Edição 2

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ONDA JOVEM

O Instituto Votorantim apóia essa causa.

A NOVA FORÇA DO TRABALHO número 2 – julho 2005

A NOVA FORÇA DO TRABALHO ano 1 – número 2 – julho 2005

E quer ver muitos jovens fazendo sucesso na capa.

Como os jovens enfrentam os desafios de um mundo em transformação, que exige cada vez mais educação e espírito empreendedor


ONDA JOVEM

O Instituto Votorantim apóia essa causa.

A NOVA FORÇA DO TRABALHO número 2 – julho 2005

A NOVA FORÇA DO TRABALHO ano 1 – número 2 – julho 2005

E quer ver muitos jovens fazendo sucesso na capa.

Como os jovens enfrentam os desafios de um mundo em transformação, que exige cada vez mais educação e espírito empreendedor


sonar

O desemprego entre os jovens é o dobro da média geral

48% dos jovens empregados não têm carteira assinada 42% DOS ESTUDANTES DE 18 A 24 ANOS ESTÃO ATRASADOS 46% dos empreendimentos brasileiros surgem por necessidade e não por oportunidade


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Iniciativas em Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro investem no potencial da juventude pág. 46

Empregabilidade juvenil envolve poder público, iniciativa privada e terceiro setor pág. 64 UM PROJETO NO CEARÁ LEVA ALUNOS DO CAMPO ATÉ A UNIVERSIDADE PÁG. 14 Uma incubadora de negócios apóia jovens empreendedores pág. 18


âncoras “Como alguém com 16, 17 anos pode ser experiente se ninguém dá uma oportunidade?” Angelina de Lima Ramos,

22 anos, vendedora mineira que planeja uma carreira militar

“Nos próximos 20 anos, a indústria e a agropecuária empregarão menos gente e o comércio e serviços empregarão muito mais.” José Pastore,

sociólogo e professor de Relações do Trabalho da Universidade de São Paulo

“Há pouca qualificação, o que leva a pouca oportunidade. Com investimento, os jovens conseguem se destacar.” Neilton de Freitas,

21 anos, faz curso de atendimento como garçom e estuda inglês para ser intérprete em Natal

“No futuro, vai se dar bem quem tiver jogo de cintura para fazer mais coisas, misturar projetos. É descobrir alguma coisa que te apaixone e fazer aquilo.” Diana Tatit,

“O fosso entre o manual e o intelectual tende a ser a armadilha onde podem perecer as melhores intenções de formação profissional.” Claudio de Moura Castro,

economista, especialista em educação

HENK NIEMAN

21 anos, do grupo de animação infantil Tiquequê, de São Paulo


“Trabalhar é ter uma participação economicamente ativa na sociedade. Os princípios do trabalho solidário são uma nova forma de participar.” Verônica Sá,

VALTER PONTES/COPERPHOTO

18 anos, do grupo Conexão Solidária, de Salvador

“O caminho é difícil, mas ninguém deve se contentar com menos do que deseja.” Mônica MacDowell,

presidente do Natal Voluntários

“Eu me sinto intelectualmente recompensado. Mas do ponto de vista financeiro, a figura geral é outra. O valor da bolsa de mestrado é baixo.” Alberto Garcez Martins,

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“É muito cansativo trabalhar o dia todo e ainda estudar à noite. Tinha de andar muito para ir de um lugar ao outro.” A. L.,

16 anos, deixou a escola e se dedica somente ao trabalho em um mercadinho

DANIELA PICORAL

22 anos, faz mestrado em Astrofísica na USP

“O problema de alunos de escolas públicas, como era o meu caso, é não acreditar e não saber como concretizar os seus sonhos.” Mônica Alves,

23 anos, é arquiteta e trabalha na restauração de prédios em São Paulo


Projeto editorial e realização Fátima Falcão e Marcelo Nonato Olhar Cidadão – Estratégias para o Desenvolvimento Humano www.olharcidadao.com.br Direção editorial Josiane Lopes Secretaria editorial Lélia Chacon Projeto gráfico Artur Lescher e Ricardo van Steen (Tempo Design) Colaboradores texto: Aydano André Motta, Cecília Dourado, Cláudio de Moura Castro, Edivan Galdino, Fátima Olivier Sudbrack, Flavia Oliveira, Iara Biderman, José Luiz Ricca, José Pastore, Karina Yamamoto, Lédio Carmona, Leusa Araújo, Marco Roza, Mariana Camarotti, Sebastião Aguiar, Silvio Bock, Yuri Vasconcelos foto: Alexandre Sevro, Anderson Oliveira, Bruno Garcia, Bruno Veiga, Carlos Cavalcante, Daniela Picoral, Davilym Dourado, Edson Costa, Felipe Barra, Gustavo Magnusson, Henk Nieman, Humberto Nicoline, Jason Amaral, Levi Silva, Marcelo Elias, Márcia Zoet, Marcos Fernandes,

DANIELLE J AIMES

ilustração: Danielle Jaimes, Marcelo Pitel, Rodolfo Herrera

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Apoio editorial: Vinicius Precioso (Instituto Votorantim) Revisão: Eugênio Vinci de Moraes Diagramação Ricardo Borges, Érico Martins, Paulo Primati D’Lippi Editorial Fotolito D’Lippi Editorial Impressão Gráfica Sag Na capa, Ana Cláudia Lins, fotografada por Felipe Barra Como entrar em contato com Onda Jovem: E-mail: ondajovem@olharcidadao.com.br Endereço: Rua Dr. Neto de Araújo, 320 - conj. 403, São Paulo, CEP 04111 001. Tel. 55 11 5083-2250 e 55 11 5579-4464 www.ondajovem.com.br um portal para quem quer saber de juventude Agradecimentos: Andi – Agência de Notícias dos Direitos da Infância, Karla Girotto, Benedetti Guitar Repair, Escola Técnica Estadual GetúlioVargas

MARCOS FERNANDES/AGÊNCIA LUZ

Um projeto de comunicação apoiado pelo Instituto Votorantim

Milton Winkelmann, Nidia Linhares, Penna Prearo, Ricardo Ayres, Sadraque Santos, Sara Marinho, Valter Pontes

BRUNO GARCIA

ano 1 – número 2 julho-outubro 2005

SADRAQ UE SANTOS

expediente

A entrada no ar do site de Onda Jovem (www.ondajovem.com.br), patrocinado pelo Instituto Votorantim, concretiza o objetivo de ampliar o acesso ao seu conteúdo, preparado especialmente para agentes do terceiro setor e educadores em geral que atuam com a juventude. Além de disponibilizar as reportagens e ensaios da edição de forma atualizada, o site acrescenta conteúdos exclusivos, com duas áreas de destaque: a pedagógica, dirigida aos educadores, e a de produção juvenil, destinada aos jovens. No ambiente chamado Sala dos Professores, os usuários poderão conhecer detalhes dos projetos de colegas, trocar informações e ter acesso aos Planos de Aula, que são sugestões de dinâmicas e formas didáticas de explorar os textos de Onda Jovem com os estudantes. Os Planos de Aula são formulados por pedagogos especializados. Na área do site dedicada aos jovens talentos estão textos, entrevistas e criações artísticas, expondo uma pequena parte da enorme produção juvenil brasileira.

ARNALDO CARVALHO

ONDA JOVEM CHEGA À REDE

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8 - Navegantes A profissionalização e a inserção no mercado de trabalho na perspectiva dos jovens

14 - Mestres Três educadores que têm em comum o amor pela ciência

18 - Banco de Práticas Quatro iniciativas para a profissionalização

22 - Caminho das Pedras A guinada do Centro de Profissionalização de Adolescentes Padre Bello, de São Paulo

26 - Horizonte Global Cooperativas e microcrédito dão trabalho à juventude de Bariloche, na Argentina

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é o número de projetos com jovens que você verá nesta edição

28 - Sextante Qual o futuro do mercado de empregos?

30 - 90 Graus

Sonar 02

Trabalho e valores: é preciso resgatar a dimensão social além do projeto pessoal do trabalhador

Pistas do todo e de algumas partes da situação do jovem

34 - 180 Graus Os jovens brasileiros são muito empreendedores, mas ainda falta qualificar e dar durabilidade a essas iniciativas

38 - 270 Graus Trabalho e escola: a fórmula que separa teoria e prática enguiça a educação profissional

42 - 360 Graus Trabalho e escolha: a possibilidade de fazer opções profissionais deve existir para todos

46 - Sem Bússola O desemprego e o subemprego juvenil desperdiçam potenciais e talentos

52 - O Sujeito da Frase O ginasta Diego Hypólito fala sobre as lições do esporte

56 - Luneta Os digitais: as respostas da juventude à falta de empregos

Âncoras

04

Uma coleção de conceitos sobre trabalho

Links 72 Notícias sobre juventude e sobre o terceiro setor

Fato Positivo 74 A inclusão digital está crescendo no Brasil

60 - Ciência Tempo: a aceleração percebida pelos jovens tem relação com o tanto que se trabalha

Cartas 76

64 - .gov.com

A palavra do leitor

Antigas e novas experiências sobre trabalho juvenil mostram que as soluções dependem de todos

68 - Chat de Revista Quatro jovens discutem como conciliar satisfação profissional e sobrevivência

Navegando Uma HQ sobre trabalho, por Danielle Jaimes

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navegantes

Como jovens brasileiros buscam a profissionalização e enfrentam os obstáculos para ingressar em um mercado cada vez mais exigente

PROCURA-SE

TRABALHO por_ Aydano André Motta


se acertando com a vida em pleno movimento, como Débora, paulista de determinação infinita. Rigorosamente nenhum deles abdica de sonhar. Do jeito que permite a vida real, expressa nas estatísticas de emprego no Brasil. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do IBGE, mostra que, em 2003 (último dado disponível), havia 17,2 milhões de pessoas entre 15 e 24 anos com algum tipo de ocupação, pouco mais da metade dos 34 milhões desta faixa etária. Pelas projeções, este número já ultrapassa os 35 milhões, em 2005, mas a proporção de ocupados não deve ter se alterado muito. Vocação precoce Entre esses brasileiros está Edgard, que descobriu ainda criança, aos 10 anos, o que queria da vida. Filho de um médico e uma advogada, ganhou um computador, e a vontade de produzir algo de útil fez o resto. Ele inventou o aonde.com, um site de busca, que foi ao ar em março de 1997, quando seu criador tinha apenas 13 anos. No auge da bolha das empresas de internet, na virada do século, a página virtual do garoto nascido em Copacabana chegou a ser avaliada em R$ 10 milhões. O negócio acabou não se concretizando, mas o hoje empresário de 21 anos, recém-formado em Administração (e a caminho do mestrado), segue feliz e resolvido. Com três funcionários, sua empresa ocupa um conjunto de salas no Centro do Rio e mantém um segundo site, o namoro.com, de relacionamentos. “É um desa-

ANA CLÁUDIA LINS, 22 ANOS A psicóloga de Brasília descobriu na faculdade seu interesse em lidar com crianças e agora faz estágio em uma escola

9 FELIPE BARRA

Débora, Francis, Ana Cláudia e Neilton têm, em vários sentidos, um Brasil de distância a separá-los. Com vidas, origens e classes sociais distintas, são de diferentes regiões do país, mas enxergam, diante de si, dilemas, obstáculos e incertezas similares. Iguais a milhões de outros jovens país afora, eles enfrentam o desafio dos primeiros passos num mundo novo, a vida adulta, numa de suas faces mais importantes – a chegada ao mercado de trabalho. No duelo contra a indecisão vocacional e a falta de experiência, vão precisar de determinação e flexibilidade. Como aliado, a semelhança mais forte, felizmente muito comum na idade deles: o sonho. É traço obrigatório na existência jovem. Nenhum deles, rico, pobre ou remediado, quer ficar onde está. Uns são precoces, como Edgard Nogueira, carioca que pegou a estrada da maturidade aos 13 anos; outros só desabrocham na esquina da maioridade, como Jaqueline de Lima, gaúcha que descobriu seus objetivos por meio de um projeto social; alguns vão


navegantes

EDGARD NOGUEIRA, 21 ANOS Carioca, o criador do site aonde.com fez da diversão um negócio e virou empresário aos 13 anos

DÉBORA TATIANA VILHENA, 19 ANOS

Desejos e prioridades A Síntese de Indicadores Sociais do IBGE indica que, dos adolescentes entre 15 e 17 anos, 60,9% apenas estudam; 21,4% estudam e trabalham, e 7,7% somente trabalham. Os números se alteram quando tratam dos jovens de 18 a 24 anos: 30,4% dedicamse integralmente aos estudos; 31,3% trabalham e estudam; e 26,9% são exclusivamente trabalhadores. A remuneração é baixa, típica de quem está começando: 38,2% dos jovens ganham até um saláriomínimo por mês, e apenas 15,7% recebem mais do que dois salários-mínimos. Num quadro tão hostil, achar a direção correta é cada vez mais difícil. Débora Tatiana Vilhena, 19 anos, abriu mão de alguns sonhos, para preservar outros. Nascida numa família pobre da cidade de Mairinque, em São Paulo, abdicou da universidade. Dois anos atrás, mudou-se para a casa da avó em São Roque, cidade maior, também em São Paulo, onde conseguiu emprego como empacotadora de supermercado. “Precisava trabalhar logo, para conseguir as coisas que sonho”, assume, a voz firme dos caçadores de objetivos. Hoje, ela está tomando conta da loja, no lugar do gerente que saiu, numa jornada das 8h às 19h. Estuda inglês e informática e, até segunda ordem, arquivou a

idéia da universidade. “Particular é muito cara; pública, muito difícil. A luta pela faculdade gratuita é muito injusta”, constata. “Sempre soube que teria de dar duro”, acrescenta Débora, que já conseguiu comprar um carro a prestação. Falta só virar gerente, o mais complicado. “Todos reconhecem minha capacidade, mas dizem que sou muito menina, que posso esperar”, conta. “Não quero nada demais: um bom emprego, uma casa para poder casar e ter filhos. Ah, e ajudar minha família”, é claro. Preservar os desejos é mesmo fundamental, afirma Mônica MacDowell, presidente do Natal Voluntários, ONG que se dedica à articulação de organizações para capacitação e inclusão de jovens no mercado do Rio Grande do Norte. “Todos têm ambição, mas o funil social muitas vezes impede que ela aflore”, diz. “Buscamos dar uma primeira oportunidade, sem nunca abandonar a idéia de crescimento. O caminho é difícil, mas ninguém deve se contentar com menos do que deseja.” Integrante do projeto, Neilton de Freitas aprendeu a lição. Aos 21 anos,

MARCOS FERNANDES

ANDERSON OLIVEIRA

Paulista de Mairinque que trabalha em São Roque, ela não é promovida por ser “muito menina”

fio permanente, um projeto de vida”, traduz ele. “Tive a felicidade de encontrar meu caminho logo.”

Dos 35 milhões de jovens entre 15 e 24 anos, aproximadamente a metade trabalha, mas a remuneração é baixa: só 15% ganham mais de dois salários mínimos


SOBRE PARA SABER MAIS

SOBRE PARA SABER MAIS

PROJETO PESCAR, DESENVOLVIDO PELA FUNDAÇÃO DO MESMO NOME ÁREA DE ATUAÇÃO ESTADOS DO RIO GRANDE DO SUL, PARANÁ, SANTA CATARINA, SÃO PAULO, RIO DE JANEIRO, MINAS GERAIS, RIO GRANDE DO NORTE, RONDÔNIA E CEARÁ, E BRASÍLIA PROPOSTA Franquia social, voltada para a formação pessoal e profissional de adolescentes de baixa renda, encaminhando-os, depois, ao mercado de trabalho, além de estímulo a novos hábitos e atitudes de convivência e cidadania JOVENS ATENDIDOS 8.500, nos dez anos de existência do projeto APOIO AES SUL, AGCO DO BRASIL, BANCO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, PETRÓLEO IPIRANGA, GRUPO GERDAU, HSBC, INFRAERO, LINK EQUIPAMENTOS RODOVIÁRIOS, LOJAS RENNER, VARIG, VOLVO E ZF DO BRASIL CONTATO Avenida Sertório, 1988, Portão 8 – 91020-000 – Porto Alegre (RS) – Tel.: 51/33377400 – e-mail: pescar@via-rs.net

PROGRAMA ASA BRANCA, DA ONG NATAL VOLUNTÁRIOS ÁREA DE ATUAÇÃO RIO GRANDE DO NORTE PROPOSTA Formação profissional, qualificação e garantia de empregabilidade de jovens por meio de parcerias entre organizações do terceiro setor, instituições públicas, empresas e universidades JOVENS ATENDIDOS 50 por turma APOIO FUNDAÇÃO KELLOGG, SALESIANOS, SENAC-RN, CEFET, SESC-RN, FAL E INSTITUTO ALPARGATAS CONTATO Avenida Rodrigues Alves, 871 – 59020-200 – Natal (RN) – Tel.: 84/2111527 – e-mail: asabranca@natalvoluntários.org.br

Neilton tem noção das dificuldades mas estabelece suas metas. Não vai parar enquanto não for intérprete de inglês. “Muita gente me desanima, diz que não vou conseguir, mas o ser humano foi feito para vencer as dificuldades. Sou jovem, tenho todas as chances”, acredita. Mas também reivindica: “Há pouca qualificação, o que leva a pouca oportunidade. Com investimento, os jovens conseguem se destacar”.

Em treinamento para ser garçom, o ex-jogador de futebol de Natal quer aprender inglês para se tornar intérprete

ANGELINA DE LIMA RAMOS, 22 ANOS Crítica da forma como o mercado trata o jovem, a mineira de Juiz de Fora é comerciária, mas planeja uma carreira militar

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JASON AMARAL

HUMBERTO NICOLINE

JASON AMARAL

morador da periferia de Natal, está terminando o curso de garçom, no projeto Asa Branca, mantido pelo Natal Voluntários. “Busquei o setor de turismo, forte na cidade”, conta ele que, antes, tentou o mais brasileiro dos sonhos: ser jogador de futebol. “Cheguei a treinar num clube, mas tive de trabalhar para ajudar em casa.”

NEILTON DE FREITAS, 21 ANOS


SOBRE PARA SABER MAIS

INCUBADORA AFRO-BRASILEIRA, MANTIDA PELO INSTITUTO PALMARES DE DIREITOS HUMANOS ÁREA DE ATUAÇÃO COMUNIDADES POPULARES DO RIO DE JANEIRO PROPOSTA Redução das desigualdades de oportunidades para os afro-brasileiros, por meio da incubação de novos negócios e incentivo ao empreendedorismo JOVENS ATENDIDOS 450 APOIO INTER AMERICAN FOUNDATION, INSTITUTO DO VAREJO, CLUBE DOS DIRETORES LOJISTAS DO RIO, SINDICATO DOS LOJISTAS DO RIO, UFRJ, FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, SECRETARIA DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL E MINISTÉRIO DO TRABALHO CONTATO Rua Mem de Sá, 39 – Lapa – 20239-010 – Rio de Janeiro (RJ) – Tel.: 21/22321732 – e-mail: contato@ia.org.br

PROJETO JOVEM APICULTOR DE ENCRUZILHADA DO SUL (PROJAPES), MANTIDO PELA UNIVERSIDADE DE SANTA CRUZ DO SUL - UNISC (RS) ÁREA DE ATUAÇÃO ASSENTAMENTOS RURAIS NA REGIÃO DE ENCRUZILHADA DO SUL PROPOSTA Capacitar jovens e estimular o empreendedorismo rural por meio da criação de abelhas e produção de mel e própolis JOVENS ATENDIDOS 35, com idades entre 15 e 24 anos APOIO UNISC, SECRETARIA DE AGROPECUÁRIA DE ENCRUZILHADA DO SUL, EMATER E ESCOLA AGRÍCOLA DOUTOR ZENO PEREIRA DA LUZ CONTATO Universidade de Santa Cruz do Sul. Avenida Independência, 2293 – Bairro Universitário – 96815-900 – Santa Cruz do Sul (RS) – Tel.: 51/37177300 – e-mail: info@unisc.br

reira militar, para aprumar uma vida difícil desde sempre. Angelina perdeu a mãe com 9 anos e praticamente criou os dois irmãos mais novos. “Amadureci na marra, mas fui à luta e aprendi uma lição importante: a gente conta é com a gente mesmo”, ensina. Está longe de ser mais fácil para William Sebastião dos Santos Oliveira, 22 anos, que só pôde estudar até a 6 a série, porque precisou trabalhar para ajudar em casa. Ele mora numa comunidade popular do bairro do Encanta-

“Consegui progredir na vida profissional a partir do Projeto Pescar. Em 2001, fiz um curso de capacitação, de oito meses, fiquei em primeiro lugar e consegui um emprego de operadora de máquinas na Mundial, uma indústria de Caxias do Sul. Hoje sou inspetora de qualidade, cuidando das peças de um dos setores da fábrica. Tive de virar adulta muito cedo, fui criada pela minha avó e tenho pouco contato com minha família. Sempre estudei em escola pública e consegui bolsa para o pré-vestibular. Troquei a faculdade de Engenharia de Produção por Administração de Empresas, um curso mais barato e de retorno mais rápido. Mais tarde, posso fazer pós-graduação em Engenharia. Faço faculdade de manhã, entro na fábrica às 14h e vou até meia-noite. Ganho mil reais por mês e já consegui comprar a minha casa. Sei que para as mulheres tudo é mais difícil, temos de provar o tempo inteiro nossa capacidade, mas estou feliz e quero seguir carreira na empresa. Consegui comprar minha casa porque sou cuidadosa, não gasto mais do que ganho e sigo um planejamento rígido. Por isso, já vou avisando, filhos, só depois dos 30.”

JAQUELINE DE LIMA, 22 ANOS, é gaúcha de Caxias do Sul

EDSON COSTA

O FUTURO É AGORA

Longe da faculdade Um dos sonhos obrigatórios da classe média brasileira, cursar uma faculdade, não faz parte do horizonte de Angelina de Lima Ramos. Aos 22 anos, quatro deles como vendedora de uma loja de iluminação em Juiz de Fora (MG), ela acha que as provas são muito concorridas. “Não tenho condições de enfrentar quem tem todo o tempo do mundo para dedicar aos estudos”, encerra, sem traumas. Angelina prefere concentrar suas críticas nas contradições de um mercado que faz o possível para excluir os jovens. “Veja o mito da experiência: como alguém com 16, 17 anos pode ser experiente se ninguém dá uma oportunidade?”, critica ela, que passou um ano dando com a cara na porta justamente por causa do currículo vazio de empregos anteriores. “Uma tremenda injustiça”, denuncia. A vendedora pretende seguir a car-

PARA SABER MAIS

SOBRE

navegantes

do, Zona Norte do Rio, com o pai jardineiro e a mãe dona-de-casa, e vai, agora, encontrando sua vocação. Graças a uma manobra do destino. William trabalhava numa farmácia, como entregador, quando subitamente foi demitido. “Estava indo bem, foi a maior injustiça”, reclama. Sem perspectivas, acabou descobrindo a


Tempos diferentes O caminho pode não ter sido tão árduo mas não isentou de dúvidas Ana Cláudia Lins, brasiliense de 22 anos, que teve a influência da avó para escolher Psicologia como carreira. A princípio, no formato tradicional,

consultório-divã-consultas. O dilema da escolha emergiu na descoberta do trabalho com crianças. Sem a pressão de ganhar dinheiro rapidamente, ela dedica-se a um estágio num colégio da Asa Norte. “Nunca pensei no dinheiro como prioridade, mas sempre na realização profissional acompanhada do sucesso financeiro”, afirma. E explica o motivo. “Por ser de classe média, pude escolher com calma. Mas a luta no Brasil é injusta, favorece os mais ricos, num jogo de cartas marcadas”, completa, com a consciência crítica em dia. Jovem apicultor do Extremo Sul do país, Francis Leal Batista, 19 anos, inclui-se entre os que percorrem compulsoriamente o caminho mais distante. Nascido em Encruzilhada do Sul, a três horas de Porto Alegre (RS), ele se interessou pela vida no campo no sítio do avô. As técnicas rudimentares terminaram por enfraquecer o negócio – e hoje Francis cursa Engenharia Agrícola graças a uma bolsa do Programa Universidade para Todos, do governo federal. Antes, ele participou do Jovem Apicultor, programa de capacitação da Universidade de Santa Cruz do Sul, que o motivou a desenvolver sua própria criação de abelhas. Francis se orgulha de ser um empreendedor rural preocupado com o meio ambiente, coisa rara no Brasil. “Queria ser biólogo, mas não teria condições de pagar a faculdade. Aqui, encontrei minha vocação e tenho muito mais mercado”, comemora ele, que planeja ser fazendeiro. “Vai depender do decorrer da vida.” E dos caminhos que lhe apontarem os sonhos.

