por mim. Ele sorriu sombriamente, perversamente. — Tentando aliviar sua consciência? — Eu não tenho consciência para aliviar. — Eu não acredito nisso. E não. Não havia ninguém que eu gostasse o suficiente para querer casar, e caso eu gostava de uma dama, eu andava na direção oposta. Diante da realidade de sua falta de interesse pelo amor, ela achou muito triste. — Você teria realmente escolhido alguém que você nunca poderia amar? Ele arqueou uma sobrancelha, deu-lhe um olhar aguçado. — Eu não conto. Você não me escolheu. Eu fui imposta a você. Eu 235


simplesmente não consigo imaginar você propositalmente procurando alguém que faria você infeliz. — Casar com alguém que eu amava teria me deixado infeliz, me preocupando que poderia perdê-la, seguir o caminho do meu pai em direção à loucura. — Você não pode julgar o amor pela experiência do seu pai. Ou talvez você possa. Acredito que enquanto sua mãe viveu, eles teveram uma vida incrivelmente feliz. — E quando ela morreu, ele ficou louco. — Eu não tenho tanta certeza. Ele sente falta dela, imagina que ela ainda está com ele. Isso é tão horrível? — Você teve amor em seu primeiro casamento e escolheu desistir para o segundo. O que você procurou para um segundo casamento não é tão diferente do que eu procurei no meu primeiro. Eu simplesmente sou pragmático e reconheci o valor de um casamento sem amor mais cedo do que você. Os últimos acordes da música permaneceram no ar quando ele os fez parar. — Pronto para enfrentar as hordas novamente? Ela soltou um longo suspiro. — Eu suponho. — Eu não estou. A música começou e ela novamente se encontrou em seus braços, apertada e mais próxima desta vez. Ela jogou a cabeça para trás e riu. — Você vai ter pessoas especulando que você está loucamente apaixonado por sua esposa, que você não pode suportar a ideia de separar-se dela. Ele não respondeu, apenas estudou-a atentamente, seus olhos verdes perfurando os dela. — Você gosta de dançar. — Eu amo dançar. — Hoje à noite os outros vão querer dançar com você. — Eu vou recusar educadamente. Ele balançou sua cabeça. — Não precisa fazer isso por mim. Eu dançarei com outras senhoras. Fora de polidez apenas, é claro. Como nosso arranjo exige que mostremos respeito para com os outros, especialmente em público. Seu arranjo. Ela queria que o arranjo deles fosse para o diabo. Mas ela aceitou os termos. O presente da joia, o orgulho com que ele a apresentou, fez com que ela pensasse que talvez ele começasse a amála. Como as senhoras de Londres se sentiriam ao saber que ele era um 236


homem sem coração? Não, ele tinha um coração. Ele apenas se recusou a abri-lo para a possibilidade de amor. — Se eu dançar com qualquer outra pessoa, será apenas por educação também. — Ela moveu a mão que descansou em seu ombro um pouco, apenas o suficiente para que ela pudesse roçar o dedo enluvado ao longo de sua mandíbula. — Mas eu vou reservar a última dança para você. E até que ela estivesse em seus braços novamente, ela sabia que seria miserável.

Ele não estava com ciúmes. Ele sabia que os homens gostariam de dançar com ela e a incentivara a dançar com outros parceiros. Portanto, essa necessidade irracional que se abatia sobre ele de querer arrancar membros sempre que um homem a tomava nos braços não era ciúme. Ele só sabia que era escuro e irritante. — Aqui, beba isso, — Ashe ordenou. — Você parece estar prestes a assassinar alguém. Locke olhou para o vidro que continha o líquido âmbar, pegou-o e desfrutou de um longo gole. — Onde você encontrou isso? — Sala de jogos. Então, quem ganhou sua ira? Ele não sabia se o homem merecera. — Sheridan. — Ah, ele está dançando com Portia, eu vejo. E antes de Sheridan, tinha sido Avendale, que todos sabiam que estava loucamente apaixonado por sua esposa. Não havia perigo de ele procurar um namorico com Portia e, mesmo que o fizesse, ela recusaria. Se havia uma coisa a respeito de sua esposa, da qual ele estava absolutamente convencido, era sua lealdade. — Você fez bastante alvoroço com sua chegada. Você tinha que saber que os homens iriam querer dançar com ela, — disse Ashe. — Eles não têm que segurá-la tão perto ou parecer tão sedutora. — Ela é sedutora. Locke olhou para seu amigo de longa data. Ashe levantou a mão. — Não para mim, claro. Minerva é a única mulher que me interessa. Bom Deus, se eu não soubesse melhor, diria que você é ciumento, mas isso exigiria que você se importasse com ela. — Eu me importo que ela seja minha esposa. Essas pessoas 237


devem respeitar isso. Ashe teve a audácia de rir baixinho. — Nós não fizemos isso quando éramos solteiros. — Estávamos engajados em flerte inofensivo. — Assim estão eles. Só não parecia inofensivo. Parecia sangrento e irritante. — Venha jogar uma mão de cartas. — Não, eu estou reivindicando a próxima dança. — E a outra depois disso. Cristo, o que havia de errado com ele? Eles estavam apenas dançando - no meio de uma pista de dança lotada, candelabros brilhando, espelhos capturando seu reflexo. Era impossível que algo desagradável ocorresse sem que toda Londres testemunhasse. Ela não se envolveria em um comportamento tão inconcebível. Ela não iria envergonhá-lo. — Eu acho que você veio para cuidar dela, — disse Ashe, uma fissura de alegria em seu tom. — Você fala demais. — Quanto tempo durava aquela música estúpida? Ele deveria simplesmente cortar. — Crescendo sob os cuidados de seu pai, me convenci de que o amor deveria ser evitado. Eu estava errado. O amor de Minerva enriqueceu minha vida além de qualquer imaginação. — Eu não amo Portia. — As palavras foram ditas sucintamente, sem rodeios. Ashe deu um tapinha no ombro dele. — Continue dizendo isso a si mesmo isso. Graças a Deus seu amigo finalmente se afastou, deixando-o a pensar em paz. Ele não a amava, não podia amá-la, não a amaria. Mas o fato era, que ultimamente ele estava em paz quando estava com ela. Ela acalmou sua alma, fez o futuro parecer menos sombrio. Ela usava otimismo como um manto de primavera. Ela olhou para uma sala decadente e viu possibilidades. Seu coração estava tão decadente quanto aqueles quartos: nunca tocados, nunca visitados, nunca abertos. Ela o fez querer ter uma chance, fez com que ele quisesse oferecer o que ela tão ricamente merecia. Só que agora ela carregava seu filho e a possibilidade de sua morte pairava. De pé aqui, era provável que ele fizesse algo do qual se arrependeria se não se enfurecesse primeiro. Ashe estava certo. Ele precisava de uma distração. Uma mão ou duas de cartas. Então, quando 238


já não sentisse vontade de matar alguém, dançaria com a esposa. Ele estava no meio da escada quando a música parou, chegou ao patamar quando percebeu que não tinha o menor desejo de jogar cartas. Ele queria estar com Portia, levá-la a passear pelo jardim, beijála nas sombras. A última coisa que qualquer homem deveria querer de uma mulher que ele pudesse beijar a qualquer hora do dia ou da noite, mas ele ansiava por isso com uma ferocidade inquietante. Girando ao redor, ele a viu passando pelas portas abertas que levavam ao terraço. Ele não a culpou por precisar de um pouco de ar fresco. Em vez de ficar parado em torno e não gostar que ela tivesse a atenção de tantos homens, ele deveria tê-la resgatado de seus muitos admiradores. Ele voltou a descer as escadas.

Quando Portia entrou no terraço, ela recebeu o ar frio da noite roçando sua pele. Se ela soubesse que dançaria tanto, teria trazido um segundo par de chinelos. Ela não tinha certeza de quanto tempo os que ela usava durariam, as solas já estavam incrivelmente finas. O terraço estava notavelmente ausente dos hóspedes, a maioria optando por caminhar pelos jardins. Os caminhos eram alinhados com lâmpadas a gás, que proporcionavam um brilho suave que deixava os casais inidentificáveis. Ansiava por uma caminhada, mas julgou que seria impróprio, sem o marido, a escoltá-la, de modo que se afastou para o outro lado da varanda de azulejos, onde as sombras eram mais espessas, e envolveu os dedos enluvados no corrimão de ferro forjado. Inalando profundamente, ela não pôde deixar de sentir que a noite tinha sido um sucesso. A única coisa que o tornaria mais agradável era se Locksley fosse seu parceiro constante de dança. Ninguém mais se movia tão bem quanto ele. Com ninguém mais ela se sentia tão confortável ou sintonizada. Com mais ninguém — Olá, Portia. Seus pensamentos pararam, seus pulmões pararam de funcionar. Por essas duas horas, enquanto dançava, preocupou-se que o conde de Beaumont cruzasse com ela, mas, como isso não aconteceu, começou a acreditar que ele não estava presente. Recuperando sua inteligência, sabendo o quão perigoso era tê-la de volta para ele, ela se virou, as saias roçando as pernas dele porque ele estava tão perto, angulando o queixo arrogantemente, e olhou para ele o quanto ela era capaz, considerando que ele ficou vários centímetros acima dela. Ela odiava que ele estava tão bonito como sempre, a brisa leve brincando com seus cachos loiros como ela já teve. — Montie. 239


A mão dele, sem luvas, segurou sua bochecha, com uma firmeza que prometia que ele faria uma cena se ela tentasse se libertar. Ele se inclinou, respirou fundo. — Eu senti falta da sua fragrância. — Solte-me. Sou casada agora, uma viscondessa... Em vez de obedecê-la, ele simplesmente envolveu a outra mão ao redor do braço dela. — Sim, eu vi o anúncio no jornal. — Ela também. Logo depois, que o marquês ordenou ao filho que enviasse as notícias do casamento para o Times. Beaumont sabia que havia a possibilidade de esbarrar com ela em um baile, sem dúvida ficara de olho quando os fofoqueiros anunciassem que o visconde Locksley e sua nova noiva estavam em Londres. Seu antigo amante recuou, seus olhos escuros brilhando, seus lábios torcidos em um sorriso de escárnio. — Seu marido sabe sobre nós? Ele puxou-a para mais perto até que ela pudesse sentir sua respiração em sua bochecha. Por que ela pensou que poderia escapar dele? — Não, — ele falou ironicamente. — Eu pensei que não. Caso contrário, por que ele teria se casado com você? Como você conseguiu pegar o último Sedutor? — Eu preciso voltar ao salão antes que ele sinta a minha falta. — Para sentir sua falta, ele teria que se importar com você. Eu o conheço bem o suficiente para saber que ele não é um homem que daria seu coração. Ao contrário de mim, quem te amava e te amo ainda. — Você nunca me amou. Na verdade não. Se você amasse, você não teria quebrado todas suas promessas. Você teria se casado comigo. — Ninguém se casa por amor; se casa por ganho. Não é por essa razão que você se casou com Locksley? Por causa do que você ganharia através dele? Um título. Posição. Mas você ainda é minha. Eu quero que você venha até mim hoje à noite. — Não. — Vou contar tudo a ele. Ela bateu os olhos fechados. Como ela pensara que estaria segura? E se ele contasse a verdade a Locksley, então o que aconteceria? Que recurso ele teria, exceto jogá-la na rua? E ela não o culparia nem um pouco. — Tire suas mãos da minha esposa. Os olhos de Portia se abriram com as palavras que ecoavam com o aviso e a promessa de retribuição. Mesmo nas sombras, ela podia ver 240


o sorriso vitorioso de Beaumont quando ele a soltou e, lentamente, virou-se para o homem cujo rosto refletia uma máscara de fúria que fazia sua própria respiração recuar dolorosamente em seus pulmões. — Locksley. Eu estava apenas parabenizando minha ex-amante por seu recente casamento. A raiva permaneceu enquanto o olhar de Locksley mudava de Beaumont para ela. Ela poderia jurar que por um breve momento viu algo mais refletido em seus olhos: dor. Ela queria morrer, queria pedir perdão a ele, queria dar um soco em Beaumont até que aquele lindo rosto não fosse mais bonito. — Ela não contou a você? — perguntou Beaumont secamente. — Dois anos... — Montie, não, — ela sussurrou, desprezando seu tom de súplica. — Oh, minha querida, nada de bom vem de segredos em um relacionamento. Ele merece saber. — O olhar dele nunca saiu de Locksley. — Por dois anos ela aqueceu minha cama... — Tome seu conselho e mantenha sua língua, — disse Locksley. Beaumont teve a audácia de rir. — Certamente você está curioso. — Saia já daqui. — Como quiser. Adeus, doce Portia. Desejo-lhe toda a felicidade. Como se ela pudesse ter isso agora. Ele arruinou tudo. Como ela o amou? Ele deu dois passos à frente, parou quando ficou de pé com o marido. — Eu também posso ver que outros parabéns em breve estarão em ordem. Ainda assim, eu contaria cuidadosamente os meses se fosse você, Locksley. O punho de Locksley bateu no rosto de Beaumont. Ela ouviu o osso quebrar. Com base no grito de Beaumont, no modo como ele estava embalando o queixo e rolando para trás e para frente no chão de ladrilhos, ela supôs que Locke tinha quebrado a mandíbula do homem. Ela esperava que sim. Ele fez muito bem. Ela também orou para que Locke não danificasse sua mão. De pé em cima de Beaumont, Locksley pressionou o pé no peito de seu ex-amante, parando seu balanço de um lado para o outro. — Toque nela novamente, e eu vou cortar suas mãos. Fale com ela novamente e eu vou cortar sua língua. Olhe para ela novamente e arrancarei seus olhos. E se eu ouvir rumores sobre o passado de Portia ou a paternidade da criança que ela carrega, eu vou te destruir. 241


Ele deve ter pressionado o pé com mais força porque Beaumont grunhiu. Quando Locksley recuou, o homem rolou para o lado e choramingou. Seu marido estendeu a mão para ela. — Vamos embora, Portia. Ela colocou a mão na dele, tentando tirar o máximo conforto do fechamento de seus dedos ao redor dos dela, mas não havia nada terno ou gentil em seu toque. Ele a puxou para frente e ela contornou um gemido Beaumont. — Eu posso explicar, — ela disse baixinho. — Agora não. Estamos indo embora. Ele não falou uma palavra enquanto a conduzia pela lateral da residência como se agora ela fosse algo de que ele se envergonhava. Quando chegaram à frente, ele enviou um lacaio para alertar seu cocheiro de que estavam prontos para partir e outro para buscar suas coisas na sala de estar. Seu rosto estava inexpressivo, exceto pelo conjunto rígido de sua mandíbula. — Você está machucando minha mão, — ela disse suavemente. Ele imediatamente a soltou, quando tudo o que ela queria era que ele afrouxasse o aperto. Quando o lacaio chegou com suas coisas, Locksley colocou o casaco sobre os ombros. Depois que a carruagem chegou, ele a levou para dentro antes de se juntar a ela e sentar-se na frente dela. — Locksley... — Não diga nada, Portia. Seu tom firme a obrigou a pressionar os lábios para não falar. Ela queria contar tudo a ele, explicar tudo, ajudá-lo a entender. Seu desespero, seus medos, sua falta de opções. Ela se segurou perto. Ela estava com frio, muito frio. Ela não sabia se alguma vez se sentiria quente novamente. Assim que a carruagem parou em frente à residência, ele saltou e esperou que o lacaio a ajudasse, como se já não pudesse mais tocála. Na casa eles andaram, em silêncio. Subiram as escadas. Em seu quarto de dormir, ele empurrou a porta e esperou enquanto ela o entrava. Com a porta batendo, ela deu um pulo, virou-se e encarou-o. — Você estava com criança no dia em que nos casamos? — Suas palavras afiadas no ar, cortando seu coração. Ela estendeu a mão implorando. — Pare 242


— É uma pergunta simples, Portia. Sim ou não. Você estava grávida no dia em que nos casamos? Ela engoliu em seco, queria mentir, queria que a verdade fosse outra coisa senão o que era. — Sim. A maneira como o olhar dele vagarosamente viajou sobre ela como se ele estivesse apenas vendo a verdadeira ela pela primeira vez, fez com que ela quisesse chorar. Ela deu um passo em direção a ele. — Nunca deveria ser você. Eu não deveria casar com você. Eu deveria me casar com Marsden. — E o que ele se importaria? Ela abriu o braço. — Ele já tinha seu herdeiro. Você se casaria e forneceria seu herdeiro. Tudo o que eu queria era proteger essa criança, dar a ela a chance de sobreviver, prosperar... — Mas fui eu, Portia, — ele disse baixinho e ainda assim sua voz reverberou como o estrondo do trovão. Virando-se, ele saiu do quarto, batendo a porta em seu rastro. Ela queria correr atrás dele, queria explicar, mas o que mais deveria ser dito? Como ela poderia explicar o inexplicável? Cambaleando para trás até que seus joelhos bateram na cadeira, ela se deixou cair e enrolou em uma bola enquanto os soluços se aproximavam dela, fazendo com que seus ombros tremessem, seu peito doesse, sua garganta apertasse. Devastação varreu através dela. Ela o machucou, enganou-o e, ao fazêlo, destruiu a última gota de bondade que possuía.

