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Revista Digital Olho Latino nº 20 A junção como argumento artístico
Revista Digital Olho Latino nº 20 - outubro de 2010 ISSN 1980-4229 Edições Anteriores: www.olholatino.com.br/revista/arquivo/arquivo1.htm Editor: Paulo de Tarso Cheida Sans Jornalista responsável: Luciene Sans Conselho Editorial: Alex Roch Celina Carvalho Euclides Sandoval Luciene Sans Tiago Carvalho Sans Arte e diagramação: Luciene Sans Obra da capa de outubro de 2010: Celina Carvalho, Suely Arnaldo e Walcirlei Siqueira - Agregados – xilo
Os artigos e reportagens assinadas não refletem necessariamente a opinião da revista, sendo de responsabilidade exclusiva de seus autores. Não pode ser reproduzida sem autorização do editor. Revista Digital Olho Latino é uma publicação do Museu de Arte Contemporânea Olho Latino. Alameda Prof. Lucas Nogueira Garcêz, 511 Parque das Águas - Estância de Atibaia, SP. CEP: 12941-650 www.olholatino.com.br Contato: museu@olholatino.com.br
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A Revista Digital Olho Latino apresenta neste número a abordagem interpretativa da artista Maria Regina Montenegro Leite sobre o livro de sua dissertação de mestrado, que após o estudo pôde interpretar o visual de suas páginas criando novas obras, compondo a mostra “Do Livro Vermelho com Letras Douradas aos Desenhos a Lápis de Cor”. Outro assunto é a exposição Estampa 2010 – Bolívia – Brasil, que reúne gravuras do Grupo Olho Latino com El Colectivo de Grabado Boliviano, na Galeria da Faculdade de Arquitetura da Universidad Mayor de San Andrés, em La Paz, Bolívia. A junção artística está relatada por Luciene Sans, que enfatiza a importância da junção de dois significativos pólos da gravura latina. “Agregados” é o título da série de gravuras realizadas pelo Grupo Olho Latino. Cada um dos artistas fez a sua gravura sendo composta por três partes, para que fosse desmembrada e misturada às demais partes de outras gravuras, formando assim uma obra distinta. São obras que se multiplicam quando as partes são casadas entre as diferentes peças, formando um trabalho coletivo. A série está sendo exposta no Taller Kimkilen, em Lima, Peru, no Museu Olho Latino, em Atibaia e no Laboratório das Artes, em Franca. Com ensaio fotográfico, Ricardo Lima nos brinda com algumas imagens de sua mostra “El Paro!”, que participou do Festival Hércules Florence e foi exposta na Galeria FNAC, em Campinas. As fotos aqui apresentadas foram fotografadas no Peru. São cenas e paisagens de herdeiros incas, numa cintilante atmosfera latina, cuja região muitos consideram “o coração da América do Sul”. A junção entre as partes de determinadas obras, a união de elementos estéticos de páginas de dissertação de mestrado, a alma da gravura unida em propostas de dois pólos artísticos e a veia fotográfica de foco latino compõem mais um número da Revista Olho latino. Desejamos aos leitores uma boa leitura e esperamos que a nossa revista seja acolhida, cada vez mais, pelos apreciadores da arte e da cultura.