WILLIAM DOS SANTOS OLIVEIRA, 22 ANOS Dono de sua própria empresa de grafismo em faixas e camisetas, o carioca estudou pouco e enfrentou o desemprego

FRANCIS LEAL BATISTA, 19 ANOS O gaúcho de Encruzilhada do Sul cria abelhas enquanto cursa Engenharia Agrícola para se dedicar à vida no campo

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SADRAQUE SANTOS

A escolaridade do jovem trabalhador é baixa, e tende a ser menor quanto mais pobre ele for

MILTON WINKELMANN/WINNER LABORATÓRIO

Incubadora Afro-Brasileira, que promove o empreendedorismo entre jovens afrodescendentes. Lá, desenvolveu sua empresa de grafismo e há alguns meses vive da ilustração de camisetas e faixas. “O Brasil tem poucos com muita chance e muitos sem nenhuma”, avalia. “Mas tenho certeza de que estou plantando para colher depois”, aposta. “Os jovens pobres são estimulados a entrar mais cedo no mercado de trabalho, enquanto os mais ricos retardam ao máximo o início da vida profissional, para se preparar completamente”, diz Giovanni Harvey, presidente da Incubadora Afro-Brasileira, voltada à origem étnica e ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da região dos beneficiados. “Estamos concentrados nos setores mais pobres.”


GUSTAVO MAGNUSSON

mestres

A CIÊNCIA DE

EDUCAR


TRÊS PROFESSORES DE ÁREAS E PROGRAMAS CIENTÍFICOS INVESTEM SEUS ESFORÇOS NA MELHOR FORMAÇÃO PROFISSIONAL

por_ Flávia Oliveira Esta trinca tem um vértice na paulista Campinas, outro em Fortaleza, capital cearense, e o terceiro no Rio de Janeiro. Paulo César de Oliveira, da Escola Técnica Estadual Conselheiro Antônio Prado (ETECAP), Manoel Andrade Neto, da Universidade Federal do Ceará (UFC), e Cristina Araripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), têm em comum o gosto pela ciência. Formaram-se em Química (eles) e Sociologia (ela). Carreiras encaminhadas, descobriram-se educadores. Auxiliam centenas de jovens a insistirem nos estudos, a despertar vocações, a pavimentar um futuro melhor que o presente. Os três estão à frente de projetos aparentemente simples, mas que, pela via da educação, ajudam a mudar a vida de muita gente. Que o diga o punhado de recém-saídos da adolescência que materializaram a vida profissional a partir do encontro com esses mestres.

Paulo César de Oliveira inscreveu a escola técnica que dirige em Campinas num programa de atualização curricular e tecnológica

Aos 40 anos, a ligação de Paulo César de Oliveira com a ETECAP, em Campinas, se confunde com sua própria história, embora somente há um ano tenha assumido a direção da escola – uma das 105 da rede de ensino subordinada à Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia. Na trajetória dele, a Química surgiu por acaso. Na 8a série, teve de preparar um trabalho sobre a ETECAP. Apresentado ao laboratório, apaixonou-se pela escola. Tornou-se aluno e se enlaçou de vez com a ciência. Fez bacharelado, mestrado e doutorado. Seu primeiro emprego foi numa pequena empresa de produtos de limpeza da região, onde trabalhou por dois anos como técnico. Aprovado num concurso para auxiliar de instrução na ETECAP, entrou para o quadro de funcionários de sua escola do coração em 1984. Não saiu mais. Dois anos atrás, foi estimulado pelo então diretor da escola a inscrevê-la no concurso da Fundação Vitae para instituições da área. Reuniu um grupo de professores e idealizou o Projeto de Atualização Curricular e Tecnológica dos cursos técnicos da ETECAP, que tem 1.300 alunos. Conseguiram apoio para a modernização do laboratório existente e para a criação de outros dois. A mudança curricular tanto dos cursos técnicos quanto do ensino médio regular da unidade está em andamento. A intenção é aproximar mais a escola da comunidade, oferecendo cursos e promovendo parcerias com empresas da região na área de pesquisa, já que Campinas é um importante pólo tecnológico. “Vamos fazer pequenos cursos de aliciamento para ciência entre os alunos da 8 a série da região”, brinca o diretor, que sonha limpar a imagem da disciplina que escolheu como carreira. “A Química precisa ser divulgada como profissão e como ciência. Ela é sempre vista como algo artificial e nocivo, mas a indústria química participou de todo o desenvolvimento da sociedade que conhecemos hoje”, observa.

Células sociais Filho de agricultores da comunidade do Cipó, em Pentecoste, agreste cearense, Manoel Andrade Neto, hoje com 45 anos, teve seu primeiro contato com a educação em células ainda menino. Deixou a família no interior e mudou-se para a capital, a convite da avó, para continuar os estudos. Morador da periferia, aluno de escola pública, montou com colegas um grupo de estudos para chegar à universidade. Formou-se em Química na UFC, onde tornou-se professor no fim dos anos 80, depois de dois anos no Rio de Janeiro, como funcionário de um grande laboratório. Mesmo vivendo na capital desde os 9 anos, Manoel jamais abandonou Pentecoste, a cerca de 100 km de Fortaleza. Quando criança, passava as férias na cidade com os pais e os nove irmãos. Casou-se com uma conterrânea, Ana Maria. E foi com ela que deu início ao projeto de educar os jovens e planejar um futuro melhor para a região onde nasceu. Já realizava com os adolescentes atividades esportivas, quando decidiu incluir a educação. Como Pentecoste não oferecia ensino médio, incentivou uma turma de alunos a cursar o supletivo. Inspirado no bem-sucedido modelo de sua juventude, reproduziu numa casa de farinha abandonada a experiência do grupo de estudos, posteriormente batizado de “célula”.

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RICARDO AYRES

Cristina Araripe, do projeto Provoc, da Fiocruz, no Rio: iniciação científica para estudantes de escolas públicas, particulares e ONGs

“Seria uma atividade de reforço escolar, mas alguns deles nem sequer estavam na escola. Organizamos o grupo de forma que os que sabiam mais ensinavam aos que tinham menos conhecimento. À medida que concluíam o ensino médio, eles vinham para Fortaleza fazer o vestibular”, explica Manoel. O primeiro grupo, montado em 1994, tinha sete alunos. Levou dois anos para o primeiro aluno, Francisco Antônio, ser aprovado para o curso de Pedagogia da UFC. Em 2000, o Programa de Educação em Células Cooperativas chegava ao décimo universitário. Hoje, são 71 universitários. Ao todo, 500 estudantes par-

ticipam do projeto em três cidades do semi-árido. Agora, Manoel negocia com o governo do Estado a criação de um núcleo em Fortaleza para 200 alunos. “O que era o sonho de poucos, hoje é a realidade de muitos. No início, enfrentávamos a resistência até dos pais. Eles achavam que pobre, sertanejo, só precisa aprender as quatro operações da matemática. Agora, alguns deles trazem os filhos para estudar. Queremos levar os jovens à universidade para promover o desenvolvimento sustentável das comunidades de baixa renda. A universidade é apenas um meio, não é um fim ”, diz o educador. Provocação científica A socióloga Cristina Araripe é hoje a coordenadora do Programa de Vocação Científica, o Provoc, que, em 19 anos, ajudou centenas de jovens a cruzar a fronteira entre o ensino médio e a universidade. Alguns deles já chegaram ao pós-doutorado e acabaram contratados pela mesma Fiocruz que lhes abriu as portas da ciência. Marcelo Pelágio Machado é um desses participantes do programa que avançou na carreira e hoje chefia o Departamento de Patologia do Instituto Oswaldo Cruz. O programa da Fiocruz alimenta o interesse estratégico do governo em estimular o investimento em

ciência e tecnologia, por meio da formação de recursos humanos, enquanto ajuda individualmente aos jovens de escolas públicas e privadas a despertarem sua vocação para o setor. Segundo Cristina, 7% dos alunos selecionados abandonam o programa na primeira etapa, mas, dos restantes, metade segue até o fim, e praticamente todos eles ingressam na área científica. “Nós sabemos hoje que muitos egressos do Provoc estão ingressando em equipes de trabalho com um nível de formação científica muito bom. A postura, a experiência e até o conhecimento dos rituais existentes são sempre elogiadíssimos nos alunos do programa. Eles têm muita familiaridade com os processos envolvidos na pesquisa”, diz a coordenadora. Na atual edição, 14 instituições, entre escolas públicas, particulares e ONGs, estão participando do Provoc. Na primeira fase, os alunos


PARA SABER MAIS

SOBRE PAR A SABER MAIS

SOBRE PARA SABER MAIS

são apresentados a uma instituição científica – a Fiocruz, por exemplo. Em seguida, assistem a palestras e visitam laboratórios. Na etapa final, e mais vibrante para os estudantes, passam a integrar a equipe de um pesquisador, espécie de mentor. O trabalho dura um ano, durante o qual eles desenvolvem um projeto e recebem uma ajuda mensal em dinheiro. “O diferencial do projeto é que os alunos fazem a iniciação científica no ensino médio e não só na universidade. Eles saem daqui prontos porque conhecem o que é a pesquisa”, diz Cristina. Sorte deles e da ciência brasileira.

SOBRE

C ARLOS CAVALCANTE

Manoel de Andrade Neto criou no Ceará um programa de células de estudo baseado em sua experiência escolar

PROJETO DE ATUALIZAÇÃO CURRICULAR E TECNOLÓGICA DOS CURSOS TÉCNICOS INSTITUIÇÃO ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL CONSELHEIRO ANTÔNIO PRADO (ETECAP) ÁREA DE ATUAÇÃO REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS, SÃO PAULO PROPOSTA Modernizar e instalar laboratórios na ETECAP e atualizar os cursos de Química, Bioquímica e Meio Ambiente. Numa próxima etapa, oferecer cursos a adolescentes da comunidade e promover parcerias com empresas da região JOVENS ATENDIDOS 1.300 APOIO FUND AÇÃO VITAE E CENTRO PAULO SOUZA CONTATOS Av. Cônego Roccato, s/n, Santa Mônica – Campinas – SP. – Tel.: 19/3246-2888

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM CÉLULAS COOPERATIVAS INSTITUIÇÃO INSTITUTO CORAÇÃO DE ESTUD ANTE ÁREA DE ATUAÇÃO MUNICÍPIOS DE PENTECOSTE, APUNHARÉS E PARAMOTI, INTERIOR DO CEARÁ PROPOSTA O programa tem quatro eixos (escolarização supletiva, pré-vestibular, apoio aos estudantes universitários e incubadora de centros educacionais comunitários) nos quais os alunos compartilham conhecimentos em pequenos grupos de estudos. Os jovens das áreas rurais estudam com os companheiros, sob a coordenação de um monitor, e a supervisão, nos fins de semana, de professores e universitários das próprias comunidades. JOVENS ATENDIDOS 500 APOIO Fundação Mary Speers, Igreja Presbiteriana Independente, Ashoka, Brazil Foundation CONTATOS Tel. 85/4008-9439, 3223-1876 – www.prece.ufc.br

PROGRAMA DE VOCAÇÃO CIENTÍFICA (PROVOC) INSTITUIÇÃO ESCOLA POLITÉCNICA DE SAÚDE JOAQUIM VENÂNCIO ÁREA DE ATUAÇÃO RIO DE JANEIRO PROPOSTA Estimular o interesse científico em alunos do ensino médio de escolas públicas e particulares do Rio JOVENS ATENDIDOS Mais de 1.000, desde 1986 APOIO FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ) CONTATOS Tel. 21/2598-4407/4408, ramais 118/119 – www.epsjv.fiocruz.br/epsjvnew/provoc.php, provoc@Fiocruz.br

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QUATRO INICIATIVAS AUMENTAM AS PERSPECTIVAS DE TRABALHO EM DIFERENTES LUGARES

MARCOS FERNANDES/AGÊCIA LUZ

banco de práticas

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O número reduzido de empregos em oferta e a dificuldade de iniciar um negócio são iguais para a juventude em todo o país. Por isso, a variedade de soluções para superar esses obstáculos e ajudá-la a encontrar trabalho também precisa ser do tamanho do Brasil. Diversas organizações têm desenvolvido programas para capacitar jovens, e as que têm tido mais sucesso são aquelas que estão atentas às especificidades locais, buscando conciliar demanda e profissionalização, mas investindo também na formação geral das pessoas e na emergência de talentos. Tirar proveito das particularidades e potencialidades da região de forma inovadora é o que faz o Programa de Jovens da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo. A organização já colocou no ecomercado de trabalho 700 jovens, capacitados em cursos com dois anos de duração nas áreas de produção e manejo agrícola, turismo sustentável, reciclagem artística de materiais e culinária. Ao mesmo tempo, protege-se o meio ambiente, com o estímulo às ações de preservação. Em Recife, o Comitê da Cidadania de Casa Forte, bairro de classe média alta, vem atuando em parceria com a ONG Capacitação Solidária, para a profissionalização de prestadores de serviços, como eletricistas, jardineiros, panificadores etc., que atendem às demandas da população local. No Rio de Janeiro, funciona o Iniciativa Jovem, projeto mundial da Shell para formação de empreendedores sustentáveis. Dos 150 candidatos inscritos, 30 foram selecionados e 13 já receberam o Selo Empreendedor Sustentável Shell/Dialog. Entre eles estão o Projeto Cama & Café, de hospedagem caseira, e a agência Biruta Mídias Mirabolantes, de ações originais de propaganda. Já na capital paulista, o programa Preparação para o Trabalho, da ONG Ação Comunitária do Brasil, é uma referência em iniciação profissional, em que jovens do ensino médio são estimulados a descobrir e aperfeiçoar seus talentos, com atividades nas áreas de comunicação e expressão, esportes e princípios comerciais e administrativos. Veja a seguir mais detalhes dessas práticas.

DIVULGAÇÃO

por_ Sebastião Aguiar

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SOLUÇÕES LOCAIS


Programa de Jovens da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo

Recife, PE

Cursos profissionalizantes do Comitê da Cidadania da Casa Forte

ALEXANDRE SEVERO

São Paulo, SP

Desde 1996, a Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo – extensa área no entorno da capital paulista com remanescentes de Mata Atlântica, e que recebeu este título da Unesco – mantém o Programa de Jovens. A proposta é sócioambiental, baseada no pressuposto de que os jovens são as vítimas principais das crises econômicas que acarretam marginalização, falta de perspectivas profissionais e, conseqüentemente, degradação ambiental em decorrência da exploração ir- >>

A vida de Cleide Fernandes Silva Nunes, 22 anos, e Iasmin, sua filha de 1 ano e 2 meses, tem melhorado. Para ficar ainda melhor, ela planeja estudar – o que terá de fazer à noite para conciliar com os horários de trabalho na Panificadora Cidade Jardim, em Recife. Cleide é um dos 445 jovens beneficiados até agora pelos cursos profissiona lizantes desenvolvidos pelo Comitê da Cidadania da Casa Forte, bairro de classe média alta de Recife, em parceria com o Programa Capacitação Solidária. A parce- >>

19 Rio de Janeiro, RJ

Cama & Café e Biruta Mídias Mirabolantes, projetos do Iniciativa Jovem

São Paulo, SP

Programa Preparação Para o Trabalho, da Ação Comunitária do Brasil

Implantado há quatro anos, o Iniciativa Jovem abre inscrições semestrais para projetos de jovens empreendedores no Rio de Janeiro. Os selecionados recebem orientação para desenvolver seu plano de negócios durante seis meses. Os projetos são avaliados por uma banca especializada em negócios e os eleitos recebem o Selo Empreendedor Sustentável – chancela da Shell, financiadora do Iniciativa Jovem, para que os projetos entrem em fase de estruturação e estejam prontos para funcionar em dois anos. Com >>

Oferecer a jovens como William Rodrigues Fontes, 19 anos, morador no Jardim Vale das Virtudes, em Campo Limpo, bairro violento da Zona Sul de São Paulo, um contato com técnicas e conhecimentos capazes de dar um direcionamento novo à sua vida é o objetivo do Programa Preparação para o Trabalho, desenvolvido pela Ação Comunitária do Brasil com 11 entidades parceiras. A proposta é aumentar a empregabilidade e a inclusão social de jovens com idade entre 15 e 21 anos, que estejam >>


>> regular dos recursos naturais como alternativa de sobrevivência. Ao mesmo tempo, está no jovem o potencial multiplicador de uma atitude social e ambientalmente responsável. Assim o programa, cujo projeto-piloto fica na cidade de São Roque, promove cursos ecoprofissionalizantes de dois anos de duração, período em que também

ALEXANDRE SEVERO

>> ria formou, além de panificadores, eletricistas, encanadores, zeladores de condomínios, artesãos, manicures e cabeleireiros. O Comitê surgiu em 1993, sob a inspiração do então arcebispo de Recife e Olinda, d. Helder Câmara. Casa Forte tem 40 mil habitantes, vive há alguns anos um crescimento populacional vertiginoso e tem no

>> esse apoio, os cariocas Leonardo Rangel, 26, João Vergara, 26, e Carlos Magno, 27 anos, criaram o Cama & Café (www.camaecafe.com.br), um sistema de hospedagem adaptado de modelo inglês, em que o turista fica em casas de família e toma café da manhã com os donos da casa. O negócio, que explora o potencial turístico do Rio de Janeiro, conta hoje

>> cursando o ensino médio. A organização estimula os jovens a permanecerem ou retornarem ao ensino formal para estarem mais bem preparados para enfrentar o mercado de trabalho. No curso, de cinco meses de duração, os alunos travam contato com comunicação e expressão, informática, teatro ou esporte, iniciação para o traba-


SOBRE

ator ou professor de educação física. Os alunos com melhor avaliação no curso são selecionados para estágios em empresas parceiras, como o Playcenter, grande parque de diversões de São Paulo. Os jovens são treinados em todos os setores do parque e têm chances de serem contratados no final do estágio.

PARA SABER MAIS

lho e práticas comerciais e administrativas. No caso de William, ele sabia o que faz um ator, pela televisão, mas ignorava que por trás de uma boa interpretação existem teorias e técnicas, que se aprendem na escola. O programa lhe mostrou a alternativa e ele a está estudando com calma, pois ainda não decidiu se pretende tornar-se

SOBRE

mídias alternativas, como aerodoors, passeatas com faixas, publicidade em balões e outras ações originais. Além de colecionar prêmios, como o Colunistas e o Maxi Mídia 2004, já tem 20 funcionários e estabeleceu a meta de dobrar de tamanho até 2008, segundo Liporace.

PARA SABER MAIS

com mais de 50 hospedagens, cerca de 70 guias turísticos e 350 jovens empregados em serviços de apoio. Já a Biruta Mídias Mirabolantes (www.biruta.net) passou por uma reformulação com o apoio do Iniciativa Jovem. Criada por Rafael Liporace, 24, e Alan James, 29, começou como empresa especializada em mídias aéreas e ampliou o foco para

SOBRE

so de Introdução à Panificação, com seis meses de duração, estagiou por dois meses e foi contratada em seguida pela Panificadora Cidade Jardim. “Aprendi muito, tive boas oportunidades, e espero em breve poder dar conta de encomendas de doces e salgados para festas.”

PARA SABER MAIS

seu entorno seis comunidades caracterizadas como áreas de pobreza urbana, onde predomina uma população de jovens vulneráveis à marginalização, com alto índice de desemprego, violência, alcoolismo, tráfico de drogas e prostituição. Cleide chegou à região de Casa Forte vinda de Formoso, no interior pernambucano. Fez em 2003 o cur-

SOBRE

– pelo aspecto educacional e gerador de renda do programa –, e o meio ambiente, pelo estímulo às ações de conservação da região. Dos 700 que já passaram pelo curso, a metade atua no chamado ecomercado, organizando passeios, produzindo alimentos integrais ou criando objetos de arte com materiais reciclados.

