Memória & Ficção

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Centro de Estudos do Humanismo Crítico Portugal & América Latina

Grupo de Debates Noética

Memória & Ficção escritos de

Pedro Fabiano

Coordenação de João Barcellos São Paulo / Brasil, 2017


Índice

Apresentação

Um Intelectual Na Trincheira Dos Saberes O Sonho Paranapiacaba: da Tapioca ao Café O Quarto Tomar (poema) Fazenda Ponte Alta


Um Intelectual Na Trincheira Dos Saberes João Barcellos

1 O ´habitual´ não é mais o mesmo, e talvez nem exista. Décadas atrás, isto mesmo!..., sentávamos em torno de uma mesinha de café e ali mesmo fazíamos fluir diálogos tecnológicos e filosóficos intermediados de folguedos esportivos e políticos diante dos jornais do dia. E, obviamente, de olho na menina eleita e que nos fazia tremer o coração, quiçá, um poema na ponta do lápis para ela... É difícil, hoje, sequer entender aqueles tempos de romantismo e de inconformismo generoso. Aquele olho no olho, palavra a palavra, autêntico tabernáculo de ideias a gerarem posicionamentos carregados de atos e de simbolismo puxando para a inovação da espécie que somos. Nos bares acadêmicos e proletários, quase sempre com militares (sim, também eles) no encalço de mais saber, a palavra carreava uma linha de equilíbrio social – e, digo, a ideologia tinha nome: a mátria nação. Por isso, a leitura de um texto já nos dizia de um perfil a aplaudir ou a ser cooptado para o grupo de intelectuais (de café). Recentemente, quase esquecido daquele ´hábito´, li um texto e dele retirei a poesia do tempo: era um texto técnico com sabor a história e cheio de saberes: uma fragrância intelectual. Ôba, estamos na mesma trincheira!, pensei. Era um texto do professor e engenheiro Pedro Fabiano, um notável brasileiro imbuído do Saber que gera Conhecimentos no âmbito de um campus acadêmico no qual já poucas pessoas acreditam. Ora, são intelectuais como Pedro Fabiano que renovam a Academia e nos levam à essência socrática do Diálogo social. Por isso, termino este artigo entre a fumacinha de um café brasileiro e celebrando a tua existência, ó Pedro Fabiano!

2 A pessoa não educa pedagogicamente quando se desconhece e, em sua raiz geossocial, não bebe a essência filosófica ´da minha terra vejo o mundo e por ela sou cosmo´.


Lendo “Paranapiacaba: da Tapioca ao Café”, “O Quarto”, “O Sonho” e “Fazenda Ponte Alta”, em meio a alguns poemas como “Tomar”, percebo no engenheiro e professor o Escritor – assim mesmo: Escritor –, que o é por uma produção literária própria aos seus conhecimentos e não ao apadrinhamento de textos alheios pinçados para favorecimento. A fortuna crítica, e isto não é uma megalomania ensaística, que se refere a Pedro Fabiano, passa pela sua raiz geossocial e pela sua essência didáticopedagógica: ele é o paulista que vive o Brasil no seu todo histórico e social, e assim carreia para as salas d´aula saberes únicos com aromas e fragrâncias que são memórias de infância e adolescência, e que se espalham por outros segmentos entre a Academia e a Indústria. “Cualquier destino, por largo y complicado que sea, consta en realidade de un solo momento: el momento en que el hombre sabe para siempre quién es”, dizia Jorge Luís Borges, e em sua frase está a territorialidade ficcional de Pedro Fabiano, mas cujo percurso ele mesmo soube equacionar diante da esfinge que é a vida, pois, nem precisou de ler “...Deixe de ser quem era,/ e se transforme em... quem é”, o poético alerta de Fernando Pessoa para as pessoas desavisadas. Os textos que tratam de história e os que fazem emergir traumas psicológicos do cotidiano urbano têm o mesmo traço social e poético que Pedro Fabiano exibe no contexto tecnológico. Como já o disse no ponto um, sinto-me em ´casa´ ao abordar a produção ficcional e tecnológica de Pedro Fabiano, porque é ele o intelectual que experimenta a vida fazendo de cada momento um laboratório a ser revisitado na leitura d´outrem, quiçá, em livros e em jornais e revistas. Assim é que ler os textos de Pedro Fabiano é [re]ler a vida na sua essência de comunicação social a humanizar cada momento, como ensina[va] Borges.