Paulo Cheida Sans
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APRESENTAÇÃO
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Os desenhos de Maria Regina Montenegro Leite Paulo Cheida Sans
EXPOSIÇÃO
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Estampa 2010 Bolívia - Brasil Luciene Sans
CAPA
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“Agregados” da expressão coletiva Luciene Sans
FOTO
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“El Paro!” nas lentes de Ricardo Lima Ricardo Lima
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APRESENTAÇÃO
Os desenhos de Maria Regina Montenegro Leite ou o fazer de novo como estética visual de fazer o novo
Paulo Cheida Sans
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aria Regina Montenegro Leite, ao folhear a sua dissertação de mestrado em Educação, Arte e História da Cultura, cursado na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, percebeu um novo rumo para a sua produção artística. Mirou o fruto do seu estudo, o objeto encadernado com capa dura em vermelho com a escrita em dourado, e olhou atentamente página por página, verificando a diagramação e as ilustrações de suas próprias obras e de outras imagens. Notou outra riqueza, expressiva, resultante do conjunto de ligação e sintonia das imagens. De autora, passou a ser leitora aguçada de seu próprio trabalho acadêmico, fazendo valer o seu olhar sensível de artista. Com a sua visão estética pautada sobre o visual de seu próprio estudo, a artista penetrou nas imagens para recriá-las em plenitude. Colocando a sua vivência sobre as fotos, confere uma nova situação, mais direta, do 4
que a transmissão da linguagem simbólica das palavras. O sentido direto de criar a partir dessa visão de interpretar a seqüência das ilustrações da dissertação possibilitou que Regina fizesse desenhos a lápis que mostram uma simbiose com as fotografias. Entre estas, focalizou a fachada da Escola onde lecionou, os desenhos que fazia na hora de folga, obras de artistas, cenas do cotidiano escolar, até mesmo do mapa da região e da planta baixa da Escola. Remexeu o seu mundo. Regina fez isso com muita propriedade, de modo peculiar, pessoal, em sintonia com a sua experiência contida como professora e como artista de longa data. Penetra no tempo, une o passado e o presente numa sintonia viva com o universo que ultrapassa o tempo e a distância. É um modo inusitado de apresentar uma espécie de releitura. A releitura possibilita a apropriação e a interpretação de Olho Latino nº20
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Projeto Podas. Frotagem coletiva durante a participação na EIA - Experiência Imersiva Ambietal.
modo profícuo como fonte de compreensão do presente via contemplação do passado. Para Nelson Screnci “fazer o novo é fazer de novo” (2010, p.28). O pensamento sensível é rápido, instantâneo. A artista transmuta as aparências das imagens estampadas na publicação para penetrá-las, propondo unicidades dos conjuntos dessas ilustrações. Sintetiza e cria uma força direta na criação de 75 desenhos a lápis de cor sobre papel Olho Latino nº20
reciclado, numa analogia expressiva com as ilustrações que os fizeram nascer. Apresenta na mostra as referências usadas que motivaram a criação dos desenhos juntamente com os mesmos e seus desdobramentos, com o intuito de revelar o seu processo criativo. Saber olhar, saber criar e saber mostrar. A artista desvela o seu e o nosso mundo. Isso faz lembrar Augusto Boal ao mencionar que “a árvore não deve esconder a floresta, 5
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Projeção de slides Flowers dos artistas Davi Weiss e Peter Fischili.
como disse um poeta, mas a floresta não tem o direito de esconder cada árvore que nela se perde; nem cada arbusto, cada ramo de flores, nem cada pétala de cada flor” (2009, p.111). Seus desenhos não estão no superficial, são íntimos. Num traçado próprio funde imagens e planos, em outros momentos enaltece situações, objetos e ângulos, mas sempre numa harmonia de cores e traços entre figura e fundo. São reflexos da maneira que 6
encontrou para conversar visualmente (e intelectualmente) consigo mesma, mostrando um significativo exemplo de aproveitar o seu conhecimento, a sua experiência de vida, a sua relação dialogal com as pessoas e os lugares. Como senso comum, de um grau mais elevado, o livro é o símbolo do universo. Fechado, induz à matéria virgem, consubstancia um segredo. Aberto, significa a matéria fecundada, oferecida àquele que o Olho Latino nº20
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desvenda e o investiga. No contexto dos novos desenhos de Regina, a artista se pôs como um livro aberto, como uma revelação, oferecendo pensamentos e sentimentos em formas visuais. Encerrando essa breve apresentação, sintetizo a atual produção de desenhos de Regina Montenegro, transcrevendo as palavras da pensadora portuguesa Teresa Vergani que diz: “Nosso conhecimento transforma-se em saber íntimo (consciência) quando se torna dilatação pessoal, certeza pacificada e exultante que adere à surpresa do mundo comungando-a” (2009, p.246). É assim que vejo os desenhos da artista: eles são uma comunhão de um saber íntimo em consonância direta com a sinergia da inocência
Registro fotográfico da Pintura de um Anônimo feita em uma árvore do centro de São Paulo.
primeva que existe na natureza humana. * * * Referências: BOAL, Augusto. A estética do oprimido. Rio de Janeiro: Garamound, 2009. SCRENCI, Nelson. Nelson Screnci: decálogo de um pintor. São Paulo: Pantemporâneo, 2010. VERGANI, Teresa. A criatividade como destino: transdisciplinaridade, cultura e educação. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2009.
