Edição 4

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ONDA JOVEM

O Instituto Votorantim apóia essa causa.

SAÚDE número 4 – março 2006

SAÚDE

E quer ver muitos jovens fazendo sucesso na capa. ano 2 – número 4 – março 2006

Os desafios para promover o bem-estar físico, mental e social da juventude brasileira

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sonar

12% dos estudantes adolescentes já usaram algum tipo de droga

22% dos jovens de 15 a 24 anos têm filhos

A TAXA DE HOMICÍDIOS NA POPULAÇÃO JOVEM É MAIS QUE O DOBRO DA TAXA DA POPULAÇÃO GERAL Em 2004, foram registrados 2.668 casos de infecção por HIV entre jovens no Brasil

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Jovens esportistas investem na formação de novos atletas no Rio de Janeiro pág.

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No interior de São Paulo, moças em situação de risco descobrem a maternidade responsável pág. 18 Um projeto em Minas Gerais diminui os índices de homicídios entre os jovens pág.

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UMA ASSOCIAÇÃO NO RIO GRANDE DO SUL APÓIA JOVENS PORTADORES DE HIV pág.

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âncoras

“Saúde é o estado de completo bem-estar físico, psíquico e social, e não apenas a ausência de doenças.”

“É complicado falar em riscos para a saúde para quem simplesmente viver já é um risco.” I. J,

21 anos, um dos coordenadores do Programa H, que discute o machismo com rapazes cariocas

AGÊNCIA O GLOBO

Conceito da Organização Mundial de Saúde

“Cabe ao governo adotar políticas de saúde com mecanismos especiais, realizando um atendimento adequado aos jovens, dentro das suas especificidades e necessidades, com respeito e privacidade.” Ana Paula Sciammarella,

24 anos, advogada, integrante da Rede Jovens Brasil – Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos

“Estou certo de que o esporte tem um poder transformador. Aconteceu comigo. Antes do meu envolvimento com o esporte, sentia que tinha poucas perspectivas.” Rodrigo Borges da Silva,

praticante de jiu-jitsu e monitor no Instituto Reação, no Rio de Janeiro

“Aprendi que o pai deve sempre estar presente e apoiar a companheira para que ela se sinta mais forte e segura.” Edmilson Pires da Silva,

de 19 anos, de Pernambuco, participou de reuniões do Instituto Papai durante a gravidez de sua namorada

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“Com a doença, aprendi que é possível ter uma vida normal e até mais saudável.” Natália Bellin,

de 16 anos, estudante paulista, tem diabetes

“Defendo que parte do lucro da indústria do armamento seja taxada para reverter para projetos de saúde, de tratamentos pós-lesão, e também de educação.” Marcelo Yuka,

músico, integrante do Conselho Nacional de Juventude

“Qual jovem de baixa renda tem condições de se sentir saudável diante dos modelos de saúde e de vida apresentados pela TV?” Paula Cristina Lima Silva,

20 anos, educadora social da ONG Amazona, em João Pessoa (PB)

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“Uma coisa que aprendi é que a saúde é a alegria do corpo, e a alegria é a saúde da alma!” Fábio Anderson Rodrigues Pena,

25 anos, coordenador da rede Mocoronga de Comunicação Popular do projeto Saúde e Alegria, no Pará

“A saúde e o adoecimento das pessoas têm a ver com sua condição de vida, com hábitos e comportamentos possíveis nesta construção pessoal, que é condicionada socialmente.” Gabriela Calazans,

psicóloga, especialista em Saúde Coletiva, mestre em Psicologia Social

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Secretaria editorial Lélia Chacon

Revisão: Eugênio Vinci de Moraes

foto: Andréa Graiz, Beatriz Assumpção, Bruno Garcia, Carlos Cavalcante, Davilym Dourado, Deise Lane Lima/Viva Favela, Edson Queiroz, Francisco Andrade Neto, Francisco Campos,

Diagramação Érico Martins e Silvina Gattone Liutkevicius (D’Lippi Editorial) Fotolito D’Lippi Editorial

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Impressão SAG Como entrar em contato com Onda Jovem: E-mail ondajovem@olharcidadao.com.br Endereço: R. Dr. Neto de Araújo, 320 – conj. 403, São Paulo, CEP 04111-001 Tel. 55 11 5083-2250 e 55 11 5579-4464 www.ondajovem.com.br um portal para quem quer saber de juventude

SITE REÚNE EDIÇÕES

DE ONDA JOVEM

As três primeiras edições da Onda Jovem, já esgotadas na versão impressa, continuam disponíveis ao público no site da revista – www.ondajovem.com.br. O leitor dispõe de duas opções para consultas. No acesso “Edição xx”, estão arquivados os conteúdos da edição tal como ela foi publicada no site. Além de reproduzir os principais textos daquele número, o material inclui os conteúdos produzidos exclusivamente para a internet, como os Planos de Aula elaborados por pedagogos; as notícias veiculadas na seção Tempo Real, e as galerias de trabalhos artísticos dos jovens colaboradores, nos espaços Navegando e Talentos de Onda Jovem. Já no acesso “Edições Anteriores”, estão as versões integrais da revista impressa, no formato PDF, o que facilita o seu uso para fins didáticos. Nos números anteriores, a revista abordou os temas Projeto de Vida (primeira edição), Trabalho (segunda edição) e Arte & Cultura (terceira edição). O serviço de arquivamento gradativo das edições e sua disponibilização integral fazem parte da estratégia do projeto Onda Jovem de ampliar o acesso do público à revista por meio da internet.

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Capa: jovem se exercitando fotografado por Henk Nieman Apoio editorial: Vinicius Precioso (Instituto Votorantim)

Colaboradores texto: Albertina Duarte, Annette Schwartsman, Aydano André Motta, Beatriz Seara, Cecília Dourado, Cristiane Ballerini, Daniela Rocha, Eloísa Grossman, Flávia Oliveira, Gabriela Calazans, Jane Soares, Karina Yamamoto, Leusa Araujo, Luis David Castiel, Rosely Sayão, Yuri Vasconcelos

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ilustração: Anderson Rei, Marcelo Pitel, Rodolfo Herrera

Direção editorial Josiane Lopes – MTb 2913/12/13

Projeto gráfico Artur Lescher e Ricardo van Steen (Tempo Design)

BRUNO GARCIA

Projeto editorial e realização Fátima Falcão e Marcelo Nonato Olhar Cidadão – Estratégias para o Desenvolvimento Humano www.olharcidadao.com.br

08

RICARDO MEGA

Um projeto de comunicação apoiado pelo Instituto Votorantim

Francisco Valdean / Imagens do Povo, Gustavo Lourenção, Henk Nieman, Jonas Oliveira, Levi Silva, Marcelo Alvarenga, Renato Nunes / Imagens do Povo, Ricardo Ayres, Ricardo Mega, Rodrigues Moura/Viva Favela, Stanley Talião, Tom Cabral

TOM CABRAL

ano 2 - número 4 março/junho 2006

DAVILYM DOURADO

expediente

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8 - Navegantes Como os jovens encaram a questão da saúde

14 - Mestres A contribuição de três educadores à saúde juvenil

18 - Caminho das Pedras Os esforços da Associação Lua Nova para intervir na realidade social brasileira

22 - Banco de Práticas Quatro experiências em busca de saúde integral

26 - Horizonte Global Uma entrevista com a costarriquenha Dina Krauskopf sobre juventude e saúde na América Latina

28 - Sextante Os riscos do mundo contemporâneo

30 - 90 Graus Saúde e Escola: há um desencontro entre este par, que deveria andar afinado

34 - 180 Graus Saúde e Juventude: as difíceis condições de vida proporcionadas aos jovens brasileiros

38 - 270 Graus Saúde e Atendimento: os profissionais da área poderiam atender melhor aos jovens

42 - 360 Graus Saúde e autocuidado: como a construção de um projeto de vida contribui para o processo de autonomia dos jovens

46 - Sem Bússola Os índices negativos da saúde dos jovens refletem as complexidades sociais e culturais do Brasil

52 - O Sujeito da Frase “A arma que muda é o livro”, diz Marcelo Yuka, músico que integra o Conselho Nacional da Juventude

56 - Luneta As dificuldades para lidar com as questões que envolvem a saúde mental juvenil

60 - .Gov.com A nova política de atenção à saúde do jovem promete incluir um segmento quase sempre ignorado

64 - Ciência Novidade: os hormônios não são os protagonistas da revolução orgânica dos jovens para se tornar adultos

68 - Chat de Revista Quatro jovens discutem o que é vida saudável

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é o número de projetos com jovens que você verá nesta edição

Sonar

02 Pistas do todo e de algumas partes da situação do jovem

Âncoras 04 Alguns conceitos e comentários sobre saúde

7

Links

72 Notícias sobre juventude e terceiro setor

Fato Positivo

74 As questões das pessoas com deficiência estão mais visíveis

Cartas

76 As mensagens dos leitores

Navegando

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O desenho de Nivaldo Guimarães Jr.

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navegantes

TOM CABRAL

GERAÇÃO Onda Jovem 8-13_ok.indd 8

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COMO ENFRENTAM POUCAS DOENÇAS ORGÂNICAS, OS JOVENS TENDEM A NÃO SE PREOCUPAR COM O ASSUNTO, EMBORA NEM SEMPRE TENHAM HÁBITOS E CONDIÇÕES DE VIDA SAUDÁVEIS

SAÚDE

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Por_Yuri Vasconcelos

EDMILSON PIRES DA SILVA, de 19 anos, participou de um programa para jovens pais em Pernambuco

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Os estudantes cearenses Erika Mavignier de Vasconcelos, de 20 anos, e José Augusto de Castro, o Guto, de 24 anos, namoram há quase dois anos. Eles se conheceram na faculdade – ela faz Publicidade e Propaganda na Universidade Federal do Ceará e ele está no 3º ano de Comunicação Social – e estão sempre juntos. Curtem a vida, estão antenados com o futuro, mas, admitem, não se preocupam muito com a saúde. “Acho até que sou um pouquinho desleixada”, diz Erika. “Sou sedentária, não cuido da alimentação e odeio verduras. Gosto mesmo é de sanduíches, sorvete e pizza. Mas fiz uns exames há algum tempo e eles mostraram que sou supersaudável”, diz ela. O namorado Guto pensa parecido. “Não ‘encano’ muito com a saúde, não. Nem com o que como. Mas também não sou completamente sedentário. Gosto de esportes e toda semana bato uma bola com a galera da faculdade”, diz.

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navegantes

CARLOS CAVALCANTE

MUITAS DAS OCORRÊNCIAS QUE AFETAM OS JOVENS NÃO SÃO DOENÇAS, MAS ESTÃO RELACIONADAS AO CONCEITO DE SAÚDE COMO UM ESTADO DE PLENO BEM-ESTAR FÍSICO, MENTAL E SOCIAL

precoce, DSTs e Aids, além do uso e abuso de substâncias lícitas, como cigarro e álcool, e ilícitas, entre elas maconha, cocaína, ecstasy e heroína”, diz Marcondes. Além disso, há os chamados agravos de saúde decorrentes de “causas externas”, que incluem quedas, afogamentos, acidentes de trânsito, homicídios e suicídios, entre outros. Mas, como do ponto de vista clínico quase não há “doenças” no horizonte, a maior parte dos jovens nem se dá conta de que muitas ocorrências que afetam sua faixa etária estão relacionadas com o conceito de saúde preconizado pela Organização Mundial de Saúde: um estado de bem-estar físico, psíquico e social, e não só a ausência de moléstias. A despreocupação de Erika e Guto pode ser encarada como um retrato da forma como a maioria dos jovens e adolescentes se relaciona com a própria saúde. Esse não é um tema que consiga tirar o sono deles. E é fácil entender por quê. “Diferentemente das crianças, dos adultos e dos idosos, os jovens não têm doenças típicas. Essa faixa etária é originalmente saudável e não há um predomínio de doenças físicas. Mas há ocorrências preocupantes, sociais e comportamentais”, diz o paranaense Walter Marcondes Filho, médico hebiatra (especializado no atendimento de adolescentes) e presidente da Associação Brasileira de Adolescência (www.asbrabr.com.br). “Além dos transtornos mentais, notadamente a depressão, os jovens enfrentam problemas relacionados à sexualidade, como gravidez

Os estudantes cearenses Erika Mavignier, de 20 anos, e José Augusto de Castro, o Guto, de 24 anos, não se preocupam muito com a saúde e se sentem saudáveis

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Força transformadora A idéia de saúde integral, porém, não é totalmente desconhecida entre os jovens. Se os especialistas indicam as atividades físicas como elemento para a promoção da saúde nos anos de juventude, o carioca Rodrigo Borges da Silva, de 24 anos, vai além. “Ao praticar um esporte, o jovem começa a perceber seu corpo de uma maneira diferente. Ele passa a se cuidar melhor, presta atenção na alimentação e dá as costas para as drogas”, diz. Morador da favela da Rocinha, Rodrigo trabalha no Instituto Reação, uma associação idealizada pelo judoca olímpico Flávio Canto, que utiliza o esporte como ferramenta de inclusão social. “Estou certo de que o esporte tem um poder transformador. Aconteceu comigo. Pratico jiu-jitsu desde pequeno e há quatro anos sou monitor no Instituto. Antes do meu envolvimento com o esporte, sentia que tinha poucas perspectivas. Agora, meu objetivo é me formar em Educação Física. Quero ampliar cada vez mais o trabalho com garotos da minha comunidade para que eles tenham chance de melhorar de vida”, diz Rodrigo.

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ANDRÉA GRAIZ

BEATRIZ ASSUMPÇÃO

de”, diz a nutricionista paulista Janice Chencinski. Ela explica que, na fase entre os 15 e os 24 anos, é muito importante se ter uma alimentação equilibrada, pois, assim, fazemos uma reserva de nutrientes que será valiosa na idade adulta. “Os maus hábitos alimentares, aliados ao sedentarismo, são responsáveis por um aumento de problemas que, antes, eram próprios de adultos, como diabetes tipo 2, pressão alta e doenças cardiovasculares”, diz Janice.

SOBRE

Além do corpo “Acho que a maioria dos jovens não tem noção sobre os cuidados com a própria saúde”, diz a pernambucana Rafaela Gomes Vieira de Paula, de 19 anos, que concluiu o ensino médio e o curso Jovens Educadores em Saúde Integral do Centro Nordestino de Medicina Popular, uma organização não-governamental focada na questão da saúde (leia mais sobre Rafaela no box O futuro é agora). “Com esse curso, tentamos mostrar aos jovens que o

PARA SABER MAIS

A universitária Fabiana Viegas Raimundo, de 20 anos, também tem uma atenção especial com a saúde, com ênfase na alimentação. “Tento cuidar bem da minha saúde”, diz a gaúcha, que cursa nutrição na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Na faculdade, aprendi muitas coisas e mudei alguns hábitos alimentares. Sou mais cuidadosa e evito alimentos com agrotóxico e alguns tipos de gordura que fazem mal ao nosso organismo”, diz ela. Mas pesquisas do Ministério da Saúde detectaram mudanças para pior nos hábitos alimentares dos brasileiros nos últimos 30 anos. O consumo de feijão, por exemplo, caiu cerca de 30%, enquanto o de refrigerantes quadruplicou e o de embutidos triplicou. Paralelamente, aumentam entre os jovens os chamados transtornos alimentares, como obesidade, anorexia (deixar de ingerir alimentos) e bulimia (ingestão de alimento seguida de vômito). “O culto ao corpo nessa fase da vida é muito intenso. A mídia vende uma imagem do corpo perfeito e há muitas cobranças da socieda-

FABIANA VIEGAS RAIMUNDO, de 20 anos, cursa a faculdade de Nutrição no Rio Grande do Sul

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O PAULISTA GUILHERME DA ROCHA LEITE, de 20 anos, fundou um movimento pela acessibilidade para as pessoas com deficiência

PROJETO JOVENS EDUCADORES EM SAÚDE INTEGRAL DO CENTRO NORDESTINO DE MEDICINA POPULAR ÁREA DE ATUAÇÃO REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE (PE). PROPOSTA FORMAR EDUCADORES PARA ATUAR COMO MULTIPLICADORES DE INFORMAÇÕES E EXPERIÊNCIAS SOBRE SAÚDE INTEGRAL EM SEIS ESCOLAS PÚBLICAS DE OLINDA, JABOATÃO DOS GUARARAPES E SÃO LOURENÇO DA MATA, BENEFICIANDO 30 TURMAS COM CERCA DE 900 ADOLESCENTES. JOVENS ATENDIDOS 60. APOIO FUNDO DE PEQUENOS PROJETOS DA EMBAIXADA BRITÂNICA NO BRASIL. CONTATO RUA CLETO CAMPELO, 255 – BAIRRO NOVO – 53030-150 – OLINDA (PE) – TEL. 81/3439-5215 – FAX 81/3429-3517 – WWW.CNMP.ORG.BR – E-MAIL COMUNICAÇÃO@CNMP.ORG.BR.

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Vários programas funcionam em todo país para prestar atendimento a essas jovens. Mas em Pernambuco, um projeto pioneiro desenvolvido pelo Instituto Papai tem como alvo os jovens pais. “Nossa maior preocupação é a paternidade na adolescência. Fazemos um trabalho de acolhimento e, ao mesmo tempo, informativo. Queremos transmitir referências positivas do que é ser pai”, diz o psicólogo pernambucano Jorge Lyra, coordenador do Instituto Papai. Os jovens que participam do programa são “fisgados” na sala de espera do serviço de pré-natal e puericultura da Maternidade da Encruzilhada, do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros, da Universidade Estadual de Pernambuco, em Recife. As reuniões são semanais e o tema de discussão é escolhido no dia pelos participantes. O pernambucano Edmilson Pires da Silva, de 19 anos, participou de quatro reuniões durante a gravidez de sua namorada. “Para mim, foi muito bom, pois me deu mais segurança para enfrentar aquele momento. A gravidez me deixou muito abalado e, ao

RAFAELA GOMES VIEIRA DA CUNHA, 19 ANOS, participa dos projetos do Centro Nordestino de Medicina Popular, em Pernambuco

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O FUTURO É AGORA

INSTITUTO REAÇÃO REGIÃO DE ATUAÇÃO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO. PROPOSTA PROMOVER A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS DE COMUNIDADES DE BAIXA RENDA POR MEIO DO ESTÍMULO À PRÁTICA DE ESPORTE DE ALTO RENDIMENTO. JOVENS ATENDIDOS 980. APOIO PREFEITURA DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, SPORTV, UNIVERSIDADE GAMA FILHO, REDE GLOBO, BISCOITOS PIRAQUÊ, ENTRE OUTROS. CONTATO CENTRO DE CIDADANIA RINALDO DE LAMARE, AV. NIEMEYER 776 – SÃO CONRADO – 22451-260 – RIO DE JANEIRO (RJ) – TEL. 21/3111-1146 – WWW.INSTITUTORACAO.ORG.BR – E-MAIL INSTITUTOREACAO@INSTITUTOREACAO.ORG.BR.

TOM CABRAL

PARA SABER MAIS

SOBRE

conceito de saúde vai além dos cuidados com o próprio corpo. Abrange também os cuidados com o coletivo. É um conceito ampliado que envolve mais conhecimento e aceitação de nós mesmos, o estabelecimento de relações mais solidárias e tolerantes com os outros, e o extremo respeito com o meio ambiente”, diz Nilsa Barbosa de Lira Casé, educadora do projeto. Uma das principais temáticas do curso foi a gravidez na adolescência. A preocupação é justificada. “Nos últimos anos, houve um aumento da incidência de gravidez entre meninas de 10 a 14 anos, um leve declínio entre adolescentes entre 15 e 19 anos e uma redução um pouco mais acentuada entre jovens de 19 a 25 anos”, diz o hebiatra Walter Marcondes Filho.

mesmo tempo, feliz. Sempre quis ter um filho”, diz ele. “Nos encontros, tirei muitas dúvidas e aprendi que o pai deve sempre estar presente e apoiar a companheira para que ela se sinta mais forte e segura.” Ultrapassando obstáculos Força e segurança são necessários sempre que surgem desafios. A batalha por uma vida normal faz parte do cotidiano do estudante paulista Guilherme da Rocha Leite, de 20 anos. Há quatro anos ele sofreu um acidente e ficou tetraplégico. “Estava brincando na piscina do prédio de um amigo. Quando mergulhei, bati a cabeça no fundo. Na hora, perdi o movimento das pernas e dos braços”, diz ele. Lesões na medula decorrentes de mergulhos em piscina ou mar são mais comuns do que se possa pensar e vitimam centenas de jovens todos os anos. “No início, tudo ficou muito confuso. Fiquei muito chateado, mas não me deixei abater. Depois de um mês, já estava saindo de novo pra

“Sempre tive atenção com a minha saúde. Acho que me cuido bem. Não faço extravagâncias e tento estar bem física, mental e espiritualmente. Acho que foi isso que fez com que eu me aproximasse do Centro Nordestino de Medicina Popular, uma organização não-governamental, com sede em Recife, que luta pela efetivação das políticas públicas de saúde. No ano passado, terminei com outros 59 colegas o projeto Jovens Educadores em Saúde Integral. O curso foi uma continuidade da minha vivência com juventude e saúde. Em seguida, fomos atuar como multiplicadores de informações sobre saúde integral em seis escolas públicas da região metropolitana de Recife. Conversamos com os alunos sobre diversos temas, como gravidez, sexualidade, violência e drogas. Para mim, o consumo de drogas é um dos problemas mais sérios da juventude. Acho que a maioria dos jovens não entende o conceito de saúde integral, que considera as várias dimensões do ser humano. Para sermos saudáveis, além de não estarmos doentes, é importante que estejamos em harmonia também com as pessoas, tanto as da nossa rua quanto nossos familiares. Essas relações são importantes e também contribuem para o nosso bemestar e para a manutenção da nossa saúde.”

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DEISE LANE LIMA

BRUNO GARCIA

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SOBRE

PARA SABER MAIS

SOBRE

em São Paulo, e vi que muitos outros jovens tinham o mesmo problema. Passei a encarar de outro jeito. Não apenas como uma doença chata, mas como uma responsabilidade. Se eu não me cuidar, o prejuízo será todo meu”, diz Natália, que hoje trabalha na ADJ tirando dúvidas e prestando esclarecimentos pelo serviço telefônico da entidade. “O mais importante para quem tem diabetes é ser consciente de seus limites. Com a doença, aprendi que é possível ter uma vida normal e até mais saudável do que outros colegas que não têm nenhum problema.”

PARA SABER MAIS

balada com os amigos. Com o tempo, aprendi a conviver com minha nova condição”, conta. No ano passado, Guilherme criou com dois amigos – Willian Coelho, também deficiente, e Luka – o Movimento Superação (www.movimentosuperacao.com.br), uma associação que luta pelos direitos dos portadores de necessidades especiais. “O foco da nossa batalha é a acessibilidade em lugares públicos e privados. Queremos simplesmente usufruir do direito básico de ir e vir. Hoje, esse direito é uma lenda”, diz Guilherme. Mais livre se sente agora a estudante paulista Natália Bellin, de 16 anos. Portadora de diabetes do tipo 1, ela precisa fazer aplicações diárias de insulina. “Descobri que tinha diabetes em 2001. Meu mundo caiu. Só pensava que nunca mais poderia comer doce e que teria que tomar injeções todos os dias. Também me preocupava com que os outros iam achar ou pensar de mim”, conta. “Com o tempo, descobri que não era nada disso. Comecei a freqüentar a Associação de Diabetes Juvenil (ADJ),

O CARIOCA RODRIGO BORGES DA SILVA, de 24 anos, pratica jiu-jitsu desde pequeno e é monitor do esporte

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A ESTUDANTE PAULISTA NATÁLIA BELLIN, de 16 anos, aprendeu a conviver com o diabetes

ASSOCIAÇÃO DE DIABETES JUVENIL ÁREA DE ATUAÇÃO BRASIL. PROPOSTA PROMOVER EDUCAÇÃO EM DIABETES PARA SEUS PORTADORES, FAMILIARES, PROFISSIONAIS DE SAÚDE E COMUNIDADE, FAVORECENDO A QUALIDADE DE VIDA. JOVENS ATENDIDOS 1.500 POR MÊS. APOIO ABBOTT MEDSENSE, BD-BOM DIA, SANOFI AVENTIS, DOCE MUNDO DIET, DOCES HUÉ, HOTMA, JOHNSON&JOHNSON, MERCK E ROCHE, ENTRE OUTROS. CONTATO: RUA PADRE ANTONIO TOMAS, 213 – ÁGUA BRANCA – 05003-010 – SÃO PAULO (SP) – TELS. 11/3675-3266 0800-100627 – WWW.ADJ.ORG.BR – E-MAIL ADJ@ADJ.ORG.BR.

PROGRAMA DE APOIO AO JOVEM PAI DO INSTITUTO PAPAI ÁREA DE ATUAÇÃO PERNAMBUCO. PROPOSTA DESENVOLVER AÇÕES EDUCATIVAS, INFORMATIVAS E POLÍTICAS JUNTO A HOMENS JOVENS EM SITUAÇÃO DE POBREZA, ASSIM COMO ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE MASCULINIDADE A PARTIR DA PERSPECTIVA FEMINISTA E DE GÊNERO. JOVENS ATENDIDOS 69 EM 2004 E 80 EM 2005. APOIO MINISTÉRIO DA SAÚDE, FUNDAÇÃO FORD, FUNDAÇÃO MACARTHUR, OXFAM, SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES, FNUAP, PROGRAMA NACIONAL DE DST/AIDS E SAVE THE CHILDREN. CONTATO RUA MARDÔNIO DE A. NASCIMENTO, 119 L – VÁRZEA – 50741380 – RECIFE (PE) – TELEFAX: 81/3271- 4804 – WWW.PAPAI.ORG.BR – E-MAIL PAPAI@PAPAI.ORG.BR.

