Refúgio, o mundo todo

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Refúgio, o mundo todo Firo Gravura



Refúgio, o mundo todo José Odilo de Caldas Brandão Filho

(Firo Gravura)



Ofereço em forma de abraço a todas as pessoas

Em especial Meus Pais (em memória), todos os meus irmãos, minha esposa Adriana e meus filhos Petros e Ruana.


O mundo paralelo, fruto do exercício da liberdade mental, permite visitas ao impensado que contribuem para a organização da capacidade de compreender as diferenças, inclusive, as verdades individuais e coletivizadas. Firo Gravura


TEXTOS Nudez Dialética Diálogo Transfiguração Superstição Parafuso Permanente vascular cerebral Insônia Ambiência Imersão Ánsia Delírio Todos nós Conforto Vaidade Sem título Baque Âmago Lira Misericórdia! No limite, o desejo Revolução cibernética Caboco


Nudez

Na sombra do olhar descanso meu eu Sol a sol Olhar a olhar Preferências cansadas Alegrias enfartadas Sombra aos pés descalços do tempo fincados no momento desprovidos de zelo Que gelo? Do ócio do óbvio da vaidade...

Teatro do mundo Espelho do acaso Por eu Por mim No meio do nada.


Dialética A arte dorme e ressuscita A cada momento a cada instante e a cada preguiça Rua rebento Sem teto sem tempo Pintura escultura Gravura da cena Cenário real

No passo da vida Palhaço artista Magia da fome Do medo do ócio Perna de pau Palhaço da arte da vida sem tinta Bobo da corte Teatro de arena Que cumpre pena Piedade e perdão


Pedaço de trapo Chapéu de marreta Descida e descida Gangorra da vida Circo na lona Perna de pau

Becos esquinas Atores palhaços Boneco oficina Ruelas favelas Dança mercado Perna de pau A arte dorme e ressuscita A cada momento a cada instante e a cada preguiça.


Diálogo Boca aberta Pensamento falado Língua nos dentes Sem ouvidos Qualquer medida Todos os trapos Qualquer hora Monóloga Sem vínculo e sem fim

Boca fechada Fala pensada Silêncio Só ouvidos Diálogo Sons vinculados Mais nada Apenas o vento.


Transfiguração

Diante da estática estrutura aos olhos da loucura a arte explode em meu ser Não me basta a luz Não me basta a cor Não me basta o som É preciso compor Compor o tempo o espaço e a vida que ressurge dos destroços da conquista e refaz o meu sabor.


Superstição Encruzilhada Receio dos olhares Aflitos Vendados De esquina pra quina Caminho em círculo Por trás da muralha Inerte Pesadelo Circunscrito Em cada grito Qual lado? De dentro

Fora Todas as flores Sempre primavera Nunca praga Amarga aurora.


Parafuso Engrenagem Partido humano Depreciação cardíaca Todos os motores E combustíveis Cada marca uma máscara Ferragem e ferrugem

Correia Com ou sem dente Sensual Erotismo engrenado Formas Contrapostas e sobrepostas Harmonia Desejo do equilíbrio Braços e pernas Expressões genitais


Embrião Produto em série Todos os graus Peças em parafuso Que fuso? Anti-horário Espiral da busca Mundo afora Emoção vibratória Genética Sincronia visual Vazios Pedais aleatórios Movimentos sincronizados Qualquer furo Subidas descidas Entradas saídas Velocidade controlada A álcool

Capacidade vigiada A vela Cavalo por cavalo Égua por égua Todas cilindradas Selas e garupas Desejadas Como máquinas Descartadas.


Permanente vascular cerebral

Verdades e viagens Dente por olho Apenas medidas Olho por língua Controvérsias Navalha de dois gumes Ângulo abstrato Retrato da imagem Cada prato Virtual Um alimento Mundo real Progressão geométrica Ferimento Vômito Incurável Excremento e complemento Imortal De dentro pra fora Lançado ao vento E de fora pra mente Inconsequente


Barrigada mental Loucura intestinal Todas as cólicas E diarréias Explosão da vontade Primitiva de ser Tudo Ao alcance da utopia Luz do infinito Diálogo Monólogo Entre uma só Humanidade E um só Dia Qual? Todos.


Insônia

Madrugada adentro Sofrimento A cada tempo um lamento Vazios de mim Tomado de ódio Arrependimento Madrugada adentro Canção do silêncio Tortura A cada cura Uma loucura Um ferimento Avaria mortal Sobrevivência Inquieta Cabeça no pescoço Rastros da vida Estrada sinuosa Curva desmedida.


Ambiência Lugar de não ir Não ficar Não passar Não sentir Não pensar Não lembrar Desfigurar? Nem tanto Olhar sem retina Quanta tinta Linhaça Terebintina Tela em branco

Lugar de chegar Pensar Compor Refazer Ressurgir Viver Morrer E voltar a viver Convulsão Êxtase Emoções convergidas Comunhão Corrida circular Palhaço Dançarino O belo e a beleza.


Imersão

Palma da mão Sobre a mente Todos os dedos Unhas Anéis Força de compressão Carga imaginária Digitais do tempo Cada momento Submerso Nas ondas sonoras Do silêncio Fértil

Mergulho Nas águas sólidas Chuva gentil Depósito Leito À margem do rio Cenário ocular Sem lente Despido do medo Lúcido Embriaguez poética Harmonia cósmica Só eu e o universo.


Ânsia Pressa Destruição do possível A cada instante Diante da brevidade Do tempo infinito Da liberdade infantil Da crítica juvenil Concluir o inacabável Retratar o inconcebível Contemplar o obscuro Amar o invisível Ser eu No íntimo do teu ser Às claras Nas trevas da mentira Impostas por eles Aceitas por eu.


