pragas
Opiniões
a certificação florestal e as
formigas-cortadeiras
A certificação florestal surgiu como uma tentativa de garantir que as florestas fossem manejadas de maneira sustentável, buscando o equilíbrio na parte econômica, ambiental e social. O Forest Stewardship Council – FSC, foi o primeiro sistema de certificação, criado em 1993, e conta com mais de 180 milhões de hectares de florestas e plantios certificados. O Brasil tem a maior área certificada pelo FSC na América Latina, com cerca de 7,3 milhões de hectares (60% de plantios florestais). Para se certificarem, as empresas devem seguir as regras dentro dos 10 princípios e 56 critérios do FSC, que abordam o relacionamento com comunidades vizinhas, leis trabalhistas e ambientais, preservação da biodiversidade, planejamento florestal e manejo dos plantios florestais. Dentro dos princípios e critérios, existe a “Política de Pesticidas”, onde é feita a identificação e a prevenção do uso de pesticidas considerados pelo FSC como “altamente perigosos” e, portanto, proibidos em empreendimentos certificados. Essa política também promove métodos “não químicos” e o uso adequado dos pesticidas para o manejo de pragas. O FSC publica, periodicamente, uma lista indicando quais são esses pesticidas, e sua última versão foi divulgada em 2015. Nessa lista, estavam inclusos deltametrina, fipronil e sulfluramida, os princípios ativos que compõem os inseticidas mais utilizados no manejo e no controle de formigas-cortadeiras e cupins pelas empresas florestais brasileiras.
Os produtores florestais brasileiros encontram dificuldade ao adaptar a essa proibição, devido à falta de alternativas viáveis para o controle dessas pragas, principalmente para as formigas-cortadeiras. As formigas-cortadeiras (Atta spp. e Acromyrmex spp.) são tidas, por unanimidade, como as principais pragas florestais brasileiras, pois desfolham intensamente (podendo matar), praticamente, qualquer espécie florestal plantada, nativa ou exótica. São insetos sociais com colônias funcionando como um superorganismo e, por isso, possuem uma série de adaptações que tornam seu manejo e controle mais complexos do que qualquer outra praga florestal. Entre essas adaptações, temos: ninhos com estrutura complexa, comportamento de forrageamento, cultivo do fungo simbionte fornecendo alimento a elas, alto nível de higiene da colônia e organização social. Logo, táticas de controle que matem apenas algumas formigas operárias não controlam ou comprometem a sustentabilidade da colônia. O controle químico, com iscas formicidas à base de sulfluramida e fipronil, é o único método com viabilidade técnica, econômica e operacional para controlar formigas-cortadeiras.
As formigas-cortadeiras são insetos sociais com colônias funcionando como um superorganismo e, por isso, possuem uma série de adaptações que tornam seu manejo e controle mais complexos do que qualquer outra praga florestal. "
Pedro Guilherme Lemes
Professor de Entomologia Florestal da UF-Minas Gerais Coautor: José Cola Zanuncio, Professor de Entomologia da UFV
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