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mestres

ENSINANDO QUALIDADE DE VIDA MARCELO ALVARENGA

por _Aydano André Motta

Chamar João de Paula, Marizélia Ribeiro e Maria Antônia do Prado de professores, simplesmente, transformou-se – para sorte de muita gente – numa meia verdade. Os três fizeram das próprias vidas uma aula permanente de como contribuir para o bem-estar geral das comunidades nas quais atuam: eles se entregam a mudar o destino de jovens brasileiros com menos chances de acesso a uma vida de melhor qualidade, seja no atendimento médico, no compartilhamento de uma forma de expressão artística ou na melhoria do ambiente escolar. O trabalho deste trio de mestres é a maior de todas as lições. Pela saúde, não pela doença Quando Marizélia Ribeiro formou-se pediatra, 20 anos atrás, sonhava trabalhar numa unidade de terapia intensiva. “Bonito era atender o grave, trabalhar com a doença, com o diferente”, recorda a médica, que se espantava em ver os pacientes, especialmente as crianças, voltarem sempre com os mesmos problemas. Daí nasceu o questionamento. “Eu me perguntei se estava somente aliviando doenças, e não melhorando vidas.”

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AS ATIVIDADES QUE PROPORCIONAM MAIOR BEM-ESTAR AOS JOVENS SÃO A MAIOR LIÇÃO DE TRÊS PROFESSORES

Um dia, de férias, ela foi conhecer um programa de saúde escolar no interior do Maranhão, onde nasceu e trabalha. O passeio estendeu-se por três anos e mudou para sempre a vida da médica, que passava a semana inteira nas escolas das pequenas cidades do estado, ministrando cursos de prevenção, conscientização e atendimento ambulatorial. Faltava, porém, continuidade. “Não era exatamente o que a população precisava”, diz Marizélia, que fez da saúde escolar tema de sua dissertação de mestrado. Foi o início dos projetos Jovens de Bem com a Vida

Maria Antônia do Prado implantou um programa de cidadania, ética e saúde social na Escola Estadual Prof. José Josende, em Mogi das Cruzes (SP)

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e Adolescentro, que já beneficiaram 10 mil jovens na Vila Embratel, subúrbio pobre de São Luís, próximo à Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Em 1999, a Unicef deu financiamento à iniciativa, voltada para adolescentes grávidas. Foi o ponto de partida para a materialização de parcerias que mantiveram e ampliaram o programa. Hoje, professora da Faculdade de Medicina da UFMA, Marizélia faz das ações sociais também um instrumento de ensino acadêmico – um grupo de universitários aprende a teoria na prática, atendendo a população do bairro. “Valorizamos o ensino no ambiente comunitário, para conhecer a situação das pessoas por inteiro”, diz. “Não adianta vir para o lugar pobre, atender e ir embora. É preciso melhorar a educação, a convivência familiar, o acesso à informação, dar condições para geração de trabalho e renda.” O programa acompanha jovens gestantes, ensina a prevenir a gravidez e as doenças sexualmente transmissíveis, além de prever visitas também da família das adolescentes, com direito a atendimento para as crianças e contato permanente com psicólogos, tudo no Adolescentro, um centro de atendimento de jovens. “Não precisa começar grande, importante é começar, fazer alguma coisa. A satisfação de quem faz e de quem recebe é a maior recompensa”, diz ela, que lamenta a falta de política de planejamento familiar no Brasil – “Recebo 1.200 preservativos por mês, dá apenas para 120 jovens, é muito pouco” –, mas felicita-se por sua opção. “Penso a medicina pelo lado da saúde, não da doença. É bom ser médico para melhorar vidas, e melhorar a sociedade também.”

Contra os estereótipos Para João de Paula, a batalha começou 38 anos atrás, ao nascer cego. A necessidade de superação o acompanha desde a maternidade, e foi aprimorada com a ajuda da filosofia e da música. “A filosofia me ajuda a entender a sociedade”, explica ele, paulista que vive em Florianópolis. “Percebia um mundo que não era pensado para pessoas como eu, o que gerava em mim um conflito e uma enorme sensação de impotência.” Para combater a idéia de incapacidade que vem atrelada à deficiência, João de Paula tornou-se professor, que junta filosofia e música para ajudar seus alunos a mudar essa idéia. “Se usamos recursos específicos para as pessoas cegas, elas terão o mesmo desenvolvimento de quem não tem a deficiência”, prega ele. E prova que a igualdade é viável. Graças a adaptações pedagógicas baseadas no método braile, os alunos com deficiência conseguem resultados semelhantes aos demais. Na Escola Básica Presidente Roosevelt, em Coqueiros, periferia da capital catarinense, onde João de Paula leciona, ele ensina música a estudantes sem deficiência. “Há deficiências sociais mais comprometedoras do que a física”, constata, referindo-se aos alunos do ensino fundamental e médio, que recebem aulas de música fora do turno normal. “Eles voltam para a escola e ficam longe da rua, da convivência com o perigo e a violência.” Outro trabalho voluntário de João de Paula, realizado pela Associação de Atendimento à Criança Deficiente Visual, beneficia alunos da Escola Tradição, no bairro Trindade, em Florianópolis. As

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RICARDO MEGA

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que busco dar a meus alunos, todos eles”, diz João de Paula, que por seu trabalho recebeu o Prêmio Exemplo Voluntário 2005, do Instituto Voluntários em Ação, de Florianópolis.

João de Paula é professor regular de FilosoÞa e dá aulas de música e violão a alunos com e sem deÞciência, em Florianópolis (SC)

SOBRE

O bom, o bem e o belo O estereótipo de diretora da escola como a gerente de uma instituição que zela por ordem e boas notas não cabe, nem de longe, em Maria Antônia do Prado. Há quatro anos no comando da Escola Estadual Professor José Josende, em Mogi das Cruzes (SP), ela implantou uma proposta pedagógica que mudou por completo a vida de

PARA SABER MAIS

aulas de música (violão, sobretudo) e filosofia juntam estudantes com deficiência e os que têm visão normal. “O estudante cego não é desanimado. Ele depende dos estímulos que recebe, em casa e na escola”, diz. O professor lembra que o mundo é organizado para os que enxergam e as informações precisam ser levadas também às pessoas cegas. “O esforço é para oferecer estímulos que levem o aluno com deficiência a entender o mundo”, acrescenta, explicando que o sucesso depende do processo de habilitação, que passa por família, amigos e escola. “Só professor não resolve”, avisa. Sua luta permanente é contra o estereótipo. “A deficiência virou incapacidade no imaginário popular. Para ganharmos espaço e força, precisamos de oportunidades. É o

JOVENS DE BEM COM A VIDA ÁREA DE ATUAÇÃO VILA EMBRATEL, EM SÃO LUÍS (MA). PROPOSTA ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR, COM AJUDA À COMUNIDADE, AULAS PROFISSIONALIZANTES DE COMPUTAÇÃO, ATENDIMENTO MÉDICO E PREVENÇÃO A DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS. JOVENS ATENDIDOS 3.500 PESSOAS POR ANO. APOIO SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE SÃO LUÍS, POLÍCIA MILITAR DO MARANHÃO E FUNDAÇÃO MUNICIPAL DA CRIANÇA E ASSISTÊNCIA SOCIAL (FUNCAS). CONTATO AVENIDA SARNEY FILHO, S/N° – VILA EMBRATEL – 65043-840 – SÃO LUÍS (MA) – TEL: 98/32282634 - E-MAIL: MARIZELIA.NESTOR@ELO.COM.BR.

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ASSOCIAÇÃO DE ATENDIMENTO E INTEGRAÇÃO À CRIANÇA DEFICIENTE VISUAL MANOELLA BASTOS SILVA ÁREA DE ATUAÇÃO TRINDADE, EM FLORIANÓPOLIS (SC). PROPOSTA ATENDIMENTO A CRIANÇAS DEFICIENTES VISUAIS E FAMILIARES, PARA INTEGRÁ-LOS À SOCIEDADE, DE FORMA SISTEMÁTICA, COM ATIVIDADES PSICOLÓGICAS, DE RECUPERAÇÃO DA AUTO-ESTIMA, E AÇÕES SOCIAIS. JOVENS ATENDIDOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL DE 0 A 12 ANOS E SEUS FAMILIARES. APOIO COLÉGIO TRADIÇÃO. CONTATO RUA CÔNEGO BERNARDO, 327 – TRINDADE – 88036-570 – FLORIANÓPOLIS (SC) – TELS: 48/32342253 OU 48/32346321 – E-MAIL: DIRECAO@ESCOLAJOSENDE.COM.BR.

estudantes e suas famílias. Chamada 3B – de Bom, Bem e Belo, traduções para aprendizado, comportamento ético e melhoria do ambiente –, a proposta desembocou no programa Mobilização pra Valer, que beneficia mil estudantes por ano. Os resultados são evidentes. Em 2002, o resultado da escola no Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado) era de 32,6%. A média da última aferição chegou a 69,7%. “Hoje eles não são alunos, são jovens protagonistas”, orgulha-se a professora, feliz diante do ganho de auto-estima de estudantes e suas famílias, moradores de uma região muito pobre. No início dessa jornada social, foram os alunos que mergulharam primeiro na idéia, vista a princípio com hesitação por alguns dos 45 professores da escola. “Trabalhamos a ética e a cidadania, mas não podíamos falar disso sem envolver a saúde pública”, diz Maria Antônia, referindose à parceria com o posto de saúde do município, que rendeu palestras de profissionais. Os temas foram doenças sexualmente transmissíveis e planejamento familiar, além de fornecimento de medicamentos básicos e até encaminhamento clínicos. A pedagogia dos projetos incluía aulas de música clássica, dança e valorização das habilidades dos jovens, o que acabou por contaminar a todos. Houve ainda a introdução de peque-

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nas mudanças de comportamento, às vezes singelos gestos de cordialidade, como ter sempre chá e biscoitos para servir aos pais dos alunos que visitavam a escola. “Quando recebemos alguém importante, preparamos alguma coisa. Adotamos esse princípio até hoje, sempre no almoço comunitário”, conta Maria Antônia. Ano passado, uma nova parceria, com a General Motors, rendeu um curso de empreendedorismo para 35 alunos. E três deles ganharam bolsas de estudo na Universidade Brás Cubas, de Mogi das Cruzes. Além disso, 13 alunos venceram o concurso Jovens Protagonistas do Estado de São Paulo, com projetos de gestão ambiental e solidariedade, dentro do Game SuperAção Jovem, desenvolvido pelo Instituto Ayrton Senna e adotado no Programa Escola da Família. É assim que as vitórias vão chegando a uma comunidade que a ação pelo bem-estar físico, psíquico e social tirou do caminho das derrotas.

A médica e professora universitária Marizélia Ribeiro coordena o programa Jovens de Bem com a Vida e o Adolescentro na Vila Embratel, em São Luís (MA)

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FRANCISCO CAMPOS

SOBRE PARA SABER MAIS

SOBRE PARA SABER MAIS

MOBILIZAÇÃO PARA VALER ÁREA DE ATUAÇÃO BAIRRO JARDIM AEROPORTO 3, MOGI MIRIM (SP). PROPOSTA PROGRAMA MULTIDISCIPLINAR DE ATENDIMENTO A ALUNOS E A SUAS FAMÍLIAS, PARA LEVAR ÉTICA E CIDADANIA E MELHORAR A AUTO-ESTIMA, POR MEIO DE AÇÕES COMUNITÁRIAS, ATENDIMENTO MÉDICO PREVENTIVO, PALESTRAS E ATIVIDADES DE INTEGRAÇÃO. JOVENS ATENDIDOS 1.000 ALUNOS POR ANO. APOIO UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE, UNIVERSIDADE BRÁS CUBAS, GENERAL MOTORS, PIZZARIA JAPÃO E COMÉRCIO DE FRUTAS SHIBATA. CONTATO RUA SALGADO FILHO, 4 – JARDIM AEROPORTO 3 – 08761-260 – MOGI DAS CRUZES (SP) – TELS: 11/47249101 OU 11/47216116 – E-MAIL: DIRECAO@ESCOLAJOSENDE.COM.BR.

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caminho das pedras

LIÇÃO

MATERNAL

NO INTERIOR PAULISTA, A ASSOCIAÇÃO LUA NOVA APÓIA JOVENS MÃES EM SITUAÇÃO DE RISCO NA DESCOBERTA DA MATERNIDADE

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Por_Flávia Oliveira Fotos _Gustavo Lourenção A psicóloga Raquel Barros sempre quis usar seus conhecimentos em prol das pessoas em situação de risco social. Com esse propósito, embarcou para a Itália em 1992 para estudar a rede de bem-estar social dos países europeus. Foi trabalhar em Veneza, na Comunidade Terapêutica Villa Renata, instituição dedicada ao atendimento de jovens usuários de drogas. Lá, a brasileira participou da implantação, em 1996, da Casa Aurora, que abriga as mulheres com dependência química e seus filhos. No lar comunitário, elas recebem tratamento psicoterápico e são estimuladas a se relacionar com seus bebês. Raquel passou sete anos na Itália. Quando voltou, trouxe na bagagem a semente que germinou a Lua Nova.

Resumida assim, a constituição da Lua Nova parece simples. Não foi. Renata desembarcou em São Paulo casada havia três anos com um italiano. Ao mesmo tempo em que mergulhava nas questões da maternidade, por conta de seu trabalho na Casa Aurora, descobriu que não poderia ser mãe. Em vez de desistir, dobrou a aposta no desafio de aproximar mães e filhos, fazendo com que esta relação as tirassem do tortuoso caminho das drogas. Nos primeiros anos de volta ao Brasil, Raquel colaborou com projetos ligados também a meninas em situação de risco. Mas a experiência com a Villa Renata ainda a comovia

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– e a motivava. Não tardou a ter a idéia de repetir aqui o modelo a que fora apresentada na Europa. Só que numa escala muito mais complexa do que uma nação desenvolvida oferece: “Queríamos reproduzir a experiência no Brasil, onde o risco social está mais relacionado à pobreza do que às drogas. De imediato, percebi o contraste entre a estrutura de investimento social italiana e a brasileira. Para ficar num exemplo simples: lá, na hora de decorar um quarto, nós escolhíamos a cor das paredes e dos móveis, de modo a criar um ambiente confortável, acolhedor para os bebês. Aqui, agradecemos o sofá usado que nos foi doado”.

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Nem tudo é droga Fosse somente isso, seria fácil. Raquel conseguiu uma chácara na pequena Araçoiaba da Serra, interior de São Paulo, e pensou em abrigar na casa 25 mães e 25 crianças. Planejou os pares sem se dar conta de que, diferentemente da Itália, as jovens aqui, em geral, têm mais de um filho. Lá, a atividade mais intensa era a psicoterapia, para livrar as mulheres do vício. Aqui, elas nem sempre têm problemas de drogas. O grave mesmo é a pobreza, a alimentação deficiente, a falta de moradia, de vínculos familiares. São moças como M. A. F. S., de 23 anos, criada pela avó materna e uma tia, junto com dois irmãos mais velhos, no interior de Pernambuco. A jovem sofreu maus tratos na infância, perdeu o contato com a irmã mais velha, que fugiu de casa, e aos 11 anos foi apresentada às drogas. Aos 19 anos, M. concordou em se internar numa clínica de reabilitação de dependentes químicos em

Salvador, capital baiana. Ao fim do tratamento, mudou-se para Diadema (SP), onde foi morar com um tio. Nove meses depois, engravidou e foi expulsa de casa: “Para eles, além de drogada, eu era motivo de vergonha, por ser mãe solteira”, diz. Sem o apoio familiar, M. voltou às drogas. Acumulou dívidas com traficantes e foi torturada com o filho, de apenas 2 meses. O corpo, ainda hoje, exibe marcas. Com medo, fugiu para um convento na Paraíba, de onde foi encaminhada à Associação Lua Nova. Chegou em agosto de 2002 e se espantou com as regras da casa – jamais tinha se submetido à disciplina. De tão exausta física e

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emocionalmente, decidiu ficar no programa. “A diferença fundamental foi me sentir valorizada na comunidade. Passei boa parte da minha vida ouvindo que eu era imprestável, inútil, incapaz, que só fazia coisas erradas. De repente, estava com pessoas que acreditavam em mim, se preocupavam comigo e me tratavam com carinho e respeito”, conta.

Foi nesse universo de exclusão social e de baixa autoestima que Raquel Barros mergulhou para pôr de pé a Lua Nova. Diante da realidade brasileira, o modelo italiano acabou servindo basicamente como inspiração: “No Brasil, é muito mais simples entender o problema, que normalmente tem a ver com questões de sobrevivência. Difícil é dar conta de toda essa necessidade”, resume a fundadora da Lua Nova, batizada com o nome de uma das quatro fases do satélite, que simbolicamente se relaciona com emoções femininas, maternidade e transformação.

PARA SABER MAIS

SOBRE

Esforço reconhecido Nos cinco anos de funcionamento, a Lua Nova já é reconhecida como uma das mais eficientes organizações da sociedade civil no país. Recebeu em 2002 o Prêmio Criança Abrinq, na categoria convivência familiar e comunitária. Em 2005, seu projeto Empreiteira-Escola, de construção civil, ganhou o Prêmio Empreendedor

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ASSOCIAÇÃO LUA NOVA ÁREA DE ATUAÇÃO INTERIOR DE SÃO PAULO. PROPOSTA ACOLHER MÃES E FILHOS EM SITUAÇÃO DE RISCO, OFERECENDO ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO INDIVIDUAL E EM GRUPO, ASSISTÊNCIA À SAÚDE, EDUCAÇÃO, REFORÇO ESCOLAR, NOÇÕES ESTÉTICAS, MOMENTOS LÚDICOS E CULTURAIS, PROFISSIONALIZAÇÃO E GERAÇÃO DE RENDA, ALÉM DAS ATIVIDADES DE CUIDADOS COM A CASA E COM AS CRIANÇAS. JOVENS ATENDIDAS 22 JOVENS E 37 CRIANÇAS. APOIO SECRETARIA DE ASSISTÊNCIA E DESENVOLVIMENTO SOCIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO E COOPERATIVA VILLA RENATA. CONTATO RUA JOSÉ BATISTA MARTINS, 170 – MIRANTES DE IPANEMA – 18190-000 – ARAÇOIABA DA SERRA – TEL : 15/3297-7303 – WWW.LUANOVA.ORG.BR.

Social, da McKinsey. Hoje, a Lua Nova abriga 22 mães e 37 crianças. Oferece às participantes, além da proposta original de fortalecer o vínculo entre mães e filhos, abrigo e alimentação; atendimento sociopedagógico e psicoterápico; e qualificação profissional para permitir que as mulheres, ao saírem de lá, tenham condições de se manter e aos filhos. Há cursos de silk screen, costura, brindes, confecção de bonecas, produção de cosméticos, medicamentos e alimentos fitoterápicos e, o mais recente, fabricação de tijolos e técnicas de construção civil. As atividades beneficiam também famílias não abrigadas na Lua Nova. M. participou do projeto Criando Arte e hoje trabalha com adolescentes no grupo de redução dos danos do uso do álcool e de drogas. Coordena um grupo de teatro que se apresenta em bairros de Sorocaba, onde vive com o filho desde que saiu do acolhimento – o período médio de permanência na casa é de nove meses, que pode ser prorrogado de acordo com a idade e

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as necessidades das meninas. “Muitas moças”, explica Raquel, “são menores e, sem família, teriam de voltar às ruas, se deixassem a casa.” A jovem mãe já representou a Lua Nova num seminário internacional e é autora de um livro, em que conta sua história de vida e fala sobre a experiência na associação. Ela confessa que chegou a pensar em entregar o filho para a adoção, mas hoje vibra com a maternidade: “Ficar com ele foi a melhor e a mais maravilhosa decisão de minha vida. Aprendi que não basta dar banho, alimentar, vestir. É preciso dar carinho, coisa que nunca recebi”. Alegria materna A proximidade com os filhos também é a razão da alegria de P. O. S., de 18 anos, mãe de um casal, de 1 e 3 anos. Ela não conheceu os pais e cresceu num abrigo, no Guarujá, litoral de São Paulo. Ficou na Lua Nova por quase dois anos e, neste início de ano, se preparava para mudar com os dois filhos para a casa alugada que vai dividir com a amiga S., também abrigada na Lua Nova com dois filhos. No abrigo, elas recebem uma bolsa de R$ 100. Ao sair, continuarão trabalhando na Empreiteira Escola, recebendo, cada uma, um salário mensal. “Com esse dinheiro, vai dar para pagarmos o aluguel até as nossas casas ficarem prontas. Nós mesmas estamos construindo. Esse projeto foi a minha salvação”, diz.

No projeto de construção civil, as mulheres (abrigadas ou não) aprendem a fazer tijolos ecológicos e a construir uma casa, incluindo a instalação elétrica, ao custo de R$ 9 mil. Na primeira fase do projeto, 12 jovens (duas internas) da Lua Nova estão sendo capacitadas. O passo seguinte é vender os tijolos e ensinar as comunidades vizinhas a construir suas próprias casas e, a partir daí, multiplicar o projeto, especialidade de Raquel Barros. Ela começou sua jornada sozinha, num país estrangeiro. Importou a semente e adaptou-as às condições brasileiras. Viu a semente florescer e, agora, assiste à multiplicação de sua ONG e de sua família. Ela, que nunca temeu um desafio, hoje é mãe de gêmeas, de 3 anos.

