Psicometria

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Psicometria Alessandra Costa Penna. Extrato de: Estilos de aprendizagem e ambientes de ensino: Estudo comparativo dos estilos verbalizados e visualizador nos contextos presencial e a distância.– Rio de Janeiro: UFRJ / Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, 2007, pg 17-20

Psicometria O estudo da psicologia diferencial, aqui mais especificamente do aprendizado e da instrução, permitiu a melhor compreensão do papel do indivíduo na produção da aprendizagem e despertou, em mim, a vontade de conhecer melhor os possíveis testes capazes de medir as diferentes formas de aprender dos aprendizes. A área da psicologia que faz a ponte entre as ciências exatas, principalmente a matemática aplicada à estatística e a Psicologia, é chamada de Psicometria. Segundo Baquero Miguel (1974), em psicologia, as provas recebem o nome de testes, e esta última palavra, de origem inglesa, já é aceita em nosso idioma. Um teste é uma medida objetiva e estandardizada que se obtém ao examinar cientificamente algum aspecto da conduta humana. E conduta humana, em um sentido amplo, é o objeto da Psicologia. Um teste é, por conseguinte, um instrumento que se emprega, em Psicologia, para apreciar quantitativamente e com bases estatísticas, uma forma de conduta. Este mesmo autor, afirma que um teste precisa reunir certo número de qualidades, sem as quais não podemos considerá-lo verdadeira prova psicológica. Entre as principais qualidades estarão sempre a padronização, a precisão e a validade. A Psicometria teve origem em diferentes tendências. Pasquali (1997) se refere à psicometria como tendo origem em duas situações bastante distintas: a psicologia de orientação empiricista (fazia uso de processos comportamentais, mais especificamente sensoriais) e a psicologia mais mentalista (fazia uso dos processos mentais) de Binet (1905), na França. De fato, as duas tendências entraram em cena na mesma época para resolver problemas semelhantes: avaliar objetivamente as aptidões humanas. A origem da Psicometria também deve ser procurada nos trabalhos do estatístico Spearman (1904. Apud: Pasquali, 1997), e não se deve estranhar que esta surgisse no campo das aptidões humanas (mentais, físicas, psicofísicas). Pois além das aptidões humanas serem a temática psicológica da época, elas se juntavam melhor a um estudo quantitativo, pois se podia ali contabilizar o comportamento em termos de acertos e erros. Ainda a respeito da origem da Psicometria, Pasquali (1997) relata que esta seguiu duas orientações, de início bastante independentes, que mais tarde se unificaram no que se chamou de psicometria clássica. A primeira tendência era mais visível em psicólogos com preocupações psicopedagógicas e clínicas, cujo interesse nas provas psicológicas era detectar, sobretudo, o retardo mental e o potencial dos sujeitos para fins de predição na área acadêmica. A outra tendência visava mais o desenvolvimento da própria teoria psicométrica, e era perseguida por psicólogos de orientação estatística. Esta polaridade somente foi superada lá pelos anos de 1940, com a influência decisiva da orientação dos psicólogos da análise fatorial, especialmente de Thurstone (1938).


