privilegiar uma tomada de consciência pelas mulheres dos problemas ligados às condições femininas. Nestes centros se pratica a auto-ajuda e a autovisita como forma de reapropriação do próprio corpo e da gestão da própria saúde. Esta prática da medicina coloca em questão o papel do médico, do técnico, vistos não como depositários da ciência e do poder, aos quais delega-se a ge!itão da saúde. A instituição dos Consultórios Familiares acontece também como conseqüência dessas pressões e lutas por uma medicina que veja a mulher como protagonista. A Lei n<? 405 nasce mediada por uma ideologia diversificada (feminista, laica, católica), bem como de várias tendências culturais, entre as quais a da aquisição do direito de tutela da saúde pela mulher, a da possibilidade de fazer escolhas consciente e participativa sobre a sexualidade e a procriação, mas também da afirmação sobre a necessidade de apoiar a família e sua problemática. Estes diversos aspectos da lei a tornaram extremamente complexa e ampla e contribuíram para a sua ambigüidade e para a extrema diversificação nas escolhas dos objetivos. No momento da criação dos Consultórios Familiares, teve grande peso a participação das mulheres e das forças sociais e políticas mais avançadas, com suas lutas pela realização e pela definição dos conteúdos destes serviços. As peculiaridades que fazem os Consultórios diferentes dos outros servicos são: I . - o caráter sócio-sanitário: que sublinha uma concepção global de saúde como um complexo de condições Hsicas e psicológicas, fruto das condi ções sexuais e sociais de cada um. A integração dos vários aspectos é feita através de um trabalho multidisciplinar que é premissa indispensável a um novo relacionamento, não mais de poder e delegação entre usuário e agente; - a ótica da prevenção para eliminar as causas das doenças e mal-estar; - a gestão social, com ativa participação dos usuários através do comitê de gestão, participando da programação e da realização das atividades. Essa participação é fundamental para que as questões do território façam parte do Consultório e incidam sobre a organização, evitando velhos modelos de soluções preconcebidas. A realização e a defesa do funcionamento dos Consultórios com esta concepção de saúde comportaram e comportam muitas dificuldades. Por um lado, devido à heterogeneidade dos agentes, tanto a nível da formação cultural e ideológica, quanto profissional. Por outro lado, devido ao comitê de gestão, ameaçados em sua vitalidade e funções, dada a queda da participação social após os primeiros anos de funcionamento. Por último, as dificuldades decorrentes da mudança de gestão do serviço, resultantes de mudanças na gestão pública. Exemplo disso foi a orientação das unidades locais, no início dos anos 80, provocando o desaparecimento de inúmeros comitês.
As atividades desenvolvidas nos Consultórios Familiares ligam-se à contracepção, à preparação e assistência à maternidade, à interrupção voluntária da gravidez, à relação · de casal, aos problemas dos fi lhos, ao problema do menor em dificuldade (tutela, adoção). Neste sentido, são desenvolvidas também atividades de informação sanitária, social e sexual no território (escola, lugares de trabalho, cen tros sociais). Principalmente devido à atividade no território, tem-se trabalhado em colaboração com as forças políticas e sociais, especialmente com os sindicatos. Quase todos os Consultórios de Milão tiveram participação nos cursos das "150 horas", e em cursos de educação permanente sobre temas específicos. Na escola, a intervenção se faz no maternal com programação para pais e professores, e no segundo grau diretamente com os alunos. Além disso, o Consultório constitui-se num espaço coberto disponível para grupos de mulheres, de adolescentes, etc. que querem confrontar-se com a problemática da saúde. Na questão "materno-infantil", os Consultórios, em alguns casos, operam em estreita colaboração com outros serviços públicos como consultórios pediátricos e serviço de orientação psicológica à adolescência. Quanto ao problema da adolescência, a cooperação se faz principalmente com grupos voluntários ligados à Igreja. As relações com os "órgãos oficiais" e com os partidos se dão de forma mais institucionalizada através da Direção do Consultório. Em termos aerais, pode-se notar uma dificuldade na relação com os partidos católicos e com a igreja oficial, que tendem a identificar o Consultório como "lugar em que se faz aborto", e a atacar o serviço, ignorando propositalmente a ação preventiva desenvolvida.
Sujeitos Sociais É importante notar que após o movimento Inicial de grande participação, há uma tendência nos últimos anos de se delegar aos agentes a elaboração dos programas e a condução dos serviços. O comitê de gestão tem um papel, sobretudo, de promoção e publicidade, e de intervenção na definição da política de serviço dos Consultórios. As atividades dos Consultórios são desenvolvidas pela equipe de agentes, que em muitos casos defrontam-se com usuários que demandam serviços médicos de caráter individual, sendo difícil respondê-los em termos diferentes. A relação com a direção dos Consultórios, em muitas situações, é pouco clara na definição dos recíprocos espaços de in~rvenção, dificultando o desenvolvimento do trabalho. E da parte dos órgãos responsáveis pela direção geral, não existe um projeto global para os Consultórios, porque cada reali dade, mesmo com problemas semelhantes, age de maneira bastante autónoma, é deixada ao voluntarismo dos agentes. O financiamento das atividades é estatal, gerido pela Região através da Unidade San itária Local