Pedro Fabiano

Lembro que o professor Soares Amora nos fez olhar a estética ficcional de um modo diferente ao propor um olhar alargado ao mundo das realidades socioculturais nem sempre visíveis, principalmente a partir dos seus estudos acerca de Guimarães Rosa, ou seja, só é possível ser Escritor[a] quando a pessoa imbuída desse modus operandi realiza aí mesmo a vida que vivifica..., o


que está naquele ´alerta´ pessoano nada esotérico. “A presença da ficção na literatura permite uma estética evolutiva, porque incentiva a (re)criação do todo humano e telúrico-cósmico, ora, a literatura difere da reportagem jornalística, é poesia pura ao transportar as sensações invisíveis da cada pessoa para a praça pública [...], e então, quando a pessoa é escritora ela fotografa a alquimia circunstancial do fato vivido e lhe dá um território que só a humanidade possui”, como ensina o poeta e jornalista J. C. Macedo. Nem se pode esquecer que o mesmo Soares Amora veio até nós com o ´ambiente urbano´ para definir a fortuna crítica de, por exemplo, Machado de Assis, o que revolucionou o que o próprio Assis já dera como novo mundo literário ao tempo de Camilo Castelo Branco – ou, a lusofonia assumida no seu contexto litero-histórico por quem da Língua fez e faz a ponte civilizacional. É este o momento crucial na produção literária de Pedro Fabiano: “o saber profundo sobre uma Língua que une tempos e espaços” [Macedo, idem]; um conceito que está bem demarcado em ´A Selva´, de Ferreira de Castro, conceito luso-brasileiro que ele, Fabiano, percorre com passadas de intelectual cuja bagagem não é ´tralha´ de dicionário de rimas... Pedro Fabiano encontra o Eu-mesmo na leitura das circunstâncias que proporciona, e por isso, os seus textos são pinceladas – e ele também desenha e pinta, é um artesão além de ser engenheiro – a retratar vivências de um hoje que pinça no ontem ´pontes´ para possíveis diálogos. Ele é aquele ´el hombre´ de Borges a ´fabricar´ o [seu] momento. BARCELLOS, João _ escritor e conferencista. Parte ´um´ escrita aos oito de julho nos dezessete anos do dois mil e em plena Sam Paolo dos Campi de Piratininga., e parte ´dois´ aos vinte e quatro do mesmo mês e no mesmo arraial piabiyuano que os tupis e guaranis ´ofertaram´ aos portugueses de serr´acima nos séculos quinze e dezesseis.


O Sonho Acordou de chofre com os cantares dos pássaros na madrugada. Ainda o sol não havia espiado direito por entre as montanhas de Minas. Se alongou meio preguiçoso, se refazendo do sonho que havia consumido sua noite, parecia, toda percorrida. Não sabia se era o homem ou o menino do sonho. A cabeça ainda voava pelas ondas do tempo. Mas teimava por entender o que havia ocorrido. Estava longe dali; numa casa singela, de quintal arrumado em alas, com mexeriqueiras e orquídeas, divididas por corredor em pedras catadas com cuidados e postadas lado a lado. Era vivenda feliz, pensava o menino; tinha samambaias no alpendre, que protegia a porta da cozinha ampla e limpa, clareada pelos azulejos alvos e brilhantes. Tudo tinha um cheiro de tia prendada, que primava pelos bibelôs que ornamentavam a penteadeira, trazendo no azul profundo de seus olhos o reflexo da bailarina que dominava a peça do toucador mais fino. E o alpendre, vez por outra tratado pela alcunha de varanda, guardava seus segredos: um facão de caça, alguns apetrechos de pesca e, diziam os mais velhos, que até uma cartucheira de cano longo se aninhava por entre as portas e gavetas de um armário, que o tio brincalhão, aos olhos do menino, dizia ser um quartel de baratas. Mas tudo era de um frescor que beirava a uma chácara encravada numa rua calma, que na verdade homenageava o frade bonachão, amante de bons vinhos, de bochechas avermelhadas, como havia ouvido o menino, túnica em marrom arredondado pelo barrigão generoso, deixando os dedões dos pés expostos entre as tiras das sandálias de couro. Tudo isto num lampejo, que no sonho do menino, ou do adulto, fez da noite um cinema antigo. Mas teve mais. E ora o menino se elevou quase aos céus quando a menina surgiu com seus olhos que sorriam sob as sobrancelhas arcadas e felizes. O menino se desmanchou, como era de costume, ao ver aquele rosto com uma luz que apontava, naturalmente, para o caminho da liberdade. Da felicidade.