INSPIRADA EM UM MODELO ITALIANO, A LUA NOVA TEVE DE SE ADAPTAR AO PADRÃO BRASILEIRO DE INVESTIMENTO SOCIAL E APRENDER A LIDAR COM JOVENS MÃES CUJOS MAIORES PROBLEMAS COSTUMAM SER A POBREZA E A FALTA DE VÍNCULOS

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No alto, jovens embalam os biscoitos feitos na cozinha da associação; acima, o quarto dos bebês; à direita, o trabalho na olaria para a construção de casas próprias; na página oposta, uma sessão de atividade com as crianças

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PROJETOS VISAM A PROMOÇÃO DA SAÚDE INTEGRAL

DIVULGAÇÃO

banco de práticas

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DIVULGAÇÃO

Em relação à saúde, mais do que garantir o acesso aos serviços hospitalares e médicos para as situações de doença, é preciso avançar na obtenção de condições de vida que proporcionem um bem-estar integral. Com essa perspectiva, ONGs e instituições públicas acreditam que a melhoria da saúde dos jovens depende da articulação de várias ações educativas. Por isso apostam numa série de intervenções que pretendem promover o esporte não só como preparação física de atletas, mas como diversão e integração no mundo. Isso vale também para divulgar o prazer do sexo seguro e a gravidez planejada. E vale ainda para assegurar a liberdade de ir e vir numa sociedade menos violenta. A receita do Projeto Kuratomoto, um programa de educação pelo esporte no Mato Grosso, envolve a alegria e a criatividade – e não só a preparação física do atleta, como é mais comum. Aprender brincando, por meio de jogos e modalidades esportivas, cura muitos males: adolescentes oriundos de famílias de baixa renda, do município de Cáceres, por exemplo, vêem seus índices de aproveitamento escolar crescer e se fortalecer – assim como os próprios músculos e a capacidade de viver em grupo. Sexo seguro também é saúde. Não é uma prescrição fácil quando se trata de convencer meninos que se prostituem nas ruas de uma metrópole, como o Rio de Janeiro. O Projeto Programa está há mais de 13 anos fazendo este corpo-a-corpo: alertá-los sobre o risco de doenças e violência a que estão submetidos. Prazer sim, mas com planejamento – é o que repetem aos quatro cantos de Olinda as iniciativas de orientação para jovens do CAIS do Parto, num trabalho de prevenção e assistência à gravidez precoce. Esta é responsável, hoje, pela evasão escolar de 25% das meninas entre 15 e 17 anos. Mas que boa saúde resiste ao medo e à possibilidade de se tornar vítima da violência? O Programa Fica Vivo!, de Minas Gerais, toca na questão e receita diversão, arte e educação, e integração entre jovens e forças policiais. A seguir, saiba mais sobre esses projetos:

RODRIGUES MOURA

por_Leusa Araujo

TOM CABRAL

CONDIÇÕES DE BEM-ESTAR

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Cáceres (MT)

Projeto Kuratomoto de educação pelo esporte

Olinda (PE)

Ligeiramente Grávida, programa da CAIS do Parto

Esporte e saúde jogam no mesmo time no Projeto Kuratomoto, implementado pela Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat) com tecnologia social desenvolvida pelo Instituto Ayrton Senna, e que tem a chancela da Unesco. “O esporte é um dos eixos deste programa interdisciplinar, que também promove atividades artísticas e ações de apoio à escolarização, orienta e faz prevenção de saúde”, diz a coordenadora Orozina Cândida de Freitas. Com a prática esportiva foi possível, por exemplo, fazer exames laboratoriais para >>

Há mais de 14 anos dedicada à causa da humanização do parto, treinando e organizando parteiras tradicionais em todo o país, era natural que o CAIS do Parto (Centro Ativo de Integração do Ser) atuasse também na educação sexual de adolescentes e jovens, tanto no apoio a outras ONGs e às escolas municipais como por meio do projeto Ligeiramente Grávida, criado em 2004 para atender jovens grávidas de Olinda. Segundo a diretora Marla Carvalho, a gravidez precoce é abordada com um pré-natal psicológico, feito por meio de grupos de auto- >>

23 Belo Horizonte e interior

Programa Fica Vivo!, da Secretaria de Defesa Social de Minas Gerais

Rio de Janeiro (RJ)

Projeto Programa Instituto IBISS

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Oficinas de esporte, lazer, arte, cultura e comunicação oferecidas pelo programa Fica Vivo! são as portas de entrada para que outras práticas sociais solidárias sejam desenvolvidas por jovens vulneráveis à violência. “Tudo é feito em parceria com as comunidades e com temas levantados pelos próprios jovens”, diz Ludmila Faria, diretora do programa, reconhecido pela ONU como modelo de intervenção em áreas violentas. As oficinas oferecem teatro, dança de rua, grafite, percussão, além de programas de capacitação visando a >>

Por mais de uma década o Projeto Programa vem concentrando seu trabalho junto a uma população pouco visada por ações educativas e de saúde: a dos garotos envolvidos com a prostituição. O alvo são jovens que têm na prostituição uma fonte eventual de renda, mas não se enquadram no perfil do profissional do sexo, explica um dos coordenadores, o psicólogo Roberto Pereira, lembrando que a ação é necessária em ambos os casos, mas com diferentes abordagens. O jovem >>

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>> redução da verminose, responsável pela fadiga durante os exercícios físicos. Ainda que o foco do projeto não seja a formação de atletas, nada impede que um Kuratomoto se torne campeão. E nas modalidades mais inusitadas, como o futvendavol, uma fusão do futebol com cabra-cega, em que socialização e cooperação con-

>> ajuda. O enfoque recai sobre os direitos reprodutivos e as condições biológicas e psicológicas que envolvem a gravidez, o parto e o nascimento das crianças. Ao contrário do que se pensa, a primeira gravidez da menina freqüentemente é desejada, como forma de escapar de condições de vida muito desfavoráveis: “Ela cuida

>> inserção produtiva de 5 mil jovens. Ao mesmo tempo, o policiamento é feito pelo Gepar (Grupamento Especializado em Policiamento em Áreas de Risco) – uma polícia comunitária. Assim, promove-se a melhoria das relações da população com a polícia, fundamental para a mediação dos conflitos. Com isso, os jovens vão, aos

>> atingido pelo Projeto Programa está na faixa de 15 a 18 anos, é de baixa renda, com escolaridade de 5ª a 8ª série e, em geral, está desempregado. Quase nunca admite que está praticando um ato de prostituição: “Ele acredita que fazer um programa para obter alguma renda não o coloca na condição do profissional do sexo”, diz Pereira. Um dos objetivos do

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poucos, rompendo com a estrutura de “guetos” e circulando com mais liberdade pelas regiões onde vivem. Resultado de uma parceria entre a iniciativa privada e o Crisp (Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública, da Universidade Federal de Minas Gerais, responsável pela metodologia), o Fica Vivo! se tornou,

em 2003, uma política pública, coordenada pela Secretaria de Defesa Social, por intermédio da Superintendência de Prevenção à Criminalidade de Minas Gerais. No primeiro semestre de 2005, os índices de criminalidade no estado caíram 12% em relação ao mesmo período de 2004, chegando a 22% nas áreas de ação do Fica Vivo!.

projeto é chamar a atenção para o fato de que ele está igualmente sujeito a infectar-se com doenças sexualmente transmissíveis e sofrer violências. Em vez de apenas entregar preservativos e cartilhas, agentes de saúde treinados e supervisionados por psicólogos tentam estabelecer vínculos de confiança com os jovens. Algumas estratégias

sempre acabam atraindo a atenção dos adolescentes: futebol na praia de madrugada; notas falsas de 50 reais com dicas sobre sexo seguro no verso. “O vínculo é condição para que outras ações educativas possam acontecer, como acesso aos serviços de saúde na rede pública, obtenção de documentos etc.”, diz Pereira.

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SOBRE PARA SABER MAIS

SOBRE PARA SABER MAIS

SOBRE

a legislação não permite parto domiciliar), acompanha a amamentação, a adaptação ao bebê, e introduz a discussão sobre o planejamento familiar, com acesso aos métodos anticonceptivos. Ao mesmo tempo, as meninas são treinadas como agentes multiplicadoras, que repassam as informações para a comunidade.

PARA SABER MAIS

da casa e dos problemas domésticos. Prefere, então, morar com o marido e cuidar do seu próprio canto”, diz Marla. Mais tarde, entretanto, quando resolve retomar a vida de outra forma, acaba delegando a criação dos filhos para avós, tias etc. O Ligeiramente Grávida prepara a menina para o parto hospitalar (nessa faixa etária

SOBRE

principal beneficiado pelo projeto”, diz Orozina. As oficinas são desenvolvidas por universitários bolsistas, de segunda a quinta-feira: nas comunidades, para os pequenos, e no campus da Unemat, para os adolescentes. O projeto servirá ainda de laboratório para o curso de Educação Física recém-criado na Universidade.

PARA SABER MAIS

tam mais pontos do que dribles e gols. Mas há lugar para o karatê, a capoeira e o jogo do bastão indígena. Aliás, essa diversidade do programa se expressa no próprio nome: kura é “povo” na língua dos índios bakairi e tomo quer dizer “amigo”, em japonês. “O ‘povo amigo de todos’ traduz bem a mistura étnica do município de Cáceres,

PROJETO KURATOMOTO ÁREA DE ATUAÇÃO BAIRROS CAVALHADA I, II E III, NA VILA IRENE, EM CÁCERES (MT). PROPOSTA EDUCAÇÃO PELO ESPORTE, ALIADO À ARTE, À SAÚDE E APOIO À ESCOLARIZAÇÃO, EM ATIVIDADE DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA, PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES ORIUNDOS DE FAMÍLIAS DE BAIXA RENDA E DE ESCOLAS PÚBLICAS. JOVENS ATENDIDOS 60 ALUNOS DA 2ª FASE DO ENSINO FUNDAMENTAL E ENSINO MÉDIO. APOIO: INSTITUTO AYRTON SENNA, UNIVERSIDADE DO ESTADO DO MATO GROSSO (UNEMAT), E ENTIDADES PRIVADAS E CLUBES DE SERVIÇOS LOCAIS. CONTATO ADMINISTRAÇÃO DO CAMPUS UNIVERSITÁRIO –TEL.: 65/3223-3995; PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO E CULTURA – TEL. 65/3221-0046 – E-MAIL: KURATOMOTO@UNEMAT.BR.

LIGEIRAMENTE GRÁVIDA, PROJETO DO CAIS DO PARTO (CENTRO ATIVO DE INTEGRAÇÃO DO SER) ÁREA DE ATUAÇÃO OLINDA (PE) E MUNICÍPIOS VIZINHOS. PROPOSTA ACOMPANHAMENTO DE JOVENS GRÁVIDAS PARA ORIENTAÇÃO SOBRE OS DIREITOS REPRODUTIVOS E AS CONDIÇÕES BIOLÓGICAS E PSICOLÓGICAS QUE ENVOLVEM A GRAVIDEZ, O PARTO E O NASCIMENTODAS CRIANÇAS. JOVENS ATENDIDOS 15 JOVENS DE 16 E 17 ANOS. CONTATO RUA MARIA RAMOS, 1212 – BAIRRO NOVO – OLINDA (PE) – TEL.: 081/3429-8661.

PROGRAMA DE REDUÇÃO DE HOMICÍDIOS FICA VIVO!, DA SUPERINTENDÊNCIA DE PREVENÇÃO À CRIMINALIDADE, DA SECRETARIA DE DEFESA SOCIAL DE MINAS GERAIS ÁREA DE ATUAÇÃO 15 NÚCLEOS NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE E NO INTERIOR (UBERLÂNDIA, IPATINGA, MONTES CLAROS, GOVERNADOR VALADARES). PROPOSTA ORGANIZAÇÃO DE UMA REDE COMUNITÁRIA DE PROTEÇÃO SOCIAL COM A PARTICIPAÇÃO DE INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS E NÃO-GOVERNAMENTAIS E DA COMUNIDADE LOCAL, PARA INTERVIR NA REALIDADE SOCIAL, DIMINUINDO OS ÍNDICES DE HOMICÍDIOS E MELHORANDO A QUALIDADE DE VIDA DAS COMUNIDADES. JOVENS ATENDIDOS 5 MIL JOVENS DE 14 A 24 ANOS. APOIO: POLÍCIA MILITAR, POLÍCIA CIVIL, MINISTÉRIO PÚBLICO, PREFEITURAS MUNICIPAIS, E ENTIDADES NÃOGOVERNAMENTAIS. CONTATOS RUA RIO DE JANEIRO, 471 – CENTRO – BELO HORIZONTE (MG) – TEL.: 31/ 2129-9620.

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PROJETO PROGRAMA, DO INSTITUTO BRASILEIRO DE INOVAÇÕES EM SAÚDE SOCIAL (IBISS). ÁREA DE ATUAÇÃO RIO DE JANEIRO, NAS ÁREAS DA CENTRAL DO BRASIL, CAMPO DE SANTANA, CINELÂNDIA E CASTELO. PROPOSTA INTERVENÇÃO COMPORTAMENTAL JUNTO A JOVENS DO SEXO MASCULINO, ENVOLVIDOS NA PROSTITUIÇÃO DE RUA, VISANDO DESENVOLVER A PERCEPÇÃO DE VULNERABILIDADE, PROMOVER A ADOÇÃO DE PRÁTICAS DE SEXO MAIS SEGURAS EM RELAÇÃO ÀS DST/AIDS E PROMOVER A REFLEXÃO SOBRE CIDADANIA. JOVENS ATENDIDOS 150 A 200 JOVENS, POR SEMANA. APOIO RECURSOS PRÓPRIOS DO IBISS. CONTATO IBISS – INSTITUTO BRASILEIRO DE INOVAÇÕES EM SAÚDE SOCIAL. AV. MAL. CÂMARA, 350/ 807 – CASTELO – RIO DE JANEIRO, RJ – WWW.IBISS.COM.BR.

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horizonte global

No momento em que o Brasil cria a sua Secretaria Nacional da Juventude e discute o Plano Nacional da Juventude, uma espécie de estatuto do jovem, a discussão sobre a saúde nesta fase da vida ganha ainda maior importância. Com esse debate, a psicóloga costarriquenha Dina Krauskopf tem muito a contribuir. Professora emérita da Universidade da Costa Rica, seu currículo inclui participação na rede de especialistas em políticas da juventude da Organização Ibero-Americana da Juventude, consultoria internacional de juventude de agências das Nações Unidas e diretoria do Instituto de Investigações Sociais de seu país. Nome importante na pesquisa sobre políticas públicas para a juventude na América Latina, ela considera fundamental que a sociedade aprenda a contar com seus jovens: “A fase juvenil tornou-se um período cronológico suficientemente amplo para adquirir sentido em si mesmo e não ser vista apenas como uma transição para a vida adulta. A juventude incorpora a imprevisibilidade e a inovação, absorve o ritmo dos tempos, administra a incerteza. As sociedades necessitam contar com os jovens, com sua capacidade de aprender a aprender e reciclar com flexibilidade suas competências e atitudes, sua alegria criativa e energia vital”. A seguir, os principais trechos de sua entrevista.

CENÁRIO

FAVORÁVEL por_Annette Schwartsman ilustração_Rodolfo Herrera

Onda Jovem: Qual é o cenário atual das políticas públicas para juventude na América Latina? Dina Krauskopf: Hoje, na América Latina, existe um cenário muito favorável ao desenvolvimento de políticas para a juventude. Para isso, contribuem principalmente três fatores: a globalização do enfoque de direitos, o avanço das políticas de atores estratégicos – e não apenas de setores – e a consolidação de identidades juvenis.

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E em relação às políticas de saúde: elas são suficientes? Estão atualizadas? Há várias iniciativas importantes: a OPS (Organização Pan-americana de Saúde, órgão regional da OMS, Organização Mundial de Saúde) impulsionou os programas de atenção integral à adolescência. O Fundo de População das Nações Unidas desenvolve programas de saúde sexual e reprodutiva. A Unicef também contribuiu em relação aos direitos juvenis e sua regulamentação. O enfoque de direitos, de participação e de gênero

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foi um marco importante e as iniciativas se potencializaram e propiciaram alianças valiosas, boas experiências e lições úteis. No entanto, o foco de todas essas políticas foi a adolescência, já que a juventude não recebeu uma atenção específica. E as tendências mais conservadoras ainda combatem as abordagens mais liberais e o acesso dos jovens aos serviços de sexualidade e saúde reprodutiva. Quais são os maiores obstáculos ao desenvolvimento de políticas eficazes? Um deles é que não há uma diferenciação precisa entre o que são políticas e o que são planos de ação, e há sempre o risco de que as ações não se traduzam em programas palpáveis e planejados em parceria com os setores responsáveis. Mesmo que exista um fortalecimento paulatino das instâncias de juventude encarregadas de tornar essas políticas reais, faltam, em muitos dos organismos responsáveis por elas, os aportes necessários do conhecimento das realidades juvenis e a capacidade técnica fundamental para exercer sua coordenação. Finalmente, mas não menos importante, as plataformas de participação juvenil avançaram notavelmente, mas ainda resta um caminho a ser percorrido até que se constitua um sistema de juventude sustentável, articulado e estável. Quais são os avanços mais significativos e as tendências mais recentes na área? Creio que o avanço mais significativo foi a mudança de paradigma. Hoje, o conceito de saúde como “ausência de doença” foi substituído pelo conceito de saúde como “direito, desenvolvimento e construção social”. Quais países têm se destacado na implementação de políticas de saúde para jovens e com quais programas? Em muitos países da América Latina existem valiosas experiências em relação à saúde na adolescência. A Argentina tem iniciativas importantes, entre as quais o programa amplamente participativo que se

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A PESQUISADORA DINA KRAUSKOPF, DA COSTA RICA, DIZ QUE A AMÉRICA LATINA ESTÁ AVANÇANDO NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS DA JUVENTUDE, INCLUSIVE NA ÁREA DE SAÚDE desenvolve na região da Patagônia, onde se integram forças juvenis, universitários, educadores e o governo local, além de apoio internacional, sob a liderança da dra. Monica Borile. Há também um programa de âmbito clínico em Buenos Aires, sob a liderança das doutoras Dina Pasqualini e Maria do Carmen Hiebra, que, associado à Universidade de Buenos Aires, forma profissionais de qualidade em cursos à distância. Como tem sido a experiência da Costa Rica? A Costa Rica é um dos países pioneiros no desenvolvimento de programas de atendimento integral à adolescência. Há um programa nacional inserido em seu sistema único de saúde, a Caixa Costarriquense de Seguro Social. Esse programa tem uma abordagem integral, um forte desenvolvimento na promoção da saúde e do atendimento preventivo, assim como na participação dos jovens de ambos os sexos nos diversos níveis de ação. Entre suas dificuldades, está o fato de a capacitação dos funcionários ser afetada pela rotatividade que eles experimentam dentro do próprio sistema. A participação juvenil se mantém forte, consolidada numa rede de adolescentes que se incorporaram à Coligação de Jovens na luta contra a Aids.

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Como a sra. vê a situação brasileira? De forma favorável, já que existe um forte compromisso e agentes capacitados para dar continuidade às políticas de juventude, com uma abordagem participativa e avançada. O que o Brasil e a Costa Rica podem aprender um com o outro? Creio que o primeiro passo seria aprender a trocar informação e a compartilhar as lições e os avanços assimilados. Lamentavelmente, na América Latina existem poucas oportunidades para conhecer publicações, experiências e propostas dos diversos países.

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SEXTANTE

TRAVESSIA ARRISCADA É inegável que discutir temas como saúde, contemporaneidade e juventude, não significa navegar em águas tranqüilas e cristalinas. Além da variabilidade dos próprios conceitos de saúde e de adolescência, também a noção de “contemporaneidade” é múltipla. Mas, sobre ela, muitos parecem concordar em relação aos seguintes aspectos: que os efeitos da globalização, da aceleração e da primazia do mercado nas trocas econômicas são especialmente o individualismo e as questões da problemática de construção da identidade e da configuração da subjetividade das pessoas. Poucos devem discordar das afirmações de que estes tempos são especialmente cheios de excessos e aspectos instáveis. Então, os jovens também são obrigados a lidar com essa grande quantidade de elementos que invadem a todos nós, com conseqüências especiais em relação às questões de formação da chamada “identidade” – no sentido de descrição do EU, da auto-identidade. Ou, dito de outra forma, da idéia construída pela pessoa a respeito de si-mesma em sua própria existência.

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Vivemos tempos de tecnicismo, individualismo e consumismo – e estes aspectos atingem a todos, especialmente à juventude. Sentimentos de desenraizamento se manifestam a partir das transformações sociais e econômicas. O atual embaralhamento e a redução das percepções das pessoas em relação à familiaridade com seu local de viver e com a duração do tempo para realizar suas atividades aumentam os antagonismos e a competição. O excesso, antes encarado como descontrole, que conduzia ao desperdício e devia ser evitado, agora é desejado como “norma”, significando a ampliação quase ilimitada de possibilidades, para além dos controles, encarados como limites indesejáveis. Por outro lado, há elementos na vida moderna que aumentam a sensação de que o presente vivido se tornou muito pesado. Viver o cotidiano pode ser uma experiência desgastante, atordoante e exaustiva, inclusive porque há um exagerado aumento de escolhas possíveis nas atividades diárias. Para os que não desfrutam de condições de vida aceitáveis, a luta literal pela sobrevivência pode adquirir feições muito duras e, por vezes, indignas. Ambivalências do risco Na atualidade, a relação do ser humano com o seu futuro em termos de destino ainda pode levar em conta pontos de vista místicos e religiosos, tradicionais ou não. Mas a noção científica de risco vai se tornando uma perspectiva cada vez mais vigorosa. Configura a importância de posturas e práticas calculistas que visam ao controle das diversas situações de vida em termos de custos e benefícios. O risco se constitui numa forma presente de descrever o futuro, sob o pressuposto de que se decide qual o futuro desejável e qual a ação neste sentido. Esse modo de pensar o futuro traz uma grande preocupação com o adiamento da morte. E, para isso, no dito senso comum, a fuga dos riscos se tornou sinônimo de estilo de vida sadio, com administração ponderada dos comportamen-

Por_Luis David Castiel Luis David Castiel é médico, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública – Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro

tos arriscados, quando não puderem ser eliminados. Ao mesmo tempo, há incentivos a assumir e correr riscos, sob o ponto de vista da “aventura”. A “busca da adrenalina” surge como uma sensação desejada. Obviamente, tais propostas se dirigem aos agentes de consumo. Nessa perspectiva, o adolescente sofre pressões vigorosas para consumir, constituindo-se em alvo da publicidade e das ofertas no mercado. O medo permanente Cabe lembrar que as discussões sobre risco vão além das abordagens estritamente científicas. A noção “risco” aparece em muitas e distintas formas e envolve aspectos econômicos (desemprego, miséria), ambientais (diversos tipos de poluição), relativos a condutas pessoais (maneiras “indevidas” de relacionar-se com a comida, bebida, exercícios físicos), dimensões interpessoais (formas de estabelecer/ manter relações amorosas/sexuais), “criminais” (eventos vinculados à violência urbana). Todos esses riscos “fermentam”, misturam-se e transbordam para o ambiente sociocultural. Em síntese, a “experiência” de risco partici-

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MUITAS DAS CONDIÇÕES VIVIDAS PELOS JOVENS NÃO SÃO TÍPICAS DA JUVENTUDE, SÃO TÍPICAS DO MUNDO CONTEMPORÂNEO

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HENK NIEMAN

pa da configuração das identidades e da formação de subjetividades. É inegável que as definições técnico-científicas proporcionadas pela epidemiologia procuram estipular precisamente o que é risco. Mais relevante aqui, porém, é a constituição do conceito de risco como uma entidade “virtual”, no sentido de que não existe de fato, mas que pode se materializar, dependendo de certas condições. Essa possibilidade traz uma dimensão curiosamente “concreta”: o risco passa a ter substância para nós. Assim, ele pode ser objetivado e explicado em termos de possíveis

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causas que, por sua vez, conforme as circunstâncias, podem ser decompostas em fatores de risco. Operação estatística que permitiria respectivas quantificações e tentativas de estabelecimento de relações de causa e efeito para que seja possível intervir. Uma tarefa trabalhosa e complexa de pais e educadores é justamente administrar a noção de risco nas atividades nas quais se engajam os jovens no seu dia-a-dia, sobretudo nas práticas de lazer. Sempre pode se instalar um “clima” de prevenção aparentemente excessiva ao se explicitar repetitivamente a “presença” de riscos no cotidiano. Algo percebido pelos jovens como limitante e desagradável e fonte de atritos constantes com a família. O que é desconcertante, como já dissemos, é justamente a dimensão virtual do risco. Ou seja, algo que ao mesmo tempo “existe” e “não existe”. Assim, ao se tratar tão somente de probabilidades futuras, baseadas em experiências e impressões anteriores, estas podem não se realizar. Mas, também, infelizmente, podem se

fazer presentes. Esse quadro reflete uma atmosfera de medo e ameaça constante – uma mistura, em parcelas indefiníveis, de imaginação e de realidade. Por mais incômodo e utópico que possa parecer, é preciso enfrentar discursos ingênuos ou conservadores sobre os riscos que afetam a fase juvenil da vida. Essa é uma forma de assumir as dificuldades do contexto que afeta a todos nós. Somente assim pode-se criar uma outra atmosfera para além do espírito conformista que parece prevalecer nos nossos tempos. Até no sentido de superá-lo em busca de algo que os jovens são mestres em apontar em sua maneira crítica e sadiamente inconformista. Com eles como aliados, podemos estar todos atentos para enfrentar propostas empobrecedoras do espírito humano que chegam até nós sem pedir licença, sem pudor.

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Saúde e escola dariam um bom encontro e formariam um belo par. Afinal, é na escola que crianças e jovens passam boa parte de seu tempo, é na escola que eles aprendem a construir relações interpessoais no espaço público e a contextualizar a vida coletiva, é na escola que eles estabelecem a relação formal com o conhecimento humano sistematizado – e a saúde é um tema abordado por várias disciplinas do conhecimento. Entretanto constatamos, na vida como ela é, que a escola não tem facilitado esse encontro. Na verdade, a escola tem se desencontrado com a saúde e um dos motivos é sua incapacidade em conseguir escapar da visão fragmentada, medicalizada e moralizadora de saúde e de qualidade de vida que o mundo contemporâneo nos oferece, e dela tem sido prisioneira. E isso só para começar. O conceito de saúde é bem complexo e não se restringe a noções de higiene, alimentação e doenças. E costuma ser por esses eixos que a escola aborda o tema, todos eles associados ao enfoque assistencialista e terrorista, este chamado ingenuamente, na escola, de prevenção. Vejamos, por exemplo, como é tratada a saúde sexual, tema tão caro aos jovens e a seus educadores. Em primeiro lugar, promover a saúde sexual costuma ser um objetivo equivocadamente identificado, pelos professores, ao de ensinar o sexo saudável. Isso resulta em estratégias bem conhecidas por todos os que se

Rosely Sayão é psicóloga, consultora educacional, autora de livros, entre os quais “Como Educar meu Filho?”, e colunista do jornal “Folha de S. Paulo”

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por_ Rosely Sayão

DUPLA

SOBRA MORALISMO E FALTA SENSO CRÍTICO E REFLEXIVO NAS AÇÕES DA ESCOLA PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE relacionam com a escola. Aulas e mais aulas de biologia para ensinar aos jovens alunos o funcionamento do aparelho reprodutivo, sua anatomia e fisiologia etc. são programadas; para que aprendam a evitar as doenças sexualmente transmissíveis, os alunos são apresentados a visões terríveis de órgãos sexuais deformados ou purulentos; para que evitem a gravidez indesejada, são ameaçados com a idéia de uma vida de prazeres e desobrigada de compromissos interrompida pela vinda de um filho; para que não ousem utilizar o recurso do aborto, são obrigados a assistirem a vídeos ficcionais – de terror, se fossem adequadamente qualificados – em que um feto relata seu calvário até a interrupção da gravidez. Algumas escolas, mais atualizadas com a vida dos jovens, chegam a distribuir camisinhas a seus alunos em meio a aulas de “educação sexual”, nas quais perguntas de todos os tipos são prontamente respondidas pelos (des)preparados mestres. Nessas estratégias de ação escolar, reconhecemos com clareza a prioridade que a escola dá à doença, à informação que prioriza o indivíduo e a natureza assistencialista a que se propõe. Isso sem falar do tom descaradamente moralizante de suas lições, é claro.