Capítulo 23 Ele não podia tolerar a ideia de estar na residência com ela, pensou em ir ao clube, mas não podia tolerar a ideia de infligir seu mau humor aos outros ou lidar com a possibilidade de encontrar Beaumont. Ele poderia realmente matar o homem se os seus caminhos fossem novamente cruzados. Então ele se isolou na biblioteca, com a porta trancada para que ninguém pudesse perturbá-lo, e bebeu direto de uma garrafa de uísque como se ele fosse um bárbaro. Tudo fazia sentido agora. Por que ela respondeu o anúncio de seu pai. Por que ela se recusou a falar do passado. Por que sua família não queria nada com ela. Ela tinha sido a amante de um homem. 243


Ele arremessou a garrafa na direção da lareira, não se consolando enquanto se espatifava na lareira, o copo voando, o uísque espirrando. Ele deveria ser grato por não haver chamas para acender o líquido, mas no momento ele estava com muita dificuldade de agradecer por qualquer coisa. Ele foi até o armário de bebidas, pegou outra garrafa e bebeu metade do uísque antes de respirar. Maldita seja ela! Maldita seja ela! Maldita seja ela! Ela o fez se importar com ela. Ele deixou-se cair em uma cadeira e lutou contra a angústia excruciante que ameaçava deixá-lo de joelhos. Ele confiava nela, gostava de sua companhia, fazer amor com ela. Com ela, era mais do que sexo. Ele nunca deixou uma amante insatisfeita, porém ele deu mais de si para ela do que ele já tinha dado a ninguém. Droga tudo para o inferno se sua traição não doesse mais agora por isso. Passara apenas uma semana desde o maldita encontro com Beaumont no clube, quando ele correra para casa para ficar com ela e quase lhe dizia que a amava? Ela o fez querer recitar poesia, atraiu-o a sorrir, rir. Ela o atraiu para ansiar pelo dia e antecipar a noite. Ela acalmou seus demônios e lhe trouxe consolo. Ela o fez acreditar que ela carregava seu filho. Reconhecendo que o engano quase o dobrou. Em vez disso, engoliu o que restava na garrafa, qualquer coisa para aliviar a agonia que ameaçava despedaçálo. Ele estava certo em abrigar seu coração todos aqueles anos, para afastar a mera sugestão de amor. O amor não era algo para ser procurado, anunciado ou admirado. Para ele foi apenas uma falsa máscara de crueldade e decepção. Ele queria uma mulher que ele não pudesse amar. Ele certamente teve sucesso a esse respeito. Antes do amanhecer, ele pretendia limpar qualquer pensamento amável, qualquer lembrança alegre, qualquer dose de preocupação em relação a ela. Ele não sentiria nada em relação a ela, absolutamente nada.

Portia chorou até a exaustão tomar conta dela e ela adormeceu completamente vestida, deitada no chão. Ela não se mexeu até que a porta se abriu e Cullie entrou. — Milady! — A jovem correu e se ajoelhou ao lado dela. — Eu estou bem, — Portia assegurou enquanto se levantava. Ela doía por dentro e por fora, mas a dor interior era muito pior. Se conhecesse Locksley como o conhecia agora, não teria se casado com 244


ele. Mas ela pensara que ele era um homem sem coração, que nunca se importaria com ela, nunca se importaria com seus filhos. Um homem governado por obrigação. Um homem que ela não gostava e não se importava que ela o enganasse. Mas então Beaumont lhe ensinara a não confiar em ninguém. Que todo homem se importava apenas com suas próprias necessidades egoístas. Então, o que havia de errado com uma mulher fazendo o mesmo? Muito, ela percebeu agora. Tudo estava errado com isso. Como ela viveria com ela mesma? — Aqui, Milady, deixe-me ajudá-la. Ela gemeu quando Cullie a ajudou a ficar em pé. Seu pescoço estalou quando ela virou de lado, depois para o outro. Arqueando, ela esfregou o pequeno incomodo em suas costas. Que mulher tola ela tinha sido para não despertar e rastejar na cama. — Você parece péssima, Milady, mas eu acho que podemos tomar um banho rápido se você quiser antes de sairmos. Parecia que a mente de Portia estava tão lenta quanto o corpo dela. — Sair? Do que você está falando? — Estamos voltando para Havisham. Seu senhorio ordenou que fôssemos empacotados e prontos para partir dentro de uma hora. Mas eles estavam planejando ficar até o final da temporada. Ela bateu os olhos fechados. Como eles poderiam depois da revelação da noite passada? — Onde está o Lorde Locksley? — Na Biblioteca. — Prepare um banho. — Ela se sentiu incrivelmente suja, deveria ter lavado o toque de Beaumont da noite anterior, mas ela tinha ficado muito devastada pela reação e palavras de Locksley para fazer muita coisa, exceto afundar no arrependimento. — Eu voltarei logo. — Primeiro ela tinha que falar com o marido. Ele estava na biblioteca, assim como Cullie a informara. Sentado atrás de sua mesa, ele parecia tão horrível quanto ela se sentia, sombras escuras sob seus olhos, barba por fazer, a jaqueta, o colete e o lenço do pescoço ausentes. Com sua chegada, ele não se incomodou em se levantar. Apenas entregou dois envelopes ao mordomo que aguardava. — Veja que esses sejam despachados no correio hoje. — Sim, meu senhor. — Burns girou bruscamente e dirigiu-se para a porta. Ele inclinou a cabeça ligeiramente quando se aproximou dela. — Milady. 245


— Burns. — Ela esperou até que ele se foi para se aproximar da escrivaninha onde Locksley havia retornado para rabiscar caneta sobre pergaminho, ignorando-a totalmente. — Eu pensei que nós ficaríamos até o final da temporada, que você tinha negócios para atender. — Apresentar você à sociedade era o negócio. Qualquer outra coisa eu posso resolver de Havisham. — Ele jogou a caneta para baixo, recostou-se na cadeira e segurou seu olhar, seus olhos verdes nada revelando, completamente sem emoção. — Depois de ontem à noite, Londres deixou um gosto amargo na minha boca. — Você vai me deixar explicar? — O que há para explicar, Portia? Você era amante de Beaumont. Ele te engravidou e sem dúvida se recusou a casar com você. Por alguma razão, depois de viver em pecado por dois anos, você se permitiu trazer um bastardo ao mundo. Suponho, que eu deveria acreditar que você tinha um limite que você não cruzaria quando se tratasse de algo impróprio, mas eu sou duramente pressionado, sob as circunstâncias, para acreditar em qualquer coisa em relação a você. Você procurou casamento com meu pai, aproveitando-se de um cavalheiro que não está muito bem da cabeça. Quando entrei para protegê-lo, você me aceitou como substituto, mesmo sabendo que o filho de outro homem, — ele empurrou a cadeira para trás e se colocou de pé — poderia muito bem ser meu herdeiro! Ela não sabia se preferia a frieza do olhar dele ou a fúria que agora queimava nas profundezas verdes. Ele tinha direito a sua raiva. Ela não iria segurá-lo contra ele nem se afastaria, mesmo que cada segundo sob seu olhar severo esfolasse seu coração. — Eu mereço isso? — Ele exigiu. — Eu tenho orado para ser uma filha. Ele riu asperamente. — Então, vamos esperar que Deus responda a essa oração, não é? Entre nós, nosso filho teria cabelo vermelho ou preto. Como você ia explicar me presenteando com uma criança de cabelos loiros? — Meu pai é loiro, como eu lhe disse. É possível... — Coniventemente, você tem uma resposta para tudo, não é? Suas palavras eram tão dolorosas quanto golpes físicos. Ela sairia se não estivesse ciente de que merecia a indelicadeza que ele lhe dava. Engolindo em seco, ela deu um passo mais perto. — Se você quer se divorciar de mim, estou disposta a reconhecer publicamente que fui infiel. — Isso iria destruí-la, mas ela tinha que fazer isso direito. 246


— Ah, sim, vamos fazer com que toda Londres questione minha tolice em me casar. Não haverá divórcio, pois desconfio que isso não será bom, já que o bebê está chegando pelo menos dois meses antes, não é? Não importa o quão insistentemente qualquer um de nós negue, a lei fará dele meu. Mesmo que eu o tenha deserdado, mesmo que eu tenha ido ao Parlamento e admitido ser um idiota... — Você não é um idiota. — Claro que sou. Não, não haverá divórcio. — Ele se moveu em volta da mesa e começou a andar em direção a ela. — Você vai continuar sendo minha esposa. Ela recuou. Ele avançou. — Mas eu não quero mais nada de você do que queria no dia em que nos casarmos: você aquecendo minha cama quando eu a necessitar. Ela parou tão abruptamente que ele quase bateu nela. — Eu não serei sua prostituta. — Você era dele. A fenda da palma da mão fazendo contato com a bochecha dele ecoou pela sala. — Eu não era sua prostituta, — afirmou com absoluta convicção. Sua amante sim. A mulher que o amava insensatamente, sim. Mas ela nunca se entregou a Beaumont por dinheiro. O olhar de Locksley queimou no dela. Ela podia ver a tonalidade vermelha brilhante de onde ela tinha batido nele. Seu rosto tinha que estar ardendo tanto quanto a mão dela estava. — Você faria bem em tomar café da manhã antes de sairmos. — Ele girou nos calcanhares, dando-lhe as costas e afastando-se dela. — Nossa viagem para Havisham não será lenta. Nós estaremos parando apenas à noite. Naquele momento, ela percebeu que estava enganada quando acreditava que Beaumont havia partido seu coração. Ele apenas o machucou. Apenas Locksley tinha o poder de destruí-lo, e ele o fizera com notável facilidade.

Ele escolheu montar em seu cavalo em vez de viajar na carruagem com ela. Sempre que dobravam uma curva, ela olhava pela janela e o via trotando à frente, uma figura tão solitária, cuja visão causava uma dor em seu peito. Embora, mesmo a essa distância, ela podia sentir a raiva saindo dele. Ele estava sentado tão rigidamente na sela. Mesmo quando as nuvens escuras apareceram e a chuva começou a cair, ele não procurou abrigo dentro dos limites da carruagem. Ela deveria ter 247


agradecido sua ausência. Em vez disso, ela lamentou. Alcançando a cesta de vime que a cozinheira lhe preparara antes de sair, ela retirou um pedaço de queijo, deu uma mordida e mastigou devagar. Tinha que haver alguma maneira de acertar essa situação. Ela não esperava que ele algum dia a perdoasse, não tinha certeza se ela se perdoaria. Na época, ela não tinha escolha, nenhuma opção - ou pelo menos nada que ela pudesse ver. Em retrospectiva... Um leve solavanco logo abaixo de sua cintura fez tudo dentro dela ficar quieto. Ela não ousou respirar, mas simplesmente esperou que ele viesse novamente. Detectando o menor movimento, ela colocou a mão em seu abdômen levemente arredondado e soltou lentamente o ar que estava segurando. Seu bebê. Lágrimas ardiam nos olhos dela. Seu pequeno. Como era possível amar alguém tanto assim quando ela ainda não a conhecera - ou a ele? Ela queimaria no inferno pelo caminho que escolhera para salvar essa criança. Mas naquele momento em particular ela não se importava com o próprio bem-estar. Só se importava que soubesse, sem sombra de dúvida, que, por mais furioso que Locksley pudesse estar com ela, não faria o que Beaumont havia ameaçado: não mataria o bebê.

Locke os impulsionou o dia todo. Não era que ele estivesse particularmente ansioso para voltar a Havisham, mas queria colocar tanta distância entre ele e Londres quanto possível. Embora ele não estivesse disposto a matar os cavalos, quando a pousada Peacock apareceu, ele pediu que parassem para passar a noite. Ele conseguiu quartos, acompanhou sua esposa até o dela, providenciou para que uma bandeja fosse levada até ela, depois se acomodou em uma mesa no canto da taverna. Ele tinha necessidade de um banho e fazer a barba, estava parecendo mais com um ladrão de estrada do que com um lorde. Mas ele não tinha vontade de fazer qualquer um deles. Ele estava começando a entender por que seu pai prestou tão pouca atenção à sua própria aparência. Quando alguém era traído - seja por morte ou por engano -, a vontade de continuar se encolhia. A profundidade de seu desânimo o surpreendeu. Ele pensou na criança que Portia carregava como sendo sua, acreditava que era sua, tinha antecipado sua chegada mais do que ele pensava ser possível. Então, descobrir que fora outro homem quem havia plantado a semente... Toda vez que ele pensava naquele momento no terraço e as palavras que Beaumont lançara para ele, ele queria bater o punho em uma parede - ou, melhor ainda, pela bela cabeça do agressor. Quando 248


ele pensava no conde tocando Portia, deslizando as mãos sobre ela, beijando, sugando, empurrando... Deus o ajude, ele pensou que iria enlouquecer. Não fazia sentido. Ele sabia quando se casou com ela que ela esteve com outro homem, mas ele o via como uma sombra abstrata, dando-lhe muito pouca atenção. Além disso, ele acreditava que ele estava morto. Saber que o homem estava muito vivo tornava tudo repugnante. Que ela de bom grado se deu. Sua risada sombria tinha os que estavam sentados próximos virando a cabeça para olhar para ele. Ele terminou sua cerveja e bateu a caneca na mesa, chamando a atenção da garçonete. Nem sequer um minuto se passou antes que ele engolisse uma cerveja fresca. Ele se deitara com mulheres que não eram casadas com ele, não eram casadas, e nunca se sentira enojado com elas. Pelo contrário, ele as considerou aventureiras e divertidas. Se ele tivesse conhecido Portia em outras circunstâncias, em um baile, em um jantar ou em uma festa de jardim, ele não poderia afirmar com certeza que não teria tentado seduzi-la. Ele a queria no momento em que abriu a maldita porta para ela. Ele teria se deleitado em levá-la, desfrutando de cada momento, e nenhuma vez ele a teria culpado ou a teria afastado pelo fato de que eles não eram casados. Eu nunca fui sua prostituta. Porque ela amava o sujeito. Essa parte da história dela era verdadeira. Eu conheço o amor, meu senhor. Isso oferece pouca segurança. Agora estou com falta de segurança. Ele não podia acreditar no fato de que Beaumont possuía o amor dela e o jogara fora. Não que Locke tivesse algum desejo de possuir seu amor ou mesmo o queria... — Eu preparei um banho para você. Ele ergueu o olhar para Portia, que, pela aparência dela, havia se banhado. Suas bochechas estavam rosadas, seu cabelo estava preso e seu vestido de viagem não mostrava nem uma ruga. — Eu não estou precisando de um banho. — Eu até me atrevo a dizer que daqui posso contestar essa afirmação. Pense no seu pobre cavalo. Você não quer que ele morra pelo fedor. Ela não iria fazê-lo sorrir ou diminuir sua raiva. — Volte para o seu quarto, madame. 249


Em vez de obedecê-lo, ela teve a audácia de puxar uma cadeira à sua frente e sentar-se. — Nosso acordo era que pelo menos seríamos respeitosos um com o outro. — Isso foi antes que eu soubesse que você é capaz de enganar horrivelmente. — Desde que nos casamos, eu nunca menti para você. — Mas você estava certamente cheia de mentiras antes de nos casarmos. Pelo menos ela tinha boas graças para recuar. — Você não vai pelo menos me deixar explicar? — Não. — Mas se eu... — Não! — Mais uma vez, ele atraiu a atenção indesejada dos clientes da taverna. — Você não entende que eu mal posso tolerar olhar para você? Por que diabos você acha que eu preferi andar na chuva do que viajar no aconchego da carruagem fechado com você? A mulher que o enfrentou tantas vezes empalideceu. Lágrimas brotaram nos olhos dela. Ele não iria facilitar para ela. Nunca. — Eu pensei que você é um bastardo frio. — Mesmo um bastardo frio deve ter a opção de servir como pai para as sobras de outro homem. — Você teria se casado comigo se soubesse? — Não. — Você teria me permitido casar com seu pai? — Não. — Então você teria perdido dez mil libras. — Teria sido dinheiro bem gasto. — Mas, mesmo enquanto ele cuspia as palavras, ele não tinha certeza se falava a verdade. Ele queria machucá-la tanto quanto ela o machucou, sua agonia não fazia sentido. Como que ela tinha o poder de magoá-lo? — Deve ser uma coisa maravilhosa, de fato, nunca ter se sentido impotente, amedrontado, e nunca ter estado completamente sozinho, abandonado por todos aqueles a quem você pensava que o amara. Sentir a enorme responsabilidade de saber que uma criança inocente dependeria completamente de você para sobreviver. — Ela empurrou a cadeira para trás e se levantou. — Não me arrependo de nenhuma das 250


minhas ações. Lamento ter parecido ter te machucado quando pensei que você fosse um homem imune a ferir, a se importar, a amar. — Eu não amo você. — Isso é óbvio. Boa noite, meu senhor. Ela foi embora. Ele pediu mais cerveja, com a intenção de se entregar ao esquecimento para que pudesse esquecer, pelo menos por algumas horas, que nunca em sua vida ele estivera tão contente como esteve com ela, antes dele sair para aquele terraço, ele até tinha começado a acreditar que seu pai lhe dera um presente precioso quando ele trouxe Portia para sua vida. Ele se lembrou do horror no rosto dela quando anunciou que se casaria com ela. Ele tinha picado seu orgulho por ela ter sido tão inflexivelmente contrária à ideia Ele era um bom partido para qualquer mulher, mas especialmente para uma plebeia que não se movia nos círculos aristocráticos. Ele entendeu agora que ela não se opusera porque não o queria; ela se opusera porque não queria sobrecarregá-lo com a criança que ela carregava. Ela estava certa de que, para o pai, isso não teria importância. Locke pretendia fornecer um filho algum dia. Se ela tivesse contado a verdade para o pai, a criança teria sido apenas uma adição bem-vinda à família. Já Locke teria zombado e declarado o contrato anulado. E sobre a criança que ela alegou ter morrido? Teria sido um bastardo. Por que não dar o mesmo cuidado a esse do que ao segundo? A menos que não houvesse nenhum primeiro filho, a menos que ela tenha mentido sobre sua existência como uma maneira de provar sua fertilidade, porque sabia que o anúncio de que estava grávida seria feito pouco depois de se casarem. Não admira que ela estivesse tão preocupada em consumar o casamento. Se ele não estivesse tão excitado, ele teria estragado seus planos. Em vez disso, ele jogou diretamente nas mãos dela, levando-a com tanta frequência que seria impossível acreditar que ele não a tivesse engravidado. Não admira que não tenha ficado encantada com a perspectiva de ir a Londres e enfrentar a possibilidade de encontrar Beaumont. Antes de Locke ter interrompido seu pequeno encontro no terraço, ele viu seu rosto marcado com nojo, a ouviu ordenar que ele a soltasse. Tinha ouvido a ameaça velada de Beaumont de que se ela não fosse até ele - sem dúvida porque ele contaria tudo a Locke se ela não o fizesse. Ele disse a ele de qualquer maneira, e Locke tinha visto a devastação tomar seu rosto. Mas em sua fúria, ele ignorou isto. Ele não queria consolá-la; Ele queria muito estrangulá-la por tê-lo feito de tolo. 251


Por que ela não deveria? Ele alegou nunca amar. Ele tinha sido franco que ele queria apenas uma coisa dela: seu corpo. Ela sem dúvida viu o patife Beaumont em Locke; apenas Locke estava oferecendo o que Beaumont não faria: casamento. Por que ela não deveria tê-lo agarrado com as duas mãos? Sentado aqui com muita bebida correndo em suas veias, mil perguntas rodavam em sua mente, mil coisas que ele deveria ter perguntado a ela. Ele deveria tê-la pressionado sobre suas razões para responder ao maldito anúncio, mas ele queria encher as palmas das mãos com seus seios e enchê-la com seu pênis. Ele não tinha ido em busca da verdade porque temia que isso o impedisse de prová-la completamente. Talvez ele não fosse melhor que Beaumont. Talvez ele merecesse ser enganado por ela. Ele agiu como um bárbaro. Por que ela deveria se importar com o custo que ele pagaria quando ele a tratasse melhor que uma prostituta?

