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Controle de pragas
A adubação convencional, amplamente conhecida e utilizada pela maioria das empresas do setor florestal, de maneira geral, apresenta uma rápida dissolução no solo. Essa adubação pode ser subdividida em duas fases: a primeira fase é conhecida como adubação de base, quando frequentemente é utilizada uma formulação de NPK com predomínio de Fósforo, aplicada somente na subsolagem ou subsolagem e pós-plantio. Na segunda fase, ou fase de adubação de cobertura, a aplicação pode ser parcelada em uma ou mais vezes entre o 2° e 24° mês, variando de acordo com a condição de solo e necessidade nutricional do gênero florestal, compostas por nitrogênio e/ou potássio, associada a um ou mais micronutrientes (exemplo: cálcio, boro e magnésio).
No decorrer do desenvolvimento das florestas, necessidades nutricionais complementares podem ser identificadas mediante o monitoramento frequente dos plantios. Em geral, as perdas por lixiviação, imobilização ou volatilização podem ser consideradas altas para a adubação convencional, variando de 30% a 70%, de acordo com cada nutriente e condição de solos. A fim de compensar as perdas de cada nutriente, eventualmente, podem ser recomendadas dosagens até cinco vezes superiores à necessidade real das plantas.
A outra forma de adubação é a de liberação controlada, uma tecnologia que vem sendo utilizada de forma gradativa pelas empresas do setor florestal. O uso em pequena escala ou em versões de testes tem por objetivo conhecer e entender o mecanismo de liberação dos nutrientes ao longo da rotação, assim como analisar o desenvolvimento das plantas e a resposta em relação à produtividade.
A disponibilidade desse tipo de fertilizante é na forma de cápsula, envolta por polímeros, películas ou resinas. Esse encapsulamento permite a liberação contínua e gradual dos nutrientes segundo as necessidades da planta, seguindo uma curva exponencial. Essa liberação pode variar de acordo com a especificação de cada produto e da interação da cápsula com a umidade e a temperatura do solo. Além disso, o encapsulamento visa proporcionar a redução das perdas de nutrientes para o meio via volatilização, lixiviação, erosão e imobilização, perdas essas que impossibilitam ou reduzem a absorção de determinado nutriente pelas plantas ao longo de seu desenvolvimento.
Em termos de dosagens, não existe um padrão, ou seja, pode variar de acordo com a região, material genético, condição de solo, clima e formulações disponíveis no mercado; de maneira geral, se encontram dosagens entre 500 e 900 kg/ha. O tempo médio de liberação dos nutrientes pode ocorrer entre 2 e 16 meses, entretanto a velocidade de liberação dos nutrientes pode variar com a espessura da camada da cápsula, associada às condições ambientais. Vale ressaltar que a principal vantagem desse novo conceito para o setor florestal é a redução do número de aplicações em campo, porque as camadas são programadas para romper em um período mais prolongado, ou seja, no momento certo da deficiência nutricional, ao longo do desenvolvimento da planta (sem intervalos de deficiência e picos de oferta de nutrientes).
Essa redução na frequência de aplicações e o ajuste na quantidade de adubo ao longo do processo de adubação, agregado ao constante monitoramento dos plantios, podem auxiliar na aplicação de uma quantidade ideal de produto. Adicionalmente, é valido destacar que o acompanhamento nutricional da parte aérea da planta, via análise foliar, é fundamental para verificar a quantidade de nutrientes absorvidos. Dessa forma, pode-se constatar se houve a disponibilização dos nutrientes do solo para a planta no momento adequado.
Nesse contexto, em termos de desvantagens desse método de adubação, podemos citar uma eventual dosagem incorreta ocasionada por erros de análises de solo e/ou foliar, ou seja, qualquer ajuste de necessidades adicionais de nutrientes ao longo da rotação existente tornar-se-ia inviável pelo fato de o produtor não saber ao certo em qual estágio de liberação o produto se encontra. Dessa forma, esse complemento poderia ser feito, preferencialmente, no próximo ciclo de adubação, com o mesmo tipo de adubação, ou durante o mesmo ciclo, com a adubação convencional. Mas, mesmo assim, para efeitos de tomada de decisão, o que vai pesar serão os custos associados à operação.
