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ANDRÉ DE BARROS

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REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS

por Valério Hoerner Júnior

O prático-farmacêutico André de Barros foi provedor da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba no período de 1920 a 1922. André de Barros foi, com respeito à Instituição, incansável e zeloso. Conseguiu melhoramentos apreciáveis e deu início à instalação de um laboratório de análises clínicas que seria o embrião do atual.

Era muito popular na cidade. Conta-se que passava horas a fio ouvindo queixas dos doentes. Eles o procuravam para que indicasse os remédios por ele mesmo preparados. Talvez seja essa uma faceta estranha para os nossos dias, mas tal procedimento o fazia, cada vez mais, chegar-se aos simplórios e assíduos fregueses. Ou clientes?

É sabido que, na cidade, André de Barros atendia a grande número de doentes, desde crianças com sarampo até velhos surdos; desde braços destroncados de crianças travessas ao mal das urinas dos trôpegos.

Em 1923, Augusto Gonçalves Loureiro, vice-provedor no exercício da provedoria da Santa Casa, apresentou os relatórios referentes aos dois anos anteriores, justificando, como ele mesmo o disse, em virtude da moléstia que atingira André de Barros. Os pontos abordados no relatório eram basicamente os mesmos de todos os anos, salvo uma e outra ocorrência de caráter especial. Assim, quanto ao patrimônio, diz ele que evoluíra em mais de quinhentos contos, face às avaliações das propriedades da Irmandade. Não houvera donativo algum.

André Pinto de Barros era filho de Miguel Pinto de Barros e Gabriela Ferreira dos Santos. Nasceu na Vila da Conceição do Norte, então Província de Goiás, em 1855. Aprendeu a ler, escrever e contar em sua cidade natal. Ao entrar para o exército, serviu como enfermeiro em um batalhão de infantaria, unidade que, depois da guerra com o Paraguai, foi deslocada para Curitiba. Foi assim que chegou o notável cidadão à capital do Paraná. Foi, então, transferido para a Enfermaria da Circunscrição Militar, órgão que daria origem ao Hospital Militar.

Nessas funções, foi-se afeiçoando ao preparo de remédios, conhecimentos que lhe seriam úteis no futuro. Antes da proclamação da República, deu baixa do Exército e abriu uma farmácia com bastante freguesia.

Construiu um prédio na Rua da Assembléia, atual Dr. Murici, cuja farmácia ali instalada possuía a razão social André & Carriel. Esse estabelecimento foi destruído por um incêndio de expressiva monta, o maior ocorrido em Curitiba, pois além de destruir diversas construções, causou incontáveis vítimas. Reconstruído o edifício e reinstalada a farmácia no mesmo local, prosseguiu por conta própria.

André de Barros é descrito como pessoa de média estatura, cheia de corpo, pendendo para adiposo, olhos empapuçados desde moço, pele morena com fisionomia meio índia, meio mulata, e boca larga. Cabelos curtos com calva frontal, taciturno. Raras vezes sorria, olhar triste e paciente. Popular e confiável, quando faleceu, em 1923, perto dos setenta anos, foi chorado por todos os que recebiam de suas mãos o amparo que atenuava seus padecimentos. Sua bondade era conhecida até fora dos limites da capital.

Ao sentir-se doente e já afastado de suas funções de provedor da Santa Casa, pediu ao amigo Gabriel Ribeiro, notário de Curitiba, que o orientasse para distribuir o seu legado, pois foi durante toda a vida parcimonioso nos gastos, amealhando por isso grande fortuna. Possivelmente, uma das maiores que o Paraná teve. Aberto o testamento, verificou-se que aquinhoou diversas pessoas de sua intimidade e auxiliares. Sua casa, por exemplo, situada na atual Praça Osório, foi legada à sua empregada doméstica, além de boa importância em dinheiro.

Muitas instituições de caridade e religiosas beneficiaram-se de sua lembrança: a Santa Casa de Misericórdia de Goiás, sua terra natal; a Santa Casa de Paranaguá; o Asilo São Vicente de Paula, da cidade da Lapa; a Sociedade de Socorro aos Necessitados, o Orfanato de São Luiz, Maternidade e Orfanato do Cajuru, o Albergue Noturno e a Cruz Vermelha do Paraná. Para a Igreja do Senhor Bom Jesus de Iguape deixou cinquenta libras esterlinas em ouro, como pagamento de uma promessa.

O remanescente de seus bens, prédios, terrenos e títulos da dívida pública da União, foi legado à Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, o que na época representou fabuloso presente. Alguns registros dão esse valor como superior a 1.300:000$000 (mil e trezentos contos de réis), quantia esta capaz de solucionar todos os problemas que permanentemente afligiam os provedores da Santa Casa. Sua memória foi honrada pela Irmandade. Seu retrato, pintado a óleo, foi colocado na galeria de honra do Salão Nobre. Seu busto de bronze permanece no jardim de entrada do hospital. Seu nome ainda aparece em uma das alas do hospital, justamente a mesma que fora construída com os recursos que ele próprio legara.

O túmulo de André de Barros, situado no lado Oeste do Cemitério Municipal São Francisco Xavier, quase junto ao portão lateral de entrada, é exornado por seu busto, um notável trabalho de autoria de João Turin. A edificação é imponente. Foi mandada fazer pela Mesa Administrativa da Santa Casa, na ocasião.

A Lei Municipal nº 621, de 30 de outubro de 1923, determinou que a rua da Misericórdia, que começava em um dos cantos da Santa Casa, passasse a ser denominada Rua André de Barros.

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