Portia estava deitada de lado sob as cobertas, olhando fixamente para o luar pálido que entrava pelas janelas. Sua vida tinha sido uma série de fugas, fugindo, cada vez levando a algo pior do que o que acontecera antes. Lendo as folhas de fofoca, nunca considerou a nobreza muito nobre. Os homens eram mulherengos; as senhoras eram sirigaitas tolas que só se importavam com vestidos, leques e parceiros de dança. Nenhum deles teve problemas ou preocupações reais. Através de Montie, ela aprendeu que eles eram todos egoístas, preocupados apenas com seus próprios desejos e necessidades. As outras amantes que conhecera tinham visto a camada superior como um meio para um fim. Bela residência, roupas extravagantes, joias finas. E se isso significasse renunciar ao bom nome e à reputação, elas achavam que valeria a pena, pois tudo o que ganhavam era coisas caras ou luxuosas, mesmo que isso significasse satisfazer os caprichos de um cavalheiro específico a qualquer hora do dia ou da noite. Para ser seu pássaro em uma gaiola dourada, para cantar quando solicitado, para manter o silêncio de outra forma. As amantes erroneamente acreditavam que tinham algum prestígio, algum poder que escapava àquelas garotas bobas. Portia teria preferido ser uma vendedora. Ela não havia seguido Beaumont até Londres para se tornar sua amante. Ela o seguiu para se tornar sua esposa. Embora duvidasse que Locksley entendesse. Ela desejou não ter 252


sido tão rápida em desencorajar qualquer conversa sobre o passado deles. Ela estava tão preocupada que ele entenderia que ela não lhe dera uma oportunidade real de conhecê-la. Talvez se ela tivesse, ele teria sido mais compreensivo quando ele soube a verdade. Talvez se ela o conhecesse melhor, teria sabido como contar a ele antes que Beaumont pudesse lançar sua versão odiosa. Ela fez tanta confusão, lidou muito mal com tudo. Mas, sabendo o que Beaumont havia planejado para esta criança - sua prole - ela não viu outra escolha a fim de garantir a segurança da criança, assim como a dela. Ela precisava de alguém que pudesse enfrentar o conde. Poderia um fazendeiro, ou um comerciante, ou um ferreiro ter enfrentado Beaumont? Algum deles poderia tê-lo combatido e não ter sido levado perante um magistrado? Algum deles poderia tê-lo ameaçado com a ruína e levado a cabo se tivesse chegado a isso? Locksley poderia. Locksley teve e quando seu punho bateu em Beaumont, naquele momento, ela o amava mais do que ela pensava ser possível amar. Ouvindo uma chave raspando em uma fechadura, ela se levantou e estendeu a mão para aumentar a chama da lâmpada. A porta se abriu. Locksley entrou, batendo a porta atrás dele e ficou ali, com os punhos cerrados ao lado do corpo, o olhar de um louco. Ela o viu com raiva antes, mas ele sempre foi controlado. Naquele momento, parecia que ele mal conseguia se segurar, uma energia muito tensa, como se ele estivesse pensando em assassinato. Quando ela saiu da cama, ele cambaleou pelo quarto, tropeçou, se segurou no poste ao pé da cama e olhou para ela. — Como você chegou a ser sua amante? — Ele exigiu, repulsa endurecendo sua voz. Ela queria explicar, confessar tudo, contar tudo a ele, mas não quando ele estava nessa condição. — Você está bêbado. — Ela não se incomodou em esconder seu desgosto ao vê-lo neste estado desleixado e repulsivo. — Pelo menos extremamente bêbado, se não mais. — Ele vacilou, apertou ainda mais o poste até que os nós dos dedos ficaram brancos. — Responda-me, Milady. Como diabos você veio a ser sua amante? Você realmente quer fazer isso aqui, onde as pessoas podem ouvir através das paredes? — Bem, me explique o que te levou a engatinhar na cama dele. — Eu nunca me arrastei, maldito seja você. Eu o amava. Eu pensei que ele ia se casar comigo. Eu me entreguei a ele porque acreditava que ele também me amava. — Lágrimas picaram seus olhos. 253


— Por dois anos? Ela riu amargamente, oca. — Para onde uma mulher vai quando está arruinada? Uma vez que sua família lavou as mãos para ela, declarou que ela estava morta para eles? Eu o amava, — ela repetiu. — Eu pensei que ele iria se casar comigo. Ele nunca disse que não o faria. Ele só disse que demoraria um pouco. Pela primeira vez na minha vida eu estava feliz. Eu me senti querida e apreciada. Eu não espero que você entenda, você que tem uma aversão ao amor, mas ter sua estimada consideração me fez ser muito mais do que eu. Eu estava tão feliz em tê-lo na minha vida que eu teria feito qualquer coisa para mantê-lo lá, fiz qualquer coisa. Respirando pesadamente, ele fechou os olhos, alargou-os como se lutasse para manter o foco nela. — Como você o conheceu? Agarrando as mãos juntas, ela percebeu que tudo parecia tão estúpido agora. Que idiota tola ela tinha sido. — Sua propriedade rural é perto da aldeia onde meu pai serve como vigário. Houve um festival de outono. Eu sempre fui proibida de assistir à noite quando as fogueiras estavam queimando e a música tocava, e as pessoas riam, dançavam e se divertiam. Mas pude ouvir as festividades, a jovialidade. Eu tinha dezenove anos e decidi que estava perdendo a vida. Então eu saí pela janela do meu quarto, desci por uma árvore e corri para a noite como uma louca, experimentando o meu gosto inicial de liberdade. Ele estava lá. Ele dançou comigo e falou comigo e caminhou comigo. Pouco antes do amanhecer ele me beijou. Foi tão gentil e doce. Não como a primeira vez que Locksley a beijou: exigente, devoradora, determinada. — Então você correu para Londres com ele. Ela odiava que ele soasse tão crítico. Não era como se ele tivesse levado a vida de um santo. Ela realmente voltou para casa para uma existência que envolveu horas de joelhos, sob o comando de seu pai, rezando para que o diabo não tivesse o seu caminho com ela. Sempre que podia, ela se esgueirava para ficar com Beaumont. Durante um ano foram piqueniques, passeios de canoas, caminhadas e beijos inocentes. Mas Locksley estava bêbado demais para se importar com tudo isso. — Não imediatamente. Meu pai descobriu o que estávamos fazendo. Ele insistiu que eu estava pecando com um lorde, embora nosso tempo juntos não fosse carnal, mas meu pai estava determinado a não lhe trazer vergonha. Então, ele arranjou para eu me casar com um fazendeiro. — Um agricultor quando você queria um Lorde, — ele zombou. 254


Ela estava ficando cansada dele pensar o pior dela. — Eu não me opunha a casar com um agricultor, mas ele tinha três vezes a minha idade. — Um pouco de ironia, já que respondeu ao anúncio do meu pai. — A pessoa faz o que é preciso. Beaumont pediu-me para ir a Londres com ele, prometeu que sempre cuidaria de mim, que me amava de todo o coração. Presumi que ele pretendia se casar comigo. Então eu fugi com ele. Ele era excitante, jovem, bonito e um Lorde. Que mulher poderia querer mais? Soltando-se da cama, Locksley se inclinou para frente e passou os dedos pelo poste mais próximo a ela, como se ainda precisasse de apoio para se manter em pé. — E quando você chegou a Londres? A verdade apareceu, mas ela se recusou a ver. — Ele me colocou em uma casa numa rua comumente conhecida como Rua das Amantes. Vários lordes arrendam moradias para suas amantes lá. Na época, achei que seria temporário. Ainda assim, eu estava tão feliz por estar longe de Fairings Cross, do meu pai e de um casamento com um homem velho que quando Beaumont me beijou com um pouco mais de urgência e alegou que ele morreria se ele não tivesse a mim, que eu não resisti. Afinal, íamos nos casar. — Mas você não se casou. — Não. Eu era tola o suficiente para acreditar que iríamos nos casar. Só até eu ficar grávida. Antes disso, ele disse que precisávamos esperar até que ele se estabelecesse dentro da aristocracia, até que fosse respeitado por todos que seria perdoado por se casar com uma plebeia. Caso contrário, a vida para mim seria desagradável. Ele estava tentando me proteger, entende? Ou então foi o que ele disse. E por que eu não deveria acreditar nele quando ele me amava e eu o amava? — Então você engravidou e percebeu que ele era um canalha. Ela segurou seu olhar. — Percebi que ele era muito pior que isso. Ele me disse que cultivaríamos o bebê e que alguém cuidaria dele. Eu estava devastada. Eu queria cuidar da criança, contratar uma babá. Mas ele me assegurou que não era assim que a aristocracia lidava com essas questões. Você está familiarizado com a criação de bebês? Ele piscou, soltou o braço da cama e apoiou o ombro nele. — Não. — O pequeno segredo sujo da classe alta. Sophie morava na casa ao lado da minha. É a amante do Lorde Sheridan. — Você dançou com ele no baile. Ela soltou uma gargalhada. — De fato, e isso embrulhou meu 255


estômago. — Felizmente ele nunca a conheceu, embora ela o tenha visto ocasionalmente entrando na residência de Sophie. — Você não pareceu descontente com as atenções dele. — Quando você serve como amante de um homem, aprende a disfarçar seus sentimentos. Sem as lições que aprendi com Beaumont, nunca teria passado pelo primeiro dia em Havisham. Você teria me descoberto em um segundo. Mas então, de qualquer forma, eu estava tomando chá da tarde com Sophie e mencionei a minha decepção que alguém iria criar meu filho, que o meu filho ou filha iria crescer longe de mim, e que eu não tinha ideia de quantas vezes eu poderia ser permitida a visitar minha criança. — Apertando firmemente suas mãos, ela se forçou a continuar. — Foi quando Sophie me explicou que quando Beaumont disse que alguém cuidaria da criança, ele não queria dizer que essa pessoa criaria e cuidaria dela. Em vez disso, ele quis dizer que essa pessoa iria matá-la. O silêncio que desceu sobre a sala era quase ensurdecedor. Portia queria que Locksley dissesse alguma coisa, qualquer coisa, mas ela entendia perfeitamente sua incapacidade de falar.

Naquele dia depois que Sophie lhe falou a verdade, ela olhou para a xícara de chá por longos minutos, tentando lidar com a horrenda realidade do futuro de seu filho. — Ele tinha uma amante antes de você, sabe? — Sophie tinha dito. Ela não sabia. — Ela morava na mesma residência que você. Eu vim a conhecêla muito bem. Ela também ficou grávida e ele deixou o bebê nascer. Ele levou o bebê dela em poucos minutos após o parto, quando ela estava fraca demais para impedi-lo. Seu coração apertou e as lágrimas brotaram. — Isso é horrível. — Ela nunca o perdoou. Quando ela estava forte o suficiente, ela tentou encontrar o bebê. Mas já era tarde demais, claro. Ela ficou tão desanimada que ele simplesmente a expulsou. Portia nunca se sentira tão mal em sua vida. Toda sensação de ternura que já tivera por Beaumont havia murchado em sua maldade e crueldade.

— Suponho que você o confrontou, — disse Locksley agora. 256


Lentamente ela balançou a cabeça. — Não, ele deixou sua posição clara, e eu entendi que ele lidou com o bebê de sua amante antes de mim da mesma maneira. Foi o filho dela que descrevi quando você me perguntou sobre minha fertilidade. Quanto a Beaumont, decidi que seria melhor fingir ignorância até determinar um curso de ação. Esses criadores de bebês anunciam no jornal. Geralmente é uma viúva, oferecendo-se para cuidar de um bebê doente por uma certa quantia por semana com a opção de pagar uma quantia maior e acabar com isso. — Olhando para Locksley, ela tomou algum conforto no horror gravado em seu rosto. — As pessoas estão realmente apostando em quanto tempo a criança vai viver. É mais barato pagar por semana ou mais vantajoso entregar uma taxa única mais alta? Eu não acreditei em Sophie no começo. Ninguém pode ser tão cruel a ponto de negligenciar uma criança até que ela morra. Mas vasculhei os jornais em busca dos anúncios, encontrei um casal e, enquanto estava lá, espiei o do seu pai. Eu vi o anúncio dele como uma maneira de salvar meu filho. — Certamente você tinha outras opções. — Escrevi para meus pais, dizendo que eu tinha me metido em problemas e queria voltar para casa. Meu pai me informou que eu estava morta para eles. Beaumont nunca me deu uma mesada. Eu nunca pensei em pedir uma. Ele me forneceu tudo o que eu precisava. Então eu não tinha moedas. Ele me deu várias peças de joalheria, mas ele as guardou em um cofre, para ser usado apenas quando ele quisesse. Eu não sabia como acessá-lo. Eu considerei penhorar alguns de seus bens, mas temi me encontrar acusada de ser uma ladra. Um homem que não tinha escrúpulos em matar seu próprio filho certamente não teria arrependimentos quando se tratava de fazer sua amante sofrer por desapontá-lo. O casamento com seu pai parecia a minha única salvação. Uma mulher na minha posição é difamada. Eu não teria conseguido emprego, nem mesmo em serviço. Então me diga, meu senhor, como eu iria sobreviver e manter meu filho vivo? — Tinha que haver outra maneira. A impertinência dele pensando que ela não havia esgotado todas as suas opções a irritava além da razão. — Sim, bem, quando você pensar, não deixe de me avisar. Enquanto isso, é tarde e estou cansada. Vou voltar a dormir. — Ela se virou para a cama. O braço dele veio e a agarrou, puxou-a contra ele. A fúria ainda ardia em seus olhos, mas ela viu algo mais ali, algo que quase parecia uma dor inimaginável. — Você deveria ter me contado, — ele disse. Enquanto a culpa dela aumentava por não ter falado nada para 257


ele, ela não podia escapar da verdade de onde aquele caminho teria conduzido. — Que diferença teria feito? Compreendo perfeitamente o que sou: uma desgraça, uma mulher solta sem moral. Se eu tivesse dito antes de nos casarmos, você ainda teria se casado comigo? Não? Me permitiria casar com seu pai como planejei? Eu duvido seriamente disso. Me daria uma casa, uma mesada, prometeria cuidar de mim e do meu filho de qualquer maneira? Ou me mandaria embora? Se eu tivesse dito depois que nos casássemos, você seria mais feliz do que é agora? Ele enfiou uma das mãos no cabelo dela. — Eu poderia querer te estrangular menos. Você tem alguma ideia do quanto me contive para não assassinar Beaumont na varanda? Foi por isso que você hesitou em ir para Londres. Você sabia que a verdade apareceria. — Eu sabia que havia uma chance. Eu rezei para que meu segredo permanecesse escondido, mas parece que ultimamente minhas orações não estão sendo respondidas. — O que significava, com toda probabilidade, que ela daria à luz um filho. — Você poderia ter me avisado antes de irmos para Londres. Só que ela sabia que iria perdê-lo. Ela queria segurá-lo um pouco mais. Ela balançou a cabeça enquanto as lágrimas queimavam em seus olhos. — Eu não pude. Eu sabia que a verdade faria você me odiar e eu cometi o erro terrível de me apaixonar por você. Ele deu uma risada cáustica. — Você parece se apaixonar facilmente. Raiva irradiou por ela. — Eu não vou ficar aqui e sofrer com a sua indelicadeza. Ela forçou passar por ele, mas ele agarrou seu braço, girou-a para encará-lo. — Fui criado por um homem que deu seu coração apenas uma vez. Você deu o seu para Beaumont. Você acha que sentir o mesmo por mim é algum tipo de honra quando eu sei que ele é um patife? Seu orgulho foi picado? Ou será que ele não acreditou nela? Por que ele deveria acreditar nela depois de todas as mentiras que ela disse a ele? — O que eu sinto por você, nunca senti por ele. Não tão intenso, nem tão grande, nem tão aterrorizante. Eu daria qualquer coisa para essa criança ser sua. A única coisa que não me arrependo nos últimos dois anos é que me proporcionou a oportunidade de conhecer você. — Droga, Portia. Maldita seja por ficar sob a minha pele, por cavar tão profundamente que o simples pensamento de te libertar me deixa ainda mais irritado. Era essa a sua maneira de dizer que ele se importava com ela, que ela o desapontara, arruinara a vida dele? Ela soltou uma risada amarga. 258