É possível esquematizar a história da avaliação psicológica da seguinte maneira (Pasquali, 1997): 1- A década de Galton (1880): os trabalhos visavam à avaliação das aptidões humana por meio da media sensorial. Este autor teve grande impacto na orientação prática e teórica da psicometria. 2- A década de Cattell (1890): sob a influência de Galton, desenvolveu medidas das diferenças individuais, inaugurando a terminologia mental test. 3- A década de Binet (1900): predominaram os interesses pelas avaliações das aptidões humanas, visando à predição na área acadêmica e na área da saúde. Embora Binet tenha predominado nesta época, esta década também pôde ser considerada a era de Spearman, o qual deu os fundamentos da teoria da psicometria clássica com suas obras “The proof and measurement of association between two things”, “General inteligence objectively determined and measured”, “Demonstration of formulae for true measurement of correlation” e “Correlations of sums and differences”. Portanto, obras que falavam sobre a correlação entre medidas, diferenças, somas, e sobre a inteligência, de uma forma geral. 4- A era dos testes de inteligência (1910-1930): desenvolveu-se sob a influência dos testes de inteligência de Binet, os artigos de Spearman, e sob a influência do impacto da Primeira Guerra Mundial, que impôs a necessidade de uma seleção rápida e eficiente de recrutas para o exército (ex. testes Army Alpha e Army Beta). 5- A década da análise fatorial (1930): os psicólogos estatísticos começaram a repensar as idéias de Spearman, uma vez que o entusiasmo com os testes de inteligência vinha caindo muito, sobretudo quando se mostrou que estes eram demasiadamente dependentes da cultura onde eram criados. Então, Kelley quebrou a tradição de Spearman, e desenvolveu a análise fatorial múltipla, a escalagem psicológica, e fundou, em 1936, a Sociedade Psicométrica Americana, juntamente com a revista Psycometrika, ambas dedicadas ao estudo e avanço da psicometria. 6- A era da sistematização (1940-1980): é marcada por duas tendências opostas, os trabalhos de síntese e os trabalhos de crítica. Nas obras de síntese, tentou-se sistematizar os avanços da Psicometria até então conseguidos, a teoria clássica dos testes psicológicos, e a teoria sobre a medida escalar. Além disto, recolheram-se os avanços na área de análise fatorial, procurouse sintetizar os dados da medida em personalidade, e procurou-se sistematizar uma teoria sobre a inteligência. Na mesma época, a American Psychological Association – APA- introduziu as normas de elaboração e uso dos testes. Já nas obras de crítica, levantou-se os problemas das escalas de medida, o que acarretou e ainda acarreta muita polêmica. Surgiu a primeira grande crítica à teoria clássica dos testes, na obra de Lord e Novick (1968 – Statistical theory of mental tests scores), que iniciou o desenvolvimento de uma teoria alternativa, a do traço latente, que desembocou na teoria moderna da psicometria, mais tarde sintetizada por Lord (1980). Outra tendência de crítica para superar as dificuldades da psicometria clássica foi iniciada pela psicologia cognitiva de Sternberg (1977, 1982, 1985), com seu modelo de procedimentos e pesquisas sobre os componentes cognitivos na área da inteligência. 7- A era da psicometria moderna (Item Response Theory- IRT- 1980): é o que há de mais novo no campo. É possível sintetizar melhor o que está ocorrendo hoje no mundo da psicometria, arrolando três linhas genéricas em que os psicometristas vêm atuando: a)

Sistematização da psicometria clássica

b)

Sistematização e pesquisa na IRT


c)

Pesquisa em várias áreas paralelas da psicometria (testes com referência a

critério, testes sob medida – Computer Adaptive Testing, banco de itens – Applied Psychological Measurement, equiparação dos escores, validade dos testes, vieses dos testes, construção de itens). Neste contexto, podemos situar o impacto dos trabalhos da psicologia cognitiva com suas pesquisas na área das aptidões, por meio do estudo dos componentes cognitivos. Logo, pode-se dizer que a psicometria consiste no conjunto de técnicas utilizadas para mensurar, de forma adequada e comprovada experimentalmente, um conjunto ou uma gama de comportamentos que se deseja conhecer melhor. O estudo da psicologia diferencial, juntamente ao estudo sobre a psicometria, sua história e os

testes

psicométricos

existentes

até

então,

abriu

caminho

para,

nesta

pesquisa,

nos

aprofundarmos nos aspectos individuais dos aprendizes, em seus estilos de aprendizagem. Optamos pelo foco nos estilos relacionados aos canais vocal e visual, pois desta forma estaria construindo relações entre a área de educação e a fonoaudiologia.

Referências Bibliográficas:  

BAQUERO MIGUEL, Godeardo. Testes Psicométricos e Projetivos: Medidas Psico-Educacionais. São Paulo: Loyola, 1974. PASQUALI, Luiz. Psicometria: Teoria e Aplicação. A Teoria clássica dos testes psicológicos. Editora Universidade de Brasília, Brasília, 1997.


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