Centro de Estudos do Humanismo Crítico Portugal & América Latina
Grupo de Estudos Noética
FORTALEZA A Ponta Do Novo Mundo
Estudos Historiográficos & Poemas
João Barcellos [1989 a 1993 // 2011 a 2013]
Índice Agradecimentos Apresentação / Tereza de Oliveira Parte 1 Parte 2 Parte 3 Parte 4
Capitão Brandão, 1343 Ryo Siará Pao Vermelho Os Fortins
Parte 5 5.1 5.2 5.3
Os Colonos Martim Soares Moreno Pernambuco & Siará Socioeconomia Siarense
Parte 6 6.1 6.2 6.3
Sociedade & Cangaço Maria Bonita & Lampião Antônio Silvino Canudos, Fé & Jagunços
Parte 7 Uma Poética Chamada Iracema Parte 8 Tábua Historiográfica 1ª – Cronologia 2ª – Política & Sociedade Parte 9 Rascunho Poético Parte 10 Notas Do Autor Bibliografia
Agradecimentos
Albertina de Campos (Lisboa, Portugal) Alexandre Vieira (Recife-PE, Brasil) José Carlos Oliveira (Coimbra, Portugal) Josefa Magalhães (Fortaleza-CE, Brasil) Josué Guerreiro (Fortaleza-CE, Brasil) Johanne Liffey (London-UK) Mariana d´Almeida y Piñon (Paris, France) Mário Gonçalves de Castro (Rio de Janeiro, Brasil) Marta Novaes (Buenos Aires, Argentina) Rita de Cássia Albuquerque (São Paulo, Brasil)
Memorandos, mapas, trilhas, fotografias, narrativas dos Sécs 15 e 16, e muitos dados avulso via Web para comparar com a documentação reunida nos meus estudos, tudo isso só foi possível com a colaboração desse grupo de professores, professoras, jornalistas, fotojornalistas, geógrafos e pesquisadores de história, e que o são atuando principalmente na área da cultura alternativa, sempre de mangas arregaçadas.
O Autor
Apresentação
“Foz do Ryo Siará, a Ponta do Novo Mundo.” Por
Tereza de Oliveira
Sentada nos degraus da varanda, escutei: “O que disse Donato acerca dos ´portugueses que tocam a costa continental no mar atlântico a oeste de Cabo Verde e lá concretizam a maior viagem marítima ao desconhecido´, é uma verdade historiográfica – verdade que eu comparo ao que disse Ab´Sáber acerca dos mesmos ´portugueses que sobem a serra com os guaranis e então conhecem o Peabiru da banda litorânea pela Serra de Paranapiacaba´, e então, eu digo que ao norte os portugueses fizeram da foz do Ryo Siará a primeira ponta conhecida do Novo Mundo e, ao sul, eles mesmos e o judeu espanhol Cosme Fernandes (o bacharel formado na Universidade de Salamanca, vulgo Bacharel de Cananéia, construíram a aldeia Gohayó e o Porto das Naus, onde nasceram os primeiros mamelucos... Também, ao norte, lá no Crato siarense, surgiu Bárbara de Alencar, a primeira mulher a dirigir um ato republicano contra a monarquia imperial, um exemplo de bravura política pouco estudado entre portugueses e brasileiros”. Quem falava com tanta autoridade? O poeta, jornalista e pesquisador de história luso-brasileira João Barcellos, após apresentar o livro em que fazia a biografia político-militar do Morgado de Mateus. E eu disse: “Olhem, eu não sei quando o Barcellos vai publicar o que sabe sobre a história do Ryo Siará na foz onde o capitão Sanches Brandão possivelmente terá desembarcado em 1343, porque... desembarcar ele
desembarcou por ali, conforme carta do rei Afonso IV ao papa Clemente VI, em fevereiro de 1344 (e esta informação já foi publicada em livro editado pela editora de Monteiro Lobato, um texto de Assis Cintra, em 1921), mas sei que quando ele publicar toda essa historiografia (porque, é tudo documental) a banda acadêmica não vai gostar, da mesma maneira que essa mesma gente (“intelectuais pançudos e empantufados alegremente doutorando por uma aposentadoria dourada”, a expressão é do Barcellos) bate palmas hipócritas ao esforço gráfico de Ab´Sáber de não deixar estudos guardados na gaveta”! Era mais um sarau sociocultural em minha casa, na Granja Vianna (na Cotia do poeta Cepellos e do presbítero Feijó), organizado pelo Grupo Granja – o nome do grupo vem mesmo do local e registrado pela física Joana d´Almeida y Piñon – uma barca cultural já com intelectuais e artistas de vários países no seu bojo. O que era para ser mais um encontro, o João Barcellos transformou em um simpósio (simpósio de verdade: com vinho, vários tipos de comida, música de viola caipira e apresentação de ideias) sobre história luso-brasileira. Conheci o mestre João Barcellos, que se tornou um grande amigo, logo depois da sua “Caminhada desde S. Vicente, pelo Piabiyu litorâneo adentrando a Serra de Paranapiacaba até Ibiuna passando por Caucaia, para conhecer a odisseia dos portugueses de serr´acima”, na qual foi acompanhado (ele morava no Rio antes de se fixar em São Paulo) por intelectuais cariocas e portenhos, em 1988. Entre a historiografia por ele compilada sobre a luso-brasilidade, espero que um dia saia de uma gráfica o livro “Foz do Ryo Siará, a Ponta do Novo Mundo”. E da maneira como eu conheço o mestre e amigo João Barcellos, um dia se fará luz. Granja Vianna – Cotia, 1996.
Obs. Editorial Tereza de Oliveira [1914-1998], foi co-fundadora do Grupo Granja, em 1996, junto com a física Joana d´Almeida y Piñon e o jornalista João Barcellos. Professora e artista plástica, descendente de galegos (de Tuy), Tereza de Oliveira impulsionou o GG de tal maneira que, ainda em 1996, já tinha personalidades de vários países colaborando com os trabalhos (palestras, pesquisas, publicações de livros e o Jornal Corpus, etc.), tornando-se, a partir da experiência de Barcellos, o elo latino-americano do Centro de Estudos do Humanismo Crítico (CEHC), sediado em Guimarães (Portugal) e presidido pelo escritor e filósofo Manuel Reis. A partir de 2006, o GG deu origem ao Grupo de Debates Noética prosseguindo e ampliando os trabalhos (também com portal na Web) no circuito paralelo ao campo acadêmico. O material ora editado é parte do “Memorial Lítero-Artístico do Grupo Granja”, recolhido e selecionado pela jornalista Marta Novaes (Buenos Aires, Argentina) e a professora Mariana d´Almeida y Piñon (Paris, França), anexado à Biblioteca Geral do GD Noética.
FORTALEZA A Ponta Do Novo Mundo João Barcellos
Parte 1 Mar e maresia. Terra vasta e agreste com raros fluxos pluviais. Paisagem linda que esconde dificuldades de adaptação até entre as tribos nativas. E sol, muito sol.
Navio mercante
É o que observa Sanches [ou Sancho] Brandão, capitão da marinha mercante portuguesa, que aborda a ponta norte e aqui encontra tribos de gente nua, vegetação, aves diversas e muito pao vermelho, como mais tarde relata ao rei Afonso VI, no inverno lisboeta de 1343; e o rei, à vista daquela gente cativa e das toras de árvore-da-tinta, informa em ofício
protocolar ao Papa Clemente VI, sobre a descoberta de novas terras no Atlântico às quais dá o nome terra de brasil [fevereiro de 1344]. Assim começa a história de Fortaleza... A abordagem do capitão Brandão é o primeiro momento histórico cearense. Como o interesse primeiro dos portugueses e do papado se relaciona ao pao vermelho, vulgo pau-brasil, como mercadoria essencial, é no norte que este ato mercantil se concentra e a ponta do novo mundo é escondida.
Mapa de Albernaz [Siará, 1629]
O segundo momento histórico é a passagem de espanhóis e portugueses, em 1500, pela costa norte, quando Fortaleza recebe o assentamento colonizador que, entre a dureza da vida agreste e os nativos arredios, evolui tão devagar quanto as muitas areias que envolvem tudo sob o sol escaldante. O único objeto que brilha é o sol – não é o cobiçado ouro, nem a prata ou o diamante. Para as gentes colonizadoras a barra do Ryo Siará é o marco-zero do assentamento, logo, a construção do Forte, como atalaia e divisor de interesses – de um lado os colonizadores, do outro os nativos – é, diga-se, o terceiro momento histórico da região.
Capitão Sanches Brandão na foz do Ryo Siará (desenho de J. C. Macedo; Rio de Janeiro, 1989). “Cor e caimento justo, como caso das calças que vão até ao joelhos, e muitas vezes acompanha a ´braga´ - tipo de ceroula -, e a ´braguilha´, peça que destaca a genitália, eis como o capitão Sanches (ou Sancho) Brandão se apresenta à ´terra de brasil´ e aos nativos potyguares em 1343, depois de vários dias debaixo de tempestades” – in “Um Capitão Nos Trópicos”, palestra, J. C. Macedo; Rio de Janeiro, 1989.
