O MAL-EDUCADO luta e organização nas escolas
É
#1 · set/2012 · gremiolivre.wordpress.com
Estudantes e professores derrubam direção autoritária
assim praticamente em todas as escolas: diretores mandam em professores e alunos; professores mandam em alunos, e estes, por sua vez, não tem nenhuma voz. Mas, em 2009, uma escola do extremo sul de São Paulo inverteu isso. A comunidade escolar se uniu e derrubou a diretora, que governava como se fosse dona da escola. A E.E. José Vieira de Moraes, localizada no bairro do Rio Bonito, Interlagos, é considerada uma das melhores escolas da região, atraindo alunos que viajam mais de 10 km para lá. Mas, o que podia parecer um sonho se tornou um pesadelo quando, em 2009, uma nova diretora assumiu o comando. Ela se propunha a implantar uma rigidez sem limites na escola: queria que alunos e professores se tornassem marionetes. Não tardou muito, porém, para que se instalasse um clima de revolta generalizada. Mal completava um mês de aula e, no dia 10 de março, logo pela manhã, os alunos trancam os portões do pátio e realizam um protesto contra a direção da escola. A polícia é chamada para conter a revolta e, mesmo assim, ela segue por todo o dia, continuada pelas turmas da tarde e da noite. Durante toda a semana, são feitas manifestações relâmpago – a qualquer momento
Manifestantes em ato pela região.
os alunos descem para o pátio e protestam. A diretora se reúne com alguns representantes dos estudantes e se compromete a cumprir uma série de reivindicações feitas por eles. Passados dois meses sem que nada fosse cumprido, ocorre mais uma manifestação, e a diretora ameaça cinco alunos de expulsão. Depois disso, o movimento entra em refluxo A comunidade escolar em manifestação em frente à E.E. José Vieira de Moraes, Rio Bonito (Interlagos). e praticamente desaparece. No Conselho de Escola, os amargo na boca: embora a derrubada estudantes, em minoria, travam um da direção expressasse a força que lento combate, que, ainda assim, os estudantes haviam conquistado, a rende importantes vitórias: o direito nova administração não seria escoà entrada na segunda aula para os lhida pela comunidade escolar, como alunos do noturno; a abolição do uso eles queriam, mas pelo governo. Após a conquista, o movimento se obrigatório do uniforme e da carteirinha; e a escolha do vice-diretor e desmantelou. Grande parte dos estudantes envolvidos na luta concluiu o da coordenadora. No segundo semestre uma alian- ensino médio e deixou a escola. Os ça firmada entre os alunos, funcio- poucos que restaram, estavam disnários, professores e o sindicato dos persos. Embora tivessem o projeto professores se compromete a reto- de construir um grêmio que fosse camar a mobilização. Em meados de paz de dar continuidade a essa batanovembro, todos paralisam os tra- lha e manter os alunos organizados, balhos e convocam a comunidade não conseguiram fazer nada nesse e os pais a protestarem em frente à sentido. Tudo voltara a ser como anescola. No mesmo mês, os alunos tes, e a nova diretoria logo se mosboicotam o SARESP e participam trou tão autoritária quanto à anterior. de um ato junto a outros colégios Os estudantes não tinham mais força contra a prova. Em dezembro, con- para se levantar contra ela e foram se seguem uma reunião com o Secre- conformando. Mas, no fundo, muitos tário da Educação, Paulo Renato, e continuam revoltados com a escola e exigem a saída da diretora. Mas o guardam a mesma raiva que os aluano acaba sem nenhuma resposta. nos tinham em 2009. E enquanto for No entanto, logo no início de assim, eles tem tudo para se organi2010, o governo do Estado anuncia zar de novo. a remoção da diretora e a nomeamais informações ção de uma nova gestão. Os alunos revolucaoeducacional.blogspot.com comemoram a vitória com um gosto (blog dos alunos da turma de 2009)