PARA SABER MAIS

busca dotar os participantes, entre 15 e 21 anos, de consciência ambiental e cidadã. São quatro oficinas com seis meses de duração cada: produção e manejo agrícola (aprendizado sobre plantas medicinais, hortas e recuperação de áreas degradadas); turismo sustentável, reciclagem artística de materiais e culinária integral. Ganham os jovens

PROGRAMA DE JOVENS - MEIO AMBIENTE E INTEGRAÇÃO SOCIAL REGIÃO DE ATUAÇÃO ÁREA DA RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DE SÃO PAULO (72 MUNICÍPIOS) INSTITUIÇÕES UNESCO/Instituto Florestal (Secretaria do Meio Ambiente de S. Paulo) e sete Prefeituras Municipais PROPOSTA Formação integral e eco-profissional de jovens de famílias menos favorecidas JOVENS ATENDIDOS 700 APOIO AHPCE (ONG), UNESCO, PREFEITURAS, INSTITUTO FLORESTAL DE S. PAULO CONTATO rbcv_sp@yahoo.com.br, Tel.: 11/6232-3116

CURSOS DO COMITÊ DA CIDADANIA DA CASA FORTE REGIÃO DE ATUAÇÃO CASA FORTE E ADJACÊNCIAS (RECIFE) INSTITUIÇÃO COMITÊ DA CIDADANIA DA CASA FORTE (ONG) PROPOSTA Aprimoramento da capacidade de trabalho dos jovens de comunidades populares no entorno do bairro de Casa Forte JOVENS ATENDIDOS 445 APOIO PROGRAMA CAPACITAÇÃO SOLIDÁRIA CONTATO COMITÊ DA CIDADANIA DA CASA FORTE, Praça da Casa Forte, n. 412 – 52060-420 – Recife (PE) – Tel.: 81/3441-1718

PR OGRAMA INICIATIVA JOVEM REGIÃO DE ATU AÇÃO RIO DE JANEIRO PR OPOSTA O projeto, financiado pela Shell e operado pela Dialog, fomenta o empreendedorismo sustentável no público jovem. JOVENS ATENDIDOS 650 APOIO UNESCO, SEBRAE/RJ, CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO RIO DE JANEIRO (FIRJAN), ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING (ESPM), CENTRO DE INTEGRAÇÃO EMPRESA ESCOLA (CIEE) E PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO (PUC/RJ) CONTATO www.iniciativajovem.org.br; secretaria@iniciativajovem.org.br – Tel.: (21) 3233-0208

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PR OGRAMA PREPARAÇÃO PARA O TRABALHO REGIÃO DE ATU AÇÃO ÁREA METROPOLITANA DE SÃO PAULO INSTITUIÇÃO AÇÃO COMUNITÁRIA DO BRASIL PR OPOSTA Aumentar a empregabilidade e a inclusão social de jovens de 15 a 21 anos em bairros populares da Grande São Paulo APOIO INSTITUTO UNIBANCO, ULTRAGAZ, INSTITUTO VOTORANTIM, ENTRE OUTRAS INSTITUIÇÕES CONTATO www.crianca-sa.org.br, Tel.: 11/5843-2900


caminho das pedras


COMO O CENTRO DE PROFISSIONALIZAÇÃO DE ADOLESCENTES PADRE BELLO, DE SÃO PAULO, REABRIU PARA A VANGUARDA DA EDUCAÇÃO JUVENIL AS PORTAS FECHADAS DURANTE UMA CRISE DE IDENTIDADE

MISSÃO REVIGORADA Uma das idéias que animam a atuação do Centro de Profissionalização de Adolescentes (CPA) Padre Bello é a do pedagogo mineiro Antonio Carlos Gomes da Costa. Para ele, “o que cada pessoa se torna na vida depende das oportunidades e das escolhas que faz”. Oportunidade de formação educacional é o que o CPA, da Ação Comunitária Paroquial do Jardim Colonial, proporciona a mais de 400 jovens de 15 a 18 anos do Distrito Iguatemi, na Zona Leste de São Paulo. Quanto às escolhas, as que a própria organização fez nos últimos anos a transformaram em referência de educação juvenil para o trabalho e para a cidadania. Foram opções que reabriram suas portas, fechadas no auge de uma crise, em meados dos anos 90, depois de mais de uma década dedicada à qualificação, inicialmente de adultos, e depois também de jovens. A escolha pelo desenvolvimento de uma metodologia de formação humana – prevista na sua missão original –, em lugar da mera capacitação operacional, levou o CPA a integrar uma rede que realiza projetos de ponta, como Garagem Digital, Pôr-do-Sol, Agente Jovem e Conexão Aprendiz. Além disso, graças à sua credibilidade, é hoje uma das seis organizações que podem captar vagas em empresas para a colocação e acompanhamento de adolescentes pela Lei do Aprendiz. Operação-resgate O ano de 1994 marca a passagem de uma organização com cursos noturnos de mecânica e de formação política para adultos – o Centro Profissional do Trabalhador, criado em 1978, no calor do movimento metalúrgico do ABC

por_ Leusa Araújo fotos_ Bruno Garcia

e da atuação da Pastoral Operária – para uma moderna escola juvenil. Mas já nos anos 80, a instituição mergulhara na crise e começara a mudar seu público. Em vez de adultos, passara a atender jovens, em convênio com a prefeitura de São Paulo. “Mas essa mudança não foi uma estratégia e sim uma questão de sobrevivência”, conta seu atual coordenador-geral, Flariston Francisco da Silva. O pior: “Era um modelo de parceria precário, tanto na parte financeira como na proposta pedagógica e educacional. O risco de estabelecer um único convênio é cair na acomodação e na dependência, principalmente quando o parceiro é o poder público”, alerta Flariston. “A conseqüência da acomodação é o afastamento da ação: o trabalho perde a mística da missão original.” Perdido, o CPA fechou suas portas no início dos anos 90. No auge da crise, porém, um grupo começou a discutir um novo posicionamento para o Centro. Um dos fundadores, Franco Torresi, provocava: “Se é só para ensinar o jovem a descascar ferro, então é melhor fechar mesmo”, dizia, referindo-se à exclusividade dos cursos de mecânica. O resultado das discussões foi um projeto, encampado pela prefeitura paulistana em 1994, que triplicava o número de alunos, de 80 para 240, e propunha uma nova forma de atuação. Sob a direção de Flariston, ex-presidente e atualmente membro do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, o grupo saiu à luta para ampliar as instalações, contratar pessoas e buscar novas parcerias.

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Jovens em atividade no CPA Padre Bello: aula de eletrônica; leitura na biblioteca; jogo de xadrez, que ensina a pensar; o aprendizado no torno mecânico, e um jogo educativo


A EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO VAI ALÉM DA CAPACITAÇÃO TÉCNICA, ENVOLVENDO FAMÍLIA E COMUNIDADE

Caminhos novos O projeto seguiu alguns passos básicos. O primeiro foi a qualificação da própria equipe, que precisava de conhecimento técnico e profissional para deixar de ser vista apenas como militante da causa social. Com isso, também ficou mais fácil aprender a se relacionar e a conceber ações considerando as características dos parceiros, fossem entidades, empresas ou o poder público. Para se sair bem nesse processo, porém, foi preciso ponderar a máxima pela qual “dinheiro é bom, venha de onde vier”, ensina Flariston. “É importante pesar até que ponto é possível aceitar recursos e atender as demandas.” Buscar uma atuação em conjunto com outras instituições também foi uma maneira de o CPA se fortalecer. Nenhum desses caminhos, entretanto, levaria a lugar algum sem uma gestão democrática. “Só num coletivo, com o poder dividido, é que todos se empenham e mostram suas potencialidades”, diz Flariston. E o clima de vibração é essencial: “Se a organização não protagoniza nem empreende, ela não obtém o engajamento da equipe”. No momento, o pessoal do CPA está engajado num processo de desenvolvimento organizacional contínuo, apoiado pelo Banco JP Morgan. “É para nos qualificar, mantendo nossa vibração, com o olhar na missão original e também no futuro”, diz o coordenador. Mas é preciso despertar também o jovem, a família e toda a comunidade para que, juntos, mudem a forma de ver a vida. Em 2003, uma pesquisa com 300 alunos do CPA revelou que 90% deles nunca tinham ouvido falar em ensino técnico; 50% nem sequer se viam estudando um dia numa universidade. “A maioria chega pensando: ‘Sou negro ou sou pobre, moro na periferia, não vou ter chance na vida’. O papel do CPA é reverter isto para: ‘Eu posso ir adiante’”, diz a educadora Sueli Fernandes da Silva, responsável pelo curso de Instalações Elétricas Residenciais.

PARA SABER MAIS

SOBRE

Poder saber, poder ser Sob essa nova perspectiva, os educadores deixam bem claro que a história não termina no aprendizado de um ofício. Nos cursos de Mecânica Geral, Escritório Informatizado, Computação Gráfica, Suporte Técnico em Informática,

Manutenção de Circuitos Eletrônicos, Instalações Elétricas Residenciais e Formação de Agentes Sociais, os temas de formação humana e para a cidadania atravessam os conteúdos técnicos. Abordam-se questões ligadas ao corpo e ao meio ambiente, desde a sexualidade até a importância da mata que circunda a região; desde a matemática e a lógica, ensinadas também com jogos como o xadrez, até a discussão sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, além das atividades de Comunicação e Leitura e dos programas de informática. No site do CPA, projetos como Garagem Digital e Observatório da Juventude revelam o conhecimento digital dos alunos. O atendimento integral aos jovens inclui ainda visitas à família e garante refeição diária, consultoria sobre nutrição, dermatologia, exames oftalmológicos. Enfim, um ambiente muito diferente da escola formal. Ana Cristina dos Santos, 16 anos, que faz o curso Escritório Informatizado, afirma: “Eles não ensinam só o básico, mas como caminhar com as próprias pernas. Aqui, tudo vira um processo coletivo. Agora, por exemplo, estamos discutindo como conseguir vale-transporte para os alunos que vêm a pé, por falta de dinheiro”. Uma ponte escola-empresa Por fim, para enfrentar a dificuldade de inserir no mercado os alunos que forma, o CPA criou a Central da Juventude para Oportunidades e Geração de Renda. É ela que capta vagas para a colocação dos jovens e acompanhamento dos aprendizes. “O processo de regulamentação para a Lei do Aprendiz, a 10.087/2000, teve a participação ativa dos jovens do CPA”, conta Jéferson Alves, 20 anos, ex-aluno e um dos responsáveis pela Central. “Até nos tornarmos uma das seis entidades credenciadas, a batalha foi dura.” Um dos seus frutos é o Programa Aprendiz de Cidadão, no Banco JP Morgan, onde já trabalham 17 jovens oriundos do CPA. Luis Fernando Oliveira da Silva é um deles. Entrou no banco como aprendiz e hoje, aos 21 anos, está efetivado como analista de suporte. “É rara uma formação que, além do técnico, tenha foco também na política social”, diz, referindo-se ao curso do CPA e ao acompanhamento durante o aprendizado. “É essa formação que fortalece a gente como profissional e também nos prepara para a vida em sociedade.”

CENTRO DE PROFISSIONALIZAÇÃO DE ADOLESCENTES PADRE BELLO, DA AÇÃO COMUNITÁRIA PAROQUIAL JARDIM COLONIAL REGIÃO DE ATUAÇÃO DISTRITO DO IGUATEMI, NA ZONA LESTE DE SÃO PAULO PROPOSTA Oferecer a jovens do meio popular formação profissional completa, nos níveis básico, técnico e tecnológico, com formação humana e para a cidadania, estimulando o protagonismo, o empreendedorismo juvenil e iniciativas de geração de renda JOVENS ATENDIDOS Núcleo Sócio Educativo: 280 jovens/dia; Programa Agente Jovem: 100 jovens; Central da Juventude para Oportunidades e Geração de Renda: 19 jovens; Aprendiz de Cidadão no Banco J.P.Morgan: 17 jovens; Projeto Pôr-do-Sol: 100 jovens APOIO PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, BANCO JP MORGAN, FUNDAÇÃO ABRINQ PELOS DIREITOS DA CRIANÇA, ASSOCIAÇÃO CAMINHANDO JUNTOS - ACJ BRASIL, CONSELHO DE ESCOLAS DE TRABALHADORES CONTATO Tel/Fax: 11/6731-8138/6731.7564 — e-mail: c.p.a@uol.com.br; flariston@cpa.org.br – site: www.cpa.org.br

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horizonte global

VIDA NOVA Em Bariloche, cidade turística no sul da Argentina, a Fundação Gente Nueva tem colaborado para dar uma vida nova a jovens e crianças pobres e em situação de risco. Com foco na inclusão social por meio da educação e do trabalho, a instituição tem nove escolas e desenvolve vários projetos de capacitação profissional e de formação de lideranças. Em todas as ações, a política é de incentivo à participação dos jovens, para que eles se tornem protagonistas nos bairros

por_ Mariana Camarotti, de Buenos Aires ilustração_ Marcelo Pitel

onde moram, tenham sua própria atividade econômica e formem redes sociais sustentáveis. A organização nasceu em 1983, com apenas uma escola e poucos colaboradores. Hoje, atende 1.200 alunos nas escolas (de ensino infantil, fundamental e médio) e mais 1.200 jovens, de 18 a 30 anos, nos cursos de formação profissional, em quatro bairros da periferia de Bariloche. Conta com uma equipe de 222 professores e mais 30 funcionários. “Cada menino ou menina que ajudamos a tirar da rua para uma vida diferente, que lhe dará um futuro melhor, é uma grande vitória. Vários chegam até a fundação dizendo que querem mudar sua trajetória e a maioria continua, não de-

siste”, diz o presidente da Gente Nueva, Gustavo Gennuso. Pedagogia de Paulo Freire Nas salas de aula, a fundação adota um método popular inspirado na pedagogia do educador brasileiro Paulo Freire, com discussão da realidade em que os alunos vivem e sua contextualização econômica, histórica e social. Segundo Gennuso, muitos estudantes vêm de um ambiente familiar deteriorado, e uma das es-


A educação e o trabalho são as armas de uma fundação para promover a inclusão social da juventude de Bariloche, na Argentina

jeto de cada um dos integrantes por todos, já que eles serão os próprios avalistas. O financiamento de até 400 pesos argentinos (R$ 344) por jovem é liberado para início ou melhoria de uma atividade econômica, como a venda de bolos caseiros ou a confecção de bolsas femininas. Diferentemente de outros projetos do gênero, nesse o pagamento das parcelas começa em oito dias e segue semanalmente, com valor aproximado de 7 pesos argentinos (R$ 6).

SOBRE

Apoio decisivo Hoje consultor da Gente Nueva e coordenador do Grupo Encuentro, voltado para jovens carentes, Marcos Barria, 26 anos, passou a adolescência nas ruas, envolvido com drogas e crimes. Chegou a freqüentar uma das escolas da fundação, mas logo depois, dos 16 aos 17 anos, esteve preso por roubo. “Saí da prisão e voltei à oficina de capacitação, que era o único apoio que eu via. Nesse processo, me dei conta de que tinha condições de fazer algo, para o bem ou para o mal. E descobri aonde queria chegar na vida”, diz Barria. De lá pra cá, ele concluiu o ensino médio e se envolveu em projetos comunitários com adolescentes, que são convidados a participar de oficinas de teatro, música, folclore. “Conto aos jovens minha experiência de vida, que foi difícil. E dou força para que eles possam vencer como eu venci”, diz. “A gratificação é grande em ajudar os outros a transformarem suas realidades, da mesma forma como fui ajudado.”

PARA SABER MAIS

tratégias da Gente Nueva é envolver a família no ambiente escolar, estimulando assim sua integração e participação na sociedade. Entre as chamadas Iniciativa Produtivas, as oficinas de capacitação – algumas permanentes e outras oferecidas segundo a demanda – formam padeiros, carpinteiros e artesãos, que atendem ao mercado turístico de Bariloche, forte principalmente no inverno. Há ainda cursos de aperfeiçoamento em informática. A educação profissionalizante procura impulsionar o empreendedorismo e a atividade em grupo, para que os estudantes descubram e desenvolvam um trabalho cooperativo entre eles mesmos, segundo os princípios de gestão administrativa. Atualmente, a fundação coordena uma rede de 35 desses grupos de jovens. Recentemente, a Gente Nueva estabeleceu parceria com o governo federal argentino para operar um programa de microcrédito solidário: é necessária a formação de um grupo de quatro pessoas e a aprovação do pro-

FUNDAÇÃO GENTE NUEVA ÁREA DE ATUAÇÃO PERIFERIA DE BARILOCHE, NA PROVÍNCIA DE RIO NEGRO, SUL DA ARGENTINA PROPOSTA Ajudar crianças e jovens a transformarem sua realidade, por meio da inclusão educacional, social e no mercado de trabalho. Estimular a cidadania e a participação política assim como o trabalho em grupo e o empreendedorismo. Apoiar a formação de redes autônomas lideradas por jovens e compromissadas com a comunidade Público atendido: 2.400 crianças e jovens APOIO UNICEF, YOUTH INTERNATIONAL FOUNDATION, FUNDACIÓN ANTORCHAS, FUNDACIÓN ARCOR, AVINA, FUNDACIÓN MARIANISTA, DIOCESE DE MOLFETTA, PREFEITURA DE BARILOCHE, GOVERNO FEDERAL DA ARGENTINA, ENTRE OUTROS CONTATOS Rua Tarrago Ros, 350 – 1800 – Bariloche, Província de Rio Negro – Argentina – Tel: 54/02944 525508 – e-mail: info@fundacióngentenueva.org.ar

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SEXTANTE

por_ José Pastore

O EMPREGO DO FUTURO EDUCAÇÃO QUALIFICADA, CAPACIDADE DE APRENDER SEMPRE E ZELO PELO QUE SE FAZ SERÃO CADA VEZ MAIS EXIGIDOS A geração de empregos depende de vários fatores. Três deles são essenciais: crescimento econômico sustentado, educação de boa qualidade e legislação realista. O Brasil está mal em todos. O crescimento econômico tem sido anêmico, o ensino continua precário, e a legislação trabalhista está defasada em relação às novas modalidades de trabalho. Ao mesmo tempo, existe um potencial imenso para gerar empregos no Brasil. Aqui, tudo está por ser feito. Superados os constrangimentos macroeconômicos e os problemas da educação e da legislação, o Brasil pode se tornar uma verdadeira usina de empregos. Veja o caso da infra-estrutura. Apesar de seu tamanho continental, o Brasil tem apenas cerca de 150 mil quilômetros de rodovias pavimentadas. Isso não é nada. A Austrália tem 250 mil, a Itália 300, o minúsculo Japão dispõe de quase 800, sem falar nos Estados Unidos, com mais de 5 milhões de quilômetros. Haverá uma enorme demanda de trabalho para construir e manter as estradas de que o país precisa. O mesmo pode ser dito para edificar os 12 milhões de moradias de boa qualidade que hoje estão faltando e para erguer as hidrelétricas que são essenciais para o crescimento da economia.

Tudo isso cria muitos postos de trabalho. O Brasil já é uma superpotência agrícola e se destaca em setores de ponta, como é o caso da fabricação de aviões. Nossa capacidade exportadora tem crescido a passos largos, revelando que os produtos brasileiros são respeitados no exterior. Outros setores têm igual potencial. Os campos do turismo, educação, saúde e o cuidado de crianças e idosos são ótimos nichos. Tais atividades dependem mais do contato humano do que de máquinas. As máquinas, por sua vez, tornaram-se baratas e inteligentes e substituem os seres humanos em várias tarefas. Mas elas têm dois efeitos sobre o emprego. De um lado, elas destroem postos de trabalho. Onde entra a máquina sai o trabalhador. De outro, elas elevam a produtividade, aumentam os lucros e estimulam novos investimentos e geram novos empregos. O principal efeito das tecnologias é o deslocamento da mão-de-obra de um setor para outro. Nos próximos 20 anos, a indústria e a agropecuária empregarão menos gente, e o comércio e serviços empregarão muito mais. Dentro de cada setor, haverá exceções. Na indústria, crescerá a demanda por trabalho na construção civil e de infra-estrutura. Na agropecuária aumentarão as oportunidades para quem lida com meio ambiente, jardinagem, paisagismo e animais domésticos. No comércio e serviços diminuirá a demanda por aqueles profissionais que podem ser substituídos pelas tecnologias da informática: almoxarifes, controladores, telefonistas, caixas e outros do mesmo gênero. O quadro potencial do Brasil em matéria de emprego é animador. Mas, para tanto, teremos de crescer de forma contínua, melhorar a educação e modernizar a legislação.

Você que é jovem deve estar perguntando: mas enquanto isso não acontece, o que será da minha vida? Convém saber que o mundo no qual você vai trabalhar está passando por uma verdadeira revolução. A velocidade das inovações tecnológicas é meteórica. Os equipamentos e processos que surgem hoje serão obsoletos amanhã. Para acompanhar essa velocidade de mudança não basta ser adestrado. É preciso ter formação – e boa formação. A boa formação é aquela que dá ao ser humano a autonomia para crescer, a que injeta nas pessoas o vírus da curiosidade, que as leva a explorar o desconhecido o tempo todo, lendo intensamente não só sobre a sua profissão mas também sobre as profissões afins. O mercado de trabalho está se tornando cada vez mais exigente. As empresas não contratam diplomas, currículos ou recomendações. O tempo do pistolão e do apadrinhamento acabou. As empresas querem respostas, por isso contratam profissionais curiosos, com capacidade de apreender continuamente. Daí a importância da boa formação. Você que é jovem, leve isso em conta. Quando o professor pedir para ler um livro, leia dois. Quando pedir dois, leia quatro. Crie o hábito de estudar por conta própria. Aproveite todos os momentos de folga para aprender, aprender e aprender. Se o emprego está difícil para quem estuda, imagine as dificuldades para quem vive nas trevas. Portanto, defina sua meta e procure ficar sempre acima da média da classe. O mercado de trabalho tem sido rigoroso também em matéria de con-


José Pastore é sociólogo e professor de Relações do Trabalho da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo

duta. Não basta dominar os conhecimentos da sua profissão. Você precisa gostar do que faz. E fazer tudo com carinho, zelo, perseverança e comprometimento. Se você trabalhar como empregado, os seus supervisores estarão de olho no seu modo de encarar suas tarefas. Se você trabalhar por conta própria, os seus clientes esperam competência, atenção, cordialidade e demonstração de que você faz o seu serviço com prazer. O mundo do futuro estará cada vez mais atento às condutas e aos hábitos dos profissionais. A ética no trabalho está tendo um papel crescente. Você tem de mostrar que é um profissional responsável e que cultiva sua reputação. Educação de boa qualidade será o ingrediente fundamental para elevar a empregabilidade dos jovens. É claro que o mercado tem de abrir novas oportunidades para as pessoas trabalharem. Educação não gera empregos diretamente. Mas a existência de profissionais bem preparados atrai investimentos e estes, sim, geram empregos. Eis a relação entre educação e emprego. Na era da globalização as empresas procuram se localizar ou executar suas atividades nos países onde há energia abundante, instituições confiáveis e profissionais bem formados e responsáveis. Quem se preparar bem sairá na frente. Portanto, não desperdice um minuto do seu tempo. Acenda em você mesmo a chama da obsessão para aprender continuamente. Estude com afinco para confiar em você mesmo e com isso despertar a confiança de quem vai utilizar os seus conhecimentos.

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TRABALHO E VALORES

90º

O VALOR DA TRANSFORMAÇÃO por_ Maria Fátima Olivier Sudbrack fotos_ Davilym Dourado O trabalho ocupa cada vez mais espaço na vida de todos nós e é preciso que os jovens estejam preparados para assumir sua inserção produtiva na sociedade de forma consciente e engajada. Essa preparação enseja uma série de reflexões a serem estimuladas pelos educadores – principalmente na família e na escola – e que podemos organizar segundo as múltiplas dimensões do trabalho: pessoal, política, ética e social. No âmbito pessoal e político, o trabalho é abordado como fonte de realização e de desenvolvimento pessoal, mas também como via de participação e contribuição social. No campo da ética, destacam-se os valores e os desafios para exercê-lo de forma digna e cidadã numa sociedade consumista em tempos de globalização. Por fim, na esfera social, discutem-se seu descrédito como meio de inclusão e ascensão social para jovens no contexto de pobreza e a importância de dar-lhe um novo significado.

Perguntas esclarecedoras Trabalhar representa mais do que garantir a subsistência ou um status no papel de adulto na sociedade. É a via de participação na construção de uma sociedade, a partir dos nossos valores, os quais reproduzimos nos diferentes contextos de atuação profissional e das diferentes profissões. Quando trabalhamos, não somos apenas profissionais vendendo serviços, mas pessoas que se dedicam a algo, investindo sua energia, sua força, sua competência; neste processo, aprendemos e nos transformamos – e transformamos o mundo. O trabalho, então, está diretamente relacionado à nossa identidade, pessoal e social, pois por meio dele nos desenvolvemos e construímos nossa imagem como cidadãos produtivos e, portanto, úteis para a sociedade.

Maria Fátima Olivier Sudbrack é doutora, professora titular do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Brasília, pesquisadora do CNPq sobre adolescentes e famílias em situação de risco e coordenadora do PRODEQUI – Programa de Estudos e Atenção às Dependências Químicas, da Universidade de Brasília

Jovens do curso de marchetaria da Associação Cruz de Malta, em São Paulo: potencial para a transformação


É IMPORTANTE DIFUNDIR A VISÃO DO TRABALHO COMO FORMA DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL, BASEADO EM PRINCÍPIOS ÉTICOS E DE CIDADANIA

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“Desde cedo, sempre quis trabalhar em algo ligado à área social. Provavelmente por causa dos meus pais, que sempre militaram em sindicatos e outras organizações. Participei do grêmio e do jornal da minha escola, o Instituto Abel, em Niterói. Só não sabia qual carreira seria a mais adequada para o que eu queria: Serviço Social, Sociologia ou Comunicação. Acabei escolhendo Relações Públicas e já estou estagiando em uma instituição voltada para a ação social. Agora, estou satisfeito e sou otimista. O terceiro setor está se desenvolvendo, há um deslocamento da noção de cidadania e uma simpatia cada vez maior pelas políticas sociais, como as cotas nas universidades. Pretendo seguir também na vida acadêmica, para fazer mestrado, mas sem me afastar da área social. Essa experiência mudou minha perspectiva. Sonho em fazer parte de uma enorme rede de solidariedade que vai ajudar a diminuir a desigualdade de oportunidades que ainda se mantém no nosso país. Esse trabalho me realiza por completo.”