— Oh, eu não tenho dúvida de que estou condenada. — Nós dois somos amaldiçoados. Podemos muito bem aproveitar nosso tempo no inferno. — Sua boca pousou sobre a dela com uma certeza e um propósito aos quais ela sem dúvida deveria ter se oposto, mas ela não podia afastá-lo, não quando ela o queria tanto, não quando ela se sentia crua e exposta e tão terrivelmente sozinha. Ela podia tirar força dele, de seu desejo por ela. Ele poderia não amá-la - naquele momento, ele sem dúvida a desprezava - mas eles podiam se divertir unindo seus corpos. Além disso, ela o queria de uma maneira que ela nunca tinha sentido em sua vida. Olhando para trás, ela podia ver agora que ela tinha afeto por Beaumont, mas não tinha sido profundo, não tinha alcançado sua alma. Caso contrário, ela não teria sido capaz de se afastar tão facilmente, sem olhar para trás, sem nenhum arrependimento. O mesmo não poderia ser dito de Locksley. O que ela sentia por ele era grandioso. Em circunstâncias normais, eles nunca teriam se encontrado, mas se tivessem, certamente, nunca teriam se casado. E, no entanto, apesar da agonia de perdê-lo, ela não conseguia se arrepender. Ele arrastou a boca ao longo de sua garganta e ela baixou a cabeça para lhe conceder acesso mais fácil. Tinha sido um tormento dormir sozinha, não tê-lo na cama depois das palavras cortantes de Beaumont. — Estou bêbado, — ele rosnou. — Mande-me embora. Se ele estivesse sóbrio, ele não estaria aqui. Se ela fosse a garota boa e decente que seu pai tentou convencê-la, ela não estaria aqui. Mas ela não era boa nem decente, e se bêbado era a única maneira que ela poderia tê-lo, ela o tomaria bêbado. — Não, — ela respirou em um suspiro rouco. Eles caíram na cama e ele ficou imóvel, completamente imóvel. Ela ouviu um ronco sonoro. Seria melhor assim. De manhã, ele não iria se lembrar de nada sobre hoje à noite. Deitada de lado, ela pressionou suas costas contra o peito dele, tirando conforto de sua proximidade, sabendo que ela nunca poderia tê-lo novamente. Ele colocou o braço sobre ela, seus dedos espalmados descansando contra sua barriga redonda. A criança se mexeu, a mão dele se encolheu, antes de pressioná-la mais firmemente contra ela. — Eu gostaria que fosse meu, — ele murmurou. Seu coração quase quebrou. As coisas entre eles nunca mais seriam as mesmas, nunca voltariam a ser verdadeiras, porque ele agora possuía o conhecimento sobre algo que não podia desfazer, que nunca poderia ser ignorado ou esquecido. 259


Ela desejou que fosse dele também, mas não era. Isso nunca seria. Ela estava errada em acreditar que poderia ser.

Capítulo 24 Locke acordou com a cabeça tão pesada quanto seu coração. Ele preferiu não ter perguntado a Portia sobre sua história com Beaumont, porque ele tinha uma forte necessidade de voltar a Londres e espancar o homem até a última polegada de sua vida. Ele vislumbrou sua inocência quando ela matou aranhas, quando caiu nos braços de um lacaio que esperava e riu, quando dedilhou sobre as teclas do piano. Ele desejou que ele a tivesse conhecido antes de Beaumont ter arrancado sua inocência, embora ele soubesse que ele a teria considerado pura demais para os gostos dele, teria lhe dado um pequeno pensamento porque ela teria sido simpática e isso era a última coisa que ele queria em uma mulher. Que irônico, então, que ele acabou com uma que ele poderia vir a amar. Ele não deveria ter vindo até ela, deveria ter resistido, mas onde ela estava envolvida, ele não tinha resistência, tinha sido assim desde o momento em que ele abriu a porta para ela. Ele a amaldiçoou por trazer uma solidão à sua vida que nunca antes experimentara. Ele nunca teve nenhum problema em dormir sozinho, e agora ele desprezava isso. Ele sentia falta dela, maldição, e com sentimentos suficientes correndo por ele, sua determinação para evitá-la enfraquecera. Não que ele precisasse de desculpas. Ela ocupava seus pensamentos a cada minuto de cada hora. E ainda assim ela o colocou em uma posição inconcebível: escolher entre dever e desejo, entre felicidade e miséria, entre perdão e orgulho. Entre a jornada de volta para Havisham e ficar deitado nessa cama o dia todo, fingindo que Londres nunca havia acontecido. Procurando por ela, sua mão nada encontrou além de lençóis amarrotados. Apertando os olhos, ele levantou a mão para proteger os olhos da ofuscante luz do sol entrando pela janela, luz que causava não apenas os olhos, mas a cabeça a doer. Deus, que horas eram? Quanto tempo eles dormiram? 260


Parecia que os deuses queriam que eles tivessem um dia sem que a realidade caísse neles. Ele aceitaria. Com um gemido, ele se levantou. Seu crânio se revoltou, ameaçando se dividir em dois se ele não se movesse lentamente. Ele se perguntou se era possível que Portia lhe trouxesse algum café forte e algo para comer. Seu estômago provavelmente não ia gostar, mas ele precisava se alimentar para pensar com mais clareza. Certamente esta situação tinha uma solução. Ele duvidava que fosse muito arrumado, mas ele passou sua juventude vivendo em uma residência desarrumada. A limpeza era superestimada, no que lhe dizia respeito. Sentou-se na beira da cama pelo que pareceu uma eternidade, esperando Portia voltar. Era da natureza dela cuidar das pessoas, das coisas. Certamente ela reconheceu que ele estaria sofrendo ao acordar. Por outro lado, ela não estava propensa a beber e nunca o viu em tal estado. Talvez ela não tivesse a menor ideia de quanto a bebida poderia fazer um homem sofrer. Cuidadosamente, lentamente, ele se levantou. Um rápido olhar no espelho fez com que ele fizesse uma careta. Ele estava longe de estar no seu melhor. Ele se sentiria melhor depois de se arrumar e se juntar a sua esposa para uma refeição rápida. Só que ele percebeu rapidamente que ela não estava sentada em nenhuma das mesas, porque a taverna estava bastante vazia. — Tarde, meu senhor, — a proprietária gritou, sua voz lembrando-o do grito severo de um pássaro irritante que ele tinha percorrido durante suas viagens. Já era de tarde? Bom Deus, como ele dormiu. — Tandy, posso tomar um café? — Absolutamente, meu senhor. Eu vou buscá-lo imediatamente. — Ela se virou para ir embora. — A propósito, você viu Lady Locksley? Ela se virou e olhou para ele como se ele fosse alguma estranha nova espécie de inseto. — Sim, senhor. Eu a vi pela primeira vez esta manhã, bem cedo. Falar com ela era como conversar com os criados em Havisham. Às vezes eles faziam perguntas muito literalmente. — Por acaso você sabe onde eu possa encontrá-la agora? — Bem vamos ver. Já faz seis, quase sete horas, então eu diria que estaria a quase trezentos quilômetros de distância, se ela continuasse andando. 261


Olhando para ela, ele percebeu que realmente precisava do maldito café. — Eu imploro seu perdão? Duzentos quilômetros de distância? Você está dizendo que minhas carruagens já foram embora? — Não importava, já que ele estava cavalgando, mas não fazia sentido. — Não, meu senhor. Eu estou dizendo que ela pulou em uma diligência. Ele correu para fora sem um bom motivo, como se esperasse ver o veículo ofensivo no horizonte. Claro que ele não podia. Ele viu suas carruagens esperando para ter cavalos atrelados a elas, e um de seus cocheiros encostado no prédio, falando com uma garota que servia. Quando Locke se aproximou dele, o cocheiro pareceu culpado como o inferno. Sem dúvida porque ele foi pego flertando. — Você viu Lady Locksley sair esta manhã? Seus olhos se arregalaram, sua boca caiu. — Não, meu senhor. Como ela poderia sair? As carruagens ainda estão aqui. Ele não ia entrar nessa com o homem. — Você viu Cullie? — No café da manhã. Ela voltou ao seu quarto para cuidar da necessidade de Milady e organizar a bagagem. Dane-se tudo para o inferno. Por que ele não notou que sua esposa tinha feito as malas e ido embora? Porque as coisas dela ainda estavam lá. Ele pode estar se sentindo podre, mas ele não estava cego. Então, onde ela estava indo e como ela iria fazer o seu caminho? Ele correu de volta para a taverna, subiu as escadas e entrou no quarto que eles haviam compartilhado. Como um louco, ele começou a rasgar seus pertences. — Senhor? Ele se virou ao som da voz de Cullie. Ela parecia horrorizada por suas ações, ficaria ainda mais horrorizada quando soubesse a verdade da situação. — Estou procurando as pérolas de Lady Locksley. Onde você as embalou? — Ela estava carregando-as em sua bolsa. Deveria ser deixada fora em aberto, mas não estava em lugar nenhum para ser visto. Ele fechou os olhos apertados. Ela poderia leválas a uma casa de penhora, trocá-las por moedas. Não o suficiente para levá-la longe, mas o suficiente para mantê-la por um tempo. Mas para onde ela iria? Como ela seguiria? Que diabos ela estava pensando? E agora com ela saindo de sua vida, por que de repente ele sentiu que poderia enlouquecer? 262


***** Era o pior lugar que ela poderia vir, mas não tinha outro lugar para ir. Batendo na porta dos empregados, ela prendeu a respiração, esforçando-se para não pensar sobre o que poderia ter passado pela cabeça de Locksley - além de muita dor, considerando o quanto ele havia bebido - quando ele acordou esta manhã para encontrá-la fora. Será que ele teria se importado ou teria pensado em uma boa saída? Um lacaio abriu a porta, piscou para ela, franziu a testa, e ela sabia que ele estava tentando reconhecê-la. — Estou aqui para ver a senhorita Sophie. — Qual é a natureza do seu negócio? — É pessoal. — Em sua bolsa, ela tinha vários cartões de visitas que Locksley lhe dera quando chegaram a Londres, no caso dela fazer visitas pelas manhãs. Ele tinha tanta fé nela, conquistando o amor e o respeito da sociedade, de ser bem-vinda, de ser aceita como sua esposa. Em vez disso, ela simplesmente conseguiu arruinar sua vida. E ela estragaria ainda mais se ela entregasse um cartão de visitas e alguém descobrisse que Lady Locksley estava muito familiarizada com a Srta. Row. — Apenas informe a ela que Portia veio para visitá-la. — Entre. Grata pela oportunidade de sair da visão de alguém espiando-a através de uma janela em uma residência vizinha, ela pisou no limiar e entrou na pequena área onde o mordomo, governanta ou cozinheira costumava falar com vendedores que não tinham permissão para entrar na residência. Ela conhecia esse lugar. Quando ela havia tentado sair disso, a marcou como uma garota muito tola. Ela chegou a Londres antes do anoitecer, mas esperou até a noite cair para vir até aqui, na esperança de evitar olhares desconfiados e diminuir suas chances de ser descoberta. Ontem à noite com Locksley aconchegado contra ela, sua mão em sua barriga, ela foi incapaz de dormir, e simplesmente ficou lá considerando a injustiça de suas ações. Bem ciente das ramificações de esta criança ser um menino, ela deveria ter de ir embora, nunca deveria ter se casado com Locksley. Exausta, assustada e desesperada, não desculpou suas ações, não justificou que ela manchasse uma linhagem. Ela simplesmente não tinha realmente entendido o orgulho em sua linhagem que a aristocracia se apegou. O rápido bater de passos a fez endireitar a coluna, forçando um sorriso. Sophie dobrou a esquina com um roupão de seda cor-de-rosa, o cabelo preto caindo pelas costas, por cima dos ombros. Ela não parou até que seus braços estavam ao redor de Portia e ela estava abraçandoa com força. — O que você está fazendo aqui? 263


Portia recostou-se, lutou para não parecer tão preocupada. — Estou um pouco enrolada novamente. Sophie olhou por cima do ombro. — Sheridan poderia chegar a qualquer momento. — Ela voltou seu olhar para Portia. — Você pode ficar em um quarto dos fundos, mas precisa ficar quieta. Ele não está interessado em ter companhia. — Eu não vou dar um pio. — Está com fome? — Morrendo de fome. Sophie levou-a a um quarto e trouxe uma bandeja. Portia se sentiu como um glutão quando se sentou em uma cadeira diante da lareira e atacou a carne e as batatas. — Quando foi a última vez que você comeu? — perguntou Sophie, sentando-se em uma cadeira próxima, observando-a com carinho. Ela era a irmã que Portia nunca teve, tão diferente e acolhedora, enquanto suas verdadeiras irmãs haviam apoiado seu pai e constantemente encontravam defeitos nela. — No café da manhã. — Isso não pode ser bom para o bebê. Portia riu. — Ele me deixou meio informada sobre isso. — Ele chutou várias vezes durante o dia. Ela lambeu os lábios. — Beaumont te incomodou quando ele descobriu meu sumiço? Sophie revirou os olhos. — Ele era como um touro furioso, querendo saber onde você estava. Mas como você não me disse para onde estava indo, eu não poderia contar a ele, não importa o quão terríveis as ameaças dele. — Ele não te machucou, não é? Com uma zombaria, Sophie deu de ombros e riu. — Sheridan o teria matado se ele me tocasse e bem, ele sabia disso. Mas recentemente eu vi o anúncio sobre o seu casamento no jornal. Você se casou com um Lorde! — E agora devo divorciar-me dele. Clara preocupação refletida em sua expressão, Sophie se inclinou para ela. — Por quê? Você tem um título, dinheiro, posição. Você tem tudo que sempre sonhou em ter, como você me falou sempre que conversamos. Portia, por que desistir de tudo? Suavemente, ela colocou a mão na barriga dela. — E se for um 264


menino? Eu não posso fazer isso com ele. Eu pensei que poderia, mas não posso. Seus títulos e propriedades deveriam ir para um filho que carrega seu sangue. — Oh, Senhor, por quê? — Sophie pulou e começou a andar de um lado para o outro. — Eles não se importam com a gente. Eles estão estragados e podres. Eles não pensam em tirar vantagem porque nos consideram abaixo deles. — Girando ao redor, ela agarrou o encosto da cadeira. — Nós não lhes devemos nada. — Nem eles nos devem. Ele não colocou esse bebê na minha barriga. Não é responsabilidade dele. — E como você vai lidar com isso? — Eu não trabalhei os detalhes ainda. Tudo isso aconteceu de repente. — Levantando os ombros, ela sorriu conscientemente. — Eu sou muito boa em limpar casas. Com um suspiro exagerado, Sophie voltou a se sentar na cadeira. — Seria menos esforço e benefícios muito melhores encontrar outro lorde para mantê-la. Ela balançou a cabeça. — Isso não funcionaria para mim. Sophie olhou para ela. — Meu Deus. Você se apaixonou por ele. — Sim, foi. — Bem, isso foi uma coisa bastante boba de se fazer. É por isso que você quer o divórcio. Ela não pôde deixar de rir. — Irônico, sim? Eu estou deixando ele porque eu o amo. Eu o amo muito, Sophie. Dez, vinte... cem vezes mais do que eu amei Beaumont. Ele se casou comigo para proteger seu pai. Ele é um bom homem. Uma batida soou na porta e uma empregada colocou a cabeça para dentro. — O senhorio está aqui, senhorita. Assentindo, Sophie levantou-se. — Obrigada. Diga-lhe que desço daqui a pouco. — Depois que a criada saiu, ela olhou para Portia. — Eu sou querida. — Só que ela não era, não realmente, não da maneira que Portia se sentia desejada por Locksley. — Fique à vontade, descanse um pouco e conversaremos mais amanhã. — Obrigada, Sophie. Eu não vou ficar. — Você pode ficar o tempo que Sheridan não souber que você está aqui. Boa noite. Depois que ela se foi, Portia deixou a bandeja de lado, caminhou 265


até a cama e se esticou sobre ela. Ela deveria ter arrumado algumas roupas, mas estava preocupada em acordar Locksley, e viajar com um baú dificultaria a movimentação rápida e despercebida. Ela tinha andado em uma diligência que estava indo para o norte. Na primeira aldeia, ela desembarcou e esperou por outra diligência que fosse para Londres. Sabia que a proprietária do Peacock Inn a viu subir na carruagem, por isso queria deixar uma trilha confusa, para o caso de Locksley acordar cedo e procurar por ela. Ele dormiu até tarde ou não veio atrás dela. Provavelmente o último, que foi uma coisa boa. Isso tornaria as coisas muito mais fáceis no futuro. Infelizmente, isso não aliviaria a dor de seu coração partido.

