30 LUCROS ALTAMENTE PERIGOSOS
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3.3 – OS EFEITOS CRÔNICOS DOS AGROTÓXICOS NA SAÚDE HUMANA NO BRASIL
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Pesquisadores e agências governamentais no Brasil estão cada vez mais preocupados com as implicações de longo prazo para a saúde humana em decorrência dos dramáticos aumentos no uso de agrotóxicos no país, e alertam sobre uma epidemia de doenças crônicas, principalmente em regiões onde o uso de agrotóxicos é mais alto. Em 2015, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) emitiu um forte comunicado alertando sobre os graves efeitos do uso pesado de agrotóxicos na saúde. O Instituto, sob a administração direta do Ministério da Saúde, “demarcou [sua] posição contra as atuais práticas de uso de agrotóxicos” e alertou para o aumento do risco de doenças crônicas, em particular a infertilidade, impotência, abortos, malformações, neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer. O INCA advertiu, em particular, que a exposição crônica “geralmente em doses baixas” de múltiplos resíduos de agrotóxicos nos alimentos e no meio ambiente “pode afetar toda a população […] e pode levar a efeitos crônicos à saúde” 225. De acordo com o Ministério da Saúde, atualmente as doenças crônicas “constituem a maior preocupação de saúde do país” 226. Juntas elas respondem por 72% das causas de morte. Em contraste com recentes reduções na incidência de doenças cardiovasculares e respiratórias crônicas, “as taxas de mortalidade relacionadas ao diabetes e câncer aumentaram”, observa o Ministério. A expectativa do INCA é de cerca de 600.000 novos casos de câncer em 2019 – um aumento de 75% em relação a 2000 227. O câncer é atualmente a segunda causa de morte no Brasil. Marcia Sarpa de Campos Mello, toxicologista e pesquisadora do INCA, afirma que o Instituto “está profundamente preocupado com o grande uso de agrotóxicos no Pais – uma vez que existem pesquisas internacionais e nacionais que relacionam a exposição a agrotóxicos ao desenvolvimento de câncer, como aqueles relacionados a fatores hormonais, como câncer de mama ou de próstata” 228. O câncer de próstata e de mama são os tipos mais comuns de câncer no Brasil 229 e ambos aumentaram significativamente nos últimos anos 230. Em 2018, o Ministério da Saúde observou que as taxas de mortalidade por câncer de próstata eram particularmente altas no “grande corredor de produção agropecuário” do Brasil, onde a produção é “fortemente baseada no uso de químicos (agrotóxicos e fertilizantes), sendo geradora de riscos significativos”. O Ministério também descobriu que a mortalidade por câncer de mama “se destaca” em territórios com altos níveis de exposição a agroquímicos 231. Essa informação é fundamentada por vários estudos realizados no Brasil, mostrando que ambos os cânceres de mama e próstata estão relacionados aos agrotóxicos 232. Mas outros tipos de câncer também foram associados à exposição aos agrotóxicos. O Ministério da Saúde observou, por exemplo, taxas particularmente altas de Linfoma não Hodgkin (LNH) nos territórios agroindustriais 233. Em 2018, o INCA realizou um estudo de controle no Hospital do Câncer no Rio de Janeiro e descobriu que os pacientes tinham três vezes mais chances de desenvolver LNH quando previamente expostos a agrotóxicos 234.
“NÃO HÁ DÚVIDA” DE QUE CASOS DE MALFORMAÇÃO E PUBERDADE PRECOCE ESTÃO RELACIONADOS COM AGROTÓXICOS
Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFCE) começaram a investigar a associação entre a exposição a agrotóxicos e defeitos congênitos quando foram contatados por cidadãos da comunidade de Tomé, que alegavam que a prevalência de crianças nascidas com malformações congênitas e com sérios problemas hormonais havia aumentado drasticamente no município. Tomé é uma pequena comunidade rural com cerca de 2.500 habitantes cercada por plantações industriais de produção de bananas, melões e outras frutas para exportação. A comunidade já havia aparecido em um estudo mostrando o aumento das taxas de mortalidade por câncer nas principais regiões de fruticultura em 2013. Como defeitos congênitos são eventos muito raros, os pesquisadores estavam preocupados por terem encontrado tantos casos em um lugar pequeno como Tomé. “Enquanto não houve um único caso em mais de dez anos, subitamente cinco crianças nasceram com defeitos congênitos em Tomé em menos de dois anos”, explica Ada Cristina Pontes Aguiar, pesquisadora da faculdade de medicina da UFCE235. Os pesquisadores decidiram investigar os casos de defeitos congênitos, bem como o caso de três meninas que sofreram de puberdade precoce, desenvolvendo seios antes mesmo de terem um ano de idade. Os pesquisadores descobriram que os pais de todas as crianças eram trabalhadores rurais com histórico de exposição significativa a agrotóxicos. Além disso, muitas mães relataram intensa exposição a agrotóxicos durante a gestação, em decorrência, por exemplo, de pulverizações aéreas nas proximidades. Os pesquisadores também descobriram agrotóxicos, incluindo os altamente perigosos, no sangue de crianças e pais, e resíduos de inseticidas piretróides na urina, substâncias que são conhecidas pelo potencial de desregulação endócrina. Em seis domicílios havia resíduos de, pelo menos, um agrotóxico na água para consumo humano. Embora outros fatores possam estar envolvidos, “não há dúvida de que os agrotóxicos estão relacionados a estes casos de malformação e puberdade precoce”, conclui Aguiar.
Este resultado foi apoiado por outro estudo recente que revelou que os jovens trabalhadores rurais no Sul do Brasil enfrentam um risco duas vezes maior de morrer de LNH em comparação com os trabalhadores não rurais 236. E os pesquisadores concluíram recentemente que o “aumento acentuado” da mortalidade por câncer de cólon no Brasil de 2000 a 2012 provavel-