BRUNO VEIGA

O TRABALHO DEVE SER VISTO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR DA SOCIEDADE E DO PRÓPRIO TRABALHADOR

PEDRO HENRIQUE PRATA, 21 é estagiário de Relações Públicas no Instituto Telemar, no Rio de Janeiro

É preciso difundir esta visão do trabalho como forma de participação e de construção social a partir de um compromisso pessoal. Não é fantástico imaginar o trabalho como um instrumento de possibilidades transformadoras da sociedade e do próprio trabalhador? Para além de um dever e uma responsabilidade, ele é um direito do cidadão em uma sociedade democrática e justa, que depende da força produtiva de todos e de cada um. Essa perspectiva levanta perguntas que valem a pena serem feitas. O que eu quero da sociedade? Como posso contribuir para que ela seja como eu gostaria que fosse? Como, por meio de meu trabalho ou de minha profissão, estarei investindo na melhoria da qualidade no planeta? De que forma meu trabalho pode marcar as pessoas para que elas sejam mais felizes? O que eu sei fazer ou gostaria de saber fazer que possa contribuir para um mundo mais justo? Em qual profissão ou papel profissional posso vislumbrar meu lugar e meu papel social no mundo? Cooperação e coletividade As questões relativas ao trabalho refletem as características de cada cultura e de cada momento histórico. Por isso, é preciso considerar o consumismo que tão fortemente se coloca como valor na sociedade atual. Por um lado, temos a juventude, vulnerável aos apelos do consumo, representando uma importante fatia do mercado; por outro, vemos o trabalho reduzido à capacidade de gerar poder aquisitivo. Ou seja, ganhar mui-


to dinheiro destaca-se como valor na hora de optar por um trabalho ou por uma profissão. Por sua vez, a era da globalização tem produzido um enfraquecimento das relações contratuais e de segurança para o trabalhador. Aos poucos, acaba-se com a estabilidade do funcionalismo público, o compromisso das empresas com os assalariados diminui, e desaparecem os laços e a própria identidade da classe trabalhadora como tal. Observa-se uma mudança nos vínculos afetivos e sociais, que dá lugar a espaços extremamente competitivos e que exigem uma performance difícil de corresponder, com altas exigências de qualificação. Cabe aqui considerar o que vimos observando como desgaste na manutenção desta performance e que os sociólogos franceses vêm denominando “o custo da excelência”. Nesse contexto, a formação profissional e a educação em geral tornamse ainda mais desafiantes, tendo uma função importante no resgate dos valores fundamentais da vida em comunidade. Numa cultura que tende para o individualismo, o maior desafio é educar para a valorização do coletivo e da alteridade. Cabe incluir na educação dos jovens uma boa dose de criatividade e de habilidades de cooperação, de flexibilidade e, sobretudo, de uma postura crítica perante a gama de informações que recebem. Descrédito e significado Se, para a juventude de classe média, precisamos ressignificar o trabalho em suas tantas dimen-

sões, extrapolando a financeira e material, perante jovens de classes desfavorecidas temos outro desafio: como ressignificar o trabalho para que ele possa representar um meio de subsistência e de realização pessoal? A maioria desses jovens já tem vivências desgastantes como trabalhadores em condições deploráveis, incluindo históricos de trabalho infantil. Os pais, por sua vez, não conseguem transmitir modelos positivos: em geral, trabalham muito e arduamente sem conseguir, no entanto, satisfazer as necessidades mínimas da família. Surgem, então, as oportunidades de ganho ilícito, que aparece como uma alternativa atraente aos jovens. Nesse sentido, o maior desafio que se coloca à sociedade brasileira é o combate à inserção de crianças e adolescentes no tráfico de drogas, um verdadeiro aliciamento de menores, na medida em que eles constituem mão-de-obra barata e descartável. Essa carreira rumo ao “trabalho” para traficantes, vimos consolidar-se no Rio de Janeiro e infelizmente está se expandindo pelo país, num processo complexo que Alba Zaluar denomina de integração perversa. As chances dos ganhos ilícitos, aliadas à premente necessidade juvenil de inclusão, pertencimento, poder e valorização pessoal, são fatores que levam ao descrédito no trabalho convencional como fonte de subsistência e de segurança. A produção ilícita passa, então, a ter um valor de trabalho, o qual se legitima no contexto da marginalidade. Essa realidade precisa ser enfrentada com políticas de inclusão que levem em conta essa necessidade de ressignificar o trabalho, resgatando-lhe o crédito. Ouvimos constantemente esses jovens dizendo que querem trabalhar, seus pais pedem o tempo todo trabalho para os filhos, tudo gira em torno de demandas de trabalho. Isso não passa, no entanto, de tentativas de ocupação e não de uma verda-

deira inserção produtiva a partir do desenvolvimento dos potenciais desses meninos, em um processo educativo e de formação profissional para uma atividade com a qual estejam realmente envolvidos e preparados para desempenhar. Desafios dos educadores Percebendo o trabalho em sua amplitude, com suas diversas dimensões, temos um grande campo de atuação educativa. É de extrema urgência avançar nas políticas públicas perante os desafios da formação e do preparo profissional da população juvenil brasileira – ela guarda em si um imenso potencial de trabalho, que precisa ser canalizado e orientado em programas educativos, de orientação vocacional e de inserção profissional, idealizados de acordo com as demandas e mercado locais e regionais, mas, sobretudo, de acordo com seus anseios, motivações e interesses. Quanto à ressignificação do trabalho em sua natureza política e social, cabe aos educadores e à família – respaldados por políticas públicas adequadas – desenvolver ações formadoras possibilitando, desde a infância, experiências de ações coletivas, nas quais a criança e o jovem reconheçam o valor da cooperação, vivendo a satisfação de estarem juntos, confrontando as diferenças e descobrindo as complementariedades. Os jovens precisam encontrar em seus educadores e em seus pais modelos positivos para se projetarem no futuro como adultos que se realizam pelo trabalho.

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TRABALHO E EMPREENDEDORISMO

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A CULTURA EMPREENDEDORA AS TRANSFORMAÇÕES QUE ESTÃO ESGOTANDO O ANTIGO MODELO DE EMPREGO FAVORECEM O EMPREENDEDORISMO. O DESAFIO É FAZER DA NECESSIDADE UMA OPORTUNIDADE

por_ José Luiz Ricca fotos_ Penna Prearo

Aos 20 anos, o paulistano Daniel deixou de ter um emprego com carteira assinada. Hoje, passados pouco mais de dois anos, alterna os períodos em que consegue um trabalho temporário com a busca, sem sucesso, de uma ocupação que gere renda. A uma distância de apenas 100 km, três jovens – Marina, Renata e Gabriela –, de São José dos Campos, no Vale do Paraíba, encontraram no empreendedorismo a porta para ingressar no mercado de trabalho. Juntas, elas produzem cerca de 200 jogos pedagógicos por mês e já pensam em montar uma loja própria e viver exclusivamente da atividade. Estes dois exemplos refletem o cenário e as saídas diferenciadas que os jovens brasileiros encontraram para se adaptar às novas formas de relação entre capital e trabalho. O modelo lapidado nos últimos 200 anos, em que o símbolo da felicidade era o bom emprego de


carteira assinada, esgotou-se e abre espaço para um novo modo de realização profissional. Não por outro motivo, as estatísticas revelam que mais da metade da população economicamente ativa (PEA) não tem carteira assinada. E que os níveis de emprego tradicional caem a cada dia. Um estudo recente do IBGE comprova o fato: em março de 2005, pelo terceiro mês consecutivo, a taxa de desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas do país subiu, atingindo 10,8% da PEA. O processo acelerado das transformações, impulsionado pelos avanços tecnológicos, a globalização da economia e a velocidade da informação pauta-

ram a nova organização do trabalho em todos os ramos de atividade. E a principal mudança está no seguinte conceito: o homem deixa de ser fator de produção e passa a ser gerador de conhecimento. Cenário perfeito para o desenvolvimento da cultura empreendedora. Sinal de alerta De acordo com os dados mais recentes do estudo Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizado em 34 países

HENK NIEMAN

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“Eu tinha 16 anos quando entrei em um projeto de oficina-escola, da prefeitura de Santana do Parnaíba, em São Paulo, para restauração de fachadas de casas históricas, e depois, participei do programa O Futuro em Nossas Mãos, desenvolvido pelo Instituto Votorantim e a empresa Votorantim Cimentos – com a parceria do Senai. Com colegas da oficina-escola, surgiu a idéia de formar uma cooperativa, a Coopreme, para prestar serviços na área da construção civil. Somos 20 jovens, de 18 a 24 anos, sendo cinco mulheres, e todos donos do nosso negócio. Passar de empregado a patrão é um desafio, exige mais responsabilidade. E, como jovens, enfrentamos certo preconceito. O pessoal pensa: ‘Será que vão dar conta do serviço?’ Mas estamos provando que somos capazes, a cooperativa está dando certo e, com isso, a gente se sente cada vez mais firme para enfrentar o mercado de trabalho. Resolvi voltar a estudar, pois parei na 8 a série. Agora que sou dono, patrão, tenho de saber mais. O mercado cobra isso da gente.”

MARCOS FERNANDES/AGÊNCIA LUZ

180º

JOSVAM PEREIRA MIRANDA, 22 ANOS Sócio da Coopreme – Cooperativa de Trabalho na Área da Construção Civil, Preservação e Restauração de Bens Móveis e Imóveis, de Santana do Parnaíba, São Paulo

sob a coordenação do Babson College e London Business School, o Brasil está entre os 10 países mais empreendedores do mundo. No levantamento de 2004, ocupou a sétima posição no ranking, com destaque para brasileiros com idades entre 18 e 24 anos: 13,5% abriram um negócio há menos de 3 anos e meio. Na média mundial, essas pessoas correspondem a menos de 10%. O panorama seria perfeito não fosse a qualidade do empreendedorismo praticado aqui: somos um dos países em que a taxa empreendedora por necessidade é mais acentuada (46%), em detrimento do empreender por oportunidade. Isso nos chama a atenção e acende a luz amarela, uma vez que empreendedorismo por necessidade é definido como ausência de alternativa razoável de ocupação e renda. A empresa planejada, pensada, estruturada – que costumamos dizer gerada por uma oportunidade – não figura como principal atividade empreendedora. E este quadro não é diferente de outras nações com o mesmo perfil do Brasil. A alta proporção de empreendedores por necessidade concentra pessoas com baixo nível educacional, com produtos e serviços de baixo valor agregado por falta de incorporação de inovações tecnológicas em processos e equipamentos carência de crédito e políticas públicas adequadas. Talvez isso ajude a explicar o fato


de que, no Brasil, para cada negócio formal existam dois empreendimentos informais. E explica também o alto índice de mortalidade das pequenas empresas formais brasileiras: de cada 100 empresas abertas hoje, 60 deixarão de ser ativas nos próximos cinco anos. Um conjunto de fatores – falta de experiência gerencial e de políticas públicas adequadas – ajuda a fortalecer tal cenário. Questão de cultura Vivemos uma era que exige soluções inovadoras, seja na mudança de nosso arcabouço legal (definido e estratificado de acordo com o modelo organizacional de economia do século passado), seja no investimento de tempo e recursos financeiros na disseminação da cultura empreendedora. No Brasil existem 5,54 milhões de empreendimentos formais de pequeno porte e estima-se que outros 10 milhões sejam informais. Corroborando os dados da GEM, somos realmente um país empreendedor. Entretanto, precisamos melhorar a qualidade desses empreendimentos. Nosso desafio é construir, em rede com todos os atores sociais – governos, parlamentares, lideranças empresariais e laborais, universidades –, um conjunto de decisões mestras que provoquem as mudanças necessárias.

No âmbito de políticas públicas, é preciso trabalhar intensamente junto a governantes e parlamentares das esferas federal, estadual e municipal, lideranças empresariais e dos trabalhadores, universidades, para sensibilizá-los a criar regras, a curto, médio e longo prazos, que privilegiem a maioria e não as exceções, a fim de que estes brasileiros conquistem, plenamente, sua cidadania empresarial e possam gerar mais renda, mais empregos, mais riquezas. Este ano, o destaque dessa pauta é a aprovação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas. Esse projeto garantirá o tratamento diferenciado para os pequenos negócios e abrirá um espaço para o desenvolvimento integral deste setor, hoje responsável por 67% do pessoal ocupado e 20% do PIB. O projeto prevê simplificação tributária; desburocratização, com a criação de um cadastro único, e garantias para acesso a financiamentos, inovação tecnológica e exportação. Na esfera social, é necessário investir no desenvolvimento de uma cultura empreendedora, incluindo as escolas. Neste sentido, o Sebrae vem implementando o Programa Jovens Empreendedores, que planta sementes de uma radical transformação no sistema educacional paulista, com o objetivo de enraizar o empreendedorismo nos alunos das redes pública e privada do estado. A jovem Marina, cuja história relatamos no início deste artigo, foi uma entre os milhares de jovens inoculados pelo vírus do empreendedorismo. Mais criativa, crítica, apta a desenvolver idéias e fazer acontecer, ela participou do projeto numa escola municipal de São José dos Campos, resultado da parceria entre o Sebrae São Paulo e a prefeitura local. E está trilhando novos caminhos rumo à sua auto-realização pessoal e profissional. Ela é exemplo de que é possível superar este grande desafio de incorporar a cultura empreendedora ao nosso dia-a-dia e, deste modo, fazer com que o sonho dos brasileiros se concretize numa longa e feliz realidade.

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José Luiz Ricca é engenheiro industrial com especialização em Gestão Humana, Desenvolvimento Empresarial e Balanço Social, foi Secretário de Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo (1995-2001), Secretário de Relações do Trabalho no Ministério do Trabalho (1993-1994), e é o diretor superintendente do Sebrae-SP


TRABALHO E ESCOLA

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Claudio de Moura Castro é economista, PhD pela Universidade Vanderblit; foi pesquisador do IPEA, professor da PUC-RJ, assessor da OIT e do BID. Especialista em educação, é autor do livro Educação Brasileira – Consertos e Remendos (Editora Rocco). É presidente do Conselho das Faculdades Pitágoras

por_Claudio de Moura Castro fotos_Henk Nieman

OS NÓS DA EDUÇAÇÃO PROFISSIONAL A MAIOR DIFICULDADE DA FORMAÇÃO PROFISSIONALIZANTE É QUE ELA EXIGE JUNTAR O QUE SEMPRE ESTEVE SEPARADO PELA TRADIÇÃO: O USO DAS MÃOS E O USO DA CABEÇA Pode haver dificuldades na fase de implementação, mas as fórmulas para operar escolas acadêmicas são claras. Ao longo de séculos de experiência, tentou-se ensinar a lidar com a língua e com os números, evoluindo progressivamente para lidar com as idéias. Já no ensino profissional, com pouco mais de um século de história, sequer as fórmulas são tão claras. Não espanta que os casos de insucesso sejam muito mais freqüentes. É muito fácil ensinar a usar uma serra, ensinar a pregar ou ensinar a soldar. Basta encontrar quem saiba e deixar que o aprendiz interaja com ele. Mas como a verdadeira formação profissional é muito mais do que ensinar a usar as mãos para fazer coisas úteis, acabamos com um enguiço crônico nas fórmulas. Ao contrário do que se acredita, o uso da cabeça sempre foi importante nas profissões manuais. A cada momento há decisões, há desafios. Ademais, com a evolução tecnológica crescente, o trabalho manual tem cada vez

mais componentes de cognição e abstração. Portanto, pode-se dizer, o trabalho manual que requer formação profissional é uma combinação entre o uso das mãos e o uso da cabeça. Acontece que nossas tradições separam o mundo dos que usam o lápis do mundo dos que usam as mãos. Como a formação profissional exige juntar esses dois mundos, é altamente sujeita a descaminhos, pois esses mundos são como água e azeite, não se misturam. Tradição medieval Há uma tradição de origem medieval de ensinar no local de trabalho, um mestre mais experiente tomando as rédeas do processo.

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270º APRENDER UM OFÍCIO É TAMBÉM APRENDER A TER POR ELE RESPEITO E APREÇO

“Gosto muito de arte e faço trabalhos artesanais e de pintura. Não sabia bem o que fazer com essas habilidades até entrar na Escola Técnica Estadual Getúlio Vargas, onde curso o ensino médio e o curso técnico de Design de Interiores. O curso técnico está me ajudando a decidir um rumo profissional. Poderei trabalhar como assistente de um arquiteto, fazer paisagismo ou decoração de interiores, por exemplo. Se resolver fazer uma faculdade nessas áreas, também já estou tendo uma boa noção do que vou aprender, o que eu acho que me fará aproveitar melhor o aprendizado. E, como a escola tem um setor de estágios, que as empresas consultam procurando profissionais, espero estagiar em algo ligado a esses setores até o fim do curso. Será bom para aprender e também porque já ter alguma experiência profissional é um diferencial no mercado de trabalho. Estou tendo uma rotina corrida, passo o dia todo na escola, mas vale a pena. O que eu sinto é que a escola, com a opção do curso técnico, não deixa a gente ao Deus dará.”

CRISTIANE DONADIO BOMFIM, 17 ANOS é aluna da Escola Técnica Estadual Getúlio Vargas, em São Paulo

Ainda funciona e é assim que a maioria aprende seus ofícios, mesmo no mundo de hoje. Mas o mestre – que pode ser exímio nos misteres do ofício – tende a ser frágil na complementação tecnológica, no uso da palavra e dos números. E, justamente, são esses elementos que se tornam mais críticos, ao longo das mutações a que se submetem os ofícios. Daí a necessidade de complementar a experiência do mestre com um currículo que aproxima o processo de aprendizagem da escola acadêmica. O chamado Sistema Dual alemão é a versão mais refinada desse modelo. Mas sua replicação em outras partes do mundo tende a ser muito problemática. Na prática, os cursos centrados no mundo do trabalho tendem a estar mais próximos do mercado. Mas o desafio de introduzir neles o mundo das idéias tende a ser menos bemsucedido. Contudo, exemplos de um bom equilíbrio entre a mão e a cabeça são dados pelo Sistema S, formado pelo Senai e Senac. No outro lado da cerca estão os cursos que se originaram nas tradições da sala de aula. São cursos concebidos e criados por quem conhece de escolas e de ensino. Na prática, adiciona-se um apêndice profissional a um programa de DNA acadêmico. O resultado mais usual é que o lado acadêmico domina e sufoca a formação profissional. De tempos imemoriais, os escribas têm status mais alto que os artesãos. Esses últimos sempre tiveram menos poder e prestígio.


Prática e teoria Duas situações são comuns. Na primeira, os professores de ofício ficam sem espaço e são os bagrinhos na escola. Como resultado, os ofícios que ensinam são desvalorizados e depreciados pelo próprio preconceito que a escola lhes reserva. Aprender um ofício é também aprender a ter por ele respeito e apreço. Em tais situações, é a própria escola quem sabota o seu aprendizado. São numerosos os exemplos de escolas técnicas ou profissionais onde os instrutores se vestem diferente, têm salários inferiores, não têm status e são discriminados pelos professores das disciplinas acadêmicas. Os alunos notam logo que estão recebendo uma preparação para ser cidadãos de segunda classe, como os seus instrutores de ofício. Na segunda situação, exigem-se diplomas acadêmicos para todas as posições docentes. Há dezenas de países onde as escolas profissionais requerem, no mínimo, um diploma de curso técnico para os seus instrutores. No fundo, as regras do jogo estão nas mãos de professores, seja nas próprias escolas, seja nas secretarias e ministérios aos quais as escolas estão vinculadas. Como conseqüência, as regras de contratação vão sendo moldadas para que se exijam credenciais de professores para todos os que ensinam. As justificativas parecem persuasivas. Por que não exigir conhecimentos de pedagogia? Por que não tentar contratar gente com níveis mais elevados de educação formal? Pare-

Desenhos de alunos do curso de Design de Interiores: técnica e imaginação

ce certo, mas costuma ser um erro dos mais lamentáveis e a causa mais freqüente do fracasso total e rematado de tais cursos. Tomemos a área da metal-mecânica, uma das mais importantes na formação profissional. Para ser instrutor de solda, é preciso ser soldador. Para ser soldador, é preciso um mínimo de 500 horas queimando eletrodos. Ora, não há nenhum curso técnico no mundo onde se possam reservar 500 horas para tal aprendizado. E isso também não aconteceria em um curso de tecnólogo ou de engenharia. Portanto, se for exigido um diploma de técnico para ensinar solda, a probabilidade de que o aluno tente adquirir sua profissão de quem não a tem fica próxima de 100%. Bem sabemos que não se pode virar profissional se o instrutor não passa de um amador improvisado. Mas mesmo que seja possível adquirir os rudimentos da profissão na escola, não é o bastante. A experiência de longos anos de exercício da profissão ensina a “teoria da prática”. É o que não está no livro, é o “pulo do gato”. É a intuição não explicitada no pensamento formal. Portanto, nem pensar em formação profissional se os domínios profissionalizantes não estiverem em mãos de reais profissionais, com muitos anos de experiência. Essa é uma condição sine qua non. Intelectual e manual Suponhamos que bons oficiais estarão ensinando ofícios. Isso não é o bastante. Não resolve ainda o conflito contumaz entre o pensamento e a ação. Não é suficiente ter a matemática, a língua e as oficinas lado a lado, se elas permanecem como mundos separados. O acadêmico permanece abstrato e inexpugnável. Decorar fórmulas não é educação. E a oficina permanece distante do pensamento, não se fazendo a ponte com a tecnologia e o entendimento dos processos. Quando isso acontece – o que ocorre com certa freqüência – é uma pena, pois as lides da oficina permitem apresentar os conhecimentos escolares de forma contextualizada. A palavra oca pode virar a ferramenta de aprendizado e comunicação na oficina. A fórmula matemática vira a ferramenta requerida para realizar a obra

do aluno. As habilidades cognitivas viram habilidades integradas no desafio de resolver problemas de oficina. Já se disse que o conhecimento vai para a cabeça, mas entra pelas mãos. Já diziam isso as corporações de ofício francesas. Com palavras diferentes, John Dewey, Montessori, Rudolf Steiner e muitos outros propõem idéias semelhantes. Contudo, na prática as coisas não são tão simples. O fosso entre o manual e o intelectual tende a ser a armadilha onde perecem as melhores intenções de formação profissional. Mas pode tornar-se a grande solução, se cuidadosamente formos construindo a teia que une o mundo das idéias à prática dos ofícios. Antes de tudo, na construção dessa teia, nada se improvisa, nada acontece por acaso. Um exemplo da mecânica pode ser usado para ensinar regra de três. Mas isso não acontece por acaso ou na sala de aula. É um trabalho coletivo. Ainda assim, é preciso evitar o erro de imaginar que está tudo por se fazer. Há uma longa experiência de fazer isso nas melhores instituições de formação profissional e não há qualquer razão para não começar o serviço onde elas pararam. Para concluir, o caminho da formação profissional está cheio de armadilhas e perigos. Não são poucos os cursos que foram vítimas deles. Mas, ao mesmo tempo, oferece um potencial inigualável de fusão entre as atividades intelectuais e as manuais. Em muitos aspectos, é superior ao que se pode obter na educação acadêmica convencional.

