Edição 56

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Dezembro | 2010

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56 Ano ii

Joalherias são obrigadas a trabalhar com medo Renato

Fernando Weber,

a arte em flor

Roberto

Hunoff Vinho brasileiro bate recordes de exportação em 2010

Reflexões sobre

reprovação nas escolas Dupla

André T. Susin/O Caxiense

O único assentamento de Caxias do Sul, uma área de 36 hectares cedida pelo Estado a integrantes do Movimento dos Trabalhadores Desempregados – que tem o apoio do MST –, viu a ideia de uma propriedade coletiva rural e urbana definhar em oito anos. Com apenas 8,3% de terra cultivada, os assentados sonham com auxílio do novo governador, ligado às causas sociais

Henrichs Quem produziu mais e quem produziu menos no Legislativo

CA-JU Caxias negocia atacante e Ju recupera os lesionados

R$ 2,50


Índice Roberto Hunoff | 4 As razões do sucesso do vinho brasileiro no Exterior Agricultura | 5 Como sobrevive o único assentamento de Caxias do Sul

Fotos: André T. Susin/O Caxiense

A Semana | 3 As notícias que foram destaque no site

www.OCAXIENSE.com.br Linda a capa do O Caxiense dessa semana. Leonardo Portella

Aids | 8 Após superar o medo de assumir que tem HIV, Neusa enfrenta o preconceito Segurança | 10 Cansadas dos assaltos, joalherias pedem socorro às autoridades Perfil | 12 Fernando Weber é campeão brasileiro em uma área pouco conhecida: arte floral Ensino | 14 Apesar das diversas chances aos alunos, índices de reprovação desafiam escolas Boa Gente | 16 Cultura e empreendedorismo; as cinco melhores sorveterias de Caxias Artes | 17 Visões solitárias e a aparição da santa Guia de Cultura | 18 Baladas natalinas, pernas para o ar e painéis para o centenário Natal | 20 Por que os presépios de Ana Rech encantam Dupla CA-JU | 21 Departamento Médico movimentado no Jaconi e tranquilo no Centenário Guia de Esportes | 22 Gre-Nal de confraternização e amistosos da dupla CA-JU Renato Henrichs | 23 Em número de projetos, o ano foi produtivo na Câmara. Mas não para todos

Expediente

Redação: André Tiago Susin, Camila Cardoso Boff, Carol De Barba, Cíntia Hecher, Fabiano Provin, Felipe Boff (editor), José Eduardo Coutelle, Luciana Lain, Marcelo Aramis (editor assistente), Paula Sperb (editora), Renato Henrichs, Roberto Hunoff, Robin Siteneski e Valquíria Vita Comercial: Pita Loss Circulação/Assinaturas: Tatyany Rodrigues de Oliveira Administrativo: Luiz Antônio Boff Impressão: Correio do Povo Distribuição: Dinâmica Assessoria de Distribuição

Assine

Para assinar, acesse www.ocaxiense.com.br/assinaturas, ligue 3027-5538 (de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h30 às 18h) ou mande um e-mail para assine@ocaxiense.com.br. Trimestral: R$ 30 | Semestral: R$ 60 | Anual: 2x de R$ 60 ou 1x de R$ 120

Jornal O Caxiense Ltda. Rua Os 18 do Forte, 422, sala 1 | Lourdes | Caxias do Sul | 95020-471 Fone 3027-5538 | E-mail ocaxiense@ocaxiense.com.br www.ocaxiense.com.br

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O Caxiense

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@Kely_Melo Meus parabéns ao jornal @ocaxiense, sempre saindo na frente e inovando! #ocaxiensenoiphone @rafaelalgures Parabéns a @ocaxiense, que agora tem app para Iphone. Vou baixar o meu! =) #ocaxiensenoiphone @AlineZilli_Ueba Essa novidade prova que @ocaxiense vai muito além de um jornal municipal, torna-se grande e cada vez mais à frente do seu tempo! #ocaxiensenoiphone @ViniciusBusatta @ocaxiense obrigado por sempre nos trazerem as notícias em primeira mão. #protestonoiguatemi @PMarmentini @ocaxiense Já que o Kalil quer 73,35% de aumento para os deputados, poderia defender esse mesmo aumento também para os professores estaduais. #aumentodosdeputados

Acabo de ler a matéria de O Caxiense sobre o Marco Menezes. De arrepiar. Parabéns à Carol De Barba pelo belo texto. Éverton Rigatti

No Site

Aumentos de final de ano | Quanto mais o tempo passa, mais nossa atenção é desviada para assuntos aleatórios e sem muito valor para a comunidade caxiense. Enquanto nos ocupamos com futilidades, eles continuam decidindo por todos. Aumenta o valor do transporte público, aumenta o salário da Assembleia em 73% (o nosso em meros 5%), universidade reajusta de novo (mesmo sendo filantrópica) e tudo fica bem. Daqui a pouco nos acostumamos e esquecemos, até a próxima paulada. O que falta é punho fechado com bandeiras e caras pintadas nas ruas novamente. Não foi assim que conquistamos tantas coisas? Alessandro Silva

AVISO AOS ASSINANTES

Circulaçao antecipada | A próxima edição do jornal será entregue (e distribuída nas bancas) um dia antes do que o normal: na sexta-feira (31), véspera de Ano Novo.

AVISO AOS ANUNCIANTES

Fechamento comercial | A autorização de anúncios e a entrega de material também ocorrerão um dia antes: até o meio-dia de quinta-feira (30). Erramos | O consultor Cléo Moraes citou apenas a Copel (PR), e não todas as estatais, como exemplo de tarifa mais baixa; em vez de “consumo”, o termo mais adequado à reportagem é “demanda” (A luz que vem do campo, ed. 55).

Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.


A Semana

Valquíria Vita/O Caxiense

Walter Fagundes, Divulgação, Agência AL/O Caxiense

Reprodução/O Caxiense

editada por Felipe Boff | felipe.boff@ocaxiense.com.br

Kalil votou a favor do aumento de 73,3%; aplicativo do jornal para iPhone, pioneiro na região Sul; comerciários protestaram no Iguatemi

SEGUNDA | 20.dez

TERÇA | 21.dez

Trem regional deverá seguir pelo traçado antigo

Deputados estaduais aumentam salários

Deverá ser mesmo pelo velho caminho que o trem retomará sua marcha na região. O traçado antigo foi escolhido como a melhor opção por representantes das prefeituras de Caxias, Farroupilha e Garibaldi – Bento Gonçalves e Carlos Barbosa não participaram da reunião. É mais viável, financeiramente, do que tentar desapropriar terras ao longo da BR-116 e da RSC-453, mas tem um problema: a velocidade, que ficaria entre 30 km/h e 40 km/h. A saída é adaptar alguns trechos para que o Veículo Leve sobre Trilhos, modelo proposto, possa andar mais rápido. Ele tem capacidade de atingir 80 km/h. Caxias, que tem gente morando sobre boa parte do trecho urbano da antiga linha férrea, terá ainda o trabalho extra de remover famílias dali. A previsão é de que a cidade conte com quatro estações de trem.

Prazos e audiências suspensos até o dia 6 As férias forenses foram oficialmente extintas, mas os trabalhos do Judiciário reduzem o ritmo – e ficam limitados – no período das festas de fim de ano. Até 6 de janeiro, a pedido da OAB, ficam suspensos os prazos processuais, as audiências, as sessões de julgamento e a publicação de notas de expediente. No verão, parte da estrutura da Justiça se muda para a praia, a fim de reforçar o atendimento da maior demanda.

Bairristas que ainda se iludem com a ideia de que os políticos gaúchos são melhores do que a média nacional sofreram um duro golpe de realidade. Os deputados estaduais se apressaram em seguir o exemplo nada elogiável dos federais e aumentaram seus salários em 73,3%. Vão ganhar, em 2011, R$ 20.042,34 mensais, sem contar as outras benesses do cargo. O deputado caxiense Kalil Sehbe Neto (PDT) – que não estará na Assembleia Legislativa a partir do ano que vem – ajudou a aprovar o reajuste. “Votei com a minha bancada, sem interesse algum nesse aumento. Segui a minha consciência e a orientação partidária”, justificou-se. Pelo menos atendeu a imprensa, algo que muitos de seus colegas evitaram fazer. Entre as honrosas exceções, a deputada caxiense Marisa Formolo (PT), reeleita, votou contra. Marisa defendia que o reajuste acompanhasse a variação do salário mínimo nos últimos quatro anos, período em que a remuneração dos parlamentares gaúchos não foi reajustada. Isso daria 34,3%. Bem mais em conta.

Jornal O Caxiense agora está também no iPhone

O Caxiense é o primeiro jornal do Sul do país a lançar um aplicativo para o iPhone. Desde terça o aplicativo está disponível na App Store, e pode ser baixado de gra-

www.ocaxiense.com.br

ça. Notícias, informações da du- QUARTA | 22.dez pla CA-JU, comentários dos colunistas Roberto Hunoff e Renato Brigada Militar alerta Henrichs e a programação cultu- sobre golpe por telefone ral já estão na palma da mão dos Se alguém lhe telefonar identiusuários do aparelho da Apple, ficando-se como parente e pedir que também recebem antes, na ajuda (financeira) por ter quebranoite de sexta-feira, um resumo do o carro em um rodovia, desdo conteúdo da edição impressa confie. O alerta é do comandante que será distribuída aos assinan- da 2ª Companhia do 36º Batalhão tes e vendida nas bancas no dia da Brigada Militar, Juliano Amaseguinte. Saiba mais sobre o apli- ral. O golpe já espalhou prejuízos cativo, desenvolvido pela também em Caxias, Ipê, Nova Roma e São caxiense Flip Studio, acessando Marcos, entre outras cidades, e o site do jornal: www.ocaxiense. tem como alvo preferencial as com.br. pessoas idosas. Os ladrões enganam as vítimas – que, geralmente, acabam dizendo primeiro o nome Protesto por banheiros e do parente com quem imaginam refeitório no Iguatemi estar falando – pedindo depósitos Dois banheiros ecológicos, um em contas bancárias ou a compra carro de som, faixas e manifes- de créditos para celular. As quantantes chamaram a atenção na tias variam de R$ 5 mil a R$ 20 entrada do shopping Iguatemi. O mil. protesto, organizado pelo Sindicomerciários, exigiu a criação de banheiros e refeitório específicos QUINTA | 23.dez para os funcionários das lojas, que hoje utilizam a mesma estru- UCS TV retransmite tura oferecida aos clientes. Nesta o canal Futura época do ano, de grande moviA partir da meia-noite de sextamento, a situação torna-se ainda feira (24), a UCS TV entrará em mais incômoda. Especialmente rede, durante boa parte de sua propara as mulheres, que precisam gramação, com o canal educativo aguardar na fila. “É absurdo, em Futura. A faixa de programação lopleno século 21, que tenhamos cal, a partir das 19h, será mantida. que discutir banheiro para fun- A medida é um redirecionamento cionário”, disse o presidente do da emissora, também afetada pela sindicato, Silvio Luiz Frasson. crise financeira da universidade. Depois da manifestação – que O processo de reestruturação das teve momentos de tumulto –, o contas da UCS também atingiu, na Iguatemi prometeu entregar ba- quinta-feira, os cerca de 150 alunheiros, vestiários e refeitório nos do programa Sênior, voltado para os funcionários, em um es- para pessoas com mais de 50 anos. paço próximo às lojas Renner, no O desconto deles em 2011 cairá de dia 2 de janeiro. 50% para 30%. 24 a 30 de dezembro de 2010

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Roberto Hunoff roberto.hunoff@ocaxiense.com.br

Júlio Soares, Divulgação/O Caxiense

A Agrale iniciou em dezembro a venda do caminhão modelo 8500 com cabine estendida e motor de alta rotação MWM 4.08 Sprint, com 140 cv de potência. A grande novidade do veículo, a partir da nova motorização, é a sensível redução no consumo de combustível. O caminhão apresenta melhor desempenho nas aplicações urbanas. Até novembro, a montadora caxiense produziu 695 caminhões, em alta de 18% sobre todo o ano passado, que fechou em 588 unidades. Em 2010, o modelo 8500 representa 49% das vendas contra 38% do exercício passado.

Formalização

A Agroindústria Schmith entrou em funcionamento oficialmente nesta semana, no distrito de Criúva, para a elaboração de queijos e outros derivados de leite, em volume diário de 15 quilos. Desde 2005 já foram inauguradas em Caxias 18 agroindústrias, que trabalham na elaboração de queijos e derivados de leite, mel, ovos, embutidos e fatiados. No total são 57 estabelecimentos, todos acompanhados por técnicos da Secretaria Municipal da Agricultura, como determina a lei 4.752, de dezembro de 1997.

Conquistando

o mundo

De janeiro a novembro, a indústria vinícola brasileira, que está 90% concentrada no Rio Grande do Sul, exportou 1,620 milhão de litros de vinhos, 8% a mais do que todo o volume do ano passado. As vendas resultaram em faturamento de US$ 3,840 milhões, quase 50% acima dos US$ 2,570 milhões do ano passado, devendo ficar muito próximo dos US$ 4,680 milhões consolidados em 2008. Esse desempenho deve-se ao Projeto Setorial Integrado Wines of Brasil,

Prejuízos

Os agricultores de Caxias atingidos por chuvas de granizo em novembro tiveram perdas de R$ 35 milhões. O fenômeno prejudicou 1,3 mil hectares de diferentes lavouras cultivadas por 150 produtores. Para amenizar os prejuízos, a Secretaria Municipal da Agricultura fará todas as terças dos meses de dezembro a fevereiro edição espe-

Encerra-se nesta sexta-feira (24), às 16h, na Estação Férrea, a primeira edição da Feira de Natal do Artesanato Caxiense. A iniciativa é do Comitê Municipal do Artesanato e da Economia Solidária, formado por várias secretarias. Os produtos expostos para a venda têm origem em 13 grupos que atuam com artesões, além do Banco do Vestuário, que apresenta peças de confecção e tear desenvolvidas em seus cursos. Trata-se de iniciativa interessante para a aquisição de presentes natalinos diferenciados.

