Caminhos de Transformacao Visao Mundial Brasil

Page 1

A embalar essas vidas Na pulsação, nas batidas Dos corações a mil Traçando novos destinos Salve, salve os meninos E as meninas do Brasil Fazendo assim nossa parte Com educação e com arte Dá-se a mudança total E dentro dessa dinâmica Uma visão panorâmica Uma Visão Mundial Não estaremos sozinhos Trilhando esses caminhos Da grande transformação, Que o presente nos aponte Um lindo, um belo horizonte Um futuro cidadão Alguma coisa me diz Vocação pra ser feliz É o que nós temos de sobra Vamos pedir muitas vezes A fé e a força de Deus Pra construir essa obra Olhando aqui neste livro Eu já encontro motivo Pra me sentir bem contente, Essa gente brasileira O grande Evandro Teixeira Revela na sua lente MORAES MOREIRA Cantor, compositor e poeta

www.visaomundial.org.br 0800 70 70 374

Caminhos de Transformação Fotografias de Evandro Teixeira

Que o verde da esperança Envolva cada criança Que nasce neste planeta No berço da plenitude Do bem estar, da saúde Que a gente se comprometa

Caminhos de Transformação Fotografias de Evandro Teixeira


Caminhos de Transformação Fotografias de Evandro Teixeira

2010


Caminhos de Transformação Fotografias de Evandro Teixeira

2010


Este livro é resultado de um projeto iniciado pelas áreas de Comunicação e Advocacy da Visão Mundial no Brasil. A ideia original era registrar, com o olhar de Evandro Teixeira, o quanto VMB está comprometida com a promoção da justiça, oferecendo um futuro melhor por meio de novos modelos de relações e estruturas, contribuindo para a construção de uma sociedade na qual todos tenham seus direitos preservados. Para desenvolver a ideia, viajamos com Evandro Teixeira por Pernambuco (PDA Novo Chão), Alagoas (PDA Mundaú, PDA Tapera e PDA Serrana), Bahia (PDA Cajazeiras, PDA Santa Luzia e PDA Acopamec), Rio de Janeiro (PDA Jardim Primavera) e Amazonas (PDA Crianças do Amazonas e Projeto Barco-Hospital). Para viabilizar a produção do projeto, Advocacy e Comunicação contaram com o apoio das diretorias da qual fazem parte: Programas e Ministério Integrado e Sustentabilidade e Comunicação Integrada. Sem a cooperação de todos, não seria possível a finalização deste livro, que, mais que um livro de fotografias revela a beleza que extraímos da dura realidade de crianças, adolescentes e jovens quando facilitamos o processo de transformação resgatando cidadania e solidariedade. Nilza Valeria Zacarias – Assessora Nacional de Comunicação Maria Carolina Silva – Gerente Nacional de Advocacy


A Visão Mundial é uma organização não governamental cristã, brasileira, de desenvolvimento, promoção de justiça e assistência. Combate as causas da pobreza para que crianças, famílias e comunidades alcancem seu potencial pleno. A Visão Mundial integra a parceria da World Vision International, que atua em quase 100 países. A Visão Mundial atua no Brasil desde 1975. Em seus projetos e programas, prioriza as crianças que vivem em comunidades empobrecidas e em situação de vulnerabilidade. O trabalho da VMB se sustenta em três pilares, com os quais contribui para a superação da pobreza: • desenvolvimento transformador, • promoção da justiça para as crianças, • emergência e reabilitação. Declaração de visão Nossa visão para todas as crianças: vida em abundância. Nossa oração para todos os corações: a vontade para tornar isso uma realidade. Missão Seguir a Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador; trabalhar com os pobres e oprimidos para promover a transformação humana, buscar a justiça e testificar as boas-novas do Reino de Deus. Nossos Valores • Somos cristãos • Temos compromisso com os pobres • Valorizamos as pessoas • Administramos com responsabilidade • Somos parceiros • Somos sensíveis



Realidade, beleza, cidadania, transformação, solidariedade e justiça são as palavras que serviram para delinear o belíssimo trabalho realizado por Evandro Teixeira. Tais palavras e imagens trazem a nós, sentimentos de alegria, espanto e esperança, que retratam uma linda história de 35 anos de trabalho da Visão Mundial servindo crianças, adolescentes, jovens e comunidades em diferentes lugares do Brasil. Ao longo destes anos, podemos constatar acertos e avanços, fruto do esforço de homens e mulheres que tem dedicado sua vida em favor da Transformação Humana. Há também, sinais indicando que devemos prosseguir nesta caminhada juntos, unidos num mesmo propósito, Fazer o Bem. Ao contemplar estas fotos e o rosto de cada criança, posso me lembrar de um Homem bom, que andou por toda parte fazendo o bem. Meu desejo é que ao folhear estas páginas você se inspire também a andar como este Homem que é Jesus de Nazaré. Parabéns Visão Mundial pelos seus 35 anos e pelos frutos deste maravilhoso trabalho. Débora Fahur, Presidente do Conselho da VMB

Através das lentes de Evandro Teixeira, uma imagem pode valer 100 mil vidas. Ou milhões. Como no caso destas fotos dos Caminhos de Transformação. Imagens que simbolizam milhões de pessoas deixadas para trás pela desigualdade que deixou suas comunidades esquecidas. Mas também representam milhões de vidas transformadas ao longo dos últimos 35 anos pelo trabalho da Visão Mundial que contribui para a superação da pobreza e a transformação social. Esses milhões de vidas e histórias, que compõem os Caminhos de Transformação de 878 comunidades brasileiras, ensinaram-nos que vale a pena investir em nossas crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade. E motivam-nos a continuar investindo. Pois o Brasil somente será grande de fato, quando incluir todas as crianças no processo de desenvolvimento do país. Esta é a luta diária que nos move e inspirou Evandro a fazer este trabalho maravilhoso. Sonho que, com a edição deste livro, possamos nos emocionar com crianças que vivem sua vida em plenitude, desenvolvendo-se em estatura, sabedoria e graça. Sonho também com um país cuja Realidade seja tão gratificante quanto a Beleza, a Cidadania, a Transformação e a Solidariedade que enfeitam estas páginas. No qual, Evandro possa sempre retratar milhões de crianças sorrindo por viverem sob o amparo da justiça e do cuidado. Por isso, convido você a contemplar estas belas imagens e refletir sobre o futuro que queremos para o nosso Brasil. Esse futuro começa quando você decide compartilhar a alegria de fazer brotar um sorriso de esperança e patrocinar um sonho, para muitas crianças que, ainda, não têm presente. CELSO FERNANDes, Diretor Nacional da VMB


