









BIOENERGÉTICA: cana, milho, açúcar, etanol, biogás, bioeletricidade, CBio, biohidrogênio e SAF
ano 22 • número 83 • Divisão C • Fev-Abr 2025
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Quando pensamos na pauta central desta publicação - "Os rumos do sistema bioenergético"o que vem à mente é o título acima, literalmente, uma vez que há uma real possibilidade do uso de biocombustíveis na aviação, com o SAF (sustainable aviation fuels).
Esta seria uma consequência lógica de uma longa história, que começou em novembro de 1975 com a criação do Programa Nacional do Álcool, o Proálcool, legislação governamental nascida com o propósito de se buscar uma alternativa viável à crise do petróleo, caracterizada pelo aumento repentino e exagerado dos preços dos combustíveis fósseis.
Nesses 50 anos de existência, o Programa passou por fases difíceis e, em alguns momentos, quase perdeu a razão de ser. Mas, com o tempo, foi se firmando para além das fronteiras brasileiras e hoje se insere num capítulo muito significativo das grandes questões a serem enfrentadas pela humanidade.
Com efeito, há 4 grandes fantasmas assombrando cidadãos de todos os continentes, os "modernos cavaleiros do apocalipse": insegurança alimentar, transição energética, mudanças climáticas e desigualdade social. São temas que afetam o mundo todo e que precisam ser enfrentados com vigor, porque, não resolvidos, constituem verdadeira ameaça à paz universal e à democracia em cada país. A fome, principalmente, não convive com a paz, e a história é prenhe de demonstrações desse fato.
Já a transição energética, caracterizada pela necessidade de matriz renovável que substitua matérias-primas fósseis, tem um caminho evidente com a bioenergia, os biocombustíveis e seus subprodutos, e a experiência brasileira prova essa tese.
O nascimento do Proálcool coincidiu com um período em que o Brasil importava alimentos. Em 1970, importávamos 30% do que era consumido no Brasil. Foi esse o gatilho para a criação da Embrapa em 1973, com a visão de alcançar a autossuficiência alimentar. A agricultura era costeira, e o governo lançou programas visando a incorporação do Cerrado, especialmente no Centro-Oeste, às áreas produtivas: o Polocentro e o Prodecer são desse tempo. Por isso, surgiram críticas pesadas ao Proálcool. Lideranças acadêmicas acusavam o programa de privilegiar a produção de combustíveis em vez de alimentos: diziam que ia sobrar cana e faltar comida. A própria Petrobras não era muito simpática à ideia, e a indústria automobilística não teve entusiasmo maior.
O tempo mostrou o erro dessa avaliação. As plantações de cana-de-açúcar se expandiram para áreas de pastagem extensiva no Oeste e Noroeste de São Paulo e também nos estados vizinhos. E, ao ocuparem essas regiões, levaram gestão e tecnologias ainda não praticadas pelos pecuaristas locais. Isso promoveu a mecanização acelerada dos produtores, que passaram a reformar e modernizar pastagens via agricultura de grãos, em especial o milho e a soja, que vinha com força do Sul e se adaptava a regiões tropicais ou subtropicais. O resultado foi espetacular, e o crescimento da agricultura de alimentos garantiu a autossuficiência ambicionada e permitiu as exportações ao mundo todo, desmentindo o medo apregoado por inimigos do Programa. Mesmo assim, o setor sofreu pressões eventuais, até durante alguns governos federais, e resistiu bravamente até dois fatos surgirem em seu favor.
O primeiro, importantíssimo, foi a cogeração de eletricidade a partir da queima do bagaço de cana nas caldeiras das usinas. A tecnologia industrial avançou reduzindo a demanda por lenha nas caldeiras e sobrou muito bagaço, que virou energia distribuída nas redes oficiais, exatamente no inverno, quando as represas eram mais baixas e as hidrelétricas sofriam para atender à demanda do país que se urbanizava e se industrializava.
E o segundo foi o nascimento do carro flex, quando a indústria automobilística se "casou" com o álcool, então apelidado de etanol.
Daí para a frente, as coisas foram mais simples e os avanços notáveis.
A partir de 2006, os Estados Unidos iniciaram a produção de álcool de milho, que parecia inadequado. Mas com muita pesquisa, inovação tecnológica, determinação e muito subsídio, a coisa funcionou a tal ponto que os Estados Unidos se tornaram o maior produtor mundial.
Os empresários brasileiros não ficaram para trás e logo iniciaram programa igual, com uma vantagem sobre o etanol de cana: um subproduto da fabricação, o DDG, um farelo riquíssimo em proteína, passou a ser super relevante para a produção de carne e leite, de modo que o álcool de milho, além de servir como combustível renovável, era também ótimo para a alimentação animal e humana.
O mesmo se deu com o biodiesel, criado por lei em 2005, especialmente o fabricado a partir da soja, porque o farelo da oleaginosa, subproduto da produção, também tem grande valor para rações.
Mais recentemente, o restilo, resíduo da destilação do caldo de cana, está produzindo biometano, um gás que ajuda a eletrificação e ainda gera um fertilizante orgânico que volta aos canaviais.
Todo esse gigantesco aparato é o verdadeiro algoz dos afamados "cavaleiros do apocalipse". Fornece o alicerce para a nossa matriz energética, que é 50% renovável, enquanto a do mundo não chega a 15%. E contribui efetivamente para mitigar as mudanças climáticas. O etanol emite 11% do CO2 emitido pela gasolina. E o biodiesel emite só 20% do CO2 equivalente do diesel fóssil.
Com isso, a bioenergia mata 3 coelhos (ou 3 cavaleiros fantasmas) com uma só cajadada: é a base de uma transição energética ambicionada, mitiga as mudanças climáticas e ainda gera milhares de empregos nas cadeias produtivas da cana, do milho e das oleaginosas em todo o país, ajudando a resolver o drama da desigualdade social. E o quarto, a segurança alimentar, é minimizado com o farelo de soja e o DDG do milho.
Adicionalmente, os biocombustíveis melhoram muito a saúde pública nos centros urbanos, e este é um ponto essencial para o bem-estar da sociedade. E tudo isso pode ser replicado nos países do cinturão tropical do Planeta na América Latina, África subsaariana e Ásia.
Desde sua criação, o Proálcool produziu 813,4 bilhões de litros, reduzindo drasticamente as emissões de CO2. Só em 2004 foram evitadas 48,6 milhões de toneladas!
Surgiram críticas pesadas ao Proálcool no início.
Lideranças acadêmicas acusavam o programa de privilegiar a produção de combustíveis em vez de alimentos: diziam que ia sobrar cana e faltar comida. "
Roberto Rodrigues
Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV - Fundação Getúlio Vargas
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Desde 2011, o etanol evitou a importação de 305 bilhões de litros de gasolina, que custaria, a valores presentes, 195 bilhões de dólares. Economia gigante! Em 2024, foram produzidos 35,9 bilhões de litros, sendo 29,6 a partir da cana e 6,3 a partir do milho. São 357 unidades industriais em funcionamento em todo o Brasil, sendo 335 usando a cana como matéria-prima, 11 usando o milho e outras 11 usando ambos. Os empregos diretos e indiretos gerados pela cadeia produtiva chegam a 2,2 milhões. Segundo a Unica, que informou esses dados, a produção de etanol pode chegar a 48 bilhões de litros até 2034. Atualmente, 27% de etanol anidro são misturados à gasolina, e essa proporção pode ir a 30% até 2030, segundo a Lei Combustível do Futuro.
Desde 2005, quando foi lançado o biodiesel, foram produzidos 76,7 bilhões de litros, evitando a emissão de 4,9 milhões de toneladas de CO2 e economizando 43,8 bilhões de dólares na importação de diesel fóssil. Cerca de 58 instalações industriais produzem biodiesel, a maioria a partir de soja, mas também se usa sebo bovino e óleo usado de cozinha e cresce a perspectiva de uso de óleo de palma e macaúba. Atualmente, se mistura 14% de biodiesel no combustível fóssil, podendo chegar a 20% até 2030, de acordo com a Lei Combustível do Futuro.
Por tudo isso, e dadas as perspectivas do SAF, o céu é mesmo o limite para os biocombustíveis, mormente com a nova legislação aprovada no ano passado, que cria previsibilidade até ao seu uso na aviação.
Mas nada impede que seja também o combustível do futuro na navegação. Aí sim, o Brasil terá ensinado ao mundo que os biocombustíveis são excelentes alternativas na terra, no ar e no mar. n
Sem dúvidas, 2024 foi de grandes desafios para o agro brasileiro. Em um ano cheio de adversidades, a eleição presidencial americana talvez tenha sido o evento mais relevante para observar neste próximo ano, no setor. Neste mandato, Donald Trump inicia sua gestão com uma postura um pouco mais incisiva quanto à concretização de suas propostas, tanto por este ser seu segundo mandato como presidente, mas também por contar com maior apoio de parlamentares no congresso norte-americano. No agronegócio, os principais impactos da gestão Trump incluem: a. Política comercial e tarifas:
Trump prometeu adotar medidas protecionistas, incluindo a imposição de tarifas sobre produtos estrangeiros, visando proteger a indústria americana. Até a conclusão do nosso artigo, na segunda quinzena de fevereiro de 2025, Trump já havia decretado diversas medidas tarifárias, mas, ainda, sobre outros setores. A primeira delas, de 25%, está sendo aplicada sobre importações de automóveis, produtos farmacêuticos e semicondutores, como medida que visa estimular a indústria local. Além disso, já impôs tarifas de 25% sobre todos os produtos importados do Canadá e do México; e de 10% sobre os produtos advindos da China. Os mesmos 25% serão adotados também para todas as importações de aço e alumínio do país, a partir de março.
Agências econômicas internacionais têm divulgado relatórios apontando que o “tarifaço” de Trump pode causar grandes desajustes na economia global, gerando inflação e alta de preços dos insumos básicos, além de quebras nas cadeias produtivas globais. É essencial analisar como estas e outras medidas
podem elevar os custos de produção na agricultura, especialmente na brasileira, que tem boa parte da matéria-prima de insumos (destaque para defensivos e fertilizantes) importada de outros países.
b. Disputa pelo mercado chinês:
A relação comercial entre Estados Unidos e China é crucial para o agro brasileiro. Se Trump adotar uma postura mais agressiva, buscando ampliar a participação americana no mercado chinês, o Brasil poderá enfrentar maior concorrência na exportação de produtos como soja, milho e carnes; mas a tendência é de que o caminho seja contrário, como aconteceu durante seu primeiro governo. Vale recordar que, em 2024, a China se destacou como a principal compradora de produtos do agronegócio brasileiro com US$ 49,7 bilhões em aquisições (30,2%), seguida pela União Europeia, com US$ 23,2 bilhões (14,1%), e pelos Estados Unidos, com US$ 12,1 bilhões (7,4%).
Nos movimentos mais recentes, Trump anunciou uma tarifa de 10% sobre todos os produtos chineses. A China reagiu e já anunciou novas taxas de 10 a 15% nos produtos norte-americanos.
c. Relações diplomáticas:
Em relação aos conflitos globais em andamento, Trump tem adotado uma abordagem distinta, especialmente no que se refere à guerra na Ucrânia.
Resiliência e boa gestão são mais necessárias do que nunca, mas o cenário para a agricultura brasileira é positivo. "
Marcos Fava Neves e Vinícius Cambaúva
Professores da Harven Agribusiness School
Em fevereiro, Trump anunciou negociações de paz com o presidente russo, Vladimir Putin, visando encerrar o conflito na Ucrânia, representando a normalização das relações com a Rússia, o que pode favorecer as exportações russas de produtos agrícolas e alterar a dinâmica do mercado internacional, impactando as exportações brasileiras, já que os Estados Unidos são o 3º principal parceiro comercial do nosso país.
Já em relação ao conflito entre Israel e o Hamas, Trump propôs um plano controverso para a Faixa de Gaza, visando reconfigurar a região após o término do conflito. As alterações nestes mercados podem afetar diretamente os custos de produção na agricultura (diesel, fertilizantes e outros insumos) ou até mesmo favorecer setores como o de biocombustíveis (etanol, biodiesel e outros), em vista da competição e paridade de preços.
Ainda no elo diplomático, Trump também se posicionou de forma firme em relação aos BRICS, grupo de coordenação econômica que tem Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul como líderes. Segundo ele, o grupo pode sofrer uma taxação de “no mínimo 100%”, em caso de alteração da moeda de negociação do dólar para uma outra moeda própria.