Era ela, ao mesmo tempo, o mistério e o escachado. O simples e os labirintos dos caminhos mais doces da infância quase adolescente, nas descobertas dos saborosos frutos não provados. E era mais, pois trazia sempre uma história contada na empolgação dos seus olhos, com o brilho das cores, que mais tarde cobririam telas com tintas infinitas. Mas, voltemos ao sonho, que não era mais sonhado, mas revivido nos sabores dos detalhes. E espaventando o sono encruado, passou a recordar momentos delineados por entre as cordas do tempo. A menina pegava na mão do menino tímido e sem jeito, puxando-o para a vida. Colocava a música na vitrolinha que rodava a última do Roberto, inédita aos ouvidos gulosos que devoravam os versos como um milk shake de chocolate: “Eu te amo, eu te amo, eu te amo...” Só ela mesma para trazer uma novidade desta!... Não havia limites para sua alegria de viver. E o menino observava aquela menina de longos cabelos, largos sorrisos, loucas gargalhadas. Mas o sonho se transportou a outro tempo. E o menino, já adulto, encontrou a menina já mulher, nas emaranhadas redes da vida. Entre cores e versos surgiu outra face da menina brincalhona que beirava à inconsequência. Foi uma surpresa indecifrável. Se falaram por uma espécie de telepatia codificada. Trocaram planos improváveis. Criaram um mundo paralelo. Mas, novamente, o tempo se rompeu e tudo se escoou pela fenda aberta. Porém desta vez o menino, que já havia provado da arte de criar coisas belas que a menina tão bem sabia, resolveu dar continuidade ao sonho. Ele inventou um encontro sublime, em meio as artes dos mestres, expostas em salas amplas de uma Pinacoteca generosamente encravada ao lado de um parque que já iluminou a arte do belo. Eles sorviam cada luz, cada cor, cada mestre eternizado em tela divina. Enfim, um tocar nas mãos suaves e cândidas durante um café em agradável ambiente contíguo, selou o encontro sonhado. E o menino retornou do sonho com a sensação de final feliz, sem transgredir o instituído, pois almas assim se tocam em outros planos, eternizando o beijo.

Do Sonho Lido Na Sua Circunstância A alquimia da inocência leva-nos à provação da vida, qual livro que, aberto, nos ´olha´ a permitir outras vivências e ainda nos ´diz´ vai em frente que outros livros te acolherão. Sim, a vida é singela assim mesmo, porém, torna-se esotericamente complexa quando a infância é já tangida por uma adolescência que prima pelo toque do quero-saber-como, pois, simples são os labirintos na sua engenharia humana, e o que os torna as mais das vezes complexos é como cada pessoa se relaciona e produz uma geossociedade de raiz.


Ao ler ´O Sonho´, um conto de Pedro Fabiano, mil e uma imagens da minha meninice surgiram só de lembrar os dedões dos pés do frade alongados para fora das sandálias e, obviamente, o primeiro garrancho poético para a moça que no pátio da escolinha me tirava do ´sério´. O que nos alimenta (e retroalimenta) as vivências é essa alquimia a puxar para o heroísmo sadio e libertário de viver a vida. Ora, se entre a infância e adolescência as circunstâncias geossociais nos dizem para sempre, a amizade e o amor sublinham as raízes que (nos) são marcos existenciais, ´alpendres´ que não permitem distanciamentos da realidade que nos foi e é cara. Sob ´o sonho´ existe sempre uma filosofia indicativa sobre o que somos, porque esse momento onírico permite-nos um retrato da emoção vivida. O retrato da pessoa que o é em si mesma e não se nega. João Barcellos, 2017.


PARANAPIACABA DA TAPIOCA AO CAFÉ A Porta De Entrada Do Novo Mundo

O Cambuci pendia no galho baixo, tão gentilmente oferecido que o curumim não resiste em apanhá-lo.

Esta singela imagem iria se perpetrar por alguns séculos naquela úmida e rica mata da Serra do Mar. Assim se desfiava a linha tênue do tempo. Assim escorria lentamente a vida pela serra da qual se mirava imponente mar, pelo qual os intrépidos navegadores chegavam ao então novo e desconhecido mundo. Paranapiacaba contemplava, impávida, o desenrolar da história.


Em suas matas generosas que permitiam ao povo de Tupã degustar o manjar da fruta sobre a tapioca ainda cálida, agora se alinham trilhos de ferro que sustentariam pesadíssimos vagões repletos do rico "ouro verde". Em sua saga, Paranapiacaba placidamente assentada no estertor da transição do planalto para desfiladeiro íngreme, sedimenta seu papel testemunhal na história luso-silvícola-colonial-migratória. O café por ela escoa. Barão de Mauá, um eminente homem de negócios, amoldado pelo tino britânico, regozijava-se do feito hercúleo logrado a êxito. Banhara aquelas terras os suores afros, a remoer seu banzo, ora em sucessão pelas lágrimas das saudades europeias que só a boa língua lusitana permite exprimir. Da itálica península acorriam pálidas faces, cálidas esperanças, válidas conjecturas pela fortuna do Mundo Novo. Por ali alçavam os comboios de sonhos, de mãos calejadas, de línguas diversas e argumentos convergentes. Ao fim ao cabo, o mesmo objetivo, trilhado ao ritmo sincopado do bater das rodas de ferro pelo Planalto Paulista, bandeira das treze listas, que fora empunhada por destemidos braços, pelas entradas que incursionavam sertão a dentro, sobrepujando as Tordesilhas imaginárias. Agora eram outras as monções, seriam diferentes catequeses, aguardavam singulares lavouras do fruto doce que Palheta trouxera em seu bojo de sargentomor, dando à pretérita Terra Brasilis o tesouro maior de então. Lavrando o eito, virando a terra, sangrando as mãos... lá se vão os sonhos e vêm os incontestes. E pela linha férrea de Paranapiacaba a riqueza escoa ao Porto de Santos, ligando o noviço ao ancestral, moldando a língua aos novos termos, em locuções tresloucadas como “locobreque”. E assim se perpetua a contemporânea vila laboral dos ingleses ferroviários, onde o baixo e o alto em pacífica convivência se complementam. Onde o Tempo está finamente confinado, na redoma de alva cerração, qual pandora do Bem.