A Visão Mundial é, ao mesmo tempo, uma lição de vida, de conhecimento da Terra e de solidariedade a todos os seres vivos. E mais: coloca o Brasil diante de nós e nos alerta para a necessidade de amar cada vez mais os brasileiros. Sérgio Cabral, Jornalista


Construir este trabalho para a Visão Mundial, viajando pelo Nordeste, pela Amazônia e visitando os projetos do Rio de Janeiro foi gratificante, principalmente no sentido de conhecer atores sociais que, de outra forma, não estariam realizando as ações que estão realizando, construindo os significados que estão construindo para sua vida. Viajei do frevo e maracatu em Recife à capoeira em Alagoas. E fui da selva urbana do Rio de Janeiro ao barco-hospital na Amazônia, que atende às comunidades ribeirinhas. O momento de maior emoção ocorreu em Canapi, Alagoas: durante uma peça de teatro, em que as condições locais de sobrevivência eram encenadas de forma tão realista pelas crianças do projeto, as lágrimas vieram aos olhos de todos nós. Foi um momento de compartilhamento de identidade, entre eles e o menino do sertão que nunca deixei de ser. O projeto de mães solteiras na Bahia foi outro momento de grande emoção. Meninas de 14, 15 anos bordam e costuram as sandálias que servirão para tantos pés que acompanharão os pés dos filhos que elas, em breve, darão à luz. Na retaguarda do trabalho dessas jovens mães, seus outros filhos, bem pequenos ainda, esperam, brincando em conjunto, o fim da jornada de trabalho de suas mães e dos futuros irmãozinhos por nascer. Cada lugar tinha uma emoção diferente. Visões ao longo da viagem, ao alcançar os lugares, os caminhos pouco percorridos, justamente por isso, mostravam imagens únicas, dignas de registro, que não estavam, institucionalmente, incluídos no

projeto, mas eram imagens de realismo que me levavam para a atmosfera encontrada nos grupos sociais com os quais os projetos são desenvolvidos. As grandes extensões territoriais percorridas pelo interior do Brasil revelam concretamente o que chamamos de diversidade e riqueza cultural, emocionando ao reconhecermos tantas formas diferentes de construir a vida e tantos significados em comum. O início dessa viagem em parceria começa na Feira de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, numa oficina de fotografia, teórica e prática, onde foram distribuídas câmeras digitais para as crianças participantes de projetos da Visão Mundial. Realizei essa oficina sugerindo que cada uma daquelas crianças utilizasse sua sensibilidade e conhecimento do cotidiano da vizinhança onde viviam, com a ferramenta que tinham nas mãos, e que eu tentava transmitir alguns usos que se poderia fazer dela: a máquina fotográfica. A intenção era a de que aquelas crianças pudessem começar a registrar seus olhares sobre a realidade. E esses olhares serão, certamente, uma maneira de interferir, de contar uma história, de contar a História. O resultado foi uma exposição das fotografias produzidas pelos meninos e meninas na própria Feira de São Cristóvão. As imagens expostas por eles e a diversidade dos locais que visitei confirmam o que a fotografia sempre revelou: a humanidade não tem padrão cultural pré-estabelecido. Ela se reinventa a cada olhar. Evandro teixeira, Fotógrafo


realidade realidade realidade


Macei贸, AL


Agora são outros 35 | Celebrar 35 anos com os olhos nos próximos 35 Eduardo Nunes, Diretor de Operações e Ministério Integrado da Visão Mundial América Latina e Caribe, trabalhou na VMB de 1988-2008.


O ano era 1975, o mundo estava dividido em 2 grupos que viviam em guerra, ora fria, ora nem tanto. Eram 83 conflitos armados ativos. Só na América Latina, 7 países tinham guerrilhas e outros 3 viviam estados de guerra civil. Ainda frágeis, as sociais democracias europeias enfrentavam grupos armados internos. A África vivia a primeira onda do choque da pós-descolonização, com a emergência de ditaduras de orientação marxista ou de extrema direita e conflitos armados abertos. No Sudeste Asiático, onde a Visão Mundial iniciou suas operações, perdia força um ciclo de mais de 20 anos de guerras. Dos escombros, surgiam novas fronteiras e áreas de influência geopolítica das duas superpotências. Mudanças que impactaram profundamente a então debutante Visão Mundial, impedida de expandir ou até mesmo de continuar suas operações em áreas tradicionais, como no Laos e Vietnã. Ao mesmo tempo era necessário engajar os novos doadores que a ela se juntavam. Era preciso expandir o trabalho para além da Ásia e África. A expansão do até então escasso trabalho da VM na América Latina foi uma das respostas a esse desafio. No intervalo de 3 anos, 7 escritórios foram abertos. O Brasil, entre eles. A VM se estabeleceu em um país que vivia o início da crise de um duro e repressivo regime militar, com restrições às liberdades políticas, mais de 800 exilados políticos e outros 680 presos de consciência. Com as bênçãos dos EUA, os porões da ditadura torturavam e matavam. A morte do Jornalista Vladmir Herzog demonstrava que havia problemas na própria cadeia de comando militar. Os gabinetes civis cassavam e censuravam. A censura prévia atingia 3 dos 4 principais jornais do país. A Guerrilha do Araguaia ainda não tinha sido debelada. A expectativa de vida ainda não era de 60 anos, a mortalidade infantil beirava os 100 mortos por mil nascidos vivos. As mulheres ainda tinham em média 4,7 filhos. A população brasileira já era predominantemente urbana e as cidades inchadas apresentavam o reflexo disso. O crescimento urbano acelerado tinha levado a um aumento da população nas cidades da ordem de 82% em 15 anos. O campo vivia seu processo de modernização econômica, com o esvaziamento progressivo das propriedades familiares. No Centro-Oeste e Norte, populações inteiras eram transplantadas sob promessas de projetos de colonização, que fracassavam em sua maioria e deixavam um rastro de miséria e conflitos fundiários. Quarenta e três por cento dos dos brasileiros, com mais de 15 anos, eram analfabetos. Paradoxalmente, neste período, a matrícula no ensino superior passa por um crescimento de 300%. Entre as mulheres, esse crescimento seria de 430%. O milagre já tinha perdido seu impacto, e a imagem de Brasil Potência só resistia na propaganda governamental. A inflação atingia 30% ao ano, e seus altos índices provocariam, nos 20 anos seguintes, o agravamento da desigualdade histórica.

