ONDA JOVEM ARTE & CULTURA número 5 – maio 2006 ano 1 – número 3 – novembro 2005
SUJEITO DE DIREITOS Em busca da afirmação de sua identidade e de seus direitos, os jovens experimentam novas formas de participação social
sonar
A
PARTICIPAÇÃO EM GRUPOS É
VIVIDA POR 28% DOS JOVENS BRASILEIROS
Em pesquisa de 2003, 35% dos jovens revelaram desmotivação em participar por falta de informação
DOS JOVENS MORTOS POR CAUSAS EXTERNAS, 74% SÃO NEGROS
As mulheres, incluindo meninas e jovens, são as maiores vítimas da violência doméstica e sexual
Dos jovens que participam de grupos,
27% DESENVOLVEM ATIVIDADES
ARTÍSTICAS
Uma agência de mobilização desenvolve projetos que envolvem 400 jovens brasileiros pág.
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EM BRASÍLIA, JOVENS FAZEM UM JORNAL PARA 95 MIL ESTUDANTES PÁG. 8 Jovens mantêm um escritório de garantia dos direitos da juventude negra em Salvador
pág.
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A VIOLÊNCIA CONTRAS AS MULHERES É O TEMA DE CD GRAVADO POR 40 CANTORAS E COMPOSITORAS DE HIP HOP pág. 46 Um projeto em São Luís desperta talentos e consciência social pág.
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âncoras
“Apesar de concordar com a ideologia dos movimentos sociais, não participo de nenhum grupo.” Marciéli da Silva,
22 anos, universitária que mora em Itapema (SC)
“Não acredito mais em partidarismo como existe no Brasil, com esses grupos políticos que mais parecem máquinas de pedir voto.” Hugo de Lima Souza,
21 anos, morador de Recife
“A política está presente em todos os aspectos do nosso dia-a-dia, e os representantes que elegemos são prestadores de serviço público que têm deveres a cumprir.” Ionara Talita Silva,
20 anos, é estudante de Comunicação em Brasília
“Tomar os jovens como sujeito de direitos significa reconhecer a especificidade de sua condição e a singularidade da sua experiência geracional.” Helena Abramo,
socióloga, coordenou o Projeto Juventude
“Não podemos ignorar que há uma cultura da intolerância arraigada nas nossas tradições.” Gustavo Lemos Petta,
24 anos, presidente da UNE – União Nacional dos Estudantes
“O desafio da instituição pública é montar espaços que sejam atrativos à participação juvenil.” Luciana Guimarães,
diretora do Centro de Cidadania da Juventude do município de São Paulo
“Aqueles pequenos grupos que não tinham força na intervenção política começam a ter como rede. Juntos, ganhamos peso na hora da discussão política.” Tytta Ferreira,
24 anos, representante na Bahia da Rede de Jovens do Nordeste
“Minha experiência diz que não, os jovens não são tolerantes. Diferenças étnicas, de religião e de orientação sexual causam estranhezas.” João Felipe Terena,
24 anos, da Associação de Estudantes Indígenas do Mato Grosso do Sul
“Cada um se pergunta: como garantir meus direitos? É essa oportunidade de conhecer seus direitos que queremos propiciar aos jovens.” Angélica Ferreira dos Santos,
17 anos, membro do Escritório de Garantia de Direitos da Juventude Negra de Salvador
“É crescente a descoberta pelos jovens de que a sustentabilidade política do país e do planeta depende tanto dos políticos que elegemos quanto da política que praticamos no cotidiano.” Simone André,
coordenadora da Área de Juventude do Instituto Ayrton Senna
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ilustração: Anderson Rei, Marcelo Pitel, Rodolfo Herrera Capa: jovem se exercitando fotografado por Henk Nieman
Direção editorial Josiane Lopes – MTb 2913/12/13
Apoio editorial: Vinicius Precioso (Instituto Votorantim)
Secretaria editorial Lélia Chacon
Revisão: Eugênio Vinci de Moraes
Projeto gráfico Artur Lescher e Ricardo van Steen (Tempo Design) Colaboradores texto: Albertina Duarte, Annette Schwartsman, Aydano André Motta, Beatriz Seara, Cecília Dourado, Cristiane Ballerini, Daniela Rocha, Eloísa Grossman, Flávia Oliveira, Gabriela Calazans, Jane Soares, Karina Yamamoto, Leusa Araujo, Luis David Castiel, Rosely Sayão, Yuri Vasconcelos foto: Andréa Graiz, Beatriz Assumpção, Bruno Garcia, Carlos Cavalcante, Davilym Dourado, Deise Lane Lima/Viva Favela, Edson Queiroz, Francisco Andrade Neto, Francisco Campos,
Diagramação Nonono onono oonononono nonono (D’Lippi Editorial) Fotolito D’Lippi Editorial
08 DEISE LANE LIMA
Projeto editorial e realização Fátima Falcão e Marcelo Nonato Olhar Cidadão – Estratégias para o Desenvolvimento Humano www.olharcidadao.com.br
Impressão SAG Como entrar em contato com Onda Jovem: E-mail ondajovem@olharcidadao.com.br Endereço: R. Dr. Neto de Araújo, 320 – conj. 403, São Paulo, CEP 04111-001 Tel. 55 11 5083-2250 e 55 11 5579-4464 www.ondajovem.com.br um portal para quem quer saber de juventude
ONDA JOVEM INTEGRA PUBLICAÇÃO DA ASHOKA O projeto Onda Jovem foi um dos 70 selecionados para compor o livro “Jovens Transformações”, do programa Iniciativa de Aprendizagem Inovadora, da Ashoka – Empreendedores Sociais, juntamente com o Banco JP Morgan. O programa é o primeiro da entidade voltado exclusivamente para instituições que atuam com jovens. A seleção, feita por um comitê de 21 especialistas mais o conselho editorial da publicação, considerou relatos e depoimentos sobre as experiências, inscritas segundo sete diferentes princípios, que corresponderão aos capítulos do livro. Onda Jovem se inscreveu sob o princípio “Quem educa jovens deve estar em permanente formação”, apresentando depoimentos de seus leitores sobre a revista e o site www.ondajovem.com.br, que oferece também conteúdos exclusivos, como os Planos de Aulas – sugestões de como os educadores podem usar os textos da revista em atividades dirigidas com jovens. Com o valor de um prêmio, a seleção de Onda Jovem é fruto da crescente participação de seus leitores de todo o Brasil, que, principalmente por meio do site, enviam informações, sugestões e críticas ao projeto, constituindo um verdadeiro conselho editorial, informal mas muito participativo, que ajuda a revista a se tornar cada vez mais útil para seu público.
14 AUGUSTO PESSOA
Um projeto de comunicação apoiado pelo Instituto Votorantim
Francisco Valdean / Imagens do Povo, Gustavo Lourenção, Henk Nieman, Jonas Oliveira, Levi Silva, Marcelo Alvarenga, Renato Nunes / Imagens do Povo, Ricardo Ayres, Ricardo Mega, Rodrigues Moura/Viva Favela, Stanley Talião, Tom Cabral
18 NONO ONONO ONONO
ano 2 - número 5 março/junho 2006
ARNALDO CARVALHO
expediente
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8 - Navegantes A participação dos jovens, segundo eles mesmos
14 - Mestres A ação de três educadores que cultivam consciências
18 - Banco de práticas Quatro propostas de promoção da cidadania
22 - Caminho das pedras A flexibilidade da Agência Aracati para mobilizar jovens
26 - Horizonte global O diretor do BID Juventude, Fabian Koss, fala sobre participação na América Latina
28 - Sextante A participação política juvenil embute um conflito de gerações
30 - 90 Graus Participação e escola: o desafio de formar jovens para a democracia
34 - 180 Graus Participação e direitos: como a juventude brasileira está se tornando sujeito
38 - 270 Graus Participação e desencanto: a crise das formas tradicionais
42 - 360 Graus Participação no século 21: há novas formas de se fazer política
46 - Sem bússola Os extremos da exclusão têm idade, sexo e raça: os jovens negros e as jovens mulheres formam o perfil da invisibilidade social
52 - O sujeito da frase "Eu acredito numa sociedade mais justa", diz Ariel Alves, advogado militante dos direitos da infância e da adolescência
56 - Luneta Desenredando os criativos nós das redes sociais juvenis
60 -.Gov.Com A multiplicação dos órgãos públicos voltados para jovens afeta o tabuleiro do poder
64 - Ciência O gosto juvenil pela vida em grupo também pode render transformação social
68 - Chat da revista Quatro jovens discutem a tolerância na sociedade brasileira
2?
é o número de projetos com jovens que você verá nesta edição
Sonar
02 Pistas do todo e de algumas partes da situação do jovem
Âncoras
06 Alguns conceitos e comentários sobre participação social
Links
72 Notícias sobre juventude e terceiro setor
Fato Positivo
74 Cresce o trabalho voluntário entre jovens
Cartas
76 As mensagens dos leitores
Navegando
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A webarte de Andrei Thomaz
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navegantes
MILITANTES
CONTEMPORÂNEOS Por _ Marcelo Barreto
CONSCIENTES DOS PROBLEMAS DO PAÍS, OS JOVENS BRASILEIROS DESCONFIAM DA POLÍTICA INSTITUCIONAL E DIVERSIFICAM SUAS FORMAS DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL
Em 1968, os jovens mudaram o mundo. Na França, picharam os muros com palavras de ordem contra o capitalismo. Na Tchecoslováquia, questionaram o comunismo. No Brasil, resistiram à ditadura militar. Quase 40 anos depois, os jovens franceses discutem o primeiro emprego e a imigração – com greves e violentas ondas de protesto. Os herdeiros da Primavera de Praga vivem na República Tcheca e na Eslováquia, pois o país de seus pais, assim como o comunismo de Estado, não existe mais. E os jovens brasileiros? O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) quis saber. A pesquisa “Juventude Brasileira e Democracia – Participação, Esferas e Políticas Públicas” ouviu 8 mil jovens de 15 a 24 anos em Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo e Brasília, com a participação do Instituto Pólis, de São Paulo, e de outros nove parceiros nas regiões pesquisadas. O objetivo era conhecer o potencial de participação do jovem brasileiro no espaço público. “Os jovens mostraram profunda consciência sobre os problemas presentes em suas vidas, nos seus locais de moradia e mesmo no país”, diz Patrícia Lanes, uma das coordenadoras da pesquisa. “No entanto, para que eles possam contribuir mais e melhor, é preciso considerar as diferentes maneiras de atuar da juventude de hoje, que nem sempre correspondem a práticas políticas mais institucionalizadas.” As respostas à pesquisa revelaram muitas preocupações: mais segurança, menos corrupção, qualidade na escola, melhor qualificação profissional, mais espaços de cultura e lazer perto de casa. Mas, segundo Patrícia, não há dados para comparar a participação dos jovens de hoje na sociedade com a da geração 68, nem como dizer se é alto ou baixo o percentual de 28% dos jovens brasileiros ligados a grupos com alguma forma de atuação social. Comparar não é mesmo o mais importante. O necessário é compreender que os tempos, e os jovens, são outros.
Liberdade de opção “Apesar de concordar com a ideologia dos movimentos sociais, não participo de nenhum grupo”, diz Marciéli da Silva, de 22 anos, que mora em Itapema e estuda Jornalismo em Florianópolis. Nos famosos anos 60, Marciéli correria o risco de ser taxada de alienada – um rótulo que os militantes aplicavam a jovens sem engajamento social. Mas nem de longe ela se enquadra no estereótipo. Filha de um bombeiro hidráulico e de uma cozinheira, trabalha para pagar a faculdade e tem posições críticas. O que falta é identificação: “Os movimentos que conheço são desorganizados e com propósitos exageradamente revolucionários, que distorcem seu real objetivo”. Entre os jovens que se identificam com a ação de algum grupo, a religião é a porta de entrada para 42,5%. Foi assim com o goiano Hugo Leonnardo Cassimiro, 23 anos. A atuação na Pastoral da Juventude da Igreja Católica levou-o à assessoria na Casa da Juventude Padre Bournier, a Caju, e impulsionou sua participação em outras esferas.
RAFAEL VENTURA, 16 ANOS,
é um cyberativista que já provocou uma mudança real em Ribeirão Pires, em São Paulo
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GUSTAVO LOURENǘÃO
FELIPE CHRIST
MARCIÉLI SILVA, 22 ANOS,
SOBRE
não se identifica com as ações de nenhum movimento que conhece em Santa Catarina
PARA SABER MAIS
“Acredito que o que faço poderia ser definido como militância. Goiânia tem muita demanda. Na faculdade, presido o centro acadêmico. Sou filiado ao Partido dos Trabalhadores, mas acredito que a participação social da juventude não se restringe a partidos políticos ou movimentos organizados. O problema é o tipo de participação, se é crítica ou apenas reprodutora de práticas já automáticas”, diz. Já Osmar Pequim Júnior, 25 anos, que há quatro é líder de louvor da Igreja Batista em São Paulo, diz que sua ação social está totalmente vinculada à Igreja. “Atuamos com o objetivo de restaurar vidas, porque entendemos que a base da sociedade é a família. Trabalhamos com crianças, jovens e adultos, com arrecadação de alimentos para carentes e aconselhamento pela palavra de Deus, com reuniões e visitas”, diz. Mas Osmar considera fazer uma opção político-partidária. Ele pretende se filiar ao PSDB. Não é um passo fácil, e muitos jovens hesitam em dá-lo. Na primeira parte da pesquisa do Ibase (quantitativa, com aplicação de questionários), a frase “É preciso abrir canais de diálogo entre os cidadãos e o governo” foi aprovada por 85% dos jovens. Mas a segunda parte (qualitativa, com a formação de grupos de diálogo) mostrou que ainda há muitos obstáculos à participação política. Dos três caminhos apontados para discussão nos grupos, e batizados pelos próprios jovens como o da política, o da ação social e o da cultura, foi justamente o primeiro que teve a menor adesão inicial. “Os três caminhos apresentados foram percebidos pelos jovens como complementares, ou seja, todos tinham aspectos que podiam contribuir para as mudanças desejadas”, diz Patrícia Lanes.
DAVILYM DOURADO
navegantes
OSMAR PEQUIM, 25 ANOS,
concentra sua ação social nas atividades da Igreja Batista de São Paulo
JORNAL RADCAL, DA FUNDAÇÃO ATHOS BULCÃO ÁREA DE ATUAÇÃO DISTRITO FEDERAL JOVENS ATENDIDOS 95 mil estudantes recebem o jornal PROPOSTA Discutir assuntos do dia-a-dia da juventude de forma inteligente, crítica e inventiva por intermédio de um jornal trimestral feito por jovens e distribuído a alunos da rede pública do distrito federal APOIO PROGRAMA DST/AIDS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE, PNUD, UNESCO, UNICEF, COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO E SECRETARIA DE CULTURA DO DISTRITO FEDERAL CONTATO Setor Asa Norte, Quadra 01, Bloco E, CEP 70041-904 – Brasília (DF) – Tel. 61/3322-7801. Site: www.fundathos.org.br
ARNALDO CARVALHO KARLOS RIKARYO
HUGO SOUZA, 21 ANOS,
PARA SABER MAIS
SOBRE
não acredita no sistema partidário e prefere militar por meio de um site sediado em Recife
TASSARA SARMENTO, 18 ANOS, é voluntária do Mover e ensina vôlei no interior do Ceará
PROJETO VOLEITÁRIO, DO MOVER (MOVIMENTO DE JOVENS VOLUNTÁRIOS DO SEMI-ÁRIDO CEARENSE) ÁREA DE ATUAÇÃO BAIRRO FLORES, EM IGUATU (CE) JOVENS ATENDIDOS 20 crianças e adolescentes de 9 a 17 anos PROPOSTA Oferecer aulas práticas de vôlei para crianças e adolescentes carentes, com acompanhamento familiar e reforço escolar. As atividades são desenvolvidas na escola Juscelino Kubitschek, nos domingos, às 17:00. APOIO NÃO TEM CONTATO Rua 21 de Abril, s/n, Prado, CEP 63500-000 – Iguatu (CE) – Tel. 88/3581-6575
ENTRE AS PREOCUPAÇÕES DOS JOVENS ESTÃO MAIS SEGURANÇA, MENOS CORRUPÇÃO, QUALIDADE NA ESCOLA, QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL E ESPAÇOS DE CULTURA E LAZER PERTO DE CASA
Participantes apartidários É bom observar que a desconfiança dos jovens é com os políticos, não com a política. Mas 24% dos jovens só optariam por essa militância se tivessem certeza de que haveria “luta por direitos e combate à desigualdade”. Mesmo entre os engajados em alguma forma de participação, a visão do tema é crítica. “Não sou filiado a nenhum partido a não ser o meu próprio, o da minha opinião”, diz Hugo de Lima Souza, universitário de 21 anos, morador de Recife. “Não acredito mais em partidarismo como existe no Brasil, com esses grupos políticos que mais parecem máquinas de pedir voto. Quando penso em compromisso público, pela sociedade, não imagino como isso se enquadraria no Brasil de hoje, em relação a partidos e a uma boa parte da mídia.” Mas Hugo encontrou seu espaço de atuação: o site Boivoador (www.boivoador.com). “O site tem um compromisso público pela democratização da informação, não só pelo conteúdo postado on-line, oferecendo espaço para comunidades mais pobres se manifestarem, tratando de assuntos políticos, divulgando eventos alternativos de cultura e arte, mas também por projetos off-line como um zine que estaremos lançando em breve. Sou coordenador e gerente. Meu trabalho é voluntário”, diz.
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FELIPE BARRA
PARA OS JOVENS, OS CAMINHOS DA POLÍTICA, DA AÇÃO SOCIAL E DA CULTURA SÃO COMPLEMENTARES: TODOS ELES PODEM CONTRIBUIR PARA AS MUDANÇAS NECESSÁRIAS
O FUTURO É AGORA “Com 12 anos me incomodava muito a falta de atividades na minha escola que proporcionassem a participação dos alunos. As escolas em que estudei eram públicas e extremamente precárias. Chamei alguns amigos e criamos o Grupo de Teatro Conexão e Arte. O objetivo era tornar o intervalo mais prazeroso. Com a ajuda de alguns professores e colegas, criamos espetáculos e os apresentamos na escola. Começamos a realizar oficinas de teatro e também de participação política, cultura e educação. O apoio que recebemos da escola e de uma professora foi fundamental. Foi daí que percebi que eu podia participar ativamente na minha escola e na comunidade. Não sou filiada a nenhum partido, por opção. A política está presente em todos os aspectos do nosso dia-a-dia e os representantes que elegemos são prestadores de serviço público que têm deveres a serem cumpridos. Nós, eleitores, cidadãos e contribuintes, temos o dever de acompanhar e cobrar de perto. Participo ativamente na minha comunidade e em todos os espaços onde eu possa interferir: na associação de moradores do meu condomínio; na articulação do Diretório Central dos Estudantes da faculdade; nas discussões do Plano Nacional da Juventude. Na Fundação Athos Bulcão, coordeno a área de comunicação, com projetos como o “Jornal Radcal” , que já ganhou o Prêmio Itaú-Unicef e o Prêmio dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça. São 100 mil exemplares distribuídos na rede pública de ensino do Distrito Federal, tratando de temas como cultura, direitos humanos e ecologia. Toda essa experiência foi fundamental para que eu me tornasse uma cidadã mais atuante e consciente dos meus direitos."
IONARA TALITA SILVA, 20 ANOS,
PARA SABER MAIS
SOBRE
é estudante de Comunicação em Brasília
PROJETO JOVES PELA FLORESTA, DO GREENPEACE ÁREA DE ATUAÇÃO GLOBAL JOVENS ATENDIDOS No Brasil, dez jovens participaram da Conferência sobre Diversidade Biológica da ONU PROSPOSTA Defesa das florestas por meio do cyberativismo (participação social via internet) em vários países do mundo. Os integrantes também fazem trabalho de conscientização, principalmente em escolas APOIO O GREENPEACE NÃO ACEITA APOIO EXTERNO, APENAS DOS SÓCIOS CONTATO Site www.greenpeace.org.br
Atitudes como a de Hugo apontam para o segundo caminho debatido pelos jovens na pesquisa do Ibase: o da ação social. “Não adianta só deixar na mão do governo” foi uma frase bastante ouvida nos grupos que discutiram essa alternativa. Embora vista como justa, foi considerada também uma forma mais lenta de mudar a sociedade. O que não desanima o estudante secundarista Rafael Ventura, de 16 anos, que mora em Ribeirão Pires, na região metropolitana de São Paulo. Um ano atrás, ele jamais tinha se envolvido com qualquer grupo de atuação social, nem participado de um ato público, até que encontrou pela internet sua maneira de atuar, intervindo diretamente na esfera pública. Um caminho cada vez mais comum, que já ganhou até nome: o cyberativismo. “Eu sempre tive aquela conscientização, de não jogar papel na rua, reciclar o lixo. Mas quando entrei no site do Greenpeace, adorei o trabalho da organização e me filiei”, conta Rafael. A militância que começou no mundo virtual chegou rapidamente ao mundo real. Foi pela internet que ele ficou sabendo que Ribeirão Pires poderia se transformar em Cidade Amiga da Amazônia, criando leis exigindo a compra de madeira de uso legal e sustentável para as obras públicas. Rafael resolveu levar a idéia ao prefeito da cidade, numa audiência aberta aos cidadãos. E conseguiu no mesmo dia que ele assinasse o termo de compromisso da campanha. “O que eu quero mesmo nesse mundo político são pessoas honestas, que tenham comprometimento com o meio ambiente e com os cidadãos do Brasil”, diz o cyberativista, que, por conta da idade, ainda não teve a oportunidade de votar.
GYANCARLO BRAGA RODRIGUES MOURA / VIVA FAVELA
HUGO LEONNARDO, 23 ANOS,
PARA SABER MAIS
SOBRE
começou na Igreja Católica a participação que se estendeu para os movimentos estudantil e partidário de Goiânia
JOYCE DA SILVA, 17 ANOS,
descobriu num grupo de teatro carioca a sua carreira e a possibilidade de ação social
PROJETO TALENTOS DA VEZ, DO GALPÃO APLAUSO ÁREA DE ATUAÇÃO RIO DE JANEIRO (RJ) JOVENS ATENDIDOS: 500 PROPOSTA Projeto sócio-cultural desenvolvido no Galpão Aplauso, espaço do Projeto Favela-Bairro para atendimento a jovens de comunidades populares. Oferece oficinas de teatro, circo, música e artes plásticas, com duração de um ano. APOIO BANCO INTER-AMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID) E PREFEITURA DO RIO. CONTATO E-mail aplauso@gbl.com.br. Tel. 21/2233-6648
Esporte e cultura Fazer do esporte, do lazer e da arte o instrumento para a participação social foi a terceira opção apontada nos grupos de diálogo da pesquisa do Ibase. Os jovens a batizaram de caminho da cultura e a consideraram ideal para expressar suas idéias democraticamente, mas também a menos eficiente, por não ter força política ou crédito do governo. “A juventude tem um potencial muito grande, mas é preciso criar mais oportunidades para que esse potencial seja explorado, deixando de ser o “futuro do Brasil” e passando a ser o presente, fazendo parte das mudanças agora”. Assim como 32,5% dos jovens ouvidos pelo Ibase que participam de algum grupo de ação social, Tassara encontrou no esporte esse atalho entre presente e futuro. Sua participação no Movimento de Jovens Voluntários do Semi-Árido Cearense (Mover) a levou ao projeto Voleitário, que oferece aulas de vôlei a crianças e adolescentes carentes do bairro Flores, em Iguatu, no interior do Ceará. E ela se encontrou. “Percebi a carência de prática esportiva nas escolas públicas. Por praticar esporte e conhecer bem o vôlei, sabia que poderia contribuir”, diz. A carioca Joyce da Silva, 17 anos, também começou no esporte, mas como atleta. Era jogadora federada de futebol até conhecer a ONG Galpão Aplauso. Foi assim que, como 26,9% dos jovens ouvidos na pesquisa, começou sua participação social: pela arte. Integrou o grupo de teatro e fez um curso de operação de áudio. “Hoje trabalho operando áudio em peças de teatro e não quero outra carreira. Gostaria até de fazer faculdade de engenharia acústica”, diz. Mas algo mais mudou na vida de Joyce. A experiência no Galpão Aplauso levou-a também à participação social. “Faço operação de áudio gratuitamente para peças, como forma de ajudar e de passar para outras pessoas o conhecimento que adquiri. Quero também conhecer outros projetos, encontrar novos meios de tentar mudar um pouco a nossa realidade”, diz ela, que não descarta nem a política institucional como uma dessas possibilidades.