O Quarto A tarde úmida cedia seu lugar para a noite. Gregório caminhava apressado, pisando, despercebidamente, sobre as folhas grudadas na calçada. Seu andar ligeiro era em vão --- ele mesmo o sabia --- porém, habituara-se a agir desta forma. Talvez procurando economizar o tempo, ou mesmo vencê-lo. Ao abrir a porta de seu quarto, sentiu um aroma de limpeza. Este era o dia em que a velha Palmira fazia a faxina periódica. Parou ao centro do cômodo, entre surpreso e analista, e sentiu-se um tanto alheio. A disposição dos móveis escassos, porém suficientes, fora alterada. Algo repelia sua habitual interação com o ambiente. O quarto era como uma continuidade dele mesmo. Provavelmente, pensou, fora a neta da velha quem fizera a arrumação naquele dia. A pobre matrona, já da última vez que a viu, demonstrava-se um tanto enferma. O que, realmente, chamou-lhe a atenção foi o espelho que, de ordinário, pendia na parede onde ficava a janela, agora ocupava a parede vizinha, tomando um ângulo diferente. Gregório caminhou até se enquadrar no novo reflexo. Sentiu-se mais estranho ainda ao ambiente modificado. Notou, com relutância, que parte de seu Eu havia assumido, involuntariamente, novos valores. Olha-se, agora, como que pasmado diante da súbita solidão. Deitou-se no escuro. Apenas um tímido foco de luz entrava por entre uma pequena abertura na janela, projetando-se na parede oposta. Vieram-lhe os mesmos pensamentos de todas as noites, porém, nesta havia algo de especial. Costumava dividi-los com o restante do quarto. Agora estava só. Invejava-o. Acendeu um cigarro e soltou uma densa baforada. A fumaça cruzou-se com o foco de luz, animando amórficas figuras na parede. Podia ouvir o som agoniante do ventilador que, em geral, colocavam à cabeceira do caixão dos mortos.


Conversa, entre chorosa e formal, dos frequentadores de velórios enchia o vazio em seu redor. Via-se, simultaneamente, levado que era pelas mãos de sua mãe, em diversas salas de mobílias antiquadas e mudas, onde ao centro jaziam cadáveres sob flores e mortalhas. A ridícula distribuição de cadeiras, ladeando os esquifes, como que plateia de um espetáculo gratuito. De seu ângulo, não raro, deparava com o relevo do corpo, no qual se ressaltava o nariz com seus orifícios bloqueados por algodão. Moscas, indiferentes a tudo, revoavam os mortos e eram logo afastadas por algum parente em sentinela. Agora a fumaça de seu cigarro delineava figuras ora semelhantes à coroa, ora idênticas ao fumo de incenso. Em um golpe rápido estraçalhou o cigarro cúmplice. Estava nervoso e cheio de ódio. Odiava todas as personagens daquela fúnebre encenação. Detestava aqueles que o incluía nessa tétrica comitiva. De súbito, como que movido por algo mais forte, levantou-se e saiu batendo a porta. Não suportava mais aquela noite de visões alucinógenas. Estava disposto a evitar a sufocante solidão imposta pelo quarto. Desceu a rua tomando um rumo a esmo, a princípio, depois decidiu caminhar para o lado do cais. Sua resolução espantava a ele próprio, pois, sabia que encontraria inevitavelmente, prostitutas nas ruas adjacentes. Sabia que procurava suplantar suas alucinações, porém esta não deixava de surpreendêlo. Caminhou por mais algum tempo. A noite, a exemplo da tarde, era fria. Raros transeuntes vagavam por entre a névoa expelida pelo mar. As baforadas de fumaça que tirava de seu cigarro avolumavam com o ar quente que lhe saiam das entranhas, confundindo-se com a atmosfera, formando um único elemento. Com dificuldade, conseguiu divisar duas mulheres. Hesitou, por um instante, depois retirou a carteira do bolso. Abriu-a, examinando a quantia em dinheiro que esta mantinha. Efetuou alguns cálculos rápidos e mentais. Ponderou, ora sob um ponto de vista, ora sob outro. Sabia que seus gastos eram mínimos, porém suas posses também. Concluiu seu raciocínio com certa distância das mulheres, temendo uma possível iniciativa destas, no sentido de coagi-lo. Executou uma rápida meia volta e partiu numa retirada não menos rápida. Enveredara-se por caminhos afastados do cais. Aqui a visibilidade era quase sem interferências. Enquanto caminhava procurava afugentar pensamentos de


autodestruição, coletando argumentos que o convencesse do bom senso aplicado

na

recente

resolução.