A pobreza absoluta atingia 45% da população, e a desigualdade ainda era menor do que é hoje.1 1975 foi o ano da marca dos 100 milhões de habitantes. Desses, 91% se declaram católicos, liderados por um Papa marcado pelo diálogo, Paulo VI, e por uma politicamente ativa CNBB, impulsionada por mais de 3000 Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). O universo protestante era marcado apenas por 2 grandes grupos: Pentecostais e Tradicionais (estes subdivididos em torno das principais polêmicas da época: a participação social da igreja e o ecumenismo). Em 1975, o Ministério da Justiça registrava apenas 264 sociedades (excetuando-se as dedicadas a hospitais, escolas privadas e asilos). Hoje, são 62090 organizações registradas, apenas nas áreas de defesa dos direitos humanos, econômicos e sociais. Assim, 420 meses, 1201 projetos, mais de 500 mil crianças apadrinhadas e cerca de 8.000.000 de beneficiários depois, a Visão Mundial Brasil chega a 2010. O trabalho, iniciado como ajuda alimentar, assistência médica curativa e necessidades básicas de saúde, ampliou-se em tamanho e complexidade. A partir de um início marcado pela ajuda direta a crianças, envolveram-se suas famílias e, depois, suas comunidades, cidades e microrregiões. As ações desenvolvidas evoluíram para atender aspectos mais preventivos, estruturais e contribuir para mudar os fatores causadores da pobreza. Nesse processo, foram adicionadas iniciativas em áreas de desenvolvimento agroecológico, organização comunitária, microcrédito, acesso a mercados, formação profissional, juventude. Todas desenvolvidas tanto em projetos locais de longo prazo e ações para mudanças das condições políticas, quanto em ações emergenciais de respostas em situações de emergência. Além do crescimento e aprofundamento de seu trabalho, a Visão Mundial Brasil comemora nos seus 35 anos o aprendizado e os parceiros dessa caminhada. Cada vitória é sinal da Graça que se manifesta na multiplicação que vem da partilha com as comunidades, apoiadores, colaboradores, igrejas e muitas outras organizações e grupos que lhe foram mestres e sustentáculo. Se a história anima, a realidade de milhões de crianças ainda privadas de seus direitos básicos diz que é necessário ir além. A despeito das profundas mudanças no mundo e no Brasil, em 2010 ainda segue urgente o mesmo desafio de 1975, o de criar amplas alianças para que as crianças brasileiras tenham “vida em abundância”. Felizes próximos 35 anos. 1. Se utilizado o critério de renda apropriada pelos 10% mais ricos da população em relação aos 40% mais pobres.



São José da Tapera, AL


Salvador, BA


Salvador, BA


Macei贸, AL



Canapi, AL


São José da Tapera, AL

Canapi, AL


São José da Tapera, AL


Canapi, AL


Macei贸, AL


Senador Rui Palmeira, AL


Onde muita gente veria apenas uma bola, Evandro Teixeira vê esperança. Onde muitos veriam apenas uma trave e um graveto esquálido, Evandro vê perspectiva. Onde quase todos enxergariam apenas uma brincadeira de criança, a Visão Mundial, pelas lentes do mestre, convida-nos a olhar para uma oportunidade. Alguém já me disse que, das coisas menos importantes da vida, o futebol seria a mais importante. Durante algum tempo acreditei. Mas depois de rodar o mundo, digo sem medo que o esporte em si, não apenas o futebol, é uma das coisas mais importantes da vida. Algo une as crianças das periferias das grandes cidades, dos condomínios de luxo, dos brejos no interior, da terra seca no sertão ou dos igarapés na floresta: a bola. Não apenas ela, o objeto esférico, sonho real de todo menino e menina. Mas o conceito que ela representa. A bola como a corda


Salvador, BA

esticada entre dois paus que subitamente transforma o lugar em uma quadra de vôlei.... ou as raias imaginárias no mar, nas lagoas ou na terra batida que transformam uma brincadeira de “quem chega primeiro” em uma final olímpica. O esporte, na sua essência, como representação da vida. Perder e ganhar, sorrir e chorar, sozinho ou em equipe. Há quase uma década, como padrinho ou voluntário, participo deste sonho da Visão Mundial: virar o jogo que a realidade afirma estar perdido. É bom saber que essa partida está longe do fim. Ah! Nem é preciso dizer que, graças a atuação da Visão Mundial, o menino de meião azul pode fazer um golaço. Se não nas redes esfarrapadas, certamente na vida. GEORGE GUILHERME, Jornalista


Recife, PE



Manacapuru, AM


Manacapuru, AM


Manacapuru, AM



Manacapuru, AM


Manacapuru, AM


beleza beleza

beleza beleza beleza


a Duque de Caxias, RJ


A Visão Mundial acredita na expressão da arte, da criatividade e da cultura como manifestações da beleza do Criador. Cada criança, adolescente e jovem revela a imagem e semelhança do Autor da Criação, logo, possui a liberdade para criar e recriar, inventar o mundo, gerar emoções, produzir o belo e ser protagonista na construção da História.

Dança, Teatro, Música e Circo Nesse sentido, a Visão Mundial realiza ações nas mais diversas expressões artísticas e culturais, de uma forma integrada e holística, levando a uma reflexão crítica da realidade vivida pelas comunidades assistidas. Por meio dessas manifestações, buscamos resgatar a auto-estima, a dignidade, a esperança e a capacidade de sonhar de nossas crianças. Da mesma forma, buscamos comunicar os princípios e valores que desencadeiam processos transformadores nas comunidades. Os projetos artísticos fazem parte de um conjunto de ações integradas e multidisciplinares que buscam potencializar a participação e o envolvimento das crianças, adolescentes e jovens, alavancando os processos de mudança nas comunidades.