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mestres
EDUCADORES DESENVOLVEM PROJETOS PARA AJUDAR OS JOVENS A TRANSFORMAR A REALIDADE
Carla Lopes, Fábio Deboni e Ana Luisa Florentino não se conhecem, mas estão em total sintonia. Eles estão convencidos de que educar não é uma mera transferência de conhecimento, mas um processo de conscientização individual e coletivo. Carla usa a sala de aula, numa escola no Rio de Janeiro, para discutir as diferentes formas de racismo verde-amarelo. Fábio defende uma educação ambientalmente sustentável. Ana Luisa está empenhada em estimular os jovens de Capão Bonito a se tornarem multiplicadores. Os três juntos comprovam que ensinar não é reproduzir modelos, mas transformar realidades. As letras da lei A constatação da total falta de referência dos alunos quanto às suas raízes étnicas e socioculturais levou a professora de História Carla Lopes a liderar uma revolução silenciosa no Colégio Estadual Professor Sousa da Silveira, na zona Norte do Rio de Janeiro. Ela é coordenadora pedagógica da escola, que fica em Quintino. Corria o ano de 2004 e o governo acabara de aprovar a lei no 10.639/03, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases – LDB, instituindo a obrigatoriedade do ensino de História Africana e Cultura Afro-brasileira nos currículos fundamental e médio. Faltava, apenas, definir o conteúdo dos livros didáticos. Carla decidiu então se antecipar à aplicação da lei. Só que tirar essa idéia do papel não seria uma tarefa muito fácil. Não bastasse a falta de conscientização dos alunos, muitos dos quais nem mesmo se enxergavam como parte da população afro-brasileira, que chega a 45% do total, os professores também não sabiam como lidar com o tema e, muito menos, como incluí-lo nas discussões em sala de aula. A coordenadora percebeu que, para que o projeto político-pedagógico da escola atingisse a maturidade, seria preciso ampliar as discussões sobre a questão dos negros na sociedade brasileira. Assim nasceu o Programa de Reflexões e Debates para a Consciência
Negra, com palestras mensais, e duas características essenciais: as discussões não se restringiam às disciplinas citadas pela lei, como História, Língua Portuguesa e Educação Artística, mas envolviam todos os professores, e os debates aconteciam no auditório da escola, para que os alunos se sentissem prestigiados com a visita dos palestrantes convidados. Os resultados não tardaram. Nas salas de aula, dos gráficos com dados estatísticos sobre as condições socioeconômicas da população negra, evoluiu-se, por exemplo, para a etnomatemática. Escritores negros, como Carolina Maria de Jesus, Castro Alves, Lima Barreto e Machado de Assis, passaram a ser valorizados nas aulas de português. E a história do movimento negro americano foi incorporado ao ensino de inglês e passou a ser usado como referência para estudar o idioma.
por _ Liana Melo
CULTIVANDO
DEISE LANE LIMA
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CONSCIÊNCIAS A coordenadora pedagógica Carla Lopes revolucionou um colégio em Quintino, no Rio, com discussões sobre racismo
Ambientalmente sustentável De formação, o paulista Fábio Deboni é engenheiro agrônomo, mas, de coração, ele gosta mesmo é de trabalhar com educação de crianças e jovens. Ainda na faculdade, começou a participar de projetos de extensão em creches e escolas e não parou mais. Seu envolvimento com as Redes de Educação Ambiental acabou por levá-lo, de Piracicaba, no interior de São Paulo, para Brasília, onde foi trabalhar no Ministério da Educação (MEC). Aos 27 anos, como responsável pelo Programa Juventude e Meio
A pedagoga paulista Ana Luisa Florentino forma
RODRIGO NORONHA
jovens multiplicadores, em Capão Bonito
SOBRE PARA SABER MAIS
SOBRE PARA SABER MAIS
O sucesso foi tanto que o projeto político-pedagógico do Sousa da Silveira ultrapassou os muros da escola. Virou objeto de estudo do Observatório Jovem, núcleo da Universidade Federal Fluminense (UFF), e passou a fazer parte do Fórum Permanente de Educação e Diversidade Étnico Racial, do Ministério da Educação (MEC). Para Carla, uma carioca de 41 anos, ficou provada sua hipótese: “O ensino das matérias não teria sucesso simplesmente com a obrigatoriedade estipulada por lei”.
JUVENTUDE E MEIO AMBIENTE ÁREA DE ATUAÇÃO 27 ESTADOS. PROPOSTA Articulados nos chamados Coletivos Jovens de Meio Ambiente, alunos das escolas pública e privada debatem temas como diversidade étnico-racial, mudanças climáticas, segurança alimentar e nutricional e biodiversidade. APOIO MINISTÉRIOS DA EDUCAÇÃO E CULTURA (MEC) E DO MEIO AMBIENTE (MMA), PETROBRAS, ELETROBRÁS, VALE DO RIO DOCE. CONTATO Coordenação-Geral de Educação Ambiental (CGEA) – MEC – SGAS 607 – lote 50 – Ed. CNE – Sala 212 – 70200-670 – Brasília (DF) – Tels.: 61/2104-6157 OU 61/2104-6144 – E-mail: ea@mec. gov.br.
PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DO COLÉGIO ESTADUAL PROFESSOR SOUSA DA SILVEIRA ÁREA DE ATUAÇÃO QUINTINO, NO RIO DE JANEIRO. PROPOSTA Discutir com professores e alunos as condições históricas vivenciadas pelos negros na sociedade brasileira, debatendo o tema de forma transversal na educação, saúde, direito, religião e cultura. JOVENS ATENDIDOS 513. APOIO NÃO TEM. CONTATO Rua Amália s/n – Quintino – CEP?? – Rio de Janeiro (RJ) – Tels.: 21/2595-6290; 21/ 96495961 – E-mail: programa.rdcn@gmail.com.
Ambiente, ele articula os Coletivos Jovens e estimula a militância política em prol do meio ambiente. Nos últimos meses, não fez outra coisa nos bastidores da II Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, realizada em abril, em Luziânia (GO). Os números que envolveram a conferência deste ano são grandiosos: quatro milhões de estudantes provenientes de 12 mil escolas participaram das discussões preparatórias do encontro, em 26 Estados. Foram eleitos, ao final, 600 delegados. O estímulo à participação não se restringiu aos alunos das 5ª a 8ª séries das escolas públicas e privadas, mas envolveu jovens de comunidades quilombolas, indígenas, assentamentos rurais e até meninos e meninas de rua. Após cinco dias de discussões, os delegados produziram um documento, intitulado Carta de Responsabilidades. Segundo Deboni, a Carta não inclui reivindicações dos delegados, mas sugestões que podem virar políticas públicas. Não é à toa que os temas que permearam as discussões desse ano foram escolhidos levando em consideração os acordos internacionais, dos quais o Brasil é signatário. São eles: Convenção sobre a Diversidade Biológica, Protocolo de Quioto, Declaração de Roma sobre a Segurança Alimentar Mundial e Declaração de Durban contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata. Os
delegados vão discutir ações locais que levem em consideração cada um desses princípios. “O meio ambiente é um assunto emergente”, diz Deboni. “Nosso objetivo é levar a discussão socioambiental para dentro das escolas, envolvendo estudantes, professores, juventude e comunidade para um projeto de educação ambientalmente sustentável.” Jovens multiplicadores Capão Bonito não é mais conhecida como uma cidade rica. O ouro, que um dia encheu a bateia dos garimpeiros locais, sumiu lá por volta de 1800. Desde então, o município, distante 287 quilômetros de São Paulo, convive com histórias de antigos bandeirantes e velhos garimpeiros.
Fábio Deboni coordena a participação juvenil nos programas socioambientais brasileiros
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FELIPE BARRA
SOBRE
Geração têm seis meses para desenvolver um projeto de elaboração de intervenção na comunidade. Ela própria uma transformadora, que conseguiu romper a barreira da exclusão social, em São Caetano, na região do ABC paulista, e hoje ostenta com orgulho seu diploma de professora, Ana Luisa tem uma convicção: “Transformar a realidade local é a única forma de evitar que as novas gerações reproduzam uma triste história”.
PARA SABER MAIS
Hoje, sua juventude convive com a evasão escolar, o uso abusivo de drogas, a gravidez precoce. É contra essas mazelas típicas da vida contemporânea que Ana Luisa Florentino vem lutando. Engajada inicialmente como voluntária no Programa Geração, desenvolvido pela VCP e pelo Instituto Aliança com o Adolescente, com apoio do Instituto Votorantim, essa pedagoga de 34 anos começou a desenvolver com os jovens de Capão Bonito alternativas que ajudassem a romper com o ciclo vicioso de dificuldades. O desemprego no município é alto, o que acaba empurrando os trabalhadores para “bicos”, como o de bóia-fria. “Nosso objetivo é transformar esses jovens envolvidos no projeto em multiplicadores do que aprendem”, diz Ana Luisa, que acabou sendo contratada como pedagoga no projeto. Ela trabalha hoje com 240 jovens, com idades que variam de 14 a 19 anos. Eles são divididos em cinco grupos de trabalho nas áreas de saúde, educação, esporte e lazer, arte e cultura e trabalho. “E não estamos conseguindo atender toda a demanda”, diz ela, sobre os 600 jovens, aproximadamente, que se inscreveram no teste de seleção, no início do ano. Treinados para multiplicar entre os mais novos os conhecimentos adquiridos, os jovens do Programa
PROGRAMA GERAÇÃO, DO INSTITUTO ALIANÇA COM O ADOLESCENTE ÁREA DE ATUAÇÃO CAPÃO BONITO (SP) E LARANJEIRAS (SE). PROPOSTA Capacitar jovens, transformando-os em multiplicadores, em diferentes áreas, como saúde, esporte, lazer, educação, arte, cultura e trabalho. JOVENS ENVOLVIDOS 240, em Capão Bonito. APOIO VOTORANTIM PAPEL E CELULOSE E INSTITUTO VOTORANTIM CONTATO Rua Duque de Caxias, 197 – Centro – 18.300-310 – Capão Bonito (SP) – Tel.: 15/35425195 – E-mail: juventudecb@hotmail.com.
Cidadania é a “condição de pessoa que, como membro de um Estado, se acha no gozo de direitos que lhe permitem participar da vida política”. Essa definição, presente no dicionário “Houaiss”, é o fundamento de projetos que incentivam o jovem a participar da vida política, seja na sua escola, na comunidade, no país ou no mundo. A idéia é trazer o conceito e a prática da política para perto de cada um. Só assim se exerce plenamente a cidadania, só assim se constrói a democracia. Parece difícil? Talvez, mas a verdade é que todos nós fazemos política o tempo todo, sem, no entanto, nos darmos conta disso. “Nas ações do cotidiano, toda vez em que se articula um interesse se faz política”, diz José Domingos Teixeira Vasconcelos, do Instituto Ágora. Os quatro projetos aqui destacados traduzem, em diferentes práticas, os conceitos de cidadania, democracia, governança, participação e mobilização. Em comum, dão oportunidade aos jovens de reconhecerem que podem e devem ocupar espaço de forma consciente para contribuir nas tomadas de decisão. A diversidade das propostas revela que as esferas de atuação são plurais: seja na organização de grêmios estudantis, como na experiência do Consciência Estudantil, da Paraíba, seja na pesquisa para conhecer movimentos sociais e descobrir como eles são capazes de transformar a realidade em nome de um interesse comum, como é o caso dos jovens pesquisadores do Governança. O grupo de jovens do Escritório de Garantia de Direitos da Juventude Negra de Salvador é oriundo de outros projetos do Ceafro – Centro de Estudos Afro-Orientais, da Universidade Federal da Bahia – e cobre uma área que os próprios jovens descobriram precisar de atenção: a de difusão dos direitos e de garantia de seu pleno exercício. O jovem como sujeito de direito também é a base das ações do projeto Jovem Cidadão, da ONG maranhense Formação, que investe na construção da credibilidade da juventude como participante das políticas pública de desenvolvimento. A seguir, leia mais sobre essas práticas.
RISONALDO CRUZ
Por _ Daniela Rocha
DIVULGAÇÃO
CULTURA DA CIDADANIA
DIVULGAÇÃO
PROJETOS ESTIMULAM A PARTICIPAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA
AUGUSTO PESSOA
banco de práticas
João Pessoa, PB
Consciência Estudantil
Salvador, BA
Escritório de Garantia de Direitos da Juventude Negra
Consciência crítica e participação são o pano de fundo do movimento Consciência Estudantil, projeto com jovens de João Pessoa que busca estimular a formação de grêmios escolares. Tudo começou com uma reforma na Escola Estadual de Ensino Médio e Fundamental do Alto do Mateus, iniciada em outubro de 2004. A reforma atrasou e colocou em risco o ano escolar. Alunos e comunidade se mobilizaram, fizeram protestos, buscaram apoio do Poder Legislativo, formaram comissão de 30 alunos para falar com o secretário estadual de Educação >>
Iniciativa de jovens para jovens sobre como garantir seus direitos. É assim que o Escritório de Garantia de Direitos da Juventude Negra de Salvador se autodenomina. O grupo faz o atendimento direto de jovens que são vítimas de discriminação ou preconceito, encaminhando o problema para instituições vinculadas ao Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente ou ao Conselho Tutelar, e também promove palestras, debates, seminários e oficinas em comunidades da periferia de Salvador. Os integrantes do Escritório visitam as >>
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Baixada Maranhense, MA
Projeto Jovem Cidadão
São Paulo, SP
Governança
Este projeto é fruto de um processo. Primeiro, foram mapeadas mais de 200 organizações juvenis e outras da sociedade civil e do governo na região da Baixada Maranhense. Só depois de vários encontros foi aprovado o projeto maior, com prazo de execução entre seis e dez anos, envolvendo jovens, governo e sociedade em geral, para garantir a sua sustentabilidade e construir a credibilidade do jovem como sujeito capaz de participar da elaboração e implementação de políticas públicas. Segundo Regina Cabral, da ONG >>
O exercício pleno da democracia está em nossas mãos. Esse poderia ser um dos lemas do Governança, programa do Instituto Ágora, de São Paulo, que mantém também um observatório civil com foco no legislativo. O Governança começou em 2004 com um grupo de 13 jovens que saíram a campo para conhecer movimentos sociais. O objetivo era avaliar como uma comunidade pode se organizar, decidir e interferir na política para o benefício comum. Entre os locais escolhidos estavam um assentamento do Movi- >>
>> e, em conjunto, encontraram a solução de continuar com as aulas em um galpão. A contar daí, o grupo se animou e passou a se reunir para debater o que são e para que servem o movimento estudantil e os grêmios escolares. Dos 150 participantes iniciais, cerca de 40 organizaram o Consciência Estudantil. "Buscamos o resgate
>> comunidades para conversar com jovens e identificar temas relevantes para debater. “Nesse mapeamento, notamos que é importante tratar de temas como gravidez precoce, violência entre jovens e envolvimento no tráfico de drogas”, diz Angélica Ferreira dos Santos, 17 anos, um dos 13 jovens que integram o Comitê Gestor
>> Formação, principal incentivadora do projeto, o que se busca é o desenvolvimento das cidades apostando no desenvolvimento das organizações juvenis. O Jovem Cidadão se apóia em três eixos: cidadania, desenvolvimento e inclusão. Suas estratégias: mobilização e formação política dos jovens; formulação de políticas
>> mento dos Sem Terra e uma favela com crianças em situação de risco. O grupo era composto de jovens com diversos perfis (estudantes de Relações Internacionais, Relações Públicas, Psicologia, Geografia, Turismo, História). “O programa conseguiu dos jovens mais do que a tomada de consciência, conseguiu levantar a importância de a sociedade
os apoiadores e ONGs integrantes do projeto participam de sua gestão. “Trata-se de um projeto de formação de juventude que leva em consideração a diversidade. Queremos incentivar jovens livres, fortes, criativos, críticos, cidadãos que lutem por seus direitos e dialoguem para a ampliação deles”, diz Regina.
intervir de maneira sistemática”, diz José Domingos Teixeira Vasconcelos, diretor de Assuntos de Governança da América Latina, do Instituto Ágora. Os estudantes chegaram a conclusões como estas: que uma ação de sucesso na comunidade só se consolida caso se torne política pública; a sustentabilidade de projetos depende mais de sua
apropriação pela comunidade do que da existência de um líder; é necessário ampliar a comunicação entre projetos semelhantes para a troca de experiências; a Igreja tem enorme potencial para a organização social, entre outras. O resultado foi tão positivo que dará origem a uma publicação e terá uma nova fase, internacional.
SOBRE PARA SABER MAIS
SOBRE PARA SABER MAIS
SOBRE
públicas para o desenvolvimento local sustentável, sobretudo nas áreas de educação (com o envolvimento de professores e gestores públicos) e geração de trabalho e renda; realização de mostras de cultura e arte; difusão do esporte e lazer e uso da comunicação como instrumento de mobilização. Todos
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desdobramento do projeto Ampliando, e Juventude Negra de Combate ao Racismo. “Sentimos muito receptividade dos jovens nas comunidades porque também somos jovens. Cada um se pergunta: como garantir meus direitos? É essa oportunidade de conhecer e aprender sobre os seus direitos que queremos propiciar”, diz Angélica.
SOBRE
do Escritório, instalado no Centro de Estudos Afro-Orientais (Ceafro) da Universidade Federal da Bahia. Todos os integrantes do Comitê Gestor integraram outros projetos do Ceafro, como o Ampliando Direitos e Horizontes, voltado para garantia de direitos de meninas trabalhadoras domésticas, Resistência Negra em Ação, que foi
"O núcleo do Consciência Estudantil é formado por estudantes que perceberam a necessidade de se articular, entenderam que podem mudar uma realidade e fazer valer seus direitos", diz Luciano. Os participantes têm a missão de ser multiplicadores e de estimular os alunos a batalhar pela garantia de seus direitos como estudantes.
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histórico dos movimentos estudantis, estimulamos a discussão sobre política e a montagem de grêmios", diz Luciano Alves, 25 anos, facilitador das reuniões e educador da ONG Beira da Linha, apoiadora da proposta. Este ano, o movimento pretende mobilizar os representantes de turma eleitos para fomentar a formação dos grêmios.
CONSCIÊNCIA ESTUDANTIL ÁREA DE ATUAÇÃO: JOÃO PESSOA (PB) PROPOSTA Estimular a formação de grêmios estudantis que atuem nas escolas e nas comunidades, contribuindo na formação cidadã dos alunos e incentivando a participação de jovens na resolução de problemas sociais JOVENS ATENDIDOS Pretende atingir 1.500 estudantes em 2006 APOIO PROJETO BEIRA DA LINHA CONTATOS Projeto Beira da Linha – Centro Educacional Miramangue – Rua José Gomes de Abreu, s/no – Alto do Mateus – João Pessoa (PB) – Tel.: 83/3212-8149 – E-mail: lucianoalvespbl@yahoo.com.br
ESCRITÓRIO GARANTIA DE DIREITOS DA JUVENTUDE NEGRA DE SALVADOR, DO CENTRO DE ESTUDOS AFRO-ORIENTAIS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (CEAFRO/UFBA) ÁREA DE ATUAÇÃO SALVADOR (BA) PROPOSTA Contribuir para o enfrentamento da violação de direitos da juventude negra, fazendo valer o que está garantido na Constituição Federal. Faz atendimento e encaminha casos de violência doméstica e urbana, homofobia, discriminação, racismo, intolerância religiosa e diferentes formas de violação dos direitos da juventude; promove também debates em comunidades da periferia JOVENS ATENDIDOS Indefinido APOIO FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA (UNICEF) CONTATOS praça Inocêncio Galvão, 42-A – Largo 2 de Julho – Salvador (BA) – 40060-180 – Tel.: 71/3321-2580 – E-mail: egdjn@hotmail.com – www.ceafro.ufba.br
PROJETO JOVEM CIDADÃO, DA ONG FORMAÇÃO ÁREA DE ATUAÇÃO NOVE MUNICÍPIOS DA BAIXADA MARANHENSE E CIDADE DE SANTA INÊS PROPOSTA Melhorar a realidade sociocultural e político-econômica de jovens de baixa renda, por meio ações integradas nas áreas de educação e trabalho, arte e cultura, esporte e lazer, saúde e ecologia. Inclui mobilização e fortalecimento de organizações juvenis para formação política JOVENS ATENDIDOS 4.800 APOIO FUNDAÇÃO KELLOGG, UNICEF, UNESCO, INSTITUTO TELEMAR, GOVERNOS MUNICIPAIS CONTATOS Avenida Ana Jansen, Edifício Mendes Frota, 6º andar, sala 612 – São Francisco – 65.076-200 – São Luís (MA) – Fonefax: 98/3227-7203 – www.formacao.org.br
PROJETO GOVERNANÇA, DO INSTITUTO ÁGORA ÁREA DE ATUAÇÃO AMÉRICA DO SUL PROPOSTA Estimular o conhecimento dos movimentos sociais e disseminar o conceito de governança local e mundial, que pressupõe a participação da sociedade civil influindo nas esferas de decisões JOVENS ATENDIDOS Ilimitado APOIO FUNDAÇÃO CHARLES LEOPÓLD MEYER PARA O PROGRESSO DA HUMANIDADE (EM 2004-ESTAMOS EM 2006!) CONTATO Av. Nove de Julho, 5.966, 5º andar – Jardim Paulistano – São Paulo (SP) – 01406-200 – Tel. 11/3898-0123 – 3898-0123 – 3088-6787 – E-mail: agora@agoranet.org.br – Site: www.oeleitor.org.br – Institutoagora.org.br
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Por _ Jane Soares
caminho das pedras
VENTOS DE
MUDANÇA Estimular a participação juvenil, um direito agora expresso na Constituição, é o objetivo da Aracati – Agência de Mobilização Social. Embora seja uma organização criada em São Paulo, seu nome foi inspirado no Nordeste. O aracati é uma brisa formada no litoral do Ceará, geralmente no fim da tarde, que atinge cidades e vilas quentes do interior. Quando ela chega, seus moradores vão para as ruas “pegar a fresca”. Como a brisa, a Aracati pretende tirar as pessoas, especialmente os jovens, de suas casas, levando-as a integrar movimentos de participação social. A Aracati nasceu pelas mãos da administradora Luciana Martineli, de 30 anos, e do publicitário Antonio Lino, 27. Atuando na área social desde a adolescência, Luciana criou o Instituto Pró-Ação pela Cidadania Jovem ainda na faculdade. O trabalho ultrapassou os limites da universidade ao desenvolver projetos em escolas particulares públicas e privadas no Rio de Janeiro, São Paulo e Santos. Mas Luciana sentia ser preciso ir mais longe. Antonio, por sua vez, participou de trabalhos voluntários na faculdade. Com o correr do tempo, um grupo de alunos e professores começou a discutir a carência do terceiro setor na área de comunicação e marketing. Antonio criou então a ONG Marco 3. Logo percebeu que as instituições precisavam mais do que logotipos ou identificação visual. Careciam de projetos de gestão para serem mais eficientes.