Parte 2 O estudioso Theodoro Sampaio diz-nos que Ceará vem de cemo-ará, q.s. papagaio do rio; já o historiador Câmara Cascudo diz ser do tupi cê-ará, q.s. canto do papagaio; outros, dizem que vem de ciri-ará, q.s. caranguejo branco. Seja como for, o certo é que os nativos da região que vivem na costa são os primeiros a darem a conhecer o pao vermelho ao capitão Brandão, naquele ano de 1343.
Tribo Kariri
A região da ponta norte é habitada por nativos tupi-guaranis com dialetos diferenciados na formação geossocial; por exemplo, os Kariri estão na costa cearense e no sertão pelas bandas do rio grande [hoje, São Francisco]. Na época em que Pero Coelho [1603] busca dominar a Serra da Ibiapaba ele encontra tribos tupis, aqui foragidas das investidas portuguesas mais a norte e na Paraíba, e tomando o lugar dos Kariri, o que originou uma guerra permanente e nômade entre eles. Entre tais povos estão também Tabajara, Tubiba-Tapuia, Tremembé, Tapeba, Potyguare, Pitaguary, Kanindé, Kalabaça, Jenipapo, Gavião, Anacê, Inhuamuns, Quixadás, etc., que não dão sossego às gentes europeias. Quando “a gente portuguesa conhece a gente nova adentrando a foz do Ryo Siará, entreolha-se diante da natureza das pessoas, mas também porque percebe que são oleiras e tecelãs, além de ótimas pescadoras e caçadoras, e na troca de facas e machados com o artesanato local essa
gente nova adentra também outra civilização – a do metal” [Barcellos, in Questões do Siará, palestra improvisada para o Grupo Granja; Cotia-SP, 1996]. Então, o que leva a gente nova ao esforço de manter longe a marcha colonial portuguesa assenta em dois pilares: a) percebem que a gente d´além-mar quer as suas terras; b) percebem que só unidas terão sucesso contra as facas e os machados, pois, são peças utilitárias, mas também armas de guerra, além daquelas que vomitam fogo... Mas é um esforço em vão diante da prepotência militar de quem manda pelas armas estrategicamente organizadas; e, aos poucos, a gente nova da foz do Ryo Siará é dominada e, parte, logo catequisada.
[Caravela e local onde foi construído o Forte S. Tiago, Na barra do Ryo Siará]
O processo siarense é diferente do processo tordesilhano de Gohayó, pois, aqui o bacharel Cosme Fernandes é ele mesmo o mando político e militar e pactua com os guaranis na edificação do Porto das Naus de onde reina por mais de 30 anos, o que possibilita a formação do primeiro núcleo de gente mameluca. Ao norte não se coloca com tanta acuidade a questão da Linha de Tordesilhas, e sim ao sul, mas só quase um século depois da assinatura desse tratado [1494] ele é precariamente assinalado pelos colonos, mas já Cosme Fernandes e Afonso Sardinha [o Velho] eram partes do passado recente...
Parte 3 Entretanto, se a informação sobre uma terra de brasil é mantida secreta por mais de 150 anos, logo após a oficialização da mesma em 1500, na passagem da esquadra cabralina para a Índia, espanhóis e franceses, e mais estes do aqueles, por não estarem sob o regime do Tratado de Tordesilhas, avançam pelo Atlântico para adquirirem o famoso pao vermelho. Não se sabe se em 1343 o capitão Brandão teve problemas com os nativos potyguares,
mas sabe-se que estes foram mais receptivos aos franceses do que aos portugueses a partir de meados do quinhentos.
A coroa francesa cobiça tudo o que à terra de brasil diz respeito e, na década de 1570, esboça a conquista da costa norte, como relata Vau de Claye, da foz do Rio S. Domingos [hoje, Rio Paraíba] ao Rio Acaraú, na região que é hoje o Estado cearense. Uma informação entre os detalhes memoriza a presença de milhares de nativos tapuias [não-tupis, do tronco macro-jê] oriundos de aldeias ribeirinhas do sertão. Após os franceses vêm os holandeses que têm a mesma sorte: uns e outros são expulsos da terra de brasil e os portugueses assentam em definitivo a sua colonização sob o abraço da Igreja católica.
Parte 4
Forte, Vila & Cidade
FORTALEZA
Fortaleza antiga [maqueta em exibição do Museu do Ceará / Fortaleza]
Antes da construção de uma vila, que fica sendo o marco-zero para uma determinada região, as gentes europeias copiam os velhos celtas e edificam uma casa-forte... O forte é o ponto d´atalaia e é a casa do primeiro núcleo conquistador.
É o marco-zero no meio do nada. De forte a vila a região colonizada transforma-se aos poucos em entreposto mercantil [charque, peles e algodão] entre os portos do norte e do sul, mas também em núcleo evangelizador, servindo já as teologias católica e protestante.
Fortaleza [desenho jesuítico]
Tão intensa é a imagem do forte que origina o assentamento português na ponta do novo mundo que a vila é denominada Fortaleza.
Parte 5 A ocupação da ponta do novo mundo inicia-se em 1603 com Pero Coelho de Sousa, o português que então adentra a foz do Ryo Siará e aqui edifica o Fortim de S. Tiago nomeando o local de Nova Lisboa. Mas, este colonizador não se adapta à dureza da região entre ataques de nativos e uma seca que corrói todo o empreendimento mercantil em curso. Tempos depois, o militar português Martim Soares Moreno faz o mesmo percurso e, em 1613, reconstrói o fortim e designa-o Forte de S. Sebastião, tendo por objetivo a expulsão dos franceses.
Forte de S. Sebastião em traço de Arnout Montanus [1613]
Mais tarde, os holandeses tomam o forte e assentam na América a reforma protestante: no Rio Pajeú, em 1649, eles constroem o Forte Schoonenborch sob o comando de Matias Beck, mas por pouco tempo, pois, em 1654 são expulsos e os portugueses rebatizam o local como Fortaleza de Nª Sª de Assunção.
Eis a origem da vila e cidade Fortaleza, a ponta do novo mundo.
5.1
Martim Soares Moreno Guerreiro português e amante d´Iracema
Militar integrado à Ordem de Sant’Iago da Espada [ordem de cavaleiros que foi chefiada pelo notável Pedro, Infante das 7 Partidas – duque de Coimbra e Regente, avô do rei João II] Martim Soares Moreno nasceu em Santiago do Cacém em 1586. Antes dele, esteve sediado na Barra do Ryo Siará o consórcio de Pero Coelho, do qual fez parte para a construção do Fortim de Santiago, em 25 de Julho de 1604. Mais tarde, em 1619 é nomeado por carta patente do rei
espanhol Felipe II [que também ocupa o trono português], 1º Capitão-Mor da Capitania do Siará. Ao assumir o comando do fortim da barra, em 1612, amplia a sua estrutura e dá-lhe a designação de Forte de São Sebastião, um trabalho que até os holandeses reconhecem publicamente como de grande valia no campo militar e dele dizem “A Fortaleza de Soares Moreno”.
O capitão Moreno e a Cruz de Sant´Iago em traço de João Barcellos, 1995
Com o predomínio militar instala-se a catequização e a Igreja católica, sendo esta a religião oficial, por isso, em 1621 ele requisita ao Reino uma imagem de santa cristã, o que se concretiza em 1622, quando recebe e instala Nª Sª da Assunção, a padroeira da fortaleza. Ou seja, o militar e colonizador assenta o terreno para fazer da fortaleza o marco-zero de todo o território em torno Ryo Siará.
Pelas bandas deste Ryo Siará, diz-se, é que o capitão Moreno vem a conhecer uma cunhã tabajara, que séculos depois, o escritor José de Alencar nomeia Iracema, uma vestal de lábios de mel. O romance entre uma nativa e um português colonizador é parte do manancial onírico resultante da miscigenação iniciada lá em Gohayó e em Campos de Piratininga, por Cosme Fernandes e João Ramalho, e, no caso siarense, Martim Afonso Moreno é retratado numa poética mítica para melhor valorizar o cunhadismo que dá origem à raça brasileira.
5.2 A primeira vila cearense é criada em 1699 [16 de fevereiro], por ordem régia, mas o documento não especifica o local o que é um rastilho de pólvora entre umbigadas coloniais, uma vez que toda a comunidade catolicizada quer ser o marco-zero: várias vilas querem ser a sede da comarca. Aquiraz é uma delas e vem a ser designada como tal. Entretanto, os povos nativos não descansam e destroem a vila nova cujos habitantes buscam refúgio no forte. O forte vira povoado e vila, em 1726. Logo depois, em 1759, o marquês de Pombal expulsa os padres jesuítas e as aldeias de Porangaba e São Sebastião de Paupina viram vilas [Vila Nova de Arroches e Vila Nova de Messejana]. Já no ano 1777, enquanto Lisboa se arruína em tremendo terramoto, o capitão-geral José César de Menezes realiza um censo e descobre-se ser de 2.874 os habitantes na Vila de Fortaleza. A par do censo, a região vive uma seca que fustiga fatalmente os rebanhos, os cultivos, tudo. Este é o período em que o charqueado quase desaparece.