Iniciei meu trabalho na Visão Mundial em 1981. Estava deslumbrado pelo compromisso de servir aos empobrecidos e injustiçados. Já vinha de uma história de peregrinação entre pessoas pobres e sofridas. Mas, a Visão Mundial me favoreceu a chance de conviver na diversidade da vida visitando muitas comunidades. Aí encontrei solidariedade, gratuidade e muita festa. Como expressões da própria natureza da vida, encontrei diversas dores e sofrimentos. Essas experiências de morte nunca suplantavam os sinais de vida e esperança. No conjunto das ambiguidades da existência vi muita poesia. Aliás, aprendi com os pobres que a poesia escrita é apenas o registro da poesia anteriormente vivenciada. As artes: teatro, músicas, poesias, quadros pintados, poesias eram peças significativas interpretando as realidades no cotidiano das pessoas pobres. Com seu Valter, no Rio Grande do Norte, aprendi que “a fome é um bicho que come o pobre pela barriga”. Dona Zilda, em Caucaia, Ceará, fazia o parto de mulheres pobres, encantando o ambiente com seus cantos e contos. Os diversos Baus de Leituras eram a chance das crianças e adolescentes elaborarem suas experiências de lutas e esperanças em peças literárias surpreendentes. Com o Paulinho aprendi que é possível, usando o futebol como pretexto, aliar à atividade esportiva, o bom caráter e gana para driblar a violência urbana e para reconstruir a vida de adolescentes e jovens, anteriormente envolvidos em gangues urbanas. Os meninos e meninas à margem do mercado, das religiões dominantes estavam à beira da solidariedade, foram incluídos e incluídas nos caminhos da justiça e da paz. A Visão Mundial fez aflorar muita beleza estética, deu visibilidade às muitas

floriculturas encravadas na alma dos pobres. Ouvi de mulheres no Ceará que suas mesas tinham cheiro e beleza. Entendi que estavam falando do colorido proporcionado pela presença de mais alimentos sobre a mesa. Para muitas famílias pobres comer deixou de ser apenas uma questão de manutenção do corpo. Era a chance de fazer o corpo desfrutar de todos os sentimentos possíveis. Ouvir o som da fritura, acolher o cheiro do peixe na brasa. Experiências possíveis quando é possibilitado acesso a mais alimentos. Vi esses cenários se concretizando em muitas comunidades pobres. Era como se a alegria do prazer tivesse chegado como experiência nunca vivida: a degustação, o cheiro da carne na grelha, a beleza da mesa. Não vi apenas. De fato, desfrutei – sentei à mesa com famílias que anteriormente estavam sem teto e terra. Saboreei seus pratos apetitosos, à mesa ouvi suas histórias – entre elas, o ingresso desses meninos e meninas nas universidades. A chance de agregar a identidade à roupagem de estudante. Olhei em vários olhos, e eles pareciam fincados ao chão da própria história, vislumbrando horizontes mais esperançosos. Chorei várias vezes, gemi na alma, mas sorri muito mais, cantei e celebrei seus contos e poesias. Enquanto escrevo, penso no quanto as crianças refletem Deus, são meninos de Deus – eles foram sempre de Deus, mas, depois da Visão Mundial, tornaram-se muito mais. Carlos Queiroz, Diretor Executivo da Diaconia, trabalhou na Visão Mundial Brasil e Angola de 1981-2008 e é consultor da VM América Latina e Caribe


Salvador, BA




Salvador, BA


Salvador, BA



Salvador, BA


Canapi, AL


Duque de Caxias, RJ




Salvador, BA



Salvador, BA


Salvador, BA

Recife, PE




Recife, PE


cidadania

cidadania cidadania cidadania


Rio de Janeiro, RJ


A Visão Mundial acredita na transformação através da educação e da apropriação, por parte das comunidades, da capacidade de analisar, criticar e influenciar o mundo. Entendemos que as crianças, adolescentes e jovens devem ser protagonistas na construção do seu próprio destino, gestores da sua realidade. Para isso, buscamos atuar na formação sócio-política dos jovens e na conquista e consolidação dos direitos sociais da infância, e, além disso, formar amplas redes de participação e mobilização para o desenvolvimento. Empoderando as nossas crianças e jovens, estamos tornando-os atores sociais cada vez mais atuantes e influentes, contribuindo assim para a transformação do nosso país.

Educação, Desenvolvimento Comunitário e Participação Na área do desenvolvimento comunitário, a Visão Mundial atua na formação e consolidação de parcerias com atores institucionais locais, fortalecendo as entidades de base e formando líderes das comunidades assistidas e garantindo a sustentabilidade dos projetos de desenvolvimento transformador. Além de mobilizar as comunidades, a organização atua na conscientização por uma educação pública de qualidade, na oferta de ações sócioeducativas complementares e na proposição de uma educação contextualizada e relevante, além de contribuir com projetos de monitoramento jovem das políticas públicas e ações propositivas de cidadania e direitos humanos.


Lembrei-me de um filme que assisti: Anjos do Sol, de Rudi Langerman. Fala de uma menina que nunca soube o significado do termo cidadã. Foi adquirida num cantão do Brasil, por um valor irrisório e levada para a prática da prostituição, comprada por um empresário, como presente de aniversário para o filho que completava 15 anos. Ela resistiu o quanto pode, mas foi subjugada pela força. Analfabeta, e sem documentos, era chamada de Maria, e tinha 12 anos. Depois de forçada foi encaminhada para o garimpo, onde tudo valia ouro, menos ela. Depois de assistir a inomináveis barbáries, fugiu. Pega numa primeira vez, conseguiu escapar na segunda tentativa. Foi para a cidade grande, no sudeste do país, em busca de uma pessoa que uma das colegas de infortúnio indicara. Foi na esperança de encontrar aconchego, abrigo e identidade. Ledo engano, era outra empresária que, imediatamente, reconheceu o valor da mercadoria que acabara de receber e, voilà, rapidamente, aguçou o mercado, mas, antes tinha de dar à Maria, identidade, Maria que nunca teve, sequer, sobrenome, agora teria certidão e RG. Não, porém, como Maria... Muito nova! Tinha de ser mais velha: acharam uma Isabela, que se estivesse entre nós, teria 18 anos e “vapt-vupt” Maria virou Isabela, cresceu rápido a corrupção, ferrugem eficaz das bases da nação, o permitiu.

Agora a menina não tinha mais identidade, mas tinha RG. Não tinha mais família, mas tinha certidão de nascimento; só que com um nome, que ainda aprenderia de cor: Isabela. Essa menina – que, no fim, foge como Isabela para tentar resgatar Maria – é a demonstração, inapelável da importância de ongs, como a Visão Mundial, para que não só sua dignidade seja respeitada, como a sua identidade assumida. É preciso atravessar as muralhas naturais, rumo ao interior. A exemplo das bandeiras, é preciso avançar. Há muito Brasil desconhecido e desconhecedor de seus direitos. Há um Brasil que ignora e é ignorado pelo Brasil que pode. Há muito brasileiro e brasileira que não é, porque não há papel que o prove. Um dia, nesse país, o Estado chegará a todo lugar, um dia em que o país será para todos, um dia em que será praticamente impossível produzir alguém como Isabela o foi: garantindo cidadania e integridade. Enquanto isso não acontece, a Visão Mundial, a exemplo de suas congêneres, chega com cidadania e protagonismo para garantir que o sorriso de meninos e meninas não seja de aluguel. ARIOVALDO RAMOS, Teólogo e filósofo, foi presidente da VMB de 2002 a 2008