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COM NOME DE BRISA DO NORDESTE, A AGÊNCIA ARACATI INVESTE NA MOBILIZAÇÃO JUVENIL EM TODO O PAÍS
COM FLEXIBILIDADE PARA EVOLUIR, A ARACATI NÃO SE LIMITOU AOS PROJETOS DE SUCESSO, MAS DESENVOLVEU PONTOS FORTES E BUSCOU NOVOS DESAFIOS Compromisso com a mudança Luciana e Antonio se cruzaram quando a Marco 3 criou o logotipo da Pró-Ação. Ao discutir suas inquietações, descobriram que comungavam os mesmos valores. Em 2001, da união das duas entidades surgia a Aracati, para desenvolver uma cultura de participação juvenil no Brasil, por meio de projetos de educação e comunicação. “A mobilização abre a visão de mundo dos jovens, levando-os a assumir um compromisso com a transformação, o primeiro passo para superar o enorme fosso criado pela desigualdade”, diz Luciana. Um dos maiores projetos da Aracati foi a Gincana da Cidadania, em 2001 e 2002. Realizada em 23 escolas públicas e particulares de ensino médio de Santos, no litoral paulista, envolveu diretamente 300 jovens, além de pais, educadores, jornalistas, representantes do poder público e de cerca de 80 organizações locais. “A Gincana mudou a visão de mundo de seus participantes”, diz Antonio. “A descoberta de seus direitos e dos valores democráticos foi extremamente positiva porque ocorreu em um momento importante da formação da moçada.” Daniel Sena, 21 anos e aluno da faculdade de Relações Públicas, concorda. Envolvido desde os 15 anos com o grêmio estudantil da escola pública onde estudava, participou ativamente da Gincana. Agora se desdobra entre o curso universitário, um trabalho de meio período e a elaboração do “Fala Aí!”, um jornal de oito páginas feito por 20 jovens, sob a supervisão de educadores, para divulgar opiniões,
idéias, ações e necessidades da juventude santista, outro projeto da Aracati. O primeiro número foi lançado em maio. “Discutimos temas como o desemprego juvenil na Baixada Santista”, diz Daniel. Para ele, o jornal é uma forma de ampliar e envolver outras pessoas no debate de vários problemas. “Os jovens se acomodam por desconhecerem a importância da participação, por não estarem acostumados a questionar e por falta de informações sobre seus direitos”, diz. Reconhecida em 2002 pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como uma das quatro melhores práticas de voluntariado juvenil da América Latina e Caribe, a Gincana rendeu outros frutos. Levou a Secretaria de Ação Comunitária e Cidadania de Santos a criar a Comissão Municipal de Juventude, na qual governo e sociedade civil discutem políticas para a moçada. Com isso, foram criados dois Centros da Juventude, onde são desenvolvidas várias atividades, incluindo a formação de educadores juvenis. Tecido social A Aracati não se fixou na reprodução da Gincana, somente porque era um projeto de sucesso, mas investiu nos seus frutos. A preparação dos educadores, que ajudam a multiplicar a cultura de mobilização, tornou-se um de seus pontos fortes. A entidade desenvolveu técnicas de apoio para realizar esse trabalho. Uma delas é a confecção
Nono ono onono onono oonono ononoo onono onono oonono onono oononono onoonono nonono no onono onono onono oonono ononoo onono oononoo
Nono ono onono onono oonono ononoo onono onono oonono onono oononono onoonono nonono no onono onono onono oonono ononoo onono oononoo onono oonnoo onono no onono onono onono ononoo onono oononono oonono ononoono no ononononon
SOBRE
Neide Duarte conta sua experiência: “Durante um encontro com as oito organizações, em Brasília, no ano passado, fiquei impressionada com a segurança e a forma quase imperceptível com que os coordenadores da Aracati dirigem os trabalhos, criando um ambiente de inteira liberdade, sem perder de vista os objetivos”, diz. “E a postura, o nível de informação, a formação política e as idéias desses jovens são absolutamente surpreendentes.” Neide conta como muitos deles, provenientes da zona rural, conseguiram criar e gerir pequenos negócios, com assessoria e doação de pequenas quantias – de R$ 400 a R$ 500. “Rapazes e moças, até então sem nenhum horizonte, agora se consideram pequenos empresários. Não pensam mais em abandonar suas cidades. Querem ficar, crescer e ajudar outras pessoas.” Os 5 mil exemplares da primeira edição do livro lançado em maio estão sendo distribuídos gratuitamente para
PARA SABER MAIS
da colcha de retalhos, uma de suas “marcas registradas”. Nos encontros, os participantes recebem um pedaço de tecido, linha, agulha, aviamentos. Cada um conta sua história de vida a seu grupo. Ao longo do encontro, vão “bordando” essas histórias em seus respectivos retalhos. No fim, todos são emendados, formando uma enorme colcha, simbolizando a possibilidades de criar realidades novas e melhores. Para este ano, o trabalho de educação da Aracati deve assumir uma dimensão mais claramente política, com questionamentos sobre itens como democracia, direitos dos cidadãos, papel das instituições públicas, na certeza de que somente mudanças estruturais podem levar a resultados mais tangíveis na luta contra a desigualdade social. A entidade também vai suprir o que considera uma lacuna da mídia nacional, lançando um livro e um vídeo para mostrar como a mobilização juvenil está mudando a realidade brasileira. O livro “Frutos do Brasil”, escrito pela jornalista Neide Duarte, repórter da Rede Globo, com prefácio do colombiano Bernardo Toro, intelectual com experiência internacional no desenvolvimento de projetos de comunicação e mobilização social, mostra a história de oito entidades brasileiras e de alguns de seus integrantes. Elas foram escolhidas – entre as 132 que se apresentaram em uma “consulta pública” realizada pela internet – por traduzirem a complexidade das organizações juvenis brasileiras. As visitas às ONGs renderam mais de 100 horas de depoimentos e imagens.
organizações sociais, escolas, grupos juvenis, gestores, institutos e empresas, como forma de incentivá-los a incluir a participação juvenil em suas pautas. O material colhido vai gerar ainda um vídeo-documentário, também produzido por Neide Duarte, com lançamento previsto para o segundo semestre. Ele será veiculado em escolas e espaços comunitários com a intenção de fazer com que outros jovens possam se reconhecer nas experiências apresentadas, estimulando-os a participar dos movimentos de mobilização. Como a brisa do Ceará, a Aracati pretende continuar tirando as pessoas de casa para construir um país mais justo e mais democrático.
ARACATI – AGÊNCIA DE MOBILIZAÇÃO SOCIAL ÁREA DE ATUAÇÃO NACIONAL. PROPOSTA Contribuir para o desenvolvimento de uma cultura de participação juvenil no país. JOVENS ATENDIDOS 400. APOIO FUNDAÇÃO KELLOGG, INSTITUTO C&A DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL E ASHOKA. CONTATO Rua Mourato Coelho, 460 – CEPXXXXX-XXX – Pinheiros – São Paulo (SP) – Tel.: 11/3031-1133 – E-mail: contato@aracati.org.br.
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horizonte global Embora enfrentem desafios muito grandes, como a pobreza e o alto desemprego, os jovens são os maiores agentes de mudanças sociais na América Latina e mais dispostos que qualquer outro segmento social a se comprometer com causas nobres. A opinião é do argentino Fabian Koss, especialista em relações públicas internacionais e responsável pela coordenação do BID Juventude – área do Banco Interamericano de Desenvolvimento que cuida dos investimentos relativos ao segmento jovem na América Latina e Caribe. Na Reunião de Governadores realizada em abril, em Belo Horizonte, o banco anunciou, entre outras iniciativas, a criação do Fundo da Juventude para Inovação e Ação Social. Do seu posto, que lhe dá uma visão abrangente das condições da juventude em todo o continente, Koss vê uma crescente integração entre os jovens latino-americanos e uma maior consciência do papel crítico que eles têm na criação de economias sustentáveis e de uma maior igualdade social na região. Leia, a seguir, os principais trechos de sua entrevista.
PARA FABIAN KOSS, RESPONSÁVEL PELO BID JUVENTUDE, OS JOVENS LATINO-AMERICANOS TÊM UMA FUNÇÃO ESSENCIAL NA TRANSFORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO CONTINENTE
AGENTES DE TRANSFORMAÇÃO Por _ Annette Schwartsman Ilustração _ Adriano Marinho da Silva, Bruno César Cerqueira, Vinícius Barreto Barbosa
Quais são os maiores obstáculos à participação social da juventude no continente? Como em outras partes do mundo, o desemprego juvenil continua sendo um problema urgente e cada vez mais grave. Os jovens desempregados mostram uma maior propensão para se envolver em comportamentos de alto risco, como o abuso de drogas. A falta de informação e a falta de tecnologia são outros grandes desafios.
Onda Jovem: Como o sr. vê a situação da juventude na América do Sul? Fabian: Há uma representação espetacular dos jovens na América do Sul. Mais de 40% da população da América Latina e do Caribe tem menos de 30 anos de idade. O modo pelo qual as novas gerações crescem e se desenvolvem hoje em dia tem importantes implicações sobre as economias, as sociedades, o meio ambiente e os governos. Os jovens têm um papel crítico no desenvolvimento desses países, no sentido de criar economias sustentáveis e uma maior igualdade social. Por outro lado, enfrentam desafios muito grandes: muitos vivem em situação de extrema pobreza e representam quase metade dos trabalhadores desempregados.
E como se dá a participação social da juventude latinoamericana? Os jovens sabem melhor do que ninguém das necessidades da juventude. Há muitas diferenças entre os países, mas também há um grande movimento de integração, para compartilhar melhor as práticas, êxitos e desafios em projetos de desenvolvimento comunitário. E os progressos tecnológicos têm permitido compartilhar idéias e colaborar de uma forma que não era possível antes. Os jovens latino-americanos são os maiores agentes de mudanças sociais. Mais do que qualquer outro setor social, eles têm uma disposição enorme para se comprometerem com causas nobres.
E como o BID investe na juventude? Desde 2001, o BID, por intermédio do Fundo Multilateral de Investimentos (Fumin) e da Fundação Internacional para a Juventude (IYF), vem implementando o Programa Entra 21, que prepara jovens para os empregos da nova economia. São 35 projetos em 18 países, incluindo o Brasil. Apoiamos também um projeto que usa o futebol para melhorar as perspectivas de emprego de jovens do Brasil, do Equador e do Uruguai. Já o Fundo da Juventude para Inovação e Ação Social, em parceria com a Microsoft, vai fornecer financiamento direto não-reembolsável para apoiar negócios, empreendimentos sociais e projetos de tecnologia. E vamos lançar, neste semestre, uma campanha para promover a participação de jovens em processos democráticos e de desenvolvimento econômico e social, propiciando uma plataforma para que eles expressem suas opiniões e ofereçam soluções para os problemas sociais que os afligem. Serão pequenas narrativas veiculadas pela MTV da América Latina e pela BID America TV, além do site do BID Juventude (www.iadb.org/exr/mandates/youth/Brownbaglunch2.htm). Como o sr acha que a participação social da juventude pode contribuir para transformar a realidade da América Latina? Os jovens líderes têm interesse no desenvolvimento social e econômico de suas comunidades, países e a regiões. A participação ativa deles é fundamental no processo de desenvolvimento, pois eles são os verdadeiros agentes das mudanças.
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SEXTANTE
CRISE DE GERAÇÕES A forma como as sociedades incorporam as novas gerações tem a ver, também, com as relações de poder entre gerações adultas e jovens: a participação juvenil não resulta somente de um encontro feliz entre a vontade de participar dos jovens (o que nos remete às suas percepções individuais sobre custos e benefícios) e as oportunidades que lhes são abertas para fazê-lo, mas também de um complexo sistema de hábitos, regras, regulamentos, instituições e práticas destinadas a negociar os conflitos da reprodução das gerações. Isso nos remete a um aspecto fundamental da participação da juventude: a sua relação com a mudança social. A cultura muda quando muda o sujeito que é construído nela. Portanto, é relevante analisar a dimensão subjetiva da participação do jovem relacionando-a à questão das gerações.
José Miguel Abad é psicólogo, especialista em Economia do Trabalho. Argentino, é consultor em políticas públicas de juventude em vários países da América Latina, e autor de artigos e livros sobre o tema.
Por _ José Miguel Abad G.
Um presente de grego Assim como a infância parece ser definida pelo futuro, a idade adulta pelo presente e a velhice pelo passado, as idades sociais da adolescência e da juventude se confundem na tensão entre o que se deixa de ser e o que ainda não se chegou a ser. Este caráter liminar é acentuado pela ambigüidade da moratória social que caracteriza a fase juvenil, que consiste no adiamento das “responsabilidades adultas” com a condição de adquirir habilidade para “ganhar a vida” e livrar-se da dependência das instituições de amparo na infância – a família e a escola. A ambigüidade de que falamos se evidencia em dois casos que cobrem a grande maioria da juventude: temos, por um lado, os jovens que são forçados a procurar trabalho, intercalando empregos de baixa qualidade com períodos, cada vez mais abundantes, de desocupação. A moratória juvenil, para eles, é um tempo vazio, não legitimado nem valorizado socialmente, de impotência, raiva e estigmatização, que muitas vezes os empurra para a marginalidade; no outro, os jovens da classe média, que, embora ainda possam adiar o ingresso no mercado de trabalho, têm sua moratória transformada em uma espera mortificada, devido à ausência de um destino economicamente garantido. Tanto para uns como para outros, a moratória juvenil é um “presente de grego”. Na medida em que “curtem” a opção de não serem “obrigados” a participar do mercado de trabalho por suas atribuições sociais, os jovens
devem também aceitar um “encaixe” marginal e de substituição na força de trabalho. É uma situação que diminui suas oportunidades de participação política e de lutar para melhorar as suas condições de vida, o que leva à debilidade de sua posição para uma ter uma estratégia de ação política perante as “velhas gerações” e outros grupos sociais de interesse. Formas próprias A especificidade da participação dos jovens é determinada pela posição deles na estrutura social e na sua relação com as gerações adultas. Inseridos em uma e submetidos à outra, a sua participação adota canais de expressão, formas de ação e objetivos próprios que se ajustam à precariedade de suas bases materiais para desenvolver uma posição autônoma, às suas limitações para atuar organicamente, e ao caráter dependente, suplementar e periférico de sua posição social. De fato, a participação da juventude tende a se incorporar a um ou outro projeto político – conservador ou progressista –, segundo o signo da mudança social. De todo modo, geralmente é bastante fácil aproveitar a sua debilidade corporativa para falar em nome deles, além de ser “politicamente correto” usar a pegada jovem no sentido capitalista-mercantil de tudo o que representa a “mudança”,
A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA JUVENIL PROVOCA MUDANÇAS CULTURAIS QUE EXPÕEM TAMBÉM CONFLITOS DE IDADES
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a “novidade” e o “diferente”, mesmo se referindo às propostas mais reacionárias. Vem daí que a participação dos jovens esteja forçosamente confinada – em situações “normais” – à interação solidária de um pequeno grupo juvenil e à atuação em guetos de consumo, idealizando uma certa virtude comunitária que os convoca a se organizar, mobilizar e exibir publicamente como “jovens”. Deste
modo, a participação juvenil circula ao redor do reduzido espaço dos “objetivos” e das “atividades” dos projetos institucionais, com um enfoque psíquico-social mais do que político, dirigido a “solucionar” os problemas mais imediatos e próximos, e não à análise crítica das relações sociais que determinam o alcance e o conteúdo desta participação. Ruptura de gerações Mas a participação dos jovens pode ser entendida além das determinações estruturalistas e das “escolhas racionais” dos líderes juvenis? O que ocorre quando a dinâmica da transição definida pela relação de forças entre as gerações é alterada? Nessas circunstâncias, as novas gerações devem provocar rupturas com os valores e estilos de vida das gerações anteriores, ou sucumbir a elas.
Nessa medida, a participação do jovem adota um caráter autoeducativo, e ele é forçado a tomar em suas próprias mãos a transição de sua geração para poder ocupar o lugar da geração anterior – sem que isso represente forçosamente uma mudança nas instituições político-jurídicas nem nas relações econômicas da sociedade. E é essa “falha” na reprodução das gerações que produz, paradoxalmente, a transformação do sujeito “educado” em “educador”.
Este ensaio é um extrato do texto original, disponível no site ondajovem.com.br.
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PARTICIPAÇÃO E ESCOLA
ALUNOS DA DEMOCRACIA Ao considerarmos que a escola é um dos principais locus de formação da cidadania e tem como função principal a socialização dos conhecimentos historicamente acumulados e a construção de saberes escolares, é importante destacar que compreendemos a cidadania na perspectiva democrática, ou seja, a que contribui e deve assegurar aos cidadãos o exercício dos direitos à liberdade e à igualdade de acesso aos bens sociais e ao desenvolvimento. Uma das questões que se colocam para os educadores, e em especial para os que trabalham com juventude, é que a escola tem a tarefa de garantir o acesso e a permanência dos jovens e, portanto, deve ser vista como espaço de construção do conhecimento e de socialização de práticas sociais. Para isso, é imprescindível reavaliar a finalidade da educação, seus objetivos e o papel social da escola, para que esta possa responder às novas exigências que emergem na sociedade, em especial as questões referentes à formação dos jovens na perspectiva do respeito aos direitos humanos e da formação da cidadania democrática. Compreender o papel da escola nessa direção é entender que a formação da cidadania é prática de vida em todas as instâncias de convívio social dos indivíduos: na família, na escola, no trabalho, na comunidade,
Por _ Aida Maria Monteiro Silva
na igreja e no conjunto da sociedade. É trabalhar, em todos os níveis e modalidades de ensino, com a formação de hábitos, atitudes e mudanças de mentalidades, calcada nos valores da solidariedade, da justiça e do respeito ao outro. É o que Maria Victoria Benevides, da Universidade de São Paulo, denomina de cidadania ativa, a que possibilita ao ser humano não apenas conhecer os seus direitos, mas motivá-lo a criar oportunidades para exercê-la e materializá-la. Nesse sentido, a escola é um local singular, uma vez que trabalha com a socialização dos diversos tipos de conhecimentos, com valores e atitudes. Essa escola é o que o sociólogo francês Alain Touraine denomina de escola democratizante, ou seja, é a que assume o compromisso de capacitar os indivíduos para serem atores, ensina a respeitar a liberdade do outro, os direitos individuais, a defesa dos interesses sociais e os valores culturais. À escola democratizante é associada à idéia de escola da comunicação e, por isso, deve priorizar na formação do aluno a capacidade de expressão, de compreender as mensagens escritas ou orais. É necessário trabalhar
Aida Maria Monteiro Silva é coordenadora do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco, Coordenadora do Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos da Secretaria Especial de Direitos Humanos
O ESPAÇO DA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO É TAMBÉM O DO EXERCÍCIO DAS PRÁTICAS SOCIAIS E UMA DE SUAS EXIGÊNCIAS É A FORMAÇÃO DE JOVENS CIDADÃOS DEMOCRÁTICOS, OBSERVADORES DOS DIREITOS HUMANOS 31
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A ESCOLA DEMOCRATIZANTE CAPACITA INDIVÍDUOS PARA SEREM ATORES, QUE RESPEITAM A LIBERDADE DO OUTRO, OS DIREITOS INDIVIDUAIS, OS INTERESSES SOCIAIS E OS VALORES CULTURAIS
“Durante muito tempo, houve uma cultura de que os movimentos estudantis, como os grêmios, atrapalhavam as atividades da escola. Hoje essa idéia está superada. Ainda existem algumas queixas e repressão, mas muito pouco. A maioria das escolas apóia a formação de grêmios, o que favorece o interesse do estudante em participar mais, se organizar para reivindicar algo. Isso aproxima o estudante da política. Ele percebe que organizado tem maior poder de mobilização e de ação. Mas a escola poderia dar mais espaço para as organizações estudantis, pois isso aumentaria a mobilização e a união dos estudantes para fazer trabalhos conjuntos com os grêmios, os professores, a direção da escola. Pois a nossa luta principal é por um ensino público de maior qualidade. Se a escola fosse mais valorizada, o estudante teria maior auto-estima e seria mais participativo. A escola desvalorizada desmobiliza o estudante.”
DAVILYM DOURADO
o diálogo, ensinando ao aluno a argumentar, analisar discursos e mensagens e principalmente a manejar a língua como instrumento de emancipação e autonomia. E, ainda, a escola deve ensinar a ler os meios de comunicação de massa, especialmente a televisão, que veicula mensagens descontextualizadas. É importante, ainda, que a escola trabalhe com o aluno o respeito à cultura do outro, às diferenças, em termos de necessidades, opções e características dos sujeitos. E que a escola possibilite aos jovens serem autores e atores do projeto pedagógico e do projeto de sociedade, trazendo para o seu interior o debate sobre temas da atualidade ligados diretamente à vivência da
GABRIEL ALVES, 20 ANOS,
é presidente da UMES – União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo
formação dos jovens, como política e responsabilidade social com o voto, a sexualidade, as drogas e os seus efeitos, convivência social, entre outros. A escola, nessa direção, deve priorizar metodologias em que o jovem possa ter o cotidiano como objeto de estudo, em que desenvolva práticas dialógicas e interativas sobre a realidade em que ele se encontra, buscando não apenas compreendê-la, mas procurando as diferentes formas de modificá-la. É preciso instituir no ambiente escolar práticas docentes que respeitem o jovem como sujeito de direitos, que ajudem o aluno na sua auto-estima e no respeito ao outro, como sujeito coletivo. A prática escolar e as vivências pedagógicas devem privilegiar as diferentes linguagens como formas de expressão: a literária, a musical, a teatral, a plástica, a telemídia e a informática, para que o jovem possa perceber uma relação e uma motivação mais direta entre os conteúdos curriculares e as vivências do seu cotidiano. O aluno nesse processo é o agente ativo e produtor do seu conhecimento; o professor, o mediador entre o aluno e o conhecimento historicamente sistematizado, e a escola, local de exercício permanente da cidadania. A formação cidadã Se entendermos que a escola é um dos principais locus de formação da cidadania e tem como função principal a socialização dos conhecimentos historicamente acumulados e a construção de saberes escolares, como as práticas e os saberes podem contribuir para essa formação?
Ao tomarmos como referências resultados de pesquisas realizadas por nós em escolas públicas de Pernambuco (no estudo “Escola Pública e a Construção da Cidadania: Limites e Possibilidades”), em relação ao trabalho pedagógico da escola e a sua relação com a formação da cidadania, consideramos o trabalho pedagógico como o que engloba os elementos constituintes da ação educativa e do fazer docente, que se concretizam no espaço escolar, especialmente, na sala de aula. Assim, focalizamos a seguinte questão: É possível desenvolver na escola pública um projeto pedagógico na perspectiva da formação da cidadania? Algumas respostas podem indicar como é possível desenvolver um trabalho pedagógico nesta direção, conforme podemos observar nas falas dos professores. Um exemplo: “Com a minha prática eu pretendo dar a eles o máximo, explorando a realidade atual do nosso país, as relações humanas que nós deve-
mos ter. Isso é uma coisa muito importante. Os valores familiares, que a gente deve explorar, devem servir não só para aqueles conteúdos pedagógicos, mas também entrar na relação, na vivência dos alunos com os pais, com a família, como ele deve se comportar na vida. É uma aula mista, de tudo, porque é um campo de estudos sociais”. É possível observar que o professor direciona suas práticas à valorização das relações pessoais e familiares, e a preocupação de contextualizar os conteúdos curriculares é muito presente. Outros professores relatam dinâmicas diferenciadas. Um exemplo: “Eu trabalho muito com Português, compreensão e leitura de textos e da escrita a partir dos conteúdos de todas as matérias. A gente fez uma pesquisa em jornal, na comunidade e com textos. Depois os alunos montaram peças de teatro e apresentaram. Dessa forma eu acho que os alunos se interessam mais pelo assunto”. Nas diferentes práticas observadas é possível inferir que há intenção dos professores em desenvolver o ensino de forma mais prazerosa, lúdica e crítica, possibilitando ao aluno ser agente ativo da aprendizagem e construtor do seu conhecimento. Além disso, no conjunto das escolas havia experiências de trabalhos muito interessantes, com grupos de dança, música, teatro, cujo objetivo era melhorar a sociabilidade, a auto-estima, a aprendizagem do aluno e envolvê-los no projeto da escola.
