Madrugadas urbanas

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Madrugadas urbanas

Firo Gravura

Madrugadas urbanas

JoséOdilodeCaldasBrandãoFilho

(Firo Gravura)

Ofereço em forma de abraço a todas as pessoas

Em especial

A meus Pais (em memória), a todos os meus irmãos, a minha esposa Adriana e aos meus filhos Petros e Ruana.

A dimensão e o alcance da poesia expressa no ambiente urbano revela o quanto a vida humana vem se distanciando do ambiente natural. A correlação entre a vida humana e o cenário urbano é de tal ordem que o inerte adquire vida através das vidas ali vividas ou ali consumidas.

TEXTOS Nação

Paralelos Bêbedos

Becos e ruelas

Bares botecos etc e tal Anônimos

Prostitutas

Esquadrias Fontes e bicas Casais Bacurau

Vândalos Mendigos Esquinas

Nação

Tantos olhos

Tantas luzes

Tantas ruas

Tantas nuas Cidades.

Paralelos

Ruas descalças da vida

Traçado vazio Pedra por pedra frias nuas à contemplação confortam os olhos das pegadas esparsas boêmias

prostitutas amantes da noite

Testemunha da dor acelerada do atrito da pressa da leveza infantil da sutileza mulher

Rastros de borracha

Bicicletas carroças carros de mão...

Tudo ao vento

Pedra por pedra aguardam um novo momento.

Mão da educação Papel casca lata saco... Talvez arroz feijão por sorte um mijão do beijo da saliva do nojo lágrima da dor suor do peso peso da gula migalhas da fome calcinhas multicores

Bêbedos

Noite lua

estrelas... Almas

Algumas reprimidas

Outras perdidas

Ruas praças becos

Dia e noite e dia Gangorra

Balanço da vida

Cai ou não cai

E cai

Cabeça pra baixo

Banco da praça

Janela do bacurau

Mureta do cais

Baba Gota a gota Inunda Medo tristeza

angústia...Solidão Poças

Cidade molhada De nojo

Abrigo da vaidade

Pés lavados no chão

Passos cruzados

Ziguezague

Cantigas

Sofridas trêmulas

Ultrapassam janelas

Do tempo

Cruzam ruas

Carro

Alta velocidade

Só lamento

Cruzamento

Despacho

Mais um gole

Pro santo

Suplício

Anônimo

Mente em descanso

Mais um dia.

Becos e ruelas

Sombrio lento

Falas

Sorrisos ao vento

Vestígios do sol

Agora

Lamentos

Solidão

Passos ligeiros

Olhos atentos

Pressa do medo

Cigarro lua cheia... Lampião

Luz do rastro

Pegadas alheias

Passo a passo

Esquina a esquina

Beco ruela menina

De longe Música

Nostalgia

Do tempo... Do dia

Que o beco irradia

Ruela

Menina mulher

Madura donzela

Varal

Roupas

Flagrante da vida

Por trás das paredes

Na frente

Por vezes

Agachada

Despercebida

Borra da massa

Escória da vida

Tijolos pedras concretos

Paredes frias

Confinam o espaço

Visão

Gradil janela porta... Mureta

Manobras estreitas

Boteco

Mesa... Vazia

Cabisbaixo

Retrato do dia

Copo cheio

Cólera

Remorso

Desejo... E o cheiro

Ânsia

Fuga

Vômitos... Dejetos do dia.

Bares botecos etc e tal

Mulheres homens jovens maduros

Solidão coletividade

Por tudo por nada

Portas janelas abertas pra rua

Despidas do pudor

Olhos seletivos

Luzes sons

Silêncio vazio

Cores movimentos

Gritos sussurros

Gargalhadas

Abrigo seguro

confuso obscuro

Encontros

desencontros

Ilusões verdades

Mentiras fantasias

Sobrevivência

Angústia

Falsa harmonia

Simplesmente orgia.

Anônimos

Em cada esquina descortinam

quatro retratos 3x4

Liberdade beleza

Crueldade mentira

Verdade incerteza

Fome alegria

Amor desespero

Excesso de zelo

Paixão ou desejo

Em cada esquina descortinam

quatro retratos 3x4

No passo do tempo

tempo do acaso

balanço das ondas

retrato falado

Balanço das ondas

nas ondas do acaso

retrato falado

Em cada esquina descortinam quatro retratos 3x4

Colorido preto e branco

Sépia desbotado

Envelhecido retocado

Editado e restaurado

Em cada esquina descortinam quatro retratos 3x4

Capitalismo apartheid

Nazismo cacheado Liso rastafári

Raspado enrolado

Em cada esquina descortinam quatro retratos 3x4.

Prostitutas

Cabelos ao vento

Batons

Olhos atentos

Sorriso nuclear

Saias

Vestidos

Blusas

Preta vermelha branca... Lilás

Afeiçoam

Curvas e retas

Estrada deserta

Moldura

Arrojada

Quase nada

Às vezes tudo

Ateliê de calçada

Formas e estilos

Do clássico ao abstrato

Figurativo humano

Natureza morta

Por trás da tela

Realismo

Em preto e branco

Passadas altas

Abertas fechadas

Esquina porta

janela calçada

Com roupa

Ou nada

Pela fome de comer

Pela sede de beber

Tudo

Ou nada

Entre si

Por elas... Por eles E o olhar?

Azul verde marrom... Preto Às vezes pintado.