Todo o norte-nordeste sofre alterações políticas e administrativas e, em 1799, a Província do Ceará é desmembrada da Província de Pernambuco sendo Fortaleza indicada como capital.
5.3 Pode se dizer que o Séc. 19 é o tempo-espaço de amadurecimento social e cultural em que a raiz siarense favorece o crescimento econômico.
Não por acaso é o século em brota a chama republicana contra os desmandos imperiais da monarquia pedrista absolutamente copiada dos padrões políticos europeus. Complexa na sua política absolutista, a colonização incentivada militar e catolicamente pelos portugueses obteve desde sempre a resistência dos povos naturais, pelo que a economia situou-se precariamente no arranjo de latifúndio, escravatura (de nativos e negros d´África), lavoura e agropecuária de subsistência familiar – sistema que levou à formação de clãs familiares dos quais sobressaiu a figura patriarcal de mando sociopolítico, vulgo, coronel. E assim como nas regiões do Minho e Alto Minho e Douro, em Portugal, agregados faziam brotar da terra as riquezas que expandiam as
posses dos coronéis, e, pela porção de terra trabalhada, eles entregavam a maioria dessas riquezas: entre Portugal e o Brasil-colônia tudo como dantes no quartel d´Abrantes...
Carta da Capitania do Ceará
Obviamente, tal sistema originou efeitos secundários e de maior monta através de escravos que se registravam com o sobrenome do coronel enquanto agregados (ou propriedades de...), além da afilhadagem tratada também como escrava para servir unicamente os interesses dessa socioeconomia tosca e medievalesca e inquisitorial – e, talvez por isso mesmo, abençoada pelas elites do catolicismo, elas próprias parte do problema político no mando imperial. Durante o Séc. 19, a região alcança um desenvolvimento econômico que busca a parceria do desenvolvimento sociocultural e, então, a ignorância absolutamente imposta aos povos norte-nordestinos é afrontada com
movimentos chefiados por políticos, intelectuais, fazendeiros, religiosos e artistas, uma variedade de ações que carreia, também, anseios populares raramente expressos publicamente.
Existe a charqueada como existe o curtume, a lavoura diversa e o engenho d´açúcar, e entre coronéis poderosos e pessoas com interesses mais orientados ao bem comum, incluindo fazendeiros e religiosos, a região siarense envolve-se em movimentos independentistas sob a tutela de ideologia republicana e a poeira levanta-se para dar passagem a outros quereres, outros tempos...
Parte
6
Sociedade & Cangaço
A transição do Séc. 19 para o 20 apresenta um norte-nordeste na sua violência social mais extremada.
6.1
No meio dessa violência, mais uma vez a mulher. Mais conhecida do que Bárbara de Alencar, uma jovem bahiana nascida em 8 de Março [1911], casada aos 15 anos de idade, separa-se do marido e junta-se ao cangaceiro Lampião:
ela é Maria Gomes de Oliveira, mais conhecida como Maria Bonita, e entra para a história pelo lado trágico-policial, além de ter sido decapitada viva...!
A história do cangaço – a denominação vem de ´boi debaixo da canga´, como ´homem de espingarda atravessada nos ombros´ – é aferida ainda no final do Séc. 18, quando os latifundiários norte-nordestinos dominam de tal o ambiente sociopolítico através da miséria e da ignorância, e isso acarreta numa reação que vem na forma de ações armadas de guerrilha em grupos que “tiram dos poderosos para dar aos pobres”. E não acontece por acaso... O primeiro tipo de cangaceiro é político, originado nos políticos que querem ter vantagem territorial e eleitoral sobre os adversários e fazem coação com grupos paramilitares; o segundo tipo de cangaceiro é corporativo, ou seja, donos de fazendas defendem-se com grupos armados e ainda fazem caça de nativos no sertão. Neste caso, é um cangaço formado por jagundos – i.e., bandidos recrutados para impor a lei do mais forte nas políticas locais; e o terceiro tipo de cangaço é independente – o que a história registra como grupos a volante com atividades de guerrilha contra poderosos, militares e policiais. Sem uma luz social decente no horizonte, jovens e adultos tarimbados na árdua sobrevivência nas fazendas do sertão fazem ruptura com esta circunstância e buscam na resistência armada [mais desencanto do que resistência] a alternativa, e assim engajam-se a políticos, a fazendeiros ou a grupos independentes. O cearense Jesuíno Brilhante [que se foi de ´morte matada´], o bahiano Lucas da Feira [enforcado], o pernambucano Zé Cabeleira [enforcado] e o piauense Zé do Vale [enforcado], fazem parte da história do cangaço em pleno Séc. 19 e estão no rol dos mais perigosos jagunços-matadores que viraram cangaceiros tendo a atividade como novo estilo de vida.
6.2 Silvino – o espingarda de prata Um pernambucano nascido em 1875, em Inzadeira, e chamado Antônio Silvino forma o primeiro cangaço independente, após uma longa experiência na defesa da Família Aires e pela conjuntura sociopolítica em que ela se inseria.
Silvino (2º em pé, à esq., e o bando)
Farto de questiúnculas familiares e partidos políticos dominados por coronéis, Silvino inicia a sua trajetória independente em 1906 e perambula pelo Ceará, o Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba, onde mata e quebra ossos até conseguir extorquir tributos e fazer saques avultados nas oligarquias regionais. Da sua folha policial sabe-se que é preso em 1914 e cumpre pena em Recife, sendo indultado em 1937. Este Silvino aterroriza as oligarquias por alguns anos e afronta diretamente policiais e militares; ele consegue escapar graças aos conhecimentos adquiridos nos seus tempos de cangaço político e à rede de gente agregada, conceito de administração ainda válido nas oligarquias regionais – i.e., o poder político-fundiário foi o grande ´mestre´ de Silvino.
Virgulino Ferreira – o Lampião & Maria Bonita
Lampião & Maria Bonita
Lampião chefia o seu cangaço desde 1922 e é, sem dúvida, o independente que goza de maior prestígio. Também, é o mais temido pela hierarquização que impõe à turma de cabrasmachos que o segue. E ele “não admite mulherio no cangaço que exige rapidez e braço forte”. Entretanto, caído de amores pela bahiana Maria Bonita integra-a à turma e o cangaço vive o ciclo unisexo de liberdade pelos sertões. Outras mulheres entram para o grupo e a disciplina torna-se mais rígida, pois, Lampião sabe que elas pegam em armas, sim, mas deixam a fuga mais lenta na ajuda à limpeza do acampamento. Entre os povos do sertão é Lampião o cangaceiro que mais recolhe agradecimentos pela justiça social feita nos atos exemplares que fazem ajoelhar os poderosos e no apoio às famílias pobres. E mesmo o pobre, assessor de porra nenhuma (aspone) junto das oligarquias também é alvo da mesma justiça cangaceira.
6.4 Canudos, Fé & Jagunços
A fama deste cangaceiro gera um artesanato cerâmico, coureiro e cordelista: a imagem romantizada sobrepõe-se à trágico-policial e o casal Lampião e Maria Bonita transforma-se umas vezes em lembrancinha e outras em herói nacional. Por que isto ocorre? O que existe de “errado” na história brasileira? A resposta não está nos movimentos republicanos, mas em um movimento específico: Guerra de Canudos & Antônio Conselheiro. O evento baiano dura entre 1896 e 1897; tem origem nas reclamações das oligarquias sociopolíticas e religiosas (católicas) contra a formação de uma comunidade popular e mística de cunho monárquico, em Canudos, dirigida pelo visionário Antônio Conselheiro.
Arraial de Canudos (Litografia. Urpia, 1897)
Ele aceita os ex-escravos e centenas de desempregados famintos que fogem da miséria que assola os primeiros tempos da República brasileira – esta, sem dúvida, assente na herança maldita de uma monarquia
absolutamente criminosa no campo social. O místico visionário propaga a salvação milagrosa enquanto a vila de Canudos ganha proporções na história política nacional e já se diz que cangaços aquartelados na vila do místico vão atacar e saquear as povoações e cidades mais próximas, boato que se espalha e leva as mesmas elites sociais e clericais a pressionarem o governo e as forças armadas para logo darem cabo do visionário.
Arraial de Canudos, o místico Conselheiro e o mesmo já abatido pela tropa republicana
Após várias tentativas e derrotas, a tropa governamental consegue dominar a vila: deixa centenas de mortos e um visionário decapitado... Decapitado, sim, mas não morto, porque a maneira como ele é humilhado em público transforma-o em mais um herói popular, ora, tudo o que as novas-velhas oligarquias não querem! Eis que tudo que é relevante politicamente é tratado militarmente pela força bruta transforma-se no mito que o povo acata e idealiza em imagens favoráveis. Assim é o norte-nordeste... E então, se o místico de Canudos virou lenda e herói, como um cangaceiro do porte de Lampião, amante da guerreira Maria Bonita, não vira lenda e herói? Aqui está a síntese sociopolítica da questão chamada cangaço e que epopeia virou no imaginário popular.
