Nação
Tantos olhos
Tantas luzes
Tantas ruas
Tantas nuas Cidades.
Paralelos
Ruas descalças da vida
Traçado vazio Pedra por pedra frias nuas à contemplação confortam os olhos das pegadas esparsas boêmias
prostitutas amantes da noite
Testemunha da dor acelerada do atrito da pressa da leveza infantil da sutileza mulher
Rastros de borracha
Bicicletas carroças carros de mão...
Tudo ao vento
Pedra por pedra aguardam um novo momento.
Mão da educação Papel casca lata saco... Talvez arroz feijão por sorte um mijão do beijo da saliva do nojo lágrima da dor suor do peso peso da gula migalhas da fome calcinhas multicores
Bêbedos
Noite lua
estrelas... Almas
Algumas reprimidas
Outras perdidas
Ruas praças becos
Dia e noite e dia Gangorra
Balanço da vida
Cai ou não cai
E cai
Cabeça pra baixo
Banco da praça
Janela do bacurau
Mureta do cais
Baba Gota a gota Inunda Medo tristeza
angústia...Solidão Poças
Cidade molhada De nojo
Abrigo da vaidade
Pés lavados no chão
Passos cruzados
Ziguezague
Cantigas
Sofridas trêmulas
Ultrapassam janelas
Do tempo
Cruzam ruas
Carro
Alta velocidade
Só lamento
Cruzamento
Despacho
Mais um gole
Pro santo
Suplício
Anônimo
Mente em descanso
Mais um dia.
Becos e ruelas
Sombrio lento
Falas
Sorrisos ao vento
Vestígios do sol
Agora
Lamentos
Solidão
Passos ligeiros
Olhos atentos
Pressa do medo
Cigarro lua cheia... Lampião
Luz do rastro
Pegadas alheias
Passo a passo
Esquina a esquina
Beco ruela menina
De longe Música
Nostalgia
Do tempo... Do dia
Que o beco irradia
Ruela
Menina mulher
Madura donzela
Varal
Roupas
Flagrante da vida
Por trás das paredes
Na frente
Por vezes
Agachada
Despercebida
Borra da massa
Escória da vida
Tijolos pedras concretos
Paredes frias
Confinam o espaço
Visão
Gradil janela porta... Mureta
Manobras estreitas
Boteco
Mesa... Vazia
Cabisbaixo
Retrato do dia
Copo cheio
Cólera
Remorso
Desejo... E o cheiro
Ânsia
Fuga
Vômitos... Dejetos do dia.
Bares botecos etc e tal
Mulheres homens jovens maduros
Solidão coletividade
Por tudo por nada
Portas janelas abertas pra rua
Despidas do pudor
Olhos seletivos
Luzes sons
Silêncio vazio
Cores movimentos
Gritos sussurros
Gargalhadas
Abrigo seguro
confuso obscuro
Encontros
desencontros
Ilusões verdades
Mentiras fantasias
Sobrevivência
Angústia
Falsa harmonia
Simplesmente orgia.
Anônimos
Em cada esquina descortinam
quatro retratos 3x4
Liberdade beleza
Crueldade mentira
Verdade incerteza
Fome alegria
Amor desespero
Excesso de zelo
Paixão ou desejo
Em cada esquina descortinam
quatro retratos 3x4
No passo do tempo
tempo do acaso
balanço das ondas
retrato falado
Balanço das ondas
nas ondas do acaso
retrato falado
Em cada esquina descortinam quatro retratos 3x4
Colorido preto e branco
Sépia desbotado
Envelhecido retocado
Editado e restaurado
Em cada esquina descortinam quatro retratos 3x4
Capitalismo apartheid
Nazismo cacheado Liso rastafári
Raspado enrolado
Em cada esquina descortinam quatro retratos 3x4.
Prostitutas
Cabelos ao vento
Batons
Olhos atentos
Sorriso nuclear
Saias
Vestidos
Blusas
Preta vermelha branca... Lilás
Afeiçoam
Curvas e retas
Estrada deserta
Moldura
Arrojada
Quase nada
Às vezes tudo
Ateliê de calçada
Formas e estilos
Do clássico ao abstrato
Figurativo humano
Natureza morta
Por trás da tela
Realismo
Em preto e branco
Passadas altas
Abertas fechadas
Esquina porta
janela calçada
Com roupa
Ou nada
Pela fome de comer
Pela sede de beber
Tudo
Ou nada
Entre si
Por elas... Por eles E o olhar?
Azul verde marrom... Preto Às vezes pintado.
Esquadrias
Janelas e portas travadas solitárias
frente a frente cor a cor
ofuscadas
poeira fumaça pichadas
Janelas e portas chapadas cor a cor revelam fachadas cara a cara lado a lado pichadas
Portas e janelas fechadas pro mundo abertas pra vida no descansar no trabalhar no meditar da insônia vida a vida cor a cor pintadas desbotadas envelhecidas...Pichadas
Venezianas sombrias olhos invisíveis observam o nada de dentro pra fora o nada cara a cara janelas e portas pichadas
Vidros lembranças do olhar de fora pra dentro vazio do vento reflexos do luar abraçam grades da insegurança que avança a cada olhar frear falar
sorrir... Simplesmente existir.
