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A VIDA E O LEGADO DE JOAQUIM PEREIRA DOS SANTOS PARA O DISTRITO MATINHA DOS PRETOS
A FAZENDA CANDEAL Localizada no atual distrito da Foto:Robson de Jesus
Matinha, a fazenda Candeal foi palco de importante luta por
reforma
município
de
agrária
no
Feira
de
Santana, na segunda metade do século XX. A área da fazenda Candeal,
onde no passado, foi uma fazenda que explorava mão-de-obra escrava pelo Coronel Antônio Alves, localizava-se na divisa entre o atual distrito de Matinha e o distrito de Jaíba, o Candeal I pertence ao distrito de Jaíba e a porção onde hoje se assenta a Comunidade de Candeal II no distrito de Matinha, era composta por terras devolutas, que foram ocupadas por 120 e vinte famílias, lideradas por Clarindo Fonseca de Almeida, conhecido como Gavião, e Joaquim Pereira dos Santos. As famílias que ocuparam as terras devolutas eram, em sua maioria, descendentes de exescravos oriundos da Fazenda Curral Faço, Rio Fundo, Jacu e Capoeira do Rosário,
no
então
Quitéria,
atual
famílias
eram
distrito
Matinha. formadas
Maria Essas por
agricultores que se dedicavam ao
milho, do fumo e à criação de pequenos animais para o sustento da família.
Atualmente,
ainda
encontramos esta mesma agricultura de subsistência. Por conta da histórica luta pela posse da terra, a Fazenda Candeal tornou-se uma das comunidades rurais mais organizadas do município de Feira de Santana, reconhecida pela Fundação Palmares como Comunidade quilombola.
Foto: Robson de Jesus
cultivo da mandioca, do feijão, do
A MATINHA DOS PRETOS E AS QUESTÕES AGRÁRIAS
Foto: Salvador Mota
A Matinha dos pretos, situada no município de Feira de Santana, no Agreste baiano, vivenciou uma experiência de resistência à escravidão, fazendo, assim, surgir um quilombo histórico que se faz presente nos traços comportamentais da comunidade nos dias atuais. Através de estudos de campo, foi possível concluir que a comunidade é formada por pequenos proprietários, e assim organizou o território atual, sendo marcada pela agricultura e policultura, evidenciando o cultivo de milho, feijão e mandioca. Com o passar do tempo, foi sendo marcada pelas relações campo-cidade, pois a agricultura já não era tão lucrativa, levando os trabalhadores a exercerem atividades urbanas. É imprescindível destacarmos também, no aspecto cultura, o samba de roda, popularmente Matinha – que foi difundido como forma de preservar o samba de roda que acontecia tradicionalmente nas casas das famílias locais. Surge, então, influenciado por esse aspecto cultural, o grupo Quixabeira da Matinha, que oferece à população local diversas atividades inclusivas de grande importância para a comunidade. São aulas de
música,
pintura,
capoeira,
samba,
quadrilha junina, entre outras. Atividades que, certamente, podem influenciar no futuro da comunidade, principalmente dos jovens.
Foto:Robson de Jesus
conhecido na região como Quixabeira da
QUEM FOI JOAQUIM PEREIRA DOS SANTOS? Joaquim Pereira dos Santos foi um lavrador e pai de família, militante na luta pela terra. Juntamente com outras cento e vinte famílias da localidade do Candeal II, formava o grupo de posseiros que ganhava arduamente a vida, com a produção agrícola. Um grande companheiro, pai de oito filhos e amigo de todos na comunidade. Homem dinâmico, simples e sábio que não sabia ler nem escrever, mas aprendeu bastante coisa na vida. Ele nasceu no dia 26 de julho de 1920, no então distrito Maria Quitéria (atual Matinha), casou-se com Dona Silvéria Moreira de Lima e foi morar no Jacu com sua esposa. Teve 07 filhos, Suzana, Virginia, Josina, Gilberto, Maria das Graças, Francisca e Almerindo, depois voltou a morar no Candeal. Joaquim
também
foi
um
exemplo
de
solidariedade, sabedoria e doação, que defendeu seu povo com bravura e lealdade, sendo capaz de dar a própria vida pela defesa da terra, em favor da comunidade do Candeal II.