No processo de análise da prática pedagógica, o que nos chamou a atenção foi o fato de que a escola é capaz de desenvolver práticas significativas que estimulam o respeito, a criatividade, a crítica, a autonomia, a participação e o diálogo. Assim, lutar pela construção de uma escola que contribua para a formação da cidadania dos jovens, no contexto de uma sociedade com tradições escravocrata, autoritária e clientelista tão arraigadas, é perceber que essa luta vai além da escola e deve permear o conjunto das instituições sociais, no sentido de romper com essa cultura e criar uma contracultura, calcada nos princípios democráticos de liberdade e de igualdade, nos valores republicanos do bem comum e do bem coletivo, com vistas à construção de uma sociedade baseada nos valores da solidariedade e justiça social. A construção da escola pública no contexto da sociedade brasileira parte inicialmente da contradição em que vive o seu povo: o Estado é regido por leis, normas, pactos avançados em termos de garantia dos direitos humanos, e o próprio Estado é agente violador dos direitos e se mantém distante da sua materialização. É essa contradição no regime democrático que permite avançar, respaldada nos instrumentos legais, a reivindicação dos direitos instituídos. Há, portanto, uma tensão que perpassa o conjunto das instituições sociais, o direito legitimamente assegurado e não materializado, em que a escola é palco onde se reproduzem essas violações, mas pode contribuir para combatê-las.
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PARTICIPAÇÃO E CONSTRUÇÃO
QUAIS DIREITOS? Helena Wendel Abramo é socióloga e foi coordenadora do Projeto Juventude. É consultora da Comissão de Juventude da Câmara Municipal de São Paulo e membro do Conselho Nacional da Juventude
A noção de que o jovem deve ser tomado como sujeito de direitos vem sendo cada vez mais acionada por aqueles que tomam a defesa dos jovens no Brasil. Esta afirmação ganha importância na medida em que busca deslocar a perspectiva, ainda dominante na opinião pública, do jovem como problema para si mesmo e para a sociedade, assim como a ótica que o toma apenas na sua dimensão de sujeito em preparação para o futuro. No Brasil, essa noção ganhou força e legitimidade por meio de uma importante e longa mobilização de diversos atores, no processo de luta contra a ditadura militar e seus efeitos mais perversos. Até então, a expressão legal existente, o Código de Menores, estava dirigido para as situações de desvio, configuradas pela vivência de situações de risco ou ações delinqüentes. O foco real desse arcabouço jurídico eram as
Por _ Helena Wendel Abramo
crianças e os adolescentes pertencentes a famílias pobres e “desestruturadas”, com uma compreensão de que essas situações conduziam potencialmente tais “menores” a uma conduta de desvio que era preciso controlar, reprimir e prevenir. Desse modo, acabava por operar uma perspectiva quase de criminalização das crianças pobres do país. Para se contrapor a uma crescente onda de repressão e violência contra tais “menores de idade”, foi desencadeado, nos últimos anos da ditadura militar, um movimento envolvendo uma série de atores (entre juristas, funcionários públicos, militantes de movimentos sociais e comunitários), demandando a defesa dos direitos destas crianças, para que passassem a ser tratados como sujeitos de direitos e não como elementos perigosos para a sociedade. Foi, desse modo, uma luta pela superação da ótica problematizadora da infância, que se afirmava também como uma luta contra a desigualdade no tratamento das crianças dos diferentes segmentos sociais.
A PERCEPÇÃO DO JOVEM COMO UM SUJEITO ESPECÍFICO AINDA ESTÁ EM CONSTRUÇÃO NO BRASIL E OS DEBATES SOBRE O TEMA PERMANECEM ABERTOS
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Essa mobilização logrou pautar a questão da infância e da adolescência na agenda pública, engendrou o desenvolvimento de políticas e programas, e resultou, no processo da elaboração da Constituinte, na criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, abarcando todos os aspectos da vida e criando uma verdadeira teia de proteção às crianças e aos adolescentes do país. O quanto conseguimos garantir estes direitos é uma questão ainda em aberto, mas não há dúvida de que foi operada uma importante mudança de postura com relação à infância no Brasil, e que é essa mudança de postura, e o vigor desta idéia sobre os direitos das crianças e adolescentes, que podem funcionar como força para a execução de políticas que garantam o cumprimento destes direitos. Nesse sentido, é preciso lembrar que a luta continua em curso, em torno da polêmica que tem polarizado a sociedade: a questão do limite de idade para a imputabilidade penal. Construção social Essa breve história mostra que os direitos são uma construção social e não um dado natural. Traduzem uma determinada concepção que, num dado momento, uma sociedade formula a respeito do que é justo, do
O RECONHECIMENTO DA JUVENTUDE COMO ETAPA DISTINTA DA INFÂNCIA E DA CONDIÇÃO ADULTA É RECENTE E EXIGE AÇÕES E POLÍTICAS QUE PRECISAM SER DEFINIDAS NO DEBATE SOCIAL que é digno, do que é essencial para a vida humana em sociedade. Por isso mesmo, são noções que traduzem visões distintas sobre o que é o humano e sobre como deve se organizar a vida social; e o seu estabelecimento como direitos reconhecidos se faz sempre por meio da disputa política. Na história da sociedade ocidental moderna, os direitos foram sendo conquistados por meio de lutas sociais: primeiro, os direitos cívicos; depois os direitos políticos e, somente na segunda metade do século passado, os direitos sociais, demandados pelas classes trabalhadoras na perspectiva de estabelecimento dos padrões de uma vida digna. Hoje, vivemos um período de expressão das demandas das diferentes subjetividades, ou dos “sujeitos singulares”: as mulheres, os negros, os deficientes físicos, os idosos. São situações de vida, atravessadas por vários planos de diferenças e desigualdades, que demandam o estabelecimento de regras e medidas sociais para serem incluídos na condição de cidadania. Nesse sentido é que surge, mais recentemente, a questão dos jovens, para além da adolescência, dos
15 aos 24 ou dos 18 aos 29 anos (as faixas etárias variam segundo diferentes postulações), a partir da constatação da existência de uma condição juvenil que se diferencia da infância, por um lado, e da condição adulta, por outro. Um período que se alonga bastante e não se constitui mais numa breve passagem, mas em toda uma etapa da vida, com necessidades e demandas específicas. Por muito tempo “invisíveis” e sem interlocutores públicos, na última década muitos atores juvenis vieram se manifestar (muitas vezes por meio de uma linguagem mais cultural que propriamente política) a respeito das questões que os afetam nesta conjuntura de virada de século, e que não estão sendo respondidas nem pelas soluções desenvolvidas para a infância e adolescência, nem
e do Conselho Nacional de Juventude; no legislativo, a criação de comissões, como a da Câmara Municipal de São Paulo, em 2001, e as da Câmara Federal, a partir de 2003, que já produziram vários projetos de lei, em tramitação, inclusive. Todos esses processos têm resultado na formulação de uma pauta de políticas específicas dirigidas a jovens, diferentes das dirigidas às crianças, cujas diretrizes, porém, ainda estão em debate. Poderíamos dizer que estamos no momento da enunciação dos direitos dos jovens, ou seja, em pleno estágio da definição, invenção e disputa do que venham a ser tais direitos. BEATRIZ ASSUMPÇÃO
pelos serviços estruturados para a população adulta. Tais questões se relacionam a necessidades ligadas a diversas dimensões de suas vidas e são, politicamente, “novas”, sob a ótica desta especificidade, ou seja, não constam ainda do repertório das soluções já testadas e estruturadas. Além da reivindicação do cumprimento do direito à educação – a uma educação para todos, completa e de qualidade – (que, na verdade, é o único direito reconhecido aos jovens, no plano retórico, pelo menos), os jovens têm expressado demandas por mecanismos de apoio e participação em várias outras áreas: trabalho, saúde, lazer, cultura, circulação pelo espaço público, política. Tomar os jovens como sujeito de direitos significa, portanto, em primeiro lugar, reconhecer a especificidade de sua condição e a singularidade da sua experiência geracional; significa também olhar suas demandas como relevantes e pertinentes ao debate público. Exige, como aconteceu no caso das crianças e adolescentes, que se vá além da ótica que apreende os jovens como risco ou problema social, assim como da perspectiva que os situa apenas como sujeitos voltados para o futuro, negligenciando a sua vida e necessidades no presente. Implica, necessariamente, incorporar a participação de seus interlocutores (aqueles que expressam esta experiência e condição singular) nas disputas que definem as formulações sobre os direitos e sobre as políticas. Ou seja, significa abrir um debate público democrático sobre tal pauta de demandas e sobre o modo como podem e devem ser respondidas pelo estado e pela sociedade. Foi apenas muito recentemente que a questão da juventude entrou para a pauta política e ganhou canais institucionais de resolução, que se materializam na criação de mecanismos institucionais e canais públicos de diálogo: no plano do executivo, além da criação de uma série de secretarias ou coordenadorias municipais, a criação, em 2005, da Secretaria Nacional de Juventude
MAFOANE ODARA POLI SANTOS, 25 ANOS,
integrante do Programa de Juventude do Ceert – Centro de Estudos da Relação do Trabalho e da Desigualdade
Um dos projetos de lei propostos pela Frente Parlamentar da Câmara Federal é a proposta de um Estatuto da Juventude, tendo como referência a faixa etária entre 15 e 29 anos. No entanto, se cada vez mais ganha clareza a idéia de que é necessário ter ações e políticas específicas para responder às questões singulares vividas pelos jovens, que os seus direitos devem, assim, ser expressos e garantidos por meio de políticas públicas, não é tão claro se devem ser definidas num estatuto jurídico. Este é um debate em aberto e, com certeza, sua resolução será tanto mais significativa quanto maior número de atores, principalmente os jovens, entrarem e se posicionarem a esse respeito. “Um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento e ao reconhecimento da juventude como um segmento que tem a contribuir com a sociedade são os mitos, por exemplo, de que o jovem é um revoltado, inconseqüente, irresponsável. Os mitos impedem perceber o jovem como um interlocutor confiável. Outro obstáculo é a falta de investimento em canais para a sua organização. Por isso os jovens precisam de formação e informação, para que possam intervir de forma mais qualificada, para se colocarem de fato como sujeitos de direitos. Trata-se de um processo de empoderamento a partir do conhecimento. Em busca disso, como participante do Ceert, que trabalha com relações raciais e de gênero, atuo em vários espaços. Na universidade, lutamos pela promoção de ações afirmativas, como as cotas. Na área da saúde, procuramos mostrar aos jovens que a ausência de doença não define a vida saudável, que eles estão sujeitos a outras violências que interferem na sua qualidade de vida. No mercado de trabalho, buscamos a qualificação e, dentro das empresas, defendemos cotas de progressão nos planos de carreira. É assim que batalhamos pela visibilidade da juventude, em especial da juventude negra.”
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A JUVENTUDE É AO MESMO TEMPO O GRUPO COM A MAIOR DISPOSIÇÃO PARA A AÇÃO POLÍTICA E TAMBÉM O MENOS MOTIVADO A FAZÊ-LO NOS ESPAÇOS CONVENCIONAIS
PARTICIPAÇÃO E DESENCANTO
A CRISE NA TRADIÇÃO
Por _ Paulo Carrano
Pesquisas recentes revelaram traços significativos sobre o relacionamento dos jovens brasileiros com a “política”. Em 2003, a pesquisa de opinião encomendada pelo Observatório da Educação da ONG Ação Educativa procurou conhecer a participação dos cidadãos brasileiros nas instâncias e mecanismos de elaboração, monitoramento e avaliação de políticas públicas. Chamou a atenção o fato de a maioria dos entrevistados (56%) não desejar participar das práticas capazes de influenciar nas políticas públicas. Daqueles que “desejam participar”,
destacaram-se os jovens mais escolarizados e as pessoas de maior renda. Um número expressivo de pessoas revelou desmotivação em participar por falta de informação (35%); neste grupo destacam-se os mais jovens, entre 16 e 24 anos, os menos escolarizados e os de menor renda. Há consenso entre diferentes pesquisas que o aumento da idade provoca a diminuição do interesse ou disponibilidade para a participação. Neste sentido, o período de idade compreendido entre 15 e 20 anos é decisivo para o fortalecimento de práticas e princípios de participação
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democrática. Sem dúvida, as instituições e coletivos juvenis já mobilizados precisam estar atentos a este indício revelado pelas pesquisas e, assim, criar estratégias para que esse período vital da juventude seja potencializado. Em conjunto com tal campo potencial de participação entre os mais jovens, há a evidência de que faltam informações que viabilizem a própria participação "A democracia é um grande exercício e temos de buscar sempre novos caminhos para exercê-la. Penso nisso diante do desencanto que o jovem, em geral, sente em relação ao quadro político atual. Ele precisa encontrar novas formas de participação e estamos vendo isso acontecer com a formação de vários grupos associativos juvenis, que se agrupam por conta de uma causa ambiental, em torno de um movimento artístico ou por causa de uma questão específica de sua comunidade. Isso é bom, mas falta incorporar a esses grupos a discussão política e, com isso, abrir mais portas para a representação juvenil no cenário político nacional. Só assim os jovens poderão ter mais poder de intervenção nas políticas públicas. É assim que se fomenta a democracia. É preciso resgatar entre os jovens a idéia de que viver em sociedade é fazer política, porque estar em sociedade é estar no coletivo e zelar pela comunidade. Desde os 15 anos participo de movimentos, primeiro com a questão ambiental, depois em um movimento cultural e também participei da discussão do orçamento da prefeitura da minha cidade. Procuro afirmar minha participação na sociedade assim. Estou sempre buscando brechas para intervir. Essa é a estratégia para se ter uma sociedade melhor."
BRUNO TADEU GARCIA
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e também pessimismo ante as reais possibilidades de interferir em processos decisórios. Na pesquisa Perfil da Juventude Brasileira, do Instituto Cidadania, realizada em 2003, a maioria dos entrevistados (54%) concordou com a afirmação de que a política é algo muito importante, contra 11% que disseram que a política é nada importante. O reconhecimento da importância da política não significa, contudo, que os jovens não sejam críticos aos operadores da política institucional. Nesta pesquisa: 64% dos jovens entrevistados “não confiavam” em deputados e senadores do Congresso Nacional, 65% “não confiavam” nos partidos políticos, 61% “não confiavam” em vereadores da sua cidade, 55% “não confiavam” no governo federal. Não seria preciso muito esforço para reconhecer que, considerando a sucessão de episódios de corrupção envolvendo “políticos” a partir do ano de 2005, a desconfiança nessas instituições e sujeitos tenderia a aumentar significativamente caso a pesquisa fosse atualizada.
JULIA FORLANI, 22 ANOS,
integrante do Movimento Jovem pela Democracia (www.ymd.youthlink.org)
A recente pesquisa Juventude Brasileira e Democracia (Ibase/Pólis, 2005) entrevistou jovens de sete regiões metropolitanas e do Distrito Federal. Dos participantes, 28,1% faziam parte de algum tipo de grupo – esfera pública básica e voluntária, cuja existência evidencia certo potencial de participação associativa. A pesquisa confirmou o resultado de outros estudos que apontam que os grupos de orientação religiosa, esportiva e artística constituem o substrato do associativismo juvenil no Brasil de hoje. Na pesquisa, a participação político-partidária aparece como sendo pouco atrativa, em especial, para os jovens mais pobres e menos escolarizados. O envolvimento de jovens em movimentos de melhorias voltados ao bairro ou à cidade atingiu 18,5% das respostas. Um dos problemas sentidos no debate sobre a participação juvenil se refere aos poucos estudos que possibilitem correlacionar o comportamento dos jovens ao conjunto da população. O senso comum que intui que haveria uma menor disposição participativa entre os jovens muitas vezes deixa de considerar que a “crise de envolvimento e participação” é generalizada na sociedade. A realização da mesma indagação para o conjunto da população seria extremamente interessante para se perceber se os jovens partici-
É preciso evitar a associação mecânica entre as reivindicações dos jovens por direitos e uma busca deles por participação em órgãos relacionados com as políticas públicas
PESQUISAS INDICAM QUE, ENTRE OS JOVENS, FALTAM INFORMAÇÕES PARA A PARTICIPAÇÃO E HÁ PESSIMISMO SOBRE AS CHANCES DE INTERFERÊNCIA NAS DECISÕES pam mais ou menos da vida social e comunitária se comparados com os adultos. A pesquisa Ibase/Pólis aponta que o número de jovens que já participaram em diferentes entidades e organizações é maior que o número de jovens que participam atualmente, o que caracteriza uma deserção participativa que pode estar apontando para a perda de interesse e confiabilidade nessas organizações. As citadas investigações e tantas outras desvelam fenômenos sociais e políticos importantes e provocam a necessidade de novos estudos sobre a participação juvenil. Novos contextos, sentidos de mobilização e entraves materiais e simbólicos à participação nos cobram a ampliação e o aprofundamento das análises. Há a emergência de diferentes coletivos de participação que se orientam para o simbólico, o cultural, o corpóreo e as demandas do cotidiano que reconfiguram o campo da participação que não se reduz aos espaços clássicos de participação juvenil, notadamente os partidos e os movimentos estudantis. Há também uma ampla maioria de jovens de todas as faixas de idade que se encontram às margens de qualquer tipo de envolvimento associativo ou processo de mobilização social. Políticas públicas de juventude O adensamento do campo das políticas públicas de juventude que presenciamos hoje é decorrência de induções de governos, de agências
internacionais e da busca de respostas a processos sociais como a violência que envolve sobretudo os jovens, simultaneamente vítimas e vitimizadores. Contudo, há também a movimentação dos próprios atores jovens que inseriram suas demandas por direitos, notadamente no âmbito das cidades a partir da segunda metade dos anos 90. Exemplo disso é a luta pelo passe livre e a meia passagem para os estudantes nos ônibus e a visibilidade que a temática da periferia e da juventude negra ganhou a partir das vozes de diferentes atores. Os órgãos de juventude criados pelos municípios, estados e governo federal vivem a tensão entre responder às pressões conservadoras pelo controle social do tempo juvenil e desenvolver políticas emancipatórias que contribuam para que os jovens sejam sujeitos de seus próprios tempos, espaços e projetos de vida. Na história recente das políticas de juventude, os jovens têm sido convocados a participar na condição de assessores, conselheiros, representantes e clientela de projetos governamentais e socioeducativos, em espaços públicos dominantemente controlados por lógicas institucionais de governos, organizações e adultos, preconcebidas e configuradas em margens de restritas autonomias. Os jovens são desafiados a inventar espaços públicos de maior liberdade para o estabelecimento de agendas políticas forjadas a partir de seus próprios interesses. É preciso cuidar, contudo, para não associar mecanicamente as reivindicações dos jovens por direitos a uma busca desses por participação em órgãos relacionados com as políticas públicas. Os jovens querem satisfazer suas necessidades cotidianas e poder planejar o futuro mas não necessariamente participar de instâncias de decisão política tal como conselhos gestores e órgãos de governo. De modo geral, a maioria dos jovens percebe que não são muitas as oportunidades de participar em espaços de decisão e administração das políticas que interferem diretamente em suas vidas. É neste sentido que os jovens “mobilizados” em agremiações partidárias
se apresentam mais fortalecidos e adaptados para participar dos espaços de decisão política cujas lógicas e práticas de realização não diferem em muito daquelas existentes em suas agremiações. Os jovens que emergem hoje no cenário político por intermédio de diferentes organizações não partidárias (movimentos culturais, grupos religiosos ou esportivos, ONGs) percebem sinais e experimentam situações que os levam a concluir que suas forças são limitadas na arena pública dos espaços institucionalizados. Assim, é bastante animador perceber o surgimento de diferentes fóruns de participação não controlados por atores políticos tradicionais, no âmbito das cidades e também no plano nacional. O convívio entre diferentes lógicas e práticas de participação tem sido saudável para todos os sujeitos participantes e para as próprias esferas de participação. Os jovens brasileiros enfrentam o desafio de se reconhecerem como atores políticos e criarem participações que façam a diferença num quadro de mobilização popular ainda insuficiente e ação incipiente do Estado na resolução dos graves problemas que comprometem a própria condição de ser jovem no Brasil. Assim sendo, a participação que poderia fazer diferença e restabelecer a confiança nas instituições políticas no atual quadro de desigualdades seria aquela que abriria caminhos na agenda pública e apostaria na mobilização interpeladora da ineficiência do Estado, reivindicando políticas efetivas e democráticas, adequadas às necessidades dos jovens brasileiros.
Paulo Carrano é professor-adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense. Coordenador do Observatório Jovem do Rio de Janeiro/UFF, é membro do Conselho Nacional de Juventude.
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360º
PARTICIPAÇÃO E ATUALIDADE
O PULSO AINDA PULSA?
É lugar-comum ouvir entre adultos – pais, pensadores, pesquisadores, pedagogos, políticos – que a atual geração de jovens é indiferente à vida política de seu país. Adultos nascidos e criados no século 20, embalados politicamente por utopias revolucionárias de esquerda ou pelo conservadorismo de direita; críticos ou defensores radicais dos fundamentos da sociedade em que viviam; seguidores fiéis ou antagonistas infiéis dos adultos de seu tempo; rebeldes ou caretas. Jovens do século que passou, acostumados a aderir a um ou outro ideário social, político e religioso que tomavam como guias – de fora para dentro e do alto para
baixo – de suas formas de militância. Estariam demasiado presos à própria juventude quando tratam como indiferença as múltiplas escolhas dos jovens de hoje? O que sabemos com toda certeza é que o incerto século 21 exige novas formas de juventude, novas formas de ser cidadão. Se o mundo adulto não quiser tornar-se por sua vez indiferente à juventude de seu tempo terá que se dispor a manter o dedo – com firmeza e abertura – no pulso deste novo cidadão. O que pulsa na vida política da juventude? Desejam mudar o mundo? Estão à altura do mundo que desejam? Querem participar das
decisões sobre as questões que afetam suas vidas? Conhecem os caminhos da cidadania? Seus interesses e pontos de vista contam nos espaços onde vivem e convivem? Suas escolhas são individualistas ou solidárias? O que pesa na hora em que tomam decisões sobre o destino de seu país? Ninguém pode furtar aos jovens de hoje o direito de formular ao seu modo essas perguntas e ao seu modo buscar respondê-las.
Por _ Simone André
O APEGO ÀS VELHAS FÓRMULAS IMPEDE OS ADULTOS DE PERCEBEREM AS NOVAS FORMAS DE FAZER POLÍTICA DA JUVENTUDE
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Simone André é psicóloga e educadora. Coordenadora da Área de Juventude do Instituto Ayrton Senna. Membro da Cátedra Unesco de Educação e Desenvolvimento. Co-autora do livro "Educação para o Desenvolvimento Humano"
FRANCISCO CAMPOS
As políticas da vida É seguindo suas pegadas que podemos saber de que modo os jovens escolhem exercitar o poder de criar ou transformar a ordem social e reinventar o futuro que os espera. Há oito anos no Instituto Ayrton Senna, à frente dos programas sociais e educativos voltados para a juventude, ouço, acompanho e comemoro, com minha equipe, muitas das escolhas juvenis de participação social. Vale a pena, então, compartilhar aqui ao menos três dos caminhos apontados pelos jovens.
“Comecei a participar há poucos meses do curso de percussão do Grupo de Dança Afro-Malungos, de São Luís, Maranhão. Essa oportunidade está mudando a minha vida. Aprendo aqui, principalmente, a me afastar do que fazia antes, das coisas de adolescente rebelde que se envolve em confusão. Comecei a perceber a importância de pertencer a um grupo, de ter união, de respeitar o outro. Estou adquirindo consciência sobre mim mesmo e sobre a cultura maranhense. Isso me dá a sensação de ser visto, me faz sentir parte da comunidade. O aprendizado maior aqui é a arte da convivência. Isso é fundamental para mim e acho que para todos os brasileiros. Se todos aprendessem essa arte, os vários grupos sociais se respeitariam mais, teriam seus direitos mais assegurados, apareceriam mais como cidadãos. Na verdade, acho que estou aprendendo que a convivência é um valor da democracia. Por isso, acho que o governo deveria investir mais em espaços de convivência para os jovens. E usar as manifestações artísticas para isso é legal, porque interessa aos jovens. No futuro, quero montar meu grupo para passar todo esse aprendizado para outros caras como eu.”
