Centro de Estudos do Humanismo Crítico Guimarães/Portugal
Grupo de Debates Noética Brasil
PALAVRAS ESSENCIAIS Volume 15 / 2020
Artigos, Ensaios & Poesia Intelectuais & Artistas Dizem De Si & Do Mundo
História, Política, Arte, Filosofia, Cultura Castrense
Celine Abdullah, Cristina Jordão, Fernando Fernandes, Helena de Novaes, Joaquim Fernandes, J. C. Macedo, Johanne Liffey, João Barcellos, Manuel Reis, Maria Augusta de Castro e Souza, Maria C. Arruda, Mariana d´Almeida y Piñon, Tereza Nuñez.
Índice Da Filosofia Como Arte Alquímica Educar é Ensinar a Ler a Vida Ideologias Avulso & Utopia Breve Ensaio Sobre Um General Que Se Sabe Da Cultura Castrense Nação & Exército Teologia A Importância Dos Frades No Afazer Científico & Colonial A Outra Liturgia A Economia Liberal Piabiyuana Sob Um Olhar Keynesiano Literatura & Celibato A Escolha de Leonardo Da Vinci Monocromático As Minhas Botas / poema e foto A Alta Tecnologia e a Palavra Dois Poemas O Que e Como Fazer... Júlio Pomar Creação Cognitiva Agonia de Psicopata | poemas Altar e Capela Arendt, Reis e o Caudilhismo Autoritário Música, Filosofia & Nós | Um Oráculo Chamado Reis Viver a Utopia é Viver uma Humanidade Sadia O Fazer Luso No Brasil Cânticos a Mestre Gil Entre Barcellos & Barcellinhos Para Encontrar a Barca Celi Do Todo Ao Não-Vazio
ANEXOS Diálogos Em Cultura Castrense | J. C. Macedo Analítica Criticista (gnósticos judeo-cristãos primevos) | Manuel Reis
Obs. Editorial | alguns textos conservam a ortografia anterior ao acordo ´lusófono´. CEHC | Centro de Estudos do Humanismo Crítico. Guimarães/Portugal [lillian.reis40@gmail.com] Grupo de Debates Noética | Brasil [www.noetica.com.br] Terranova Comunic | Brasil [terranovacomunic@uol.com.br]
DA FILOSOFIA COMO ARTE ALQUÍMICA
O que sei? Ora, pois, que a filosofia é o que sou e faço na aferição dos saberes que carreio em minha rota e, por cada saber, uma circunstância. O que me é singular tento transformar em plural pela vida a viver. O que foi é passado, mas também lição a sinalizar um amanhã melhor. Eis que a filosofia é a arte que toda a pessoa, que o é em consciência, percebe como usina alquímica ao captar a mundivivência que urge em cada nova circunstância. Sim, não basta saber de mim: é preciso que o Eu saiba de Outros e Outras e em tal humanismo crítico abra espaços solidários no fomento maior do processo civilizatório em curso (pcec) que o Todo humano simboliza cósmica e teluricamente, ou não seremos mais que uma animalidade em espelho de políticas sádicas... É o que sou e é o que faço, por isso vos digo: não há bota militar nem martelo ideológico que quebre um saber vocacionado para a vivência culturalmente assente i.e., a liberdade da pessoa que o é em consciência diz do mundo que somos pelo ideal em ´res publica´, logo, também não há dogmas que parem a marcha da liberdade quando a pessoa ergue a voz e se diz...!
João Barcellos, 2020
EDUCAR É ENSINAR A LER A VIDA A nossa presença no maravilhoso mundo telúrico-cósmico que nos é chão e é tumba deve muito à evolução do nosso cérebro na adaptação às diversas circunstâncias entre a flora e a fauna e, então, à percepção de que enquanto outros animais caçavam e pescavam e logo comiam, nós aprendemos a cozinhar a caça e a pesca..., e pensávamos e, logo desenhávamos o que o nosso olhar via e o cérebro guardava. Foi quando percebemos que o olhar era uma ferramenta e logo ensinamos as novas gerações a desafiarem o olhar, porque a sobrevivência dependia muito daquilo que registrávamos... “Ao lançarmos o nosso olhar sobre algo ou alguém capturamos informações. É por isso que, por ex., aprendemos a manusear uma máquina fotográfica, ou uma cinematográfica. O nosso olhar é uma ferramenta estratégica...” [J. C. Macedo – in ´Diálogos Em Cultura Castrense (o Foto-Cine e o Olhar Estratégico)´, Lisboa, 1975-76]. Daqui se percebe que a educação não é somente aprender a tabuada e o somarsubtrair-multiplicar-dividir: educar é ensinar a ler o que somos e quando nos percebemos, como Eu entre Outros, aprendemos a diferenciar objetos e pessoas, além de que o Eu é uma circunstância em Si-mesmo. Algumas pessoas, após o processo educativo elementar, tornam-se mestres e “a Sociedade expande-se com um olhar educado (não ideologizado) para enfrentar desafios, porque é no olhar educado que a Ciência gera Fraternidade pelo bem-estar estabelecido na Esperança de um sempre amanhã melhor...” [J. C. Macedo: idem, p.03]. Pode-se dizer, e o digo, EDUCAR É ENSINAR A LER A VIDA logo, a Escola não é um lugar entre quatro paredes, mas o lugar onde não cabem paredes nem pensamento único, apenas o espaço aberto ao Saber que abre espaço à Esperança. “O que sabemos da vida tem lastro no que somos pelo aprendizado social e profissional: é uma leitura de vida”, dizia o professor-filósofo Agostinho da Silva [conversa c/ J. C. Macedo, Lisboa, 1975]. Sim, é a viver a Vida que aprendemos a olhar melhor o que Somos. Aqui vos deixo esta reflexão quando a Educação é atacada por pessoas que se escondem na cegueira político-ideológica e negam a Sociedade aberta ao bem-estar das Comunidades. Conferência p/ Docentes Universitários Cotia-Brasil, 20 de Junho de 2020 BARCELLOS, João | escritor, pesquisador de história e conferencista.
IDEOLOGIAS AVULSO & UTOPIA
Esta palestra, iniciada em 1972 e em circunstâncias clandestinas, foi continuada em 2019 e, agora, em 2020, obviamente com ampliação de dados, embora a base seja a mesma, uma vez que a hipocrisia do poder de elites (políticas e religiosas) é sempre a mesma. A base foi e é o espírito sangrento e belicista da ´revolução mundializada´ que moveu Trotsky, e também o neutralizou (via Stalin), mas que gerou circunstâncias de guerrilha rural-urbana em outros continentes, principalmente com Guevara (na África e na América latina), e este tendo o mesmo fim. Ora, todo o império que cai nas mãos de outro nunca melhora a situação: o povo é sempre a parte escrava que sustenta as elites, não interessa a ideologia de plantão nem o credo. Eis o ponto. Um ponto de observação que não se alterou entre 1972 e 2020 e em nenhuma parte da geossociedade que somos. Tenho recebido o eco da palestra “Ideologias Avulso & Utopia” de diversos segmentos e principalmente (contra) da intelectualidade engajada a movimentos ideologizados no princípio trotskysta e (a favor) da intelectualidade alternativa aos sistemas, com a qual partilho os meus trabalhos lítero-historiográficos e filosóficos. O que defendo não é uma Utopia (mas fiquemos com o ´palavrão´), é o desejo de uma Sociedade que pacificamente ordene o progresso e que limite os abusos de poder das elites. Quando tomei a imagem sangrenta de Trotsky para embasar a palestra o fiz para “expressar com factos e sem subtilezas o rasto de morte e tortura que sustenta qualquer elite, à direita ou à esquerda” (1972). E pronto. Mas verifico que, hoje (2020), a avidez por sangue e tortura continua a mesma: os partidos políticos tornaram-se ´bancos privados´, os seus chefes ´caudilhos´ de ocasião, autoridades mascaram-se de ´milicianos´ a pregar a desordem social, as igrejas confundem-se com os partidos e bancos, e, aqui e ali, emerge um(a) aprendiz de Trotsky ou de Mussolini, para tentar sublevar o povo inquieto e transformá-lo em massa de sangue para erguer outro pilar ideológico. Sem esquecer que a África, islâmica ou não, e o Oriente Médio, continuam sob a máscara de políticas tribais que impedem uma nacionalidade cidadã... Eis porque “Ideologias Avulso & Utopia” suscita tanto eco, a favor e contra, de vários segmentos sociais e políticos e gera ameaças ao autor, que é um simples intelectual que tem o Mundo humano para observar e nada mais... E pronto, era o que tinha a dizer, e o disse. João Barcellos, 2020
BREVE ENSAIO SOBRE UM GENERAL QUE SE SABE DA CULTURA CASTRENSE Ou: o recado às FA´s em geral... Os caudilhos apalhaçados, como Trump, Maduro, Putin, Bolsonaro e, em geral, os políticos orientais, gostam de posar publicamente tendo na fila de trás os seus ´soldadinhos ideologicamente amestrados´. São políticos que desconhecem a Cultura Castrense e a dinâmica sociopolítica que a dinamiza com foco na Nação e não no contexto ideológico-partidário. Junho de 2020, EUA. Um mês histórico para o povo estadunidense e a marcar uma maior consciência sociopolítica em torno da batalha antirracista. Que é uma batalha de sempre e para sempre, não nos iludamos com a avalanche panfletária que dos Estados Unidos se expandiu ao Mundo. Por isso, e aqui, o ´mês histórico´ fica por conta de um general. Não aquele de pijama estrelado que se assusta com um simples tiro de espingarda de caça, não. Trata-se de Mark Milley, chefe do Estado-Maior General Conjunto dos EUA... O que aconteceu? O presidente Trump, ao encenar mais um teatrinho político, e público, saiu da Casa Branca e caminhou com o seu staff (político, administrativo e militar) até uma igreja a pouco mais de uma quadra. De bíblia na mão, o caudilho pousou para a imprensa, e pronto. Foi embora. E vamos ao assunto: 1) para trás ficou uma manifestação pacífica e contra o racismo que foi dispersada brutalmente para que Trump e o seu staff fizessem a ridícula passeata política; 2) no staff estava o general Milley que, por descuido, acompanhou o cortejo do Poder político. Ora, o que estes dois pontos têm em comum? Tudo. Eles envolvem a manifestação brutal de um Poder que, apesar de eleito na horizontalidade democrática da República, manifesta-se na verticalidade policialesca que reprime por reprimir e a banalizar a violência institucional; e, também, jogou lama política nas Forças Armadas (FA´s) ao manifestar a possibilidade de a utilizar para reprimir as manifestações pacíficas e legais! O presidente Trump pensou que a simples presença do general Milley já configuraria o “apoio da Força” às suas leviandades políticas... Não. E não, porque Mark Milley ao se dar conta de tal leviandade ergueu a voz dentro dos quarteis e pediu desculpas às FA´s por ter participado daquela encenação trumpiana. E, com todo o apoio da “Força”, o que encurralou social e politicamente Trump e a sua trupe de ´futuristas com a mente quadrada. A primeira lição que militares recebem é “...as FA´s são parte dos instrumentos do Estado/Nação para evitar quaisquer tipos de invasão e/ou representar o Povo em atividades além das fronteiras próprias, nunca para agir contra o Povo” [in “Ordem &
Sociedade”]. Eis a essência da “Força” na sua praxe e Cultura Castrense –, essência que nenhum político, eleito ou não, pode querer subjugar a interesses próprios, sequer partidarizar. Foi o recado do general Mark Milley ao Povo estadunidense, um recado que se estende (pela importância sociopolítica do ato) ao Mundo e, muito particularmente, hoje, aos militares ´estrelados´ que cercam Bolsonaro, o presidente eleito do Brasil, militares que enquanto ministros de Estado passam a ser civis em funções político-administrativas! Em suma, a arena político-partidária não pode se permitir ser o foco da manifestação que humilha e submete a Cultura Castrense às leviandades e surtos psicóticos de executivos e congressistas temporariamente de plantão no Poder, mesmo quando um militar se alça à condição de Presidente da República. Deixo-vos este breve ensaio para uma reflexão acerca da importância da “Força” no contexto da Nação-Povo. João Barcellos, 2020
NAÇÃO E EXÉRCITO Lembro que uma das mais caras noções de ato civilizatório que temos como fonte filosófica veio do conceito castrense de urbanidade, i.e., a pessoa militar é parte da comunidade como um todo, e não somente como instrumento de defesa. Foi este conceito que permitiu transformar aldeias e vilas muradas da civilização celta (citânias/castros) que viraram cidades-estados e, logo, nações independentes no âmbito de uma atividade cívico-militar; fonte que, principalmente os romanos imperiais, adotaram para impulsionarem a sua expansão e, depois, na mesma proporção, a cristandade paulina (não a jesuana, obviamente). Quando o Prof. Gilberto Freyre dialogou com as FA´s brasileiras tratando do assunto "Nação e Exército" (livro publicado em 1949 pela Edit José Olympio, no Rio) ele o fez na certeza de que a Cultura Castrense não era, e nem é, alheia ao Todo Social, mas parte da dinâmica para a construção de um humanismo crítico. “[...] a solução que se impõe é a de procurarmos imitar o exemplo do exército nas zonas de atividade civil, organizando tão bem quanto ele possa continuar a ser o coordenador em épocas de desajustamento mais agudo entre regiões ou entre subgrupos nacionais”, escreveu Gilberto Freyre. Ora, desde quando a pessoa militar não age pela humanidade que lhe é essência...? Sim, é verdade que o ser-estar militar (tema que me é caro pessoalmente) não é nem pode ser mero instrumento político, mas parte da ação cívico-militar que dinamiza a Nação. Tal foi, em 1949, o conceito explicitado (e sem viés ideológico) pelo Prof. Gilberto Freyre. Para mim, não existe esquerda nem direita ou centro, existe Poder, democrático ou não. Verificamos agora como o general Hamilton Mourão quase foi ´enforcado´ pela intelectualidade da esquerda patológica ao celebrar a instalação das Capitanias Hereditárias (1530) e para dizer das ´nossas raízes´..., ora, se as gentes quinhentistas do assentamento cívico-militar não foram empreendedoras entre mineração e agropecuária, urbanização fundiária, etc., o Brasil não existiria hoje: por isso, quando o general Mourão assinala ´nossas raízes´ ele está certo, porque a Raça Mameluca teve origem no desenvolvimento colonial luso-católico de serr´acima e sertão adentro e, não esqueçamos, as ´nossa raízes´ são precisamente luso-afro-americanas, pelo que não se pode negar a historiografia, como faz a intelectualidade acadêmica de viés ideológico. Por isso, também, não se pode esquecer aquela lição do Prof. Gilberto Freyre ao demonstrar a importância do abraço social entre a Comunidade e as Forças Armadas. É preciso, hoje, desideologizar a sociedade que somos pós Muro de Berlim para alinhavarmos a existência na fraternidade e não no ódio. E, 70 anos depois, a Biblioteca do Exército (BIBLIEx) relança o livro em que o Prof. Gilberto Freyre destaca o papel das FA´s na evolução da Nação brasileira. João Barcellos, 2020
TEOLOGIA um dos ´campus´ em que João Barcellos investiga a humanidade
por
Cristina Jordão
O jeito poético e historiográfico com que João Barcellos dá trato literário às suas pesquisas, às vezes no modo ficção para melhor expandir os dados em outras camadas sociais que não a literata, transformou-o em referência para outros estudiosos. Entre a produção de livros próprios, e são dezenas, o intelectual luso é responsável por duas coletâneas – ´Debates Paralelos´ e ´Palavras Essenciais´, ambas com 12 e 14 volumes, respectivamente –, nas quais estão estudos históricos de diversos teólogos, como os portugueses Manuel Reis, Mário de Oliveira e M. Branco de Matos, e dele mesmo (não sendo ele ´o ´ teólogo), além dos latino-americanos Mário C. de Castro e Marta Novaes, entre outros. Tanto nas coletâneas ´Átrio do Gentio’ (Debates Paralelos, Vol. 9 / 2013) como na ´Q Jesuânica´ (Debates Paralelos, Vol. 5 / 2009) e em ´Antropologia´ (Palavras Essenciais, Vol. 11 / 2015), o diapasão é o estudo “desconstrução e destruição das religiões institucionais” largamente pinçado das observações filosóficas de Manuel Reis, que preside em Portugal ao Centro de Estudos do Humanismo Crítico (CEHC) e tem, no Brasil a ´ponta´ no Grupo de Debates Noética, coordenado por João Barcellos entre vários grupos na Argentina, Chile, México e Equador. E, qual é a mundivivência teológica de João Barcellos? “Não, não estou dentro de instituições místicas, somente as estudo. Nunca tive vocação para isso, mas quis saber, como ´neto mais velho´, a razão de me quererem atirar para uma escola católica e virar padre... Por outro lado, parte da educação infantil e de primeiras letras devo a um missionário, que nem chegou ao sacerdócio, que me mostrou o mundo entre águias e pombas, i.e., o mundo do mais forte sobre o menos forte. Essas circunstâncias fizeramme questionar a humanidade tão logo comecei a ´ler´ o mundo que me ofereceram...”, diz ele, numa breve entrevista com cafezinho e pão de queijo na (´sua´) Acutia, a poucos quilômetros da Sam Paolo dos Campi de Piratininga. Um dos seus estudos mais lidos é “Globalidade Noética, Mitos & Divindades” junto com a palestra “Ideologias Avulso & Utopia” (e desta faz Manuel Reis um estudo profundo no livro “Mudar as Culturas e o Mundo”, 2020). No entanto, foi “...o intercâmbio filosófico com Reis (na Europa) e Figuera de Novaes (na América Latina), dois professores/escritores e ex-padres, que expandiu a minha ´biblioteca´ de conhecimentos enquanto poeta-jornalista e pesquisador de história, pois, para cada comunidade encontrei sempre referências diversas no trato místico, mesmo quando um
igrejismo é mais forte (como a cristandade, o judaísmo e o islamismo) entre outros credos”, explica. Da minha leitura, como jornalista, a escolher alguns livros da sua biblioteca própria, li e reli os textos em ´Q Jesuânica’, porque ele trata de ´história, igreja-estado, política, gnosticismo, filosofia´ no mesmo pé que teólogos e outros investigadores. E não deixo de me espantar com tamanha sabedoria feita entre estudos profundos de intelectuais vindos das entranhas de sinagogas, mesquitas e seminários. Um dos subtítulos da coletânea ´Antropologia´ é a frase ´no compasso das emoções da pessoa que constrói civilização, natural & culturalmente´, com a qual ele se identifica em muitas palestras. Uma frase que diz tudo da sua atividade sociocultural e política. Cristina Jordão Março de 2020 Entrevista para a revista jCORPUS e o site NOÉTICA (Brasil) e o jornal YEROGLIFO (Argentina) c/ direitos para Terranova Comunic.
A IMPORTÂNCIA DOS FRADES NO AFAZER CIENTÍFICO & COLONIAL
“O que seria dos ibéricos no Novo Mundo seria, também, da Igreja católica...”
1 As caravelas e outras embarcações não ´embucharam´ somente de marinhagem e escravos e militares, em meio a essa ´aldeia´ de raças e credos, por lá foram ´enfiados´ frades de diversas congregações da cristandade igrejista. A epopeia caraveleira ibérica foi um acordo de tomada dos ´mundos conhecidos e a conhecer´ com carta de bordo preestabelecida entre Portugal, Espanha e Papado católico, no Tratado de Tordesilhas [1494] e ratificada no Tratado de Madrid [1750]. E antes de as caravelas surgirem nas praias do ducado de Coimbra, no Séc. 15, quando o duque Pedro, já Regente, e com o mapa-múndi de fra Mauro que adquirira para o Reino, em Veneza, era sabido da importância dos clérigos (padres em ordens a serviço da Cristandade) enquanto matemáticos e astrónomos, senhores dos segredos da História e da formação de Mapoteca – informações estratégicas para a expansão e domínio do Papado cristão. Foi ao adquirir o mapa náutico de fra Mauro que o nobre Pedro, da Casa de Aviz, teve a certeza da existência de outros mundos... já navegados, e não ´nunca navegados´, como cantou a ignorância (ou fraude manuelina) na ´gesta´ camoniana. E entre a sua regência e o reinado do seu neto João II formou-se uma política náutica de informações estratégicas [e sempre com a ´Ilha do Brasil, ou de Brandam´, na sombra, apesar de descoberta em 1342...], que possibilitou traçar o Plano da Índia, levado a cabo pelo rei Manuel I, que aproveitou a era pedro-joanina e se transformou no mais poderoso monarca de então. Sem o saber, o duque-regente Pedro, mais tarde o Infante das 7 Partidas (na literatura europeia de cordel), havia adentrado um dos mais guardados segredos do Papado cristão: o conhecimento das atividades náuticas de outros povos, como os chineses e os africanos, que fra Mauro mapeou cartografando.
Muitos anos antes, já Isidoro (santo) havia publicado o seu Mapa T-O, em Sevilla. A certo passo da sua obra científica ´Etymologiae´ surge um disco mapográfico como três mundos conhecidos no Séc. 12, segundo a Rota da Seda: Ásia, Europa e Europa. Todas as referências têm identificação bíblica, e esse disco também foi referência de traço para fra Mauro, que tinha o que Isidro não conheceu: as informações com o continente a oeste de Cabo Verde surgidas nas navegações chinesas nos Anos 20 do Séc. 15...
