Edição 3

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ONDA JOVEM

O Instituto Votorantim apóia essa causa.

ARTE & CULTURA número 3 – novembro 2005 ano 1 – número 3 – novembro 2005

E quer ver muitos jovens fazendo sucesso na capa.

ARTE & CULTURA Como as manifestações artísticas e culturais promovem o desenvolvimento pessoal e social dos jovens brasileiros


sonar

50% das escolas públicas não têm professores de arte

Cerca de 1% do PIB brasileiro é gerado pela cultura MAIS DE 80% DAS CIDADES BRASILEIRAS NÃO TÊM MUSEUS, TEATRO, SALA DE CINEMA

FOTOS: PENNA PREARO

Cada R$ 1 milhão investido na área cultural gera 160 postos de trabalho

Platéia do Master Crews, no Centro Cultural Aiti-Ken (Brasil/Japão), em São Paulo

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Educadores usam teatro, artes plásticas e música em São Paulo, João Pessoa e Manaus pág. 14

O grupo Afro Reggae, do Rio, tira jovens do tráfico e já é quase auto-sustentável pág. 22 A CULTURA HIP HOP SE ORGANIZA CADA VEZ MAIS NAS PERIFERIAS DAS CIDADES BRASILEIRAS PÁG. 60 As políticas públicas estão priorizando as ações coletivas e profissionalizantes pág. 64

A B.Girl Wal, da equipe GBCR, do Rio de Janeiro, na festa King of the Circle, em Sorocaba (SP)

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âncoras “Hoje, os jovens têm mais autonomia para construir seu acervo cultural.” Paulo César Rodrigues Carrano,

do Observatório da Juventude da Universidade Federal Fluminense

“Nossa cultura tem valores que merecem ser preservados.” Délio Firmo Alves,

“A ligação com a cultura me transformou em uma pessoa melhor, mais aberta aos problemas do mundo.” William da Silva Mota, 20 anos,

músico do Projeto Charanga, em São Paulo

BRUNO GARCIA

índio da etnia Desano, de São Gabriel da Cachoeira (AM)

“A criatividade é uma habilidade de sobrevivência, um recurso precioso, especialmente neste momento da história humana, marcado por instabilidades.” Eunice Soriano de Alencar,

professora da Universidade Católica de Brasília, autora do livro “Criatividades Múltiplas”

“A arte na educação, como expressão pessoal e como produção cultural, é um instrumento para a identificação social e o desenvolvimento individual.” Ana Mae Barbosa,

professora da Universidade de São Paulo, especialista em ensino da arte

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“É incrível, mas o cinema e o teatro me deram mais responsabilidade que o próprio serviço militar.” Leandro Firmino da Hora,

ator, vice-presidente da ONG Nós do Cinema

“Tem muita gente que não considera a arte uma profissão e não topa pagar o valor que ela merece. Pedem muitas apresentações gratuitas.” Ana Lucia da Silva Campos, DEISE LANE LIMA

16 anos, estuda artes circences no Circo Lahetô, em Goiânia (GO)

“O planejamento de um desenho cultural brasileiro deveria ter como premissa a heterogeneidade e a diversidade culturais, que constituem a marca de nossa nacionalidade.” Tião Rocha,

antropólogo e fundador do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, em Minas Gerais

“A cultura abre os horizontes das pessoas, faz com que elas conheçam outros mundos, aprendam a se expressar e a reivindicar seus direitos.” Nadia Barbosa Accioly, 19 anos,

estuda poesia no Cria, em Salvador

RISONALDO CRUZ

“A peça clássica “Opus 26”, de Max Bruch, é pura adrenalina, igual à de pichar em cima do viaduto ou no alto do prédio.”

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L. F. A. C. , 17 anos,

ex-pichador, toca violino no Projeto Guri, em São Paulo

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DANIELLE JAIMES

Direção editorial Josiane Lopes – MTb 2913/12/13 Secretaria editorial Lélia Chacon Projeto gráfico Artur Lescher e Ricardo van Steen (Tempo Design) Colaboradores texto: Ana Mae Barbosa, Aydano André Motta, Cecília Dourado, Daniela Rocha, Ferreira Gullar, Flávia Oliveira, Iara Biderman, Jane Soares, Leonardo Brant, Karina Yamamoto, Katia Canton, Leusa Araujo, Marco Roza, Ricardo Rizzo, Ruth Cardoso, Tião Rocha, Yuri Vasconcelos foto: Anderson Oliveira, Andréa Agraiz, Andréa de Valentim, Antônio Lima, Arnaldo Carv alho, Augusto Pessoa, Beatriz Assumpção, Bruno Garcia, Celso Pacheco, Davilym Dourado, Francisco Andrade Neto,

Capa: grafite de rua fotografado por Henk Nieman Apoio editorial: Vinicius Precioso (Instituto Votorantim) Revisão: Eugênio Vinci de Moraes Diagramação Silvina Gattone Liutkevicius D’Lippi Editorial Fotolito D’Lippi Editorial Impressão Gráfica Sag Como entrar em contato com Onda Jovem: E-mail: ondajovem@olharcidadao.com.br Endereço: Rua Dr. Neto de Araújo, 320 - conj. 403, São Paulo, CEP 04111 001. Tel. 55 11 5083-2250 e 55 11 5579-4464 www.ondajovem.com.br um portal para quem quer saber de juventude

Os educadores que já usam o conteúdo de Onda Jovem para subsidiar seu trabalho com jovens agora contam também com os Planos de Aula disponibilizados na seção Sala do Professor, no site da revista (www.ondajovem.com.br). Os Planos de Aula são sugestões – formuladas por pedagogos exclusivamente para o site – de como dinamizar com os jovens as análises e discussões de reportagens e ensaios publicados pela revista. A primeira edição, que abordou o tema Projeto de Vida – e cuja íntegra permanece acessível no site – gerou dois Planos: um que explora a relação entre Mídia e Projeto de Vida, a partir de texto do psiquiatra Jairo Bouer, e outro sobre Trabalho e Projeto de Vida, baseado em ensaio de Antonio Carlos Gomes da Costa, discutindo os princípios do empreendedorismo. Na segunda edição, que tem o Trabalho como tema, estarão disponíveis quatro Planos de Aula, baseados em textos sobre vocação, valores do trabalho, as novas formas de ocupação e a relação entre tempo e trabalho. Ainda na Sala do Professor, podem-se conhecer as propostas de trabalho de educadores, na seção Mestres, e também fazer contato e trocar informações, na seção Colegas.

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Agradecimentos: Andi – Agência de Notícias dos Direitos da Infância e da Adolescência

ONDA JOVEM SUGERE PLANOS DE AULA

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ilustração: Flávio Castellan, Grupo Dragão da Gravura, Gustavo Rates, Jotapê, Rodolfo Herrera

MARCOS FERNANDES/AGÊNCIA LUZ

Projeto editorial e realização Fátima Falcão e Marcelo Nonato Olhar Cidadão – Estratégias para o Desenvolvimento Humano www.olharcidadao.com.br

BRUNO GARCIA

Um projeto de comunicação apoiado pelo Instituto Votoratim

Francisco Campos, Gustavo Lourenção, Gyancarlo Braga, Henk Nieman, Isaiaz Medeiros, Kátia Lombardi, Márcia Zoet, Marcos Fernandes, Mayko Pereira, Paulo Gonçalves da Silva, Penna Prearo, Ratão Diniz, Rodrigo Castro, Viviane Pereira

ARNALDO CARVALHO

ano 1 – número 3 novembro 2005/fevereiro 2006

SADRAQUE SANTOS

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8 - Navegantes A relação juvenil com a arte e a cultura, segundo os jovens

14 - Mestres Três educadores fazem da arte a sua ferramenta pedagógica

18 - Banco de Práticas O futuro e o passado inspiram quatro iniciativas culturais

22 - Caminho das Pedras Como o Grupo Cultural Afro Reggae, do Rio, disputa jovens com o tráfico

26 - Horizonte Global O MuseoVivo coloca jovens chilenos em contato com sua cultura ancestral

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é o número de

28 - Sextante Ferreira Gullar responde: para que serve a arte?

30 - 90 Graus Arte&Cultura e Sociedade: como se forma a identidade cultural

34 - 180 Graus Arte&Cultura e Educação: os desafios da escola formal para o ensino da arte

38 - 270 Graus Arte&Cultura e Mercado: as relações entre produção cultural e desenvolvimento econômico

42 - 360 Graus Arte&Cultura e Contexto: como entender a arte contemporânea

projetos com jovens que você verá nesta edição

Sonar 02 Pistas do todo e de algumas partes da situação do jovem

Âncoras

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Uma coleção de conceitos sobre arte&cultura

46 - Sem Bússola O poder de inclusão da arte passa pelas formas de comunicação que ela oferece

52 - O Sujeito da Frase O ator Leandro Firmino da Hora explica por que “a arte nos torna responsáveis”

Links

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Notícias sobre juventude e sobre o terceiro setor

56 - Ciência Criatividade: a juventude é mesmo um período de muita criação e flexibilidade

Fato Positivo

60 - Luneta 1

A mentalidade do ensino da arte no Brasil está evoluindo

Hip Hop: os elementos da forma de expressão que conquistou a juventude brasileira

64 - Luneta 2 Artesanato: a força social e econômica da arte feita com as mãos

Cartas 80

68 - .Gov.com

A palavra do leitor

A tendência das políticas culturais juvenis é investir em ações comunitárias

72 - Chat de Revista Quatro jovens discutem o efeito da arte e das manifestações em suas vidas

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Navegando

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A poesia de Ricardo Rizzo

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OPÇÃO:

ARTE E

MÁRCIA ZOET

texto_ Jane Soares

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Jovens descobrem no envolvimento com as manifestações artísticas e culturais uma forma de ampliar horizontes e transformar a realidade

CULTURA Guilherme é bailarino em Londrina (PR). Délio e Márcio lutam para resgatar e preservar a cultura dos índios do Amazonas e dos caboclos do Mato Grosso do Sul. Márcia participa de um grupo folclórico em Canoas (RS). Nadia faz poemas em Salvador (BA) e Tatiana grafita os muros abandonados de São Paulo (SP). Tiago é ator no Rio de Janeiro e Kelly, agente cultural em Belo Horizonte (MG). William faz parte de uma banda que cultiva ritmos brasileiros, em São Paulo. Representantes de realidades diversas, esses jovens se envolveram com a arte e as manifestações culturais por diferentes motivos, mas experimentam, todos, os efeitos transformadores das opções que fizeram e encaram com otimismo as dificuldades de exercê-las. Passaram de consumidores a produtores de bens culturais, num movimento muito característico da juventude, época de revelação de tendências e interesses pessoais, e também de descobertas do mundo e dos valores dos grupos, a rede fundamental pela qual ecoam seus gostos, gestos, atitudes. A pesquisa Perfil da Juventude Brasileira, realizada no fim de 2003 pelo Projeto Juventude, com 3.500 entrevistados em 198 municípios, detecta esse envolvimento dos jovens com a cultura. Entre os assuntos que mais

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interessam a esse público, a cultura e o lazer vêm em terceiro lugar, com 27% das indicações, atrás apenas da educação e o emprego. Dos assuntos que gostam de discutir, 46% dos entrevistados indicaram as drogas; 45%, a sexualidade; 43%, os esportes; e 34%, as artes. O levantamento mostra ainda que 15% participam de grupos de jovens. Entre as atividades desenvolvidas neles, as mais importantes são as religiosas e as musicais. A relação entre grupos e cultura é direta. O professor Paulo César Rodrigues Carrano, do Observatório da Juventude da Universidade Federal Fluminense, explica que os grupos permitem aos jovens realizar um exercício de mão dupla entre a cultura que herdaram e a que constroem. “Hoje, os jovens têm mais autonomia para construir seu acervo cultural”, diz. Para ele, é importante que as diferentes manifestações culturais sejam valorizadas. “É preciso evitar o dualismo entre bom e mau para que se possa entender essas manifestações.” Transformação cidadã “A cultura abre os horizontes das pessoas, faz com que elas conheçam outros mundos, aprendam a se expressar e a reivindicar seus direitos”, diz Nadia Barbosa Accioly, 19 anos, estudante do ensino médio, que faz parte do grupo de poesia do Cria, Centro de Referência Integral do Adolescente, de Salvador. Seu objetivo já está definido: ser atriz e professora de teatro. Antes de chegar ao Cria, ela participou de um grupo de teatro de rua no Liceu de Artes e Ofícios. Com uma irmã e outros jovens do bairro de Nova Brasília, onde mora, Nadia está estruturando também um trabalho social na escola estadual, com foco na saúde. É uma forma de repassar os conhecimentos obtidos. “A necessidade de passar a experiência adquirida adiante é um traço muito forte entre os jovens ligados

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TATIANA GARRIDO, 24 ANOS é artista visual e grafiteira

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a movimentos culturais”, observa a psicanalista e atriz Maria Eugênia Milet, coordenadora do Projeto Cria. Segundo ela, os integrantes das camadas mais pobres, até por terem pouco acesso aos bens culturais tradicionais, criam sua própria cultura: “Quando têm oportunidade de passar por um processo de aprendizado, eles deixam de ser pessoas levadas pela maré e tornam-se cidadãos, agentes de transformação de suas comunidades”. Paulo Carrano concorda. “A cultura da escassez gera criatividade até para superar a própria escassez, como acontece com o rap e o hip hop, que podem ser entendidos como uma forma de participação política.”


navegantes

PARA SABER MAIS

SOBRE

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Foi assim com Kelly Christian Louize da Silva, 23 anos, residente no bairro de Teresópolis, em Betim, região metropolitana de Belo Horizonte. Ela trabalha com movimentos culturais há cinco anos, desde que começou a freqüentar o hip hop e foi convidada a integrar um projeto de formação de agentes culturais. Kelly destaca a importância de os jovens participarem de movimentos cultu-

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rais. “Assim, eles começam a enxergar a vida de uma perspectiva mais ampla, pois têm contato com outras realidades, conseguem construir uma nova identidade, aumentar sua auto-estima e adquirir instrumentos para mudar sua realidade”, diz. O efeito é multiplicador. Tanto Kelly quanto Nadia citam seus próprios exemplos. Elas se transformaram em referências positivas importantes em suas comunidades. “Outros jovens me procuram para saber como podem participar de movimentos”, conta Nadia.

FUNDAÇÃO CULTURA ARTÍSTICA DE LONDRINA ÁREA DE ATUAÇÃO LONDRINA (PR) PROPOSTA Criação de um curso regular e profissionalizante de dança, com duração de oito anos. Nos últimos cinco anos, em parceria com a Secretaria de Cultura, criou a Rede de Cidadania, que faz iniciação à dança em cinco bairros da cidade para identificar talentos JOVENS ATENDIDOS 600 APOIO PREFEITURA MUNICIPAL DE LONDRINA CONTATO Rua Souza Naves, 2.380 – 86015-430 – Londrina (PR) – tel.: 43/3342-2362 – e-mail: funcart@funcart.art.br

Vocação e sustento A transformação pessoal diante da descoberta de um talento artístico é fato. E gera desafios. Guilherme Floriano Silva, 15 anos, nunca tinha visto um espetáculo de balé clássico antes de conhecer a Fundação Cultura Artística de Londrina. Morando com a madrinha em Alexandre Urbano, bairro de classe média baixa da cidade, o garoto fazia parte da Guarda Mirim. Sua expectativa era se preparar para conseguir um emprego e ajudar a família. Como gostava de dançar, um de seus professores o encaminhou para a Fundação. Foi a descoberta de um mundo inteiramente novo. Com apenas quatro meses de aula, fez sua estréia no palco. “Apesar do medo de errar, foi uma emoção muito forte”, conta. Deixou a Guarda Mirim, certo de que seu destino profissional está ligado à dança. Cursando a 8ª série, treina sete horas por dia, na esperança de conquistar uma vaga no Balé de Londrina e,

KELLY CHRISTIAN LOUIZE DA SILVA, 23 ANOS

PROGRAMA NÓS DO MORRO ÁREA DE ATUAÇÃO MORRO DO VIDIGAL, NO RIO DE JANEIRO PROPOSTA Formar atores para o teatro e o cinema JOVENS ATENDIDOS 300 APOIO PETROBRAS CONTATO Rua Dr. Olinto de Magalhães, 54 – 22450-250 – Vidigal – Rio de Janeiro (RJ) – tel.: 21/3874-9411 – www.nosdomorro.com.br – e-mail contato@nosdomorro.com.br

é agente cultural em Belo Horizonte e se envolveu com o setor por causa do hip hop

DÉLIO FIRMO ALVES, 21 ANOS índio da etnia amazônica Desano, luta pela preservação da memória indígena

PROJETO CHARANGA, DA ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA DESPERTAR ÁREA DE ATUAÇÃO ZONA SUL DE SÃO PAULO PROPOSTA Oferecer cursos profissionalizantes, de capacitação e geração de renda JOVENS ATENDIDOS 146 CONTATO Rua Antonio Machado Sobrinho, s/n. – 04416-170 – Cidade Adhemar – São Paulo (SP) – tel.: 11/5621-0901 – e-mail: asscomdespertar@uol.com.br

PROJETO CRIA ÁREA DE ATUAÇÃO CAPITAL E TRÊS CIDADES DA REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR, 15 CIDADES NO INTERIOR DO ESTADO, ALÉM DE CONVÊNIO COM PROJETOS DE PIPA (CE), NÁPOLES (ITÁLIA) E MOÇAMBIQUE PROPOSTA Programa de educação para a cidadania centrado no teatro e na poesia JOVENS ATENDIDOS 96 APOIO UNICEF, CESE, FUNDAÇÃO MACARTHUR, AVINA, COFIC, INSTITUTO CREDICARD, FUNDAÇÃO FORD, WORLD CHILDHOOD FOUNDATION CONTATO Rua Gregório de Matos, 21 – 40025-060 – Pelourinho – Salvador (BA) – tel.: 71/3322-1334 – www.criando.org.br – e-mail: cria@criando.org.br

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NADIA ACCIOLY, 19 ANOS é aluna do ensino médio, estuda poesia em Salvador e quer ser atriz e professora de teatro

MÁRCIA ALMEIDA, 23 ANOS é administradora de empresas e integra um grupo de preservação das tradições gaúchas, em Canoas

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FRANCISCO ANDRADE NETO KÁTIA LOMBARDI

Estudos apontam a grande importância que os jovens conferem aos temas culturais. Na relação com o grupo, eles fazem um exercício de mão dupla entre a cultura que herdam e a que constroem

RISONALDO CRUZ

ANDRÉA AGRAIZ

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navegantes quem sabe, no futuro, ganhar uma bolsa para estudar fora do país. “Quero me profissionalizar, passar o que aprendi para outras pessoas e ganhar dinheiro para ajudar minha família fazendo o que gosto”, sonha. Meta semelhante tem o paulistano William da Silva Mota, 20 anos. Ele quer ganhar a vida como músico, tocando instrumentos de percussão e ensinando. Com o 2º grau concluído, ele enfrenta, porém, a resistência da família, que o pressiona para conseguir um emprego formal. Mas não se dá por vencido. Participa de um coral e de um grupo de dança do Projeto Charanga, na Associação Comunitária Despertar, em Americanópolis, bairro periférico na zona sul de São Paulo. Nos fins de semana, trabalha como assistente de discotecário e de palco. William afirma ter se encontrado no Charanga, idealizado pelo músico Maurício Alves, da banda Mestre Ambrósio, e que tra-

balha com vários ritmos brasileiros. “A ligação com a cultura me transformou em uma pessoa melhor, mais aberta aos problemas do mundo”, conta. Renovação democrática A socióloga Maria Virgínia de Freitas, integrante do Conselho Nacional da Juventude, destaca a importância dos movimentos populares culturais para definir a identidade de seus participantes e o seu lugar no mundo. Ela defende a criação de espaços mais democráticos para que os jovens possam se afirmar não só como consumidores de cultura, mas como criadores de bens culturais, que possibilitem o autoconhecimento e a valorização pessoal. Maria Virgínia destaca a grande renovação que está ocorrendo nas periferias, com a multiplicação de estações de rádios livres, dos grafiteiros e da criação de fanzines. Tatiana Garrido, 24 anos, faz parte desse grupo. Ela sempre gostou de desenhar. Tanto que fez um curso técnico de desenho para comunicação. Ainda na escola, juntou-se a um grupo de grafiteiros do bairro do Tatuapé, bairro de classe média na zona leste de São Paulo. Não parou mais. Agora, mesmo pilotando sua própria empresa de comunicação visual, continua co-

locando sua arte nos muros da cidade. “É uma forma de causar impacto, de mudar a visão das pessoas em relação ao ambiente em que vivem, de alegrar a cidade”, diz Tatiana, que criou, com o marido e um amigo, a Grafiteria, uma galeria para expor as obras dos artistas urbanos. Memória e tradição Mas o resgate das culturas tradicionais de determinadas regiões também é fator que tem motivado muitos jovens. Foi o que aconteceu com Márcia Almeida, uma administradora de empresas de 23 anos, residente em Porto Alegre (RS), e Márcio Roberto da Silva Oliveira, 23 anos, professor de Física que mora em Campo Grande (MS). Quando se mudou de Santa Catarina para Porto Alegre para trabalhar em uma empresa argentina de equipamentos hidráulicos, Márcia ingressou no Grupo Folclórico Tropeiros da Tra-

CELSO PACHECO

ISAIAZ MEDEIROS

Faltam espaços mais democráticos para que a juventude possa se afirmar não só como consumidora, mas como criadora de bens culturais, que possibilitem o autoconhecimento e a valorização pessoal

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O FUTURO É AGORA

dição, de Canoas. “Conhecer a cultura de nosso povo nos faz entender o significado de nossos valores”, diz ela. Márcio, por seu lado, se considera um grande consumidor de cultura alternativa. Trabalhando em sua tese de mestrado na área de eletroquímica, ele é também dançarino do grupo Sarandi Pantaneiro, que tem por objetivo resgatar e preservar a música e a dança do Mato Grosso do Sul. Márcio participa ainda do movimento Negras Raízes, que recentemente editou um livro reunindo poemas de poetas negros. “Resgatar a cultura é vital para não perdermos nossa identidade como povo”, diz. Esse também é o entendimento de jovens índios de São Gabriel da Cachoeira, na Amazônia, onde 90% dos 35 mil habitantes são descendentes de várias etnias indígenas. Délio Firmo Alves, de 21 anos, da etnia Desano, estudante do curso técnico de Enfermagem, lembra que, ao entrar em contato com os índios, os missionários brancos impuseram sua cultura. Assim, costumes, tradições, a própria língua foram esquecidos. “Com isso, os índios também perderam seus valores, sua identidade.” A nova geração desenvolve esforços para resgatar mitos, música, dança, costumes, linguagem das diferentes etnias e luta pela criação de centros de cultura indígena. “Nossa cultura tem valores que merecem ser preservados”, diz.

“Minha paixão pelo teatro começou quando fui assistir a uma peça na qual meu irmão trabalhava, no grupo Nós do Morro, do Vidigal, no Rio de Janeiro. Era um garotinho. Fiquei deslumbrado com as luzes, o texto, a movimentação dos atores e resolvi fazer parte do projeto. Na primeira vez que subi em um palco, chorei de emoção com os aplausos do público. Eles são o melhor prêmio que um ator pode desejar. Depois de nove anos de dedicação, os resultados começam a aparecer. Faço parte do elenco do Nós do Morro e já atuei em peças como “Eles contra Eles”, “Sonhos de uma Noite de Verão”. Também participei da novela “Da Cor do Pecado”, da TV Globo, na qual fiz o papel de um menino de rua que era engraxate. Agora, estou escalado para atuar na novela “Belíssima”, inclusive gravando cenas na Grécia. A cada trabalho, a emoção se renova, reafirmando minha certeza de que, sem arte, a vida não é nada. Quero fazer faculdade de Cinema e ensinar a outros jovens, para que eles possam ter as oportunidades que eu tive e para que possam fazer um trabalho que não é apenas uma forma de ganhar dinheiro, mas que é pura paixão.”