6.5
O Fim de Lampião
O grupo de cangaceiros chefiado por Lampião e Maria Bonita é abatido em 1938.
O cangaço de Lampião & Maria Bonita decapitado pela tropa
Nenhum outro grupo de cangaceiros atingiu a notoriedade social e política que conseguisse sequer beliscar a sombra do casal Lampião & Maria Bonita. A fama do casal cangaceiro é tão ´braba´ que iguala a do místico Conselheiro e a do Padre Cícero dentro e fora do Brasil.
Parte
7
Uma Poética Chamada
IRACEMA
[Desenho incluído no livro “Iracema em Cordel”, de Gadelha]
Em tempo e à guisa de apresentação: Iracema é termo nheengatu [irá, abelhas + sema, saída] q.s. saída de abelhas, enxame. E nheengatu [do tupi, q.s. língua boa] é a Língua nativa falada em geral pelos povos do nortenordeste e que os portugueses tiveram que aprender – assim como o tupiguarani também no sudeste e particularmente na Capitania de S. Vicente –
para se adaptarem à região, além de virar instrumento estratégico em sua defesa. Bem mais tarde, a população nativa só no norte ainda era de milhares e milhares de pessoas, como o padre jesuíta Antônio Vieira memoriza – a saber: “[...] foram encontradas de São Luís a Gurupá mais de 500 povoações de índios, todas mui numerosas e algumas delas tanto que deitavam 4 a 5 mil arcos". A língua geral é o Tupi e na maioria das regiões o Tupi-Guarani, por isso, no precário aprendizado e aportuguesamento destas línguas surgem expressões diversas para um mesmo significado, e até as narrativas orais destes povos passam a ser difundidas e mesmo adaptadas pelos padres católicos na evangelização... Eis porque, também anos mais tarde, José de Alencar vem a esta raiz sociocultural buscar fontes para o romance Iracema. Obviamente, a tradição oral nativa é forte na imagética romântica e não se distancia de povos letrados, tanto que, ainda no Séc. 16, Jean de Léry registra histórias e lendas de mulheres [cunhãs] de importância guerreira e sociocultural entre estes povos já em processo de desaparecimento pelo genocídio que é o cerco e dominação luso-católica, mesmo o Papa Paulo III publicado bula em defesa dos povos nativos, em 1537 – a saber: "a todos que estas terras virem, que os índios que alguns dizem serem incapazes de receber a fé católica, sejam livres e não obrigados a ela, a não ser pela pregação e bom exemplo". Obviamente, diante da busca de terras e riquezas, a bula foi um papel esvoaçando no espaço-tempo da hipocrisia colonial. O escritor José de Alencar criou o anagrama [rearranjo de letras de uma palavra para formar outra] de América – Iracema – e assim contextualizar o encontro de uma nativa com um português no território do Novo Mundo já denominado de americano pelas narrativas de Americo Vespúcio publicadas na Europa. De entre as cunhãs conhecidas entre as tribos e algumas delas já reconhecidas no ambiente luso-brasileiro, Alencar não escolheu, preferiu ele inventar um nome para ilustrar uma jovem cunhã de lábios de mel, no que se salva pela poética, pois, Iracema não significa ´lábios de mel´, entretanto, teve ele o cuidado de buscar o nome na língua dos tupis (nheengatu) para construir o anagrama de América, ou seja, Iracema e assim embasar a sua trama mito-poética de uma vestal [mulher virgem] que se entrega à Divindade e ser a guardiã do segredo de Jurema, a bebida mágica dos cultos nativos, enquanto repassa a natureza telúrico-cósmica e sensual na paixão que vem a viver com um português – e, neste traço, o autor retrata a miscigenação que deu raiz ao Brasil e colocou a Língua portuguesa como polo de comunicações entre os povos da colônia-continente.
Na imagem que de ti arquiteto, oh Iracema, há uma alquimia de folguedo e um golpe de jurema.
Paixões Amores
Palavras Choros Lágrimas Desamores Entregas
Canções Rituais Negações
És uma casa em construção, oh Iracema, alicerce d´ilusão. Tudo em ti é melodia e poema. Pura beleza. Incertos rituais no altar pagão. Oh, Iracema, No mel da tua virgindade sou ilusão e folguedo. Cálice de jurema.
Assim fiz a minha leitura da lenda adaptada por Alencar das narrativas orais tupis. E porque a prosa-poética alencariana se encaixa no desenvolvimento histórico, eu mesmo preferi glosar os lábios de mel dessa onírica Iracema diante de alguma crítica que se esqueceu da licença poética...
quanta paisagem verde e o pao vermelho qu´inunda a costa ai ai ai e quanta gente nua e tudo assim do jeito que a gente gosta acaso de visão e abordagem precária ninguém vê mas lá está iracema extasiados pelo tinto do pao marujos nem provam a pinga da jurema
a ilha é mui grande e de tudo dizem a el-rey que de carta e mapa o diz ao papa assim nasce a ilha do brasil lusa por lei que ora o tinto brasil dá púrpura ao papa muitas eras depois outros marujos se fazem à mesma costa ai ai ai esta gente nua e a bela iracema dos lábios de mel em ritual por quem viver gosta é sonho na paisagem verde
É uma maresia historiográfica o que vivencio quando releio, no centro histórico de Fortaleza, o romance – mas, agora, nas estrofes do cordelista Gadelha. E digo-vos: é um momento de poesia pura curtir a história no meio do linguajar cearense e entre pífaros, sanfonas e pandeiros.
Parte
8
FORTALEZA Tábua Historiográfica
I Século 14 1343 - Embarcação da marinha mercante portuguesa, chefiada pelo capitão Sanches Brandão aporta na costa norte, na ponta em que deságua o Ryo Siará. 1344 - No mês de Fevereiro o rei Afonso IV, de Portugal, oficia o Papa Clemente VI da “descoberta de novas terras no Atlântico”, às quais dá o nome de “Terra de Brasil” – [in Biblioteca do Vaticano]. Século 16 1500 - Vicente Yáñez Pinzón passa pela costa brasileira e Batiza de "Cabo de Santa Maria de La Cosolación" (hoje, Mucuripe).
- No mês de Abril a esquadra chefiada pelo condestável Pedro Álvares Cabral toma posse oficialmente da “Terra de Brasil”, na Bahia, e logo retoma a rota da Índia. 1501 - André Gonçalves e Gonçalo Coelho chegam à ponta do Mucuripe com Américo Vespúcio na tripulação. 1534 - Antônio Cardoso de Barros recebe a Capitania do Siará, mas dela não toma posse. Século 17 1603 - Pero Coelho de Souza passa pelo Mucuripe em busca das riquezas de Ibiapaba. No retorno da Ibiapaba funda o Fortim de São Tiago na foz do Ryo Siará. 1612 - Martim Soares Moreno reconstrói o forte no Ryo Siará com nome de Forte de S. Sebastião. 1619 - Martim é nomeado dirigente da Capitania do Siará por 10 anos. 1630 - Martim nomeia Capitão do Forte seu sobrinho Domingos da Veiga Cabral e vai a Pernambuco combater os holandeses: o Siará passa ao domínio destes. 1637 - O major Jorge Garstmann toma posse da Forte de São Sebastião. 1639 - Chega Matias Beck. 1644 - Os holandeses são massacrados por nativos na Barra do Siará. 1649 - Matias Beck transfere da Barra do Siará para as margens do riacho Marajaitiba o Forte Schoonenborch. 1654 - O forte é entregue ao capitão português Álvaro de Azevedo Barreto de forma pacífica depois da derrota holandesa em Pernambuco. 1656 - Em 27 de junho o Siará passa do encargo da Capitania do Maranhão para a Capitania de Pernambuco. 1666 - O Forte de Nª Sª da Assunção passa por uma reforma, a primeira sob o comando do português João Tavares de Almeida. 1698 - É reconstruído o Forte de Nª Sª da Assunção. Século 18 1726 - Instalação da Vila da Fortaleza de Nossa Senhora d'Assunção do Ceará Grande desmembrada de Aquiraz. 1746 - No dia 27 de outubro é realizada a primeira festa da padroeira: Nª Sª do Rosário. 1759 - o município de Caucaia é criado com status de vila e nela fundada a primeira escola pública do Ceará; ao mesmo tempo, é criada a vila de Vila Nova de Arronches. 1761 - É criada a freguesia do Ceará ou Fortaleza, sob a invocação de Nª Sª da Assunção e S. José de Ribamar.