JONATAS MORAES RODRIGUES, 17 ANOS,
integrante do Grupo de Dança Afro-Malungos, de São Luis (MA)
Em primeiro lugar, constatamos que sempre que lhes é oferecida a chance de escolher, os jovens recusam o rótulo que os identifica como problema social. Chamá-los de apáticos, alienados, consumistas, desinformados, narcisistas, individualistas, violentos e por aí a fora, em nada alimenta o sentido que vêem em seus atos cotidianos e os rumos que desejam para suas vidas. Eles são altamente sensíveis ao direito de serem vistos e tratados como parceiros e interlocutores das questões que afetam diretamente suas vidas e as vidas dos que os rodeiam. Eles querem ser parte da solução. Em segundo lugar, se a política dos políticos não lhes interessa mais, as políticas da vida calam profundamente em seus corações, mentes e mãos. Os chamados direitos de quarta geração, que, como nos ensina o educador Antonio Carlos Gomes da Costa, celebram os direitos à cultura, ao ambiente, ao desenvolvimento sustentável, à paz – acima e além do desenvolvimento econômico – estão no centro de suas preocupações mais imediatas e de suas buscas concretas de transformação. A arte é uma escolha clara para expressão de suas identidades e preocupações sociais. A marca registrada de suas formas de expressão artística não são mais a negação das tradições culturais ou a busca de ser vanguarda, mas sim o impulso de serem co-produtores da cultura de seu tempo, pela música, pela estética,
Se as gerações jovens estão dispostas a criar caminhos para reinventar suas vidas políticas e nosso futuro coletivo, as gerações adultas precisam comprometer-se em assegurar-lhes o direito ao exercício da liberdade de fazer escolhas
A política dos políticos pode não interessar tanto, mas as políticas da vida – como a paz, a auto-expressão, o empreendedorismo, o consumo consciente e a produção de informação – calam fundo nos corações, mente e mãos da juventude
pela comunicação, pelo pensamento próprios da juventude. A tão falada passividade dos jovens, por exemplo, se torna bastante questionável se pensamos na quantidade de informação emitida, produzida e editada por eles em blogs, fanzines, vídeos, sites de relacionamento etc. Seu interesse pelo meio ambiente vai, com freqüência, desde o simples desejo de cuidar dos jardins de suas escolas e das paredes de suas salas de aula até a preocupação com o bemestar coletivo e a sustentabilidade do planeta. A consciência crescente da ameaça do fim dos recursos naturais vem acompanhada pela noção de que o peso da mão de cada um de nós – adultos, jovens e crianças – faz toda a diferença na tarefa inadiável de deixar às próximas gerações um ambiente igual ou melhor ao que temos hoje.
Se eles são os mais expostos a todas as formas de violência, são eles também os primeiros a manifestar a disposição e a urgência de cultivar a paz, a não-violência, o respeito à diversidade das formas de ser e conviver. A segurança de cada um e do mundo é um de seus temores mais prementes e um dos fatores que mais os mobiliza a conhecer a si mesmos para se colocarem à altura do mundo que desejam construir. Do mesmo modo, o temor de que a face sombria da ordem econômica a que estamos submetidos comprometa o desenvolvimento humano e as chances de emprego para os jovens adultos, não obscurece a determinação com que cultivam uma nova atitude na reinvenção do mundo do trabalho (o auto-emprego, o cooperativismo, o empreendedorismo etc.). Além disso, os mais jovens parecem cada vez mais responsáveis pela emergência de novas formas de questionamento ao poderio ilimitado do mercado. Por exemplo, se o alerta de que é preciso não ser um alvo tão fácil à mídia publicitária (para poderem libertar-se da “liberdade de consumo”) não tem o efeito desejado junto aos jovens consumidores, o poder que estão descobrindo no consumo consciente já tem se mostrado ameaçador às grandes marcas. É crescente, ainda, a descoberta pelas gerações jovens de que a sustentabilidade política do nosso país e do planeta depende tão fundamentalmente dos políticos que elegemos quanto da política que praticamos no nosso cotidiano. Por uma vida política Em terceiro lugar, então, descobrimos que quando o mundo adulto – educadores, familiares e governantes – se dispõe a ultrapassar as inúmeras camadas de falta de oportunidades de participação democrática a que os brasileiros (pobres ou ricos, jovens ou adultos) foram submetidos, desde a invenção deste Brasil, encontra um jovem com sensibilidade social aguçada e com altíssima capacidade de agir concretamente para solucionar as questões que estão ao seu redor: na sua família, na sua escola, na comunidade. Estamos afirmando que não é somente pela força de inovação e transformação da juventude que se efetivará o direito desta de participar ativamente da construção da democracia assegurada pela Carta Magna de nosso país. É preciso mais que isso. Que o mundo adulto dê um voto de confiança decisivo aos jovens: a oportunidade verdadeira de sua participação nas decisões que afetam suas vidas e seu entorno social.
Se as gerações jovens estão dispostas a criar caminhos para reinventar suas vidas políticas e nosso futuro coletivo, as gerações adultas precisam comprometer-se em assegurar-lhes o direito ao exercício da liberdade de fazer escolhas – permitindo que decidam livremente, por exemplo, as formas de agrupar-se e cultivar seus interesses comuns; dando-lhes, durante suas vidas escolares, a chance de participar ativamente da criação das normas de convívio, dos rumos de seu processo educativo. Mais importante, ainda, para assegurar a sustentabilidade política da juventude, tendo como base a cooperação intergeracional, é estimulá-la a assumir, cada vez mais, sua parcela de poder e responsabilidade na construção do bem-comum. Essa co-responsabilidade sobre o coletivo só se concretiza efetivamente se além do desejo de solidarizar-se já presente no universo juvenil somar-se o compromisso das gerações adultas de dar-lhes a chance de conhecer, refletir e agir como protagonistas sobre as circunstâncias em que vivem: a família, a camada social a que pertencem, a escola em que estudam, a comunidade em que moram, a cidade, o estado, o país e também o planeta onde as distâncias se encurtam a cada inovação tecnológica. É por isso que acreditamos que qualquer política séria de juventude deve ter propostas consistentes para os jovens no período de suas vidas escolares. É nesta etapa que um jovem define se vai se tornar uma pessoa capaz de fazer as escolhas que seu tempo e sua existência impõem. É nessa etapa de suas vidas que nós, adultos, temos a maior chance de lhes dar a oportunidade de definir, por si mesmos, que tipo de pessoas, cidadãos e futuros profissionais eles serão. E esta oportunidade está, em grande parte, no tipo de educação escolar que mais de 20 milhões de jovens brasileiros terão.
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sem bússola
NO QUADRO GERAL DA DESIGUALDADE SOCIAL, ALGUNS SEGMENTOS DA JUVENTUDE TÊM A SITUAÇÃO AINDA MAIS AGRAVADA POR DISCRIMINAÇÕES DE SEXO E RAÇA
A EXCLUSÃO DOS INVÍSIVEIS A janela de oportunidade para o desenvolvimento humano, social e econômico que uma alta parcela de jovens na população proporciona está se fechando no Brasil sem que a sociedade se dê conta de mais esse desperdício. A juventude brasileira – essa faixa etária vigorosa, com potencial produtivo para garantir boa parte do sonhado crescimento socioeconômico –, dia após dia, sucumbe à violência e à má formação educacional, com agravantes em relação à raça e ao gênero. Se o conjunto da juventude é visto com desconfiança por parte da sociedade, alguns de seus grupos, como jovens negros e jovens mulheres, aparentemente nem mesmo são vistos como sujeitos de direitos elementares da cidadania formal, previstos na Constituição – como educação e acesso à Justiça, sem discriminação de nenhuma ordem.
Em sua recém-lançada “Síntese de Indicadores Sociais”, o IBGE chama a atenção para o que o antropólogo Júlio César de Tavares, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), classifica como “quadro de extermínio” da juventude no país. Ele se refere à taxa de mortalidade por causas externas (acidentes de trân-
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sito e violência à frente) de rapazes de 20 a 24 anos, que passa de 170 por 100 mil habitantes. E que ainda tem agravantes. “A situação desse segmento é gravíssima. E, seguramente, os números são piores para os negros, moradores de favelas, que são alvos nos homicídios”, diz Tavares, coordenador-geral da conferência que a Associação para o Estudo da Diáspora Africana (Aswad, na sigla em inglês) realizou ano passado no Rio de Janeiro. De fato, segundo o Mapa da Violência IV, publicado em 2004 pela Unesco, a maioria das vítimas jovens
é negra (74%). E, pelo IBGE, um rapaz tem quatro vezes mais chances de morrer que uma moça. Numa situação ideal (ausência total de violência), ambos os sexos estariam num patamar muito mais próximo, diz Juarez Oliveira, demógrafo do IBGE. “É a primeira vez que o Brasil atravessa esse recorde de população jovem, que eu considero um bônus. Contraditoriamente, é o segmento etário mais exposto a riscos”, lamenta.
Por _ Flávia Oliveira
Dupla marginalidade O risco de morte é o mais grave, mas não é o único. Falta de oportunidades, educação de má qualidade, entrada precoce e precária no mercado de trabalho estão entre os fatores que tiram dos brasileiros o direito a uma juventude plena. “A população jovem é a mais vitimizada no Brasil. Isso está relacionado a uma lógica de Estado que não valoriza a expectativa de cidadania formal deste segmento e só oferece a ele alternativas de subalternização de mão-de-obra, o que muitas vezes o leva para o crime”, argumenta Carlos Nicodemos, coordenador-executivo do Projeto Legal, que atua na assistência jurídica e na defesa de direitos humanos de jovens infratores.
Um dos 127 jovens assistidos atualmente pelo Projeto Legal é Sérgio Cláudio de Oliveira Teixeira, de 21 anos. Ele foi apresentado ao Brasil quatro meses atrás, com a exibição de “Falcão – Meninos do Tráfico”, documentário do rapper MV Bill e de seu empresário, Celso Athayde. A obra trazia a história de 17 meninos e adolescentes que serviam ao tráfico de drogas em diferentes cidades. Dois anos depois das filmagens, apenas Sérgio “Fortalece” Teixeira sobrevivera.
A vitimização da população jovem segue uma lógica que não valoriza a expectativa de cidadania formal deste segmento
OS RAPAZES MORREM MAIS QUE AS MOÇAS, E OS JOVENS NEGROS MAIS QUE OS BRANCOS. AS MULHERES GANHAM MENOS, MESMO QUANDO ESTUDAM MAIS E AINDA SOFREM A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Preso no Rio de Janeiro, ele conquistou a progressão de regime (do semi-aberto para o aberto) e se prepara para viajar para Santa Catarina, onde vai trabalhar no circo de Beto Carreiro. No documentário, é comovente o momento em que Fortalece, arma em punho, revela que o sonho de sua vida sempre foi ser palhaço. E emociona a possibilidade de o solitário sobrevivente começar a realizá-lo. “Essa população é duplamente discriminada. É segregada por ser jovem e por ter cometido infrações. Por isso, o exemplo do Fortalece nos anima”, diz Nicodemos. Outro projeto destinado a adolescentes infratores é o Jovem Legal, do Instituto de Acesso à Justiça, de Porto Alegre. A proposta, diz a psicóloga Sílvia Giugliani, é oferecer aos egres-
sos do sistema socioeducativo novas oportunidades que os mantenham “do lado de cá da fronteira do ato infracional”. Equipes multidisciplinares prestam um atendimento que envolve as famílias e a qualificação profissional dos atendidos. Os resultados são animadores: a reincidência no crime caiu 80%. “O jovem é o protagonista do diálogo, é ele quem define o projeto de vida que vai seguir. Não adianta oferecer um curso de culinária para alguém que quer trabalhar com informática. É nesse tipo de falha que muitos programas fracassam”, diz Sílvia. Foi para não se deixar seduzir pelo canto da sereia da delinqüência que Joabson Lourenço Barreto, de 21 anos, começou a participar dos projetos sociais na comunidade Ponte dos Carvalhos, no município de Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco. Ele era voluntário no projeto Biblioteca Itinerante quando foi apresentado ao Centro de Cidadania Umbu-Ganzá, em Recife, onde participou do programa Exercitando o Protagonismo Juvenil. “As oficinas ensinam as pessoas a se organizarem, a conhecer os direitos. Isso não existe para o jovem. Minha participação foi uma forma de eu não entrar na criminalidade e me ajudou a crescer como pessoa”, diz Joabson, que já concluiu o ensino médio e hoje é arteeducador do projeto “Respeito é Bom e Eu Gosto”, que oferece aulas de Artes Plásticas, Arte Circense e hip hop a crianças e adolescentes participantes do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti).
Sem rumo Ao longo da década de 90, o governo brasileiro praticamente cumpriu a meta de ter todas as crianças de 7 a 14 anos matriculadas no ensino fundamental. O desafio, agora, é universalizar e melhorar a qualidade do ensino médio, além de criar oportunidades iguais de acesso à universidade. O Relatório de Desenvolvimento Humano Brasil 2005 – Racismo, Pobreza e Violência, divulgado recentemente pelo PNUD, aponta que os avanços brasileiros na área educacional ainda não conseguiram vencer a desigualdade racial: o percentual de brancos formados na universidade hoje é mais que quatro vezes o de negros. Segundo o relatório, a proporção de brancos com nível universitário passou de 1,8% em 1960 para 11,8% em 2000, enquanto a de negros subiu de 0,13% para 2,9% no mesmo período. Foi neste quadro que nasceu o projeto Geração XXI, parceria entre a fundação BankBoston, a ONG Geledés – Instituto da Mulher Negra, e a Fundação Cultural Palmares, do Ministério da Cultura. Foi o primeiro programa de ação afirmativa implementado no Brasil e tornou-se referência aqui e no exterior. Em 1998, foram selecionados 21 adolescentes negros (12 meninas e 9 meninos) de famílias de baixa renda, que serão acompanhados das últimas séries do ensino fundamental até a universidade, em 2007. Eles participam de programas de suplementação escolar, que incluem apoio financeiro, cursos de idiomas e tecnologia e ajuda no acesso ao curso superior. Priscila Gomes de Freitas, hoje com 25 anos, no sexto semestre de jornalismo na Universidade Metodista
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de São Paulo, foi selecionada quando cursava a sétima série de um colégio estadual da capital paulista. Ela cresceu na Bela Vista, bairro da região central da cidade onde vive até hoje com os pais e um irmão, de 17 anos. Todo o seu ensino médio foi custeado pelo programa, numa escola particular. Ela estudou inglês e informática. Em 2003, passou no vestibular. “Eu sempre quis fazer jornalismo ou moda. Poderia ter realizado esse sonho sem o programa, mas seria muito mais difícil. A escola pública não tem tanta qualidade e, provavelmente, eu teria de trabalhar de dia para pagar a faculdade à noite. Hoje, meu trabalho é um estágio na minha profissão”, conta. Além do Geração, o Geledés tem outros três programas desse tipo.
“Todos têm em comum a intenção de viabilizar o acesso, a permanência e o sucesso no ensino superior da população negra, e sempre alinhados com a proposta do Geledés, de priorizar as mulheres, que são as mais atingidas pelo perfil de invisibilidade de nossa sociedade”, diz a coordenadora Rosângela Araújo, a Janja. Ela toca noutro aspecto que mancha as estatísticas sociais brasileiras: a desigualdade de gênero, desta vez contra as mulheres. Embora mais escolarizadas que os homens, as mulheres invariavelmente ocupam cargos de menor importância e ganham salários menores. A situação ganha contornos dramáticos no caso das negras, que ficam em nítida desvantagem em relação às
“Jornalista há 14 anos, tenho nos últimos seis me debruçado sobre temas socioeconômicos. Pobreza e desigualdade são assuntos recorrentes no meu exercício profissional e, infelizmente, nas condições de vida da juventude brasileira. A proposta da reportagem de Onda Jovem me alcançou num momento particularmente sensível: a exibição do documentário “Falcão -Meninos do Tráfico”; a sucessão de debates por ele desencadeada; e a divulgação pelo IBGE da “Síntese de Indicadores Sociais”. Esses tesouros de informação, em estado bruto (caso da obra de MV Bill e Celso Athayde) ou tabuladas (como na apresentação do IBGE), permitem aos bem intencionados a ampla compreensão dos problemas que afetam este pedaço da sociedade brasileira tão expressivo quanto desassistido. Pelos dados macros, a reportagem não teria boas notícias a apresentar. Mas o esforço de um punhado de brasileiros capazes, otimistas, atuantes, que trabalham país afora para mudar o desolador cenário, livrou-nos do desalento. Bom foi descobrir, tal como na fábula da floresta em chamas, que há beija-flores despejando salvadoras gotas d'água para impedir a tragédia. Quando virão os bombeiros?”
RATÃO DINIZ / IMAGENS DO POVO
VIDA DE REPÓRTER
FLÁVIA OLIVEIRA tem 36 anos e é mãe de Isabela, de 10.
brancas. Seus filhos têm as mais altas taxas de mortalidade infantil: 46,1 por mil nascidos vivos, contra 29,3 das que se declaram brancas. É em suas famílias que a renda é menor. São elas que, predominantemente, criam a prole sem marido. Sofrem com a violência doméstica e sexual. Em Palmas, Manoel Orismar Vieira Ribeira, de 28 anos, usa sua experiência pessoal como instrumento para se aproximar e orientar os mais jovens. Ele montou, com quatro amigos, a Associação Tocantinense de Juventude Negra. Negro, casado há sete anos com uma jovem que hoje tem 22, Manoel é pai de quatro crianças. O primeiro filho nasceu quando a mulher tinha 15 anos. Eles se conheceram ainda meninos, se reencontraram na adolescência e foram morar juntos três dias depois. “Nossa história é de um amor imenso. A minha base de luta é a mulher. Mas nem todos os jovens são assim. Muitos engravidam as namoradas e desaparecem. Elas, às vezes, nem sabem como evitar”, diz Manoel. Nas palestras que já deu em todas as escolas da rede pública de Tocantins, ele trata das relações sexuais entre os jovens, mas principalmente da consciência racial. As palestras incluem orientações sobre doenças que afetam a população negra, como
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a anemia falciforme, educação e direitos civis. No momento, Manoel tenta viabilizar a elaboração de um perfil da juventude de seu estado, com informações que possam orientar a formulação de políticas voltadas para este segmento tão grande quanto marginal. A dura realidade das mulheres germinou também os projetos do Núcleo de Juventude da ONG feminista Cemina (sigla para Comunicação, Educação e Informação em Gênero), que usa o hip hop para esclarecer as jovens sobre os riscos a que estão sujeitas. A primeira iniciativa, em 2004, foi uma campanha antitabagista e que resultou no lançamento do primeiro CD. No ano passado, foram duas outras obras, realizadas após dois seminários em que 40 moças, envolvidas com o gênero musical e de reconhecida liderança em suas comunidades, debateram direitos individuais e reprodutivos e violência contra a mulher. “Organizamos os seminários, com a participação de especialistas, e formamos os grupos de trabalhos encarregados das composições. Os CDs gravados viram ferramentas das próprias mulheres em suas áreas. Usamos a linguagem dos jovens, o hip hop, para tratar de questões que, em geral, estão nas mãos da academia”, diz Fábio ACM, DJ e responsável pelo projeto. Ele anuncia que o quarto CD está em andamento e vai tratar da violência sexual sob o enfoque dos agressores. Imperdível.
GERAÇÃO XXI ÁREA DE ATUAÇÃO SÃO PAULO. PROPOSTA Oferecer a jovens negros de famílias de baixa renda apoio financeiro e acompanhamento para seu desenvolvimento social, cultural e educacional, proporcionando o acesso ao ensino superior. JOVENS ATENDIDOS 20. APOIO: FUNDAÇÃO BANKBOSTON, GELEDÉS – INSTITUTO DA MULHER NEGRA E FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES. CONTATO Rua Santa Isabel, 137, 4º. Andar – Vila Buarque – 01221-010 – São Paulo (SP) – Tel.: 11/3333-6917 – E-mail: geracaoxxi@uol.com.br – Site: http://www.bankboston.com. br/fundacao.
JUVENTUDE NEGRA DE PALMAS ÁREA DE ATUAÇÃO PALMAS (TO). PROPOSTA Oferecer a jovens negros alunos da rede pública informações sobre saúde, direito e cidadania, por meio de palestras, e desenvolver estudos e pesquisas que ajudem na formulação de políticas públicas para a juventude. APOIO SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. CONTATO Rua T19, quadra 44, lote 11 – Santa Fé – Palmas (TO) – Tel.: 63/3218-5545 ou 3218-5546 – E-mail: manoelorisomar@yahoo.com.br.
NÚCLEO DE JUVENTUDE – REDEH/CEMINA ÁREA DE ATUAÇÃO BRASIL. PROPOSTA Inserir a perspectiva de gênero na cultura hip hop e introduzir a reflexão e compreensão dos fatores que levam à violação dos direitos da mulher, especialmente os sexuais e reprodutivos. APOIO REDE TABACO ZERO, REDE JOVENS BRASIL, SECRETARIA ESPECIAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES, UNIFEM, OMS, AMARC, VIVA RIO, REAL HIP HOP, ENRAIZADOS E MINAS DA RIMA. CONTATO Rua Senador Corrêa, 48 – Laranjeiras – 22231-180 – Rio de Janeiro (RJ) – Tel.: 21/9103-3570 – E-mail: fabioacm@gmail.com / fabioacm@redejovensbrasil.org.br – Site: www.njrc.org.br.
PROJETO LEGAL ÁREA DE ATUAÇÃO RIO DE JANEIRO. PROPOSTA Atua como centro de defesa de direitos humanos, especialmente de crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade e risco. Oferece assistência jurídico-social; promove capacitações técnicas para agentes sociais e instituições. JOVENS ATENDIDOS 127. APOIO UNICEF, SOS KIDS INTERNATIONAL, CÁRITAS MENSEN IN NOOD, FUNDAÇÃO HOLANDA BRASIL, HUSOC, FAROL – PROJETO DANCKAERT, ADVOGADOS PARA ADVOGADOS, CORDAID, FUNDO CANADÁ, CRIOLA – ORGANIZAÇÃO DE MULHERES NEGRAS, IBISS, CENTRO DE ARTICULAÇÃO E APOIO À POPULAÇÃO MARGINALIZADA (CEAP) E MOVIMENTO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E ÓRGÃOS PÚBLICOS. CONTATO Largo de São Francisco de Paula, 34, 7º. andar – Centro – 20051-070 – Rio de Janeiro (RJ) – Tel.: 21/2232-3082 / 2507-6464 – E-mail: projetolegal@projetolegal.org.br – Site: www.projetolegal.org.br. CENTRO DE CIDADANIA UMBU-GANZÁ ÁREA DE ATUAÇÃO RECIFE. JOVENS ATENDIDOS 180. PROPOSTA Atua na promoção de crianças, adolescentes, jovens e famílias. Auxilia os jovens em seu desenvolvimento pessoal e social, oferecendo rodas de debates e reflexões no exercício da cidadania com ações socioeducativas. APOIO PREFEITURA DO RECIFE, REDE ESTADUAL DE COMBATE AO ABUSO E À EXPLORAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES, GRUPO DE GÊNERO, CENTRO NORDESTINO DE ANIMAÇÃO POPULAR, CIELA, CENTRO CRISTÃO DE EDUCAÇÃO POPULAR, CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE, PREFEITURA DO CABO DE SANTO AGOSTINHO, COMUNIDADE ECUMÊNICA DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS E PROJETO ESCOLA ABERTA. CONTATO Rua do Hospício, 194, 12º andar, sl. 1204 – Boa Vista – 50060-080 – Recife (PE) – Tel.: 81/3221-2278 / 3221-1911 – E-mail: umbuganz@hotlink.com.br – Site: www.umbuganza.org.br.