TIAGO MARTINS, 16 ANOS é ator no Rio de Janeiro, do Grupo Nós do Morro

RATÃO DINIZ / IMAGENS DO POVO

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GUILHERME FLORIANO DA SILVA, 15 ANOS estudante da 8ª série e aluno de balé em Londrina, treina sete horas por dia para ser bailarino profissional

MÁRCIO ROBERTO DA SILVA OLIVEIRA, 23 ANOS é professor de Física em Campo Grande, onde participa de um grupo de música e dança típicas do Pantanal BRUNO GARCIA

WILLIAM MOTTA, 20 ANOS

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é percussionista e quer viver de música em São Paulo, mas enfrenta a resistência da família

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mestres

A EDUCAÇÃO

PELA ARTE Na Amazônia, jovens ajudam a preservar a floresta aprendendo música e fabricando instrumentos musicais. Na Paraíba, a estamparia e a serigrafia elevam a auto-estima de meninos e meninas, e, em São Paulo, o teatro reduz a discriminação entre estudantes. Mestres nessas artes, três educadores usam seu talento para mostrar que a expressão artística ajuda a transformar os jovens em cidadãos capazes de reconhecer os outros, a si mesmos e de assumir seus sonhos. Mostram que a arte faz pensar, educa, inclui. E que não por acaso ela se torna ferramenta cada vez mais valorizada na educação. Para o músico e luthier Rubens Gomes, que trabalha na região amazônica desde a década de 80, só há salvação para a floresta se salvarmos, ao mesmo tempo, os jovens que lá vivem. Motivado por essa idéia, há sete anos ele criou a Oficina Escola de Lutheria da Amazônia (Oela), no bairro de Zumbi, em Manaus, unindo a arte e a preservação ambiental. “Transformei minhas habilidades ar-

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por_Marco Roza

tísticas em um meio para estimular o uso racional dos recursos naturais”, diz. Na Oela, ensina música e profissionaliza jovens integrantes de uma população em que 60% estão desempregados, 94% têm no máximo o primeiro grau e mais de 15% dos que têm acima de 10 anos nunca estudaram. “As populações vivem abandonadas à própria sorte. No Zumbi, os jovens se organizavam em galeras e se matavam uns aos outros”, conta Gomes. Sintonia com a floresta A Oela oferece alternativa. Os jovens são capacitados a transformar recursos naturais em bens. Além das aulas de música, cursam informática e participam de grupos de discussão sobre assuntos como sexualidade, violência e drogas. Recebem educação ambiental, discutindo, por exemplo, o manejo indiscriminado das espécies em extinção. Como o pau-brasil, insubstituível para o arco de violino; o mogno, usado para a confecção de braços de violões clássicos; e o jacarandá da Bahia, a “Daubergia nigra”, que é referência mundial para as laterais e fundos de violões e muito valorizado no

exterior. “A partir desse aprendizado, os jovens são envolvidos com a arte da manufatura de instrumentos musicais de alta qualidade e se abre para eles uma alternativa de vida em sintonia com a conservação da floresta”, diz Gomes. O projeto está indo além de Manaus. “Nas regiões ribeirinhas, ensinamos aos jovens o processamento da madeira e a marchetaria, que já é uma tradição na região.” A principal população beneficiada fica em Boa Vista do Ramos, no baixo Amazonas, a 18 horas de barco de Manaus. As madeiras são todas certificadas e as comunidades estão montando entidades que permitam encaminhar a produção até para o exterior. Comunidades com jovens que, segundo Gomes, antes “viviam de costas para a floresta”.

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COM A MÚSICA, AS ARTES VISUAIS E O TEATRO, TRÊS EDUCADORES INDICAM AOS JOVENS NOVOS CAMINHOS PARA O DESENVOLVIMENTO PESSOAL E SOCIAL

AUGUSTO PESSOA

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A professora universitária Lívia Marques implantou projetos de arte-educação na Casa Pequeno Davi, em João Pessoa (PB)

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NEY MENDES

PARA SABER MAIS

SOBRE

O músico Ruben Gomes criou a Oela, uma oficina-escola de instrumentos musicais que ensina a preservar a floresta, em Manaus (AM)

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Foco na auto-estima Em João Pessoa, o maior desafio de Lívia Marques Carvalho é lidar com o sentimento de desvalia que toma conta da juventude atendida na Casa Pequeno Davi e na Casa Menina Mulher. Ela diz que só depois que os jovens se integram é que se percebem como pessoas. Eles se motivam e são devolvidos ao mercado, geralmente desempregados, quando completam 18 anos. O que se torna mais um desafio. “Ensinamos a pescar, mas para dar certo o rio tem de ter peixe”, observa. Lívia é professora de Artes Visuais na Universidade da Paraíba, em João Pessoa. Nas proximidades do Terminal Rodoviário da cidade fica o bairro Baixo Roger. A

CASA DO PEQUENO DAVI E CASA MENINA MULHER ÁREA DE ATUAÇÃO JOÃO PESSOA (PB) PROPOSTA Contribuir para a promoção dos direitos da criança e do adolescente em situação de risco social por meio de ações de educação integral JOVENS ATENDIDOS 300 crianças e jovens entre 7 e 17 anos APOIO UNICEF, IRLAND AID, IRISH BANK (DA IRLANDA), EMPRESA SKN, FRANK DER LINDERE CORDAID, UNIVERSAL CONCERN (DA HOLANDA), CSCF (DO GOVERNO DA GRÃ-BRETANHA), COMUNIDADE LUTHERANA (ALEMANHA), EUROPEAN COMMUNITY CONCERN (UNIÃO EUROPÉIA), SECRETARIA DE EDUCAÇÃO MUNICIPAL, SECRETARIA DO TRABALHO E DE PROMOÇÃO SOCIAL DE JOÃO PESSOA CONTATO Rua João Ramalho, 195 – 58020-200 – João Pessoa (PB) – tel.: 83/3241-526 – www.pequenodavi.org.br

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população infantil e adolescente vive espalhada pelas ruas. Em 1985, os padres da Irmandade São Vicente de Paulo criaram a Casa Pequeno Davi. Em 1989, quando se decidiu trabalhar com atividades artísticas, Lívia foi fisgada para o projeto. “Não consegui sair mais”, diz a atual dirigente. “Aproveitamos o envolvimento com a arte, que não tem isso de certo ou errado, para ajudar os jovens de baixa renda a aprender o que é a auto-estima”, explica. Os jovens aprendem estamparia, impressão de camisetas em serigrafia, fazer bijuterias e cangas, que a entidade coloca à venda. “O foco deles, na rua, é a subsistência. Pela arte, percebem que podem se colocar no que fazem, ganham confiança e descobrem que são cidadãos.” Ligado ao mesmo projeto está a Casa Menina Mulher, inaugurada em 1998. “Queremos que as meninas aprendam a gostar de si mesmas e a entender os riscos do ambiente em que vivem”, diz a professora. Além do aprendizado artístico, elas discutem saúde e higiene, sexualidade, drogas, violência e gravidez. Segundo Lívia, o mais animador é ver os garotos e garotas conseguirem completar o ensino médio. “Trata-se de um esforço excepcional do adolescente da região, que enfrenta a falta de estímulo e a pressão da família para a busca de renda no mercado informal”, orgulha-se a educadora. Integração pelo teatro A arte é poderosa também para mudar visões de mundo e combater a discriminação. Com essa certeza, a paulistana Patrícia Teixeira, professora do ensino médio, criou o Teatro da Inclusão. Tudo começou em 1999, a partir de contato que teve com alunos com necessidades especiais, na Escola Estadual Benjamin Constant. “Eles viviam em pequenos guetos, eram discriminados e discriminavam os demais alunos”, diz. Formada em Educação Artística e pós-graduanda

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SOBRE PARA SABER MAIS

SOBRE PARA SABER MAIS

em Psicologia Analítica, na PUC de São Paulo, ela decidiu usar as artes cênicas para incluir jovens cegos nas atividades escolares. A experiência deu tão certo que, em 2000, Patrícia a levou, num trabalho voluntário, para a Escola Estadual Caetano de Campos. Aproveitou o teatro disponível na escola e iniciou o projeto Teatro da Inclusão, com a peça “Retratos de Gerações”, que ela escreveu. “Discutir as diferenças promove a inclusão. Três jovens cegos atuaram. O trabalho eliminou as diferenças de visão, pois, no palco, os alunos entram em con-

TEATRO DA INCLUSÃO ÁREA DE ATUAÇÃO ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS DE SÃO PAULO PROPOSTA Trabalhar com jovens o tema das diferenças JOVENS ATENDIDOS 100 estudantes de ensino médio APOIO JFA ENGENHARIA (EVENTUAL). EM BUSCA DE APOIO PERMANENTE CONTATO Rua Pelotas, 523, apto. 103 – 04012-002 – Vila Mariana – São Paulo (SP) – tel.: 11/9742-1553 – e-mail: astropaty@ig.com.br.; Escola Estadual Maestro Fabiano Lozano – tels.: 11/5549-6006 e 11/5082-2206

OFICINA ESCOLA DE LUTHERIA DA AMAZÔNIA ÁREA DE ATUAÇÃO AMAZONAS, PARÁ, AMAPÁ, ACRE E RORAIMA PROPOSTA Promoção do uso racional dos recursos naturais para a geração de ocupação e renda com o intuito de combate à pobreza, por meio da lutheria e da machetaria JOVENS ATENDIDOS EM MANAUS, 592 por semestre APOIO ASHOKA EMPREENDORES SOCIAIS, UNESCO (CRIANÇA ESPERANÇA), ICCO (INSTITUIÇÃO ECLESIÁSTICA DA HOLANDA), PRO-MANEJO/IBAMA/MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, CORREIOS CONTATO Rua 22, Quadra O, Casa número 8, conjunto São Cristóvão – 69084-580 – Bairro do Zumbi 2 – Manaus (AM) – tels.: 92/3644-5449 e 92/3638-2667 – www.oela.org.br

A professora de ensino médio Patrícia Teixeira fundou o Teatro da Inclusão para discutir preconceitos com os alunos de São Paulo (SP)

DAVILYM DOURADO

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tato com seus personagens internos, percebem a si mesmos e o outro como pessoas completas. O teatro os faz responder, principalmente, com atitudes”, diz. Patrícia já envolveu mais de 100 jovens em suas peças, apesar das dificuldades para manter o projeto. “Às vezes ensaiamos no parque do Ibirapuera”, conta. Neste semestre, o esforço é para apresentar a peça “Esconderijo de Judeus”. Na preparação da turma, contou com amigos voluntários. Um professor de história ajudou a dar contexto às leituras que os alunos fizeram do “Diário de Anne Frank”, garota judia que se escondeu com a família durante a Segunda Guerra Mundial e que inspira a peça. Outro amigo apresentou aos jovens um seminário sobre a cultura judaica. Patrícia fez um laboratório cênico sobre as relações de poder. “Vivemos pequenos holocaustos todos os dias e é importante discutir o respeito às diferenças, o direito à permanência das pessoas no mesmo mundo em que vivemos”, diz. O tema tem especial pertinência para a adolescência e a juventude, segundo a professora. É quando as diferenças entre gerações e entre os próprios companheiros começam a ser mais notadas e os jovens precisam de orientação para lidar com elas de forma positiva. “O trunfo do teatro é levar os jovens a vivenciar experiências. O resultado é surpreendente”, diz Patrícia, referindo-se a uma de suas grandes recompensas, que veio na forma de conclusão de uma estudante sem deficiência visual, durante discussões sobre preconceito: “Eu aprendi a ver o que os olhos não podem ver”.

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QUATRO PROJETOS SE IDENTIFICAM POR PERPETUAR O PASSADO E DAR SENTIDO AO FUTURO

GUSTAVO LOURENÇÃO

banco de práticas

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AUGUSTO PESSOA

A cultura é o fim e o meio desses projetos sociais, seja para perpetuar experiências seculares de lugarejos ou dar sentido ao futuro de crianças e jovens de cidades grandes. E foi quase por acaso que seus mentores embarcaram na idéia de que tambores, brinquedos, jongo, histórias seriam capazes de mudar a vida de jovens. O maestro Flávio Pimenta, por exemplo, tinha decidido trocar o Brasil por uma vida no exterior. A três meses da partida, se flagrou observando adolescentes nadando em poças d’água sujas nos arredores de sua casa, no bairro do Morumbi, em São Paulo. Resolveu agir. Convidou os jovens à sua casa, apresentou-os à música. Desistiu da viagem, convocou amigos, estruturou e deu à luz a Associação Meninos do Morumbi, que hoje envolve 4 mil crianças e jovens. Macau Góes era colecionadora de brinquedos e encantou-se com a obra de artesãos do Recife quando visitava uma feira da Fundação Joaquim Nabuco. Consultora da ONG Artesanato Solidário, aproximou jovens do programa, dando o pontapé inicial para a fundação da Associação Brinquedos Populares do Recife, que já qualificou uma centena de artesãos. Noutro improviso do destino, Paulo Dias, da Associação Cultural Cachuera, de São Paulo, conheceu a comunidade de jongueiros do bairro Jardim Tamandaré, na periferia de Guaratinguetá. Em parceria com a TV Cultura, produziu o filme “Feiticeiros da Palavra – O Jongo do Tamandaré” e apresentou o grupo ao país. Daí veio a criação da Associação Jongueira de Guaratinguetá, que leva os jovens a se envolverem com a dança e a música deixadas pelos escravos. O casal Alemberg Quindis e Rosiane Limaverde estava determinado a preservar a herança cultural dos Kariri, tribo indígena que batizou um pedaço do Ceará, o Vale do Cariri. Em Nova Olinda, abrigaram os artefatos pré-históricos recuperados na região. Apresentavam o tesouro a turistas, quando foram surpreendidos por meninos da vizinhança com os textos na ponta da língua. Assim expandiu-se a Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri, que capacita jovens em várias áreas. Conheça melhor os frutos desses encontros:

ANDRÉA DE VALENTIM

por_Flávia Oliveira

ARNALDO CARVALHO

ENCONTROS CULTURAIS

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Nova Olinda, CE

Fundação Casa Grande Memorial do Homem Kariri

Recife, PE

Formação de jovens artesãos no Projeto Brinquedos Populares do Recife

O projeto que inicialmente se restringia à preservação antropológica dos índios Kariri transformou-se numa instituição dedicada também à formação profissional dos jovens da região. A Fundação Casa Grande oferece hoje a 70 jovens qualificação em quatro áreas: memória, comunicação, arte e turismo. O primeiro programa tem como foco o resgate da memória da pré-história do sertão, por meio da mitologia e da arqueologia: forma recepcionistas, guias de campo e relações-públicas para atuar na instituição e nos sítios arqueológicos da região. >>

Desde os anos 80, a Fundação Joaquim Nabuco mantinha contato com um grupo de oito artesãos que faziam brinquedos populares na Região Metropolitana de Recife. As peças acabaram descobertas pelo Artesanato Solidário, que propôs a criação do projeto Brinquedos Populares do Recife. Iniciado em março de 2004, o programa é multiplicativo: “Os mestres repassam seus conhecimentos aos jovens e, com isso, é possível preservar técnicas populares de produção de brinquedos”, explica Julio Ledo, gerente regional do Artesanato Solidá- >>

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São Paulo, SP

Associação Meninos do Morumbi

Guaratinguetá, SP

Projeto Bem-te-vi da Associação de Jongo do Tamandaré

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O projeto começou com meia dúzia de garotos, um maestro e uma professora de dança. Quase uma década depois, são 4 mil, e uma lista de espera com 2 mil nomes. A Associação Meninos do Morumbi atende a crianças e adolescentes interessados em experimentar o gosto de “poder ser o que quiserem”, como diz o fundador Flávio Pimenta. “A música se mostrou uma excelente armadilha para atrair os jovens”, brinca. O alvo inicial do projeto eram comunidades populares, mas hoje não é exclusivo de alunos pobres – eles ocupam 70% >>

Foi da aproximação com a Associação Cultural Cachuera que Lúcia Maria de Oliveira, jongueira por nascimento, enfermeira por profissão, deu início ao Projeto Bem-te-vi, no Jardim Tamandaré, na periferia de Guaratinguetá, em São Paulo. A idéia é perpetuar o jongo, uma tradição na comunidade, entre as crianças e jovens, que recebem os ensinamentos dos adultos e idosos. Lúcia gosta de dizer que tem o jongo no sangue, porque é neta do velho Antonio Henrique, que trou- >>

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>> A oficina de comunicação apresenta aos alunos as técnicas de elaboração de programas de rádio, TV e trabalhos de editoração. A rádio comunitária já protocolou no Ministério das Comunicações um pedido para transformá-la em emissora educativa. O braço das artes tem laboratório de teatro, cine-

>> rio. O projeto capacitou primeiro oito mestres, que aprenderam a melhorar a apresentação e a qualidade de suas criações, elaborar planilhas de custos, entender o mercado consumidor, ao lado de aulas de cidadania e relações interpessoais. Em contrapartida, eles deveriam destinar 10% da renda de

>> das vagas. Cumprida a condição de cursar o ensino regular, eles podem escolher entre artes (balé, dança, escultura, fotografia, moda, teatro), música (bateria, canto, percussão, cavaco) e esportes (capoeira, futsal, jiujitsu), mas são obrigatoriamente apresentados ao inglês e à informática. A

>> xe a música e a dança dos negros escravos para a região. Um filme, produzido por Paulo Dias e apresentado Brasil afora, foi o estopim de uma série de convites para apresentações em São Paulo e no Rio de Janeiro e alimentou a necessidade de profissionalização do grupo e levou à criação do Bem-te-vi, que hoje conta com 40

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entidade acaba influenciando na escolha da carreira deles, como conta a exaluna, agora monitora, Luciana Fernandes, de 20 anos: “Entrei com 14 anos. Aprendi capoeira, jiu-jitsu e percussão. Decidi seguir na música. Se não tivesse passado por aqui, nem imaginaria essa vida”. Das oficinas culturais foi criado o

grupo artístico Meninos do Morumbi. Desde 1996, foram mais de 500 apresentações. A banda já se exibiu com Ivete Sangalo, Lulu Santos e os grupos Cidade Negra e Olodum. A ousadia de misturar o erudito e o popular num espetáculo com o pianista clássico Marcelo Bratke conquistou cidades européias.

participantes. “Queremos ensinar o jongo às crianças e aos jovens, mas também reforçar neles o quanto a educação é importante. Vamos preservar o passado e estimular o futuro dos meninos”, planeja Lúcia, de 50 anos, mãe de Hebert e Erica, avó de Cauê. Os jongueiros do Tamandaré recebem apoio da prefeitura e da Se-

cretaria de Cultura de Guaratinguetá. No ano passado, participaram da organização de três oficinas de vídeo dirigidas aos jovens da comunidade. Durante boa parte deste 2005, dedicaram-se a organizar legalmente a associação. Agora, buscam um terreno para instalar a sede do projeto e sair seduzindo futuros jongueiros.

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SOBRE PARA SABER MAIS

SOBRE PARA SABER MAIS

SOBRE

horas de aula e, dentre os 100 jovens que já receberam a qualificação, vários já produzem brinquedos para vender e três, de tão talentosos, integram a Associação. Estão sendo orientados a criar sua série de produtos, tal como aconteceu com os mestres de quem eles aprenderam.

PARA SABER MAIS

toda peça vendida a um fundo para custear a legalização da associação de artesãos e compartilhar seus conhecimentos em Oficinas do Saber, com turmas de até 20 alunos escolhidos entre os residentes na Vila Esperança, comunidade pobre do Recife. Os artesãos foram remunerados pelas

SOBRE

para fazer em suas casas suítes para abrigar turistas. Por R$ 40 diários, o visitante tem pernoite, café, almoço e jantar. “Todo o projeto funciona com pedagogia própria: os jovens mais experientes repassam os conhecimentos aos mais novos”, ensina Alemberg, o mestre.

PARA SABER MAIS

ma e escola de música, na qual se começa com a banda de lata e segue com grupos cover e instrumental. O laboratório de turismo funciona em parceria com a cooperativa de pais e amigos da Casa Grande. Os pais dos alunos mantêm a loja de souvenirs da Fundação e a cantina, além de serem orientados

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FUNDAÇÃO CASA GRANDE – MEMORIAL DO HOMEM KARIRI ÁREA DE ATUAÇÃO NOVA OLINDA (CE) PROPOSTA Oferecer qualificação profissional a crianças e jovens sertanejos por meio de atividades de resgate da memória local, arte, comunicação e turismo NÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS 70 APOIO INTERAMERICAN FOUNDATION CONTATOS Rua Jeremias Pereira, 444 – Centro – Nova Olinda (CE) – Tel.: 85/3546-1333 – casagrande@baydejc.com.br

BRINQUEDOS POPULARES DO RECIFE ÁREA DE ATUAÇÃO GRANDE RECIFE (PE) PROPOSTA Qualificar artesãos e incentivá-los a repassar seus conhecimentos a jovens de comunidades pobres por meio das Oficinas do Saber NÚMERO DE JOVENS BENEFICIADOS 100 APOIO FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO, MINISTÉRIOS DA EDUCAÇÃO E DA INTEGRAÇÃO REGIONAL, ARTESANATO SOLIDÁRIO (ARTESOL) E SEBRAE CONTATOS Rua Alves Guimarães, 436 – Pinheiros – São Paulo (SP) – Tel.: 19/3246-2888 – www.artesol.org.br

ASSOCIAÇÃO MENINOS DO MORUMBI ÁREA DE ATUAÇÃO BAIRROS DA REGIÃO SUDOESTE DA CAPITAL PAULISTA E MUNICÍPIOS VIZINHOS, COMO TABOÃO DA SERRA, ITAPECERICA DA SERRA E EMBU PROPOSTA Oferecer cursos de artes, música, dança, esportes, informática e língua estrangeira a crianças e adolescentes, dos 5 aos 18 anos, reforçando a importância da formação escolar regular NÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS 4 mil APOIO PREFEITURA DE SÃO PAULO, CÂMARA DE COMÉRCIO ELETRÔNICO, PÃO DE AÇÚCAR, CULTURA INGLESA, BRITISH AIRWAYS, HP, LAUREUS SPORTS, BIT COMPANY, SADIA, ENTRE OUTROS CONTATOS Rua José Jamarelli, 485 – Morumbi – São Paulo (SP) – Tel.: 11/3722-1664 – www.meninosdomorumbi.org.br

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ASSOCIAÇÃO JONGUEIRA DE GUARATINGUETÁ ÁREA DE ATUAÇÃO GUARATINGUETÁ (SP) PROPOSTA Repassar a crianças e jovens os ensinamentos do jongo e reforçar neles a importância da educação formal regular NÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS 40 pessoas, incluindo também os idosos APOIO SECRETARIA DE CULTURA DE GUARATINGUETÁ, PREFEITURA MUNICIPAL E ASSOCIAÇÃO CACHUERA DE SÃO PAULO CONTATOS Rua Tamandaré, 661, Fundos – Jardim Tamandaré – Guaratinguetá – SP – Tel.: 12/3133-3408


caminho das pedras

PERTO DE SE TORNAR AUTO-SUSTENTÁVEL, O GRUPO CULTURAL AFRO REGGAE ENSINA QUE COERÊNCIA É FUNDAMENTAL PARA TIRAR JOVENS DO TRÁFICO CARIOCA Dia desses, um e-mail aterrissou na caixa-postal sempre congestionada de José Junior, o coordenador-executivo do Grupo Cultural Afro Reggae, no Rio de Janeiro. No título, uma solitária palavra: Resgate. O texto: “A sogra dele está superfeliz que o mesmo saiu do tráfico e veio nos pedir que fizéssemos o currículo dele, pois a filha dela e o filho também fizeram currículo no Afro Reggae e tiveram a sorte de arrumar emprego muito rápido. Ela falou que ele tem diploma de ascensorista”, escreveu Vitor Onofre, coordenador do Núcleo de Vigário Geral e, assim como Junior, um dirigente, ou “puro-sangue”, no dialeto da organização. Ele previa nova deserção no exército do tráfico de drogas carioca – que se consumou logo no dia seguinte. Menos um traficante, mais uma vitória – mera rotina, no surpreendente trabalho que o Afro Reggae desenvolve, a partir da disseminação da cultura afro, em comunidades populares do Rio de Janeiro há 12 anos. A salvação de jovens decididos a viver (e morrer) na guerra das favelas materializa-se, sobretudo, na formação cultural e artística que pavimenta a construção de cidadania. As vagas nas oficinas são disputadas pelos moradores de Vigário Geral, Parada de Lucas (favelas cujos traficantes sustentam uma guerra há inacreditáveis 22 anos), e Cantagalo, áreas onde o Afro Reggae mantém núcleos. Hoje, são ao todo 60 projetos culturais, outras três unidades em sistema de parceria, nove bandas, uma trupe de teatro e duas de circo, na ONG que conta com 176 funcionários (incluindo bolsistas e estagiários) e está bem perto de se tornar auto-sustentável. O alicerce de tamanho sucesso chama-se coerência. O Afro Reggae tem como fundamento inegociável não aceitar patrocínios da indústria do tabaco e de fábricas de bebidas. Sem álcool, cigarros nem drogas. “E os puros-sangues também não fumam nem bebem, muito menos usam drogas”, diz o coordenador.