Canapi, AL



Canapi, AL


Salvador, BA


Salvador, BA


Canapi, AL


Salvador, BA


Salvador, BA


Manacapuru, AM


Salvador, BA


Rio de Janeiro, RJ


Queremos ser melhores. Queremos ajudar. Fazer parte. Queremos que tudo dê certo. Queremos um País mais justo. Um mundo mais solidário. Paulo Betti, Ator


Recife, PE


Canapi, AL


transformaçã

transformação transformaçã transformação


찾o

찾o Macei처, AL


A Visão Mundial trabalha incansavelmente, junto com os seus parceiros locais, por mudanças estruturais, permanentes e sustentáveis. Acreditamos que a transformação é possível. Para isso, investimos no maior de todos os recursos: o ser humano.

Esporte, Agroecologia e Água A organização vem fortalecendo também a sua inserção em temáticas relacionadas ao meio-ambiente, tais como mudanças climáticas e impacto nas populações pobres, resiliência comunitária e prevenção a emergências e desastres naturais, potencializando as suas ações de referência nas áreas de agroecologia e convivência com o semi-árido, manejo sustentável da caatinga, quintais produtivos, criação de pequenos animais, bancos de sementes e manejo de sistemas agroflorestais. Na gestão de recursos hídricos, são desenvolvidos projetos de barragens subterrâneas, cisternas, monitoramento da qualidade da água e cercamento de nascentes. Muitas dessas ações têm contribuído para um significativo aumento do nível de vida das populações vulneráveis do semiárido e Amazônia. Na busca de vida em abundância para todas as crianças, a Visão Mundial tem procurado levar a alegria, o lúdico, a festa, a beleza, o lazer, o esporte, a recreação, a valorização da cultura local e a celebração para as comunidades mais vulneráveis do Brasil.


O maior desafio de uma organização não governamental é a transformação. Começa com a questão de até que ponto a ação da organização não está inibindo a percepção da ineficácia ou da ausência do Estado e se estende a quanto sua eficácia é percebida na transformação da realidade. De fato, a presença da organização de ação social pode inibir a percepção da omissão ou da inaptidão do Estado; e, a isso, se responde, na maioria das vezes, com a necessidade premente dos excluídos e dos despossuídos. Como dizia Betinho, a grande figura da consciência humanitária e cidadã, no Brasil: Quem tem fome tem pressa! Fica claro, entretanto, que a justificada pressa dos despossuídos não isenta a organização de eficácia, tanto na ajuda imediata como na capacitação da população atendida, de modo que esta se aproprie de seus direitos, tanto da compreensão como do acesso aos mesmos. Isso implica em uma ação estruturada em que, para além da resposta imediata, desenvolvam-se os meios de manutenção da comunidade, assim como os de apropriação do Estado.

cenário econômico mundial, essa ação pró-sustentabilidade tende a ser, cada vez, mais a capacitação em advocacy: na compreensão do direito e dos meios de acessá-lo, assim como a geração de capacidade de controle social. Duas reportagens, de Neide Duarte, mostram a ação da Visão Mundial Brasil em São José da Tapera, Alagoas, cidade que, então, registrava o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil. A VMB atacou a crise – registrado na primeira reportagem – e reverteu o quadro em tempo recorde, o que foi constatado na segunda reportagem. A ação da VMB em São José é um marco da importância e eficácia da atuação das ongs, mas, provavelmente, o estertor de uma forma de atuação das organizações: com o crescimento econômico, tem de vir o crescimento político, educacional e social e, cada vez mais, a eficácia das ongs será medida pela capacidade de empoderar as populações à margem, gerando protagonismo que promova o cumprimento da exigibilidade do direito.

A Visão Mundial tem laborado nessa perspectiva dupla, atendendo na crise, mas também apontando e cooperando na apreensão dos instrumentos para o desenvolvimento sustentável.

Uma nação que, durante muito tempo, precisou de socorro assistencial, em primeira abordagem, hoje e a partir de hoje, precisará cada vez mais, de pedagogos que a ajudem como atores sociais a assumir o controle do Estado, de modo a dirigir os governos. Doravante, e cada vez mais, é a isso que se chamará de Transformação.

Em uma nação como o Brasil, em franco crescimento, podendo vir a tornar-se uma das quatro grandes nações no

Ariovaldo Ramos, Teólogo e filósofo, foi presidente do Conselho Diretor da VMB de 2002 a 2008


Canapi, AL


Canapi, AL



São José da Tapera, AL


São José da Tapera, AL



São José da Tapera, AL




Macei贸, AL


Salvador , BA

Macei贸, AL


Macei贸, AL



Macei贸, AL


solidariedade

solidariedade

solidariedade solidariedade


Manacapuru, AM


A Visão Mundial acredita que é possível sonhar e trabalhar por um mundo mais justo e equitativo, com menos opressão, desigualdade e pobreza. Nesse sentido, buscamos a melhoria da renda e criação de oportunidades de trabalho para as comunidades, de acordo com os princípios do comércio justo e da economia solidária. Além disso, empreendemos ações de abastecimento, qualidade alimentar e consumo consciente, concentrando as atividades em três princípios básicos: o apoio às bases produtivas, o desenvolvimento do mercado do ponto de vista comercial e a criação de um mercado ético e consciente em busca da justiça. A organização apoia a criação e gestão de feiras nas comunidades, promove os princípios da justiça econômica, a valorização da agricultura familiar e o fomento aos processos sócio-organizativos na economia, nas finanças e nos sistemas sustentáveis, realizando projetos nas áreas de bancos comunitários, formação de grupos de oportunidades locais, educação financeira para crianças e adultos e formação popular na área de oportunidades solidárias.

Saúde, Trabalho e Geração de Renda, Maternidade Saudável Na área da saúde, a Visão Mundial promove o desenvolvimento infantil, o conhecimento, a educação em saúde, o monitoramento das políticas e ações de saúde, a utilização dos recursos fitoterápicos locais, além de fortalecer o combate à mortalidade materno-infantil, a promoção dos direitos sexuais e reprodutivos, a prevenção e a dignidade dos portadores do HIV/AIDS.