PROJETO JOVEM LEGAL ÁREA DE ATUAÇÃO PORTO ALEGRE. JOVENS ATENDIDOS 60. PROPOSTA Oferecer aos jovens egressos do sistema socioeducativo auxílio na elaboração de um plano de vida que os mantenha afastado dos atos infracionais. Proporciona atendimento psicológico, jurídico e formação profissional, além de apoio às famílias. APOIO CONANDA, SECRETARIA ESPECIAL DE DIREITOS HUMANOS. CONTATO Avenida Getúlio Vargas, 379, conjunto 207 – 90150-001 – Porto Alegre (RS) – Tel.: 51/3211-5808 – E-mail: iaj@iaj.org.br – Site: www.iaj.org.br.
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o sujeito da frase
“EU ACREDITO NUMA SOCIEDADE MAIS JUSTA” Ele já foi refém em rebeliões da Febem e sofreu agressões e ameaças de funcionários da instituição. Às vezes, tem a sensação de que seu trabalho é como “enxugar o chão com a torneira aberta”. Mas, aos 29 anos, o advogado paulista Ariel de Castro Alves nem pensa em desistir da defesa dos direitos humanos em geral e dos direitos de crianças e adolescentes em particular. Para isso, atua em várias frentes: é conselheiro federal na Comissão da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), coordenador em São Paulo do Movimento Nacional de Direitos Humanos, presidente do Projeto Meninos e Meninas de Rua de São Bernardo e Guarulhos e assessor jurídico da Fundação Projeto Travessia – organizações paulistas dedicadas ao atendimento de crianças e adolescentes que vivem nas ruas –, além de colaborar com o movimento Justiça Global. A energia para tanta atividade é gerada pela consciência social que começou a formar na adolescência, no convívio familiar e estimulada também pela escola. Por isso, Ariel lamenta: “As escolas se fecharam e se tornaram ambientes medíocres”. A vivência de suas realidades – das baladas nos bairros noturnos mais animados de São Paulo aos presídios e unidades da Febem – às vezes gera incompreensão entre seus amigos,
Ariel de Castro Alves, de 29 anos, descobriu na adolescência a violência contra as crianças de rua e se tornou um advogado militante na defesa dos direitos humanos. Sobre a Febem, diz que “estamos plantando bandidos e querendo colher cidadãos”
mas não o desanima. “Eu acredito numa sociedade mais justa, em que as crianças e jovens não fiquem na rua, envolvidos com a criminalidade, e tenham garantidos seus direitos e a subsistência”, reafirma Ariel, que pretende escrever um livro sobre essas experiências. A seguir, trechos de sua entrevista: Onda Jovem: Como e quando você começou a sua atuação social? Ariel: Desde os 12 anos eu acompanho o trabalho com meninos de rua. O meu pai era um dos fundadores e meu irmão era voluntário numa entidade em São Bernardo do Campo, e eu me interessei. O que me impressionou naquela época foi que a gente conhecia uma criança numa semana e na seguinte recebia a notícia de que ela tinha sido assassinada. Havia muitos grupos de extermínio na cidade. Em 1996, passei a atuar no Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do ABC, na Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Santo André e na CPI da Febem, na Assembléia Legislativa de São Paulo. Em 1997, ingressei no Movimento Nacional de Direitos Humanos, que congrega cerca de 400 organizações. Desde então, faço visitas freqüentes à Febem. Depois, passei a visitar presídios e encontrei no Carandiru alguns homens que havia conhecido meninos na Febem.
A escolha do Direito como profissão fez parte desse processo de conscientização? Eu sempre quis fazer Direito e Jornalismo. Como advogado, queria defender as pessoas, principalmente os mais fracos. Acredito que os setores mais vulneráveis e mais violados precisam ter voz. Hoje, quando acontece alguma coisa na Febem, a imprensa me procura.
Por _ Cecília Dourado Fotos _ Márcia Zoet
A convicção do advogado Ariel de Castro Alves o transformou em uma das vozes mais ativas na defesa dos direitos de crianças e adolescentes
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Para Ariel, as escolas se fecharam e se tornaram ambientes extremamente medíocres, quando deveriam oferecer mais formação e atenção: “Os jovens precisam de atendimento individual e a escola os trata em massa”
Ao invés de ser jornalista e entrevistar pessoas, você dá entrevistas. É, mas também atuo na área de comunicação. Ajudo organizações a divulgarem seu trabalho. Para mudar alguma coisa no país, é preciso conquistar a sociedade por meio da mídia. O “Falcão – Meninos do Tráfico”, exibido no Fantástico, por exemplo: encontrei pessoas reacionárias que me disseram que choraram ao ver o documentário. Compreenderam que os meninos são vítimas do tráfico de drogas e não os principais criminosos. As imagens chocam mais que mil palavras. Por que você escolheu o segmento de crianças e adolescentes e a área de direitos humanos para atuar? As crianças e adolescentes estão numa fase fundamental de desenvolvimento e a má formação deles pode comprometer ainda mais o nosso futuro como nação. É o segmento que acaba sendo a maior vítima da violência, do descaso e da falta de políticas sociais. Fale um pouco da sua experiência com a Febem. A criança é fruto do meio em que vive. Os jovens que eu conheci, antes de serem autores de violência, geralmente foram vítimas: dentro de casa, por abuso sexual e maus-tratos; na comunidade, por discriminação, exclusão, falta de vagas nas escolas e de atendi-
mento à saúde. Os jovens precisam de dinheiro para estudar e para o consumo. São valorizados não pelo que são, mas pelo que têm – roupas e tênis de grife, carros. Isso atinge principalmente os mais pobres e influencia muito no envolvimento com o crime. Há muitos casos de jovens que roubaram carros ou tênis de marca para impressionar garotas. Quando são pegos, são levados para a Febem, e isso tem graves efeitos criminais. Estamos plantando bandidos e querendo colher cidadãos. Como está a situação dos direitos humanos dos jovens no Brasil? O Brasil é o quarto país no mundo em homicídios de jovens. O maior violador dos direitos humanos é o próprio Estado, que não garante o respeito a esses direitos e não cumpre seus deveres. É preciso aplicar integralmente leis como o Estatuto da Criança e do Adolescente e garantir os direitos básicos dos jovens mais pobres. Qual foi o papel da escola na sua conscientização social? A escola brasileira colabora para a formação de jovens cidadãos? A escola teve influência, sim, além da família, na minha conscientização. Estudei em um colégio de classe média alta, o Colégio Metodista de São Bernardo do Campo, e havia discussões, participação no grêmio estudantil e integração com a comunidade. Em geral, porém, acho que houve uma deterioração nas escolas. Elas se fecharam e se tornaram ambientes extremamente medíocres. Falta o envolvimento da sociedade na gestão da escola. A família e a escola são as bases da formação de uma criança e de um adolescente. Numa situação em que a família tem problemas e o Estado também oferece pouco, os jovens são excluídos da comunidade. Deveria haver mais cursos profissionalizantes. A escola deveria oferecer também um serviço de assistência social, psicológico, psiquiátrico e de saúde, inclusive no caso de dependência de drogas. Os jovens precisam de atendimento individual e a escola os trata em massa.
Pesquisas mostram que os jovens estão muito desencantados com a participação política convencional. Como um jovem pode atuar para defender os seus direitos e os da sua geração? A participação política do jovem é muito pequena. Existe pouca reciclagem na liderança e os líderes são sempre os mais velhos. As crises e os escândalos políticos favorecem a desesperança, a alienação e a falta de engajamento social e político. Mas há alternativas de participação social. A melhor delas é o terceiro setor. O trabalho das ONGs vem se ampliando e também há os sindicatos e organizações corporativas, como a OAB. Diante de tantas dificuldades, você não tem vontade de viver como alguns de seus amigos, cuidando da sua carreira e aproveitando a vida? Não. Eu acredito numa sociedade mais justa, em que as crianças e jovens não fiquem na rua, envolvidos com a criminalidade, e tenham garantidos
seus direitos e a subsistência. Aos poucos, a gente vai conseguindo que a sociedade compreenda a situação e pressione o poder público. No dia-a-dia, a gente consegue evitar alguns casos de tortura, criminalizar alguns autores de tortura nas instituições que abrigam menores, e algumas mudanças, como a construção de pequenas unidades. Mas os resultados são lentos e pouco visíveis. É como enxugar o chão com a torneira aberta. Quais são as suas propostas para melhorar a situação? Defendo a lei da responsabilidade social. Vai para a cadeia quem não cumprir as suas responsabilidades sociais, estabelecidas na Constituição Federal, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, no Estatuto da Criança e do Adolescente, na Lei Orgânica da Assistência Social e outras. Essa proposta tem um apoio de peso, o jurista Dalmo Dallari. A lei de responsabilidade fiscal que vigora no Brasil acabou levando a uma gestão orçamentária rígida e a cortes na área social. A responsabilidade fiscal não pode ser cumprida à custa da responsabilidade social.
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“O maior violador dos direitos humanos é o próprio Estado, que não garante o respeito a esses direitos”
luneta
UMA FORMA DE ORGANIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA, AS REDES SOCIAIS VÊM GANHANDO CADA VEZ MAIS FORÇA ENTRE OS JOVENS COMO ESTRATÉGIA DE PARTICIPAÇÃO POLÍTICA
CAINDO NAS REDES Participantes: representantes de grupos e organizações da sociedade civil, dos setores público e privado, que compartilhem valores e objetivos; pessoas com experiências e opiniões diversas, dispostas a discutir suas propostas de ação em busca de consenso. Procedimento: os participantes se reúnem numa organização sem hierarquia ou subordinação para desenvolver trabalhos colaborativos, com decisões coletivas e divisão de tarefas. “Grosso modo”, eis a receita das redes sociais, que têm atraído cada vez mais jovens no Brasil e conquistado espaço na discussão política e na defesa dos direitos da juventude. Para Célia Schlithler, autora do livro “Redes de Desenvolvimento Comunitário: Iniciativas para a Transformação Social” e coordenadora de investimento social comunitário do Idis – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social –, as redes têm uma lógica que se difere da de outros movimentos sociais. “Os movimentos têm toda uma conotação de reivindicar. Já as redes procuram trazer o setor público para discutir a questão com elas. No caso dos jovens, esse é um processo em amadurecimento, novo e ainda mais bonito”, diz. “Aqueles pequenos grupos que não tinham força de intervenção política, começam a ter como rede. Juntos,
Por _ Tetê Oliveira Ilustração _ Rodolfo Herrera
ganhamos peso na hora da discussão política, para que ela não fique restrita a um gueto”, diz Tytta Ferreira, de 24 anos, representante na Bahia da Rede de Jovens do Nordeste, a RJNE, uma das pioneiras no Brasil, criada em 1998 e hoje representada em todos os estados nordestinos. “Nas redes, os grupos constroem demandas comuns, têm mais espaço público e uma presença mais articulada e sólida”, diz o sociólogo e consultor da Rede Juventudes, Marcílio Dantas Brandão, de 27 anos.
Transformação social Para Célia Schlithler, essas conexões entre várias pessoas, que representam diferentes organizações, possibilitam a construção de projetos coletivos. “Uma rede social é formada com objetivo de provocar algum tipo de transformação social. Só a conexão e a troca de informações e conhecimentos não bastam, deve haver uma proposta que leve a uma ação.” Na pauta de discussões atual de muitos “enredados” – como alguns integrantes das redes se denominam – está, por exemplo, o Plano Nacional de Juventude. “Estamos construindo com outras redes do Nordeste propostas para o Plano”, diz o baiano Jackson Rodrigues Caetano, de 19 anos, facilitador da rede Sou de Atitude, que monitora políticas públicas para infância, adolescência e juventude. Outra forma de ação é desenvolvida pela Renaju, Rede Nacional de Organizações, Grupos e Movimentos da Juventude, desta vez em parceria com o Ministério da Educação e a Secretaria Nacional de Juventude. “Estamos apoiando a campanha de salas de alfabetização de jovens e adultos. As redes vão participar com a montagem de salas, capacitação de professores”, diz Daniel Vaz, 31 anos, da Renaju. Já o Coletivo Jovem de Minas Gerais da Rejuma, Rede da Juventude pelo Meio Ambiente e Sustentabilidade, desenvolve um projeto-piloto em Sabará. “Negociamos a criação da Coordenadoria de Políticas Públicas da Juventude. A proposta é estender essa conquista a outros municípios mineiros”, José Patrício Lustosa, 28 anos, que é o coordenador do órgão.
Há ainda redes mais temáticas e regionais, como a Rede Cidadania Jovem, uma rede de comunicação comunitária que envolve 250 entidades e grupos ligados à juventude em Belo Horizonte. A rede é um projeto da Associação Imagem Comunitária (AIC), mas sem subordinação. “Existe uma parceria, divisão de trabalhos, troca de idéias, mas sem hierarquia. A AIC apóia a produção e os eventos da rede, e promove oficinas de comunicação”, diz Aléxia Melo, de 30 anos, da AIC.
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Nem tudo é virtual Para a difusão de informações entre os “enredados”, as redes têm na internet o meio mais freqüente de comunicação – chats, e-grupos, teleconferências, e-mails. Como a inclusão digital ainda não é uma realidade em todo país, há redes, como a RJNE, que também recorrem aos Correios – cartas, Sedex. Mas as redes sociais não devem mesmo ser meras redes on-line. “Elas devem ter momentos presenciais, não só virtuais”, diz Célia Schlithler.
O conselho editorial da Rede Cidadania Jovem, por exemplo, que não tem membros fixos e é aberto a todos os grupos que integram a rede, se reúne mensalmente, juntando, em média, de 20 a 30 pessoas. Na RJNE, os coletivos (encontros) regionais são trimestrais. “Eles têm a participação de um representante de cada Estado que integra a rede”, diz Tytta, acrescentando que há ainda coletivos microrregionais e estaduais, que são deliberados a partir das necessidades de seus núcleos.
GRUPOS SEM HIERARQUIA, COM DECISÕES COLETIVAS E DIVISÃO DE TRABALHO, AS REDES SOCIAIS GANHAM FORÇA PARA INTERFERIR NAS POLÍTICAS QUE INTERESSAM À JUVENTUDE
SOBRE
Sem hierarquia Outra característica básica das redes sociais é a sua forma de organização. “As redes sociais não são piramidais, são horizontais e sem hierarquia”, explica Célia. Na sua opinião, esse talvez seja o maior desafio das redes, pois as pessoas têm um modelo muito forte de organização vertical, com subordinação. E cada uma define seu formato. A Rede Juventudes tem um Núcleo Dinamizador, composto por dez pessoas e que arbitra, por exemplo, sobre as questões operacionais da rede. “O Núcleo apresenta propostas, mas quem bate o martelo são as organizações e os indivíduos que compõem a rede”, diz Marcílio. E nem todas as ações envolvem todos os participantes. É o caso do mapeamento atual pela rede de grupos e organizações juvenis existentes em Natal, Recife e Salvador, além de 17 municípios do interior do Ceará, Pernambuco e Bahia. “Somente 12 das organizações da rede participam desse trabalho, porque são as que atuam nas cidades envolvidas no mapeamento”, diz o sociólogo.
PARA SABER MAIS
No dia-a-dia das redes, a presença de facilitadores e articuladores é essencial. “Facilitador é aquele que dá gás, puxa a rede em nível nacional, suas ações e reuniões”, diz Jackson, um dos que exercem esse papel na Sou de Atitude. Já o articulador, ou animador, é a pessoa de referência nos estados. Para Luã Gabriel, 18 anos, que mora em Belém do Pará, muitas redes nascem e não se mantêm porque a forma como a animação é conduzida não proporciona bons resultados. “As pessoas e organizações então abandonam o espaço”, diz ele, um “enredado” convicto, que integra a Rejuma, a Renaju e a rede GTA, Grupo de Trabalho Amazônico, da qual é um dos representantes no Conselho Nacional da Juventude.
Para evitar o surgimento de divergências futuras que venham a inviabilizar a proposta das redes, Célia defende que, no momento de sua concepção, os integrantes escrevam uma carta de princípios da organização. “Adotamos um Plano de Ação, pactuado num seminário que envolveu 60 participantes da rede. Definimos missão, objetivos, temáticas e grupos de trabalho da rede”, diz Marcílio. Segundo Tytta, a carta do núcleo regional da RJNE dá um rumo aos estados, que, no entanto, têm autonomia e suas própria carta de orientação. “Na verdade, a carta regional ainda não foi fechada, porque queremos ouvir as diferentes opiniões da galera que compõe a rede”, diz. Esses documentos não inibem o debate nas redes. Luã adora participar das discussões. “Isso é que é maravilhoso nas redes, pois prova que as pessoas não são iguais, que existem divergências, e então elas nunca ficam subordinadas a alguém ou alguns”, diz. “Acredito que toda discussão em grupo deve ter polêmica. Isso porque cada pessoa tem um pensamento diferenciado da outra. Em cada reunião da Sou de Atitude temos diversos pontos de vista, mas sempre caminhamos para um consenso”, diz Jackson. “Sabemos que uma pessoa só não suporta o peso do trabalho que é a transformação social e que não dá para se ter um outro mundo se todos não colaboram.” REDE SOU DE ATITUDE ÁREA DE ATUAÇÃO 19 ESTADOS E O DISTRITO FEDERAL. PROPOSTA Articular jovens para fazerem o acompanhamento das políticas públicas voltadas para a infância, adolescência e juventude. CONTATO E-MAIL: rede@soudeatitude.org.br – www.soudeatitude.org.br. REDE GTA – GRUPO DE TRABALHO AMAZÔNICO ÁREA DE ATUAÇÃO AP, AM, AC, MA, MT, PA, RO, RR E TO. PROPOSTA Promover a participação das comunidades da floresta nas políticas de desenvolvimento sustentável. CONTATO E-MAIL: gtanacional@gta.org.br ou gtajovem@grupos.com.br – www.gta.org.br. REDE JUVENTUDES ÁREA DE ATUAÇÃO BA, PE, RN, CE, PA E BRASÍLIA. PROPOSTA Favorecer a participação dos jovens em processos que garantam os seus direitos. CONTATO E-MAIL: redejuventudes@redejuventudes.org.br – www.redejuventudes.org.br. REJUMA – REDE DA JUVENTUDE PELO MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE ÁREA DE ATUAÇÃO 27 ESTADOS E DISTRITO FEDERAL. PROPOSTA Articular a juventude na questão de educação ambiental e introduzir nas agendas governamentais a temática de meio ambiente. CONTATO E-MAIL: juventudepelomeioambiente@grupos.com.br – www.rejuma.org.br. RJNE – REDE DE JOVENS DO NORDESTE ÁREA DE ATUAÇÃO REGIÃO NORDESTE. PROPOSTA Fortalecer as organizações juvenis no Nordeste, por meio da participação política e da inclusão sociocultural. CONTATO E-MAIL: rjneexecutiva@yahoo.com.br – Blog: www.rjne.blogger.com.br. RENAJU – REDE NACIONAL DE ORGANIZAÇÕES, GRUPOS E MOVIMENTOS DA JUVENTUDE ÁREA DE ATUAÇÃO Nacional. PROPOSTA Organizar esse setor que atua junto a juventude, apoiando na discussão e implementação de políticas públicas no país. CONTATO E-MAIL: renaju@yahoogrupos.com.br – www.redejuvenil.org.br. REDE JOVEM DE CIDADANIA ÁREA DE ATUAÇÃO GRANDE BELO HORIZONTE. PROPOSTA Criar uma estrutura para produção de mídia feita pela e para a juventude das comunidades envolvidas. CONTATO E-MAIL: rjc@aic.org.br – www.redejovembh.org.br.
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Por _ Yuri Vasconcelos Fotos _ Henk Nieman
O NÚMERO CADA VEZ MAIOR DE ÓRGÃOS MUNICIPAIS DEDICADOS ÀS QUESTÕES JUVENIS LEVANTA DISCUSSÕES SOBRE SEU PAPEL E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA No início de fevereiro deste ano, aconteceu em Belo Horizonte o primeiro Encontro Nacional de Gestores Municipais de Políticas Públicas para a Juventude. Reuniram-se mais de 50 gestores de prefeituras das cinco regiões do Brasil, que trocaram informações, apresentaram projetos, debateram o Plano Nacional de Juventude e fundaram o Fórum Nacional de Gestores Municipais de Políticas para a Juventude. O Fórum é o lado mais visível de uma onda que vem tendo grande repercussão no âmbito das políticas locais: a criação de instituições públicas voltadas para as questões juvenis. O movimento – que se fortaleceu no ano passado com a criação da Secretaria Nacional de Juventude e do Conselho Nacional de Juventude, iniciativas do governo federal – mostra a importância que o segmento juvenil vem ganhando na sociedade brasileira e também levanta uma série de questões, como o desenho dessas instituições, seu papel e a divisão do poder político.
NO TABULEIRO DO PODER
Sobre o formato da instituição, o que se discute é o que é mais adequado: a criação de uma secretaria, uma coordenadoria, um departamento, uma assessoria ou uma gerência da juventude? Quais as diferenças práticas entre esses órgãos? O secretário municipal da Juventude de Porto Alegre, Mauro Zacher, acredita que a criação de secretarias no primeiro escalão dos governos é a forma mais apropriada para tratar do tema. “Isso se faz necessário pelo débito que as administrações públicas têm com os jovens. O país demorou muito a perceber a necessidade de agir objetivamente com políticas públicas para esse segmento”, diz Zacher. A posição do secretário gaúcho não é unânime. Segundo Nelsinho Santos, coordenador da Juventude de Belo Horizonte, independentemente do tipo de instituição, o importante é que ela tenha um lugar de destaque na prefeitura, esteja alocada no organograma em um local estratégico
– com acesso direto ao gabinete – e receba a importância política necessária. “Aqui em Belo Horizonte, a Coordenadoria da Juventude integra a Secretaria de Governo da prefeitura. Isso tem sido importante no desenvolvimento de nossas ações”, diz ele. A diretora do Centro de Cidadania da Juventude do município de São Paulo, Luciana Guimarães, também acredita que, embora relevante, a discussão sobre o desenho institucional do órgão é menor. O principal, diz ela, é estabelecer um debate em relação ao poder, ao orçamento próprio e à autonomia que esse órgão deve ter. “O que pode fazer diferença é a existência desses fatores e não o desenho institucional em si”, diz. ”Você pode ter uma coordenadoria com mais poder, orçamento e autonomia do que uma secretaria que, em tese, é mais importante.”