Exposição: “Do livro vermelho com letras douradas aos desenhos a lápis de cor” de Maria Regina Montenegro Leite. Curadoria: Paulo Cheida Sans. Período da mostra: 10 de outubro à 01 de novembro de 2010. Visitação: de segunda a sábado, das 09h às 17h. Local: Museu Olho Latino (mezanino do Centro de Convenções e Eventos “Victor Brecheret”). Endereço: Al. Lucas Nogueira Garcez, 511 - Estância de Atibaia, SP. Realização: Museu Olho Latino e Prefeitura Municipal da Estância de Atibaia. Olho Latino nº20
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EXPOSIÇÃO
Estampa 2010 Bolívia - Brasil
Luciene Sans
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stampa 2010 - Intercâmbio Cultural Bolívia - Brasil é o título da mostra de gravuras do grupo Olho Latino com artistas bolivianos, que acontece de 11 a 24 de outubro, na Sala de Exposição da Faculdade de Arquitetura da Universidad Mayor de San Andrés (UMSA), em La Paz, Bolívia. O início desse intercâmbio aconteceu há18 anos, na ocasião da primeira mostra de gravura latinoamericana realizada, pelo Centro de Promoción del Arte y la Cultura – CPAC – na Casa de Cultura de La Paz. Na época, a mostra contou com parte da coleção pessoal de gravuras de Paulo Cheida Sans. Anos se passaram e hoje, com a fundação do Museu Olho Latino, sediado em Atibaia, no interior de São Paulo, o intercâmbio revive novamente com o prof. Dr. Paulo Cheida Sans e com a artista boliviana, Paola Rozo, que também participou da organização da mostra realizada em La Paz em 1992. O contato a favor da valorização da 8
arte da gravura dos dois países está a cargo, no Brasil, do Museu Olho Latino, e na Bolívia, do Colectivo de Grabado Boliviano. Para a mostra, os dois grupos de artistas apresentam gravuras em várias técnicas, como xilogravura, linogravura, serigrafia e gravura em metal. A temática é variada e o conjunto das gravuras revela uma poética de valorização da natureza e da vida. O grupo de arte brasileiro faz parte do setor de arte-educação do Museu Olho Latino, com sede de exposições. A primeira mostra do grupo foi realizada na Galeria da Casa da Cultura da América Latina da Universidade de Brasília, em 1996. A partir daí, o grupo já expôs em mais de 60 mostras realizadas em várias cidades do Brasil, entre elas, São Paulo, Recife, Curitiba, Piracicaba e Campinas, e até mesmo em Lima, Peru. O grupo Olho Latino também atua no caráter experimental, sendo ele o principal foco gerador da Olho Latino nº20
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Abertura da mostra em La Paz.
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Bienal do Esquisito, iniciada em 2001. Entre as mostras deste grupo destaca-se também a “Parábolas para o Século XXIII”, realizada na Capela do Morumbi em São Paulo. Representam o grupo Olho Latino na mostra em La Paz 15 artistas residentes em Campinas e região, sendo a maioria ex-alunos da PUCCampinas, licenciados no extinto curso de Educação Artística, nas décadas de 1980 e 90. São artistas com currículos expressivos, alguns possuem pós-graduação, participaram em mostras no exterior e já receberam premiações em salões de arte. A Bolívia está representada na mostra pelo Colectivo de Grabado Boliviano que conta com a participação de 14 artistas, todos também com currículos expressivos. Entre os destaques está o artista premiadíssimo Alejandro Salazar, um dos mais importantes desenhistas de humor da Imprensa da América Latina. No Brasil, Salazar representou seu país em várias mostras, como na II Bienal do Mercosul, realizada em Porto Alegre, RS, em 1999. Outro destaque é a participação de Paola Rozo, artista e agente cultural que Olho Latino nº20
Acervo Olho Latino
Xilogravura de Leonel Jurado.