2 Os nobres portugueses da Casa de Aviz, alinhados à Ordem dos Cavaleiros de Sant´Iago (e não à Casa templária-bragantina, que teve, sim, Henrique como grãomestre, e só... Ex.: o Gama, era cavaleiro e marujo/almirante de Sant´Iago, já o Álvares Cabral era cavaleiro/condestável da ordem templária-bragantina), desenvolveram atividades de conhecimento náutico que levaram à formatação de uma nova embarcação no litoral do ducado de Coimbra: a Caravela. Obviamente, o Papado cristão, diante da possibilidade de embarcar e tomar aqueles mundos já descritos por fra Mauro e, antes, na carta do rei Afonso IV ao papa Clemente VI (1343), decidiu pelo “conhecimento e catequização cristã dos povos d´além-mar”, i.e., embuchou a era caraveleira de frades matemáticos e cartógrafos e montanísticos, além de capelães. O gesto formatou a epopeia ibero-católica que resultou no cerco, tomada e dominação de geossociedades tão diversas quanto ricas e perdidas na hiléia amazônica e no mar de montanhas andinas.
3 Com tal e mal disfarçada ´fé´ mercantil, o Papado católico fez ao mar-de-largo dezenas de frades especializados em cartografia, montanística (geologia) e desbravar ´sertõens y mattos´. O que seria dos ibéricos no Novo Mundo seria, também, da Igreja católica. Após o avanço de Manoel da Nóbrega pelos ´sertõens y mattos paolistas´, os seus frades já embarcavam em Portugal com funções definidas além do credo. E se os jesuítas inacianos, comandados por Nóbrega, lograram ´entradas´ sertão adentro além do planalto de Piratininga, que depois sediou a primeira vila-colégio dedicada a Sam Paolo (dos Campi de Piratininga), marco-zero do assentamento português ao longo da Linha tordesilhana, outras congregações, como a beneditina e a carmelita, abocanharam ´reservas´ fundiárias maiores que o território de Portugal e levas de escravos –, escravos que ergueram casas eclesiásticas e lavouras ´em nome de Jesus´ e de ´santas´ e ´santos´ assentados nos cadernos canônicos segundo um livro eclesiástico de contabilidade conhecido como “patrimônio”... Os frades, antes de se envolverem na edificação conventual, foram companhia e capelães da colonização, de aldeia em aldeia, após o cerco e dominação das gentes nativas: primeiro, em busca de terras para a lavoura e, logo, com mineradores em busca de pedras preciosas. E foram os padres quem primeiro deu a saber da existência de ouro, prata e ferro, na primeira fase ´paolista´ e, depois, na segunda fase, na vastidão do sertam de entre a outra Ibituruna e Cataguáz na demanda da região diamantina. Para o sul e oeste da Sam Paolo outros apuraram prata e ouro e denominaram um rio como ´Brízida´ ao celebraram a descoberta sob a benção de Nossa Senhora do Populo
– e, assim, veio a ser conhecido o ´Sorocaba´, entre as ´yby sorocs´ (terras rasgadas) até o final da exploração do ferro no Cerro Ybiraçoiaba. Os frades, além de cartógrafos e montanísticos, eram importante na urbanística conventual com projeções artísticas (azulejaria, pintura e escultura), ofícios em que montaram oficinas para preparar aprendizes, e tiveram, então, importante apoio financeiro dos cresos da época e, na Sam Paolo, de Suzana Dias, a mais importante mameluca gerada na colonização e que veio a erguer a villa Sant´Anna de Parnahyba.
4 Entre os Sécs. 16, 17 e 18, os cresos de então destinavam gordas ´heranças´ às congregações igrejistas (gente mística profissionalmente instituída) e, a título de ex., basta lembrar que os jesuítas enriqueceram com a ´alma´ amolecida do feroz Affonso Sardinha (o Velho), dono de navio negreiro, minas de ouro, prata e ferro, político, banqueiro e senhor de parte do mapa ´paolino´, entre a Jaguamimbaba e o Ybiraçoiaba passando pelo Ibituruna, além dos interesses em Santos e no Rio de Janeiro (aqui, através de uma irmã, mãe do sobrinho que ele pôs a comandar o navio negreiro da linha Santos-Angola). E tudo, mas tudo, ele o fez sob a benção de inacianos e outros congregados. A seu lado, sempre um padre ´especialista´ e capelão, até na vereança ´paolista´!
5 E se tanto o Papado cristão quanto os reinóis lusos e castelhanos tinham a certeza da demarcação geossocial na partilha tordesilhana, após a Guerra d´Iguape, e a derrota castelhana (mesmo com o apoio do Bacharel de Cananeia, antigo ouvidor em São Tomé e Príncipe), nos Anos 30 do Séc. 15, assim não aconteceu: ´tudo como dantes no quartel d´Abrantes´... Com a retomada do Trono, em 1640 (que os castelhanos haviam usurpado em 1560), o bandeirante Antônio Raposo Tavares foi chamado a Lisboa. O notável e sanguinário desbravador recebeu do rei uma missão secreta – a última bandeira: reconhecer o espaço continental do Brasil. E ele o fez, em mais de dez mil quilômetros ´sertõens y mattos´ adentro. No retorno, só o cachorro o reconheceu. Portugal e o Brasil devem-lhe a odisseia continental que acabou por dar o sul tordesilhano e o norte amazônico à dita ´américa portuguesa´. No âmbito das ´certezas´ tordesilhanas – e certezas, porque o rei João II não deixou alinhavos soltos, em 1494, atordoando a rainha Isabel, que apostara na ignorância de um Colombo que o próprio rei luso preferiu deixar à solta –, o Séc. 18 obrigou a diplomacia ibero-cristã a mais uma rodada: o Tratado de Madrid, em 1749. E pronto, lá vieram mais padres matemáticos, riscadores (desenhistas), astrônomos, montanísticos, e etc., porque a maioria da nobreza e o povo sabiam de cor a ladainha da oração em latim, mas não sabiam ler nem escrever...
*
Sim, o Papado cristão continuava a dominar a experimentação científica e o conhecimento, apesar da espantosa era caraveleira. É verdade. E anote-se que mais um padre jesuíta avançou no seu tempo: o brasileiro Bartolomeu Lourenço de Gusmão inventou a ´passarola´ – um aeróstato, uma nave voadora, que, em pleno Séc. 18, assombrou e fez delirar as gentes das sete colinas de Lisboa. Este é apenas um apontamento interessante e demonstrativo dos saberes ocultos e públicos da Cristandade diante da Ignorância geral. *
Especialistas como o padre Diogo Soares, a quem se deve o primeiro ´riscado´ da Latitude e da Longitude para mapear uma parte do Brasil continental, assim como jesuíta Ignác Szentmártoni, da Croácia, e o italiano Giovanni Brunelli, que ajudaram a entender cartograficamente a região de entre o Maranhão e o Rio da Prata (a definitiva posse do sul tordesilhano). Tais trabalhos tiveram como objetivo dar substância técnica à diplomacia avançada no Tratado de Madrid, em 1749. Essa diplomacia avançada tinha à frente um brasileiro notável, secretário do rei João V, também conhecido indiretamente por causa da fama de cientista louco do irmão Bartolomeu. Lembram? O da ´passarola´... Pois então, eis que Alexandre de Gusmão foi encarregado de formular uma política diplomática em torno do ´uti possidetis´ [q.s. a terra é de quem a ocupa]. Com base no trabalho dos padres matemáticos e cartógrafos e astrônomos, Gusmão apresentou um trabalho admirável ao evento de Madrid e acabou com a contenda tordesilhana. E assim foi que o Brasil continental se tornou o maior território da política ultramarina de Portugal para favorecer, também diretamente, os interesses do Papado cristão no seu ideal evangelizador.
J. C. Macedo, 2020.
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BARCELLOS, João – Do Fabuloso Araçoiaba Ao Brasil Industrial. Ediç Terranova Comunic & Edicon. São Paulo / Br., 2011. CINTRA, J. P. e SILVA, M. J. – Teodoro Sampaio and the beginning of Sysyematic Cartography in Brasil. Congreso Internacional de Geodesia e Cartografia; Caracas/Ve, 2002. ISIDORO [Santo] – Etymologiae. Códice (c/ desenvolvimento do Mapa T-O) publicado em Sevilla, 1472. [Obs.: a Torre do Tombo / Biblioteca Nacional – Lisboa/Pt, guarda uma publicação de 1483.] MACEDO, J. C. – Do Desenho Como Imagem Cartográfica Na Estratégia Militar & Civilizacional. Palestra. Q.- G. Ex., de Lisboa: Dep Foto-Cine / Cartografia, 1975. – As Configurações Do Tratado de Madrid Na Óptica Da Última Bandeira De Raposo Tavares. Palestra e opúsculo. Rio de Janeiro / Br., 1990. – Sá e Faria / Engº-Militar & Reinol – in ´Humanismo, Educação &... Justiça Histórica (Partes I e II), Coleç. ´Palavras Essenciais´, Vol.06. Ediç CEHC (Portugal) e Edit Edicon (Brasil), 2011
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A Outra Liturgia Ou, o Altar/Povo que o Igrejismo desconhece por estar obcecado com a (sua) Ara dogmática
Terra, a Terra é o nosso berço e a nossa tumba, mas, em vida tecemos a mortalha com fios cerebralmente reais e dogmáticos, confecção a depender da liturgia cujo altar pode ser a Razão ou uma ara sacrificial. Sim, a Pessoa escolhe, quando pode: estar no processo civilizatório em curso ou ser apenas animal em cercadinho ideológico. Viver é um ato de Sabedoria, não somente de estar, por isso, a cada geração que chega a Humanidade cria rupturas sociopolíticas, mas, por incapacidade de Razão própria, sempre se limita também a um exercício litúrgico dogmático que faz dos igrejistas os ´magos´ do niilismo, i.e., a Pessoa passa a existir como não-Pessoa, e aí, a não-Pessoa retorna ao animalesco, porque age pelo pensamento de outras que lhe oferece divindades, só que o altar espiritual é em tal circunstância ideológica uma ara social. Nem é por acaso que de tempos em tempos a Pessoa se expressa em cânticos que mostram outra liturgia e, em tal cântico, temos o Povo e temos o Igrejismo (os religiosos profissionais).
1 As I went walking that ribbon of highway I saw above me that endless skyway Saw below me the golden valley This land was made for you and me w. Guthrie
O estadunidense Woody Guthrie, poeta-cantor, não gostou da canção ´god bless america´, uma melodia de Irving Berlin, e adaptou-se para o seu poema ´the land is your land´, em 1940, até cantada nas escolas dos EUA. O que isso tem a ver com teologia? Tudo. Ora pois. Ele, Guthrie, canta a terra que existe para o Todo humano e não para apenas para as elites sociopolíticas e igrejistas, e mostra aí que existe um poder entre o altar e a ara com várias opções de escolha republicanas, como também costumavam dizer dom Hélder Câmara, bispo histórico brasileiro, e o religioso e político Martin Luther King Jr, personagem da história libertária estadunidense. Ao mesmo tempo... 2 Giulio Liveranni, padre católico profundo conhecedor das pobrezas sociais latinoamericanas, também ele artista (pintor e escultor), surgiu na municipalidade Vargem
Grande Paulista, arredores da metrópole São Paulo (Brasil), e ali construiu uma ´via sacra´ tendo o Povo como figura bíblica e não as tradicionais ´personagens´ sacras inventadas pela Igreja romana. Mais uma vez: o que isto tem a ver...? Tudo. Liveranni transpõe para a escultura e a pintura da ´via sacra´ o sofrimento dos povos e não a liturgia. Obviamente, um escândalo. Porque o Igrejismo não se assenta no Povo e sim em estruturas de Poder próprio e mercantil, no que o italiano seguiu os passos dos latinoamericanos Câmara e de Romero.
3 Só um come o fruto Outro não _ zeca afonso Escutamos em Portugal, já a América Latina vive intensa ´teologia da libertação´, na contramão de um Vaticano amorfo, mas agente imperialista, o cântico “...já lá vem Camilo Torres/ Com o seu fuzil a sangrar”, uma canção de Zeca Afonso a expressar o niilismo igrejista que mata lentamente os povos pela Ignorância dogmática. E esse Camilo Torres é um padre que se faz guerrilheiro para dizer ´Basta!” de corrupção e de genocídio, o Povo não é a ara, o Povo é também a solução/altar espiritual que o Igrejismo desconhece. E, com os cantos de Guthrie e de Zeca, as palavras dos padres Mário de Oliveira e Manuel Reis, a Sabedoria teologicamente embasada na Palavra jesuana por uma Solidariedade inteira, transparente, o que também soa(va) em Câmara, Luther King, Liveranni, Romero e muitos outros a praticarem uma teologia libertária em nome do autêntico Jesus e seu humanismo crítico – ou, o altar esotérico-social contra a ara sacrificial dos caudilhos imperiais. 4 Viver é uma escolha Viver é um estágio pelo estar-a-aprender para construir um ser com personalidade. Quando ateniense Sócrates foi ao oráculo e percebeu a profunda e humaníssima filosofia Conhece-te a Ti mesmo, essa circunstância existencial passou ou a ser a pedra-de-toque espiritual para diálogos em humanismo crítico..., sim, porque, Nós somos a Divindade quando exercemos o Saber pelo bem comum. 5 Ora pois, à liturgia do altar dos que “comem tudo e não deixam nada” [Z. Afonso] deve-se opor a liturgia de uma res publica em que a Pessoa tem o direito ao sonho e à vida, e é o que interessa, nada mais. Por isso mesmo, e ainda no tempo socrático, parte da intelectualidade letrada e a dogmática opôs-se a uma Anarquia sociopolítica que queria dar fim à hierarquia do Poder instituído... Anarquia essa que também foi a base para alguns padres [Torres e outros. E, para quem não sabe, também muitas freiras...] pegar em armas e vomitar chumbo quente para as elites políticas e igrejistas. A Rematar...
Estas breves notas surgiram agora quando verifico, na América Latina e no Brasil, os extremos exotéricos da Política fascista: de um lado o extremismo com políticos e religiosos bolsonaristas (mais protestante/evangélico do que católico) e, do outro lado, o extremismo de políticos e religiosos a pregarem a vez do fuzil revolucionário, enquanto uma grande parcela aguarda em cima do muro... Por isso, escutar os cânticos/diálogos de Woody Guthrie e de Zeca Afonso é praticar uma reflexão filosófica que urge a todo o instante!
Obs.: E por causas desses trovadores-filósofos é que Bob Dylan recebeu o prêmio Nobel da Literatura, circunstância histórica que poucas pessoas perceberam...
João Barcellos, 2020
NOTAS Bolsonarismo – políticas público-privadas Bolsonaro, presidente do Brasil, cujo perfil de caudilho autoritário é notório. Fuzil Revolucionário – A lembrança de que a Igreja não-dogmática dever estar onde está o Povo, e só. Woody Guthrie – The Land Is Your Land, 1940 | “Enquanto eu andava naquela faixa de rodovia/ Vi acima de mim aquele céu infinito/ Vi abaixo de mim o vale dourado/ Esta terra foi feita para ti e para mim”. Zeca Afonso – Enquanto Há Força, 1978 | “... liturgia do altar/ já lá vem Camilo Torres/ Com o seu fuzil a sangrar”.
Economia Liberal Piabiyuana Sob Um Olhar keynesiano Em uma palestra acerca da “Economia Liberal Piabiyuana” (leia-se: “escambos no Piabiyu ao tempo de Affonso Sardinha, no Séc. 16”), o historiador João Barcellos fez um paralelo com a doutrina econômica do inglês John Maynard Keynes. Mas, por que essa comparação? “Ah, os tempos são outros e três séculos a separálos, é verdade, entretanto, a atividade d´escambos com diversos produtos, incluindo o monetário, fez do ´velho´ Affonso Sardinha um poderoso aliado reinol operando uma economia liberal dentro do Estado e para o Estado a promover um progresso social, apesar de escravocrata; e já então a ter o ´ouro como lastro...”, explicou. O historiador foi mais longe: “com o Estado e para o Estado reinol, capitalistas coloniais como Affonso Sardinha criaram um mercado livre que logrou o estabelecimento gradual e certo daquele movimento a que chamo de assentamento serr´acima, sem que isso impedisse de resguardar os seus interesses diante d´El-Rey, aqui o Estado...”. E ele vai a Keynes para demonstrar que “todos os poderosos (ou, os ´homens bons´) agiram tendo como suporte principal a obtenção de sesmarias imensas, o que sinaliza, sob outro prisma, a intervenção estatal num processo socioeconômico ao qual foi o Estado chamado de emergência para assegurar o domínio além-mar”. Isso, dentro da doutrina que séculos depois Keynes iria reformular; doutrina que, por exemplo, o filósofo Manuel Reis também equaciona para demonstrar como “entre a era caraveleira e o navio a vapor o liberalismo se tornou o meio eficaz para, entre a política estatal e o empreendedorismo dos seus satélites na sociedade, validar um progresso” que, embora precário, serviu para impor uma nova civilização na e além linha equatoriana. Também, “o projeto keynesiano já tem lastro na Liga Hanseática e nas operações de capital feitas pela Ordem dos Cavaleiros Templários, de tal sorte que as feitorias lusas na Europa e no Golfo da Guiné seguem essa rota com as Ordenações Afonsinas dando autonomia a uma burguesia mercantil muito ativa e pouco dada a guerras e aventuras feudalísticas em terras d´outrém, mesmo quando esse gentio (não é gente reinol, ou ´sangue azul´) urbano acata o Estado”. Crescer e produzir era o lema hanseático no qual Keynes buscou o idealismo liberal para formatar a sua doutrina. Um pouco “antes de Keynes, o escocês Adam Smith já havia observado, e este via Liga Hanseática, que o Estado tem, sim, a sua importância, mas que a alavanca econômica para uma sociedade mais livre está na realização da sociedade como um todo e não por uma elite, no que Reis sempre tange filosoficamente a lembrar John Milton e a defesa da liberdade de pensamento, logo, de descentralização de decisões em políticas públicas, e, também, Thomas Hobbes no seu humanismo crítico”. O digno historiador Barcellos, atento leitor do mundo que o rodeia e do passado que o fez, observou “a efervescência dos escambos e da produção de alimentos e de utensílios no Piabiyu, entre a Sam Paolo jesuítica (erguida pelo padre Manoel da Nóbrega), Buenos Ayres e Asunción, a partir dos testemunhos e inventários como o de Affonso Sardinha (o Velho), de 1550 a 1612, quando minerou ouro e prata, e ainda estabeleceu o primeiro ´yngenho de ferro´ além Equador com forjas catalãs no ´cerro d´ybiraçoiaba´”, um feito histórico para a época e a demonstrar como a produção de iniciativa privada gera riqueza sem precisar de um marco regulatório seja de que elite for, apenas incentivo. Entre a chamada ´américa espanhola e a américa portuguesa´, com a linha de Tordesilhas pelo meio, Barcellos diz que “a transformação do Piabiyu em Estrada Geral
dos Paulistas foi a chave para um liberalismo econômico que ajudou a assentar o Portugal naquela ´ilha de brasil´ descoberta e nomeada em 1343 pelo rei Afonso IV em carta ao papa Clemente VI [...], mas é com a atividade capitalista e mineradora do ´velho´ Affonso Sardinha que isso toma corpo e se expande no espaço ultramarino luso”. Certo que “o conceito monetarista de domínio pelas elites foi (e é) obstáculo a um desempenho universal, tal universalidade já estava lá atrás nas operações hanseáticas e nas feitorias lusas como que marco regulatório de mercado financeiro e de moeda, apesar do ouro...e até do ´páo vermelho´ (o pau-brasil); e o que se verifica no Brasil de entre o quinhentos e o seiscentos é um olhar e uma operacionalidade de pessoas que quiseram, primeiro, serem elas mesmas, no escambo ou modo monetário, mas uma operacionalidade anda com o ranço reinol absolutista que seria logo ´higienizado´ pela burguesia urbana a respirar uma maior sociabilidade”. Irving Fisher, no início do Séc. 20, defendeu que a ação regulatória do Estado era algo necessário e não prejudicial à Sociedade e à Pessoa, mas a eugenia [pessoa bemnascida, ou educada para ser elite] por ele propalada era a base desse raciocínio antiliberal: base que se alargou ao caudilhismo fascista de nazis e soviéticos, e que os reinóis euro-católicos já disso faziam prática e tendo os impérios romano, egípcio e persa como exemplos. E na verdade “[...] a base ideológica de todo o colonialismo tem a eugenia como pedra de toque; e, nas américas espanhola e portuguesa, o caudilhismo virou coronelismo enraizado na posse sesmeira, i.e., num Estado que se dividia entre o clero e a fidalguia. Por isso, quando se compara essa época à doutrina de Keynes percebe-se melhor a ascensão dos gentios burgueses que logo criariam a ruptura como o Estado reinol absolutista sob orientação, também, de maçons liberais”. A palestra de João Barcellos, em pleno Séc. 21, abriu espaços para mais diálogos afins, e de sorte que logo-logo, surgiu a tese “Keynes e o Keinesianismo”, de Manuel Reis, que expandiu ainda mais esse diálogo. É deste humanismo crítico que a sociedade precisa para sair do aparelhamento de políticas sindicalistas que têm o caudilhismo como bandeira de ação e de desprezo pela opinião alheia... Tereza Nuñez _ Buenos Aires, Argentina.
