Edição 34, junho de 1987

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Lutas, vitórias, derrotas Os trabalhadores nunca deixaram de travar suas lutas de resistência à expropriação e às más condições de trabalho que lhes são impostas. Essa é uma história não contada, ou má contada: a das reações do dia-a-dia contra situações de opressão, através de movimentos mais organizados ou mais espontâneos e imediatos, isolados ou mais generalizados, individualizados ou coletivos, com formas de consciência diferenciadas ... É a história "invisível" das lutas sociais, mais escondida e não registrada ainda quando seus atores são trabalhadores rurais, os marginalizados por excelência. Qualquer trabalho de intervenção social vai-se fazer em cima dessa experiência acumulada do grupo, com seus saldos negativos ou positivos. lnfelizmerite não temos um registro e uma avaliação mais 'COmpletos da história passada de lutas e conflitos na área. Já durante o período de atuação da primeira equipe da FASE no município, ocorreram algumas lutas de resistência contra a expulsão da terra pelos grileiros. Delas têm saído lideranças e trabalhadores que se· engajam em outros movimentos, como o sindical.

Ao lado disso, desenrolava-se a luta da oposição sindical. Por duas vezes consecutivas, viram-se derrotados os esforços de tomada da diretoria do Sindicato por um grupo de trabalhadores que se ligava às lutas de sua categoria e se firmava enquanto oposição aos setores dominantes locais. Foram duas as eleições em que os lavradores enfrentaram os pelegos do sindicato e seus aliados: 1979 e 1982. Duas derrotas cujo pano de fundo, como normalmente acontece no campo, foram a violência e a corrupção mais grosseiras. Os trabalhadores ainda não estavam organizados o .·sufic.iente para enfrentarem com sucesso esse tipo de tática usada pelos seus opositores, na realidade todos os setores dominantes locais, defendidos pelo aparato policial e judiciá~io do Estado. A intervenção educativa da FASE deu-se no interior de todo esse quadro de lutas, visando fundamentalmente à formação das lideranças surgidas no movimento e à grupalização dos lavradores, em torno das lutas travadas no murJicfpio. Como fruto desse trabalho, surgiu o Movimento Lavradores Unidos, com o objetivo de ~glutinar não só os próprios lavradores,

A questão da saúde é evidentemente crítica para esses setores da .população, e lutas nesse sentido também começaram a surgir, nesse período, com um caráter reivindicativo, dirigido aos serviços públicos. Com relação ao sindicato, a luta pela distribuição efetiva das guias de atendimento médico a todos os trabalhadores, combatendo as relações de clientelismo, foi um movimento importante. Assessorados pela equipe da FASE, os trabalhadores começaram a implementar, também, algumas formas organizativas de resistência económica. Criou-se a primeira cantina comunitária, espécie de associação de compra e venda que libera os trabalhadores da eterna dependência aos comerciantes locais. Os "mutirões" - formas de trabalho agrícola em comum - começam a ser valorizados nesse período. Essas atividades de cunho económico têm, obviamente, desdobramentos a outros níveis de ordem mais propriamente política, e serão retomadas mais adiante. Esses poucos exemplos servem para se ter uma idéia do clima vivido pelos trabalhadores na área, nesse período de finais da década de 70 e inícios de 80: um recrudescimento de lutas pela terra, de lutas de resistência às pressões dos grandes proprietários, comerciantes e grileiros da região, de lutas pela melhoria das condições de vida. Conflitos, pequenos grupos mobilizados em torno dessas questões, surgem aqui e ali, pelo município. 7


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