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SAÚDE E EDUCAÇÃO

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DESENCONTRADA

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90º Outro exemplo rico em equívocos é a maneira como é tratado pela escola o tema das drogas, lícitas ou não. Aos jovens, uma única coisa é ensinada: que usar drogas não é saudável e é perigoso. Entretanto, essa informação vem desvinculada da transversalidade – fato esse já previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais – e descontextualizada de nossa realidade. A idéia de que vivemos em uma sociedade que faz a apologia das drogas na medicina, na agricultura, na vida em geral, é desprezada como se não tivesse relação alguma com o tema. Do mesmo modo, a cultura social que prega que se evite quase que por encanto o sofrimento tanto quanto o estímulo ao consumo de tudo o que é ofertado no mercado não são associados ao tema. Como no exemplo da sexualidade, sobra moralismo e falta senso crítico e reflexivo nas ações que a escola empreende buscando promover a saúde. Apesar de tantos desencontros, a escola é o espaço ideal e real para que a idéia de saúde seja estimulada, principalmente junto aos jovens. Para tanto é preciso, antes de tudo, que o conceito de saúde seja considerado em seu aspecto global. Assim, as condições ambientais, econômicas, políticas e socioculturais devem ser levadas em conta na construção da idéia de saúde ou bem-estar tanto quanto as condições psicológicas e comportamentais. O conceito de qualidade de vida, tão em moda nos tempos atuais, precisa ser visto e revisado, já que a saúde se expressa de forma diferente nos sujeitos com estilos de vida diversos. É no Projeto Político Pedagógico (PPP) que o coletivo profissional da escola deve explicitar sua intenção de trabalhar a saúde. Como o caráter

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da escola é público, é no coletivo que essa construção deve ser realizada a fim de que a escola como um todo se aproprie do plano de educação para a saúde. Mas só esse trabalho inaugural em equipe não garante que o conceito de saúde que será exercitado naquela unidade escolar, com identidade própria e uma relação de pertencimento com uma comunidade, seja apropriado e realizado por todos, mas ele é condição fundamental para que a educação seja praticada de forma coerente com a intenção expressa. Neste momento, vale uma um parêntese reflexivo a respeito do PPP. Em grande parte das escolas esse instrumento transformou-se em peça de ficção, que nada tem a ver com a educação efetivamente praticada no espaço escolar. Para que esse instrumento seja real, é necessário o compromisso ético e social dos profissionais da educação que trabalham na unidade escolar de que realizem, de fato, as ações educativas necessárias para que a escola cumpra seus propósitos explicitados no PPP. A partir de então, é preciso apenas honrar o compromisso firmado, levandose em consideração alguns pontos fundamentais. Um deles é o de que deve ser priorizado na escola o caráter da saúde pública, ou seja, da coletividade, sem, entretanto, se desprezar o aspecto pessoal dela, princi-

A ESCOLA TEM CONFUNDIDO PREVENÇÃO COM UMA ABORDAGEM ASSISTENCIALISTA E TERRORISTA DA SAÚDE SEXUAL E DO USO DE DROGAS

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O assistencialismo ao jovem deve ser substituído pela idéia de autocuidado e este não existe sem autonomia, que precisa ser construída junto com a prática da liberdade, inclusive para fazer escolhas

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pelos jovens. Liberdade é sempre liberdade de escolha, e as escolhas efetuadas por eles devem ser respeitadas, estejam ou não em conformidade com os preceitos ensinados na escola. Felizmente, contamos hoje com a política de redução de danos que pode fundamentar vários tipos de trabalho na promoção da saúde possível à maioria dos jovens de nosso país.

“É preciso integrar a educação e a saúde. O profissional de saúde tem de estar na escola e o educador no centro de saúde. Comecei a perceber a importância dessa aproximação para a formação dos jovens ao participar de oficinas de saúde promovidas por um médico na escola estadual em que fiz o ensino médio, no Butantã, Zona Oeste de São Paulo. Era um programa que buscava reduzir a vulnerabilidade dos jovens em relação às DST/Aids e eu me tornei uma multiplicadora desse aprendizado entre os estudantes. A partir dessa experiência, passei a integrar o projeto Jovem Inventivo, criado para ampliar a discussão sobre saúde nas escolas da região. Promovemos uma instalação de arte itinerante, a barraca “Sexo, Libido e Manifestação”, para sensibilizar outras escolas e jovens. Também desenvolvemos o projeto BatePapo, de aproximação com os profissionais de saúde para levantar a situação do atendimento aos jovens nos serviços de saúde. Com essas atividades, percebemos que esses serviços não atraem o jovem porque estão mais focados na doença do que na promoção da saúde geral. A escola também não atende o jovem nessa questão. Até promove palestras informativas, mas que não tocam o jovem. Porque não adianta falar do uso de camisinha apenas sob o enfoque da prevenção da gravidez. Os serviços de saúde e as escolas têm de se unir para preparar o jovem para a vida, passar informação que tenha sentido para a vida dele, que o leve a refletir sobre suas escolhas e projetos de vida.”

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DAVILYM DOURADO

palmente quando se trabalha com jovens. Isso significa abdicar por completo da atitude assistencialista e assumir como meta a idéia do autocuidado. Esta não existe sem a autonomia, que deve ser igualmente construída, encorajada e exigida já que é a contar da heteronomia que ela se origina. Outro fator igualmente importante é o trabalho de estabelecimento e manutenção de relações interpessoais justas, solidárias e respeitosas entre todos os integrantes do processo educativo; o clima democrático e participativo da comunidade escolar é condição para que a saúde, em sua compreensão global, seja promovida no cotidiano escolar. Finalmente, o compromisso da escola com a liberdade é fundamental para que a saúde seja um conceito possível de ser apropriado

CAMILA SILVA TAVARES, 20 ANOS, integrante do projeto Jovem Inventivo, criado pelo médico Haraldo Cesar Saletti Filho, coordenador do Programa de Atenção à Saúde do Adolescente, do Centro de Saúde Escola Samuel Barnsley Pessoa, da Faculdade de Medicina da USP

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SAÚDE E JUVENTUDE

POR HORIZONTES

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por_Gabriela Calazans

seja na abordagem da imprensa, da universidade, das políticas públicas ou do terceiro setor. As estatísticas produzidas pela saúde pública, tanto no campo da sexualidade e saúde reprodutiva, do uso de álcool e outras drogas, quanto no campo da mortalidade de jovens por causas violentas, têm servido à representação da juventude como um problema social. Esses índices têm alimentado diversos discursos, justificando propostas de ação na perspectiva de correção e controle dos rumos experimentados pelos jovens, entendidos como problemáticos. Mas será que é verdade que jovens, por serem despreparados, imaturos ou irresponsáveis, “escolhem” mal seus caminhos e agravam sua saúde? Entendo que para compreender melhor as interfaces entre saúde e juventude, precisamos começar a conversa discutindo melhor o que é a condição juvenil e quais os seus sentidos na sociedade brasileira atual. Condição juvenil É inegável que há uma singularidade nos sentidos da juventude. Período intermediário entre a dependência infantil e a completa autonomia que, em tese, caracteriza a vida adulta, a juventude pode ser compreendida como um momento em que esta busca de autonomia se torna central na construção da identidade, pessoal e coletiva. Neste processo de construir-se como autônomo, a atitude de experimentação do jovem se faz presente. É um momento em que se concentram muitas das “primeiras vezes”, especialmente de comportamentos identificados como adultos. O primeiro beijo, o/a primeiro/a namorado/a, o primeiro gole, a primeira transa, o primeiro emprego... No entanto, a pesquisa Perfil da Juventude Brasileira (Projeto Juventude, 2005) revela que os interesses e as preocupações dos jovens voltam-se predominantemente às temáticas do emprego e do mercado

FOTOS: HENK NIEMAN

Há dois grandes desafios a serem enfrentados na análise e na ação sobre a saúde de adolescentes e jovens. O primeiro deles é o de escapar de uma concepção que podemos chamar “naturalizante”. O que vem a ser isso? A juventude tem como um de seus marcadores os processos de transformação corporal experimentados na puberdade. Assim, não só nessa perspectiva do senso comum, como também aos olhos de muitos profissionais, especialistas e teóricos, ela é compreendida somente como um processo “natural” calcado no amadurecimento hormonal associado ao desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários. O “poder dos hormônios” tem justificado a relevância da ação educativa de profissionais de saúde que trabalham com adolescentes e jovens em todo o país. No entanto, parece-nos que há argumentos mais interessantes para justificar tal trabalho. Inúmeros estudos e a experiência de trabalho têm nos mostrado que a saúde e o adoecimento das pessoas têm a ver com sua condição de vida e decorrem de seus modos de viver a vida, dos espaços sociais de que dispõem em busca de sua realização pessoal, dos sentidos que orientam sua procura pela felicidade, dos hábitos e comportamentos possíveis nesta construção pessoal, que é condicionada socialmente. O segundo grande desafio a ser enfrentado é o de resgatar essa discussão do campo do “problema”. Essa é uma das principais representações do discurso sobre os jovens,

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MAIS SAUDÁVEIS É PRECISO REPENSAR A PROMOÇÃO DA SAÚDE CONSIDERANDO QUE OS MODOS DE VIDA PROPORCIONADOS À JUVENTUDE BRASILEIRA CONTRIBUEM PARA A SUA MORTALIDADE

Gabriela Calazans é psicóloga, especialista em Saúde Coletiva, mestre em Psicologia Social. É responsável pelas ações de prevenção voltadas a jovens no Programa Estadual de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo

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de trabalho, segurança, violência, cultura e educação, mostrando-nos o pano de fundo de suas condições de vida e de saúde. Indica pontos de afunilamento dos horizontes destes jovens, gargalos que ameaçam a sua realização pessoal e a construção de seu projeto de vida. O relatório de conclusão do Projeto Juventude ajudou a compreender que os jovens estão entre as principais vítimas da forma de desenvolvimento econômico e social adotado pelo Brasil nas últimas décadas: representam 47% do total de desempregados do país; 50% deste contingente populacional estava fora da escola em 2001 e somente 42% da população de 15 a 24 anos chegou ao ensino médio. Além disso, a taxa de homicídios na população jovem é de 54,5 para cada 100 mil, ante 21,7 para a população geral. Tais condições de vida tornam muitos jovens mais vulneráveis aos diversos determinantes dos agravos em saúde. Importante salientar, porém, que as condições de vida de adolescentes e jovens não são homogêneas. Eles não dispõem de condições igualitárias de acesso às políticas e aos direitos sociais, nem são igualmente afetados pela violência. Jovens também não podem ser exclusivamente responsabilizados pelos rumos tomados na organização das prioridades de nossa sociedade. No entanto, estão submetidos a uma forma de inserção no mundo social que determina a adoção de práticas cotidianas que os diferenciam de outros grupos etários. Obstáculos enfrentados em suas

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“Tenho uma visão comunitária da saúde, no sentido de que todos têm de aprender a se cuidar e não ficar dependendo somente de médico. Em comunidades como Carariaca, onde nasci, às margens do rio Amazonas, a mais de duas horas de barco de Santarém, no Pará, esse é um aprendizado necessário. E é a visão que procuro transmitir como coordenador da Rede Mocoronga, um programa de educação, cultura e comunicação, braço jovem do projeto Saúde e Alegria. Entrei no projeto aos 14, 15 anos como monitor mirim, participando de oficinas de arte-educação para transmitir noções de higiene e educação para a cidadania. Mais tarde, em um projeto juvenil de comunicação comunitária, passamos a divulgar soluções que as comunidades encontravam para este ou aquele problema de saúde. Daí surgiram as comissões locais integradas de saúde. Todos os segmentos da comunidade têm representantes e acompanham as atividades, com a idéia de que saúde é um estado de bem-estar individual e coletivo, em que todos dependem de todos. Na rede Mocoronga, tentamos mobilizar os jovens com atividades de seu interesse. Numa olimpíada esportiva, por exemplo, trabalhamos a prevenção contra as DST/ Aids. Cada time tinha de apresentar um número artístico, como música ou teatro, sobre o tema. Geramos assim muita informação para o jovem aprender a se cuidar. Não adianta cuidar da saúde sem cuidar da educação. Uma coisa que aprendi no Saúde e Alegria é que a saúde é a alegria do corpo, e a alegria é a saúde da alma!.”

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EDSON QUEIROZ

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AS AÇÕES DE SAÚDE BEM-SUCEDIDAS ALARGAM A COMPREENSÃO DA CONDIÇÃO JUVENIL, SEM SE LIMITAR À PREVENÇÃO DE COMPORTAMENTOS DE RISCO

FÁBIO ANDERSON RODRIGUES PENA, 25 ANOS, coordenador da rede Mocoronga de Comunicação Popular do projeto Saúde e Alegria, que atua desde 1987 em comunidades ribeirinhas da região oeste do Pará (www.saudeealegria.org.br)

vidas provocam comportamentos que muitas vezes correspondem a estratégias de resistência, num contexto adverso, que podem desembocar em situações de risco e vulnerabilidade. É neste âmbito que precisamos compreender a saúde de adolescentes e jovens. Saúde da juventude A adolescência e a juventude são momentos do ciclo de vida particularmente saudáveis. Apesar da área da saúde ter tradição de produção de informações e dados, há poucos números sobre jovens. Chamam a atenção, no entanto, as estatísticas relativas à mortalidade e à saúde sexual e reprodutiva desse segmento. Jovens morrem proporcionalmente muito no Brasil, e suas mortes são, em sua maior parte, categorizadas como originadas por causas externas. Tendo em vista serem saudáveis, em sua maioria não morrem vitimados por doenças, mas por acidentes, homicídios e suicídios. Se tais causas são externas aos organismos dos jovens, não são externas às suas vidas. Os modos de vida proporcionados à juventude em nossa sociedade ocasionam sua alta mortalidade. Os dados da área de saúde também nos ensinam que as mulheres adolescentes e jovens são responsáveis por cerca de 20% dos partos ocorridos na rede pública. Há maior proporção de adolescentes grávidas nas regiões mais pobres do país e nas periferias das regiões com maior desenvolvimento social, apesar de não ser um

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fenômeno exclusivo da pobreza. É um fenômeno predominantemente feminino. Na pesquisa Perfil da Juventude Brasileira, 22% dos jovens de 15 a 24 anos tinham filhos. Na faixa etária de 15 a 17 anos, 1% dos rapazes tinham filhos, contra 7% das moças. Dos 18 aos 20 anos, 6% dos rapazes eram pais, enquanto 29% das moças eram mães. Contrariamente ao senso comum, no entanto, 40% dos jovens de 15 a 24 anos declararam ter planejado seus primeiros filhos. Diferentemente também da propagada irresponsabilidade juvenil, os estudos recentes sobre comportamento sexual mostram que esse é o grupo populacional que mais usa preservativos no país. Aprendizados e propostas Temos observado que as ações bem-sucedidas na área de saúde são as que têm conseguido alargar a compreensão dos contextos da vida juvenil, sem se limitar ao caráter preventivo contra eventuais compor-

No Brasil, os jovens morrem principalmente por acidentes, homicídios e suicídios. Se tais causas são externas aos organismos dos jovens, não são externas às suas vidas

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tamentos de risco. Aprendemos que a abertura dos novos horizontes da promoção da saúde tem podido ofertar suporte social à realização dos projetos de vida de adolescentes e jovens. Neste sentido, um dos focos prioritários de ação deve ser o trabalho intersetorial, tendo por base o território local. Uma das estratégias para a efetivação desta proposta seria a constituição de redes de compromisso em relação aos jovens, articulando agentes de diversos setores: saúde, educação, trabalho, cultura, esportes, justiça, segurança etc. Outra possibilidade de ação é a instalação de equipamentos múltiplos, como os centros de juventude, como espaços para encontro e convivência dos jovens entre si e com os agentes públicos, por intermédio dos quais informações podem ser disseminadas e partilhadas e as propostas de ação podem ser formuladas, debatidas e programadas. Com relação às demandas específicas por políticas públicas, uma das ações mais urgentes refere-se à mudança da “cara” dos serviços de saúde, vistos como não acolhedores aos jovens. Esses serviços precisam abrir-se a esse público, dispondo-se a acolhê-los. Para tanto, impõe-se também a necessidade do reconhecimento dos jovens como sujeitos autônomos com os quais se pode e se deve dialogar diretamente e não somente por meio da mediação dos pais ou responsáveis legais. Com isso, não se pretende excluir as famílias da interlocução. Outro ponto importante é a incorporação e a ampliação da estratégia de educação por pares, ou seja, o desenvolvimento de ações de educação que privilegiam a abordagem de jovens por outros jovens. Isso vale também para as ações assistenciais, em especial na recepção de outros jovens nos serviços de saúde e na discussão das demandas junto às equipes profissionais. Tal incorporação poderia ser ainda instrumento para formação profissional e iniciação ao trabalho para jovens. Ainda temos muito a aprender neste campo, mas a direção está dada. O convite está feito e há muito a ser feito. Vamos?!

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FOTOS: HENK NIEMAN

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SAร DE E ATENDIMENTO

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EM TROCA DE CUIDADO OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE PRECISAM ESTAR ATENTOS AO PROCESSO DE AMADURECIMENTO MAS TAMBÉM AOS RELATOS PESSOAIS QUE LHES SÃO OFERECIDOS PELOS JOVENS por_Eloisa Grossman fotos_Henk Nieman

Eloisa Grossman é professora da disciplina de Medicina de Adolescentes da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; médica do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente (NESA/UERJ), e coordenadora do Curso de Educação à Distância – Introdução à Saúde Integral dos Adolescentes e Jovens

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Ao examinar a interface saúde, doença, adolescentes, jovens e profissionais de saúde, apresento algumas certezas e muitas dúvidas que têm sido importantes para mim, não só como médica de adolescentes há quase vinte anos, mas também como professora de uma faculdade de Medicina, responsável, portanto, por uma fatia da formação de futuros médicos. Embutida nessa decisão, a primeira grande certeza: distanciar-me de uma engessada transmissão de normas. As pessoas que padecem de sofrimento, em geral, procuram um alívio. Inicialmente em suas famílias, amigos e, posteriormente, buscam aqueles que, em seu entender, detêm um conhecimento específico – os profissionais de saúde. Aqui, lanço a primeira pergunta. Será que nós, profissionais de saúde, estamos preparados e preparando novos profissionais para receber os adolescentes e jovens que nos procuram? Nas últimas décadas, a preocupação com a capacitação dos profissionais de saúde é uma realidade. As modificações no perfil de doenças e causas da mortalidade, bem como a avalanche de novas informações, em velocidade jamais vista anteriormente, têm posto esta temática sob profunda reflexão. A ênfase da formação

médica, por exemplo, passou a estar centrada na interpretação de exames cada vez mais complexos e na prescrição de drogas potentes. Por outro lado, os adolescentes e jovens que nos procuram oferecem seus relatos pessoais em troca de cuidado; não estão apenas procurando a abordagem de seus sintomas e um lugar seguro para o tratamento; querem, além disso, entender e dar significado às suas próprias histórias. Em caminho paralelo, nos nossos dias, não há como negar a importância da prevenção dos agravos à saúde. Poucas áreas da ciência causaram impacto tão profundo na sociedade nos últimos 20 anos quanto à manipulação genética e a possibilidade de desvendar destinos! Entretanto, mesmo assumindo como incontestável a relevância da prevenção, não se deve esquecer que adolescentes e jovens não podem ser qualificados como seres intrinsecamente saudáveis, cujo adoecimento sempre se relacionaria ao meio ambiente ou às vulnerabilidades próprias de seu “turbilhão hormonal”. Seus corpos são, também, compostos de células, órgãos e sistemas sujeitos aos desequilíbrios e padecimentos. Não estão imunes às bactérias, vírus, protozoários e demais agentes infecciosos. Não estão protegidos da agressividade destrutiva desencadeada pelo fato de seus organismos

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O adoecimento do jovem nem sempre se relaciona ao meio ambiente ou às vulnerabilidades próprias de seu “turbilhão hormonal”

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considerarem como estranho um de seus tecidos, desencadeando um “mal-entendido interno”, como em vários casos de doenças da tireóide, enfermidades renais, doenças do colágeno, entre tantas outras. Não estão livres das doenças congênitas. Enfim, adolescentes e jovens são pessoas sujeitas a todos os desvios, perigos e cruzamentos inerentes à própria condição de viver. Essas observações realçam a idéia de que seria necessário e fundamental que o profissional de saúde que atendesse esta clientela específica estivesse atento ao processo de maturação e aos fatos a ele correlacionados, bem como aos possíveis sinais e sintomas dos agravos à saúde prevalentes neste grupo. Alguns pontos aparentemente óbvios também merecem destaque.

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Os adolescentes e jovens constituem um grupo heterogêneo, com diferenças individuais, de idade, de gênero, de meio familiar, de escolaridade, dentre tantas outras. Portanto, modelos de atendimento pré-formatados e de aplicação universal distanciar-se-iam completamente de suas reais necessidades. Perfil e prática Neste momento, uma segunda indagação: seria prudente e aconselhável lançar mão de algumas orientações àqueles que se dispõem a assistir esta clientela nos serviços de saúde? Parece-me que algumas sugestões poderão nos auxiliar na prática cotidiana: conhecer a história do paciente, em vez de estar restrito ao motivo focal da consulta; procurar entender como ele está se sentindo em relação às mudanças (corporais, emocionais e sociais); conhecer o seu relacionamento com a família, com os amigos, na escola; apreciar as suas expectativas em relação à consulta e os seus projetos futuros. Assim, de forma independente da razão principal que motivou o adolescente/jovem a procurar o profissional, cada visita oferece a oportunidade de

detectar e auxiliar na resolução de outras questões. Além disso, cabe ressaltar que a entrevista é um exercício de comunicação interpessoal, que engloba a comunicação verbal e a não verbal. Para além das palavras, deve-se estar atento às emoções, aos gestos, ao tom de voz e à expressão do paciente. Uma terceira questão instiga algumas reflexões. Para mim, é inquestionável a premissa de que não existe um perfil profissional ideal para assistir adolescentes e jovens no que tange aos cuidados de saúde. Por outro lado, algumas características devem ser ressaltadas como muito importantes: estar disponível para atender o paciente e sua família sem autoritarismos; estar atento ao adolescente/jovem e ter a capacidade de formular perguntas que auxiliem a conversação, buscando compreender sua perspectiva; não ser preconceituoso, evitando fazer julgamentos, especialmente no que diz respeito a determinadas temáticas como sexualidade e uso de drogas; buscar, de forma contínua, atualização técnica na área específica de atuação profissional. Outro ponto que incita um aprofundamento é a prática multidisciplinar. Quando o adolescente/jovem é atendido por profissionais de diferentes disciplinas, é aconselhável que haja uma interação entre eles, por meio de discussões conjuntas, quando as decisões serão compartilhadas e adotadas nas diferentes perspectivas, resultando em uma proposta terapêutica mais eficaz. Essa atitude, aparentemente simples, encontra barreiras evidentes

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ADOLESCENTES E JOVENS SÃO PESSOAS SUJEITAS A TODOS OS DESVIOS, PERIGOS E CRUZAMENTOS INERENTES À PRÓPRIA CONDIÇÃO DE VIVER FRANCISCO VALDEAN / IMAGENS DO POVO

na cultura pós-moderna, que segue na direção da fragmentação e dispersão dos saberes. Agravando ainda mais o panorama, é fato incontestável que muitos dos problemas de saúde têm fatores causais fora do alcance resolutivo das políticas e ações de saúde. As conseqüências da violência, dos acidentes de trânsito, da desnutrição são exemplos desta dura realidade. Assim, os profissionais de saúde, em seu cotidiano de trabalho, têm como tarefa adicional a articulação com outras áreas. Em relação às questões éticas envolvidas no atendimento de adolescentes e jovens, cabe ressaltar neste espaço de reflexão as controvérsias sobre o direito do adolescente e do jovem à privacidade e à confidencialidade. A confidencialidade é direito do adolescente, apoiado no artigo 103 do Código de Ética Médica. A quebra do sigilo, também prevista no mesmo artigo, deverá ser realizada com o conhecimento do adolescente, mesmo que sem sua anuência, especialmente nas situações em que a sua segurança esteja ameaçada. Para concluir, trago a lembrança de um documentário – “Camelos também choram” –, que conta a história, passada na Mongólia, do parto difícil de um camelo. A mãe o rejeita e ele, muito fraco, mal se sustentando sobre as pernas, é rechaçado quando vai mamar. O professor de música, chamado para resolver esta situação emergencial, viaja com seu instrumento para tentar resolver a questão. A vibração das cordas se traduz em suave música que parece reordenar os sentidos e as emoções. A mãe, então, inicia um movimento de afagar o filhote e aos poucos vai acolhendo-o e dando-lhe de mamar. Este retrato de uma das facetas da sabedoria milenar nos leva a refletir sobre coisas simples e essenciais. Quem sabe nós, profissionais de saúde, possamos contribuir positivamente para a qualidade de vida de nossos adolescentes e jovens, cultivando a aproximação, a escuta e a atenção particular?