Foto: Robson de Jesus
Foto: Everton Pereira
A LUTA PELA TERRA Assentados sobre terras sem título, as famílias garantiam seu pão com muito sacrifício, mas com tranquilidade e alegria por terem de onde tirar o seu sustento. Até
espírito foi-lhes abalada. Chega ali um certo fazendeiro que reclama a posse das terras; era Manuel Brito Portugal que já chegou intimidando a todos e chamando os lavradores de ladrões e invasores de suas posses. O suposto dono das terras solicitou então, já de caso pensado, uma guarnição da polícia para realizar a expulsão dos lavradores. Chegou ao local um grupo de policiais, comandado por um coronel. Eram três viaturas. Os soldados já desceram atirando para cima e agrediram os trabalhadores rurais; também algemaram alguns para intimidar a todos. Este fato se deu em 06 de maio de 1976. Houve confronto entre posseiros e policiais. Neste momento, chega Joaquim (pois havia sido avisado da situação) empunhando uma espingarda de socar. Alguns amigos pediram-lhe para não atirar; mas sentindo-se ameaçados os policiais, por ordem do capitão, começam a atirar. Nesse dia, tomba morto JOAQUIM PEREIRA DOS SANTOS. Assim, o povo do Candeal perde um líder, um grande amigo, que faleceu numa área de terra da Fazenda Candeal, lutando pelo bem comum da comunidade local. Os policiais e o coronel se foram e os posseiros até hoje, nas terras que agora são suas,
Foto: Robson de Jesus
ganham diariamente o seu sustento, fruto do seu trabalho tão honrado.
Foto: Robson de Jesus
que certo dia, essa paz e mansidão de
O LEGADO DE JOAQUIM PEREIRA DOS SANTOS A luta encabeçada por Joaquim Pereira dos Santos e Clarindo Fonseca de Almeida (Gavião), que culminou na morte de Joaquim, deixou um legado para a comunidade de Candeal II, no distrito da Matinha, e marcou a luta pela reforma agrária
Os responsáveis pela morte de Joaquim até hoje não foram punidos, contudo, sua luta e seu martírio reforçaram a resiliência do povo do Candeal, que conseguiu o título de suas terras e, atualmente, o reconhecimento de comunidade remanescente de quilombo pela Fundação Palmares/Ministério da Cultura. A comunidade do Candeal tem Joaquim Pereira dos Santos como um exemplo de homem, de pai, de amigo, herói, mártir e líder que inspira os jovens a continuar lutando, se mantendo organizados na comunidade. Por ser inspiração para a comunidade, ele foi homenageado como patrono da Escola Municipal ali situada; todos reconhecem que, sem o empenho de Joaquim, a comunidade hoje não existiria como é. Sua luta também inspirou a organização dos atingidos pela Barragem de Pedra do Cavalo no distrito de Ipuaçu e a conquista de terras em assentamentos da reforma agrária pela Bahia (como o da cidade de Biritinga, por exemplo).
Foto: Robson de Jesus
Foto: Everton Pereira
em Feira de Santana.
REFERÊNCIAS: Almeida, Scheila Cristina Pereira de. Memória do samba de roda da matinha: preservação da cultura na zona rural. Monografia. Feira de Santana: UEFS, 2010. RODA DE CONVERSA com os líderes Martiniano Pereira e Dionísio Pereira. Feira de Santana: Candeal II, agosto/ setembro 2018. TV OLHOS D´ÁGUAS: Fazenda Candeal II: 40 anos depois. 2016. 7min 30 seg. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NB5s2jrCsW0. Acesso em 05 Set. 2018.
CRÉDITOS: FOTOS: Robson de Jesus, Everton Pereira de Jesus, Salvador Mota Silva. PRODUÇÃO E AUTORIA: Ana Cláudia Pereira de Jesus, Ana Júlia Alves Gonçalves Fonseca, Ana Kelly Pereira de Jesus, Andressa Silva de Jesus, Dandara Ferreira Souza, Emerson Thiago Mota dos Santos, Felipe dos Santos Pereira, Fernanda da Silva Lopes, Giovanna Almeida Alexandrino, Heloisa Moreira da Silva, Isabela Jesus dos Santos, Luis Henrique Silva de Jesus, Matheus Pereira de Souza, Raíssa dos Santos Miranda, Salvador Mota Silva, Valeria Vitorio Fonseca, Willian Ander das Virgens Silva. REVISÃO: Huitan Leal, Layane Souza e Valter Almeida. EQUIPE GESTORA: Gervanne Augusto de Oliveira Gomes (diretora), Layane Carneiro de Souza (vice-diretora) e Lorene Souza de Jesus (vice-diretora).