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Fábio Luis Brun Diretor da ArborGen
logística de exportação. A tecnologia florestal encontra-se ultrapassada e, nas últimas décadas, não foram implementados na região investimentos greenfield significativos.
O sudeste asiático tem como sua grande força motora a Indonésia, possuidora de grandes e modernas instalações fabris, mas com um enorme problema de abastecimento de matéria-prima homogênea e de qualidade.
As unidades existentes ainda dependem, em boa parte, do suprimento de madeira proveniente de florestas nativas tropicais, em regime de concessões, assim como toda questão ambiental que isso acarreta.
Não obstante, a tecnologia florestal, inclusive o desenvolvimento genético de espécies adequadas às condições edafo-climáticas, está longe de atingir o nível brasileiro.
Examinando a América do Sul, vemos que o grande ator neste cenário é o Brasil. O resto da região tem bom potencial, mas uma análise rápida mostra que o país com melhor tradição florestal e industrial, o Chile, tem limitações de área disponível.
O Uruguai está no início da sua carreira como produtor, mas já conta com uma história atribulada, em relação ao seu primeiro projeto de porte. Grande parte dos vizinhos restantes atravessa um período de turbulência política, que desencoraja iniciativas de maior envergadura.
No Brasil, a indústria controla a maioria do seu suprimento de fibras. A área florestal conta com uma longa história de sucesso no desenvolvimento de espécies melhor adaptadas e mais produtivas.
Grandes unidades industriais foram implementadas recentemente, ou estão em fase de implementação. O capital humano existe e é competente.
Não esqueçamos, porém, as ameaças reais e latentes de movimentos anárquicos que contestam a propriedade privada da terra para usos “capitalistas”, a competição por espaço promovida pelo complexo carvoeirosiderúrgico e pela grande euforia etílica na produção de biocombustível.
Esperamos ainda que o esforço para melhoria da logística de exportação venha a se concretizar. As Pasárgadas de fato não existem, pelo menos, não em termos fáceis.
Fábio Luis Brun Diretor da ArborGen Tecnologia Florestal Biotecnologia e produção florestal: oportunidade e desafio no hemisfério sul
A demanda mundial por produtos de base florestal está, como muitas vezes previsto, aumentando de forma sólida e constante. O recurso necessário para atender essa demanda poderá advir de forma sustentável, apenas pelo intermédio do uso de florestas plantadas, com o objetivo específico de prover madeira para fins industriais. A aptidão para produção florestal do hemisfério sul, especialmente demonstrado em países como Brasil, Chile, Uruguai e Argentina, vem se confirmando e representando uma oportunidade clara de progresso econômico, social e ambiental, assim como um desafio técnico e regulatório.
Há anos, o Brasil é reconhecido como referência em silvicultura e produtividade florestal, mas ainda ocupa uma posição relativamente tímida, quando comparado, como exemplo, aos grandes países produtores de papel e celulose.
Essa realidade é produto de uma ampla série de fatores econômicos, políticos e sociais. No entanto, esse comportamento quase coadjuvante do Brasil no mercado internacional vem sendo efetivamente transformado
pelo interesse em garantir ao país uma posição de destaque, mais atuante e influente. A prova dessa afirmação é dada pelos investimentos mais recentes, feitos e anunciados por grandes
empresas do setor.
Esses investimentos tornam-se possíveis, em função da expectativa da disponibilidade do recurso básico florestal para produção industrial: alta performance silvicultural, madeira com alto grau de homogeneidade, qualidade físicas e químicas predeterminadas e custo/preço competitivo. É seguro afirmar que as florestas que garantem a combinação de todas estas características são hoje produzidas em larga escala e com grande eficiência no hemisfério sul do planeta e, especificamente, em países latino-americanos, como Brasil, Chile, Uruguai e Argentina. Dentre estes, o Brasil claramente destaca-se em função de seus expressivos progra41 » » »
mas de plantio, como também por deter praticamente todos os recordes mundiais de produtividade florestal, como detalhado no quadro ilustrativo.