Altar & Capela Ou: o Ego de cada um(a) de nós
A leitura da informação historiográfica ´Baltazar Matou Alfaro´ (1) remeteu-me aos tempos da inquisição santificada pelo papa Paulo III e que teve sustentação diabolicamente fanática da ordem dominicana nos reinos ibéricos. Baltazar, filho de Suzana Dias, importante ruralista mameluca paulista, foi um bandeirante de grande importância e fundador do povoado Sorocaba, ainda ao tempo da Capitania de S. Vicente (segundo dados do historiador João Barcellos), mas a sua acção foi mais longe que a óptica da política expansionista portuguesa: expulsar os jesuítas pela tentativa de assentarem um império teocrático no sul do Brasil. Para os paulistas “...a atitude jesuítica também havia ido muito longe, apesar de ter sido vontade expressa de Manoel da Nóbrega a organização de um reinado místico de maniçoba em maniçoba, entre a Sam Paolo dos Campi de Piratinin e Asunción” (2). Para os colonos paulistas, e principalmente os mais abastados, “...permitir outro ´vaticano´ nos trópicos sob a reza jesuítica é abrir caminho para uma nação sem identidade própria” (idem). Pronto, no instante em que Baltazar e o seu grupo bandeirístico dá guerra aos padres e os expulsa (e então, morrem muitos junto com os nativos), o inquisidor Alfaro resolve solicitar a punição máxima dos paulistas envolvidos nos massacres, ou seja, excomungar cada um deles no mesmo acto. Quando a notícia chega aos ouvidos de Baltazar, pronto, ele enfia pólvora no trabuco e decide pela vingança: e Alfaro é morto. No contexto colonial o acto nem é sectorial (político) ou meramente pessoal, trata-se mesmo do ideal de posse ocidental-cristão que não permite ´espelho´ político ou miliciano. Por isso, a morte do inquisidor também surge como resposta ao Santo Ofício no contexto judeo-cristão, já que entre os reinos de dom Manuel I e dom João III os transloucados frades dominicanos lançaram à fogueira milhares de judeus e muçulmanos, a copiar os assassinatos havidos sob o mando da rainha castelhana Isabel. A percepção que se tem, e eu tenho, é que para cada pessoa de posse (senhor de terras e de escravos, lavouras e minas) existe um altar e uma capela, um jeito de afirmar a santificação da evangelização que surge na ponta da espada e no fogo vomitado pelo cano do trabuco. Em pleno ´seiscentos´ os “...enlouquecidos inquisidores não perceberam que até o Vaticano não podia mais dar aval à tortura, à pilhagem e à fogueira, os tempos d´além-mar alteraram as políticas fundiárias no mesmo passo da reforma evangélica” (3), como nos ensina a Profª Fê Marques, que há anos acompanha e participa das pesquisas de Barcellos. E eu percebo, portanto, que para cada acção política, militar e religiosa, a sociedade colonial constrói um altar e uma capela, porque a cada uma delas corresponde uma retórica que não se submete ao confessionário, tão pouco ao conselho reinol. E é simples a questão: a) entre o átrio e o altar estão filhos da classe fidalga que são parte do próprio clero; b) a integração de fidalgos “...entre o átrio e o altar esconde a necessidade da preservação do patrimônio familiar que se mistura ao patrimônio conventual das ordens fradescas” (ibidem), poderosas e opulentas. É assim na África sob custódia colonial portuguesa e é assim no Brasil, já praticamente tido como um
continente ao fim da bandeira geopolítica de Raposo Tavares (4), solicitada pela Coroa recém reconquistada. A importância dos estudos de Barcellos está no seccionamento que ele consegue estabelecer para cada caso/circunstância, e quando ele tange o Caso Alfaro em três textos, os que eu li, ele fornece-nos elementos de pesquisa que além de não estarem nos manuais acadêmicos ainda abrem possibilidade para outros estudos. É o historiador na sua essência: gerar a possibilidade para novos olhares socioculturais e políticos. Foi o que aconteceu com estudos acerca de Affonso Sardinha (o Velho) e com o Caso 1342 / Sancho Brandão e o Páo de Tinta, quando tudo parecia ´morto´ entre as doutorais pantufas acadêmicas luso-brasileiras. A parceria do Centro de Estudos do Humanismo Crítico (Lillian e Manuel Reis, Portugal) com o Grupo de Debates Noética (Brasil e América Latina) resultou em duas coleções (Debates Paralelos e Palavras Essenciais) hoje com mais de 10 volumes cada e coordenadas apaixonadamente por Barcellos e a colaboração de Fê Marques. Mas, ao que parece e na óptica historiográfica, as ´fogueiras´ inquisitoriais continuam acesas contra a intelectualidade que busca a verdade na história documentada e atira-a nas fuças da academia obsoleta e politicamente engajada. Barcellos faz, numa das suas últimas palestras (São Paulo-Br., janeiro de 2019), um paralelo entre o poder clerical e o poder reinol para nos dar “a essência da hipocrisia que domina o poderio inquisitorial no campo ibérico, mas também a barbaridade do poderio miliciano que deixa os conventos economicamente pançudos, onde freiras e frades denominam os (seus) escravos de ´filhos de nossa senhora´...” (5). E eu faço outro paralelo: a fidalguia inglesa (a classe dos ´lordes´) vive ainda hoje de uma política fundiária feudal sob o aplauso da população local. O que eu quero dizer com isto? Quero dizer que o património fundiário e económico é a base das elites plutocráticas (sociais e religiosas), seja qual for a era e o calendário. Lembro que o próprio João Barcellos, em palestra com o ex-padre equatoriano Figuera de Novaes, no Rio de Janeiro, em 1988, fez uma comparação idêntica ao criticar construtivamente a Carta Magna brasileira então publicada. E termino: para cada acto, a sociedade das hipocrisias sem vergonha elege um altar para rezas diversas e constrói uma capela adequada. Maria Augusta de Castro e Souza _ MACS | Berlin/De, 2018.
Notas 1) 2) 3) 4) 5)
_ in A PALAVRA QUE NOS É ROTA, Col Palavras Essenciais, Volume 14; Ed Edicon + CEHC + TerraNova Comunic | Noética, 2017. _ in ENTRE AS TERRAS PIABYUANAS DOS GUARANIS E O REINO JESUÍTICO, palestra de João Barcellos; São Paulo e Araçariguama, 2018. _ in ALFARO: TORTURA E FOGUEIRA NO NOVO MUNDO, artigo de Fê Marques para a revista eletrônica ´Noética´, 2018. _ in RAPOSO TAVARES, ensaio-opúsculo, João Barcellos (noetica.com.br). _ in DA INQUISIÇÃO & DA HIPOCRISIA, palestra.
Arendt, Reis eo Caudilhismo Autoritário [sob os reflexos do autoritarismo sociopata de um ´mito´ brasileiro]
“O herói a si assiste Vario e inconsciente...” [Fernando Pessoa]
Súbito, em pleno Séc.21, o irrequieto e continental Brasil escuta um berro: “Mito!” Surge, em meio à desgovernação e à corrupção público-privada o ´herói´ improvável para a reorganização do Estado. E se elege. E vai em frente..., para fazer o que outros em Política já haviam feito: dar continuidade à desgovernação e à corrupção. Mas, este ´herói´ personaliza o ´mito´ da autoridade totalitarista, o caudilho que está precariamente e o é em execrável gramática ideológica! A situação no Brasil leva-me, hoje, a um passado não tão distante: o semipresidencialismo na democracia representativa alemã constituído em de Weimer. Tudo naquela Alemanha previsível diante de rupturas institucionais que aconteciam na Rússia e a possibilidade de um pensamento único trotsky-leninista de ´socialismo´ policialesco em confronto com o das monarquias em queda. E os ´mitos´ emergem dos medos e das misérias entre retóricas inflamadas. E, 100 anos depois, a sombra do autoritarismo encobre o Brasil com um presidencialismo que incentiva o caudilhismo miliciano, embora as instituições (Judiciário, Executivo e Legislativo) operem precariamente. Mas, com roteiro ideológico a desafiar as instituições no limite políticoadministrativo, o ´mito´ tenta impor o autoritarismo sob a capa da democracia e trata o Judiciário como sua polícia particular e as Forças Armadas como sua tropa de segurança. E olho a minha estante para logo pensar em livros de Hannah Arendt e de Manuel Reis e, em tais páginas, refletir novamente sobre o pensamento único que me cerca e quer roubar-me a liberdade estar-sendo um Eu que pensa e deixa pensar... E de Reis, leio: “Amigo, queres mesmo Democracia a sério? Então pega na Gramática da Ciência política… Estuda-a até tomares consciência de que Democracia e Capitalismo são, por natureza, incompatíveis: isso acontece tanto nos regimes da ‘democracia popular’, como nos regimes das ‘democracias liberais’. Incompatibilidade absoluta” [2019]. E de Arendt, leio: “O poder e a violência, embora sejam fenómenos diferentes, surgem habitualmente juntos. Sempre que se combinam, é o poder, como já
sabemos, o fator primeiro e predominante (…) a violência não depende do número ou das opiniões, mas dos instrumentos, e os instrumentos da violência (…) aumentam e multiplicam, como todos os outros utensílios, a potência humana” [1958]. Quando escrevi ´Ordem & Sociedade´ o fiz com a certeza de estar a colaborar com dados/estudos pertinentes ao afazer da violência que se banalizam no varejo políticopartidário; depois, em ´Mens@gens Políticas & Filosóficas´ ampliei tudo para refletir ainda mais acerca do tema, e porque logo surgiu a releitura de Reis sobre o ´big brother´ de George Orwell. Entretanto, a minha leitura sobre a escrita arendtiana anti-totalitarista é permanente e com comparações ao universalismo socrático-jesuano de Reis na sua trajetória de humanismo crítico. Mas, Arendt aprofundou-se de tal maneira no estudo sobre Autoridade e Autoritarismo que passou a ser voz-referência para outras leituras, acadêmicas e políticas. E, entre Arendt e Reis encontro linhas de desassossego líterofilosóficas que se completam e abrem ´campus´ novos. Ao ler a circunstância brasileira de um ´mito´ que tem pilar na democracia representativa (...foi eleito pelos povos) e nela se movimenta com atos de autoritarismo fascista para se dizer ´Eu e os meus´ e ´Eu é que mando´, ao mesmo tempo em que despreza a Saúde pública, a Educação e a Cultura, e ainda ´acha´ que milícias ruralurbanas operam melhor que as instituições judiciárias, pergunto-me: De onde os povos tiraram este ´mito´-´herói´? Sim, os povos elegeram-no. Como elegeram Hitler, tempos depois das arruaças politicas posteriores à Carta de Weimar..., Hitler que se transformou, também ele, em ´mito´ e ´herói´! Acerca da situação brasileira, Reis já havia escrito um ´acorda, gigante Brasil´, ao perceber a delicada circunstância política de uma Nação entregue, pela própria Carta Magna de 1988, a poderes exagerados dados às personalidades eleitas, mas sujeitas a um presidencialismo monárquico. As regras constitucionais de peso-contrapeso para harmonizar os três poderes não operam facilmente quando um Presidente pode, ele-mesmo, dizer-se Poder, e pronto. Em visita ´foguete´, na quentíssima Lisboa de 1975, visitei o professor Agostinho da Silva. “A história do Brasil é única pela civilização que processou e pela dinâmica social que permitiu à Língua portuguesa ser o esteio educacional e a ´caravela´ de raças que ora fazem essa Nação de gestos e sons e cores. Obviamente, as contradições e o desleixo social fazem do Brasil um espaço de manobras políticas nem sempre claras, nem sempre morais...”, escutei. Lembro que Hannah Arendt deslocou-se à antiguidade para, nas obras de historiadores e de filósofos, tomar conhecimento do conceito Autoridade. Para quê? Ela queria perceber o que facilita tanto o olhar de hoje (e mais o gesto) em torno do agrupamento com viés de Totalitarismo que sempre emerge com Violência cruel. E ela percebeu, como percebeu Reis e eu percebi, que a horizontalidade da Autoridade acaudilhada em exemplo de hoje – como o Brasil e os EUA, a Rússia e a China e Cuba, e etc. – tem fundo constitucional, regras institucionais de harmonização, bem diferente da verticalidade dos regimes monárquico-imperiais; por isso, e diante da crueldade da horizontalidade da política representativa deturpada, Arendt percebeu a dignidade do humanismo crítico que leva pessoas a dizerem não ao insulto totalitário. Daí ela formulou que “...ser humano não quer dizer apenas uma coisa fechada, mas uma série de coisas diferentes que, combinadas, formam uma pessoa”. Pessoa que pode decidir por um Eu-estou, porque Eu-sou, ou por um Eu-estou. porque não sou (ou me impedem de o ser).
Esta é a leitura que faço, hoje, de um Brasil que assumiu horizontalmente um ´mito´ de argila muito porosa e que, em atitudes autoritárias, começa a se desfazer a cada nova derrota diante das instituições – que não se deixam abater politicamente. O ´mito´, aqui, é um presidente eleito democraticamente, mas que se assume como caudilho no deslumbramento de um Poder sem história própria –, o vazio institucional causado pela situação constitucional que permite esvaziar o Poder para o ocupar ideologicamente sob o alicerce da Ignorância. Mas, como a Ignorância pode ser Poder? Ora pois..., a pessoa o é enquanto age, para si (individualismo avarento), e para si com outras (comunidade), são opções, mas, opções que podem ser incentivadas positiva e negativamente: positivas, se enquadradas no espírito republicano da vida democrática, e negativas, se levadas para a belicosa ideia de ser massa-de-manobra ideológica e suportar o deslumbre de um presidente-rei acaudilhado e disposto a “impor ao povo uma obediência ativa e militante ao status quo, condicionada pela adesão à ideologia oficial do Estado”, como ensina Arendt. Sim, e “...as sociedades (ditas) humanas estão de tal modo reduzidas a frangalhos, que, sem um programa universal [...], bem conhecido e estudado e assumido, expressamente, pelos Governos nacionais, não acontecerá nada de válido e fecundo”, como assevera Reis. Quando se fala em Democracia exercida eleitoralmente, e a lembrar a Carta de Weimar, da qual participou o sociólogo Max Weber, não podemos esquecer o que a sabedoria weberiana nos legou acerca dos bastidores da praxe eleitoral sob o ´big brother´ partidário ou senhorial: “...o poder centralizou-se em poucas mãos e, finalmente, na única mão de quem estava à frente do partido [...] o cesarismo plebiscitário – surgia o ditador da batalha eleitoral” [in Politik als Beruf´]. Ontem como hoje, o verniz da hipocrisia em Política tira do Povo e dá à elite... Assim é que a Autoridade e o Estado são travestidos de Autoritarismo sempre que as elites (de todos os quadrantes sociopolíticos) se apercebem que podem ser atiradas para a margem do Poder. Acerca deste assunto, o poeta e jornalista J. C. Macedo, fez palestra em Tomar, inverno de 1976, e afirmou ser “[...] importante que a Política tenha um rumo que não a faça tanger a Cultura Castrense, pois, a ´força verde-oliva´ o é enquanto parte do Estado e não das governanças de ocasião. Quando isso acontece, surgem caudilhos senhoriais a brandir o chicote autoritário, muitas vezes em nome da ´tropa´, que apenas tem de defender o Povo enquanto Nação estabelecida...”. Um ponto de reflexão retomado por Reis, com brilhante insistência em suas formulações acerca de Autoridade e Autoritarismo. Um ponto de reflexão que urge em cada instante do nosso percurso civilizatório sob a égide do humanismo crítico. João Barcellos, 2020.
Fontes Bibliográficas O ´BIG BROTHER´ NOVAMENTE EM ASCENSÃO?! – Manuel Reis. CEHC, G. D. Noética e Edicon (Brasil e Portugal), 2018. DA AUTORIDADE E DAS FORÇAS ARMADAS – J. C. Macedo. Palestra e caderno mimeografado. Encontro de Militares Milicianos: Castelo Templário, Tomar-Portugal, 1976. DA VIOLÊNCIA – Hannah Arendt., 1970. Ed. Universidade de Brasília, 1985 (Trad. Maria Cláudia Drummond Trindade).
JUSTA E BOA GOVERNANÇA – Manuel Reis. CEHC, G. D. Noética e Edicon (Brasil e Portugal), 2019. MENS@GENS POLÍTICAS & FILOSÓFICAS – João Barcellos. CEHC, G.D. Noética e Edicon (Portugal e Brasil, 2019. ORDEM & SOCIEDADE – João Barcellos. CEHC, Grupo Granja e Edicon (Portugal e Brasil, 2003. POLITIK ALS BERUF – Max Weber. Palestra e opúsculo. Universitat Munchen / Deutschland, 2019. THE HUMAN CONDITION – Hannah Arendt. Univ. of Chicago Press, USA-1958. THE ORIGINS OF TOTALITARISM – Hannah Arendt. Schocken Books (Deutschland and USA), 1951.
Notas Grupo Granja | movimento sociocultural, pensado em1990 pela artista plástica galega Tereza de Oliveira e João Barcellos, no Rio de Janeiro, mas só estabelecido em 1996, em Cotia (bº Granja Vianna), região metropolitana de São Paulo; o movimento restruturado em 2016 e rebatizado Grupo de Debates Noética. Sediado em Cotia/SP-Brasil [www.noetica.com.br] CEHC | movimento sociocultural e filosófico embasado nas atividades lítero-filosóficas e acadêmicas do Prof Dr Manuel Reis e sua esposa Profª Lillian, com alunos e amigos. Sediado em Guimarães, Portugal, o Centro de Estudos do Humanismo Crítico expande-se por outros grupos e países, com o G. D. Noética. GG/Noética e CEHC têm hoje uma biblioteca própria com dezenas de livros publicados além dezenas de conferências em vários países e 2 coletâneas com mais de 20 volumes publicados através da Terranova Comunic e Edicon.
LITERATURA & CELIBATO
O tema é velho, confunde-se com a nossa civilização e, muito especialmente, com valores dogmáticos que represam a liberdade da pessoa.
O que então eu vi No pasto entre fêmea e macho Não querem que o seja em facto Na apetência do que senti E então o que eu senti Quiçá um algo que não me diz do ser Macho J. C. Macedo – in Poemas Naturalíssimos, 1971
Quando o notável cristão Mário de Oliveira nos diz da traição sobre o Jesus histórico _ e o diz em vários livros... – ele exibe a verdade que nos rodeia, mas que nem toda a pessoa consegue perceber, pior, não consegue assimilar por ter a alma ébria de dogmas que vêm da origem judeo-cristã; ou, como diz outro notável cristão, Manuel Reis, uma cristandade estuprada pela dinâmica política pedro-paulina que interceptou a mensagem de Madalena para impedir a vera Palavra jesuana. Certa vez, em Guimarães, encontrei o professor Branco de Matos, ali perto do Toural. “Ora, pensei que você fosse um senhor de 50 ou 60 anos...”, escutei. Ele tinha lido várias crônicas que escrevi então, e vivia os meus 25 anos. Anos mais tarde, bem longe, li ´O Celibato Eclesiástico Na Literatura Portuguesa´, que, junto com Manuel Reis, ajudei a publicar no Brasil: uma obra de Branco de Matos de referência para quaisquer estudos nessa vertente místico-literária. Olhem só, e eu é que venho lá do baú d´avó..., brinquei. E produzi a capa do livro com fotos que registrei de ´cintos da castidade´, produzidos por Susumo Harada, artista plástico sino-brasileiro. Na abertura do livro, a amiga Carlota Maria Moreyra, que teve educação em colégio de freiras, escreveu: “O celibato é o objeto mais precioso do jogo administrativo-educacional que move o catolicismo”. Através da encenação egípcio-hebraica do deus ´único´ travestiram os sacerdotes em eunucos funcionais sob a canga ideológica do patriarcalismo, que serve também de pilar ao trono imperial davídico que foi o sonho daqueles e daquelas (a mãe incluída) que ´crucificaram´ Jesus, como demonstra Mário de Oliveira (sim, o famoso ´Padre Mário, da Lixa´). Em palestra entre mestres (...?!) filósofos e teólogos, na jesuítica Embu das Artes, municipalidade brasileira na área metropolitana paulista, pude expressar o meu conceito “sacerdotes judeo-cristãos: eunucos funcionais sob a canga ideológica”. Expliquei, expliquei, dei voltas, mas, não achei abertura para o diálogo entre tais filósofos e teólogos. Desperdício de tempo e de sabedoria, como se diria no tempo socrático. E ora
o digo!... Li trechos do livro de Branco de Matos, mas a canga dogmática não permitiu mais que o silêncio e olhares aparvalhados. Após a palestra, 3 dos 27 participantes vieram ao meu encontro: “Não temos permissão para discutir o celibato em público”. “Ah, ora pois... Meus caros, a civilização não é obra virtual e o prazer sexual não é uma ´punheta de bacalhau´...”, desabafei. Pelo menos, eles riram. O que diria Sócrates? O celibato é tema de muita literatura, é verdade, mas para mim, celibato deveria ser uma opção livre no campo sacerdotal (para eles e para elas), já que no campo da escravidão essa liberdade não existe. Ora, e se o devasso Agostinho virou ´santo´ enquanto ´doutor´ igrejista, por que não deixar o sexo livre e solto?... João Barcellos, 2020.
