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Entrevista: Álvaro Cardoso
Álvaro Cardoso estudou Direito, mas o seu sonho era conhecer o Mundo. Cedo saiu de Portugal e percorreu vários países, onde teve experiências marcantes e inesquecíveis. Há 11 anos que vive no Dubai, onde aproveita o mar para fazer duas das suas paixões, kitesurf e natação em mar aberto, ao mesmo tempo que têm a oportunidade de conviver com várias nacionalidades, e aprender com várias culturas. Mas foi a sua paixão pela natureza e pelo desporto, que o levou a criar a startup UPNDO, que tem como objetivo combater o sedentarismo e apoiar ONG’s a nível global.
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EM PRIMEIRO LUGAR, FALE-NOS UM POUCO SOBRE SI: QUEM É ÁLVARO CARDOSO A TÍTULO PESSOAL?
Nasci em Lisboa, vivia em Cascais, portanto sempre tive uma ligação especial ao mar e ao Oceano Atlântico. Estudei Direito, mas sempre com o bichinho de fazer uma carreira internacional e experienciar vários países, assim depois do curso comecei a trabalhar numa companhia global, onde estive cerca de 14 anos, em varias posições em Portugal, Europa, e por fim, no Medio Oriente. Viver em Londres numa cidade gigante, foi uma experiência incrível, sentimos que vivemos no centro do mundo, tudo o que acontece de relevante nas artes, cultura, política, negócios passa por Londres. Em Inglaterra a ligação à natureza é imensa, com inúmeros parques espalhados por Londres e pelo país. Acabamos por ter imensas aventuras inesquecíveis, como por exemplo, fazer o 3 peaks challenge, subir as 3 montanhas mais altas num dia (24 horas), sendo que as 3 montanhas estão em 3 países distintos (Escócia, Inglaterra e Pais de Gales), ou seja, 24 horas ou a guiar o carro (1.600km), ou a subir as montanhas.
NÃO RESIDE EM PORTUGAL, MAS SIM NOS EMIRADOS ÁRABES UNIDOS. COMO É ESSA EXPERIÊNCIA?
Saí de Portugal há cerca de 15 anos, dos quais os últimos 11 vivo no Dubai. Foi uma descoberta incrível, nunca esperei apaixonarme tanto por um sítio. O Dubai tem uma diversidade grande e presente. Um jantar ou uma reunião em trabalho com 5 pessoas, significa 5 nacionalidades absolutamente distintas, uma pessoa da Nigéria, um Japonês, um Grego e um Filipino ... A multiculturalidade é omnipresente. O que enriquece toda e qualquer experiência. Outro aspeto que eu adoro no Dubai é a variedade de opções: por um lado temos os melhores restaurantes do mundo, a sede das maiores empresas; mas por outro temos praias com um mar fantástico (o que para mim é importantíssimo pois faco kitesurf e natação em mar aberto), temos deserto para aventuras e safaris. Temos condições para fazer desporto como não há noutro lado do mundo. O sítio onde ando de bicicleta são 150 km de pista perfeita no meio do deserto ... A localização geográfica e a facilidade de voar para qualquer parte também é muito importante: estou a 6 horas de Lisboa, por outro lado estou a 2 horas da India, Sri Lanka, Maldivas, Quénia, Tanzânia, Irão, Líbano. Temos aproveitado esta proximidade ao máximo: desde ir correr uma maratona a Terão (Irão), fazer kitesurf para o Quénia ou Tanzânia, fazer ski para o Líbano. Não queria deixar de mencionar a descoberta da cultura árabe e muçulmana, tao próxima nos hábitos sociais de Portugal e dos países mediterrâneos. Valores familiares enraizados. Valorização das relações pessoais, ao contrário dos países nórdicos como o Reino Unido, em que tudo é um pouco mais frio. Viver esta realidade multicultural tem um reflexo direto na UPNDO pois a nossa equipa que é totalmente remota, tem pessoas da Polónia, Eslováquia, Portugal, o que nos dá uma visão tao mais Global e rica.
FORMADO EM DIREITO E COM UMA ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO DA SAÚDE, COMEÇOU POR TRABALHAR NA ÁREA DA SAÚDE NA JOHNSON & JOHNSON, ONDE ESTEVE CERCA DE 13 ANOS. COMO FOI ESSA EXPERIÊNCIA? O QUE GOSTOU MAIS?
Trabalhar na Johnson deume a oportunidade de fazer uma carreira internacional. Sendo uma empresa e uma marca com imensa história, foi uma experiência riquíssima. Uma das coisas que mais gostei foi certamente a possibilidade de trabalhar em vários países desde Portugal, Espanha, Reino Unido, Suécia, Dinamarca, Médio Oriente. Um dos aspetos que me marcaram foi a força da cultura de empresa da Johnson & Johnson.