CARLOS FRANCISCO DA CONCEIÇÃO, 18 ANOS, agente multiplicador de informações na ONG carioca Transformarte (www.transformarte.org.br)

“Há 5 anos trabalho como multiplicador de informações na ONG Transformarte, que atua na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro. Por meio das artes, como teatro, discutimos com os jovens questões de cidadania e saúde. Esse é único jeito de o jovem aprender a se cuidar, de ter informação e orientação, porque ele não tem isso na escola e muito menos nos serviços de saúde, que são muito ruins. Só falam de DST e Aids no Carnaval, quando deveriam educar o ano inteiro. É por isso que as pessoas só procuram o médico quando estão doentes, na pior. Queremos que a comunidade veja no médico um orientador para uma vida saudável, mas muitos têm preconceitos, vergonhas e medos, além das dificuldades de acesso aos serviços. Ninguém vai procurar médico só para conversar e pedir uma orientação, quando é preciso chegar às 5 da manhã para uma consulta. O governo tinha de investir muito mais na estrutura dos serviços de saúde para que eles pudessem cuidar não apenas da doença mas da educação e prevenção.”

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FOTOS: HENK NIEMAN

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SAÚDE E AUTOCUIDADO

por_ Albertina Duarte Takiuti

APOIO PARA VOAR ADOLESCENTES E JOVENS ENFRENTAM MUITAS TURBULÊNCIAS E CABE À SOCIEDADE AJUDÁ-LOS A DESENVOLVER A PRÓPRIA AUTONOMIA Adolescência e juventude são reconhecidas como uma travessia do mundo infantil para o adulto, em que riscos e desafios contribuem para a intensa vulnerabilidade. Essa fase vulnerável pode ser acentuada por comportamentos de risco, pois se caracteriza também pela busca de auto-afirmação, vivências de novas experiências, contestação, magia e onipotência. Nessa fase, podemos observar a perda da identidade infantil, incluindo a visão que se tem dos pais

Albertina Duarte Takiuti é médica ginecologista, coordenadora do Programa de Saúde do Adolescente da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo

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e do mundo na infância, e a busca de identificações longe das instituições e das autoridades constituídas, como família e escola. Isso faz parte do trânsito a ser percorrido pelo adolescente e pelo jovem, que tende a assumir atitudes quase sempre diferentes ou contrárias aos padrões já estabelecidos. Observamos também a despedida do corpo infantil e a construção da nova imagem corporal. A cultura narcísica, do “eu sou mais eu”, tem sido apontada como fonte geradora de dificuldades para lidar com as diferenças em relação ao outro. Para ser admirado, o adolescente deve ter boa aparência, obter marcas de desempenho e competitividade máximas em tudo que faz, não deve mostrar medos e fraquezas. O padrão eugênico de beleza, constituído de atletas musculosos, tem estimulado o império do corpo vencedor. Adolescentes e jovens vivem hoje uma exploração cada vez maior em relação aos aspectos físicos, e a pressão da mídia, dos amigos, de uma atitude consumista em relação aos trajes, aumentam a insegurança e a necessidade de aprovação. Poucos adolescentes têm noção do tempo de crescimento da face, dos braços, do tronco, da altura, da distribuição da gordura, o que os leva muitas vezes a fazer exercícios exagerados na busca do corpo ideal. Com a mudança da atitude em relação aos pais e adultos, que até então eram idealizados e começam a ser questionados, os adultos próximos do adolescente

Os jovens necessitam de mecanismos facilitadores para que compreendam o que está ocorrendo com eles

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e do jovem passam a sofrer, com dificuldade para entender os novos papéis, para dialogar e para escutar. Pois é nesse momento – em que a comunicação entre o jovem e o mundo dos mais velhos não é boa – que ele mais necessita de tempo, apoio, estímulo, para poder compreender o que está ocorrendo consigo mesmo. É preciso saber também que o cotidiano do adolescente e do jovem constrói-se num mundo em que prevalecem o imaginário, as expectativas, as esperanças. É bom sonhar com estrelas inalcançáveis. O imaginário parece tão concreto quanto tudo aquilo que o jovem toca. Não se trata de uma fase de sonhos inúteis e sim de uma travessia em que moças e rapazes recorrem às fantasias para fugir de incompreensões, responsabilidades e exigências do cotidiano.

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Ser adolescente e jovem, hoje, é viver o amor no tempo da Aids; da violência que faz do homicídio a maior causa de morte juvenil; do tráfico de drogas que se torna mercado de trabalho, e do uso abusivo de drogas transformado em combustível de ilusões e de falsas sensações de liberdade. É correr o risco de uma gravidez, conseqüência de uma relação de pouco tempo (3 meses, 6 meses), ainda sem vínculos e que, nas relações desiguais dos gêneros, será assumida pela mulher e sua família.

ARQUIVO PESSOAL

“Os jovens precisam assumir a discussão sobre sua saúde. Essa é a tecla em que estou sempre batendo no trabalho com jovens em Fortaleza, como coordenadora de programas no Instituto da Juventude Contemporânea (IJC). A gente leva informação e formação sobre questões de saúde para dentro das escolas. Discutimos a prevenção das DST/Aids, a gravidez não planejada, a higiene pessoal, a responsabilidade dos cuidados com o corpo, as atitudes, o futuro etc., tudo dentro de um contexto maior de educação, de projeto de uma vida saudável. O trabalho dura cerca de um ano, mas o jovem não encontra muita vezes continuidade dessa proposta em seu meio. A jovem que engravida é aconselhada a deixar os estudos para cuidar do bebê. O jovem pai é aconselhado a deixar os estudos para trabalhar. O jovem ou a jovem que vão ao posto de saúde pedir um preservativo ouvem da atendente que eles ‘não têm idade para isso’. Os professores também não sabem como orientar, não querem assumir essa tarefa. Compreendendo esta situação acredito que o jovem precisa assumir a necessidade de se educar e educar outros jovens. Só assim a gente pode ter esperança de forçar a mudança dessas posturas na família, no posto de saúde e na escola.”

CAMILA BRANDÃO, 24 ANOS, estudante de Ciências Sociais e coordenadora de programas do Instituto da Juventude Contemporânea (www.ijc.org.br)

Aprendizes da esperança O que fazer para que os jovens não corram riscos? O que fazer para que mantenham a energia e tenham forças para resistir e enfrentar os desafios? Como contribuir para que se mantenham aprendizes da esperança? Os adolescentes e jovens necessitam de mecanismos facilitadores para que compreendam o que está ocorrendo com eles. É preciso compensá-los com ganhos para facilitar o necessário exercício do convívio com frustrações, para que busquem atividades que favoreçam estilos de vida saudáveis, com formação plena como ser humano, auto-estima individual e coletiva, e sentimentos de solidariedade. A busca de relações democráticas nas práticas institucionais governamentais ou não-governamentais que

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A CONSTRUÇÃO DO AUTOCUIDADO NÃO É UMA TAREFA INDIVIDUAL DO ADOLESCENTE E DO JOVEM, E SIM UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA envolvem adultos, adolescentes e jovens, deve pressupor a qualidade participativa juvenil – como protagonista – na discussão e na resolução dos seus problemas, a partir de suas necessidades, dos seus desejos e de sua capacidade transformadora. Por meio de discussões, eles trazem à luz seus variados perfis socioeconômicos, suas diferentes experiências, suas típicas e atípicas vivências em histórias e culturas diversificadas. Ouvir o jovem é um instrumental de conhecimento de seu estilo de vida, do retrato do seu mundo, dos caminhos que percorre, dos pacotes de sonhos que se abrem, dos projetos a se realizarem e um benefício valioso aos estudiosos e interessados em seu universo. O desafio do autocuidado A construção do autocuidado juvenil é um dos grandes desafios sociais. A sexualidade continua sendo um dos maiores mistérios a ser desvendado nessa nova fase da vida. Os adolescentes são surpreendidos

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por um emaranhado de idéias, reações e condutas que invadem suas vidas. As experiências dos serviços existentes têm demonstrado que tanto o despertar da sexualidade como seu exercício continuam impregnados por mitos e possibilidade de intercorrências, como a atividade sexual precoce sem proteção, a gravidez não esperada, o aborto, as DSTs e a Aids. Esses males do amor são gerados pela falta de diálogos entre o mundo adulto e os jovens e entre os próprios jovens. Por isso, há necessidade de muitos espaços educativos, desprovidos de juízes e censores. O jovem com uma imagem negativa, com auto-estima negativa, sem projetos para o futuro, passa a negociar com a vida, com o parceiro e com os amigos, em condições de insegurança e risco. A construção do autocuidado não é uma tarefa individual do adolescente e do jovem, e sim uma ação coletiva da sociedade. Os adolescentes e jovens cada vez mais conhecem os métodos anticonceptivos, sabem da importância do uso de preservativos, mas para transformar esse uso em prova de carinho para com ele mesmo e com o parceiro é preciso que tenham segurança, e não medo de dialogar, interiorizando a importância do seu autocuidado para a sua proteção. Pesquisa da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, em conjunto com a Organização Mundial de Saúde, observou que a garota, nas relações sexuais,

tem medo de não agradar, e o rapaz tem medo de falhar. Conclusão: a insegurança ainda influencia os relacionamentos. As características da adolescência e da juventude e as relações de gênero estão diretamente envolvidas com a negociação e a prevenção, nos riscos da sexualidade. Com a ocorrência, cada vez mais precoce, da primeira relação sexual (média entre 14 e 17 anos), maior é a insegurança e o medo de ambos os sexos. Mas o debate vai além: “Os adolescentes conhecem ou não os métodos anticoncepcionais?”. As pesquisas mostram que 90% conhecem os métodos tradicionais e os últimos lançamentos. Isto, porém, não garante o uso na primeira relação nem a disciplina na continuidade. A literatura mostra que eles utilizam pouco ou de forma descontínua os métodos anticoncepcionais. E os dados apontam dificuldade na mudança de comportamento em curto espaço de tempo. O autocuidado é uma conseqüência de ações integrais e intersetoriais. A experiência de 19 anos do Programa do Adolescente da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo constatou que o conhecimento e a informação sobre os riscos não bastam para mudar o comportamento. O caminho encontrado foi estimular o diálogo, realizar oficinas de sentimentos e atendimento integral. Grupos nos quais o adolescente possa falar e ouvir têm mostrado resultados. Falta, porém, fazer muito mais: buscar cada vez mais parcerias e intersetorialidade. Desejamos constituir políticas públicas para adolescentes e jovens no sentido de contribuir para que este período transcorra de forma a impedir ou minimizar escorregões para a transgressão. O fundamental é que a passagem pelo período seja sentida pelo jovem como um crescimento. É preciso incentivar a multiplicação de espaços de convivência e de equipamentos sociais que acolham desabafos e combatam fatores de riscos que possam comprometer o desenvolvimento e os projetos de futuro da juventude.

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sem bússola

VIDAS EM PERIGO Onda Jovem 46_67_ok.indd 46

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FRANCISCO VALDEAN / IMAGENS DO POVO

OS ÍNDICES DE SAÚDE DOS JOVENS BRASILEIROS REFLETEM A COMPLEXIDADE SOCIAL E CULTURAL DO PAÍS

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por _ Jane Soares A juventude brasileira enfrenta muitos riscos. Exposta a um complexo quadro de condições de vida, que inclui os efeitos da desigualdade social e gera poucas perspectivas de futuro, uma grande parcela tem sucumbido aos perigos que enfrenta: o envolvimento com a violência; a gravidez precoce, desejada ou não; o contágio por doenças sexualmente transmissíveis; o uso de drogas, do cigarro e álcool aos solventes. Mas muitos jovens também têm resistido, fazendo de suas histórias exemplos de superação das adversidades em busca de um futuro melhor. Muitas vezes, a inspiração para a mudança de rota vem de ações que levam em conta a vida juvenil de um ponto de vista integral. A morte por armas de fogo é a principal causa de mortalidade entre os homens jovens no Brasil. Estudo divulgado pela Unesco mostrou que dos 550 mil brasileiros mortos por elas entre 1979 e 2003, 206 mil eram rapazes entre 15 e 24 anos. A taxa de mortalidade por causas violentas na população brasileira é de 48,15 casos para 100 mil habitantes. Entre a moçada, salta para 74,42 casos para 100 mil habitantes. O sociólogo Ignácio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), diz que o envolvimento dos garotos com a violência é um fenômeno mundial. “Mas o Brasil chama a atenção porque as taxas são extremamente altas”, diz. As explicações somam muitos fatores: a falta de condições mínimas de sobrevivência digna nas periferias das grandes cidades, o alto índice de desemprego nessa faixa etária, o elevado número de armas de fogo nas mãos da população, a violência policial, a impunidade, entre outros. Há ainda um fator relacionado a um traço forte da cultura brasileira: o comportamento machista. Em fase de afirmação de identidade, idéias distorcidas sobre o poder da masculinidade podem aumentar vulnerabilidades, com reflexos na mortalidade e na saúde dos rapazes e de suas companheiras. Incluem-se aí os acidentes de trânsito, as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs/Aids), a ocorrência de gravidez precoce, o uso de drogas.

No Rio de Janeiro, o Instituto Promundo vem se empenhando na discussão do tema e, em parceria com outras três instituições, desenvolveu o Projeto H. “A intenção é questionar os papéis tradicionais relacionados à masculinidade, e com isso reduzir os comportamentos de risco e incentivar relacionamentos mais eqüitativos”, diz o diretor executivo Gary Barker. Uma das ações – o programa e a campanha “Hora H”, estimulando o uso de preservativos – foi desenvolvida em três comunidades: Bangu, Maré e Morro dos Macacos, com jovens entre 14 e 25 anos. Pesquisas antes e depois da realização das oficinas indicaram queda no aparecimento de sintomas de DSTs e aumento no uso de camisinhas nas relações com parceiras fixas, por exemplo. “Mudanças de comportamento, como ajudar a cuidar dos filhos, também foram detectadas”, diz Marcos Nascimento, coordenador do Programa H. Levar os jovens a discutir o machismo e convencê-los a usar preservativo não é tarefa simples, segundo I. J., 21 anos, um dos coordenadores do Programa H na Maré. “É complicado falar em riscos para a saúde para quem simplesmente viver já é um risco”, diz. “Mesmo assim, alguns jovens repensaram e mudaram de comportamento em relação à violência contra as parceiras e no dia-a-dia. Passaram a discutir e a se preocupar com a satisfação sexual delas, aprenderam a negociar o uso da camisinha.”

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SADRAQUE SANTOS / IMAGENS DO POVO

Dentro de casa Durante boa parte de sua vida, C. V, 17 anos, uma estudante do ensino médio, viu a mãe ser espancada pelo pai. Depois, morando com a tia e uma prima “linda”, a garota se sentia “muito mal”. Na Curumim, de Recife (PE), aprendeu a se cuidar, a não se sentir inferior a ninguém, a perceber a violência doméstica como uma aberração. Com o cultivo da autoestima, se soltou. Hoje representa a ONG em encontros e debates públicos e coordena o grupo de jovens. “Tenho prazer em repassar o que aprendi”, diz. A violência doméstica inclui também o abuso sexual, um problema de enormes proporções. Relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) revela que 27% das mulheres de São Paulo foram vítimas de violência em casa, e 10% foram obrigadas a manter relações sexuais. Na Zona da Mata Pernambucana, os índices chegaram a 34% e 14%, respectivamente. O estudo conclui que a brasileira corre mais riscos dentro de casa do que nas ruas. Sueli Valongueiro, presidente da Curumim, reclama da falta de políticas para amenizar o problema. A psicóloga Nelma Pereira da Silva, da coordenação da Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (Ancef), reforça a queixa. “A violência sexual intrafamiliar é um problema antigo, atinge todas as faixas etárias e todas as classes sociais”, diz. Em 2000, foi elaborado o Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual. Quase tudo ficou só no papel.

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RICARDO FUNARI / IMAGENS DO POVO

Idéias distorcidas sobre o poder da masculinidade podem aumentar ainda mais a vulnerabilidade de rapazes e suas parceiras

PARA SABER MAIS

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PARA SABER MAIS

SOBRE

Teatro contra Aids Para jovens sem informação e sem outras motivações, a sexualidade consentida também pode embutir riscos. Com diferentes abordagens, a redução de danos em relação às DSTs/Aids é o móvel de dezenas de instituições. O Instituto Cultural Barong, de São Paulo, usa um trailer, sobre o qual foi colocado um preservativo inflável de cinco metros de altura, para

APOIO, SOLIDARIEDADE E PREVENÇÃO À AIDS (ASPA) ÁREA DE ATUAÇÃO REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE. PROPOSTA A PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA E A REDUÇÃO DA VULNERABILIDADE SOCIAL, PROMOVENDO A PREVENÇÃO E A REDUÇÃO DA INFECÇÃO PELO HIV E OUTRAS DST. JOVENS ATENDIDOS 9 MIL. APOIO FNDE/MEC, GESTOR MUNICIPAL, GESTOR ESTADUAL, CAPTAÇÃO DE RECURSOS ENTRE ASSOCIADOS, DOAÇÕES DE PESSOAS FÍSICAS E JURÍDICAS. CONTATO RUA SÃO CAETANO, 965 – CENTRO – 93010-090 – SÃO LEOPOLDO (RS) – TEL. 51/3590-1505 – E-MAIL ASPA@ASPA.ORG.BR.

APOIO, SOLIDARIEDADE E PREVENÇÃO À AIDS (ASPA) GRUPO GESTAÇÃO E PARTO ÁREA DECURUMIM ATUAÇÃO–REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE ÁREA DE ATUAÇÃO RECIFE,DAPAULISTA, ABREU E LIMA, NAZARÉ DA MATA,PROMOVENDO ITAQUITINGA, CARPINA (PE). E A REDUÇÃO DA PROPOSTA A PROMOÇÃO QUALIDADE DE VIDA E A PAUDALHO, REDUÇÃO DATIMBAÚBA, VULNERABILIDADE SOCIAL, A PREVENÇÃO PROPOSTA CRIAR CONDIÇÕES TÉCNICAS E POLÍTICAS PARA A ATENÇÃO À SAÚDE INTEGRAL E A HUMANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO DE INFECÇÃO PELO HIV E OUTRAS DST. MULHERES, ADOLESCENTES JOVENS ATENDIDOS 9 MIL. E JOVENS. JOVENSFNDE/MEC, ATENDIDOSGESTOR 200 PORMUNICIPAL, ANO. APOIO: GESTOR ESTADUAL, CAPTAÇÃO DE RECURSOS ENTRE ASSOCIADOS, DOAÇÕES DE PESSOAS FÍSICAS APOIO INTERNATIONAL WOMEN HEALTH COALITION, GLOBAL FOND, SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES, COMISSÃO DE E JURÍDICAS. CIDADANIARUA E REPRODUÇÃO, MINISTÉRIO DA SAÚDE, CERIS E PACIFIC INSTITUTE (RS) WOMEN HEALTH. CONTATO: SÃO CAETANO, 965 – CENTRO – 93010-090 – SÃO LEOPOLDO – TEL. 51/3590-1505 – E-MAIL ASPA@ASPA.ORG.BR. CONTATO RUA SÃO FELIX, 70 – CAMPO GRANDE – CEP – RECIFE (PE) – TEL. 81/3427-2023 – E-MAIL: CONTATO@CURUMIM.ORG.BR.

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falar da necessidade de prevenção, nas ruas, escolas, empresas. A equipe usa técnicas de teatro para atrair o público. “Protegidas pelo anonimato, as pessoas sentem-se à vontade para esclarecer dúvidas, falar sobre suas experiências”, diz a presidente, Marta McBritton. A Associação de Solidariedade e Prevenção à Aids (Aspa) de São Leopoldo (RS) atua tanto na prevenção quanto na assistência aos portadores do vírus HIV, na tentativa de melhorar a qualidade de vida e informá-los sobre seus direitos e o tratamento. “O trabalho de prevenção é realizado em escolas, empresas, presídios, albergues, com a distribuição de folhetos, preservativos, palestras e atividades culturais”, diz Jorge Ubirajara de Souza, coordenador do projeto Acolhida. S. M. S., 25 anos, é portadora do vírus. “Quando descobri que estava infectada, depois da morte de meu companheiro, entrei em depressão”, conta. Ingressou em um grupo de apoio da Aspa e começou o tratamento. Está casada há mais de dois anos

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INSTITUTO CULTURAL BARONG ÁREA DE ATUAÇÃO SÃO PAULO. PROPOSTA DIMINUIR A INCIDÊNCIA DE DST/AIDS E HEPATITES, PROMOVENDO A RESPONSABILIDADE SEXUAL, POR MEIO DE AÇÕES DESENVOLVIDAS NAS RUAS, ESCOLAS, EMPRESAS. JOVENS ATENDIDOS SEM ESTIMATIVA. APOIO COORDENAÇÃO NACIONAL DE AIDS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE, PROGRAMA DE PREVENÇÃO DA AIDS DAS SECRETARIAS ESTADUAL DE SÃO PAULO E MUNICIPAL DE SÃO PAULO, LABORATÓRIOS BRISTOL (PRESERVATIVOS PROSEX), PRESERVATIVOS STUDEX, CONJUNTO NACIONAL. CONTATO RUA ANTONIO BICUDO, 75 – PINHEIROS – 05418-010 – SÃO PAULO (SP) – TEL. 11/3083-5492 – SITE: WWW.BARONG.ORG.BR.

LEVI SILVA

PARA SABER MAIS

SOBRE

com um homem que não é soropositivo. “Só lembro da doença quando tenho de fazer os exames de controle, a cada seis meses”, diz. Embora a incidência da Aids no Brasil esteja se estabilizando, a doença tem crescido entre negros e mulheres. Segundo o Ministério da Saúde, em 2004 ocorreram 17,2 casos por 100 mil habitantes ante os 17,5 de 1998. Entre os rapazes de 20 a 24 anos, a taxa passou de 19,1 para 11,8, mas cresceu entre as mulheres, de todas as idades, porque elas não exigem o uso de preservativo dos companheiros estáveis, fato que contribui também para a ocorrência da gravidez precoce. Foi o que aconteceu com a carioca C. P. O, de 17 anos, que engravidou do noivo. “A gente usava cami-

VIDA DE REPÓRTER “Não tive uma infância feliz. Filha de pais separados em uma época em que isso era um estigma, cresci meio ao ‘deus dará’. Meu pai, dedicado à nova família, me esqueceu. Minha mãe não disfarçava que me considerava responsável pelo abandono do marido. Com a saída do ‘provedor’ da casa, nos tornamos muito pobres. Como no bairro só havia grupos escolares, fiz o antigo ginásio e o curso normal em uma escola particular com bolsas de estudos. Sem irmãos, primos ou outros familiares, era uma criança solitária. Mas essas dificuldades nem de longe se comparam às tristes experiências relatadas pelos entrevistados. Conversas por telefone recheadas de silêncio, tragédias não contadas e inferidas por eventuais frases soltas. Resultado: uma profunda admiração por esses jovens que conseguiram reescrever novas histórias para suas vidas e pelos profissionais que os ajudaram. E uma profunda tristeza pelos que se perderam pelo caminho por não conseguir vislumbrar nem um réstia de esperança.”

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JANE MARIA SOARES DE FREITAS, 56 ANOS, nascida em Souza (PB), é jornalista há 32 anos

sinha só de vez em quando”, diz. Dados do IBGE mostram também que a ocorrência da gravidez juvenil diminuiu em 2004, com exceção da Região Nordeste. “Para prevenir a gravidez precoce e as DSTs/Aids não basta dar informação e preservativos, porque algumas meninas querem engravidar”, diz a pediatra especializada em sexologia Bettina Grajcer, do Projeto Quixote, de São Paulo. “É preciso alertá-las sobre as conseqüências de ter um filho, fortalecer a auto-estima, ensiná-las a negociar o uso do preservativo com o parceiro.” Segundo Bettina, as meninas engravidam menos quando desenvolvem novos projetos de vida. Drogas mais cedo Outros problemas que afetam a saúde dos jovens ganharam novas proporções. O Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) divulgou levantamento nas 27 capitais brasileiras sobre o uso de drogas entre estudantes do ensino fundamental (a partir da 5ª série) e do ensino médio da rede pública. Foram ouvidos 50 mil adolescentes. Constatou-se que eles entram em contato com as drogas já entre 10 e 12 anos e mais de 12% usaram algum tipo delas. O álcool é a droga mais usada, embora tenha ocorrido uma ligeira redução em todas as capitais e faixas etárias. Em seguida, vem o tabaco e depois o solvente, com 15,4% de usuários. “O uso de drogas entre jovens tornou-se um problema de saúde pública e os pais têm dificuldades em discutir o assunto com os filhos”, diz o psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, diretor do Grupo de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. O educador Sérgio de Cássio Souza Nascimento, presidente da Organização Atitude, de Ceilândia, no Distrito Federal, conhece a dificuldade de abordagem. “Esses garotos não conhecem nenhum ‘salvador da pátria’. Convivem com gangues, profissionais do sexo, jovens em conflito com a lei”, diz. A Atitude usa a arte e a cultura para mostrar ser possível criar outras histórias de vida. “É um trabalho difícil.

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RICARDO FUNARI / IMAGENS DO POVO

A VIOLÊNCIA É A MAIOR CAUSA DE MORTALIDADE JUVENIL. A AIDS ESTÁ SE ESTABILIZANDO, MAS É MAIS ELEVADA ENTRE NEGROS E MULHERES. A GRAVIDEZ ANTES DOS 20 COMEÇA A RECUAR

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SOBRE PARA SABER MAIS

SOBRE PARA SABER MAIS

De 100 jovens atendidos, cerca de dez passam por um processo concreto de mudança.” E cada um deles vale a pena. Brigão, machista, cheio de preconceitos, como ele mesmo diz que era, R. R. S., de 17 anos, afirma que sua cabeça “abriu” depois de freqüentar a Atitude. Participante de um grupo de teatro, elegeu-se presidente do grêmio de sua escola. Já arrecadou dinheiro para reformar a quadra de esportes, fez mutirão para consertar as carteiras, quer organizar palestras sobre sexualidade e machismo. Sexo com a namorada, só com camisinha. “Ainda não estamos preparados para ter um filho”, reflete.