A ESCOLHA DE LEONARDO DA VINCI Qual seria a opção de Leonardo da Vinci, o “multigênio” que viveu há 500 anos; ou como dizem os pesquisadores, um polímata (que detém grande conhecimento em diversos assuntos); em um eventual vestibular para ingressar num curso superior, numa universidade? O que poderia satisfazer este ser humano que se tornou a referência da Renascença, atuando nas Artes com desenho, pintura e escultura; na Anatomia nos estudos do corpo humano; na Engenharia com projetos mecânicos, hidráulicos, balísticos, automotivos e aeronáuticos; na Arquitetura e Urbanismo em projetos de Templos e da Cidade Ideal; na Música não só executando como criando instrumentos musicais, e na Literatura como poemas e reflexões. Também como produtor de megaeventos e nos fomentos à diplomacia? Como agregar valor aos talentos do então gênio em formação? Realmente, ter num único curso todos estes temas, estas ciências, esta visão de mundos nos modelos atuais oferecidos em universidades, seria impossível? Leonardo da Vinci certamente teria dificuldades em se ajustar às universidades de sua época, onde predominava o modelo que, apesar de se balizar pelo enobrecimento do espírito dos homens, tornando mais alta sua virtude (“virtú”), estava “amarrado” às normas ditadas pelos saberes, culturas e poderes de então. De fato, Leonardo foi levado pelo seu pai para tutela de um mestre da arte, Verrochio, onde em seu estúdio (atelier) recebeu suas primeiras aulas ainda muito jovem. Porém, em pouquíssimo tempo, Leonardo já passara a ensinar e pesquisar novas técnicas na pintura e escultura. Na verdade, as universidades contemporâneas à Da Vinci buscavam o saber amplo, estabelecendo os programas de estudo a partir das sete “artes liberais”, sendo estas compostas pelo ensino literário (trivium) e o ensino científico (quadrivium). A metodologia estabelecia a parte central do ensino envolvendo o estudo das artes preparatórias, como o trivium (gramática, retórica e dialética) e o quadrivium (aritmética, geometria, música e astronomia). Depois disso, o aluno podia realizar os estudos mais específicos, para seguir o Direito, a Medicina e outras. Mas realmente, as universidades de então eram resistentes ao livre pensamento (conforme obras de pesquisas atestam), tendo dificuldades em acolher os “gênios” contemporâneos. A pergunta seria, então, como as universidades de hoje poderiam se organizar para propiciar o desenvolvimento dos “espíritos livres e inventivos”, que tenham um potencial de “gênio”, próximo ao de Leonardo da Vinci, fomentando as conexões entre diferentes áreas do Conhecimento? Pedro Fabiano, 2020. | engenheiro industrial, professor e pesquisador de segmentos históricos, humanísticos, tecnológicos e educacionais. Atuante como voluntário em desenvolvimentos e aplicações de energias sustentáveis e acessibilidades.
Nota O ´terrivelmente´ inquieto engenheiro-professor Pedro Fabiano, de entre as suas indagações socioeducacionais, nem sempre (e ainda bem...) técnico-científicas, provoca a Academia, e a Nós (simples mortais filosofando), com o tema “A Escolha de Leonardo Da Vinci”. O brevíssimo ensaio é notável ao expor os quês da falta de liberdade de opção escolar, acadêmica ou não, no que tange à criatividade cerebral de ´gênio´ multifacetado. Nem ontem nem hoje a Academia se prestou/presta a abraçar a pessoa genialmente inventiva – sempre, e sempre, o ´algo/alguém´ fora do convencional. Por isso, o tema sempre atual que é “a escolha de Leonardo Da Vinci na sua circunstância própria a fabricar, então, o amanhã”, que Pedro Fabiano nos traz à reflexão. Creio, e enquanto poeta-filósofo e historiador, que a Academia não dará, como nunca deu, o passo à frente para abraçar a genialidade criativa de quem lhe pode(rá) roubar a ´cena´ educacional. E não é a Educação que está em jogo, aqui, e sim, está em jogo a Elite plutocrática e eclesiástica que domina a Sociedade. Óbvio, a indagação do engenheiro-professor Pedro Fabiano leva a várias interpretações, e esta é a minha pela experiência vivida, pois, existe Vida além da Academia... _ João Barcellos. Brasil, 2020. Lendo o texto do engº-professor, o filósofo Manuel Reis, fundador do Centro de Estudos do Humanismo Crítico (sediado em Guimarães, Portugal), afirmou que “[...] são tempos diferentes e, hoje, as pessoas não são educadas no sentido universal do Saber, mas por ´especialidade´, o que impede uma formação universalista. Entretanto, a análise de João Barcellos ao texto diz tudo. O que é importante é que ainda temos esperança em um mundo melhor, porque ainda existem pessoas (raras, é verdade) que se questionam e questionam o todo social [...]”.
MONOCROMÁTICO Eu aprendi a fotografar com os meus tios, muito ligados também a cinematografia, e muito depois, fui-me especializando (baptizados, casamentos, eventos profissionais) até adentrar a área foto-cine das Forças Armadas, onde fiz várias palestras acerca da “Importância estratégica da informação/contra-informação em imagem monocrática” (quarteis-generais de Lisboa e Coimbra) e, claro, o foto-jornalismo (para uma agência de notícias de Lisboa e outra de Dublin). E foi em meio à fotografia e ao cineclubismo, nas jornadas sócio-culturais da Fundação Caloust Gulbenkian (Guimarães), que encontrei dois ´fernandes´, o Joaquim Fernandes, diretor da biblioteca, e o Fernando Fernandes, paramédico e artista multicultural. Os dois, animadores culturais com a fotografia monocrática a correr nas veias. Mas, por que a imagem registrada em preto-e-branco ganha tanta importância psicológica? “A profundidade dos contrastes na foto p&b permite-nos observar os quês do enquadramento, do acto que nos levou a esse enquadramento – o instante mágico da percepção que direcciona a objectiva”, dizia o fotógrafo profissional Joaquim Fernandes, num dos encontros das famosas jornadas sócio-culturais. E lembro que o Fernando Fernandes, numa jornada em torno do marco geodésico na região da ´moura encantada´, em Abade do Neiva, acima da quinta dos meus avós, e a tentar enquadrar o longínquo mar d´Apúlia, dizia ser “uma magia d´alma combinar arte e intuição numa imagem p&b”. Os dois ´fernandes´ falavam, na verdade, da alquimia monocromática. E como me era habitual, sempre um bloquinho e lápis à mão, registei tais opiniões, entre muitas outras, que utilizei nas minhas palestras como foto-cine militar e militante cultural. Ao ver na ´web´ a foto “as minhas botas”, do Fernando, registo antigo, mas não velho, porque muito actual, lembrei que o ´caso monocromático´ nunca se acaba... Recentemente, em palestra para técnicos de estamparia gráfica e serigráfica, voltei a expor a Fotografia Monocromática como arte de reflexão, e o meu amigo Ruy Hernández, da revista alternativa ´En Vivo y Arte´, aproveitou para ele mesmo fazer um ensaio fotográfico a ilustrar o meu texto em ´power point´. E agora, o Fernando Fernandes, via ´web´, expôs algumas das suas fotos preto-e-branco para demonstrar a alquimia da arte monocromática. E, por isso, aqui estou e para ele repassei: “o monocromático é um convite à reflexão profunda na qual emergem as cores do que somos”. J. C. Macedo, 2020.
AS MINHAS BOTAS
As minhas botas. O que elas andaram... O que elas passaram... O que elas viram... O que elas sofreram... O que elas sonharam...
Fernando Fernandes GuimarĂŁes/Portugal
A ALTA TECNOLOGIA E A PALAVRA (“The high-Technology and the Word”)
No meio de grandes eventos esportivos, sociais, culturais, e mais os políticos, lá está o Painel Eletrônico. Ponto de encontro público e sinalizador de campanhas em curso, ou como simples ponto de notícias meteorológicas e de trânsito urbano. Confronto de Conceitos? Será que o ‘display-led’ (= painel com milhares de lâmpadas que formam imagens) pode substituir a palavra, no nosso dia a dia? É óbvio que entre a Palavra e um Painel Eletrônico (que também pode ser de ‘cristal líquido’ e de ‘fibra ótica’, entre outras tecnologias), a Palavra é sempre o último recurso para uma mensagem, tanto entre as pessoas como para se dizer de outros tipos de sinalização. Entendendo-se que “Exteriorizar a publicidade em torno de um produto é sinalizar a possibilidade e a necessidade de vendas do mesmo, então, utilizando-se qualquer tecnologia de ponta para essa publicidade, acaba-se por incentivar a aplicação do recurso mais velho da comunicação: a Palavra”, na opinião de J. C. Macedo (in ‘We speak with visual communication, too’, artic., p.09, ‘High-Tech Journal’, N.16, April, London/UK, 2004. Trad.: ‘Nós também falamos com comunicação visual’), porque a Palavra é o fio condutor para a massificação de uma mensagem, ou a localização da mesma. Ao dizermos que a Alta Tecnologia não altera a dinâmica da Palavra, como meio e como mensagem, dizemos que é preciso estabelecer uma ligação harmônica entre os meios eletrônicos (de sinalização e de publicidade públicas) e a capacidade de raciocínio lógico da Pessoa. Não podemos pôr em confronto os conceitos que estabelecem, sem dogmatizar (é claro), a Palavra como a mais importante forma de expressão para todas as línguas e culturas, e aqueles que fazem da aplicação da Alta Tecnologia um novo tipo de ‘conversa diária’. Conversar é preciso... Sinalização Pública & Publicidade | A estrela dos painéis eletrônicos é, sem dúvida, o ‘ponto de apresentações’ (‘power point’) construído com tela de cristal líquido, e que, parecendo, não é uma televisão para a praça ou para a avenida, e sim um ponto/painel eletrônico que, entre espaços adequados ao tráfego automóvel e às multidões do ‘rush’ (horário de pico), sinaliza informações úteis e publicita produtos e negócios. Os painéis de Fibra Ótica são ótimos para sinalização viária; os painéis ‘RG’ (‘red and green’ = vermelho e verde) e ‘RGB’ (‘red, green and blue’ = vermelho, verde a azul) oferecem cambiantes de cores que multiplicam, até 16 milhões de cores, as possibilidades de uma mensagem digitalmente bem elaborada. Já existem carros (‘pick ups’) com adaptação de painéis eletrônicos e que se tornam pontos de informação e de vendas ambulantes, muito utilizados por agentes culturais e políticos, e que é uma tendência cada vez mais utilizada nos pontos de encontro noturnos das grandes cidades.
O painel de Película Refletiva com Suporte Eletromagnético é um bom sinalizador de informações pontuais e para situações bem localizadas (‘totens’ informativos de trânsito, horário, parques, preços, etc.). Assim, não se pode pensar simplesmente na utilização comercialmente otimizada das pessoas. “Eu não sou oportunidade... de ninguém/ Eu sou uma Pessoa! [...] As pessoas são fins em si mesmas”, dizem os versos de um pequeno poema do filósofo Manuel Reis (in ‘A lição que veio de Espanha’, p.46, CEHC, Guimarães/Pt, 2004). A sinalização pública e a publicidade, através da Alta Tecnologia agregada nos Painéis Eletrônicos, devem disponibilizar dados acessíveis e de incentivo ao raciocínio humano, não os dados que bestializam só porque o conceito mercantil global é ‘vender, vender, vender’. Até a pessoa que vende, e produz tendências inadequadas porque incentivada por conceitos maldosos, sente-se mal quando se percebe transformada em objeto! Devemos dar prioridade à pessoa, porque “o que é importante são os conteúdos” que dão base ao conceito, como diz o poeta J. C. Macedo (in ´Contents and Cult Markets´, artic., ´Science and Education Journal´, p.12; Dublin, 1983 // “...what is important are the contents”). É possível, com toda esta Alta Tecnologia, “produzir sinalização de utilidade pública e publicidade de produtos sem ferir aquilo que no Ser Humano é ainda a comunicação mais importante: a Palavra”, como afirma a psicóloga Elen R. Cédron, quando toca nesse assunto, e que já foi alvo de alguns dos seus estudos. Até por que todos os outros meios não funcionam se a Palavra não lhes continuar a mensagem...!
LIFFEY, Johanne – fotógrafa, poeta e médica, editora de ‘Hihgh-Tech Journal’ (London/UK). Bibliografia: ‘TheVisual Communication and the Electronic Market’, essay by Joane d’Almeida y Piñon (in ‘Cult Journal’, Sept., 2001, Houston/USA); ‘Electronic Lights: A false new Mass Media”, articule by Elen R. Cédron (in ‘High-Tech Journal’, N.0.9, Sept., 2002, London/UK).
Dois Poemas JORNADA
Ainda olho a luz do sol E penso na lua. Acho-me a viver nessa tolerância Que é o amanhecer Com o espírito de um coturno belo. Acredito que o belo É o espelho de um querer Que nos envolve numa fragrância De paixão nua, Tão graciosa como o amoroso girassol...! Ainda olho a luz do sol Nos braços ternos da lua. É assim que me sinto pela rutilância Que me faz querer E encarar a manhã em jornada de enlevo.
GOSTINHO CELTIBERO Perguntam-me: Para onde vais? Não sei responder logo. Mas sei., Como a águia do Gerês e os pombos do Liffey, Que gostaria de estar nos milharais. Com o vento a soprar n´alma não sei Quantas paixões. Aventuras. E o que mais Podemos querer na vida? E vós, de que gostais? Ah, é muito bom viver o que imaginei... Nota: poemas publicados em ´Perfil 2005´, coletânea da APPEJ, Rio de janeiro / Br., 2005. LIFFEY, Johanne | Nasci em Dublin e sou filha do poeta e conferencista J. C. Macedo. “Escrever e falar o português do meu pai foi um projeto que realizei. Escrever poesia em português é um projeto recente, mas que me deixa cada vez mais ´lusófona´ (como se diz, agora). A minha essência é luso-minho-irlandesa, portanto, céltica...”.
O que e como fazer... Em primeiro lugar, aprendi da minha mãe que foi médica pública, embora tivesse o seu consultório particular, que serviço público é um ato de militância em solidariedade. Sem este espírito não existe serviço público que dê certo, a não ser para quem somente quer estar no poder por algum tempo. Servi como enfermeira-paraquedista e médica e sei o que é a ´guerra´ em barracas de campanha, entre desespero e alegria, traumas nem sempre compreensíveis. Vivi isto em Bagdad, em Trípoli, na Faixa de Gaza, em Angola, no Equador, e sei que não é fácil derrotar inimigos invisíveis como os vírus que circulam em gotículas entre nós, como não é fácil derrotar os vírus-gente que fazem guerras para ganharem dinheiro e poder. Por isso, o que e como fazer em serviço público passa por um ato de consciência em ética profissional. Só pessoas que vivem a vida sabem o que e como fazer para salvar vidas!
Johanne Liffey
Júlio Pomar um serigrafista figurativo de cunho neorrealista
“Do que eu preciso? Ora, eu preciso dessa luz que me chega pelo contacto das pessoas. Ah, e é óptimo perceber (das que se foram) a alma além da mortalha, aquela que lemos nas obras legadas, essa acção fabulosa da vida retratada...”.
Na mesa da taverna, à sombra do Castelo de S. Jorge, uma malga de madeira, alguns pipos, e num deles uma torneira que vez por outra se abria para encher aquela malga com vinho alentejano. É o fim da primavera em Lisboa e ele estava de passagem com a cabeça em Paris, onde vivia exilado. Apanhou ainda a efervescência da queda da ditadura em 25 de Abril, mas aquele 1974 prometia mais... “Eu não sei o que vai ser de Portugal, mas ver esta gente toda entre militares com rosas nas espingardas, em vez de baionetas, é bestial”, dizia ele. E dele queríamos saber mais. Eu, jovem jornalista, editor do Tempo d´Educar, um pasquim mimeografado e ainda a cheirar a clandestinidade, e a professora Maria Augusta de Souza e Castro (para a polícia política: a ´macs´), a ´cabeça´ do movimento. “E sabem”, continuou o já bem conhecido pintor e serigrafista, “...Do que eu preciso? Ora, eu preciso dessa luz que me chega pelo contacto das pessoas. Ah, e é óptimo perceber (das que se foram) a alma além da mortalha, aquela que lemos nas obras legadas, essa acção fabulosa da vida retratada...”. Aquela ´coisa´ de “perceber a alma além da mortalha” soou-me surrealista, até um pouco distante da figuração que ele tanto levava às telas. “Ah, sim..., é como trazer ao hoje uma memória de longe que é contemporânea para nós na sinalização expressa...”, emendou ele a adivinhar a minha falha na narrativa. Narrativa pomariana. É verdade. Trago-vos aqui Júlio Pomar, que nos deixou neste 2018. E eu só entendi (e escrevi um artigo acerco disso no mesmo Tempo d´Educar) aquela narrativa quando, em 1988, pude ver as suas serigrafias tendo a vida singular e plural de Fernando Pessoa como foco. E naquele Fernando Pessoa serigrafado sobressaiu toda a identidade lítero-política do poeta lisboeta.
Quatro décadas depois da entrevista na primavera lisboeta, recebo da minha filha cópias digitalizadas de alguns artigos e anotações que ela recolheu no que diz ser o ´Baú do João´; entre o material pareceres acerca do padre Mário da Lixa e as anotações rascunhadas da entrevista com Júlio Pomar [ele morreu agora, em maio, vai aqui o material para não esqueceres dessa ´pérola´ jornalística, escreveu ela]. E sobre o pictórico ficcional pomariano reflito, hoje, que é 2018: O encontro com Júlio Pomar teve a mesma importância dos encontros que tivemos com Agostinho da Silva e Luís de Albuquerque (este, um reencontro) simplesmente histórico para nossas vivências socioculturais e políticas. E, para quem ´curte´ a arte de serigrafista aqui fica o ´recorte´ do artista que ia além da mortalha... João Barcellos Nota do Pe Mário (da Lixa): “Uma lufada de ar fresco. Muito para além da mortalha. A pior das quais é este tipo de mundo do Sistema de Poder, hoje, quase só financeiro. O meu bem-haja, querido amigo João B, por esta partilha do seu Baú. Bendita filha que lhe traz estas pérolas. Mário.” | e-mail, 19.10.2018.
CREAÇÃO COGNITIVA Corpo-Pessoa Em Flexão Civilizacional
“Odeio as suas opiniões, mas daria a minha vida para que você pudesse expressá-las” | Voltaire
Somos parte de uma gramática global se se considerar que as línguas nativas nos dão a certeza de um corpo visual originário da Terra e sob condicionalismo do Cosmo na sua infinitude – infinitude que permite a formação de ações naturalmente finitas, entre elas a geração do homo sapien sapien, que vive e morre em ciclo próprio tendo a Terra como berço, estrada e tumba. Esta questão leva-me a Espinoza e ao seu questionamento “Deus sive Natura” [q.s. “Deus ou Natureza”], na verdade, um questionamento que carreia em si um conceito: nós, corpo visual, finito no meio da complexa infinitude na natureza cósmica, somos a expressão de um ´algo´ que se vivencia em realização fabricada em meio próprio, i.e., somos, porque percebemos em nós uma (re)creação que nos leva a multiplicar o saber, mas, sem deixarmos de ser um corpo-pessoa tão visual quanto a natureza e com linguagem própria, apesar de gostarmos do não-visual, i.e., de sombras e de muletas psicológicas..., até para sermos ´algo´ mais que a pessoa em si diante das outras! No processo seletivo civilizatório construímos consensos para uma estratégia de sobrevida social, mais política do que social, digo. “Ao aplicar o termo ´manufacturing consent´ (q.s. ´fábrica de consensos´), no livro ´Public Opinion´, o ensaísta estadunidense Walter Lippmann demonstrou que a pessoa o é diante de factos e de versões, na maioria das vezes a verter versões no âmbito de opiniões engajadas, logo, a fabricar ´casos´ segundo a (sua) necessidade de estar social e profissionalmente. É a visualidade do corpo que se move para não ser esmagado por outros em diferentes velocidades, porque é o corpo-pessoa que sabe que o é e precisa agir em linguagem corporativa, no estilo ´ou nós, ou eles´. O que é notório nas sociedades que desprezam a importância da pessoa em si mesma...” – J. C. Macedo; matéria para os jornais regionais ´Barcelos Popular´ e ´O Povo de Guimarães´ (1981), a propósito de um ensaio do filósofo Manuel Reis publicado em ´O Povo de Guimarães´. E por isso é que “...Voltaire continua como baliza no ideário de uma humanidade que precisa se escutar para se reconstruir de pessoa em pessoa e não como pessoa-em-banca-de-negócios” (idem). A vivência telúrico-cósmica leva-me a pensar que o ato civilizatório em curso e pelas camadas sociais estabelecidas no modo político sob interesses do modo mercantil, é um tipo de engajamento que faz emergir o conceito ´consensos fabricados´ entre ideologias doutrinárias e utopias... No âmbito filosófico verifico que, por ex., no Séc. 21,
tanto Noam Chomsky quanto Manuel Reis retornam aos Sécs. 17 e 18, nos quais Espinoza e Voltaire mostraram o corpo-pessoa em si mesmo e numa linguagem cuja estrutura interagia no modo físico (visível) e no modo não-visível (espiritual e esotérico), de onde eu retiro aquele afazer/conceito ´fabricado´, e onde reside, a meu ver, a origem de segmentos de atividade como a Moda e toda a Comunicação Visual, o que se percebe, também, em todo o complexo telúrico-cósmico de fauna e flora que nos rodeia e que copiamos a todo o instante ao jogarmos a flexão que nos é íntima e nos permite a creação cognitiva. É que, ao vivenciarmos o homo sapien sapien na sua modernidade, como diz Reis, fazemos emergir uma linguagem estruturada na necessidade de ser-estar pregada pelo corporativismo, não pela vertente da pessoa que se nega objetualísticamente e quer viver o que é e pelo que é, logo, estamos no vórtice de uma linguagem mundializada que atende ideologias avulso e despreza a racionalidade do bem-estar da pessoa e lhe impõe, como dizia Espinoza, uma economia de desejos – por outras palavras: a pessoa é escravizada ao utilizar o processo civilizatório da creação cognitiva, porque o sistema social corporatizado foi endeusado como máquina d´Estado que fornece algum ´bem´estar e obrigações quanto baste; a pessoa acha-se inteligente e industrialmente competitiva e até na comunicação social, mas tal ´liberdade´ permitida é o cadeado que a prende a esse sistema. Então, a pessoa é um corpo visual e (re)produtor engajado à necessidade de uma sociedade que utiliza o saber para escravizar a pessoa, quer em currais políticos-eleitorais quer em currais sociais. Os mecanismos aplicados para escravizar o corpo-pessoa, como já ´escutamos´ de Ivan Illich, vão do patriarcalismo político e místico à educação ideologizada numa governação cuja pauta de políticas públicas é pinçada do interesse do corporativismo privado para manter [des]organizada a Sociedade. Quando se escutam verdade históricas como “[...] a primeira coisa que Lênin e Trotski destruíram, logo após a Revolução de Outubro, foram os sovietes: os conselhos de operários e todas as instituições democráticas. Lênin e Trotski foram, nesse sentido, os piores inimigos do socialismo...” [Noam Chomsky – in Le Monde Diplomatique, 1º de agosto de 2007], ao que eu mesmo respondi, em 2014, com “Toda a ditadura que substitui outra acaba por desprezar os povos, obrigados a doarem o suor e o sangue para manter as elites”. O engajamento de sobrevida, político e/ou social, é aquela ´metamorfose ambulante´, que canta(va) o brasileiro Raul Seixas, num acerto de contabilidade e de posição social, raramente de ética profissional. E quando a ética emerge, escutamos em qualquer canto da humanidade: “não me obriguem a vir para rua gritar” (cântico do português Zeca Afonso), por uma resistência contra todas as escravaturas e por uma utopia libertária, incluindo a do homo sapien sapien. Vós que lá do vosso império Prometeis um mundo novo Calai-vos que pode o povo Querer um mundo novo a sério! Dizia, alto e bom som, o poeta popular português António Aleixo e sem potencialização de populismo demagógico. Ora, Senhoras e Senhores, eis aqui a verdade nua e crua acerca dos processos políticos que impedem o corpo-pessoa de se expressar em humanismo crítico e de lavar a alma como homo sapien sapien na sua integridade cidadã e comunitária.
