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Nestor de Castro Neto Presidente da Voith Paper
licenças de corte na região norte do país, por motivos ambientais.
Paradoxalmente, assistimos a uma imposição de maiores dificuldades para o plantio de florestas no sul do país, notadamente no Rio Grande do Sul, onde já se fala na criação de um ”deserto verde” para o plantio de eucaliptus, ora em andamento naquele estado, sem contar na constante afronta de invasores do MST, movimento anárquico que, infeliz-mente, conta com proteção e am-parogovernamental.
Já é hora de nossas autoridades pararem de nadar contra a correnteza.
Exatamente quando tudo nos indica que o hemisfério sul está prestes a ter um papel cada vez maior no setor florestal mundial, é que se deve oferecer menos burocracia e mais segurança aos investidores deste setor que, por natureza, é de maturação a longo prazo.
Finalizando, aqui vai um desabafo de um exportador “desamparado e desesperançado”. Além de todos os problemas e riscos inerentes do negócio, acima mencionados, os exportadores brasileiros estão sendo dizimados, um de cada vez, em conseqüência da maior barbaridade que já aconteceu neste país, nos últimos 500 anos.
Trata-se da manutenção das atuais taxas de juros, em patamares exor-bitantes pelo Banco Central brasileiro, exatamente num momento em que existe uma abundância de liquidez financeira no mundo todo, o que provoca um fluxo cambial especulativo, sem precedentes, de recursos externos, que busca e consegue um rendimento 100% superiorao obtido noutros países decentes e organizados. Provocando, com isto, uma valorização astronômica de nossa moeda. E, o mais impressionante é que não se vê nenhuma efetiva e firme manifestação de nossas entidades de Classe, Federações e Confe-derações das Indústrias e do Comércio, como se tudo estivesse dentro da normalidade.
Não podemos perder de vista que depois da bancarrota dos exportadores, virão os importados, muito mais baratos, que levarão nossos empregos para o outro lado do mundo, como já está acontecendo em diversos setores produtivos.
Nestor de Castro Neto Presidente da Voith Paper Matéria-prima é a maior responsável pelo crescimento do eixo sul
Nas últimas décadas, o aumento da importância do hemisfério sul na produção de papel e celulose alterou drasticamente o cenário competitivo mundial do setor.
Para podermos analisar o atual cenário mundial de produção de papel e celulose, faz-se necessário repensar e compreender as mudanças pelas quais o setor passou.
Desde o início da história da fabricação de papel, as grandes mudanças em seu processo de produção foram impulsionadas por pressões de consumo, ora suportadas pelo surgimento de inovações e novas tecnologias de produção, ora pela utilização de novas matérias-primas.
No final do século XVIII, encontramos a revolucionária mudança no processo de fabricação de papel, concretizada pelo nascimento das máquinas de papel.
Nesse momento, a produção deixava de ser uma atividade artesanal, para se transformar em um processo industrial e contínuo de produção.
Em meados do século XIX, já existiam especulações e estudos sobre a utilização das fibras de madeira, em substituição às fibras até então utilizadas como matéria-prima para a fabricação de papel, provenientes de farrapos de tecidos. A idéia mostrava-se promissora, mas ine-xistiam processos industriais que permitissem o desfibramento da madeira em larga escala, necessário para sua utilização comercial. Nas últimas décadas desse século, nasceu a Voith e, com ela, o primeiro refinador/desfibrador contínuo para madeira. A utilização da nova matéria-prima permitiu Nestor de Castro Neto que o mercado papeleiro ganhasse escala, crescesse e se consolidasse.
Durante décadas, as fibras celulósicas provenientes das madeiras dos países do hemisfério norte reinaram absolutas. Eram longas, proporcionavam boa resistência e boa aparência ao papel.
A situação mudou com o início da II Guerra Mundial. Os fornecedores europeus, canadenses e americanos de fibras reduziram ou paralisaram suas produções. Os mercados consumidores, como a América Latina, ficaram desabastecidos.
Apesar de já existirem produtores locais, a demanda era maior que a oferta. A pressão pela busca de soluções impulsionou alguns empreendedores a agir. Surgiram os reflorestamentos e o investimento na cultura de novas espécies, como o eucalipto. Apesar da boa adaptação 37 » » »
ao clima da América Latina e da alta produtividade alcançada, que pode chegar a 60 metros cúbicos por hectare por ano, contra apenas 7 metros cúbicos por hectare por ano das madeiras produzidas no hemisfério norte, a fibra curta dificultava sua utilização para a produção de vários tipos de papel, considerando as tecnologias de produção existentes naquela época. De certa forma, isto fez com que o desenvolvimento da aceitação da utilização da fibra fosse lento.
Após a Segunda Guerra, os produtores brasileiros passaram a utilizar a fibra em larga escala para produção, principalmente, de papel tissue e de escrever e imprimir.
