Equipamentos
jun-ago 2007
Nestor de Castro Neto
Presidente da Voith Paper
Matéria-prima é a maior responsável pelo crescimento do eixo sul
Nas últimas décadas, o aumento da importância do hemisfério sul na produção de papel e celulose alterou drasticamente o cenário competitivo mundial do setor. Para podermos analisar o atual cenário mundial de produção de papel e celulose, faz-se necessário repensar e compreender as mudanças pelas quais o setor passou. Desde o início da história da fabricação de papel, as grandes mudanças em seu processo de produção foram impulsionadas por pressões de consumo, ora suportadas pelo surgimento de inovações e novas tecnologias de produção, ora pela utilização de novas matérias-primas. No final do século XVIII, encontramos a revolucionária mudança no processo de fabricação de papel, concretizada pelo nascimento das máquinas de papel. Nesse momento, a produção deixava de ser uma atividade artesanal, para se transformar em um processo industrial e contínuo de produção.
Em meados do século XIX, já existiam especulações e estudos sobre a utilização das fibras de madeira, em substituição às fibras até então utilizadas como matéria-prima para a fabricação de papel, provenientes de farrapos de tecidos. A idéia mostrava-se promissora, mas ine-xistiam processos industriais que permitissem o desfibramento da madeira em larga escala, necessário para sua utilização comercial. Nas últimas décadas desse século, nasceu a Voith e, com ela, o primeiro refinador/desfibrador contínuo para madeira. A utilização da nova matéria-prima permitiu que o mercado papeleiro ganhasse escala, crescesse e se consolidasse. Durante décadas, as fibras celulósicas provenientes das madeiras dos países do hemisfério norte reinaram absolutas. Eram longas, proporcionavam boa resistência e boa aparência ao papel. A situação mudou com o início da II Guerra Mundial. Os fornecedores europeus, canadenses e americanos de fibras reduziram ou paralisaram suas produções. Os mercados consumidores, como a América Latina, ficaram desabastecidos. Apesar de já existirem produtores locais, a demanda era maior que a oferta. A pressão pela busca de soluções impulsionou alguns empreendedores a agir. Surgiram os reflorestamentos e o investimento na cultura de novas espécies, como o eucalipto. Apesar da boa adaptação
Nestor de Castro Neto
licenças de corte na região norte do país, por motivos ambientais. Paradoxalmente, assistimos a uma imposição de maiores dificuldades para o plantio de florestas no sul do país, notadamente no Rio Grande do Sul, onde já se fala na criação de um ”deserto verde” para o plantio de eucaliptus, ora em andamento naquele estado, sem contar na constante afronta de invasores do MST, movimento anárquico que, infeliz-mente, conta com proteção e am-paro governamental. Já é hora de nossas autoridades pararem de nadar contra a correnteza. Exatamente quando tudo nos indica que o hemisfério sul está prestes a ter um papel cada vez maior no setor florestal mundial, é que se deve oferecer menos burocracia e mais segurança aos investidores deste setor que, por natureza, é de maturação a longo prazo. Finalizando, aqui vai um desabafo de um exportador “desamparado e desesperançado”. Além de todos os problemas e riscos inerentes do negócio, acima mencionados, os exportadores brasileiros estão sendo dizimados, um de cada vez, em conseqüência da maior barbaridade que já aconteceu neste país, nos últimos 500 anos. Trata-se da manutenção das atuais taxas de juros, em patamares exor-bitantes pelo Banco Central brasileiro, exatamente num momento em que existe uma abundância de liquidez financeira no mundo todo, o que provoca um fluxo cambial especulativo, sem precedentes, de recursos externos, que busca e consegue um rendimento 100% superior ao obtido noutros países decentes e organizados. Provocando, com isto, uma valorização astronômica de nossa moeda. E, o mais impressionante é que não se vê nenhuma efetiva e firme manifestação de nossas entidades de Classe, Federações e Confe-derações das Indústrias e do Comércio, como se tudo estivesse dentro da normalidade. Não podemos perder de vista que depois da bancarrota dos exportadores, virão os importados, muito mais baratos, que levarão nossos empregos para o outro lado do mundo, como já está acontecendo em diversos setores produtivos.
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