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INSTITUTO PROMUNDO ÁREA DE ATUAÇÃO NACIONAL E INTERNACIONAL. PROPOSTA CONTRIBUIR PARA A IGUALDADE SOCIAL POR MEIO DE AÇÕES E PESQUISAS VOLTADAS PARA O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DE CRIANÇAS E JOVENS NO BRASIL E NO MUNDO, INCENTIVANDO A SUA PARTICIPAÇÃO NESSE PROCESSO. JOVENS ATENDIDOS SEM ESTIMATIVA. APOIO: BANCO MUNDIAL, BERNARD VAN LEER FOUNDATION, CANADIAN INTERNATIONAL DEVELOPMENT AGENCY (CIDA), SERVIÇO ALEMÃO DE COOPERAÇÃO (DED BRASIL), SSL INTERNATIONAL – DUREX, FORD FOUNDATION, INSTITUTO C&A, ISPCAN, IPPF/WHR, MAC ARTHUR FOUNDATION, OMS, OPAS, OXFAM, MINISTÉRIO DA SAÚDE, SAVE THE CHILDREN (SUÉCIA), SECRETARIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS MULHERES, SUMMIT FOUNDATION, UNESCO. CONTATO RUA MÉXICO, 31, BLOCO D, SALA 15 – RIO DE JANEIRO (RJ) – TEL. 021/2544-3114 – WWW.PROMUNDO.ORG.BR.

ORGANIZAÇÃO ATITUDE ÁREA DE ATUAÇÃO CEILÂNDIA (DF). PROPOSTA A MOBILIZAÇÃO SOCIAL DOS JOVENS PARA O DESENVOLVIMENTO DE AÇÕES PARA MELHORAR A VIDA COLETIVA. JOVENS ATENDIDOS 250. APOIO INSTITUTO C&A, EMBAIXADA DA NOVA ZELÂNDIA, MINISTÉRIO DA CULTURA. CONTATO KMM9, CONJUNTO E, CASA 32 – CEP – CEILÂNDIA SUL (DF) – TEL. (61) 3371-6055 – E-MAIL: ATITUDEORG@IBEST,COM.BR.

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o sujeito da frase

Suas letras mexem com os jovens brasileiros, sejam eles da periferia ou dos bairros ricos. Afinal, Marcelo Yuka tem, sim, “a alma armada e apontada para a cara do sossego”. Baterista, ex-integrante de O Rappa, foi atingido por três tiros durante um assalto em novembro de 2000 e ficou paraplégico. Passou quase um ano e meio em depressão, mas nos últimos tempos fez de tudo, menos ficar parado. Fundou uma nova banda – um termo restrito para rotular a sua Frente Urbana de Trabalhos Organizados, mais conhecida pela sigla FURTO. Ele prefere dizer que é um projeto criado para promover atividades sociais. Yuka, 40 anos, foi também militante da causa do desarmamento. A derrota no referendo, porém, não o desanima. Ele continua defendendo a exigência de contrapartidas da indústria bélica – uma espécie de taxação dos lucros revertida para projetos de saúde, para financiar os tratamentos pós-lesão. Entre sessões de fisioterapia e de música no estúdio que mantém em casa, na Tijuca, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, entre palestras e

por_Berenice Seara

shows que faz Brasil afora, Yuka se dedica ainda ao Conselho Nacional da Juventude, criado no ano passado. Conta que o Conselho tem discutido a questão da saúde juvenil do ponto de vista social também, e não só físico. E acredita que as mudanças desejadas só virão com novas formas de participação social, sem partidarização. “A melhor coisa que pode sair desse projeto é a gente entender que é preciso pensar na juventude como um todo”, diz. A seguir, trechos de sua entrevista. Onda Jovem: Você diz que FURTO não é só uma banda, é o braço musical de uma série de ações sociais. Você foi nomeado integrante do Conselho Nacional da Juventude por causa dessa atuação fora dos palcos? Marcelo Yuka: Acho que não foi só pelo trabalho que eu faço fora do palco, mas também pelo direcionamento que eu dou à minha própria carreira. Minha poesia sempre teve um certo comprometimento e eu sempre usei isso. Ela é um espelho da sociedade. Mas, com certeza, o uso que eu faço da minha carreira fora do palco também foi lembrado na hora de me escolherem. Você acredita que o trabalho do Conselho vá desembocar em políticas públicas voltadas para os jovens? Eu espero que o Conselho não se divida em questões políticas, nas diversas representações que ali estão. Que possa ter um propósito único. Teoricamente, ele é um conselho apartidário e deve ser a representação não de várias causas, mas de uma causa única, que é a juventude deste país. E representar isso é uma enorme responsabilidade. E acho que a gente deve fazer isso usando até uma linguagem diferente da linguagem política convencional.

Ex-integrante do Rappa, Yuka foi baleado em 2000, ao cruzar um assalto, no Rio. Paraplégico, superou a depressão e montou a banda FURTO, que chama de braço musical de ações sociais

Existe alguma outra experiência com essa abrangência que possa servir como modelo? Não, esse Conselho é uma iniciativa inédita, única. Por isso a gente também vai aprendendo com o desenrolar da história. Mas acho que desde já é preciso ter algumas preocupações, como a de tentar buscar mais as afinidades do que as diferenças. Eu presumo que a melhor coisa que pode sair desse projeto é a gente entender que é preciso pensar na juventude como um todo. Principalmente naqueles que estão em maior dificuldade. Hoje, é a juventude que mais sofre com o desemprego, com a baixa escolaridade, que é a maior vítima de assassinatos...

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Um dos músicos mais politizados de sua geração e integrante do conselho nacional da juventude. Marcelo Yuka diz que a organização civil é o meio para a melhoria da qualidade de vida

FOTOS: AGÊNCIA ESTADO

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Yuka defende que parte dos lucros da indústria armamentista seja taxada e revertida para projetos de saúde e tratamentos pós-lesão

E vive com as seqüelas da violência. Você sabe como ninguém o que é isso. E quanto aos jovens que passam por uma situação semelhante a sua e não têm acesso aos mesmos recursos? Eu venho defendendo uma proposta há tempos: que parte do lucro da indústria do armamento seja taxada para reverter para projetos de saúde, de tratamentos pós-lesão, e também de educação. Como na Europa, onde as empresas poluentes têm de investir em programas de meio ambiente. Não é uma multa. Você vende ou produz armas, então você paga. Ah, mas vai abalar o comércio? Dane-se. Esse custo deve estar incluído na sua decisão de produzir artigos desse gênero. Outra coisa: essa taxa poderia ser cobrada também dos fabricantes de armas que são encontradas aqui

ilegalmente. Porque, de alguma maneira, eles têm de ser responsáveis também por onde aquilo que produziram vai parar. Nos Estados Unidos, já foram ganhas algumas ações dessa maneira. Uma pessoa foi morta com uma arma americana lá na Suíça. A família entrou com um processo e ganhou. Seria aplicar contra eles um castigo – não tão forte quanto o que a gente sofre aqui em decorrência das armas. É um tipo de retaliação. E há também o comprometimento da saúde, não só a física, mas a saúde emocional, o bem-estar social... Essa é uma das maiores preocupações que o Conselho tem. Nós somos um país campeão mundial de desigualdade social. É claro que a grande mudança virá se a gente conseguir reverter esse quadro, mas isso realmente leva algum tempo. Eu não acredito que a única opção de melhoria da qualidade de vida da maioria de nós, que é pobre, seja esperar uma mudança econômica que possa trazer mais justiça social. Até porque a elite desse país já se mostrou burra e decadente e não vai abrir mão de nada. Não tenho pretensões políticas, acho que a organização civil ainda é a melhor opção. Não apenas pressionando, mas dobrando as mangas e fazendo. Isso não é tirar a responsabilidade do Estado. Várias pessoas já entenderam que é preciso dar sua melhor metade não só para o perímetro da sua casa, para a sua própria família. Eu ainda confio nas pessoas. E qual o papel da escola neste processo? Ela foi importante para você? Foi fundamental. Eu sempre estudei em colégio público e até hoje eu preciso de uma referência de mestres. Se hoje já não tenho professores, eu procuro essas referências em pessoas que estão fazendo trabalhos sociais há mais tempo ou na literatura. Agora, a escola deve ser um espaço mais aberto e tem de se renovar. Entender a linguagem da criança, do adolescente e do jovem para, por meio de outros artifícios, fazer com que

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eles possam ter o prazer de assistir à aula e ocupar o colégio. Por exemplo, eu fui alfabetizado aos 6 anos, mas só aprendi a ler, ou seja, só me interessei realmente pela literatura, empurrado pela raiva que eu sentia, aos 16 anos de idade. Eu tinha raiva da “dura” policial, eu tinha raiva de não ser aceito na minha adolescência. E comecei a ver que a leitura me dava um outro vocabulário e me abria os olhos. E ficava tudo diferente. A maneira como eu falava, como eu entendia historicamente o que estava acontecendo ali, o fato de eu saber dos meus direitos numa “dura” policial, mudava completamente a minha posição naquela hora. Então, a literatura mudou a sua história? Veja bem, hoje o hip hop está muito popular. Mas eles têm vários ídolos, que são da cultura negra americana, que agora querem representar o poder por meio do cordão de ouro, de carros caros, que só falam de poder, de drogas, de violência. Mas lá atrás, quando o hip hop se formou, os grandes cérebros da música americana mudaram o estereótipo, conquistaram realmente um poder, um lugar diferenciado na sociedade, por meio dos livros. E isso o brasileiro ainda não entendeu. Que a arma que realmente mudou a condição deles foi o livro. E aqui quase não existe alguém dentro do hip hop falando sobre isso.

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É uma estratégia errada? É. Outra coisa que se fala muito nos projetos sociais é que a mudança vem de tirar o garoto do tráfico, de mexer com a auto-estima. Estou montando um trabalho com Fábio Ema, que é artista e educador, e a gente quer mostrar que agora não é só fazer um projeto educacional diferenciado, mas é ter uma pretensão maior ainda: é saber que algumas daquelas pessoas vão conquistar um lugar que vai provocar a sociedade. Por meio do grafite, que é uma arte plástica de rua, pode sair um artista negro, nordestino ou favelado, que pode chegar num nível tal que vai perturbar. É como levar um negro a ser juiz, médico. E há algo sendo feito no âmbito do Conselho Nacional da Juventude que vá nesse caminho? A gente apóia, e ao mesmo tempo questiona, o Pró-Jovem, um projeto voltado para a educação, para a cidadania, para a profissionalização, que o governo vem implantando nos lugares mais carentes. Eu acho que a idéia é boa, mas é preciso ainda amadurecer. Ele é muito vinculado aos municípios. E pode não ter uma qualidade uniforme, porque vai depender das prioridades e das condições financeiras de cada município. Ou seja, o projeto ainda está em teste. Mas é muito interessante acompanhar, poder analisar os pontos válidos e os não válidos.

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“Não acredito que a única opção de melhoria da qualidade de vida seja esperar uma mudança econômica que traga mais justiça social. É preciso dobrar as mangas e fazer. Eu ainda conÞo nas pessoas”

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FOME DE SENTIDO

NUMA FASE DE EMOÇÕES INTENSAS E OSCILANTES, A OCORRÊNCIA DOS TRANSTORNOS MENTAIS PODE SER FONTE DE EQUÍVOCOS E PRECONCEITOS Onda Jovem 46_67_ok.indd 56

por_Cristiane Ballerini ilustração_Marcelo Pitel

Juventude rebelde, agressiva, deprimida, hiperativa, desafiadora. Essa visão que alguns setores ainda cultivam sobre a fase juvenil, percebida como doença, como um problema em si, que ameaça a ordem, parece ter distorcido também a perspectiva de muitos daqueles que deveriam acolher os jovens e suas questões. Quando o assunto é saúde mental, médicos, psicanalistas e educadores são unânimes em alertar para essa abordagem preconceituosa, que crava uma interrogação no destino dos 7 milhões de jovens brasileiros que, estima-se, sofrem de algum transtorno psiquiátrico. A questão é ainda mais delicada exatamente porque um dos maiores desafios dos jovens é inventar e construir um projeto de vida a partir de si e para si mesmo. E essa nova inserção no mundo, longe da proteção familiar, não se dá sem dores e oscilações. “Por isso, é preciso cuidado na análise dos casos. Quando se tem uma visão ‘patologizada’ dos jovens, existe o risco de se tomar uma crise existencial como sinal de doença. A timidez pode ser taxada como fobia social ou o medo visto como pânico”, diz Cristina Vicentin, professora de Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e autora do livro “A Vida em Rebelião - Jovens em Conflito com a Lei”.

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Um equívoco neste tipo de diagnóstico pode levar ao uso desnecessário de medicamentos. Algumas drogas podem induzir à passividade excessiva, funcionando como “tampões” das verdadeiras razões para as inquietações do jovem. Outras, usadas como tranqüilizantes, podem viciar. “É claro que medicamentos são úteis e necessários em várias situações, mas seu uso não pode ser banalizado como vem ocorrendo. Isso é reduzir a complexidade do ser humano a uma questão bioquímica”, diz a psicanalista Cleusa Pavan, do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. Inibições e estardalhaços Os médicos definem transtorno mental como um padrão comportamental ou psicológico associado com sofrimento e incapacitação. Para pais, professores e orientadores, pode ser difícil diferenciar as situações. Mas a constância dos comportamentos é um dos sinais principais. As variações de humor, por exemplo, são bastante comuns na adolescência e juventude. As emoções flutuam intensamente e, às vezes, o jovem pode se encontrar em um estado depressivo passageiro. “Mas aquele que sofre de depressão não apresenta oscilação. A visão negativa, a tristeza sem razão ou desproporcional aos acontecimentos são uma constante”, diz a psiquiatra Sandra Scivoletto, do Hospital das Clínicas de São Paulo, co-autora do livro “A Saúde Mental do Jovem Brasileiro”.

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Outro aspecto importante é o grau de limitação que essas “dores” impõem ao jovem. Se ele fica impossibilitado de realizar tarefas e circular pelos locais que costuma freqüentar, é aconselhável buscar orientação rapidamente. Para a psicanalista Cleusa Pavan, a ocorrência dos transtornos psíquicos juvenis se relaciona com os poucos recursos que a sociedade disponibiliza às novas gerações para dar sentido às próprias vidas: “A manifestação de sintomas são uma reação e os jovens podem reagir com ‘inibição’ ou com ‘estardalhaço’”. Entre as “inibições” estão as depressões, as fobias, as obsessões, as melancolias, as psicoses, a anorexia, a bulimia, as toxicomanias. No campo dos “estardalhaços” figuram a violência, a delinqüência, as manias e o suicídio. Atualmente, as ocorrências mais freqüentes são a depressão e as dependências de diferentes espécies de objetos: drogas lícitas ou ilícitas e psicofármacos, mas também musculação, sexo, uso de grifes.

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Existem ainda, nesta faixa etária, ocorrências mais raras, como a esquizofrenia e o transtorno bipolar, e que por sua gravidade e poder de incapacitar devem ser tratados com a máxima atenção e urgência. Mas os próprios especialistas podem levar algum tempo para fechar o diagnóstico, já que são muitos os aspectos a serem analisados. A arquiteta I. A. recebeu o diagnóstico de esquizofrenia do filho de 18 anos recentemente. É uma notícia que nenhum pai quer ouvir. E esse desejo pode contribuir para adiar a busca por ajuda. “Eu queria justificar tudo: o comportamento dele era ‘culpa’ da minha separação, da maconha, das más companhias”, diz I. A. Durante uma crise delirante, que incluiu ameaças à mãe, a família aceitou a necessidade de hospitalização temporária. Após um período curto de internação, o tratamento – com medicamentos, atendimento psiquiátrico e psicanalítico – já começa dar resultados: “Estamos conseguindo ter boas conversas e ele parece mais contente na faculdade”, diz a mãe.

Impulso fatal O mais dramático dos transtornos mentais é o que leva ao suicídio, e na juventude ele ganha contornos ainda mais incompreensíveis. Por causa da subnotificação, o número de jovens brasileiros que tiram a própria vida não é conhecido. O que se sabe é que o suicídio nessa idade é marcado pela impulsividade. Muitas vezes, o que jovem deseja, aparentemente, não é a própria morte, mas sim marcar uma posição em defesa de algo ou deixar culpados aqueles com quem convivia. O sofrimento intenso também é um mecanismo ligado à prática suicida nesta fase. O rompimento de um namoro, por exemplo, pode levar a atos desesperados, já que nessa idade a vivência do tempo faz com que as angústias pareçam eternas. Em geral, as meninas tentam contra a própria vida mais vezes, possivelmente com o intuito de chamar a atenção dos adultos. Já os rapazes concluem o ato suicida em maior número do que as garotas.

OS TRANSTORNOS PSÍQUICOS JUVENIS SE RELACIONAM TAMBÉM COM OS POUCOS RECURSOS QUE A SOCIEDADE DISPONIBILIZA ÀS NOVAS GERAÇÕES PARA DAR SENTIDO ÀS SUAS VIDAS

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A bala e o gatilho O potencial da herança genética no aparecimento das doenças mentais ainda está em discussão. Com relação à depressão, por exemplo, um histórico na família aumenta os riscos de aparecimento da doença, mas o fator desencadeante para os quadros depressivos está no ambiente. Situações estressantes, instabilidades, privações constantes, espaços de convivência hostis e violentos podem fazer surgir o problema. “A característica genética é a bala dentro do revólver. Mas é o ambiente que puxa o gatilho para a ocorrência de transtornos mentais”, diz Sandra Scivoletto. Várias pesquisas indicam que as ocorrências são maiores entre as camadas mais pobres. Com acesso restrito ao mercado de trabalho e à

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renda, também mais jovens pobres vêem suas aspirações e desejos se perderem. “Sem realizações, fica-se tomado por ressentimento, mágoa, desespero. Perdese a saúde mental e a física”, diz Cleusa Pavan. Mas a psicanalista Simone André, responsável pela área de Juventude e Educação Complementar do Instituto Ayrton Senna – que realiza projetos com cerca de 200 mil jovens em todo o país – lembra que a “fome de sentido” está em jovens de todas as classes sociais: “Se aos meninos das comunidades pobres faltam oportunidades”, diz ela, “aos filhos da elite está tudo dado, o mundo está pronto e eles sentem que não podem mudá-lo”. Diariamente, ressalta, milhões de jovens enfrentam e superam as dificuldades de suas vidas.

vezes, nem mesmo chegam a um profissional. Ficam sem atendimento”, diz Sandra Scivoletto. No hospital dos Servidores do Estado, mantido pelo Ministério da Saúde no Rio de Janeiro, médicos de diversas especialidades se mobilizaram para criar um serviço de atendimento multidisciplinar ao jovem. “Por conta dos poucos recursos”, conta Ana Bentes, única psiquiatra especialista do hospital, “os adolescentes e jovens entravam de forma acidental na engrenagem do hospital e saíam sem cuidados adequados. Criamos, então, uma proposta de atendimento integral, visando também a saúde mental.” Profissionais como ginecologistas, endocrinologistas e nutricionistas integram a equipe. “É um atendimento individual, que percebe as demandas médicas e, ao mesmo tempo, recebe e trabalha as angústias e os sonhos desses rapazes e moças”, diz Ana Bentes. Para além dos muros do hospital, o grupo estabeleceu parcerias com várias organizações, na tentativa de dar lugar também às necessidades de expressão e realização dos pacientes. É o caso da Spectaculu, que usa a arte para incluir jovens de comunidades pobres no mercado de trabalho. Uma das maiores recompensas para os envolvidos na iniciativa é o vínculo de confiança que os mais de 300 jovens atendidos por mês têm com o serviço, diz Ana Bentes. “Outro dia, nós ouvimos de um jovem: ‘vocês são nosso plano de saúde’”, conta sorrindo.

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Sem atendimento A falta de investimento em pesquisas faz com que pouca coisa se saiba – cientificamente – sobre a saúde mental da juventude brasileira. Mas é fato que faltam especialistas e serviços específicos. “Os jovens acabam sendo encaixados em programas para adultos e isso não dá certo. Então, abandonam o tratamento. Muitas

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.gov/.com

A POLÍTICA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADOLESCENTE E DO JOVEM PROMETE INCLUIR UM PÚBLICO QUASE SEMPRE IGNORADO

FOTOS: HENK NIEMAN

por_Daniela Rocha

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Proporcionar atendimento qualificado ao adolescente e ao jovem é uma das prioridades da política de saúde pública atual. A afirmação é de Thereza de Lamare, coordenadora da Área de Saúde do Adolescente e do Jovem, do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas do Ministério da Saúde. “Quando se fala em saúde pública, imediatamente se pensa em atenção à criança e à mulher, mas nunca em um atendimento especial ao adolescente e ao jovem. Este público é invisível para o sistema de saúde e é isso que queremos mudar, principalmente porque ele é estratégico em sua condição peculiar de desenvolvimento”, diz Lamare. Se o Programa de Saúde do Adolescente que vigorava anteriormente tinha por base a criação de centros de referência para o atendimento, com a recém-elaborada Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens, o objetivo passa a ser capacitar as equipes dos centros para um atendimento que contemple três linhas de ação: a primeira diz respeito ao crescimento e desenvolvimento saudáveis; a segunda, à saúde sexual e reprodutiva; e a terceira, à redução da morbi-mortalidade por violências e acidentes. “É uma política que enfatiza a prevenção às doenças e amplia o conceito de saúde. A questão não é apenas tratar doenças, mas, sobretudo, ter qualidade de vida, acesso à educação e à informação, ao lazer e exercer

o direito à participação”, diz Lamare. Para isso, os centros de saúde devem atuar de forma integrada à realidade da sua região – o que requer diálogo com escolas, empresas e lideranças comunitárias locais e capacitação de toda a equipe, para um atendimento acolhedor. De acordo com a política, não é preciso ser um hebiatra – médico especializado em saúde do adolescente –, para atender um jovem de forma qualificada. No caso de um pediatra, ele poderá atender jovens até 19 anos, adequando a consulta à idade do paciente. “Quem tem interesse em trabalhar com adolescente vai naturalmente buscar informação. A qualificação ajuda a conduzir os processos”, diz o médico Ivan Lisboa Fialho Júnior, coordenador do Centro de Referência, Pesquisa, Capacitação e Atenção Integral à Adolescência, o Adolescentro, uma proposta pioneira no atendimento ao adolescente e jovem que existe em Brasília desde 1998. Iniciativa de três médicos hebiatras, duas psicólogas e uma assistente social, é um espaço que funciona em um centro de saúde convencional com foco na atenção ao adolescente e ao jovem.

ATENDIMENTO INTEGRAL

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Para especialistas, a proposta do Ministério da Saúde é válida, mas as políticas públicas precisam ser mais criativas para atingir também os jovens fora da escola, nas ruas, no trabalho, os privados de liberdade, por meio de ações comunitárias de lazer e cultura

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Processo de emancipação A estratégia do Ministério da Saúde é válida, segundo o médico José Ricardo Ayres, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo e especialista em saúde do adolescente e do jovem. “A saúde da criança é mediada pelos pais. A adolescência é o momento em que se constrói a autonomia como sujeito e como cidadão. A política de saúde tem de pensar nisso e levar em conta que são pessoas em processo de emancipação”, diz. Para ele, é importante uma abordagem interdisciplinar que reúna saúde, educação e cultura e que dê alternativas para adolescentes crescerem e se tornarem pessoas autônomas, independentes e felizes. “Como esse período é marcado também pelo início da atividade sexual, isso gera demandas específicas e considero que é preciso ampliar a compreensão sobre as questões que atingem essa faixa etária. Às vezes, a gravidez precoce é uma alternativa para o crescimento individual, porque cria uma situação que viabiliza a menina sair de sua casa, onde o ambiente pode ser hostil ou violento, e abre uma via para que ela cuide da sua saúde”, diz o médico. Em outras palavras, sobretudo quando se trata de adolescente e jovens, é importante estar desprovido de preconceitos. O primeiro a ser derrubado, segundo Thereza de Lamare, é a idéia de que adolescente é “pessoa-problema”. Para o médico Ricardo Ayres, o jovem bem informado adota uma atitude de autocuidado de modo mais eficaz que o adulto bem informado. Prova disso é que uma pesquisa do Ministério da Saúde de 2004 sobre comportamento sexual do brasileiro demonstrou que, na faixa etária de 15 a 24 anos, a maioria utilizou preservativo na última relação sexual. “Percebemos que as faixas mais velhas têm mais práticas de risco que as mais novas.” Porém, alerta o médico, esse não é um processo mecânico: exige informação, mas também envolvimento do jovem nas discussões.