Capítulo 25 Ele cavalgou como um louco durante todo o dia e durante a noite a fim de alcançar a diligência. Quando finalmente a alcançou, ele descobriu que ela tinha desembarcado na primeira aldeia em que parou. Naturalmente, quando ele retornou até lá, ela não estava em lugar nenhum. Então, onde diabos ela foi? Ela não voltaria para Havisham. Disso ele estava bastante certo. Sem saber ao certo como explicar aquela situação ao pai, ele mandou as carruagens e os empregados de volta a Londres enquanto ele prosseguia para Fairings Cross. Achava improvável que ela buscasse ajuda de seus pais, mas ele estava esperançoso de que eles pudessem lançar alguma luz sobre onde ela poderia procurar refúgio. Tendo participado de alguns bailes na propriedade rural de Beaumont, Locke estava familiarizado com a área e procurou a casa paroquial perto da igreja. Depois de bater na porta, ele olhou ao redor, seu peito apertando enquanto estudava o imponente carvalho que roçava uma janela no nível mais alto. Imaginou Portia - corajosa, audaciosa, indiferente aos perigos - descendo. Ele esperava que, onde quer que ela estivesse agora, ela estivesse exercendo mais cautela. Quando ele a alcançasse, ele iria sentá-la e fazer mil perguntas para que ele soubesse todas as coisas sobre ela e ela nunca mais pudesse enganálo. Ele precisava saber como ela pensava, onde ela poderia ir, o que ela esperava realizar. 266


A porta se abriu e uma jovem criada entrou. — Sim, senhor? Ele entregou seu cartão. — Visconde Locksley para ver o reverendo Gadstone. — Sim, meu senhor. Por favor entre. Ele entrou em um ambiente austero e foi levado a uma sala de estar igualmente espartana. Exceto pelas rosas, que o lembraram de Portia. Ela gostava tanto de suas flores. Pelo menos ele sabia algumas coisas sobre ela. Tudo aqui estava limpo e arrumado. Ela deve ter ficado chocada quando ele a levou em sua primeira turnê em Havisham. Não, ela apenas olhou para tudo e viu o potencial. Ele se perguntou se ela reconhecera o potencial nele, se ela soubesse que poderia abri-lo tão facilmente quanto a casa. Ela poderia roubar as teias de aranha que cercavam seu coração e trazer a luz. Virando-se ao ritmo de passos, não se surpreendeu com a rigidez do homem que entrava ou a expressão sombria da mulher a seu lado. Nenhum deles parecia ser o tipo que já riu. — Meu senhor, eu sou o reverendo Gadstone e esta é minha esposa. Como posso estar lhe ajudando? — Estou procurando sua filha. Ele inclinou a cabeça para o lado como um cachorro confuso. — Florença ou Louisa? — Portia. Sua esposa deu um pequeno suspiro, enquanto o reverendo meramente endureceu suas feições em uma máscara intransigente. — Não temos uma filha chamada Portia. — Foi o que eu ouvi. Há alguém na família que possa não tê-la julgado tão duramente quanto você? Seu queixo surgiu de uma maneira similar ao de Portia, mas Locke não achou nada perto de tão adorável ou encantador. Em vez disso, ele teve um desejo de introduzi-lo ao seu punho. — Ela é uma pecadora, trazendo um bastardo para este mundo. É seu? Você deitou com ela? — Você vai domar a sua língua quando você fala da minha esposa. Seus olhos se arregalaram e ambas as cabeças voltaram para trás como se ele tivesse dado um soco. 267


— Ela é sua esposa? — perguntou a Sra. Gadstone, claramente desorientada pela ideia. Ele considerou, que qualquer outra mulher que poderia ter se casado com ele teria vindo aqui, envolta em seda e joias, chegando em uma elegante carruagem, e ostentando sua recém-obtida posição sobre eles, teria insistido que eles se curvassem diante dela, dirigir-se a ela por seu título, fazendo-os reconhecer que eles estavam abaixo dela. Mas não sua Portia, porque ganhar um título não era seu objetivo, não significava nada para ela. Ele chegou a perceber esse fato sobre ela, mas tê-lo reconfirmado agora só enfatizava o quanto ele a julgara mal. Como ele julgara mal seu próprio valor. Ela precisava de alguém para protegê-la e a seu filho. Mesmo que ele não possuísse título, não possuísse propriedades, ele tinha dentro de si para protegê-la da dureza da vida. — Ela é minha esposa. Por alguns meses agora. Ela e eu tivemos um pouco de discussão. Estou me esforçando para determinar onde ela poderia ter ido. — Eu não estou nem um pouco surpreso que ela fugiu de você porque as coisas não estavam muito a seu gosto, — disse o reverendo. — Ela estava sempre fugindo, se escondendo quando sabia que era hora de mudar, nunca disposta a assumir suas responsabilidades, aceitá-la devidamente. — Você se impou com ela? — Aqueles que o conheciam estavam cientes de que seu baixo teor falaria de advertência, de ameaça, mas Gadstone não tinha a perspicácia de perceber que estava pisando em terreno perigoso. — Frequentemente. Ela tinha o diabo dentro dela. Nunca ficava sentada na igreja. Nunca memorizava corretamente as passagens bíblicas que lhe dei. Caminhando até a orla para perseguir borboletas. Ela era incorrigível, recusou-se a aceitar minha vontade. “Bom divertimento” estava na ponta da língua, mas ele manteve seus pensamentos para si mesmo. Não admira que ela tenha visto Beaumont como sua salvação. Não teria sido muito gentil da parte dele conquistá-la. — Ela tem alguma amiga na aldeia? — Nenhuma que a reconheceria agora. Ela é uma mulher caída, uma desgraça. Eles não se associariam com ela nem a ajudariam. Todos sabem o que ela é — zombou ele. Ela disse a ele que não tinha ninguém, mas ainda assim ele teve dificuldade em acreditar que ela estava completamente, absolutamente sozinha e sem recursos. Embora desde que ele a julgou mal quando a conheceu, ele era melhor do que essas pessoas horríveis? Ele deu um 268


puxão rápido e impaciente em suas luvas. — O que ela é, senhor, é uma viscondessa que um dia será uma marquesa. Sim, posso ver por que eles não desejam ser vistos na sombra dela. Agradeço sua ajuda. — Reze para que não a encontre, meu senhor. Ela será sua ruína. A necessidade de acertar o pai de Portia fez seus músculos tremerem com sua restrição, mas homens como ele não atingia um homem de Deus. Ele passou por ele. Para o inferno com isso. Ele se virou e deu um bom soco sólido àquele queixo hipócrita. O golpe fez o homem aterrissar no chão em uma expansão e sua esposa gritando. Locke se inclinou sobre ele. — Ela é a mulher mais notável que já conheci. Eu vou encontrá-la. Se isso me levar ao fim dos meus dias, eu a encontrarei. Ele saiu, montou em seu cavalo e começou a cavalgar de volta a Londres. Ele sabia que vir aqui provavelmente seria uma loucura, uma perseguição, mas uma parte dele queria ver onde ela crescera, conhecer seus pais. Que ela acabou sendo tão generosa e gentil foi um milagre. Por ela ser forte, não tanto. Ela tinha que ser para sobreviver. Eles poderiam ter matado seu espírito, mas eles não conseguiram fazer isso. Ele a admirava ainda mais por não sucumbir aos seus ditames. Ele a encontraria, moveria toda a terra se fosse preciso.

O conde de Beaumont nunca tivera tanta sorte jogando cartas como naquela noite no Twin Dragons. A partir do momento em que se sentou meia hora antes, ele pegou todas as mãos. Este último não seria uma exceção. Sorte estava sorrindo tão brilhantemente para ele... — Eu preciso de uma palavra. Cristo, ele quase pulou para fora de sua pele na grosa e baixa voz perto de sua orelha. Ele reconheceu o tom do dono como algo que não augura nada de bom. Ele virou a cabeça, seu olhar batendo no de Locksley, os olhos verdes indicando que um preço alto seria pago por qualquer desobediência. Mas ele era conhecido por sua teimosia. — Eu estou ocupado de outra forma. — Ele tinha que soar como se seu coração estivesse alojado em sua garganta? Locksley pegou suas cartas e jogou-as no chão. — Ele está fora. — Veja aqui... O visconde virou-se para encará-lo. Havia uma tensão, um perigo, sem dúvida, adquirido pelas suas experiências nas suas caminhadas 269


pelas selvas. Nem mesmo o rei da selva gostaria de se envolver com um homem que parecia ter prazer em devorar sua presa para o jantar. — Fora. Uma palavra. Um comando. Mas Beaumont não era um completo idiota. Ele precisava ter certeza de que havia muitas testemunhas para não desaparecer de repente da face da terra. — A biblioteca. Um breve aceno de cabeça e o visconde recuou. Recuperando a compostura Beaumont olhou ao redor da mesa. — Eu voltarei. — Ele esperou, rezou. — Mantenha meus ganhos para mim. Os dragões podem ser um clube de vícios, mas era honesto. Relutante, seguiu Locksley até a biblioteca, lembrando-se da noite em que ele se juntara a ele na esperança de saber mais sobre seu casamento com Portia, de se esforçar para determinar quando poderia vê-la. Não surpreendentemente, Locksley escolheu uma área de estar em um canto de trás da sala, longe de todos os outros. Quando eles se instalaram, ele fez pouco mais do que estudar Beaumont com um olhar intenso até que um lacaio entregasse suas bebidas. Beaumont odiava que sua mão tremia quando ele ergueu o copo, tomou um bom gole fortificante e se inclinou para frente. — Olha, eu não disse uma palavra sobre o passado de Portia... — Onde ela está? — Locksley foi direto ao ponto, exceto que Beaumont não sabia qual era o argumento. Recostando-se, ele olhou ao redor. — Quem? — Portia. — Como diabo eu deveria saber? — Então o ponto chegou a ele, afiado, claro e sempre tão satisfatório. Ele não pôde deixar de sorrir como um lunático. — Ela fugiu. Isso impulsionou o orgulho de Beaumont em saber que ele não era o único que ela havia deixado. Locksley estreitou os olhos até que eles pareciam a borda finamente afiada de uma espada. O sorriso de Beaumont diminuiu e ele lutou contra o desejo de sair correndo. — Ela não veio até mim. Mas querido Deus, ele desejou que ela tivesse vindo. Ele sentia falta dela mais do que achava ser possível sentir falta de alguém. Ele lidou mal com ela. Em vez de ordená-la, ele deveria tê-la atraído como ele fizera no começo. Ele poderia tê-la vencido com a devida abordagem. — Onde ficava a residência dela? 270


Com a óbvia necessidade do visconde de sua ajuda, de repente ele estava se sentindo bastante superior. — Você quase quebrou meu queixo. Ainda dói. — O hematoma era uma vergonha, mais pior ainda era o fato de que ele precisava cortar a comida em pedacinhos, porque mal conseguia abrir a boca. — Se você não me disser onde ela morava, então, o próximo golpe certamente o quebrará. Ele suspirou. — Você não vai me dar um soco aqui. O olhar de pedra que ele deu disse que ele realmente faria. Beaumont deu um gole no seu scotch e estudou o copo. — Ela não está lá. Minha amante atual é do tipo ciumento. Ela não teria recebido ela. — Não demorou muito para substituí-la. — Um homem tem necessidades, — ele disse indignado. — Além disso, ninguém poderia substituí-la. Eu a amava, você sabe. — Você tinha uma maneira estranha de mostrar isso. — Ela não trouxe nem moeda nem posição para um casamento. Eu estou precisando de ambos. — Você ia ter o filho que ela carregou morto, — ele assobiou. — As esposas não gostam de ter bastardos correndo por aí. Meu pai cuidou disso da mesma maneira. De qualquer forma, não posso me dar ao luxo de cuidar de um grupo de crianças. — Mas você pode pagar uma amante. — Como afirmei, um homem tem necessidades. É preciso priorizar. — Eu tenho uma grande necessidade de dar um soco em você novamente. Você é poupado apenas porque não tenho vontade de tocar em você. Ele odiava que esse homem que estava abaixo dele na hierarquia estivesse comandando-o e dominando sobre ele. — Bem, pelo menos meu pai não era um maluco. Locksley atacou com tanta rapidez que Beaumont nem percebeu, mas a dor que lhe atravessou o rosto lhe disse que seu nariz, pelo menos, estava quebrado. Seus olhos lacrimejaram quando ele tirou o lenço do bolso para coletar o sangue escorrendo. — Onde ela morava? Com os dentes cerrados, ele retificou o endereço. — Mas como 271


eu disse, você não vai encontrá-la lá. — Estou bem ciente disso. Mantenha esta conversa e seu relacionamento passado com ela para si mesmo, ou verei você arruinado. Ashebury e Greyling me ajudarão a ver isso. Como se quisesse se meter com os Sedutores. Um já era ruim o suficiente. Todos os três garantiriam que ele nunca mais fosse bem recebido na Alta Sociedade. — A ameaça é desnecessária. Acredite ou não, eu quero que ela seja feliz. Mas se você a machucar... Ele não teve chance de completar sua ameaça, pois Locksley já tinha ido embora. Foi um momento estranho para perceber que ele nunca tinha invejado mais um homem.

Ela odiava se separar das pérolas, mas não tinha outra escolha. Infelizmente, elas não trouxeram tanto dinheiro quanto ela esperava, mas foi o suficiente para que ela se sentisse confiante em ir ao seu advogado, que ela pudesse pagar sua taxa. Como se viu, ele não cobrava por seu conselho, já que não havia nada que ele pudesse fazer por ela. — Eu não posso me divorciar dele. — Portia andava em frente à lareira em seu quarto temporário. — Eu pensei que a infidelidade era uma razão justificável para obter o divórcio, — disse Sophie. — Sim, mas não posso divorciar-me porque cometi adultério. Só ele pode se divorciar de minhas transgressões. — Você pode se divorciar dele se ele cometer adultério, então diga que ele fez. Balançando a cabeça, ela parou de andar. — Não. Não vou querer que uma mulher com quem ele queira se casar futuramente, questione sua fidelidade. Ele é leal. Além disso, não é suficiente eu ser adúltera. Ele deve ter me abandonado por dois anos. Eu ainda não tenho que ser aquela a abandoná-lo. Existem leis diferentes aplicadas aos homens do que às mulheres, o que torna quase impossível para uma mulher sair de um casamento indesejado. Na verdade, torna tudo difícil para uma mulher. — Não que o dela tivesse sido indesejado. Foi maravilhoso e requintado. — Bem, a lei sempre prevalece, não é? Torna-se difícil para as mulheres agirem. — Sophie, eu não sei como fazer isso direito. — Ela se jogou na cadeira. — Eu poderia escrever uma carta para o Times, explicando que eu era infiel. Uma vez publicado, ele não teria escolha a não ser se 272


divorciar. Embora ele me odiasse ainda mais por isso. — O que importa o quanto ele te odeie? Ela assentiu, lutando contra a desolação e as lágrimas. — Você está certa. O que importa é que o filho de Beaumont não se torne o herdeiro de Locksley. — E quando você estiver livre de Locksley? Sua garganta e peito se apertaram. Ela não poderia ter engolido se precisasse. — Vou encontrar uma família - uma família adequada que vai amar e cuidar desse bebê como se ele fosse seu. Eu nunca deveria ter sido tão egoísta a ponto de querer mantê-lo. — Ou ela. Ela riu. — Ou ela. — Apesar de ultimamente, parecia que ela podia imaginar-se com um filho, um com cabelos negros e olhos verdes. — Mas como você vai se sustentar? — Vou trabalhar, suponho. — Sem um filho ilegítimo para marcála como uma mulher decaída, seria mais fácil encontrar emprego. Mas como ela sentiria falta de alguém para amá-la incondicionalmente. Um forte golpe a fez virar-se para a porta quando a criada a abriu e entrou. — Chegou um cavalheiro, — disse ela, entregando a Sophie um cartão. A amiga dela leu, as sobrancelhas erguidas. — Bem, eu diria, que ele não está aqui por mim. — Ela estendeu o cartão. Portia pegou, seus olhos atentos para o que ela temia ver. Seu coração galopava como se precisasse sair do quarto, da residência, de Londres. — O que diabos ele está fazendo aqui? — Ele veio para trazê-la de volta, — uma voz profunda e familiar disse da porta. Ela se levantou da cadeira, deu dois passos para trás e agarrou a lareira para se firmar. Ele parecia maravilhoso. Todos os cabelos no lugar, o rosto recém-barbeado, as roupas imaculadas. Tão diferente da última vez que o viu vagar em um quarto de dormir, a última vez que ela olhou para ele esparramado sobre a cama. Graciosamente, Sophie levantou-se e começou a conduzir a empregada. — Onde você está indo? — Portia exigiu. — Deixando vocês conversar. 273