Contudo,

a

remota

lembrança

dos

acontecimentos passados em seu quarto perturbava-o constantemente. À medida que se afastava, a escuridão se acentuava. Este cenário demarcou, ainda mais, o efeito causado pela luz vinda do fim de uma das ruas. Interpretando-a como sendo de um pequeno bar, dirigiu-se, com passadas largas, ao seu encontro. Não queria beber, estava consciente disto, mas talvez o fato de aparecer uma meta em sua vaga caminhada reanimava-o. Parou, sobressaltado. Aquela cortina negra com frisos amarelos e o pequeno grupo ao seu pé, levou-o a uma conclusão importuna: estavam velando um morto. Numa mínima fração de tempo seu cérebro impregnou-se de situações passadas. Sentiu um torpor por todo o corpo. Girou sobre si, quase sem equilíbrio, e retornou em rápida e trôpega retirada. Já havia caminhado algum tempo, quando voltou os olhos para trás. Foi com certo alívio que observou o desaparecimento, por entre as ruas, da pequena casa. Muito embora esta tenha vindo alimentar seus mórbidos pensamentos. Isto o certificava mais ainda, de quão desastroso seria regressar ao seu quarto. Em seu retorno, tomando as ruas que desembocavam no cais, decidiu, definitivamente, deitar-se com uma daquelas mulheres. Ao conceber tal veredicto, apalpou, instintivamente, o bolso onde estava sua carteira. Considerou, então, a possibilidade de não mais encontrá-las. Praguejou baixo e entre os dentes, contra sua própria sorte. Encostada no batente da porta, logo ao pé da escadaria do hotel, estava uma das duas mulheres, que Gregório avistara de início. Mantinha os braços nus cruzados sobre o peito, numa tentativa de proteger-se duma corrente de vento. Gregório vacilou no início, depois decidiu falar com a mulher. Ensaiou uma maneira dissimulada de chegar até ela, porém, notando que estava só, sentiuse ridículo e foi objetivo. – Vamos fazer um programa? – Perguntou-lhe mecanicamente a mulher. Só ao tentar responder, é que Gregório apercebeu-se da secura de sua garganta. Insistiu em proferir alguma palavra, porém, em vão. Com muito esforço, emitiu um som quase imperceptível e meio animalesco. Enfim, auxiliado por um gesto, conseguiu expressar seu desejo.


Ao se completar a afirmativa, a mulher virou-se e começou a subir as escadas enquanto retirava da bolsa uma chave presa por uma tira encardida. Continuava subindo maquinalmente a escadaria, cantando, baixo e desafinado, uma música indistinguível e inexistente. Atrás dela seguia Gregório que, ruminando suas últimas atitudes, sentia-se como um adolescente tímido. Amaldiçoou seu comportamento ridículo. Ao penetrar no pequeno quarto, Gregório apurou o olfato tentando distinguir o estranho aroma que enchia o lugar. Foi interrompido em sua análise pela batida da porta e pelas palavras da mulher: – O pagamento tem que ser adiantado! Desta vez Gregório não tentou proferir qualquer palavra, temendo passar novamente por idiota. Tirou a carteira do bolso e entregou a quantia pedida pela mulher, procurando não olhar para as mãos ossudas que a pegaram. Ficou, por um momento, sem saber como se portar, enquanto a mulher guardava o dinheiro na gaveta duma velha penteadeira. Esta, sem se voltar para ele, apagou a luz mais intensa, deixando o quarto somente ao sabor de uma meia luz, fornecida por um pobre abajur. No silêncio reinante, só se ouvia o roçar da roupa da mulher, contar seu próprio corpo. Depois o ringir da cama, que mal suportava o peso de sua dona. Durante este ínterim, Gregório permaneceu estático, no mesmo lugar que ficara de início. A mulher bocejou sonoramente e, percebendo a falta de iniciativa daquele vulto imóvel, asseverou: – É bom que se mexa. Eu não tenho a noite toda! Disse isto e virou-se, esticando o corpo magro e cansado. Se pudesse dormiria o restante da noite. Tivera um dia cheio. Pela manhã, atracara no cais, um grande navio mercante. Gregório deixou-se ficar, por mais um instante, naquela estúpida imobilidade. Até que, por fim, se semi-despiu. Passado algum tempo, encontrava-se estirado ao lado da mulher que, abandonara-se num sono pesado. Observava distante a fumaça de seu cigarro dissipar-se no ar. Tratou de se afastar deste foco desagradável. Levantou-se e, como a única cadeira do quarto estava amontoada de roupa, sentou-se no chão. Deixou-se permanecer ali, olhando para o corpo da mulher, que dormia indiferente a tudo.