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Linhas estratégicas Na nova política de atenção à saúde de adolescentes e jovens, as ações voltadas ao crescimento e desenvolvimento saudáveis, por exemplo, prevêem o credenciamento dos adolescentes de 10 a 15 anos para que se assegure um atendimento sistemático ao menos uma vez ao ano. Já na questão de saúde sexual e reprodutiva, a idéia é contribuir para postergar ou evitar uma segunda gravidez e facilitar a integração social de pais e mães adolescentes. O projeto inclui ainda ações de promoção da cultura da paz, prevenção de violências e assistência a jovens vítimas de agressões. Para o atendimento qualificado, serão distribuídos cartões do adolescente, em versão masculina e feminina. Os cartões, que mais parecem livretos de bolso, foram elaborados com a Universidade de Brasília. Além do histórico de saúde, gráfico de peso e altura e controle de vacinação, incluem informações sobre sexo seguro, saúde bucal, alimentação, aspectos da legislação (em especial o

Estatuto da Criança e do Adolescente) com relação aos direitos e finaliza com uma página para se refletir sobre projeto de vida. A receptividade ao cartão será testada em oito municípios, antes da sua distribuição nacional. “Mas apenas distribuir o cartão não resolve. É necessário que ele seja de fato utilizado e que o adolescente passe a valorizar questões como prevenção de doenças e melhoria na sua qualidade de vida e quebrar o mito de que jovem não adoece ou não precisa de atenção especial na saúde”, diz Thereza de Lamare. Articulação nacional O desafio é grande, pois a proposta federal depende da adesão das secretarias de saúde municipais. Toda a sua aplicação será acompanhada por um Conselho Gestor, que inclui representantes do governo municipal, estadual e federal. Além disso, para a política funcionar em âmbito local, é preciso integração das equipes de saúde, parcerias com a sociedade civil, estímulo à participação juvenil e ações intersetoriais complementares que envolvem áreas de educação, esporte e lazer e são a chave do sucesso dessa proposta ambiciosa, porém exeqüível, na opinião de Thereza de Lamare. Em um tema delicado, como o de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e Aids, a política prevê articulação com o Ministério da Educação para a ampliação do programa Saúde e Prevenção nas Escolas, com jovens promotores de saúde, um projeto que já existe em parceria com a Unesco.

“As pessoas devem ter acesso livre e verdadeiro às informações na medida em que tenham necessidade. Estou convicto que se deve discutir sexualidade já no ensino fundamental e tratar do tema da prevenção às DSTs aos 12, 13 anos, com uma perspectiva adequada à idade”, diz o dr. Ricardo Ayres. Mas, para ele, a política de saúde deveria ser mais criativa em termos de estratégia, para atingir os jovens também fora da escola, incluindo os que vivem na rua, os privados de liberdade e os que estão no trabalho, com ações desenvolvidas em centros comunitários e de lazer para a promoção da saúde e não apenas sob ponto de vista de prevenção à doença.

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A NOVA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DE ADOLESCENTES E JOVENS VISA AO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO SAUDÁVEIS, À SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA E À REDUÇÃO DA MORTALIDADE PELA VIOLÊNCIA E ACIDENTES Onda Jovem 46_67_ok.indd 63

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ciência

POR SI MESMO PARA TORNAR-SE AUTÔNOMO, CAPAZ DE SE CUIDAR, O JOVEM ENFRENTA UMA REVOLUÇÃO ORGÂNICA. A NOVIDADE É QUE OS HORMÔNIOS NÃO SÃO OS PROTAGONISTAS DESTA HISTÓRIA por_Karina Yamamoto ilustrações_Anderson Rei

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Durante a segunda década da vida, além das visíveis mudanças no corpo que evidenciam o sexo, uma outra revolução acontece dentro da nossa cabeça. Tanto no sentido figurado quanto no literal. O cérebro passa por uma série de transformações, cujo objetivo é adquirir as competências necessárias para amadurecer como adulto, incluindo tomar conta de si mesmo. Uma parte desses eventos fisiológicos ajuda a explicar o gosto que muitos jovens demonstram pelo risco, por que são impulsivos, valorizam tanto a turma e estão sempre dispostos a questionar a autoridade. Ou seja, o mesmo processo que permite aos jovens se tornarem mais cuidadosos em relação a sua integridade também abre brechas para atitudes que podem, eventualmente, contribuir para prejudicar sua saúde. A neurociência já começa a entender o que acontece nesse período. Com essas informações, os adultos podem compreender melhor o processo e interagir de forma mais positiva com os jovens, dando-lhes o necessário suporte para que tomem suas decisões. Porque é disso que se trata: tomar decisões. E algumas orientações antigas, antes baseadas apenas no senso comum, agora se comprovam eficazes: fazer esporte

nessa fase, por exemplo, é mesmo uma ótima solução para os conflitos do corpo – e do cérebro também. Afinal, para a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, autora do livro “O Cérebro em Transformação”, este órgão é quem comanda. “É preciso acabar com essa besteirada de que são os hormônios e pronto”, diz Suzana, professora na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em seu livro, Suzana afirma que a fase juvenil é, numa visão biológica mais crua, também o período em

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que o cérebro se torna capaz de lidar com as competências reprodutivas adquiridas na puberdade e suas conseqüências. Ou seja, depois de incorporados os interesses pelo sexo, é hora de aprender a enxergar a vida levando em conta mais essa nuance. O que nem sempre é fácil. Até porque, ao mesmo tempo, é preciso reaprender a lidar com o novo corpo. Ao final do estirão de crescimento, o córtex parietal, que é responsável pelas informações sensoriais, passa por uma faxina de ligações sinápticas. Assim, as conexões pouco utilizadas entre uma célula do cérebro e outra são eliminadas. Provavelmente, vão para o beleléu aquelas que representavam o esquema corporal antigo. O que pode ajudar nessa fase? A primeira solução é olhar-se bastante no espelho. A segunda é um bom e velho hábito: praticar esportes. As duas estratégias ajudam a enviar repetidamente sinais de como é esse “novo” corpo, facilitando sua percepção e o convívio com ele. “A preocupação com a imagem do corpo leva o adolescente para a academia, o que é muito bom porque além da satisfação que a prática de exercícios proporciona, melhora a auto-estima e há espelhos por todo lado”, diz Suzana. Desde que não haja exageros, é claro. Em busca do prazer Do ponto de vista do cérebro, há ainda outra vantagem na prática regular de exercícios ou esportes. Quando se exercita, o organismo libera substâncias que nos dão sensação de bem-estar – o que é mais que bem-vindo no caso dos jovens. É que, nessa fase, o cérebro perde um terço dos receptores de dopamina, uma das principais substâncias responsáveis pelo nosso prazer. Isso acontece numa região (núcleo acumbente) que faz parte do nosso sistema de recompensa, um grupo de

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O PROCESSO DE AMADURECIMENTO CEREBRAL, QUE PERMITE AOS JOVENS SE TORNAREM MAIS CUIDADOSOS EM RELAÇÃO A SI MESMOS, TAMBÉM EXPLICA ALGUNS COMPORTAMENTOS DE RISCO estruturas responsáveis por literalmente recompensar atitudes úteis (ou, ao menos, interessantes para nossa sobrevivência). Como conseqüência dessa perda, fica mais difícil agradar a esse sistema. Receber um afago dos pais ou ganhar uma sobremesa – mimos que fazem a felicidade de uma criança – não provocam nem cócegas no sistema de recompensa de rapazes e moças. Sob esse aspecto, fica mais fácil entender dois males de que padecem muitos jovens: o tédio e a preguiça. Se o sistema de recompensa está meio para baixo, é compreensível também a ânsia dos jovens por novidades e situações de risco. Eles precisam de estímulos mais intensos e com maior freqüência para se sentirem bem.

Outro setor cerebral em franca mudança é o córtex pré-frontal – uma área que se localiza bem atrás da testa. Ela é responsável pelo que os adultos chamam de “juízo”. A capacidade de se colocar no lugar do outro e de prever as conseqüências de um ato e até conseguir articular todas as informações recebidas em prol das duas primeiras atitudes são tarefas dessa região. Nesse período da vida, ela também elimina as ligações entre as células cerebrais que são pouco usadas, como no córtex parietal, já

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citado. Ao mesmo tempo, os neurônios estão passando por uma transformação que aumenta a velocidade dos impulsos elétricos que os une, trazendo mais agilidade mental. Às vezes, pode ser difícil conciliar um sistema de recompensa ávido por emoções intensas com um córtex pré-frontal ainda em maturação. O primeiro quer aventuras e o segundo ainda nem sempre é capaz de sinalizar o real perigo da situação. Começam os conflitos: os adultos, investidos ou não de autoridade, tentam impor limites e os jovens reagem com rebeldia ou revolta. Proibir, nessa fase, acaba tendo o mesmo efeito de um incentivo. O melhor, recomendam os especialistas, é procurar ajudar o jovem a tomar a melhor decisão possível. “Grande parte dos conflitos se deve ao fato de um lado querer decidir pelo outro – aí se apela para o poder”, avalia Suzana Herculano-Houzel. Acontece que, mesmo sem estar completamente maduro para escolhas, o jovem precisa treinar essa capacidade e, de preferência, com a retaguarda dos adultos à sua volta. “O que a gente

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pode fazer é ajudar e torcer para que ele se decida pelo melhor, mas a decisão é dele”, completa Suzana. Como ajudar? Apresentando opções, muitas mesmo, o maior número possível delas. “Não se trata de educar para a adolescência, mas de explorar, de apreender o processo em curso nesse período da vida”, acrescenta o psicanalista André Gilles, da Universidade Estadual de São Paulo, em Bauru. “A adolescência é um momento que não deve ser encurtado nem controlado.” Novas experiências Tomar decisões é mesmo o aprendizado crucial nessa etapa, marcada por muitas novidades. “Várias primeiras experiências que acontecem nessa fase de vida trazem riscos à saúde: a primeira dose de álcool, de fumo ou drogas, além da iniciação sexual, que pode abrir as portas para as doenças sexualmente transmissíveis, incluindo a Aids, e para a gravidez precoce”, diz o médico Mauro Fisberg, coordenador clínico do Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente da Universidade Federal de São Paulo. E se não há uma preocupação com doenças típicas dessa fase, isso não significa relaxar a atenção. “É nessa idade que se iniciam as doenças de gente idosa”, diz o clínico geral Arnaldo Lichtenstein, do Hospital das Clínicas, em São Paulo. “Consumir álcool não mata o jovem, mas, depois de 30 anos, uma cirrose pode tirar sua vida”, diz. Muita informação e diálogo sobre os perigos para a saúde e sobre que cuidados tomar com o corpo são a melhor

prevenção contra problemas no futuro. Ainda valem as mesmas regras de ouro para a vida toda: comer bem, dormir bem e se exercitar. E se divertir, é claro. A alegria é um remédio poderoso, que gera uma disposição positiva para o funcionamento de todo o organismo. Os palhaços dos Doutores da Alegria, ONG que leva diversão a crianças e jovens hospitalizados, obtêm resultados concretos – como a diminuição do tempo de internação – nos locais onde atuam. E sabem que o jovem exige uma comunicação peculiar. “Os palhaços têm de buscar um canal específico para a interação e, na relação com os jovens, o lúdico fica bem menos explícito que com as crianças”, diz a psicóloga Morgana Massetti, coordenadora do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento dos Doutores. Rir, explica Morgana, transforma a realidade da doença. “Os Doutores estão atrás da parte saudável dos pacientes”, diz a psicóloga. Então, se a conversa com o jovem azedar, lembre-se do potencial de mudança que uma bela gargalhada pode produzir.

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chat de revista

SAÚDE TOTAL

RENATO NUNES / IMAGENS DO POVO

PAULA CRISTINA LIMA SILVA, 24 É educadora social do projeto Fala Garotada, em João Pessoa (PB)

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formado em Serviço Social, que atua na ONG Grupo Dignidade, com ações educativas para a comunidade de gays, lésbicas e transgêneros; a carioca Ana Paula Sciammarella, 24 anos, advogada atuante na área de direitos humanos e integrante da Rede Jovens Brasil – Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos; e o estudante de Educação Física, Augusto Dias Douto, 24 anos, de Porto Alegre (RS), envolvido em um projeto social com esportes para jovens na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Onda Jovem fez as perguntas iniciais e os jovens prosseguiram a troca de idéias. A seguir, nosso “chat de revista”.

ANDRÉA GRAIZ

Ter saúde é desfrutar um estado de bem-estar físico, emocional e social. Os ambientes físico e social – a família, a escola, os amigos, os meios de comunicação, o lugar em que se mora e se trabalha – podem favorecer ou prejudicar essa condição de vida saudável, principalmente entre os jovens. Em fase de elaboração de projetos de vida, eles estão mais expostos aos apelos que os rodeiam, muitos de risco, como o uso de drogas ou a preocupação exagerada com a aparência, fatores que podem comprometer a saúde gerando doenças e até a morte. Nessa direção caminhou a conversa na sala de bate-papo de Onda Jovem, com quatro convidados: Paula Cristina Lima Silva, 20 anos, educadora social da ONG Amazona, em João Pessoa (PB), uma associação de prevenção à Aids que trabalha pela formação integral do jovem levando informações a comunidades de baixa renda; o curitibano Enéias Germano Pereira, 23 anos,

AUGUSTO DIAS DOUTO, 24 Estudante de Educação Física na Unisinos (RS), atua em projeto social de esportes para jovens

ANA PAULA SCIAMMARELLA, 24

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ENÉIAS GERMANO PEREIRA, 23

STANLEY TALIÃO

JONAS OLIVEIRA

Formado em Serviço Social, promove ações educativas para a comunidade de gays, lésbicas e transgêneros em Curitiba (PR)

ANA PAULA SCIAMMARELLA, 24 Advogada carioca, milita pelos direitos sexuais e reprodutivos em rede de jovens

QUATRO JOVENS DEBATEM AS DIMENSÕES DA VIDA SAUDÁVEL Onda Jovem: O que é ter saúde para você?

deixe relaxado, beneficiando não só nossa saúde física como a emocional.

ENÉIAS: Não é só estar sem doenças ou enfermidades. Ter saúde é estar se sentindo bem nas dimensões biológica, psíquica e social. Significa estar interagindo com plena consciência no meio em que estou inserido, sem colocar em risco a qualidade de vida. Corpo e mente têm de estar atendidos num contexto geral e aí uma das questões fortemente ligadas à saúde é a dos direitos sexuais, pois a sexualidade também determina nossa forma de interagir e estar integrado de forma saudável ao ambiente.

AUGUSTO: A saúde diz respeito a se ter condições físicas e psicológicas para realizar as tarefas diárias, assim como ter disposição e condição de manter momentos de lazer, de prática de esportes, programas culturais etc.

ANA PAULA: Eu concordo. Ter saúde é um estado de bem-estar físico, mental e social. Para mim, é viver num meio ambiente saudável, e isso significa ter acesso a informações e meios adequados para uma vida saudável nos seus diferentes aspectos. PAULA CRISTINA: Ter saúde para mim é principalmente poder ter uma boa alimentação, praticar esportes, fazer caminhadas ou algo que nos

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O ambiente que o rodeia (a família, a escola, os amigos, os meios de comunicação, o lugar em que mora) favorece ou prejudica sua saúde? ENÉIAS: Acho que o favorecer ou prejudicar tem a ver com a forma como me relaciono nesses espaços. Se a relação que eu construo nesses ambientes é saudável, vai favorecer minha saúde integral, minha qualidade de vida. AUGUSTO: O ponto principal é exatamente esse. No momento em que a gente mantém relações saudáveis com a família, amigos e colegas, e tem prazer em estar nos lugares onde ocorrem essas relações, a saúde com certeza é favorecida. Acredito ser impossível uma pessoa se dizer saudável vivendo em um ambiente onde se sente desconfortável, como pessoas que odeiam seu trabalho, por exemplo, ou estudam uma coisa de que não gostam. As sensações de bem-estar e de alegria são fatores essenciais para uma vida saudável, e esses sentimentos são bem mais fáceis de serem alcançados quando se está em um ambiente favorável.

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ENÉIAS: As atitudes de risco que assumimos ao longo de nossas vidas são construídas pelas relações que mantemos. Se essas relações podem comprometer a saúde, então é tempo de avaliar e tomar outra conduta. Cada um deve ter ciência de seus limites. AUGUSTO: Cada vez mais a mídia e os modismos ditam os hábitos das pessoas. Em determinados grupos sociais a pressão para adotar certas atitudes é muito grande. Pessoalmente,

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ANA PAULA: Não me sinto, nem nunca me senti pressionada a adotar alguma atitude ou comportamento por causa do grupo. Em geral, respeito as escolhas alheias, mas posso, ou não, compartilhar delas. É fato que, quando você está em um ambiente onde as pessoas adotam determinados comportamentos, você se sente mais à vontade para realizar aquela conduta também, mas isso não quer dizer que eu me sinta “obrigada” ou influenciada a fazer alguma coisa. Quer dizer, apenas, que ali eu tenho liberdade para me comportar da maneira que melhor me convier. Que aspecto da saúde mais o preocupa, qual está mais presente no seu dia-a-dia? ENÉIAS: Por conta de minha atuação no Grupo Dignidade, os temas mais presentes no meu cotidiano, no debate com amigos, são o contágio pelo HIV/Aids, as hepatites virais, a importância do uso de preservativos, a questão do uso abusivo de drogas. AUGUSTO: Atividade física, alimentação, qualidade de vida são temas que fazem parte de minha rotina de trabalho e de vida. Porque entre os principais objetivos de um educador físico está a conscientização do público por ele atendido. Para isso, é necessário que o profissional seja coerente com seus hábitos.

SOBRE

PAULA CRISTINA: Sim, e acho injusto. Recentemente, por exemplo, recebi uma proposta para fazer desfiles de moda. Mas, se eu quiser me candidatar a esse trabalho, tenho de atender às condições de cortar os meus cabelos e emagrecer três quilos. Por necessidade financeira, talvez tenha de me submeter a essas exigências.

nunca me senti pressionado a um comportamento e acredito que, neste ponto, na tomada de certas atitudes que podem acarretar risco, saber quem você é, ter personalidade, é fundamental.

PARA SABER MAIS

Você se sente pressionado, nos ambientes que freqüenta, a adotar atitudes de risco, como beber, fumar, fazer sexo inseguro, fazer dietas, se automedicar? Como reage?

AUGUSTO DOUTO

SOBRE

ANA PAULA: Sem dúvida o ambiente pode prejudicar a saúde, se você não tem uma escola de qualidade que possibilite acesso à informação, se você mora em uma região mais pobre, sem saneamento básico, com alto índice de violência ANA PAULA ou onde não existam hospitais próximos. Certamente a sua saúde será prejudicada. Quanto aos meios de comunicação, em geral eles tendem a favorecer a saúde quando veiculam notícias de caráter informativo e imparcial. Porém, esses mesmos meios de comunicação, muitas vezes, são os que fazem a publicidade de produtos prejudiciais à saúde.

“Bem-estar e alegria são essenciais para a vida saudável”

PARA SABER MAIS

PAULA CRISTINA: O ambiente tanto pode favorecer como prejudicar a saúde. Na escola pública, por exemplo, você pode ter informações corretas sobre saúde, mas ela não oferece boa alimentação aos alunos, prejudicando então a saúde. Na família, principalmente as de baixa renda, pode ocorrer a mesma coisa. Mas acho que os meios de comunicação são os que mais prejudicam, ao divulgar padrões de saúde que nada têm a ver com a realidade. Qual jovem de baixa renda tem condições de se sentir saudável diante dos modelos de saúde e de vida apresentados, por exemplo, pela TV?

ENÉIAS

PACTO COM A VIDA/GRUPO DIGNIDADE ÁREA DE ATUAÇÃO CURITIBA (PR). PROPOSTA CONTRIBUIR COM A REDUÇÃO DA INCIDÊNCIA DA CONTAMINAÇÃO DO HIV AIDS JUNTO A JOVENS GAYS, POR MEIO DE ABORDAGENS DE PREVENÇÃO NAS CASAS NOTURNAS DE FREQÜÊNCIA GAY NA CIDADE. JOVENS ATENDIDOS 140 JOVENS ABORDADOS. APOIO PACT BRASIL, PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA. CONTATO RUA MARECHAL FLORIANO PEIXOTO, 366 SL 47 – CENTRO – CURITIBA (PR) – TEL.: 41/3222-3999 – E-MAIL: DIGNIDADE@GRUPODIGNIDADE.ORG.BR OU ENEIAS@GRUPODIGNIDADE.ORG.BR.

FALA GAROTADA, PROJETO DA AMAZONA – ASSOCIAÇÃO DE PREVENÇÃO À AIDS ÁREA DE ATUAÇÃO: JOÃO PESSOA (PB). PROPOSTA A DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO LEVANDO INFORMAÇÃO, FORMAÇÃO E EDUCAÇÃO CIDADÃ A COMUNIDADES DE BAIXA RENDA. JOVENS COMUNICADORES PRODUZEM PROGRAMAS DE PREVENÇÃO ÀS DST/AIDS EM RÁDIOS COMUNITÁRIAS DO MUNICÍPIO. JOVENS ATENDIDOS 30 A 50 ADOLESCENTES E JOVENS. CONTATO RUA JOÃO AMORIM, 342 – CENTRO – 58013-310 – JOÃO PESSOA (PB) – TEL: 83/3241-6020 – E-MAIL: AZ@AMAZONA.ORG.BR OU WWW.AMAZONA.ORG.BR.

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SOBRE PARA SABER MAIS

SOBRE PARA SABER MAIS

PROGRAMA ESCOLINHAS INTEGRADAS ÁREA DE ATUAÇÃO SÃO LEOPOLDO (RS). PROPOSTA TRABALHAR O ESPORTE COMO MOTIVADOR DA AÇÃO EDUCATIVA, DESENVOLVENDO COMPETÊNCIAS COGNITIVAS, PESSOAIS, SOCIAIS E PRODUTIVAS. JOVENS ATENDIDOS 380, ENTRE CRIANÇAS, PRÉ-ADOLESCENTES E ADOLESCENTES. APOIO UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS (UNISINOS) E INSTITUTO AYRTON SENNA, POR MEIO DO PROGRAMA EDUCAÇÃO PELO ESPORTE. CONTATO: AV. UNISINOS, 950 – BAIRRO CRISTO REI – 93.022-00 – SÃO LEOPOLDO (RS) – TEL.: 51/3590-8789 – E-MAIL: PEI@UNISINOS.BR.

REDE JOVENS BRASIL – DIREITOS SEXUAIS E DIREITOS REPRODUTIVOS ÁREA DE ATUAÇÃO NACIONAL, EM REDE. PROPOSTA A REDE TRABALHA COM TEMAS COMO SAÚDE E DIREITO NOS ASPECTOS SEXUAL E REPRODUTIVO, E JUVENTUDE, GARANTINDO QUE NESSAS DISCUSSÕES SEJAM RESPEITADAS AS DIVERSIDADES PROVENIENTES DOS RECORTES DE GÊNERO, RAÇA/ETNIA, CLASSE SOCIAL, ORIENTAÇÃO SEXUAL E GERAÇÃO/IDADE. APOIO REDE NACIONAL FEMINISTA DE SAÚDE – DIREITOS SEXUAIS E DIREITOS REPRODUTIVOS; ÁREA TÉCNICA DE SAÚDE DA MULHER – MINISTÉRIO DA SAÚDE/ GOVERNO FEDERAL; PACIFIC INSTITUTE FOR WOMEN´S HEALTH, FUNDAÇÃO FORD – BRASIL, IWHC (INTERNATIONAL WOMEN’S HEALTH COALITION); REDE SAÚDE DAS MULHERES LATINO-AMERICANAS E DO CARIBE (RSMLAC); FUNDO DE POPULAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (UNFPA). CONTATO ANA ADEVE, UNIÃO DE MULHERES, RUA CORAÇÃO DA EUROPA, 1395 – BELA VISTA – 01314 000 – SÃO PAULO (SP) – TEL: 11/3106-2367 – E-MAIL: OLA@REDEJOVENSBRASIL.ORG.BR; WWW.REDEJOVENSBRASIL.ORG.BR.

“O governo afeta a qualidade da minha saúde” PAULA CRISTINA LIMA PAULA CRISTINA: Em João Pessoa, o tema da Aids e das doenças sexualmente transmissíveis é o que mais preocupa as pessoas. O assunto é ainda mais importante entre as pessoas de baixa renda, sem acesso à informação e a serviços de saúde de qualidade. Em relação a essas questões, preocupa a moda do “ficar”. As pessoas sentem vontade e simplesmente ficam, sem compromisso, sem se conhecerem direito, sem avaliarem os riscos. Como educadora social, estou sempre conversando com os jovens sobre a necessidade de se cuidarem. Afinal, digo, quem vê cara não vê Aids...

PAULA CRISTINA

As políticas governamentais podem ter influência sobre a sua saúde física e emocional? De que forma? ENÉIAS: Sem dúvida. O governo pode aprovar leis ou adotar posicionamentos contrários àquilo que acredito ser fundamental para vivenciar no dia-a-dia a minha saúde, e isso poderá me afetar. PAULA CRISTINA: O governo afeta a qualidade da minha saúde quando desvia o dinheiro que era para ser investido nessa área, prejudicando o atendimento em postos de saúde, a distribuição de remédios etc.

AUGUSTO

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AUGUSTO: Creio ser bem complicado que políticas de cunho assistencialista, como vem se caracterizando a maioria das ações dos últimos governos, contribuam para uma melhoria significativa da saúde. Essas políticas atingem uma parcela baixíssima da população e por um tempo também limitado. Com certeza, se existissem políticas coerentes com as necessidades do país, isso influenciaria pelo menos o lado emocional, que ficaria menos abalado com certas realidades vistas diariamente.