Fontes e bicas
Banho indigente
Gole anônimo
Repouso enamorado
De súbito no largo
No pátio
Na praça
A graça
O brilho noturno
A leveza
Gotejamento Embala Expressão
Do desejo Concreto Pedra Sobre pedra Escultura
Viva
Na solidão noturna Convida
Para um diálogo
Limpo Só meu
Ou seu
Sem porquês Livre
E ela
Firme
Só ouvidos
Toda mulher
Despida de preconceito
Musa da cidade
Água na solidez urbana
Refresca sentimentos Naufraga Tristeza e dor Banha
Formas vivas
Humaniza o vazio Preenche a solidão Noturna
Solteira casada... Viúva.
Luar
Reflexo do desejo
Ilumina o olhar
Porta poste pilar
Ciúme de cachorro
Esquina... De quina
Lado a lado
Ambos vigiados
Cada canto um lugar
Casais
Bancos praças canteiros
Coretos luz de candeeiro
Sinfonia circular
Cais rio mar
Adros templos barrocos
Abraços românicos
Próximo do altar
Testemunho ocular oculto
Confiável segredo
Árvores folhas
Gramados
Estrelas cada caso um luar
Bicas fontes
Transbordam desejo
Becos ruelas... Escuras
Olhos de gatas
Venezianas a espiar
Escadarias
De cá pra lá
Degrau por degrau
Pés
Agora nádegas
Cada passo um lugar
Esculturas vivas
Cansadas sofridas
Aliviadas
Teatros
Portas fechadas
Peça na rua
Cada um na sua
Calçada
Deserto do medo
Segredo do beijo Aos pés a cidade... Nua Quase sua e deles
Tudo em volta Abandono Poesia
Canção
Só para nós... E eles Em breve O sono.
Bacurau
Fadiga trampo orgia boêmia Mulher homem Sentados em pé observam o vazio em movimento em si em tu em nelas em neles na rua
Dorme anonimamente ao lado do ponto longe do medo da violência sombria quem já não espia em que ônibus iria
Moto envenenada
Taxista na segunda
Ônibus na parada
Alguns de cabeça virada pro lado pra baixo pra cima... Já em casa
Travesseiro lençol cama... Tudo ao vento
Alguns olhos assustados cabeça ao vento
Outros tensos cabeça na culpa
na distância... Na fome
No ponto queixas bafos fumaça coceiras palavrôes e até risos Xingamentos
Fora de tempo bala perdida
Na rua sirenes sirenes... Sirenes. a si a mim a tu a eles... A tudo
Vândalos
Ermo
Refúgio do medo
Adrenalina do ócio
Pegadas mudas
Cidade surda e cega
Aos olhos da noite
Ferida
Cidade Suporte da vaidade Oprimida Rupestre urbano Contemporâneo Que ano? Hoje
Coragem vazia
Cidade ferida
A pau a pedra a ferro a cor
Arte urbana
Alvo comum
Tiro sem direção
Tradução da exclusão
Convulsão social
Tudo é alvo
Porta parede janela... Ruela Igreja mureta poste... Retreta
Boteco barraca Calçada
Mancha do grito
Eu existo
Expressão do desejo da vaidade
Desespero da afirmação
Entre iguais
Ou desiguais
Superação
Parede pichada
Alma lavada
E o sol
Só a iluminar.
Mendigos
Banco
Gramado
Soleira
Calçada
Tudo é cama
Marquise
Ponte
Viaduto
Coreto
Tudo é casa
Papelão
Revista
Lona
Jornal
Tudo forra
Antes a busca
Porta em porta
Corpo a corpo
Rua em rua
Praça em praça
Vira lata
Bares e botecos
Porta em porta
Mesa em mesa
Pela sobra
Lado a lado
Disputa espaço
Cachorro e gato
Depois o sono
Na cama o nojo
Do dia
Homens mulheres crianças
Invisíveis
Cegueira elitista
Extermínio nazista
Porta de igreja
Casa e trabalho
Refúgio da vida À vista
Materialista
Alguns
Gemidos choros... Rezas
Aflição da dor
Outros
Inertes
Excluídos de si
Deles de nós mesmos
Excrementos
Cordão de isolamento
Do gueto burguês
Baratas
Ratos
Crime social
Ao longo do tempo
Um de cada vez
Arte em toda parte
Agachados
Esculturas humanas
Composição noturna Instalações contemporâneas
Arte social.
Esquinas
Famosas
Anônimas
Encontro de paredes De quinas
Águas
Ladeiras Avenidas
Becos
Surpresa na virada
Cara a cara Barraco
Colonial Casebre Neoclássica Art déco
Moderna Contemporânea Silêncio nas fachadas.
Agradecimentos
Deus Meus pais Adriana Petros Ruana
Espaço Firo Gravura
Textos e Formas
Madrugadas urbanas é a obra inaugural da série Textos e Formas, de Firo Gravura.
A primeira versão desta obra, no formato físico, foi produzida em Olinda/PE no ano de 2012.
Artes, textos e projeto gráfico: Firo Gravura
Participação de Petros Brandão no texto Nação
Madrugadas urbanas