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TRABALHO E VOCAÇÃO

360º

por_Silvio Bock fotos_Márcia Zoet

ESCOLHA PARA TODOS A OPÇÃO PROFISSIONAL CABE A CADA UM E TODOS SÃO SUJEITOS CAPAZES DE ESCOLHER, BASEADOS NA REFLEXÃO SOBRE SI MESMOS, SOBRE O MUNDO E SOBRE AS PROFISSÕES, SEGUNDO SEU PROJETO DE FUTURO A escolha profissional não é um fenômeno universal e nem se constitui como uma capacidade inata no homem, atributo da natureza humana. Historicamente, ela só aparece de forma significativa no momento em que o capitalismo se instala de forma hegemônica no planeta. Segundo alguns autores, são três as características que determinam esse momento: a existência de um trabalhador “livre” das relações jurídicas que regiam o modelo de vassalagem anterior; um trabalhador “liberto” da propriedade dos meios de produção; e, por fim, o fato de o objetivo primeiro e único da produção ser o aumento do capital empregado. A sociedade, a partir daquele momento, passava a ser vista como composta por camadas sociais, de formato piramidal, o que possibilitaria ascensão social a partir de certas condições. Essas condições se referiam e se referem até hoje a fatores de ordem individual: escolaridade, inteligência, persistência, ambição, perspicácia, talento, esforço e, na atualidade, acrescentam-se ética, polivalência e flexibilidade.

Silvio Bock é pedagogo, doutorando em Educação pela Unicamp, diretor do Nace – Orientação Vocacional, autor do livro Orientação Profissional: A Abordagem Sóciohistórica (Editora Cortez)

São dois os mecanismos fundamentais que permitiriam essa ascensão social: educação e vocação. Quanto maior a escolaridade que o indivíduo alcançasse, mais chance ele teria de “subir na vida”, aliada à sua vocação, que destacaria o prazer e a facilidade de executar determinadas atividades. Como conseqüência, de um lado se teria maior produtividade e, de outro, realização pessoal e profissional. A concepção filosófica que dá fundamento a essa visão é o liberalismo. A negação do sujeito No Brasil, a escolha profissional ficou restrita às pessoas que terminavam o ensino médio e poderiam postular uma vaga no ensino universitário, este sim, atri-

buindo um título profissional. Por isso, para as classes médias a escolha se constituía em problema a ser enfrentado, enquanto para as classes mais baixas restava-lhes a única alternativa: a inserção no mercado de trabalho, o que se dava apenas por fatores contingenciais, sem nenhum planejamento. No fim da década de 70, os teóricos críticos da área questionavam a idéia de escolha profissional ao afirmar que os despossuídos não tinham alternativa. A realidade econômica e


Garota observa o braço de um violão em escola de luteria, em São Paulo: escolhas são frutos de conhecimento

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“Como quase todas as adolescentes, eu tinha o sonho de ser modelo e atriz. Queria também ser jornalista, publicitária e escritora. Um dilema! Até que fiz um curso de orientação vocacional para jovens do Projeto Arrastão, que freqüento desde criança. Descobri que podia e tinha de correr atrás dos meus sonhos. No curso, trabalhávamos sempre em equipe. Pesquisamos várias profissões, ouvimos palestras de profissionais, tivemos simulações de entrevistas, aprendemos a fazer currículos, discutimos o preconceito e as dificuldades da mulher no mundo do trabalho. Nessa época, eu fazia recreação infantil e cheguei a ganhar algum dinheiro. Gostava de trabalhar com as crianças, mas não era bem o que eu desejava. Então, ainda no curso, uma palestra de um profissional de teatro me encantou. Decidi que era o que eu queria e juntei com as crianças: comecei a fazer peças infantis. Já participei de duas e agora faço um curso de teatro do Arrastão, dentro do Projeto Arquimedes, que também tem dança. Estamos criando uma peça, A Fuga das Sombras. Acho que me encontrei na emoção e na improvisação do palco.”

LEVI SILVA

social impunha de forma indelével os caminhos das pessoas (inclusive dos privilegiados). Hoje, temos claro que tal posição é equivocada, pois desconhece, ou mesmo nega, a existência do sujeito. Ao apontar esse equívoco não se pretende resgatar o liberalismo como fundamento e nem atribuir toda a responsabilidade de solução dos problemas ao indivíduo, mas apontar que as esferas sociais e individuais não estão separadas. O indivíduo está objetivado na sociedade e a sociedade está internalizada e singularizada no indivíduo. Assim, toda escolha profissional é uma escolha feita por um indivíduo; todo sujeito, por

FERNANDA MOURÃO DA SILVA, 15 Estudante do 1 0 ano do ensino médio, participa do Projeto Arrastão, no Campo Limpo, em São Paulo (www.arrastao.org.br)

mais restritas que sejam as condições socioeconômicas, é sempre um sujeito que pode escolher. Esta posição que aqui defendemos não deve ser confundida com visões que afirmam que a escolha profissional, se bem feita, proporcionará ascensão social, e nem com a idéia de que a maioria excluída, em nossa sociedade, não escolhe. Lutamos para que todas as pessoas, sem distinção, tenham possibilidades de escolher, isto é, de refletir sobre si mesmas, sobre o mundo em que vivem e sobre as profissões, tornando possível a construção de projetos de futuro. Pensar e pensar Como, então, se escolhe uma profissão? Não existe fórmula mágica e nem testes capazes de apontar o caminho a ser seguido. A única forma realmente adequada para escolher uma profissão é pensar, e pensar bastante. Pensar em tudo que envolve essa importante decisão. Conhecer todas as possibilidades profissionais, para que nenhuma profissão fique de fora por desconhecimento. Informarse sobre as profissões, por meio de leituras e conversas, para fazer a opção calcada em dados confiáveis. Desenvolver o autoconhecimento, isto é, conhecer-se no que “se foi” e no que “se é”, para projetar quem se pretende ser no futuro. Informar-se a respeito de como se “adquire” uma determinada profissão, qual a escolaridade exigida, quais cursos preparam o profissional e qual o custo da formação. Ficar por dentro de todas as transformações que estão acontecendo na organização e execução do trabalho, em decorrência da globalização da economia e da introdução de novas tecnologias nos modos de produzir. Conhecer as situações econômica regional, nacional e até internacional, para entender quais ações cabem ao indivíduo e quais só podem ser resolvidas pelo cidadão, como ser político. Conhecer a legislação referente ao trabalho para reivindicar direitos também se faz necessário.


A ESCOLHA É UM ATO DE CORAGEM, POIS ELA PRESSUPÕE ASSUMIR RISCOS E LIDAR COM AS PERDAS Um ato de coragem Mas tudo isso ainda não é suficiente para que a escolha aconteça. Escolher é ter que optar por uma dentre algumas alternativas. Possibilidades que até podem ser igualmente atraentes, mesmo que por motivos diversos. A escolha pressupõe a existência de dúvidas, de impasse; portanto, escolher significa, em última análise, resolver um conflito e isso se dá por meio de um ato de coragem. Escolher significa, também, correr riscos e lidar com a perda. Sempre que se toma partido por uma das possibilidades, deixa de ser possível vivenciar a outra, que não significa que esta seria necessariamente pior. O que resta é assumir o risco e a perda, o que não é nada fácil. A idéia da escolha como um ato de coragem questiona concepções tradicionalmente consideradas como paradigmas. Contesta a noção de que haveria moldes profissionais preestabelecidos nos quais a pessoa deveria se encaixar. Questiona a idéia da existência de uma única profissão que se ajustaria à pessoa e que seria

a certa, contra todas as outras, as supostamente erradas. Refuta a idéia de que os seres humanos nascem com potenciais ou aptidões determinadas. Recusa o pressuposto de que a vocação é um atributo inato ou mesmo adquirido e cristalizado a partir de certa idade. Diferente das concepções que estão ainda no imaginário das pessoas a escolha não se constitui num jogo de encaixe entre perfil pessoal e perfil profissional. O indivíduo se transforma constantemente, ou seja, é capaz de construir novas habilidades, desenvolver outros interesses e mudar o seu jeito de ser. Por isso, o ato de coragem se forma na síntese do racional e do emocional. O ato de coragem é um pacto que a pessoa faz consigo mesma de se comprometer com a escolha, de batalhar para que ela dê certo. Por outro lado, as profissões e ocupações também estão em movimento: criam-se novos campos de atuação em função do contexto social, político, econômico e tecnológico em que estão inseridas. Como educadores, não basta sermos somente fonte de informações. Só estaremos ajudando os adolescentes e os jovens no intrincado desafio da escolha profissional se problematizarmos a realidade, criticarmos e apontarmos sua transformação constante, analisando suas mazelas e discutindo como ocorrem as transformações. A opção profissional não significa apenas a escolha de um curso ou a decisão pelo exercício de certas atividades. Escolher a profissão também significa escolher como se vai atuar no mundo.

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A escolha não se constitui num jogo de encaixe entre perfil pessoal e perfil profissional. O indivíduo se transforma constantemente, ou seja, é capaz de construir novas habilidades, desenvolver outros interesses e mudar o seu jeito de ser


SARA MARINHO/IMAGENS DO POVO

sem bússola

DESPERDÍCIO SOCIAL


O DESEMPREGO, O SUBEMPREGO E AS DIFICULDADES DE INSERÇÃO PROFISSIONAL DESPREZAM O TALENTO DE MILHÕES DE JOVENS BRASILEIROS

por_Yuri Vasconcelos

Um relatório divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2004 mostrou o drama que a juventude do planeta enfrenta ao tentar ingressar no mercado de trabalho. O contingente de jovens de 15 a 24 anos desempregados atingiu o número recorde de 88 milhões de pessoas, em 2003, o equivalente a 14,4% dos indivíduos nessa faixa etária. Nos últimos 11 anos, a situação só piorou e, hoje, os jovens são quase a metade (47% ) de todos os desempregados do mundo – mesmo sendo apenas um quarto (25%) da população em idade de trabalhar. A situação é ainda mais dramática nas regiões menos desenvolvidas, como a América Latina, onde o desemprego nessa faixa cresceu, em termos percentuais, o dobro da média mundial. “Estamos desperdiçando uma parte importante da energia e do talento da geração de jovens mais educada que tivemos”, afirmou Juan Somavia, diretor da OIT, durante a divulgação do relatório. No Brasil o quadro é igualmente grave. Um estudo dos pesquisadores Eduardo L. G. Rios e André Golgher, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/ UFMG), realizado em 2002, mostrava que a taxa de desemprego juvenil é bem mais alta do que nos demais grupos etários. Hoje, são pelo menos 4 milhões de jovens sem ocupação no país, o correspondente a quase 50% dos desempregados.

IMAGENS DO POVO

Rapaz puxa carrinho carregado de caixotes vazios: indo do nada a lugar nenhum

“Os jovens têm hoje mais dificuldades para arranjar emprego, embora a entrada no mercado nunca tenha sido fácil para eles. Como têm menos experiência, muitas vezes são preteridos. As mulheres são ainda mais vulneráveis, pois, além da difícil inserção, elas são as primeiras a serem demitidas”, afirma Juliana Leitão, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Aplicadas (IPEA), do Ministério do Planejamento.

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Por traz dos números A cearense A. G. F, de 19 anos, sente na pele as dificuldades de ingressar no mercado. Mãe de V., de 2 anos, ela está desempregada e fora da escola. “Fiz até a 7 a série e depois que engravidei não deu para continuar nos estudos. Quando meu filho nasceu, não tinha com quem deixá-lo e por isso não procurei emprego”, diz a moça, que vive em um dos bairros mais pobres e violentos de Fortaleza. “Eu gostaria de voltar a estudar e trabalhar numa fábrica de costura. Queria também fazer algum curso, como o de informática. Na minha situação é muito difícil arrumar emprego. Tenho pouco

“Há seis anos freqüento uma barraca de praia no Guarujá e a agilidade e vivacidade de um dos rapazes que ali trabalham sempre me chamaram a atenção. Quando essa reportagem, sobre as dificuldades dos jovens entrarem no mercado de trabalho, me foi oferecida, decidi entrevistá-lo, para saber um pouco mais de sua história. Surpreendi-me quando André disse que era bacharel e pósgraduado em Letras. Mesmo assim, continuava fazendo aquele ‘bico’. E me dei conta da perversidade da realidade que vivemos, que empurra jovens talentosos e preparados para empregos subalternos e mal remunerados. Não pude deixar de pensar na minha própria história. Nascido no Ceará, quando me mudei para São Paulo enfrentei obstáculos, como o preconceito regional e a falta de conhecidos que me abrissem as portas do mercado. Assim como André, desempenhei atividades distanciadas de minha formação – fui assistente em um estúdio fotográfico. A perseverança, um pouco de sorte e, essencialmente, a boa formação que recebi, me ajudaram a superar as dificuldades iniciais e me estabelecer definitivamente como jornalista.”

DANIELA PICORAL

VIDA DE REPÓRTER

YURI PINHEIRO DE VASCONCELOS, 40 ANOS, nascido em Fortaleza (CE), é jornalista e vive há 16 anos em São Paulo

estudo e não tenho experiência”, diz. Ela mora com dois irmãos e o filho e conta com a solidariedade da avó para sobreviver – a mãe está presa, e o pai, ausente, nunca deu nenhuma ajuda. Por muito pouco a baiana Luciana Xavier, de 21 anos, não engrossou também o triste exército de desalentados. Dos 2 aos 14 anos, ela viveu nas ruas de Salvador, pedindo esmola, dormindo ao relento e vendo sua infância esvair-se com o tempo. “Fui para a rua por necessidade. Depois que meu pai morreu, minha mãe não tinha condições de cuidar de mim e dos meus 13 irmãos”, recorda. Sua vida só tomou outro rumo quando ela ingressou no Projeto Axé, um dos mais bem-sucedidos programas brasileiros de atendimento e educação de crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social. O idealizador do projeto, o italiano Cesare de Floria La Rocca, comunga da mesma idéia do diretor da OIT de que é um desperdício social não orientar o talento da juventude. E é isso que o Axé faz. “Com uma proposta baseada em arte e educação, realizamos um trabalho importante de revelar vocações. Atendemos a cerca de 1.600 crianças e jovens por ano e muitos já se formaram em dança, música e teatro”, diz Ruy Videro, um dos coordenadores da ONG. Para Luciana, o projeto teve grande relevância. “O Axé mudou os rumos da minha existência. Percebi potencialidades em mim mesma que não conhecia. Isso me ajudou a descobrir o que gostava de fazer. Terminei o curso de moda e virei estilista. Ganhei uma bolsa para estudar numa faculdade de moda de Florença, na Itália, e agora quero ser uma profissional revolucionária, unindo criatividade com funcionalidade.”

Garoto descarrega saco de cocos: trabalho precoce


SARA MARINHO/IMAGENS DO POVO

A ROTATIVIDADE EM FUNÇÕES QUE NADA ENSINAM É UMA CARACTERÍSTICA DO TRABALHO JUVENIL SEM QUALIFICAÇÃO

Aprendizado pleno Em São Paulo, o projeto Cidade Escola Aprendiz também vem trabalhando com sucesso em prol do resgate da cidadania e da profissionalização de jovens das camadas populares. “Nossa maior preocupação é a descoberta da habilidade. Realizamos oficinas de arte e tecnologia para que os jovens descubram sua vocação. A inserção no mercado de trabalho é decorrência desse aprendizado”, diz Cilena Faria, uma das coordenadoras do projeto, que tem entre seus idealizadores o jornalista Gilberto Dimenstein. Participante da primeira turma do Aprendiz, a paulistana Mônica Alves, de 23 anos, formou-se em arquitetura e trabalha na restauração de prédios no centro de São Paulo e como produtora de eventos do Café Aprendiz, um dos braços do projeto. “O Aprendiz me fez acreditar que eu poderia conseguir fazer o que gostava. O problema de alunos de escolas públicas, como era o meu caso, é não acreditar e não saber como concretizar os seus sonhos”, afirma. “Participar do programa foi muito importante na minha carreira. Acabei trilhando um caminho diferente dos meus irmãos, que só se formaram depois dos 25 anos.” O fato de ter uma qualificação ajudou Mônica a se colocar no mercado, mas isso nem sempre é suficiente. Ter uma formação profissional adequada é uma conquista importante, mas não é uma garantia de emprego. O paulista André Dantas de Melo, de 24 anos, por exemplo, ainda não conseguiu se estabelecer profissionalmente, mesmo sendo bacharel em Letras

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INEXPERIENTES, OS JOVENS DEMORAM A SE EMPREGAR E SÃO OS PRIMEIROS A SEREM DEMITIDOS INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DOS DIREITOS DA PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA (IBDD) REGIÃO DE ATUAÇÃO ESTADO DO RIO DE JANEIRO TIPO DE INSTITUIÇÃO Organização não-governamental PROPOSTA Desenvolver projetos no sentido de tirar a questão dos portadores de deficiência da marginalidade e trabalhar pela integração social e construção da cidadania desses indivíduos NÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS 3.411 (pela gerência de Trabalho, em 2004) APOIO PETROBRAS, FURNAS CENTRAIS ELÉTRICAS, BNDES, SENADO FEDERAL, SENAC-RIO, MERCK, FUNDAÇÃO AUINA ASHOKA EMPREENDIMENTOS SOCIAIS, FUNDAÇÃO VITAE E ELETROBRÁS CONTATO Rua Arthur Bernardes, 26 - Loja A - Catete - 22.220-070 - Rio de Janeiro (RJ) - Tel. 21/3235-9290 e-mail: ibdd@ibdd.org.br

PROJETO AXÉ REGIÃO DE ATUAÇÃO Salvador PROPOSTA Atender menores em situação de risco social, principalmente crianças e jovens moradores de rua, utilizando a arte e a educação como ferramentas para construção da cidadania NÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS 1.600 por ano APOIO UNICEF, BANKBOSTON, INSTITUTO C&A E PARTNERS OF AMERICA CONTATO Avenida Estados Unidos, 161/9º andar – Comércio – Salvador (BA) – Tel. 71/3242-5815 – e-mail: projetoaxe@uol.com.br

CIDADE ESCOLA APRENDIZ REGIÃO DE ATUAÇÃO São Paulo. TIPO DE INSTITUIÇÃO Organização não-governamental PROPOSTA Trata-se de um grande laboratório de pedagogia comunitária dedicado ao aprimoramento da comunidade e da educação. Usa como recursos a comunicação, a expressão e a arte na tentativa de despertar no jovem um projeto de vida NÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS 740 (em 2004) APOIO ABRINQ, FUNDAÇÃO BANKBOSTON, FUNDAÇÃO BRADESCO, FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL, FUNDAÇÃO HORSA, INSTITUTO AYRTON SENNA, UNESCO, UNICEF, COMGÁS, MICROSOFT, ORBITAL, TÊXTIL MATEC, UNILEVER, BANCO JP MURPHY, BANCO SANTANDER-BANESPA CONTATO Rua Belmiro Braga, 146 – Vila Madalena – 05342-020 – São Paulo (SP) – Tel. 11/3813-7719 – e-mail: aprendiz@uol.com.br

com pós-graduação em Língua e Literatura Portuguesa. Ele divide seu tempo fazendo “bicos” numa barraca de praia do Guarujá e dando aula de reforço numa escola pública de ensino fundamental da cidade. Na praia, fatura de R$ 20 a R$ 30 em dias de bom movimento. Já o salário da escola, ele não soube precisar. “Comecei há menos de um mês e não recebi nada ainda. É um trabalho temporário, que só vai durar quatro meses. Está difícil arranjar emprego na minha área, principalmente em São Paulo, onde o mercado está saturado. A concorrência é grande e a remuneração é baixa. Penso em ir embora, talvez para Rondônia ou Roraima, onde existem mais oportunidades.” Difícil acesso Um segmento da juventude que enfrenta dificuldades ainda mais específicas para furar a barreira do desemprego é o dos portadores de necessidades especiais. Embora a legislação brasileira exija que empresas a partir de determinado porte reservem a eles pelo menos 5% de suas vagas, a situação é complexa. “O portador tem dificuldade para entrar no mercado não apenas por causa de suas limitações, mas também pelo preconceito e pelas deficiências na capacitação e atendimento a essas


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pessoas”, diz Roberto dos Santos Pinto, gerente de Trabalho do Instituto Brasileiro de Defesa dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência (IBDD), do Rio de Janeiro. “Nós atuamos em favor da construção da cidadania dos portadores de deficiência e para isso temos também um centro de profissionalização que oferece cursos de informática, telemarketing e serviços administrativos, entre outras opções.” A estudante de Direito Joana de Montenegro Roquete, 22 anos, que mora no Rio de Janeiro, é uma beneficiada pelo programa do IBDD. Portadora de uma doença degenerativa que causa o enfraquecimento dos músculos e a tornou dependente de uma cadeira de rodas, ela trabalha, há um ano e meio, na consultoria jurídica da companhia Furnas Centrais Elétricas, como empregada terceirizada. “A lei que obriga as empresas a contratarem deficientes facilitou minha entrada no mercado. Creio que hoje a maior dificuldade do portador de deficiência não é obter uma vaga, mas boa qualificação, principalmente por causa da dificuldade de acesso físico às instituições de ensino”, diz Joana. Dupla jornada O subemprego é outra faceta do drama enfrentado por muitos jovens

brasileiros, principalmente aqueles de baixa renda e com formação educacional deficiente. A socióloga mineira Elisabeth da Fonseca Guimarães, da Universidade Federal de Uberlândia, estudou a relação entre trabalho e educação na juventude, tendo como alvo alunos de escolas estaduais noturnas da periferia de Uberlândia. Para dar conta da jornada dupla estudo-trabalho, eles precisam acordar cedo e dormir tarde. O período destinado ao trabalho, incluindo o tempo de deslocamento, consome mais de dez horas diárias. “Desempenhando as mais diferentes atividades, esses jovens transitam por uma infinidade de empregos, em funções mínimas e corriqueiras, em que o processo de trabalho ocorre de forma fragmentada”, diz Elisabeth. E continua: “Na condição de ‘auxiliar’ ou ‘ajudante’, eles executam tarefas que, além de exigir pouco ou nenhum conhecimento especializado, dificilmente lhes possibilitam o domínio daquilo que é feito. Assim, são utilizados e reutilizados em diferentes empregos de curtos períodos de tempo, em atividades que pouco têm em comum entre si”. Para a socióloga, trabalhando durante o dia, em atividades precárias, e estudando à noite, o jovem dificilmente vai conseguir uma formação mais complexa. “Isso vai prejudicá-lo no mercado, que faz grandes exigências de qualificação”, afirma. O mineiro A. L., de 16 anos, de Ipatinga, foi um que não conseguiu conciliar a necessidade de estudar com a de trabalhar. Há um ano, largou a escola e passou a se dedicar integralmente ao emprego em um mercadinho do bairro, onde despacha as compras e atende na lanchonete. “É muito cansativo trabalhar o dia todo e ainda estudar à noite. Tenho de andar muito para ir de um lugar ao outro”, diz. Ele sabe que a decisão de abandonar a sala de aula pode comprometer seu futuro. “Acho que é importante continuar o estu-

Acima, bailarino formado pelo Projeto Axé, de Salvador; na página oposta, jovens do Projeto Cidade Aprendiz, de São Paulo: inserção no mercado a partir da descoberta de habilidades

do, pois sem ele não vou conseguir nada melhor. Penso em fazer cursos para me qualificar, como de informática, inglês e montagem de computador. Nesse momento, sei que estou ganhando experiência, mas as empresas também querem um trabalhador com bom nível escolar.” O emprego no mercadinho, sem carteira assinada, não é o primeiro do rapaz. Ele começou a trabalhar aos 14 anos numa oficina mecânica, já foi ajudante de pedreiro e balconista em um bar perto de casa. Todos esses ofícios foram exercidos em conjunto com a escola – ele estudou até a 1a série do ensino médio. “Decidi trabalhar porque meus pais não tinham condições de me dar coisas que eu queria. Desejava ter meu próprio dinheiro e agora ganho um salário mínimo. Estou satisfeito com o que faço, mas sei que a situação não está fácil. Lá no mercado, chega muita gente procurando trabalho. Por isso, eu tento fazer tudo certinho, senão vem outro e toma minha vaga”, constata o garoto.