Nascido na dor A luta contra a violência é a gênese do Afro Reggae. Em janeiro de 1993, Junior era um produtor iniciante de bailes funk, quando o ritmo foi banido da cidade, por causa do arrastão na Praia do Arpoador (como se chamou o conflito entre gangues de Vigário Geral e Parada de Lucas, que se enfrentaram na areia famosa do canto de Ipanema). Ele trocou de ritmo e começou a promover festas de reggae – “a contragosto”, como lembra. Um par de bailes bem-sucedidos depois, Junior enxergou no gênero a possibilidade de promover a cultura afro, seu projeto de vida. Criou, com três amigos, o jornal “Afro Reggae Notícias”, para difundir essas e outras manifestações. Em agosto daquele ano, o Rio foi sacudido pela chacina de Vigário Geral, na qual 21 moradores da favela foram assassinados por um bando de policiais militares. “Senti que tínhamos de fazer algo por lá”, relembra Júnior, carioca, 37 anos. Um mês depois do massacre, eles entraram na favela, para “fazer alguma coisa, de um jeito meio kamikaze”, como descreve o “arrastão do bem”, do bloco afro Tafaraogi, que tomou as ruas da comunidade. O passo seguinte foi instalar no morro o Núcleo Comunitário de Cultura, com as primeiras oficinas: dança, percussão, reciclagem de lixo, futebol e capoeira. Os 12 instrumentos levados pelo grupo eram disputados a tapa por jovens que enxergavam horizonte onde a olho nu havia apenas diversão. “Ninguém pensava em ser artista, mas

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por_Aydano André Motta fotos_Rodrigo Castro

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Jovem diante de cartaz com os princípios do grupo Afro Reggae: a música é o meio de atração para um amplo trabalho de conscientização

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RECUSAR PATROCÍNIO DE CIGARRO E BEBIDA, MESMO ESTANDO SEM DINHEIRO, FOI UMA DAS FORMAS DO AFRO REGGAE TRADUZIR PARA AS COMUNIDADES A FORÇA DE SEUS VALORES

Aprendizes descansam junto dos instrumentos; abaixo, garota com tambor; na página oposta, garotas ensaiam coreografia; um jovem percussionista e rapazes durante ensaio de uma das bandas: apresentações e venda de CDs são fonte de renda do grupo

apenas em ter perspectiva”, confirma Altair Martins, 24 anos, nascido em Vigário, formado na turma 01 e hoje coordenador de operacionalização do Afro. Ele cresceu em meio a paredes furadas à bala e vizinhos assassinados, e agora é emblema – “puro-sangue”, ajuda a salvar outros, ao som de funk, reggae, soul e hip hop. Da salada de ritmos nasceu o filhote mais famoso, a banda AfroReggae, aclamada Brasil afora e no exterior. Os padrinhos, Junior lembra orgulhosamente, são Caetano Veloso e Regina Casé, que conheceram o grupo dois anos depois e foram os primeiros a incentivar os jovens da favela a conquistar o mundo com sua música. Em 1997, foi inaugurado na comunidade o Centro Cultural Afro Reggae Vigário Legal, para melhorar, num espaço bem estruturado, a formação cultural e artística dos jovens moradores. “Uma fábrica de sonhos”, resume Junior. De lá, eles escapam do tráfico e do subemprego e se transformam em multiplicadores da paz e da integração social. Hoje, existem outros oito grupos musicais: Banda Makala Música e Dança, Afro Lata e Afro Samba, além dos subgrupos Afro Mangue, Tribo Negra, Akoni, Kitôto e uma banda de rock ainda sem nome, exclusivamente de meninas. Na trilha da autonomia O sucesso artístico deixa a ONG a um passo de se sustentar, com a renda dos shows e da venda de pro-

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SOBRE

Ultrapassando fronteiras O prestígio levou Júnior e outros sete “puros-sangues” a formar um comitê de mediação de conflitos que atormentam os milhões de moradores honestos das favelas do Rio. O acesso privilegiado permite a eles negociar

PARA SABER MAIS

dutos como CDs e camisetas. Sem perder a coerência mesmo nas tempestades mais pesadas. “Quatro anos atrás, recusamos um cachê de R$ 40 mil para tocar em um festival patrocinado por uma empresa de tabaco”, relembra Junior, orgulhoso. “Estávamos com quatro meses de salários atrasados, mas resistimos.” Para sair do buraco financeiro, muita conversa em busca de outros parceiros e todo o pragmatismo possível no dia-a-dia. O Afro Reggae hoje supera em prestígio o tráfico de drogas, antigo sinônimo de poder e prosperidade nas comunidades populares. O fenômeno explica-se, entre outras razões, pelo trabalho junto à mídia. “A TV Globo é muito importante para nós. Podemos aparecer lá sem ter o rosto desfocado. E nos shows fazemos saudações a favelas independentemente das facções que as dominam”, ensina ele. Mas na batalha que nunca termina, popularidade é apenas uma arma. “Nesse momento, no caos, o que resolve é emprego. Educação só não basta”, diz Junior, citando o exemplo de um gerente do tráfico que o abordou, meses atrás. “Se tiver uma oportunidade, eu saio agora”, avisou. Teve. Novo desfalque no exército das drogas.

GRUPO CULTURAL AFRO REGGAE ÁREA DE ATUAÇÃO COMUNIDADES POPULARES DO RIO DE JANEIRO, ENTRE ELAS VIGÁRIO GERAL, PARADA DE LUCAS E CANTAGALO, EM PROJETOS PRÓPRIOS, E OUTRAS EM PARCERIA PROPOSTA Desviar jovens do caminho do narcotráfico e do subemprego por meio da inclusão e justiça social. Como ferramentas, a arte, a cultura afro-brasileira e a educação JOVENS ATENDIDOS 972 APOIO AVINA, FUNDAÇÃO FORD, FUNDAÇÃO KELLOG, HP, INSTITUTO CREDICARD, INSTITUTO DESIDERATA, SUPERMERCADOS EXTRA, PREFEITURA DO RIO, REDE GLOBO E SESC-RIO CONTATO Av. marechal Câmara, 350/703 – Centro – 20020-080 – Rio de Janeiro (RJ) – Tel.: 21/2532-0171 – www.afroreggae.org.br

tréguas em guerras a que a polícia apenas assiste, impotente e derrotada. A interferência em batalhas sangrentas inspirou-se em outro projeto social, o Rompendo Fronteiras, que desde 2001 busca levar o trabalho social onde ele é necessário, independentemente de conflitos. Em Parada de Lucas, as armas são cursos básicos de informática. No Cantagalo-Pavão-Pavãozinho, a isca é a linguagem do circo – malabares, trapézio, acrobacias. De lá saíram dois meninos para o Ringling Bros., o maior circo de picadeiro do mundo. O prestígio do Afro Reggae também se estende a endereços antes exclusivos da elite. O Prêmio Orilaxé, entregue a personalidades que contribuíram com a divulgação e promoção da cultura afro, teve como palco, em 2005, o Canecão, a mais famosa casa de shows do Rio. Com a presença do ministro da Cultura, Gilberto Gil, um público diferente ocupou a platéia para aplaudir iniciativas incríveis, como o Juventude e Polícia, espetáculo de dança em parceria com a Polícia Militar de Minas Gerais. Isso mesmo: PMs fardados dançando com jovens do Afro, num espetáculo de inesperada harmonia. As histórias do Afro Reggae chegam agora ao cinema, em cinco documentários que devem ser lançados em breve. O primeiro a ficar pronto foi o americano “Favela Rising”, premiado em três mostras. A produção conta a história de Anderson Sá, sobrevivente da chacina de Vigário Geral, que perdeu parentes na carnificina, tentou ser traficante, foi baleado, chegou a ficar paraplégico mas se recuperou, e hoje é mais um “puro-sangue”. “Temos a cultura do perdedor que deu certo. Sabemos como é o fracasso”, diz Junior. “Queremos preparar as pessoas para ter poder. A sociedade brasileira tinha outro destino para elas. Isso precisa mudar.” E assim vai-se alterando a triste ordem das coisas na desigualdade brasileira. No ritmo do Afro Reggae.

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horizonte global

DIÁLOGOS

DE ERAS por_Cecília Dourado ilustração_Jotapê

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conhecimento público de diversas formas”. Pós-graduada em Antropologia, Ovalle parte do princípio de que o jovem, principalmente, deve ter contato com culturas múltiplas, em particular com aquelas que contribuíram para a formação da identidade de seu país ou região. Na época da globalização, é preciso ter consciência da riqueza cultural local para avançar, rumo ao futuro, munido de identidade, dignidade e auto-estima: “O conhecimento e a convivência com diversos modos de vida resultam na tolerância e no enriquecimento cultural”, observa. Espaços de interação A fundação promove exposições e conferências em “museus aliados” e mantém atividades em escolas e universidades, estações de metrô, praças e ruas. Os “projetos artísticos e lúdicos”, por exemplo, buscam atrair jovens para a diversidade cultural com a criação de jogos em espaços públicos. É o caso da instalação, em parques, de “quebra-cabeças gigantes” – estruturas de 1,80 m de altura formadas por quatro cubos de madeira sobrepostos, que lembram totens, mas que são móveis. As faces dos cubos são pintadas com figuras mitológicas e históricas do Chile. A idéia é que, ao manipulá-los, a população, sobretudo crianças e jovens, tenha uma experiência lúdica com a sua própria história e mitos. Outro projeto é o das “fogontecas”, iniciadas em 2003 nas ilhas de Chiloé. “Fogon” é uma construção tradicional indígena: casa pequena, de madeira e, às vezes, teto de palha, onde as pessoas se reúnem para contar histórias ao redor de uma fogueira. A MuseoVivo criou as “fogontecas” – mistura de “fogon” com biblioteca. Nesses espaços – que já são cinco, alguns dos

SOBRE

O que um homem que viveu há 3 mil anos pode ter a dizer a um jovem que mora numa cidade moderna? O que um habitante das míticas e remotas ilhas de Chiloé, no sul do Chile, tem a dar para um jovem que vive na capital, Santiago? Para responder a essas e outras indagações, a Fundação MuseoVivo propõe o diálogo social e cultural entre diversas gerações, etnias, comunidades e culturas do Chile. Essa fusão de elementos culturais diversos já começa nos próprios meios utilizados pela organização para propagar seu trabalho: outros museus e espaços, da internet a praças públicas e bibliotecas ao redor de fogueiras indígenas. A fundação desenvolve uma série de atividades dinâmicas por meio de conexões virtuais, geográficas e de idéias, diz sua fundadora e diretora, a psicóloga Margarita Ovalle. Inicialmente, ela pensava em fazer “um museu com conteúdos virtuais vivos”, mas logo se deu conta de que não havia necessidade de mais um museu. “Os museus já existiam, mas faltava ocupá-los com vida”, diz. Prescindindo então de um espaço físico fixo, ela decidiu reunir um acervo “daquilo que é importante para uma sociedade” e levar “esses tesouros ao

PARA SABER MAIS

S

O MuseoVivo promove conexões virtuais, geográficas e de idéias para que os jovens chilenos conheçam melhor sua cultura ancestral

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quais substituem fogueiras por aquecedores –, as pessoas podem retirar livros, e jovens e velhos fazem rodas de conversas. A idéia é resgatar a bagagem ancestral chilena, não no sentido de tentar inutilmente deter o tempo, mas de perceber a “riqueza que existe numa cultura que corre o risco de extinção e, assim, chegar ao futuro com referências multiculturais”, diz Ovalle. Segundo a psicóloga, os resultados têm sido animadores. Os jovens se interessam pelo que os mais velhos têm a dizer e descobrem uma grande riqueza cultural no meio de comunidades pobres. As gerações passaram a se encontrar também em outros eventos, como as festas populares. Na comunidade de Coldita, em Chiloé, os moradores editam um boletim, que é encartado na “Revista MuseoVivo”, publicada com apoio do Departamento do Livro e Cultura. “A postura dos jovens que trabalham na publicação mudou”, conta. “Eles se tornaram mais seguros e confiantes.” Para Ovalle, o encorajamento do diálogo entre culturas é útil e desejável para toda a América Latina e seria fácil repetir a experiência chilena em outros países, “porque estamos trabalhando com a essência do humano”.

FUNDAÇÃO MUSEOVIVO REGIÃO DE ATUAÇÃO CHILE, ESPECIALMENTE EM CHILOÉ E SANTIAGO PROPOSTA Enriquecer a identidade cultural por meio da interação de etnias, visões de mundo e modos de vida diferentes, num ambiente de respeito; criar diálogo entre diferentes gerações e culturas JOVENS ATENDIDOS 1.800 por ano, nas comunidades, e outros milhares pela internet APOIO JOSEPH CAMPBELL FOUNDATION, AVINA, DEPARTAMENTO DO LIVRO E CULTURA, EMPRESAS CHILENAS CONTATO Tels.: 56 02/2286427 e 56 09/2272647 – www.museovivo.cl – info@museovivo.cl; movallev@hotmail.com

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SEXTANTE

Ferreira Gullar, um dos maiores poetas brasileiros, nascido no Maranhão (1930), é também cronista, ensaísta, teatrólogo e crítico de arte. É autor de livros de poesia como “Dentro da Noite Veloz”, “Poema Sujo” e “Na Vertigem do Dia”, e de ensaios como “Vanguarda e Subdesenvolvimento” e “Argumentação Contra a Morte da Arte”

A BELEZA DO HUMANO, NADA MAIS A REFLEXÃO DO ARTISTA SOBRE A SERVENTIA DA ARTE DESCREVE COM APARENTE SIMPLICIDADE O ENCANTAMENTO DA MAIS ENIGMÁTICA PRODUÇÃO HUMANA E SEU EFEITO SOBRE O MUNDO Confesso que, espontaneamente, nunca me coloquei esta questão: para que serve a arte? Desde menino, quando vi as primeiras estampas coloridas no colégio (que estavam muito longe de serem obras de arte) deixei-me encantar por elas a ponto de querer copiá-las ou fazer alguma coisa parecida. Não foi diferente minha reação quando li o primeiro conto, o primeiro poema e vi a primeira peça teatral. Não se tratava de nenhum Shakespeare, de nenhum Sófocles, mas fiquei encantado com aquilo. Posso deduzir daí que a arte me pareceu tacitamente necessária. Por que iria eu indagar para que serviria ela, se desde o primeiro momento me tocou, me deu prazer? Mas se, pelo contrário, ao ver um quadro ou ao ler um poema, eles me deixassem indiferente, seria natural

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que perguntasse para que serviam, por que razão os haviam feito. Então, se o que estou dizendo tem lógica, devo admitir que quem faz esse tipo de pergunta o faz por não ser tocado pela obra de arte. E, se é este o caso, cabe perguntar se a razão dessa incomunicabilidade se deve à pessoa ou à obra. Por exemplo, se você entra numa sala de exposições e o que vê são alguns fragmentos de carvão colocados no chão formando círculos ou um pedaço de papelão de dois metros de altura amarrotado tendo ao lado uma garrafa vazia, pode você manter-se indiferente àquilo e se perguntar o que levou alguém a fazê-lo. E talvez conclua que aquilo não é arte ou, se é arte, não tem razão de ser, ao menos para você. Na verdade, a arte – em si – não serve para nada. Claro, a arte dos vitrais servia para acentuar atmosfera mística das igrejas e os afrescos as decoravam como também aos palácios. Mas não residia nesta função a razão fundamental dessas obras e, sim, na sua capacidade de deslumbrar e comover as pessoas. Portanto, se me perguntam para que serve a arte, respondo: para tornar o mundo mais belo, mais comovente e mais humano.

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por_Ferreira Gullar ilustração_Flávio Castellan

Flávio Castellan, 27 anos, é artista plástico e integra o elenco do ateliê paulistano Espaço Coringa


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ARTE&CULTURA E SOCIEDADE

90º por_ Tião Rocha

TODOS TÊM CULTURA E TRATA-SE DE UM BEM UNIVERSAL PORQUE É A REDE DE RELAÇÕES QUE DEFINE O DESENHO DE UMA COMUNIDADE

AS TRAMAS DA IDENTIDADE Todo e qualquer ser humano tem cultura. Esta é uma das poucas “verdades” da Antropologia. Apesar disso, muita gente ainda pensa que alguns seres humanos não têm cultura. Uma minoria crê, firmemente, que sua cultura é superior à dos outros. Outros, por se julgarem superiores, resolveram eliminar e subjugar os diferentes, tratando-os como inferiores. E uma grande maioria acostumou-se a pensar que não tem cultura alguma, ficando à mercê das elites ditas “cultas”. Outro equívoco que rodeia a cultura é quanto ao uso que se faz do conceito. As definições variam do extremamente amplo (“cultura é tudo aquilo que o homem acrescenta à natureza” ou “cultura é toda maneira de pensar, agir e sentir dos homens”) ao extremamente específico (“cultura é erudição”). Com o uso indiscriminado ou interesseiro, a palavra cultura tornouse expressão esvaziada. Foi o que nos levou a construir um novo conceito, que fosse ao mesmo tempo operacional, palpável, mensurável, observável, ético e correto. Para isso, buscamos outra contribuição da Antropologia: em toda e qualquer comunidade humana existem e interagem diversos componentes substantivos (que nós denominamos “indicadores sociais”) que podem ser identificados, medidos e observados e que, quando interagem

Nesta página, trançado de palha de carnaúba, de Parnaíba, no Piauí; na página oposta, uma aplicação “Relógio”, renda feita em São Sebastião, em Alagoas: a produção de bens pode ser um indicador cultural de uma comunidade

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entre si, constroem desenhos, padrões, símbolos e valores do grupo humano que aí vive e que podemos conceituar de Cultura. Encontramos os indicadores sociais em qualquer comunidade – rica ou pobre, urbana ou rural. No entanto, eles só se tornam um indicador cultural quando, em contato com outros indicadores, produzem um novo desenho, uma teia de relações dinâmicas, novas tramas e padrões de convivência, gerando novos valores ou sendo influenciados pelos valores universais presentes na comunidade. A cultura, este desenho, trama ou padrão dinâmico e interrelacional, é algo humano e social, público e visível, mas às vezes microscópico. Podemos, dentro de uma macrotrama, perceber microdesenhos simbólicos e repletos de significantes, como nas festas populares e de rua ou nos “rituais da ordem” que simbolizam e mantêm o sistema político. E é nesse mar de tra-


Tião Rocha é antropólogo, educador e folclorista. Foi professor da PUC-MG, da Universidade Federal de Ouro Preto e membro do Conselho Universitário da Universidade Federal de Minas Gerais. É presidente do CPCD – Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, que fundou em 1984, em Minas Gerais

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FOTOS: MARCELO GUARNIERI/ARTESANATO SOLIDÁRIO

mas, micro e macroscópicas, que navegamos durante nossa vida. A seguir, comentamos esses indicadores. As formas organizativas – Incluem a família, a vizinhança, os amigos, o grupo de oração, os companheiros de futebol, o pessoal do pagode, as comadres da esquina, os meninos da pelada, a galera do funk etc. Esse indicador é fundamental para o moderno conceito de “capital social”. Estudos demonstram que quanto mais espaços ou oportunidades de convivência social forem oferecidos aos habitantes de uma comunidade, mais formas e possibilidades de participação estarão sendo geradas, ampliando os espaços e os momentos de protagonismo social e o acúmulo de capital social. Nossa experiência nos autoriza afirmar que onde não há oferta de formas organizativas em quantidade (e por isso há poucas oportunidades de

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90º

“O talento da periferia não pode ser descartado. É isso que os jovens do Jardim Rosana querem mostrar. Fazemos parte do Jovens Urbanos, um projeto em parceria com o Cenpec, Itaú Cultural e organizações de base das zonas Norte e Sul da capital de São Paulo. Descobrimos, em atividades com os moradores da região, que tínhamos muita história para contar. Nossa gente escreve livros, faz poesia, jornalzinho, música, tem lembranças ricas da vida no bairro que precisam ser conhecidas e ficar registradas. Tomamos então a iniciativa de criar a Rádio Busão e uma biblioteca. Estamos buscando a doação de um ônibus para tornar esses projetos itinerantes. Queremos divulgar nossa produção cultural no próprio bairro e também levar para outros bairros e até outros estados. Queremos promover novos talentos. Acredito que valorizar a própria cultura cria um caminho diferente de identidade para os jovens, eleva a auto-estima, cria reflexos para um futuro melhor. O pessoal da periferia tem criatividade e precisa ter esperança nela, não pode ter vergonha de mostrar o que sabe fazer.”

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MARCOS FERNANDES /AGÊNCIA LUZ

OS INDICADORES SOCIAIS SE TORNAM CULTURAIS QUANDO AFETAM A TRAMA DE RELAÇÕES E VALORES DOS GRUPOS. ONDE OS ESPAÇOS DE INTERAÇÃO SÃO POUCOS, O TEMPO DE MUDANÇA TAMBÉM É LENTO

AMANDA VIEIRA CAVALCANTI, 18 ANOS, participante do projeto Rádio Busão, que integra o programa Jovens Urbanos

participação e de protagonismo), o tempo de resposta aos problemas é muito lento. O tempo de rotinas aumenta e o tempo de desejos e desafios decresce. A lentidão é observada na falta de vontade e ambição das pessoas, principalmente dos jovens, na baixa estima social da coletividade, no comodismo e atraso em relação a outras comunidades. Isso explica por que as jovens do “sertão das gerais”, aos 17 ou 18 anos, começam a ficar “desesperadas” porque ainda não se casaram, “porque já passaram da época”. É que, na percepção delas, o tempo de juventude e de sonho já se realizou. Elas vivem em cidades que não têm cinema, grupo de teatro, biblioteca, festas populares, locadora de vídeos, grupos de jovens, coral ou banca de jornais. Não acontece nada nos fins de semana e muito menos no meio da semana. O mundo externo entra filtrado pela tela da TV ou pelas ondas do rádio. Por isso a maioria tem na própria TV (ou rádio) o seu instrumento de formação de “capital social”, ou seja, há um crescente processo de terceirização do desejo e alienação da vontade, gerando a nãoparticipação e o não-protagonismo. As formas do fazer – São as respostas produzidas pelos homens às múltiplas necessidades humanas. Uma resposta bem-sucedida significa incorporação de um resultado. Assim surge o “uso” que, de caráter pessoal, passa a ser um “hábito” ao tornar-se

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de domínio de um grupo maior. A prática de um hábito cria o “costume”, uma das marcas de uma coletividade. A permanência do costume no tempo cria a “tradição”, marca registrada do fazer e do saber fazer de uma comunidade ou de um povo. Esse processo de acumulações sucessivas, sistemáticas e sempre atualizadas (porque contemporâneas), constitui a base da produção do conhecimento, seja de cunho científico (porque usa métodos para a compreensão de variados objetos), seja de caráter tecnológico (porque produz materiais, soluções e técnicas facilitadoras), seja de essência artística (porque atende a valores estéticos, sentimentais e não-tangíveis da humanidade, por meio de música, teatro, poesia, pintura etc.). Os sistemas de decisão – Referemse ao político, à autoridade, à liderança, aos poderes de decisão – macro e microinstitucionais e não institucionalizados. Aparecem ostensiva (como nos caso das lideranças políticas, jurídicas, militares etc.) ou subliminarmente, como no ambiente familiar, em que pai e mãe têm poderes de decisão. As relações de produção – Tratase do econômico, do mundo do trabalho, das forças produtivas – quem produz o que e para quem – de um grupo social. É observável nas formas convencionais de relações de produ-

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ção e de trabalho, assalariadas ou formais, e em todas as esferas da rede produtiva e reprodutiva de bens e serviços, remunerados ou não. O meio ambiente – Ou o contexto, o entorno, o ecológico. O homem é produtor e produto, processo e resultado do meio onde vive, parte integrante do ecossistema. Considerar o meio ambiente como um indicador social é compreendê-lo além de sua face meramente física e natural, como um elemento substantivo na constituição das expressões simbólicas, relações e processos humanos que serão o pano de fundo sobre o qual se construirá o desenho cultural de uma comunidade. A memória – Refere-se ao passado, à origem. Todos nós recebemos, desde o nascimento, uma carga de informações sobre o nosso passado recente ou remoto, guardado pela história ou pelo inconsciente coletivo ou pela tradição familiar. A memória de um grupo social se expressa em seus rituais sacros e profanos, repletos de elementos simbólicos perpetuadores dos vínculos e das matrizes geradoras desta comunidade. A visão de mundo – É o religioso, o filosófico, o depois, o futuro, o sonho. É movido pela idéia do porvir que o homem investe seu tempo e energia para aprender, dominar, transformar e se apropriar do mundo à sua volta. Existe uma ligação entre a memória e a visão de mundo: quanto mais pudermos voltar no passado e na memória, mais longe poderemos chegar em direção ao futuro, ao estabelecermos links e passagens de força, equilíbrio e coerência entre o ontem e o amanhã. Mas é preciso cuidado para não se ficar preso ao passado. Quem não consegue ligá-lo de forma coerente ao seu presente, não consegue construir uma perspectiva de futuro de seu próprio mundo. Com esses indicadores construímos o “nosso” modelo de Cultura: esta rede e trama de relações que forma um padrão ou um desenho definidor da identidade da comunidade ou grupo social. E podemos pensar em

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processo cultural como a interação e as dinâmicas que afetam o padrão ou desenho. Assim, entendemos que um “projeto de desenvolvimento” (de qualquer natureza) é uma ação-intervenção planejada no desenho cultural (e suas relações) de uma comunidade. O planejamento de um desenho cultural brasileiro – seja local, regional ou nacional –, que constitui o cerne das propostas e políticas de desenvolvimento, deveria ter então como premissa e ênfase a heterogeneidade e a diversidade culturais, que de fato constituem a marca de nossa nacionalidade, o caráter de nosso país e sua verdade histórica. Percebê-las em seus microcosmos – escola, família e comunidade – torna-se uma das tarefas dos educadores. Canalizá-las para construções pedagógicas que favoreçam novos processos de apropriação de conhecimentos, geradores de “oportunidades-e-de-opções”, pode ser o principal trabalho da escola. Esta é, cremos nós, a finalidade da cultura: ser instrumento eficaz do conhecimento, possibilitando leituras mais densas, mais ricas, mais sábias, mais abrangentes e mais humanas da nossa “travessia”, nessa busca permanente e vocação natural para ser feliz. Aplicação “Espinha de Peixe”, renda feita em São Sebastião (AL)

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ARTE&CULTURA E EDUCAÇÃO

180º

LIÇÕES DE LIBERDADE A ARTE-EDUCAÇÃO ESTIMULA O DESENVOLVIMENTO CULTURAL E COGNITIVO, MAS AS AMARRAS DA ESCOLA FORMAL LIMITAM O PRAZER NECESSÁRIO À APRENDIZAGEM por_Ana Mae Barbosa fotos_Henk Nieman

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No Brasil, muitas das ONGs que têm obtido sucesso na ação com os excluídos, esquecidos ou desprivilegiados da sociedade estão trabalhando com arte e até vêm ensinando às escolas formais a lição da arte como caminho para recuperar o que há de humano no ser humano. Entretanto, um problema está se criando. As ONGs, sem compromisso com a camisa-de-força representada pelo currículo, desenvolvem nos participantes fora do sistema escolar a capacidade de aprender, levando-os a descobrir suas habilidades e a ter alegria com as descobertas. Enfim, recuperam crianças e jovens para devolvêlas a uma escola cujo maior valor é hoje a obediência a um currículo nacional e aos instrumentos de controle do Estado – os testes e exames –, como manda o credo neoliberal, e não o estímulo para aprender a aprender. As chances de essas crianças e esses jovens serem rejeitados pela escola e voltar à rua, que é muito mais atraente, são muitas. O desejo de aprender é análogo ao desejo ficcional. Por meio da arte, o sujeito, tanto nas relações com o inconsciente como nas relações com o outro, põe em jogo a ficção e a narrativa de si mesmo. Nisto reside o prazer da arte. Sem a experiência do prazer da arte, por parte de professores (ou mediadores) e alunos, nenhuma teoria de arte-educação será reconstrutora.