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cial do Ponto de Safra para venda exclusiva de nectarina e pêssego. Os locais são as ruas Bento Gonçalves, no Centro, e Os 18 do Forte, em São Pelegrino. Além desta medida, a secretaria trabalha para que os bancos refinanciem as dívidas contraídas pelos agricultores para o plantio a fim de evitar problemas ainda maiores nas próximas safras.

Cuidado nas compras

O Procon Caxias mudou, neste ano, a sua estratégia em relação às compras natalinas. A preocupação central está sendo a de recomendar atenção aos consumidores para evitar o superendividamento. De acordo com Dagoberto dos Santos, coordenador do Procon, este mal contemporâneo atinge os consumidores impulsivos, facilmente influenciados por marcas. Segundo ele, as compras neste

Artesanato natalino

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realizado pelo Instituto Brasileiro do Vinho e pela Apex-Brasil desde 2002, quando o Brasil exportava menos de US$ 200 mil. Atualmente 37 vinícolas participam do projeto, focado em oito mercados: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Hong Kong, Países Baixos, Polônia, Reino Unido e Suécia. A aceitação no Exterior pode ser fundamental para quebrar o preconceito que muitos consumidores brasileiros, e principalmente especialistas, ainda têm dos vinhos locais.

período do ano são inevitáveis, mas Dagoberto afirma existirem fatores que devem ser observados. Os principais são: não confunda necessidade de consumo com desejo de comprar e nunca comprometa mais de 30% de sua renda com empréstimos ou financiamentos. O recado também vale para os comerciantes porque de nada adianta vender agora e não receber os valores mais adiante.

Cristofer Giacomet, Divulgação/O Caxiense

Nova aposta

Pioneirismo

A Keko Acessórios, que prepara sua mudança de Caxias do Sul para Flores da Cunha, será a primeira e única do seu segmento a contar com linha automatizada composta por pré-tratamento nanocerâmico, pintura eletroforética e-coat e sistema automatizado Top Coat Pó. O conjunto de equipamentos, avaliado em R$ 5 milhões, duplicará a capacidade de acabamento da empresa e permitirá que a Keko ofereça garantia de cinco anos aos seus produtos, seguindo a regra das montadoras.

Confiança

A diretoria da Marcopolo estabeleceu como meta para o próximo ano receita líquida de R$ 3,150 bilhões e produção de 29,3 mil ônibus. Na comparação com as metas definidas para 2010, que devem ser superadas – R$ 2,8 bilhões de receita e produção de 26,5 mil veículos – o crescimento projetado é de 12,5% e 10,5%, respectivamente. A operação brasileira, concentrada em Caxias do Sul, com duas fábricas, e Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, deverá responder pela produção de 18,5 mil ônibus, o que representa incremento de 9% sobre as estimativas de 17 mil para o ano de 2010. Nas fábricas localizadas no Exterior, é esperada produção de 10,8 mil unidades, em alta de 14% sobre as 9,5 mil projetadas para 2010. A diretoria da fabricante de carroçarias de ônibus programou para o próximo ano investimentos de R$ 70 milhões para dar continuidade à ampliação da capacidade produtiva, atualmente de 95 ônibus por dia, crescimento de 30% sobre a existente em 2009.

Fechamento antecipado Depois de três semanas funcionando com horário dilatado, o comércio de Caxias do Sul encerrará suas atividades às 18h nesta sexta-feira (24). No sábado, os estabelecimentos, incluindo os supermercados que operam com mão de obra contratada, estarão fechados. No domingo, funcionarão os supermercados e as lojas dos shoppings. A partir da próxima segunda-feira (27), serão retomados os horários normais de atendimento aos consumidores.

Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.


Luta pela terra

O LENTO

SEMEAR DOS ASSENTADOS Na área cedida ao MTD, 15 pessoas sobrevivem com pouca infraestrutura, uma pequena plantação e o sonho de mudança

André T. Susin/O Caxiense

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Apenas 3 dos 5 hectares cultiváveis estão sendo usados para o plantio

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por GRAZIELA ANDREATTA

ito anos depois de abrir caminho em 36 hectares no distrito de Fazenda Souza, a iniciativa mais próxima de uma reforma agrária em Caxias do Sul só não é terra arrasada por causa da teimosia de uns poucos. Hoje, o primeiro e único assentamento do município, batizado de Zumbi dos Palmares II (o algarismo romano deve-se à descoberta, na hora do registro, de outra propriedade com o mesmo nome no Rio Grande do Sul), é quase um espectro do que se sonhava para ele. Mas esse sonho ainda invoca a aura de imortalidade de seu padrinho. O Zumbi caxiense também resiste. Com apenas três famílias, 8,3% da terra cultivada, limitações financeiras, apoio restrito e muitas peculiaridades. A terra dos assentados parece emular as agruras do quilombo comandado pelo mártir negro no século XVII. O tortuoso e estreito caminho de chão conduz, três quilômetros adiante da sede do distrito, a um cenário com escassos sinais de progresso. O capim que brota no leito da estradinha revela o desuso da via. No Zumbi dos Palmares II, em um conjunto de casas de madeira sem pintura, vivem 15 pessoas. Nenhuma delas é sem-terra, embora tenham ligação com a causa e seus ativistas. A origem do assentamento é outra, o Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD). E seu coordenador, Valerin Alexandre Caetano, 52 anos, é dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul. O assentamento foi criado no final de 2002, quase no apagar das luzes do governo Olívio Dutra (PT). Atendeu, assim, a reivindicação de 22 famílias que haviam ocupado a área com o objetivo de transformá-la em assentamento rururbano, um misto de rural com urbano. A área, comparável em extensão ao que apenas os agricultores mais abastados do interior de Caxias dispõem, prometia sustento para todo o grupo.

Parte das famílias trabalharia na agricultura e parte manteria seus empregos na cidade, para onde se deslocaria diariamente. Mas os planos eram bem mais otimistas do que a realidade. Afora as expectativas, o lugar não tinha nada. Nem casas, nem energia elétrica, nem água acessível. As famílias precisaram se instalar sob lonas, em condições muito precárias. Sobre as terras, encontraram uma nova decepção: dos 36 hectares, apenas cinco estavam livres para o aproveitamento agrícola. O restante é coberto de árvores nativas, que não podem ser derrubadas. E como iniciar uma plantação, mesmo naquele pequeno pedaço de chão, sem dinheiro? Diferentemente de Olívio, seu sucessor, Germano Rigotto (PMDB), não tinha vínculo com os movimentos sociais, e enviar dinheiro ou sementes para desenvolver o assentamento não estavam entre as prioridades de seu governo. Com Yeda Crusius (PSDB), eleita em 2006, a situação de quem esperava apoio do Estado para o MTD só piorou. A verdade é que o projeto perdeu força ainda antes de nascer, enfraquecido pelo próprio movimento. Dos setes meses de duração da ocupação até a oficialização do assentamento, em dezembro de 2002, metade das famílias desistiu. Acostumadas aos confortos da vida urbana, sentiram que não se adaptariam à dureza da rotina no campo, ainda mais exigente em uma propriedade que deveria ser erguida do zero. Sem dinheiro e sem recursos básicos, o assentamento foi acumulando deserções, até cair de 11 para três famílias, o número atual – incluindo uma família que chegou depois da ocupação. Um dos primeiros desbravadores do terreno e principal idealizador do assentamento, o coordenador Valerin, que concilia o trabalho agrícola com a atividade sindical na cidade, atua em movimentos sociais desde 1982, quando entrou para a Juventu-

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Fotos: André T. Susin/O Caxiense

Dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos, Valerin, coordena o assentamento, onde os moradores vivem em casas humildes de Operária Católica (JOC). Em 1984, entrou para a direção do Sindicato dos Metalúrgicos, participando no ano seguinte da primeira grande greve da indústria caxiense pós-ditadura militar. Em 1997, depois de alguns anos militando no centro do país, Valerin voltou a Caxias justamente no momento em que se discutia a criação de um movimento social equivalente ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), porém urbano. Engajado, ele ajudou a fundar na cidade um núcleo do MTD. “O nome não era o melhor para a realidade de Caxias, porque aqui nossa luta não era por emprego, mas sim pelas melhores condições de trabalho das pessoas que trabalhavam. Mas não podíamos mudar o nome do movimento”, justifica. Na zona urbana, Valerin tomou parte da histórica ocupação da área da Gethal, quando 80 famílias se instalaram no local e, após a reintegração de posse, decidiram acampar no meio da rua. A mobilização seguinte já foi pelo assentamento de Fazenda Souza, onde ele permanece até hoje. O líder do grupo conta que teve uma experiência com agricultura em São Lourenço do Oeste (SC), mas explica que não foi sua vivência no campo que o motivou a lutar pelo Zumbi dos Palmares II. “O que me trouxe aqui foi a mesma coisa que me motivou a vida toda: a crença de que para mudar algo precisamos lutar.” Quem chega ao assentamento hoje não consegue vislumbrar perspectivas muito boas. Mas Valerin, que viveu as dificuldades do início, enumera avanços. Lembra que hoje o lugar tem energia elétrica – obtida por meio do programa Luz para Todos, do go-

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verno federal – e um açude, que mantém, para os militantes, uma abastece as casas e a pequena la- escola em Pontão e outra em Vevoura perto das moradias. ranópolis. O MTD enviou para A área plantada ainda é peque- Caxias um técnico agrícola, que na. Dos cerca de cinco hectares mora na área, para ajudar na elacultiváveis, o líder calcula que boração de projetos de desenvolpouco menos de três estejam sen- vimento. O técnico é Lauriando do utilizados. Mas avalia que esse Amaral de Freitas, 36 anos, que é um bom número, consideran- teve toda a sua formação no MST, do-se as condições de irrigação. desde criança. Os pais dele esta“Nós temos um problema com a vam entre as famílias desalojadas água. Então, conseguimos plantar após a construção da barragem um pouco próximo do Salto do Jacuí, ao açude, onde a no anos 70, e entre água chega por gra- “As pessoas as primeiras a sevidade.” têm que entender rem colocadas em Nessa fatia de terra que sem batalhar assentamentos de são produzidos di- não se chega a terras, antes ainda versos tipos de grãos do surgimento do e hortaliças sem lugar nenhum. MST. “As famílias se uso de agrotóxicos, Eu acredito organizaram e coque alimentam as nisso”, diz meçaram a reivinfamílias assentadas a assentada dicar uma área. Ree podem ser vendi- Baiana cebemos um local dos na cidade. Duas somente em 1983, vacas, um boi e um depois de mais de terneiro completam 10 anos de lutas, e a produção. “Não tínhamos nada. só fomos ter contato com o MST Considero que hoje temos bas- um ano depois, quando assentatante”, diz Valerin. ram um grupo perto da área onde Neste fim de ano, os assentados estávamos.” ganharam um trator e acessórios A vizinhança dos assentamenpara o veículo de um programa tos aproximou as famílias remoda Petrobras. “Nós estamos agora vidas pela barragem e o MST. “Esfazendo um projeto para conse- távamos em situações parecidas, e guir um sistema de irrigação que nossa maneira de pensar também nos permita plantar em toda a era muito semelhante. A união área disponível”, acrescenta o co- foi inevitável”, lembra. Freitas ordenador. cresceu e foi educado em meio a mobilizações sociais e de acordo Sem dinheiro do governo com a ideologia dos seus milido Estado e não tendo conseguido tantes. Quando o MST entendeu se tornar ainda uma propriedade que deveria abrir uma escola que autossustentável, os assentados oferecesse cursos técnicos e uma do Zumbi dos Palmares II con- formação com a ideologia do motam com dois apoios importan- vimento, ele foi um dos primeiros tes, o MTD estadual e o MST. Das alunos. Depois, tornou-se profes15 pessoas que vivem no assenta- sor, função em que permaneceu mento, cinco estudam agricultura por dois anos. ecológica ou saúde alternativa em Freitas vive em Fazenda Souescolas do MST – o movimento za, mas integra um projeto que

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leva assistência técnica a projetos agrícolas implantados em todo o Estado – oito, no total. Cinco são assentamentos – Caxias, Gravataí, Eldorado e Bagé, que tem dois. Também atende hortas comunitárias em Canoas, Lajeado e Pelotas. “Eu acredito nesse trabalho”, orgulha-se. A crença no trabalho do movimento e nos seus ideais, aliás, é pré-requisito para se viver no assentamento, sem qualquer conforto nem itens de infraestrutura comuns na cidade – linha telefônica, por exemplo. Como em outras localidades, as crianças precisam caminhar um quilômetro para chegar à estrada vicinal onde passa o ônibus que as leva à escola. Mas tudo que é feito nas terras deve levar em conta sempre a coletividade. Esse modo de encarar a vida, que poderia causar estranheza a muita gente, é justamente o que motiva os assentados. Um exemplo é a aposentada Marinalva Maria da Conceição, 62 anos, uma alagoana conhecida pelo apelido de Baiana. Depois de 18 anos como doméstica, ela decidiu se dedicar a algo que pudesse fazer diferença na sociedade. Entrou para o MTD por acreditar nos seus ideais de trabalho digno e de igualdade social e acabou se mudando para o assentamento, onde trabalha sem parar. Baiana cuida das plantações próximas à sua precária casa – provisória, ressalva ela – e, três vezes por semana, organiza os alimentos em sacolas, pega um ônibus e vai para a cidade vendêlos de porta em porta. “Eu já tenho uma clientela, então vou nos bairros onde já sei que as pessoas compram”, explica. Um dos argumentos de Baiana é a vantagem de se consumir pro-

Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.


pessoas.” O coordenador do assentamento espera que com a vitória de Tarso Genro (PT) os movimentos voltem a ter “força e ânimo” para lutar por seus direitos e consegiur avanços. A área do Zumbi dos Palmares II é uma concessão do Estado, que vence em 2012. Valerin espera que o prazo seja prorrogado. “Estamos otimistas, mas não acredito que receberemos de mão beijada. Sei que precisaremos lutar por isso, e o faremos.” O Movimento dos TrabalhaPara tornar o assentamento audores Desempregados já foi mais tossustentável, Valerin pretende forte e mais presente em Caxias. elaborar um projeto para a proNos últimos anos, tem sido cada dução de frutas sem agrotóxicos. vez menos atuante. Valerin calcu- Tem esperança de que isso atraia la que façam parte do MTD ca- mais pessoas para o assentamenxiense cerca de 150 pessoas, mas to. “Não consigo convencer mais a maioria é apenas gente a ficar aqui beneficiada pelas porque não tem trafrentes de trabalho: “Não consigo balho. Logo, não há projetos de artesa- convencer mais renda, e as condinato e hortas comu- gente a ficar ções são precárias. nitárias, nos quais Com uma produção porque não tem a prefeitura fornece regular, teremos o matéria-prima e um trabalho. Logo, que oferecer, e ounão há renda, salário mínimo com tras pessoas abraçaa única condição de e as condições rão a ideia.” que os participantes são precárias”, Valerin acha que o frequentem cursos Zumbi dos Palmares diz Valerin de formação e proII tem tudo para dar fissionalizantes. certo, mesmo que Militantes do moleve tempo. Para ele, vimento mesmo não passam de tornar o assentamento viável é 15, segundo Valerin. Ele admite mais do que uma questão econôque o número é pequeno e a atu- mica. “Acredito que essa realidade ação é inexpressiva, mas conside- social que temos hoje no país só ra a situação natural. “Historica- será mudada por quem precisa da mente, os movimentos de massa mudança. E isso pode partir de têm momentos de ascensão e de grandes ou de pequenos grupos. queda, que ocorrem quando não Somos um grupo pequeno, que há conquistas. Isso desanima as pode fazer uma grande coisa.”

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dutos cultivados ecologicamente. “Levo alimento sem veneno para o povo comer e sempre falo sobre isso, para que entendam a importância. E um fala para outro, que fala para outros, e assim a ideia se espalha.” A aspereza do trabalho no campo e as dificuldades do dia a dia não a desanimam. Ao contrário: “As pessoas têm que entender que sem batalhar não se chega a lugar nenhum. Eu acredito nisso.”

Aposentada como doméstica, Baiana dedica-se à agricultura ecológica

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André T. Susin/O Caxiense

Cotidiano com HIV

Neusa ainda sofre preconceito por ser soropositiva, mas encontrou aceitação em um grupo católico carismático onde passou o último Natal

Sem medo do preconceito

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por VALQUÍRIA VITA valquiria.vita@ocaxiense.com.br

eusa Jarduzin Gonçalves, 53, é portadora de uma doença cujo nome ela nunca pronuncia. Prefere dizer que tem “aquele problema”. Mesmo assim, em julho deste ano, Neusa não teve medo do que os outros pudessem pensar e assumiu publicamente que é portadora do vírus da Aids em reportagem publicada na edição 31 do jornal O Caxiense. Com a divulgação de sua foto e nome verdadeiro, Neusa ajudou a mostrar a realidade de pessoas com o vírus HIV. Depois da declaração, Neusa foi chamada de corajosa pelos seus conhecidos e conta o que mudou no seu cotidiano de preconceito. Ela guardou a edição no armário de seu quarto, de onde a retirou na semana passada. Enquanto Neusa falava, mexia com as mãos no jornal, que trazia na capa a manchete Aids: O risco de contar com a sorte. Sorte. Justamente uma palavra que Neusa parece desconhecer. Há 26 anos, Neusa saiu de Santa Catarina com os três filhos pequenos. Depois de vir a Caxias, fugindo do marido – assunto que não comenta o motivo – ficou pelo menos 12 anos sem ter notícias da família. O contato com eles até hoje é mínimo, exceto quando morre algum parente, o que faz com ela viaje de volta à terra natal. A mãe ficou sabendo que Neusa era soropositiva ape-

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nas momentos antes de falecer, há poucos anos, ao perceber que a filha estava muito magra. Foi em 2003 que Neusa descobriu que tinha Aids, vírus que contraiu de um parceiro que não gostava de usar preservativo – ele já faleceu, por causa da doença. Quando recebeu a notícia do médico, trancou-se no quarto por um mês inteiro. “Chorei muito. Não comi, não bebi e não queria que ninguém me visse.”

Depois disso, muitos se afastaram da vida de Neusa. Outros, à sua maneira, tentaram ajudar. Uma vizinha a levou à Assembleia de Deus, na tentativa de que Ele curasse aquilo que a Medicina até hoje não conseguiu. Neusa participou de vários encontros, só não tinha coragem de ir lá na frente quando o pastor chamava a pessoa com o vírus. A vizinha era uma das poucas que sabia da doença de Neusa. Foi depois de algumas decepções que ela descobriu que dizer que tem Aids não é um assunto que as pessoas aceitam facilmente. Há dois anos, a chefe da empresa onde trabalhava descobriu e não aceitou ter uma funcionária com HIV cuidando da limpeza dos banheiros. Demitiu Neusa. Proibiu até que ela se aproximasse de seus filhos, com quem tinha contato. “Já me disseram para colocar a empresa na Justiça, mas ela foi muito boa comigo, deu o telhado dessa casa.” Quase tudo na casa de Neusa foi construído com ajuda, já que

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Portadora do vírus da Aids desde 2003, Neusa foi chamada de corajosa depois de admitir publicamente a doença

ela se sustenta do pouco que ga- vizinha a aconselhou a não mosnha com uma eventual faxina ou trar a matéria para ninguém. Tanda venda de seus crochês. Neusa to que o namorado dela nem ficou mora no loteamento Monte Car- sabendo. “Assim vai ficar até mais melo, um declive passando o bair- fácil de contar”, havia dito Neusa ro Arco Baleno, onde as casinhas sobre seu relacionamento, já que de madeira se empilham ao redor o namorado não sabia. Como o de estradas de chão e esgotos sem namoro já não ia tão bem, Neusa tratamento e ninguém precisa pa- nem se deu o trabalho de contar, gar luz nem água. Ter uma casa e, algum tempo depois, os dois em uma área invadida é correr o terminaram. “Desisti. Melhor só risco de ter sua casa do que mal acompainvadida também, nhada.” já que não há para “Chorei muito. Uma das filhas quem reclamar caso Não comi, não disse a Neusa que isso aconteça. Mais bebi e não queria ela não podia ter de uma vez os vizi- que ninguém me aparecido: “Mas nhos avisaram que quem disse que não se Neusa continuar visse”, conta podia?”, questionou. fora tanto tempo, Neusa sobre “Ah, isso fica muito pegarão sua casa. quando feio...”, respondeu a O motivo de tanta descobriu ter filha. Neusa não se ausência é que ela HIV importou. “Eu achei se tornou católica legal. Pensei ‘que tri, carismática. Sai de tô no jornal’”. “Meu casa todas as sextas e finais de se- filho disse: ‘até que a mãe saiu bomana. Passa os dias em Forqueta, nita na foto’”. No grupo de apoio a rezando na Obra, como o local é pessoas com Aids, do qual Neusa chamado. Um dos únicos lugares faz parte, as colegas ficaram penonde consegue se relacionar com sativas. “‘Tu é mulher de coragem’, facilidade com outras pessoas. É me disseram.” lá que ela passou o último Natal. Para ela, tão necessário quanto Nas festas do ano passado, inter- enfrentar a Aids, é ter essa corarompeu os remédios da Aids e da gem de contar para as pessoas que depressão, que toma diariamen- tem a doença. “Não somos só nós te, para poder beber e comemo- que temos”, diz Neusa, contando rar – ou esquecer – o fim do ano. que dentro do próprio grupo há Exagerou e passou o réveillon no uma participante que não aceita hospital. “Esse ano saí cedo para ser chamada de soropositiva. “A não ver ninguém beber.” maioria de quem tem preconceito é quem tem a doença também, Quando Neusa apareceu no mas eu acho que não adianta esjornal assumindo que tem Aids, a conder. É a vida.”

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Ouro na mira

Wagner Boff diz que trabalha com medo. O dono da Ireno Joias não tira o olho do sistema de segurança da loja

COMÉRCIO

DE RISCO C

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por ROBIN SITENESKI robin.siteneski@ocaxiense.com.br

hove bastante naquela tarde de setembro em Caxias do Sul. É uma quinta-feira. O trânsito está lento. As pessoas, debaixo de seus guarda-chuvas, disputam espaço na calçada da Rua Sinimbu, próximo à esquina com a Garibaldi. Ali fica a Ireno Joias, estabelecimento modesto, um pouco mais largo que um corredor, com relógios e artigos de prata em duas bancadas de vidro dispostos em L e outros produtos atrás delas, guardados em armários também de vidro. Por volta das 15h, o guarda de um restaurante vizinho, sentado em uma cadeira de escritório na joalheria, de costas para a porta, conversa com a atendente Elisângela Pereira, em pé e de frente para a única entrada. O dono, Wagner Boff, está nos fundos, onde faz consertos em relógios e monitora as quatro câmeras de segurança. Dois homens entram. Ambos usando jaquetas. Um de capuz, o segundo de boné. O primeiro coloca-se atrás do guarda, enquanto o outro caminha em direção à funcionária. O sujeito de

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Joalheiros pedem ajuda à Brigada Militar para diminuir o número de assaltos às suas lojas na cidade

capuz saca uma arma calibre 38 e encosta na nuca do segurança. Quebra o vidro da bancada ao lado, troca a arma da mão direita para a esquerda e enche os bolsos com joias. Elisângela é obrigada a entregar mais artigos da loja ao outro ladrão. Imediatamente, os assaltantes deixam a joalheria. A coisa toda dura dois minutos e 14 segundos. “Liguei para a polícia, mas eles levam mais ou menos três minutos para chegar aqui”, conta Wagner, minimizando, na tela do computador, a gravação do assalto em vídeo. Os brigadianos mais próximos faziam ronda na Avenida Júlio de Castilhos, perto do Hospital Pompéia. “Leva uns 10, 15 minutos até cair a ficha, botar os pés no chão”, descreve o comerciante. Wagner não senta para conversar. De pé, consegue acompanhar a movimentação na joalheria e na rua pelas câmeras. Neste ano, a Ireno Joias também foi vítima de ladrões durante o Carnaval. Duas pessoas levaram todos os produtos da vitrine. Quebraram um pedaço do vidro onde os sensores de segurança não detectavam o

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movimento. As duas ações resul- do graças às imagens do sistema taram em prejuízo de cerca de R$ de segurança da loja. 40 mil. “Estou pagando para traA maioria dos ladrões que atabalhar este ano”, reclama Wagner. cam o comércio também age raO empresário, que começou a pidamente, mas apenas para levar trabalhar com joias aos 10 anos o dinheiro dos caixas. O perfil dos no estabelecimento assaltantes de joado pai, fala com callherias é diferente. ma dos incidentes. “Estou pagando “Normalmente esInclusive do mais para trabalhar tão muito bem vesviolento que já en- este ano”, reclama tidos e são pessoas frentou, dois anos Wagner, dono falantes, na faixa dos atrás, quando teve 50 anos. Muitos vêm de fazer 12 pontos de uma pequena em casais, o que não joalheria no na cabeça depois levanta tanta suspeide levar seis coro- Centro, vítima ta. Eles têm que fanhadas de um assal- de dois assaltos zer um levantamentante. “É muito di- em 2010 to do local, então, fícil trabalhar com enquanto um fala medo”, diz. Estrescontigo, o outro fica sado, Wagner precisa de remédios observando”, relata Cristina Nerpara dormir, e já decidiu que seus vis Moraes, proprietária da Bel filhos não continuarão no ramo. Joias, na Rua Dr. Montaury, em “Acaba comigo”, sentencia. frente à Praça Dante Alighieri, com filial na Sinimbu. Um dos homens que assaltaCristina teve mais sorte do que ram a Ireno Joias em setembro foi Wagner: em 2010, sofreu apenas preso no último fim de semana. A uma tentativa de roubo. Em um Brigada Militar suspeitou do fato dia de semana, por volta das 11h, de ele estar usando uma jaqueta notou que seis pessoas rondavam apesar do calor. A vestimenta era a joalheria. Fechou o estabelepara esconder um colete à prova cimento e chamou a empresa de de balas. O suspeito foi identifica- segurança monitorada e a Briga-

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da Militar. Quando os PMs chegaram, os suspeitos sumiram. Há tempos que as lojas do segmento são visadas por bandidos. Cristina foi assaltada pela primeira vez há 28 anos. Ela trabalha com joias há aproximadamente 40. Nos últimos dois anos, entretanto, as ocorrências aumentaram. O que os ladrões mais procuram são peças de ouro. A preferência decorre da fácil receptação do material roubado. Assaltantes podem vendê-las diretamente para outras joalherias ou compradores de ouro. Nestes, as peças podem ser derretidas e transformadas em novas joias. Uma peça que vale R$ 2 mil em joalherias é comprada por cerca de R$ 300 nesses estabelecimentos. Os lojistas não pedem a procedência do material, assim como a Caixa Econômica Federal, que exige somente identidade, CPF e comprovante de residência para penhorar joias. A penhora rende muito menos. Um anel de R$ 4,8 mil é recebido por R$ 200, por exemplo. O penhorante tem que arcar com os juros de cerca de 4% ao mês se não quiser perder a joia. Muitas vezes, os próprios joalheiros comparecem nos leilões da Caixa procurando por barganhas.