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“TOMBOS SÃO INCENTIVOS” Diego Hypólito conta como enfrentou os desafios da profissionalização e aos 18 anos subiu ao pódio como o melhor ginasta brasileiro por_Lédio Carmona

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o sujeito da frase


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Diego começou a praticar ginástica imitando a irmã, Daniele, até descobrir que queria ser profissional e passar a treinar sete horas por dia

Mais que um atleta, Diego Hypólito é um forte. Com apenas 18 anos, teve de levar, literalmente, muitos tombos para conquistar o status de que desfruta hoje: é o melhor ginasta brasileiro. Ganhou cinco medalhas de ouro consecutivas na prova do solo em etapas da Copa do Mundo – a mais importante delas na finalíssima, realizada em dezembro de 2004, em Birmingham, na Inglaterra –, além de ter conquistado duas de prata, no solo e no salto, nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, em 2003. “Para conquistar tanta coisa, tive de ser muito forte, ter sempre a cabeça no lugar, fazer de cada tombo que levava um incentivo para superar aquele obstáculo. O importante é não desistir”, diz o jovem, que nasceu em Santo André, no ABC paulista, já viveu no Rio de Janeiro e agora mora em Curitiba, onde se concentra a seleção brasileira. Da imitação infantil dos treinos da irmã mais velha — a também premiada Daniele Hypólito – à opção definitiva pela ginástica, Diego se profissionalizou enfrentando desafios que são comuns a todos os jovens, qualquer que seja sua atividade: a superação da insegurança, o enfrentamento do medo de errar, o exercício da persistência, até alcançar a precisão de desempenho que distingue o profissional do amador. São lições do esporte que servem para todos – embora, no caso dele, o risco seja sempre o de cair, de verdade. Aliás, de quedas, Diego entende. Na etapa paulista da Copa do Mundo, ele torceu o tornozelo na prova do solo, no ginásio do Ibirapuera. A lesão foi séria, exigiu cirurgia e agora, diariamente,

chova ou faça sol, Diego enfrenta sete horas de fisioterapia. Nesta entrevista a Onda Jovem, ele manda o seu recado. “É só mais um obstáculo. Quem quiser vencer na vida, deve olhar sempre para frente. Eu só penso em ficar bom e voltar a competir. Sou positivo, persistente e amo o que faço.” Onda Jovem: Como você se transformou num ginasta profissional? Diego: Primeiro era uma brincadeira. Eu via a minha irmã treinar e competir e achava divertido. Passei a praticar pensando em fazer um esporte, cuidar da saúde. Só que o envolvimento foi crescendo e chegou uma hora em que descobri que aquilo seria o meu futuro, que a brincadeira tinha virado coisa séria. Que hora foi essa? Foi o momento em que passei a ser cobrado e que também passei a me cobrar. A partir daí, entrei para o mundo profissional. Treinar sete horas por dia não é uma brincadeira, não é mais ser amador. Enxerguei que ali estava o meu futuro.

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E valeu a pena ter seguido esse caminho? Falo por mim e para todos que estão começando: vale a pena desde que a gente goste do que faz, desde que tenha amor pelo trabalho. Além disso, é preciso alguns elementos para ter tranqüilidade, como o apoio familiar. E mais: raça e determinação. Sem isso, nenhum atleta – e nenhum profissional, eu acho – vai em frente. Como é a sua rotina? Igual à de qualquer um que esteja começando. Tenho só 18 anos. Como agora estou machucado, faço sete horas de fisioterapia, de manhã e à tarde. À noite, fico com meus pais, ajudo em casa e estudo. Preciso pensar no que vou fazer depois da ginástica. O que você está estudando? Em julho, eu começo o curso de Educação Física, na Faculdade Dom Bosco, em Curitiba, e também vou começar a estudar inglês. Falando em escola, o que as escolas públicas poderiam fazer para ajudar os jovens a identificarem na atividade esportiva uma alternativa de carreira? Acho que isso tinha de ser a coisa natural. Em carreira, tudo é dom, vontade de querer seguir aquele caminho, a velha história da persistência, mas só incentivar as crianças a praticar esporte já é um papel muito importante das escolas públicas. Você acha que o esporte é uma alternativa para ajudar inclusão social, no Brasil? Qualquer tipo de ação para ajudar a acabar com as desigualdades no Brasil é importante e válida, e o esporte tem um papel fundamental nesse processo.

O que você pensa das escolinhas de futebol que existem pelo país etc? Basta isso para tirar os meninos da rua, como se costuma dizer? Tudo é válido. Mas o mais importante é que o trabalho seja permanente, não uma ação isolada. Quanto mais iniciativas, melhor.

AGÊNCIA GLOBO

A abertura desse horizonte da profissionalização para jovens atletas só pode ser feita pelo governo ou os projetos sociais podem contribuir? Claro que sim. Toda ajuda é bem-vinda, independente de que lado venha. É fundamental que o governo promova o esporte, a revelação de talentos, mas os projetos sociais que nasceram e podem surgir também são importantes.


“Ninguém nasce feito. O esporte ensina você a ganhar forças, a não desistir, a seguir em frente e encontrar um caminho”

E qual é a diferença entre ter um chefe, como a maioria de nós tem, e ter um treinador, que é o seu caso? Não há diferença. Acho que você deve ser sincero o tempo todo. Eu falo tudo na hora, não deixo nada para depois. Mas o mais importante é saber falar, lidar com a situação. Desse jeito, o respeito acaba sendo mútuo, entre chefe e chefiado, atleta e treinador. Só isso resolve ou é preciso também saber contar até dez? Eu tenho uma idéia muito clara e transparente sobre o que é um trabalho. Primeiro, todo mundo tem de ser determinado e gostar do que faz. Não basta ter uma profissão só pelo dinheiro. Antes de qualquer coisa, é preciso amar o que você faz. Mas o dinheiro também é importante, não é? Claro que sim. Somos profissionais. No meu caso, por exemplo, eu preciso do meu salário para ajudar a minha família. É a hora de eu retribuir tudo o que eles fizeram por mim.

E o medo de errar numa prova? Tira o seu sono? O medo de errar sempre vai existir. Eu penso assim: treino o mês inteiro e no dia da competição tenho 50% de chances de errar e 50% de acertar. É preciso mentalizar: “Eu vou acertar, eu vou ganhar, vou representar bem o meu país”. Você tem de estar sempre com a sua auto-estima em dia, seguro. Autoconfiança é fundamental. Agora, caso você não acerte, faz parte. É a lei da ginástica. É da profissão. Além da autoconfiança, você desenvolveu alguma estratégia para chegar tão rápido ao sucesso? A estratégia, para um atleta ou para qualquer outro profissional, é o trabalho — o treinamento e a repetição. Você tem de fazer, refazer, até ficar seguro de que já sabe executar aquela tarefa. No caso da ginástica, para eu colocar algum elemento novo na minha série, eu preciso ter repetido muitas vezes o antigo. Daí vem a segurança... Exato. O segredo é este: persistir. Eu passei um tempo enorme ficando em quarto lugar nas etapas da Copa do Mundo, mas eu sabia que estava trabalhando direito. Até que passei não só a subir ao pódio como comecei a vencer, a ficar em primeiro lugar. Ninguém nasce feito. Ninguém é perfeito. Você deve buscar a melhora com insistência, com força de vontade. E a derrota? Ela é capaz de te derrubar? A derrota deve ser vista apenas como um acidente. O importante é saber que sua hora vai chegar e que a sensação ruim do insucesso passa rapidamente. Independentemente de ser a opção de carreira, como o esporte pode contribuir para o desenvolvimento da maturidade de um jovem que está, por exemplo, ingressando no primeiro emprego? Você tem alguma dica? O esporte ajuda você a ganhar forças, a não desistir, a ser forte e persistente, sempre, inclusive no primeiro emprego. O esporte te ensina a levantar a cabeça, seguir em frente e encontrar um caminho. Minha dica, cara, é: não desista. Nem no primeiro, nem no segundo tombo. Se você trabalhar e tiver a consciência tranqüila, sua hora vai chegar. É assim que funciona.

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AGÊNCIA GLOBO

Voltando aos tombos: deve ser difícil errar diante de um grande público na hora de um exercício. Eu procuro pensar que o importante é fazer a minha parte direito. Tomou um tombo? Levanta e segue em frente. Você deve estar com sua cabeça em ordem, no lugar, firme. Quem me comanda não é meu corpo, mas sim a minha cabeça. Ao mesmo tempo, é preciso abstrair o que os outros vão falar. Eu aprendi cedo que a cobrança sempre vai existir, então, é necessário saber lidar com ela.

Diego passou muito tempo ficando em quarto lugar nas provas. Até que começou a ganhar. Para ele, as derrotas devem ser vistas como acidentes, pois a sensação ruim de insucesso passa. É preciso, antes de tudo, autoconfiança: “Quem me comanda não é meu corpo, mas sim a minha cabeça”


ARNALDO CARVALHO

luneta

UMA NOVA GERAÇÃO ESTÁ DANDO SUAS PRÓPRIAS RESPOSTAS À FALTA DE EMPREGOS por_Iara Biderman

DESEMPREGADO, SIM DESOCUPADO, NÃO


Para quem ainda acha que ter trabalho é conseguir emprego, a explicação é curta e clara: “Trabalho é tentar se organizar de forma criativa para atuar economicamente na sociedade”. A definição de Verônica Sá, 18 anos, mostra que há pelo menos uma parte da juventude brasileira que não é apenas produto (ou vítima) da atual era do “fim do emprego”. Essa parcela considera-se também agente, com direito de optar e em condições de criar novas formas de trabalho, nas quais a atividade profissional está intimamente ligada à busca de conhecimento e prazer. Parece um mundo ideal e um discurso restrito àqueles com melhores condições sociais e econômicas que, teoricamente, não seriam tão pressionados pela necessidade de gerar renda. Mas, para a socióloga Lívia de Tommasi, coordenadora do projeto Rede de Juventude, que atua em todo o Nordeste do Brasil, essa desvinculação entre trabalho e emprego e a concepção do trabalho como algo que seja significativo são comuns aos jovens de todas as camadas sociais, mesmo as mais desfavorecidas. “Primeiro, para esses jovens a ocupação formal simplesmente não está no horizonte; infelizmente, não há perspectiva real para isso. Por outro lado, eles querem trabalho, sim, não só por causa da necessidade do dinheiro, mas também para gratificação, crescimento pessoal. Quando pedimos para que definam trabalho com uma palavra, um adjetivo, o que ouvimos muito é prazer, satisfação, compromisso.” Quanto ao risco de se imaginar um “mundo ideal”, ele não deve ser subestimado, afirma a socióloga Gisélia Franco Potengy, do IEC – Instituto de Estudos da Cultura e Educação Continuada, do Rio de Janeiro. “Há uma visão idealizada de que o bom é não ter um emprego fixo, ser seu próprio empregador. Mas a verdade é que há muita gente nessa situação e o mercado aberto é muito competitivo. O jovem profissional precisa estar atualizado com tudo que aparece, aberto às mudanças cotidianas do mundo da informação.” E essa atualização ininterrupta, que produz uma juventude antenada e ágil para responder criativamente aos desafios, tem o seu lado perverso. “Quem tem acesso aos instrumentais básicos, como internet, computador, boa escola, entra nesse mercado de forma competitiva. Quem não tem, entra em desvantagem em um mercado que não está tão regulamentado como antes”, diz Potengy.

Abaixo, o grupo paulistano Tiquequê, que anima festas infantis; na página oposta, Elaine Bonfim, do Coletivo Êxitos D’Rua, de Recife: novas propostas de trabalho

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HENK NIEMAN

O tempo dos digitais Mas a era da informação – cujas características levaram o sociólogo italiano Domenico de Masi a usar o termo “digitais” para definir os jovens que, além da identificação com o computador, estão atentos aos avanços da ciência, sensíveis às causas sociais e ambientais, e dão uma resposta autônoma à questão do trabalho – não significa que as alternativas ao emprego formal estão apenas na rede on-line. O digital do século 21 encontra também respostas em outras formas de atuação. A economia solidária é uma delas. “Por que a gente tem de trabalhar? Para ter uma participação economicamente ativa na sociedade. Os princípios do trabalho solidário são uma nova forma de participar, de criar uma organização horizontal, de intervir no meio em que vivemos, na comunidade”, diz Verônica Sá, do grupo Conexão Solidária, sediado em Salvador, no Liceu de Artes e Ofícios da Bahia. Verônica aplica os princípios na vida pessoal. Estudante de Relações Públicas, acha que a faculdade que cursa está muito voltada para a área empresarial, e procura, em seu trabalho, “romper com as barreiras que estão pré-formadas”. O grupo do Liceu, que promove capacitação em nove comunidades da região de Salvador, também tem uma organização horizontal, cooperativa. Para Verônica, o Conexão é, entre outras coisas, um espaço para uma atuação profissional diferenciada – poder fazer o que gosta, da maneira que

acredita ser a melhor. Esse prazer no que faz ajuda a encarar horários pouco convencionais de trabalho – sábados, domingos, às vezes noite adentro. “Meu trabalho e minha vida pessoal estão misturadíssimos, não sei onde começa um e termina o outro”, diz Verônica. Essa mistura é típica dos jovens que podem estar desempregados, mas nunca desocupados. Conciliar períodos de trabalho intenso com épocas de pouca demanda também é comum. “Meu trabalho é prazeroso, mas há momentos em que me sinto um operário, tenho de criar e produzir direto. Mas também, na hora em que quero, fico em casa com a família. O emprego formal me impediria isso”, diz o artista plástico e arte-educador Roberto Carlos Pereira, o Bessa, de 25 anos, que tem um ateliê de bonecos na cidade de Olinda, em Pernambuco. Bessa conta que tirou sua carteira de trabalho aos 16 anos, mas nunca a usou. “Só entraria em um emprego se fosse algo em que acreditasse. Sempre tive predisposição artística, e posso me inserir em vários lugares da cadeia produtiva, sem perder a liberdade.”


E se não for artista? O trabalho artístico tem a vantagem de ser “uma resposta criativa para uma situação dada”, diz Gisélia Potengy, “mas nem todo mundo vai ser artista, não pode ser o único caminho”, ressalva. Porém, um mix de trabalho solidário, criativo e de qualidade pode ser um caminho alternativo e eficaz. “Há um desencontro entre ter um talento e não encontrar espaço para realizá-lo”, diz Elaine Bomfim, 24, do coletivo Êxitos D’Rua, do Recife. Entre outras ações que aproveitam expressões artísticas para criar oportunidades de trabalho solidário, o coletivo utiliza as técnicas de grafitagem, por exemplo, para produzir camisetas, capas de CD, ou para anunciar shows. A inserção alternativa no mercado passa até por uma “loja solidária” – ou seja, reflete-se também no consumo desse público. Elaine acredita que podem, assim, influenciar o mercado formal. “Apesar de o senso comum associar independência e trabalho informal a algo precário, nós temos, além da responsabilidade social, a preocupação de fazer bem-feito, com qualidade profissional, e sabemos que isso dá um novo ar ao mercado.”

O arte-educador Roberto Pereira, o Bessa, que tem um ateliê de bonecos em Olinda: autonomia e compromisso

ARNALDO CARVALHO

O TRABALHO SOLIDÁRIO E OS EMPREENDIMENTOS APONTAM NOVOS RUMOS DIANTE DE UM MERCADO EM CRISE


MARCELO ELIAS

VALTER PONTES/COPERPHOTO

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Verônica Sá, da Conexão Solidária, de Salvador, e Marcelo Costa, representante da YES, aliança global para o emprego juvenil: criando trabalhos

PARA SABER MAIS

Colocar no mercado um produto ou serviço diferente, ou feito de forma diferente, é um jeito de enfrentar os desafios do trabalho sem se submeter às regras formais das empresas nem repetir fórmulas prontas de negócios. “Há muitos recursos, em muitos lugares. Os espertos encontram os nichos, alegremente, e podem fazer o que ninguém faz”, diz Diana Tatit, 21, do grupo Tiquequê (www.tiqueque.com), de São Paulo. Com um espetáculo diferenciado de animação de festas infantis, o Tiquequê atravessa o circuito dos bufês de classe média e oferece seu produto fino, com boa música e tratando as crianças de forma inteligente. O “produto”, que inclui o repertório do selo infantil Palavra Cantada, dos músicos Paulo Tatit e Sandra Peres, foi inteiramente criado, e é gerenciado, pelo Tiquequê: quatro jovens de 20 e 21 anos. “Sempre penso que, na vida, é preciso estar fazendo algo criativo, mesmo que seja paralelo a outras atividades”, comenta Isabel Tatit, 20, prima de Diana e parceira no grupo. “No futuro, vai se dar bem quem tiver jogo de cintura para fazer mais coisas, misturar projetos. É descobrir alguma coisa que te apaixone e fazer aquilo. O Tiquequê funciona porque a gente gosta, tem paixão”, diz Diana. O mote dessa turma pode ser “Crie o seu trabalho. Hoje não tem mais emprego, e sim oportunidade de trabalho”, resume Marcelo Costa, 24, coordenador para o Brasil da YES – Youth Employement Summit, uma aliança global em prol do emprego para jovens. A afirmação é realista, mas não se trata da aceitação passiva de uma situação dada. Marcelo formou-se em administração de empresas e é prova de que, mesmo nas carreiras consideradas mais integradas ao mercado formal e tradicional, há quem aposte na invenção de novas formas de trabalho – para si e para os outros. Nisso encontram identidade, prazer, significado, conhecimento. Ah, e uma forma de ganhar dinheiro.

PROJETO COLETIVO ÊXITOS D’RUA ÁREA DE ATUAÇÃO REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE PROPOSTA Promover junto aos jovens de comunidades em situação de exclusão a criação e apropriação dos meios de informação, produção e veiculação de idéias e práticas coletivas, transformando o pensamento e o comportamento dessas comunidades por meio de relações solidárias APOIO REDE DA RESISTÊNCIA SOLIDÁRIA, ACADEMIA DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL, ZULU NATION BRASIL, ASSOCIAÇÃO METROPOLITANA DE HIP HOP DE PERNAMBUCO, PROJETO REDES E JUVENTUDES CONTATO Rua Marquês de Amorim, 114, Boa Vista – 50070-330 – Recife (PE) – Tel.: 81/32219104 – e-mail: exitodrua@ig.com.br

PROJETO CONEXÃO PARA O FOMENTO DE EMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS -COOPECSOL ÁREA DE ATUAÇÃO CAJAZEIR AS, ENGENHO VELHO DA FEDERAÇÃO, MATA ESCURA, NORDESTE DE AMARALINA, SÃO MARCOS, SUSSUARANA, FAZENDA COUTOS E TANCREDO NEVES, REGIÃO DA GRANDE SALVADOR, BAHIA PROPOSTA Disseminar os princípios da economia solidária, promover geração de ocupação e renda e dar suporte aos empreendimentos e iniciativas comunitárias por meio da disponibilização de microcrédito, capacitação nas áreas de economia solidária, cooperativismo e associativismo NÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS 15 jovens gestores e 300 jovens nas comunidades APOIO INSTITUTO CREDICARD, LICEU DE ARTES E OFÍCIOS DA BAHIA, FCCV FÓRUM COMUNITÁRIO DE COMBATE A VIOLÊNCIA CONTATO Tel.: 71/3321-9159, ramal 208 – e-mail: conexaosolidaria@liceu.org.br

PROJETO YOUTH EMPLOYMENT SUMMIT - YES ÁREA DE ATUAÇÃO 60 países PROPOSTA A YES é uma Aliança Global para promoção do emprego/trabalho e da qualidade de vida de jovens, a partir de ações conjuntas multisetoriais. A “YES Brasil” é a plataforma formada pelas organizações brasileiras que aderiram a esta aliança global CONTATO marcelo@yesbrasil.info

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ciência

TODO O TEMPO DO MUNDO COM A VIDA INTEIRA PELA FRENTE, OS JOVENS PARECEM ESTAR SEMPRE AFOBADOS. MAS ESTUDOS MOSTRAM QUE ELES TÊM MESMO UMA PERCEPÇÃO TEMPORAL MAIS ACELERADA, AFETADA PELO TANTO QUE SE TRABALHA HOJE EM DIA

por_Karina Yamamoto ilustração_Rodolfo Herrera

A pressa se explica. Para eles, o tempo parece mais curto mesmo. Não que seus relógios contem os minutos ou as horas de maneira peculiar – os ponteiros, afinal, avançam com a mesma velocidade para todos nós. A diferença está no que os psicólogos chamam de tempo vivencial, esse sim, mais particular, medido de acordo com o nosso estado mental e emocional. No caso dos jovens, o fato de estarem numa fase em que quase tudo ainda está para ser realizado pode gerar alguma confusão. “Para eles, as percepções do tempo podem ser radicalmente opostas”, diz a psicóloga Carmen Bueno Neme, professora da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), em Bauru. “Por ansiedade, podem sentir que as horas voam e querem viver tudo já, e como eles não conseguem fazer isso na velocidade que desejariam, o tempo também poderá parecer eterno.” Mas, além dessa característica, dois estudos científicos sugerem que, de fato, jovens e adultos têm percepções diferentes da passagem do tempo, e também que a sensação de maior velocidade temporal tem a ver com a quantidade de trabalho. O primeiro estudo, conduzido pelo psicólogo norte-americano Peter Mangan, indica que as pessoas mais novas teriam a impressão de que o tempo está

mesmo escapando por entre os dedos, enquanto as mais velhas demorariam mais a perceber sua passagem. Os pesquisadores pediram aos voluntários que registrassem quando um minuto tivesse se passado. As respostas foram diversas de acordo com a faixa etária – o grupo dos idosos apontou o fim do tempo após 74 segundos. Os adolescentes, após 55 segundos. E essa diferença não tem relação direta com o funcionamento do nosso organismo. “Percepção do tempo é um fenômeno subjetivo”, explica o biólogo Luiz Menna-Barreto, coordenador do Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos, da Universidade de São Paulo (USP). “Os ritmos biológicos se expressam por meio de oscilações, como o ciclo vigília e sono, que se altera bastante ao longo da vida. No plano da percepção, porém, não é possível identificar o mesmo tipo de modificação.”