Além disso, o presidente norte-americano tem liderado a saída do país de diversas agências e organizações internacionais, a exemplo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Conselho dos Direitos Humanos e corte de financiamento da UNRWA (Agência de Refugiados da Palestina). No caso da Organização Mundial do Comércio (OMC), Trump fez duras críticas à estrutura e governança da organização, apesar de ainda não ter decretado o desligamento do país do grupo.
d. Política ambiental e sustentabilidade:
Do ponto de vista ambiental, a já anunciada saída dos Estados Unidos do Acordo de Clima de Paris, que deve ser efetivada a partir de 2026, coloca o país, junto com Irã, Líbia e Iêmen, como os únicos fora do pacto, desde 2015. Apesar de afirmarem que as metas não serão alteradas, a saída da principal potência econômica global do acordo – já questionado em vista dos resultados atuais de aquecimento global –tende a trazer certa fragilidade à política ou até mesmo estimular outros países a seguirem no mesmo caminho.
Afinal, o que esperar para 2025 na agricultura brasileira? Diante de todo este contexto, quais seriam, portanto, os principais pontos de preocupação que poderíamos elencar como
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prioritários para o agronegócio brasileiro e global? Abaixo, apresentamos uma proposta com os 10 principais itens, que podem ser discutidos e utilizados por agricultores, profissionais, especialistas ou organizações do setor em suas discussões estratégicas:
1. Eventos climáticos e políticas ambientais: Secas, enchentes e novas exigências ambientais afetando a produtividade nas lavouras.
2. Riscos de pandemias: Doenças em humanos e animais podem restringir exportações e comprometer cadeias produtivas.
3. Guerras e crises globais: Conflitos, ataques cibernéticos e volatilidade do petróleo impactando preços de commodities e insumos.
4. Cenário político e regulatório: Novos acordos e restrições comerciais e políticas migratórias influenciam o comércio e oferta de mão de obra.
5. Economia global e inflação: Taxa de juros, câmbio e endividamento impactam custos, investimentos e rentabilidade do setor, ao mesmo tempo que podem gerar novos mercados consumidores.
6. Oferta e demanda de insumos, comportamento de compra e inovações: O acesso a fertilizantes, defensivos e máquinas agrícolas segue sendo um fator crítico de sucesso.
7. Cadeia logística: Gargalos em transporte, armazenagem e custos energéticos podem pressionar os preços globais.
8. Inovação e Tecnologia: Novas tecnologias como inteligência artificial e digitalização influenciam o campo, juntamente com novos comportamentos dos consumidores.
9. Pragas e Doenças: O investimento para alcançar variedades mais resistentes e novas estratégias de controle deve ser contínuo.
10. Escassez de mão de obra: a falta de trabalhadores qualificados e retrocessos nas políticas trabalhistas pode impactar custos e produtividade.
É essencial lembrar que o cenário macroeconômico do agro está em constante evolução, influenciado por fatores econômicos, políticos, climáticos e tecnológicos. As informações contidas no texto podem servir como base para análises e acompanhamentos futuros, mas não como verdades imutáveis. Estamos, cada vez mais, diante do que chamamos de período das “Variáveis Variando Violentamente”. É preciso acompanhar diariamente os desdobramentos e calcular os impactos, para que se possa mapear os desafios ou até mesmo aproveitar oportunidades. Resiliência e boa gestão são mais necessárias do que nunca, mas o cenário para a agricultura brasileira é positivo.n
Em meio à discussão sobre a exploração da Margem Equatorial, o Congresso Nacional fortaleceu, com a aprovação da Lei do Combustível do Futuro, as bases para um desenvolvimento econômico ainda mais sustentável.
Localizada entre Amapá e o Rio Grande do Norte, a Margem Equatorial é considerada uma região de elevado potencial petrolífero, especialmente depois das descobertas de petróleo e gás natural por Colômbia, Guiana, Guiana Francesa e do Suriname – países fronteiriços. Com reservas que podem chegar a 10 bilhões de barris, a Margem é a principal
aposta da Petrobras após o esgotamento do pré-sal. Para o Governo é mais uma oportunidade de fortalecer a economia, trazer novos investimentos e gerar empregos.
Apesar de toda a riqueza gerada, há sempre uma polêmica quanto ao potencial da indústria petrolífera de desenvolver regiões em que se localiza, em grande medida por ser uma atividade que provoca fracos encadeamentos com demais setores produtivos e cujas elevadas receitas inibem a diversificação da economia. Pode-se dizer que o petróleo enriquece nações, mas nem sempre essa riqueza implica em prosperidade econômica e social para a população. A Noruega e a Venezuela são dois exemplos extremos que nos ajudam a corroborar esta afirmação.
Em 2006, a Petrobras anunciou a descoberta do pré-sal, transformando o Brasil no oitavo maior produtor de petróleo do mundo e o primeiro da América Latina. Para explorar a gigantesca jazida petrolífera, a empresa foi imediatamente capitalizada pela União com a promessa de que a riqueza gerada alimentaria o Fundo Soberano Nacional, criado pela Lei nº 11.887/2008, cujos recursos garantiriam investimentos em saúde e educação e, principalmente, na redução da desigualdade.
O petróleo enriquece nações, mas nem sempre essa riqueza implica em prosperidade econômica e social para a população. A Noruega e a Venezuela são dois exemplos extremos que nos ajudam a corroborar esta afirmação. "
Arnaldo Jardim
Deputado federal, vice-presidente da Frente Parlamentar Agropecuária e presidente da Comissão Especial de Transição Energética e Produção de Hidrogênio
Passadas duas décadas, a produção de petróleo cresceu, e muito, saltando de 1,7 milhão de barris/dia, em 2006, para 4,3 milhões de barris diários, em 2024, dos quais 78% foram provenientes dos reservatórios do pré-sal. Os investimentos em áreas prioritárias, entretanto, não se concretizaram e, em 2019, o Fundo foi extinto pela MP 830/18 para que seus recursos fossem utilizados no pagamento da dívida pública. O que se viu, na verdade, foi a criação de ilhas de riqueza pelo país sem melhorias expressivas em seu IDH, como é o caso do Norte Fluminense, onde encontramos prefeituras muito ricas e regiões muito pobres.
Estudos demonstram que a expansão da indústria do petróleo no estado do Rio de Janeiro promoveu o deslocamento da população rural para as cidades litorâneas, onde encontraram mercado de trabalho com poucas oportunidades para trabalhadores desqualificados. Além disso, os salários mais altos praticados pelo setor inflaram os preços locais de bens e serviços, promovendo um aumento significativo no custo de vida na região. O petróleo, além de não oferecer alternativas de emprego sustentáveis no longo prazo, pode prejudicar gravemente as condições de vida da população se seus recursos não forem utilizados para diversificar e fortalecer a economia local.
Em contraste a um modelo de exploração com pouco efeito multiplicador, que gera pouco emprego e concentrador de riqueza na mão de petroleiras e de governos, mais preocupados em aumentar os gastos do que em investir em alternativas futuras, temos a indústria do biocombustível tão eficiente na produção de combustíveis renováveis quanto a Petrobras na perfuração de poços profundos e que promove desenvolvimento e industrialização nas regiões mais interioranas do país.
Depois de 60 anos produzindo biocombustíveis, o Brasil acumulou conhecimento suficiente para revolucionar o setor. Em 2024, quebramos, mais uma vez, recorde na produção de etanol, totalizando 36,8 bilhões de litros. São 345 unidades produtoras de etanol de cana e 22 unidades de milho em funcionamento, distribuídas em mais de 1200 municípios brasileiros. No Biodiesel, mais uma marca histórica com a produção de 9,1 bilhões de litros e um parque industrial que conta, atualmente, com 68 usinas, presentes em todas as regiões do país. Os benefícios econômicos e sociais dessa produção podem ser traduzidos em números. Segundo a Unica, o setor sucroenergético gera mais de 730 mil empregos diretos e, somados
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os empregos indiretos, são cerca de 2,2 milhões de empregados na cadeia da cana-de-açúcar. Conforme a entidade, a existência de uma planta de etanol no município eleva o PIB médio per capita no ano de instalação da usina em US$ 1.098, enquanto o das 15 cidades mais próximas tem acréscimo médio de US$ 458.
A produção do biodiesel é igualmente virtuosa. Atualmente, há, aproximadamente, 76 mil famílias contratadas no PNPB (Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel), que promove a inclusão da agricultura familiar por meio do Selo Combustível Social. São mais de 200.000 empregos diretos e melhoria na renda das famílias beneficiadas. O Brasil já substitui 50% da gasolina consumida e 14% do diesel fóssil.
Tudo isso, antes mesmo de a Lei do Combustível do futuro, que tive a honra de relatar, produzir seus efeitos e ampliar ainda mais a participação dos biocombustíveis na matriz energética nacional. Estimam-se investimentos da ordem de 200 bilhões de reais para a produção dos já consagrados etanol e biodiesel e para fomentar a produção de SAF (Sustainable Aviation Fuel), Diesel Verde, Biometano e combustíveis sintéticos. Segundo Ministério de Minas e Energia – MME, com o aumento de etanol na mistura, de 27% para 30%, acabaremos com a nossa dependência da importação de gasolina A.
Não sou contra a exploração da Margem Equatorial, cujos recursos, se bem aplicados, podem, sim, mudar o patamar de desenvolvimento do Brasil. Difícil é entender, considerando o efeito multiplicador da cadeia de produção dos biocombustíveis, o porquê da distribuição tão irregular dos subsídios do governo federal ao setor de energia. Dos R$ 99,81 bilhões destinados em 2023, R$ 81,74 bilhões (82%) foram alocados para o petróleo e gás, enquanto R$ 18,06 bilhões (18%) foram destinados às energias renováveis.
O potencial do Brasil para a produção de combustíveis renováveis é gigantesco. Podem ser produzidos 9 bilhões de SAF, suficientes para atender ao mercado interno e demanda internacional, e 120 milhões de m³/dia, que substituirão até 70% do diesel consumido no país. Precisamos aumentar os investimentos e explorar esses atributos.
O petróleo certamente vai acabar, e somente os países que investiram em um modelo mais sustentável poderão ser protagonistas da nova economia. n
Maior vão livre do mercado para culturas altas: 1,52 m
Maior altura de trabalho das barras para pulverização em fim de ciclo: 0,50 a 2,50 m
Motor diesel com trabalho em baixa rotação : mais torque e menos consumo de combustível
Ao seu lado, sempre.
Apesar de ainda estar na metade do mandato, já é possível dizer que o grande legado do governo Lula será a reforma tributária.
Em que pesem as dificuldades em várias outras frentes, especialmente na política fiscal, o fato é que a mudança no sistema tributário terá consequência importante e duradoura na economia brasileira.
Como sempre, não se esperava que fosse uma reforma perfeita. O ideal seria um imposto apenas com o mínimo de alíquotas diferentes.
O sistema dual em conjunto com as incontáveis exceções coloca a reforma abaixo do ótimo. Mas o bom nesse caso já é um ganho significativo.
Os ganhos maiores seriam para a indústria, que por razões históricas sempre teve os impostos mais elevados, com ajuste de alta de imposto para serviços e uma parte pequena para o agronegócio.
O sistema dual em conjunto com as incontáveis exceções coloca a reforma abaixo do ótimo (...) Estima-se que (a alíquota) poderá ser de até 29%, o que torna o país o de maior alíquota do mundo."
Sergio Rodrigo Vale
Economista-chefe da MB Associados
Certamente, o descontentamento do setor de serviços não cabe porque não há justificativa econômica plausível para a indústria pagar mais impostos que os serviços.
Há aqui um objetivo, mesmo não atingido totalmente, de equalizar ao máximo possível um sistema que é muito distorcido.
Ainda não está claro o que será a alíquota padrão, em cima da qual serão contadas as exceções. Estima-se que poderá ser de até 29%, o que torna o país de fato o de maior alíquota do mundo.
É esta que tem de ser tomada como base de comparação com o resto do mundo, pois é em cima da alíquota cheia que distorções adicionais foram criadas pelas exceções.
O discurso do governo de tomar a alíquota pela média não procede, pois daria justificativa para exceções que não têm sentido econômico de existir.
Essa discussão é importante para que não escape à sociedade o fato de que o país terá uma alíquota tributária em bens e serviços extremamente elevada.
Mesmo assim, os ganhos alocativos serão expressivos e devem gerar aumento de produtividade e crescimento em todos os setores, mesmo naqueles que podem ter elevação tributária.
Havia receio na agropecuária de que a majoração de imposto prejudicaria o setor. Mas como há um efeito em cadeia para a economia como um todo, os estudos mostram que os ganhos ocorrerão em todos os setores.
A maior preocupação que o segmento precisa ter nesse momento é sobre o avanço de discussões que aparecem de tempos em tempos sobre imposto de exportação nas commodities.