Em resultados preliminares do uso dessa tecnologia de adubação disponíveis no mercado atualmente, houve uma contribuição no aumento do sistema radicular, uma maior tolerância ao estresse hídrico, um melhor equilíbrio hormonal e nutricional, além de um potencial aumento da produtividade. No que tange aos custos de produção, pelo nível tecnológico e o tipo de material empregado, esse produto é mais caro em relação aos adubos convencionais. Ou seja, quando comparada à adubação convencional, a dosagem pode até ser menor ou igual, mas os custos associados à aquisição do produto e a aplicação são fatores primordiais na tomada de decisão.
Por fim, entende-se que ambos os formatos de adubação são bons e funcionam dentro de suas limitantes técnicas e operacionais. Contudo, antes de o silvicultor escolher a melhor opção para seu ativo florestal, é importante que seja realizada uma análise econômica de toda a operação, a fim de identificar qual a opção de adubação que melhor se adapta à sua realidade. n
evoluindo o manejo de pragas florestais
O setor fl orestal vem se expandindo e se destacando como um dos principais setores industriais para nosso país. Possui uma participação relevante no PIB, gera milhares de empregos, contribui com milhões de tributos e impostos. Adicionalmente, possui um sério compromisso com a preservação do meio ambiente e respeito às comunidades locais.
No quesito produtividade, nossas fl orestas plantadas são motivo de orgulho e de entusiasmo. Somos líderes globais em produtividade, principalmente quando se trata do cultivo do eucalipto, com uma margem considerável para demais países. É possível encontrar diversos trabalhos e pesquisas evidenciando o grande salto de produtividade de nossas fl orestas desde a década de 1970.
Esse feito é fruto de muito trabalho, seriedade e, principalmente, investimento em pesquisa. Transformamos nossos métodos de produção, desde o viveiro até a colheita, avançando em todas as fases do manejo fl orestal.
O monitoramento é a chave para um manejo integrado efetivo e responsável, gerando informações de qualidade para tomada de decisões assertivas no tempo correto "
Apesar de nossa liderança, alguns índices indicam que, já há alguns anos, estamos estagnados em um mesmo patamar de produtividade. Será que alcançamos nosso limite de produtividade? Dados históricos também revelam que isso já aconteceu em outras ocasiões, sendo superadas por algum avanço ou tecnologia, na sua maioria frutos do melhoramento genético ou manejo fl orestal.
Em alguns casos, se ouve que o ataque de pragas e doenças não é tão signifi cativo, pois, depois disso, as árvores ganham novas folhas e continuam a crescer. Contudo esse pensamento não considera os efeitos desse ataque na produção fi nal de madeira, que é sempre prejudicada. Uma fl oresta que sofreu infestação por pragas, sobretudo em sua
Luís Renato Junqueira Coordenador Executivo do PROTEF, Programa Cooperativo sobre Proteção Florestal do IPEF
fase jovem, necessitará de mais tempo para garantir a produção desejada, ou algum reforço nutricional, na tentativa de acelerar seu crescimento. Tanto uma alternativa quanto a outra levarão a um aumento do custo de sua produção.
O atual manejo de pragas ainda apresenta alguns desafios a serem superados, com conceitos e práticas sofrendo mudanças após os anos 2000, devido à introdução de 3 novas pragas exóticas do eucalipto no País. Nesse quesito, o Brasil não se encontra em situação diferente de outros países que cultivam o eucalipto; praticamente todos eles sofrem com as mesmas pragas exóticas.
A mudança entre o manejo de pragas nativas para pragas exóticas trouxe diversos desafios e novas abordagens a serem exploradas. No que toca ao controle biológico, no manejo de pragas nativas, é possível encontrar diversos inimigos naturais adaptados e, muitas vezes, específicos a esses insetos, contudo a introdução de agentes exóticos gera uma dinâmica totalmente diferente, em que esse agente chega a uma nova região e encontra clima favorável, alimento disponível e ausência de controladores naturais, culminando em um aumento expressivo de sua população.