Esquadrias

Janelas e portas travadas solitárias

frente a frente cor a cor

ofuscadas

poeira fumaça pichadas

Janelas e portas chapadas cor a cor revelam fachadas cara a cara lado a lado pichadas

Portas e janelas fechadas pro mundo abertas pra vida no descansar no trabalhar no meditar da insônia vida a vida cor a cor pintadas desbotadas envelhecidas...Pichadas

Venezianas sombrias olhos invisíveis observam o nada de dentro pra fora o nada cara a cara janelas e portas pichadas

Vidros lembranças do olhar de fora pra dentro vazio do vento reflexos do luar abraçam grades da insegurança que avança a cada olhar frear falar

sorrir... Simplesmente existir.

Fontes e bicas

Banho indigente

Gole anônimo

Repouso enamorado

De súbito no largo

No pátio

Na praça

A graça

O brilho noturno

A leveza

Gotejamento Embala Expressão

Do desejo Concreto Pedra Sobre pedra Escultura

Viva

Na solidão noturna Convida

Para um diálogo

Limpo Só meu

Ou seu

Sem porquês Livre

E ela

Firme

Só ouvidos

Toda mulher

Despida de preconceito

Musa da cidade

Água na solidez urbana

Refresca sentimentos Naufraga Tristeza e dor Banha

Formas vivas

Humaniza o vazio Preenche a solidão Noturna

Solteira casada... Viúva.

Luar

Reflexo do desejo

Ilumina o olhar

Porta poste pilar

Ciúme de cachorro

Esquina... De quina

Lado a lado

Ambos vigiados

Cada canto um lugar

Casais

Bancos praças canteiros

Coretos luz de candeeiro

Sinfonia circular

Cais rio mar

Adros templos barrocos

Abraços românicos

Próximo do altar

Testemunho ocular oculto

Confiável segredo

Árvores folhas

Gramados

Estrelas cada caso um luar

Bicas fontes

Transbordam desejo

Becos ruelas... Escuras

Olhos de gatas

Venezianas a espiar

Escadarias

De cá pra lá

Degrau por degrau

Pés

Agora nádegas

Cada passo um lugar

Esculturas vivas

Cansadas sofridas

Aliviadas

Teatros

Portas fechadas

Peça na rua

Cada um na sua

Calçada

Deserto do medo

Segredo do beijo Aos pés a cidade... Nua Quase sua e deles

Tudo em volta Abandono Poesia

Canção

Só para nós... E eles Em breve O sono.

Bacurau

Fadiga trampo orgia boêmia Mulher homem Sentados em pé observam o vazio em movimento em si em tu em nelas em neles na rua

Dorme anonimamente ao lado do ponto longe do medo da violência sombria quem já não espia em que ônibus iria

Moto envenenada

Taxista na segunda

Ônibus na parada

Alguns de cabeça virada pro lado pra baixo pra cima... Já em casa

Travesseiro lençol cama... Tudo ao vento

Alguns olhos assustados cabeça ao vento

Outros tensos cabeça na culpa

na distância... Na fome

No ponto queixas bafos fumaça coceiras palavrôes e até risos Xingamentos

Fora de tempo bala perdida

Na rua sirenes sirenes... Sirenes. a si a mim a tu a eles... A tudo

Vândalos

Ermo

Refúgio do medo

Adrenalina do ócio

Pegadas mudas

Cidade surda e cega

Aos olhos da noite

Ferida

Cidade Suporte da vaidade Oprimida Rupestre urbano Contemporâneo Que ano? Hoje

Coragem vazia

Cidade ferida

A pau a pedra a ferro a cor

Arte urbana

Alvo comum

Tiro sem direção

Tradução da exclusão

Convulsão social

Tudo é alvo

Porta parede janela... Ruela Igreja mureta poste... Retreta

Boteco barraca Calçada

Mancha do grito

Eu existo

Expressão do desejo da vaidade

Desespero da afirmação

Entre iguais

Ou desiguais

Superação

Parede pichada

Alma lavada

E o sol

Só a iluminar.

Mendigos

Banco

Gramado

Soleira

Calçada

Tudo é cama

Marquise

Ponte

Viaduto

Coreto

Tudo é casa

Papelão

Revista

Lona

Jornal

Tudo forra

Antes a busca

Porta em porta

Corpo a corpo

Rua em rua

Praça em praça

Vira lata

Bares e botecos

Porta em porta

Mesa em mesa

Pela sobra

Lado a lado

Disputa espaço

Cachorro e gato

Depois o sono

Na cama o nojo

Do dia

Homens mulheres crianças

Invisíveis

Cegueira elitista

Extermínio nazista

Porta de igreja

Casa e trabalho

Refúgio da vida À vista

Materialista

Alguns

Gemidos choros... Rezas

Aflição da dor

Outros

Inertes

Excluídos de si

Deles de nós mesmos

Excrementos

Cordão de isolamento

Do gueto burguês

Baratas

Ratos

Crime social

Ao longo do tempo

Um de cada vez

Arte em toda parte

Agachados

Esculturas humanas

Composição noturna Instalações contemporâneas

Arte social.

Esquinas

Famosas

Anônimas

Encontro de paredes De quinas

Águas

Ladeiras Avenidas

Becos

Surpresa na virada

Cara a cara Barraco

Colonial Casebre Neoclássica Art déco

Moderna Contemporânea Silêncio nas fachadas.

Agradecimentos

Deus Meus pais Adriana Petros Ruana

Espaço Firo Gravura

Textos e Formas

Madrugadas urbanas é a obra inaugural da série Textos e Formas, de Firo Gravura.

A primeira versão desta obra, no formato físico, foi produzida em Olinda/PE no ano de 2012.

Artes, textos e projeto gráfico: Firo Gravura

Participação de Petros Brandão no texto Nação

Madrugadas urbanas

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