E por isto é que quando ´gritamos´ humanismo crítico estamos a dizer de nós, a visualizar o corpo telúrico-cósmico, que deve ser respeitado na sua liberdade essencial e em qualquer língua nativa! João Barcellos, 2020.
Agonia de Psicopata
1 Aquela pessoa que o é age em modo Pesos iguais no dizer e no jogo Clareza de atitude até quando manda Mas a pessoa nem sempre o é em jogo E então vive por um ´ouro de tolo´ É o niilismo da mente opaca Néscia vontade em atos d´íntimo foro Toda a pessoa tem uma farda E uma estrela dourada Vaidade é ´ouro de tolo´ Exibe ignorância que abastarda E logo a queda que nunca tarda O nada pelo nada alimenta o tolo Mortalha vivida em agonia demandada
2 A mulher de branco É flor entre lágrimas Salva quem pode da pandemia Vive com o medo e com a alegria Foge das falsas lágrimas De outras pessoas em branco Outras pessoas que vivem de alheias lágrimas Outras pessoas em branco
3
Escutam-se vozes Gritos e foguetório na paróquia Acabam de ser eleitos algozes O poder é engodo em política paródia E são algozes Pagam o voto com nada e celebram com cerveja E carnes nobres Quando o povo questiona a paródia Viram fantasmas e sem vozes Nem o cura lhes vê a alma na paróquia Eis em excelência os algozes Cantam leis e taxas em altas vozes Quando perdem o voto massacram o povo Qual quebra-nozes
4 Sob o manto verde-oliva Costumava eu ler de tudo Sem o manto aprendi que há de tudo E até um “E daí...” diante da perda de vida Desprezível ser que não conhece de outrem A alma em luto E se ufana d´ignorância em vida
5 O cara deu um grito d´alegria A alma implodiu Não foi uma sombra que partiu Na sua ´horta´ há muito que não chovia
Olhou em volta Não enxergou mas desenhou uma ´carta branca´ Promessa a alguém sem toga Homem de bem que em glória se alça
Era para fazer o que fazer o tal cara não queria Deixar de lado tudo que lhe foi caro e ora engoliu Com hora para dizer basta ao que não pediu Logo o sem-toga deu à nação nova alegria Do nada raro de bom se alcança Quis a fama e a bandeira do sem-toga Passou borracha na ´carta branca´ E viu nada à sua volta Não há liberdade sem íntima alegria Nem choro falso pelo que partiu Sem a fama alheia o cara louco implodiu E o da toga deu o troco com alforria
João Barcellos, 2020
Música, Filosofia & Nós Ou, um oráculo chamado Reis.
O encontro de raças e linguagens, ao longo de milênios, ora pacífica ora belicamente, mostra que a Oralidade teve para todos os povos em formação civilizacional uma importância tão fundamental quanto o desenvolvimento da Música, principalmente através dos cânticos. A consciência tribal e, depois, a regional e a nacional, teve na Oralidade a chave da Comunicação necessária ao estabelecimento de um Povo, enquanto Raça e Língua; e a Música foi, sempre, o elo entre a Pessoa que constrói a Casa e a sua necessidade de Cultura própria para melhor se comunicar com os seus e o Mundo próximo. “Consciente do diferencial que comportava no seu desenvolvimento entre a Fauna e a Flora que a cercava, a Pessoa passou da fase ´estar ciente de que sou diferente´ para a fase do ´pensar para depois agir´ dando início a uma longa travessia intelectual que, entre Sócrates [1] e Confúcio [2], veio a criar a Filosofia da intuição moral e do conhecimento pela refutação que leva outras pessoas a darem à luz [maiêutica] outros conhecimentos, ou a perceberem-se ignorantes” [3], que é o nossa circunstância mais natural e pouco aceita. Durante um sarau cultural com conversas sobre “Socrate”, a peça bio-cinematográfica dirigida por Roberto Rossellini [4], lembrei uma outra peça bio-cinematográfica, esta, sobre “Mozart / wen die gotter lieben”, do anti-nazista Karl Hartl [5] que, numa cena de poucos minutos, celebra o encontro histórico de Beethoven [Alemanha, 1770-1827] com Mozart [Áustria, 1756-1791], quando este, após ouvir o visitante tocar Haydn [Áustria, 1732-1809] e, logo, uma peça própria, disse-lhe, meio assombrado pelo ritmo e o brilho, que “quem revoluciona a tradição musical encontra muitos obstáculos”, e ouviu, então, que “as árvores florescem sem perguntarem a quem”. O diálogo demonstra como a
Liberdade de Criação, social e cultural, com raiz socrática e confuciana, alicerçou, e alicerça, a Arte européia através da Música, mas também ilustra o quanto de oposição tinha, e tem, na plataforma ideológica do Pensamento formado na retórica da Política institucional e igrejista. Assim “...como a Filosofia, a Música é pura intuição poética que se enforma com as vivências de cada Pessoa nessas áreas do Conhecimento, porque... se a Música exige técnicas e especialidades para ser exibida, oral ou orquestralmente, obedecendo a critérios de cada Cultura, mas configurando-se universalmente através da livre criação de quem compõe as peças, a Filosofia também tem o mesmo trajeto, e por isso é que o filósofo Manuel Reis [6] reformula, hoje, a maiêutica socrática para nos dizer, por ex., que a Oralidade jesuana [do percurso profético-filosófico de Jesus] produziu ações noéticas contrárias aos poderes estabelecidos que teimavam, e teimam, em negar a maiêutica socrática e confunciana enquanto Palavra do Saber para o bem-estar políticoadministrativo da Cidadania plenamente democrática” [7]. Eis me, e eis nos, senhoras e senhores, diante da importância do Saber Pagão que vem daquela Oralidade a traduzir raças e linguagens na travessia que daria à luz a Humanidade. As religiões diversas e institucionalizadas como Poder temporal só ganharam espaço teológico depois de usurparem da Oralidade dos povos a Tradição espiritual que as movia para o conhecimento da sua Circunstância telúrica e cósmica, porque cada Povo e cada Pessoa eram em si o Oráculo, como hoje é, por ex., o filósofo Reis a permitir-nos uma maiêutica para a Liberdade com quantas linguagens o Saber nos permita. E assim é que, senhoras e senhores, “entre ocidentais e orientais permeia uma Filosofia que o é pela Oralidade crítica que constrói e reforma uma Linguagem inerente a cada Raça/Povo” [idem], mas de tal maneira que o plano local movimenta também o plano universal e faz da Humanidade um diapasão a oscilar para o equilíbrio da Paz entre cânticos que não são doutrinais, mas poemas de Amor, como defendiam Mozart e Beethoven... pura intuição artístico-filosófica para e pela Vida cidadã.
João Barcellos, 2020
1- SÓCRATES [470-333 ac], que aprendeu a questionar o mundo para dar à luz novos conhecimentos ao ver a mãe, parteira [maiêutica], dialogar com as grávidas que atendia, e com o pai, escultor. 2- CONFÚCIO [551-479 ac], cujo nome era Kung-Fu-Tse, q.s. Mestre Kong; filósofo e moralista que viveu simplesmente para mostrar que só existe vida quando ela é exercida com justiça justa. 3- BARCELLOS, João – in “Intelectualidade e Poder, ou a Escolha Socrático-Jesuana pelo Humanismo Crítico”, São Paulo / Brasil, 2010. 4- ROSSELLINI, Roberto – in “Socrate”, Itália, 1971. 5-HARTL, Karl – in “Mozart / wen die gotter lieben”, Áustria, 1942. 6- REIS, Manuel – in “Linguagem/Poesia/Música”, [Centro de Estudos do Humanismo Crítico CEHC]Guimarães, Portugal. 7- MACEDO, J. C. – in “Dar à Luz Tendências que Valorizam o Conceito Socrático da Livre Expressão”, palestra. Rio de Janeiro, Brasil, 1993.
Viver a Utopia é Construir uma Humanidade Sadia Em seu imponente ensaio “Brazil: Wake Up, Sleeping Giant!”, o filósofo Manuel Reis lembrou-nos, em 2015 e a pinçar a revolução keynesiana na economia de mercado, que os governos das Nações têm por obrigação (moral e política) disponibilizar os meios para uma distribuição de riqueza justa, ou seja, que o nível de emprego e de poder de compra das pessoas tem de crescer proporcionalmente ao desenvolvimento da produção industrial e comercial, pelo que defender a economia de mercado não quer dizer defesa do desemprego alinhado a falta de justiça social. Fui buscar o texto/ensaio de Reis que o amigo João Barcellos havia enviado para mim em arquivo digital, tão logo recebeu da sede do Centro de Estudos do Humanismo Crítico (Portugal). O que me moveu? A palestra “Ideologias Avulso & Utopia”, que o Barcellos retomou em 2020 e na qual mostra que não existe Estado socialista no âmbito do Poder – de todo o Poder, digo – que evoluiu ou não em torno do processo monetário e os capitais-de-giro para investimento nacional e internacional. Através do apetite criminoso de políticos pelo Poder, como Trotsky e Stalin, e mais de Trotsky (a Rússia soviética de 1917 é o exemplo, aqui), a palestra de João Barcellos mostra que a análise de Reis ao reduto econômico de Keynes está correta, mesmo sem citar essa complexidade, porque a mudança de governo de Estado – do capitalismo selvagem, bancário e burguês, para o ´capitalismo de partido único´, que de socialista só tem o nome – é feita somente no espectro político, uma vez que a ideologia de plantão concorre ´avulso´ com as demandas de mercado interno, quando dissociada do mercado externo. Logo, também o Estado (dito) socialista rejeita a justiça social e escraviza as suas gentes nas fábricas e nos campos (como já havia acontecido com a China maoísta, de 1911), o que vale dizer: um novo império substitui o anterior com o mesmo chicote opressor. O que é utópico é pensar, ainda hoje e após as falhas estruturais do sovietismo, do maoísmo e do castrismo, que existe verdade na retórica do revolucionarismo, que tem na escravatura ´democratizada´ sob as armas dos exércitos ´vermelhos´ aquele chicote que ordena calar a boca e trabalhar de sol a sol, de lua em lua. Lembro também, que o Barcellos só depois de verificar com os próprios olhos o que é ser-estar revolucionário passou o bisturi sociopolítico e cultural e decidiu escancarar o baú de dogmas que faz do partido único uma capela de ´bispos´ absolutistas. Por isso, utopia (e utopia boa, porque esclarecedora) é o modo de viver e de agir com que Reis e Barcellos vêm a público e nos dizem em livros e palestras do ser-estar Humanismo Crítico. E foi assim. O texto de Barcellos remeteu-me logo a Reis. E na verdade, os dois portugueses vivenciam uma jornada filosoficamente exemplar sob o espírito do Humanismo Crítico. Rosemary O´Connor | Boston-USA, 2020.
O Fazer Luso No Brasil
a hipocrisia é a base de todo o sistema colonial e ela é repassada mentalmente de geração em geração, e o que resulta disso é uma sociedade que se esconde entre meias verdades
No âmbito de uma “colonização militar e social, acompanhada de uma evangelização mística na ponta da corda da escravatura”, como diz o poeta J. C. Macedo, a gente lusa transformou a costa norte e sudeste da Ilha do Brasil num quintal: 1°- com a presença de gente fugida à criminosa inquisição cristã, especialmente os judeus ibéricos, e gente desterrada também por isso mesmo e por crimes comuns; 2°- por um desejo da maioria dessa gente que se traduziu desde logo no intercâmbio sexual com as gentes nativas: a conquista do poder entre os povos nativos para lhes usurpar a terra. Autor de vários livros sobre a colonização lusa do Brasil, recheados de anotações historiográficas, o luso-brasileiro (atrevo-me a dizer assim por ele conhecer melhor a história do Brasil do que a maioria da gente local, como ao fato já se referiu o Prof. Dr. Manuel Reis em homenagem ao amigo e discípulo) João Barcellos sublinha que “o degredado dito Bacharel de Cananéia é que assentou o escambo sexual para domínio geossocial entre partidários tribais e, então, ergueu a primeira base de sustentação colonial com um ciclo socioeconômico que culminou na construção do Porto das Naus, e não João Ramalho, este, acomodado na sua integração simplesmente tribal”; e está certa a afirmação, porque uma análise simples sobre aquele tempo de sobrevivência e acomodação, mostra que o ´bacharel´, arredio aos interesses lusos, e tinha lá as suas razões, montou negócios com lusos e com castelhanos enquanto dominava o ciclo escravocrata próprio ao interesses tribais, e só depois desse ciclo, com a derrota desse ´rei do pedaço´, é que a gente lusa ousou subir a Serra do Mar e adentrar os caminhos nativos de ligação entre o litoral e os sertões, no que o capitão Affonso Sardinha (o Velho) se mostrou de notável habilidade militar e econômica. O que vem depois desses dois homens é já o assentamento português no Brasil sob e com a lança mística jesuítico-cristã: existia uma paisagem humana nativa, passou a existir uma paisagem humana mesclada de sentimentos precários e, todos, sem exceção, vinculados à terra. 1 Quando, em 1990, João Barcellos me convidou para um encontro de intelectuais e artistas lusos, residentes no Brasil, que viria a acontecer no Centro de Estudos Mário de Andrade, em São Paulo, e ao qual eu não pude comparecer, vim a saber que as autoridades diplomáticas lusas aqui estabelecidas não tinham a menor ideia de quem era quem no campo artístico-cultural. Nem têm agora, em 2011. Tal ignorância é um abuso e um crime contra a identidade sociocultural dos lusos no Brasil. E foi em 1989, em conversa com o professor e poeta Francisco Igreja, no Rio de Janeiro, que fiquei a conhecer a existência de João Barcellos e as suas pesquisas luso-afro-brasileiras. “É
um ´gajo´ que pesquisa e faz história, mas acima de tudo ele é o poeta com uma fragrância anarquista à flor da pele”, ouvi.
Fotos: João Alves das Neves & Fernando Muralha Parte do grupo presente no I Encontro de Intelectuais da Diáspora
No dia em que fui conhecê-lo, durante uma palestra em 1991, acerca de Pessoa e de Machado de Assis, na Universidade Federal de Santa Catarina, cujo esteio teve a ação intelectual de Agostinho da Silva, fiquei deslumbrada com os seus conhecimentos. “As pessoas esquecem que a História do Brasil é um trecho da História de Portugal, e não conhecendo esta nunca saberão ao certo daquela”, disse-me. Eu já tinha pensado, mas nunca me atrevera a olhar a questão dessa maneira. Uma lição de mestre, e por isso ele foi muito aplaudido no auditório. Nesse e em outros, até hoje. “Todo o seu trabalho é esforço único, pessoal”, tinha me dito Francisco Igreja, que acabara de publicar o primeiro livro ´carioca´ desse anarquista. “Ele detesta os acadêmicos empantufados e prefere agir na sua peculiar vivência sociocultural, quase de sobrevivência”. E daí a autenticidade dos seus estudos, dos seus livros. No final de 1992, João Barcellos disseme: “Olha, vou publicar as minhas anotações sobre o Morgado de Matheus, mas vou
ter um apoio financeiro porque o ator Fernando Muralha agiu entre os industriais e comerciários que ele conhece na Sampa”. Ou seja: a história luso-brasileira vem sendo reescrita desde 1992 sem o conhecimento da diplomacia lusa, que deveria intervir a favor, mas nada faz porque desconhece o universo artístico-cultural dos lusos no Brasil. 2 A ignorância da diplomacia lusa quanto aos seus intelectuais e artistas residentes no Brasil remete para a gravidade de outro assunto: não existe disseminação da Língua e da Cultura lusas de maneira geral. “Falamos a mesma Língua, e pronto, a estupidez governamental de Lisboa manda os seus diplomatas beberem caipirinha em vez de trabalharem pelo bem da Nação portuguesa além-mar”, escreveu J. C. Macedo sobre o assunto. E escreveu bem, conhecedor que é do assunto. O fato de, entre 2008 e 2011, termos acesso a uma releitura da historiografia lusobrasileira, através de livros como Araçariguama – do Ouro ao Aço, Cotia – Uma História Brasileira, e Do Fabuloso Araçoiaba Ao Brasil Industrial, tendo pelo meio Gente da Terra, um verdadeiro romance luso-brasileiro, nos quais personagens como o Bacharel de Cananéia, o ´velho´ Affonso Sardinha, o Morgado de Matheus, o governador Francisco de Souza, entre outros, surgem finalmente com a dimensão histórica a que fizeram jus, não é um fato que faça a diplomacia lusa abrir os olhos para a realidade de quem continua Portugal pela excelência de pesquisas e de livros. Talvez, então, João Barcellos tenha razão: “A gente lusa da Distância enxerga Portugal com a alma e o seu exercício de portugalidade jamais será substituído por quaisquer ações diplomáticas”. É verdade. Basta vermos a ação do jornalista João Alves das Neves, da poeta Dalila Teles Veras, do poeta e editor Francisco Igreja, do ator Fernando Muralha, do dramaturgo Carlo Kouto, do poeta Silvério R. Costa, e do próprio João Barcellos, além de artistas plásticos como Fernando Durão, Mariana Quito e Ana André, do antiquário Fernando Medeiros, do poeta e diplomata Rui Assis e Santos, e da poeta Marta Portugal, para sabermos que esta ´outra´ gente lusa na Distância se consagra a tecer o espírito luso na colcha de retalhos étnicos que é o Brasil. E daquele Encontro de intelectuais e artistas luso do Brasil, em maio de 1990, organizado pelo Centro de Estudos Americanos Fernando Pessoa e coordenação de João Alves das Neves, saiu um manifesto em que estas gentes lusas se consideraram “não-omissas” diante da ignorância governamental e diplomática, que foi publicado na revista Gente das Letras, publicada mimeograficamente pelo João Barcellos. Ou seja: a situação de precariedade em que é tida a gente lusa do ramo artísticocultural no Brasil é um crime de lesa-Pátria. 3 No meio de tal bagunça, e apesar dela, existe um fazer luso que engrandece o Brasil: falamos a mesma Língua sob culturas diferentes, por isso, e a exemplo de João Barcellos, que continua de certa maneira o exercício de Jaime Cortesão, é preciso fazer notar pela historiografia a importância daquele fazer luso de ontem para se entender o que é o Brasil hoje. 4 A editora Marta Novaes, em encontro do Grupo Granja, hoje integrado ao diretório latinoamericano do Centro de Estudos do Humanismo Crítico [CEHC], realizado em Buenos Aires, em 2008, esclareceu: “Assim como os brasileiros sentem-se mal ao invocar as raízes portuguesas da colonização, o mesmo se passa com os argentinos, e outros povos de Língua castelhana. O que se passa? As famílias da elite socioeconômica quatrocentona gostam de afirmar serem descendentes de certos
personagens ibéricos, mas raramente se atrevem a nomeá-los por causa da carga escravocrata. Hipocrisia pura. Entretanto, ninguém se sente culpado pelos crimes da cristandade no mesmo período colonial, como se isso tivesse sido um ´sinal de deus´. Outra hipocrisia...”. O apontamento dessa periodista portenha fez a professora irlandesa Rose O´Connor dizer que “a hipocrisia é a base de todo o sistema colonial e ela é repassada mentalmente de geração em geração, e o que resulta disso é uma sociedade que se esconde entre meias verdades”. Ninguém diz “eu sou da família do Bacharel de Cananéia”, ou “eu sou da família do velho Affonso Sardinha”, mas já se contentam em dizer “eu sou da família do ´povoador´ João Ramalho” ou “eu sou da família do ´patriarca´ José Bonifácio”, e por aí vai a trilha da ignorância e da hipocrisia. Por outro lado, e João Barcellos tem feito ver a questão nas suas notáveis palestras, ousou-se trocar a palavra colonizador por povoador, um branqueamento de história que arrepia a ética. Então, os portugueses povoaram os povos nativos...?! Como se pode brincar com a história e desta maneira? Na verdade, o que se continua é o tipo de colonização cristã pela qual se substitui, por exemplo, Piratininga por São Paulo, no mais flagrante estilo “aqui mando eu, aqui eu nomeio”. Nesta trilha está também a denominação do nativo americano [guarani, tupi, goayanaz, etc.] como ´indio´, só porque um ignorante chamado Colombo aportou na América julgando estar nas Índias, e o erro continua até sem reparos! E a questão foi jesuítica [leiam-se as cartas dos padres], porque a gente lusa denominava os povos como carijós e tupis, etc. Ou seja: mais uma vez a mente colonial deturpou a realidade da paisagem humana. Isso, da mesma maneira que a mentalidade cavaleirosa da Casa de Bragança espezinhou a Casa de Avis e com ela a história fantástica de Pedro, o Infante das 7 Partidas e do seu neto e rei João II, o que está comprovado nos estudos do professor Alfredo Pinheiro Marques. A mesma Casa bragantina que fugiu de Portugal e impôs um império no Brasil e na mesma moldura da paisagem atrofiante da mente colonial.
