A menina do fundo do mar

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Stephanie Hie Akamine

A MENINA DO FUNDO DO MAR ILUSTRAÇÕES Mayumi Akamine & Marcelo Kato





A MENINA DO FUNDO DO MAR



Stephanie Hie Akamine

A MENINA DO FUNDO DO MAR

ILUSTRAÇÕES Mayumi Akamine & Marcelo Kato


Copyright do texto © 2015 by Stephanie Hie Akamine Copyright das ilustrações © 2015 by Mayumi Akamine & Marcelo Kato Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes, virtual ou impresso, sem autorização por escrito da editora. A grafia desta obra segue as regras do acordo ortográfico da Língua Portuguesa, que entrou em vigência no Brasil em 2009. Os personagens e situações aqui narrados não se remetem a fatos e pessoas reais, fazendo parte apenas do universo da ficção. A editora não emite opinião sobre eles. coordenação editorial

Lilian Fernandes dos Santos Braga produção editorial

Nestor Turano Jr. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil) Akamine, Stephanie Hie A menina do fundo do mar/ Stephanie Hie Akamine; ilustrações de Mayumi Akamine & Marcelo Kato — 1a ed. — São Paulo: Nova Abordagem, 2015. isbn

978-85-1120-001-3

1. Literatura infantojuvenil i. Akamine, Mayumi. ii. Título. 03-1420

cdd-028.5

Índices para catálogo sistemático: 1. Literatura infantil  028.5 2. Literatura infantojuvenil  028.5

[2015] Todos os direitos desta edição reservados à editora nova abordagem s.a. Rua Casa do Ator, 275 0456-001 — São Paulo — sp Telefone: (11) 5555-3555 www.novaabordagem.com www.facebook.com/novaabordagem


A todos que, de alguma maneira, contribuíram com a minha graduação, meus sinceros e profundos agradecimentos.



Porque — disse ela — quando você está com medo e faz mesmo assim, isso é coragem. Coraline, Neil Gaiman


E

la era uma pessoa igual a mim e a você, aparentemente. Morava perto da minha casa, sempre a via passando, mas eu sabia que não era exatamente igual. Enquanto todos saíam, ela ficava em casa, raramente conversava com as outras pessoas, e quando fazia, parecia extremamente desconfortável. Ela nunca me notou. Eu, no entanto, notei-a. Ela parecia uma pessoa legal, sempre andava com um olhar distraído pela vizinhança. Até o dia que sumiu.

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Eu moro no fundo do mar. Estranho, né? Não sei o porquê, eu simplesmente acordei um dia aqui.

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Essa mudança foi muito estranha, mas ninguém discutiu. Muitos sequer notaram! Os que notaram ainda tentaram visitá-la, mas era muito difícil ficar embaixo d’água, e as pessoas desistiam facilmente. Eu mesma tentei algumas vezes, cheguei perto, acenei, mas não consegui ficar tanto tempo lá, e tive que retornar à superfície.

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Nunca tive companhia aqui. Não de verdade, pelo menos. Às vezes um barco passa, ou alguém nada perto de mim. Alguns até me veem, acenam, mergulham, chegam perto, mas vão embora rapidamente.

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Eu imagino que ela deva se sentir muito sozinha lรก embaixo.

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Blá-blá-blá

Blá-blá-blá Hahahaha!

Às vezes consigo ouvir conversas abafadas vindas da superfície, sem conseguir distinguir as palavras. Mas as risadas. Ah, as risadas… Essas são claras. A felicidade é a felicidade, na superfície ou no fundo do mar.

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Penso assim porque já a vi tentando sair de lá algumas vezes. Ela chega perto, mas assim como não conseguimos ficar embaixo d’água por muito tempo, ela não consegue ficar na superfície.

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Como é lá embaixo?

Por que você nunca sai? O que você faz o dia todo?

Muitas vezes me sinto tentada. Aquela vontade impossível de se ignorar, sabe? E aí eu me arrisco. Nado até a superfície, mas a luz é tão forte, e as pessoas fazem tantas perguntas, o ar me sufoca. Mergulho de volta.

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Eu me sentia mal por ela. Queria fazer algo para ajudá-la, pois via o esforço que ela fazia para estar na superfície.

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A vontade demora a retornar, e penso que ela não retornará nunca. Penso em todo o esforço que fiz para subir, o esforço que fiz para respirar o ar sufocante, a dor em meus olhos diante daquela luz claríssima. Será que não estou me esforçando o suficiente? Sinto-me completamente derrotada — pelo mar que me prende, pelo silêncio que me esmaga, pelo escuro que me cega — e, por fim aceito que ficarei aqui pra sempre…

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Nesse momento, tive uma ideia! Comprei um equipamento novo e desci. N達o quis for巽ar nada, ent達o apenas fiquei perto dela torcendo para ela n達o me mandar embora.

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Até que ouço alguém se aproximar. Alguém com olhar bondoso, que de início só se senta ao meu lado, sem dizer nada, sem fazer nenhum gesto. Isso, por algum motivo, deixa tudo um pouco mais claro; o suficiente para mudar minha visão, mas não o suficiente para me cegar.

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Quando vi que ela estava confortável comigo, decidi começar a conversar. Foi difícil, por causa dos equipamentos, mas eu consegui.

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Quando estava completamente acostumada com a luz, ela se virou e me perguntou coisas aleatórias. Essas perguntas foram tirando o peso do silêncio de minhas costas, até que já não o sentia.

Qual o seu livro favorito? Você gosta de gatos? Você acha que eu ficaria bem de cabelo verde?

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Depois de muito conversarmos, senti que ela estava pronta. Peguei-a pela mão e disse: “vamos?”.

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De repente, percebi que ela segurava a minha mão. Não sei há quanto tempo a mão dela estava lá, não estava entendendo nada, até que a olhei nos olhos e ela me disse:

Vamos?

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Nós já éramos grandes amigas. Não demorou muito para ela aceitar meu convite, e subimos.

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Toda a insegurança se foi, nada me prendia, eu nadava desesperadamente em direção à luz do sol.

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Foi glorioso ver que ela, como n贸s, conseguia respirar na superf铆cie. Mais do que isso, foi glorioso ver que ela sorria.

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Emergi. Não de maneira gloriosa, vou ser sincera. Foi um momento tímido, despercebido para os olhares distraídos, mas eu estava lá.

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Apresentei-a aos meus amigos, que logo viram o quĂŁo especial ela era e logo se tornaram amigos tambĂŠm.

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E quando ele contou aquela piada?

Ah, ele é muito engraçado, né?!

Eu não conseguia parar de rir!

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Ela nunca mais voltou para o fundo do mar.

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Nunca mais voltei para o fundo do mar. Graรงas a ela.

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SOBRE A AUTORA Stephanie Hie Akamine, 23 anos. Mora em São Paulo e seu lugar favorito é a Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Professora, leitora e viciada em séries, até hoje não encontrou um livro de que tenha gostado mais do que Alice no País das Maravilhas. Se pudesse escolher uma única coisa para comer, seria sorvete.



SOBRE OS ILUSTRADORES Mayumi Akamine e Marcelo Kato, pais do Erick e do Johnny. Você pode encontrá-los através do site: www.marcelokato.com/mm


1a edição  outubro de 2015 papel de miolo  Pólen soft 90 g/m² papel de capa  Supremo 240 g/m² tipologia  Avenir e Cronos





E

200013 788511 9

ISBN 978-85-1120-001-3

ssa é a história de uma pessoa igual a mim ou a você, só que tem um detalhe: ela mora no fundo do mar. Mergulhe e venha conhecê-la!


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