1777 - Realizado o primeiro censo de Fortaleza a mando do Capitão-General. População: 2.874 pessoas. 1790 - 1793 - Grande seca em toda a capitania aniquila a indústria de charqueadas. 1799 - Construído na ponta do Mucuripe o Fortim de São Luiz. 17 de janeiro - Separação da Capitania do Ceará Grande da Capitania de Pernambuco [Carta Régia de D. Maria I]. 25 de setembro - Chega a Fortaleza o primeiro governador do Ceará, Bernardo Manuel de Vasconcelos. 1800 - É nomeado Manoel Ferreira da Silva o primeiro arruador de Fortaleza para padronizar o alinhamento das ruas. Século 19 1801 - Reforma em Fortificações na Ponta do Mucuripe. 1802 - Morre no dia 8 de novembro, Bernardo Manuel de Vasconcelos, primeiro governador do Ceará. 1803 - Toma posse como segundo governador do Ceará, João Carlos Augusto de Oyenhausen-Gravenburg. 1810 – De passagem o viajante inglês Henry Koster. Ele calcula a população de Fortaleza em 1.200 habitantes. 1812 - Construído o primeiro mercado de Fortaleza ao lado da Casa da Câmara. 1 de julho - Criação da Alfândega de Fortaleza. 12 de outubro - Iniciada a reforma da Fortaleza de Nª Sª da Assunção projetada pelo engenheiro José da Silva Paulet. 1813 - No dia 8 de setembro é inaugurado o primeiro chafariz de Fortaleza. 1817 - São aprisionados em Fortaleza os revolucionários do Crato. Tida como a primeira prisioneira política do Brasil, Bárbara de Alencar ficou detida em uma das celas na Fortaleza de Nª Sª da Assunção.
1818 - Construído novo Mercado Central de Fortaleza com projeto de Silva Paulet. 1825 - São executados no Passeio Público os líderes da Confederação do Equador. 1845 - Inauguração do Liceu do Ceará e do Farol do Mucuripe. 1854 - Criada a Arquidiocese de Fortaleza. 1861 - Inaugurada a Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza. 26 de novembro - Criada a Escola de Aprendizes-Marinheiros do Ceará.
Judaísmo Além Da Foz Do Ryo Siará 1 Os judeus no Novo Mundo lançam a semente mercadológica que irá determinar a colonização gerenciada pelos portugueses: engenho d´açúcar e beneficiamento d´algodão. Obviamente, a presença judaica no sertão além Ryo Siará é presença assegurada pelos portugueses – eles mesmos já descendentes de muitos judeus ibéricos, mas, a pessoa judia ingressa com mais frequência na colonização da terra de brasil a partir do casamento do rei Manuel I com uma dama d´Espanha: um dos ritos da união exige que ele aceite a formação do Santo Ofício em terras portuguesas – tal fanatismo obriga à humilhação pública da gente hebraica que tem de esquecer a sua fé e optar pela crença da cristandade concedendo-se outra identidade, o que dá origem ao cristãonovo, ou marrano, i.e., o judeu convertido à cristandade. Dessa primeira ´leva´ de cristãos novos, ainda no Séc. 16 a terra de brasil vê surgir uma heroína: Branca Dias, que veio a construir uma sinagoga em engenho pernambucano [v. Processo de Branca Dias: Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa – ´Proc. 5736]. É claro que Manuel I segue os passos de João II, ou seja, Portugal é um reino da cristandade e um dos quintais do papado sediado no Vaticano. Logo na primeira visitação do Santo Ofício [Inquisição] ao norte e nordeste os filhos e os netos de Brancas Dias são levados para Lisboa e punidos pelo fanatismo da cristandade. Quando em outubro de 1637 os holandeses ocupam a foz do Ryo Siará e tomam o sertão é que os judeus ganham liberdade de expressão religiosa, porque social e economicamente eles se integraram na terra de brasil; entretanto, em 1654...,tudo como d´antes no quartel d´Abrantes..., os cristãos portugueses retomam a posse do Siará! Vai demorar até que os judeus, apesar da retórica libertária do jesuíta Vieira e dos raios republicanos que surgem aqui e ali, possam se sentir judeus brasileiros de fato. 2 A questão do judaísmo na e além da foz do Ryo Siará é tão importante que não é possível contar a história do Brasil sem ela [v. Rei & Maçon, de João Barcelos, in site noetica.com.br]. E diga-se: a pessoa siarense ganhou um pouco do ser-estar judeu pela convivência equilibrada entre o social e o mercantil. Mesmo porque sem a
genialidade acadêmica (matemática, astronomia, medicina, economia, etc.) da gente judia nem o reinado nem o colonialismo português teriam resistido à decadência política instalada após o assassinato de João II... Foram técnicos, sábios e ouvidores judeus que fizeram Portugal resplandecer politicamente – e, na terra de brasil, assim como na Madeira e Açores, foram os judeus os responsáveis pela instalação de engenhos d´açúcar [anote-se a história exemplar de Branca Dias, entre outras]. 3 Têxtil & Moda É no Séc. 19 que mais se evidencia a presença mercantil da pessoa judia no norte e nordeste, e, no Siará, uma empresa, entre outras, faz fama: a Jacques Weill & C., uma loja de modas sediada em Fortaleza. Entretanto, a industrialização toma conta da região além da foz do Ryo Siará com a construção da fábrica Progresso, dos irmãos Antônio e Thomaz Pompeu de Sousa Brasil, em 1899, após união com a Fábrica de Fiação e Tecidos Cearenses [esta, de 1883]. Quando o empreendedor Weill inicia as suas atividades, já existem vários retalhistas na cidade e no interior, mas é ele que introduz o corte da moda na sociedade cearense. E agora que sabemos que o capitão Sanches (ou Sancho) Brandão, da marinha mercante portuguesa, abordou a região da foz do Ryo Siará em 1343, e daqui levou amostras de “cousas” [objetos e “pao vermelho”] e de “gentes” para mostrar ao rei Afonso IV, em Lisboa, e que este ficou tão maravilhado que notificou o papa Clemente VI sobre uma terra que chamou de “insula do Brasil”, conforme inscrição no mapa apenso..., deve-se dizer que os povos nativos tiveram grande influência no beneficiamento do algodão que eles mesmos produziam fazendo fios para a construção de redes na época, junto com a cerâmica. Se a exploração do pao vermelho foi ação secreta durante mais de um século, a colonização portuguesa, iniciada com o fortim de S. Tiago em 1603, possibilitou a chegada principalmente de marranos [judeus forçosamente convertidos à cristandade] que logo beneficiaram e mercantilizaram a produção agrícola e coureira local. É deste momento que se chega à Fábrica Progresso e à loja de moda Jacques Weill & Cia, e delas à Fortaleza industrial e mundana.
1865 - O cearense José de Alencar publica Iracema. 1866 - Criação da Associação Comercial do Ceará. 1867 - Inaugurada a Biblioteca Provincial do Ceará e criado o primeiro clube do Ceará: o Club Cearense. 1870 - Inaugurada a Cadeia Pública. 1875 - Criado o Museu Provincial.
1884 - Criado o Clube Iracema e abolida a escravidão no Ceará. 1887 - Criação do Instituto do Ceará. 1892 - Surge a Padaria Espiritual. 1894 - Criada a Academia Cearense de Letras.
II A República, a Padaria Espiritual e o Padre Cícero
A tábua cronológica norte-cearense não é completa, entre os Sécs 14 e 19, quando não menciona a Revolução Pernambucana [República do Crato] e a Confederação do Equador, a par da excelência sociocultural chamada Padaria Espiritual.
República do Crato & Confederação
Súbito, no meio da monarquia imperial, escuta-se um grito de liberdade republicana... 1817. Crato, localidade no interior do Ceará, adere ao movimento libertador pernambucano. O diácono José Martiniano de Alencar e seu irmão Tristão Gonçalves de Alencar Araripe, frei Francisco de Santana, Pessoa e Inácio Tavares Gondim, apoiados ativamente pelos ideais políticos de Bárbara de Alencar, fazendeira abastada e mãe de José e de Tristão, sublevaram a população proclamando uma República, mas a ação dura 8 dias e a primeira mulher presidente republicana é deposta e presa.
O mesmo núcleo político republicano e cearense envolve-se em outra ação: Tristão Gonçalves de Alencar, filho de Bárbara e nascido no Crato, organiza em 1824, a Confederação do Equador, que abrange políticos de Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte. O espírito colonial/colonizador ainda é muito forte e as forças imperiais da monarquia rapidamente abafam o caso e Tristão é sumariamente abatido após recusar-se ao exílio oferecido pelo imperador Pedro I. Os dois movimentos mostram, no entanto, que o Brasil imperial caminha já para uma solução republicana e que se tudo teve início lá na barra do Ryo Siará, é da gente siarense que desperta a luz para a liberdade social e política como exemplo para a nova Nação que se idealiza democrática. Nos dois movimentos verifica-se uma atitude clerical que se opõe ao mando
político da Igreja católica: um exemplo raramente estudado com a profundidade política adequada, particularmente no ensino público.
Padaria Espiritual
Antônio Sales, Lopes Filho, Ulisses Bezerra, Temístocles Machado, Tibúrcio de Freitas, Sabino Baptista e Álvaro Martins, formam o grupo Padaria Espiritual. A associação nasceu na confluência de atos sócio-literários no Café Elegante, Café Java, Restaurante Iracema e Café do Comércio, estabelecimentos situados na Praça do Ferreira, centro de Fortaleza.