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Existe pra quê? Se, por um lado, ainda há muito debate sobre o formato ideal dessas instituições, por outro, parece haver certo consenso sobre o papel delas. A maioria dos gestores municipais acredita que a missão é organizar a juventude das cidades, fazer a interlocução entre os movimentos organizados e o poder público e construir uma política intersetorial. “Para que isso seja possível, precisamos conhecer a realidade desses jovens, o que pensam, quais são os seus anseios e como as administrações públicas podem intervir para tornar melhor a qualidade de vida desses cidadãos. Os jovens não querem ser tratados como futuro, querem ter o direito de participar do presente, articulando seu protagonismo nas ações do governo para eles”, diz o secretário Mauro Zacher. Para Anderson Batata, coordenador da Juventude de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, a atuação dos órgãos da juventude deve se apoiar em dois eixos. “No plano horizontal, ela tem a missão de facilitar a articulação com as demais secretarias, dando visibilidade e coerência às políticas setoriais de juventude existentes no governo, com a efetiva participação da sociedade civil. O formato vertical é a forma direta de execução pela instituição, com programas específicos, estimulando a participação dos jovens, a mobiliza-
ção, a livre criação e a circulação de informações”, diz. O papel dessas instituições, em resumo, é sensibilizar as demais secretarias de governo para o trabalho com o jovem, ajudá-las na aproximação com a juventude, os grupos e os movimentos juvenis, apoiar novos projetos e os já existentes, dar unidade de ação e coordenar uma proposta avançada de trabalho com a juventude. Coordenadora de uma pesquisa sobre juventude, escolarização e poder local em Santa Catarina, a educadora Olga Celestina da Silva Durand, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), concorda com essa visão, mas faz uma crítica às políticas de juventude adotadas por muitas prefeituras, e que, para ela, ocupam posição secundária no conjunto das políticas municipais. “As políticas de juventude estão mais ligadas à política social de matiz assistencialista ou, ainda, partem do pressuposto de que se o jovem estiver ocupado, o problema se resolve, pois a desocupação é a fonte principal de todos os problemas”, diz. “Essa perspectiva é inadequada e a maioria dos programas e projetos voltados ao investimento social para jovens e adolescentes não tem gerado cidadãos autônomos de livre pensar, nem tem lhes dado a oportunidade de acesso e permanência aos bens sociais mínimos, como educação, trabalho, moradia e saúde”, diz Olga. Divisão do poder Para superar esses obstáculos, uma discussão fundamental a ser travada pelos gestores da juventude e pelos movimentos juvenis é como dar voz aos jovens e dividir poder no âmbito local. Um bom início para esse debate é deixar de entender o compartilhamento das decisões com os jovens como um problema. “Dividir a decisão pode ser bom”, diz Luciana Guimarães, do Centro de Cidadania da Juventude de São Paulo, “pois cria uma co-responsabilidade muito positiva para o poder público, que sempre se apresenta como o salvador da pátria, sem poder abrir mão desse papel para ocupar o lugar de um ator estratégico na construção das soluções dos problemas.” Para ela, mais do que dividir o poder, o maior desafio é trazer os jovens para participar.
Segundo Luciana, a participação geralmente é promovida por meio de práticas pouco sedutoras para a maioria dos jovens, o que privilegia a participação dos mesmos grupos de sempre. “O desafio da instituição pública é exatamente montar espaços que sejam atrativos à participação juvenil. Em São Paulo, criamos fóruns temáticos, sem qualquer vinculação partidária e de uso dos movimentos, com encontros periódicos em horários adequados aos jovens. Temos tido excelentes resultados”, diz.
OS DESAFIOS SÃO SUPERAR O ASSISTENCIALISMO E PRODUZIR UMA GESTÃO DEMOCRÁTICA, ATRAINDO A AMPLA PARTICIPAÇÃO JUVENIL
Em Belo Horizonte, uma das ações para ampliar a participação passa pela reestruturação do Conselho Municipal da Juventude, um dos pioneiros no gênero, cujo objetivo é orientar e fortalecer as políticas públicas para a juventude da cidade. O processo foi iniciado no fim de abril e conta com o apoio de instituições da sociedade civil, entidades e organizações ligadas aos movimentos juvenis locais. Os jovens participam de conferências que debatem o formato e as temáticas discutidas pelo órgão. “A partir do momento em que eles são chamados à participação, fazer parte das decisões sobre políticas a serem desenvolvidas torna-se um processo natural, porque os jovens vão cobrar que suas opiniões e manifestações sejam legitimadas”, diz o coordenador Nelsinho Santos. Um processo parecido acontece em Rio Branco, no Acre. A Coordenadoria Municipal de Juventude, criada em 2005, implantou em abril passado o primeiro fórum municipal para ouvir os jovens sobre o tipo de política pública que eles querem para a cidade e qual a composição ideal do Conselho Municipal da Juventude, que pode ser criado ainda neste ano. “Dividir o poder com os jovens não é fácil, mas é gratificante”, diz André
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Kamai, coordenador da Juventude de Rio Branco. “A partir das discussões no fórum e da criação do conselho, queremos elaborar diretrizes para um Plano Municipal da Juventude. Nossa idéia é fazer de Rio Branco uma cidade de oportunidades para os jovens.” As iniciativas de Belo Horizonte e de Rio Branco são apoiadas por Anderson Batata, de Nova Iguaçu, para quem, seja qual for o formato do órgão, sua criação deve ocorrer em conjunto com a instalação do Conselho Municipal da Juventude, visando à divisão do poder com os movimentos e instituições juvenis organizados, bem como a promoção de fóruns, abertos também aos jovens que não façam parte de nenhum organismo. É essa participação, real, que não se pode perder de vista, sob risco de que a criação das instituições locais seja só um modismo. “É necessário que se constituam gestões com matrizes mais democráticas, que tenham como base o direito do jovem participar da gestão e da organização dos programas e projetos dos quais fazem parte”, conclui a educadora Olga Durand.
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significados”, diz Tiago Matheus. É quando se abandonam ou se fortalecem valores recebidos da família e da escola. É momento de definição. Até a fisiologia do cérebro está nessa toada: o córtex pré-frontal está amadurecendo e, com ele, a capacidade de se colocar no lugar do outro, habilidade essencial para a (boa) convivência em sociedade. E um ambiente emocional acolhedor pode fazer muita diferença nessa hora. No entanto, entre o cenário propício para atuar nas suas comunidades até o exercício pleno dessa possibilidade existe uma distância considerável. O psicólogo social Marcelo Calegare
NATURAL NA JUVENTUDE, A REUNIÃO EM GRUPOS TEM MUITAS FORMAS E, QUANDO ARTICULADA, PODE PRODUZIR MUDANÇAS NO CONTEXTO SOCIAL
apresentou no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, em janeiro deste ano, uma dissertação de mestrado em que analisou como uma entidade não-governamental influencia a vida dos jovens atendidos. Sob o título “A Transformação Social no Discurso de uma Organização do Terceiro Setor”, o estudo acompanhou uma fundação nacional e uma ONG que lidam com juventude. Perceberam-se mais mudanças no comportamento pessoal do público dos programas que transformações sociais relevantes na comunidade. Para otimizar os resultados dos projetos sociais com esse público, Calegare diz que é fundamental considerar o jovem em seus vários aspectos e perceber os muitos contextos em que ele se insere. “O jovem precisa perceber que suas necessidades individuais podem ser do interesse de seus pares também e que, somando o que eles têm em comum, formam um coletivo”, diz. Assim unidos, eles materializariam seu potencial, criando condições de interferir de fato no jogo político mais amplo. Contexto social Para a psicóloga social Soraia Georgina Ferreira de Paiva Cruz, professora da Universidade Estadual de São Paulo, em Assis, no interior do Estado, ao avaliar a participação juvenil é necessário considerar o contexto social. Se a sociedade prega o “cada um por si”, como esperar, então, que os jovens se manifestem como cidadãos ativos? Vivemos também tempos velozes. Tudo é efêmero. E isso dificulta a formação de grupos mais consistentes e de atuação a longo prazo por conta da quebra nos laços de confiança e reciprocidade. As relações – amorosas, familiares, profissionais – ficaram mais fluidas e são encaradas de maneira mais complexa. “Os laços hoje são menos sólidos, as fixações são pontuais e a noção de tempo é momentânea”, diz Lucia.
Isso explica parte do que os adultos entendem como a “apatia” dos jovens de hoje. Nos anos 60, 70, grupos organizados peitavam governos, pregavam o amor livre, seguiam guerrilhas para derrubar regimes. Com um número menor de ditaduras no horizonte, a juventude do século 21 está mais preocupada com a sobrevivência, com as perspectivas de educação e emprego. No caso brasileiro, existem ainda outros fatores a serem levados em conta. A descrença nas instituições é reforçada pelo atual cenário político, com crises e denúncias contínuas de corrupção. A percepção da política se radicaliza. “Ser político é visto como coisa de vagabundo. Perde-se o referencial de que essa figura é o gestor administrativo e econômico do país”, diz Lucia. Isso não quer dizer que os jovens estejam observando o noticiário como espectadores passivos. “Eles estão participando politicamente, mas não é um movimento de multidão. Estão mudando a sociedade deles por meio dos seus próprios movimentos culturais, como o hip hop, com o violão e o grafite”, diz Soraia, reforçando a idéia de que, no caso da população juvenil, a definição de participação não deve ficar circunscrita às associações formais. Educação para o público Pais e educadores podem estimular uma maior participação da juventude. Como? “Abrindo espaços para os jovens se expressarem e ajudando a formalizar os grupos que já existem”, diz Miriam Abromovay. O que costuma acontecer, segundo a pesquisadora, é que os adultos têm uma visão de que esse é um
grupo a ser controlado. E essa relação precisa mudar. “Precisamos começar a pensar no que eles desejam e incorporar a cultura juvenil.” Para isso, são necessárias muitas instâncias de diálogo – na família, na escola, na comunidade. Sem autoritarismos, com a recusa pura e simples da opinião do jovem, nem complacência desmedida, na busca de agradar o jovem a qualquer custo. A convivência em ambientes repressores ou indiferentes, na família ou na escola, deixa a juventude mais suscetível à sedução de grupos manipuladores. “Aquele que tem mais bagagem está mais preparado para dialogar com as novas referências e responder de maneira mais crítica”, diz Tiago. E de agir com mais responsabilidade. É fundamental criar oportunidades para o debate. “Precisamos trazer a discussão dos problemas sociais para o cotidiano”, diz Soraia. A receita é “falar, falar, falar” sobre a Constituição, a democracia, a exploração social, os direitos humanos, a tolerância. Quando se acostumam ao exercício da crítica, os jovens tendem a transferir seus conceitos para os pequenos problemas do dia-a-dia. “Ao sentir a força que têm, como são capazes de fazer os questionamentos e de se posicionarem, eles começam a ter consciência de grupo e um projeto político.”
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A FORÇA DA TURMA NATURAL NA JUVENTUDE, A REUNIÃO EM GRUPOS TEM MUITAS FORMAS E, QUANDO ARTICULADA, PODE PRODUZIR MUDANÇAS NO CONTEXTO SOCIAL
Já viu alguém jovem sem turma? Pode até ser que sim, mas é difícil. A juventude é o momento de sair debaixo das asas dos pais, de ir além dos limites da escola, de buscar os pares. Isso significa olhar para o grupo – escola, igreja, bairro, cidade – e se posicionar em relação a ele. “Existe uma disposição, que é natural dessa idade, de buscar parcerias, que podem ser com mais duas, três ou 30 pessoas”, diz o psicanalista paulistano Tiago Corbisier Matheus. De fato, segundo uma recente pesquisa, intitulada Juventudes Brasileiras, 27,3% dos jovens participam ou já participaram de alguma associação. “Pode parecer pouco em porcentagem, mas isso representa cerca de 13 milhões de pessoas”, diz a socióloga Miriam Abramovay, que coordenou o estudo juntamente com Mary Garcia de Castro. Financiado pela Unesco, o levantamento traz ainda outro dado que revela o perfil da participação juvenil: dentre a parcela dos mais atuantes, 81% estão ligados a alguma entidade religiosa. Stephanie Chao Ni Ng, de 18 anos, é uma entre esses quase 10 milhões. Estudante de Engenharia na Universidade de São Paulo, ela passa suas tardes de sábado com colegas da Igreja Evangélica dos Cristãos. “Contamos como foi a semana, oramos, fazemos estudos bíblicos”, diz. “É uma oportunidade de encontrar pessoas que vivem sob o mesmo propósito.” Para Miriam, é preciso levar em conta também outros tipos de agrupamentos não-formais, como os grupos de rap ou times de futebol. “Todo grupo é importante porque possibilita aos jovens a aquisição de capital cultural”, diz a pesquisadora. São experiências que vão ajudá-los, como indivíduos, a fazer suas escolhas pelo resto de suas vidas.
Por_ Karina Yamamoto Ilustração _ Dedê Paiva
Terreno fértil Fazer parte de uma turma também é importante para definir a nossa identidade. “Só existimos em relação ao outro”, diz a psicanalista e socióloga Lucia Valladares, de São Paulo. Mas, na adolescência e na juventude, o sentimento de bando é mais intenso. “Nessa fase, a matriz da personalidade, que foi dada nos primeiros anos de vida, ganha novos
QUATRO LÍDERES JOVENS REFLETEM SOBRE A DEMOCRACIA E A TOLERÂNCIA NA SOCIEDADE BRASILEIRA
PRINCÍPIOS DE CONVIVÊNCIA Estudiosos dizem que a tolerância tem na democracia sua melhor morada. Sem ela, seria impossível conceber o diálogo, a liberdade, o pluralismo, a representação e a participação políticas, o princípio da maioria e os direitos das minorias. Será que a democracia brasileira é exercida em bases razoáveis de tolerância ou precisa melhorar? A pergunta abriu o debate entre quatro lideranças juvenis convidadas por Onda Jovem a refletir sobre o tema: o estudante de Jornalismo João Felipe Terena, 24 anos, representante da Associação dos Estudantes Indígenas do Mato Grosso do Sul no Conselho Nacional de Juventude; Magnólia Fagundes da Silva, 21 anos, integrante do Coletivo de Juventude do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) de São Paulo; a estudante de Direito Isabelle Lessa, 19 anos, presidente da Juventude Municipal do PSDB do
Rio de Janeiro e parceira da Fundação Konrad Adenauer na promoção de cursos de formação política; e o estudante de Jornalismo Gustavo Lemos Petta, 24 anos, presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) em segundo mandato e membro do Comitê Central do PC do B. A seguir, os principais momentos do nosso “chat de revista”. Onda Jovem: Você acha que a democracia brasileira é exercida em bases razoáveis de tolerância? GUSTAVO: O fato de termos direitos civis e liberdade de expressão, que poderíamos chamar de democracia formal, já é uma grande conquista. Mas não podemos parar por aí. É preciso estabelecer a democracia efetiva, com instrumentos capazes de garantir o respeito à diferença e a tolerância ao outro. Temos as leis, mas é preciso garantir o cumprimento delas.
BEATRIZ ASSUMPÇÃO
BRUNO TADEU GARCIA
chat de revista
MAGNÓLIA FAGUNDES DA SILVA, 21 ANOS, representante do Coletivo de Juventude do MST/SP
ISABELLE LESSA, 19 ANOS, presidente da Juventude Municipal do PSDB do Rio de Janeiro
GUSTAVO PETTA, 24 ANOS, presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes)
JOÃO FELIPE TERENA, 24 ANOS, representante da Associação dos Estudantes Indígenas do Mato Grosso do Sul
ISAÍAS MEDEIROS
ROSÂNGELA DA SILVA / IMAGENS DO POVO
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MAGNÓLIA: Acho que a democracia no Brasil ainda é ditada por poucos. Por exemplo, os jovens assentados e acampados são tratados pela mídia como criminosos e bandidos, quando de fato lutamos por nossos direitos. É a intolerância alimentada pelo desconhecimento da realidade em que vivemos. Os jovens brasileiros são tolerantes em relação à diversidade humana, social e política? ISABELLE: Os jovens em geral são mais flexíveis na aceitação das diferenças, buscam o espírito democrático. MAGNÓLIA: A maioria dos jovens é descomprometida quanto a essas questões, talvez por falta de espaço para a juventude.
TERENA: Minha experiência diz que não, os jovens não são tolerantes. Diferenças étnicas, de religião e de orientação sexual causam estranhezas. Tenho dificuldade até para montar um time de futebol com jovens. Ainda estamos todos aprendendo a ser mais tolerantes com a diversidade humana da nossa região. Como você vê a representatividade da juventude em termos de participação política, conquista e defesa de direitos? Há pluralismo de idéias, diálogo? Gustavo: Infelizmente, vivemos uma crise profunda na política. Os jovens não se interessam com o entusiasmo que deveriam ter. Pior para todos, pois a política é o resultado do nosso envolvimento e assim não teremos as mudanças que gostaríamos de ver. No movimento estudantil, existem, sim, disputas e incompreensão, mas dentro de uma lógica de cooperação. Quando o jovem se organiza no centro acadêmico ou MAGNÓLIA no grêmio, ele precisa buscar formas de associação, de disputar idéias para construir consensos. Terena: Acho difícil avaliar a representação política dos jovens brasileiros. Começo a conhecer, em minha região, as juventudes partidárias. Mas acredito que a criação da Secretaria Nacional de Juventude, no ano passado, é um marco na história de lutas da juventude brasileira. Isabelle: O movimento jovem ainda precisa se firmar com poder de decisão na esfera nacional. Falta ouvir o jovem e deixá-lo assumir seu papel protagonista e essa deficiência só pode melhorar com a maior participação política dos próprios jovens. No que os jovens precisam investir para contribuir para uma sociedade melhor? Gustavo: Em associações de bairro, redes comunitárias, ONGs, movimentos sociais, não importa. Organizar é a palavra de ordem. Quanto mais aprimorada for a organização, maior será a capacidade dos jovens de intervir e lutar por melhorias.
GUSTAVO
PARA SABER MAIS
SOBRE
GUSTAVO: Os jovens brasileiros são tolerantes, mas não podemos ignorar que há uma cultura da intolerância arraigada nas nossas tradições. A todo instante, precisamos refletir sobre nossa conduta para evitarmos atos impensados, o preconceito que às vezes nem percebemos, mas que deve ser igualmente combatido. Devemos estar sempre ligados, provocando uma tensão com esta tradição conservadora, que é obstáculo ao respeito às diferenças.
MAGNÓLIA FAGUNDES
SOBRE
TERENA: O exercício da democracia no Brasil ainda precisa melhorar muito, especialmente para as comunidades indígenas, que não são tratadas com respeito. Muitas vivem em situação de exploração, “usadas” apenas para votar em troca de cesta básica, combustível, patrocínio de festinhas...
Se na política tudo fosse perfeito, não precisaríamos nos organizar para lutar
PARA SABER MAIS
ISABELLE: Há tolerância demais e também de menos na democracia brasileira. No primeiro caso, refiro-me ao modo de condução do sistema de governo. Ficam muitas brechas, o que gera vulnerabilidade e falta de consistência política nas ações. Por outro lado, falta tolerância nas relações sociais quanto aos direitos de todos (etnia, orientação sexual, religião, cultura, opinião política etc.). O respeito a essas diferenças é o maior significado da tolerância democrática.
UNE – UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES ÁREA DE ATUAÇÃO NACIONAL, COM REPRESENTAÇÕES EM ÓRGÃOS INTERNACIONAIS COMO A OCLAE (ORGANIZAÇÃO CARIBENHA E LATINO-AMERICANA DOS ESTUDANTES). PROPOSTA Representar e defender os interesses dos estudantes universitários brasileiros, participando das principais questões nacionais. JOVENS ATENDIDOS A UNE representa o conjunto de cerca de 4 milhões de estudantes universitários. APOIO NÃO HÁ APOIO DIRETO DE NENHUMA ENTIDADE OU ASSOCIAÇÃO, MAS INTERLOCUÇÃO COM DIVERSAS ENTIDADES, DO SETOR PÚBLICO À REDE DOS MOVIMENTOS SOCIAIS. CONTATO Rua Vergueiro, 2485 – Vila Mariana – 04101-200 – São Paulo (SP) – Tel.: 11/ 5572-1119 – www. une.org.br
ASSOCIAÇÃO DOS ESTUDANTES INDÍGENAS ÁREA DE ATUAÇÃO MATO GROSSO DO SUL. PROPOSTA Inclusão de estudantes e permanência de acadêmicos indígenas nas universidades. JOVENS ATENDIDOS Atualmente 50. APOIO UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO E FUNAI. CONTATO Rua padre Valentim, 66 – São Francisco – 79009 290 – Campo Grande (MS).
SOBRE PARA SABER MAIS
SOBRE PARA SABER MAIS
COLETIVO DE JUVENTUDE DO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA/SP ÁREA DE ATUAÇÃO SÃO PAULO. PROPOSTA Garantir a formação política e cultural dos jovens, com o compromisso de contribuir na luta pela reforma agrária e por um projeto popular para o Brasil. JOVENS ATENDIDOS Cerca de 20 mil jovens acampados e assentados do MST no Estado de São Paulo. APOIO: ???????????????????????? CONTATO Fazenda Pirituba Agrovila 1 – 13 de Maio – 18400-000 – Itapeva (SP) – Cx. Postal 76 – Tel.: 15/ 3562-6602 – E-mail: magnoliafagundes@yahoo.com.br. ISABELLE
CENTRO DE ESTUDOS DO RIO DE JANEIRO DA FUNDAÇÃO KONRAD ADENAUER ÁREA DE ATUAÇÃO Sul, Sudeste e Centro-Oeste PROPOSTA Trabalhar em prol dos direitos humanos, da democracia representativa, do Estado de Direito, da economia social de mercado, da justiça social e do desenvolvimento sustentável. Atua com formação política, desenvolvimento de pesquisas e incentivo à participação política e social. JOVENS ATENDIDOS 500 por ano. APOIO JULAD – JUVENTUDE LATINOAMERICANA PELA DEMOCRACIA; CENTRO DE ESTUDOS DAS AMÉRICAS DA UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES; INSTITUTO TANCREDO NEVES; INSTITUTO TEOTÔNIO VILELA; OEA; INTERNATIONAL REPUBLICAN INSTITUTE; NATIONAL DEMOCRATIC INSTITUTE. CONTATO Praça Floriano, 19 – Centro – Rio de Janeiro – 20031-050 – Tel.: 21/ 2220-5441 – konrad@adenauer. org.br e democracia@adenauer.org.br (projetos de formação política) – www.adenauer.org.br.
Isabelle: Na reflexão, no conhecimento, no senso crítico, no empreendedorismo para articular ações e protagonizá-las. Esta é a demanda. O desenvolvimento mundial está voltado para a educação, para a sociedade do conhecimento, para o capital humano. Magnólia: Precisamos que a juventude esteja realmente organizada, ciente de seu papel enquanto sujeito na construção da história. Terena: Os jovens devem sempre estar informados sobre o cotidiano da vida política do país. Não podem permitir ser utilizados como ferramenta de políticos. A democracia precisa dos jovens! Gustavo: De que forma vocês esperam sensibilizar o maior número de pessoas para defender as causas que consideram justas? Magnólia: Trabalhando a formação política e cultural dos jovens, para que eles possam se sentir como parte do processo de construção de uma nova sociedade. TERENA
Isabelle: Pela construção de um espaço unificado e também trabalhando para eliminar as possibilidades de exclusão e as barreiras, gerando um ambiente onde todos se sintam parte dele. É a união que sensibiliza as pessoas. Terena: Temos conseguido mobilizar muitas pessoas em torno da nossa causa mostrando um pouco da nossa cultura, das dificuldades que temos para chegar ao ensino superior, nosso histórico de situação de exclusão. Isso sensibiliza para a busca da cidadania.
O poder do governo passa e o do povo transforma, de geração em geração ISABELLE LESSA
Isabelle: Como podemos construir um movimento pela democracia, unindo todas as correntes num manifesto mundial pela paz? Magnólia: Creio que não devemos construir um movimento, e sim espaços. Por exemplo, um fórum onde estejam representadas todas as correntes, organizadas ou não, para que possamos juntos discutir. Terena: Temos de pensar primeiro na articulação da juventude brasileira. Penso que o esporte, por exemplo, é um bom instrumento para sensibilizar os jovens em torno de uma causa. Quanto à paz, que todos queremos, pequenas atitudes ajudam muito. Denunciar um crime é uma atitude a favor da paz; educar nossos filhos para viver em sociedade também. Gustavo: A saída passa pela construção de amplos fóruns de discussão em nível global, como é o caso do Fórum Social Mundial, uma referência a partir da qual podemos nos organizar. Terena: Como fazer o jovem acreditar em política e participar, mesmo com a situação vergonhosa atual dos nossos representantes? Magnólia: Vivemos, sim, uma situação política vergonhosa, mas aí é que está: se na política tudo fosse perfeito, nós não precisaríamos nos organizar para discutir e lutar. Temos de discutir com os jovens os pontos negativos da política, e não exercer a democracia somente na hora do voto. Gustavo: A corrupção tem muitos aspectos perversos. Talvez o maior deles seja a desqualificação da atividade política, a disseminação da idéia de que tudo é a mesma coisa. Por isso, os jovens envolvidos em alguma causa pública têm um compromisso ainda maior de não reproduzir os vícios da política tradicional. Isabelle: É preciso mostrar ao jovem que política tem um significado amplo: todos vivem e fazem política o tempo todo, e ela não pode ser crucificada pelo mau exemplo de alguns representantes. O poder do governo passa de quatro em quatro anos e o poder do povo modifica, transforma e se desenvolve de geração em geração.