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O TEMPO PARECE MAIS RÁPIDO PORQUE A PRODUTIVIDADE DO TRABALHO AUMENTOU: PRODUZ-SE MAIS EM PERÍODOS MENORES

Mangan inspirou um outro grupo – dessa vez de matemáticos – a investigar se a divergência de opinião entre jovens e idosos se devia às mudanças de estilo de vida. James Tien e James Burnes, ambos do Instituto Politécnico Rensselaer, em Nova York, analisaram informações dos escritórios de patentes nos Estados Unidos, para quantificar o volume de trabalho em diferentes épocas, e observaram que, em 1997, um rapaz de 22 anos teria a impressão de que o ano acabou mais rapidamente que um jovem da mesma idade, um século antes, em 1897. Para eles, isso se deveria ao aumento da produtividade, uma vez que a percepção da passagem das horas também se dá por meio da realização de um número previsto de tarefas. O voluntário observado em 1997 trabalhou, no mesmo período, um bocado a mais que seu colega do século passado. “A produtividade poderia ser um parâmetro para comparar a percepção do tempo entre diversas gerações”, conclui James Burnes, em entrevista a Onda Jovem. Muito que fazer Medir o tempo utilizando a nossa produtividade mostra a importância – cada vez maior – que o trabalho tem assumido em nossas vidas. Houve uma época em que todos imaginavam mais lazer e diversão como conseqüência dos avanços da tecnologia. Ledo engano. E, no caso dos jovens, quando o mundo do trabalho ocupa boa parte de seus dias, o seu desenvolvimento acaba afetado. “Os adolescentes trabalhadores têm muitas perdas”, afirma a bióloga Liliane Teixeira, da Faculdade de Saúde Pública da USP. A dupla jornada prejudica a permanência na escola, pondo em risco as chances de um futuro mais bem-sucedido. Um dos efeitos mais danosos se dá sobre o sono, concluiu Liliane em um estudo realizado com 27 adolescentes da capital paulista. As conseqüências podem ser desastrosas. “No trabalho, podem ficar mais sujeitos aos acidentes e, nas aulas, cochilam não prestando atenção no conteúdo.” A melhor solução – ter uma rotina mais amena – costuma ser impossível. Uma estratégia, ensina Liliane Teixeira, é tirar cochilos por períodos inferiores a 30

minutos. “Muitos adolescentes fazem isso durante o transporte do trabalho para a escola, o que é benéfico, pois diminui o cansaço”, diz. Ela ainda faz algumas recomendações para melhorar a qualidade do sono, como deitar e acordar sempre nos mesmos horários, deixar o quarto com temperatura agradável, ambiente silencioso e pouca ou nenhuma iluminação, além de evitar o consumo de bebidas alcoólicas à noite. Outro problema – grave, na opinião dos especialistas – enfrentado por jovens que estudam e trabalham é a falta de tempo para o lazer. Afinal, para uma vida saudável, descansar, relaxar e divertir-se também é fundamental. O ideal, indicam, seria que eles pudessem se dedicar à prática regular de algum esporte. Segundo estatísticas da Organização Mundial de Saúde (OMS), menos de um terço dos jovens com idades entre 14 e 18 anos pratica esportes com freqüência. “Atividades esportivas são importantes agentes no desenvolvimento da sociabilidade”, diz Liliane Teixeira. “Nesses momentos se aprendem valores como solidariedade, trabalho em equipe, senso de responsabilidade e disciplina.” Mas, quando? Aprender a administrar o tempo é fundamental e para os papas do assunto há dois dogmas: definir prioridades e saber dizer não a certos compromissos, dos quais não daremos conta ou que simplesmente não nos interessam. “É preciso separar o joio


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do trigo o tempo todo – e saber que, em alguns casos, somente vamos conseguir fazer uma coisa por vez”, explica o neurocientista Ivan Izquierdo, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre. Essas funções cognitivas estão sob responsabilidade do córtex pré-frontal, região do cérebro que fica logo atrás da testa e ainda em desenvolvimento no jovem. Estudioso dos mecanismos cerebrais da memória, Izquierdo escreveu o livro “Tempo de Viver” (Editora Unisinos), sobre como otimizar as horas do dia. Nele, o autor chama a aten-

ção para que não nos deixemos envolver pelo bombardeio de informações e exigências da sociedade atual, que chamou de anestésica. “Antigamente havia um ditado que dizia que saber não ocupa espaço, mas hoje sabemos que nossa mente pode ficar saturada de informações e não vamos conseguir absorver mais nada”, diz Izquierdo. “É preciso tempo para aprender e tempo para lembrar”, escreveu em seu livro. O estudante de Medicina Rafael Aydar Nogueira, de 22 anos, aprendeu isso na marra. Quando se mudou para São Paulo para fazer a faculdade, ele demorou a se adaptar à nova vida. “No começo, chegava atrasado às aulas e vivia com sono”, conta o rapaz, que tem aulas de segunda a sexta, das 8h às 18h. Hoje, seus horários estão mais regularizados, mas, nos fins de semana, tira o atraso. “Se não tenho compromisso, acordo às duas da tarde.”

Segundo Izquierdo, precisamos manter a atenção no que interessa, ou seja, na família e nos amigos. “Senão, o que estamos fazendo aqui?”, questiona. Sua estratégia é aproveitar cada brecha na rotina, explorar ao máximo esses momentos, dedicando-os a pessoas queridas. Ou, como ele prefere dizer, à prática do amor. Assim, quem sabe, vamos fazer ouvir a “Oração ao Tempo”, de Caetano Veloso. “Tempo, tempo, tempo, tempo/ Peço-te o prazer legítimo/ E o movimento preciso/ Tempo, tempo, tempo, tempo/ Quando o tempo for propício.”


.gov/.com

por_Marco Roza foto_Henk Nieman

OS OBSTÁCULOS NO CAMINHO DA JUVENTUDE PARA O TRABALHO SÓ PODEM SER SUPERADOS COM A PARTICIPAÇÃO DE TODOS OS SEGMENTOS SOCIAIS ENVOLVIDOS

ESFORÇO Os 4 milhões de jovens que buscam um emprego decente para se tornarem adultos em condições de cuidar do próprio futuro, e com suas vozes reforçar o tecido democrático brasileiro, ainda precisam ultrapassar grandes obstáculos, segundo Márcio Pochmann, professor do Instituto de Economia da Unicamp. “A falta de um plano de metas que envolva governo, sociedade civil e empresários para tratar os jovens como uma solução para nosso futuro, em vez de continuarem a ser percebidos como catástrofe social, é uma ameaça à nossa democracia, que não tem sequer 50 anos de continuidade”, diz o professor, ex-secretário de Trabalho da prefeitura de São Paulo, de 2001 a 2004. De fato, não tiveram o resultado desejável iniciativas mais amplas como o Primeiro Emprego, programa governamental cuja principal linha de ação foi desativada em maio, depois de subsidiar a colocação de apenas 5.311 jovens, nos últimos dois anos. Mas há experiências e propostas, tanto no âmbito privado e do terceiro setor quanto na esfera governamental que, vistas em conjunto, podem apontar estratégias para se enfrentar a situação. Um exemplo é o Programa Educação para o Trabalho (PET), do Serviço Nacional de Comércio

(Senac) de São Paulo, que já começa a ser adotado como política pública. No âmbito federal, o esvaziamento do Primeiro Emprego colocou em evidência o Consórcio Social da Juventude (CSJ), que objetiva, segundo Ricardo Cifuentes, diretor da Coordenação de Políticas de Trabalho e Emprego para a Juventude do Ministério do Trabalho, levar as empresas a contratar jovens para cumprir a cota de aprendizagem, com duração máxima de dois anos. O Ministério do Trabalho e Emprego anuncia a inscrição de 50 mil jovens, ainda em 2005, no CSJ, com ajuda de custo mensal de R$ 150,00. A ele se junta o recém-lançado Pró-Jovem, programa coordenado pela nova Secretaria Nacional de Juventude, que investe em escolarização e qualificação profissional de jovens moradores nas áreas metropolitanas.


GERAL 65 Fora da escola Todas as iniciativas, porém, se deparam com um quadro complexo. A baixa escolaridade é um dos fatores que mantém mais de 3 milhões de jovens perambulando pelas ruas ou sentados diante da televisão. No Brasil, diz Márcio Pochmann, 34% dos jovens de 15 a 17 anos estão matriculados no ensino médio, para 85% no Chile, na mesma faixa etária. “Os jovens de 15 a 24 anos são mais de 34 milhões e metade não estuda. Dos 17 milhões que estudam, um terço, ou 5,6 milhões, está fora da série devida”, afirma. Adolescentes fora da escola e do mercado, sem dinheiro, se vêem, no entanto, pressionados a buscar a própria identidade por meio dos inacessíveis bens de consumo. “Esse nãoser parece que só pode ser resolvido pelo consumo”, diz Heloísa Martins,


professora da pós-graduação do Programa de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. “Eles percebem que aqueles que se envolvem com atividades ilícitas conseguem mais e se perguntam para que ser ‘o otário’, quando podem ganhar três vezes mais do que num trabalho precário”, diz. A professora tem em mãos entrevistas com jovens presos, com idades entre 21 e 31 anos, que trocaram o trabalho pelo tráfico: “Era sempre bico, nunca era emprego definitivo. Não rendia nada”. Esses jovens

criticam também a disciplina no trabalho e na escola. “Mas, em compensação, aceitam como natural a hierarquia no tráfico de drogas”, observa a professora. Por que se submetem a isso e não se submetem à disciplina da escola? Porque o tráfico dá dinheiro, poder e prestígio. Também mata ou leva à prisão. Ao mesmo tempo, afirma Heloísa Martins, existe uma parcela grande de jovens que recorrentemente busca emprego, procura a especialização no trabalho para se manter ou para arrumar uma ocupação que lhe dê segurança. “O grande problema é a não continuidade das iniciativas governamentais”, diz a professora. Até porque as políticas públicas, diz, não mexem na questão central. “As desigualdades social e econômica continuam.”

Aprendendo a aprender Na disputa permanente para arrancar os jovens do desemprego e evitar que fiquem expostos a toda sorte de riscos está a experiência do Programa Educação para o Trabalho (PET), do Senac de São Paulo. “Atraímos o jovem para nossa influência e o ensinamos a aprender a aprender”, diz Denise Soares, supervisora do PET, que atendeu, em 2004, 2.340 jovens com idades entre 15 e 21 anos, a um custo total anual de R$ 1.200.000. Ou R$ 512,82 por aluno. Os jovens chegam ao PET dispostos a brigar por seus pontos de vista. “A partir de exercícios práticos vivenciais, sempre considerando a realidade do jovem, discutimos timidez, auto-estima e autoconhecimento para se posicionar no espaço e no mundo”, diz Regina. As referências que os participantes trazem para o PET incluem a percepção de negócios que eles têm das atividades ilícitas. “Discutem-se, por iniciativa deles, as oportunidades de negócios geradas pelas drogas, que é uma vivência muito próxima. Procuramos conversar e questionar, para que eles identifiquem, principalmente, as conseqüências de suas atitudes”, diz a supervisora. O debate franco ajuda os jovens a acreditarem nas propostas do PET. “Não oferecemos emprego, mas uma oportunidade de crescimento pessoal. É preciso que eles percebam que a carteira profissional e a aposentadoria existem cada vez menos e que estejam preparados para uma vida empreendedora”, afirma Denise. O programa já atraiu a atenção do poder público. Na cidade de Limeira, no interior de São Paulo, a prefeitura vem, desde 2002, aumentando seus subsídios ao PET desenvolvido pela unidade local do Senac, permitindo a ampliação do número de turmas.

A JUVENTUDE PRECISA SER VISTA COMO SOLUÇÃO PARA O NOSSO FUTURO E NÃO COMO CATÁSTROFE SOCIAL


Primeiros passos Em outra frente, criando uma ponte sobre o abismo que se forma entre o jovem estudante e o mercado de trabalho, está o Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), que em 41 anos já ofereceu estágios a 5,5 milhões de jovens, com uma taxa de contratação de 65%. Luiz Gonzaga Bertelli, presidente do CIEE, diz que a entidade é bem-sucedida porque divide com o empresariado a adaptação do jovem ao mercado. “Os secundaristas e universitários que passam pelo CIEE recebem treinamento para desenvolver a atitude adequada aos ambientes que encontrarão dentro das empresas: redigir corretamente, melhorar a linguagem e se vestir de maneira apropriada”, afirma. Para Bertelli, algumas políticas públicas na área, como o Primeiro Emprego, não vingam porque o governo quer que as empresas contratem sob pressão. Os empregadores que tivessem a intenção de contratar jovens vinculados aos programas do governo deveriam “apresentar as certidões negativas do INSS, FGTS e da Receita Federal, bem como um protocolo de intenções comprometendo-se com uma meta ou apoio a projetos no âmbito do Programa Primeiro Emprego”, conforme registra o site do Ministério do Trabalho. Márcio Pochmann, professor da Unicamp, afirma que a burocracia se impõe por se tratar de uma transferência de recursos públicos para o setor privado. “As empresas são reticentes em contar com benefícios desse tipo por causa da fiscalização do Tribunal de Contas”, diz.

Novos tempos Por fim, a realidade contemporânea também precisa ser levada em conta. As pressões que os jovens enfrentam começam dentro de casa, como constata a historiadora Maristela Moura, especializada em orientação profissional para adolescentes de classe

Para o jovem fora da escola e do mercado de trabalho, a construção da identidade passa pelo consumo de bens que, no entanto, são inacessíveis

média alta. “As famílias ainda insistem que os filhos usem o diploma para obter um emprego para sempre numa empresa de primeira linha”, afirma. A realidade dura do desemprego bate de frente com os recém-formados, focados em funções que, apesar de registradas no diploma, quase já não existem mais no mercado. “Os pais percebem que tudo o que foi construído para seus filhos estilhaçou”, diz a especialista. Restaria aos jovens cuidar da própria vida. Mas até aí especialistas como Fernando Dolabela, consultor e escritor na área de empreendedorismo, dizem que a educação atual não prepara a juventude para estabelecer relações com o mercado e gerar seu próprio trabalho. “A saída é que todos – jovens, pais, escolas, empresas, entidades e governo – usem a criatividade, para estabelecer novas relações com o mundo e aprender a gerar trabalho para a juventude”, diz.

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DANIELA PICORAL

chat de revista

ENTRE O FEIJÃO E QUATRO JOVENS DISCUTEM COMO CONCILIAR SUBSISTÊNCIA E SATISFAÇÃO PESSOAL O trabalho está associado a nossos sonhos, competências, valores. Tem também a função de prover nossas necessidades materiais. Quem entra no mundo do trabalho não escapa ao desafio de conciliar subsistência – o feijão – e satisfação pessoal – o sonho. E interferem nesse jogo as pressões e influências externas, como as da família e da sociedade. Foram essas questões que dominaram a conversa sobre o trabalho na sala de bate-papo de Onda Jovem, nesta edição. Os convidados: o físico paulistano Alberto Garcez de Oliveira Krone Martins, 22 anos, que faz mestrado em Astrofísica no Instituto de Astronomia e Geofísica da Universidade de São Paulo (USP), estudando “partículas que não deveriam existir, mas que existem”; Gabriela Werner, 23 anos, de Florianópolis (SC), formada em Direito e militante de duas organizações jovens, a Comunidade Empreendedores de Sonhos e a Aiesec; Vitor Santana, mineiro de Belo Horizonte, compositor, cantor e violonista, 23 anos, que acaba de lançar seu primeiro disco (Abra-Palavra) e é fundador e diretor da ONG juvenil Contato – Centro de Referência da Juventude; e a bailarina, estudante de Ciências Sociais e de Pedagogia ligada à dança, Janaína Martins Nocchi, 23 anos, gaúcha de Porto Alegre. Onda Jovem propôs as perguntas iniciais e depois os participantes fizeram as suas. A seguir, os principais trechos deste “chat de revista”:


ALBERTO GARCEZ DE OLIVEIRA KRONE MARTINS, 22 Físico, faz mestrado em Astrofísica na Universidade de São Paulo

VITOR SANTANA, 23 Compositor, cantor e violonista de Belo Horizonte, está lançando seu primeiro CD

MARINA ABELHA

JANAÍNA MARTINS NOCCHI, 23 Bailarina, estuda Ciências Sociais e Pedagogia aplicada à dança em Porto Alegre

GABRIELA WERNER, 23 É formada em Direito e atua em organizações jovens de Florianópolis

FRANCISCO VALDEAN

ERIC SANTOS

JOÃO PAULO PONTES

O SONHO 69


Onda Jovem: Como você conceituaria o trabalho segundo o momento em que está vivendo?

JANAÍNA

JANAÍNA: Visualizo trabalho em todas ações e projetos em que me envolvo, todos ligados ao meu desejo de me tornar uma educadorabailarina-antropóloga. Sou apaixonadíssima por essa tríade e, por isso, considero o trabalho um semblante de minha essência. Ele reflete minhas habilidades e afinidades intelectuais, emocionais, espirituais. O trabalho representa minha relação comigo mesma e com a sociedade.

ALBERTO: Não acredito que o trabalho deva ter uma finalidade predefinida. Ele não é nem mesmo mais importante; quem trabalha é que é importante. No momento, meu trabalho é o mestrado em Astrofísica. Não o faço apenas para mim. Claro que existe um toque pessoal, mas tenho a consciência de que devo acrescentar sempre a meus estudos alguma razão relevante, seja para o país em que vivo, seja para a humanidade. GABRIELA: Trabalho é uma maneira de pôr em prática a minha vocação. Atuo em organizações jovens que visam ao desenvolvimento de líderes e à geração de trabalho e renda. Sintome realizada. VITOR: O conceito de trabalho para mim está relacionado à realização pessoal, artística e política. É um investimento para atingir metas futuras, que é o que sustenta as ações que desenvolvo, todas baseadas no sonho de me afirmar no mundo como artista e cidadão. Por isso não me submeto totalmente à lógica do trabalho que visa somente a manutenção material, pois também penso no desenvolvimento social, cultural e espiritual da humanidade.

“Trabalho é uma maneira de pôr em prática a minha vocação” GABRIELA WERNER

GABRIELA: Minha maior satisfação é contribuir para o desenvolvimento de outras pessoas, tendo em mente que, dessa forma, estou colaborando para um mundo mais humano, empreendedor, sustentável e cheio de oportunidades! Um desconforto que aparece com freqüência surge por causa do pouco retorno financeiro. Mas a evolução do terceiro setor aponta para a possibilidade de eu construir uma carreira ao mesmo tempo viável economicamente e cheia de significado. A realidade do mundo do trabalho provoca conflitos ou questionamentos?

Você se sente recompensado pela sua atividade? ALBERTO: Posso dizer que me sinto intelectualmente recompensado, uma vez que sempre existe algum desafio a ser atacado. Um ponto muito favorável da atividade que desempenho é a possibilidade de convívio com algumas mentes brilhantes. Do ponto de vista financeiro, a figura geral é outra. O valor da bolsa de mestrado é baixo. Tenho sorte de ter pais que moram na mesma cidade onde estudo, o que me permite economizar com moradia e ao mesmo tempo ter um bom suporte emocional e familiar, que é o mais importante.

GABRIELA

ALBERTO

VITOR: Meu trabalho se realiza na medida em que minha música estabelece correspondências com quem a ouve e se identifica com ela. Essa recompensa é a principal. No entanto, a maior dificuldade da música independente no Brasil é conseguir ser tocada em todo território nacional. Por outro lado, minha atividade no terceiro setor está vinculada ao trabalho coletivo. E ver o desenvolvimento dos jovens com a inclusão digital, geração de renda com seu próprio trabalho e sua participação em projetos culturais é uma recompensa fenomenal. JANAÍNA: Eu me delicio com a maioria de minhas atividades, mas nenhuma delas traz ainda o retorno financeiro desejável. Essa parte da caminhada é frustrante e me deixa inquieta.

ALBERTO: No curto prazo, até o fim do doutorado e pós-doutorado, acredito que o caminho é bem definido. Já o que pode ocorrer depois é altamente nebuloso, pois nosso país não absorve os profissionais que forma. Se não bastasse o nosso governo ser míope para essa questão, a indústria também o é. JANAÍNA: Quanto mais me aproximo de meus sonhos e aptidões, as inquietações não diminuem, mas ficam mais claras. Acho que os conflitos estarão sempre presentes dentro e fora de mim, e isso é bom, pois eles contribuem para meu aprendizado e crescimento.


“Os conflitos se dão quando as contas não fecham no fim do mês” VITOR SANTANA GABRIELA: O que mais me incomoda são os momentos em que pessoas e instituições aparentemente confiáveis demonstram interesses em desacordo com os valores que prezo e pelos quais trabalho. Nesses casos, fico menos esperançosa em relação ao futuro do país. VITOR: Os conflitos do trabalho se dão quando as contas não fecham no fim do mês, e quando a família cobra um retorno mais rápido das atividades que realizo. É sempre aquela questão: “...você trabalha tanto, mas e o dinheiro?”. Acho isso normal e saudável, pois me estimula também. Mas penso num conflito mais geral: como vocês acham que será o futuro do mundo do trabalho com o poderoso avanço da tecnologia, sobretudo para o jovem que, cada vez mais cedo, é empurrado para ele sem receber o devido preparo?

JANAÍNA: Acho que um possível começo talvez seja desvincular a idéia de trabalho da idéia de emprego, procurando formas alternativas de trabalhar nossa contribuição pessoal para o mundo.

VITOR

ALBERTO: O principal problema de nossa sociedade é não ter um único problema, mas muitos. Aqueles que conseguem ter o trabalho de seus sonhos não devem se acomodar e esquecer dos que não conseguem. É preciso trabalhar pela inclusão. VITOR: E exercer nossa cidadania, votando conscientemente nas eleições, cobrando resultado dos governantes, nos associando nas questões de interesse público, desenvolvendo mais trabalhos comunitários. Isso pode não acabar com o desemprego, que é uma questão mundial e não só brasileira, mas humaniza as relações sociais.

GABRIELA: Não me conformo com a idéia de dedicar pelo menos uma terça parte da minha vida (considerando 8 horas de trabalho diário) simplesmente para ganhar dinheiro e me sustentar. O trabalho deve, sim, adicionar algo a nós mesmos e à humanidade. Mas vocês acham que é possível implementar essa contribuição pessoal num país com tamanha taxa de desemprego?

PARA SABER MAIS

SOBRE PARA SABER MAIS

VITOR: Certamente, todo trabalho adiciona algo à humanidade. Mas aquele que consegue reunir no trabalho essa contribuição, a vocação pessoal e a sua subsistência, está mais perto da felicidade do que outros.

SOBRE

ALBERTO: Para mim, as máquinas deveriam sempre ser utilizadas para melhorar a vida humana e não para nos impor mais dificuldades. Soluções para isso ainda são um tipo de “terra prometida”. Mas é bom lembrar que o futuro depende apenas de nós e de nossas escolhas, que serão refletidas no mercado de trabalho. Por isso, minha questão é: vocês acreditam que deve haver um significado mais profundo no que se faz?

PARA SABER MAIS

GABRIELA: Acho que podemos encarar esse movimento como ameaça ou como uma grande oportunidade: de aprender mais e inovar. Prefiro a segunda opção, desde que preservada a consciência quanto à necessidade de democratização das tecnologias e universalização do acesso ao trabalho.

