reflorestamento
loteria ou investimento? Até a crise financeira internacional de 2008, investimento em reflorestamento era a vedete da década. O cenário de especulação perdia força com juros e inflação domados. O Brasil era a bola da vez do crescimento. As indústrias de celulose tornavam-se players mundiais, as siderúrgicas a carvão vegetal pulsavam como nunca, e as indústrias de painéis expandiam para atender à crescente demanda doméstica por móveis. Como esperado, plantios florestais brotaram para tudo quanto é estado, principalmente na região Sudeste e nos limítrofes a Minas Gerais, interessado na demanda de carvão das siderúrgicas. Entretanto a tal crise nocauteou a siderurgia, que caiu de 100% da capacidade produtiva para 30% – e assim patinou até 2018 –, comprometendo o investimento florestal e contribuindo para a queda no preço do carvão (R$ 250/ mdc para R$100, bem abaixo do de nivelamento, que é de R$150) e para o quase desaparecimento desse mercado. Os que investiram até 2008, num cenário favorável sem precedente, esperando colher em 2015, dada a idade ótima econômica de 7 anos para o eucalipto, se assustaram com o sumiço do mercado. Pior ainda para aqueles que financiaram com carência de 7 ou 8 anos, desesperando-se, com toda razão, com a dívida bancária contraída. Considerando a atividade florestal de longo prazo e, por isso, sujeita a riscos e incertezas, suscitam-se as seguintes questões: O quão seguro é ela e o seu mercado diante das crises? O quão bem esse investimento se manterá, uma vez que a venda será realizada após 7 anos? Análises podem auxiliar na previsão do mercado, mas, segundo John Galbraith, “a única função das previsões econômicas é fazer a astrologia parecer respeitável”. Em tese, as análises econômicas apontam, através de VPLs e TIRs, que a viabilidade do projeto florestal supera a da poupança, que, naquela década, projetava-se muito superior à do mercado de ações e de derivativos. Porém, diferente de outros investimentos, esse projeto tem peculiaridades que implicam outras indagações: Qual o destino da madeira? Afinal, considerando a diversidade de usos e mercados, serão eles rentáveis? Como escolher? E, no longo prazo, isso continuará viável?
Opiniões
As respostas representam a diferença entre navegar num mar de almirante, investimento, ou num revolto, jogo de azar. Diferente de commodities agrícolas, cuja prioridade de localização depende da aptidão edafoclimática regional, seguida pela logística, o investimento florestal depende, principalmente, mais desta do que daquelas. Madeira é um produto pesado e barato, coeficiente preço/peso específico muito baixo, o que inviabiliza transportá-la para longas distâncias, sendo o ideal até 100 km. Somado a isso, veículos que transportam madeira não transportam outro produto, implicando frete dobrado (ida e volta). Tocantins é um triste case de insucesso, onde reflorestaram sem a contrapartida da existência do mercado. Infelizmente, produtores que substituíram pastagens por reflorestamento e se encontram distantes do mercado de madeira estão revertendo para a pecuária, desiludiram-se fortemente com o reflorestamento e jamais retornarão a ele, mesmo que a madeira venha a valer ouro. Por sorte e lógica, praticamente nenhum produtor de grão fez tal substituição. Em que pese a queda vertiginosa do preço do carvão, que se manteve até 2018, isso não necessariamente inviabiliza um projeto, apenas o torna mais complexo de se gerenciar. Um cenário diferente é o das regiões próximas a indústrias de celulose, que passaram incólumes à crise, nas quais se tem bons mercados da madeira. Entretanto, há outros males, mas que podem melhorar. Todo e qualquer investimento será viável ou não dependendo da competência gerencial. Não basta apenas estar próximo das indústrias de celulose e não saber negociar, haja vista que elas são verticalizadas – produzem cerca de 80% do abastecimento –, garantindo-lhes o poder de definição do preço da madeira.
Análises podem auxiliar na previsão do mercado, mas, segundo John Galbraith, 'a única função das previsões econômicas é fazer a astrologia parecer respeitável'. "
Sebastião Renato Valverde Professor de Política, Gestão e Legislação Florestal da UF-Viçosa e Diretor-geral da SIF
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Coautor: Alberto Firmino Barbosa, Engenheiro Florestal pela UF-MG