Além dos impactos diretos da introdução de novas pragas exóticas, como a perda de produtividade, elas podem impactar também nas exportações e no comércio exterior, uma vez que os países com ausência dessa praga passam a impor certos requisitos e critérios para importação de algumas mercadorias e materiais.
A forma mais efetiva para o controle de pragas exóticas é a utilização do controle biológico clássico, buscando inimigos naturais específicos, na sua maioria parasitoides, no centro de origem da praga. Essa tática busca, no médio a longo prazo, alcançar um equilíbrio entre praga e inimigo natural, evitando, assim, que cause danos aos plantios.
Um exemplo desse modelo de trabalho é a utilização do parasitoide de ovos Cleruchoides noackae no controle da praga percevejo bronzeado. Após diversas liberações do parasitoide em áreas com ataque da praga, ele se estabeleceu de forma efetiva e, em grande áreas, vem promovendo, ano após ano, redução na área infestada e sua severidade de ataque.
Apesar de sua eficiência, a implantação do controle biológico clássico é um processo delicado e deve ser conduzido com critério e seriedade. O primeiro passo é selecionar um agente de controle eficiente, que seja específico para a praga a ser controlada. Essa é uma característica importante, pois garante que esse novo inimigo natural não irá interferir no desenvolvimento da entomofauna nativa. Além disso, o processo de quarentena é outro passo crucial, realizando a limpeza do material importado, evitando que, juntamente com o inimigo natural, ingressem outros organismos indesejáveis, como fungos, bactérias e até outros insetos. Apesar da importância do controle biológico clássico, deve-se ressaltar que, em muitos casos, alguns insetos nativos, em sua maioria predadores, passam a se alimentar da praga, oferecendo um auxílio no controle dela. Como é o caso do percevejo nativo Podisus nigrispinus, que preda com eficiência larvas e adultos do gorgulho-do- -eucalipto. Além de insetos, existem diversos casos de fungos entomopatogênicos presentes no ambiente, que também oferecem controle dessas pragas, principalmente em condições de temperatura e umidade que os favoreçam. Casos como esse reforçam a necessidade do conhecimento dos organismos presentes nas áreas, na busca por potenciais agentes de controle.
Além dos novos conhecimentos gerados e dos desafios impostos pelas pragas exóticas, é relevante que o “básico” seja sempre bem executado. Não podemos nos esquecer dos prejuízos que as formigas cortadeiras, assim como os surtos de lagartas desfolhadoras, podem causar. Apesar de o manejo para muitas pragas nativas estar bem consolidado, temos que estar sempre atentos.
Grande parte do sucesso de qualquer tática de controle vem do monitoramento. O monitoramento é a chave para um manejo integrado efetivo e responsável, gerando informações de qualidade para tomada de decisões assertivas no tempo correto. Essas informações são imprescindíveis para se definir a melhor forma de controle e, em muitos casos, a decisão pelo não controle. Apesar dos avanços no manejo integrado de pragas, sua eficiência depende também da interação da fitossanidade com demais áreas do conhecimento florestal, como melhoramento genético, certificação, manejo, etc. A interdisciplinaridade está cada vez mais presente na rotina dos profissionais, não havendo espaço para se isolar em apenas uma área do conhecimento.
Novas introduções de insetos e patógenos exóticos têm aumentado no mundo em um ritmo preocupante, a tendência é que novas pragas e doenças apareçam nos próximos anos. Nosso papel como profissionais passa pelo maior engajamento nesse assunto, levando informações para mudar essa situação, que é muito preocupante.
Por fim, a melhor forma de controle para qualquer praga ou doença exótica é sua prevenção; para tanto, precisamos estabelecer esse assunto como matéria prioritária junto aos órgãos fiscalizadores e legisladores, buscando sua compreensão quanto ao risco para as florestas plantadas e aos impactos gerados para o nosso país. n