SOBRE

JANAÍNA: Eu espero que nunca encontrem tecnologia que substitua ou aniquile o pensar e fazer arte!!! (risos) COMUNIDADE EMPREENDEDORES DE SONHOS REGIÃO DE ATUAÇÃO NACIONAL PROPOSTA Fomentar o desenvolvimento econômico, gerando trabalho e renda, com base no empreendedorismo e na articulação dos setores da sociedade NÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS CERCA DE 500 APOIO SEBRAE, ASHOKA, AVINA, FAS (PR), FUNDAÇÃO CERTI (SC) e PETROBRAS (ES) CONTATO Av. Antônio Sales, 1317, sls. 1201 a 1203 – 60135-100 – Fortaleza-CE – Tel.: 85/ 3246 2140 – Fax: 85/3246 6669 – e-mail: contatos@empreendedoresdesonhos.org.br; website www.empreendedoresdesonhos.org.br; e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Campus Trindade, Fundação CERTI, 4. andar – Caixa Postal 5053 – 88040-970 – Florianópolis (SC) – e-mail gabriela@empreendedoresdesonhos.org.br

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AIESEC REGIÃO DE ATUAÇÃO INTERNACIONAL (90 PAÍSES) PROPOSTA Ser uma plataforma internacional para que os jovens descubram e desenvolvam seu potencial, promovendo conferências, intercâmbios e oportunidade de vivência e trabalho no exterior. NÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS CERCA DE 20 MIL (450 NO BRASIL) APOIO (NO BRASIL) PHILIPS DO BRASIL, KPMG, YÁZIGI INTERNEXUS, ETEG, OGILVY, TMI, ESPM/RS, FACULDADES ALFA, ALÉM DOS PARCEIROS LOCAIS CONTATO Rua Dona Brígida 327 – Vila Mariana – 04111-080 – São Paulo (SP) – Tel/Fax 11/5549-4880 – e-mail: aiesec.brasil@aiesec.org.br – website www.aiesec.org.br

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IMAGENS DO POVO

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Um levantamento da Organização Internacional do Trabalho (OIT) registra queda de 54% nos casos de trabalho infantil doméstico no Brasil, entre 1992 e 2003. O estudo tem origem em dados do IBGE, que aponta queda das várias formas de uso da mão-deobra infantil no período: 2,7 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 15 anos trabalhando dentro ou fora de casa, em 2003, contra 5,1 milhões, em 1995. “É uma queda considerável e reflete o esforço de combate a essa prática por parte dos órgãos governamentais, fundações e empresas”, diz Edmilson Selarin Júnior, coordenador em São Paulo do Projeto Catavento, da OIT, que é executado pela Fundação Orsa e tem o apoio do Fórum Paulista de Prevenção e

NOVE DESAFIOS DA JUVENTUDE

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Baseada nos números sobre jovens, estampados pelo último Censo Demográfico, a recém-criada Secretaria Nacional da Juventude, ligada à Secretaria-Geral da Presidência da República, e chefiada pela antropóloga Regina Novaes, elegeu nove desafios que orientam as prioridades da pauta de políticas públicas para a juventude. São eles: 1) Ampliar o acesso e a permanência dos jovens na escola de qualidade (51%, dos jovens estão fora da escola). 2) Erradicar o analfabetismo entre os jovens (3,6% dos jovens são analfabetos, 70% na região Nordeste). 3) Preparar para o mundo do trabalho (14,3 milhões, ou 63%, dos jovens não concluíram o ensino médio). 4) Gerar trabalho e renda (a taxa de desemprego entre os jovens, de 17%, é o dobro da nacional, 9%). 5) Promover a vida saudável (em 2001, cerca de 32 mil jovens morreram de causas externas – homicídios, trânsito, suicídios – e consumo de drogas). 6) Democratizar o acesso a esportes, lazer, cultura e tecnologia de informação (em 2001, cerca de 21% dos municípios brasileiros não tinham biblioteca pública, 92% não tinham cinema e 24% não tinham um ginásio poliesportivo).

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O TRABALHO INFANTIL RECUA

Erradicação do Trabalho Infantil. Segundo Edmilson, a queda no trabalho infantil doméstico é muito significativa, porque ele é um dos mais difíceis de ser mensurado, fiscalizado e resolvido. “Primeiro, porque você tem de entrar na casa de uma pessoa e, depois, qualificar esse trabalho, que é encarado com freqüência como ajuda ao trabalhador infantil e sua família”, diz. Para o coordenador, outro grande desafio é diminuir o trabalho infantil urbano. “Há 10, 15 anos, houve uma mobilização para combater o uso da mão-de-obra infantil nas empresas, e essas crianças e adolescentes migraram para trabalhos na rua, sendo muito mais difícil identificar a ponta da cadeia produtiva em que estão envolvidos. Hoje, estão vendendo balas num farol, amanhã em outro, passando rodinho nos vidros de carro. Não temos estatísticas sobre isso, mas uma percepção de que essa forma de trabalho infantil vem aumentando.”

7) Promover os direitos humanos e as políticas afirmativas (cerca de 30% da população carcerária tem entre 18 e 24 anos e 71% das instituições socioeducativas são consideradas inadequadas segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente). 8) Estimular a cidadania e a participação social (85% dos jovens não participam de atividades associativas e/ou comunitárias, segundo dados do Instituto da Cidadania e Sebrae). 9) Melhorar a qualidade de vida dos jovens no meio rural e nas comunidades tradicionais (a taxa de analfabetismo do jovem na área rural, 10%, é três vezes maior que na área urbana, 3%, e o rendimento médio do trabalho, R$ 94,00, é bem menor que na área urbana, R$ 270,00).


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O TRABALHO VOLUNTÁRIO JUVENIL AVANÇA

Uma dimensão importante da participação social, o trabalho voluntário vem crescendo sensivelmente entre os jovens brasileiros. Muitas das organizações juvenis – como a Interagir, de Brasília – se baseiam neste tipo de atuação. E nas instituições voltadas ao voluntariado em geral, a parcela juvenil também é expressiva. É o que acontece na ONG Parceiros Voluntários, de Porto Alegre, que conta com 100 mil participantes, e mantém o programa Tribos nas Trilhas da Cidadania, que em 2004 mobilizou 30 mil estudantes de 160 escolas para ações sociais em 46 cidades gaúchas. “Eles se reuniram em 111 grupos, ou tribos, para desenvolver atividades nas áreas da cultura, meio ambiente e educação para a paz, que são as trilhas da cidadania”, diz a coordenadora do projeto, Claudia Remião Franciosi. Cada grupo tem um nome, escolhe sua trilha e desenvolve

um projeto pelo período de um ano. Claudia destaca o exemplo de um grupo que resolveu atuar na área do meio ambiente e limpar sua cidade: “Eles reuniram todo o lixo da comunidade na praça local para provocar os moradores. Discutiram com eles o problema e, no fim, construíram esculturas com parte do material, mostrando que ele pode ser reutilizado”. E muitas dessas ações têm tido continuidade. “Observamos que 20 das escolas vêm participando do projeto na mesma trilha há três anos e é essa permanência que garante a possibilidade real de transformação de uma realidade.”

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4 MAIS TALENTOS Neste segundo número, Onda Jovem amplia seu time de jovens colaboradores. Além de continuar contando com o trabalho de talentos que participaram da estréia, como Levi Silva, 15 anos, estudante de fotografia do projeto Olho Mágico (www.fotosite.com.br/olho_magico), e como Anderson Oliveira, 22 anos, da Agência Imagens do Povo, do Observatório de Favelas do Rio de Janeiro (imagensdopovo@observatoriodefavelas.org.br), esta edição traz, entre outras, as colaborações inéditas do ilustrador Rodolfo Herrera e do fotógrafo Bruno Garcia. Rodolfo, 22 anos, é estudante de designer gráfico e autor da ilustração da matéria Todo o Tempo do Mundo (pág. 60). Bruno, 27 anos, está concluindo a faculdade de Matemática e é ex-aluno e atual professor de Lógica no CPA Padre Bello, que ele fotografou para a matéria Missão Revigorada (pág. 22). Autodidata, Bruno quer ir mais longe como fotógrafo e planeja usar a publicação de suas fotos em Onda Jovem para obter o registro profissional.


Fato Positivo

DIVULGAÇÃO/CDI

PARTICIPAÇÃO

ON LINE A inclusão digital no Brasil está crescendo. Em 2001, havia 17,6 milhões de usuários de computador, segundo dados do Ibope. No fim do ano passado, eram 31,9 milhões. No mesmo período, a porcentagem de domicílios com acesso à internet aumentou de 8,6% para 13%, informa o IBGE. São tendências positivas, embora ainda falte muito a avançar. O problema é que o crescimento é desigual. Em 2003, 11,4% dos domicílios tinham

computador com acesso à internet, mas apenas 5,1% entre aqueles com renda de até dez salários mínimos. Como a informática é uma ferramenta imprescindível ao trabalho, à comunicação e ao próprio modo de vida contemporâneos, o seu domínio resulta em uma inserção social mais ampla. Por isso as ações que visam a ampliar o acesso das camadas populares ao mundo digital são tão importantes. É o caso do Comitê para a Democratização da Informática (CDI), um projeto pioneiro na área, que em dez anos já criou 800 Escolas de Informática e Cidadania em 20 Estados, e cuja metodologia de ensino envolve a tomada de consciência da realidade social. “Nos-

so objetivo é formar cidadãos”, diz Rodrigo Baggio, fundador do Comitê. A idéia é que a inclusão digital leve à inclusão social. Ao aprender a fazer planilhas eletrônicas no programa Excel, por exemplo, os alunos entram em contato com dados sobre as desigualdades sociais. “Queremos que os jovens se tornem conscientes e possam se posicionar para uma transformação”, afirma Fábio de Oliveira, diretor de operações do CDI, que em 2004 atendeu 120 mil alunos.


O ACESSO AOS COMPUTADORES ESTÁ CRESCENDO NO BRASIL, EMBORA DE FORMA DESIGUAL LABORATÓRIO SOCIAL

SOBRE

PARA SABER MAIS

SOBRE

A falta de infra-estrutura adequada é um grande obstáculo para a inclusão digital dos jovens de baixa renda. A meta brasileira de universalização do acesso à telefonia não se estende ao acesso à internet, e o cumprimento de uma meta não implica o da outra. Em regiões da periferia das grandes cidades e do interior do país, o telefone, quando chega, muitas vezes se restringe à transmissão de voz. Para a inclusão digital, é preciso viabilizar não apenas a transmissão de dados, mas uma conexão de alta velocidade (banda larga). A falta de tecnologia adequada encarece ou mesmo inviabiliza o acesso à informática. Um exemplo: na interligação de escolas do CDI em Recife, e no estabelecimento de um Espaço Jovem pela Rede Jovem, na periferia do Rio, foram usadas interligações via satélite e via rádio, respectivamente. As duas soluções são dez vezes mais caras que a interligação por telefonia fixa. “É preciso investir na capilarização da infra-estrutura de informática”, diz Renata Affonso, da Rede Jovem. Uma possível fonte de recursos é o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicação (Fust), formado por taxa de 1% sobre a receita bruta menos impostos das operadoras do setor, mas ele ainda não vem sendo utilizado.

PARA SABER MAIS

Também atenta à participação cidadã, a Rede Jovem, uma iniciativa da organização Comunitas, há cinco anos contribui para aumentar a experiência on-line do jovem que não tem computador. Já são 52 Espaços Jovens, centros que funcionam como cybercafés, ligados à rede. “A inclusão digital não se mede por domicílios”, diz Renata Affonso, coordenadora nacional do projeto. Nos Espaços Jovens, a maioria na periferia das grandes cidades de oito estados, os usuários fazem pesquisas, navegam na internet, participam de chats, trocam e-mails e se divertem com games. Quase 4 mil jovens foram beneficiados em 2004. “Mais do que inclusão digital, a proposta é de fortalecimento da participação juvenil. A tecnologia é chamariz, mas não é um fim em si”, diz Renata. Os cursos do CDI e os espaços da Rede Jovem só beneficiam, porém, comunidades dispostas a fazer a sua parte. O CDI, por exemplo, fornece computadores, capacitação de educador/coordenador, acompanhamento, mas a comunidade contribui com local e luz, entre outras coisas. “Sempre é preciso haver uma contrapartida”, diz Oliveira. A maioria dos cursos é paga. As mensalidades, em média de R$ 6, ajudam a cobrir os custos.

Avesso

ESPAÇOS JOVENS

Se o sucesso dessas e de outras iniciativas é pequeno frente ao oceano da exclusão digital e social brasileira, há um outro efeito delas que não deve ser desprezado: a de funcionar como um laboratório para influenciar as políticas públicas. “No meio da grande exclusão estão sendo criadas e testadas metodologias na área digital, que podem ser usadas na busca de uma solução mais abrangente, que envolva governo, iniciativa privada e terceiro setor”, diz Renata. Para Oliveira, os projetos nesta área contribuem para levar a questão ao conhecimento público, por meio da mídia, e mostram que é possível realizar a inclusão digital a um custo relativamente baixo. “Nos últimos cinco anos, as coisas melhoraram muito. Hoje, todos sabem o que é inclusão digital e as empresas já falam em responsabilidade social,” afirma Renata.

COMITÊ PARA A DEMOCRATIZAÇÃO DA INFORMÁTICA - CDI REGIÃO DE ATUAÇÃO BRASIL E MAIS 10 PAÍSES NA AMÉRICA LATINA, ÁFRICA E ÁSIA PROPOSTA Promover a inclusão social de populações menos favorecidas, utilizando as tecnologias da informação e comunicação como um instrumento para a construção e o exercício da cidadania JOVENS ATENDIDOS Cerca de 120 mil em 2004 APOIO PHILIPS, FVRD, ACCENTURE, USAID, BID, FUNDAÇÃO W. K. KELLOGG, FUNDAÇÃO AVINA, BANCO MUNDIAL, INFODEV, MICROSOFT, FUNDAÇÃO TELEFÔNICA, FUNDAÇÃO EDS, UNIBANCO, ESSO E POLITEC CONTATO Tel.: 21/3235-9450 – www.cdi.org.br

REDE JOVEM PROJETO DA COMUNITAS – PARCERIAS PARA O DESENVOLVIMENTO SOLIDÁRIO REGIÃO DE ATUAÇÃO BRASIL PROPOSTA Expandir o acesso e uso da internet por jovens pobres como instrumento de aprendizagem e articulação JOVENS ATENDIDOS Aproximadamente 4 mil em 2004 APOIO MICROSOFT, SESC RIO CONTATO Tel.: 21/3874-5544 – www.redejovem.org.br

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Cartas

Onda Jovem vai ajudar a encaminhar nosso trabalho com jovens em nosso município e nas regiões do Munin e dos Lençóis Maranhenses. Discutimos temas como drogas, sexualidade na adolescência, gravidez precoce e tantos outros, que com certeza serão abordados por esse novo canal de comunicação e informação. Atuamos com jovens há mais de 17 anos, com encontros regionais e a Gincana Cultural Cem Modos, realizada há 14 anos. Em 2005, estamos tratando a temática dos Direitos Humanos. Raimundo Muniz Carvalho, Grupo Sociocultural e Ambiental Cem Modos, Santa Rita, MA

ONDA LEGAL Parabéns por Onda Jovem, uma belíssima iniciativa, projeto gráfico e editorial. Nós, do Projeto Legal (www.projetolegal.org.br), trabalhamos na defesa sociojurídica de adolescentes do sistema socioeducativo, na proteção de crianças e adolescentes ameaçados de morte no Estado do Rio de Janeiro e também no combate ao tráfico de seres humanos. Estamos à disposição para colaborar. Andréa Vazquez, jornalista da Organização de Direitos Humanos Projeto Legal, Rio de Janeiro, RJ

Sou educador e empreendedor social e dirijo a Associação Cidadão Atitude, focada no resgate e na inclusão social de jovens em conflito com a lei e em situação de risco social. Onda Jovem nos ajudará a entrar em contato com outras iniciativas importantes voltadas à criação de alternativas para a juventude. Vida longa à Onda Jovem. João Carlos, Bento Gonçalves, RS A Associação Brasileira Terra dos Homens atua com crianças, adolescentes e jovens por meio do investimento na família. Acreditamos ser este o espaço mais adequado para o desenvolvimento integral do ser humano. Gostaríamos de parabenizar o Instituto Votoratim pelo apoio ao projeto de comunicação Onda Jovem. É com grande satisfação que descobrimos seu conteúdo, lembrando a importância da família em momentos decisivos e em questões definitivas na vida e escolhas do cidadão do futuro. Investir no desenvolvimento do jovem e no suporte do relacionamento da família é uma grande decisão. Parabéns a todos! Valéria Nogueira, Associação Brasileira Terra dos Homens

Por intermédio de um jovem de nossa comunidade conhecemos a revista Onda Jovem, que achamos interessantíssima, uma vez que desenvolvemos vários projetos e atividades com jovens. Esperamos pelos próximos números! Roberto, Associação Rainha da Paz, São Paulo, SP Gostei de Onda Jovem. Pertenço à UJS (União da Juventude Socialista), que é uma organização que pretende aglutinar os jovens numa perspectiva de transformação social. Ronaldo Leite, Niterói, RJ Faço parte de um grupo – Turma da Onda – do qual participam os jovens do edifício onde moro e que realizam campanhas de arrecadação para doações. O grupo também trabalha alguns temas mensais, por isso o interesse na revista. Bom trabalho. Branca Nania, São Paulo, SP

VIROU NOTÍCIA Nós, do CEATS – Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor, da Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo, gostamos muito de Onda Jovem e vamos divulgar o trabalho no portal RISolidaria. Gisella Werneck Lorenzi, São Paulo, SP

FAÇA CONTATO Envie cartas ou e-mails para esta seção com nome completo, endereço e telefone. ONDA JOVEM se reserva o direito de resumir e editar os textos. Endereço: Rua Dr. Neto de Araújo, 320, conjunto 403, CEP 04111-001, São Paulo, SP. E-mail:

ondajovem@olharcidadao.com.br.

ATENÇÃO JOVEM Tenho 21 anos, e tive acesso à primeira edição da revista Onda Jovem por meio da Associação Imagem Comunitária, na qual trabalho como estagiária. Quero elogiar a qualidade dos textos, a beleza gráfica e o compromisso da revista em trazer uma visão coerente e ampla sobre a atual situação da juventude no Brasil. Áurea Carolina de Freitas, Belo Horizonte, MG

Certamente Onda Jovem nos será de grande utilidade e fará parte do nosso Centro de Documentação e Informação (CDI) para consultas. Rodrigo Almeida, CDI/GTPOS, São Paulo, SP Onda Jovem é muito interessante e útil para nós, do jornal Lance!, pois temos forte penetração junto ao jovem, trabalhando com valores positivos do esporte e da educação esportiva, com o apoio e o respeito dos pais e educadores. LANCE!, Rio de Janeiro, RJ


SOMAS POSITIVAS Recebi com satisfação o exemplar da revista Onda Jovem, que muito irá acrescentar nas discussões relacionadas à juventude. Parabenizo-os pelo trabalho desenvolvido, colocando esta Secretaria à disposição para possíveis parcerias em projetos que contribuam com a força jovem brasileira. Bons ventos! Lars Grael, Secretário de Estado da Juventude, Esporte e Lazer, São Paulo, SP O foco editorial da Onda Jovem vem ao encontro de nossos objetivos. O Campus Avançado é uma organização parceira da Coordenadoria da Juventude da Secretaria Municipal de Assistência Social de Niterói, com a qual desenvolve projetos com jovens em situação de risco social, voltados à arte e cultura, como o CineOlho, com exibição de filmes e vídeos e oficinas de vídeo. Davy Alexandrisky, secretário executivo, Campus Avançado, Niterói, RJ Onda Jovem despertou meu interesse como pesquisadora do grupo de pesquisa Infância, Juventude e Educação, coordenado pela Profª Drª Mírian Paura Grinspum, da UERJ. Temos já uma grande caminhada de pesquisa trabalhando sobre assuntos variados acerca do mundo jovem, dos valores, da formação da subjetividade, entre outros. Gilselene Guimarães, Rio de Janeiro, RJ Desejo cumprimentar o Instituto Votorantim pelo lançamento da revista Onda Jovem. Dar voz aos jovens é, desde logo, uma iniciativa de valor, sobretudo quando se trata de dar voz aos jovens que estão na periferia do sistema. O que a revista também traz de surpreendente é um retrato da variedade de organizações sociais que de maneira espontânea e voluntária vêm-se dedicando às questões da juventude. Evelyn Berg Ioschpe – Diretorapresidente da Fundação Ioschpe

BOA FERRAMENTA Onda Jovem será uma boa ferramenta de trabalho em nossos projetos, na ONG AFFAS-Ação Faça Uma Família Sorrir (affas@ig.com.br), com ações voltadas para crianças e adolescentes. Ricardo Antunes, Sabará, MG Onda Jovem é bem-vinda em nossos projetos no CENPEC – Equipe Educação & Comunidade. Temos projetos dedicados aos jovens, como o Programa Jovens Urbanos, Programa Aprendiz Comgás e Programa Gestores de Aprendizagem. Ivana Boal, Lucia Helena Nilson e Maria Brant de Carvalho, coordenadoras de projetos, São Paulo, SP Para nós, do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, a revista Onda Jovem é uma excelente ferramenta para capacitar profissionais que trabalham com jovens na redução de danos, subsidiando o trabalho em nossas unidades estaduais. Elisangela Menezes, Brasília, DF Somos do Lar das Crianças CIP, que realiza um programa para jovens, o Passaporte para a Vida. Gostaria de parabenizar a Votorantim pela revista, que acredito em muito contribuirá para os educadores que desenvolvem trabalhos com jovens. Eve Pekelman, São Paulo, SP Recebam os meus mais efusivos parabéns, não somente pela qualidade dos artigos mas, mais ainda, pela importância para o momento que nós vivenciamos. Houve um verdadeiro “frisson” entre os professores ao conhecerem a revista. Com certeza, Onda Jovem será disputada pelos educadores em geral. Edivelton Tadeu Mendes, E.E. Maria de Lourdes Vieira, São Paulo, SP Parabéns pelo trabalho editorial. Onda Jovem vai circular entre os jovens dos Círculos de Leitura. A entrevista com a rapper Negra Li, por exemplo, vai estimular o debate entre nossos jovens, sobretudo a parte em que ela diz que admira muito quem lê, porque não consegue e “muitos negros e pobres também não”. Patricia Mota Guedes, coordenadora do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, São Paulo, SP

Belíssimo trabalho do exemplar de março de 2005, que me chegou às mãos – Projeto de vida! Já estamos usando os textos nas atividades propostas. Tudo muito dinâmico. Alessandra Maletzki Ramasine, assistente de acompanhamento do Programa Rede Jovem Onda Jovem é primorosa. Um excelente projeto gráfico e bem escolhidas matérias. Integro uma equipe de 31 professores participantes de um projeto educacional de abrangência nacional, a maioria com titulação de doutor, todos interessados no jovem, na sua preparação profissional e, sobretudo, na identificação e estímulo aos mais talentosos. Parabéns ao Instituto Votorantim. Prof. Sérgio Melo, Fortaleza, CE

ENIGMAS JUVENIS A professora paulistana Carmen Capitão, que participa da reportagem A Didática do Sonho, na seção Mestres (pág. 14) de Onda Jovem número 1, faz questão de esclarecer que ela não é a idealizadora, mas sim uma participante do grupo Enigmas Juvenis. A idéia de formar o grupo surgiu numa oficina com professores da Zona Leste de São Paulo, com o objetivo de discutir formas de atuação pedagógica para favorecer a educação juvenil, e se concretizou com a união de 11 educadores, de 10 escolas da região.

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Navegando


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QUADRINHOS COM ATITUDE Uma das formas de expressão mais populares entre os jovens brasileiros, as histórias em quadrinhos têm uma farta produção, mas poucos meios de chegar ao público, pois o mercado editorial nacional é restrito e a divulgação independente ainda é cara. Mas quem gosta do ofício não desanima. Como a recifense Danielle Jaimes, de 24 anos.

O interesse pelo desenho, cultivado desde a infância e sempre estimulado pela família, só cruzou com a paixão pelos quadrinhos na adolescência, por obra dos álbuns de X-Men, a saga de heróis mutantes. Mas foi uma atração irresistível. “Inspiradas, eu e uma amiga desenhamos uma revista inteira”, diz. Recém-formada em Letras, Danielle tem feito do desenho sua fonte de renda, como figurinista de teatro, já que as possibilidades de trabalhar como quadrinista são poucas. Atualmente, ela apenas participa de festivais do seg-

mento. O que conta é o exercício. “Tenho buscado um estilo próprio de desenho, mais realista, porém simples, limpo”, diz a autora de traço delicado e cuidadoso. Para criar o enredo destas páginas, a convite de Onda Jovem, ela refletiu sobre a atitude dos quadrinistas, que não deixam de produzir por causa das dificuldades de divulgação.


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