Joalheiros, com apoio da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), promoveram dois encontros com a Brigada Militar para tentar deter o avanço dos crimes na cidade. A CDL tem aproximadamente 70 associados do setor, dos quais apenas 16 lojistas participaram das reuniões. Segundo o comandante do 12° Batalhão da BM, tenente-coronel Leonel Bueno, as orientações surtiram efeito. Desde as conversas – em 19 de novembro e 2 de dezembro –não houve novas ocorrências. Cinco foram registradas em Caxias do Sul neste ano, segundo Bueno. É o mesmo número de prisões relacionadas a assaltos em joalherias. Três aconteceram em outubro – ladrões que teriam atacado uma loja no bairro Cruzeiro –, e os dois outros detidos estariam envolvidos no assalto à Beretta do Shopping Iguatemi, em maio. “Todas as pessoas que foram presas têm vasta ficha criminal, com roubos, receptação, posse e tráfico de entorpecentes. Normalmente, esses assaltantes já

estiveram no sistema carcerário”, poderíamos ter mais quatro lojas conta o comandante. em Caxias. É só olhar para essa vitrine. Se cada óculos vale mais ou A violência fez com que menos R$ 500, tem pelo menos alguns joalheiros mudassem o R$ 5 mil aí”, afirma o empresárumo de seus negócios. A Ire- rio, apontando para um armário. no Joias, por exemplo, não ven- Pioner reclama que joalherias não de mais ouro. Dono da rede que têm como se proteger dos prejuícarrega seu sobrenome, Ivonei zos: “A verdade é que não existe Pioner conta que um roubo im- seguro para o setor. Chamei uma pulsionou a diminuição da quan- seguradora e me pediram 40% tidade de joias nas do valor da emprecinco unidades que sa por uma apólice. “A verdade é ele administra junTeria que dar uma to com o irmão. Em que não existe empresa para eles a 1987, sete bandidos seguro para o cada dois anos.” assaltaram a loja en- setor. Uma O maior prejuítão comandada por zo, no entanto, é o seu pai, Ivo. “Bota- seguradora pediu humano. Joalheiros ram uma 12 na cara 40% do valor da perdem funcionádo meu pai. Duran- empresa por uma rios por causa do te a década de 90, apólice”, diz medo depois de mudamos o foco, e Pioner assaltos. “Se dehoje estamos mais pendesse do meu divididos entre joamarido, não viria lheria e ótica”, conta Pioner, uma trabalhar amanhã”, confirma Elidas nove pessoas que estavam na sângela Pereira, funcionária da loja no momento do roubo. Os Ireno Joias há dois anos. Assim assaltantes faziam parte de uma como o patrão, ela permanece quadrilha que atacou mais de 80 pela mesma razão que muitos trajoalherias em Santa Catarina e no balhadores saem de casa de maRio Grande do Sul. Segundo a Po- nhã: é sua forma de sustento. lícia Federal, hoje em dia já não O proprietário da joalheria se há quadrilhas interestaduais agin- protege como pode. Carrega uma do em Caxias do Sul. medalha de São Bento e montou Há cerca de um mês, a rede de um verdadeiro altar na parede Pioner foi assaltada novamente, interna da loja. Ele diz que não é pela 10ª vez nos 44 anos em que devoto de nenhum santo, apenas a família está no ramo. O alvo foi cristão. O pedido de Wagner aos a filial da Avenida Rio Branco. céus é óbvio: ele sabe o quanto “Muitas vezes, levam R$ 300 mil pode perder em dois minutos e num assalto desses. Com certeza, 14 segundos. André T. Susin/O Caxiense

O delegado regional da Polícia Civil, Paulo Roberto Rosa da Silva, relaciona as lojas que compram “ouro velho” à receptação de joias roubadas. “Quem recepta normalmente são pessoas

ligadas a esse ramo. Se não tivesse quem comprar, obviamente, não haveria o crime. Normalmente são pessoas vinculadas com o comércio ilegal”, afirma. Ele ressalva, no entanto, que não existem bandos especializados em roubar essas lojas na cidade. “Há algum grupo relacionado a esses fatos, mas não são quadrilhas organizadas.”

Os prejuízos podem ser grandes: Ivonei Pioner calcula que uma vitrine de óculos vale, pelo menos, R$ 5 mil

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Dedicação floral

No jardim da casa em Nova Palmira, Fernando Weber prepara flores em tons rosas para aguardar o nascimento de sua filha

PÉTALAS DO

TRABALHO P

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por Carol De Barba caroldebarba@ocaxiense.com.br

nem para a grande final. Além de promover a troca de conhecimento entre os artistas brasileiros, a ara o poeta, desenhista e crítico copa também encontra e revela de arte inglês John Ruskin, a be- talentos de todo o Brasil, como o leza das flores é tão encantado- caxiense Fernando Weber. ra que elas “parecem planejadas para o consolo da humanidade Na primeira competição, ordinária”. De fato, trabalhar com em 2006, ele ficou em quarto lugar. flores é mais do que ter um jardim Em 2008, foi convidado, como um bonito ou atender ao pedido do dos floristas que mais se destacaapaixonado que compra uma dú- ram no país para desenvolver três zia de rosas vermelhas. Elas têm arranjos para o livro Arte Floral sua própria arte, feita por pesso- Brasileira, primeiro do gênero no as tão habilidosas e preocupadas Brasil. Agora, em julho de 2010, com suas normas quanto pintores veio a grande conquista: primeiro e músicos. No mundo das flores, lugar na Copa Brasileira de Arte o Oscar é a Copa de Arte Floral, Floral. Para isso, teve que complepromovida de quatro em quatro tar oito tarefas com maestria, em anos pela Academia Brasileira de três dias. Com seis meses de anteArte Floral (Abaf) durante o En- cedência, planejou uma escultura contro Nacional de Floristas (En- floral cujo tema era a mistura de flor). povos no Brasil; uma mesa de janO evento ocorre em Holambra tar para duas pessoas, inspirada (SP) – a nossa Holanda, que não nas flores tropicais brasileiras; um tem tulipas, mas é a Paris da moda buquê de noiva e um buquê hodas flores, no Brasil – e é um labo- menageando uma personalidade, ratório para as indústrias florais. no caso, Gisele Bündchen – não Na competição, nascem novas pela carreira de modelo, mas pelo tendências e técnicas desenvolvi- trabalho em defesa do meio amdas pelos grupos ou floristas que biente. “Além disso, eles sorteaparticipam. A fórmula é inspirada ram na hora quatro caixas surprenas competições esportivas: du- sas com tempo determinado para rante o ano anterior, acontecem execução”, explica. Com o título, eliminatórias regionais e, na épo- que fica com ele por quatro anos, ca definida, os vencedores se reú- Fernando ganhou reconhecimen-

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Campeão da Copa Brasileira de Arte Floral, Fernando Weber trabalha com o que acredita ser um dom divino, as flores

to e a oportunidade de concorrer regar e cuidar, que o amor pelas em outras copas, no mundo todo, flores brotou em Fernando. Por representando o Brasil. ser espaçoso, o jardim também “Acho que as pessoas não se to- era cenário para as outras brincaram da importância”, reclama o cadeiras das crianças. “Nas datas artista, que também é diretor de especiais, nosso passatempo preProvas da Abaf. É ele ferido era colher quem avalia os canflores e montar budidatos que desejam quês caprichados “ Elas são o que entrar para a Assopara as professoras ciação. Avaliação há de mais bonito da Escola Estaduque, além de prê- da criação de al Clemente Pinto, mios, estudo e reco- Deus, me sinto onde estudávamos”, nhecimento, tem o conta. privilegiado”, peso de 30 anos em Em 1980, a mãe conta Fernando meio àsplantas. dele, Dona Ilca WePara Fernando, sobre o prazer de ber, fundou uma trabalhar com flores trabalhar das floriculturas é um dom divino. com flores mais tradicionais “Elas são o que há de de Caxias do Sul, a mais bonito da criaGuarany. Fosse por ção de Deus, me sinto privilegia- que muita gente elogiava o jardim do”, diz. O talento manifestou-se ou pelos transeuntes que paravam desde muito cedo. Quando crian- para pedir mudas daquelas flores ça, ele morava na casa dos avós tão encantadoras, Dona Ilca repaternos, na Rua Tronca, onde solveu transformar a paixão em havia um grande jardim. Rosas, um negócio. Fernando, desde os dálias, mosquitinhos, frésias, ra- 7 anos, frequentava a floricultura. núnculos, hortênsias, copos de Primeiro, para fazer companhia à leite e camélias coloriam e per- mãe. Mas, aos poucos, ele foi tofumavam o pátio onde, todos os mando gosto pelo ofício, aprendias, ele e os cinco irmãos (Flávia, dendo os nomes das espécies, os Flávio, Flaviano, Felipe e Fábio) cuidados específicos com cada ajudavam a avó e a mãe no cultivo uma até que, na adolescência, asdas plantas. Foi ali, com as mãos e sumiu uma função. Era responsáa roupas sujas de terra depois de vel por lavar os vasos de cerâmica,

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curso de arte floral, através de um grupo de floristas que trouxe um professor para Antônio Prado. Um ano depois, em 1998, entrou para a Escola Ibero-Americana de Arte Floral, com sede na Espanha, que ele conseguiu cursar aqui no Brasil, num programa de sete módulos semestrais. Fernando adquiriu embasamento para suas criações. Aprendeu que as folhas e pétalas são classificadas conforme textura, cor e forma e sua utilização depende da função que irá exercer na composição (cobertura de base, forração, grafismo, sombreamento, altura, fuga ou ponto focal). As suas combinações podem proporcionar sensações frias ou quentes, luminosidade ou obscuridade, podem trazer riqueza ou confusão, rigidez ou movimento a um arranjo.

que as pessoas valorizassem o artista floral, ou seja, aquela pessoa que estuda e se aprofunda nessa profissão”, diz. Nesses 30 anos trabalhando com flores, Fernando já fez tranquilamente mais de 30 decorações de bailes de debutante, em todos os clubes da cidade. Atualmente, deixa a floricultura mais na mão dos irmãos Flávia e Flávio, e abriu sua própria empresa para cuidar mais dessa parte: tornar realidade os sonhos das noivas e das jovens que completam 15 anos. Extremamente observador, costuma ficar muito quieto nas reuniões pré-festas. “Procuro deixar minha sensibilidade à flor da pele para captar o que a noiva gostaria que acontecesse, que tipo de decoração ela prefere, se faz um estilo clássico, moderno ou contemporânea”. Em 2008, ele enfrentou o desafio de decorar o próprio caSe não fosse florista, pro- samento. “Como são as mulhevavelmente, Fernando seria ar- res que se envolvem mais, deixei quiteto. “Na época do colégio, que a Meri (Rozimeri, sua noiva) achava interessante ser dentis- escolhesse tudo”, conta. A princíta. Mas hoje, pelo pio, ela queria cores amor de Deus ser claras. Ao longo do dentista”, brinca. A “De vez em ano que antecedeu a veia artística esta- quando, vem na festa, olhando o cova lá, desde o gosto cabeça flashes lorido de outras flopelos trabalhinhos de criações. res, ela pensou no de escola, não hatema que fez do cavia como negar. Nas Acho romântico samento do florisdar flores e formas ousadas dos ta uma verdadeira seus arranjos, há fundamental têobra de arte e flores, muita influência dos las em casa”, diz as quatro estações. livros de arquitetura Fernando Weber A entrada do Clube que ele gosta de foJuvenil represenlhear – na escultutava o verão, com ra que realizou na Copa, haviam flores em tons quentes, amarelas, elementos inspirados na ponte laranjas e vermelhas. O primeiro estaiada, de São Paulo. E para ser andar ganhou ares outonais, com um artista floral, não se engane, galhos, folhas, e rosas marrons. O é preciso tanta dedicação quanto hall do salão social transformoupara ser arquiteto. “Eu gostaria se na primavera, completamente