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Links
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PARTICIPAÇÃO POLÍTICA EM CARTILHAS Jovens querem estimular outros jovens ao exercício da cidadania e à participação política. O Grupo Interagir, ONG juvenil de Brasília, lançará em julho uma cartilha para mostrar como avaliar programas políticos de candidatos e projetos de leis relativos à juventude. A iniciativa faz parte do projeto “Voto, logo opino”, criado pela organização em 2002. Na época, aconteciam as
DEBATE NAS ESCOLAS Outra cartilha – “Participação Política: Crianças e Adolescentes Participando da Construção dos Caminhos do Semi-Árido Brasileiro” – está levando o debate político para escolas de centenas de municípios do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo. A iniciativa faz parte projeto Selo Unicef – Município Aprovado, que visa a incentivar os municípios da região do semi-árido a melhorar sua atuação em políticas públicas. Uma das ações do projeto é aumentar a participação política dos adolescentes em seus municípios. Por isso, a Agência de Notícias da Infância Matraca, organização de São Luís (MA), produziu o material. “O projeto tem como meta aumentar o número de eleitores jovens e também sua participação política geral”, explica
Lissandra Leite, coordenadora de projetos na Matraca. A cartilha, acompanhada de um CD, faz várias sugestões para mobilizar os estudantes, como um comício de boas idéias, gincanas e uma feira de política nos moldes de uma feira de ciências. Além disso, traz dicas para facilitar a instalação de grêmios estudantis e levar os estudantes a atuar nos conselhos escolares, entre outras ações. Segundo Lissandra, essas ações poderão ser ampliadas a partir dos dados de uma pesquisa que está sendo finalizada com jovens da região do semi-árido. “Queremos saber como o adolescente da região se envolve com a política para promover outras ações que fortaleçam sua participação.” A cartilha pode ser solicitada pelo e-mail agencia@matraca.org.br ou pelo telefone 98/3254-0210.
eleições para governador no Distrito Federal e o projeto consistia em uma oficina para debater o programa dos candidatos. “A mesma metodologia usada na oficina será divulgada na cartilha, mas não estamos pensando apenas nas eleições atuais. A idéia é que a cartilha seja uma ferramenta permanente para a discussão de questões da juventude. Muitos jovens querem participar da política, mas não sabem como. A cartilha os ajudará a ter uma visão mais crítica sobre temas de seu interesse”, diz Juliana Mendes, coordenadora do projeto. Com tiragem inicial de mil exemplares, a cartilha será distribuída para organizações juvenis em todo o Brasil.
Nonoo onono onono onono oonono onono ononoo onono onono ononoo ononono oono
Como faz desde o primeiro número, a revista Onda Jovem continua divulgando novos talentos nas áreas de fotografia e ilustração. Entre os colaboradores desta edição, estão quatro ilustradores que vivem no Nordeste. O trio Adriano Marinho da Silva, 18 anos, Bruno César Cerqueira, 18 anos, e Vinícius Barreto Barbosa, 19 anos, responsável pela ilustração da seção Horizonte Global, é formado por alunos egressos da primeira turma da Kabum! Escola Telemar de Arte e Tecnologia de Salvador, que é coordenada pela Cipó – Comunicação Interativa. Para criar a ilustração da entrevista de um especialista em juventude do continente latino-americano, o trio desenvolveu a seguinte argumentação: “Hoje em dia, a participação política e social do jovem na América Latina é um assunto bastante complicado para ser tratado entre jovens, pois muitos deles acabam percebendo que ainda há um certo preconceito quando se fala na juventude ‘interferindo’ no mundo político e social. O foco está nessa questão, pois cada jovem sempre tem algo a acrescentar na sua região, e é justamente isso que apresentamos nessa ilustração”. A imagem que criaram espelha bem a análise. Outra nova colaboradora é a paulistana Dedê Paiva, 25 anos, que mora em São Luís e estuda Educação Artística na Universidade Federal
2 Dos 96 distritos que compõem o município de São Paulo, a maioria é considerada de alta vulnerabilidade social e apresenta grande concentração de jovens. Eles estão, por isso, entre as maiores vítimas da violação de direitos humanos e são um dos alvos principais de acompanhamento do SIM Direitos Humanos, o Sistema de Monitoramento Intraurbano criado recentemente pela Comissão Municipal de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo (CMDH). A ferramenta reúne e sistematiza informações
ILUSTRADORES DO NORDESTE
relativas às violações de direitos socioeconômicos, sociais e culturais da população das 31 subprefeituras da cidade. “Pela primeira vez, estamos medindo os direitos humanos, aceitando o desafio de traduzir o tema em números e colocar à disposição dos planejadores públicos para orientar suas decisões”, diz José Gregori, que preside a CMDH. De acordo com o SIM Direitos Humanos, Cidade Ademar, Guaianazes, Jabaquara, M’Boi Mirim, São Mateus, Parelheiros e Socorro são as regiões de São Paulo que têm as mais precárias garantias de direitos humanos. Nesses distritos, por exemplo, a população jovem têm pouco ou nenhum acesso a equipamentos culturais e de lazer, instrumentos importantes para diminuir a violência. “Informações como essas, que o SIM Direitos Humanos permite identificar, são muito importantes para orientar políticas de atenção aos jovens. Oferecer a eles mais pontos de encontro, além de contribuir para o combate à violência e à violação de direitos, significa
do Maranhão. Convidada a ilustrar a seção Ciência, que aborda as formas juvenis de se agrupar, ela achou que o tema permitia uma certa abstração. “Fiz uma ciranda de jovens, formando uma mandala: no centro, a espiral representa o movimento; nas bordas, o meio social ( a cidade e a natureza) é representado por grafismos”, diz. Dedê é também a ilustradora da cartilha sobre política da Unicef (leia nota na página oposta) e seu trabalho pode ser conhecido no site www.flogao. com.br/dedepaiva.
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MAPA DA VIOLAÇÃO DE DIREITOS
estimular sua participação comunitária, cidadã e política”, ressalta José Gregori. É possível ter acesso aos dados do SIM – Direitos Humanos pelo endereço http://portal.prefeitura. sp.gov.br/cidadania/cmdh. Para saber mais sobre o projeto, pode-se entrar em contato com Comissão Municipal de Direitos Humanos pelo telefone 11/3106-0030.
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Fato Positivo
DIVULGAÇÃO / PARCEIROS VOLUNTÁRIOS
DE LIVRE VONTADE Cada vez mais jovens descobrem que a indignação com o estado das coisas pode ser, sim, transformada em ação. Três das maiores centrais de voluntariado no país – a Rio Voluntário, a Natal Voluntários e a Parceiros Voluntários, do Rio Grande do Sul – detectam um aumento significativo de jovens que realizam trabalho voluntário por meio de instituições ou mesmo diretamente em suas comunidades. Um dos motivos desse aumento de interesse dos jovens está na mudança das próprias intenções que movem os projetos sociais. Se há alguns anos o trabalho voluntário estava próximo da caridade pontual e isolada, hoje está mais ligado ao conceito de cidadania e da ação continuada. “Com o trabalho voluntário, os jovens têm a possibilidade de buscar resultados e ver mudanças concretas na sociedade. Com isso, sentemse comprometidos e integrados no mundo”, diz Claudia Remião Franciosi, gerente de mobilização da Parceiros Voluntários (www.parceirosvoluntarios.org.br). A organização existe há nove anos no Rio Grande do Sul e criou um projeto para direcionar as demandas dos jovens. É
A ATUAÇÃO VOLUNTÁRIA CRESCE ENTRE OS JOVENS
Por _ Cristiane Ballerini
o Tribos nas Trilhas da Cidadania, no qual grupos de moças e rapazes escolhem em que áreas querem atuar e interagem com comunidades para criar e desenvolver projetos ao longo do ano. Em três anos, o número de participantes voluntários saltou de 18 mil para 52 mil no estado. “Os jovens buscam desafios, experiências novas e conseguem incorporar a imprevisibilidade dos projetos. Eles têm muito a contribuir com o terceiro setor que, tantas vezes, lida com o inusitado”,diz Claudia. Outra razão que leva mais jovens à fila de voluntários está ligada ao mercado de trabalho. Muitas empresas passaram a valorizar profissionais com esse tipo de atividade no currículo. E não se trata apenas de uma “onda politicamente correta”. “O voluntário é alguém disposto a trabalhar em grupo e lidar com realidades diversas. Não é de se espantar
DIVULGAÇÃO / NATAL VOLUNTÁRIO DIVULGAÇÃO / RIO VOLUNTÁRIO
Avesso
Falta de planejamento. Esse ainda é um motivo para que muitas ações sociais se percam nas boas intenções dos voluntários. Sem estudos prévios, determinação de necessidades e objetivos, dificilmente uma organização consegue manter a motivação do voluntariado, especialmente os jovens. “Nessa fase, há um desejo intenso de mudanças. É preciso lidar com a ansiedade dos jovens, mostrando a eles que é necessário mais tempo para certas realizações, mas quando elas não acontecem ou acontecem mal, por falta de organização, é difícil mantê-los disponíveis”, diz Laurelena Palhano, do Rio Voluntário. Por isso, várias centrais voltam parte de sua energia para qualificar as próprias instituições onde os voluntários devem atuar. O desencontro de interesses também pode gerar problemas. Não é raro que jovens voluntários sonhem em realizar determinadas atividades. Em contato com a realidade, no entanto, essas ações podem se mostrar pouco importantes. E quando isso acontece, é preciso experiência para não acabar de vez com as motivações do participante. “Não podemos cometer o equívoco de colocar o foco da ação apenas no desejo do voluntário. É preciso ajudar o jovem a pensar nas realidades diversas da sua e fazer parcerias”, diz Mônica Mac Dowell, da Natal Voluntário.
que as empresas simpatizem com o perfil. São competências importantes para o trabalho”, diz Laurelena Palhano, coordenadora do Rio Voluntário (www.riovoluntario.org.br), organização que já capacitou 5 mil pessoas, entre as quais muitos jovens, líderes de projetos. Mas não é contraditório fazer trabalho voluntário pensando também em melhorar as chances de emprego? Foi-se o tempo em que se esperava apenas “doação” dos voluntários. A integração entre pessoas em torno de um objetivo comum pode ensinar muito aos participantes e trazer experiências de vida transformadoras, especialmente para o futuro profissional. “Durante as atividades, os jovens aprendem a planejar, fazer projeções e, muitas vezes, têm a oportunidade de experimentar a futura profissão. Um estudante de advocacia, por exemplo, pode ganhar experiência estudando casos e fazendo consultoria informal em uma comunidade”, diz Laurelena.
No Rio Grande do Norte, a Natal Voluntário (natalvoluntario@uol.org. br) também aposta no trabalho voluntário para aprimorar a formação. Conhecida por movimentar grandes grupos durante os dias de Ação Global, a organização coordena um projeto de voluntariado em parceria com escolas locais. Os alunos empreendem ações comunitárias em várias áreas, como meio ambiente, saúde e cultura. Os professores apóiam os grupos com conhecimentos específicos e ainda aproveitam as atividades práticas para tornar as aulas mais eficientes. A diretora do Natal Voluntários, Mônica Mac Dowell, lembra que, apesar do crescente entusiasmo dos jovens com o voluntariado, eles às vezes se frustram ao perceberem que as ações voluntárias não trazem soluções imediatas para problemas conjunturais profundos. “Por outro lado, os jovens estão conscientes de que ser voluntário é, acima de tudo, uma questão de atitude. E atuam cada vez mais voltados para a busca de soluções em suas comunidades.”
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Cartas
NAS MÃOS DOS EDUCADORES
Sou socióloga e Onda Jovem irá colaborar muito na compreensão da realidade do jovem e no processo de elaboração de minhas aulas, no projeto Agente Jovem da Prefeitura de Cambé, onde leciono há dois anos. Foi o próprio coordenador do projeto que me indicou a revista, pela qual me interessei muito. Mariana de OLiveira Lopes Cambé, PR É com enorme prazer que escrevo para parabenizá-los pelo bonito trabalho. Estamos fundando uma ONG para trabalhar com crianças, jovens e idosos e gostaria de solicitar exemplares da revista Onda Jovem, pois além de pretendermos desenvolver a leitura entre os participantes, nós também estamos à procura de experiências inovadoras. Salomão Medeiros Felipe Guerra, RN
FAÇA CONTATO Envie cartas ou e-mails para esta seção com nome completo, endereço e telefone. ONDA JOVEM se reserva o direito de resumir e editar os textos. Endereço: Rua Dr. Neto de Araújo, 320, conjunto 403, CEP 04111-001, São Paulo, SP. E-mail:
ondajovem@olharcidadao.com.br.
ONDA JOVEM NO PARANÁ
A edição número 4 de Onda Jovem, que abordou o tema “Saúde – Os Desafios para Promover o Bem-Estar Físico, Mental e Social da Juventude Brasileira”, foi destaque no material de apoio ao I Seminário Integrado: Sexualidade – Diversos Olhares, promovido em abril pela Secretaria de Educação do Paraná. O seminário promoveu palestras para cerca de 500 professores da área e incluiu discussões de políticas públicas para adolescentes, das quais participaram 180 pessoas, representantes de 32 Núcleos Regionais de Educação do Estado e das Secretarias da Justiça, Ciência e Tecnologia, Saúde, Ministério Público e Conselhos Tutelares.
A Rede Antena Verde–RAV (www.antenaverde.org.br.) é uma organização da sociedade civil cujo objetivo é estimular o público jovem a participar de iniciativas sociais, culturais, conservação do meio ambiente e perpetuação da vida saudável em nosso planeta. Pelo que vi, o projeto de vocês tem muito a ver com o nosso. Desejo muito sucesso a vocês. Anna Frota Rede Antena Verde Recebemos Onda Jovem e gostamos muito. Gostaríamos de saber como adquirir mais exemplares, pois nossa equipe é muito grande e utilizamos a revista como orientação para a equipe técnica. Núcleo Meu Guri Tucuruvi São Paulo, SP Gostaria de receber a revista e também o boletim online, por ser um material extremamente bem elaborado e rico em informações sobre juventude. Trabalho com programas sociais e tenho interesse em aprofundar-me no tema. Neide Rocha Sencovici São Paulo, SP
Sou assistente social e estamos implantando uma unidade de medidas socioeducativas para atendimento de adolescentes que cometeram pequenos atos infracionais na cidade de Eunápolis. O trabalho é uma parceria do governo da Bahia, prefeitura e a metodologia é da Fundação Reconto. O nome já diz: proporcionar ao adolescente uma oportunidade de recontar a sua história. Por isso, gostaríamos que nos enviassem a revista Onda Jovem, pois ela será de grande valia para o nosso trabalho. Rita Jardim de Olanda Fundação Reconto Eunápolis, BA Trabalho com assessoria em juventude no Piauí e com a Pastoral da Juventude. Gostei muito dessa iniciativa e gostaria de colaborar no que puder com Onda Jovem. Clésio Jonas Piauí Faço parte da equipe regional de comunicação da Pastoral da Juventude no Rio Grande do Sul e quero indicar o material de vocês para nos auxiliar. Parabéns pela iniciativa e pela qualidade! Joice Rossato Lima Pastoral da Juventude do Rio Grande do Sul
Cumprimento Instituto Votorantim e Olhar Cidadão pela publicação da excelente Onda Jovem, que com um ano de vida já se destaca como a melhor e a mais importante revista brasileira destinada às questões referentes à nossa juventude. Onda Jovem já é leitura obrigatória para todos que se preocupam e trabalham pelo futuro dos jovens do Brasil! Parabéns a toda equipe! Luiz Eduardo Reis de Magalhães Diretor de Marketing (voluntário) AACD – Associação de Assistência à Criança Deficiente, São Paulo, SP
ENTRE PROFESSORES
Sou professora há 26 anos na rede pública municipal de Campo Grande e no curso de Jornalismo da Universidade Católica Dom Bosco. Trabalho também com catequese e sempre procuro discutir questões voltadas ao jovem. Com a indicação da profª coordenadora, Maria Terezinha, pude ler no site Onda Jovem textos de apoio ao meu trabalho e estou solicitando aos alunos a leitura e o intercâmbio para discussão e análise dos assuntos divulgados. Espero merecer fazer parte deste grupo de pessoas que fazem da juventude um compromisso e que esta onda jovem seja de fato um meio de fazer a diferença numa sociedade tão desigual como a nossa. Maria Fernanda B. D. Alencastro Campo Grande, MS Gostaria de parabenizá-los pela iniciativa do site e da revista Onda Jovem, veículos fundamentais a todos nós profissionais e cidadãos que lidamos cotidianamente com as questões postas pela juventude contemporânea. Estamos afinados com a sua pauta de discussão no curso de pós-graduação lato sensu sobre Juventudes, que está sendo implementado na Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro. Daniella Coelho de Oliveira. Professora de Juventudes Contemporâneas Rio de Janeiro, RJ
Ficamos muito emocionados com a forma que a Onda Jovem mostrou o Jovens de Bem com a Vida (seção Mestres, edição número 4). Ainda que a matéria tenha focado um profissional, todos nós sabemos que o projeto é resultado de um grande esforço coletivo. O reconhecimento nos faz seguir com mais determinação. A propósito, já fomos entrevistados, por conta da matéria, pela Rádio Nacional de Brasília. E meu e-mail já não é mais o que consta na reportagem, mas ped@elo.com.br. Marizélia Ribeiro Médica coordenadora do projeto de extensão universitária Jovens de Bem com a Vida São Luís, MA Conheci a revista Onda Jovem e me interessei bastante pela publicação. Achei a revista com formato original, criativo e interessante. Sou professora e acredito que esta publicação será muito útil em minhas atividades, assim como de outros professores de minha escola. Luzia Pires Lambiasi Professora titular do Ensino Fundamental II da prefeitura do Município de São Paulo Vi um exemplar no Conselho Municipal de Educação de Belo Horizonte, li e me interessei muito por essa belíssima revista. Gostaria de saber como obter exemplares. Professora Maria D`Ajuda Silva Belo Horizonte, MG
NA AMÉRICA LATINA
Quero felicitá-los pelo portal na internet. Está muito legal. Gostaria de dizer que na Bolívia um grupo de jovens desenvolve um projeto chamado www.mundoalreves.com, que se destina a promover a comunicação participativa de uma forma mais humana e aberta. Acreditamos que podemos apoiarmo-nos mutuamente por meio de nosso sites. Saudações do Oriente Boliviano. Annelissie Arrázola M. Santa Cruz, Bolívia
77 Estamos divulgando Onda Jovem no site www.joveneslac.org. – Portal de Juventud para América Latina y el Caribe, uma iniciativa da Celaju – Centro Latinoamericano sobre Juventud – e da Unesco. Estamos à sua disposição. H. Daniel Spíndola Equipe de gestão do portal
JUNTO COM OS JOVENS
Aqui em Guapiaçu também temos o Parlamento Jovem, criado em novembro de 2005, e gostaríamos de poder contar com quem já tem mais experiência e que nos ajude a crescer. Temos curiosidade em saber mais sobre o assunto e talvez até promover um encontro entre jovens parlamentares. Maria Angélica Guapiaçu, SP
Navegando
NAS TEIAS DO CYBERESPAÇO
Quem temia que a disseminação do uso dos computadores e o desenvolvimento da internet prejudicassem a criatividade humana preocupou-se à toa: não só não prejudicaram como estimularam diretamente o desabrochar de jovens artistas, à medida que se transformaram em ambiente para vários gêneros de arte, principalmente a webarte. Andrei Thomaz, gaúcho de 24 anos, considerado um dos mais talentosos webartistas brasileiros é um desses jovens. “Comecei a me interessar por computação no ensino médio. Eu me envolvi com o computador primeiro do que com a arte. A partir do meu interesse por programas de computação gráfica foi que surgiu a vontade de prestar vestibular para Artes Plásticas, e não para Computação”, diz Andrei, que concluiu a graduação em Porto Alegre e agora faz pós-graduação em Ar-
tes na Universidade de São Paulo. Seus trabalhos – alguns dos quais estão reunidos no site www. rgb.designdigital.com.br – revelam a atração pelos labirintos e pelos jogos, que a mobilidade espacial do computador permite explorar em imagens inesperadas. Outra característica da internet – a possibilidade de livre acesso – está na raiz do projeto Usos do Espaço. Em sua etapa inicial, “N Formas de Monitorar o Espaço”, os internautas são convidados a monitorar um espaço, de sua livre escolha, e enviar os resultados para o site. O primeiro espaço que está sendo monitorado é o Parque da Harmonia, um dos principais de Porto Alegre, e um apartamento vazio. Para Onda Jovem, Andrei articulou duas imagens. A da página esquerda é derivada da obra Labirintos, com um labirinto pode ser visualizado de cinco formas diferentes, incluindo esta em que o percurso é representado como uma seqüência de setas. Na página direita, a imagem resulta de uma obra interativa (www.rgbdesigndigital.com.br/atravesdoespelho/pacman_minotauro/pacman_draw_ frameset.htm), em que o usuário e o trabalho vão ‘desenhando’ na tela. É impossível reproduzir aqui a interatividade das obras, mas vale a pena registrar uma amostra de sua beleza.
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SOBRA DE TEXTOS CARTAS Por intermédio de um amigo da faculdade, tomei conhecimento dessa maravilhosa revista. Faço o curso de Ciências Sociais e adorei a revista pois fala de tudo do que eu preciso para meu desenvolvimento na área de Antropologia, que é a que mais gosto. Quero muito trabalhar na transformação por vias culturais. Dany Gregório Por e-mail Tenho 23 anos e coordeno a Agência Mandacaru de Comunicação e Cultura, que atua com 12 jovens e realiza ações nas áreas de cultura, cidadania e comunicação social em 20 municípios do interior da Bahia, tendo a sede em Retirolândia, a 230 km de Salvador. Queremos que as ações por aqui realizadas por jovens, crianças e idosos tenham visibilidade em todo o país! João Netto Retirolândia, BA
NAS BIBLIOTECAS
Agradecemos a recepção de exemplares da publicação Onda Jovem, que são incorporados ao acervo do Centro de Referência Patricia Bildner (CRPB), do GIFE, onde fica à disposição não somente de nossa equipe, mas de todos os associados e dos usuários externos que nos acessam. Claudia Cândido GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas Este título de periódico foi indicado no Plano de Ensino do curso de Pedagogia do UNIFIEO – Centro Universitário de Osasco e solicitamos informações sobre os procedimentos para recebê-lo em nossa biblioteca. Centro Universitário FIEO Osasco, SP Trabalho no Instituto de Pastoral de Juventude de Porto Alegre. Temos uma biblioteca especializada em juventude e gostaríamos de receber as edições da revista Onda Jovem. Fabrício Preto Porto Alegre, RS
NO SETOR PÚBLICO
Há poucos meses à frente da Coordenação de Juventude da Prefeitura de São Luís, estamos fazendo esforços para articular políticas públicas para a juventude da nossa capital. Neste sentido, gostaríamos de estreitar o intercâmbio de nossa coordenação com Onda Jovem e receber as edições desta tão conceituada revista. Olímpio Araújo Coordenador da área de Juventude da Prefeitura de São Luís, MA Gostaria de parabenizar a toda a equipe de produção da revista Onda Jovem, que cada vez mais vem trazendo conteúdos atrativos e de interesse não só do público jovem, mas também do interesse de todos. A quarta edição, bem como as demais, está sensacional. Parabéns! Michel Martinelli Secretário da Frente Nacional de Prefeitos