residiu no Brasil alguns anos da década de 90, época em que expôs várias vezes no país. Depois mudou-se para a Holanda, onde concluiu a pósgraduação em Artes. Atualmente reside em La Paz. Participam da mostra, representando o Brasil, os seguintes artistas: Alex Roch, Celina Carvalho, Cibele Marion Sisti, Elika Ito, Euclides Sandoval, Flávia Bresil Palhares, Lisa França, Maricel Fermoselli, Paulo Cheida Sans, Regiane Capp Couto Buccioli, Rosmary Silva, Suely Arnaldo, Walcirlei Siqueira, Yoonjee Geem, Young Koh. Representam a Bolívia, os seguintes gravadores: Alejandro Salazar, Ana Barroso Calle, David Vargas, Diego Romay Salinas, Juan Ignacio Revollo, Leonel Jurado, Marco Guzman, Norka Paz Rodo, Oscar Velasquez, Paola Guardia Arzabe, Paola Rozo, Pablo Ruiz, Rafael Maldonado, Veronica Perez Sesano. A mostra está aberta à visitação até 24 de outubro na Sala de Exposição da Faculdade de Arquitetura – UMSA - Av. Villazón, 1995 - Monoblock Central - La Paz, Bolívia. Olho Latino nº20
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Apresentação de Paulo Cheida Sans para a inauguração da mostra: “É com muita satisfação que cumprimento a todas as pessoas presentes na abertura da mostra “Estampa 2010” - Intercâmbio Cultural Bolívia - Brasil. É uma exposição que marca a retomada de contato cultural da arte da gravura entre os dois países que, espero, seja duradouro e que aconteça por mais vezes. Iniciamos esse contato em 1992, por meio da artista boliviana Paola Rozo, que nos indicou o Centro de Promoción del Arte y la Cultura – CPAC, e nos ajudou na realização desta primeira mostra de gravura latino-americana junto a Alejandro Salazar y Huascar Cajías de la Vega, realizada na Casa de la Cultura. Novamente Paola Rozo nos ajuda para que o intercâmbio possa se realizar nos colocando em sintonia com El Colectivo de Grabado Boliviano, que nos acolheu de braços abertos. É também de braços abertos que o Museu Olho Latino acolhe a gravura boliviana para que essa mostra possa acontecer no Brasil. Creio que as culturas de nossos países são muito significativas, expressivas, e a gravura têm muita força para transmitir os nossos pensamentos, alegrias ou aflições com autenticidade e orgulho de sermos latinos, mesmo num mundo cada vez mais globalizado. O Museu Olho Latino, sediado na cidade turística de Atibaia, SP, no Brasil, está sendo representado nesta exposição pelo seu grupo de arte formado por professores e artistas que residem em Campinas, SP, e em cidades da Região Metropolitana desta cidade. Os expositores brasileiros são, a maioria, formados no curso de Educação Artística da PUC-Campinas - Pontifícia Universidade Católica de Campinas. São artistas com bons currículos, alguns possuem pós-graduação, participaram em mostras no exterior e já receberam premiações em salões de arte. A temática é variada e o conjunto das gravuras revela uma poética de valorização da natureza e da vida. Um dos principais objetivos do Museu Olho Latino é a valorização da gravura latino-americana. Em nosso acervo existem mais de 1000 gravuras de vários países que são expostas, sempre que possível, em mostras temáticas e itinerantes por várias cidades. Vários artistas que estão com gravuras em nosso acervo já morreram e, cada vez mais, o Museu Olho 12
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Latino tem uma responsabilidade maior em oferecer informações e realizações para que a arte da gravura se mantenha “viva”, atual e que seja respeitada e valorizada. Espero que continuemos o intercâmbio cultural boliviano brasilero e que a cada iniciativa os artistas possam fazer crescer a arte da gravura. Agradeço especialmente à artista Paola Rozo por possibilitar o contato para a realização deste intercâmbio e por acreditar e apoiar nossos “sonhos” culturais; agradeço ao Colectivo de Grabado Boliviano por aceitar e realizar esta exposição