Da consciência de que, em algum momento, é preciso ajudar o próximo, nasceu o sentimento de solidariedade. Solidariedade é algo que muita gente não entende até o momento em que se sente absolutamente só. Sem parentes, sem conhecidos, sem amigos e, até mesmo, inimigos, absolutamente só, sem ninguém a quem recorrer. Da experiência da solidão, os seres humanos podem descobrir que solidariedade é uma das mais belas condições da espécie humana. Os dicionários são superficiais na definição do vocábulo. Para o Aurélio, solidariedade é um sentido moral que vincula o indivíduo à vida, aos interesses e à responsabilidade de um grupo social, de uma nação ou da própria humanidade. Para o Houaiss, sentimento de simpatia, ternura ou piedade pelos pobres, pelos desprotegidos, pelos que sofrem, pelos injustiçados. Mas solidariedade abrange todas as definições possíveis e imagináveis de amor ao próximo. Solidariedade não é esmola. Solidariedade não é pena, nem dó. A solidariedade pode ser a atitude de ajudar a fazer, à noite, o pão nosso de cada dia, antes mesmo que Deus se apresse em nos dar. Solidariedade é dar voz aos sem voz. É amparar, proteger, tirar e botar a mão nos bolsos para ajudar a matar a sede e fome, também de

Justiça, de buscar uma vida melhor a todos aqueles que estiverem ao nosso alcance ou longe de nossa vista. Solidariedade é, acima de tudo, o ato de consolar, transmitir bons sentimentos como a esperança. Solidariedade é uma palavra feminina – e não há gênero mais solidário. O vocábulo é tão longo (sete cabalísticas sílabas) quanto deveriam ser nossos braços para alcançar os alvos da solidariedade, onde quer que estejam, lá longe, no meio do semiárido, onde está também a etimologia da palavra solidário, cujas três primeiras letras formam o nome do astro rei, que produz o fenômeno físico que serve de fonte para o trabalho de Evandro Teixeira, o homem que escreve solidariedade com a luz. Sem luz não há fotografia, assim como as trevas não permitem que se enxergue o necessitado no meio do caminho. Evandro leva a “lanterna” que amplia o ângulo e aumenta o foco. E apura os sentidos da Visão Mundial, solidária por natureza e com amor tanto ao próximo como ao que parece, por mera ilusão de ótica, estar distante. A Visão Mundial tem os olhos bem abertos para a prática cotidiana do caráter social e para o exercício diário da solidariedade. Jorge Antonio Barros, Jornalista


Rio Negro, AM


Manaquiri, AM


Manaquiri, AM


Manacapuru, AM


Manacapuru, AM


Para a Vis茫o Mundial, o grande artista da imagem esgrime sua maestria assestando suas lentes para a solidariedade, falando por ela e sobre ela. Ricardo Cravo Albin, Music贸logo

Manaquiri, AM


Manacapuru, AM



Manacapuru, AM



Recife, PE


Salvador, BA



Salvador, BA


Salvador, BA




Salvador, BA


justiรง justiรงa

justiรงa justiรงa justiรงa


รงa Senador Rui Palmeira, AL


Acreditamos que a justiça é um valor central e um dos pilares do reino de Deus. Dessa forma, a Visão Mundial se posiciona nas questões que afetam a dignidade e a equidade das pessoas, atuando em diferentes frentes e fóruns no sentido de garantir o cumprimento dos direitos das crianças e adolescentes. Além disso, a Visão Mundial possui linhas de trabalho nas áreas de equidade de gênero, promoção dos direitos indígenas, bons tratos e proteção integral contra a violência sexual de crianças e adolescentes, habitação, combate à exploração sexual, edificação de uma cultura de paz e prevenção à violência, comércio justo, entre outros.

Baú de Leitura, Habitação e Segurança Alimentar Entendemos também que a alimentação adequada é um direito humano intrínseco e inalienável, e promovemos ações que trazem o acesso aos alimentos, promovem a qualidade de vida e garantem o futuro e a oportunidade de crianças, adolescentes e jovens crescerem e perseguirem seu pleno potencial.


Em vez da imparcialidade prometida, a cegueira da Justiça ajuda a não se fazer justiça para quem realmente necessita dela. Os olhos vendados da deusa romana Iustitia, que simboliza a Justiça, acabam servindo para que ela não veja sequer a dor dos injustiçados quanto mais o pleito deles. Em alguns lugares, como o Brasil, a noção de justiça está tão banalizada que uma categoria de assassinos ganhou o nome de justiceiros. São homens que atuam nas periferias das cidades eliminando pessoas que praticariam injustiças. Injustiça é tudo aquilo que é feito contra alguém, tomandolhe indevidamente algo e deixando-o sem opção. Justiça é justamente o contrário. É devolver a alguém o que ele tem direito por natureza. Fazer justiça com as próprias mãos é a forma mais tirana de injustiça porque a verdadeira justiça pressupõe que o direito da sociedade deve ser maior que o direito individual, já que ninguém pode viver isoladamente. É justo eu ter direito a comemorar minha festa de aniversário com um megasom, enquanto meus vizinhos não podem dormir? Não. O meu direito à festa de aniversário deve ser ponderado com o direito que os meus vizinhos têm ao silêncio, sobretudo após as 22 horas, como determina uma lei pouquíssimo respeitada no Brasil. Justiça não é vingança, não é cobrança e muito menos destemperança. Justiça é equilíbrio, daí um dos seus símbolos ser a balança, a qual, nestes dias, está cada vez mais viciada. Costuma pender sempre para o lado dos mais fortes, coincidentemente aqueles que têm condições de pagar um bom advogado, o grande operador do sistema judicial. No Estado democrático de direito amplia-se o acesso à justiça, mas ele continua sendo uma miragem para quem não tem condições de contratar bons advogados. Prima da sabedoria, a Justiça é irmã mais nova da verdade, sem a qual é praticamente impossível alcançá-la. Por mais que a verdade seja relativa, que cada um tenha a sua, há verdades mais próximas de algumas realidades do que de outras. O pagamento de um especialista nas leis e nos diversos tipos de direito garante ao pagador o acesso à justiça, por meio da prevalência de sua própria verdade. Em suma, no nosso sistema judicial, cada um tem acesso à verdade que puder pagar. Como a justiça se cumpre por meio da verdade,