enfeitado com tons de rosa e no salão interno, o reino das rosas brancas, o inverno. Foi o dia mais feliz da vida do casal. Mais do que o noivado, realizado embaixo de uma tenda de metal, repleta de flores do campo, na casa deles. Talvez, ele só seja superado pelo nascimento da filha, Elizabeth, que está prestes a ocorrer e, com certeza, será celebrado com flores. “De vez em quando, vem na minha cabeça flashes de criações para ela, presentes com flores. Acho muito romântico dar flores em todas as ocasiões e fundamental tê-las em casa”, afirma Fernando. Para ele, as cores das flores ajudam a equilibrar as energias. A beleza das pétalas num vaso só dura se houver harmonia entre os que estão ao redor delas. Por isso, vive cercado por natureza, numa casa com uma bela vista, um jardim e rodeada de Camélias, às margens do rio Caí, na localidade de Nova Palmira. “Acho que as flores me entendem mais do que eu as compreendo”, reflete. Quando criança, Fernando viu a mãe fazer a coroa de flores do avô. “Ela estava numa mesa, trabalhando e chorando. Eu observava e pensava: ‘como será que ela está se sentindo, fazendo essa coroa para o próprio pai?’”, lembra. Até hoje, lidar com perdas é difícil, dá para contar nos dedos o número de pessoas para quem ele enfeitou o caixão. “A morte tem muitos mistérios que eu ainda não descobri”, justifica. Talvez as flores do campo, que marcaram a despedida do avô, saibam. Talvez seja em razão da tristeza delas que Fernando trabalhe tanto para transformar as flores em festa, em celebração à vida. Fotos: Arquivo Pessoal/O Caxiense

limpar o limo que se formava ao redor deles e fazia entregas. Certa vez, a mãe o mandou na Casa Rosa dos Eberle com um belíssimo buquê. Os portões foram abertos. Tranquilamente ele percorreu o jardim, foi até a porta e tocou a campainha. Enquanto esperava, percebeu um pastor alemão enorme do outro lado do pátio. “Tinha um muro de uns 80cm do lado da casa e eu corri para cima dele com medo que o cachorro me atacasse e destruísse as flores”, conta. Fernando levou algum tempo para trabalhar propriamente com as pétalas. “Como eu era muito jovem, inexperiente, e as flores muito caras, minha mãe não queria se arriscar. Se estragasse alguma, era prejuízo”, lembra. O primeiro arranjo que ela o deixou fazer foi um buquê de cravos – mais baratos que as rosas –, nada encomendado, para o balcão mesmo. “Se alguém comprou eu não lembro”, ri. Naquela época, não havia segredo nenhum. Usavam-se rosas, crisântemos, cravos, flores do campo e mosquitinhos, principalmente, combinados conforme o gosto, o bolso do cliente e a disponibilidade da matéria-prima. Nos 10 anos em que esteve à frente da floricultura, Dona Ilca fazia os arranjos assim, usando apenas sua intuição e sensibilidade. Em 1990, ela faleceu e Fernando assumiu o empreendimento. Continuou trabalhando, do mesmo jeito que a mãe lhe ensinara, mas percebeu que os arranjos poderiam ser totalmente diferentes de como eram feitos naquela época. Descobriu que havia, sim, profissionalismo, estudo e técnicas para serem aplicadas. Em 1997, fez o primeiro

Fernando em uma de suas primeiras competições; a decoração de seu casamento feita por ele inspirada nas estações; momentos de inspiração na juventude.

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Dilemas escolares

Felipe, Bruna e Daniela, alunos do Emílio Meyer – que tomou medidas para combater a repetência – tiveram que fazer as provas de fim de ano

TUDO PELA

APROVAÇÃO F

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por CAMILA BOFF camila.boff@ocaxiense.com.br

elipe Medeiros Freda, 17 anos, soube que havia sido aprovado no vestibular para Educação Física no dia 15, mas precisou esperar uma semana para poder comemorar. Ainda não tinha certeza de que poderia deixar o ensino médio em 2011. Aluno do 3º ano do Colégio Estadual Henrique Emílio Meyer, Felipe não conseguiu atingir a nota mínima em matemática, português e química, e dependeu da recuperação final, uma avaliação com todo o conteúdo visto ao longo do ano aplicada num único dia. Só na última quarta-feira (22) veio a tão esperada notícia da aprovação. Em 2010, o corpo docente reuniu esforços para que jovens como Felipe não formassem uma estatística dramática que assombrou o Emílio em 2009: 57% dos alunos matriculados no ensino médio precisaram repetir de série. O índice impressionou pela diferença em relação à média de reprovações em Caxias. Conforme o Censo Escolar de 2009,

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25% dos alunos matriculados no ensino médio na rede estadual da cidade rodaram. A situação, exposta na edição 17 do jornal O Caxiense, motivou a escola a tomar medidas práticas, como um acompanhamento pedagógico mais aprofundado, aulas de reforço em turnos contrários, divisão das notas em uma série de trabalhos e diminuição da rotatividade dos professores. A direção não quis divulgar os números oficiais, mas afirma que 2010 foi um ano melhor. Por parte dos alunos, não houve tanto empenho. Enquanto já poderiam estar aproveitando as férias de verão, dezenas de jovens ainda ocupavam os corredores do Emílio entre um exame final e outro, sempre com justificativas semelhantes. “Faltou esforço e sobrou preguiça”, admite Felipe, o vestibulando de Educação Física. Assim como ele, muitos entraram no grupo de dependentes do provão por não terem atingido nota 6 nas avaliações ao longo do ano. Bruna Natalie Renosto, 17 anos, encarou o estresse das provas finais pela falta de dois pontos. “Foi

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Recuperação, exame final, dependência, progressão. A escola dá chances para o aluno avançar, mas ele nem sempre aproveita

puro vacilo. Eu me culpo até mais gostam de estar aqui pelas amizapor ser por tão pouco. Achei que des e pela convivência, o que deve ia me sair bem com alguns traba- estar mais restrito em outros amlhos. Os professores dão muitas bientes que eles frequentam. Para chances para recuperar a nota, alguns, a parte do conhecimento vai dos alunos acatarem isso. Mas fica para depois na escola, então estudei muito, porque perder um há um choque de interesses com ano inteiro é o fim”, afirma. os professores”, opina Ivanete. O desinteresse dos Para a pedagoalunos soma-se a ga Nilda Stecanela, outros fatores apon- “Eles gostam de professora de Avatados pela direção estar aqui pelas liação na Educação como empecilhos amizades e pela da Universidade para um melhor convivência. de Caxias do Sul desempenho. Um (UCS), as escolas deles é a falta de es- Para alguns, o precisam deixar clatímulo dos pais, que conhecimento ro que tipo de apoio costumam se afas- fica para esperam da família. tar da vida escolar depois”, diz “Não queremos que conforme os filhos Ivanete os pais ensinem ou crescem. “A família ajudem os alunos deve garantir quatro a fazerem as tarehoras de estudo diário ao aluno. fas de casa. O papel da família é Quando os pais incentivam o filho apostar na escola, acreditar nela e a sair mais cedo da aula para ir no demonstrar isso claramente. Um dentista, por exemplo, não estão segundo passo é a família ajudar a colaborando com isso”, diz Ivane- organizar as rotinas de estudo dos te Rocha de Miranda, supervisora filhos, principalmente os mais joescolar e vice-diretora da manhã. vens. Se a família consegue isso, “A função social da escola cresceu as crianças desenvolvem a atitude muito e ficamos com uma parce- de estudar e a levam para a juvenla muito maior da educação. Eles tude”, ressalta.

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André T. Susin/O Caxiense

Português, matemática e química são algumas das disciplinas com maior número de alunos em recuperação Ivanete acredita que ainda falte entendimento ao corpo docente sobre a realidade vivenciada pelos alunos. “A nossa clientela hoje é diferente. Eles não ficam parados na sala de aula olhando pra gente porque estão acostumados com a lógica da internet. O professor ainda precisa se atualizar para acompanhar esse ritmo”, reflete. Nilda acredita que a metodologia do professor merece investimento para reverter esse tipo de situação. “O modelo de aula com quadro, giz, leitura de livro e exercícios está falido, mas nós continuamos insistindo em usar essas metodologias”, avalia. A situação mais crítica no Emílio Meyer envolve as disciplinas de português, matemática e química, embora sejam as disciplinas que mais preocupam os alunos ao longo do ano. “O currículo é muito fragmentado para alunos que ainda não têm capacidade de globalização. Eles ainda não dão importância para as disciplinas voltadas à humanização”, reflete a vice-diretora, apontando as aulas que acabam banalizadas pelos estudantes. A comparação com os baixos índices de reprovação do ensino fundamental revela um dos principais motivos do problema no ensino médio. Todos os anos, o Emílio absorve alunos de outras instituições que não oferecem a última etapa do ensino básico. A adaptação ao sistema da nova escola nem sempre é superada

sem traumas, que se refletem no desempenho dos adolescentes. “Muitas vezes falta base para o ensino médio, vindos de escolas pequenas, com outros sistemas de avaliação. Aqui tem conteúdo a ser cobrado. Eles respeitam muito os professores, mas, como alunos, deixam a desejar”, analisa a diretora Janice Terezinha de Moraes. Daniela Zanchet Donida, 17 anos, mudou-se de Muçum para Caxias no começo do ano para ajudar a cuidar de um primo pequeno. Ao chegar no Emílio Meyer, o choque com os métodos do colégio foi imediato. “Lá era muito fácil. Aqui eu pensei que podia ficar sem fazer nada e matei aula o ano todo, então estava ciente que isso podia acontecer”, conta a jovem, que precisou fazer a prova final em quatro matérias. Daniela alterou drasticamente a rotina na semana dos exames, estudando até tarde da noite e acordando às 5h para revisar os conteúdos. “Estou preparada para qualquer coisa, mas quero ser aprovada, mesmo sabendo que não mereço. Agradeço por ter pego provão porque finalmente eu estudei. Se repetir, tudo bem também, porque quer dizer que eu realmente vou aprender.” A exemplo de Felipe e Bruna, Daniela também respirou aliviada ao saber que havia sido aprovada na avaliação final.

Fattori, lembra que o objetivo de resultado volte para o professor e qualquer escola é buscar o suces- ele possa avaliar as suas práticas so e o avanço do aluno. “Nunca e a organização das aulas”, sugere. estamos aqui para reprovar só por Entre as possibilidades de proreprovar. Cada escola tem que mover o avanço dos alunos na buscar um projeto pedagógico trajetória escolar definidas na Lei que traga resultados de Diretrizes e Bases positivos. É comum da Educação está a alunos chegarem “Muitas vezes progressão, adotada no ensino médio falta base para o pela rede municivindos de escolas ensino médio, pal. Nessa modalidiferentes com al- vindos de escolas dade, o aluno pode gumas dificuldades, cursar a série sepequenas, com e o projeto tem que guinte mesmo que contemplar essas outros sistemas não tenha atingido necessidades”, expli- de avaliação”, a média em até duas ca, apontando a pre- avalia a diretora disciplinas. Para sença dos pais, aulas Terezinha compensar, precisa de reforço e recufrequentar aulas e perações durante o prestar provas daano como maneiras de aumentar quelas matérias paralelamente as aprovações. aos novos conteúdos. Outro sisteA educadora Nilda explica que ma que beneficia o estudante do a avaliação tem o objetivo histó- ponto de vista da recuperação de rico de selecionar. “Não tinha es- conteúdos são os estudos de avapaço para todos na escola, então liação para alunos infrequentes, criaram-se mecanismos de classi- oferecidos para aqueles que não ficação. A quantificação com uma tiveram a presença mínima em nota ou com um conceito era sala de aula. Ou seja, não faltam para ver quem eram os mais aptos chances para o estudante busa seguir adiante. Com a reconfi- car a aprovação. “A pergunta que guração de uma série de questões fica é: isso está produzindo uma voltadas à educação, a avaliação geração de acomodados, porque como controle e com o caráter sempre vai ter uma alternativa? seletivo não tem mais sentido. Na Talvez seja algo para pensarmos, minha opinião, nenhuma repro- mas não quero acreditar que seja vação é positiva, mas não estou isso. Se estivermos fortalecendo dizendo que sou a favor da pro- essa ideia, teremos que revertê-la, moção automática. A finalidade porque a responsabilidade precisa da avaliação é fazer um diagnós- ser desenvolvida. Temos que cuiA titular da 4ª Coordenado- tico da situação de aprendizagem dar para não fortalecer a cultura ria Regional de Educação, Marta do aluno, de modo que aquele do ‘não dá nada’”, analisa Nilda.

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO

Edital de Citação de Interessados, Ausentes, Incertos e Desconhecidos - Usucapião 6ª Vara Cível - Comarca de Caxias do Sul

Prazo de: trinta (30) dias. Natureza: Usucapião. Processo: 010/1.08.0031019-8 (CNJ:.0310191-64.2008.8.21.00101. Autor: Iolmar Scussiatto e outros. Objeto: DECLARAÇÃO de domínio sobre o imóvel a seguir descrito. IMÓVEL: “uma área rural constituido por parte do lote rural nº 10 de Ala Direita da Linha Feijó Colônia Sertoriana, n/c, distando 9,00m da esquina da rua Cuiabá, com área de 15.836,33 m², sem benfeitorias, com as seguintes medidas e confrontações: ao Norte, por 343,95m com limite do perímetro urbano, quadra urbana n° 5515 do Lot. Ind. da empresa MZ Empr. Imob. Ltda; ao Sul, por igual 344,13m com outra parte do lote rural n° 10 de Gabriel Scussiato; a Leste, por 46,06m com área ocupada por Natalino Chinaider, Amauri Germann e Eloir Bruno Camargo, pertencente a quadra urbana n° 2881; e, ao Oeste, por 46,06m c/terras da ASsOciação dos Funcionários do Banco do Brasil.”. Prazo de quinze (15) dias para contestar, querendo, a contar do termino do presente Edital (Art. 232, IV, CPC), sob pena de serem presumidos como verdadeiros os fatos alegados pelo(s) autor(es). Caxias do Sul, 2 de dezembro de 2010. ESCRIVÃ: Zélia Thomasini. JUIZ: Maria Aline Fonseca Bruttomesso.