em conjunto; agradeço à Faculdade de Arquitetura e à Universidad Mayor de San Andrés por nos proporcionar a oportunidade de expormos; agradeço aos artistas expositores pelo talento e união em pró da arte da gravura; e agradeço aos visitantes da mostra, apreciadores da arte e a todas as pessoas que contribuíram para que esta exposição pudesse se tornar realidade. Agradeço, neste momento, mesmo sabendo de sua ausência entre nós, ao Sr. Huáscar Cajías, que me proporcionou mesmo de longe a oportunidade de acompanhar as suas publicações e realizações na promoção, valorização e respeito à cultura boliviana. Muito obrigado pela atenção”. * * * Exposição: Estampa 2010 – Bolívia - Brasil. Período da mostra: 11 a 24 de outubro de 2010. Expositores: . Bolívia: Alejandro Salazar, Ana Barroso Calle, David Vargas, Diego Romay Salinas, Juan Ignacio Revollo, Leonel Jurado, Marco Guzman, Norka Paz Rodo, Oscar Velasquez, Paola Guardia Arzabe, Paola Rozo, Pablo Ruiz, Rafael Maldonado, Veronica Perez Sesano. . Brasil: Alex Roch, Celina Carvalho, Cibele Marion Sisti, Elika Ito, Euclides Sandoval, Flávia Bresil Palhares, Lisa França, Maricel Fermoselli, Paulo Cheida Sans, Regiane Capp Couto Buccioli, Rosmary Silva, Suely Arnaldo, Walcirlei Siqueira, Yoonjee Geem, Young Koh. Local: Sala de Exposicão da Faculdade de Arquitetura (ex asilo San Ramón) da Universidad Mayor de San Andrés (UMSA) - La Paz - Bolívia. Olho Latino nº20
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ACERVO CAPA
“Agregados” da expressão coletiva Luciene Sans
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lho Latino em dose tripla??? As gravuras de grandes dimensões dos 12 artistas integrantes do Grupo Olho Latino estarão expostas simultaneamente em três lugares diferentes: no Brasil, o Museu Olho Latino (Atibaia, SP) e o Laboratório das Artes (Franca, SP) estão encarregados de expor as gravuras; no Peru, a galeria Taller Kimkilen é a responsável por mostrar as gravuras ao público peruano. A mostra “Agregados” não poderia ter um nome mais sugestivo do que esse para representar a comunhão que ocorre através dela. Se por um lado essa mostra “agrega” o Brasil ao Peru na edição que acontece na Galeria Taller Kimkilen, por outro ela mostra como as gravuras dos artistas do Grupo Olho Latino se “agregam” umas às outras; E não é só no sentido figurado. A gravura possibilita que o artista faça tiragem da matriz, ou seja, reproduza a mesma obra mais do 14
que uma vez. A matriz mais usada pelo grupo é a madeira, modalidade técnica conhecida como xilogravura. Cada um dos artistas fez a sua gravura sendo composta por três partes, para que fosse desmembrada e misturada às demais partes das outras gravuras, formando assim uma nova obra. Isso explica o título da mostra, pois são obras que podem se multiplicar quando as partes são casadas entre as diferentes peças, formando um trabalho coletivo. As gravuras, que separadas mostram a originalidade e a característica distinta entre os artistas, conseguem formar, quando unidas, “novas versões” completamente dependentes, criam novo significado, transparecem um novo encaixe visual. Uma mistura de estilos tão distintos, mas ao mesmo tempo “agregados”, causa uma expressão homogênea carimbada no tecido. Sobre as obras, Celina Carvalho, coordenadora adjunta do grupo, diz Olho Latino nº20
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Vista parcial da mostra no Museu Olho Latino.
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Alex Roch.
Celina Carvalho.
Cibele Marion Sisti.
Elika Ito.
Flรกvia Bresil Palhares.
Lisa Franรงa.
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Celina Carvalho, Suely Arnaldo e Walcirlei Siqueira.
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Maricel Fermoselli.
Suely Arnaldo.
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Paulo Cheida Sans.
Walcirlei Siqueira.