Essa discussão surgiu novamente por conta da inflação de alimentos, que acelerou no final do ano passado, levando o governo à ideia de taxar a exportação para sobrar mais produtos internamente.
De tempos em tempos surgem essas tentativas, como houve em 2023 a tributação temporária de combustíveis fósseis no upstream. Há movimentação que começou nos estados de colocar tributos específicos no agro, que apenas diminuem a produtividade do setor sem se conseguirem ganhos pelo uso dos recursos fiscais, argumento que é muitas vezes usado para justificar tal tributação.
Seria importante, a partir do início da implementação da reforma tributária em 2026, que se evitassem novas exceções e que se construísse a possibilidade de diminuição das exceções existentes.
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Sem exceções, a alíquota teria ficado em torno de 21% e isso poderia ser um chamariz ao longo do tempo para que fossem rediscutidas as benesses que foram feitas.
Como sabemos, entretanto, o risco é que se adicionem mais benefícios e, não apenas isso, que voltemos a um padrão de judicialização que já foi a base das distorções do sistema atual.
Não será difícil setores pedirem para virar exceção, e com pedidos difusos ao longo do tempo isso pode fazer com que gradativamente a alíquota suba.
Sem falar naqueles setores que poderão judicializar no STF com o argumento de que haveria alguma questão legal que permitiria receber o benefício.
Isso certamente acontecerá, e a Justiça precisará estar atenta para evitar que essas tentativas prosperem e tornem o sistema um emaranhado de leis novamente.
Não se pode também deixar de observar que o Comitê Gestor que será criado, sobre o qual havia muito receio por parte dos estados em relação a quem teria poder de fato no órgão, terá papel fundamental no novo sistema.
Ele terá de funcionar como um órgão técnico que baliza os créditos ocorridos dentro de cada nota fiscal e entre estados e municípios.
Será importante tomar cuidado para que não se politize um órgão que teria de ter o mesmo objetivo do Banco Central na política monetária, ou seja, zelar para que o sistema de crédito nas notas fiscais funcione sem judicialização e sempre com a ideia de poder buscar aperfeiçoamentos.
O Comitê deveria se transformar em um órgão técnico que fosse a origem de aperfeiçoamentos do próprio sistema, por isso a necessidade de uma blindagem de partida. Não é essa a função inicial do Comitê, mas poderia ser um avanço no futuro nessa direção.
O importante a se considerar é que, apesar das limitações da reforma, ela muda um sistema que era considerado o pior do mundo e moderniza de tal forma que a sistemática de tributação poderá estar entre as melhores do mundo quando totalmente implementada. n
O reconhecimento das contribuições socioeconômicas e ambientais da produção e consumo de etanol abre um novo capítulo com a aprovação de parte da Reforma Tributária, em medida sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no mês janeiro de 2025.
Foram longas negociações envolvendo Executivo, Legislativo, Judiciário e entidades do setor produtivo, cujas vozes foram uníssonas em favor do novo regramento, que estabelece mudanças na cobrança de impostos federais incidentes sobre o etanol carburante.
A partir de maio deste ano, esta decisão instituirá um regime de tributação único na comercialização do biocombustível, diferentemente do que acontece atualmente.
Em relação à cobrança do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS), por exemplo, ainda vigora o sistema "bifásico" de tributação sobre o etanol hidratado, em que parte do pagamento
A fraude mais recorrente é o chamado “álcool molhado”, quando se adiciona mais água no etanol hidratado (...) ou quando alguns postos colocam mais etanol anidro misturado à gasolina. "
Martinho Seiiti Ono CEO da SCA Brasil
é recolhida pelas usinas e outra pelas distribuidoras de combustíveis.
Além de concentrar PIS e COFINS em uma única etapa da cadeia produtiva – a produção, o texto da lei também promoverá redução de alíquotas.
Na prática, a monofasia tributária sobre os impostos federais tende a aumentar a competitividade do biocombustível hidratado em relação à gasolina.
Considerando que cada metro cúbico (m 3) de etanol será tributado a R$ 192,20 na unidade produtora ou no importador de combustíveis, a nova regulamentação reduzirá a carga sobre o hidratado, hoje em R$ 241,80 o m 3 .
Aumentará também a taxação no anidro, atualmente em R$ 130,90 por m 3 . Na prática, significa, no sistema vigente, que cada m 3 de etanol hidratado custa aproximadamente R$ 240,80 em PIS e COFINS.
Deste total, R$ 130,90 são quitados pelas usinas e R$ 110,90 pelas distribuidoras de combustíveis. (vide ilustração A)
Outro aspecto importante da Reforma Tributária será a substituição, no futuro, do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS).
No País, existem alíquotas diferentes de ICMS para cada estado. No produtor, dependendo do percentual que é estabelecido – em São Paulo é de 12% –, o ICMS é pago pela usina e complementado pela distribuidora, que desembolsa entre R$ 80,00 e R$ 90,00 o m 3 , a depender do preço que será comercializado na bomba.
Portanto, somando-se o ICMS, PIS e COFINS, a carga total a ser cumprida por uma distribuidora varia de R$ 180,00 a R$ 200,00 o m 3 .
É justamente nesta última etapa da cadeia produtiva do etanol, a da distribuição, que reside um problema crônico relacionado às vendas do produto: a sonegação de impostos.
Tal prática provoca prejuízos bilionários aos cofres públicos e ao mercado. Segundo levantamento do Instituto Combustível Legal (ICL), no mercado de combustíveis em geral o rombo anual provocado pela sonegação tributária e adulteração nos combustíveis é da ordem de R$ 30 bilhões ao ano.
Na região Sudeste, especialmente em São Paulo, a sonegação neste segmento ocorre de duas formas. A mais comum está nas distribuidoras denominadas “barrigas de aluguel”, credenciadas na Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e na Secretaria da Fazenda dos estados da Federação, cujos sócios estão em nome de “laranjas”, porque têm por
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objetivo obter vantagem competitiva através da sonegação. Estima-se que estas “barrigas de aluguel” comercializem quase 30% do etanol hidratado no País.
Outra possibilidade verifica-se nas chamadas “mesas de vendas” – intermediários que comercializam etanol para os postos de abastecimento, especialmente os de bandeira branca, utilizando notas compradas de distribuidoras “barrigas”. (vide ilustração B, na página seguinte)
É preciso estar em constante estado de atenção para identificar a atuação das “barrigas de aluguel” no segmento de combustíveis. São empresas sem tradição no mercado e que aparecem e desaparecem rapidamente.
Como bem definiu o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Campinas (Recap), Emílio Martins, em declaração no site do ICL, essas distribuidoras são como “prateleiras, ou seja, quando uma cai, outra aparece.”
As empresas que trabalham com seriedade e atendem os postos com bandeira branca não conseguem competir com equidade porque pagam impostos corretamente. Cálculos da SCA Brasil revelam que a diferença no preço final do biocombustível, considerando-se a comercialização por uma companhia honesta ou desonesta, pode variar entre R$ 100,00 e R$ 150,00 o m 3 .
PRODUTOR DISTRIBUIDOR
Diante disso, faz-se necessário aumentar a fiscalização e fixar punições mais rígidas para combater a concorrência desleal causada por esses grupos criminosos que sonegam impostos e prejudicam o bom funcionamento do mercado.
Outro ponto negativo a ser combatido na distribuição, embora em menor proporção, está nos casos de adulteração do etanol. Comercializar o produto fora das especificações da ANP é uma prática existente com o biocombustível “batizado”.
A fraude mais recorrente é o chamado “álcool molhado”, quando se adiciona mais água no etanol hidratado,
VALOR DO PIS/COFINS ;
o que prejudica o funcionamento do motor. Ou quando alguns postos colocam mais etanol anidro misturado à gasolina, agindo em desacordo com a lei.
Outra forma desonesta de comercialização e de sonegação envolve distribuidoras que compram etanol anidro das usinas somente com o pagamento de R$ 130,90 o m 3 feito pelo produtor, adicionam água e comercializam o produto como biocombustível hidratado, sem recolhimento de ICMS e o complemento do imposto federal de R$ 110,90. Com isso, conseguem vender o produto a preços inferiores nos postos chamados de bandeira branca.
Por todos os argumentos apresentados, este novo procedimento em relação aos impostos incidentes sobre o etanol, integrante da grande Reforma Tributária em andamento, não vai resolver todos os problemas apontados acima.
Mas, definitivamente, constitui passo necessário na direção certa para corrigir certas distorções de mercado, principalmente em relação à carga tributária sobre o etanol. No momento em que o mundo busca soluções
para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) nos transportes, a medida valoriza o papel do biocombustível produzido a partir da cana-de-açúcar e do milho como opção sustentável ao uso da gasolina. Com etanol, a emissão é de 30 gramas de GEEs por quilômetro rodado, enquanto com a gasolina esse valor pode chegar a 130 gramas.
Sendo um produto nobre e com baixa emissão de poluentes, representando uma alternativa eficaz contra o aquecimento global, o etanol traz muitos outros benefícios sociais e econômicos presentes na esteira desta indústria secular. Com alto valor agregado para a economia nacional, a produção de etanol fortalece o protagonismo do Brasil na transição energética, geração de empregos, desenvolvimento regional e evolução tecnológica, entre outros fatores. São avanços que além de ampliar o portfólio de produtos renováveis a partir do etanol, como o biogás, o biometano e o combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), apontam para um futuro de inovação e cada vez mais promissor. n
COTAÇÃO PEDIDO
CORRETOR/NEGOCIANTE
TRANSPORTE DIRETO (FOB DO POSTO OU CONTRATADO CORRETOR)
Etanol de milho e de cana-de-açúcar
A produção de etanol de milho evoluiu rapidamente no Brasil, passando de apenas 37 milhões de litros na safra 2013/14, para estimados 8,1 bilhões de litros até o final da safra 2024/25, e projetados 10,0 bilhões de litros em 2025/26. Em 2024/25, o etanol de milho gerado em 24 plantas já representou 22,1% da produção total de etanol de cana e milho, e, levando-se em conta os 12 projetos em diferentes etapas de implementação e projetados até 2033/34, a produção de etanol de milho deverá atingir 18,65 bilhões de litros, ou 37,9% da produção total de etanol estimados nessa data. Portanto, o etanol de milho é uma realidade indiscutível, que tem crescido em expressão graças à sua competitividade e complementariedades com outras cadeias produtivas.
Em 2024/25, 23,2% do consumo doméstico total de milho, de 93,94 milhões de toneladas, foi direcionada para a produção de etanol. O etanol tem sido o grande impulsionador do aumento no consumo doméstico do cereal, que era de 74,02 milhões de toneladas em 2020/21. Isso porque, entre 2020/21 e 2024/25, o uso de milho para etanol passou de 8,22 para 21,79 milhões de toneladas. Em comparação, no mesmo período, o uso direto de milho para ração cresceu a um ritmo bem menor, de 53,5 para 59,5 milhões de toneladas. O crescimento do consumo total tem impulsionado a produção, que passou de 87,72 milhões de toneladas em 2020/21 para estimados 125,67 milhões de toneladas em 2024/25. Isso ocorre porque a industrialização do milho para etanol e as
receitas geradas com a venda de farelo e óleo têm ajudado a impulsionar o preço do milho produzido principalmente como safra de inverno (segunda safra) em regiões com logística de custo elevado para a exportação. A industrialização do milho para etanol, farelo e óleo tornou-se elemento fundamental para a formação do preço do cereal no norte do Mato Grosso, onde se concentra a atividade atualmente.
Com o milho sendo processado para etanol, em 2024/25 foram gerados 6,3 milhões de toneladas de farelo de milho, também denominado DDG/DDGS, ou Distillers Dried Grains e Distillers Dried Grains & Solubles, e 381 milhões de litros de óleo de milho, usados também como ingredientes para ração animal. A produção desses coprodutos é fundamental para a economicidade e competitividade do etanol de milho, gerando créditos que abatem o seu custo de produção, e têm sido utilizados com grande sucesso na produção de proteínas animais: bovina, suína, aves e ovos.
O etanol de milho produzido no Brasil se distingue em relação ao produzido nos Estados Unidos por utilizar biomassa renovável, principalmente cavaco de eucalipto, como fonte de energia na sua industrialização.
Novos projetos têm sido planejados e instalados em regiões onde ainda não se materializou a produção de milho necessária. A indústria de etanol de milho está caminhando à frente em estados como MA, TO, PI e BA, incentivando a expansão da produção do grão nesses estados.
