Um guia para o desenvolvimento de aplicativos amigรกveis
Design Centrado no Usuรกrio Travis Lowdermilk
Novatec
Authorized Portuguese translation of the English edition of titled User Centered Design, ISBN 9781449359805 © 2013 Travis Lowdermilk. This translation is published and sold by permission of O'Reilly Media, Inc., the owner of all rights to publish and sell the same. Tradução em português autorizada da edição em inglês da obra User Centered Design, ISBN 9781449359805 © 2013 Travis Lowdermilk. Esta tradução é publicada e vendida com a permissão da O'Reilly Media, Inc., detentora de todos os direitos para publicação e venda desta obra. © Novatec Editora Ltda. [2013]. Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. É proibida a reprodução desta obra, mesmo parcial, por qualquer processo, sem prévia autorização, por escrito, do autor e da Editora. Editor: Rubens Prates Tradução: Lúcia Ayako Kinoshita Revisão técnica: Aurelio Jargas Revisão gramatical: Marta Almeida de Sá Editoração eletrônica: Carolina Kuwabata ISBN: 978-85-7522-366-6 Histórico de impressões: Junho/2013
Primeira edição
Novatec Editora Ltda. Rua Luís Antônio dos Santos 110 02460-000 – São Paulo, SP – Brasil Tel.: +55 11 2959-6529 Fax: +55 11 2950-8869 E-mail: novatec@novatec.com.br Site: www.novatec.com.br Twitter: twitter.com/novateceditora Facebook: facebook.com/novatec LinkedIn: linkedin.com/in/novatec MP20130527
capítulo 1
Nosso mundo mudou
“Ficar parado é a maneira mais rápida de retroceder em um mundo em rápida mudança.” – Lauren Bacall
Em 9 de janeiro de 2007, um homem caminhou silenciosamente por um palco e mudou o curso da história da tecnologia. Ele anunciou que sua empresa estava para lançar um produto que mudaria para sempre o modo como nos comunicamos. Então, de maneira dramática, ele mostrou um telefone no qual ele e sua empresa vinham trabalhando havia mais de cinco anos. Jornalistas capturaram freneticamente as imagens do dispositivo, enviando-as rapidamente a todos os cantos do mundo. O homem demonstrou como era possível dar um zoom em imagens simplesmente com um gesto de apertar os dedos e navegar pela biblioteca de músicas arrastando um único dedo pela tela. Ele percorreu vários aplicativos: um bloco de notas, um calendário, uma bússola e mapas detalhados. Ninguém tinha visto nada parecido antes. O telefone parecia ser um produto de ficção científica. Porém era bastante real e tão pequeno que podia caber em seu bolso. Naquela época, eu trabalhava como programador web em um hospital infantil. Lembro-me de estar sentado em minha escrivaninha assistindo à apresentação em um blog ao vivo, esperando o que parecia ser uma eternidade para ver as imagens serem transmitidas em meu computador. 19
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Design Centrado no Usuário
Assim que vi a primeira imagem do iPhone, tive a sensação de estar testemunhando algo importante. Naquele momento, ainda não tinha me dado conta da extensão do impacto do iPhone em nosso mercado; porém, como desenvolvedor, pude ver que o nível havia sido elevado. Sabia que os dias em que era possível se safar com uma interface de usuário (UI, ou User Interface) desordenada e layouts confusos estavam contados. Meus usuários iriam esperar muito mais. Não seria suficiente que meus aplicativos tivessem tempos de carga rápidos ou um rol de facilidades. Meus usuários iriam querer o iPhone. Não somente o produto, especificamente, mas o que ele representava. Era intuitivo, minimalista e cativante; e agora meus usuários tinham um excelente exemplo de como tudo deveria funcionar. Novas formas de interação passaram a fazer parte de conversações, e termos como Multi-Touch e NUI (Natural User Interface, ou Interface Natural de Usuário) instantaneamente tornaram-se parte da língua franca dos desenvolvedores. Um ano depois, a Apple inaugurou a App Store para o iPhone, gerando uma explosão no desenvolvimento de aplicativos. Os desenvolvedores começaram a competir em um mercado saturado, no qual os usuários tinham milhares de opções e, na maioria dos casos, centenas de milhares. Empresas como Google, Microsoft, Facebook e Amazon também estavam expandindo suas extensas plataformas de desenvolvimento. Atualmente, mais e mais consumidores estão adquirindo esses produtos e serviços. Eles passaram a contar com eles e levá-los a seus locais de trabalho. Os departamentos de TI não estão mais controlando seus ambientes, disponibilizando telefones e computadores; a expectativa é de que todos esses dispositivos simplesmente funcionem na rede corporativa do usuário. Sendo assim, o nível também foi elevado para o desenvolvedor que trabalha em empresas. Usuários corporativos esperam produtos como portais para empresas e aplicativos de linha de negócios que sejam criteriosamente projetados e cativantes, exatamente como os produtos que usam em casa. Portanto, como desenvolvedores, como lidamos com tudo isso? Eu tenho um pressuposto simples. Para criar produtos que os usuários amem, é necessário incluir os usuários no processo de criação desses
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produtos. Admito que muitos poderiam apontar para Steve Jobs como a antítese do que estou sugerindo. Em um artigo de maio de 1998 no Bloomberg Business Week, Jobs fez sua famosa declaração: É realmente complicado fazer design de produtos utilizando grupos de foco. Muitas vezes, as pessoas não sabem o que elas querem até que você lhes mostre.