Regiane Capp Couto Buccioli.
Young Koh.
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Lisa Franรงa, Alex Roch e Cibele Marion Sisti.
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Cibele Marion Sisti
que “as partes soltas das gravuras oferecem inúmeros modos de apresentação e, em cada nova disposição das peças, a obra fica inédita já que possibilita um resultado totalmente diferente da matriz idealizada”. O preto e o branco criam vida, como se enchessem de cor as transformações metamorfósicas daquelas obras. Formadas pelos diferentes encaixes das gravuras, as novas figuras, por mais bizarras que possam parecer, cativam e convidam para uma viagem de inúmeras possibilidades de criação, fazendonos imaginar mais uma nova figura montada com as partes das gravuras, mesmo que ela não tenha sido efetivamente impressa no tecido. 20
“E se juntasse essa com aquela?”, “talvez o pé no lugar da cabeça?”... Além das diversas possibilidades que são expostas, desvendando novas obras com as mesmas matrizes, essa mostra permite que o espectador exercite sua criatividade, montando ainda mais figuras dentro da sua própria cabeça, despertando o interesse para atentar a cada detalhe de cada gravura separada a fim de unir as partes e formar um novo “agregado”. O Grupo Olho Latino: O grupo de artistas, coordenado pelo prof. Dr. Paulo Cheida Sans, faz parte do setor de arte-educação do Museu Olho Latino, com sede em Olho Latino nº20
Vista parcial da mostra na galeria Taller Kimkilen.
Atibaia. No entanto, a atuação do grupo de artistas atinge várias cidades. A primeira mostra desse grupo foi realizada na Galeria da Casa da Cultura da América Latina da Universidade de Brasília, em 1996. A partir daí, o grupo já expôs em mais de 50 mostras realizadas em várias cidades, entre elas, São Paulo (SP), Recife (PE), Curitiba (PR), Juiz de Fora (MG) e Jundiaí (SP); e também no exterior, em La Paz, Bolívia. Recentemente expôs no Museu de Arte Contemporânea de Campinas, na Pinacoteca Municipal de Piracicaba e no Centro de Cultura Afro-Brasileiro de São Carlos. O grupo Olho Latino é formado por 12 artistas residentes em cidades Olho Latino nº20
do interior do Estado de São Paulo. Todos são formados em Artes e são artistas com currículos extensos. Alguns foram premiados em salões e expuseram no exterior. Participam da mostra os seguintes artistas: Alex Roch, Cibele Marion Sisti, Celina Carvalho, Elika Ito, Flávia Bresil Palhares, Lisa França, Maricel Fermoselli, Paulo Cheida Sans, Regiane Capp Couto Buccioli, Suely Arnaldo, Walcirlei Siqueira e Young Koh. * * * A série “Agregados” é composta por xilogravuras impressas em tecido de 70 x 120 cm cada.
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Celina Carvalho, Young Koh e Paulo Cheida Sans.
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Exposição: “Agregados de la expresión colectiva” – Gravuras do Grupo Olho Latino Curadoria: Paulo Cheida Sans Expositores: Alex Roch, Cibele Marion Sisti, Celina Carvalho, Elika Ito, Flávia Bresil Palhares, Lisa França, Maricel Fermoselli, Paulo Cheida Sans, Regiane Capp Couto Buccioli, Suely Arnaldo, Walcirlei Siqueira e Young Koh. Visitação: 29 de outubro a 06 de novembro de 2010. Entrada franca. Local: Taller Kimkilen Endereço: Av. Grau 170, Barranco - Lima, Peru.
Exposição: “Agregados de la expresión colectiva” do Grupo Olho Latino. Curadoria: Paulo Cheida Sans. Expositores: Alex Roch, Cibele Marion Sisti, Celina Carvalho, Elika Ito, Flávia Bresil Palhares, Lisa França, Maricel Fermoselli, Paulo Cheida Sans, Regiane Capp Couto Buccioli, Suely Arnaldo, Walcirlei Siqueira e Young Koh. Período da mostra: 18 de outubro a 12 de novembro de 2010. Visitação: de segunda a sexta, das 10h às 12h e das 14h às 17h. Local: Laboratório das Artes de Franca - Lab. Endereço: Rua Cuba, 1099 - Jardim Consolação - Franca, SP.