Plinio Mário Nastari
Presidente da DATAGRO
Nos EUA, é utilizado principalmente o gás natural fóssil, o que torna o produto nacional muito mais eficiente para a descarbonização. A rapidez com que tem expandido a produção de etanol de milho tem gerado um aumento igualmente veloz no consumo de biomassa, fazendo com que o seu preço de mercado se tenha multiplicado por quatro nos últimos seis anos. Isso tem levado muitos produtores de etanol de milho a investirem em produção própria de biomassa e à diversificação com outras fontes de energia. O mais interessante é que novos projetos têm sido planejados e instalados em regiões onde existe potencial, mas ainda não se materializou a produção de milho necessária. Nesse sentido, a indústria de etanol de milho está caminhando à frente da produção de milho em estados como Maranhão, Bahia, Tocantins e Piauí, incentivando a expansão da produção do grão nesses estados.
Estes projetos nascem na esteira da estratégia de grupos produtores em atender a um mercado deficitário de etanol, que é a região Norte-Nordeste. Segundo estimativa da Datagro, a região Norte-Nordeste deve registrar déficit de 3,85 bilhões de litros de etanol na safra 2024/25 (set/ago). Com esses investimentos, um pouco mais de 80% desse déficit deverá ser atendido quando todas as plantas de etanol de milho, em construção ou em fase de projeto, entrarem em operação na região.
A região Norte-Nordeste deverá contar com 12 unidades de etanol de milho até 2029/30, com capacidade combinada de produção de 3,16 bilhões de litros ao ano, ou 82% do déficit estimado para atual temporada na região. Dessas 12 plantas, destaque para as duas unidades em construção da empresa Inpasa, sendo erguidas em Luís Eduardo Magalhães (BA) e em Balsas (MA), com capacidade para produzir 460 e 450 milhões de litros de etanol ao ano, respectivamente. A Bahia é o estado que deverá contar com mais plantas de etanol de milho, 4 unidades, na região Norte-Nordeste.
Um outro fenômeno tem sido a expansão da oferta de farelo de milho, utilizado com grande vantagem econômica e interesse em confinamentos de bovinos de corte e de leite. Novamente, o forte ritmo de expansão da oferta de farelo tem resultado em preços de DDG e DDGS que não têm acompanhado a evolução do preço do milho, estimulando produtores a encontrarem novos mercados no exterior para escoar parte da oferta. Esse efeito tem reduzido as margens dos produtores de etanol de milho, apesar de preços mais vigorosos de etanol no mercado interno na safra 2024/25.
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Vemos que o etanol de milho no Brasil veio para ficar, basicamente pela integração das cadeias produtivas que ocorrem à sua volta: ao estimular a expansão da produção de milho de segunda safra através de preços mais elevados para o grão; ao gerar coprodutos que intensificam a pecuária bovina; ao liberar áreas de pastagens para expansão de lavouras; ao estimular a produção de biomassa e o aproveitamento de vários resíduos orgânicos.
A produção de etanol de milho também tem ocorrido em usinas de cana-de-açúcar, aproveitando sinergias e complementariedades. As usinas de cana dispõem de bagaço excedente, instalações já existentes para a geração de vapor, sistemas de tratamento e descarte de efluentes, purificação de água utilizada em processo, dornas de fermentação, colunas de destilação, tanques de armazenamento e muitos outros. Nesses casos, o milho funciona como uma matéria-prima considerada quase-cana, que se compra e não se produz, que permite a realização de operações de hedge antecipado e que permite a extensão do período de safra otimizando a utilização de capacidade já instalada. Claramente, essa integração requer desafios a serem superados, a nível de operação industrial, planejamento e necessidade de capital de giro, e instalações para o armazenamento de milho. Mas esse é mais um desafio no processo de diversificação da indústria sucroenergética. Na medida em que contratos de cogeração de energia de longo prazo do Proinfa são encerrados sem renovação, usinas estarão diante de um cenário em que muitas serão levadas a vender excedentes de energia no mercado livre, a tarifas mais baixas. Como a oferta de energia tem sido abundante graças à expansão da geração eólica e solar oferecidas a preços competitivos, a disponibilidade de bagaço poderá ser um atrativo adicional para a instalação de projetos de produção integrada cana-milho em usinas de cana instaladas em regiões com logística favorável à originação do cereal.
A produção de etanol sustentável, certificado com atribuição individual de intensidade de carbono, é uma grande vantagem para o uso do etanol, de cana e de milho, em aplicações tradicionais e em novas aplicações para a produção de combustível sustentável de aviação (SAF), substituição de bunker-fuel em navegação, reforma para a geração de hidrogênio verde e a produção de plásticos. O etanol de milho integrado ao etanol de cana veio para complementar de forma virtuosa a oferta total do produto em todas essas aplicações.n
As chamadas plantas Full Flex, que utilizam como matéria-prima o milho e a cana-de-açúcar, podem ser a revolução logística e energética para a crescente demanda de produção de etanol no Brasil.
São Paulo, maior produtor e consumidor de etanol no Brasil, está diante de uma revolução silenciosa na produção desse biocombustível. Com a crescente demanda por etanol e a necessidade de melhorar a eficiência energética das usinas, o estado se encontra em uma encruzilhada: manter o modelo convencional de produção de etanol a partir da cana-de-açúcar ou investir nas plantas Full Flex, capazes de processar tanto cana quanto milho. Essa decisão não se limita a questões tecnológicas, mas envolve uma análise cuidadosa de infraestrutura, custos, demanda de mercado e logística. A mudança para o etanol de milho pode representar um avanço estratégico significativo, além de otimizar os custos operacionais e ampliar a competitividade do setor.
O estado possui uma infraestrutura privilegiada para a produção e comercialização de etanol. São Paulo é um estado estratégico por sua proximidade com os maiores centros produtores de milho e sorgo do Brasil e, também, pela excelente estrutura portuária, o que facilita a exportação das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul.
A transição entre esses dois modelos de produção (tendo como matéria-prima a cana-de-açúcar e o milho) não é complexa, pois as tecnologias necessárias para a adaptação já estão amplamente disponíveis no Brasil. "
Essa logística eficiente torna a produção de etanol de milho uma opção viável, compensando os custos de transporte e garantindo acesso aos mercados internos e externos.
A produção de etanol de milho é uma tendência crescente no Brasil, e São Paulo, com sua infraestrutura consolidada, está bem-posicionado para realizar essa transformação. Ao adotar plantas Full Flex, as unidades de etanol no estado ganham a flexibilidade necessária para processar tanto a cana quanto o milho, aproveitando a proximidade com os centros de produção do grão e com a rede de distribuição.
A introdução de plantas Full Flex no estado representa uma mudança estrutural importante para a indústria de etanol. Diferentemente das usinas convencionais, que processam apenas cana-de-açúcar, as plantas Full Flex possuem a capacidade de processar milho e sorgo, além da cana. Essa flexibilidade permite uma produção mais eficiente e adaptável às oscilações do mercado, com a possibilidade de produzir etanol a partir de diferentes matérias-primas, dependendo da disponibilidade e do custo das mesmas.
Além da flexibilidade de matéria-prima, as plantas Full Flex se destacam pela inovação tecnológica, especialmente no que diz respeito à eficiência energética.
Abel de Miranda Uchôa
Diretor Geral da SJC Bioenergia
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A adoção de tecnologias avançadas de destilação a vácuo, como o uso de vapores reciclados (V1, V2 e V3), otimiza o balanço térmico e reduz os custos operacionais. A integração térmica entre os sistemas das plantas melhora a eficiência no uso de biomassa, permitindo que o processo de destilação utilize energia de forma mais eficaz.
Essa eficiência energética é um dos principais atrativos das plantas Full Flex, pois reduz a necessidade de aquisição de biomassa externa, como o cavaco, que representa uma parte significativa dos custos operacionais nas usinas convencionais. O uso contínuo de biomassa de cana durante quase 340 dias ao ano garante a autossuficiência energética das plantas, o que, por sua vez, diminui a dependência de fontes externas de combustível e torna a operação mais sustentável e economicamente viável.
Não podemos esquecer, entretanto, que toda a estrutura administrativa já consolidada contribui para a redução significativa do CAPEX, enquanto a produção de etanol de milho no Brasil enfrenta desafios operacionais, especialmente no que diz respeito à adaptação das plantas existentes e ao retorno sobre o investimento (ROI) das novas tecnologias.
No entanto, com o avanço das inovações tecnológicas e a consolidação de modelos de destilação a vácuo e compressão térmica de vapor, esses desafios podem ser superados. A adoção das plantas Full Flex permite que usinas canavieiras já existentes se adaptem a essa nova demanda, aproveitando a infraestrutura já construída para a produção de etanol a partir da cana.
Um exemplo claro da viabilidade dessa adaptação está na comparação entre uma planta convencional de moagem de 3,5 milhões de toneladas de cana e uma planta Full Flex que processaria 600 mil toneladas de milho. A transição entre esses dois modelos de produção não é complexa, pois as tecnologias necessárias para a adaptação já estão amplamente disponíveis no Brasil.
A conversão de uma usina para o modelo Full Flex, além de ser economicamente viável, é uma estratégia inteligente para otimizar o uso de recursos e reduzir os custos de operação.
Outro aspecto importante da transição é a redução de custos operacionais. Em uma planta convencional, a compra de biomassa e os custos operacionais representam cerca de 20% do custo total de produção. Com o uso da biomassa de cana durante a maior parte do ano, as plantas Full Flex podem reduzir significativamente a necessidade de adquirir biomassa externa, como o cavaco. Além disso, a adaptação para a produção de etanol de milho permite o aproveitamento dos coprodutos, como o DDG (Dried Distillers Grains) e WDG (Wet Distillers Grains), amplamente utilizados na alimentação animal.
A flexibilidade proporcionada também permite que os produtores ajustem a produção de etanol de acordo com a demanda do mercado, o que contribui para a competitividade da indústria paulista. Ao diversificar as fontes de matéria-prima, as usinas têm mais controle sobre os custos e podem adaptar sua produção conforme as condições do mercado, seja em termos de preço do milho ou da cana, ou ainda da demanda por etanol anidro ou hidratado.
A implementação destas plantas em São Paulo pode ser uma resposta às mudanças do mercado de etanol e, também, uma oportunidade para o setor canavieiro paulista inovar e se tornar mais competitivo em um cenário global. A adoção de novas tecnologias, aliada à flexibilidade nas matérias-primas, permitirá que as usinas do estado se adaptem rapidamente
Com certeza, a pecuária, a avicultura e a suinocultura paulista serão gratas.n
Podemos considerar o termo ‘sinergia’ como a combinação de dois ou mais elementos, no nosso caso em questão, a produção de etanol a partir de cana-de-açúcar e de milho, cujos resultados sejam maiores ou melhores do que a produção separada de cada um.
Estamos comemorando os cinquenta anos de que o Brasil, aumentando expressivamente a produção de etanol, de forma sustentável, introduziu esse combustível na sua matriz energética.
Recentemente, essa solução tupiniquim de energia limpa ganhou nova força e finalmente parece que alcançou notoriedade mundial, pois se insere como uma das melhores soluções para a transição energética e combustível do futuro, da fonte fóssil e poluente para a fonte renovável da biomassa.
Recordemo-nos que, quando no início da segunda fase de crescimento do Proálcool, há vinte anos, éramos os maiores pro-
Mais uma vez na história vislumbra-se um horizonte desafiador, mas muito favorável para nossa transição energética e aumento da produção de etanol.
René de Assis Sordi Consultor em Tecnologia Agronômica na Enercana Consultoria
dutores mundiais de etanol. Mas começava nos EUA a produção do etanol de milho.
Discutia-se então a consolidação ou não dessa rota, no maior produtor e exportador mundial de alimentos. Durante algum tempo, tratamos essa possibilidade como ameaça à nossa pretensão de ser a “Arábia Saudita do etanol”.
Os EUA não só aumentaram rapidamente a produção do etanol de milho, como ainda hoje produzem praticamente o dobro do que produzimos de etanol total de cana. Oportunamente, agora que o etanol
de milho também cresce a passos largos no Brasil, conforme podemos observar no gráfico da produção total de etanol no Brasil, a ideia de competição para os produtores de cana-de-açúcar foi trocada por agregação e, por que não dizer, sinergia entre as duas rotas de produção, que é o enfoque principal desse artigo.
Isso pode ser discutido a nível particular, ou seja, para o produtor de cana, açúcar, etanol e energia elétrica, mas também a nível nacional, impactando nas estratégias e nas políticas públicas.
O Brasil produziu na safra 2024/2025 cerca de 679 milhões de toneladas de cana e 120 milhões de toneladas de milho, segundo a Conab (2025).
O etanol de milho passou a ser contabilizado a partir da safra 2013/2014, ganhando rapidamente participação na matriz brasileira.