O grupo de músicos, literatos e artistas plásticos, surgiu em 30 de Maio de 1892 manifestando ideias contra o clero, a burguesia em geral, e os costumes tradicionais da mentalidade obsoleta. Na verdade, era uma intelectualidade interessada em resgatar o ideal republicano do Crato e da Confederação pernambucana em atos socioculturais, e o centro da capital cearense era o local privilegiado. A edição e a distribuição do jornal O Pão, o pasquim-panflo da Padaria Espiritual, tinha Fortaleza como eixo.
Movimentos Independentistas & Intelectualidade Ainda no Séc. 16 muitos filhos (e raramente filhas, pois estas eram ´educadas´ para servirem de moeda de troca em casamentos arranjados para perpetuar a elite latifundiária e o regime monárquico) de colonos eram enviados a Paris, Roma e Coimbra para cursarem Direito, Medicina e Teologia; no caso dos siarenses esses torna-viagem letrados espalharam a boa nova das culturas que incendiavam as mentes europeias e também os povos do e além Ryo Siará beberam em tais fontes secundárias provocando novas ideias e mais ações. Neste processo, religiosos formados teologicamente no Brasil como em Portugal abriram uma brecha na hierarquia da cristandade para seguirem as novas ideias e, com elas, servirem melhor aos povos com a Palavra jesuana autêntica. O padre jesuíta Antônio Vieira é o paradigma desse quadro que irrompeu no ambiente hierárquico... Quando passou pela região siarense de Viçosa ele deixou um rastro sociocultural cuja intensidade se prolongou por anos e anos em ecos de inovação e liberdade. Se o missionário Vieira não era um torna-viagem (e sim um português desde jovem no Brasil, consagrandose à teologia na Bahia), foi ele que, em pleno Séc. 17, impulsionou o ideal religioso direcionada à liberdade plena das pessoas ser e estar em quaisquer circunstâncias. Por isso é que no Séc. 19 vários religiosos de ordens cristãs
aderiram naturalmente (isso não foi uma surpresa...) ao ciclo independentista que teve a matriarca Bárbara de Alencar como eixo social e político sob a bandeira republicana.
Século 20
E, o padre Cícero!
Crato e o Pe Cícero
Ainda o cangaço é tema corporativo, religioso e político-policial, quando Cícero Romão Batista nasce no Crato, em 24 de Março de 1844. Tem berço d´ouro, e verdade, mas não são as terras nem o gado que lhe fazem viver melhor, e opta pela teologia. Assim, em 1870 é padre, ordenado em 30 de Novembro. No aguardo do conhecimento da paróquia que o bispo lhe indicará, Padre Cícero fica um tempo no Crato, mas logo inicia uma atividade missionária e carismática enquanto leciona Língua latina em colégio de Juazeiro.
Dois Momentos Políticos Na Vida De Um Padre
Sedição de Juazeiro, 1914. As políticas regionais estão extremadas no norte-nordeste e quando, nas bandas de Juazeiro, a situação torna-se explosiva, o médico e político Floro Bartolomeu deixa nas mãos do amigo padre Cícero a administração da Prefeitura local.
o médico e político Floro Bartolomeu e o padre Cícero
O que acontece? O político e militar Franco Rabelo, nascido em Fortaleza, torna-se governador pela mão do presidente Hermes da Fonseca, entre 1912 e 1914, mais para barrar o poderio político regional da Família Accioli do que por méritos próprios, e logo se percebeu a sua inabilidade política: Rabelo faz destituir o Padre Cícero do cargo de prefeito de Juazeiro, em 1914. Contra a atitude nada popular de Rabelo o médico e político Floro Bartolomeu convoca uma sessão extraordinária na Assembleia Legislativa do Ceará, mas a ser realizada em Juazeiro... É o suficiente para Rabelo mandar a tropa invadir a cidade. Contra todo o tipo de violência, o Padre Cícero só se envolve na Sedição de Juazeiro quando percebe que o seu povo pode ser massacrado. No meio dos confrontos são feitos saques também em Fortaleza, Crato e Barbalha. As tropas enfrentam então centenas de civis e as baixas são muitas de ambos os lados, mas quem leva a pior é o lado militar governamental, pois, muitos soldados e oficiais desertam, e a Sedição de Juazeiro culmina com um padre e um médico vitoriosos contra um governador imediatamente deposto.
Jagunços, cangaceiros e populares na defesa de Juazeiro, e um canhão capturado à tropa governamental.
No quadro ora exposto é preciso dizer que Floro Bartolomeu age muitas vezes com o nome do amigo Padre Cícero na ponta da língua e sem que o mesmo saiba, o que acarreta transtornos sociais e políticos para o notável missionário cristão. É verdade que o padre nunca recusa um bom ato político, pois, sabe-o, a religião não existe sem o elo político e social, mas é notório e público que sempre está na linha pacífica.
Cicero & Lampião, 1926. O folclore político trata a questão de um encontro entre o Padre Cícero e o cangaceiro Lampião como um ponto no calendário historiográfico cearense. Mas, não é o caso. É vulgar escutarmos todo o bandido é religioso e temente a Deus, por isso pede a benção até antes de matar ou estuprar. E é Lampião diferente dos outros?... Analisemos. As forças políticas que tentam colocar as atividades do padre Cícero como criminosas por defender o povo são as mesmas que, recusando um diálogo social, simplesmente decapitaram a comunidade mística de Canudos que, então, era refúgio naturalíssimo para quem vivia abaixo de
qualquer noção de miséria nos vastos sertões. Cícero conversa com Lampião enquanto missionário que recebe no átrio um homem que tem na violência a arma eficaz contra o que considera a violência governamental; mas, além disso, Lampião é também um assassino frio e que sobrevive de tal expediente, o que leva o missionário a temer pela própria vida. Ora, o cangaceiro é gente do povo, teme a ira divina, mas se acha o ´deus´ temporal na justiça que pretensamente faz em nome de um povo jogado na miséria pelas politicas medievais tanto do poder monárquico quanto do republicano. A conversa, pelo que se sabe de testemunhas vivas, é um jogo de palavras pesadas com o missionário a tentar convencer o guerreiro do sertão de que o novo tempo já pede o fim de conflitos armados. Entretanto, é dito aos quatro ventos, Lampião não ignora o padre Cícero enquanto força mística e política, na defesa do povo, e nutre por ele uma devoção comparável à dos seguidores que nele buscam conforto espiritual, mas não ´cai´ na conversa pastoral e ainda ameaça o padre se ele virar o povo contra o cangaço. Por um lado, Lampião quis mostrar a sua devoção pelo padre Cícero, e, por outro, demarcar-se do conceito de resistência pacífica que o religioso defende, e só. O ´santeiro´ italiano Agostinho Balmes Odísio, testemunha epocal, registra em suas anotações a bestialidade da jagunçada que forma o grupo cangaceiro de Lampião e Maria Bonita, por um lado, e a tenaz defesa do ato pacífico pelo padre Cícero, por outro. O religioso, na verdade, torna-se paradigma de uma religiosidade assente na virtude popular de resistir às prepotências institucionais, tanto políticas como igrejistas: ele foi caluniado e vítima do jogo de interesses do poder. Ir além desta verdade é construir estórias que não fazem nem boi dormir no pasto, ou querer fugir da canga.
Parte 9
Rascunho Poético Ryo Siará, Séc. 14
1 na maresia que guia o marujo na tensa atalaia da matina ele percebe que está pelo que é – percebe o instante que é uma terra nova de gente cativa em próprio mundo paraíso de nua alegria
2 além ryo siará um pao de tinta fascina o capitão brandão e logo o rei afonso e o papa clemente e então o ryo siará é o cais d´outro portugal nova vertente no mar de longo e coração mercantil da tinta que o mundo tingirá
Capitão Brandão e o Novo Mundo
já me dizem de ti ó ryo siará caudal a seguir do mar pelo sertão adentro és terra além das linhas portulanas és a vida novos em surreais mapas ódios e amores cabem em ti ó ryo siará caudal que vou seguir sertão adentro
Ryo Siará, Séc. 17
Colonização rito pagão celebra a divindade na vida d´agora colono e padre d´igreja vivem nudez d´alma com gentes virgens e pajé projeta-se a luz velha e desinibida no agora rito d´apagão
Paixão No Siará
em trópicos mares onde o fortim assombra a liberdade em nativos lares nem galego nem latim aqui falam os potiguares uma nativa que pena d´alencar diz ser iracema encanta o capitão moreno sangues quentes em paixão plena mundo novo outra vida nem galego nem latim se diz amor em tupi nos trópicos mares
Siará & América
de afonso sabemos de uma terra de brasil de Vespúcio mapeamos e dizemos américa paixão no primeiro desembarque cais d´águas que o potiguar diz ryo siará
misterioso ritual magia cósmica d´alegria – uma américa doce e livre e eis que nela o capitão moreno quis provar a louca alquimia em raça sem igual
o neto da republicana bárbara dito josé criou na emoção d´alquimia uma mulher américa virou iracema o mundo novo na paixão a viver poética precária do ser que não o é
POEMA DA QUARTA PARTE & DO PAO BRASIL NO RYO SIARÁ Ora, Se é Terra ao Largo D´Este Mar, é Terra Nossa!