Exposição: “Agregados” – mostra do Grupo Olho Latino Curadoria: Paulo Cheida Sans. Expositores: Alex Roch, Celina Carvalho, Cibele Marion Sisti, Elika Ito, Flávia Bresil Palhares, Lisa França, Maricel Fermoselli, Paulo Cheida Sans, Regiane Capp Couto Buccioli, Suely Arnaldo, Walcirlei Siqueira, Young Koh. Período da mostra: 23 de outubro a 20 de novembro de 2010. Visitação: de terça a sábado, das 09h às 17h. Local: Museu Olho Latino (mezanino do Centro de Convenções e Eventos “Victor Brecheret”). Endereço: Al. Lucas Nogueira Garcez, 511 - Estância de Atibaia, SP. Realização: Museu Olho Latino e Prefeitura Municipal da Estância de Atibaia. Olho Latino nº20
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FOTO ARTIGO
“El Paro!”
nas lentes de Ricardo Lima
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Ricardo Lima
Ricardo Lima.
No idioma quíchua, Cusco significa umbigo. Umbigo do mundo? Para os incas, que a fundaram e transformaram na capital de um império, certamente não. Os incas acreditavam em deuses extraterrestres e sabiam muito bem que a Terra não é o centro do universo. Quando os espanhois tomaram a cidade, em 1532, ainda se mandava para a fogueira quem ousasse dizer, na Europa, que a Terra gira em torno do Sol. Registros apontam que Cusco é habitada continuamente há uns 3.000 anos. Mas se levarmos em conta apenas a fundação inca, no século XI, já basta para afirmar que é a cidade mais antiga de toda a América. As fotos desta exposição mostram a 24
vida, hoje, dos herdeiros incas. Uma vida às vezes opaca, mesmo sob a luz andina dos mil metros de altitude, mas com lampejos dourados daquele império cintilante. O espaço físico das fotos vai da antiga capital inca até o Lago Titicaca. Nos mapas atuais o trajeto é dividido por uma fronteira que separa o Peru da Bolívia. Na vida real, no entanto, é tudo a mesma coisa. Uma coisa que já foi chamada por muita gente de “O Coração da América do Sul”. América que para nós, no Brasil, às vezes está mais distante do que as praias ensolaradas de Miami. As cores, cheiros, sons e calores destas imagens provocam estranhamento e familiaridade ao mesmo tempo. Olho Latino nº20
Ricardo Lima - Igreja - MĂşsicos celebram feriado sagrado em La Merced (igreja e convento, fundados em 1536). . .
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Ricardo Lima - Machu Picchu - é o sítio arqueológico mais conhecido da América do Sul. Fica a aproximadamente 150 km de Cuzco no Peru. As ruínas ficam em uma montanha a 2.560 metros de altura acima do nível do mar.
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Ricardo Lima - Meninas - Lindo sorriso que revela a alegria da infância,Ollantaytambo, Vale Sagrado Peru.
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ma - Mercado - Transporte de carne se confunde com a população no Mercado Popular de Cuzco, Peru.
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Ricardo Lima - Músico - Músico celebra feriado sagrado em La Merced. . .
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Ricardo Lima - Pastor - Pastoras desde cedo se acostumam a dura vida no campo, no vale do Rio Urubamba, Peru.
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Ricardo Lima - El Paro X - Dualidade entre as gerações em Ollantaytambo, Vale Sagrado Peru.
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Colaboradores desta edição:
Luciene Sans - Jornalista, poeta e assessora de imprensa do Museu Olho Latino. Jornalista responsável pela Revista Digital Olho Latino.
Paulo Cheida Sans - Professor do Curso de Artes Visuais da PUCCampinas. Doutor em Artes Visuais pela Unicamp. Curador do Museu Olho Latino.
Ricardo Lima - Jornalista e repórter fotográfico. Fotógrafo da PUC-Campinas. Foi fotógrafo do jornal Folha de São Paulo – sucursal Campinas. Fez coberturas para Revista Época e outras.
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