Projeta-se para a safra 2025/2026 mais de 8,5 bilhões de litros, ou cerca de 23% da produção nacional.
Enquanto novos green fields de cana praticamente inexistem, novas unidades processando somente milho surgem a cada ano, a maioria no centro-oeste, aproveitando a extensa área e produção em 2 ou 3 safras anuais desse grão no Mato Grosso.
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Mas começam a surgir também as plantas integradas ou flex, agregando às usinas e destilarias de cana o processamento concomitante do milho, desde a sua recepção, armazenamento e processamento até a fermentação paralela.
Como matéria-prima, o milho e a cana têm estruturas químicas diferentes e precisam de métodos e processos diferentes até chegarem à destilação para serem convertidos em etanol.
Basicamente, a matéria-prima do caldo de cana é a sacarose, um dissacarídeo de glicose e frutose, enquanto o milho tem o amido, um polissacarídeo mais complexo, que a nossa velha conhecida Saccharomyces cerevisiae não consegue fermentar diretamente, convertendo-o em açúcares e, consequentemente, etanol.
São necessárias então a liquefação (cozimento) e a sacarificação dos grãos de milho, através de enzimas como a alfa e a glucoamilase para, posteriormente, ocorrer a fermentação.
Nesses processos, são então produzidos os principais coprodutos: o DDGS (Dried Distillers’ Grains with Solubles), se for via seca, ou o DGS, se for via úmida. Eles contêm uma fração de amido não fermentado,
mas também óleo, proteínas, leveduras, bem como carboidratos não hidrolisados e não fermentados, como celulose e hemicelulose. O DDGS é um suplemento proteico destinado à alimentação animal, de alto valor agregado. Pode ser comercializado, juntamente com o óleo, para os próprios produtores de milho ou pecuaristas da região do entorno da usina, gerando um interessante crescimento da economia local, ou ser exportado para outras regiões.
Existem muitas sinergias entre os processos industriais, nas várias fases, mesmo não sendo os mesmos, quer seja a matéria-prima a cana ou o milho.
As principais delas dizem respeito aos equipamentos e utilidades que podem operar em conjunto nessa planta integrada cana/milho, como a água, caldeiras e a destilaria.
Mas sobretudo a queima do bagaço para geração de vapor e energia elétrica constitui-se no seu principal diferencial em relação a uma planta de etanol de milho full, a qual precisa contar com uma fonte adicional de biomassa para queima nas caldeiras, como cavaco de eucalipto.
Outras sinergias importantes das plantas integradas são a estocagem e logística de venda e distribuição do etanol e a possibilidade de estocagem do milho para operação nas entressafras da cana, otimizando o parque industrial e abrindo a possibilidade de uma melhor precificação do milho.
A agregação dos coprodutos DGS e DDGS e a produção de levedura a partir de fermentação do caldo da cana, sem dúvida, abrem uma perspectiva do conceito mais amplo do complexo bioenergético como a implantação de suinocultura e produção de biogás e biometano. Mas isso é assunto para um outro artigo.
Contudo, deve-se fazer um balanço cuidadoso da massa e energia destinada a cada rota, incluindo obviamente as entressafras da cana.
Vale a pena lembrar que a cana-de-açúcar não pode ser armazenada para as entressafras devido à sua natureza perecível, e, ao mesmo tempo, a sua manutenção no campo de uma safra para a outra, o que chamamos cana-bis, traz um certo risco climático e perda de qualidade da matéria-prima. Essa é uma outra característica interessante do milho. Ao permitir o armazenamento ou estocagem, ele viabiliza a produção o ano todo, aproveitando o melhor preço do etanol nas entressafras da cana. Abre-se também uma interessante estratégica de flexibilização do mix açúcar/etanol das plantas industriais, aumentando ainda mais esse handcap das usinas brasileiras, devido às projeções de continuidade da boa remuneração do açúcar a nível mundial, agora que a Índia anuncia a sua entrada para valer também na produção de etanol.
Finalizando, as sinergias a nível de planejamento estratégico e de políticas públicas não podem ser esquecidas.
A possibilidade de aumento da demanda e da produção de etanol, inserindo-o como fonte de hidrogênio verde e de produção de combustível sustentável, de aviação (SAF) e marítimo, tecnologias emergentes e em fase de consolidação técnica e econômica, é um grande trunfo do Brasil.
As plantas integradas cana/milho podem se viabilizar, não só em Goiás, mas inclusive em usinas de regiões tradicionais como São Paulo e Paraná, próximas aos maiores centros consumidores.
A melhoria da pegada de carbono do etanol de milho e a melhor remuneração de CBios da sinergia cana/ milho são outros fatores a serem considerados, conforme mostra no quadro ao lado. Mais uma vez na história vislumbra-se um horizonte desafiador, mas muito favorável para nossa transição energética e aumento da produção de etanol. Deve-se salientar que na imensa quantidade de solos brasileiros agricultáveis cabem ainda muitos talhões de cana e milho.n
* Considerando:
A Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada no Brasil em 2025, representa um marco nas discussões globais sobre sustentabilidade. Com a crescente preocupação ambiental e a necessidade de soluções eficazes para mitigar os impactos das mudanças climáticas, o setor agropecuário assume um papel central nesse debate. O Brasil, como um dos principais produtores e exportadores de alimentos do mundo, tem a responsabilidade de demonstrar que é possível conciliar produção agrícola, pecuária e sustentabilidade.
O agronegócio brasileiro tem investido cada vez mais em soluções sustentáveis para garantir a produtividade sem degradar o meio ambiente. A adoção de tecnologias como bioinsumos, agricultura digital e irrigação eficiente contribui para a redução do impacto ambiental. Além disso, as boas práticas agrícolas e os sistemas de produção sustentáveis promovem a resiliência e sustentabilidade dos ecossistemas e das comunidades humanas.
A prática da integração da Pecuária, Lavoura e Floresta (iPLF), assim como o plantio direto, ganham espaço no campo e reforçam o compromisso com um agro cada vez mais em sintonia com a realidade mundial. Mais do que garantir a competitividade no mercado, essas ações fazem parte da consciência daqueles que vivem no meio rural e entendem que a continuidade do seu trabalho e o sustento de suas famílias dependem do cuidado com a terra.
Outro ponto fundamental é a preservação das áreas nativas. O Brasil é um dos poucos países do mundo onde o produtor rural é obrigado por lei a manter reservas legais dentro de sua propriedade, garantindo a conservação da biodiversidade. Ao contrário de vilão, está nesses espaços grande parte da cobertura vegetal preservada em nosso país, representando mais de R$ 1 bilhão em valor de terra, apenas no estado de São Paulo. Ínfimo se comparado à importância das matas para a saúde do solo e a garantia dos recursos hídricos necessários à continuidade da produção. Ao contrário de países de outros continentes, onde a preservação não está em pauta, nosso país dá exemplo de responsabilidade na produção.
Além disso, iniciativas de rastreabilidade estão sendo implementadas para assegurar que os produtos agropecuários comercializados tenham origem em áreas livres de desmatamento ilegal.
Ao contrário de vilão, a cobertura vegetal preservada representa mais de R$ 1 bilhão em valor de terra, apenas no estado de São Paulo. "
Tirso de Salles Meirelles
Presidente da FAESPFederação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo
Ela é fundamental para garantir a segurança alimentar, a qualidade dos produtos e a transparência em toda a cadeia produtiva. Por meio dela, é possível monitorar a origem dos alimentos, os processos produtivos e as condições sanitárias desde a produção até a comercialização. Isso permite uma resposta rápida em caso de contaminações ou problemas sanitários, reduzindo riscos para a saúde pública e fortalecendo a confiança dos consumidores. Além disso, é uma exigência crescente nos mercados internacionais, facilitando a exportação e agregando valor aos produtos agropecuários.
A certificação de boas práticas, como a Carne Carbono Neutro, trabalho primoroso da Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, e a soja certificada pelo Programa Soja Plus, reforça a imagem do Brasil como um país comprometido com a sustentabilidade. Essas iniciativas ajudam o setor a conquistar mercados cada vez mais exigentes e garantem maior valor agregado aos produtos nacionais.
O futuro do setor agropecuário brasileiro depende da sua capacidade de se adaptar às novas demandas do mercado e às exigências ambientais. A COP30 será uma oportunidade para que o Brasil demonstre todo seu cuidado com a sustentabilidade aliado à sua capacidade de produção e lidere a transição para um modelo agropecuário mais sustentável, baseado na inovação e na eficiência produtiva.
Uma das principais tendências para os próximos anos é o aumento do uso de tecnologia no campo. A digitalização, o uso de Big Data, Internet das Coisas (IoT) e Inteligência Artificial (IA) permitirão um controle mais preciso sobre a utilização de insumos, reduzindo desperdícios e melhorando a eficiência produtiva. Nesse aspecto, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) está implantando em São Roque o Centro de Formação Rural Dr. Celso Charuri, voltado a aproximar os produtores das mais recentes tecnologias. O trabalho desenvolvido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, em parceria com todas as federações estaduais e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), tem sido fundamental para reforçar a sustentabilidade e as boas práticas no setor. No dia a dia, a Faesp, assim como as demais federações, estão investindo numa relação mais próxima com as grandes cidades, a fim de criar condições para o desenvolvimento da agricultura urbana e periurbana.
Sabemos bem que algumas tecnologias ainda estão longe dos pequenos produtores, que
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são a base do setor. Criar condições para que eles conheçam a técnica e trabalhar para baratear os custos, a fim de torná-la acessível a todos, têm sido o norteador de nossas ações.
Além disso, a busca por sistemas produtivos regenerativos, que, além de reduzir impactos, promovem a recuperação dos solos e a conservação dos recursos hídricos, será cada vez mais priorizada. Investimentos em bioeconomia e na valorização dos produtos da biodiversidade brasileira também serão determinantes para o fortalecimento do agro nacional.
A consolidação desse modelo agropecuário sustentável não depende apenas do compromisso dos produtores, mas também da formulação de políticas públicas eficientes e do apoio da sociedade como um todo. O Brasil tem a chance de se tornar um líder global em uma agricultura sustentável, e a COP30 será a vitrine para mostrar ao mundo que é possível crescer economicamente sem comprometer o meio ambiente.
Recente pesquisa da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (Abmra) demonstrou que parte da população ainda enxergava o setor como primário, embora haja um alto índice de mecanização em suas culturas. A desconstrução dessa ideia de um meio rural atrasado tem de ser feita com a real informação de qual é a realidade do nosso país. De importador de quase tudo, há 50 anos, o Brasil deu um grande salto com o trabalho extraordinário da Embrapa, que conseguiu entender bem a produção nos trópicos e permitiu um salto para transformar nosso país em um dos grandes players mundiais de alimentação.
A pesquisa é essencial para a construção de um setor competitivo e vitorioso, pois impulsiona a inovação, aumenta a produtividade e fortalece a sustentabilidade. Por meio do desenvolvimento de novas variedades de culturas, melhoramento genético animal, técnicas de manejo mais eficientes e tecnologias de precisão, ela permite que os produtores maximizem os rendimentos com menor impacto ambiental. Além disso, contribui para a adaptação às mudanças climáticas, ao aprimorar a resistência das lavouras e reduzir a dependência de insumos químicos. Investir em ciência e tecnologia no agro não apenas garante a competitividade do Brasil no mercado global, mas também a segurança alimentar e o desenvolvimento econômico do país.
Daí, o que temos de mostrar na COP30 é que o agro é o Brasil que deu certo! n
conectando tecnologias para um futuro energético sustentável, justo e seguro
Há vários anos temos visto recorrentes debates acerca da transição energética, tema que ganhou centralidade no debate global a partir das ambições para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e mitigar as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE). No setor de energia, uma série de diferentes estratégias é apontada para a promoção da descarbonização e redução das emissões de GEE. Entretanto, questões de ordem econômica e técnica influenciam o ritmo de implementação e a escala de alcance dessas alternativas, de tal modo que, para o cumprimento das metas climáticas globais acordadas para 2050, a conjugação personalizada
de múltiplas frentes tem-se mostrado um caminho promissor a ser adotado.
Nesse contexto, os biocombustíveis emergiram como uma alternativa sustentável e renovável, essencial para a diversificação da matriz energética. No Brasil, a ampla disponibilidade de recursos naturais e o desenvolvimento de tecnologias avançadas de produção colocam o país em uma posição de destaque na oferta e demanda de biocombustíveis, como etanol, biodiesel, biogás e os novos biocombustíveis que vêm sistematicamente ganhando participação na matriz energética mundial.