De fato, somente no final da década de 70, o mercado mundial começou a dar maior aceitação da fibra para a produção de papéis, começando pelos papéis tissue, em substituição dos papéis de fibras longas.
A fibra curta (Eucalipto) proporciona uma maciez incomparável, aliada ao fato da maioria das fábricas de papel tissue comprarem a fibra de qualquer maneira (dificilmente são plantas integradas), sua substituição foi mais fácil. Mas, sua utilização na fabricação de papéis gráficos e cartão demorou mais a se consolidar.
A resistência à tração mais baixa, porém com qualidade superficial extraordinária, desenhava caminhos promissores para a difusão de sua utilização em outros mercados.
A Voith, presente no Brasil há mais de 40 anos, aliou-se aos esforços dos produtores locais, desenvolvendo e adaptando equipamentos e tecnologias, que permitiram a utilização destas fibras em máquinas de maior escala e produtividade.
Os resultados foram bons, os papéis gráficos de fibra de eucalipto passaram a ser exportados e, tanto sua formação, quanto sua qualidade superficial, encantaram o mundo.
Fabricantes do mundo todo passaram a adicionar porcentagens significativas dessa fibra na composição de seus papéis gráficos e também na camada superficial de cartões, onde as condições de qualidade 38
de impressão são imprescindíveis. Mudavam, assim, os padrões para qualidade de formação e de printabilidade dos papéis gráficos e cartões.
Lentamente, a fibra de eucalipto aumentava o nível de exigência dos consumidores finais.
O consumo e a procura cresceram. O Brasil, por já contar com florestas prontas e clima favorável, e principalmente por ter desenvolvido as tecnologias e técnicos de alta qualidade, atraiu investimentos para novas fábricas de celulose de eucalipto, para atender à demanda mundial, dividida quase que igualmente entre papel tissue e papel gráfico e, em menor escala, para os cartões. A Voith Paper esteve também presente neste processo, fornecendo máquinas e equipamentos de tecnologia atualizada, para permitir o aproveitamento de nosso potencial.
Nas últimas décadas, fatores sociais, culturais e políticos alteraram novamente o cenário mundial.
A estabilidade no consumo de papéis e a preocupação com o meio ambiente limitaram a quantidade de novas instalações para a produção de papel e incentivaram o fechamento de unidades produtoras de celulose na Europa.
No mercado da América do Norte, a baixa rentabilidade da produção de celulose e papel e do mercado financeiro, direcionado a segmentos de consumo, no qual o retorno do investimento é mais rápido, gerou uma falta de investimentos em setores de indústria de base, tais como aço, mineração, papel e celulose, etc.
Esta defasagem tecnológica e a competição com países de maior produtividade, como o Brasil, estagnou o mercado e provocou o fechamento de várias fábricas.
Na China, o crescimento acelerado da economia acarretou o crescimento do consumo de papel. A Voith Paper tem fornecido e instalado grandes máquinas nesse mercado, mas a falta de matéria -prima é conhecida e inevitável.
Nesse cenário, era evidente que a importância dos fornecedores de celulose do hemisfério sul cresceria fortemente e isso não demorou a ocorrer.
Países como o Brasil, Chile, África do Sul e, mais recentemente, o Uruguai, instalaram ou estão instalando as maiores plantas de celulose do mundo.
Havia também a possibilidade de o país se tornar grande exportador de papel.
Vários estudos foram feitos para a instalação de novas máquinas, principalmente para a produção de papéis de escrever e imprimir no Brasil, voltadas para a exportação.
Apesar da alta competitividade em custo e de pessoal das indústrias brasileiras de celulose e papel, e da tecnologia disponibilizada pelos fabricantes de máquinas e equipamentos, todos os estudos esbarraram no custo de logística para exportação de papel gráfico.
A desvantagem trazida pelo custo na logística mostrou-se brutal: toda a vantagem competitiva conquistada, com real esforço e investimento, na viabilização dos custos de nossa indústria de papel seria consumida pelos US$ 150 necessários para transportar 1 tonelada de papel gráfico brasileiro para a Europa.
Apesar de todo seu potencial natural, é mais rentável ao Brasil exportar celulose, cujo custo de logística de transporte para uma tonelada, do Brasil para a Europa, é de US$ 50.
Ficamos quase 20 anos sem investir na instalação de novas máquinas para produzir papel no Brasil, pois os projetos, um a um, foram sendo engavetados.
No último ano, ocorreu uma pequena mudança. Recentemente, nasceram novos projetos, em que a competitividade brasileira na matéria-prima fez-se presente, como é o caso do papel cartão, e outro para papéis de escrever e imprimir, para atender à demanda local na América do Sul. Claramente, novas instalações para produção de papel terão maior viabilidade, principalmente, para atenderem ao mercado local, onde a desvantagem da logística passa a ser uma vantagem. O futuro do desenvolvimento e o fortalecimento das empresas produtoras de papel passarão pelo crescimento do mercado interno. Infelizmente, o Brasil, até o momento, não tem acompanhado o mercado mundial.