Ao se aproximar de Locksley, ele disse: — Você deve ser a senhorita Sophie. Claro que ela contou a ele sobre Sophie, exclamou ela. Esse conhecimento sem dúvida ajudou-o a encontrá-la. — Eu sou de fato, meu senhor. Ele pegou a mão dela, inclinou-se beijou seus dedos. — Obrigado por ser sua amiga. — Nós acreditamos que as mulheres devem ficar unidas. — Ela olhou por cima do ombro para Portia. — Ele é bem encantador. Eu acredito, que vale a pena. Só a aprovação dela não tinha peso, não podia desfazer o terrível erro. Assim que Sophie ficou fora de vista, ele fechou a porta e encostou-se nela, nunca tirando o olhar de Portia. Ela não ia cair naquelas profundezas verdes; ela não ia permitir que ele a dissuadisse de seu caminho. — Estou feliz que você esteja aqui, — ela afirmou sucintamente. — Não, você não está. Ela mordeu o interior de sua bochecha. — Não, eu não estou, mas como você parece estar um pouco sóbrio... — Estou completamente sóbrio. — Você pode estar mais aberto ao meu plano. — E que plano é esse? Ele tinha que ficar lá tão calmo, soar tão razoável? Ela soltou o suporte da lareira porque seus dedos estavam entorpecidos e apertou as mãos logo acima da cintura, acima de onde seu filho estava crescendo. — Vamos fingir a minha morte. Sua expressão perplexa deu-lhe um pouco de satisfação. Saber que ela podia baixar a guarda dele, assim como sua aparência tinha feito tão facilmente para a dela, foi gratificante. — Eu imploro seu perdão, — ele perguntou. — Você vai dizer às pessoas que eu morri no parto, se necessário, e eu vou silenciosamente escapar para que você possa se casar novamente. Ele se empurrou para longe da porta. — Então você quer que eu seja um bígamo? Nenhum dos filhos que minha segunda esposa me desse seria legítimo. 274


— Ninguém precisa saber disso. No entanto, para garantir sua legitimidade, vamos nos divorciar primeiro, mas em silêncio, para que você não tenha que sofrer com a humilhação... Ele começou a andar em direção a ela. — Não existe divórcio silencioso. Além disso, seria uma questão de registro público. — Ninguém vai procurá-lo, — disse ela, impaciente. Ele estava muito perto agora. Ela podia sentir o perfume de sândalo e laranja dele, queria inalá-lo em seus pulmões e mantê-lo lá para sempre. Como ela comeria uma laranja sem pensar nele? — Você ainda não aprendeu que os segredos nunca permanecem como segredos? Além disso, eu já lhe disse antes que não haverá divórcio. Ela não recuou desta vez porque sabia que ele só avançaria, então ela ficou firme até que ele parou em frente a ela. Só então ela notou os círculos escuros sob os olhos, os novos vincos nos cantos. — Locksley, seja razoável. Se eu estiver carregando um menino... — Então ele será meu herdeiro. — Precisamente. Qual é a razão pela qual você deve se livrar de mim o mais rápido possível. Se houver uma maneira de anular... — Não haverá anulação. — Você vai parar de me interromper? Isso irrita o diabo fora de mim quando você interrompe. Eu direi todas as mentiras que serão necessárias... — Sem mais mentiras, Portia. Ele fez isso de novo, interrompeu-a, mas antes que ela pudesse objetar, ele embalou seu rosto entre as mãos. Tão quente, tão familiar. Ela queria ele tocando-a uma vida inteira. — Ouça-me, com cuidado, — disse ele lentamente, como se ela fosse burra. — Não vamos nos divorciar, e isso não tem nada a ver com constrangimento público, ridicularização ou vergonha. Eu não dou a mínima para o que as pessoas pensam de mim. Meu Deus, eu cresci entre sussurros sobre meu pai louco e nossa propriedade assombrada. Você realmente acha que um divórcio me deixaria humilhado? — Então por que não fazer isso? Se você está disposto a suportar a vergonha disso, por que não se divorciar de mim? — Porque eu não estou disposto a desistir de você. Para você ver, minha pequena megera, eu me apaixonei loucamente por você. 275


Era como se ele tivesse fechado seu punho ao redor do coração dela. Lágrimas ardentes, encheram seus olhos, rolaram sobre suas bochechas. Beaumont disse a ela que a amava, mas isso nunca tinha sido tão sincero, tão esmagador. Nem tão edificante que a fizesse sentir como se estivesse voando. — Mas sua linhagem. — Eu não me importo com a minha linhagem. Eu me importo apenas com você. — Ele olhou para baixo. — E com esta criança que significa muito para você. — Ele ergueu os olhos para os dela. — Como eu disse antes, se você está carregando um menino, ele será meu herdeiro e eu o reconhecerei como tal. Ele vai me conhecer e não outro como seu pai. O meu próprio deu um bom exemplo para mim. Ele criou dois filhos de outros homens como se fossem seus. Acho que ele seria o primeiro a concordar que a família não é determinada pelo sangue. — Você vai dizer a ele a verdade sobre essa criança? — Ele já sabe disso. É nosso filho. O soluço dela era o som mais horrível que ela já havia feito, mas depois para sua melhor lembrança, ela nunca chorou além da noite em que ele soube a verdade. Ela sempre foi estoica, forte e determinada a continuar. Mas esta choradeira arrepiante agitou seus ombros. Quando seus braços se fecharam ao redor dela, ela pressionou a bochecha contra o peito dele, ouviu a batida constante de seu coração. — Eu amo você, Killian. Tanto e por tanto tempo. Eu não sei porque eu pensei que amava outro. — Por que valia a pena, ele amava você. Em surpresa, ela olhou para dele. Lentamente, ela deslizou a mão por sua bochecha, ao redor da parte de trás de sua cabeça. — Mas não o suficiente. Você me ama o suficiente. Ela trouxe a cabeça para baixo, abrindo para ele a boca, seu coração, sua alma. Ele a tomou, sem mais desculpas. No entanto, apesar de todos os beijos que tinham vindo antes, este era diferente, desprotegido. Ele não estava mais protegendo seu coração; não estava mais bloqueando ela. Ela possuía ele, assim como ele possuía ela. Coração, corpo e alma. Finalmente, alguém a estava aceitando, fragilidade, falhas e tudo mais. Ela havia cometido muitos erros, mas não podia se arrepender de um só quando a levaram até ele. Surpreendeu-a que ela pudesse amálo tanto, que ele pudesse amá-la sem condições. Levantando a boca da dela, ele acariciou o polegar sobre os lábios inchados antes de olhar ao redor da sala. — Vamos para casa. — Você deveria saber que Beaumont nunca me tirou em público, 276


nunca me apresentou a ninguém da nobreza, então é improvável contanto que ele segure a língua - que meu passado nos assombrará. — Ele não ganha nada ferindo você, exceto sua própria ruína. Ele sabe disso. Ele também foi um idiota por não apreciar o que ele tinha. — Estou muito feliz por ele não ter feito isso. — Caso contrário, ela poderia não ter Locksley, e ela estava muito mais feliz com ele. Ela pegou seu vestido de viagem e peliça. Lá embaixo, ela encontrou Sophie na sala de estar. — Estamos indo embora. — Claro que você está, — disse Sophie quando ela se levantou da cadeira e se aproximou para lhe dar um abraço. — Vou mandar de volta seu vestido amanhã. — Mantenha-o. Isso nunca me serviu de qualquer maneira. Seja feliz, Portia. — Eu vou ser. A porta da frente de repente se abriu e lorde Sheridan entrou a passos largos. — Locksley, o que diabos você está fazendo aqui? — Minha esposa e eu estávamos apenas visitando a amiga dela. — A amiga dela? Sophie, o que está acontecendo? — Como ele disse, eu estava simplesmente encontrando uma velha amiga. Eles estão saindo agora. Portia se inclinou, beijou a bochecha de Sophie e sussurrou: — Se você quiser outra vida, sabe onde vir. Levantando um ombro, Sophie deu-lhe um sorriso triste. — Eu amo esse cenário. Portia achou estranho que o amor pudesse quebrar e consertar corações. Juntando-se a Locksley na entrada, ela colocou a mão em volta do braço dele e deixou-o levá-la para fora e para longe do passado.

Capítulo 26 Assim que a carruagem se movimentou, Locke a arrastou para seu colo, prendeu sua boca na pele macia em sua garganta, amamentou, 277


beliscou, viajou para cima e para baixo na longa coluna, enquanto ela gemia, baixava a cabeça para trás, ofegava curtas respirações. — Se você me deixar de novo, sem sequer uma palavra de advertência... — Você vai o que? Me bater? Me trancar no meu quarto? Não há muito sentido em fugir se você avisar a pessoa antes do tempo ou deixar uma mensagem dizendo onde você está indo. Passando os dedos pelos cabelos dela, ele nivelou sua cabeça com a dela, mantendo o olhar no dela. — Nunca me deixe de novo. — Eu fiz isso por você. Para poupar você... — A agonia de perder você quase me matou. — Algo que ele nunca admitiria para outra alma, mas para ela de repente ele sentiu que podia admitir qualquer coisa. — Como você me achou? — Não tão fácil ou tão rapido quanto deveria. Eu fui ver seus pais. Seus olhos se arregalaram. Querendo beber no uísque brilhante, ele desejou que não estivesse escuro, que eles não estivessem escondidos nas sombras. — Eu te disse que eu estava morta para eles. — Já que você mentiu sobre outras coisas, eu pensei que talvez você tivesse mentido sobre isso também. Ou talvez eu estivesse apenas esperando que você tivesse, que eles não tivessem lhe expulsado. Eu soquei seu pai, a propósito. Seus olhos ficando mais circulares, ela cobriu a boca com a mão que ele estava prestes a beijar. — Você não fez isso. — Eu não gostei dele. Ele foi a razão pela qual você fugiu, descendo escondida pelas árvores. Ela assentiu, lembrando-se de como revelara imprudentemente aquela informação na primeira noite. — Sim. Eu nunca poderia fazer nada certo. Ele me fez passar horas de joelhos rezando pela minha alma. Isso só me fez querer me rebelar mais. — Eles sabem que você é uma viscondessa agora. Se você quiser convidá-los para Havisham, vou me esforçar para me comportar, mas não posso prometer que não vou atacá-lo novamente. — Eu poderia convidá-los apenas para vê-lo bater nele. — Ela balançou a cabeça. — Não, eu nunca vou convidá-los. Eu não os terei arruinando Havisham para mim como arruinaram Fairings Cross. Mas eles não saberiam onde eu estava, então como eles poderiam ajudá-lo? Ele deslizou os dedos sobre o rosto dela, a testa, a bochecha, o 278


queixo. Ele não conseguia o suficiente dela. — Eles não, mas depois lembrei de você mencionando Sophie, então conversei com Beaumont. Ele agora tem um nariz quebrado. Rindo, ela pressionou o rosto no ombro dele, se inclinando para poder beijar a parte de baixo do queixo dele. — Eu não tinha ideia de que você era tão violento. — Ele chamou meu pai de maluco, um termo depreciativo para um louco. Ele pode não ser totalmente são, mas ainda é um marquês e tem o direito de ser respeitado. — Estou feliz que você bateu nele. Ele sorriu. — Você é um pouco sanguinária também. — Seu pai é um homem gentil e doce. Ele sente falta da esposa. Nada de errado nisso. Meses antes, Locke estava convencido de que seu pai sentia muita falta dela, mas isso foi antes de saber o que era perder alguém que amava - e ele só a perdera temporariamente. Ele sabia que ela estava viva e ele localizaria seu paradeiro, recuperaria ela. Para seu pai, não havia esperança de encontrar sua esposa novamente. Pelo menos não até ele morrer. Mas Locke não queria refletir sobre isso, considerar o fato de que seu pai era mortal. Ele queria pensar apenas em Portia. Ele voltou a boca para o pescoço dela, mordiscando o caminho até se aproximar dos lábios dela. Ela colocou a mão no ombro dele, empurrando-o ligeiramente para trás. — Você está me distraindo e ainda tenho dúvidas. Beaumont não sabia onde eu estava, então como ele ajudou? — Ele sabia onde você morava e você me contou sobre uma vizinha que você visitou. Uma vez que eu soube qual era a sua residência, eu só tinha que bater nas portas até encontrar a correta. Felizmente a encontrei na segunda tentativa. — Até onde você teria ido? — Abaixo toda a maldita rua. — Ele embalou seu rosto. — Portia, você não entende que eu estava perdido sem você? — Eu não queria partir. — Ela bateu a cabeça contra o ombro dele. — Eu vendi as pérolas. — Elas são substituíveis. Você não é. Endireitando-se, ela encontrou seu olhar. — Eu gosto muito de 279


você quando você está apaixonado. — Você vai gostar muito mais de mim antes que a noite termine. Ela ainda estava rindo quando a carruagem parou na frente da residência de Londres. Um lacaio abriu a porta. Locke saltou, virou-se e trouxe Portia para baixo. Assim que seus pés atingiram o caminho de cascalho, ele a ergueu em seus braços. — Eu posso andar, — afirmou ela. — Você precisa conservar sua energia. Ele a levou até os degraus da frente, mal reconhecendo o mordomo antes de subir as escadas até o quarto. Logo todos saberiam que Lady Locksley tinha retornado. Sua empregada seria alertada, mas ele confiava que a garota era inteligente o suficiente para saber que ela não seria necessária até de manhã. Ele colocou Portia em pé. Porque o vestido não era dela, porque era um ajuste atroz, porque ele tinha ouvido que ela não precisava devolvê-lo, ele arrancou dela, tendo satisfação ao rasgar o material. Além daquela noite em que ela não usara roupas de baixo, ele não lembrava se ele já havia se livrado de suas roupas tão rapidamente. Fazia apenas algumas noites desde a última vez que a viu nua, mas parecia que o corpo dela havia mudado, ou talvez ele não tivesse olhado tão de perto. Mas os seios dela estavam maiores, o estômago mais inchado. Agora que ele sabia que ela estava mais adiantada do que havia percebido, ele supunha que as mudanças estariam acontecendo mais rapidamente. Enchendo as mãos com seus deliciosos seios, ele pressionou um beijo no vale entre eles. Passando os dedos pelos seus cabelos dela, ela baixou a cabeça em um gemido. Então, para garantir que ela entendesse sua dedicação e amor por ela, ele caiu de joelhos e beijou sua barriga. — Locksley, — ela sussurrou em respiração irregular. Ele olhou para ela olhando para ele. — Eu amo você, Portia. Cada aspecto de você, cada parte de você. E amarei essa criança, se não por outro motivo, porque parte dela é você. — Eu não mereço você. — Você me disse em várias ocasiões que sou um idiota. Eu não acho que você está recebendo nenhum grande prêmio aqui. — Você está errado lá. Estou recebendo o maior prêmio de todos: amor. 280


Ele ficou de pé. — Tire minhas roupas. Ela deu-lhe um sorriso sedutor e perverso. — Com prazer. Ele sempre amou isso nela, como ela estava confortável com seu corpo, com sexo. Ele não sabia se era pelo fato dela ser uma amante ou o diabo nela, como o pai dela dizia. Isso não importava. Ele estava começando a perceber que muitas coisas que ele se preocupara não importavam. Com ela ao seu lado, ele teria tudo o que ele sempre quis, sempre necessitou. Ela tomou seu tempo, despindo-o, atormentando-o, acariciando lentamente a pele que ficou visível, lambendo-a, tomando-a entre os dentes, beliscando. Quando ele estava completamente nu, ele se moveu para tomá-la em seus braços e ela o parou com uma mão pressionada contra o peito. Seus olhos, seus inebriantes olhos de uísque, seguraram os dele por dois segundos antes de ela se ajoelhar. — Portia, você não tem... — Eu sempre quis fazer isso. Eu ouvi sobre isso, mas eu nunca fiz. Eu nunca quis e Beaumont não me forçou. Mas eu quero agora. Sua boca estava tão seca que duvidava que ele pudesse ter falado se a residência tivesse pegado fogo e precisasse avisar as pessoas. Ele apenas assentiu. A ponta áspera de sua língua traçou o comprimento dele, para cima e para baixo, repetidamente. Seu gemido ecoou pela sala, e ele pensou que ela ainda seria sua morte. Então seus lábios estavam sugando e provocando. Ele nunca conheceu tal tortura requintada. Ele pretendia totalmente retribuir o favor. — Ah, minha pequena megera. Você tem o poder de me deixar de joelhos. — Isso tornaria mais difícil fazer isso. Ele não podia acreditar que estava rindo. Antes dela, ele nunca ria quando estava na cama de uma mulher, embora ele percebesse que já há algum tempo ele não pensara em si mesmo em outra cama, senão na dela. Em algum momento entre o tempo em que ele se casou com ela e agora, ele só pensava em si mesmo fazendo amor com ela. Sua boca envolvia boa parte dele, seda aquecida contra veludo, sua língua girando sobre ele. Ele enfiou as mãos no cabelo dela porque teve que tocá-la, teve que abraça-la. Cristo, ele estava começando a pensar como um poeta. A próxima coisa que ele sabia que ele estaria fazendo era rimas. Embora, ele faria qualquer coisa que ela quisesse. Com cada varredura de sua língua, o prazer em espiral através 281


dele, com cada curso das sensações da boca dela nele deixou suas terminações nervosas em chamas. Ela era inocência e raposa, ousada e ainda inexperiente, e ele a amava ainda mais por isso. Estendendo os braços, ele enfiou as mãos sob os braços dela e a pôs de pé. Sua boca estava molhada, inchada, e ele tomou, provando o salgado de sua pele em sua língua. Ele a empurrou devagar até as costas de seus joelhos baterem na cama. Então ele levantou-a e a colocou gentilmente no colchão para que ele pudesse se deliciar com ela.