O Brasil, com sua matriz energética predominantemente renovável, tem uma oportunidade única de liderar essa transição, especialmente aproveitando o potencial dos biocombustíveis. A produção de combustíveis renováveis, entretanto, não apenas ajuda a reduzir as emissões de GEE, mas também impulsiona a economia local, promovendo a segurança energética e gerando empregos, especialmente em áreas rurais. Mas os desafios da descarbonização global impõem irmos além e avançarmos no desenvolvimento de soluções inovadoras no setor de bioenergia. Nesse contexto, duas tecnologias despontaram mais
O Brasil, com sua matriz energética predominantemente renovável, tem uma oportunidade única de liderar a transição energética, especialmente aproveitando o potencial dos biocombustíveis. "
Diretora de Estudos do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis da EPE
recentemente como também essenciais para o processo de transição para economias de baixo carbono: a captura e armazenamento de carbono (CCS) e o hidrogênio de baixo carbono.
A captura de carbono aplicada à bioenergia, por exemplo, pode transformar usinas de etanol em emissores negativos de carbono, retirando CO2 da atmosfera e armazenando-o de forma segura. Isso significa que o Brasil poderia fortalecer seu compromisso com as metas climáticas ao mesmo tempo em que agrega valor ao setor sucroenergético.
Estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) indicam que a captura de CO2 em usinas de etanol é uma solução tecnicamente viável e economicamente atrativa, particularmente em um mercado de créditos de carbono em expansão. A Agência Internacional de Energia (IEA) reforça essa visão, destacando que o desenvolvimento de padrões comuns para biocombustíveis sustentáveis e sua integração com CCS são fundamentais para impulsionar essa transição. Cenários tanto da IEA quanto do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) apontam que a captura de carbono (CCS) e a captura de carbono biogênico (bioCCS) são essenciais para que o mundo atinja emissões líquidas zero até 2050.
Outro elemento chave nessa equação é o hidrogênio de baixo carbono, conceito que abrange diferentes rotas tecnológicas além da eletrólise, incluindo a reforma do gás natural com CCS, a gaseificação da biomassa e o hidrogênio proveniente de biocombustíveis avançados. O Plano Nacional do Hidrogênio (PNH2) reconhece essa diversidade de rotas e propõe diretrizes para o desenvolvimento do mercado de hidrogênio sustentável no Brasil. No contexto da bioenergia, a integração dessas tecnologias pode fortalecer a competitividade do país na economia de baixo carbono, com a produção de hidrogênio a partir da biomassa (por meio da gaseificação de resíduos ou da reforma do etanol, por exemplo) se apresentando como uma alternativa promissora, permitindo a utilização eficiente dos vastos recursos do Brasil.
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Estudos preliminares da EPE indicam que essa abordagem pode oferecer vantagens em termos de custo e emissões reduzidas, consolidando o país como um dos principais produtores de hidrogênio renovável.
Para que essas tecnologias avancem, são necessárias políticas públicas eficazes e investimentos robustos. O RenovaBio, programa que promove a sustentabilidade dos biocombustíveis através dos CBIOs, é um exemplo bem-sucedido. Aprovada em 2024, a Lei do Combustível do Futuro soma-se a esses esforços destravando investimentos e demonstrando o compromisso do Brasil com a transição energética global, focando na responsabilidade ambiental e na inovação tecnológica. Para completar esse importante conjunto de marcos legais e políticas públicas, também em 2024 aprovamos o Marco Legal do Hidrogênio de Baixo Carbono, que tem o potencial de também ser um divisor de águas ao proporcionar segurança regulatória e atrair investimentos. Em 2025, o debate acerca do papel da bioenergia retorna ao cenário global por ocasião da COP30, a ser realizada no Brasil. A transição global para uma economia de baixo carbono é urgente. Mas essa urgência não pode justificar soluções que desconsiderem as realidades locais. O Brasil tem uma posição única e estratégica para liderar a transição com base em sua abundância de recursos renováveis, e a transição para um sistema bioenergético mais sustentável no país passa, inevitavelmente, pela aceleração da adoção dessas soluções inovadoras. Para isso, iniciamos o ano com um compromisso firme com a inovação, a regulação adequada e a mobilização de investimentos. O futuro da bioenergia está sendo escrito agora, e é fundamental que o Brasil assuma o protagonismo nessa história. n
A transição energética global é uma necessidade urgente e inadiável. A crise climática exige ações concretas, e os países que liderarem essa transformação não apenas reduzirão impactos ambientais, mas também fortalecerão suas economias e sua posição no cenário internacional. O Brasil, com sua matriz energética renovável e avanços legislativos estratégicos, tem o potencial de ser um dos protagonistas dessa mudança. A recém-aprovada Lei Combustível do Futuro, aliada a tecnologias inovadoras como BECCS (Bioenergia com Captura e Armazenamento de Carbono), posiciona o país na vanguarda da produção de biocombustíveis sustentáveis. O resultado? A possibilidade de produzirmos em solo brasileiro o primeiro etanol carbono negativo do mundo, um marco para a descarbonização do setor de transportes.
O Brasil e seu papel estratégico
O setor de energia responde por grande parte das emissões globais de CO2, tornando sua transformação essencial para a mitigação das mudanças climáticas. De acordo com o Balanço Energético Nacional (BEN) 2024, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em parceria com o Ministério de Minas e Energia (MME), as fontes renováveis representaram 49,1% da matriz energética brasileira em 2023.
Além disso, o país se destaca na produção de biocombustíveis, em especial o etanol, que tem sido um motor da sustentabilidade no setor de transportes há décadas. O etanol brasileiro, produzido a partir da cana-de-açúcar e, cada vez mais, do milho de segunda safra, possui um balanço de carbono altamente favorável quando comparado à gasolina.
Agora, com novas tecnologias de captura e armazenamento de carbono, o país se prepara para dar um salto ainda maior na redução das emissões. Esse avanço ocorre em um momento crucial, quando a necessidade de alternativas sustentáveis se torna imperativa para alcançar as metas de descarbonização estabelecidas pelos acordos internacionais, como o Acordo de Paris.
Graças ao avanço do projeto de BECCS (Bioenergia com Captura e Armazenamento de Carbono), o Brasil será o primeiro país a produzir etanol carbono negativo em larga escala. "
Daniel Costa Lopes Vice-presidente de Sustentabilidade e Novos Negócios da FS
A Lei Combustível do Futuro
O compromisso do Brasil com a transição energética ficou ainda mais evidente com a aprovação da Lei Combustível do Futuro, um marco regulatório que estabelece diretrizes para o desenvolvimento de biocombustíveis avançados e para a descarbonização do setor de transportes. A legislação incentiva o uso do etanol e do biodiesel, amplia a participação dos combustíveis renováveis na matriz energética e promove o desenvolvimento do SAF (Combustível Sustentável de Aviação).
Além disso, a lei fomenta a pesquisa e implementação de tecnologias como a captura e estocagem de carbono, que tornam os biocombustíveis ainda mais sustentáveis. Com isso, o Brasil se coloca como referência mundial em políticas públicas voltadas para um transporte mais limpo e eficiente, abrindo caminho para um modelo energético cada vez mais alinhado às exigências ambientais globais.
BECCS: captura e armazenamento de carbono como revolução energética
Um dos mais promissores avanços para a descarbonização do setor de combustível é o BECCS (Bioenergy with Carbon Capture and Storage). Essa tecnologia permite que o CO2 gerado na produção do etanol seja capturado e armazenado no subsolo, em camadas geológicas profundas, impedindo sua liberação na atmosfera. Esse processo transforma o etanol convencional em um combustível com balanço negativo de carbono, ou seja, que remove mais CO2 do que emite ao longo de seu ciclo de vida.
A implementação de BECCS no Brasil reforça a posição do país como líder em inovação sustentável. A captura e o armazenamento de carbono não apenas ampliam os benefícios
ambientais do etanol, mas também abrem novas oportunidades econômicas, como a comercialização de créditos de carbono e a atração de investimentos internacionais voltados para tecnologias de mitigação climática.
O primeiro etanol carbono negativo do mundo: um marco histórico
Graças ao avanço do projeto de BECCS, o Brasil será o primeiro país a produzir etanol carbono negativo em larga escala. Isso representa uma verdadeira revolução na indústria de biocombustíveis e coloca o país em uma posição estratégica na agenda climática global. O etanol carbono negativo pode ser uma solução viável para reduzir as emissões no setor de transportes, especialmente em mercados que buscam alternativas sustentáveis à gasolina e ao diesel.
Além dos benefícios ambientais, essa inovação tem um impacto direto na economia nacional. Com o fortalecimento do etanol como alternativa de baixo carbono, o Brasil pode expandir sua participação no mercado internacional de combustíveis sustentáveis, gerando empregos e consolidando sua posição como referência global em bioenergia.
A transição energética é uma necessidade urgente e, ao mesmo tempo, uma oportunidade única para o Brasil demonstrar sua capacidade de inovação e liderança no cenário global. Com a Lei Combustível do Futuro, o desenvolvimento de BECCS e a produção do primeiro etanol carbono negativo do mundo, o país está pavimentando o caminho para um modelo energético mais sustentável, competitivo e alinhado às demandas do século XXI.
O futuro da energia limpa passa pelo Brasil. O momento de agir é agora. n
A locomotiva da eletrificação veicular já se move em alta velocidade impulsionada por movimentos ambientalistas há mais de duas décadas. Acordos internacionais, como os de Paris, criaram as diretrizes de demanda por carbono zero, vinculando a emissão de CO2 ao chamado aquecimento global, onde se debita ao motor a combustão de combustíveis fosseis parte das grandes mudanças climáticas do planeta e suas consequências.
Esse movimento, que transforma sem precedentes toda a indústria da mobilidade no mundo, parece que atualmente começa a entrar em rota de colisão econômica na maioria dos mercados que apostaram seus investimentos na mobilidade elétrica sobre fortes subsídios e incentivos governamentais.
A China, nos anos 90, com sua forte política de estado para mobilidade veicular, soube muito bem gerar uma escala de consumo e produção de veículos para um mercado interno e de exportação chegando atualmente a 27 milhões de veículos/ano. Soube também se diferenciar e criar um novo mercado tecnológico promovendo a corrida para soluções de propulsão elétrica em todas as suas configurações, seja veículos com motores híbridos, híbridos plug-in e puramente elétricos.
Também nos anos 90, em parceria com os tradicionais fabricantes automobilísticos europeus e americanos, os chineses desenvolveram tecnologias eficientes de motores elétricos e a combustão, produzindo em alta escala para seu mercado interno toda a cadeia de fornecimento tecnológico de autopeças, incluindo as baterias de lítio íon que dominam hoje o mercado de baterias para eletrificação veicular.
Mais tarde, os altos investimentos internos da China em modernas e novas fábricas geraram novas marcas próprias e catapultaram a indústria chinesa automobilística a uma vantagem competitiva que impõe hoje à indústria automotiva tradicional do Ocidente um desafio sem precedentes. Hoje, a China tem uma capacidade produtiva de 40 milhões de veículos por ano e tem um dos parques industriais mais modernos do mundo em toda a sua cadeia de valor. Investiu o estado da arte em processos robotizados e capacitação tecnológica que vai muito além dos conceitos da conhecida Indústria 4.0.
Porém, a China, nessa corrida tecnológica, passa longe do apelo ambiental da descarbonização por não ter fontes de energia limpa e renovável que compensem o enorme prejuízo
o futuro do mercado brasileiro terá o motor a combustão com a tecnologia flex ainda por muitas décadas, seja para queimar etanol hidratado ou gasolina com 27% de anidro, seja para compor com a eletrificação na versão híbrida plug-in "
Conselheiro de empresas
ambiental que está causando, principalmente na sua produção de baterias de lítio íon.
A indústria automotiva americana, por sua vez, com 17 milhões de capacidade produtiva, fez grandes investimentos na transformação, se destacando principalmente com a inovadora Tesla, que trouxe novos conceitos veiculares que vão além da eletrificação.
Com a troca de governo nos Estados Unidos e sua saída do acordo de Paris, provavelmente teremos novos rumos para a transformação veicular dos EUA. A proteção tarifária da indústria local frente à competição chinesa deve frear a corrida para a eletrificação e trazer os motores a combustão de volta para a mesa das engenharias.
A Europa, com 15 milhões de capacidade produtiva, se desestabiliza com suas metas ambientais para carbono zero, criando uma disrupção sem precedentes em sua tradicional indústria automotiva que tanto ditou as tendências da mobilidade das últimas décadas.
Já podemos perceber nas discussões políticas atuais que a União Europeia deu um tiro no próprio pé com a regulamentação de carbono zero no Green Deal, eliminando dos seus mercados os motores a combustão movidos a combustíveis fósseis e subsidiando os veículos elétricos como única solução para evitar emissões locais, sem clareza de onde obter energia limpa sustentável e sem dar muita opção sustentável para sua tradicional indústria automotiva.
