Edição 26, julho de 1985

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Santa Lúcia, Esperança do Sul, Pombal, etc. Os sindicatos, portanto, têm conseguido avançar no que se refere ao nível de organização dos trabalhadores. A proposta de trabalho elaborada pelos sindicatos que estiveram no Encontro que mencionei anteriormente foi de atuar na formação de novas lideranças com base na mobilização para se tentar uma renovação no movimento sindical. No entanto, devo esclarecer que existem direções sindicais irrecuperáveis, que se deixam levar por propostas patronais. BRAGHETTO- Um dado novo que se pode apontar após o movimento dos trabalhadores foi a constituição de um corpo de delegados sindicais, anteriormente ausentes na estrutura sindical. Esses delegados estão sendo credenciados para fiscalizar os acordos, tendo asseguradas todas as prerrogativas inerentes ao cargo. RICARDO - Quais os efeitos da mecanização na composição do contingente de mão-de-obra em São Paulo e na mobilização dos trabalhadores? Hi: LI O - A presença de máquinas de cortar cana no pátio da usina é altamente desmobilizante. As máquinas amedrontam os trabalhadores. E os patrões estão se valendo desse recurso para desmobilizá-los. Recentemente, a usina de Maringá dispensou 300 trabalhadores, que foram substituídos por uma máquina de cortar cana, como represália ao movimento. O mesmo ocorreu na usina de Catanduva. Mas isso não deve ser motivo para impedir a ação sindical. Muito pelo contrário, na medida em que o grau de exploração aumenta, mais o sindicato tem que se integrar e realizar trabalhos importantes para tentar deter o desemprego. ORLANDO - A estabilidade sindical dos delegados foi obtida através de acordo? Hi:LIO - Os delegados sindicais surgiram do próprio movimento, sem que se tenha adotado critérios para essa integração. Ninguém procurou saber se o delegado contava com mais de 10 anos na empresa. O importante era reconhecer sua capacidade. Em alguns acordos foi conseguida estabilidade para a comissão de greve, de onde surgiram os delegados sindicais. Em outros, não. Mas a repressão dos patrões tem sido muito grande. LEI LAH -E como se deu a repressão ao movimento grevista em São Paulo? HELIO - Ela foi muito violenta, desproporcional. A Polícia Militar não foi violenta apenas em Guariba, mas em toda a região, batendo, dando tiros. Até hoje existem vários casos de trabalhadores com problemas, internados para tratamento cirúrgico, em conseqüência de disparos que os atingiram. Os dirigentes sindicais tentaram mediar para diminuir a violência, mas não conseguiram. O problema é que, além da violência da Pol ícia Militar, o pessoal das usinas começou também a se armar para enfrentar os trabalhadores. A revista

Senhor dessa semana divt.:lga o caso da Usina Pontal, onde os trabalhadores estavam fazendo piquete e, num veículo da usina, empregados davam tiros para cima. Os trabalhadores tiveram que fugir para dentro dos canaviais. No entanto, a disposição para a greve por parte dos trabalhadores continua. Em toda conversa, em toda assembléia, voltam à baila a experiência da greve, a repressão e as tentativas de organização de uma próxima, porque a inflação já destruiu o aumento recebido. Os trabalhadores querem continuar o movimento. FERNANDO - Creio que a posição que a CONTA G vem assumindo é imobilista, porque está fundada no legalismo. Isto é, os contratos coletivos de trabalho são assinados sem a devida organização dos trabalhadores, sem que eles tenham consciência de suas conquistas. HÉLIO - Isso é certo. Existem sérios limites no encaminhamento legalista das reivindicações, mas os trabalhadores estão reagindo. Em relação a esse problema, existem duas saídas: ou o movimento se expressa pelo desespero ou pela organização dos trabalhadores. A última alternativa obviamente é capaz de melhor assegurar as conquistas e, portanto, creio que os Sindicatos, as Federações e a CONTAG deveriam partir para um trabalho de organização dos trabalhadores.

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