Ele ainda não a tinha preenchido, mas ela sentiu sua tensão, sua necessidade trêmula. Ela estava levando-o à beira da loucura. Ela entendia isso bem o suficiente, de quando ele fez isso com ela com demasiada frequência e facilidade. Espalhando as coxas, ele deslizou a boca por uma perna e desceu pela outra. Subiu de novo e desceu. Novamente... e pairando lá. Soprando seus cachos, usando os dedos para abri-la como se ela fosse uma rosa que precisava de ajuda para se desenrolar. Então, assim como ela o atormentara, ele a atormentava com longas e lentas lambidas, sabendo exatamente quando aplicar pressão e quando recuar. Ele veio para ela como as ondas de um oceano, ondulantes, fortes, recuando, mas deixando a umidade para trás. Enterrando os dedos no cabelo dele, ela se perguntou se ele realmente entendia o poder que ele tinha sobre ela. Ela faria qualquer coisa que ele pedisse, mesmo sendo sua esposa. Ele a amava. Ela ainda se sentia envergonhada pela noção de tudo que causara, e ainda assim, ela nunca se sentiu mais vitoriosa. Ele era dela. Completamente. Ele lhe dera uma parte de si mesmo que nunca dera a ninguém. Nenhuma outra mulher havia tocado seu coração e, embora não pudesse determinar o que fizera para adquiri-lo, ela certamente não era tola o suficiente para discutir com ele. Ela o amava demais e o amaria até o dia em que morresse. O prazer cascateou através dela, diminuindo e fluindo, tomando seu fôlego, tomando sua força, tomando sua vontade. Com tão pouco esforço ele poderia possuí-la, controlá-la, governá-la. No entanto, ele nunca empurrou para possuí-la. Ele a presenteou com seu toque, sua língua, seus dedos. Beijos e lambidas, golpes e mordidelas. Ela poderia facilmente se desfazer, mas esta noite foi de um novo começo; esta noite foi de amor, de altruísmo, de dar e receber igualmente. — Killian, — ela respirou, pairando na borda. — Eu quero você dentro de mim. Agora. 282


Ele deu um último golpe com sua língua, antes de subir e cair de costas. — Leve-me Levantando-se, ela rolou até que suas pernas estavam em ambos os lados de seus quadris. Enfiando as mãos no cabelo dela, ele a segurou imóvel. — Diga-me que você me ama, — ele ordenou. — Eu te amo. — Eu também te amo, e apenas o pensamento de perder você me apavora. Agora entendo porque meu pai ficou louco. — Você não vai me perder. — Ela disse com convicção, mesmo sabendo que era uma promessa que ela não deveria fazer. Ninguém sabia o que o futuro traria, mas ela tinha que acreditar que para eles isso significava anos juntos, anos conhecendo o amor um do outro. — Eu vou acreditar nisso, — disse ele antes de agarrar seus quadris e abaixá-la, enchendo-a. Ela começou a balançar contra ele, controlando o vai-e-vem, o ritmo, passando as mãos sobre o peito, sobre os ombros, abaixando-se para tomar sua boca, acariciar seu mamilo. Seus gemidos encheram o ar; Seus grunhidos incitando suas paixões. Ela realmente pensou que poderia deixá-lo, deixar isso? Talvez o pai dela estivesse correto. Ela era uma criatura devassa e pecadora. Mas, querido Deus, a luxúria era tão grande, e o pecado recompensador, especialmente quando compartilhado com um homem que conhecia bem o corpo de uma mulher. Um homem que era dela. Movendo as mãos de volta para seus quadris, ele guiou seus movimentos, ajudando-a a se mover mais rápido à medida que a tensão aumentava. As sensações dançaram numa gratificação frenética, doce e torturante, dos dedos dos pés até o topo da cabeça. — Olhe para mim, — ele exigiu. — Olhe para mim. Ela trancou o olhar no verde brilhante de seus olhos. Esta posição deu-lhe uma vantagem. Ela controlava o ritmo, a pressão, a pulsação entre as coxas. Ela viu quando ele apertou sua mandíbula, encurtou o fôlego. — Não feche os olhos, — ela ordenou. — Você é uma bruxa. — Sua bruxa. Então tudo foi demais. O êxtase a atravessou, duro, rápido e 283


intenso. Ela não conseguiu segurar o grito quando ele bateu nela, seu rosnado feroz ecoando ao redor. Totalmente gasta, ela desmoronou em seu peito, ciente do profundo impulso final quando ele ficou tenso abaixo dela. Ele apertou os braços ao redor dela, segurou-a com força. — Bem-vinda ao lar, Lady Locksley. Rindo, ela deu um beijo no centro do peito dele antes de levantar a cabeça e olhar para ele. — Bem-vindo ao amor, Lord Locksley.

Capítulo 27 Eles ficaram em Londres até o final da temporada. Nenhum boato sobre o passado dela circulou. Ocasionalmente, ela teve um breve vislumbre de Beaumont, mas ele manteve distância. Parecia-lhe que ele sempre aparentava bastante tristeza. Ela esperava que logo a felicidade estivesse na vida dele. Estava certamente no presente dela. Ela estava feliz por estar de volta a Havisham. Sentada no terraço com o marquês, tomando seu chá da tarde enquanto ele bebia uísque, ela não sabia por que pensara que o lugar era desolado. — Eu amo isso aqui, — disse ela em um suspiro. — Não é para todos, — ele disse a ela. Ela olhou para ele. — É para mim, no entanto. — E seria para os filhos dela. Aqui eles conheceriam apenas felicidade. Eles poderiam escalar árvores, mas não seria porque eles estavam com medo de receber uma punição injusta. Ela sabia que seu marido voltaria em breve. Ele estava gastando menos tempo nas minas nos dias de hoje. Ele ainda descia - ele não conseguia se conter para aceitar o desafio. Mas ele não foi com tanta frequência - ou assim ele disse a ela. Ela não tinha motivos para duvidar dele. Eles estavam se conhecendo muito bem. Ela confessou que não tinha medo de cavalos, mas tinha medo de que ao montá-los fizesse perder o bebê, então ela criou uma desculpa para evitá-los. Locksley prometera a ela horas de cavalgada depois que a criança nascesse. Ela também revelou que gostava de vinho e conhaque, mas, novamente, ela não acreditava que seria bom para a criança que ela carregava. — Estou ansioso para uma vida inteira de descobrir tudo sobre você, — ele disse a ela. 284


Ela estava ansiosa para o mesmo, ainda ocasionalmente se beliscava para ter certeza de que não estava sonhando, que a vida poderia ser tão maravilhosa e boa. — Acredito que vou dar um passeio para visitar Linnie, — disse Marsden. — Quer se juntar a mim? — Minhas pernas precisam de um pouco de alongamento. — Mas, quando ela se levantou, a dor a dominou. Ela não conseguiu conter o gemido quando pressionou a mão na mesa, como se isso diminuísse o impacto. — O que é isso, minha querida? — Marsden perguntou, preocupação claramente escrita em seu rosto. Endireitando-se, ela respirou fundo quando o desconforto diminuiu. — Ah. — Outra respiração profunda, através de seu nariz, através de sua boca. — Eu só tenho tido pontadas ocasionais desde a noite passada. — Isso foi mais do que uma pontada. Ela assentiu. — Foi um pouco forte. Calmamente ele empurrou a cadeira para trás e se levantou. — Não vamos dar uma volta. Vamos lá para cima. Então estamos enviando alguém para chamar o médico e Locke. — É muito cedo para o bebê chegar. — Ela odiava mentir para ele, especialmente porque não era cedo demais. De alguma forma, foi um pouco mais tarde do que ela esperava, mas ela não queria que ele questionasse a paternidade desta criança. Oh, Deus, agora que o momento estava sobre ela, a culpa que ela efetivamente enterrou veio à tona. Por favor, por favor, seja uma menina. — Talvez eu esteja enganado, — disse ele, — mas vamos tomar precauções apenas no caso de eu saber do que estou falando. Oferecendo o braço dele, ele a acompanhou até o interior, onde gritou para que um lacaio buscasse Locksley e outro para buscar o médico na aldeia. Ele chamou Cullie e a Sra. Barnaby. De repente, ela estava muito ciente do som dos pés correndo enquanto as pessoas se apressavam para fazer o que ele pedia. No meio da escada, ela teve que parar quando a dor passou por ela. Ela se agarrou ao corrimão e ao braço dele, esperando que não estivesse machucando-o tanto. A dor foi mais longa e mais acentuada do que a anterior. Quando finalmente se dissipou, ela ofereceu-lhe um sorriso frágil. — Eu acredito que você pode estar certo. — Eu estou certo sobre a maioria das coisas. 285


Um momento estranho para perceber onde Locksley tinha conseguido sua arrogância. Ela poderia ter rido se não quisesse chegar ao seu quarto o mais rápido possível. Ele continuou a lhe dar apoio quando ela se dirigiu ao patamar e seguiu pelo corredor. Em seu quarto de dormir, ele a levou até uma cadeira, ajudando ela a se sentar. — Sua empregada deve estar aqui a qualquer momento. — Ele se virou para ir, parou, caminhou até a penteadeira, e passou os dedos ao longo de uma de suas bordas intrincadamente esculpidas. — Você tem a vaidade de Linnie. — Encontramos essa maravilha no fabricante de móveis. Locksley não achou que você se importaria. — Eu costumava amar vê-la se preparar. — Ele a encarou. — Estou feliz que esteja sendo usado. — É a peça de mobília mais bonita que já vi. — Quando chegar a hora, passe para sua filha mais velha, presente de seu avô. Quero que ela saiba como ela é preciosa para mim. Ela poderia estar trazendo sua filha mais velha para este mundo a qualquer momento, uma garota que não teria seu sangue. Ela pensou que uma filha aliviaria sua culpa, mas parecia que sempre haveria um aspecto pela consequência pelo que ela fez que a incomodaria. Cullie entrou correndo. — Oh, minha senhora. Isso não é bom. É muito cedo. — Não preocupe sua senhora com palavras terríveis como essa — disse Marsden. — Bebês vêm quando eles estão destinados a vir. Curvando-se ele beijou a testa de Portia. — Eu vou estar lá embaixo, esperando as notícias. Ele se afastou. Cullie fechou a porta e voltou para o lado dela. — Precisamos tirar você de suas roupas. Portia só podia concordar e rezar para que Marsden nunca soubesse a verdade sobre seu bebê. Ela não suportava a ideia de encarar sua decepção.

Locke andava na frente das grandes janelas da sala de música. Ele escolheu este cômodo porque era o favorito de Portia e ele se sentia mais próximo dela aqui. Quando ele voltou das minas, ela estava em seu trabalho de parto, e o médico não permitia que ele entrasse no 286


quarto para vê-la, alegando que sua presença a incomodaria e atrasaria a chegada da criança. Mas já passava da meia-noite e outro dos gritos de sua esposa se alastrava pela quietude. — Droga! Quanto tempo isso leva? — Ela vai morrer, — seu pai murmurou baixinho. As palavras não poderiam ter atingido Locke com mais força se tivessem sido entregues com uma marreta. Ele se virou para encarar seu pai, que estava sentado em sua cadeira favorita, parecendo mais velho e mais frágil do que em meses. — Por que você diz isso? Seu pai levantou os olhos cansados para Locke. — Sua mãe gritou assim. O médico me garantiu que não era nada fora do comum, mas ainda assim sua mãe morreu. Eu nunca me senti tão impotente em toda a minha vida. — Portia é jovem e forte... — Então, assim era sua mãe. — Portia não ousará deixar esta criança... — Sua mãe não tinha vontade de deixá-lo, mas quando a morte está pairando nas sombras, isso não será negado. — Para o inferno com esse absurdo. — A morte não teria o seu caminho neste momento. Locke estava saindo da sala antes mesmo que ele percebesse que tinha um destino, mal se lembrando de subir as escadas, ou irromper em seu quarto. Cada lembrança de cada momento que passara aqui com Portia, passava por sua mente como um caleidoscópio sendo continuamente transformado tão leve que podia iluminar as peças de várias maneiras, e ele a via em todas aquelas diferentes facetas. Altiva, ousada, gentil, amável. Ele ouviu seu riso, sua música, sua voz sussurrando em seu ouvido. Ele a viu agora, exausta, molhada de suor, com os olhos vidrados, mas a faísca não diminuiu, nunca diminuiu. Ela lutaria até o fim para proteger essa criança. Ela faria o que fosse necessário para proteger qualquer pessoa que ela amava, essa criança, ele, seu pai. Mas quem a protegeria? — Meu senhor, você deveria sair, — disse o médico, parado ao pé da cama, como se tivesse pouco mais a fazer do que examinar o conteúdo da sala. Só que ele não podia, não agora que a viu. Rapidamente, ele correu até ela, pegou sua mão, sentiu os dedos dela se fechando ao redor dele. — Eu tentei te ver mais cedo, mas eles não me deixaram. 287


— Eu sei. — Estendendo a mão limpinha, ela roçou o cabelo dele. — Não fique tão preocupado. Eu só estou cansada. — Está demorando tanto. — Muito tempo, malditamente muito longo. Ele podia ver o quanto a provação a enfraquecera. Seu pai pode estar certo. Ele pode perdê-la. Nunca em sua vida ele conhecera tanto terror - ele já enfrentara animais selvagens, tempestades violentas, terrenos traiçoeiros. Ele sabia o que era ter seu coração pulsando de medo, - mas tudo o que ele sentia agora era o frio, o medo gélido deslizando através dele. Ele abaixou a cabeça até que sua bochecha tocou a dela e seus lábios descansaram perto de sua orelha. — Portia, sei que você está fraca e cansada, mas precisa encontrar forças para continuar. Se você morrer, eu ficarei louco. — Eu não vou morrer. Me desculpe, eu continuo gritando... — Grite o quanto quiser. — Não me interrompa. Ele levantou, olhou para ela, sorriu. Há a minha garota durona com sua língua ácida. Ela virou a cabeça de um lado para o outro. — Você deveria querer se livrar de mim. Malditos pais, maldito Beaumont por fazê-la duvidar de seu valor. — Eu te amo muito. Você lutou por tanto tempo por essa criança, Portia. Não pare de lutar agora. Lute por isso. Lute por mim. — Eu quero, mas não consigo encontrar nenhuma força. Ele apertou a mão dela. — Eu vou ficar e te emprestar a minha, devo? Podemos fazer isso juntos, você e eu. Podemos fazer qualquer coisa enquanto estivermos juntos. Assentindo, ela começou a ofegar. — Eu preciso que ela empurre, meu senhor. — Empurre, Portia, — ele pediu. — Empurre! Ela não só empurrou, mas ela gritou por mais uma hora. Entre seus gritos, ele murmurou repetidamente o quanto ele a amava, como ela era especial. Quando seu filho - seu filho - finalmente veio ao mundo, ele nunca conheceu tal alívio ou alegria. — É uma menina, — anunciou o médico. — Eu quero vê-la, — disse Portia. 288


Locke pegou a criança chorosa e colocou-a nos braços de Portia. Então ele passou os dedos pela penugem macia que cobria seu minúsculo couro cabeludo. — Ela tem cabelo ruivo. — Ela é tão pequena. — Portia olhou para ele. — Obrigada. — Você fez todo o trabalho. — Mas você estava aqui. — Eu sempre estarei aqui para você, Portia. Sempre.

Locke encontrou seu pai na biblioteca, sentado diante do fogo, bebida na mão. Ele foi até a mesa lateral de decantadores e pegou o uísque. — É uma menina. Seu pai soltou uma respiração profunda. — Boa. Continuando a se servir, Locke lentamente olhou para seu pai. — Você não está desapontado? Ele acenou com a mão com desdém. — O próximo pode ser um menino. Depois de derramar sua bebida, Locke caiu na cadeira em frente ao pai e o estudou, o modo como ele não segurou seu olhar, mas continuou concentrando sua atenção no fogo. Ele não queria contar nada ao pai que ele talvez soubesse, mas sua reação foi incrivelmente estranha para um homem que insistiu tanto em ganhar um herdeiro. — Como Portia está se saindo? — Perguntou o marquês. — Cansada e fraca, mas o médico diz que é de se esperar. Ela está dormindo agora. — Eu ouvi dizer que é mais fácil com o próximo. Mas Locke ainda estava incomodado com sua reação anterior, estava certo de que ele entendia a razão disso. — Quando você soube a verdade sobre seu filho? Seu pai tinha boas graças para parecer desconfortável. — Pouco depois que nós soubemos que ela estava com o bebê. Ela estava mostrando muito cedo, aumentando muito rápido. — Ainda assim você manteve seu silêncio. — Eu não queria interferir com o seu relacionamento em desenvolvimento. Quando você percebeu isso? — Enquanto estávamos em Londres. 289


— Você sabe quem é o pai? — Eu sou o pai. O homem mais velho sorriu. — Muito bom para você. Locke se inclinou para frente, os cotovelos nas coxas, o copo entre as mãos. — Você queria um herdeiro. Por que você não disse alguma coisa? — Eu queria que você encontrasse amor. Ganhar meu herdeiro foi uma desculpa. — E se ela tivesse um menino? — O amor é mais importante. O que eu acho que você veio a perceber. Ele veio a perceber que era a única coisa.