Com as recentes mudanças de governo nos EUA, a redução de subsídios aos veículos elétricos e o aumento de barreiras tarifárias, o futuro do mercado automobilístico europeu vai ser ditado pela sua capacidade competitiva de reagir e se adaptar à demanda do consumidor, que não parece renovar seus votos nos veículos elétricos.
Porém, mesmo com a diminuição recente na procura por veículos elétricos que ocorre nos EUA e na Europa, dificilmente essa locomotiva tecnológica impulsionada já em alta velocidade pela gigante competitividade chinesa será fácil de desacelerar.
Dentro deste contexto global, temos o mercado automobilístico brasileiro com pouco mais de 2,6 milhões de unidades vendidas em 2024 e já com 7% de propulsão elétrica, seja na configuração hibrida, seja puramente elétrica. As marcas chinesas BYD, GWM, entre outras, já são marcas consolidadas na mobilidade brasileira que ganharam espaço nos últimos 5 anos, resultado da política do governo federal de subsidiar com imposto de importação zero
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implantada em 2019 na primeira fase do programa Rota 2030.
O ganho de mercado dessas marcas está principalmente na estratégia em trazer para o mercado brasileiro a novidade do veículo elétrico em seu estado da arte com as mais modernas tecnologias de segurança, conectividade, design e conforto veicular aproveitando o subsídio de imposto para importação. Parece-me que a retomada do imposto escalonado para 35% até julho de 2026 não irá desacelerar muito este crescimento.
É notório que quem sustenta essa venda de veículos BEV, híbridos e plug-in são as classes A e B de consumidores brasileiros em função do alto ticket médio desses veículos e que têm ajudado a consolidar essas novas marcas no mercado.
A tradicional indústria local, que há anos desenvolveu localmente motores a combustão para o uso de combustíveis renováveis como o etanol de cana e que domina há décadas o parque fabril brasileiro, vem se reinventando lançando já este ano vários modelos na configuração híbrida flex para fazer frente à tendência do consumidor brasileiro em buscar cada vez mais uma maior autonomia e flexibilidade na sua escolha de mobilidade.
O uso dos biocombustíveis na combustão traz já há anos para o Brasil uma vantagem na corrida de descarbonização graças ao desenvolvimento e implementação em larga escala das tecnologias de motores a etanol, incluindo a revolucionária tecnologia do flex fuel.
Essa vantagem já está ditando o futuro do mercado brasileiro que terá o motor a combustão com a tecnologia flex ainda por muitas décadas, seja para queimar nosso etanol hidratado ou gasolina com 27% de álcool anidro, seja para compor com a eletrificação principalmente na versão híbrida plug-in, versão essa que dá ao consumidor a autonomia desejada sem necessariamente depender de grande infraestrutura para recarga de baterias.
Teremos espaço também para os veículos puramente elétricos BEV que, no uso urbano, já se mostram eficientes. Importante aqui são investimentos em infraestrutura de recarga suficientes e, principalmente, se a vantagem competitiva da energia elétrica frente à versão a combustão será sustentável.
Enfim, teremos espaço para todas as tecnologias, porém sua escala vai depender da previsibilidade econômica do país e do poder de compra do consumidor brasileiro em absorver essas tecnologias. n
Eduardo Galeano já dizia sobre as utopias: “ A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Para isso: para que eu não deixe de caminhar.”
O RenovaBio, que em sua origem foi comparado a um “California Dreamin’ ”, é uma das principais políticas públicas no mundo voltadas para a promoção dos biocombustíveis, estimula a redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE)
no setor de transportes, criando um sistema de certificação com base na avaliação do ciclo de vida e emissão créditos de descarbonização (CBIOs). Por meio dessa abordagem, o programa impulsiona a competitividade dos biocombustíveis com menor intensidade de carbono, promovendo ganhos tanto ao meio ambiente quanto à segurança energética do país. Além disso, o RenovaBio proporciona previsibilidade ao setor produtivo, a atração de investimentos e o estímulo à adoção de melhores práticas na produção e uso de biocombustíveis.
Esta iniciativa é considerada essencial na valorização da agroindústria nacional, uma vez que incentiva a produção de biocombustíveis a partir de matérias-primas como cana-de-açúcar, milho e óleos vegetais. Este importante programa também é estratégico, pois alinha o Brasil com as melhores práticas internacionais de contabilidade de carbono, garantindo que os biocombustíveis brasileiros sejam reconhecidos globalmente como alternativas sustentáveis aos combustíveis fósseis. Ao integrar critérios científicos na avaliação da pegada de carbono e estabelecer um sistema de certificação transparente e verificável, o RenovaBio fortalece a posição do Brasil como líder na transição energética, ao contribuir para o cumprimento dos compromissos climáticos assumidos pelo país. De 2017 até 2024, o programa registrou uma emissão acumulada de 158,7 milhões de CBIOs, o que equivale à remoção do mesmo volume de emissões de gases de efeito estufa (CO2eq).
Ao integrar critérios científicos na avaliação da pegada de carbono e estabelecer um sistema de certificação transparente e verificável, o RenovaBio fortalece a posição do Brasil como líder na transição energética. "
Marlon Arraes Diretor do Departamento de Biocombustíveis do MME - Ministério de Minas e Energia
Futuro promissor
Para além dos benefícios ao meio ambiente, o mercado de CBIOs movimentou cerca de 13 bilhões de reais nesses cinco anos na economia do país. Atualmente, o RenovaBio faz parte da rotina de cerca de 77% dos produtores de biocombustíveis autorizados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que ofertaram cerca de 120 bilhões de litros nesse período. Um cenário que pode evoluir, uma vez que o RenovaBio tem sido um catalisador para essa expansão, a partir das projeções de aumento da demanda necessária para cumprimento das metas. De acordo com dados da ANP, até 2026, com a conclusão das obras de expansão e construção de novas unidades produtoras de etanol, a capacidade de produção brasileira pode aumentar em 15%, alcançando um acréscimo de mais de 12,5 milhões de m³ por ano.
A partir destes cenários, é possível vislumbrar um crescimento da capacidade de produção de biodiesel no Brasil de 30% até 2026, impulsionado pelos investimentos em oito unidades em ampliação e sete em construção, totalizando um acréscimo de 4,3 milhões de m³ por ano. Já os investimentos em 33 unidades de biometano – atualmente em construção – devem elevar a capacidade de produção brasileira em 118%, adicionando mais de 500 milhões de Nm³/ano até 2026.
Mais recentemente, a importância do RenovaBio foi reforçada pela Lei nº 14.993/2024 (Combustível do Futuro), que passou a integrar a iniciativa aos programas Mover, Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV), Programa de Controle de Emissões Veiculares (Proconve) e outras iniciativas para a promoção da mobilidade de baixo carbono. A lei também instituiu outros programas importantes, como o Programa Nacional de Combustível Sustentável de Aviação (ProBioQAV), o Programa Nacional de Diesel Verde (PNDV) e o Programa Nacional de Descarbonização do Produtor e Importador de Gás Natural e de Incentivo ao Biometano, e todos interagem com o RenovaBio. Essa interação traz boas perspectivas para o setor, uma vez que demonstra o reconhecimento do papel estratégico dos biocombustíveis na matriz energética brasileira.
Essa integração de políticas e esforços também contribui para o país prosseguir investindo em pesquisas e tecnologias para impulsionar, por exemplo, a produção de SAF e outros combustíveis renováveis, contribuindo para a redução global de emissões de gases do efeito estufa. Cabe destacar, dentro deste contexto, a chamada pública para selecionar planos de negócios para
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o desenvolvimento e implantação de biorrefinarias, com foco na produção de combustíveis sustentáveis, incluindo o combustível de aviação sustentável ( Sustainable Aviation Fuel - SAF) e combustíveis para navegação. Uma iniciativa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) que disponibilizará R$ 6 bilhões em recursos para financiamento de projetos selecionados.
Do total de propostas recebidas, 43 tiveram como interesse principal a produção de combustíveis de aviação, totalizando R$ 120 bilhões, e 33 apresentaram projetos relacionados a combustíveis marítimos, somando R$ 47 bilhões. Os planos de negócios buscam atender às metas de consumo local definidas pela Lei do Combustível do Futuro, além de aproveitar oportunidades de exportações.
Outro importante passo para aprimorar os instrumentos do RenovaBio e fortalecer o setor foi a sanção da Lei nº 15.082/2024, que busca assegurar a participação mínima aos produtores independentes nas receitas oriundas dos CBIOs e fortalecer o cumprimento das metas de descarbonização por meio de sanções mais severas aos distribuidores inadimplentes. Em menos de dois meses de vigência, a lei já proporcionou resultados positivos, com aumento do percentual de CBIOs aposentados (88% em 2023 e 92% em 2024, da meta total fixada pelo CNPE) e a redução do percentual de distribuidores inadimplentes em 2024 (43% em 2023 e 37% em 2024). Nove distribuidores inadimplentes com a meta de 2023 também cumpriram integramente a meta de 2024, incluindo a parte acrescida relativa à meta do ano anterior.
Não à toa, o RenovaBio é motivo de orgulho para toda a equipe técnica do Ministério de Minas e Energia (MME). A partir dessa política pública de vanguarda, o Brasil pôde, no âmbito do G20, demonstrar que é possível alcançar uma transição energética justa ao viabilizar a descarbonização de um setor estratégico sem comprometer a competitividade da economia brasileira. Como ressaltou o ministro Alexandre Silveira, “vivemos um momento único na história, onde a necessidade de transição para uma matriz energética sustentável é mais urgente do que nunca”. Por isso, o RenovaBio é um programa essencial para o Brasil e para o mundo, à medida que os benefícios vão além do cumprimento do Acordo de Paris. Ele impulsiona a transição energética, promove o desenvolvimento sustentável, serve de exemplo e fortalece a liderança do país em um cenário global cada vez mais desafiador. n
A Petrobras
A Petrobras divulgou em novembro de 2024 o Plano de Negócios 2025-2029, o primeiro sob a liderança da presidente Magda Chambriard. O documento visa orientar a estratégia da estatal para os próximos cinco anos, marcando uma nova fase para a maior empresa brasileira. Dada a relevância da Petrobras para o setor de energia do Brasil, o Plano de Negócios funciona não apenas como um guia para a companhia, mas também como norteador para os rumos do setor energético nacional. O novo plano reflete a busca por uma Petrobras mais robusta e diversificada, mantendo seu protagonismo no setor de petróleo e gás natural, ao mesmo tempo em que fortalece sua posição no mercado de combustíveis e amplia sua atuação em energias de baixo carbono.
A Petrobras prevê investimentos totais de US$ 111 bilhões para o quinquênio, um aumento de 9% em relação ao plano anterior. Todos os segmentos de negócio da companhia foram contemplados com maiores recursos financeiros, reforçando a estratégia de expansão e fortalecimento da Companhia. O segmento de Exploração e Produção (E&P) de petróleo continua sendo o principal eixo estratégico da empresa, com investimentos de US$ 77 bilhões, o que corresponde a aproximadamente 70% da carteira total. Os US$ 34 bilhões restantes serão alocados entre os segmentos de Refino, Transporte e Comercialização (RTC) e de Gás e Energias de Baixo Carbono, refletindo o compromisso da estatal, tanto com a segurança, quanto com a transição energética.
Refino, Transporte e Comercialização:
O segmento de Refino, Transporte e Comercialização recebeu um aumento substancial de investimentos, saltando de US$ 16,7 bilhões no plano anterior para US$ 19,6 bilhões no novo ciclo. Esse crescimento sinaliza uma estratégia mais competitiva da Petrobras para fortalecer sua participação no mercado de combustíveis e reduzir a dependência externa do País.
A companhia planeja ampliar sua capacidade de refino de 1,8 milhão de barris por dia (b/d) para 2,1 milhões b/d, com destaque para a expansão da Refinaria Abreu e Lima (RNEST), em Ipojuca/PE, conclusão das unidades de refino do Complexo de Energias Boaventura (outrora chamado de Comperj e Polo Gaslub), em Itaboraí/RJ, e ampliação de refinarias nas regiões Sul e Sudeste. Essas iniciativas visam ampliar a oferta de produtos de alta qualidade, como o óleo diesel S10 e lubrificantes, bem como combustíveis de baixo carbono.
Outro destaque do novo plano é o aumento expressivo de 70% nos investimentos em logística, priorizando a remoção de gargalos logísticos e a expansão da atuação da estatal em mercados estratégicos.