Não tardou para que se sentisse, novamente, envolto em seus pensamentos fúnebres. A presença de outro ser humano, nos seus processos de depressão, o perturbava ainda mais. Aquela mulher deitada, esticada, sob a ação da luz fraca, se transfigurava. Sobressaia-se, do restante do corpo, o afilado nariz. Por um momento pensou ter visto seus orifícios tapados por algodão; tremeu. O corpo da mulher crescia, avolumava-se. Tudo em seu redor sofria metamorfose. Já não era mais o abajur que iluminava o quarto, apareciam-lhe enormes velas, sobre castiçais. O cheiro de sêmen agora transformando em fumos de incenso. Flores murchas ladeavam uma parte do corpo. Sentiu arrepios. Desviou, bruscamente, o rosto daquela cena horrível. Teve sobressalto ainda maior. Deparou com uma tétrica comitiva que, sentada em cadeiras dispostas em linha reta, velava o esquife. Tentou, com esforço, levantar-se e correr para longe daquele ambiente. Seu corpo estava pesado e mal pode mover-se. Desesperou-se. Usando duma força suprema conseguiu pôr-se de pé. Perdeu a continuidade desta manobra. Parou inerte em meio aos elementos da funesta encenação. Resolveu, de súbito, terminar para sempre com aquilo tudo. Esta resolução o surpreendia e sabia que, para realiza-la, necessitaria de um poder anormal. Voltou-se para a comitiva. Fez menção de saltar sobre ela, mas desta vez desapareceu num instante. Ficou boquiaberto frente ao ocorrido. Dirigiu-se para o corpo estirado sobre a cama. Gregório sentia fortes dores na cabeça, sincronizadas com rápida pulsação de seu sangue. Com as mãos estiradas, projetou-se sobre o corpo em sua frente. Soltou um urro, de animal irado --- que, embora desferido com força, não chegou a ser alto --- começou a apertar e agitar, violentamente, o pescoço da mulher. Esta permaneceu abandonada, como de princípio, apenas com o rosto arroxeado, banhado por uma espuma esbranquiçada. Gregório quedou-se, vitorioso, ao lado do corpo sem vida. Sentiu, ao cabo de algum tempo, que seu corpo flutuava sobre a cama. Olhou ao seu redor. Pousou, demoradamente, seu olhar no cadáver da mulher. Considerou-a, mais do que nunca, um objeto de satisfação. Atribuiu-lhe, surpreso, um valor inigualável, sublime. Conscientizou-se da necessidade de levar aquela carcaça longe dali. Ergueuse. Dirigiu-se para a porta. Abriu-a e certificou-se da ausência total de qualquer pessoa, até onde podia divisar. Voltou ao quarto, vestindo as peças que faltavam


de seu vestuário. Envolveu o cadáver no lençol enodoado onde este jazia. Colocou-o, com facilidade, sobre o ombro. Já ia saindo quando volveu o olhar para a gaveta da penteadeira. Tornou a depositar o corpo sobre a cama. Retirou da gaveta as cédulas pertencentes à morta. Abriu o embrulho e colocou o dinheiro sobre o ventre da mulher. Tornou a recompô-lo e erguê-lo ao ombro. Ao chegar no pé da escadaria, abaixou o corpo até o chão. Saiu e assegurouse de um total abandono, num raio considerável, voltando em seguida. Caminhava em direção ao mar. Pouco mais de cinquenta passos de seu destino, ouviu ruídos de alguém se aproximando. Parou e escondeu o corpo entre algumas caixas vazias. Ficou aguardando o intruso, com respiração um tanto presa. Distinguiu um vulto cambaleante, que vinha da direção das docas. Aguardou algum tempo até que o bêbado desaparecesse por completo. Parando no vértice de um pequeno morro, onde as ondas causavam sonoras batidas, ainda olhou ao derredor. Lançou o corpo ao mar, o qual liberou um baque que se confundiu com o barulho das ondas. Ainda em cima do morro, Gregório ficou observando o embrulho desaparecer. Convenceu-se, satisfeito, que ele continha um passado amargo e sofrido. E que, agora, toda esta carga indesejável jazeria para sempre, pois ele próprio dera cabo dela. Tomou o caminho de regresso dono de um estado, até então, nunca provado. Assobiava, desajeitado, uma melodia de notas descoordenadas. Colocou a chave na fechadura de sua porta e abriu-a rapidamente. Acendeu a luz com sabor. Ficou estático ao centro do quarto. Feliz, executou alguns passos de uma dança ilógica. Sentiu-se completamente inteirado ao novo ambiente. Agora ambos formavam um só corpo. 1976