Embora parte desse sentimento possa ser verdadeira, acho que devemos ser honestos conosco. Jobs tinha uma habilidade única para entender o que os usuários queriam, e muitos de nós não possuímos essa habilidade. Sempre procuramos estar na intersecção entre a tecnologia e as artes liberais para que pudéssemos ter o melhor dos dois mundos e criar produtos extremamente avançados do ponto de vista tecnológico, mas que também fossem intuitivos, fáceis de usar, divertidos, de modo que eles realmente se adequassem aos usuários – os usuários não teriam de ir até os produtos; eles iriam até o usuário.
Não creio que Jobs pudesse ter criado produtos que estivessem na “intersecção entre a tecnologia e as artes liberais” sem compreender o amplo espectro das necessidades dos usuários. Não podemos criar produtos que “vão até o usuário” se não estivermos dispostos a ir até os usuários. Embora a Apple possa ter uma compreensão intuitiva do comportamento humano, muitos desenvolvedores não a têm. No entanto, acredito que essa compreensão possa ser adquirida com o tempo, e a melhor maneira de adquiri-la é investindo tempo junto aos usuários. Ao coletar feedback e observar seu comportamento, podemos obter esclarecimentos valiosos para criar aplicativos que os usuários irão amar. Qualquer pessoa envolvida no processo de criação de um aplicativo (não apenas os designers) deveria tentar compreender quais são as necessidades dos usuários para determinar o propósito de um aplicativo. Isso envolve muito mais do que o design da parte gráfica, o código ou a funcionalidade. É toda a equipe (ou somente você) trabalhando continuamente para entender o usuário. Nem todos os problemas de nossos usuários podem ser solucionados por meio de códigos, por mais que eu desejasse; sendo assim, os desenvolvedores devem assumir uma abordagem mais holística.
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Design Centrado no Usuário
Essa noção parece pertencer ao senso comum, mas continuo impressionado com a quantidade de desenvolvedores que ainda não investe tempo nisso. A maior parte de minhas experiências é proveniente do trabalho em um ambiente hospitalar comunitário. É um mundo diferente e único em relação a outros ambientes de desenvolvimento de software; no entanto ainda encontro ali os mesmos tipos de desafios. Em um ambiente hospitalar, os usuários são tratados da mesma maneira que os clientes. Eles fazem uma solicitação por nossos serviços; nós nos reunimos com eles e traçamos nosso plano para ajudar e, então, entregamos um produto (cruzem os dedos!) com base no cronograma acordado. Pudemos melhorar nosso processo ao implementar as práticas de design centrado no usuário apresentadas neste livro. Ao focar na usabilidade, economizamos tempo e criamos aplicativos que atendem às necessidades de nossos usuários. Embora nosso ambiente de desenvolvimento possa ser diferente do seu, você perceberá que as práticas detalhadas neste livro podem ser modificadas para atender às suas necessidades ou circunstâncias. Este livro não é uma edição volumosa sobre a história ou sobre o quadro atual da usabilidade. Seu propósito é ser uma coleção de ferramentas e métodos sensatos que você pode começar a implementar hoje mesmo. Essa não é uma fórmula mágica que, quando aplicada, gerará um aplicativo perfeito. O ideal é que você chegue ao final de nossa discussão com suas próprias visões e ideias sobre como melhorar seu processo de desenvolvimento e reconquistar seus usuários. Sendo, eu mesmo, um desenvolvedor, tenho ciência de que estamos em um mundo de frameworks, linguagens de codificação e ferramentas de edição incríveis em constantes mudanças. Acrescentar mais passos ao ciclo de vida de desenvolvimento pode parecer assustador. Contudo os métodos descritos neste livro são essenciais para a criação de um processo de desenvolvimento focado e eficiente. Esses passos, na realidade, irão fazer você economizar tempo e evitar que seus projetos se voltem para a direção errada.
Capítulo 1 ■ Nosso mundo mudou
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Sei que alguns desenvolvedores avaliam um livro pelo número de páginas, mas este livro foi feito para ser pequeno. Dei o melhor de mim para fazer uma apresentação geral, para que você possa começar rapidamente. Não se esqueça de dar uma olhada na seção “A versão resumida”, no final de cada capítulo. Ela contém uma lista de itens que sintetiza os principais conceitos de cada seção. Esta é uma época emocionante para um desenvolvedor! Há tantas maneiras de enriquecer a vida das pessoas... Nós temos a capacidade de encantá-las e mudar a maneira que elas interagem com o mundo e umas com as outras. É uma responsabilidade única e desafiadora. Após a nossa discussão, espero que você tenha um desejo maior ainda de explorar a comunidade de experiência de usuário. Não se esqueça de dar uma olhada no capítulo 11 para ter acesso aos links úteis aos líderes relevantes da indústria e também às publicações e aos produtos que o ajudarão ao longo do caminho. Vamos começar!