a injustiça se inspira na mentira. E, assim, a consequência da injustiça é a impunidade. Quanto mais corrompido estiver o sistema, menos justiça haverá de fato e de direito. A corrupção, portanto, é uma das filhas prediletas da injustiça. E a ausência de justiça é o caminho para o aumento das desigualdades de todo tipo. Acima do sistema judicial, felizmente sobrevive a justiça como um valor intrínseco à humanidade. Não há possibilidade de o ser humano sobreviver sem o mínimo de justiça. E se há dois seres humanos a justiça torna-se essencial para garantir a harmonia entre eles. Como cada um deles tem a sua própria verdade, a justiça plena é quase uma utopia. Se a verdade é o melhor caminho para se conseguir justiça, muita gente mente achando que conquistará sua própria justiça. Nesse sentido, não há história mais emblemática do que a relatada pela Bíblia em 1 Reis 3, que acabou por produziu a expressão popular “justiça salomônica” para classificar uma decisão judicial exemplar, corretamente justa. Duas mulheres foram ao palácio do Rei Salomão, pleiteando que ele decidisse a quem pertencia uma criança recém-nascida. Elas haviam tido filhos juntas, na mesma maternidade, mas, pela manhã, um deles morreu. A que perdeu seu filho, imediatamente, tomou o da outra, alegando que era seu. Conhecido por sua sabedoria, Salomão chamou um de seus guardas e lhe ordenou que cortasse o bebê ao meio e desse uma das partes a cada mãe. Simples, não? Uma delas imediatamente pediu clemência ao Rei e disse que o bebê poderia ser entregue àquela que alegava falsamente que o filho era seu. A mulher afirmou que preferia continuar vendo seu filho vivo, mesmo que com outra mãe. Então Salomão concluiu brilhantemente que essa era a verdadeira mãe. Em um litígio, isto é justiça – conceder o direito a quem realmente é o verdadeiro dono. jorge antonio barros, Jornalista


Macei贸, AL


Recife, PE


Manacapuru, AM


Recife, PE



Senador Rui Palmeira, AL


São José da Tapera, AL


Canapi, AL


Ulisses volta para casa com fotos das viagens Evandro Teixeira, calculo com observação intuitiva, aprendeu a ler e escrever imagens antes de ser alfabetizado nas letras. Elementar, meu caro leitor. E ler e escrever, para contar suas caminhadas e viagens, para este ser sempre menino, se tornamsesinônimos de fotografar. Ações indistintas entre elas. Sabe muito bem disso todo aquele que já tentou caminhar dois quarteirões ao lado dele: as imagens e os personagens ao redor não passam despercebidos e fazem parte da conversa. Ele quase nos usa como câmeras, caso uma não esteja à disposição: “olha aquele homem à janela, acha que é dono da rua!”. E nossos olhos captam exatamente a imagem descrita.

retratada por Evandro Teixeira conta uma história: não é um objeto: é um sujeito retratado em sua eloquência. O sujeito retratado aparece aqui como o sujeito e seu modo de produção, especialmente seu modo de produção de sensibilidade. É um “sujeito com história”, sendo contada naquela imagem que, apesar de ser chamada “instantânea”, revela um tempo mais lento que o da fotografia. Evandro Teixeira imprime ao seu ofício de fotógrafo o dom da narrativa. Vide qualquer uma de suas fotos.

Um de seus segredos, revelado em cada foto, reside no fato de que ele jamais automatiza seu olhar. Tudo é novo e diferente a cada passo da humanidade. Por isso mesmo, seu olhar é desprovido da maldade do automático, presente no cotidiano banal dos meros acumuladores de imagens. E Evandro viaja, terra adentro, e vê mais paisagens humanas que qualquer um seria capaz de imaginar. E também o verbo ver, aqui, significa fotografar. Qual um Ulisses fotógrafo, Evandro empreende suas viagens: saiu para conquistar suas imagens.

Este livro mostra Evandro eternamente deslumbrado com as possibilidades humanas de ampliação de suas sensibilidades e capacidades. Um estudo atento e sério sobre as representações em forma de imagens das sensibilidades e modos de produção das afetividades no Brasil contemporâneo tem, na obra desse fotógrafo, uma referência incontornável. Evandro é um Ulisses brasileiro, há muito voltando para sua Ítaca sertaneja, jamais perdida no horizonte. Qual marinheiro de longa viagem, em terra firme ou sobre rios, como poderão ver neste livro, Evandro conta sua-nossa história. Por tudo que aqui vai dito e por todas as fotos vistas, este texto poderia ter até um subtítulo: do caráter épico das fotos de Evandro Teixeira.

As fotos deste que, entre outras identidades, é o retratista oficial da Feira de São Cristóvão, prescindem de legendas: elas narram suas histórias simplesmente com as imagens. A figura humana

Camila do Valle, Escritora, doutora em Literatura e professora na Universidade Federal do Pará


Fotógrafo, do Jornal do Brasil, recebeu, entre outros, o Prêmio Especial da Unesco no Concurso Internacional A Família, em Tóquio, Japão (1993), e os Prêmios do Concurso Internacional da Nikon, Japão, 1991 e 1975 e da Sociedade Interamericana de Imprensa, em Miami, EUA. Editou, em 1983, o seu livro Fotojornalismo, registrando acontecimentos nacionais e internacionais marcantes desde a década de 1960, com prefácio e texto do poeta Carlos Drummond de Andrade e dos escritores Otto Lara Resende e Antonio Callado. Em 1988, lançou a edição ampliada do livro, no Rio, São Paulo e Basel (Suíça). Em 1992, Fotojornalismo foi incluído no acervo da Biblioteca do Centro de Artes Georges Pompidou, Paris, França.

As fotos de Evandro Teixeira tornam qualquer ONG confiável, qualquer causa digna de apoio e qualquer esperança num Brasil melhor, perfeitamente viável. Feliz da Visão Mundial que pode contar com sua câmera, sua cabeça e seu coração. São os equipamentos de Evandro a serviço do Brasil. RUY CASTRO, Escritor

... Evandro Teixeira, um dos maiores fotógrafos da imprensa brasileira em sua História ... Ziraldo, Cartunista