Os recordes são devidos, em parte, a características dominantes de relevo, solo e clima, especialmente favoráveis à produção florestal, mas também, e principalmente, à aplicação do desenvolvimento tecnológico, derivado de pesquisas produzidas por empresas, universidades e instituições públicas de pesquisa, além da introdução e rápida adaptação de tecnologias desenvolvidas em outros países.
Esse claro diferencial competitivo pode ser agora realçado de forma significativa, com o advento de produtos originários da biotecnologia, como árvores-elite melhoradas, com características de alto valor, introduzidas via transformação genética.
O advento do uso em ampla escala da biotecnologia em culturas agrícolas é comprovação irrefutável de uma promessa que se converteu efetivamente em realidade. O consistente incremento de mais de 10% ao ano na área plantada, com culturas geneticamente modificadas em todo o mundo, é a prova cabal de que essa ferramenta tem seus benefícios devidamente comprovados. É seguro 42 afirmar que benefícios semelhantes podem também ser obtidos a partir do uso dessa tecnologia em espécies florestais. Empresas de biotecnologia, como a ArborGen, estão, atualmente, testando e estarão fornecendo ao mercado produtos que contêm características tecnológicas melhoradas ou mesmo não encontradas nas espécies florestais mais co-mumente plantadas na região.
Preliminarmente, os produtos a serem disponibilizados no mais curto prazo serão aqueles relacionados com aumento de eficiência no processo industrial, para produção de celulose.
Através de modificações feitas no componente “lignina” da madeira, pode-se aumentar o rendimento industrial. Ao mesmo tempo em que se reduz o consumo de madeira por unidade de celulose produzida, incrementa-se o volume total produzido, reduz-se o consumo de químicos no processo e se otimiza o uso e a geração de energia na fábrica. Potencialmente, há a possibilidade de se observar resultados positivos também com branqueamento e qualidade final da celulose. Dessa forma, esses primeiros produtos apresentam vantagens industriais e ambientais bastante relevantes.
Outros produtos em desenvolvimento envolvem características, tais como tolerância a estresses am-bientais (frio e seca, por exemplo), redução da rotação e outras características de qualidade de madeira, como densidade e características morfológicas de fibras. T a m b é m há a vantagem adicional de se combinar mais de uma ca
racterística em um mesmo produto, os chamados por stacked traits, nos quais, por exemplo, crescimento volumétrico e rendimento em celulose estariam associados.
Muito embora o advento do uso desses produtos possa equiparar as condições de produção de alguns países da América do Sul, notadamente Argentina, Uruguai e Chile, é interessante observar que, em função das características da produção silvicul-tural Brasileira – altamente tecnificada – há uma oportunidade para que o Brasil se beneficie de forma mais ágil, principalmente no que se refere ao uso de biotecnologia aplicada ao eucalipto.
Outra distinção dá-se pelo fato de o Brasil ter, recentemente, endossado uma política formal de biotecnologia, como ferramenta de progresso nacional, o que pode caracterizar uma certa vantagem no médio prazo.
É importante observar que os mesmos mecanismos e instrumentos tecnológicos que podem habilitar a produção florestal no hemisfério sul a alcançar novos recordes de produtividade e eficiência industrial, bem como manter a condição atual de liderança no setor, começam, entretanto, a serem testados e disponibilizados para espécies florestais, em países com características climáticas menos favoráveis e ciclos de produção tradicionalmente mais longos.
A eficiência de instituições regulatórias precisas e confiáveis irá, eventualmente, ditar quais países usufruirão mais rapidamente dos benefícios gerados.
O ritmo de experimentação e eventual adoção dessa tecnologia terá papel importante na determinação e estabelecimento das vantagens competitivas e da consolidação da posição ou mudanças nos futuros líderes do setor e da realização plena do potencial produtivo florestal do hemisfério sul.