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Desenvolvimento cognitivo No Modernismo, falava-se em arte na educação para o desenvolvimento da sensibilidade, mas poucos tentaram conceituar esta sensibilidade, deixando-se dominar pela “lamúria psicologizante” e pelo sentimentalismo. Hoje, principalmente, se aspira influir positivamente no desenvolvimento cultural e cognitivo dos estudantes por meio do ensino/aprendizagem da arte. Não podemos entender a cultura de um país sem conhecer sua produção artística. A arte, como uma linguagem aguçadora dos sentidos, transmite significados que não podem ser veiculados por nenhuma outra linguagem, como a discursiva ou a científica. Dentre os gêneros artísticos, os visuais, tendo a imagem como matériaprima, tornam possível também a visualização de quem somos, onde estamos e como sentimos. A arte na educação, como expressão pessoal e como produção cultural, é um importante instrumento para a identificação social e o desenvolvimento individual. Por meio da arte, é possível desenvolver a percepção e a imaginação para apreender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica, permitindo analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi analisada. O conceito de criatividade também se ampliou. Para a educação modernista, dentre os processos mentais envolvidos na criação, a originalidade era o mais valorizado – daí o apego do Modernismo à idéia de vanguarda. Nos dias de hoje, a flexibilidade e a elaboração são os fatores da criatividade mais ambicionados pela educação. Em Nova York, nos anos 80, uma pesquisa com delinqüentes juvenis concluiu que eles tinham a capacidade de elaboração muito pouco desenvolvida. Era, dos fatores criadores, o menos desenvolvido entre os jovens em conflito com a lei. Tinham muita dificuldade em reelaborar o seu meio ambiente para melhor adaptá-lo aos seus desejos e necessidades. Essa incapacidade freqüentemente gerava violência. Envolvida em projetos artísticos, a grande maioria deles foi capaz de sobrepujar suas limitações conjunturais e reconstruir suas vidas.

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180º

“Participo há pouco mais de dois anos do projeto Dança Comunidade, desenvolvido pelo coreógrafo Ivaldo Bertazzo, em São Paulo. Não aprendo só a arte da dança, mas coisas que vou usar para o resto da vida. O trabalho com o corpo inclui, por exemplo, aulas de fisioterapia, música, percussão rítmica, artes circences e de origami - que é importante pois é uma arte introspectiva, que faz surgir o que está dentro de você assim como na dança. A gente também participa de reuniões com médicos, que falam sobre saúde, e de grupos de reflexão, com psicólogo, assistente social e pedagogo, onde se conversa sobre a vida pessoal e as atividades do projeto. Isso deixa a cabeça mais aberta para se expressar e receber críticas. Enfim, o que ganho no projeto é ouro em pó, e procuro agarrar tudo. Estou sempre aprendendo sobre culturas diferentes e percebo que isso torna a gente mais versátil. A gente se dá conta de que a arte não está só no palco, mas em tudo. Ela é importante para sentir o conhecimento. Se tivesse mais arte na escola, seria mais legal. Do jeito que é o ensino hoje, você só vê aluno com sono e professor desestimulado. A arte devia fazer parte de todo aprendizado.”

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MAYKO PEREIRA

POR MEIO DA ARTE É POSSÍVEL DESENVOLVER A PERCEPÇÃO, A IMAGINAÇÃO, A CAPACIDADE CRÍTICA E A CRIATIVIDADE, PARA MUDAR A REALIDADE

CESAR DIAS CIQUEIRA, 16 ANOS, é bailarino, estudante do 2º ano do ensino médio e integrante do projeto Dança Comunidade (www.ivaldobertazzo.com.br)

Desafios na escola Desconstruir para reconstruir, selecionar, reelaborar, partir do conhecido e modificá-lo de acordo com o contexto e a necessidade, são processos criadores desenvolvidos pelo fazer e ver arte, fundamentais para a sobrevivência no mundo cotidiano. E muitos projetos com crianças e jovens, no Brasil, estão mostrando esse poder da “ordem oculta da arte”. Há muito educador, herói anônimo no Brasil, se dedicando às suas comunidades. O trabalho de arte nas comunidades vem confirmando que arte não é apenas uma mercadoria, como querem os capitalistas, nem quadro para pendurar na parede, como dizem com menosprezo os preconceituosos que acham que arte é um luxo sem o qual um país endividado como o nosso pode passar. Essa é a desculpa que escolas estão dando para retirar as disciplinas de Arte do ensino médio no Estado de São Paulo. A idéia é colocar Computação no lugar da Arte. Por que não, em vez disso, arte por meio do computador? Outra estratégia para burlar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (que exige arte no currículo) é deixar Arte para os professores de Literatura ensinarem, com a manipuladora desculpa da interdisciplinaridade. Sim, literatura é arte, mas não desenvolve as linguagens visuais, sonoras e gestuais.

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Sem a experiência do prazer da arte, por parte de educadores e alunos, nenhuma teoria de arte-educação será reconstrutora

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Democracia e marketing É por essas e outras que as ONGs, com muito menos dinheiro do que os governos vêm gastando em Educação, conseguem educar melhor e combater muito mais eficientemente a exclusão e a violência. Sobretudo quando não se trata de marketing empresarial, mas de projeto comunitário mesmo, em que os participantes têm poder de decisão. É muito importante democratizar o poder nos projetos sociais. Que direito temos nós de decidir o que é mais importante para uma comunidade, se não fazemos parte dela? Dar voz aos oprimidos deveria ser o primeiro mandamento dos projetos ditos sociais. Decidir sem ouvir, o governo já faz continuamente. Para compensar, o poder do terceiro setor deveria ser mais dialogal. Há também artistas ditos voluntários (mas algumas vezes com gordas verbas de terceiros), que apenas exploram os participantes, fazendo-os trabalharem de graça em projetos totalmente definidos e controlados pelos próprios artistas. Muitas vezes, apesar das boas intenções, porque não sabem lidar com comunidade ou com aprendizagem de arte, voluntários e artistas acrescentam mais um nível de exploração aos já tão explorados. É necessário conhecer e analisar o processo de trabalho em comunidade para avaliar e julgar sua propriedade. Nos trabalhos desenvolvidos por Rachel Mason na Inglaterra e no programa Quietude da Terra, do Projeto Axé, de Salvador, por exemplo, os artistas trabalharam assistidos por arte-educadores, o que garantiu um processo realmente educacional a favor da inclusão. Lidar com os excluídos, levando-os a se verem como pessoas plenas, apesar da exclusão, não é tarefa fácil. Qualquer deslize potencializa a exclusão. O cineasta Sergio Bianchi, em entrevista acerca de seu último filme, “Quanto Vale ou É por Quilo?”, que enfoca o “marketing social”, lembrava que está se criando uma nova escravidão: a escravidão comandada pelo chamado terceiro setor que só quer propaganda. Realmente,

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para muitas organizações que desenvolvem “trabalho social”, o marketing da empresa vem em primeiro lugar. Outras instituições só apóiam economicamente projetos que possam se auto-sustentar em determinado prazo. Mas há práticas sociais, como o Majê Molê, grupo de dança da periferia pobre do Recife, que nunca poderão se financiar, a não ser que se comercializem, o que resulta sempre em exclusão dos menos dotados e talentosos, que também muito necessitam do contato reconstrutor com a arte. Mas, apesar de algumas vezes submetido a um certo marketing sanguessuga, o movimento de arte para a reconstrução social vem demonstrando a necessidade da arte para todos os seres humanos, por mais inumanas que tenham sido as condições que a vida lhes impôs.

Ana Mae Barbosa é professora da Universidade de São Paulo, pioneira dos estudos de arte-educação no Brasil e autora de vários livros sobre o tema. Dirigiu o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo em 1987 e elaborou a proposta de arteeducação apoiada no tripé: ver arte, contextualizar o que se vê, e fazer

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ARTE&CULTURA E MERCADO

270º por_Leonardo Brant fotos_Henk Nieman

O NEGÓCIO DA CULTURA A INCORPORAÇÃO DE ELEMENTOS DA ECONOMIA DE MERCADO PARA ALAVANCAR AS CULTURAS LOCAIS É LEGÍTIMA. OS RISCOS SÃO A MERCANTILIZAÇÃO E O PODER CONCENTRADOR DAS GRANDES INDÚSTRIAS CULTURAIS

Peças da exposição 100 latas, com intervenções de vários artistas em latas de spray e que inaugurou a Grafiteria, espaço dedicado à arte de rua, em São Paulo: há novidades nas prateleiras do mercado cultural

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É válido pensar que a atividade cultural é essencialmente econômica. Ou até imaginar que o pensamento econômico, em si, parte de processos culturais. Discordo da dicotomia entre cultura e economia. Contesto, porém, qualquer argumento que insira a cultura numa dinâmica meramente mercadológica e economicista, avaliando-a pelo número, pelo indicador, pelos empregos e pela pujança da sua cadeia produtiva. A globalização tem nos mostrado que o crescimento desenfreado da atividade cultural traz efeitos nem sempre favoráveis para as culturas locais. O Relatório do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) de 2004, intitulado “A Liberdade Cultural no Mundo Diversificado” traz o seguinte: “O comércio mundial de bens culturais – cinema, fotografia, rádio e televisão, material impresso, literatura, música e artes visuais - quadruplicou, passando de 95 bilhões de dólares em 1980 para mais de 380 bilhões em 1998”. Mas faz a ressalva: “na indústria cinematográfica, as produções dos Estados Uni-

dos representam, normalmente, cerca de 85% das audiências de cinema em todo o mundo”. O documento da ONU também nos alerta para a excessiva concentração do dinheiro provindo das indústrias culturais. Se, por um lado, tememos seu efeito nas culturas locais, por outro, observamos um enorme potencial alavancador dessas culturas. Daí a minha empolgação com o desafio, também de origem, de acreditar que os elementos da economia de mercado são passíveis de incorporação por toda uma gama de produtores culturais e artistas, trazendo possibilidades reais de auto-sustentabilidade. E, por que não dizer, de transformação social.

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270º

“Sempre gostei de música e um professor me encaminhou ao Instituto Criar de TV e Cinema, em São Paulo, para fazer uma oficina de audiovisual. Foi um ano de curso, que terminou em junho, e uma superexperiência, porque me envolvi com as outras oficinas, aprendendo um pouco de câmera, computação gráfica, iluminação, edição. Além do aprendizado técnico, tive aulas de inglês, história do cinema, criatividade e expressão e sobre os meios de comunicação. Eu era leigo em tudo isso, hoje tenho conhecimentos e uma visão bem mais crítica. Quero unir música e cinema. A participação nesse projeto está me abrindo as portas para o mercado de trabalho, mas principalmente abrindo minha cabeça para valorizar a produção cultural brasileira. Virei monitor de áudio no projeto e, com os monitores de outras oficinas, estamos criando uma produtora do Instituto Criar e também um núcleo jovem para levar nossas experiências para outras instituições sociais. Serão novas idéias, novos olhares, novos talentos e cabeças pensando, e tudo isso só pode enriquecer a arte e ser bom para o Brasil.”

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BEATRIZ ASSUMPÇÃO

PESQUISAS MOSTRAM QUE NO BRASIL A RELAÇÃO ENTRE INVESTIMENTO E VAGAS GERADAS NA ÁREA É MUITO GRANDE E A OFERTA CULTURAL, MUITO PEQUENA

GUILHERME RAMOS DE SOUZA, 18 ANOS, é estudante do 3º ano do ensino médio e monitor no Instituto Criar de TV e Cinema (www.institutocriar.org)

Estava prevista para o mês de outubro a 33ª Conferência Geral da Unesco, ocasião em que seria promulgada uma Convenção Internacional sobre diversidade cultural. Costumo apelidá-la de “Protocolo de Kyoto da Cultura”, dada a sua importância nesse cenário de riqueza e desigualdade. O documento traz uma série de recomendações aos países-membros, no sentido da adoção de políticas próprias para a cultura, bem como a outros organismos internacionais, como Organização Mundial do Comércio e demais órgãos das Nações Unidas. Não podemos nos esquivar diante da mais evidente – e trágica – conexão entre cultura e economia, senão a da intencional transformação de hábitos e costumes culturais em dinâmicas meramente mercadológicas. “Pesquisas de mercado identificaram uma ‘elite mundial’, uma classe média mundial que segue o mesmo estilo de consumo e prefere ‘marcas mundiais’. O mais impressionante são os ‘adolescentes mundiais’, que habitam um ‘espaço mundial’, com uma única cultura pop mundial, absorvendo os mesmos vídeos e a mesma música e proporcionando um mercado enorme para tênis, t-shirts e jeans de marca”, reflete ainda o relatório do PNUD. E esse não é um único viés da “mercantilização” da cultura. Naomi Klein, autora do excelente “No Logo”, traz algumas indagações a respeito de processo de apropriação da cultura pelo mundo corporativo. O foco é o patrocínio. “Embora nem sempre seja a

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intenção original, o efeito do “branding” avançado é empurrar a cultura que a hospeda para o fundo do palco e fazer da marca a estrela. Isso não é patrocinar cultura, é ser cultura. E por que não deveria ser assim? Se as marcas não são produtos, mas conceitos, atitudes, valores e experiências, por que também não podem ser cultura? Esse projeto tem sido tão bemsucedido que os limites entre patrocinadores corporativos e a cultura patrocinada desaparecem completamente.” Esse processo consolida a “coisificação do ser e a humanização das coisas”, segundo o antropólogo italiano Massimo Canevacci, autor do livro “Culturas Extremas”. A International Network for Cultural Diversity (www.incd.net) promove essa pauta junto aos associados em mais de 50 países. Trabalha pelo desenvolvimento cultural local em face do processo de homogeneização da cultura, impetrado sobretudo pela voracidade dos conglomerados globais da indústria cultural. Fruto desse trabalho de pesquisa e discussão e pressão junto a organismos internacionais como Unesco, OMC e demais células do sistema ONU, está a criação no Brasil do Instituto Diversidade Cultural (www. diversidadecultural.org.br) e a publicação do livro “Diversidade Cultural”, lançado recentemente pela editora Escrituras, em parceria com o Instituto Pensarte. A tônica geral da publicação, que traz 17 textos de especialistas internacionais, volta-se para a análise e a proposição de mecanismos internacionais que auxiliem a salvaguarda

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dessas culturas, tanto quanto sua promoção nos ambientes internos. Pesquisa da Fundação João Pinheiro, publicada em 1998 pelo Ministério da Cultura, aponta que 1% do PIB brasileiro seria gerado pela cultura. A cada 1 milhão de reais investido, teríamos 160 postos de trabalho. A relação emprego/investimento seria a melhor do Brasil, mesmo em comparação com a indústria automotiva e de tecnologia. Num país em que o desafio de geração de trabalho e renda para os jovens em idade de ingressar no mercado de trabalho é enorme, isso poderia significar um grande potencial. Dados de uma pesquisa realizada pelo IBGE em 1999 demonstram, por outro lado, a ausência da oferta cultural no Brasil: 82% dos municípios brasileiros não possuíam museus, 84,5% não tinham teatro, 92% não tinham sequer uma sala de cinema e cerca de 20% não tinham bibliotecas públicas. Mesmo aqueles municípios que contavam com bibliotecas, 69% deles possuíam apenas uma e, nos municípios com até 20 mil habitantes, 935 não tinham nenhuma. Nos municípios com até 5 mil habitantes, a presença de livrarias e lojas que vendem discos, fitas e CDs era muito rara, com percentuais de 13,6% e 5,6%, respectivamente. E em termos de território brasileiro, dos 5.506 municípios pesquisados, 65% não possuíam esse comércio. Nos municípios com mais de 50 mil habitantes, 90% tinham esse tipo de loja e, como já era de se esperar, todos os grandes centros urbanos possuíam esse gênero de comércio, com destaque para a Região Sul, onde em 60% dos municípios se identificaram livrarias e em 40% lojas de discos, fitas e CDs. Esses dados apontam para um estrangulamento da capacidade econômica, com uma grande concentração nos grandes centros, que obviamente não é capaz de absorver a grande miríade criativa da cultura brasileira. Por outro lado, mostra a oportunidade de se investir num mercado promissor e necessário para a própria valorização das manifestações culturais locais e para o desenvolvimento de nossas crianças e jovens. Nesse caso, bom negócio para o Brasil.

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Leonardo Brant é presidente da Brant Associados e do Instituto Diversidade Cultural, autor dos livros “Mercado Cultural, Políticas Culturais”, vol.1 (org.) e “Diversidade Cultural” (org.)


ARTE&CULTURA E CONTEXTO

360º

A PULSAÇÃO DO NOSSO TEMPO A ARTE CONTEMPORÂNEA SUPERA AS DIVISÕES DO MODERNISMO E REFLETE O ESPÍRITO DE NOSSA ÉPOCA, OCUPADA COM AS QUESTÕES DA IDENTIDADE: O CORPO, O AFETO, A MEMÓRIA por_Katia Canton

Katia Canton é PhD em Artes pela Universidade de Nova York, docente e curadora de arte do Museu de Arte Contemporânea, da Universidade de São Paulo, autora de vários livros, entre eles “Retrato da Arte Moderna”

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Já dizia o crítico brasileiro Mario Pedrosa que “arte é o exercício experimental da liberdade”. Eis uma ótima definição, sobretudo se entendermos que o conceito de liberdade depende de um contexto para se definir. O que é considerado um ato ou um pensamento de liberdade em um determinado momento histórico não o é necessariamente em outro. Em se tratando de arte, então, é importante que prestemos atenção nos sinais dos tempos e em seus significados. Bem, e qual é o significado da arte? Para começar, podemos dizer que ela provoca, instiga, estimula nossos sentidos, de forma a descondicioná-los, isto é, a retirá-los de uma ordem preestabelecida, sugerindo ampliadas possibilidades de viver e de se organizar no mundo. Como escreve o poeta Manoel de Barros: “Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber: / a) que o esplendor da manhã não se abre com faca / b) o modo como as violetas preparam o dia para morrer / c) por que é que as borboletas de tarjas vermelha têm devoção por túmulos / d) se o homem que toca de tarde sua existência num fagote tem salvação (...) Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios (...) / As

coisas não querem mais ser vistas por / pessoas razoáveis:/ Elas desejam ser olhadas de azul — / que nem uma criança que você olha de ave”. A arte ensina justamente a desaprender os princípios do óbvio que é atribuído aos objetos, às coisas. Ela parece esmiuçar o funcionamento das coisas da vida, desafiando-as, criando para elas novas possibilidades. Ela pede um olhar curioso, livre de “pré-conceitos”, mas cheio de atenção. Os jovens já têm essa disponibilidade, mas é preciso estimular seu convívio com arte para facilitar e aprimorar essa percepção. Agora, ao mesmo tempo em que se nutre da subjetividade, há outra importante parcela da compreensão da arte que é constituída de conhecimento objetivo, envolvendo a história - da arte e dos homens -, para que,

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com esse material, se possa estabelecer um grande número de relações. Para contar essa história, a arte precisa ser plena de verdade, refletindo o espírito do tempo, com a visão, o pensamento e o sentimento das pessoas em seus momentos. Parece complicado? Pois pensar na arte como um conhecimento vivo, um tecido onde se costuram diariamente fios que compõem a vida, é uma forma de entender por que razão a maneira de encará-la também se modifica no decorrer dos contextos sócio-históricos. É mais que desejável, então, que os jovens se acostumem a pensar também sobre a arte de seu próprio tempo.

Arte moderna e vanguardas De modo geral, podemos afirmar que a arte moderna, que se iniciou a partir da segunda metade do século 19 e abarcou todo o século 20, teve como mola propulsora o conceito de vanguarda. E o que isso significa? O termo vem do francês “avant-garde”, que quer dizer “à frente da guarda”. É um termo de guerra, que pressupõe duas idéias básicas: a de se estar “à frente”, isto é, de fazer algo novo, e a de “guarda”, que se liga à luta, à ruptura. Eram esses os desejos dos artistas modernos. As bases de todos os movimentos que eles criaram, independente de suas singularidades, estão ligadas às noções de novo e de ruptura. Buscando criar obras cada vez mais inovadoras e que pudessem romper com a ordem vigente é que os artistas modernos elaboraram seus movimentos. Afinal de contas, esses artistas pertenceram a uma era tremendamente

Espécimes da Flora, um óleo sobre tela e napa, obra da artista plástica brasileira Adriana Varejão

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“Com 15 anos, eu não sabia nada de música. Gostava só de rock e tinha vontade de tocar violão. Aí minha mãe me falou de um curso de música. Era o projeto Acordes Pão de Açúcar. Como o curso era de instrumentos de corda, me interessei, mas não tinha violão, só violino, viola, violoncelo e contrabaixo. Para começar, eu tinha de ver uma apresentação da orquestra do projeto. Por ser orquestra, a minha expectativa era que o programa seria chato, coisa erudita. Mas gostei e vi que com aqueles instrumentos eles também tocavam música popular. Comecei aí a aprender que segregar música, ou qualquer outra arte, é uma bobagem. Escolhi aprender violino e não deixei de gostar de rock, agora entendo mais. Hoje toco na orquestra do Acordes, formada por 40 músicos, e também dou aula no projeto. O Acordes me abriu um horizonte cultural, não só na música. A gente tem contato com história, outras línguas e culturas. Encontrei também um horizonte profissional. Estudo música na Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, e estou em vias de acertar um intercâmbio cultural para estudar em uma universidade na Polônia.”