Acerca de ´O Quarto´ um conto de Pedro Fabiano

A psicose que nos enreda e nos faz manta-de-retalhos é um ente que nem sempre se reconhece no espelho. Vivemos sob duas fases distintas, porém, diálogos transversais – a saber: a) nascemos para viver uma mortalha que levamos para a tumba, ou seja, somos o krónos da sua essência irresistível, e b) somos a oportunidade de um espaço-tempo, tal qual kairós, na assimilação dos particulares cotidianos em nós sedimentados laboriosa e memorialmente via comunidade ou família. A vida que somos é feita de e entre objetos, por isso, e a lembrar as lições heideggerianas, tudo o que nos antecede é carreado em cada caminhar – eis o ´ser e o tempo´, feito ou a fazer... No conto ´O Quarto´, o engenheiro e escritor Pedro Fabiano lança-nos a tradicional imagem de uma psicose cuja funda realidade kairosiana lembra a investigação poético-filosófica ´ao andar se faz o caminho´, de Antonio Machado. O personagem do conto vive a vida e o seu recalque em imagens transversais para [nos] mostrar que o espelho só é fiel havendo continuidade espacial, do mesmo modo que dialoga com a sua intima estrada vivificando nas pessoas e objetos a memória das muitas mortalhas que observara. É um quadro líteropsicológico surreal, pois que o personagem reencontra a morte numa mulher que a seu lado acabara de se deitar. O que fazer? Viver a morte e chamar o coro das carpideiras? Não, nada disso. A resposta ao condicionante quadro de velórios que lhe cerca a mente é uma decisão heideggeriana, porque em havendo vida há morte, logo, o melhor é abrir caminho para uma ´boa´ morte, ou seja, deixá-la em seu curso natural; e, por isso, transporta a mulher-objeto para as profundezas da beira-mar. E, chegando em casa, a superfície que se reflete no espelho não lhe é estranha: é ele-mesmo. Pois, como cantaria o poema pessoano, ele foi como veio, mas ele-mesmo depois de enfrentar, enfim, a morte... Este conto ´O Quarto´ leva a várias leituras, como a que fiz, mas também ao filosófico e eterno dilema finitude-infinitude. Entretanto, ao anunciar-me o envio da peça para leitura, Pedro Fabiano alertou para ´um conto psicológico´ e ao deparar-me com o espelho e a pessoa-objeto percebi a essência do tempo-espaço na sua transversalidade naturalíssima. BARCELLOS, João – Cotia/SP, julho de 2017.


TOMAR Inda que muitos contestam Mesmo com fatos incontestes As evidências atestam Nossas origens celestes Quer venha de céltico idílio Ou brandônicas corruptelas De nobres templários és filho Cruzadas em suas velas Lusas nascentes moldaram Seu destino marítimo Fidalgo em naus oscularam As faces da terra em istmo Hoje nos unem mais que língua Mas sonho de santa conquista Povos em pátria contígua Mesmo que em léguas se dista 11/08/2017


FAZENDA PONTE ALTA

Corria disperso o fio d'água pelos arcos rumo à roda do engenho de beneficiamento do café colhido pelos negros da fazenda do Barão de Mambucaba, encravada entre os morros do Vale do Paraíba. A casa grande, altiva ao largo, guardava os livros do barão que cofiava os bigodes sob a luz de lamparinas, rabiscando o livro-caixa da safra de 1860, um tanto fraca. Pelas janelas amplas divisava pequenos pontos de luzes que furavam as frestas de portas toscas, nos cubículos enfileirados da senzala, onde os cativos se juntavam em bandos de vinte ou trinta, para o descanso do dia duro na lida do eito. Ao longe ouvia o chorar das crianças recém-nascidas da maternidade estrategicamente instalada por ele para preservar os novos trabalhadores para suas roças de café, nestes tempos de dificuldades no tráfico negreiro. O Barão, a cismar, considerava que o ano não tão bom como nas últimas décadas trazia um alento a sua existência já à beira dos oitenta. Aquele jovem escritor da corte visitaria a fazenda no dia seguinte, e passaria uma temporada para um breve descanso, aproveitando para escrever algumas linhas sob a luz da lua preguiçosa destas paragens. O rapaz, bem recomendado pelo seu amigo Quintino Bocaiúva, sozinho mantinha as edições do Diário do Rio de Janeiro. Com nome de batismo de Joaquim Maria Machado de Assis, já em sua pouca idade tornara-se profícuo escritor e jornalista de periódicos de monta. Soltando junto com a fumaça de seu bom charuto da Bahia um desabafo de tédio, o Barão avaliou um período de trégua nos seus dias e noites alinhavados em interminável rosário de mesmices. Consultou seu relógio de bolso, puxando a corrente de ouro que reluzia ao sabor da luz tênue. Hora de se recolher. Amanhã teria que supervisionar com atenção as dependências que preparavam para a hospedagem do jovem Machado de Assis. Passou o ferrolho na porta e taramelas nas janelas. Certificou-se de que havia água na moringa e se a escarradeira estava limpa sob seu catre de madeira nobre. Abrindo a porta do armário avaliou a cartucheira de dois canos, a postos para eventual necessidade. Dormiu como um tijolo! (Seu dito de sempre).