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André T. Susin/O Caxiense

Ângela Rigotto

Eberle

Desconhecidos da família podem entrar na tradicional Chácara Eberle sem convite desde 22 de junho de 2009. Foi quando Ângela Rigotto Eberle e sua irmã Ivana fundaram o Jardim do Chá, localizado na propriedade da família. Conforme Ângela, além de desfrutar as especiarias, o Jardim também é uma forma de abrir o patrimônio para todos os caxienses. O empreendimento oferece diferentes tipos de chá para consumo no local e vende chás importados e acessórios. Há um cardápio específico para crianças e até animais de estimação são bem-vindos.

Zica Stockmans

Há 25 anos no teatro – como aluna, atriz, professora, diretora e empresária – Zica deu seu maior passo neste ano.Em março, inaugurou o novo espaço da escola Tem Gente Teatrando, a Casa de Teatro. O investimento a longo prazo, em novas propostas de cultura e formação de plateia, tem dado retorno mais rápido do que o esperado. Só em novembro, durante o festival da escola, que realizou 20 sessões em um mês, a casa recebeu cerca de 1,2 mil pessoas. “Para assistir teatro!”, aplaude a atriz. Zica ainda arranja tempo para atuar, promover parcerias e fazer planos. Depois do surpeendente drama O Torto e Seu Duplo, ela trabalha em uma comédia para 2011. Zica surpreende sempre.

Juliana Rossa, Divulgação/O Caxiense

André T. Susin/O Caxiense

por Paula Sperb e Marcelo Aramis

Refreskata | Juntos no freezer, os caros e pe-

quenos Häagen-Dazs ficam constrangidos perto do melhor sorvete da cidade, vendido em baldes. Diversos tipos, recheados com generosos pedaços de chocolate, frutas e nozes, conforme o sabor, atraem filas aos finais de semana, na Avenida França, bairro Bela Vista. Ter em casa a variedade de um buffet custa menos do que ir ao próprio.

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Doce Docê | Além dos clássicos colegial, sundae e banana split, a Doce Docê oferece buffet de sorvetes artesanais com diferentes sabores, como Ferrero Rocher, iogurte com frutas vermelhas, e chocolate – dark (amargo), com avelã (giantuiella) e sem lactose. Um dos menores e melhores buffets da cidade, é também o que melhor investe na apresentação. Para comer com os olhos. O Caxiense

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Marcos Mantovani

Moby Dick, de Herman Melville, e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, são os livros preferidos do jogador de futsal da equipe Gruppo Sportivo Isef, de Nápoles, na Itália. Este é o quinto ano que Marcos vive na Itália – há quatro é casado com a jornalista Juliana Rossa. Em Caxias do Sul, atuou por seis temporadas no time da UCS. No Exterior, passou por times como Miracolo Piceno, B.P.P. Verona e Conti Lazio. É admirador das peças de Shakspeare e cita Ítalo Calvino para justificar sua preferência literária: “Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer.” Marcos escreve o que tem para dizer no blog www.entaovamospensar.blogspot.com desde setembro de 2009. Na estação de trem Guindazi, em Nápoles, no sul da Itália, o jogador-intelectual segura o tipo de presente que gosta de ganhar. “No meu aniversário, compre-me um clássico!”

Urca | Com pontos no Centro e nos bairros Cruzeiro e Bela Vista, a Urca se tornou popular pela melhor combinação cachorro-quente e sorvete (!?), respectivamente, a fome e a vontade de comer. Ambos, inclusive juntos, são uma boa dica em qualquer estação. Sorvelândia | Entre as mais antigas de Caxias, a Sorvelândia oferece buffet, casquinha e sorvete de máquina. A sorveteria da Sinimbu (esq. com Marechal Floriano) tem também o mais completo buffet de guloseimas, para alguns, tão importantes quanto o sorvete. Para as crianças, mais importantes.

Gelatti | No verão, a melhor sobremesa da praça de ali-

mentação do Shopping Iguatemi está na Gellati. Com buffet de sorvetes e ótimos acompanhamentos, a sorveteria pode, inclusive, elevar a sobremesa ao status de refeição.

Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.


Artes artes@ocaxiense.com.br

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LEGIÃO

por CLÁUDIO B. CARLOS (CC)

uma ruazinha estreita, pouco iluminada, de casas contíguas, de paredes úmidas e tijolos sem reboco, lá estava ELE, com o taco da bota direita encostado na parede, com as pernas formando um “quatro” aos olhos de quem o visse de perfil. Mas ninguém via. Exceto eu, que estava a seu lado sem ser visto. Lá estava ELE com o taco da bota encostado na parede. Eu o vi pegar os cigarros no bolso interno da sobrecasaca negra, bater com maço no indicador esquerdo, para dele retirar sua primeira porção de tabaco e nicotina da noite, que depois de acesa condensaria-se em fumaça e subiria em círculos ao calmo cume do firmamento apagado (não fossem as estrelas). Eu o vi jogar fora o toco do cigarro já quase no filtro amarelo e caminhar com as mãos nos bolsos sibilando tristemente as time goes by. Eu o vi seguir sobre o calçamento desnivelado daquela ruazinha estreita, pouco iluminada, de casas contíguas, de paredes úmidas e tijolos sem reboco. Eu vi o que ninguém viu naquela noite – de abril, se não me falha a memória – e caminhei ao seu lado sem ser visto e se tirassem uma foto não revelariam nada além de algumas manchas – sempre saímos assim nas fotos – e de um cordão de anjos que nos seguiam à distância tocando cítaras. Estavam sempre ali atrás de nós. Não víamos, mas sabíamos. Eram uns doze ou treze. Éramos todos de alguma forma invisíveis. ELE a todos menos a mim. Eu invisível a todos, inclusive a ELE (menos aos anjos). Os anjos invisíveis a nós (não a todos). Éramos naquela época uma espécie de semideuses meio-loucos, meio-embriagados, meio-vivos, quase-mortos, metadeamigos, meio-amantes. Hoje alguns de nós são poeira que o vento carrega ao bel-prazer. Outros (os mais evoluídos) onde não me incluo, pois peco sempre, viraram purpurina e esses não mais vimos. DELE não soube mais (nunca mais). Ficou entre o pó e a purpurina. Quem sabe seja luz (agora nítida) ao invés de mancha. Talvez agora até saia nos retratos. Eu vi o que ninguém viu naquela noite – de abril, se não me falha a memória. Enquanto ele sibilava tristemente as time goes by, deixava um rasto de estrelas pelo chão. Eu – somente eu vi –já que elas (as estrelas) eram invisíveis a todos menos a mim, e também não saíam nas fotos (nem como manchas). ELE sempre chorava estrelas frente a uma decisão importante...

Participe | Envie para artes@ocaxiense.com. br o seu conto ou crônica (no máximo 4 mil caracteres), poesia (máximo 50 linhas) ou obra de artes plásticas (arquivo em JPG ou TIF, em alta resolução). Os melhores trabalhos serão publicados aqui.

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Fábio Grison | Santa |

O tecido estendido no estúdio de Fábio tinha o objetivo de destacar volumes, sombras e a silhueta da modelo sem identificá-la. No mesmo ensaio, o artista fotografou um pedido de socorro, um corpo aprisionado, uma mulher sensual. Sem controle sobre a projeção de sombras e o contato do tecido com o corpo da modelo, as imagens mudavam de conceito a cada foto. De repente, as mãos se puseram simétricas, o rosto se ergueu ao céu, o tecido acomodou-se como um manto, o profano tornou-se sagrado. E Fabio fotografou uma aparição. 24 a 30 de dezembro de 2010

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Guia de Cultura Globo Filmes, Div. O Caxiense

Vinícius Guerra, Div. O Caxiense

por Carol De Barba | guiadecultura@ocaxiense.com.br

ta a história de uma executiva workaholic fica desempregada e, para continuar ganhando a vida junta-se a dona de um fracassado sex shop e passa a vender produtos CINEMA eróticos para mulheres, a domicíl Amor por Contrato | Dra- lio, com direito a demonstrações. ma. 14h15, 16h40, 19h10, 21h30 Dirigido por Roberto Santucci. (leg.) | Iguatemi 14 anos. 97 min.. Novos no bairro, os Jones são os vizinhos mais invejados. O casal AINDA EM CARTAZ – Aparee os dois filhos são bonitos e con- cida, o Milagre. Drama. 14h30. fiantes, a casa deles está cheia de Iguatemi | A rede social. Drama. móveis e aparelhos de luxo. Mas o 19h30 e 22h (leg.). Iguatemi. | As que parece ser a família perfeita, Crônicas de Nárnia – A Viagem na verdade é um grupo de funcio- do Peregrino da Alvorada. Avennários de uma empresa cuja nova tura. 13h30, 18h50, 21h20; 13h e estratégia de marketing indireto é 19h40, 15h e 20h (3D) dub. Iguainserir essas famílias perfeitas en- temi | Harry Potter e as Relíquias tre outras normais para que suas da Morte: Parte 1. Aventura. 16h vidas (e os produtos que fazem (dub.). Iguatemi | Megamente. parte dela) virem objeto de dese- Animação. 13h40, 15h40, 17h40 jo. Dirigido por Dirigido Derri- e 13h (3D) (dub.). Iguatemi | ck Borte. Com David Duchovny, TRON, o Legado. Ação. 17h30 Demi Moore e Amber Heard. 14 (dub.) e 22h20 (leg.) (3D). Iguaanos. 98 min.. temi. | Tropa de Elite 2. Policial. 16h50, 19h20, 21h50. Iguatemi. Recomenda l De pernas pro ar | Comé- INGRESSOS - Iguatemi: Segunda e quar(exceto feriados): R$ 12 (inteira), dia. 14h, 16h30, 19h, 21h40. | ta-feira R$ 10 (Movie Club Preferencial) e R$ 6 Iguatemi (meia entrada, crianças menores de 12 anos A produção nacional con- e sênior com mais de 60 anos). Terça-feira:

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R$ 6,50 (promocional). Sexta-feira, sábado, domingo e feriados: R$ 14 (inteira), R$ 12 (Movie Club Preferencial) e R$ 7 (meia entrada, crianças menores de 12 anos e sênior com mais de 60 anos). Sala 3D: R$ 22 (inteira), R$ 11 (estudantes, crianças menores de 12 anos e sênior com mais de 60 anos) e R$ 19 (Movie Club Preferencial). Horários das sessões de sábado a quinta – mudanças na programação ocorrem sexta. RSC-453, 2.780, Distrito Industrial. 3209-5910. As salas não abrem na sexta (24). | O UCS Cinema permanecerá fechado até 31 de janeiro. |

Havana Estação Férrea | 3224-6619

l Natal Pepsi Club | Sexta (24), 23h59 | A grande atração é o DJ e produtor italiano Manuel De La Mare, considerado um dos grandes nomes da música eletrônica mundial. Também tocam os residentes Léo Z e Elias Cappellaro. Na pista, imagens do VJ Gustavo e, no lounge, Saulo Campagnolo e Daniel. O flyer da festa dá desconto de R$ 5. Pepsi Club R$ 20 (feminino) e R$ 40 (mascuMÚSICA lino)| Vereador Mário Pezzi, 1450 l Natal Havana | Sexta (24), | 3419-0900 23h | Recomenda Além do DJ argentino Gustavo Bravetti, tocam os residentes da l Adíos 010 | Sábado (25), 23h | casa: Alibú, Flá Scola, Leandro Para encerrar a temporada de Veiga, Thobias Wolff, Fran Borto- shows e dar tchau a 2010, o Vagão lossi, Diego Oselame e Doxxo. Na bar abre o palco para as bandas madrugada, distribuição de san- que quiserem, puderem e estiduíches, pipoca, minidogs, gu- verem afim de se apresentar, enloseimas, picolés e palitinhos de cerrando com a apresentação da frutas. Ingressos para a pista va- Agente Ed. riam de R$ 25 a R$ 65, e camarote Vagão Bar de R$ 60 a R$ 290. Antecipados R$ 12 (nome da lista) e R$ 15 | Esno Havana, Original e Feel Own. tação Férrea | 3223-0007

Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.