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CESAR CIQUEIRA

A ARTE DESAFIA O ÓBVIO E SUA COMPREENSÃO EXIGE UM OLHAR CURIOSO, ATENTO E SEM PRECONCEITOS. OS JOVENS JÁ TÊM ESSA DISPONIBILIDADE, MAS PRECISAM DE CONHECIMENTO PARA APRIMORÁ-LA

MATHEUS FRANZ CANADA, 21 ANOS, estudante de música e integrante do projeto Acordes, do Instituto Pão de Açúcar (www.paodeacucar.com.br)

intensa, que, no rastro da Revolução Industrial, urbanizou cidades, promoveu espantosas inovações tecnológicas, mas também produziu duas guerras mundiais, além da Revolução Russa, que acabaram por separar o mundo em blocos capitalista e socialista. Era preciso que a arte se tornasse tão inovadora e radical quanto a própria vida. Uma das invenções do século 19 e que teve um impacto fenomenal sobre a arte foi a fotografia. Ela liberou os artistas, até então incumbidos de registrar em suas telas pessoas, paisagens e fatos históricos para a posteridade. A fotografia poderia cumprir essa função, dando ao artista mais liberdade para criar, pesquisas e experimentar. No Modernismo, diversos projetos uniam artistas em diferentes movimentos, muitas vezes endossados por manifestos – textos que os explicavam e validavam. A opção pelo novo manifestou-se de maneiras muito diversas e particulares, ampliando enormemente as possibilidades artísticas que o século 20 trouxe para o mundo ocidental. No Impressionismo, por exemplo, os artistas queriam se liberar da representação realista e cheia de regras impostas pelas academias de belasartes. No Cubismo, a fragmentação das imagens projetava simbolicamente a própria fragmentação do mundo da industrialização. Na arte abstrata, procurava-se uma síntese que transcendesse uma realidade de guerras, destruições e desigualdades. O que os unia era um posicionamento diante das mudanças trazidas pela sociedade industrial. Impressionismo, Pós-Impressionismo, Fauvismo, Expressionismo, Simbolismo, Cubismo, Futurismo, Surrealismo, Minimalismo... todos buscavam liberdade e autonomia para a obra de arte.

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A cena contemporânea Com o passar do tempo, no entanto, a arte moderna sofreu um desgaste. Por um lado, ela tornou-se tão experimental que acabou por afastar-se do público, que passou a achar suas manifestações cada vez mais estranhas e de difícil compreensão. Isso aconteceu particularmente a partir dos anos 60 e 70, em Nova York, para onde se transferiu a vanguarda artística dos centros europeus depois da Segunda Guerra, e onde várias noções modernas foram radicalizadas. No movimento minimalista, criado ali, o lema era “Menos é Mais”; a arte não deveria ter autoria, nem passado ou futuro, apenas a ação do momento presente. “O que se vê é o que se tem”, diziam os minimalistas. “Não há nada por trás das formas.” Em meio a isso, as pessoas sentiam falta de histórias e da possibilidade de serem arrebatadas de emoção pelas obras de arte. Por outro lado, a noção do novo, fundamental para a vanguarda, também se tornou algo improvável, sobretudo num mundo repleto de informações e estímulos. Com a mudança global que se delineia a partir dos anos 80, torna-se mais gritante ainda a necessidade de uma modificação no conceito de arte. Mais do que isso: torna-se necessário que a arte se modifique para sobreviver. E é aí que sai de cena a arte moderna e sobe ao palco a contemporânea.

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Para começar, a organização prévia do mundo entre capitalismo e socialismo entra em colapso com o fim do regime socialista soviético e a queda do muro de Berlim (1989). As novas realidades políticas provocam um fluxo geográfico internacional, fazendo com que os deslocamentos humanos instaurem uma nova noção de identidade e de nacionalidade. A virtualização produz uma profunda modificação na maneira como as pessoas se relacionam. A relação tempo e espaço, que antes obedecia a uma proporcionalidade, agora é instável. Se os estímulos de informação proliferam sem limites temporais ou espaciais, tornando-se muitas vezes excessivos, a memória torna-se um bem maior. Para o cientista russo e Prêmio Nobel, Ilya Prigogine, “o fim da humanidade seria uma sociedade que perdeu sua memória”. Prigogine aponta para uma valorização cada vez maior da memória como um bem ao qual muitas pessoas terão pouco acesso num futuro em que tudo é descartável. A importância dada à moda, às aparências e à “atitude”, aliada a uma tecnologia sofisticada de cirurgias, implantes, aparelhos de ginástica e substâncias químicas, além das possibilidades genéticas que se abrem com os seqüenciamentos cromossômicos, fazem do corpo um campo de experimentações futurísticas. A busca pela originalidade, que caracterizava a vanguarda modernista do século 20, é substituída pela atitude de busca de reconhecimento, de celebridade. Transfere-se o alvo das preocupações da produção para o produtor, da obra para o autor. Tanta coisa acontece rápida e simultaneamente que afeta nossa capacidade de lidar com a memória, a afetividade, o corpo, a identidade, enfim. Esses, então, passam a ser os grandes assuntos a serem tratados pelos artistas contemporâneos, espécies de radares de seu próprio momento histórico. A arte abstrata continua a existir, mas é na figuração, nas narrativas, nas imagens ligadas à própria história de vida do artista e às micropolíticas referentes ao mundo em que vive que está o grande foco da arte contemporânea. Se fosse convidada a reformular o ensino da arte no momento contemporâneo, eu substituiria o estudo dos movimentos que caracterizaram a era moderna por esses grandes temas que acompanham a produção e o pensamento dos artistas contemporâneos, permitindo que a arte continue a fazer sentido e a ecoar nossa essência.

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Trabalhando nos sintomas desse cenário, grandes nomes internacionais parecem confirmar essa tendência. Cindy Sherman fotografa-se assumindo identidades variadas. A francesa Louise Bourgeois, com mais de 80 anos de idade, é uma das mais radicais artistas da atualidade, construindo universos escultóricos que mesclam autobiografia e erotismo. O norte-americano Mathew Barney cria em seus filmes uma mitologia miscigenada, misturando tempos e espaços. No Brasil, Adriana Varejão pinta fachadas de azulejaria portuguesa sangrando como se em carne viva, criando um potente comentário sobre a história colonial e seus rastros de sofrimento. Ernesto Neto constrói com náilon, espuma e enchimentos, verdadeiras metáforas de nossos órgãos e peles. Em meio a múltiplas possibilidades de usos de materiais, espaços e tempos, a arte contemporânea não separa a rua e o museu. O coreógrafo Ivaldo Bertazzo mescla tradições étnicas milenares com o gestual urbano de crianças e jovens de favelas brasileiras. O músico Naná Vasconcelos utiliza com precisão sons do corpo e voz de milhares de pessoas e afirma que Vila-Lobos é um “genuíno músico popular, já que consegue fazer ecoar os sons do povo, ainda que de forma sinfônica”. Felizmente, a arte contemporânea tem a liberdade de apontar suas heranças e sua história sem precisar ir ao grau zero da originalidade e está cada vez mais infiltrada nas peles da vida. Assim ela permanece pulsando.

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OUTRAS LEITURAS

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MENSAGENS CIFRADAS DA JUVENTUDE, AS PICHAÇÕES LEVANTAM QUESTÕES SOBRE O PODER DE INCLUSÃO E OS LIMITES DA ARTE URBANA

por _ Iara Biderman

BADAH

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Para L. F. A. C., 17, a escolha foi outra. O garoto era “invocado”, bastava alguém olhar torto para ele partir para a briga. “Minha mãe vivia preocupada. Eu andava com uma turma de gente mais velha, ‘me achava’. Vivia na rua, era muito rap e pinga com groselha. Subia em carro, escalava muro e pichava em uns lugares incríveis”, conta. O que deu “um rumo” para L.F., segundo suas próprias palavras, foi o encontro com a música clássica. Há quatro anos, participa do Projeto Guri, e toca violino na orquestra do projeto, que surgiu no âmbito do governo do Estado e hoje é uma organização social na área de cultura que promove inclusão por meio do ensino coletivo da música.

Decifra-me ou devoro-te. No alto dos prédios e viadutos, nas fachadas das casas e nos muros das grandes cidades, principalmente, as frases desconexas e letras indecifráveis repetem o desafio da esfinge. Que mensagens são essas, que nos joga na cara perguntas ainda sem respostas consensuais: sinais de deterioração urbana ou arte de rua? Para o fotógrafo profissional Iatã Canabrava, é comunicação visual popular. Convidado para fazer um trabalho sobre as intervenções visuais urbanas - pichações, grafites, anúncios, faixas -, Canabrava chamou jovens fotógrafos e grafiteiros para realizarem juntos uma leitura da cidade. O resultado foi a exposição “Spray - Tatuagens Urbanas”, que ficou à mostra na sede do Instituto GTech, em São Paulo, em meados deste ano, como “uma reflexão, nem a favor, nem contra, sobre essa demarcação visual do espaço urbano”, segundo o fotógrafo. Mas é difícil não ser “contra ou a favor” nessa questão. “A cidade é o suporte para a pichação e o grafite, e muita gente não gosta. Muitas vezes, é a situação de um outro agredindo diretamente algo que é seu”, diz Daniel Fernandes, o Badah, educador de oficinas do Instituto Gtech. A busca desesperada por qualquer espaço de expressão leva os excluídos da arte e da cultura a marcar território de forma ostensiva, por vezes agressiva. “Se tivessem outras oportunidades de atividades culturais, os pichadores talvez escolhessem outras formas de expressão. Poderia ser o grafite, mas poderia ser qualquer outra coisa”, acredita Badah.

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A foto de uma construção pichada em rua de São Paulo integrou uma mostra em que fotógrafos e grafiteiros fizeram uma leitura visual da cidade


A escolha de L.F. não significou um rompimento com o rap e a “turma do piche”, mas, hoje, o ajuda a ter uma reflexão mais elaborada sobre esse tipo de manifestação. “Quem vê de fora acha que é vandalismo. Nada a ver. A gente está mostrando o que sente, mas não estão entendendo. Estamos dizendo: ‘olhem, estamos aqui!’”, conta, acrescentando que, antes de tocar na orquestra, pichava porque não era notado. “Agora, toco violino e sou notado, me aplaudem.” Mensagem para poucos Para o antropólogo Alexandre Barbosa Pereira, autor da tese “De Rolê pela Cidade – os Pichadores de São Paulo”, a lógica do pichador é ser reconhecido e ganhar notoriedade dentro do grupo. “A mensagem, em geral, não é para a população, é para eles mesmos.” Dentro dessa lógica, quanto mais arriscado for o local ou a situação da pichação, mais status o autor ganha dentro dos grupos. É uma forma de ser conhecido e valorizado por turmas que circulam por todas as partes da cidade, algo difícil de acontecer se não for por meio da intervenção gráfica no espaço público ou na propriedade privada. “Alguns, em certos momentos, até admitem que é vandalismo. Outros defendem como uma forma de expressão. E há os que consideram como um protesto político. Em geral, o pessoal mais politizado é o ligado aos movimentos do hip hop”, diz Pereira. O psiquiatra Auro Danny Lescher encontrou no hip hop o sangue bom que faz bater forte o coração do Projeto Quixote. Ligado ao departamento de psiquiatria da Unifesp (Universi-

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dade Federal de São Paulo), o Quixote busca criar alternativas para crianças e jovens em situação de risco social. “Mas é preciso oferecer uma alternativa de sociabilidade suficientemente criativa e interessante. Não dá para ficar apenas fazendo vaso com palito de fósforo. Tem de ser hip hop na veia”, receita Lescher. Movimento iniciado nos Estados Unidos na década de 60 e que se disseminou pelos centros urbanos brasileiros no início dos anos 80, o hip hop inclui manifestações artísticas como música (rap), dança (breake) e também o grafite, que se torna recurso contra a exclusão. “A opção entre uma arma e uma latinha de tinta é questão de oportunidade”, acredita Lescher. O Quixote amplia essas oportunidades criando, por exemplo, eventos que unem manifestação de cidadania com grafite. Como uma grande grafitagem realizada no Carandiru. A pintura do ex-complexo presidiário foi feita simultaneamente pelos jovens reunidos pelo Quixote, do lado de fora, e os internos do presídio, de dentro. “É a arte comunicando dois mundos”, analisa Lescher. Também canaliza possibilidades oferecendo formação e oportunidade de geração de renda por meio do Quixote Spray Arte. Ali, jovens desenvolvem técnicas de grafite e podem ganhar dinheiro com sua arte, oferecendo produtos como oficinas de grafite, pinturas decorativas ou de divulgação em fachadas e camisetas grafitadas. A formação possibilita que muito pichador se descubra como artista. “Todo pichador quer ser grafiteiro um dia; e quase todo grafiteiro já foi um pichador”, diz Lescher. Rampas de acesso Wagner, dos Pigmeus, ou “Wag...”, seu nome de guerra e de muros, faz intervenções urbanas há pelo menos dez anos: “Picho desde os 15”, conta, com o orgulho de quem se autodenomina “escritor de rua”. Ele acredita que se todos os pichadores pudessem fazer algum tipo de curso, pelo menos 50% mostrariam “que são artistas mesmo. Todo pichador vira grafiteiro no final”. Wagner, que já foi motoboy e hoje está desempregado, vive no limite entre a arte e a ilegalidade. Já escapou por pouco de levar tiros quando pichava casas alheias e já foi entrevistado por jornalistas dinamarqueses, encantados com o desenho sofisticado das

É PRECISO CRIAR RAMPAS DE ACESSO PARA QUEM ESTÁ EXCLUÍDO PODER ENTRAR PELA PORTA DA ARTE E DA CULTURA. QUEM VIVE EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL TAMBÉM TEM NECESSIDADES ESPECIAIS

letras que picha. Ele organiza eventos para transformar vielas deterioradas do bairro periférico de Capão Redondo, onde mora, em “museus a céu aberto”. Os Pigmeus – “a galera” de pichadores de Wagner – organizam esses eventos por conta própria, chamando pichadores de várias regiões e buscando patrocínio na comunidade. O plano de Wagner é transformar os Pigmeus em uma ONG para formar e apoiar artistas de rua. O que o ex-motoboy quer, na definição mais elaborada do psiquiatra Auro Lescher, é criar rampas de acesso para quem está excluído poder entrar pela porta da arte e da cultura. “Assim como é necessário construir rampas de

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Fotos de grafitagem no complexo presidiário do Carandiru, com interferências realizada por integrantes do Projeto Quixote

FOTOS: DIVULGAÇÃO / PROJETO QUIXOTE

acesso físicas para o portador de necessidades especiais poder chegar a determinado local, é preciso construir rampas de acesso que envolvem relações humanas. Quem vive em situação de risco social também tem necessidades especiais”, diz Lescher. De certa forma, a Associação Rodrigo Mendes surgiu como uma união dos sentidos literal e metafórico do conceito exposto por Lescher. Aos 19 anos, depois de ser baleado durante um assalto, Rodrigo entrou para o grupo de portadores de necessidades especiais e subiu a rampa da arte quase por acaso. “Comecei a fazer reabilitação motora e encontrei um artista, que me propôs um trabalho com pintura. Nunca tinha feito antes, fui sem nenhuma pretensão, mas logo tomei gosto pela coisa. Ao ver os resultados positivos da arte, tive a idéia de ampliar essa possibilidade para um público maior”, conta Rodrigo. A Associação Rodrigo Mendes foi instituída em 1994 como uma escola voltada aos deficientes físicos, com a proposta de usar a arte como ferramenta de acesso à cultura. Mas, em 1996, Rodrigo decidiu que a escola deveria ser inclusiva: aberta a deficientes ou não, de diferentes origens e idades. “As experiências de segregação não deram certo. A arte, por sua amplitude, pode agregar a todos.” A inserção na arte e na cultura vem junto com a possibilidade de suprir uma necessidade bastante especial para boa parte dos alunos da associação: gerar renda. Além de os alunos aprenderem a transitar com propriedade na história e nos conceitos da arte, a Associação Rodrigo Mendes tem parcerias com empresas para a

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PARA SABER MAIS

SOBRE

PARA SABER MAIS

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venda de produtos, como linhas de material escolar, porcelanas, cosméticos e brindes ilustrados com pinturas dos alunos. Questão de sobrevivência Poder viver de sua arte, comercializá-la, é um dos grandes dilemas dos pichadores e grafiteiros. Ninguém quer se render ao mercado ou aos interesses do poder público – que às vezes oferece muros a serem decorados e o material necessário, sem remuneração – mas todo mundo quer e precisa de grana. Até para comprar a tinta. O pichador Wagner imagina uma solução “institucional” para o que os órgãos públicos e a maioria da população consideram um problema: “As prefeituras cadastram todos os pichadores, dão um curso, e registram como artistas de rua. Então, eles podem deixar a cidade mais bonita, todos ganham”, sonha. Mas logo questiona a eficácia dessa sua idéia: “Tem um efeito colateral. Ninguém vai se contentar em grafitar só onde querem que seja pintado. Está na alma da pichação e do grafite ser ilegal. E é muito bom fazer algo arriscado”, diz ele, que tem atração especial por escalar prédios e pintar letras de cabeça para baixo nas alturas mais improváveis. “É uma adrenalina muito boa.” O surpreendente, para o garoto L. F., do Projeto Guri, foi descobrir em outras formas de expressão artística uma adrenalina tão poderosa quanto a vertigem da pichação ilegal: “Tem uma peça clássica que, só de ouvir, fico tremendo. É o “Opus 26”, do compositor alemão Max Bruch. Pura adrenalina, igual à de pichar em cima do viaduto ou no alto do prédio”.

HENK NIEMAN

VISTO COMO VÂNDALO OU COMO AUTOR DE UMA FORMA PRÓPRIA DE EXPRESSÃO, O PICHADOR É UM JOVEM QUE ACABA VIRANDO GRAFITEIRO

PROJETO GURI ÁREA DE ATUAÇÃO ESTADO DE SÃO PAULO PROPOSTA Inclusão social e cidadania através do ensino coletivo da música JOVENS ATENDIDOS Aproximadamente 25 mil APOIO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO CONTATO marketing@projetoguri.org.br

Letras típicas de pichação pintadas, isoladamente , sobre azulejos aplicados num muro: novas possibilidades de leituras

PROJETO QUIXOTE ÁREA DE ATUAÇÃO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO PROPOSTA Atendimento de crianças e adolescentes em situação de risco social por meio de oficinas lúdicas e artísticas, formação de multiplicadores e pesquisa científica para ampliar e aprofundar a compreensão da realidade vivida por sua população-alvo JOVENS ATENDIDOS 3.000 APOIO PROJETO PETROBRÁS FOME ZERO E UNIFESP (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO) CONTATO Rua Prof. Francisco de Castro, 92 – Vila Clementino – 04020-050 – São Paulo (SP). Tel.: 11/5572-8433 – e-mail:quixoteunifesp@uol.com.br

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SOBRE PARA SABER MAIS

ASSOCIAÇÃO RODRIGO MENDES REGIÃO DE ATUAÇÃO GRANDE SÃO PAULO PROPOSTA Possibilitar que o indivíduo desfrute dos benefícios de conviver com a arte, comprometida em garantir o acesso de pessoas portadoras de deficiência e/ou de baixa renda a seus programas JOVENS ATENDIDOS 101 APOIO TILIBRA, D PASCHOAL E BAUDUCCO CONTATO Rua Tenente Aviador Mota Lima, 85 – Vila Caxingui – São Paulo (SP) – CEP 05517-030 – Tels.: 011/3726-4468 e 3726-8418 – e-mail: arm@arm.org.br

VIDA DE REPÓRTER

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BEATRIZ ASSUMPÇÃO

“A pauta ficou martelando na minha cabeça. Eu tinha algumas idéias esparsas e muitas dúvidas. O que é arte? Qual a diferença entre pichação e grafite? Minhas referências só aumentavam as contradições. Meus amigos grafiteiros, há vinte e muitos anos, justificavam suas ações: bem-nascidos, estavam levando a arte das galerias para as ruas. E a pichação, naquele finzinho dos anos 70, não era nem queria ser arte. Eram do tipo “abaixo a ditadura”, salvo uma ou outra poesia independente. O que eu não sabia é que, naquela época, já começava a pulsar nas periferias um movimento artístico-cultural que viria a utilizar o piche e o grafite de novas maneiras. Demarcar território e gritar “eu existo” são algumas delas. O caminho natural foi percorrido: ir da periferia ao centro, para ganhar o máximo de visibilidade – às vezes, com o máximo de ilegibilidade, invertendo o jogo da exclusão. Os incluídos não participam da leitura significativa dessa escrita. Portanto, para essa reportagem, era preciso ir atrás dos grafiteiros e pichadores de hoje. Fui a um encontro deles me sentindo um ET. Mas não tive dificuldade para estabelecer contato – adoram falar do que fazem. Todos se apresentam como grafiteiros e só depois de alguma conversa é que assumem que também fazem pichações. Quando perguntei o porquê, a resposta foi: ‘Porque pichador vai preso, grafiteiro não.’ Mas os protagonistas das intervenções visuais urbanas não oferecem explicações claras sobre as diferenças entre pichação e grafite. Talvez não precisem, mesmo. O negócio deles é ‘se expressar’ – de forma torta ou consciente, como agressão ou transgressão.”

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IARA BIDERMAN, 44 ANOS, é jornalista há 22 anos


o sujeito da frase

AE

“A ARTE NOS TORNA RESPONSÁVEIS”

O ator Leandro Firmino da Hora diz que não é a obrigação mas o desejo de fazer que aumenta nosso compromisso

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por_Cristiane Ballerini foto_Deise Lane Lima

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SOBRE

O artista, que estreou no papel do traficante Zé Pequeno, no filme “Cidade de Deus”, diz que a arte mudou o roteiro de sua vida e pode transformar muitas outras histórias

PARA SABER MAIS

AE

Ele cresceu na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, e até os 15 anos não saía de casa desacompanhado. Seus pais tinham tanto medo da proximidade com o tráfico de drogas que nem brincar na rua era permitido a ele e seus três irmãos.”Por isso, até hoje não sei soltar pipa”, lamenta Leandro Firmino da Hora. Ironicamente, foi na pele de um violento traficante que o rapaz tímido, de fala mansa, se tornou ator, e de sucesso. O papel de Zé Pequeno, no filme “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles (2001), foi parar nas mãos de Leandro aos 20 anos, depois de um teste que só fez por insistência de um amigo: “Eu pensava em seguir a carreira militar. Queria um emprego seguro, mas descobri na arte um caminho de realização”. O êxito mundial do filme – quatro indicações ao Oscar – projetou o garoto, que não parou mais. Atuou em curtas e no longa “Cafundó”, de Paulo Betti e Clóvis Bueno, e co-dirigiu o filme “Um Crime Quase Prefeito”. Na tevê, participou de “Cidade dos Homens” e “Carga Pesada”, e no teatro atuou em “Woyzeck”.

O ator também é vice-presidente da Nós do Cinema, organização que atende a 60 jovens, criada a partir da oficina de atores de “Cidade de Deus” e cujo nome se inspira no Nós do Morro, um pioneiro grupo de teatro do morro do Vidigal. “Infelizmente, a moçada está desacreditada de si, da vida. Nos cursos de cinema, eles escrevem roteiros, representam, colocam suas idéias na tela. Isso tem um poder e tanto para elevar a auto-estima”, diz Leandro, que continua circulando de ônibus pelo Rio e se mantém fiel às origens: “Só quem vive em comunidade sabe do que estou falando. A vida é dura, existe a pobreza, a violência, mas as pessoas se ajudam o tempo todo. Tem sempre um clima de festa e solidariedade no ar”. A seguir, o ator fala de sua trajetória. Onda Jovem: Como você se tornou ator? Leandro: Se eu disser que sonhava em estar na tela do cinema desde criança, é mentira. Nunca planejei seguir esse caminho. Prestei serviço militar e fiquei um ano no Exército. Quando saí, me arrependi. Pensava que devia entrar para a Aeronáutica e seguir carreira. Acho que ainda não tinha despertado de verdade para uma profissão. Queria mesmo era ter um emprego, estabilidade.

NÓS DO CINEMA ÁREA DE ATUAÇÃO COMUNIDADES POBRES DO RIO DE JANEIRO NAS OFICINAS PERMANENTES DE CINEMA. VÁRIAS CIDADES DO PAÍS E EXTERIOR NOS PROJETOS QUE ENVOLVEM EXIBIÇÃO DE FILMES E DEBATES PROPOSTA Possibilitar novas perspectivas profissionais e pessoais a jovens de baixa renda por meio do cinema e outras expressões audiovisuais JOVENS ATENDIDOS cerca de 60 jovens por ano, nas oficinas permanentes APOIO FURNAS, LUMIÈRE, GRUPO LUNDI, FIRJAN, KLABIN, MIRAMAX FILMES, DILER & ASSOCIADOS, O2 FILMES, GLOBO FILMES, URCA FILMES, VIDEOFILMES, TV ZERO, CDI CONTATO Rua Voluntários da Pátria, 53/2º andar – 20000-000 – Rio de Janeiro (RJ) – tel.: 21/2226-0668 – www.nosdocinema.org.br

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Muitos desses projetos trabalham com arte, caso do Nós do Cinema. Não há o risco de se criar uma ilusão entre os jovens de que todos se tornarão artistas profissionais? É importante tomar cuidado com isso. O Nós do Cinema, por exemplo, tem uma filosofia de trabalho bacana. Nosso objetivo não é dar um curso para o cara virar cineasta. É claro que tem gente que vai trabalhar na área, é contratada por produtoras, tevês. Mas o mais importante é melhorar a auto-estima de nossos alunos e trazer outras perspectivas. Outro dia, depois de um ano no Nós, um rapaz decidiu que queria ser professor de Geografia e foi atrás desse sonho. O trabalho com arte não precisa ser um fim em si. A arte desperta muitas possibilidades e pode estar ligada à qualquer atividade.

