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Yeda Rorato Crusius

As cadeias produtivas de base florestal, destacando-se papel e celulose, têm sido fontes de boas notícias para os brasileiros, desde o final dos anos 80, quando passaram a crescer, em maior velocidade, os investimentos setoriais no Hemisfério Sul.

Encerrou-se, assim, o longo ciclo virtualmente monopolístico dos empreendimentos localizados no Hemisfério Norte e que tivera início na Revolução Industrial, em meados do século XIX. São numerosas as razões que provocaram essa mudança, mas algumas das mais importantes são as seguintes: a) produção de matéria-prima em volume e prazos adequados; b) áreas disponíveis para a expansão do plantio de florestas; c)mão-de-obra adequada; d) enorme potencial de crescimento no consumo de produtos industriais da base florestal.

Esse movimento estratégico estimulou a implantação de um parque produtivo de celulose e papel no Brasil, que se abastece exclusivamente em florestas plantadas. Por isso, segundo a Bracelpa, em 2005, as florestas plantadas de eucalipto e pinus superavam 5,2 milhões de hectares (3,4 milhões de hectares de eucalipto). E é bem provável que, em 2007, as florestas plantadas no Brasil ultrapassem os 6,2 milhões de hectares, com possibilidades de continuar crescendo, nos próximos anos. E a necessidade de matéria-prima também cresce. Em 2005, o país produziu 10,3 milhões de toneladas de celulose e 8,6 milhões de toneladas de papel. Em 2007, é bem possível que a produção de celulose alcance 12 milhões de toneladas e que a produção de papel venha a ser maior que 9 milhões de toneladas. 6

Yeda Rorato Crusius Governadora do Estado do Rio Grande do Sul Investimentos na base florestal ajudam o desenvolvimento

Quer dizer: o Brasil conta com uma floresta que assegura crescente crédito de carbono; ganha novas florestas nativas e garante supervisão de enormes reservas naturais com as respectivas faunas, sob a responsabilidade da indústria do setor; gasta cada vez menos com a importação de celulose e papel (embora ainda despenda mais de US$ 1 bilhão/ano); e obtém uma receita de mais de US$ 4 bilhões/ano, com a venda de papel e celulose para o exterior.

O Rio Grande do Sul pretende participar ativamente desse processo expansionista e, por isso, centenas de empresas e milhares de cidadãos gaú- chos estão se integrando aos negócios da base florestal.

As florestas plantadas do estado, que ocupavam menos de 300 mil hec- tares em 2003, podem ultrapassar o patamar de 700 mil hectares até 2010. E as próprias empresas florestadoras devem plantar, nesse mesmo período, adicionalmente, perto de 300 mil hectares de florestas nativas e perenes, devolvendo ao ambiente natural parte do que a exploração predadora do passado fulminou.

Ademais, estão previstos investimentos industriais de empresas locais e de novos investidores para a produção de celulose e papel, MDF e aglomerados, cavacos e tanino (a partir da acácia) e de madeira para móveis e construção civil, de mais de US$ 6 bilhões, nos próximos anos, o que resultará na criação de mais de 50 mil empregos diretos e indiretos, sem contar a integração da floresta com agricultura e pecuária, que representará oportunidade de vida melhor para muitos pequenos produtores rurais.

E mais: as novas florestas gerarão crédito de carbono suficiente para neutralizar a emissão de toda a popu- lação estadual - mais de dez milhões de habitantes, atendendo até mesmo os mais exigentes defensores do meio ambiente.

Finalmente, é preciso destacar que essa indústria que, de forma crescente, está transferindo investimentos para o Brasil, sabe muito bem o que está fazendo. De fato, a despeito de todo o crescimento produtivo dos últimos anos, o consumo aparente de papel no Brasil é de apenas 41,4 kg por habi- tante por ano, abaixo da Argentina e Chile (50,5 kg e 68,3 kg, respectiva- mente), por exemplo, e verdadeira- mente ínfimo diante do consumo dos países desenvolvidos, como Estados Unidos, Japão, Alemanha e Canadá (300,6 kg; 246,8 kg; 232,7 kg; e 225,3 kg, respectivamente). Ou seja, trata-se de um mercado praticamente incipiente.

Naturalmente, o governo do esta- do vê com muito bons olhos a vinda de investidores desse setor, especialmente na região da Metade do Sul.

Mas, estará atento para que a produção industrial de celulose e papel não prejudique o meio ambiente e a qualidade de vida de nosso povo.

É de se esperar, assim, que os empresários que estão realizando grandes investimentos para a expansão produtiva estejam imbuídos da responsabilidade social e ambiental necessárias para investir os recursos, a fim de que as plantas industriais utilizem sempre equipamentos antipo-luição, que estejam dentro do mais rigoroso estado da arte, em termos mundiais.

Os mesmos cuidados precisam ser dedicados às florestas plantadas para corte, e também às nativas, para assegurar a sobrevivência da fauna e da flora regionais. A palavra adequada para o desenvolvimento das cadeias produtivas de base florestal é sustentabilidade.

E como definiu o relatório Brun- dtland, documento fundamental para a Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento (CNUAD), realizada no Rio de Ja- neiro, em 1992, “o desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades”.

E isso exige, por parte das em- presas, não apenas a adoção das melhores técnicas, mas, também, a realização de periódicas e rotineiras avaliações, divulgadas com responsabilidade e transparência, a respeito dos possíveis efeitos de seus projetos sobre os seres humanos, animais, plantas, recursos hídricos e o ar que todos respiram.

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