DECIDIU ENTÃO CRIAR A UPNDO EM 2018. O QUE O LEVOU A ESTA DECISÃO?
Vi que cada vez mais as pessoas estão preocupadas com a sua saúde, o sedentarismo no trabalho é um fator muito importante para as empresas, que afeta a produtividade… é a maior causa de absentismo! Nós também queremos comprar, trabalhar e estar relacionados com marcas e empresas com um propósito social, com impacto positivo na nossa comunidade. Assim, por saber por experiência própria que o movimento físico é importante, vi uma oportunidade imensa de juntar estes dois elementos, movimento físico recompensado com a possibilidade de ajudar a nossa comunidade. Em termos de bem-estar corporativo estamos a falar de um mercado de cerca de 4 mil milhões de dólares a nível mundial, e em responsabilidade corporativa a escala é ainda maior: cerca de 80 mil milhões de dólares. Vi uma oportunidade de juntar duas paixões minhas e fazer algo com um impacto no mundo: combater o sedentarismo e apoiar ONG’s a nível global. A decisão foi rápida e tornou-se numa missão. Enquanto fundador quero que a UPNDO seja uma plataforma inclusiva onde empresas, indivíduos e ONG’s trabalhem em conjunto e prol de uma transformação positiva.
EM QUE CONSISTE A UPNDO? QUAL O SEU OBJETIVO? QUE PRETENDE ATINGIR?
O conceito é simples: convertemos energia humana em impacto social positivo, ou seja, promover e incentivar as pessoas a serem mais saudáveis através do movimento físico (a Organização Mundial de Saúde diz que para sermos adultos saudáveis temos que nos mexer cerca de 30 a 45 minutos por dia). Por outro lado, envolver mais e mais as empresas com a comunidade, criando formas mais eficientes onde os orçamentos de Responsabilidade Social Corporativa são melhor utilizados. A UPNDO é uma forma inovadora de:
• Combater sedentarismo;
• Promover uma cultura e espírito de comunidade;
• Dar reconhecimento ao Impacto Social das empresas.
O nosso principal objetivo é combater o sedentarismo e promover a missão das várias ONG’s a nível global que apoiamos em conjunto com empresas e milhares de pessoas que fazem parte da comunidade UPNDO. Em termos de visão futura, queremos crescer no mercado Europeu e continuar a expandir este movimento saudável e positivo.
É KITESURFISTA E UM TRIATLETA. ISSO INFLUENCIOU A CRIAÇÃO DA UPNDO?
Sim sou fanático pelo kitesurf, tento aproveitar todas as oportunidades para ir para a água. O triatlo tem uma influência mais mental e de superação de limites, muito como criar e fazer crescer uma startup tecnológica, em que a resiliência, a persistência, a superação e o focus em melhorar todos os dias são fatores críticos de sucesso, quer seja a correr um Ironman ou a fazer crescer a UPNDO. Um dos elementos do triatlo que se reflete diariamente na UPNDO é eu usar os treinos de corrida e bicicleta para aprender. Tenho sempre podcasts ou áudio books e aproveito essas 2 ou 3 horas diárias para aprender, inspirar-me.
QUE CONSELHOS TEM PARA QUEM PRETENDE ABRIR A SUA STARTUP?
Eu tenho a sorte de estar a fazer uma coisa que me apaixona e me motiva de forma ilimitada. Sim, as dores de cabeça, os desafios constantes, estão presentes no dia a dia. Mas sei que o meu trabalho e o trabalho da minha equipa têm um impacto tangível, material na saúde dos milhares de utilizadores que usam a UPNDO e que nós vemos diariamente a mexer-se cada vez mais, e a tornarem-se um pouco mais saudáveis, como também vemos o impacto das centenas de milhares de euros que são distribuídos por organizações sociais a nível global. O fruto do nosso trabalho resulta em mais saúde e numa comunidade mais próspera. O conselho que deixo é: sim precisamos de mais startups, de mais empreendedores que sejam apaixonados e com objetivos muito claros. Com propósitos fortes. Com um propósito grande e claro conseguimos fazer coisas incríveis acontecer. Gosto de partilhar um testemunho de um dos nossos utilizadores: “A UPNDO mudou a minha vida de duas formas, primeiro pela satisfação de contribuir para causas e ONG’s que passei a conhecer melhor, e através dessa contribuição senti um impacto na minha saúde física pois tive de me tornar mais ativo para poder gerar mais apoio para essas causas. Um ciclo vicioso muito positivo”. Receber feedbacks destes torna o nosso trabalho tão mais fácil e motivante.