ANA PAULA: Acredito que as políticas governamentais são fundamentais para a saúde tanto física quanto mental. Cabe ao governo adotar políticas de saúde com mecanismos especiais, respeitando as diferenças que existem na vida real. Realizando, por exemplo, um atendimento adequado aos jovens, dentro das suas especificidades e necessidades especiais, com respeito e privacidade. Sem dúvida um atendimento adequado traria um reflexo positivo para nossa saúde. Vocês acreditam que a saúde integral dos jovens vem sendo atendida? ANA PAULA: Acredito que ainda não. Apesar de alguns significativos avanços, como a participação dos jovens na política de direitos sexuais e direitos reprodutivos, ainda não existem serviços de saúde para atender, especificamente, à juventude e às necessidades próprias dessa idade. PAULA CRISTINA: Acho que não, e isso não acontece só com os jovens. Os adultos, crianças e idosos também estão expostos à falta de serviços de saúde de qualidade. AUGUSTO: Penso que os serviços de saúde priorizam mais o tratamento do que a prevenção. As ações voltadas à prevenção são pouco efetivas, pois ficam restritas a campanhas com comerciais e cartazes que não alcançam toda a população e, na sua maioria, não têm continuidade. Seriam mais eficazes se fossem baseadas em programas realizados nas comunidades com participação efetiva do público a ser atingido. Programas que utilizam o esporte como meio de transmissão de informações vêm se mostrando uma alternativa eficaz. Acredito muito na contribuição do esporte para a saúde integral dos jovens.

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ANA PAULA: Eu concordo. O esporte é muito importante para a saúde do jovem, pois trabalha o físico, o mental e o social de maneira integrada. A atividade física, o convívio com outros jovens, o aumento da auto-estima – coisas que o esporte proporciona – resultam, certamente, em uma vida mais saudável. ENÉIAS: A questão da saúde está ligada positivamente à prática do esporte desde que a atividade física seja exercida dentro de limites; não pode se tornar um vício capaz de comprometer o bemestar geral, a qualidade de vida. PAULA CRISTINA: A atividade física é um investimento no futuro. Quem pratica exercícios desde cedo vai ter vida mais saudável na velhice.

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PELA SAÚDE DO MEIO AMBIENTE a troca de informações no site do projeto (www.geojuvenil.org.br), um instrumento para reunir depoimentos e impressões dos jovens, incluindo criações artísticas como vídeo, música ou poesia relacionadas ao tema. “Essas manifestações, assim como as experiências de projetos, dados e análises sobre o meio ambiente serão reunidas em um livro e um CD, a serem lançados em 5 de junho, dia nacional do meio ambiente”, informa Carla. O material (3 mil livros e 5 mil CDs) será distribuído para organizações ambientalistas, bibliotecas públicas e salas verdes (pontos de ação e debate ambiental de projeto do Ministério do Meio Ambiente).

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Links

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Secretaria Nacional da Juventude, além de organizações como a União dos Escoteiros do Brasil. O Geo Juvenil Brasil “quer dar visibilidade a ações socioambientais que já estejam sendo desenvolvidas, propiciar a replicação dessas experiências e principalmente conscientizar o jovem, que será um tomador de decisões no futuro, de que ele pode fazer a diferença na saúde ambiental do Brasil”, diz Carla Hirata, da secretaria executiva do projeto. Iniciado em 2005, o Geo Brasil vem mobilizando a juventude para os desafios ambientais por meio da ação de cerca de 60 jovens integrantes de organizações ambientalistas em todo o Brasil. Eles promovem debates em suas comunidades e também fomentam

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Jovens de todo o Brasil estão contribuindo para a formação de uma sociedade voltada para o desenvolvimento sustentável, estimulando ações e o debate sobre a preservação e a conservação ambientais. Eles estão reunidos no projeto Geo Juvenil Brasil, executado por uma organização juvenil, o Grupo Interagir, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), os ministérios da Educação e do Meio Ambiente, a

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NO UNIVERSO DAS DROGAS

A relação que os jovens estabelecem com as drogas é o tema da última coletânea da série Jovens e Juventude: Contribuições, publicada pelo projeto Redes e Juventudes que, desde 2003, contribui para as discussões sobre juventude no país. O Redes e Juventudes reúne cerca de 24 entidades governamentais e nãogovernamentais dedicadas ao trabalho com jovens, sediadas em sua maioria no Nordeste do Brasil. De autoria do professor chileno Felipe Ghiardo, a coletânea, intitulada "Aproximando-nos ao sentido do uso de drogas e da prevenção a partir dos jovens", revela os dados de uma pesquisa quantitativa feita com jovens chilenos usuários e não usuários de substâncias entorpecentes. O estudo indica que as campanhas educativas que apostam na divulgação dos efeitos negativos das drogas não conseguem sensibilizar o público juvenil. Para os jovens entrevistados, as campanhas deveriam provocar mais reflexão sobre o tema. O trabalho de Felipe Ghiardo é o quarto da série "Jovens e Juventude: Contribuições". As publicações anteriores abordaram temas como participação e organização juvenis; a experiência do Conselho da Juventude em Medellín (Colômbia) e o mercado

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A sexualidade e a saúde reprodutiva estão entre os aspectos que mais preocupam aqueles que vivem e atuam com jovens especiais. Como qualquer jovem, eles têm desejos e também o sonho de formar uma família. Pais, familiares e professores nem sempre estão preparados para orientar essas manifestações. A fim de apoiá-los e sensibilizá-los para essas questões, o projeto PIPA – Prevenção Especial – e a Associação de Prevenção e Tratamento da Aids (APTA) lançaram recentemente um vídeo e um manual de suporte pedagógico. É o kit Pipas no Ar, "uma referência simbólica ao direito que esses jovens têm de expressar sua sexualidade e voar com seus sonhos", diz a psicóloga Fernanda Sodelli, uma das idealizadoras do projeto. "O jovem com necessidades especiais quer se conhecer, namorar e sonhar como todo jovem", diz. O vídeo, dirigido por Paulo Barouk e com músicas cedidas pelo compositor

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resume Fernanda, procura derrubar preconceitos que envolvem a sexualidade e os direitos reprodutivos de jovens com necessidades especiais, informando também sobre temas como prevenção contra a Aids e abuso sexual. O material, cuja produção teve o apoio da Unesco, é distribuído pela APTA ao custo de R$ 30,00. Contatos pelo telefone 11/3266-3345 ou apta@apta.org.br.

VOLUNTÁRIOS ADOTAM SORRISO

de trabalho para os jovens. Segundo Elisângela Nunes, uma das jovens coordenadoras do Redes e Juventudes, de Recife, o tema trabalho e juventude deverá se repetir na próxima publicação da série e também a questão das relações educativas entre jovens e ONGs poderá vir a se constituir num novo número. "O objetivo será sempre contribuir para o debate e para as ações voltadas para os jovens", diz a coordenadora. Todas as publicações da coletânea Jovens e Juventude: Contribuições estão disponíveis gratuitamente em PDF no site www.redesejuventudes.org. br. Quem se interessar em receber um exemplar deve enviar um e-mail para redesejuventudes@redesejuve ntudes.org.br.

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Lenine, exibe oficinas realizadas com jovens da Associação Carpe Diem que foi parceira no projeto por atuar com educação complementar a portadores de síndrome de Down e deficiência mental. "Foram dez oficinas, de quatro horas cada uma, em que os jovens foram estimulados a falar de suas habilidades, desejos e projetos de vida. Pais e professores também participaram de rodas de conversa e todos puderam ver de uma nova perspectiva os jovens exercendo sua autonomia", conta Fernanda, lembrando, como exemplo marcante, da participação de uma jovem com síndrome de Down, que falava sobre o seu direito de ter filhos. Ela dizia ouvir que não podia ter filhos porque a criança poderia nascer com a síndrome. "Falam isso como se uma pessoa como eu não pudesse existir. Mas eu estou aqui, eu existo", argumentou a garota. O Pipas no Ar,

Milhares de crianças e jovens de baixa renda estão recebendo tratamento odontológico gratuito pela ação voluntária de dentistas que se uniram à Fundação Abrinq no programa Adotei um Sorriso. O projeto começou em 1996, por iniciativa de 15 dentistas, e acabou envolvendo outras sete categorias profissionais, entre elas fonoaudiólogos, pediatras e nutricionistas. "Hoje são 4.252 profissionais voluntários, 90% deles dentistas, atendendo em todo o Brasil", conta a socióloga Denise Cesário, coordenadora do programa. Dentistas que adotam um sorriso atendem em seu consultório uma criança ou adolescente encaminhado por uma organização social parceira do programa. Eles se comprometem a garantir a saúde bucal do paciente até os 18 anos. Também promovem palestras e outras ações educativas nas instituições. "Mais de 5 mil crianças e jovens são beneficiados diretamente pela ação clínica e outros 56 mil pelas ações institucionais. O programa já chegou a 23 estados, 159 municípios e envolve 210 organizações sociais", diz Denise. "O serviço público não dá conta da saúde bucal da população. Colocar flúor

na água funciona. Vários estudos já comprovaram que essa medida levou à diminuição da incidência de cáries, mas ela precisa estar associada a medidas educativas, como uma alimentação com menos ingestão de açúcar e higiene bucal freqüente", diz a dentista Edilene Rosani Kiss, voluntária do Adotei um Sorriso, que atende oito crianças e jovens. Para participar como profissional voluntário do Adotei um Sorriso basta acessar o site www.fundabrinq.org.br/adotei e preencher a ficha cadastral.

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EM VÔO LIVRE E SAUDÁVEL

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MAIS VISÍVEIS

TOM CABRAL

Fato Positivo por_Cecília Dourado

OS JOVENS COM DEFICIÊNCIA AINDA ENFRENTAM MUITOS PROBLEMAS, MAS O BRASIL NUNCA DISCUTIU TANTO A QUESTÃO Um cidadão com direitos e deveres e que não depende da autoridade institucional ou familiar. Dono do seu próprio nariz. Essa é a visão sobre pessoas com deficiência que se deseja consolidar atualmente no Brasil. "Os jovens com deficiência hoje fazem parte de uma sociedade que, se ainda mostra despreparo e desinformação, começa a ter espaços mais acolhedores e atentos à diversidade de seus componentes", diz Ana Maria Barbosa, supervisora de comunicação da SACI (Solidariedade, Apoio, Comunicação e Informação), uma rede eletrônica criada há seis anos para difundir informações sobre deficiência em âmbito nacional. Se ainda há muito para evoluir, é verdade também que nunca se discutiu e se refletiu tanto sobre a questão, que já chegou à novela das oito e é tema, neste ano, da Campanha da Fraternidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

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SOBRE PARA SABER MAIS

Integração e inclusão Naquela época, a pessoa com deficiência era afastada do convívio social, diz Ana Maria. Em meados do século 20, surgiu o conceito da integração social, segundo o qual alguns poderiam ser "inseridos" na sociedade, desde que se adaptassem. O movimento evoluiu, por iniciativa das próprias pessoas com deficiências, para a busca do reconhecimento de sua cidadania, com direito à independência, ao poder sobre a sua própria vida e à equiparação de oportunidades, sem paternalismo ou autoritarismo. O termo integração foi substituído por inclusão social, conceito que pressupõe a pessoa

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com deficiência como cidadã plena, ativa, e uma sociedade que se modifica para recebê-la, derrubando barreiras físicas e comportamentais. Os avanços tecnológicos e da medicina contribuíram para esse processo. Um dos exemplos mais expressivos é o aumento da expectativa de vida das pessoas com síndrome de Down, que na década de 40 era de 12 a 15 anos, e que hoje está por volta de 60 anos. Com a perspectiva de sobreviverem aos pais, é cada vez maior o número desses jovens que se preparam para se tornar autônomos, e vários já chegaram à universidade. Segundo Ana Maria, a legislação reflete e consolida essa evolução, com leis que ajudam a garantir o direito de ir e vir da pessoa com deficiência, não só do ponto de vista físico, mas também do acesso à comunicação, educação, mercado de trabalho, lazer. Desde 1988, quando o tema passou a integrar as normas constitucionais brasileiras, foram aprovadas leis que estabelecem critérios para a promoção do acesso em todos os ambientes e a obrigatoriedade de reserva de postos a pessoas com deficiências, inclusive bolsas de estudo em universidades privadas. "Pelos movimentos das pessoas com deficiência e por força da lei, a sociedade em geral se vê forçada a se modificar para acolher esses cidadãos, que chegam cada vez em maior número às salas de aula, empresas, aos parques e cinemas", diz Ana Maria. Isso também beneficia a sociedade, que aprende a acolher a diversidade e aceitar a participação ativa não só de pessoas com deficiência, mas também de outros segmentos vítimas de preconceito e segregação.

Avesso

Com isso, embora ainda haja tanto para avançar, é cada vez maior o número de jovens com deficiência que buscam ocupar o seu espaço na sociedade, freqüentando universidades, trabalhando e saindo de casa para se divertir. Neste aspecto, a internet é uma grande aliada e a rede SACI está desenvolvendo o site SACI Jovem, para tratar de sexo, vestibular, baladas, com informações dos próprios jovens. "Houve sem dúvida um avanço constante nas relações entre as pessoas com deficiência e a sociedade como um todo", diz o assessor da Federação Nacional das APAEs (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), Josué Tobias. A primeira APAE, uma das pioneiras no atendimento voltado para a socialização das pessoas com deficiência mental no Brasil, foi fundada no Rio de Janeiro em 1954.

REDE SACI (SOLIDARIEDADE, APOIO, COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO) ÁREA DE ATUAÇÃO TODO O BRASIL, PRINCIPALMENTE SÃO PAULO (COM USUÁRIOS DA REDE TAMBÉM ESPALHADOS POR PAÍSES DA AMÉRICA LATINA, ESPANHA E PORTUGAL). PROPOSTA ESTIMULAR A INCLUSÃO SOCIAL, A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA E O EXERCÍCIO DA CIDADANIA DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA. SUAS PRINCIPAIS FERRAMENTAS DE TRABALHO SÃO A INTERNET E OS CENTROS DE INFORMAÇÃO E CONVIVÊNCIA (CICS). JOVENS ATENDIDOS 1750 CADASTRADOS, ALÉM DE FREQÜENTADORES NÃO-CADASTRADOS. APOIO UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (PRINCIPAL PARCEIRA), FUNDAÇÃO TELEFÔNICA, VITAE, FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL, IBM, INEXO, UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, REDE NACIONAL DE PESQUISA, ENTRE OUTROS. CONTATO WWW.SACI.ORG.BR.

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Não é raro que banheiros adequados a pessoas com deficiência fiquem no alto de uma escada em hotéis e restaurantes. Muitas rampas para cadeiras de rodas são inclinadas demais, inviabilizando seu uso. "Dificuldades como essas se multiplicam nos transportes, escolas, locais de trabalho e lazer", diz Ana Maria Barbosa, da Rede SACI. Existem ainda as barreiras invisíveis. No caso do jovem, por exemplo, raramente são reconhecidos os seus anseios e necessidades como jovem: sexo, baladas etc. Contra as barreiras visíveis, é preciso estabelecer normas e garantir o seu cumprimento, desenvolver tecnologias e adotar políticas públicas adequadas. No caso das barreiras invisíveis, é imprescindível o empenho de todos e do poder público. Para Helcio Rizzi, assessor técnico da Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Corde), as leis podem ajudar a garantir maior acessibilidade, derrubando barreiras físicas; podem combater a discriminação, penalizando-a, mas não bastam para derrubar o preconceito. "Informação, educação e a própria convivência com as pessoas com deficiência são as principais armas contra o preconceito", diz.

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Cartas

FERRAMENTA ÚTIL Recebemos a revista Onda Jovem e gostaríamos de parabenizá-los pela iniciativa e agradecer pelo envio. Muito interessantes as matérias elaboradas, os projetos e os jovens entrevistados e escolhidos para as matérias. Acreditamos que este material é de grande interesse para ser compartilhado com os grupos de jovens e projetos e ONGs que apoiamos. Lis Hirano Wittkamper Fundação W. K. Kellogg

O Consórcio Social da Juventude do DF e Entorno vem parabenizá-los pelo trabalho desenvolvido e divulgado pela revista Onda Jovem. Sidiclei Patricio e equipe

Agradecemos pelo recebimento de Onda Jovem, que está sendo bastante utilizada por nossa equipe! Kátia Inui Coordenadora do Programa Preparação Para o Trabalho Ação Comunitária São Paulo, SP

RECURSO DIDÁTICO

Faço parte de uma ONG que trabalha com jovens da zona rural no interior do Rio Grande do Sul. Onda Jovem me interessou muito por tratar de temas referentes ao nosso público alvo. Adriana Boer

Parabéns pela Onda Jovem! Sou educador social e por intermédio da galera do Bloco do Beco do Jardim Ibirapuera, de São Paulo, tive acesso à revista. Ela é uma ótima ferramenta, que oferece orientação àqueles que estão preocupados com um mundo melhor e que muita das vezes não têm condições de adquirir ou comprar livros com este tipo de conteúdo. As informações são de extrema relevância e o material é de referência importante para a proposição e o acompanhamento de projetos para os jovens, especialmente de nossas periferias. Camilo A. Arias Z. São Paulo, SP

Achamos Onda Jovem extremamente qualificada, com assuntos interessantes, edição gráfica refinada e entrevistados excelentes. O conteúdo vai nos subsidiar com informações importantes para nosso trabalho junto aos jovens. Secretaria da Juventude Prefeitura Municipal de Sorocaba, SP Somos da Fundação de Ação Social de Curitiba e fazemos o gerenciamento de unidades de Abrigamento para Jovens em situação de Risco Social e Pessoal em nossa Cidade. Onda Jovem, além de ser muito interessante, poderá auxiliar nossos educadores na formação dos jovens atendidos. Adriano Mario Guzzoni FAS, Curitiba, PR

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Recebemos Onda Jovem e o interesse foi enorme, dos professores da Escola Estadual Maria de Lourdes Vieira, em conhecer as reportagens ali contidas. Ficaremos gratos em continuar recebendo a revista. E. E. Maria de Lourdes Vieira São Miguel Paulista, SP

FAÇA CONTATO Envie cartas ou e-mails para esta seção com nome completo, endereço e telefone. ONDA JOVEM se reserva o direito de resumir e editar os textos. Endereço: Rua Dr. Neto de Araújo, 320, conjunto 403, CEP 04111-001, São Paulo, SP. E-mail:

ondajovem@olharcidadao.com.br.

Vocês estão de parabéns! A revista Onda Jovem, além de ser bonita, abre um importante espaço para que a sociedade tenha acesso à cultura juvenil. Sou professora e gostaria de utilizar as edições em sala de aula. Adriana Torres Máximo Monteiro, Professora do curso de Psicologia da Pucminas Trabalho como educadora na Associação Cristã de Moços, na CDC Leide das Neves, uma unidade de atendimento social da ACM de São Paulo. Nosso trabalho está voltado para o atendimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social da região do Jabaquara. Gostamos de Onda Jovem, já que ela vai ao encontro daquilo em que acreditamos. Shirley Nunes São Paulo, SP

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Tive o enorme prazer de conhecer a revista Onda Jovem em uma ONG em Fortaleza e gostei muito dos artigos voltados para os assuntos ligados à juventude. Estou sempre buscando conhecimento e esta revista me despertou para o lado social. Marcos Antonio Silva Fortaleza, CE

O Projeto Aeroportos Solidários, desenvolvido pela Infraero Campo Grande, tem na sua programação aulas de cidadania, e por isso nos interessamos pelo conteúdo da revista Onda Jovem. Aziz Eduardo Calzolaio Professor de Cidadania Campo Grande, MS

NA WEB Realmente, estou encantada com tantos artigos e informações sumamente importantes que vocês apresentam neste site. Quanto ao artigo Arte, Cultura e a Juventude (edição número 3), nós aqui, na fronteira com o Uruguai, vimos atuando de forma sistemática e incansável, para justamente lembrar às pessoas que o resgate da cidadania também passa pelo fazer o que se gosta. Nós, como organização não-governamental, a duras penas trabalhamos no sentido de gestionar conhecimento entre profissionais em arte e comunidade, principalmente a escolar. Parabéns a todos pela coragem de acreditar em seus sonhos e seguir em frente. Marta Pujol Professora de Teatro e Literatura Gostaria de parabenizá-los pelo site e pela revista. Informamos que em uma edição do nosso Boletim divulgamos o site desenvolvido por vocês na seção "Para saber mais". Para conhecer nosso Boletim veja: www.ilanud.org.br. Henrique Parra Ilanud – Instituto LatinoAmericano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente O Onda Jovem é um site que tem tudo a ver com a minha realidade. Tenho 19 anos e sou Técnico em Redes de Comunicação e Processamento de Dados. Thales Faggiano São Paulo, SP Parabéns pelo portal, pelo boletim e a abordagem dos conteúdos. Luiz Guilherme Gomes Oficina de Imagens

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Faço parte de uma OSCIP sociocultural de Ilhabela, que atende 300 crianças e jovens, e oferece à comunidade uma extensa programação de eventos. Por isso, queremos ser cadastrados no site Onda Jovem. Conheçam nosso site www.pesnochao.org.br. Inês Bianchi, Ilhabela, SP Tenho 15 anos. Um amigo me falou sobre a Onda Jovem e eu decidi pesquisar na internet. Gostaria de parabenizá-los pelo projeto! Erick Diniz São Paulo, SP

OBRA DE REFERÊNCIA O Instituto Bae Ti Ba atua com projetos de educomunicação (rádio, vídeo e fotografia), por meio do incentivo à leitura e da idealização de uma biblioteca comunitária atendendo adolescentes e crianças, e temos interesse na revista Onda Jovem para integrar o acervo da nossa biblioteca. Rogério Christovão São José dos Campos, SP Parabéns pela iniciativa e pela revista Onda Jovem, que queremos disponibilizar em nossa biblioteca e no Departamento de Educação de nossa cidade. Alex Lima Departamento de Cultura de Matão, SP Conheci a revista Onda Jovem e gostaria de incluí-la nas nossas bibliotecas das obras sociais maristas. Marcio Augusto de Souza Teixeira Bibliotecário do Centro Social Marista Irmão Lourenço São Paulo, SP

JOVENS LEITORES Sou um jovem correspondente do Ybnews e quero parabenizá-los pela iniciativa da revista e pelo enfoque na temática da inclusão. Também gostaria de me colocar à disposição da revista Onda Jovem naquilo que eu poder contribuir. Gilmar Freitas

Sou estudante de Ciências Sociais e atuo em movimentos de inclusão e participação juvenil. Tenho 24 anos, sou membro do Movimento Escoteiro há 13 e atuo com jovens de 15 a 18 anos. O conteúdo da revista mostrouse muito interessante para os jovens por ter uma linguagem dinâmica e propostas de ação e também por termos, dentro desse grupo, um interesse especial por cultura e formas de expressão. Murillo M. dos Santos Piracicaba, SP Tenho 17 anos e moro no interior de São Paulo. Trabalho desde os 12 anos de idade, mas nunca desisti de lutar pela minha vida, da minha família e pela vida de quem precisa. Participo do projeto Game Superação, do Instituto Ayrton Senna e Programa Escola da Família. Sou líder de um grupo com 17 jovens e juntos lutamos pela solidariedade. Carlos Eduardo Pereira Alto Alegre, SP

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FALTOU DIZER Os grafites na capa de Onda Jovem número 3 são de Celso Gitahy e Donato. O da página 35 é de participantes do programa Trilhas Urbanas 2005. As pichações que aparecem na página 48 são dos grafiteiros Nego e Eymard. Todos os trabalhos resultaram de iniciativas da Associação Cidade Escola Aprendiz, em São Paulo. A foto da página 44 é de Viviane Pereira e não de César Ciqueira. Estão trocados os créditos de Gustavo Lourenção e Augusto Pessoa, na página 18.

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Navegando

VIAGEM IMAGINÁRIA

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“Desenhar para mim não é só passatempo, desenhar me ajuda na vida”, diz Nivaldo Ferreira Guimarães Júnior, de 16 anos, o autor dos desenhos que ilustram estas páginas. Freqüentador da Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre, ele é um exemplo de que a arteterapia desenvolvida com jovens que precisam de ajuda psicoterápica não é apenas um recurso eficaz no tratamento, mas também um espaço de expressão artística. A Oficina foi instalada em 1990, sob inspiração do trabalho pioneiro da psiquiatra Nise da Silveira, que fundou no Rio de Janeiro o Museu de Imagens do Inconsciente. Em 1999, a Oficina incluiu atividades especialmente dedicadas à expressão de adolescentes e jovens, com produção de artes plásticas, música e literatura. Para Nivaldo, é uma experiência essencial, que dá vazão a sua criatividade: “Tudo o que eu não tenho, desenhando eu posso ter. Aonde eu não fui, desenhando eu posso ir. Desenhar pra mim é uma coisa muito simples, mas tem uma importância enorme. Se eu não soubesse desenhar, pior eu seria”.

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ONDA JOVEM

O Instituto Votorantim apóia essa causa.

SAÚDE número 4 – março 2006

SAÚDE

E quer ver muitos jovens fazendo sucesso na capa. ano 2 – número 4 – março 2006

Os desafios para promover o bem-estar físico, mental e social da juventude brasileira

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