5 a ação sociocultural é um exercício de consciência e de saber, não o apelo de um eu para encurralar um outro Naquele já longínquo ano 1990 a revista Gente das Letras conclamava: “É preciso ousar Ser-português para aprender a Estar-mundo”. A autoria é óbvia e basta ouvir João Barcellos palestrar acerca do assunto para não restarem dúvidas. Mas o que isso demonstra é que, assim como na França e nos EUA, em Portugal e na Espanha, na Alemanha e no Chile, e no Brasil não é diferente, sempre alguém toma os assuntos e vai em frente na tentativa de puxar outras pessoas sem as aliciar, porque “a ação sociocultural é um exercício de consciência e de saber, não o apelo de um eu para encurralar um outro” [Barcellos, em homenagem a Agostinho da Silva e a Manuel Reis]. O que vimos em Francisco Igreja e vemos em Dalila Teles Veras e em João Barcellos é esse ato de honrada resistência à mesmice acadêmica e política por uma sociedade integradora da diversidade cultural. É um afazer luso que se viu em Jorge de Sena e em Rodrigues Lapa, como em Jaime Cortesão, e sempre, mas sempre, uma pessoa ou um grupo mínimo de pessoas a puxar o trem da Verdade que deve ser exposta conscientemente. O que existe de diferente entre a odisseia socioeconômica do ´velho´ Affonso Sardinha, nos Sécs. 16 e 17, que levou Portugal aos sertões a oeste da Sam Paulo dos Campus de Piratininga e ali iniciou a indústria americana, e os militares que, no Séc. 20,
redemocratizaram Portugal? O espírito da gente lusa de respirar no próprio peito a Liberdade de se fazer para estar plenamente na terra que consagraram. O que aconteceu no Brasil dos Sécs 16 e 17 foi obra de gente que, subitamente sem lar, sem terra, viu-se na obrigação de tomar espaço e de embuchar nativas para dar seguimento a dois propósitos: 1°- ter terra própria; 2°- assentar um ´outro´ Portugal longe do sufoco inquisitorial ibero-cristão. E esta leitura deve ser feita à luz documental e não pela retórica de igrejistas [adoro este termo do poeta J. C. Macedo pela abrangência sociopolítica]. Assim, e principalmente de Cortesão a Barcellos temos uma historiografia em que se relê a luso-brasilidade tal como aconteceu, tal como é! No momento em que pensei escrever O Fazer Luso No Brasil, após uma palestra de João Barcellos acerca da indústria têxtil que a tropa de Cabral encontrou no tal ´porto seguro´, entre redes de dormir e redes de pesca, não estava tão certa de chegar a uma conclusão pela complexidade do assunto, mas quando terminei de ler o manuscrito Do Fabuloso Araçoiaba Ao Brasil Industrial, aí, fiquei com a certeza de estar argumentando com as palavras certas. Maria C. Arruda | Filha de portugueses, microempresária e professora. Florianópolis-SC/Br., 2011.
Cânticos a Mestre Gil
1 em tua visão tudo é um palco tudo é um pouco da vida e nesse tudo eis a lusa alma dos quereres libertários aos templos que negam a alma de quem se joga pela vida a fazer do mundo um novo palco se os velhos gregos e romanos disseram como cantar e decantar a mimesis da vida nunca o drama e a alegria tiveram tanta vida como nas tuas cenas dos nossos quotidianos de cada mulher e de cada homem fazes um auto para dizeres do todo humano e da essência perdida um todo que busca no mar de longo a chama e o sonho dos quereres libertários pois que em ti não sossega a lusa alma aquela que nos sopra a vida e neste todo humano se faz palco
2 Eu sei, mestre. Eu sei. Mas, de que vale gritar aos quatro ventos que a vida tem de ser vivida com a profundidade de um poema? Dizem até que há uma lei que nos diz como escrever e como falar na cidade... Eu sei, mestre. Eu sei. Mas parece-me que a cada auto estamos numa nova idade e a cada poema temos que enfrentar ventos que só existem na pança da corja que se acha rei!
E nós, mestre? E nós? Nós não poderemos ser rei só por um poema, um auto que seja atirado aos quatro ventos? Ou, em cada geração e cada nova idade vão forjar um estatuto que nos deixa [sempre] fora da lei?! Apetece-me fazer como tu, mestre: atirar a verdade nas fuças dessa corja! Sim, mestre. Eu sei. Tens tu as tuas razões, mas olha, precisamos ser a idade que somos para conquistarmos os gentis lenços que a vida nos oferece e sermos a rebelde grei! A celebrar Gil Vicente nos 500 Anos do Auto da Índia. 2009. | J. C. Macedo
Joaquim Santos Simões, Mestre Gil, Macs & Eu Logo que entramos no autocarro, rumo ao Teatro-Circo, de Braga, enfiamos nas mãos das pessoas um panflo mimeografado da Turma de Jovens de Intelectuais Anarquistas (tjia), fundado pela professora Maria Augusta de Castro e Souza [para a ´pide-dgs´ a “macs”, na qual essa bandidagem policialesca e salazarista nunca pôs as mãos...]. “1973, com apoio dos EUA a bota militarista acaba de derrubar Allende, no Chile. É o mesmo serviço que os EUA, enquanto nação imperial, presta no apoio à Guerra Colonial que opõe Portugal aos povos africanos [...]. As novas gerações do Portugal, nação que não é casa salazarista nem quintal vaticaniano, dizem ´Não!´ ao colonialismo, às intervenções militaristas que derrubam democracias, como dizem ´Não!´ a todo o tipo de ditadura político-militarista...”, explicava o panflo. De repente, escutei: “Ah, vocês têm cuidado, muito cuidado, vamos estar cercados pelos ´pides´ neste encontro em Braga... Já dizia o mestre Gil em tempos idos, mas iguais a estes nossos tempos: ´ À barca, à barca, houlá! / que temos gentil maré! – Ora venha o carro a ré! / Companheiro: Feito, feito! / Bem está!”. Era o professor Joaquim Santos Simões, prosaico na oportunidade política. E eu dei uma gargalhada, as pessoas viraram as cabeças para nós. “Oh, ora pois..., professor, só o senhor mesmo para uma dica do mestre Gil neste momento. E ela vem mesmo a calhar, ora, ´temos gentil maré´ para mais uma jornada e levar a nossa barca contra a maresia da escuridão salazarista”, respondi. Estava a anotar (como sempre) no verso do imenso bilhete do autocarro Guimarães-Porto o instante, quando a professora Maria Augusta sentou ao meu lado: “Já conversei com Santos Simões. Vamo-nos dispersar na plateia do teatro para distribuirmos melhor o panflo, e vai circular outro panflo da turma dele”, escutei. “Sim, temos gentil maré”, disse eu. Ela olhou-me de alto a baixo: “Hum, o Gil Vicente está em todas... Só pode ser coisa do Santos Simões!”, riu ela. Tudo correu como esperávamos: polícia política em todos os cantos e a guarda republicana no palco, de espada em riste. “- Nada de comício político. Todos pra fora!”, berrou um pançudo capitão GNR ao lado de um PIDE. E foi porrada de cacetete até que conseguimos entrar no autocarro rumo a Guimarães, mas já com jornada agendada para um encontro ´democrático´ em Aveiro. Sim, estávamos em ´gentil maré´, mas a ´barca´ vicentina já anunciava tempos de mudança, “houlá!”... Desse momento ficou-me “...e vamos almoçar com o professor Luís de Albuquerque lá em Apúlia, na próxima semana”, promessa [cumprida] de Santos Simões, e a circunstância vicentina que ele criou no meio de tanta precariedade política. | J. C. Macedo
Acerca de Barcellos & Barcellinhos Para Encontrar Barca Celi
uma barca perdida nas águas que enchem o leito do Cávado ora não tem margens o valle mourisco que deles era Celeno achado tudo aqui enche e se perde por chuvisco a senhora da porta do valle é altar abençoado e ora temos galo a ciscar estas águas isto que vos conto enquanto olho o cheio Cávado é de nós o que não pode ir em águas [J. C. Macedo]
A história, costumo dizer em minhas palestras e escrever nos meus livros de história, é como a filosofia que geramos a cada instante em nossas vivências: o momento de sempre que se faz hoje. Saber carrear tais vivências é mostrar que temos um universo telúrico-cósmico a reverenciar em fé de compromissos civilizacionais. Nos anos 1972, 1973 e 1976, pude refazer o Caminho de Sant´Iago desde a estrada da velha Villa Vimaranes indo a Bracara Augusta para descer a Barcellinhos e passar a Barcellos para dar alcance à Galícia e ganhar Sant´Iago e, logo, à Finisterra.... Eram estudos no âmbito minho-galaico que, lidos pelos professores Joaquim Santos Simões e Luís de Albuquerque, deram-me a certeza de estar na rota certa. Porém, na saída da villa vimaranense, deixei os olhos no espaço céltico-castrejo de Briteiros que iria reviver, depois, em Vigo. Sim, a rota era certa, mas tinha atalhos históricos que exigiam diversas jornadas direcionadas ao Condado Portucalense... Aí, também com o apoio da professora Maria Augusta de Castro e Souza, dei início a um jornalismo cultural e historiográfico que me levou a leituras desafiadoras. Uma dessas leituras foi a ´descripçam da villa de Barcellos´ que me deu a conhecer o ´valle´ banhado entre o rio Homem e o rio Cávado. A saber: Em análise crítico-construtiva ao ´Nobiliário´ do conde Dom Pedro Plana, transcrita por António Carvalho da Costa, na sua ´Corografia Portugueza / Da Comarca de Barcellos / Da descripçam desta Villa´, diz-nos o ilustre reinol-leitor Feliz Machado, que
o nicho-altar de Nossa Senhora da Ponte era denominado, antes da fundação de Portugal, como “Ermida de Nossa Senhora da porta do Valle, & no arrabalde que chamão Barcellinhos”. Ora pois, se assim era, o que era Barcelos? E ele prossegue: “[...] antes que no rio Cavado houvesse a ponte, que nelle vemos, andava em aquella passagem huma barca, a que chamavão Barca Celi, & que dela se derivou o nome da povoação, que de Barca, & da palavra Celli com pouca corrupção se chamou Barcellos”. De tal anotação percebe-se que a povoação não era uma aldeia perdida no ´valle´. Continuemos a ler a anotação: “A villa foy antigamente cidade episcopal, chamada Aguas Celenas do rio Celeno, chamado hoje rio Cavado, nome que lhe puzerão os Mouros [anos 713] chamando a esta cidade Barcellenos.”
Em trabalho-de-campo aprende-se que além das pátinas e das poeiras podem surgir páginas que nos revelam circunstâncias outras. E por devemos abrir os nossos sentidos (re)criativos a novas leituras. E, ao descobrir ´o Senhor de Entre o Homem e o Cávado´ percebi que ontem já havia a tensão crítico construtiva que hoje me leva a dizer não a muitas situações, principalmente no âmbito do estudo historiográfico, porque nada é definitivo, nada é certo, pois..., olhem, é como aquele ´de sempre´ quando as águas do Cávado ´engravidam´ e nos tiram as margens da recreação poética. J. C. Macedo Obs.: Muitos anos depois pude fazer-me à rota amazônica da Barcellos situada às margens do rio negro, e primeira capital da Amazônia.
Se a Barcellos portuguesa é a cidade do ´galo de barro´, a Barcellos amazônica é a cidade dos ´peixes ornamentais´ e um município geograficamente gigantesco. António Carvalho da Costa [1650-1715] – padre e cientista e historiador, autor de ´Corografia Portugueza, e Descripçam Topografica do Famoso Reyno de Portugal´, Lisboa-1706. Félix Machado [1595-1662; António Félix Machado da Silva e Castro] – 2º Marquez de Montebello [e ´Senhor de Entre o Homem e o Cávado´...].
Do Todo Ao Não-Vazio
O ano 1989 foi dedicado pelo poeta e anarquista J. C. Macedo ao desenvolvimento da sua tese, segunda a qual, “o espaço em branco é um Não-Vazio que reclama da experimentação do Todo humano, ou seja, do ato criativo que cada pessoa pode gerar para dialogar com o Mundo e/ou confrontá-lo, no que aí assume a dualidade necessária à Inteligência de visão progressiva, que é contrária àquela que jaz no inconsciente da pessoa adormecida diante das sutilezas da Vida...”. Para exemplificar isso, ele pegou uma folha de papel off-set tamanho A3 e traçou uma linha grossa dividindo-a em dois espaços triangulares; na parte de cima e com uma seta de duplo sentido, escreveu “não-vazio”, e na parte de baixo, desenhou um esboço de rosto com um ramo de flores emergindo da cabeça, e escreveu “o Todo”, ao lado de um desenho tosco a representar uma escada sanfonada. “O que está em cima é igual ao que está em baixo, já diziam os filósofos herméticos há milhares de anos, logo, se diante do Todo humano existe um Não-Vazio, esse espaço deve ser tomado pela Inteligência do Alguém que risca um fio, uma linha, e parte com toda a Criatividade para se dizer Mundo e exclamar Ei, eu sou Vida!...”. Esse desenho ficou durante anos em casa da profª Carlota Moreyra, porque foi na oficina (e sala de aulas) de artes gráficas dela que J. C. Macedo demonstrou o seguinte: “a Anarquia é um sentido filosófico que leva à Verdade quando a Consciência das pessoas parte em conquista do Eu, que é o Todo, logo, que é Comunidade; e a Arte (literária, teatral, pictórica, etc.) é aquela linha, aquele fio, que transformamos num porto d´aventuras para nele colocarmos o Todo humano e criativo que possui e quer dar Fraternidade num abraço de Igualdade e Liberdade”. Nos últimos 8 anos, o seu desenho passeou pelas mãos de muitos artistas e intelectuais, e, nas minhas aulas de Sugestão para a Conquista de um Objeto-Arte, ele é o ponto inicial de conversação, o porto aberto. Quando o escultor J. Araújo, pega num tronco de árvore e dele extrai lascas e mais lascas, ele sabe que naquele meio físico existe um não-vazio, que não é somente madeira, mas sim madeira para ser trabalhada e nela criar outro ambiente; da mesma maneira, quando o artista plástico Carlos Daniel solicita aos alunos que “tracem uma linha no papel e partam... artisticamente”, ele reaviva o estado psíquico das pessoas que acordam para uma vivência sugestionada. Aqui está a fórmula psicológica que leva o Todo humano para a conquista do Não-Vazio. Uma análise da saudosa artista Tereza de Oliveira, à tese em apreço aqui, lembranos que “(...) Na concepção filosófica de J. C. Macedo existe lugar para tudo, mas o essencial está no Diálogo que permite à Pessoa humana encontrar em si mesma a poética necessária ao ato de Fraternidade. E a Arte, como um todo de vivências, é o caminho do andarilho consciente, como o próprio poeta, e filósofo anarquista, gosta de dizer”. Mariana d´Almeida y Piñon / MAyP _ Profª de Artes Visuais / Paris/Fr.
ANEXOS Diálogos Em Cultura Castrense J. C. Macedo
Analítica Criticista do Pensamento/Entendimento Humano, na Escola da Ciência Gnóstica, segundo a gramática dos Gnósticos judeo-cristãos primevos.
Manuel Reis
DIร LOGOS EM CULTURA CASTRENSE
J. C. Macedo Peรงas mimeografadas das palestras de J. C. Macedo, entre 1975 e 1976, enquanto militar miliciano, digitalizadas em 2016 por Johanne Liffey.
Da Autoridade Das Forças Armadas [diálogos em cultura castrense]
Cavalheiros, Militares da Nação Portuguesa, Após dar fim a um regime de Autoridade acaudilhada com perfil fascista e avessa ao Diálogo sociopolítico, as Forças Armadas (FA´s) puseram os ´pingos nos is´ no campo da Política nacional, em 25 de Abril de 1974. Entretanto, e apesar de quase 50 anos de Autoritarismo policialesco, em alguns casos sob a chefia de oficiais das próprias FA´s, ainda tivemos de conviver com a ressaca ideológica de um ´salazarismo´ que tentou sobreviver, em Março de 1975, e com a tentativa de ´sovietização´ (regime sino-soviético-cubano), em 25 de Novembro de 1975, e, em ambos os movimentos, as forças militares, conscientes da uma Cultura Castrense de maior valia diante dos tropeços pela falta de organização social em Política, barrou sonhos e intentos totalitários e apostou na República democrática, mesmo que somente pela representação eleitoral... Se a cada instante o Autoritarismo mostra-se em garras sempre afiadas ou a coberto da própria manta democrática, também é certo que o Diálogo democrático está a vencer a batalha e a estabelecer uma Autoridade através das instituições parlamentar e judicial, uma vez que a representatividade do Povo surge entre o Legislativo, o Executivo e o Judiciário (os 3 Poderes da República). E assim é quando verificamos ser importante que a Política tenha um rumo que não a faça tanger a Cultura Castrense, pois, a ´força verde-oliva´ o é enquanto parte do Estado e não das governanças de ocasião. Quando isso acontece, surgem caudilhos senhoriais a brandir o chicote autoritário, muitas vezes em nome da ´tropa´, que apenas tem de defender o Povo enquanto Nação estabelecida. Pergunta-se, amiúde, “– Pode-se praticar política com extremos quando o parlamentarismo erra e fere os povos”. E eu vos digo que “– Sim!”, porque se o que está em jogo é o Povo enquanto ele-mesmo Nação; pois, neste caso, acima de tudo está o Povo que sustenta a Nação. E o digo com uma ressalva: uma ruptura institucional em nome do Povo só é válida quando se destina a reposicionar as instituições da República, como, por ex., reescrever a Carta Magna ou levar o próprio Povo a novos actos eleitorais. E, aqui, cabe às Forças Armadas o acto institucional de dar segurança nacional ao movimento de reposicionamento da República, uma vez que a ´Força´ não é governo político-administrativo, mas, instrumento do e para o Estado no acolhimento dos desejos manifestados pelo Povo. Cavalheiros, Militares da Nação Portuguesa, o Autoritarismo é uma praxe de caudilhos políticos e místicos: políticos que se fazem profissionais na chefia de Partido político e, na Igreja, místicos que se fazem profissionais em credos dogmatizados, o que denomino ´igrejistas´. Eis a Autoridade acaudilhada que só existe enquanto acto de Autoritarismo e contra a essência dos princípios democráticos da República.
Não se pode esquecer que a Autoridade é a óptima representação social que acomoda o Todo Humano em comunidade próprias, regionais e nacionais; também, que a Autoridade, enquanto Consciência social em políticas públicas, impede a ascensão daquele Totalitarismo que é reserva mental em muitos militares e civis que não escondem odiosos desejos de sangue e morte para retomarem o Poder acaudilhado! Por isso, temos que estar atentos em prol da República democrática! Era o que tinha para vos dizer, e o disse. Viva as Forças Armadas. Viva Portugal.
MACEDO, J. C. Convento e Castelo Templário / Cavaleiros da Ordem de Cristo. Tomar-Portugal, 1976. Leituras Aconselháveis – POLITIK ALS BERUF – Max Weber. Palestra e opúsculo. Universitat Munchen / Deutschland, 1909. | THE ORIGINS OF TOTALITARISM – Hannah Arendt. Schocken Books (Deutschland and USA), 1951.
O CINEMA E A FOTOGRAFIA COMO FERRAMENTAS ESTRATÉGICAS EM CAMPO DE BATALHA [diálogos em cultura castrense]
Parte 1 A imagem que descrevemos entre olhares e gestos foi por muito tempo a principal ferramenta de comunicação entre pessoas: a consciência da pessoa tornou-se a ´objectiva´ e o ´laboratório´ a fabricarem a ´imagem´ possível na transmissão de ideias e de factos, desejos e actos. Ainda hoje, no comande operacional de um grupo militar, o oficial e/ou o sargento, a depender da situação, comandam a ´tropa´ em deslocamento com sinalização gestual pré-determinada – ´imagens´ cerebralmente idealizadas para dar ´conversa´ em logística e táctica, uma vez que a estratégia já estava delineada. O desenho e a gravura tornam-se, depois, ferramentas essenciais no desenvolvimento de estratégias militares, quer de observação, quer de mapa para o desencadear de missões de ataque ou de resgate. O momento tecnológico de grande alteração no planeamento da atividade militar chega com a fotografia e, logo, com o cinematógrafo.
