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José Luiz Stape
A expansão florestal no hemisfério Sul está cada vez mais apoiada nos conhecimentos científicos sobre os “ecossistemas” de plantações florestais e suas interrelações ambientais e sociais
Foi-se o tempo em que “expansão florestal” significava apenas o plantio de mais árvores num projeto, fazenda ou área. Hoje, o termo invoca uma série de premissas associadas à produtividade florestal, num primeiro momento, mas se seguindo, imediatamente, os aspectos da sustentabilidade econômica, ecológica e social do empreendimento, dentro das especificidades de cada região.
A produtividade continua a ser o principal norteador de localização dos distritos florestais, porque possibilita a produção da matéria-prima madeira, componente principal do produto final celulose, com garantia de suprimen- to e baixos custos de produção, em função das economias de escala, em nível de talhão (alta produção por hectare) e em nível de região (grande quantidade de hectares manejados conjuntamente).
Vários países do hemisfério Sul, como Brasil, Chile, Uruguai, Argentina, África do Sul, Congo, Indonésia e Nova Zelândia, dentre outros, possuem regiões edafoclimáticas aptas, ou mesmo ideais, para o desenvolvimento de espécies florestais com alta produtividade.
Dentre estas, destacam-se aquelas dos gêneros Eucalyptus e Pinus, tanto nas regiões tropicais (E.grandis, E.urophylla, E.pellita, P.caribaea) como nas subtropicais (E.grandis, E.saligna, E.globulus, E.dunnii, P. taeda, P.elliottii, P.radiata).
José Luiz Stape Professor do Departamento de Ciências Florestais da Esalq-USP A expansão florestal no hemisfério sul
No caso brasileiro, um amplo estudo da produtividade das florestas de Eucalyptus do setor papeleiro, através das Parcelas Gêmeas de Inventário (www.ipef.br/ppgi), mostrou um valor de 42 m³/ha/ano, e identificou que, através de melhores práticas de manejo, esta produtividade pode subir ainda para 55 m³/ha/ ano. Este valor médio geral do setor é de 3 a 6 vezes superior às produtividades médias no hemisfério Norte, onde predominam as áreas de clima temperado e subtropical.
No entanto, a produtividade per si não é mais o único fator a ser analisado numa decisão estratégica de grandes empreendimentos, sendo de alta relevância, na sociedade atual, o know-how e o embasamento científico dos manejos adotados, de forma que na sociedade local e internacional haja transparência das práticas de manejo e seus controles, bem como das interrelações sociais. Assim, as amplas áreas de florestas plantadas passam a ter status de um “ecossis-tema”, requerendo seu profundo conhecimento científico, não só da produção de madeira, mas também do uso dos recursos naturais que necessita ou influencia, como água (quantidade e qualidade), solo (conservação e nutrição), luz e biodi- versidade (no contexto da paisagem).
Novamente, vários países do hemisfério sul mostram-se ade- quadamente desenvolvidos nestes quesitos socioambientais, como é o caso do Brasil, África do Sul e Nova Zelândia, por exemplo. Pesquisas, que até duas décadas atrás só se realizavam no hemisfério Norte, em países desenvolvidos, hoje são amplamente difundidas e utilizadas no setor florestal do hemisfério Sul, destacando-se as pesquisas genéticas de melhoramento, hibridação e genômica (Genolyptus www.embrapa.br), nutrição e manejo florestal (www. ipef.br/ptsm, www.sif.org.br/nutree), ecofisiologia florestal (Produtividade Potencial do Eucalyptus e do Pinus, www.ipef.br/bepp e www.ipef.br/ pppib), proteção florestal (www. ipef.br/protef, www.ufv.br/dfp) e seqüestro de Carbono(www.ipef. br/euc-flux, www.floresta.ufpr.br/ fupef), dentre outras.
Assim, explica-se o porquê da realização de eventos mundiais sobre Florestas Plantadas no hemisfério Sul, como o Congresso Florestal Mundial na Austrália, em 2005, e os próximos Simpósios sobre Produtividade e Sustentabilidade de Florestas Plantadas, em Outubro de 2007, na África do Sul, e em Novembro de 2008, no Brasil.
Tal gama de conhecimentos, associada a práticas operacionais de conservação de solo e água, vêm possibilitando a crescente certi-fi- cação das plantações florestais nos países do hemisfério Sul, atestando a idoneidade e compromisso dos empreendimentos com as regiões em que atuam.
Além disso, há de se destacar que uma crescente parcela das florestas plantadas no hemisfério Sul está sendo realizada junto a pequenos e médios proprietários rurais, aumentando ainda mais as opiniões e interesses, acerca dos temas florestais. A estes novos silvicultores, faz-se necessário o rápido repasse não só dos ganhos técnicos das florestas plantadas, mas também da consciência ambiental que com ela evoluiu, para que o produtor não seja apenas um plantador de árvores, mas, além disto, um gestor do seu ambiente rural.
Finalmente, não queremos deixar aqui a falsa idéia de que as relações entre os empreendimentos florestais e as suas regiões de influência estejam totalmente equacionadas, mas sim de que há competência científica cada vez maior para que os pontos de divergência sejam tecnicamente apresentados e debatidos por toda a sociedade, levando-se em consideração as particularidades locais.
A capacidade do hemisfério sul, com seus mais de vinte milhões de hectares de florestas plantadas, em atrair novos investimentos, aumenta a nossa responsabilidade (profissionais, produtores, investidores, legisladores, órgãos governamentais, educadores e cientistas), em saber localizar e gerir tais plantios, para atender esta complexa sociedade local-regional-global, em relação aos bens que demanda hoje, sem se descuidar dos bens que possa vir a demandar no futuro. 5