“O trabalho com arte não precisa ser um fim em si. A arte desperta muitas possibilidades e pode estar ligada à qualquer atividade”

Mas vida de ator nem sempre é estável... É verdade. Mas a vida militar é dura. Você é obrigado a seguir ordens, ser pontual e nem sempre eu conseguia. Um dia, o Diogo, meu vizinho e praticamente um irmão, anunciou que estava rolando um teste para atores na associação de moradores. Nada a ver, pensei. Mas ele insistiu e acabei indo. Fui escolhido para a oficina de atores do “Cidade de Deus”. As cenas eram criadas com ajuda dos preparadores de atores Gutti Fraga e Fátima Toledo. Era um mundo novo pra mim e tomei gosto.

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Você cresceu na Cidade de Deus, uma comunidade como muitas outras, onde os pais procuram manter os filhos afastados da influência do tráfico de drogas. Fazer o papel de Zé Pequeno deu a você uma visão mais clara sobre as razões que levam esses jovens ao crime? Até os 15 anos, eu não saía de casa desacompanhado. Era sempre com o pai ou a mãe. Era da escola para casa, da casa para a escola. Dessas brincadeiras de menino, só sei mesmo jogar bolinha de gude. Nunca soltei uma pipa na rua, tamanho o medo da minha família. Hoje, agradeço a meus pais por me protegerem. Numa comunidade carente há poucas perspectivas para o jovem e muitos apelos para os caminhos errados. Às vezes, os pais são alcoólatras ou dependentes químicos. Não há diversão, escola boa, trabalho. Mas acho que já está melhor do que na minha infância. Hoje, há vários projetos sociais que trazem alternativas para crianças e jovens.

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Por que a arte interfere de maneira tão positiva na vida das pessoas? A arte pode mudar radicalmente a vida de alguém. Fazendo cinema, por exemplo, a pessoa tem possibilidade de falar de si, avaliar vários assuntos por ângulos diferentes e também colocar suas idéias em prática. Quando alguém vê na tela o roteiro que escreveu, cenas que dirigiu ou nas quais atuou, é maravilhoso. Isso tem o poder de mostrar para a própria pessoa sua capacidade de realização. E para a sua vida, qual é a importância da arte? É incrível, mas o cinema e o teatro me deram mais responsabilidade que o próprio serviço militar. Quando te obrigam a fazer alguma coisa, não tem importância. Agora, quando o seu desejo está naquilo que você faz, sua responsabilidade aumenta. A arte também me fez prestar mais atenção às coisas que acontecem a meu redor, ajudou a entender melhor as pessoas e a me entender melhor com elas. Sou tímido,


Vice-presidente da ONG Nós do Cinema e já lançando seu primeiro filme como co-diretor, Leandro acredita que o ensino das técnicas de audiovisual nas escolas ajudaria no processo de aprendizagem

mas já fui muito pior. Às vezes, ficava perdido nas ruas, procurando um endereço feito maluco porque tinha vergonha de pedir informação. Pode imaginar isso?! Ser ator me obrigou a falar com as pessoas. Esse papel desempenhado por organizações em projetos sociais por meio da arte e cultura não deveria ser também da escola pública? Como foi sua experiência como aluno? Falta vontade aos governos. Uma coisa, por exemplo, que ajudaria muito nos processos de aprendizagem seria incluir aulas de técnicas de audiovisual. Eu tive sorte. Estudei no Ciep (projeto educacional de Darci Ribeiro no governo Brizola, no Rio, 1982-1986). Ficava o dia todo na escola, tinha aulas de capoeira, de interpretação. Fazia bagunça na aula da professora Marília, que jus-

tamente dava aula de interpretação. Mesmo assim, foi uma sorte pegar essa época boa. Hoje em dia, não vejo esse empenho da escola pública. O Nós do Cinema tornou-se ONG há apenas dois anos. Já deu tempo para corrigir possíveis erros de percurso? Ainda estamos aprendendo e, pelo jeito, vamos aprender sempre. No início, não estávamos chegando em quem mais precisava. Existem muitas organizações que acabam só trabalhando com jovens que têm uma boa base: estrutura familiar forte, oportunidades em outros projetos e escola. Aí é muito fácil. Hoje, temos um departamento socioeducativo preparado para chegar, durante a seleção para os cursos, na moçada em situação de risco. Já conseguimos criar perspectivas para meninos que, no passado, tiveram envolvimento com o tráfico ou passagem pela

polícia. Mas é claro que a gente não vence sempre. Antes de ser ator você tinha oportunidade de ir ao cinema, shows, teatro, exposições? Meus pais curtem muita música, especialmente samba de roda, black e soul music. Cresci ouvindo James Brown, Bezerra da Silva, Dicró. No cinema, só ia mesmo com meu pai, umas duas vezes por ano. Hoje, apesar de algumas promoções para dar acesso à população pobre, como a temporada de teatro a R$ 1,00, a cultura ainda é para a elite. No fim de semana, um ingresso de cinema custa R$ 18,00. Quem ganha pouco e tem filhos não pode gastar isso para ver um filme. “Cidade de Deus” gerou polêmica e alguns moradores declararam que o filme fazia um retrato prejudicial à comunidade. O filme teve impacto negativo ou positivo para a Cidade de Deus real? De um jeito ou de outro, o filme contribuiu para que a sociedade começasse a pensar sobre esse grande problema que é o domínio do tráfico em algumas comunidades. Contou a história da Cidade de Deus, mas podia ser a história da Rocinha, do Cantagalo e outras comunidades pobres do país. O filme foi um soco para a elite acordar e perceber que a coisa existe e está cada vez mais próxima. Com o filme, surgiram vários projetos sociais na Cidade de Deus, como a cooperativa de cinema Boca de Filme. Isso é o mais importante: fazer algo que tem um impacto positivo na vida das pessoas.

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ciência

A HORA DO NOVO

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PESQUISAS CIENTÍFICAS INDICAM QUE O CÉREBRO DO JOVEM TEM CARACTERÍSTICAS QUE O LEVAM A SER MAIS CRIATIVO, MAS O ESTÍMULO EXTERNO É ESSENCIAL PARA DESENVOLVÊ-LO

por_Karina Yamamoto ilustração_Gustavo Rates

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É um enigma que acompanha a neurociência desde seus primórdios, por volta do século 18. De onde surgem as idéias? A criatividade é um dom? Poucas são as certezas, mas, aos poucos, alguma luz começa a surgir no fim do túnel. Uma das lâmpadas que se acenderam clareia a base biológica dessa característica humana: num estudo recente, surgiram alguns esboços de como funciona o cérebro de pessoas inovadoras. Associadas a outras pesquisas sobre o comportamento cerebral e sobre a importância dos fatores externos no desenvolvimento humano, essas informações vão traçando um caminho que permite afirmar que a juventude tem, sim, uma relação direta com a criatividade e é, portanto, uma época da vida em que o tema merece toda atenção. A psicóloga americana Shelly Carson e seus colegas Jordan Peterson e Kathleen Smith descobriram que pessoas criativas tendem a apresentar índices mais altos de dopamina - um neurotransmissor geralmente associado à sensação de prazer. Algumas evidências indicam que essa substância, ao atuar na região entre os hemisférios cerebrais (mesolímbica), estimularia a percepção, deixando a pessoa mais sensível ao novo e a novas formas de ver o mundo. Em outras palavras, quer dizer que uma quantidade mais generosa de in-

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formação fica acessível no nível da consciência. Dotados de mais material, esses indivíduos encontram mais e novas soluções para os problemas que se apresentam. Por outro lado, já se sabe também que o cérebro humano se organiza para descartar as informações irrelevantes – e não para guardar aquelas que nos são caras e importantes. Essa característica se chama inibição latente. Ela nos impede de desperdiçar nossa capacidade de atenção com o que não é útil. Por isso o ser humano tende a categorizar todas as informações que absorve. Uma vez que classificamos certo estímulo – de qualquer natureza – como não-importante para a nossa sobrevivência, ele deixa de chamar nossa atenção. É um efeito que se prolonga: é mais difícil voltar a prestar atenção naquele mesmo dado numa outra ocasião. “Nós poderíamos nos tornar confusos se tivéssemos de gas-

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A CRIATIVIDADE SE RELACIONA COM A QUANTIDADE DE INFORMAÇÕES DISPONÍVEIS. O PROCESSO NATURAL DO CÉREBRO DE DESCARTAR CONTEÚDOS É MAIS INTENSO NO ADULTO DO QUE NO JOVEM, QUE TAMBÉM POR ISSO PARECE LIDAR MELHOR COM NOVIDADES E MUDANÇAS tar nosso tempo em tudo que nossos olhos vêem e nossos ouvidos escutam”, diz Carson. E mais: estudos sugerem que a inibição latente aumenta com a idade. O que indicaria que a mente mais jovem está mais propensa a manter uma maior quantidade de informação disponível no nível consciente. Isso talvez explique por que os jovens parecem ser mais dispostos a absorver novidades e lidar com mudanças. Outro esforço dos cientistas tem sido dissecar a anatomia do pensamento criativo. Nessa direção, foi importante a descoberta do americano Roger Sperry, que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Medicina em 1981. Ele descobriu que os hemisférios do cérebro dividem tarefas entre si. Os aspectos da comunicação ficam por conta do lado esquerdo enquanto o lado oposto é responsável pelo material não-verbal, além de noções de espaço e posição do próprio corpo. Com base nessa teoria, conhecida entre fisiologistas como “split brain” (ou “divisão cerebral”), outros estudos seguiram além. Descobriu-se que o hemisfério esquerdo trabalha de maneira lógica, analítica, racional e se volta para os detalhes. Já o lado direito é mais intuitivo e concatena as idéias – ali se processam as articulações de pensamentos. O hemisfério esquerdo processa as cores de um quadro, as letras impressas num livro, os sons que chegam aos ouvidos. Mas é o lado direito que confere sentido a tudo aquilo – é a residência da curiosidade, do prazer de experimentar, da coragem de correr riscos, da flexibilidade intelectual, do pensamento metafórico e do senso artístico. Cenário propício Em termos biológicos, todos nós nascemos prontos para produzir grandes idéias. No entanto, nossa traje-

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tória criativa é influenciada por uma porção de outros fatores. As palavraschave são: motivação – que depende dos interesses individuais; habilidade – que pode ser adquirida com treino; e ambiente estimulante. No último item entramos no território dos educadores. É importante que o adolescente e o jovem encontrem espaços favoráveis para exercitar sua capacidade de criar. “O papel dos pais e professores é promover a independência e a autoconfiança, respeitando a forma de pensar da criança ou jovem”, diz a psicóloga Eunice Soriano de Alencar, da Universidade Católica de Brasília, autora do livro “Criatividades Múltiplas”. Os trabalhos da psicóloga americana Ellen Winner, professora do Boston College, nos Estados Unidos, endossam o argumento. Ela faz parte do Projeto Zero – um grupo de pesquisa que busca compreender o processo de aprendizado, elaboração e criatividade no ensino das artes e das ciências. Winner defende uma forte presença das artes visuais como fonte de estímulo para o desenvolvimento do hemisfério criativo do cérebro. “Se o ensino for levado a sério, percebemos que nossos alunos aprendem a enxergar, gerar imagens mentais, correr riscos e a pensar”, diz a pesquisadora. Essa estratégia, além de adubar as idéias, ainda oferece novas possibilidades de leitura de mundo – e aí não importa a idade do indivíduo. Para a diretora do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), Elza Ajzenberg, os museus deveriam fazer parte do nosso cotidiano. E nem sempre é preciso se preparar para o encontro com trabalhos de grandes artistas. O im-

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portante é desarmar o espírito, sabendo que, quando se trata da expressão humana, sempre há várias interpretações possíveis. Quanto mais obras lhe forem familiares, mais repertório o observador vai adquirir e, assim, melhor será seu relacionamento com as obras e mais sensibilizado ele ficará em relação à manifestação artística. E isso vale para todas elas: a música, o teatro, o cinema, a literatura etc. Para facilitar a construção desse caminho, a equipe do MAC-USP está implantando um projeto de arte-educação que pretende ajudar a contextualizar as obras, os Roteiros de Visitas. Essa preocupação didática das instituições de arte, aliás, vem crescendo no Brasil, e já há várias iniciativas relevantes, principalmente nas grandes cidades. É importante percorrer esse tipo de trilha facilitadora, pois o conhecimento da arte se assemelha à nossa apropriação de linguagem. Quanto mais vocabulário nós tivermos, mais ricos ficam a compreensão e os textos que produzimos. Freqüentador de museus, o publicitário brasiliense Eduardo Vieira, de 23 anos, é conhecido por levar cada idéia às últimas possibilidades. “Leio até bula de remédio, estou sempre atrás de mais informação”, diz. Ele mesmo não se acha especialmente inventivo – a opinião é dos colegas de trabalho. Arte de viver Adquirir repertório e se abrir ao novo não é útil apenas para nosso enriquecimento cultural. Também valem para viver melhor. “Precisamos ter capacidade de nos adaptar à realidade”, diz o psicoterapeuta Rubens de Aguiar Maciel, pesquisador da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Uma pessoa mais flexível tende a adquirir novos padrões de

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comportamentos, a encontrar novas saídas para os velhos problemas. Mais uma vez, o papel dos adultos que convivem com o adolescente e o jovem é essencial. Essa é uma fase em que rapazes e moças estão se opondo aos modelos que conhecem e buscando novas formas de viver e entender o mundo. “É importante que os adultos consigam ser o saco de pancadas e o porto seguro ao mesmo tempo”, diz Maciel. Compreensão e disposição para o diálogo são essenciais. O músico paulistano Sidney Lissoni vive isso na pele todos os dias. Ele é professor de Educação Artística e Música na rede estadual de ensino. “Tenho de me colocar no lugar dos alunos para conseguir me comunicar”, diz. Foi assim, buscando facilitar a comunicação com seus alunos, que o educador se propôs uma tarefa complicada: ensinar um jeito simples de ler partituras. Detalhe: para crianças cegas. Abusando da sua criatividade, ele criou o que registrou como Escrita Musical Lissoni, método utilizado também com seus alunos sem necessidades especiais. “Tudo que serve para o portador de deficiência visual, também serve para o vidente”, diz. Além de músico, Lissoni foi radialista, estuda neurolingüística e é técnico de precisão. Como explicar tanta curiosidade? “Sempre fui muito estimulado pelos meus pais”, conta. Para Eunice Alencar, “a criatividade é uma habilidade de sobrevivência para este milênio”. Por isso, vale mesmo a pena investir nela, cultivando valores como flexibilidade, persistência, autoconfiança e abertura a novas experiências. “É um recurso precioso que precisa ser mais bem aproveitado, especialmente nesse momento da história humana, marcado por instabilidades, incertezas e fortes pressões competitivas.” Época, enfim, de grandes mudanças.

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hip hop

A VOZ DAS RUAS O B.Boy Igor, da equipe Street Son, faz um “Top Rock” no evento Master Crews: momento de estrelato

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por_Yuri Vasconcelos foto_Penna Prearo

A juventude tem muitas vozes e quer que elas sejam ouvidas. Uma dessas vozes, cada vez mais articulada, é a do hip hop, um movimento sociocultural com forte sentimento libertário e que reúne várias manifestações artísticas. Criado nos anos 70 por jovens negros e hispânicos dos bairros pobres de Nova York, de lá se espalhou pelo mundo. O termo foi cunhado pelo DJ Afrika Bambaataa, fundador da organização Zulu Nation, e é uma referência ao movimento de quadris dos participantes das festas e dos encontros musicais – “hip”, em inglês, quer dizer balançar e “hop”, quadris. No Brasil, ele chegou no fim da década de 80, por obra da indústria fonográfica, e não parou de crescer. Se no início, em solo norte-americano, esteve envolvido algumas vezes com episódios de violência, hoje está presente, com as cores locais, em quase todo o país, firmando-se como uma legítima alternativa de expressão, especialmente para os jovens das periferias, privados de ofertas culturais e perspectivas profissionais. “O hip hop é uma cultura de rua que dá voz à juventude que vive em guetos e favelas, à margem da sociedade”, diz Wilson Roberto Levy, vice-coordenador da organização não-governamental Zulu Nation Brasil. Sua popularidade se deve ao fato de o hip hop, cujas raízes remontam ao movimento ”black power” (poder negro), ser altamente organizado e estar arraigado nas experiências do dia-a-dia desses jovens. É um movimento de auto-afirmação, marcado pela crítica à exclusão social e à desigualdade racial. “Ao entrar para o movimento hip hop, os jovens passam a ver o mundo de forma diferente. Para nós, é preciso nos afastarmos das coisas negativas, como drogas, crimes e violência. Isso só traz destruição para o nosso povo”, diz Levy, de 52 anos, que também atua na Casa do Hip Hop, mantida pela Prefeitura de Diadema, na Grande São Paulo. A instituição é uma referência nacional e internacional no universo hip hop. Elementos e posses O movimento hip hop, cujas expressões artísticas mais conhecidas são o rap (iniciais de ritmo e poesia, em inglês) e o break (a dança quebrada), se apóia em quatro alicerces, também chamados de elementos: o DJ, que traz a música para dançar; o B.Boy (ou dançarino); o MC, mestre de cerimônia, que dialoga com os que dançam; e o grafiteiro, que expressa a ideologia do hip hop por meio das artes plásticas. “Esses quatro elementos apontam para a mesma direção. O hip hop quer que o jovem marginalizado tenha consciência da sua situação e busque a libertação dessa opressão”, diz a ativista e rapper Áurea DejaVu, de 21 anos, integrante do Coletivo Hip Hop Chama, de Belo Horizonte.

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NASCIDA NOS ESTADOS UNIDOS, A CULTURA HIP HOP GANHOU TONS LOCAIS E VEM SE TORNANDO UM DOS PRINCIPAIS MEIOS DE EXPRESSÃO DA JUVENTUDE BRASILEIRA Os grupos do hip hop, também conhecidos como posses, não param de crescer. Alguns deles são tão organizados que até já viraram ONGs, como a própria Zulu, o Movimento Hip Hop Organizado do Brasil, conhecido pela sigla MH2O, e a Central Única das Favelas (Cufa), entidades que trabalham em prol da valorização dessa cultura. Com sua capacidade de gerar identificação e sensibilizar seus adeptos, essa cultura é também uma importante ferramenta de arte e educação. A Casa do Hip Hop, por exemplo, trabalha unindo cultura e cidadania. Inaugurada em julho de 1999, a instituição atende mensalmente cerca de 400 jovens, que buscam formação cultural e querem conhecer a fundo a cultura hip hop. Para isso, são promovidas oficinas de três a seis meses de duração, que usam a difusão da linguagem dos quatro elementos. Além do viés cultural, as oficinas estimulam a descoberta de valores como a cidadania. Como diz o dançarino de break Marcelinho Back Spin, professor da instituição, “o hip hop faz sentido somente se ele consegue agregar outras coisas importantes, como a noção de respeito, cidadania, reflexão e educação”. No Rio de Janeiro, uma das instituições mais ativas no universo hip hop é a Central Única de Favelas (Cufa), uma ONG que procura difundir, por meio da linguagem própria desta cultura, a conscientização dos moradores das comunidades carentes, elevando sua auto-estima. Presente em diversos morros e favelas cariocas (Acari, Jacaré e Cidade de Deus, entre outras), a Cufa promove atividades nas áreas da educação, cidadania e desenvolvimento humano. Seus cursos capacitam os jovens para atuar como DJs, grafiteiros, operadores de áudio, cantores e dançarinos.

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Ao lado, as garotas do B.Girls, no Brasileiro Individual de B.Girls, em Sorocaba e o MC Gallo, de A Trupe, em encontro de MC‘S na Casa do Hip Hop de Diadema (SP): uma cultura com o poder de agregar os jovens

Em parceria com a Produtora Hutúz, a Cufa promove anualmente um importante encontro dos vários segmentos da cultura hip hop. O Festival Hutúz, como é chamado, é uma grande festa que abrange diversas formas de expressão artística do movimento e outros elementos, como o basquete de rua e a batalha musical de DJs. Criado em 2000, o Hutúz inclui festival de rap, mostra de cinema, debates e desfile de moda, e condecora os melhores artistas de hip hop do país em diversas categorias, desde Álbum do Ano até Destaque na Área Social. Neste ano, o Hutúz está marcado para o fim de novembro, no Rio de Janeiro.

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Cultura empreendedora Além de ser uma forma de expressão artística socialmente engajada, a cultura hip hop tem outras facetas. Ela também pode servir de apoio ao empreendedorismo e à geração de emprego e renda, ou como prefere dizer o rapper cearense Poeta Urbano, do MH2O do Brasil, “ser um instrumento de geração de oportunidades de sobrevivência”. A organização, um dos maiores grupos de hip hop do Brasil, com sede no Ceará e 6 mil membros em todo o país, criou o projeto Mercado Alternativo, que tem como finalidade gerar renda para os integrantes do movimento.

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CENTRAL ÚNICA DAS FAVELAS (CUFA) ÁREA DE ATUAÇÃO RIO DE JANEIRO. PROPOSTA Elevar a auto-estima e conscientizar moradores de comunidades carentes por meio de atividades que usam como forma de expressão o hip hop NÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS 800 APOIO UNESCO, GOVERNO FEDERAL, PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, REDE GLOBO, INSTITUTO LUCIANO HUCK, PETROBRAS, ELETROBRÁS, CONSULADO AMERICANO, CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL, MTV, FUNDAÇÃO FORD, RITS E MINISTÉRIO DOS ESPORTES CONTATO Rua Carvalho de Sousa, 137, Bloco 4, sala 111 – Madureira – Rio de Janeiro (RJ) – tels.: 21/2458-8035 e 21/3015-7113 – e-mail: flaviacaetano.madureira.rio@cufa.org.br

CASA DO HIP HOP DE DIADEMA ÁREA DE ATUAÇÃO DIADEMA (SP). PROPOSTA Promover formação cultural e de conhecimento da cultura hip hop e despertar na juventude valores como cidadania, respeito e auto-estima NÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS 400 por mês APOIO PREFEITURA MUNICIPAL DE DIADEMA CONTATO Rua 24 de Maio, 38 – Jardim Canhema – Diadema (SP) – Tel.: 11/4075-3792

MOVIMENTO H2O DO BRASIL ÁREA DE ATUAÇÃO CEARÁ, BAHIA, RIO GRANDE DO NORTE, PARANÁ, DISTRITO FEDERAL, SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO PROPOSTA Utilizar os elementos do hip hop para gerar inclusão socioeconômica de jovens e pressionar o Estado para criar políticas públicas de apoio a esse público NÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS 1.200 APOIO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, MINISTÉRIO DA CULTURA E ASHOKA EMPREENDEDORES SOCIAIS CONTATO Avenida B, 740, 2ª. Etapa, Conjunto Ceará – Fortaleza (CE) – Tel.: 85/3489-3410 – mh2odobrasil@terra.com.br

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PARA SEUS ADMIRADORES, A ARTE PRODUZIDA NO HIP HOP TEM UM SENTIDO SOCIAL E UM PODER TRANSFORMADOR

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Com apoio do Programa Primeiro Emprego, do Ministério do Trabalho, o MH2O lançou uma incubadora nacional de empresas de hip hop em três estados (São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná) e no Distrito Federal. “Aprendemos na prática uma lição perversa: num país capitalista como o nosso, é impossível falar de inclusão social sem falar de inclusão econômica”, diz Poeta, que tem 28 anos. “Por isso, decidimos criar o Mercado Alternativo, um projeto cujo modelo econômico inclui a propriedade coletiva, a auto-gestão e a fabricação de produtos socialmente responsáveis.” Em cada uma das regiões escolhidas, o MH2O está incubando seis empresas: uma produtora de vídeo, um estúdio de gravação e distribuidora fonográfica, um centro de produção e estilo, com três ateliês integrados (serigrafia, aerografia e grafite, ateliê de bijuteria e adereço e de design à base de grafite), uma produtora de eventos, uma empresa de confecção e uma loja padronizada para escoar a produção. “Em breve, as 24 empresas, de propriedade coletiva, serão unidas em rede. Estamos confiantes no projeto, mas ainda temos muitas dificuldades para lidar com questões econômicas, técnicas e de gestão”, diz o rapper cearense.