Parte 2
Desde logo, a fotografia possibilita o registo do evento que acontece e torna-se memória historiográfica. Com as imagens em movimento, ou, cinematógrafo, a comunicação social (imprensa) escrita e pictórica torna-se, primeiro, registo ´ao vivo´, e depois, registo áudio-visual, com a incorporação da captação do som. Os avanços da tecnologia na comunicação social, entre o jornalismo, o rádio e a televisão, formatam uma sociedade mundializada, i.e., no mesmo dia sabe-se o que acontece a Oriente e a Ocidente. E, com o cinematógrafo, vem a ciência áudio-visual (som e imagem: faixa magnética sincronizada com a fita da imagem). Tudo muda. Tudo é novidade. Nunca à margem das novas tecnologias – e parte delas ´fabricadas´ para elas –, as FA´s absorvem a novidade e redimensionam os seus serviços de cartografia e foto-cine, porque, entre os Anos 40 e os Anos 70 do Séc. 20, a fotografia é parte das acções militares, sendo o militar foto-cine também um atirador de segurança na sua própria atividade junto à ´tropa´ que age no ´front´. O que é fotografar a guerra...? É ser e estar no caminho da ´bala´ e, às vezes, ser ´bucha´ para canhão. Ora pois... Quem fotografa o ´teatro bélico´ sabe que é vida com um pé na morte, mas, em tal atividade não se pode permitir sequer pensar em tecer a sua ´mortalha´ - ou, lá se foi o objectivo, pior, a objectiva e o registo! Existem dois tipos de pessoas profissionais em tal serviço cine-fotográfico: homens e mulheres. No caso militar, o serviço é masculino, pelo menos até 1975, em Portugal. Mas, no caso da imprensa, o serviço é obra para ambos os sexos. A título de exemplo, são dois civis os maiores nomes da fotografia de guerra: Robert Capa e Henri CartierBresson. E, entre as mulheres, Dorothea Lange. E lembro que a Guerra da Crimeia e a Guerra Civil Americana, ambas no Séc. 19, fora os primeiros embates bélicos a serem fotograficamente registados. E volto ao foto-cine militar... É treinado, em geral, como militar, e faz curso de atirador especial, pois, sempre estará no ´front´, raramente atrás da ´tropa´. Sim, quando está fora do ´front´ é um militar em estudos de logística e estratégia e, por isso, e à parte fazer o registo da morte e vida nos campos da guerra, é também (quando consciente da sua civilidade) alguém em exercício sob a óptica da antropologia – afinal, é alguém que regista uma parte do processo civilizatório. Entretanto, repito, é alguém que terá de antecipar a jornada quando as balas e as bombas silvarem em torno de si!
Parte 3 Desde que o foto-cine verde-oliva passou a trilhar o mundo em missões de registo do acto bélico, a informação e a contra-informação passaram a ter uma ferramenta estratégica de grande valia. Da simples imagem de um campo minado à de um(a) agente em dupla função políticomilitar, uma táctica pode ser alterada ou anulada, ou servir para o implemento de uma acção coordenada em todos os pontos cardeais levando as NT (nossas tropas) aos confins do IN (inimigo). Apesar do tripé, da câmera, das lentes, da farda e da arma, o foto-cine é um militar ágil, por isso faz o curso de atirador especial. Às vezes, e pela sua posição no ´front´, não é a sua vida que está em jogo, é a vida da NT enquanto o IN o tem como ´sinalizador´ para armar o contra-golpe...
Cavalheiros, Foto-Cines da Nação Portuguesa, o registo da Vida e da Morte é um exercício tecnológico não somente de grande valia estratégica: é uma historiografia necessária à demonstração de que as Forças Armadas o são enquanto parte da Nação que se move em si mesma!
MACEDO, J. C. Quartel do Exército (Dep. Foto-Cine) em Coimbra e Mafra-Portugal, 1976.
Leituras Aconselháveis – IMAGES OF WAR – Robert Capa (text and photographes). Ed Grossman, NY-USA, 1964. – IMAGES PORTUGAISES – Fotografia de Mário Novais e Horácio Novais, entre outros autores; c/ Pref. de António Ferro. Ediç Secretariado da Propaganda Nacional. in 4º, c/ legendas em francês e index em inglês. LisboaPortugal, 1939. – OS PORTUGUESES NA COLONIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA – Armindo Monteiro. Agência Geral das Colónias. Lisboa, 1933. – TRAITÉS DU PAISAGE ET DE LA FIGURE – André Lhote. Ed Grasset; France, 1963.
GEOPOLÍTICA NO CONCEITO ´BIG BROTHER´: INFORMAÇÃO E CONTRA-INFORMAÇÃO [diálogos em cultura castrense]
Cavalheiros, Militares da Nação Portuguesa trago-vos, hoje, não um assunto do ontem recente, mas um assunto do hoje que urge e no momento em que a República reposiciona as suas instituições para uma Democracia que, sabemos nós, será sempre precária diante das muitas possibilidades de retrocesso em que apostam forças reaccionárias, dentro e fora dos quarteis, dentro e fora das igrejas, dentro e fora das nossas casas. Trato agora da informação e da contra-informação como elementos de estratégia em defesa da Nação. E vamos lá... Quem sou eu...?! É o que se pode chamar de “a pergunta de muitos milhões de dinheiros”, porque nem sempre existe uma só resposta. Se formos pelo jeitinho pessoano de poetar a vida e as suas sombras, resposta nunca haverá – somos e seremos a multidão do Eu me movimento; e o mesmo acontece quando encaramos civis, policiais e militares profissionais em serviços de informação e contra-informação. Informação e contra-informação não é novidade nas políticas d´alcova que forjaram e destruíram monarquias e repúblicas, e assim o é...
Dos vários interregnos surgidos na História portuguesa, entre a Monarquia e a República, deve-se perceber que a ´res publica´ passou longe das políticas privadas e dos golpes d´Estado daí resultantes. Obviamente, a informação e a contra-informação contribuíram, e muito, para formatar tais eventos das elites civis, eclesiásticas e militares. E sempre, mas sempre, a vigilância de ´alguém´ foi/é determinante enquanto ´gatilho´ ou ´chama de pólvora´ que faz a circunstância sair das brumas. Aquele ´olhar outrém´ é o ´big brother´ que o notável George Orwell tornou público em seu ensaio´ficção acerca do assunto. Olhar para ver, formular e decidir, eis a formação primária de ´alguém´ que tem por vida ler o particular e o mundo. Quem sou eu?! Ora, ´alguém´ que está e não está! Este é o primeiro ensinamento que agentes de informação e contra-informação recebem. O resto é tecnologia e pura intuição. Já nas Grandes Guerras do Séc. 20 parte das batalhas foram decididas entre informação e contra-informação, sendo que muitos dados estavam entre os dedos que dactilografam notícias do ´front´: jornalistas da guerra. O jornalismo, como informação geral, passa a ser parte do espírito de corpo das nações envolvidas: repórteres convivem com militares, vivem o mesmo ´teatro´ sob as mesmas estratégias de que derivam tácticas de sobrevivência. Aqui, na guerra, jornalistas são parte do ´big brother´, ou, ´alguém´ que escuta, lê e decifra, enquanto as balas e as bombas dão conta das emergências da ´tropa´ que avança ´front´ acima e abaixo. Três casos em particular situação nesta circunstância: americanos em missão colonial do Vietnam, ingleses em missão colonial na Índia e portugueses em missão colonial na África (Angola, Moçambique, S. Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau), hoje, em fase de descolonização. Três casos em que o jornalismo de guerra avançou e avança com os militares e em tal empresa assenta a formatação indirecta (em alguns casos directamente) de informações que geram contra-informação, e vice-versa. Quando a polícia política portuguesa (´PIDE´) anunciou pela imprensa a morte de Amílcar Cabral, um dos chefes guerrilheiros do PAIGC (Cabo Verde e Guiné), ela o fez dubiamente _ e isso era importante, porque havia uma acção colonial e parte dos chefes da PIDE eram oficiais militares – para pôr em causa a ´unidade´ ideológica dos guerrilheiros: por um lado, era uma vitória portuguesa, por outro lado, uma vitória dos guerrilheiros mais extremistas. O mesmo havia acontecido, por ex., com a famosa Padeira d´Aljubarrota, a dita cuja que encontrou sete castelhanos escondidos no seu forno e ali mesmo os assou. E pronto. As autoridades da época fizeram uma ação panfletária (éditos) com essa ´verdade´ que, enquanto contra-informação, resultou no medo e na fuga dos castelhanos. O jornalismo é, em meio a eventos bélicos, uma comunicação social estratégica tão valiosa quanto a dos militares-espiões. Jornalistas foram e são fontes alternativas de dados estratégicos em campanhas militares. Se a base de dados na comunicação social é geopolítica, a militar também o é, por isso, os dados completam-se. Se fora da guerra as FA´s são sombra no Estado, em guerra, elas são a parte visível de um Estado institucionalmente em dificuldade de permanência, pois, uma guerra faz vítimas e faz vitoriosos, principalmente faz vítimas políticas a longo prazo, como na circunstância das longas intervenções coloniais. Com o fim da ´guerra colonial´, em 1974, a sociedade portuguesa reorganiza-se com instituições republicanas e uma carta magna, enquanto as FA´s recuam para a sua função institucional após ter sido protagonista do golpe d´Estado que derrubou o regime colonialista. Agora, a informação e a contra-informação são partes de um jogo político-
judiciário em que a espionagem é ´chave´ para a defesa nacional e as FA´s têm para si o resguardo da dados sigilosos comuns à mesma base institucional. O ´big brother´ não é mais um protagonista verde-oliva na sociedade, e sim um ´dente da roda´ que gira socialmente.
MACEDO, J. C. Quartel-General do Exército em Coimbra (Dep. Foto-Cine), Mosteiro de Santa Maria da Vitória / Aljubarrota e Quartel de Mafra; Portugal, 1976. Leituras Aconselháveis – HEROINAS DE GUERRA: RESENHA SUCINTA DALGUMAS MULHERES QUE
FORAM SOLDADOS – João Paulo Freire. Lisboa-Portugal, 1941. | 1984 – George Orwell. England, 1949.
DO BIG BROTHER MUSSOLINI-MARINETTIANO AO GAJO DITO FERRO – OU: DO MILITAR COMO ESSÊNCIA DO PODER [diálogos em cultura castrense]
Cavalheiros, Militares da Nação Portuguesa O que ora vos trago é uma reflexão sob a óptica da sociedade em vias de redemocratização e com um processo revolucionário em curso (´prec´) que, inclusive, divide as FA´s e a Nação. Foi-se a ditadura político-policialesca e foi-se o acto colonial que marcou a política ultramarina do Estado Novo salazarista, agora, temos pela frente uma Democracia que oferece a esperança da paz, mas, aqueles ditadores/ditadoras que se erguiam senhorialmente como elites na sociedade politicamente castrada pela falta de liberdade de opinião, continuam a agir, e o fazem com a alegoria de ´democratas´, seja em cargos governamentais, seja na obtenção de posições na estrutura de chefia de partidos políticos –, partidos políticos que ora agem, por sua vez, como ´big brothers´ ideológicos: uns, à direita, e outros, à esquerda. No âmbito objetivo da Política que faz do Partido uma célula ideológica e dos seus chefes a chave senhorial socio-económica a agirem como escravocratas a brandir o chicote diante das pessoas que aderiram ao projecto ideológico publicado no estatuto partidário. Um dos pontos estatutários é a fidelidade ideológica, sejam quais forem as circunstâncias socio-políticas. A opinião da pessoa que ingressa na estrutura partidária,
como adepta, não interessa, a sua acção é defender o estatuto e o chefe, o senhor/sacerdote que empunha o chicote e o credo.
“...a direção plebiscitária dos partidos pressupõe a despersonalização dos seus adeptos...” M. Weber Se no Estado Novo salazarista funcionava uma doutrina de segurança nacional concentrada nas FA´s e nas forças policiais, enquanto ferramentas de repressão e ódio ao Povo, o Estado democrático carreia uma, não uma nova, mas outra versão doutrinal, pois, a Democracia pressupõe Liberdade de ir e vir e os partidos políticos são parte instrumental do novo corporativismo: nem a Autoridade totalitária nem a Autoridade democrática deixam de ser fenómenos societários, por isso, o partido político é uma das chaves que abrem o sistema de pesos e contra-pesos entre as instituições no exercício societário. Em ambos os casos, e lembro Weber, quem adere ao exercício estatutário de um partido deixa em casa a sua personalidade e, em muitos casos, a própria família: ...adentrar a estrutura partidária é ser parte de uma acção de mando pelo Poder, mesmo não o sendo, porque só o chefe-caudilho do Partido tem esse acesso, logo, o grau de politização partidária tem fases que se aproximam entre direitistas e esquerdistas, o que me leva a dizer-vos que existe Poder e querer ser-estar Poder (lembro aqui as reflexões de M. Heidegger). Ora, Cavalheiros e Militares da Nação Portuguesa, já conhecemos os efeitos da ideologia ´futurista´ mussollini-marienettiana, conduzida em Portugal pelo ideólogo António Ferro, o gajo da cobertura estética fascista e da propaganda salazarista, e estamos, agora, a conhecer a cobertura estética e a propaganda de uma República em abertura democrática, cuja retórica político-partidária alcança em cheio as FA´s, primeiro, porque os militares saíram dos quartéis para um golpe militar d´Estado que acabou com o estado sítio salazarista, segundo, porque as mesmas FA´s protagonizam, enquanto pessoas do Povo Português, anseios nacionais, logo, também criam circunstâncias políticas à esquerda e à direita. Exemplo? Parte da ´força´ quer ser-estar NATO, outra parte quer alinhamento ao pacto soviético de Varsóvia. O que fazer? Decidir. E decidir significa agir. Dar continuidade àquele futurismo louco que serve o chicote fascista, ou recriar as instituições republicanas em paz e a pensar no umbigo geopolítico ibérico que situa Portugal? Muito bem, a ´força´ decidiu por Portugal para evitar um big-brother a entocar a Nação numa guerra civil. Não foi um acto à esquerda ou à direita: foi uma acção por um Portugal a respirar por si mesmo; e, neste caso, uma acção que mostrou o militar como meio de Poder moderador em tempos de crise sócio-política a envolver todas as instituições da República. Não o militarismo repressor, mas aquele que ajuda na solução
pacificadora em prol da Nação. Mesmo a ser uma ferramenta d´Estado e não de governos ocasionais, as Forças Armadas não podem deixar de agir com o grau de intervenção política que lhe é peculiar em circunstâncias de ruptura institucional. E aqui, Cavalheiros e Militares da Nação Portuguesa, eis-nos diante da Pessoa-Militar enquanto essência do Poder que age na e pela Nação. O que difere do ser-estar ideologicamente direitista ou esquerdista. E, enquanto poder moderador, as FA´s impedem o fascínio psicopata que os extremos ideológicos têm pela ruptura. MACEDO, J. C. Quartel-General de Lisboa (inverno e primavera) e Quartel-General de Coimbra (no outono) - Portugal, 1975. Leituras Aconselháveis – POLITIK ALS BERUF – Max Weber. Palestra e opúsculo. Universitat Munchen / Deutschland, 1909. | SEIN UND ZEIT (SER E TEMPO) – Martin Heidegger. Deustchland, 1927. | 1984 – George
Orwell. England, 1949.
DIÁLOGOS EM CULTURA CASTRENSE 1975-1976 Textos Incompletos e Rascunhos “Geo-Política e Ideologias em Pacote Mercantil” | “Da leitura que se pode fazer no nosso quotidiano social, hoje, e após a queda do Estado Novo, em 25 d´Abril, sabe-se que temos ´import´ de ideologias avulso, tanto à direita quanto à esquerda, e que não conseguimos o ´export´ de um Portugal que assegure tranquilidade diplomática [...], mesmo com as FA´s no suporte da ´descolonização´ (a África aos Povos Africanos, no caso: Angola, São Tomé e Príncipe, Guiné, Moçambique e Cabo Verde) e, talvez, porque a saída de Portugal do ´front´ colonial está a entregar aquelas regiões a regimes de partido único sob a bandeira sino-soviética [...]. Ou seja, Portugal não fez nem faz o ´dever de casa´ no que tange aos princípios da política ocidental-cristã, por isso [...] e temos agora uma diplomacia esfrangalhada que não sabe o que dizer ao mundo sobre a sopa ideológica que por aqui vivemos, uma espécie de ´pacote mercantil de ideologias avulso´ sem geo-política definida.” “o Foto-Cine e o Olhar Estratégico” | “Ao lançarmos o nosso olhar sobre algo ou alguém capturamos informações. É por isso que, por ex., aprendemos a manusear uma máquina fotográfica, ou uma cinematográfica. O nosso olhar é uma ferramenta estratégica... [...], a Sociedade expande-se com um olhar educado (não ideologizado) para enfrentar desafios, porque é no olhar educado que a Ciência gera Fraternidade pelo bem-estar estabelecido na Esperança de um sempre amanhã melhor...” “FA´s e Capelão” | “O que faz o padre em caserna militar? Este ano tive duas conversas com o notável professor e poeta-filósofo Agostinho da Silva e, entre os meus rascunhos e gravações em fita magnética [dois dias após um ´café com leite e pão torrado´ com o outro notável, o professor Luís de Albuquerque, na companhia do marinheiro e armador Carlos da Luz] pude verificar, segundo o ´sebastianista´ da Silva, que ´o Capelão tem importância fundamental na orientação mística da cruzada cristã na alma do povo português no âmbito dos nossos exércitos´. Eu aprendi, como militar, que o barbeiro e o capelão são o norte ideológico das nossas FA´s, e ao dizer isto ao professor da Silva ele percebeu que eu tinha entendido a sua mensagem. E rimos. E rimos, porque é em tais pequenos detalhes que se pinça a história autêntica dos povos que se constituem nação.” “Matar não é Missão: é Sobrevivência no ´Front´ Bélico” | “Uma pessoa pode matar outra pessoa para sobreviver? Vamos lá... Matar por matar é um crime contra a humanidade, a menos que tal tenha acontecido por descuido circunstancial, e só. Provocar a morte de alguém é matar (de ´morte matada´, na gíria brasileira
de arruaceiros dos sertões, como disse em palestra o grande Ferreira de Castro, autor de ´A Selva´)... [parte do rascunho está rasgado]... Matar para sobreviver sob fogo ou fúria de outras pessoas, é defender a própria vida. E no caso de militar, em guerra, ou de polícia, em patrulha rural ou urbana? O ´front´ rural ou urbano de polícia exige envergadura psicológica para evitar o desfecho fatal, quando possível; já no caso militar, no ´front´ selvagem ou urbano, exige técnica e psicologia para enfrentar o IN (inimigo), de modo a não prejudicar a NT (nossa tropa) na sua marcha para o objetivo. Nem sempre matar é a melhor opção no ´front´ bélico, pois, é possível optar por acção de cerco e prisão do IN. O filósofo Ludwig Wittgenstein, autor de ´Tractatus Logico-Philosophicus´, diz que é impossível se atribuir consciência a pessoas/seres sem linguagem; ora, na ocupação colonial (ou de expansão territorial, como quiserem...) povos são aniquilados por não estarem no mesmo nível civilizacional da ´força´ que os toma! Logo, esses povos são obrigados (e lembro as marchas imperiais romanas no mesmo sentido colonizador) a se submeterem... [parte do rascunho está rasgado]... Assim, quando outros povos são obrigados a viverem a nossa língua e as nossas tradições eles perdem a consciência de si-mesmos, por mais primária que seja – e então, destroem-se línguas e costumes que poderiam ficar sob estudo. Por isso, matar não pode ser um ofício bélico e político: só a auto-defesa permite o acto último de matar alguém. Sim, somos todos animais nesta Terra sob um Cosmo que nos dá Vida. Então, por que negá-la? Animais vivem ciclos de destruição sazonal entre si, como tribos praticam a autofagia, tribos perdidas na sobrevivência florestal das grandes selvas. Isso não significa que esses povos perdidos não tenham consciência/linguagem... Logo, nem neste caso é possível simplesmente matar: é preferível estabelecer o diálogo e abrir possibilidade humanas civilizatórias. “A morte, é parte da Vida, um ciclo natural. Não devemos viver a matar, mas viver o mais saudavelmente possível onde quer que seja e nem importa como...”, escutei em conversa com o escritor-médico Fernando Namora, preocupado que estava com extremismos políticos no pós ´25 d´Abril´. Para o psicanalista Freud, “as pulsões da vida são a estrutura/liga que se opõe à pulsão da morte”, ou seja, mesmo o militar da NT deve saber que diante do IN a vida está acima de tudo, até de um objectivo prestes a ser tomado como parte da estratégia de ´terra queimada´. Obs.: 1- Rascunho da palestra a ser feita no Quartel Engenharia 1 (Pontinha, Lisboa), 1975; 2- O autor foi detido em prisão administrativa, em 1976, por 28 dias, após ter feito a mesma palestra no Q-G de Coimbra.
“Sociedade & FA´s” | “O que nos diz o militar? Habitualmente nem o vemos. É uma instituição na caserna no aguardo das ordens que só o Estado lhe pode enviar... [...] E na caserna, o militar não pode nem ser, ou se perceber, a pessoa platónica na caverna, porque não vive de sombras, a bala que silva é real, não um projecção. Quando sai da caserna já o faz na óptima condição de pessoa em defesa da Nação: o militar é em si-mesmo a acção de um Povo que a tem como garantia de fronteiras...” Agostinho da Silva | “O que sabemos da vida tem lastro no que somos pelo aprendizado social e profissional: é uma leitura de vida”, dizia o professor-filósofo Agostinho da Silva [conversa c/ J. C. Macedo, Lisboa, 1975].
ANALÍTICA CRITICISTA do Pensamento/Entendimento Humano, na Escola da Ciência Gnóstica, segundo a gramática dos Gnósticos judeo-cristãos primevos.
N.B. 1ª: O que se segue, em esquema apendético, poderia ficar titulado, numa Enciclopédia actualizada, sob o registo ‘Filosofia na ou da Linguagem corrente e comum’, ‒ tema que é tanto mais pertinente e indispensável, quanto é sabido, em verificadas experiências correntes, que a língua/linguagem é utilizada, pelos agentes humanos actuantes, como puro instrumento (de comunicação?!...), timbrado pelos clichés da rotina; não como expressão genuína da individualidade/personalidade autêntica de quem fala. N.B. 2ª: O que se segue bem pudera ser entendido e confirmado na Pauta de abertura da Praxis própria e específica do ‘Homo Sapiens//Sapiens’, que prevalece ainda, proh dolor!..., nas Sociedades humanas correntes. Por isso mesmo, as línguas/ /linguagens correntes e comuns admitem, e não discutem, nomes e sintagmas em con-fronto e antítese com os usos e costumes do corrente e vulgar ‘Homo Sapiens tout court’, como Pastores e Rebanho, atribuídos, como categorias linguísticas próprias, a indivíduos da Espécie humana, ‒ o que o CEHC designa por essa Realidade complexa que é o PsicoSócio-Ânthropos.