1904 a 2010. NATAL Galeria do Ordovás Entrada franca | Luiz Antunes, l 1ª Feira de Natal do Arte321 | 3901-1316 sanato Caxiense | Diariamente, das 12h às 20h | AINDA EM EXPOSIÇÃO – Aos Quem deixou as compras de Mestres. Giovana Mazzochi e Natal para a véspera, ainda tem a Marcos Clasen. De terça a sába- chance de presenter com originado, a partir das 17h. Galeria do lidade. A feira encerra sexta (24). Moinho da Estação. 3221-4513 Participam diversas associações | Diversidade Cultural nos Tri- de artesãos da cidade. O Banco de lhos da História de Caxias do Vestuário de Caxias do Sul tamSul. Antônio Carlos Lorenzett. bém estará presente com uma exDe segunda a sexta, das 10h às posição de peças de confecção e 16h. Prefeitura de Caxias do Sul. tear. A feira tem estacionamento e 3218-6000 | Natal Luz da Vida. praça de alimentação, com cardáFrancielle Telles. De segunda a pio artesanal. domingo, das 8h às 20h. Sesc. Estação Férrea

Digo, Dub, Favelinha, Feio, Hauli, HP, Marcos, Melão e Ray mostram painéis de grafite sobre os centenários trilhos do Largo da Estação l Natal na Caverna | Sábado (25), 23h O bar farroupilhense promove uma grande jam session com os músicos das bandas da cidade. Entre eles, Vini Biazus (Vitrola Jam), Cristian Amarelo (Saci Pererê), Rafa Dal Bello (Lambretas), Mathias (New Wave Surf) e Bruno Couto (Hector Bonilla). Cavern R$ 10 (antecipado) e R$ 20 (na hora) | Rua 13 de Maio, 351 (Farroupilha) | (54) 3261-6859 Recomenda l Tributo ao The Who | Sábado (25), 20h | A Blackbirds sobe ao palco para homenagear uma das melhores bandas de rock de todos os tempos, que, atualmente (infelizmente), é mais conhecida pela trilha do seriado CSI. Jus Blackbird, Diogo F, Cassiano e Júlio Sasquatt não quebram os instrumentos mas interpretam os clássicos da banda de forma quase visceral. Vagão Classic R$ 12 (feminino) e R$ 15 (mas-

sippi. 3028-6149 | Terça (27): Fabrício Beck Trio. Rock. 22h. Mississippi. 3028-6149 | Quarta (28): Rafa e Tita. Rock. 22h. Mississippi. 3028-6149 | Quinta (28): Blackbirds. Rock.

3221-5233 | Identidades Simultâneas: imagens de um lugar ou de lugar qualquer. Simone Rosa. De segunda a sábado, das 10h às 19h30, e domingo das 16h às 19h. Catna Café. 3212-7348 | Mostra da Oficina de Artesanato do de Criúva. De segunda a sexta, das EXPOSIÇÕES 8h30 às 18h30, e sábado, das 8h30 l Mostra de Grafite Caxias às 12h30. Ipam. 3222-9270 | 100 Anos | até fevereiro Os painéis, dos grafiteiros Digo, TEATRO Dub, Favelinha, Feio, Hauli, HP, Marcos, Melão e Ray, mostram o l Oficina de Teatro para olhar do grupo sobre o centenário Crianças | De segunda a sexta, da cidade. Os painéis estão expos- das 9h às 12h e das 13h30 às 18h | tos ao longo do Largo da Estação As inscrições devem ser feitas Férrea, com visitação livre. pessoalmente na Unidade de TeEstação Férrea atro da Secretaria Municipal da Cultura. A oficina, direcionada l Tempo Revisitado | De ter- para o público de oito a 13 anos, ça a sexta, das 9h às 19h, sábado e será ministrada pela atriz Carla domingo, das 15h às 19h | Vanez. Haverá duas turmas (de Com 122 obras, selecionadas 17 a 28/01 e de 31/01 a 11/02), em pela curadora convidada Ode- dois turnos, com aulas de segunte Garbin, a exposição resume o da a sexta-feira. conteúdo do Acervo Municipal Unidade de Teatro de Artes Plásticas de Caxias do R$ 10 e R$ 5 (conveniados Sesc) | Sul (Amarp). Dividida por déca- Centro de Cultura Ordovás | 3901das, a exposição reúne obras de 1316 |

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Antônio C. Lorenzett, Div. O Caxiense

Recomenda culino), após às 22h | Júlio, 1343 | 3223-0616 l Lennon Z. and the Sickboys Trio | Sábado (25), 22h | TAMBÉM TOCANDO: SexLennon Z toma a frente do Si- ta (24): Rafa & Tita. Rock. 22h. ckboys Trio, do qual fazem parte Mississippi. 3028-6149 | DinaGus Sickboy, na guitarra, John Ir- mite Joe + DJ Eddy. Pop rock. land, no rabecão, e Mr. Bo Tié, na Abre às 20h e show começa à bateria. O trio incorpora as raízes 1h. Portal Bowling. 3220-5758 musicais do rockabilly, perfor- | Noche Buena 2010. Eletrônimances e figurinos da época. Para co. 23h59. La Barra. 3028-0406 | quem curte Elvis, Carl Perkins, Natal Sem Controle. Rock. 1h. Johnny Cash e Roy Orbison. Vagão Bar. 3223-0007 | DominMississippi go (26): Uncle Cleeds and J.A. R$ 10 (feminino) e R$ 15 (mascu- Harper. Blues. 20h. Mississippi. lino) | Moinho da Estação | 3028- 3028-6149 | Segunda (27): Me6149 lissa Orlandi e Duda Goldani. Jazz, R&B e Rock. 22h. Missis-

Entrada franca | Estacionamento da Estação Férrea (ao lado da Secretaria da Cultura) l Natal Brilha Caxias 2010 | Sexta (24) e sábado (25) são os últimos dias de programação no interior. Confira. Sexta (24): Fazenda Souza – Um Natal de Luz e Fartura. Missa do Galo, show de fogos e distribuição de balas pelo Papai Noel. Igreja Matriz e Praça | Santa Lúcia do Piaí – Natal Esperança 2010. Missa do Galo com encenação natalina, coral, músicos e show pirotécnico. 22h. Igrega Matriz. | Criúva – Divino Natal 2010. Missa do Galo. 21h. Igreja Matriz | Vila Cristina – Natal da Criança. Distribuição de caixas de bombons. 22h. CTG Galpão da Amizade. (Às 22h30, distribuição de doces e refrigerantes para as crianças no Armazém Nova Palmira | Sábado (25): Santa Lúcia do Piaí – Natal Esperança 2010. Missa de Natal com coral e músicos. 9h30. Igreja Matriz. |

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Originalidade natalina

Com cola quente, arame e 45 mil rolhas, Antonio Molin transformou o presépio em uma mini-cidade, que recebe visitantes o ano inteiro

ONDE MORA O MENINO JESUS

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por José Eduardo Coutelle jeduardo.coutelle@ocaxiense.com.br

primeira impressão revela uma vila inanimada. Sobre uma longa bancada de madeira, ergue-se uma miniatura de cidade composta inteiramente por rolhas. Quando o sol está se pondo e a energia elétrica é acionada, pequenos habitantes, que um dia estiveram presos aos gargalos de garrafas, ganham vida. O trem executa o seu pequeno percurso circular, um médico realiza uma cirurgia e um pescador tenta fisgar o alimento para o jantar. Toda a cidade é composta por aproximadamente 45 mil rolhas. Motores de espremedores de suco movimentam a vila e centenas de minúsculas lâmpadas iluminam todos os postes da mini-cidade. Assim como Geppetto, que esculpiu um tronco de pinheiro e deu vida a Pinóquio, Antonio Molin se tornou o pai de uma cidade inteira composta por rolhas. Ao contrário do artesão do conto italiano, Antonio não teve formação prática. A maior parte da vida trabalhou como atendente de recepção e garçom de um hotel em Ana Rech. Há 10 anos, teve a ideia de fazer um presépio de rolhas logo em seguida que algumas estátuas de gesso que decoravam sua casa no Natal foram roubadas. “Duvido que roubem presépios de rolha”, pensou ele na época. Antonio não se conteve em reconstruir apenas o cenário do nascimento de Jesus.

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Com cerca de 100 presépios, Ana Rech ilumina jardins para receber visitantes até o Dia de Reis, do jeito mais tradicional de comemorar o Natal

Atualmente, a cidade conta com infra-estrutura completa e até uma reprodução do teleférico do Pão de Açúcar. Todo o trabalho realizado na última década reflete uma caminhada de superação de Antonio. Aos 49 anos, o artesão se movimenta com dificuldade e caminha com o auxílio de uma bengala. A habilidade para criar obras de arte se contrasta à saúde frágil. Em 2009, ele sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) que o deixou por dois meses internado, longe do trabalho com as rolhas. Antônio conta que também foi vítima de um erro médico anteriormente. Segundo o artesão, a construção do hospital na pequena vila é uma lembrança ao médico que operou duas hérnias, e na cirurgia acabou cortando um nervo responsável pelo movimento da perna direita. Para reconstituir a cena, Antonio fez ironicamente um médico operando a facão. O hospital e todos os personagens dentro dele levaram pouco mais de 30 dias para ficarem prontos e foram utilizados aproximadamente de 2,5 mil rolhas. Um nova cirurgia e um novo médico devolveram a Antonio o movimento da perna. Desde os primeiros dias de exposição, milhares de pessoas vieram de várias partes do Brasil e do mundo para visitar a mini-cidade em movimento. Antonio contabiliza em livros de visita: três já preenchidos e o quarto na recepção.

em uma pequena rua, moradores sus no colo, dividem espaço com apresentam uma disposição espe- ovelhas de concreto, pequenos cial para comemorar o nascimen- pássaros, galinhas, anjos e uma to de Cristo. No canteiro lateral carroça de presentes guiada por da Rua Dom Timóteo, há 19 anos um Papai Noel. No centro, uma a auxiliar de enfermagem apo- pequena oca construída com arsentada Mari Dalla mação de metal reSanta, 55 anos, devela um berço reple“É difícil cora os manequins to de palha e musgo. que representam a passar alguém Ao anoitecer, este Sagrada Família no aqui em frente cenário ganha em cenário do primeiro de casa que encanto com a ilupresépio coletivo da minação. O conjunregião. “Na época não pare para to custou três dias pensamos em fazer olhar. Me seguidos de trabapresépios coletivos, orgulho lho e cerca de R$ 1 ao invés dos indi- muito disso”, mil de investimento. viduais, para que as conta Vanir Entretanto, o esforfamílias se reunisço não é um obstásem”, lembra Mari. culo para Vanir, que Ao lado dela, na última segunda- encontra nos olhares dos visitanfeira (20), outros moradores car- tes a verdadeira satisfação. “É diregavam toalhas de mesa, velas e fícil passar alguém aqui em frente um crucifixo para uma tradicio- de casa que não pare para olhar. nal missa de Natal, que costuma Me orgulho muito disso. No últireunir público além dos limites mo sábado (18) tinham 11 carros da rua. estacionados aqui na rua”. Vanir Camazola participa da O Papai Noel, que aparece discelebração todos os anos. Hoje, cretamente em Ana Rech, chega aos 54 anos, ela recorda que seu pontualmente no dia 25, presenmaior prazer na infância era auxi- teia os moradores da vila e vai liar a mãe na montagem do presé- embora na mesma noite. Os prepio. “Eu adorava as bolinhas. Mas sentes do Menino Jesus demoram minha mãe não deixava eu mexer mais. Até 6 de janeiro, Dia de porque elas eram muito sensíveis Reis, cerca de 100 presépios mone podiam quebrar.” Atualmente, tados na vila esperam também os Vanir se tornou um exemplo para visitantes. Vanir vai desmontar o o restante da família. Há 20 anos dela só no dia 7. O presépio de ela monta o presépio no jardim ao rolhas abre o ano inteiro. Fora de lado de casa, que chama atenção época, a mini-cidade para, mas, dos passantes pelo esmero. José, quando chegam os visitantes, os vestido com um manto marrom, personagens ganham movimento Não muito distante dali, e Maria, que segura o menino Je- e as luzem se acendem.

24 a 30 de dezembro de 2010

Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.


Dupla por FABIANO PROVIN Edgar Vaz, E.C. Juventude, Div./O Caxiense

Boa atuação

A partir do Natal, faltarão 22 dias para o início do Gauchão. E o Juventude tratou de programar uma série de amistosos para dar ritmo ao time. Já foram cinco testes, sendo quatro amistosos (o quinto foi disputado no final da tarde do dia 23, contra o Veranópolis, quando esta edição estava fechada). A goleada de 3 a 0 sobre a boa equipe do Novo Hamburgo me agradou. O grupo está longe do ideal, mas o meio-campo e o ataque se mostraram eficientes e tiveram calma até encaixar duas jogadas treinadas “exaustivamente”, como disse Beto Almeida após a partida, e marcar dois gols. Ambos anotados pelo atacante estreante Zulú. “A atuação foi mais importante do que o resultado. O Juventude vai melhorar muito ao longo da competição”, avisou Beto. Os destaques da partida, além de Zulú, foram o lateral esquerdo Alex Teles e o atacante Júlio Madureira.

TRATAMENTO

Os novos uniformes do Caxias fabricados pela paulista Kanxa estão à venda na loja Espaço Grená, junto ao Estádio Centenário, inclusive a camisa número 3, listrada. Solicitada por torcedores, a peça tricolor custa R$ 125 – sócios em dia têm desconto de 10%. No lado alviverde, a previsão é de que a Dalponte entregue até o dia 12 de janeiro o fardamento do Ju para a temporada 2011.