Abaixo, o DJ King, no encontro Hip Hop de Rua, no bairro de Vila Madalena, na zona oeste de São Paulo: a arte cria canais de comunicação entre a periferia e o centro

É por tudo isso que, para a rapper mineira Áurea DeJavu, “a arte produzida no hip hop tem um sentido social e um poder transformador. Ela dá uma nova perspectiva aos jovens que vivem em condições marginalizadas”. Para o cearense, trata-se da melhor expressão cultural da juventude nos últimos anos. “É um marco histórico na cultura mundial”, diz o Poeta Urbano.

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artesanato

FOTOS: MARCELO GUARNIERI / ARTESANATO SOLIDÁRIO

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Porrão de Irará (BA) e, na página oposta, pote de Água Branca (AL): a valorização do artesanato requer educação do consumidor

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A IDÉIA DO ARTESANATO COMO BEM CULTURAL PODE DESENCADEAR A REFLEXÃO SOBRE O PAPEL DA CULTURA TAMBÉM NAS ESFERAS ECONÔMICA E POLÍTICA

Convidada a escrever sobre essa conexão tão inspiradora e sempre discutida, que é a da arte, cultura e cidadania, considerei apropriado e atual incitar a reflexão, não sobre arte num sentido geral, mas sobre artesanato e sua possibilidade de fomentar toda a riqueza de identidades culturais Brasil afora e seu potencial como gerador de renda para artesãos pobres do país. A experiência do Artesanato Solidário – programa social criado em 1998 no âmbito da Comunidade Solidária e desde 2002 uma organização da sociedade civil, sempre com o objetivo de geração de trabalho e renda por meio da revitalização do artesanato de tradição – leva-nos a discutir cotidianamente, nas esferas interna e pública, a necessidade de co-relacionar artesanato, desenvolvimento local e cultura. Não é de hoje a constatação de que a produção do artesanato de tradição é indissociável de seu contexto cultural, tampouco é assunto para círculos restritos ou especializados. A idéia do artesanato como bem cultural pode desencadear a reflexão sobre o papel da cultura nas esferas econômica e política, por exemplo. Pensando assim, podemos destacar três aspectos da relação entre artesanato e cultura:

texto _ Ruth Cardoso

Ruth Cardoso é doutora em Antropologia, professora da Universidade de São Paulo, fundadora e presidente da organização não-governamental Comunitas, que coordena programas como Alfabetização Solidária, Capacitação Solidária e Artesanato Solidário

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Cultura como modo de vida Este primeiro aspecto tem forte conteúdo antropológico: o artesanato de tradição faz parte do modo de vida das pessoas que o produzem, e se organiza a partir de relações de gênero, com base em valores e conhecimentos sobre a manutenção da vida, de regras que norteiam comportamentos na esfera pública e privada etc. Ele se orienta por padrões estéticos próprios e é transmitido espontaneamente, de geração a geração. A existência desse artesanato – em suas diversas técnicas e matérias-primas – e o seu reconhecimento como expressão da cultura são o ponto de partida de projetos voltados para o resgate das formas tradicionais de sua expressão e para a sua revitalização como um patrimônio comum daquela comunidade. Para resgatar e revitalizar de forma compartilhada o saber-fazer artesanal, promovem-se alguns diálogos, ou trocas. Duas são fundamentais: a primeira é a que se realiza entre os próprios artesãos, por meio de uma série planejada de oficinas com o objetivo de incentivar a transmissão do saber-fazer dos mestres aos mais jovens; desenvolver a organização do trabalho; estimular a formação de associações ou cooperativas; e incentivar formas de liderança e de gestão associativa. A segunda troca acontece entre os artesãos e seus produtos, por meio de oficinas de aprimoramento do produto e de formação de preço.

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É claro que não se defende, em nome da manutenção das tradições, a preservação de condições de vida injustas. Trabalha-se, isto sim, para que os artesãos melhorem suas vidas, superem suas carências materiais, aumentem suas rendas com a venda de produtos. Ações que promovem o desenvolvimento da autoestima dos artesãos e que fortalecem seus sentimentos de pertença a um grupo ou a uma comunidade certamente estão alinhadas com a tão desgastada, mas nem sempre entendida, relação entre artesanato e identidade cultural. Cultura para consumo O segundo aspecto a se considerar refere-se à relação do artesanato com o mercado consumidor. Como o objetivo é gerar trabalho e renda, é fundamental que os produtos de artesanato cheguem ao mercado – e com qualidade e preços que garantam a sustentabilidade do negócio. Mas para chegar lá o produto não pode perder sua história, aquilo que o torna distinto, único. Na relação do artesanato e cultura para consumo, é fundamental sensibilizar o mercado para os produtos culturais. Comumente se diz que o artesanato deve-se adequar ao mercado (e pergunto: que mercado? Quais mercados?). Não seria o caso pensar quase inversamente, ou seja, adequar o mercado ao artesanato? Assim, torna-se possível ampliar os usos do produto do artesanato, que variam em razão de sua trajetória como mercadoria nos diferentes segmentos consumidores da sociedade. Um pote feito originalmente para armazenar água na cozinha conquista o hall de entrada, a sala de estar ou a biblioteca da família, agora como objeto decorativo. Acredito que quando falamos de expansão do mercado, cultura e consumo, temos que vislumbrar a possibilidade de um pote vir a ocupar o lugar de destaque nas prateleiras das lojas ou o canto em nossa casa que mais o ressaltar. Orgulho de nossas raízes, de nossos artesãos, de nossa brasilidade. Cultura como recurso Terceiro aspecto: cultura como recurso, isto é, o artesanato de tradição como patrimônio da coletividade, para afirmação e construção de identidade. Trata-se de uma idéia que vem sendo aplicada (e muito disseminada) para a melhoria social e econômica, ou seja, para que a cultura aumente sua participação em nossa era de envolvimento político decadente e de conflitos na esfera da cidadania. Vários pensadores da cultura hoje (Young, Rifkin, Iúdice) vêm chamando atenção para isso.

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O ESTÍMULO À AUTO-ESTIMA DOS ARTESÃOS E SUA COMUNIDADE ESTÁ ALINHADO COM A TÃO DESGASTADA, MAS NEM SEMPRE ENTENDIDA, RELAÇÃO ENTRE ARTESANATO E IDENTIDADE CULTURAL

Por sua vez, agências multilaterais como o Banco Mundial, União Européia, Banco Interamericano de Desenvolvimento, também têm incluído a cultura como catalisadora do desenvolvimento humano. Como transformar esse patrimônio – conceito que vem se alargando, se expandindo, desde Mário de Andrade, passando por Aloísio Magalhães – em desenvolvimento social? Como traduzir, se estivermos de acordo, essas orientações gerais para nossos projetos locais de desenvolvimento, cujo ponto de partida é o artesanato de tradição? Ao promover e estimular trocas ou diálogos entre os artesãos, o que se busca oferecer são condições para que o artesanato, expressão da cultura da comunidade, se torne um ativo para o fortalecimento da identidade do grupo e para o surgimento de novos atores coletivos, de novas formas de participação. Só precisamos torná-lo menos árduo e menos excludente para os artesãos brasileiros. Por fim, a confirmação de que estamos no caminho certo, nas palavras passadas, presentes e futuras de Aloísio Magalhães: “A política paternalista de dizer que o artesanato deve permanecer como tal é uma política errada; culturalmente é impositiva porque somos nós, de um nível cultural, que apreciamos aquele objeto pelas suas características, gostaríamos que ele ficasse ali. Então, é uma coisa insuportável, errada e de certo modo totalitária, você impor a uma coletividade, a um grupo, que permaneça naquele ponto. O remédio, a coisa que se oferece, é a idéia de que ele repita mais. Que passe a ter mais benefício através da repetição reiterada e monótona daquele momento da trajetória. E isso é inadequado porque você corta o fio da trajetória, o fio da invenção, da evolução da invenção, para que ele permaneça parado no tempo. O caminho, a meu ver, não é esse; o caminho é identificar isso, ver o nível de complexidade em que está, qual é o desenho do próximo passo e dar o estímulo para que ele dê esse passo”.

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Acima, maracas e cuias decoradas de Santarém (PA), e baú de couro de Juazeiro do Norte (CE); na página oposta, troncos coloridos de Juazeiro do Norte: artesanato de tradição é patrimônio da coletividade

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O PODER DE MULTIPLICAR por_Daniela Rocha ilustração_Grupo Dragão da Gravura

Colagem de obras dos quatro integrantes do Grupo Dragão da Gravura

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As políticas culturais voltadas para a juventude estão mudando seu foco. Em vez de buscar estimular um artista ou a realização de uma obra, elas estão priorizando o número de pessoas envolvidas, numa perspectiva coletiva, e buscando resultados amplos junto às parcelas da sociedade com pouco acesso a bens culturais. Há uma crescente percepção das atividades do setor como estratégicas em relação à juventude , tanto por seu apelo mobilizador como pelo seu potencial econômico. Mas, segundo especialistas, ainda há um longo caminho a percorrer em relação à qualificação e profissionalização na área. No âmbito do governo federal, o atual carro-chefe no setor é o programa Cultura Viva, lançado pelo Ministério da Cultura (MinC) no ano passado. A idéia é fortalecer ações culturais já existentes em comunidades populares, quilombolas e indígenas, que visem a promoção da inclusão social e cidadania, da formação para o trabalho e do princípio da economia solidária. “A cultura passa a ser um elemento agregador, em conjunto com a assistência social e a educação. A profissionalização dessas ações gera inclusão por meio da cultura”, diz o assessor da secretaria executiva do MinC, Alfredo Manevy, de 28 anos.

A TENDÊNCIA DAS POLÍTICAS CULTURAIS PARA A JUVENTUDE É INVESTIR NAS INICIATIVAS COMUNITÁRIAS, VINCULADAS À GERAÇÃO DE RENDA E À INCLUSÃO DIGITAL Ele é o representante do ministério junto ao Conselho Nacional de Juventude, formado em agosto deste ano. “A juventude é um segmento estratégico, que tem duas dimensões: a de risco, que exige ações para evitar que jovens se envolvam com o tráfico de drogas, por exemplo; e a de ação, que busca construir políticas em que a juventude seja protagonista em sua capacidade de reciclagem de valores”, diz. O Conselho, no entanto, ainda está elaborando uma política para a juventude em todos os setores, inclusive o cultural. Mas a tendência, segundo Manevy, é manter a linha do fortalecimento de ações preexistentes. “A cultura precisa ser entendida como fundamental agente de desenvolvimento, com impacto direto e indireto na economia do país, sobretudo se pensarmos nas possibilidades que ela abre na geração de emprego para os jovens”, diz. Segundo Célio Turino, secretário de Programas e Projetos Culturais do Ministério da Cultura, o Cultura Viva – que neste ano recebe R$ 31 milhões – tem como objetivo de fundo restabelecer o vínculo do jovem com a comunidade e sedimentar uma rede de Pontos de Cultura, locais onde são desenvolvidos diversos projetos e

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que já somam 250 em todo o país. Um desses projetos é o Agente Cultura Viva, convênio com o Ministério do Trabalho e Emprego que fornece 50 bolsas de 150,00 reais mensais durante seis meses para capacitação de jovens em áreas como grafite, hip hop, desenho animado etc. Outra iniciativa é a Cultura Digital, convênio com o Ministério das Comunicações que viabiliza a conexão à internet nos Pontos e a distribuição de um kit multimídia, com dois computadores, câmera de vídeo, ilha de edição e estúdio básico, para produções audiovisuais. Para participar do programa, as instituições, com no mínimo dois anos de atuação, se candidatam junto ao ministério. Um exemplo de Ponto de Cultura é o Centro de Referência Hip Hop, na periferia de Teresina (PI), onde os jovens ganharam computadores do Banco do Brasil, que estavam ociosos, e montaram três telecentros em uma escola abandonada. O espaço é aberto à comunidade, com oficinas de hip hop, música, serigrafia e grafite. Mais de 30 jovens, entre 16 e 28 anos, são “oficineiros”, e uma cooperativa presta serviços de serigrafia e grafite. “Temos biblioteca, sala de leitura e fazemos reforço escolar para crianças, com oficinas para contar histórias”, diz Gil BV, 25 anos, gestor do projeto. Abrindo portões Outro exemplo de política cultural multiplicadora é o do Centro de Cultura da Universidade Federal de Minas Gerais. Muito antes de ser um

A PERCEPÇÃO DE QUE O SETOR CULTURAL É ESTRATÉGICO NAS POLÍTICAS Ponto de Cultura, o espaço de participação social na área de cultura já existia e foi uma ação inédita a abertura dos portões da universidade para a comunidade. Criado há 15 anos como centro de exposições, hoje é um pólo gerador, com uma série de projetos em parceria com prefeituras, governo federal e entidades da sociedade civil. O objetivo é atuar na democratização do conhecimento, na ampliação do acesso aos meios de produção cultural e na formação de um público produtor e multiplicador de cultura. A ação levou para dentro do campus grupos culturais da Grande Belo Horizonte, e lançou-se para fora, capacitando professores da rede pública urbana e de aldeias indígenas. Criouse um Centro de Convergência de Novas Mídias, que coordena a Rede.Lê – Rede de Inclusão e Letramento Digital, com 18 telecentros no estado. “Trata-se de uma experiência de produção conjunta, com professores da UFMG na coordenação de trabalhos que reúnem estudantes de graduação e pós-graduação e alunos do ensino médio e professores de escolas da periferia”, diz a diretora do Centro, a historiadora Regina Helena Alves da Silva. Ali, são realizados encontros para fomentar a geração de políticas públicas para a juventude, incluindo questões como o trabalho e a geração de renda, e a ação dos agentes culturais em seus bairros. “O papel da universidade é gerar conhecimento. O Centro Cultural concentra um grande grupo multidisciplinar que abre espaço para a produção coletiva de professores e alunos e para a pesquisa, por exem-

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plo, para entender redes sociais e culturais urbanas”, diz a diretora. A instituição atinge todos os públicos, mas a professora Regina Helena estima que cerca de 25 mil jovens estejam envolvidos nas atividades do centro. Cultura e gestão O analista da Célula de Negócios em Turismo, Artesanato e Cultura do Sebrae de São Paulo, Arlindo de Lima Júnior, concorda que a área cultural pode ser estratégica como campo de ação de um público jovem, mas lembra que, do ponto de vista do mercado, o pré-requisito para o sucesso é ter qualificação. Para isso é preciso uma postura de empreendedor. No entanto, a idéia da cultura como negócio ainda não está sedimentada no Brasil. “O conceito de cultura como geradora de emprego e renda não é abordado com seriedade e como prioridade nem pelo governo, nem por empresários que poderiam se tornar parceiros e patrocinadores e se beneficiar da cultura e ações culturais como valor agregado a sua empresa ou produto”, diz o analista. O Sebrae propõe o empreendedorismo cultural, um modelo próprio de gestão e de organização no setor, que inclui, por exemplo, o trabalho em parcerias estratégicas em vez de ações isoladas. Mesmo assim, segundo Lima Júnior, ainda são poucos os que conhecem e valorizam essa postura na área cultural. “Uma das maiores dificuldades é

PÚBLICAS JUVENIS ESTÁ CRESCENDO, MAS AINDA HÁ MUITO QUE AVANÇAR levar agentes e produtores culturais a perceber a necessidade de buscar maior profissionalização.” Para ele, enquanto os profissionais da área não entenderem a necessidade de uma maior capacitação e a importância de se estudar o perfil das possíveis empresas patrocinadoras antes de enviar seus projetos, a obtenção de apoios tende a ser lenta. “Além disso, é preciso se apresentar ao mercado com trabalhos de qualidade e excelência”, diz. Na área de educação, o Sebrae oferece cursos rápidos, como Investimento em Cultura (16 horas de duração) e Mercado Cultural (20 horas de duração). Além disso, apóia algumas iniciativas de fomentação cultural, voltadas inclusive ao público juvenil, como a Associação Brasileira de Música Independente, a Rede de Agentes Culturais (RAC) e a LIBRE (Associação Brasileira de Editoras). A de maior destaque é a RAC, hoje organizada na Associação Paulista de Empreendedores Culturais (APEC). “É um movimento livre, que promove assembléias mensais, com objetivo de fortalecer as redes de contato que possam auxiliar os agentes a viabilizar seus projetos.” Os agentes cadastrados são 2.400. A intenção é reunir uma gama de profissionais que já estão no mercado, que estão entrando ou que querem ampliar contatos para trocar experiências e gerar oportunidades, explica Lima Júnior. “Essa é nossa estratégia: ações coletivas com foco no desenvolvimento de projetos.”

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chat de revista

QUATRO JOVENS CONVERSAM SOBRE OS REFLEXOS DAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS EM SUAS VIDAS

A ARTE NOSSA DE CADA DIA ANA LUCIA DA SILVA CAMPOS, 16 Estudante da 8ª série, curte hip hop e faz artes circenses em Goiânia (GO)

THALLES DE AGUIAR, 20 Carioca, estuda Física na Universidade Federal do Rio de Janeiro e é baterista

DAYANA SILVA GOMES, 20

FAGNER MONTEIRO, 18 Paulista de Ribeirão Pires, é ator e músico dedicado ao resgate da cultura popular

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GYANCARLO BRAGA

É atriz, formada pela Escola de Artes Cênicas do Maranhão

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FRANCISCO CAMPOS

ANDERSON DE OLIVEIRA DA SILVA /IMAGEM DO POVO

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PAULO GONÇALVES DA SILVA

O contato com a arte e as manifestações culturais pode se limitar ao entretenimento e lazer ou ir além: servir como instrumento de expressão social e construção da identidade, ajudar a promover inclusão social, denunciar uma realidade, resgatar uma tradição, sensibilizar para um aprendizado, e pode até se transformar em profissão. Na sala de bate-papo de Onda Jovem, nesta edição, quatro jovens trocaram idéias sobre essas questões: Raimundo Fagner Monteiro Martins, 18 anos, paulista de Ribeirão Pires, ator e músico dedicado ao resgate da cultura popular e participante da Arca, uma associação de artistas; Ana Lucia da Silva Campos, 16 anos, de Goiânia (GO), estudante da 8ª série, apreciadora de hip hop e entusiasta das artes circenses como participante do projeto Arte, Circo e Cidadania na Escola de Circo Lahetô; Dayana Roberta Silva Gomes, de São Luiz, recém-formada na Escola de Artes Cênicas do Maranhão e integrante da Rede Sou de Atitude, o núcleo jovem da ONG Agência de Notícias da Infância Matraca; e o carioca Thalles Carvalho Giangiarulo Rocha de Aguiar, 20 anos, que cursa Física na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), estuda alemão, pratica aikido (uma arte marcial), toca bateria e gosta de todo tipo de música, menos pagode. Onda Jovem propôs as perguntas iniciais e depois os jovens fizeram as suas. A seguir, nosso “chat de revista”.

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Onda Jovem: O que é arte para você? THALLES: Acho que arte é uma forma de transmitir a outras pessoas o que sentimos e como vemos a realidade em que vivemos. Além disso, a arte pode ser um meio de inclusão social e também de extravasar sentimentos represados. FAGNER: Arte é botar para fora aquilo que sentimos por meio de formas, movimentos e sons. DAIANA: É a arte de transformar pequenas coisas em grandes formas de expressão. Acho que essa arte de fazer a arte vai além dos limites humanos. DAIANA

ANA LUCIA: Para mim, arte é aquilo que dá liberdade ao ser humano de ir além do pensamento. A arte tem a capacidade de oferecer lazer e interação e dessa forma envolver todas as classes sociais.

Qual é o contato que você tem com a arte no seu dia-a-dia e como ela afeta sua vida? DAIANA: Participo constantemente de seminários e oficinas de várias manifestações culturais. Faço dança contemporânea e adoro estar num palco. Também gosto de ler e de ver comédias, suspenses e dramas no cinema. Esses contatos com a arte me ajudam a desenvolver habilidades, demonstrar sentimentos, usar minha criatividade e ter sempre um novo olhar para as situações do dia-a-dia.

THALLES

FAGNER: Meu contato com a arte é por meio do cinema, do teatro, da música e da dança, mas tenho um interesse mais aprofundado no resgate da cultura popular. Nessa área, desenvolvo um trabalho de pesquisa com um grupo chamado Toadas a Trovadas. ANA LUCIA: Antes eu tinha contato apenas com hip hop, Quadrilha e Folia de Reis, mas agora estou ganhando conhecimentos em artes circenses e também participo de um espetáculo chamado “Nascimento do Mundo”. Tudo isso amplia minha visão de mundo, um modo diferente de ver e avaliar situações.

“A arte amplia a minha visão de mundo” ANA LÚCIA CAMPOS Sem arte, como seria o mundo para você? THALLES: Acho que seria um tanto quanto chato. A arte é a minha principal fonte de entretenimento, com o cinema, teatro, exposições, shows e muito mais. E, como já disse, fiz grandes amigos por meio da música. FAGNER: A arte faz toda a diferença na minha vida. A arte nos faz ver o mundo de outra forma. Sem a arte, meu mundo seria uma coisa mecânica. DAIANA: Eu acho que o mundo seria muito chato, a expressão seria a mesma para todos.

ANA LUCIA

THALLES: Eu tenho contato diretamente com a música. Toco bateria e meu irmão é baixista. Já toquei em várias bandas. Essa relação com a música foi a responsável por muitas amizades. Além disso, desde pequeno eu gosto muito de desenhar, a ponto de ter chegado a pensar em fazer disso uma profissão.

ANA LUCIA: Sem a arte eu não teria oportunidade de conhecer pessoas, lugares, ter experiências e situações de criação e participação na vida da minha cidade. Vejo que as meninas da minha idade que não viveram as experiências com arte que eu vivi não ampliaram seu mundo, muitas ficam só trabalhando de empregada doméstica ou babá. Como você vê a situação das manifestações culturais no Brasil, tanto para quem se envolve como artista quanto para quem só aprecia, como espectador? FAGNER: Há uma valorização um pouco maior da arte, principalmente da cultura popular, mais ainda é pouco. Alguns artistas se fecham, se dirigem a um público que já possui uma vivência com arte, quando o interessante seria que eles levassem seu trabalho às pessoas que não têm acesso a essa arte. ANA LUCIA: As manifestações artísticas brasileiras são muito importantes para a formação da identidade cultural dos jovens e por isso precisam ser mais valoriza-

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“A arte é um meio de fazer inclusão social” RAIMUNDO FAGNER

THALLES: Para mim, a arte é uma das melhores formas de inclusão social, e trabalhos com essa finalidade deveriam ser mais incentivados. ANA LUCIA: Acho que quanto mais uma sociedade tem contato com a arte, mais ela se valoriza e dá valor a suas manifestações culturais. A arte promove o desenvolvimento humano e, conseqüentemente, um maior engajamento das pessoas com a vida comunitária. DAIANA: A arte como engajamento social é muito importante, pois trabalha todas as relações pessoais e interpessoais, promove a cidadania, a eqüidade social, o conhecimento e a discussão da realidade. Por isso é que as diversas manifestações

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SOBRE PARA SABER MAIS

FAGNER: É preciso que o governo incentive programas de arte-educação e de resgate cultural, além de oferecer estímulos às empresas para que patrocinem projetos artísticos. Outra responsabilidade do poder público é fazer com que a verba destinada à cultura seja bem aplicada, beneficiando a arte e não alguns poucos artistas. Porque a arte, eu acredito, é um meio de fazer inclusão social. Vocês concordam?

FAGNER: Concordo. Acho que é possível sim o artista viver da sua arte. Basta ele acreditar no que faz e correr atrás do seu espaço.

SOBRE

ANA LUCIA: O governo deveria aprovar leis de apoio aos grupos que fazem cultura e criar políticas de incentivo à arte que permitam o acesso das pessoas de baixa renda.

ANA LUCIA: Nosso grupo no circo Lahetô vive da arte. Mas se a sociedade valorizasse mais a arte e o artista, não seria preciso “ralar” tanto para manter um grupo. É difícil. Por outro lado, acredito que o artista, assim como qualquer outro profissional, tem de conquistar o respeito dos outros.

PARA SABER MAIS

DAIANA: Primeiro, acho que nós, jovens, temos de mostrar o que queremos, para o governo elaborar e executar programas que atendam às expectativas da juventude. Esse processo poderia ser feito por meio de discussões de grupo, laboratórios, oficinas, pesquisas, apoio a projetos experimentais. Além disso, o governo precisa intensificar e estimular a arte na escola, para possibilitar a expressão e a descoberta de novos talentos, fomentando o protagonismo infanto-juvenil nas artes.