● Situamo-nos, por conseguinte, na órbita da Ciência Gnóstica substantiva (não desse Gnosticismo ostracizado, em geral, por todos os Poderes Estabelecidos, e tornado obscuro e societariamente periférico e condenado…). Estamos, assim, no horizonte crítico (criticista) dos Gnósticos judeo-cristãos primevos. As filosofias ideológicas correntes e tradicionais, no Establishment societário, adoptaram, no cincho da sua Gnóseo-Epistemologia, um esquema básico extremamente redutor (de teor binário separatista…), a saber: Sujeito//Objecto (do Conhecimento): Subjectivo//Objectivo… Desta sorte, o que veio a impor-se, segundo a inefável cartilha do Poder absoluto (que tudo comanda e assegura a Ordem societária, de cima para baixo!...) foi a religião laica do Objectivo-Objectualismo, que estabeleceu, ab origine, o primado absoluto do Poder sobre os Saberes: (estes são, intrinsecamente, individualizados; os poderes, por seu turno, podem ser hierarquicamente delegados, através dos súbditos/subordinados na cadeia hierárquica, à boa maneira dos ‘zigurates persas’: em suma, os efeitos do Mandato supremo foram produzidos, segundo a bitola de percepção de um real Intelecto único). Ora, nos antípodas dessas filosofias ideológicas, a Filosofia criticista dos Gnósticos judeo-cristãos primevos estabelecia, original e estruturalmente, a Distinção substantivamente operacional entre o Objectivo (but, objective, Ziel) e o Propósito (propos, propose, purpose). Quer dizer: a) o Sujeito, enquanto fonte da energia e da acção, está presente nas duas vertentes; b) por isso, o Esquema (psico-sócioantropológico) estrutural/estruturante dos Gnósticos é ternário, não binário (o que pressupõe e implica a presença da Consciência, para além do esquema binarista Sujeito/Objecto do Conhecimento. Por outro lado, resulta asseverado, urbi et orbi, que a noção de Objectivo pertence, irredutivelmente, ao universo dos Objectos. A noção de Propósito pertence, intrinsecamente, ao mundo dos Sujeitos… É de uma Intenção/Intencionalidade, de uma tarefa ou programa a assumir e a realizar que se trata. Entretanto, essa tarefa ou programa acha-se aninhada e ancorada nos Sujeitos Humanos, qua tais; e, por conseguinte, ela envolve, necessariamente, Sujeito e Objecto. Quer isto dizer, que nos situamos já dentro do horizonte da gramática do ‘Homo Sapiens//Sapiens’. E os Seres desta Espécie (bio-psico-sócio-antropológica) não foram constituídos para desaparecerem, como formigas ou ratos, árvores ou animais!... Emergiram no processo da Evolução e foram constituídos, para encetarem uma nova Modalidade de Evolução cósmica, a partir, justamente, de dois novos Fenómenos (novos em termos evolucionários), que dão pelos nomes de Interioridade e Consciência, e que se desenvolvem mediante as Inter-Relações (e suas reificações societárias), havidas e criadas entre os Indivíduos-Pessoas/Cidadãos. Esses Seres individuais-pessoais (da Espécie ‘Sapiens//Sapiens’) foram constituídos e destinados a fazer Civilizações e Culturas e, ao mesmo tempo, a convergir, evolucionariamente, num Processus de Humanização crescente. Para o efeito, eles foram dotados de uma composição triádica: Sensibilidade, Imaginação e Racionalidade (Inteligência). Apoiados nesses três Factores (Pilares da nova especiação biogenésica), eles podem e devem, tirando partido da Imaginação, da Inteligência racional e do Diálogo (socrático) entre os Indivíduos-Pessoas, criar e operacionalizar um Mundo Novo humanizado. Este constituirá um Programa/Tarefa novos, que não mais terão fim, uma vez que detém a sua fons et origo e a sua Pauta balizadora no Oceano Incontornável da INTERIORIDADE HUMANA. Chama-se a esta nova realidade ‘Intérielurité’, em francês; ‘Inwardness’, em inglês; ‘Innerlichkeit’, em alemão!... Ou será, agora, que as noções perceptivas de uma mesma realidade, só por serem diferentes os vocábulos, hão-de ser substantivamente diferentes?!... (Note-se, além do mais e acima de tudo, que, para estas três línguas modernas ocidentais, o Barco, a NAVE histórico-civilizacional foi e é a mesma!...).
A propósito da humana movimentação no espaço/tempo e do incontornável fenómeno humano da Interiorização, João Barcellos (Vice-presidente do CEHC para América Latina e Mundo) elaborou (em Agosto de 2015, Fortaleza/Brasil) uma Recensão imponente (que é uma Peça de Mestre) sobre o Livro de Fernando André Gonçalves, ‘O Ser Que Me Habita A Memória’. Escreveu ele, logo no 1º parágrafo: “A interiorização nos é cara pelo passado que, queiramos ou não, carreamos no nosso diário percurso, ou seja, vivenciamos o que fazemos quase sempre na reconstrução de algo que nos é ancestral ‒ ah, sim, de outras maneiras, mas o olhar que reflete o que somos também é uma arqueologia viva ‒, pois, e pode dizer-se, o ser que me habita é um ser-algo de sempre, na cósmica e humana representação”. Um segundo respigo ajudar-nos-á a ter o scenario adequado da obra em causa de F.A.G. (pp.1-2): “Por outro lado, pinço aqui algo do posfácio de Manuel Reis, porque a literatura de Fernando André Gonçalves responde à própria esfinge, ao remontar a mortalha do espaço-tempo, que também lhe é muito caro [permito que o tempo passe pelos meus ossos]. É o Portugal profundamente português, na sua essência iberogalaica [e quase sempre nos esquecemos deste pormenor, que o próprio filósofo Manuel Reis relembrou em ensaio e livro sobre a regionalização nunca cumprida], logo, o Portugal do pó do tempo, que fala pelo registo cultural, aquela nação a manejar o mundo e a esquecer o próprio umbigo, e ainda assim comunitária ‒ mais uma vez, eis aqui a ironia vicentina ‒, e ainda assim nação pela memória do ‘Infante das Sete Partidas’, na sua ousadia de querer um Portugal de e para portuguesas e portugueses. Eis a esfinge do ser-estar Portugal, e Fernando André Gonçalves exibe-a neste ‘O Ser Que Me Habita A Memória’, com a crueza ficcional do historiador que nela se acha por uma engenha-ria emocional, profundamente poética, impressionista no trato da ‘coisa’ e surrealista no toque visualizado, memorial, desossado, sem buços nem máscaras”. Como se pode verificar, a partir da Experiência, seja ela vital ou literária, a Interioridade Humana configura-se em duas dimensões essenciais/estruturais, a saber: a) a que é vivida in actu exercito, a partir da Consciência (individual-pessoal), que acontece no presente; b) a que é vivenciada in actu signato, dando guarida, através da função mnémica, ao passado, próprio ou alheio. Em outra vertente (convergente, mas não inteiramente simétrica), a Interioridade humana aparece-nos configurada, igualmente, em duas dimensões essenciais/estruturais, a saber: A) a que diz respeito ao Sujeito, que implica a divisão tripartida em Passado/Presente/Futuro e a constituição de uma História e uma Arqueologia, sempre efectuadas a partir de um Presente vital; B) a concernente ao Objecto (objectos do Conhecimento ou do Juízo), onde emerge a capacidade dos agentes/actores vitais/históricos produzirem enunciados e juízos perenes, que podem pairar, semanticamente, estruturados e válidos, no Fluxo temporal (ou espacial) da História. (Está, aí, o ninho que acalenta e protege a formação do que se tem chamado a ‘Filosofia Perene’, a qual nada tem a ver com o que se tem chamado, na Cultura do Ocidente, a Metafísica clássico-tradicional). Dir-se-á que estamos, agora, em condições de proceder a alguns contrastes e comparações críticas, em torno de noções correntes e comuns em várias línguas (v.g., nas três já referenciadas supra): estamos, obviamente, centrados no feixe semântico, que aqui nos interessa, ‒ o que, de modo nenhum, implica ou postula, em termos filosóficos e linguísticos, a admissão (ou a tolerância…) de qualquer Dualismo metafísico-ontológico, segundo as cartilhas de Platão e de Paulo. A Interioridade humana (em português) pode considerar-se equivalente, semanticamente, ao paradigma (substantivo abstracto) Inwardness, em inglês, (inner nature, natureza íntima, the condition of being inward, spirituality); bem como equivalente ao substantivo abstracto Intérieurité (em francês); ou, ainda, ao substantivo abstracto Innerlichkeit (em alemão). No horizonte Gnóstico, é preciso, no entanto, estar atento e em guarda a duas séries vocabulares ou terminológicas absolutamente distintas (e inconfundíveis): A) a série polarizada no Objectivo; B) a série polarizada no Propósito (impulso proveniente de uma Vontade livre e responsável).
Propose ou Purpose (no inglês): ex.: intend, purpose to open a restaurant. Propos (em francês): ex.: avoir le ferme propos de se corriger. Os dois vocábulos pertencem à série B). Objective, em inglês, ‒ o que os dicionaristas registam como ‘external to the mind’ ‒ pertence, sem equívocos nem ambiguidades semânticas, à série A). No plano do Objectivo-Objectual, os ingleses têm a fórmula consagrada: to hit the target: acertar no alvo… ou vir mesmo a propósito no discurso ou conversa. Equivalentes ao inglês target, em termos semânticos, na dita fórmula, podem considerar-se os termos franceses cible e but (alvo, mira, objectivo). Entram, também, no rol da série A), os vocábulos germânicos tais como: das Weiße (Weisse); das Ziel. Já não entram, aí, em termos semânticos, der Zweck (fim, intenção), der Absicht (intento, propósito) e, muito menos, Absichtlichkeit (intencionalidade). Estes vocábulos pertencem ao rol da série B). ● Afirmámos e defendemos que, na sua Gnóseo-Epistemologia, os Gnósticos judeo-cristãos primevos, ao contrário de toda a Tradição cultural no Ocidente, não adoptaram o Esquema (simplista) de ordem binária/binarista, ‒ do tipo: Sujeito//Objecto; Subjectivismo//Objectivismo; e a lei/religião consequente do Objectivo-Objectualismo, que o C.E.H.C. sempre tem rechaçado e verberado. A sua mundividência gnóseo-epistemológica adoptou, sempre, o Esquema (psico-sócioantropológico) mais completo e perfeito: o Esquema de ordem ternária, onde avulta sempre o tríptico: Sujeito (do Conhecimento) //Objecto (do Conhecimento) //Consciência (ou testemunha, que funciona como aval do processo do Conhecimento sobre os objectos, perante a origem do Conhecimento, que reside nos Sujeitos. Ora, é justamente o Esquema triádico que livra e liberta os Seres humanos de problemas de toda a sorte: enganos ou falsidades no processus do Conhecimento… Mas, a sempiterna Contenda, na história da Espécie humana, permanece sempre incontornável, esfíngica e enigmática. O que temos e há é tão só o Esquema de ser/estar na Hierarquia sacrossanta… ou senhores, ou escravos!... Não há Alternativa: Seres Humanos que se auto- e hétero-consideram ser e existir e funcionar em perfeito pé-deigualdade. O que nós, no CEHC, chamamos o ‘Homo Sapiens//Sapiens’, não o ‘Homo Sapiens tout court’. Ora, a iluminação capaz de nos ajudar a resolver o Enigma procede, justamente, daquela ordem tripartida, no Processo (gnóseo-epistémico) do Conhecimento Humano (própria do ‘Sapiens//Sapiens’). Essa tríade foi inventada pela gramática do Conhecimento dos Gnósticos judeo-cristãos primevos. Nem sequer foi António Damásio, no seu Livro célebre sobre ‘A Consciência’!... Esta é, por inteiro, uma redescoberta criticista, operada pelo C.E.H.C.. Aquela ordem tripartida encontra-se, precisamente, nos textos dos ‘Evangelhos’ gnósticos ou ditos (também) apócrifos. Muito especialmente, nos dois evangelhos: o de Tomé e o de Filipe. A tese central, de onde tudo decorre, é esta: Ressurreição não significa, como as cristandades paulinas a entendem, a passagem da morte à vida, de uma condição de morto à condição de vivo; ou como Paulo tenta resolver o enigma, na sua Carta 1ª Cor., 15,12-20, resumindo tudo na fórmula, que vem na Vulgata: ‘Si autem Christus non resurrexit, inanis est ergo praedicatio nostra, inanis est et fides vestra’ (v. 14). Para o Pensamento dos Gnósticos, Ressurreição é, semanticamente, equivalente a Libertação (da condição de servo ou escravo = humano livre). Nada mais. Ouçamos o ev. de Filipe (‘A Biblioteca de Nag Hammadí’, por James M. Robinson, Ed. Madras, 2006, p.131: “Aqueles que dizem que o Mestre primeiro morreu e (em seguida) se levantou, estão equivocados; pois ele se elevou primeiro e (então) morreu. Se alguém não alcançar primeiro a ressurreição, ele não morrerá (= continuará morto…). Como Deus vive, ele [estaria…]”.
Por sua vez, no ev. de Tomé (v.100; p.124), pode ler-se o seguinte (além da mesma tópica supra): “Eles mostraram a Jesus uma moeda de ouro e disseram a ele: ‘Os homens de César exigem que paguemos impostos’. “Ele disse a eles: ‘Dai a César o que pertence a César, dai a Deus o que pertence a Deus, e dai a mim o que é meu’ ”. Por outras palavras, nesta resposta de Jesus, distribuída em três hemistíquios, referenciados a três personagens, foi jogada borda fora toda a doutrina/ensinança do Dualismo metafísico-ontológico paulino e platónico; e, implicadamente, toda a teoria cristã tradicional sobre a noção de ressurreição (do Cristo paulino…). Jesus é nome comum a todas as línguas, mas ‘nome oculto’, ensinam os gnósticos. O mesmo é dizer: só pode ser veramente entendido no sacrário da consciência individual-pessoal. ● Em jeito de Conclusão: N.B.: Por que é que os políticos, em geral, nos dias de hoje, não passam da linguagem e dos discursos demagógicos, recheados de círculos viciosos, e as Sociedades organizadas (ditas tais…), presididas por Governos eleitos, em regimes democráticos, se deixam cair na corrupção sócioeconómica mais desbragada e generalizada, sem salvação num fim próximo à vista?!... Porque esqueceram e baniram as estruturas ternárias do Discurso e da Linguagem humanos dos Gnósticos judeo-cristãos primevos, e continuam a incensar (religiosamente…) todas as espécies (religiosas ou profanas…) de Dualismos metafísico-ontológicos de Platão e Paulo, sempre orquestrados em diapasão binário!... Nem as Instituições jurídicas já são capazes de valer a tais descalabros e remediar tais calamidades públicas, em probidade e Justiça!... Tenha-se, v.g., em conta a odisseia extra-morosa do Processo ‘Operação Marquês’, e, em 13 de Outubro de 2017, na TV-1 portuguesa, a disputa-esclarecimento entre o jornalista senior Victor Gonçalves e o ex-1º ministro Sócrates arguido e condenado. Quem lhe pareceu levar, no fim, a palma da vitória?!... S., não V.G.!... E fui sempre um acérrimo crítico de S. como 1º ministro. Mas o julgamento terá ainda de esperar!... Concluir o seu art. de abertura da ‘Revista’ do ‘Exp.’ de 14.10.2017 (Clara Ferreira Alves: sob o título ‘O Julgamento de Sócrates’), com esta frase: ‘Foi a presunção de José Sócrates que destruiu a nossa inocência’… é ainda muito pouco!... É sinal que os melhores jornalistas lusos continuam a enfileirar na cartilha comportamental do ‘Homo Sapiens tout court’!... Até quando?!...
Manuel Reis (Presidente do C.E.H.C.) Guimarães, 14 de Outubro de 2017.
Centro de Estudos do Humanismo Crítico Grupo de Debates Noética & Edicon
Coleções Literárias [Coordenação / João Barcellos]
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Ciclos De Palestras EDUCAÇÃO HOLÍSTICA – Tereza de Oliveira (São Paulo/Brasil, 1996) FILOSOFIA E ARTE NO ENSINO – Tereza de Oliveira (São Paulo/Brasil, 1997) EDUCAÇÃO ESPECIAL & SOCIEDADE – João Barcellos (Embu e Cotia /Brasil, 1996) POLÍTICA & ÉTICA – J. C. Macedo (Rio de Janeiro/Brasil e Valparaíso/Chile, 1988;) O MUNDO PORTUGUÊS NA AMÉRICA – J. C. Macedo (Buenos Aires/Arg.,1988) HISTÓRIA NA COMPREENSÃO POLÍTICA DO DIA DIA – Figuera de Novaes (Valparaíso/Chile, 1997) IGREJISMO & PODER D´ESTADO – J. C. Macedo (Rio de Janeiro e Buenos Aires, 1997; São Paulo e Florianópolis, Porto Alegre e Campinas, 2002) LUSO-AMERICANISMO – Figuera de Novaes (Rio de Janeiro/Brasil, 1997) LITERATURA & HISTÓRIA – Tereza de Oliveira / João Barcellos (Campinas/Brasil, 1997) A ECONOMIA LIBERAL NO PIABIYU – João Barcellos (Brasil, Paraguai e Argentina, 2004 a 2011) ARTE E HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO – Mariana d´Almeida y Piñon (São Paulo/Brasil, 2008 a 2011) DO BACHAREL DE CANANEIA A AFFONSO SARDINHA PASSANDO PELO MORGADO DE MATEUS: A FORMAÇÃO GEOSSOCIAL QUE FEZ DO BRASIL-COLÔNIA UMA REPÚBLICA MONARQUIZADA – João Barcellos (Brasil, 1999 a 2003) RELIGIÃO E EDUCAÇÃO – Carlota M. Moreyra (Paraty/Brasil, 2010) HISTÓRIA & ESTÓRIA – Marta Novaes e J. C. Macedo (Argentina e Chile, 2011) ENTRE MANUEL REIS E A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO – João Barcellos e Carlos Firmino (Campinas e Sorocaba / Brasil, 2013); João Barcellos e Marta Novaes (Buenos Aires / Argentina, 2013) RELIGIÃO, POLÍTICA E ARTE – Mariana d´Almeida y Piñon (Niterói e Rio de Janeiro / Brasil. México/México e Houston/USA, 2013) JESUANISMO versus IGREJISMO – João Barcellos e Fernanda Marques (São Paulo e Rio de Janeiro / Brasil, 2014) SUSTENTABILIDADDE – UM NOVO OLHAR SOBRE NÓS – João Barcellos e Marta Novaes (várias cidades da América do Sul, 2014) HUMANISMO CRÍTICO – Carlos Firmino, João Barcellos e Fernanda Marques (Sorocaba, Rio de Janeiro, Paraty, Embu das Artes, Fortaleza / Brasil. Buenos Aires/ Argentina. Valparaíso / Chile. Asunción /Paraguay. Novembro e dezembro, 2014; Fevereiro de 2015); São Paulo e Embu das Artes, 2017 INDÚSTRIA DIGITAL – João Barcellos, 2013 a 2017
A RELIGIÃO NO CAMPUS POLÍTICO SOB A LUZ DA FOGUEIRA DO PODER Com ilustração lítero-teológica de conteúdos publicados por Manuel Reis e por Mário de Oliveira, duas personalidades portuguesas divulgadas no universo latinoamericano pelo Grupo de Debates Noética, membro do Centro de Estudos do Humanismo Crítico, sediado em Guimarães (Portugal), o conhecido escritor e conferencista João Barcellos deu início, na companhia da professora Maria C. Arruda, a mais uma aula no Ciclo de Palestras Humanismo Crítico. (Junho a Setembro de 2015; ciclo retomado em Agosto de 2018) TÊXTIL DIGITAL – João Barcellos, 2017 O FERRO, O MUNDO, O YBIRAÇOIABA – João Barcellos, 2015 e 2016 ESTÉTICA DAS POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS – João Barcellos & Fê Marques, 2017 PAO VERMELHO, BRASIL – João Barcellos, 2017 A ARTE DO SER-ESTAR – Johanne Liffey, 2017 TEMPOS D´EUNUCO – João Barcellos, 2017 DA ENGENHARIA COMO EIXO DO PROGRESSO – João Barcellos, 2018 QUEM SOMOS NÓS?... – Johanne Liffey, 2019 IDEOLOGIAS AVULSO & UTOPIA – João Barcellos MÚSICA, FILOSOFIA & NÓS (Um Oráculo Chamado Reis) – João Barcellos, 2020 DA IDEOLOGIA E DO SENTIDO DE VIVER – Tereza Nuñez, 2020 POLITICAS, PANDEMIAS & CAUDILHOS APALHAÇADOS – João Barcellos, 2020
Obs.: Criado em 1996, o Grupo Granja deu origem ao Grupo de Debates Noética, em 2008, continuando este a colaboração direta com o CEHC e os grupos e periódicos Jeroglífo (Argentina), Eintritt Frei (Alemanha), Science and Education Journal (Ireland), En Vivo y Arte (Catalunha), Cult Journal (USA) e Editora Edicon (Brasil), entre outros. Por tal razão, não estão aqui registrados os panflos e manifestos GG, impressos e eletrônicos.
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