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Ivan Tomaselli

Ivan Tomaselli Diretor de Desenvolvimento da STCP O mercado e o avanço dos países emergentes

A produção e o comércio mundial de madeira e produtos de madeira têm sido dominados por um número relativamente pequeno de países. Ao longo das últimas décadas, cerca de 60% das exportações de produtos florestais teve como origem a América do Norte e a Europa.

Este quadro, conforme estudos recentemente conduzidos pela STCP Engenharia de Projetos, está apresentando alterações. O processo de globalização, o crescimento da economia mundial dos últimos anos, e melhorias na logística, são fatores que têm colaborado para aumentar o comércio mundial de produtos de madeira, que hoje movimenta algo em torno de US$260 bilhões - quando incluído produtos de maior valor agregado. Se mantida a tendência dos últimos 20 anos, o comércio internacional de produtos florestais deverá atingir, em 2020, cerca de US$500 bilhões. Isto significa que os países e as empresas que quiserem se manter nos níveis atuais de participação no mercado internacional deverão dobrar as exportações, nos próximos 10 a 12 anos.

Todo este processo de mudança tem criado novas oportunidades, especialmente para novos produtores.

Quando analisadas as tendên- cias das exportações de produtos florestais, observa-se que os novos produtores têm aumentado a sua participação, ao longo dos últimos anos. A participação da China no mercado internacional, por exemplo, passou de 1,5% em 1990, para 7,2%, em 2005. A China já suplantou a Itália nas exportações de móveis, país que por várias décadas liderou este mercado. Outros países também ganharam parcelas significativas no comércio internacional de produtos florestais no período, incluindo o Brasil (de 1,3 para 3,2%), a Rússia (de 1,3 para 3,0%), e o Vietnã (de 0,1 para 0,6%).

Como conseqüência, ao mesmo tempo em que os novos atores (países emergentes) ampliaram suas participações no mercado mundial, exportadores tradicionais as perderam. Exemplos são o Canadá, que teve sua participação reduzida de 15,2%, em 1990, para 13,8% em 2005, e a Finlândia, que reduziu de 8,1% para 5,0%, no mesmo período.

O comércio mundial de produtos de madeira tem crescido a taxas muito superiores que a produção, e isto pode, pelo menos em parte, ser atribuído a mudanças na base de produção, resultante da busca de novas fontes de madeira e da realocação de unidades de produção. Esta tendência tem sido muito evidente no caso da produção de celulose, onde os inves- timentos estão sendo concentrados em novas fronteiras, com ênfase no hemisfério sul. Neste processo, entre os países que têm sido beneficiados estão o Brasil, o Uruguai, a Indonésia e o Chile.

A mudança da base de produção tem sido impulsionada por vários fatores, no entanto, o mais relevante está associado com a alta produti- vidade das plantações florestais, localizadas nessas novas fronteiras. A experiência da STCP, em seleção de sites para novas fábricas de celulose, indica que num primeiro momento, devem ser considerados dois critérios básicos: a disponibilidade de madeira a menor custo e logística eficiente para atingir o mercado internacional.

A produtividade das plantações florestais tem sido determinante nos avanços da celulose de eucalipto no mercado internacional. A partir de plantações de eucalipto é possível produzir madeira de qualidade adequada e a custos menores que outras madeiras utilizadas na produção de fibra curta. Como resultado, a celulose de eucalipto, que em 1990 tinha uma participação no mercado internacional de aproximadamente 30%, tem agora 50% deste mercado. Projeções indicam que, em 2012, a celulose de eucalipto deverá deter mais de 60% do mercado mundial de fibra curta, e que a maior parcela estará sendo exportada por empresas instaladas no Brasil.

As mudanças em curso são resultantes do fortalecimento de produtores localizados em países emergentes (mais competitivos), e também pela gradual transferência da produção de empresas tradicionais, para novas fronteiras. A transferência da base de produção vem ocorrendo tanto pela busca de novos mercados (em países emergentes), como também por ser uma forma de manter a competitividade no mercado internacional, onde a busca constante de redução de custos de produção tem sido a meta principal. Tudo indica que esta tendência deverá ser mantida ao longo dos próximos anos. Na realidade, os fatos demonstram que alguns produtores tradicionais deverão acelerar o processo de transferência da base de produção. Entre estes fatos encontrase a decisão da Rússia de aumentar a taxação sobre as exportações de toras, hoje estabelecida em 6,5%, e que crescerá, gradualmente, a partir de julho de 2007, atingindo, em janeiro de 2009, o percentual de 80%. A Rússia detém cerca de 20% dos estoques de madeira do mundo, e uma capacidade de produção sustentada de mais de 560 milhões de metros cúbicos por ano (atualmente produz 130 milhões). Hoje, o país exporta Ivan Tomaselli mais de 50 milhões de metros cúbicos de madeira na forma de toras (principalmente para a Finlândia, Japão e China) e, portanto, a decisão da taxação terá um grande impacto no mercado mundial.

Produtores de celulose (e de ou- tros produtos de madeira) dos países que hoje dependem de toras importadas da Rússia perderão competiti-vidade e, consequentemente, mercado.

A conclusão é que, em princípio, esses países terão que optar entre transferir a sua produção para a Rússia, ou investir nas novas fronteiras do hemisfério sul, onde o Brasil, por suas características, é, no momento, o país que apresenta as melhores condições para atrair estes investi- mentos. 33

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