Portia abriu os olhos, esforçando-se para ignorar as dores e o desconforto. Tudo valeu a pena. — Você está acordada. Olhando na direção da voz de Locksley, ela o viu sentado na cadeira perto da janela, embalando a filha envolta em faixas em seus braços. — Como ela está? — Tão linda quanto a mãe dela. Naquele momento, ela suspeitava que ela parecia um susto, nem de longe bonita. Ele levantou-se, aproximou-se dela, sem dizer uma palavra, colocou a criança nos braços que a esperavam. A alegria que a percorreu com o peso do pequeno corpo aninhado no seio quase a fez chorar. — Como ela pode ser tão pequena e causar tantos problemas? — Você não é particularmente grande. — Você está alegando que eu cause problemas? — Uma abundância deles. — Seu sorriso era quente. — Como você está se sentindo? — Cansada, mas feliz. Eu quero nomeá-la Madeline. Achei que isso agradaria ao seu pai, mas você sabe a verdade dela e, se isso o incomoda ou não fosse uma homenagem adequada à sua mãe, eu a chamarei de outra coisa. — A verdade dela, Portia, é que ela é sua e, portanto, ela é minha. Essa é a única verdade que importa. Nomeá-la com o nome de minha 290


mãe agradará meu pai... e a mim também. — Ele inclinou a cabeça para o lado, deu a seus lábios um toque irônico. — E o fantasma da minha mãe, sem dúvida. — Nós poderíamos chamá-la de Maddie. Inclinando-se, ele deu um beijo rápido em seus lábios. — Vamos fazer isso. — Endireitando-se, ele a estudou e ela teve a sensação de que algo estava incomodando-o. — O que está errado? — Nada está errado, mas você deve estar ciente de que ele sabe. Meu pai. Ele descobriu que não fui eu quem plantou a semente, mas não vou dizer a ele quem fez isso, pois isso não é importante. — Ele me odeia? — Nem um pingo. Ele ama você, Portia. E ele vai amá-la, como eu. — Você já a ama? — É uma coisa estranha, amor. Uma vez que você se abre para isso, ele tem o seu caminho com você. Eu não poderia não amá-la mais do que não poderia amar você. — Eu vou te dar um herdeiro, eu prometo. — Eu gostaria de receber um herdeiro, mas saiba disso, Portia com ou sem um herdeiro, meu amor por você não diminuirá. — Toda vez que eu acho que não posso amar você mais do que eu já faço, você diz ou faz algo que me prova errado - e eu me vejo te amando um pouco mais profundamente. — Então eu vou olhar para a frente para uma vida de provar que você está errada.

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Epílogo Havisham Hall Véspera de natal, 1887

De pé no patamar no topo da escada com o marido atrás dela, os braços em volta dela logo abaixo de seus seios, e o marquês ao lado dela, Portia não poderia estar mais satisfeita. — O que você acha, pai? — Perguntou ela. — Linda, minha querida. Está exatamente como foi a última vez que Linnie e eu organizamos um baile de natal aqui. De fato, tivemos uma abundância de convidados, em seguida. Ela deixou a arrumação do salão de baile para o final, e este foi seu presente para Marsden. Todos os aposentos da mansão estavam agora ausentes de teias de aranha e poeira; todos os aposentos foram colocados em ordem. — Você vai realizar um baile aqui? — Ele perguntou. — Nós pensamos no ano novo, se você não tem objeções. — Você é a dama da mansão. A decisão é tua. — Se você não está confortável com tantas pessoas... — Vai ser bom ver velhos amigos. Você vai dançar comigo agora? Ela sorriu para ele. — Nós não temos uma orquestra. Ele deu um tapinha no peito. — A música está aqui. Você não se importa, filho? — Não, contanto que eu tenha a última dança. — Você vai dançar comigo, papai? — Maddie perguntou de sua posição agachada, onde ela estava olhando através dos trilhos. — Absolutamente, — disse Locksley, levantando a filha em seus braços enquanto ela gritava. Sempre tocava Portia profundamente para ver o amor que ele dava à filha. Ela era verdadeiramente dele, sem dúvida. — E eu? — perguntou o filho de três anos, com o cabelo preto desarrumado e os olhos verdes cheios de travessura. — E você! — Ele pegou seu herdeiro com o braço livre antes de 292


correr pelas escadas, as crianças agarradas ao seu pescoço e rindo. — Ele é um bom pai, — disse Marsden enquanto escoltava Portia para a área de dança. — Você deu um bom exemplo. — Ela apertou o braço dele, encostou-se nele. — Obrigada. Suas sobrancelhas brancas e espessas se ergueram. — Por que, minha querida? — Por dar ele para mim. — Tudo que fiz foi colocar o anúncio. Você respondeu. — Pensando que eu deveria me casar com você. — Mas eu lhe disse que seria melhor se você se casasse com ele. — De fato você disse. Quando chegaram ao centro da sala, ele a pegou nos braços e a arrastou pelo chão com uma facilidade que ela imaginou ter caracterizado seus movimentos em sua juventude. Enquanto ela não podia ouvir a música, era óbvio que ele sim, uma música que sem dúvida tinha tocado quando ele dançou com sua amada. — Obrigado pelo meu herdeiro, — disse ele em voz baixa, sorrindo. — Você me agradeceu o suficiente. — Eu devo agradecer a você quantas vezes eu quiser. Eu amo os dois filhos. Eles foram um grande presente. Embora você deva observar o menino com mais cuidado. Eu o peguei subindo nas prateleiras da biblioteca no outro dia. Desde o nascimento de Maddie, Marsden começara a passar menos tempo em seu quarto de dormir. Ele era uma parte mais ativa de suas vidas, especialmente com as crianças. Fazia anos desde que Locksley havia virado a chave na porta do quarto do Marquês. Nenhum dos cômodos da residência estava trancado por mais tempo. Portia sorriu brilhantemente. — Ele é filho de seu pai. Marsden sorriu. — Ele é mesmo. O tamborilar de pé os fez parar e bem a tempo. As duas crianças bateram nas pernas de Marsden. — Vovô, você vai ler para nós? — Maddie perguntou. — Eu vou, mas apenas uma história. — Ele se inclinou para baixo. 293


— Papai Noel está chegando esta noite. — Tomando as mãos deles, ele começou a conduzi-los para fora do quarto. Ao vê-los partir, Portia sentiu uma dor alegre no peito. Seus filhos conheciam o amor, muito amor. — Dance Comigo. Virando-se nos braços do marido, ela se viu deslizando mais uma vez pelo chão. — Você o deixou muito feliz, — disse Locksley. — Eu acho que as crianças fazem isso. — Você, as crianças, a maneira como a mansão está mais uma vez brilhante. Eu amo você, Portia. — Bom, porque eu também te amo. Ele a levantou em seus braços. — O que você está fazendo? — Ela perguntou. — Depois de todos esses anos, você ainda tem que perguntar? Vou levá-la para a cama. — Não até que as crianças estejam dormindo. — Pai vai ler para eles. Eu disse a ele que planejava dar a você outro filho para o Natal. Rindo, ela pressionou a cabeça no ombro dele. — Isso deve tê-lo feito feliz. — Isso o deixou em êxtase. — Espere até ver o que eu estou dando a você para o Natal. — O que seria isso, minha pequena megera? — Eu acho que é hora de eu te ensinar como me levar de cabeça para baixo.

Locke acordou e viu a mais leve sugestão de amanhecer atravessar as janelas. Ele podia ver suavemente a neve caindo. As crianças ficariam encantadas. Seu pai sem dúvida os levaria para fora para construir um boneco de neve. Aconchegando-se contra o corpo quente de sua esposa, ele enterrou o nariz na curva de seu ombro, inalando seu perfume de jasmim. Depois de todo esse tempo, ainda tinha o poder de incitar seus 294


desejos. Se ela não o tivesse usado na noite anterior... De repente, ele se deu conta de duas coisas. O vento uivante não era o estridente grito que ele estava acostumado a ouvir, o que era estranho, como sempre era pior no inverno. E um relógio estava funcionando. Alarmado, ele subiu direto na cama, jogou as cobertas para trás e rolou de pé, cruzando a lareira. A hora mostrava vinte minutos depois das sete. — O que é isso? — Portia perguntou sonolenta. — O relógio está funcionando e na hora correta — ele olhou para a janela — o tempo pode ser preciso. Ele atravessou a sala, pegou as roupas do chão e começou a vestilas. — Killian, o que está acontecendo? — Volte a dormir. Eu só preciso verificar alguma coisa. — Seu pai. Ele parou. No fundo do coração, ele sabia o que iria encontrar. — Alguma coisa não está certa. — Eu vou com você. Ele queria discutir com ela, insistir com ela para ficar na cama, onde estava quente, mas se ele estivesse certo, ele iria precisar dela. Quando ambos estavam vestidos, eles desceram o corredor até o quarto de seu pai. A porta estava aberta, o cômodo vazio. — Acho que ele foi até ela, — ele disse baixinho. — Ele poderia estar lá embaixo brincando de Papai Noel. Ele balançou sua cabeça. — Não, ele foi para ela, pela última vez. É por isso que os relógios estão correndo. Ele os iniciou antes de sair. Ele voltou para o quarto de dormir, pegou seu casaco e sua capa e estendeu a mão para ela. — Você não precisa vir comigo se não quiser. — Eu não vou deixar você enfrentar isso sozinho. — Ela se virou e ele colocou a capa pesada sobre os ombros. Eles desceram as escadas. No vestíbulo, o relógio do vovô dava meia hora. Tomando a mão de Portia, ele a levou para fora. O vento e a neve caindo chicoteando em torno deles enquanto eles marcharam em direção ao antigo carvalho e túmulo de sua mãe. 295


E lá estava seu pai, deitado de bruços sobre o monte de terra, uma mão apoiada contra a lápide, como se estivesse acariciando-a. Ele estava coberto de uma leve camada de neve. Ele não estava aqui há muito tempo, não o suficiente para o frio tê-lo feito. Agachado ao lado do corpo, Locke pressionou os dedos contra a garganta do pai. Ainda havia um toque de calor, mas sem pulsação. — Eu acho que seu coração parou. — Você acha que ele sabia que era hora? — Ela perguntou suavemente. — Sua ação com os relógios foi um presente de despedida para nós? — Possivelmente. Ela se ajoelhou ao lado dele e se apoiou em seu ombro. — Eu sinto muito. Eu sei que isso é difícil. Não importa a idade de uma pessoa... — Ela apertou seu aperto em seu braço. — Killian, olhe para sua bochecha. Parece que ele foi beijado por um anjo. Na bochecha de seu pai havia um lugar onde a neve não era tão espessa, um ponto cuja forma lembrava muito o contorno de uma boca. — É uma impressão de pata. — Não há outros nele ou ao redor dele. Eu acho que é como ele sempre disse. Sua mãe estava esperando por ele. — Fantasmas não existem. — Embora ele não pudesse negar que o vento estava mais calmo do que ele já tinha ouvido. — Se eu morresse antes de você, não partiria. Acredite que é a marca de um animal, se desejar. Eu escolhi acreditar que foi sua mãe recebendo-o de volta em seus braços. Virando-se para ela, ele queria acreditar em um amor tão forte, um amor que pudesse transcender a morte. Com o canto do olho, um movimento chamou sua atenção, uma imagem sombria, duas pessoas se abraçando, indo embora. Mas, quando ele olhou diretamente naquela direção, ele não viu nada. Não havia sombras distintas, sem pegadas. — O que foi isso, Killian? — Portia perguntou suavemente. Não era possível. Fantasmas não existiam. Eram meras criações criadas pela dor, uma dor profunda que agora estava lavando através dele, que lavou seu pai durante anos. Locke tinha sido um bebê quando sua mãe morreu, jovem demais para sequer entender a perda, para chorar por ela, mas ele abaixou a cabeça agora e deixou as lágrimas fluírem, por um homem que ele amava e uma mulher que ele passou a amar o pai dele. Portia fechou os braços ao redor dele, e eles balançaram enquanto o vento chiava e a 296


neve caía e na residência os relógios marcavam as horas.

— É estranho ouvir os relógios mantendo o tempo, — Edward anunciou. Eles estavam sentados perto da lareira na sala de música - os filhos do marquês de Marsden e suas esposas. Seu funeral foi um grande acontecimento. Locke não estava preparado para o número de pessoas que vieram: realeza, nobreza, aldeões, empregados, mineiros. Pessoas vindo para prestar suas últimas homenagens a um homem que muitos deles lembravam com carinho. Aparentemente, seu pai havia passado boa parte do tempo correspondendo-se ao longo dos anos, cartas oferecendo conselhos, conselhos e opiniões. Seu pai pode ter sido um recluso, mas ele não foi completamente retirado da sociedade. Felizmente, Portia havia previsto a multidão que desceu em Havisham. Não que Locke estivesse surpreso. A filha de um vigário certamente sabia como administrar um funeral. Seu pai agora descansava em um túmulo ao lado de sua mãe. — Estou me acostumando com eles, — disse Locke. — Eu me lembro do dia em que chegamos, — disse Ashe. — Eu nunca quis sair tão rápido de qualquer lugar da minha vida. — Isso é compreensível, — disse Portia. — Você tinha acabado de perder seus pais. — Foi mais do que isso. Foi a desolação, o vento, o silêncio dos relógios. E a maneira como Marsden parecia tão perdido. Mas naquela noite, depois de termos ido dormir, ele veio até mim e contou uma história sobre uma brincadeira que meu pai fazia na escola. E ele me disse que não havia problema em chorar quando sentisse a falta deles, que por um ano depois que ele perdeu a esposa, chorou todas as noites. A dor nunca vai embora, disse ele, mas você aprenderá a viver com ela. E eu vou te mostrar como. Maldito se ele não fez. — Ele ergueu o copo. — Para o Marquês de Marsden e o privilégio que tivemos de conhecê-lo melhor do que a maioria. — Ao Marquês! — Todos disseram, levantando os copos em uma saudação. Algum tempo depois, Portia encontrou o marido em pé no terraço que levava ao salão de baile, o lugar onde ele a beijara pela primeira vez, sem dúvida esperando fugir com ela. Ela aproximou-se dele. — Você está procurando o fantasma da sua mãe? — E do meu pai. 297


Suas palavras a pegaram de surpresa. — Eu não achei que você acreditasse em fantasmas. — Na manhã em que encontramos meu pai, pensei ter visto algo. Eu quero acreditar que fiz. Meu pai e minha mãe juntos. — Então você deveria acreditar. — Isso me faz soar como um lunático. — Isso faz você parecer um homem que pode acreditar no impossível. Ele suspirou. — Quando eu era rapaz, acordei uma noite porque senti algo roçar na minha testa. Mas ninguém estava lá. Fiquei imóvel como a morte, com medo de estar ficando louco, com medo de não estar. — Você pensou que era sua mãe tocando em você. Ele assentiu bruscamente. — Eu posso ter feito um desserviço ao meu pai, acreditando que ele estava louco. — Você nunca o trancou em um asilo. Você se importava com ele. E ele amava você. Era óbvio nas cartas que ele me escreveu. Ele a estudou por um momento. — Muitas vezes me pergunto como ele sabia que você era a única para mim. O que você disse em suas cartas? — Ele não deixou você lê-las? — Não, ele disse que eu precisava fazer minhas próprias perguntas. Mas estou curioso para saber quais questões ele considerava importantes, o que ele pediu de você. Cravando-se entre ele e a grade, ela colocou as mãos em seus ombros. — Ele só pediu duas coisas de mim. — Duas? Mas ele disse que vocês se corresponderam bastante. — Nós fizemos. Em sua primeira carta, ele pediu que eu me descrevesse e explicasse por que eu sentia que atendia aos requisitos que ele procurava. Você ouviu essas respostas no primeiro dia. — E a segunda pergunta? — Veio na última carta de 'entrevista' que ele escreveu para mim. Ele perguntou se eu acreditava no amor. — E você disse sim. Ela balançou a cabeça. — Eu disse: 'Não mais, mas suas cartas me 298


fazem desejar'. Achei que ele me dispensaria naquele momento, mas ele respondeu: Você é perfeita. E começamos a nos corresponder com nossos termos. — Entre a primeira e a última carta da entrevista, se ele não estivesse fazendo perguntas, o que ele estava lhe dizendo? Ela sorriu suavemente, com doces lembranças. — Ele me contou tudo sobre a mulher que amava e como ele veio a amá-la. — Eu gostaria de lê-las. — Eu pensei que você poderia, embora eu devesse avisá-lo, ele tende a ficar um pouco explícito às vezes. — Oh, meu Deus, não me diga que ele escreveu sobre o piano. — Tudo bem, eu não vou te dizer. Sua risada ecoou pelos jardins, onde, na primavera, uma variedade de flores desabrocharia. Então ele a esmagou e tomou sua boca com a mesma febre e paixão que ele teve pela primeira vez aqui no terraço. Se ele não a tivesse beijado, ela poderia ter sido capaz de ir embora naquele dia. Em vez disso, ele selou seus destinos. E ela estava tão feliz que ele tinha feito isso.

Y|Å

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