1 E quão vasta é a costa... Ó, que monstros habitam tamanha ilha?! Se em Lisboa o velho Pessanho nem alcança a quarta parte do mundo na luneta d´almirante, ora vive Portugal a odisseia que Sancho Brandão alcança já descabelado, mas de braga e sem turbante diante de coisa que se diz ser ilha neste 1343, ano do desaparecimento dos terríveis monstros! Ora que é 1343, singra o barco português em novos encontros d´acaso. O mundo é tudo e uma humana ilha!
2 Não se diga – porque os lusos foram na força da natureza e emborrascados – de ciência nem d´arte de içar velame latino em caravelão..., não se diga, pois, mal do acaso, que o acaso é aqui uma bolinada de ventos e maresia na vera emoção da morte qu´espreita cada marujo, e se de fiasco ou de sorte se trata, eis Portugal a navegar em arte d´estar onde outras gentes não têm a alma da força. Da borrasca à finisterra quis Sancho Brandão e sua tropa maruja fazer louvação ao nada, mas encontrou tudo em nova parte!
3 Floresta, montanha, rio, homem e mulher, planta e animal; muito sol e natural nudez, e tinta escarlate nos corpos nativos que dizem d´arte nova – e quais deuses, os portugueses extasiados. Que gente é esta a viver como ao mundo veio e que prova ser a finisterra invenção d´ignorância? Os aparvalhados portugueses caem de joelhos diante d´altivez e da pureza naturalíssima de cada homem, cada mulher. Sabem da vida pela ciência de a cada instante sobreviver, têm como vestimenta a solidária nudez.
4 Antes do trato da fala surge o trato do falo, mas logo a marujada entende que não é só desejar, que do ritual de vivências o costume em terra nova d´além finisterra é ser natural. Da tinta escarlate que veste os corpos d´atitude quer Sancho Brandão o pao de tinta. Ah, descomunal
achado! Eis o pau-brasil que faz reis e o clero sonhar ricas roupas. Ó, político afago... Além das tormentas, os monstros não se viram, só o trago d´aguardente da marujada no velho medo de morta acordar. 5 O capitão olha as três partes da carta d´Isidoro, Olha-a de um jeito e d´outro como se ampulheta fosse – súbito, pega um farrapo de velame e desenha com carvão de fogueira: Eis aqui a quarta parte!, diz. A seus pés está o novo mundo. Portugal não é mais um pedaço ibérico sem eira além de si, e o capitão Sancho Brandão registra o mundo desta terra para dar a ver a Afonso IV a nova posse, vencidos os monstros e rasgada a carta d´Isidoro. Do tropical ryo siará o capitão diz: Sem riso nem choro, eu vos digo, ó mundo, Portugal ora é reino grande em fé e posse!
6 O gajeiro que a boa nova dera após a borrasca guarda do capitão adaga d´ouro, e a tropa naval se recompõe dia após dia entre gentes de alegre nudez. De tal sorte que alguns ficam na foz do ryo siará com mulheres novas de riso largo já aguardando novo mundo, outra raça de porte guerreiro. Povo de cais em cais, ó Portugal, ora tens outras paradas: gentes d´além mar te renovam como o sol se põe para fazer com a lua um amor de terna borrasca! Embarcado o pao de tinta, Lisboa será alcançada e, a Flandres, como Roma, saberá que outro poder se lhes opõe!
7 A melancólica cançoneta dos marujos em quarto d´atalaia destoa da festa d´arromba que o palácio real vive que do relato e mapa do capitão manda el-rey fazer carta régia a Clemente VI, o papa em Roma.
É festa na Lisboa rica, que nos becos o povo nem sabe da vera grey e chora a vida do nada e da dor. Vero, que a vida nem é longa, logo, o melhor é apanhar o prazer possível. O mundo ora vive a era da marinhagem n´alto mar, mas já está d´atalaia! Já querem ver a Lisboa cair na gandaia para na calada lhe levar o mapa. É o mundo!, diz-se, e assim se vive!
8 Terra, terra e mais terra. O papado de Roma vê a terra nova como quintal e o pao de tinta é preciosidade. Taxas por cabeça d´escravo e quintal de produtos, que o papado não vive d´ares nem d´água benta! Os reinos fiéis são aqueles como Portugal... Tudo pro papado nada pro povo!, que a canalha não é benta... Alvíssaras!, que Roma é tudo e é de Deus a cidade, que se faça ouvir na cristandade [e de Portugal] a boa nova! Mais barcos se fazem ao mar´alto, os marujos têm canção nova mas nem os velhos gajeiros lhe sabem a idade.
9 Longe de tudo, abrilhantado, o capitão Sancho Brandão está na sombra do velho Pessanho. Assim é a vida!, escuta outra vez após o Te Deum, que lhe soou a mortalha. Outros já navegam a buscar na terra nova mais pao de tinta. Outros reis querem do papa carta livre, e Afonso IV maltrata tais quereres: É nosso esse mar!, diz, em jeito de boa pinta, mas de olho na Flandres. Quer riqueza e alimentos, quer solidez, quer o mundo a seus pés, já esqueceu até o capitão! Franceses e ingleses estão d´atalaia, pois, ninguém vê mais o capitão. O que querem? Chegar à terra nova do português!
10 Mergulhado n´alcova palaciana vai o reino de Portugal, que os cronistas dizem ser d´intrigas. O mal de sempre no ibérico pedaço. Com terra n´além-mar e um pau-brasil que é fortuna, Portugal esvai-se entre linhagens fúteis e um clero tal e qual. A já famosa Ilha de Brasil é pirateada com vil ganância e as gentes de lá ora são úteis bestas de carga. Ontem, hoje e sempre, o mundo humano s´elimina com espelho em Portugal. Para o capitão Sancho Brandão foi o ryo siará um novo graal e 1343 a página que o mundo guardará para sempre!
Ilha do Brasil [1343-2013]
Parte 10
Notas do Autor
1 Acerca das Pontas do Novo Mundo Os espanhóis estiveram no Brasil, sim. É fato. Teria sido o cabo mais além, em Pernambuco (o St Agostinho), a ponta de Mucuripe, ou a foz do Ryo Siará? Pelo que se pode aferir dos relatos de um deles, entre fevereiro e março de 1500, tudo leva a crer que esteve na ponta siarense: foi o navegador Pinzón. O reino de Castilla y Aragón (núcleo da futura Espãna) quis, em pleno Tratado de Tordesilhas, conhecer os planos marítimos do rei João II, mas os esforços navais direcionados à rota para a Índia estavam adiantados, e de tal maneira que quando Colombo retornou do mar Atlântico dizendo ter encontrado a Índia, o rei português deixou-o passar por Lisboa sem quaisquer questionamentos, porque ele sabia que Colombo estivera muito longe da Índia – e mais: que Colombo nem tocara a costa da terra de brasil que o capitão Brandão descobrira em 1343. Colombo navegara sem saber para onde, e ele mesmo o diz no seu diário de bordo. Eis que as pontas do novo mundo podem ser consideradas a foz do Ryo Siará [Fortaleza], a norte, e a aldeia Gohayó [S. Vicente], a sul.
2 Poética no Romance d´Iracema Iracema é uma cunhã tabajara idealizada por José de Alencar. No ano 1498 foi ele vivenciar umas merecidas férias e, no retorno, com vários apontamentos acerca das lendas nativas oriundas do processo de colonização no Sécs 16 e 17, criou a figura Iracema enquanto amante do capitão português Martim Afonso Moreno e, no conjunto, a epopeia lírica do genocídio que acabou com as tribos e as suas línguas. Na verdade, a vestal alencariana é a cunhã tabajara que se enamora de um colonizador e entrega a sua virgindade não aos deuses nativos, mas a uma potência estrangeira que faz alastrar a destruição entre os povos nativos. É o cunhadismo colonial/colonizador que tem paradigmas em João Ramalho e Cosme Fernandes, que se transformam em imperadores regionais pela força das filhas dos caciques das quais fazem brotar a raça mameluca; paradigma que se expande na história ocidental no romance do caramuru [Diogo Álvares] com a nativa Paraguaçu, filha do cacique Taparica. E nos tempos dos ´paulistas´ Ramalho e Fernandes, os amores do ´velho´ Sardinha por uma
guarani fez nascer um outro Sardinha (o Moço), mameluco que ficará famoso apesar dos entraves político-judiciais à atividade dessa nova gente dita brasílica, principalmente com armas. É verdade que a ficção imita muitas vezes a realidade, entretanto, a prosa alencariana trata a mitologia dos povos da terra de brasil como um poema liricamente livre para retratá-la numa estética que favorece a identidade nacional. E aqui está a chave do sucesso de Iracema, a vestal dos lábios de mel na pena alencariana: ela é a virgem que celebra a sua gente e ao mesmo tempo o cálice de sangue que sacia a sede do conquistador.