THALLES: É possível viver somente da arte, mas acho que a pessoa tem de contar um pouco com a sorte também. O talento por si só não é decisivo.

SOBRE

THALLES: A arte em geral é pouco incentivada e difundida. Quem perde é o povo, que deixa de adquirir cultura, e o artista, que não tem condições de crescer no seu trabalho. Por isso, que medidas vocês acham que o governo pode tomar para incentivar a arte?

artísticas precisam ser mais valorizadas e principalmente o artista, que ainda é visto com preconceito, como quem não tem nada para fazer. Vocês acham que um artista consegue viver só da arte como profissão?

PARA SABER MAIS

das. Elas são cada vez mais raras, pelo menos aqui em Goiânia. A gente quase não vê bonequeiros, repentistas e teatro de rua. Tem muita gente, também, que não considera a arte uma profissão e não topa pagar o valor que ela merece. As pessoas pedem muitas apresentações gratuitas.

FAGNER

ARCA ÁREA DE ATUAÇÃO GRANDE ABC/SÃO PAULO PROPOSTA Facilitar a inclusão no mercado trabalho NÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS 75 jovens APOIO AGÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO GRANDE ABC, PRIMEIRO EMPREGO, MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO CONTATO Rua Gotardo Botacin, 383, C 4 – Estância Noblesse – Ribeirão Pires (SP) – Tel.: 11/4823-2748 – arcarte@bol.com.br

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REDE SOU DE ATITUDE-MATRACA ÁREA DE ATUAÇÃO SÃO LUÍS (MA) PROPOSTA Monitorar políticas públicas do governo federal e mobilizar a mídia para ter uma nova perspectiva de crianças, adolescentes e jovens NÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS Não há um número específico. A demanda é grande, abrangendo palestras e oficinas em escolas APOIO COORDENADORIA ECUMÊNICA DE SERVIÇOS (CESE) CONTATO jovens@matraca.org.br

CIRCO LAHETÔ (ESCOLA DE CIRCO DE GOIÂNIA)/PROJETO ARTE, CIRCO E CIDADANIA ÁREA DE ATUAÇÃO ZONA LESTE DA CIDADE DE GOIÂNIA (GO) PROPOSTA Atuar com crianças e adolescentes em situação de risco, utilizando a arte circense como principal ferramenta pedagógica, para formar e informar, visando a formação humana e a capacitação de novos artistas NÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS 120 crianças e adolescentes APOIO SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE GOIÂNIA (LEI DE INCENTIVO À CULTURA MUNICIPAL), FACULDADE CAMBURY, FUMDEC – FUNDO MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO, FUNDAÇÃO PRÓ-CERRADO, CMS – SCITECH CONTATO Rua 72, esquina com Av H – Parque da Criança – Jardim Goiás – Goiânia (GO) – Tel.: 62/3281-3301 – circolaheto@yahoo.com.br

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

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Sinfônica Heliópolis regida pelo maestro Silvio Baccarelli

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INSTITUTO BACCARELLI: CONCERTOS DA PERIFERIA Um dos cinco melhores espaços de ensino de música no mundo começa a ser construído agora em novembro em São Paulo, com conclusão prevista para daqui a um ano. Será um equipamento cultural de 6 mil m2, com uma sala de concerto com 600 lugares, 12 camarins, 36 salas de estudo individual, 4 salas de estudo em grupo, sala de informática e biblioteca, entre outras áreas de convivência. O projeto acústico está sendo desenvolvido pela mesma equipe responsável pela acústica da Sala São Paulo, espaço da Orquestra Sinfônica de São Paulo. Mas a elite cultural que costuma freqüentar a Sala São Paulo, na Estação Júlio Prestes, terá de ir à periferia para usufruir os espetáculos musicais no novo espaço – em Heliópolis, na Zona Sul da capital. A oportunidade sem precedentes de formar músicos e também público para música acontece exatamente nessa comunidade carente, com 120 mil moradores sem acesso a qualquer entretenimento cultural. Em Heliópolis, o Instituto Baccarelli instalará sua nova sede, a escola de música com capacidade e estrutura para atender 2.500 alunos por ano. “Será a primeira no Brasil a ser pensada e planejada com essa finalidade”, diz Edilson Venturelli, maestro e vice-presidente do Instituto que, desde 1996, promove o desenvolvimento pessoal e social de crianças e adolescentes de famílias de baixa renda por meio de manifestações artísticas. O maestro Zubin Mehta rege os jovens músicos do Instituto Baccarelli

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Com a parceria de empresas privadas (como a Companhia Brasileira de Alumínio, do grupo Votorantim, Fundação Volkswagen, Banco Volkswagen e Petrobras) e com o apoio do Ministério da Cultura, o Instituto Baccarelli realiza os projetos Coral da Gente, Encantar na Escola, Orquestra do Amanhã e Sinfônica Heliópolis, beneficiando 550 crianças e jovens entre 7 e 21 anos. Eles fazem constantes apresentações em casas culturais de São Paulo. “Costumo dizer aos alunos que eles podem pertencer a uma classe econômica desfavorecida, mas hoje pertencem à elite cultural do país”, conta Venturelli.

COM ZUBIN META Os jovens músicos do Instituto Baccarelli também fazem parte agora de um restrito círculo de músicos regidos pelo famoso maestro indiano Zubin Mehta, regente da Filarmônica de Israel. De passagem por São Paulo, em agosto, Zubin Mehta visitou o Instituto e regeu a Sinfônica Heliópolis. Um jovem no contrabaixo, mesmo instrumento tocado por Metha, chamou a atenção. Era Adriano Costa Chaves, 17 anos, há pouco mais de dois anos no Instituto. Ele foi convidado pelo maestro indiano a estudar na Academia da Filarmônica de Israel no próximo ano. “Eu não esperava essa oportunidade. Foi uma bênção. Agora estou me preparando para aproveitá-la da melhor forma possível. Comecei a ter aulas de hebraico, vou estudar inglês e me aperfeiçoar mais no contrabaixo”, diz Adriano, que está concluindo o ensino médio, numa escola pública, e já se dedica à música 8 horas por dia – esforço que teve uma bela recompensa.

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A REDE SE AMPLIA

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CULTURA ATRAI AÇÕES SOCIAIS O número de empresas que investem em programas sociais no Brasil é crescente. A última Pesquisa sobre Ação Social, de 2004, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), vinculado ao Ministério do Planejamento, abrange 4 mil empresas com projetos voltados para diversas áreas nas regiões Sudeste e Nordeste. Sabe-se que a maioria desses projetos, como comprova a pesquisa, ainda está voltada para atividades de assistência social e alimentação, mas a boa notícia é que, em certos nichos da cidadania empresarial, áreas como cultura e educação têm liderado as preferências dos investimentos sociais. É o que mostra o censo do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), feito em 2004 com 71 associados que compõem uma rede considerada de referência no investimento social privado. Na lista de suas prioridades para investir recursos com fins sociais, Cultura e Artes ocupam o segundo lugar, com 54% das preferências, atrás apenas de educação, com 87%. Crianças, adolescentes e portadores de necessidades especiais são o público beneficiado por 73% dos projetos em arte e cultura, envolvendo oficinas culturais, produção literária, teatral ou de audiovisual, atividades de dança e música, além da manutenção de espaços culturais, doação de material, concessão de bolsas e restauração de construções históricas.

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MOMOMOMOMOMO

O elenco de jovens talentos que colaboram com a produção de Onda Jovem não pára de crescer. Nesta edição, juntam-se ao time fotógrafos e ilustradores do Rio de Janeiro e de São Paulo. A carioca Deise Lane Lima, de 22 anos, foi a encarregada das fotos do ator Leandro Firmino da Hora, na seção O Sujeito da Frase (pág. 52). Deise começou a fotografar aos 15 anos, depois de um curso no Centro de Ação Social da Maré, e hoje faz parte da equipe de fotógrafos do Viva Favela, portal na internet da ONG Viva Rio. Já o desenhista Jotapê, 19 anos, criou a ilustração da matéria Horizonte Global (pág. 26). Tatuador, ele integra o elenco da galeria Choque Cultural, pioneira entre os espaços paulistanos dedicados à produção da arte de rua.

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Fato Positivo

DE ACESSÓRIO A ESSENCIAL por_Leusa Araujo

De fato, no fim dos anos 80, o objetivo da aula de arte era fazer o estudante feliz. Essa arte esvaziada de seu conteúdo foi “um efeito danoso das chamadas décadas da livre expressão”, diz Evelyn, referindo-se ao fenômeno das Escolinhas de Arte dos anos 60 e 70. Para completar o quadro, a disciplina nem sequer era obrigatória no currículo escolar. Mas uma pesquisa, realizada em 1989 pela Fundação Iochpe para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, revelava descontentamento por parte dos professores. Eles que-

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Arte-educadora desenvolve atividade com jovem: qualificação

O ensino da arte está começando a colher os frutos de uma mudança de mentalidade: em vez de ser tratada nas escolas como “momento cultural” ou atividade lúdica para “alívio das tensões”, a arte reincorpora a sua importância como disciplina do conhecimento, ampliadora de consciência e capaz de promover mudanças no mundo. “Ainda que estes novos ares não tenham chegado ainda àquela melhoria desejada na sala de aula, é possível dizer que o pior estágio da educação artística, aquele da folha mimeografada para colorir, está ficando no passado”, afirma Evelyn Iochpe, com o conhecimento de causa de quem fundou e há 15 anos preside o Instituto Arte na Escola, a maior referência nacional na capacitação e qualificação de professores de arte da rede pública.

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Avesso

A TRAJETÓRIA DO PROJETO ARTE NA ESCOLA INDICA QUE HÁ UMA NOVA MENTALIDADE NO ENSINO DE ARTE NO PAÍS

Quase uma década depois de se tornar obrigatório no país, o ensino de arte ainda não chegou à metade das escolas. A obrigatoriedade foi uma conquista garantida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de dezembro de 1996. Mas, na prática, isto ainda não acontece plenamente. “A estimativa do próprio Ministério da Educação é de que 50% das escolas estejam sem o curso regular de arte por falta de professores”, diz Evelyn Iochpe. Para reverter esse quadro, o MEC precisa formar novos docentes - por meio de consórcios com as universidades e de cursos à distância até 2007. A meta, entretanto, não deverá se cumprir nesse espaço de tempo. “Não há vagas suficientes nas universidades e nem formas de custeio que dêem conta de todos os professores leigos que precisam ser capacitados,” avalia Evelyn.

riam mais acesso ao conhecimento sobre história da arte e concordavam que era preciso partir da obra de arte para realizar o seu trabalho educacional em sala de aula. Capacitar esses professores, numa aliança com as universidades públicas, tornou-se um desafio. O projeto Arte na Escola surgiu, então, como o articulador de uma rede de educação continuada entre as universidades – o lugar certo para produzir o repertório cultural necessário para que novas metodologias de ensino, como a abordagem triangular de Ana Mae Barbosa (ver, contextualizar e fazer arte), fossem aplicadas, principalmente nas artes visuais. O passo seguinte foi a criação e a avaliação de materiais didáticos que falassem a língua do professor: milhares de vídeos, kits educacionais com reprodução de obras pertencentes aos museus brasileiros, CDs, DVDs e outros materiais de apoio à visitação de museus, salões e bienais foram desenvolvidos. “Tudo para iluminar a construção da obra de arte”, explica Evelyn, para quem somente a imagem de segunda mão na sala de aula não basta: “É preciso o contato com a arte dos museus e galerias, no seu original”.

DESCOBERTAS E SURPRESAS

PARA SABER MAIS

SOBRE

Hoje, os números da Rede Arte na Escola são expressivos: mais de 4 milhões de alunos da rede pública, do ensino infantil, fundamental e médio, são atendidos por 20 mil professores, capacitados pelos 55 pólos universitários. Entre eles, o jovem Richard Maus, bolsista do Pólo da Universidade Federal do Paraná. Violonista, 22 anos, estudante de música na Universidade, que atua no projeto “Quarteto de Cordas: uma experiência educativa”, em que músicos entram na sala de aula para ministrar conteúdos peculiares aos instrumentos de corda e arco. “É a minha descoberta da música como disciplina didática”, resume Richard, que nunca teve aula de música na escola. Para quem ainda tem dúvidas sobre a importância desse aprendizado, o resultado de um longo trabalho de 20 anos, realizado pelo sociólogo da educação Aaron Benavot em 63 países, mostrou, para surpresa dos próprios pesquisadores, que é o bom ensino das artes e das ciências que resulta na obtenção de índices econômicos maiores para os países em desenvolvimento – e não o ensino da matemática e da língua, como se buscava comprovar. Mas a fundadora do Arte na Escola não se surpreendeu. “Nós já sabíamos que o ensino da arte melhora a cognição de forma geral e que não se trata de perfumaria para ricos, como muitas vezes foi tratado”.

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INSTITUTO ARTE NA ESCOLA ÁREA DE ATUAÇÃO 24 ESTADOS E DISTRITO FEDERAL PROPOSTA Incentivar e qualificar o ensino da arte do Brasil JOVENS ATENDIDOS O instituto atende a 20 mil professores, cuja ação atinge 4 milhões de alunos das redes públicas, do infantil ao ensino médio AGENTES E EDUCADORES ENVOLVIDOS 230, entre professores, bolsistas, estagiários e voluntários universitários que atuam nos 55 Pólos da Rede Arte na Escola PATROCÍNIO FUNDAÇÃO IOCHPE, BNDES, BR PETROBRAS E BANCO BRADESCO, POR MEIO DA LEI DE INCENTIVO À CULTURA DO MINISTÉRIO DA CULTURA CONTATO Alameda Tietê, 618, Casa 3 – Cerqueira César - São Paulo (SP) – Tel. 11/3060-8388 – www.artenaescola.org.br

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Cartas

Onda Jovem é um espaço não só para jovens de baixa renda e sem instrução divulgarem suas idéias, sua indignação e suas aspirações por uma vida melhor, mas também para jovens como eu, lutadores, com nível superior, mas que ainda não conseguiram uma posição digna neste mundo. Criei uma associação ambientalista chamada AUPEC-VP, Associação dos Amigos e Usuários do Parque Ecológico de Vila Prudente, e participo da APREV, Associação de Profissionais Resgatando Vidas, dando cursos de inglês. Além disso, escrevo crônicas e faço artesanato em papel reciclado. Kleber Pedroso, São Paulo, SP Parabéns pelo excelente trabalho. A publicação aborda as temáticas voltadas para a juventude de uma forma extraordinária, interativa e principalmente atrativa. Ionara Silva, por e-mail Receber Onda Jovem é mais que um presente para nós que estamos à frente da elaboração de políticas públicas para a juventude. É de grande importância compreender e conhecer a realidades desse nosso imenso Brasil, cheio de sonhos e esperanças juvenis. Nilton Bispo, assessor de Juventude, Prefeitura de Embu, SP

DIVERSAS JUVENTUDES

Acho de suma importância uma revista que fala sobre os jovens, pois trabalho com esse público como assistente social na Vila Brasilândia e adjacências. Atuo em uma associação como educadora de noções de cidadania, orientação sexual, prevenção contra o abuso de vícios e drogas, liberdade de escolha com responsabilidade e ética. Ivone S. Garcia, São Paulo, SP

Onda Jovem me interessou muitíssimo. Sou assistente social e a revista pode me capacitar e informar para uma melhor intervenção cidadã e profissional. Ieda, por e-mail Somos uma ONG que atua na formação e capacitação de jovens e adolescentes por meio da educação empreendedora. Onda Jovem poderá contribuir com nosso trabalho. Manoel Gouvêa, diretor da Escola de Empreendedores, São Paulo, SP

PROJETO DE VIDA E TRABALHO Recebi com imenso prazer a notícia de Onda Jovem. O primeiro número, Projeto de Vida, trata de um tema muito importante para nossa instituição de ensino. Vai ajudar nossa equipe a entender e lidar melhor com o público jovem no Grupo de Projetos Sociais. Renata Hespanhol, Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP, São Paulo, SP

Nós, que lidamos diretamente com o público jovem, necessitamos de fato de um canal, como Onda Jovem, capaz de mostrar as várias caras da juventude. Parabéns pela iniciativa e que o empreendimento de vocês seja um sucesso. Benedito Maria, São Luís, MA A juventude está precisando exatamente disso, de uma publicação séria e enriquecedora como Onda Jovem. Ida Virgínia Comarin, por e-mail

FAÇA CONTATO Envie cartas ou e-mails para esta seção com nome completo, endereço e telefone. ONDA JOVEM se reserva o direito de resumir e editar os textos. Endereço: Rua Dr. Neto de Araújo, 320, conjunto 403, CEP 04111-001, São Paulo, SP. E-mail:

ondajovem@olharcidadao.com.br.

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Nós, do Consórcio Social da Juventude da Grande Teresina, gostamos muito de Onda Jovem. Narcizo Chagas, Assistente de Inserção no Mercado de Trabalho, Teresina, PI Gostaria de receber Onda Jovem. Trabalho no Programa Voluntários da OSCIP Comunitas – Parcerias para o Desenvolvimento Solidário. Adelaide Barbosa Fonseca Espero receber Onda Jovem. Sou presidente da ONG Desenvolvimento com Justiça Social – DJS (www.djs. org.br). Trabalhamos e incentivamos o protagonismo juvenil por meio da educação em direitos humanos. Borny Cristiano, São Paulo, SP

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Agradecemos a menção de nosso Programa em sua revista sobre “A Nova Força do Trabalho”, aproveitando para dar-lhes os parabéns pelo belo trabalho editorial. Carlos H. Sampaio, Programa Iniciativa Jovem/Dialog/Shell Recebemos os exemplares “Projeto de Vida” e “A nova Força do Trabalho” da revista Onda Jovem. Atualmente, a Fundação Abrinq está implantando mais dois projetos de apoio ao jovem: o primeiro diz respeito à discussão do projeto de vida dentro das escolas que desenvolvem educação de jovens e adultos e outro sobre empreendedorismo juvenil e microcrédito. As duas publicações vieram ao encontro dos nossos desafios e têm contribuído muito com o desenvolvimento de nosso trabalho. Só temos a agradecer e parabenizá-los. Márcia Quintino e Maria do Carmo Krehan, Programa Prêmio Criança e Multiprojetos, Fundação Abrinq, São Paulo, SP Onda Jovem despertou meu interesse. Trabalho no Centro Pastoral Santa Fé, na região noroeste de São Paulo (Perus), com adolescentes em um Projeto de Formação de Lideranças Juvenis, por meio de atividades esportivas, de artesanato, reforço escolar e desenho, entre outras. Luciana Mizinski, São Paulo, SP Para o trabalho que realizamos, Onda Jovem é de extrema importância. Atuo como assistente social na ONG Centro de Convivência Menina Mulher, que atende meninas de 7 a 18 anos em situação de vulnerabilidade. Katia Cristina Novak, Curitiba, PR

PARCEIRA NA EDUCAÇÃO Nós, da ONG Plugados na Educação, tivemos a imensa boa sorte de receber Onda Jovem. Nossa missão é promover a cultura de paz e o aprimoramento ético, cultural e pedagógico em escolas públicas estaduais e municipais de Minas Gerais e São Paulo. César Sousa Reis, Plugados na Educação

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Queremos receber Onda Jovem. Estamos iniciando um trabalho de conscientização, reintegração e auto-estima dos jovens de uma escola pública em Belo Horizonte. Fazemos parte do Projeto Sempre Um Ato, que em breve se tornará associação. Karla Danitza, Belo Horizonte, MG

Na entidade Lua Nova, atendemos jovens mães e seus filhos. Adoramos Onda Jovem, especialmente a segunda edição, sobre Trabalho, que está muito relacionada com nossa missão e ações. Mirthes e Raquel Barros, por e-mail

Parabéns por Onda Jovem. Sou professora da rede estadual de ensino, coordenadora pedagógica do Centro Educacional e Social da Consolata (CESC) e assessora da Pastoral da Juventude de Roraima. Conheci a revista por meio do Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente de Roraima e me interessei muito, pois também estou concluindo o Curso de Especialização em Juventude, na Unisinos – RS. Vanilsa Pereira de Souza, Boa Vista, RR

Nós, da Girassolidário (Agência da Rede Andi Brasil), achamos Onda Jovem de excelente qualidade. Antonio Sardinha, Mato Grosso do Sul Gostei muito das reportagens de Onda Jovem. Marcia Wada, A Cor da Letra, por e-mail

Como professora universitária e atuante em trabalhos sociais com juventude, apreciei muito a revista. Esther Alves de Sousa, por e-mail

SITE ONDA JOVEM

Sou bibliotecária, no Colégio Marista Palmas, e trabalhamos com grupos de jovens que atuam em ações sociais e solidárias na cidade de Palmas e região. Onda Jovem será de grande valia para nós. Anair Ribeiro Quintanilha Souza, Palmas, TO

Gostei demais de ter descoberto o site Onda Jovem. Vocês capricharam nos textos. Parabéns. Sou psicóloga, trabalho com prevenção à AIDS com jovens e gostaria de colaborar com vocês. Ana Luiza, psicóloga, por e-mail

Gostaríamos de ter Onda Jovem em nosso acervo. Faculdade Paulista de Serviço Social, São Paulo, SP Por meio de pesquisadores da juventude, fiquei sabendo da revista, que interessa muito a quem atua, como eu, na área de educação e juventude. Gilmar Staub, São Miguel do Oeste, SC Onda Jovem é muito interessante e pertinente para nós, do Lar das Crianças da Congregação Israelita Paulista (CIP). Gostaríamos de receber os exemplares. Maitá Figueiredo, São Paulo, SP Parabéns pela iniciativa da revista. Sou diretor da ONG Associação Crescer, que tem a juventude como público alvo. Pe. Evando Batista de Morais, Contagem, MG Nós, Religiosas Concepcionistas Missionárias do Ensino, somos uma entidade religiosa católica que trabalha com educação de jovens. Gostaríamos de receber Onda Jovem. Edenilson Coelho, Sede Provincial, São Paulo, SP

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Nós, da Comunidade Transformar, gostaríamos de cumprimentá-los pela iniciativa da revista e do site Onda Jovem, muito bons, bem feitos e de excelente qualidade. É material importante para nosso Grupo de Estudos e como informação qualificada para esta ONG, que concluiu recentemente um processo de reestruturação e está iniciando uma nova fase com a implementação de projetos que, na sua maioria, têm o público jovem como destinatário. Washington de Bessa Barbosa Júnior, Ribeirão Preto, SP Parabéns, Onda Jovem, pela bela iniciativa, projeto gráfico e editorial. Assim como vocês, o InterCidadania comunica soluções em busca de um mundo melhor. Equipe InterCidadania, por e-mail

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DESCONFORTO Se ficarmos muito quietos podemos dormir. Respirar pelo nariz malgrado o compacto olor de albume. Consentir que o sujeito ao lado resmungue uma ou duas queixas torcendo-se na poltrona ruidosamente. É um bonito trecho de Brasil que atravessamos neste ônibus neste fevereiro e não podia mesmo ser diferente.

TARSILA

Para onde quer que se olhe, desta ou daquela janela, a fuzilaria descansa.

De meia em meia hora meu coração de baleia se derrama sobre os cafezais

A democracia avança com seus dentes-de-leite.

Noite, chão, terra cheia outros mil corações de baleia respondem iguais

poemas_Ricardo Rizzo ilustração_Rodolfo Herrera

não minto a quem me odeia.

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POR OBRA DA ARTE Foi um artista visual que revelou a poesia ao mineiro Ricardo Rizzo, de 24 anos. Quando tinha 13 anos, uma bolsa de iniciação artística oferecida pela sua escola, em Juiz de Fora (MG), levou-o às leituras visuais do artista plástico Arlindo Daibert sobre

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as obras de Guimarães Rosa e Mário de Andrade. “Eu fiquei apaixonado pela literatura”, diz Rizzo. A paixão, como tantas, gerou o escritor. Já estudante de Direito, em 2002 publicou o livro “Cavalo Marinho e outros poemas” (Editora Nankin/Funalfa Edições). Em 2004, ganhou o prêmio Cidade Belo Horizonte com o livro ainda inédito “Ao Sul da Esfera”, que inclui os poemas desta página. Atualmente, Rizzo faz mestrado em Ciência Política na Universidade de São Paulo, mas sem se afastar da literatura: pesquisa os escritos políticos de José Alencar e é editor da revista literária “Jandira” (Funalfa Edições).

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O Instituto Votorantim apóia essa causa.

ARTE & CULTURA número 3 – novembro 2005 ano 1 – número 3 – novembro 2005

E quer ver muitos jovens fazendo sucesso na capa.

ARTE & CULTURA Como as manifestações artísticas e culturais promovem o desenvolvimento pessoal e social dos jovens brasileiros


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