Ansiedade Amor Medo e vontade Desespero e culpa Decepção oculta Solidão povoada De paixão remorso... Desejo Saudade vazia Lembranças homicidas Da pressa Perplexa Insônia da visão Traço por traço Mancha a mancha Da luz do dia

Delírio


Conjunto unitário Intersecção Zero mental Infinito Buraco negro Lua cheia Choro calado Sonolento Febril Desejo estático Calafrio Palidez cor de rosa Rosa a rosa Amarga carnuda... Mudas Choques intermitentes Gritos surdos Segredos vazados Descarga manual Sanguínea Cerebral.


Todos nós Corpo inteiro Complexidade mental Silêncio obscuro Desejo carnal

Ânsia desmedida Vontade explícita Angústia neurótica Bem ou mal

Por trás do muro Convulsão Inquietação explosiva As forças opostas Dentro de si Emoção reprimida Todos nós. Liberdade da dor


Conforto Caminhos trilhados Janelas e portas compreendidas

Toda poesia saboreada Toda humanidade amada Todos os guetos vividos Todas as formas esculpidas Todos os loucos Loucura enlouquecida

Todos os becos revisitados Toda bondade reconhecida Toda virtude ressaltada Toda divindade reverenciada Todas as crenças acreditadas Todas as faces Beleza contemplada Alucinação de ser No vazio do ter Conforto.


Igualdade desigual Individual Relatividade social Só meu Nunca tu Fome Abandono Angústia do ter Por ter

Vaidade


Delírio imortal Suspiro carnal Indigente Tanta gente Ávida por injustiça Abstração da sanidade Corrupção Oculto prazer Ativa ou passiva Do medo Todas as noites Absoluto Com chuva ou sem emoção Do ser Carnificina Apenas por ser Genocídio Eu tu eles. Homicídio Todas as caras Do desejo febril Loucura Alucinação Canção da poesia Tradução do real


Sem título

Porta aberta Tempo fechado Janela de vidro Grade cerrada Caderno anotado Vida sem trava Qual lado? Samba de latada.


Primitivo Atual Compulsivo Orgânico Cardíaco Abstrato Cabeça no espaço Êxtase Energia sobrenatural

Baque


Peso Na pancada Rastro ancestral Couro de bode Sonoridade universal Cordão umbilical Circo de base Consciência Resistência Oralidade Retiro intelectual.


Âmago Cara Face Expressão da forma Talvez imprópria Sutileza no traço Cada máscara Uma beleza Incerteza Na transfiguração Viva da imaterialidade Tradução do mistério Blindagem Verdade intransponível Que nível? Do próprio ser.


Lira Dor latente Na mente Sorriso apagado Que dente? Semente Somente Choro borrado Exibição em círculo Carrossel sem telhado Olhar lado a lado Ofuscado Céu desbotado Desespero na aurora Todas as horas Motivo fotográfico Poética da angústia Exposição da loucura Que cura? A luz A lira A lua A própria vida.


Salvação Ansiedade e desejo Inquietação Morte e ressurreição Tragédia Comédia Cultivo da terra Solstício de inverno Ou verão Festejo Sagrado e profano Corpo em cena Alucinação Sobrevivência Comoção e emoção

Misericórdia!

Incelência Coro penitente Reza do terço Com ou sem vela Janela do tempo Silêncio


Batuques e alfaias Som em pecado Alma indigente Santo e orixá Oferenda ao mar

No vazio ensurdecedor Corpo acorrentado Alma liberta Canto aberto Poesia em formação

Embarcação Tanta gente Arrancados do chão No horizonte Constelação Chuva de verão

Rastro carnal Estética humana Natal sem fome Quem come?

Arco-íris Todas as cores Choro velado Resistência Reconstrução Gangorra Masmorra Labirinto Submundo Hinos e sinos

Quem come? Todas as notas Destemperadas Existência salgada Luz no altar Covardia sem par Universo alternativo Beleza no pulsar Vísceras nos olhos O mundo Serração Visão pulmonar


No infinito No crepúsculo do anverso Na fronteira do impossível O belo

Formas em mutação Metamorfose em decomposição Posição do querer Dolorosa tristeza

Leveza Pureza Na grandeza do nada Inspiração profunda Medida sem valor Sem cor Sem cheiro Sem sabor Amargo tempero Nos caminhos da aurora Sem demora Distante do medo Infinito roteiro No fim Rua do Amparo O beco Bonfim Misericórdia! De mim De tu De nós.


No limite, o desejo Formas no tempo Ao sabor do vento Rocha Areia Fissura Erosão Cada visada nova paisagem Modelagem Beleza do acaso Animado Movimento inerte Infinito incerto Palmo a palmo Metro a metro Construção no deserto Desejo concreto.


Revolução cibernética Todas as mentiras Sobrevividas Marcas e feridas Cicatrizes imortais Vida na tela Natureza morta O mundo me suporta Em qual porta? Em qual porta? Do passado ausente Virtualidade presente Tanta gente No vazio da sala Rua e praça Coletivo que passa Longe de eu

Sem emoção Sem calor ou cheiro Sem cara Sem pulsação Uma multidão Só No âmago da solidão Era digital Vida em turbilhão Comunicação surreal Avalanche de informação Todos os extremos Compulsividade frenética Mundo integrado Corpos inertes Mentes chapadas Sabedoria engessada Pessoas confinadas Depressão cibernética.



Agradecimentos Deus Meus pais Adriana Petros Ruana


Espaço Firo Gravura

Textos e Formas A obra «Refúgio, o mundo todo», da série Textos e Formas, de Firo Gravura, foi idealizada e produzida em Olinda/PE, Brasil, no outono de 2011.

Artes, textos e projeto gráfico: Firo Gravura



Firo Gravura

Refúgio, o mundo todo


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