Na manhã, ainda em breu, o tilintar dos ginetes o fez abrir a janela do lado leste de seu amplo aposento. Era Machadinho (como se referia Quintino) que chegara com um petit comité, trazendo ao lombo de uma parelha de mulas, canastras suficientes para uma mudança. Da janela gritou aos negros da casa que acudissem o recém-chegado no apeio dos apetrechos. Calçou as botas, ajeitou o chapelão e desceu as escadas do vestíbulo central num tamborilar sonoro. De pronto foi ter com o hospede aguardado, ávido pelas novas da política imperial; engoliu a ansiedade sobre as frescas notícias dos liberais e esticou a mão cascuda num longo e sacolejante aperto, imprimindo ali sua alegria em ter o jovem Machado de Assis por algum tempo. Cuidou para que tudo se ajeitasse, soltando uns berros aqui e ali para aviar as arrumações das tralhas do Machadinho. Na sequência encaminharam-se para o alpendre já arrumado pelas mucamas com acepipes fumegantes, emoldurados pelo aroma do café fresquinho, que há poucos meses pendiam nas ruas que rasgavam os morros lavrados da fazenda. Se empanturraram em animada prosa. O Barão satisfeito com as novas trazidas e traduzidas por tão brilhante mente, com requintes de ponderações sobre o andar da política através dos labirintos do Senado, deixou que Machadinho se refizesse da longa jornada de dias singrando as serras fluminenses. Ao longo dos dias teria, certamente, oportunidades de conversas a miúde sobre os rumos da Nação – pensou o Barão – para onde iriam dar aquelas chamuscas entre liberais e conservadores; gostava do Imperador; lhe agradava a monarquia e suas cores, ponderou. Mas sabia ser mister se manter atualizado para a sobrevivência de suas fazendas. Machadinho já se acostumara com a rotina agradável da vida na fazenda. De manhã o café no alpendre ao sabor de conversa urbana em meio rural. Até o almoço farto na sala principal caminhava pelas áreas contíguas a casa grande. A tarde alternava preguiça na rede com escrivinhações absortas à sombra do jequitibá. Ao cair da noite, após o guisado substancioso, retomava a prosa com o Barão, numa pajelança com bons charutos. O sono era tão leve quanto a paina nativa que afofava os travesseiros da alcova sempre alva que generosamente lhe mantinham. Os dias escorriam pelas encostas dos cafezais, quando de súbito Machadinho foi surpreendido pela visita de Coriolana, jovem sobrinha do Barão, que chegara de recente estadia em Lisboa, onde concluíra os estudos em história natural. De tês clara, com sorriso nos olhos, pareceu-lhe saltar de um poema de Gonçalves Dias, que quando criança trazia na ponta da língua. O Barão apresentou a moça com orgulho, a quem tratava carinhosamente de Lana, a dizer de seus dotes e singular sapiência, mesmo sendo mulher. Machadinho numa reverência quase teatral, osculou de leve a lívida mão de Coriolana.


Um torpor subiu em sua medula! A moça, em casto vestido, manteve-se impassível, mas deixou um leve e enigmático sorriso no canto dos lábios. O jovem Machado de Assis, como um Dirceu pós inconfidência, sentiu-se pronto para cantar odes a sua Marília recém-chegada. Agora os dias eram mais alegres! Coriolana sempre ilustrava os momentos de refeições com deliciosos relatos de seus dias lisboetas. Machadinho sorvia cada gota, saboreando qual pastéis de nata, aqueles confeitos de cultura e doçura. Mas o Tempo, senhor de todas as coisas, implacável glutão das horas, levava aquele período mágico ao cabo. Machadinho tinha que retornar ao Rio de Janeiro, pois Quintino já reclamara em missiva lhe entregue na fazenda, que o jornal sem ele já sucumbia. O jovem Machado de Assis sentiu quão mordaz é o destino! Quando a vida abre um clarão no obscuro, lá vem a frivolidade para trazer o chão para o onírico, passando seus grilhões no improvável. Assim, como a voltar ao início de sua carreira de escritor, Machado de Assis deixou em redondilhas manuscritas, uma página à Coriolana, talvez jamais lida por outrem:

MORDAZ Ao amor dá-se a vida E tudo mais que venha A calar o peito. E no viver aprender Atos e olhares, Suspensos a emoções. À tarde mãos e risos, Sustentam-se ideias, De noturnos momentos. Acerca de olhares, Ainda que distantes, Delimitam e imobilizam. E neste cálice Incontinente Bebe-se constante O fel Do céu da boca. 22/07/2017


Sobre PEDRO FABIANO Engenheiro Industrial c;/ pós-graduação, pela USP, em Gestão de Projetos e Qualidade. Atua há mais de 15 anos como Professor e Coordenador em Universidades e Faculdades de Engenharia e Gestão de Qualidade, além de Consultor Empresarial para Gestão de Negócios, Processos de Produtividade.


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