Em 1994, tem o currículo incluído na Enciclopédia Suíça de Fotografia, na qual estão registrados os maiores fotógrafos do mundo. Suas fotos fazem parte destes acervos: Museu de Belas Artes, Zurique, Suíça; Museu de Arte Moderna La Tertulha, Cali, Colômbia; Masp, São Paulo; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e Museu de Arte Contemporânea de São Paulo. Já realizou exposições individuais nas principais capitais do mundo e em várias cidades do Brasil. Foi jurado de prêmios nacionais e internacionais de fotografia/jornalismo. Em 1997, lançou “Canudos, 100 anos”, um registro histórico do cenário da guerra e de seus sobreviventes, todos com mais de 100 anos, e seus herdeiros. Em 2002, lançou O Livro das Águas, registrando o impacto do programa de irrigação na vida dos sertanejos do Rio Grande do Norte. Em 2004, Evandro teve sua vida e obra retratada em um documentário, exibido nacionalmente: Evandro Teixeira: Instantâneos da Realidade. Principais Exposicões individuais: 1967, Feira Internacional de Berlim, Alemanha; 1987, Casa de las Americas, Havana, Cuba, dezembro; 1989, Seul e cia, Galeria Bookmakers, Rio de Janeiro;1991, Seul e cia, Sala Martins Pena, Teatro Nacional, Brasília; 1993, Evandro Teixeira/Marc Ribaud, instantes decisivos, Casa França-Brasil, Rio; 1994, Fotojornalismo, Galeria Debret, Paris; Fotojornalismo, Galeria Nova Visualidade, Frankfurt, Alemanha; Fotojornalismo brasileiro, Galeria Littmann, Basel,

Suíça; 1997, Canudos, 100 anos, Espaço BNDES, Rio de Janeiro; Feira Internacional de Basel, Suíça; 2000, Um fotógrafo brasileiro, Villa Maurina, Rio de Janeiro; Cem anos de Euclides da Cunha/Canudos, Academia Brasileira de Letras, Rio; Salão de Fotografia, Cuiabá; 2005 Canudos 100 anos. Mont Pelier – França; 2010, Futebol – A Paixão do Brasil – Basel e Lugano, Suiça e Milão, Itália. Principais Exposições Coletivas: 1969, selecionado pelo Museu de Arte Moderna do Rio para representar a fotografia brasileira na Bienal de Paris. Mas toda a representação brasileira foi proibida de participar da Bienal pelo governo militar; 1979, Mestres do século XX, Veneza 79 – Hecho em LatinoAmerica, Veneza, Itália; 1982, América Latina, Centro de Arte Georgel Pompidou, Paris, Franca; 1984, III Colóquio latino-americano de fotografia, Casa das Americas, Havana, Cuba; 1987, Las Américas: Towards a New Perspective, Nova Iorque, EUA; 1992, Brasil dos brasileiros, Museu de Belas Artes de Zurique, Suíça; 1993, Paixão do olhar, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Coleção Pirelli, Masp, São Paulo; Canto a realidade – fotografia latino-americana, 1860/1992, Casa de Americas, Madri, Espanha; Fotografia brasileira contemporânea, da Coleção Joaquim Paiva, Galeria Leica, Frankfurt, Alemanha; 2001, Coleção Pirelli, Embaixada do Brasil em Roma, Itália; 2001, Um olhar reescrevendo o Brasil, MASP, São Paulo; 2001, Salão de Arte do Pará, Belém; 2001, Canudos – 100 Anos – Salão de Fotografia, Cuiabá, Mato Grosso; 200, Fotojornalismo – Salão de Arte, Belém, Pará ; 2005, Galera Leica, Nova York – Os 40 melhores fotógrafos do mundo. Dois brasileiros, Evandro Teixeira e Sebastião Salgado; 2009, Prêmio de Artes Plásticas Marcoantonio Vilaça, resultando na aquisição de parte do acervo do fotojornalista para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; e 2010, Prêmio de Cultura do Estado do Rio de Janeiro. Livros editados: Evandro Teixeira, Fotojornalismo; Canudos 100 anos; O Livro das águas; 68 destinos: passeata dos 100 mil; Tributo a Pablo Neruda e Vidas secas. Participação em outras publicações Canto a la realidade/fotografia latino americana 1860/1993; Retratos da cidade; Olimpíada da terceira idade; Brasil 500 anos; Partidos e política; O Brasil nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg– 1999; Torcedor e futebol – a paixão do Brasil.


© 2011, Visão Mundial

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19.02.1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito dos autores, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.

Coordenação Editorial Nilza Valeria Zacarias Estagiário Paulo Bregantin Fotografias Evandro Teixeira

Presidente Débora Fahur Vice-presidente Carlos Teixeira 1º Secretário Ivan Rocha 2º Secretário Roberto Costa 1º Tesoureiro Dídimo Freitas 2º Tesoureiro Rofolfo Stömer Conselho Fiscal Edelweiss Oliveira, Suzana Leal e Eudes Martins Diretor Nacional Celso Fernandes Diretora de Efetividade Organizacional Darcy Vieira Diretor de Programas e Ministério Integrado Maurício Cunha Diretor de Sustentabilidade e Comunicação Integrada Celso Fernandes (interino)

Textos Ariovaldo Ramos Camilla do Vale Carlos Queiroz Celso Fernandes Débora Fahur Eduardo Nunes Evandro Teixeira George Guilherme Jorge Antonio Barros Maurício Cunha (textos institucionais) Moraes Moreira Ricardo Cravo Albin Ruy Castro Ziraldo Design e Diagramação Máquina Voadora DG Tratamento de Imagens Abimael Ávila Barcellos Revisão de textos e padronização Lena Aranha Impressão Leograf

Visão Mundial Rua da Concórdia,677 – 2º andar São José – Recife/PE CEP 50020-050 Tel.: (81) 3081-5600

www.visaomundial.org.br 0800 70 70 374

Nota: Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação, impressão ou dúvida conceitual. Em qualquer das hipóteses, solicitamos a comunicação à Visão Mundial, para que possamos esclarecer ou encaminhar a questão.


Caminhos de Transformação Fotografias de Evandro Teixeira

2010


A embalar essas vidas Na pulsação, nas batidas Dos corações a mil Traçando novos destinos Salve, salve os meninos E as meninas do Brasil Fazendo assim nossa parte Com educação e com arte Dá-se a mudança total E dentro dessa dinâmica Uma visão panorâmica Uma Visão Mundial Não estaremos sozinhos Trilhando esses caminhos Da grande transformação, Que o presente nos aponte Um lindo, um belo horizonte Um futuro cidadão Alguma coisa me diz Vocação pra ser feliz É o que nós temos de sobra Vamos pedir muitas vezes A fé e a força de Deus Pra construir essa obra Olhando aqui neste livro Eu já encontro motivo Pra me sentir bem contente, Essa gente brasileira O grande Evandro Teixeira Revela na sua lente MORAES MOREIRA Cantor, compositor e poeta

www.visaomundial.org.br 0800 70 70 374

Caminhos de Transformação Fotografias de Evandro Teixeira

Que o verde da esperança Envolva cada criança Que nasce neste planeta No berço da plenitude Do bem estar, da saúde Que a gente se comprometa

Caminhos de Transformação Fotografias de Evandro Teixeira


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.