3 De Um Erro De Colombo Ao Descuido Acadêmico Ilha Guanahauí, Antilhas. Corre o dia 12 de outubro de 1492 quando Colombo desembarca numa das praias locais e é recebido por um povo desconhecido. Só podem ser as gentes da Índia..., pensou ele. Afinal, embarcara jurando à rainha Isabel que a rota traçada o levaria à tão cobiçada Índia das especiarias, sedas, rubis e ouros. E registrou “índios” e “índias” ao se referir às gentes locais. Esse erro histórico foi permitido pelos portugueses até à chegada de Vasco da Gama em terra do oriente e às riquezas indianas, mas... desde o mais alto acadêmico à mais simples pessoa, os povos nativos da (futura) América passaram a ser chamados de “índios” – e hoje, meio milênio depois, o erro persiste estando os (poucos) descendentes se autodenominando “índios”...!
4 Uma Republicana Chamada Bárbara Bárbara. Um nome e uma mulher. É nesta mulher que assenta uma das primeiras ações políticas contra a monarquia imperial brasileira chefiada por Pedro I. E com ela toda a família. E toda a vila do Crato, no coração do já Ceará, e não mais Siará. Empresária rural abastada, mãe, letrada e leitora das circunstâncias sociopolíticas e econômicas do seu tempo, tornou-se a força ideológica do movimento que ficou conhecido como Revolução Pernambucana, iniciado em Recife a 6 de Março de 1817, com Frei Caneca, Domingos José Martins e Antônio Carlos de Andrada e Silva; e foi o seu filho José Martiniano quem, a 3 de Maio, em plena missa dominical na igreja do Crato, proclamou a República. A força da matriarca era social e política, não era militar, e assim, a primeira mulherpresidente de um ato republicano no Brasil foi aprisionada e arrastada a pé, com os demais, para a masmorra em Fortaleza... 600 quilômetros em um mês sob o impiedoso sol nordestino. Por 3 anos ela conheceu diversas prisões. A senhora do Crato, apesar das dificuldades, tem forças para se envolver diretamente em outro levante republicano: a Confederação do Equador. E então, estão com ela novamente os filhos, que vê serem mortos: só um escapa com ela. No ano 1832, a senhora da República do Crato morre sem ver o ideal realizado, porém, a sua ação perpetua-se no imaginário popular e político.
no coração e n´alma a senhora do Crato levanta a República em essência e com ela vai a democrática regência da coisa pública para um povo grato
que com ela lava a alma perpetua-se no povo a chama revolucionária da senhora do Crato [Barcellos, João – in Poemas à Senhora do Crato, 2011]
Nascida nos idos 1760, Bárbara de Alencar provou que a mulher não é um objeto social no enquadramento patriarcal, mas a pessoa que pensa e age pelo bem comum e nisso virou heroína... A sua fama de mulher que sabia repassar ensinamentos e ideais fez com que o imperador Pedro II temesse que o escritor José de Alencar, neto dela, levasse ao Senado aquele espírito republicano...
5 Os Arquivos do Vaticano e a Terra de Brasil Entre os séculos 14 e 16, dois documentos falam a mesma língua maruja-cosmógrafa sobre uma mesma terra – a terra de brasil, assim designada pelo rei português Afonso IV em 1344 em carta enviada ao papado católico, em Roma. Um deles é essa mesma carta com mapa apenso, o outro é o livro de Duarte Pacheco Pereira intitulado Esmeraldo de Situ Orbis com a descrição das suas viagens pelo oceano atlântico.
E quando Duarte Pacheco Pereira diz que na “costa, do mesmo circulo equacional em diante, por vinte e oito graus de latitude contra o pólo antárctico, é achada nela madeira muita e fina da que chamam brasil”, ele simplesmente reconhece o que na carta de 1344 é dito ao papa pelo rei português – e mais: ele vivencia as mesmas rotas de Sanches Brandão, o capitão da marinha mercante que primeiro abordou a costa brasileira e que, a partir de então, o corte e comercialização do ´pao vermelho´ passou a ser parte da política entre Portugal e o Vaticano. Isto explica, também, por que o rei João II impediu a presença do papa no Tratado de Tordesilhas e por que deixou Colombo navegar além da costa brasileira...
6 Acerca de 1343 e do Interregno Ultramarino 6.1 Não se sabe ao certo se o capitão Sancho (ou Sanches) Brandão chefiou um caravelão, mas este era um navio então, no Século 14, utilizado pela ainda iniciante Marinha Mercante portuguesa, principalmente na exploração marítima; e, de tal sorte, que veio a ser alterada para dar lugar à caravela, no Século 15. 6.2 A odisseia marítima do Sancho (ou Sanches) Brandão, oficial d´el-rey Afondo IV, o Bravo, foi o desdobramento de uma terrível borrasca ao largo da costa africana, em meados do ano 1343, que o lançou quase diretamente para a costa norte do Brasil em poucos dias, tal a intensidade do evento naturalíssimo. Avistada a costa desconhecida, o capitão deve ter percorrido alguns pontos/praias, mas principalmente deve ter desembarcado na ponta onde o Ryo Siará faz foz, uma vez que logo encontrou gente nativa e muito pao de tinta. A descoberta de uma (ou ) das Ilhas Ocidentais, deixou Lisboa em alvoroço, e o el-rey Afondo IV enviou ofício ao papa Clemente VI, em Fevereiro de 1344, dando conta do evento,
sem deixar de apensar ao documento um mapa (possivelmente um rascunho do próprio capitão) no qual se lê a inscrição “Insula de Brasil ou de Brandam”. 6.3 O que levou Portugal a abandonar a Insula de Brasil ou de Brandam, anos depois da descoberta? Quando el-rey Diniz deu ao capitão genovês Manoel Peçanho o almirantado da Marinha Mercante lusa indicou a necessidade de avançar em alto mar na demanda de novos mercados, e foi o que aconteceu, e assim continuou com el-rey Afonso IV. Entretanto, tais avanços ultramarinos, entre fracassos e pequenas alegrias, até ao evento do capitão Sancho (ou Sanches) Brandão, em 1343, não tiveram depois continuidade. O que se passou? A verdade é que poucos armadores e banqueiros-comerciantes se aventuraram na odisseia real e, quando rebenta a Crise de 1383-85, dita Interregno – e porque foi isso mesmo para Portugal no que tange ao mar a ser desvendado e ao comércio do pao de tinta (pau-brasil) –, a Nação está politica e economicamente encalhada, e talvez militarmente. Ora, o sucessor de Afonso IV, elrey Fernando não deixou herdeiros-homens, o que alimentou na corte espanhola de João I de Castela a intenção de dobrar Portugal de uma vez; entretanto, as cortes lusas escolheram João, de Aviz, como novo el-rey, em 1385, e foi o bastante para, em 14 de Agosto, ordenar a Batalha de Aljubarrota e vencer os castelhanos, sobressaindo então Nun´Alvares Pereira, logo nomeado condestável de Portugal. Assim foi. E durante todo o Século 15 percebe-se apenas um homem tentando retornar à ciência náutica e permitir que Portugal avançasse no mar oceano: Pedro, o duque de Coimbra, que adquire de Fra Maurus o mapa-múndi com as indicações da jornada chinesa, mas, assassinado em Alfarrobeira (20 de Maio de 21449), mais um interregno impede Portugal de avançar, até que o seu neto e el-rey João II faz da carta de Maurus a base para um Plano da Índia enquanto trata diplomaticamente outras questões em Tordesilhas (1494)... mas, é envenenado e morre em 1495, e el-rey Manuel herda todos aqueles esforços políticos e científicos para enriquecer a nobreza e o clero, enquanto Portugal definhou na miséria. Eis por que Portugal não conseguiu aproveitar plenamente os resultados fantásticos da odisseia marítima do capitão Brandão, oficial d´el-rey Afonso IV. 6.4 Sobre os “descobrimentos” fala-se muito do infante Henrique, irmão de Pedro, mas não se diz que foi Henrique uma figura apagada, cavaleirosa e regicida, pois, no norte d´África deixou o irmão mais novo morrer na masmorra árabe para não responder ele mesmo pelos seus atos de comandante fracassado. Também, não se moveu para defender o irmão e regente Pedro, da Casa de Aviz e da Ordem de Sant´Iago, assassinado pelos feudais da Casa de Bragança ligados à Ordem dos Cavaleiros [templário] de Cristo, da qual ele [Henrique] era o grãomestre... E morreu, fracassado, quase no anonimato, como contador-mor templário e sem ter erguido a tal Escola Naval de Sagres – uma farsa política levantada pelos acólitos fascistas do regime salazarista do Século 20. Enquanto isso, a Nação portuguesa desconhece que o duque e regente Pedro fundou a primeira Universidade de Coimbra e veio a ser celebrado na literatura de cordel europeia como o Infante das 7 Partidas...
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/// Fotografias & Gravuras Imagens capt[ur]adas em arquivos institucionais e via web (estas, com acesso autoral livre), e também do arquivo do autor. ///
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/// Centro de Estudos do Humanismo Crítico / CEHC Grupo de Debates Noética [www.noetica.com.br]