Biotecnologia
jun-ago 2007
Fábio Luis Brun
Diretor da ArborGen Tecnologia Florestal Biotecnologia e produção florestal: oportunidade e desafio no hemisfério sul A demanda mundial por produtos de base florestal está, como muitas vezes previsto, aumentando de forma sólida e constante. O recurso necessário para atender essa demanda poderá advir de forma sustentável, apenas pelo intermédio do uso de florestas plantadas, com o objetivo específico de prover madeira para fins industriais. A aptidão para produção florestal do hemisfério sul, especialmente demonstrado em países como Brasil, Chile, Uruguai e Argentina, vem se confirmando e representando uma oportunidade clara de progresso econômico, social e ambiental, assim como um desafio técnico e regulatório. Há anos, o Brasil é reconhecido como referência em silvicultura e produtividade florestal, mas ainda ocupa uma posição relativamente tímida, quando comparado, como exemplo, aos grandes países produtores de papel e celulose. Essa realidade é produto de uma ampla série de fatores econômicos, políticos e sociais. No entanto, esse comportamento quase coadjuvante do Brasil no mercado internacional vem sendo efetivamente transformado
pelo interesse em garantir ao país uma posição de destaque, mais atuante e influente. A prova dessa afirmação é dada pelos investimentos mais recentes, feitos e anunciados por grandes
empresas do setor. Esses investimentos tornam-se possíveis, em função da expectativa da disponibilidade do recurso básico florestal para produção industrial: alta performance silvicultural, madeira com alto grau de homogeneidade, qualidade físicas e químicas predeterminadas e custo/preço competitivo. É seguro afirmar que as florestas que garantem a combinação de todas estas características são hoje produzidas em larga escala e com grande eficiência no hemisfério sul do planeta e, especificamente, em países latino-americanos, como Brasil, Chile, Uruguai e Argentina. Dentre estes, o Brasil claramente destaca-se em função de seus expressivos progra-
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logística de exportação. A tecnologia florestal encontra-se ultrapassada e, nas últimas décadas, não foram implementados na região investimentos greenfield significativos. O sudeste asiático tem como sua grande força motora a Indonésia, possuidora de grandes e modernas instalações fabris, mas com um enorme problema de abastecimento de matéria-prima homogênea e de qualidade. As unidades existentes ainda dependem, em boa parte, do suprimento de madeira proveniente de florestas nativas tropicais, em regime de concessões, assim como toda questão ambiental que isso acarreta. Não obstante, a tecnologia florestal, inclusive o desenvolvimento genético de espécies adequadas às condições edafo-climáticas, está longe de atingir o nível brasileiro. Examinando a América do Sul, vemos que o grande ator neste cenário é o Brasil. O resto da região tem bom potencial, mas uma análise rápida mostra que o país com melhor tradição florestal e industrial, o Chile, tem limitações de área disponível. O Uruguai está no início da sua carreira como produtor, mas já conta com uma história atribulada, em relação ao seu primeiro projeto de porte. Grande parte dos vizinhos restantes atravessa um período de turbulência política, que desencoraja iniciativas de maior envergadura. No Brasil, a indústria controla a maioria do seu suprimento de fibras. A área florestal conta com uma longa história de sucesso no desenvolvimento de espécies melhor adaptadas e mais produtivas. Grandes unidades industriais foram implementadas recentemente, ou estão em fase de implementação. O capital humano existe e é competente. Não esqueçamos, porém, as ameaças reais e latentes de movimentos anárquicos que contestam a propriedade privada da terra para usos “capitalistas”, a competição por espaço promovida pelo complexo carvoeirosiderúrgico e pela grande euforia etílica na produção de biocombustível. Esperamos ainda que o esforço para melhoria da logística de exportação venha a se concretizar. As Pasárgadas de fato não existem, pelo menos, não em termos fáceis.
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