Fabiano Provin/O Caxiense

de LONGA DURAÇÃO

O ano de 2010 para o Juventude, além de ter sido catastrófico dentro de campo, trouxe alguns problemas para o departamento médico. Pelo menos seis atletas tiveram lesões graves até o final da disputa da Série C, um número considerado baixo nesta temporada. Segundo dados do departamento médico alviverde, houve redução de 60% – foram 13 lesões musculares, 13 articulares e três cirurgias. Em 2009, foram 37 musculares, 27 articulares e cinco cirurgias. Neste ano, o zagueiro Rafael Pereira rompeu totalmente os ligamentos do tornozelo esquerdo durante um treino no Centro de Formação de Atletas e Cidadãos (CFAC). Ele sofreu uma forte torção no dia 8 de setembro, teve a perna imobilizada e, após recuperar-se, foi reintegrado ao grupo – entrou no segundo tempo dos amistosos contra o Canoas e o Novo Hamburgo e iniciou a partida contra o Veranópolis. Só lhe falta ritmo. Outro zagueiro, Édson Borges, o Borjão, como é chamado pelos colegas, fortalece a parte física após ter rompido o tendão do tornozelo direito durante o CA-JU do dia 1º de agosto, válido pelos jogos de ida da fase classificatória da Série C. Ele passou por cirurgia e, aos poucos, retoma a rotina de treinamentos

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(foto acima). Em janeiro o jogador, que até então era titular, deve voltar a trabalhar com o grupo. O goleiro Follmann, promovido dos juniores, teve uma fratura em um osso da mão direita e já está recuperado. Em breve ele se começa a treinar com os colegas que participarão da Copa SP de Futebol Júnior. O meia Jander, durante amistoso com o Flamengo de Bento Gonçalves, no dia 12 de junho, torceu o joelho esquerdo e, desde então, não retornou mais aos gramados. O jogador passou por uma cirurgia nos ligamentos e atualmente faz um trabalho de reforço muscular – deve retornar a trabalhar com bola somente no final de fevereiro. Outro meia, Hiago, jovem promessa no Gauchão, fraturou a fíbula do tornozelo esquerdo no amistoso com o Lajeadense do dia 10 de setembro. Ao saltar para tentar cabecear a bola após a cobrança de um escanteio, Hiago se chocou com um adversário e depois bateu numa trave. Ele teve a perna imobilizada, recuperou-se, porém, precisará passar por uma cirurgia para corrigir o problema. Ou seja, ficará mais quatro ou cinco meses sem jogar. Por isso o vice-presidente de futebol, Raimundo Demore, frisa que o Ju procura um meia ofensivo – e um atacante.

O gramado do Centenário está sendo reformado desde o dia 18 de dezembro. Uma máquina perfurou o solo e os buracos foram preenchidos com areia para ampliar a capacidade de drenagem da água da chuva. Por três semanas serão feitos outros procedimentos para deixar o campo em condições de jogo. A estreia em casa pelo Gauchão será contra o Pelotas, dia 19 de janeiro, às 20h30.

Para o ataque

No dia 15 de dezembro, o vicepresidente de futebol do Caxias, Zoilo Simionato, disse que o tão esperado atacante que o clube busca para o Gauchão estaria com um pré-contrato assinado. “Sei o nome, mas não vou dizer. Isso aí é com o Marzotto”, despistou, referindo-se a um dos vices do presidente grená Osvaldo Voges, Volnei Marzotto. Este dirigente está na Espanha para tentar trazer o atacante Ariel, ex-Coritiba. É um bom jogador, mas não um atleta para “fechar aeroporto”, como dizem por aí. Confirmado no Caxias está Éverton (foto). Com contrato até o início de 2013, o atacante que foi destaque no Gauchão pela equipe grená campeã do Interior foi emprestado ao Inter (campeão da Libertadores) e depois ao Bahia (vice da Série B).

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O Caxiense

Rodrigo Fatturi, Ser Caxias, Div./O Caxiense

À venda

No lado do Caxias, somente um jogador se recupera de lesão. O zagueiro Neto, que já jogou no Ju, faz tratamento nos músculos da coxa direita para eliminar as dores. Ele ainda não participou da pré-temporada grená. O meia Diogo, que se apresentou depois do início dos treinamentos visando a preparação para o Gauchão, já reclamou de dores no púbis, mas está trabalhando normalmente com o grupo que goleou o Da Rocha por 6 a 0 no primeiro teste sob o comando do técnico Lisca (na tarde do dia 23 o Caxias enfrentou o Sindicato dos Atletas Profissionais do RS em jogo-treino).

Gramado reformado

Marcos Paraná

No final da Série C e do consequente rebaixamento à Série D, o recém-empossado vice de futebol do Ju, Raimundo Demore, confidenciou que chamou o meia Marcos Paraná (foto) e perguntou: “E agora?”. Não obteve resposta. Com contrato até 30 de novembro de 2011, o jogador quase foi negociado. “Ele conversou com o Beto e com a direção e pediu para ficar”, complementou Demore. No amistoso com o Novo Hamburgo, Marcos Paraná entrou no segundo tempo e deu boa movimentação à equipe. Se reencontrou o rumo, é bom jogador para o grupo.

Apenas uma baixa no Centenário

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Guia de Esportes

Edgar Vaz, Divulgação/O Caxiense

Rodrigo Fatturi, Divulgação/O Caxiense

por José Eduardo Coutelle | guiadeesportes@ocaxiense.com.br

Dupla CA-JU prossegue, nesta semana, com os amistosos da pré-temporada de preparação ao Gauchão 2011

FUTEBOL l Gre-Nal de Natal | Sábado, 16h | A comunidade do bairro Euzébio Beltrão Queiroz, conhecido como Zona do Cemitério, se reúne pelo sexto ano consecutivo para comemorar o Natal de um jeito bem brasileiro: jogando uma partida de futebol. O jogo será no campo do Enxutão. A disputa é realizada entre os torcedores do Grêmio e do Internacional, devidamente fardados com as camisas dos times do coração. Ao final da partida, independentemente do resultado, todos se reúnem para uma confraternização. Enxutão Entrada gratuita | Luiz Covolan, 1.560, Santa Catarina Recomenda l Juventude x Nacional-MA | Quarta (29), 18h30 | Após enfrentar o Novo Hamburgo e o Veranópolis, o time alviverde encara o Nacional de Manaus na próxima quarta-feira. Para o jogo, o treinador Beto Almeida poderá contar com as no-

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O Caxiense

vas contratações, que incluem o lateral esquerdo Anderson Pico, o volante Jardel e os atacantes Telê, Denílson, Alvaro e Zulú (que marcou dois gols na sua estreia, diante do Novo Hamburgo). O próximo adversário do Juventude é o principal time de futebol do Amazonas. O Nacional Futebol Clube foi fundado em 1913. Em quase um século de existência participou 14 vezes da elite do Campeonato Brasileiro. A equipe amazonense é a maior campeã do seu Estado: ao todo, conquistou 40 títulos. Para a disputa do amistoso, Beto Almeida deve repetir a escalação das últimas partidas e iniciar o jogo com: Jonatas; Fred, Umberto e Tiago Silva; Moisés, Jardel, Gustavo, Cristiano e Alex Teles; Denílson e Zulú (ou Júlio Madureira). Alfredo Jaconi Entrada gratuita | Hércules Galló, 1.547, Centro

feira, atletas e comissão técnica viajam a Canoas para enfrentar o time da cidade. O Canoas – ex-Ulbra e ex-Universidade – foi derrotado recentemente por 1 a 0 pelo Juventude, o que pode servir de motivação. No primeiro jogotreino desta pré-temporada, na estreia do técnico Lisca, a equipe grená venceu o Da Rocha por 6 a 0, em partida realizada no Estádio Homero Soldatelli. Para o jogo contra o Canoas, as novas contratações terão oportunidade: o goleiro André Sangalli, o lateral direito Patrício, o zagueiro Edson Rocha, os volantes Bruno e Felipe e o atacante Waldison. O atacante Everton retornou do empréstimo para o Internacional e também estará à disposição de Lisca. O jogador foi uma das peças fundamentais do Caxias sob o comando de Julinho Camargo no Campeonato Gaúcho do ano passado. Para este amistoso, a tendência é que Lisca mantenha a equipe titular dos últimos jogos, composta por: Matheus; Alisson, Édson Rocha, Marcelo Oliveira e Edu Silva; Marcos Rogério, Itaqui, Edenílson e Rodrigo Paulista; Pel Caxias x Canoas | Quinta dro Henrique e Waldison. (30), 16h | Complexo Esportivo da Ulbra Descanso para a equipe grená, Entrada gratuita | Miguel Tostes, só na virada do ano. Na quinta- 101, Canoas

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INCENTIVO l Inscrições do Fundel | Até dia 28 de janeiro | As inscrições para o Fundo Municipal de Desenvolvimento de Esporte e Lazer (Fundel) estão abertas desde o dia 15 de dezembro e encerram-se no dia 28 de janeiro. O Fundel, financiamento da prefeitura realizado pela Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (Smel), destina-se a prestar apoio financeiro aos projetos esportivos da cidade. Para 2011, o orçamento do programa será de R$ 1.373,540. Os interessados podem obter mais informações sobre a legislação específica e os formulários a serem preenchidos no site www.caxias.rs.gov.br ou diretamente na Smel, das 10h às 16h. Em 2010, 158 projetos foram inscritos e 135 foram beneficiados. Vale lembrar que são processados no máximo 20 projetos por dia, que serão atendidos pela ordem de chegada. Secretaria de Esporte e Lazer Vinte de Setembro, nº 2.721, São Pelegrino | Para mais informações: 3215-5838

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Renato Henrichs renato.henrichs@ocaxiense.com.br

Presente de Natal

A Secretaria de Recursos Humanos e Logística abriu concurso público para provimento de cargos na administração municipal. Com o concurso, a prefeitura tenta dar uma solução à crise na rede pública de saúde na cidade. Há 22 novas vagas para médicos: 12 para profissionais de clínica geral, duas para endocrinologista, duas para neurologista pediátrico, duas para pediatra e mais duas para radiologista. As inscrições abrem neste dia 24 de dezembro. Um presente de Natal para os interessados – e para a população.

O BALANÇO

DA CÂMARA

O vereador Renato Nunes (PRB) é o campeão de projetos apresentados este ano na Câmara Municipal. O total de propostas do parlamentar chega ao expressivo número de 24 – sem qualquer proposição de denominação de ruas. Outros vereadores apresentaram mais projetos, mas entre eles encontram-se indicações de nomes de ruas. É um exagero classificar de projeto uma proposta para batizar vias e logradouros da cidade. A líder do governo Geni Peteffi (PMDB) protocolou 33 projetos na Câmara este ano. Exatos 26, porém, são de denominações de

ruas. Denise Pessôa (PT) e Mauro Pereira (PMDB) empataram: ambos apresentaram 17 projetos. Mas, do total, 21 também dão nomes a vias da cidade (sete de Denise e 14 de Mauro). O vereador que apresentou menos projetos? Renato Oliveira (PC do B): uma proposta registrada.

Três nomes estão cotados para o cargo do diretor geral da Câmara de Vereadores. É muito provável que o presidente eleito Marcos Daneluz (PT) – foto abaixo – escolha um destes três nomes: Guiovane Maria, Ladir Brandalise e Airton Ciro de Carvalho. Pela capacidade articuladora e experiência como vereador, o professor Airton (que acompanhou Daneluz na troca do PSB pelo PT) reúne mais chances.

Quebrando um tabu, a Câmara teve um ano produtivo sob o comando de Moisés Paese (PDT). Foram 281 projetos registrados, sendo que 75 provenientes do Executivo municipal. Desse total, 236 mereceram deliberação.

Futuros servidores

O concurso prevê vagas para arquitetos, assistentes sociais, contadores, engenheiros agrônomo, odontólogos, fisioterapeutas e stécnicos em segurança de trabalho. Professores também estão sendo chamados para concurso mas, neste caso, apenas para preencherem um cadastro de reserva. A boa notícia para os futuros aprovados: eles terão salários acima da média, estabilidade no emprego e aposentadoria sem as perdas a que são submetidos os segurados do INSS.

Demagogia salarial

Ganharam contornos de oportunismo e demagogia as manifestações de vereadores a respeito do aumento concedido aos próprios salários pelos senadores, deputados federais e estaduais. As declarações de que jamais aceitariam tal reajuste são desnecessárias. Os vereadores sabem que, por força da Lei Municipal 6.842, de julho de 2008, o salário deles só pode ser corrigido de acordo com a inflação do período.

Estado-Maior

Única presença de um caxiense (ao menos por força do título concedido pela Câmara de Vereadores) junto ao escalão do governo Dilma Rousseff (PT): general José Carlos De Nardi. Tudo indica que o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas permanecerá no cargo, a convite do reconduzido ministro Nelson Jobim, da Defesa, e da própria presidente eleita. O general De Nardi coordena as ações em conjunto do Exército, da Marinha e da Aeronáutica – inclusive nas operações que são realizadas em morros do Rio de Janeiro.

Diretor geral

André T. Susin/O Caxiense

A União das Associações de Bairros (UAB) defendeu reajuste menor da passagem do transporte coletivo urbano. A diretora de mobilidade urbana, Ticiana Revosco, criticou o novo valor. Para ela, o reajuste busca recuperar as perdas da Visate com a gratuidade concedida aos idosos. Só esqueceu que, dentro dessa linha de raciocínio, o passe livre para presidentes das associações de bairros também pesa na definição do valor da passagem.

Maicon Damasceno/O Caxiense

Passe livre

Contra o fumo

Trabalhador não tem que pagar pela gratuidade no domingo de passe de livre e pelos aposentados que querem passear de ônibus Eder Dal’Lago, Presidente do Conselho Municipal de Trânsito e Transportes, sobre a necessidade de uma revisão nos benefícios do transporte coletivo.

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Batida da Secretaria de Urbanismo em bares e casas noturnas detectou que a casa melhor preparada hoje para cumprir a nova lei antibagismo é o Boteco 13. O empreendimento de Valmor Berzaghi, o Cabeça, tem um circuito interno de TV onde procura orientar clientes para a proibição do fumo. Outro dado da secretaria: o restaurante Casa di Paolo é o único a ter, já em operação, um fumódromo. Aliás, áreas públicas não podem ter fumódromos. 24 a 30 de dezembro de 2010

O Caxiense

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