A Petrobras é uma das maiores protagonistas da história energética do Brasil. Este novo ciclo estratégico poderá definir o papel da empresa e do País nas próximas décadas. "
Sócios da Consultoria Aurum Tank
Nesse sentido, o plano sinaliza grande foco no atendimento ao mercado crescente do Centro-Oeste, com destaque para o projeto ambicioso de um novo duto de combustíveis ligando as refinarias de São Paulo até o coração do agronegócio em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Este é o primeiro projeto de oleoduto de longa extensão anunciado no País desde a década de 1990, marcando uma retomada dos investimentos em infraestrutura dutoviária.
Ainda no segmento RTC, a Petrobras retornará ao setor de fertilizantes nitrogenados, com investimentos da ordem de US$ 900 milhões. Esse movimento é estratégico para o País, dada a relevância dos fertilizantes para o agronegócio brasileiro, que hoje depende fortemente de importações.
Energias de Baixo Carbono:
Embora a área de E&P permaneça como o carro-chefe da Petrobras, o novo Plano reflete uma visão mais robusta para energias de baixo carbono. O segmento recebeu um aumento de 48% nos investimentos em relação ao Plano anterior, totalizando US$ 8,9 bilhões.
Essa estratégia está alinhada à visão da Petrobras de permanecer com foco em petróleo e gás natural, mas ampliando sua diversificação em negócios de baixo carbono.
As cadeias relevantes da transição energética priorizadas no plano são: etanol, biometano, biodiesel e diesel renovável (HVO), combustível sustentável de aviação (SAF), hidrogênio de baixa emissão de carbono, geração de energia renovável (solar e eólica), e captura, uso e armazenamento de carbono (CCUS).
Em relação ao ciclo anterior, o Plano de Negócios 2025-2029 indica um ajuste pontual na estratégia da Petrobras ao reduzir sua ênfase na energia eólica offshore e focar mais em biocombustíveis.
No biorrefino, a Petrobras aposta na combinação de suas competências e ativos com a crescente demanda por combustíveis renováveis. Nesse sentido, a companhia prevê tanto adaptações no parque de refino, quanto novas unidades capazes de transformar biomassa em produtos de alto valor agregado.
O Plano de Negócios prevê a construção de três plantas dedicadas à produção de SAF e HVO, que somarão 44 mil b/d (ou 2,6 bilhões de litros por ano). A unidade da RPBC (Cubatão/SP) iniciará operação em 2029, enquanto as plantas do Complexo de Energias Boaventura (Itaboraí/RJ) e da REPLAN (Paulínia/ SP) estão previstas para após 2030. As duas primeiras utilizarão tecnologia de hidroproces-
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samento de ésteres e ácidos graxos (HEFA), com matérias-primas como óleo vegetal e gordura animal, enquanto a planta da REPLAN empregará tecnologia alcohol-to-jet (ATJ), a partir do etanol. Além disso, a Petrobras avalia duas parcerias estratégicas em projetos de biorrefino, sendo uma com a Acelen, na Bahia, e outra com a Refinaria Riograndense, no Rio Grande do Sul.
Uma grande novidade do Plano de Negócios 2025-2029 é o reposicionamento estratégico da Petrobras no segmento de biocombustíveis, com o retorno da companhia ao mercado de etanol, o seu fortalecimento no mercado de biodiesel e o ingresso no mercado de biometano.
Esses segmentos apresentam elevado potencial de crescimento, e a estatal os enxerga como alternativas consolidadas para a transição energética e soluções maduras na estratégia de diversificação rentável da empresa.
Esse redirecionamento, entre outros fatores, certamente foi impulsionado pela sanção da Lei do Combustível do Futuro (Lei nº 14.993/2024), que traz maior previsibilidade regulatória e estabelece as condições para uma maior inserção dos combustíveis renováveis na matriz energética nacional.
A Petrobras afirma que pretende ingressar nesses mercados preferencialmente por meio de parcerias estratégicas, o que tem movimentado o setor de biocombustíveis nos últimos meses.
O Plano de Negócios 2025-2029 da Petrobras reflete uma abordagem equilibrada entre a necessidade de consolidar o protagonismo da empresa no setor de óleo e gás e a urgência de se adaptar a um mundo em transição para uma economia de baixo carbono.
O foco principal em E&P permanece, com uma ampla carteira de projetos, mas o aumento dos investimentos nos segmentos de Refino, Transporte e Comercialização e de Energias de Baixo Carbono demonstra uma visão estratégica que alia rentabilidade e diversificação de portfólio.
Se bem executado, o novo Plano poderá consolidar a Petrobras como uma das empresas mais preparadas para a transição energética, garantindo segurança energética, enquanto amplia sua relevância no mercado global.
A Petrobras é uma das maiores protagonistas da história energética do Brasil, uma referência em excelência técnica e inovação, e este novo ciclo estratégico poderá definir o papel da empresa e do País nas próximas décadas. n
As biorrefinarias estão no centro da transformação liderada pelo Brasil na transição da matriz energética rumo à economia circular e ao desenvolvimento ambiental sustentável. O setor sucroenergético nacional está fazendo grandes investimentos para que suas plantas integrem na produção uma variedade de produtos, incluindo biocombustíveis como etanol, biodiesel, biogás, proteína, bioquímicos e bioplásticos. Embora as vantagens da diversificação das matérias-primas e da criação de produtos variados sejam claras e promissoras, ainda há desafios significativos para que essas inovações ganhem escala e se tornem competitivas, incluindo altos custos de produção, complexidades logísticas e a necessidade de eficientes integrações de processos, requerendo contínuas inovações tecnológicas.
A boa notícia é que esses desafios já estão na mente dos profissionais do setor e no planejamento das organizações há algumas décadas. Nas próximas linhas, há um breve resumo que mostra as transformações das biorrefinarias, desde a liderança do etanol de cana construída
a partir da década de 70 com o Proálcool às tecnologias mais avançadas dos dias de hoje.
Etanol de cana:
O etanol de cana é um exemplo primoroso do conceito de biorrefinaria em ação, demonstrando como é possível integrar processos industriais para maximizar a utilização de recursos renováveis com redução de desperdícios. Além da tradicional produção de açúcar e etanol, as usinas de cana-de-açúcar aproveitam o bagaço para a geração de energia. Além de ser utilizado na produção de etanol de segunda geração, agora é possível também produzir leveduras a partir dos açúcares de cinco carbonos contidos nesse resíduo gerados a partir do bagaço. Este processo não apenas aumenta a produção de etanol, mas também produz leveduras que metabolizam esses açúcares. A abordagem maximiza o uso do bagaço e complementa a produção de levedura como fonte proteica por meio da sangria das fermentações de primeira geração.
Outro resíduo que ganhou destaque foi a vinhaça, que no passado era considerada um poluente e vilã ambiental e posteriormente começou a ser utilizada na fertirrigação. Sua utilidade não parou por aí. Novas pesquisas e otimizações tornaram a vinhaça um componente ainda mais versátil, e hoje esse subproduto é usado na produção de biogás, um exemplo adicional da eficiência das biorrefinarias.
Diversas plantas já utilizam este biogás para substituir integralmente o uso de combustíveis
Nos últimos sete anos, a produção de etanol de milho no Brasil tem observado um impressionante crescimento de 800%, impulsionando o país a se tornar um grande produtor deste biocombustível. "
Henrique Berbert Amorim Neto Presidente da Fermentec
fósseis em veículos leves e para compor parte do consumo de tratores e caminhões. Além disso, estudos estão explorando a produção de biodiesel a partir dos ácidos orgânicos presentes na vinhaça. Com a tecnologia inovadora, existe a promessa de transformar esses ácidos em óleo verde, potencialmente tornando uma usina autossuficiente em diesel em até 50%.
Somando-se a estas inovações, existe um aproveitamento significativo da água extraída da cana-de-açúcar. Historicamente, as usinas utilizavam cerca de 15 a 20m³ de água por tonelada de cana processada, mas avanços tecnológicos permitiram uma redução de 95% no consumo, que chegou a 0,7 m³, um dado impressionante ainda mais quando se trata de um recurso natural que deve ser tratado com extremo rigor e economia. Com progressos futuros, espera-se que as usinas não apenas eliminem suas demandas externas de água, mas se tornem produtoras, capturando e reutilizando esse recurso valioso de forma sustentável e eficiente para diversos fins industriais e agrícolas.
Etanol de milho:
Nos últimos sete anos, a produção de etanol de milho no Brasil tem observado um impressionante crescimento de 800%, impulsionando o país a se tornar um grande produtor deste biocombustível. Essa expansão não apenas ajudou a transformar o milho em combustível, mas também a mitigar problemas de logística e armazenagem. Atualmente, o milho é matéria-prima para cerca de 20% de toda a produção de etanol no Brasil, destacando-se pela relação sinérgica com o combustível feito a partir da cana-de-açúcar, dentro de um modelo de economia circular.
O impacto do etanol de milho vai além do combustível. Aproximadamente 28% da demanda de milho, que totalizará 17 milhões de toneladas este ano, é transformada em farelo para a nutrição de bovinos, suínos, aves, peixes e pets. Além disso, o óleo de milho é utilizado na alimentação animal e na produção de biodiesel e produtos de beleza. Esta abordagem também suporta iniciativas de reflorestamento, contribuindo para objetivos de sustentabilidade.
A produção de etanol de milho demonstra uma transição energética notável ao combinar a produção de combustível e alimentos. Isto é evidenciado pela ascendência do milho na segunda safra: há seis anos, apenas 40% das áreas faziam uso dessa prática; hoje, esse índice é de 60%, sem a necessidade de expandir para novas áreas de cultivo. Tal progresso reflete a eficiência
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agrícola e a adaptação às necessidades de mercado sem comprometer recursos adicionais.
Um avanço tecnológico no Brasil é a implementação do reciclo de leveduras na produção de etanol a partir de milho, semelhante ao processo utilizado na cana-de-açúcar. Esta inovação pode proporcionar uma vantagem competitiva significativa, elevando o rendimento do etanol em, pelo menos, 4% e com fermentações muito mais rápidas (1/3 do tempo), além do aumento do teor proteico do DDGS. A tecnologia já está desenvolvida, e a previsão é que a primeira planta operacional comece a funcionar em 2026, marcando um importante passo na otimização e eficiência deste setor.
No cenário mundial, as diferenças entre o etanol de milho produzido nos EUA e no Brasil destacam a vantagem competitiva brasileira. No Brasil, não há um conflito entre a produção de alimentos e combustíveis, visto que a mesma área pode ser usada alternadamente para plantar soja e milho, maximizando a produção de alimentos, rações e combustíveis. Este fenômeno é conhecido como a política de "food, feed and fuel" (alimento, ração e combustível) durante o mesmo ciclo de cultivo. Além disso, no Brasil, toda a energia utilizada na produção provém de eucalipto, uma árvore cultivada na forma de reflorestamento. Em contraste, nos Estados Unidos, a energia utilizada na produção vem de fontes como gás natural e carvão.
Políticas públicas e oportunidades
O projeto "Combustível do Futuro" coloca o Brasil na liderança da produção de biocombustíveis, buscando substituir gradualmente combustíveis fósseis na aviação e no transporte. Com o aumento da mistura de etanol na gasolina, a inclusão de óleo vegetal no diesel e o maior uso de SAF no querosene de aviação, o Brasil adota um modelo energético sustentável.
A estratégia abrange políticas de captura de carbono e produção de biogás e biometano, apoiando a redução de CO2 e destacando o papel essencial dos biocombustíveis na política energética global.
O Brasil já se destaca em tecnologias para açúcar, etanol e energia. Para consolidar essas iniciativas, é crucial investir continuamente na otimização de processos e inovação, além de comunicar claramente os benefícios do etanol e seus coprodutos, incentivando outros países produtores de cana a intensificarem sua produção. Mantendo a inovação, eficiência e otimização do custo de produção, o caminho está aberto para um futuro promissor. n
O tema propõe duas vertentes no segmento mão de obra para o setor sucroenergético, mas podemos afirmar que em todas as outras atividades, como construção civil, indústria, serviços, comércio etc., o problema de falta de mão de obra qualificada também está muito presente e é relevante.
A importância da mão de obra pode ser medida na análise da formação dos custos de produção de uma tonelada de cana, onde ocupa o primeiro lugar entre todos os itens, chegando muitas vezes a representar 28% dos custos de produção.
A proposta do título acima mostra uma distinção clara entre falta e formação de profissionais nos diversos níveis e atividades do setor sucroenergético.
A mão de obra na área agrícola representa o maior percentual na composição dos custos do setor e ocupa o mais alto lugar no podium, se considerarmos desde o preparo de solo até a entrega da cana na indústria. Mesmo assim notamos que, em algumas empresas, a importância dada a ela deixa a desejar, principalmente na formação e treinamento de pessoal.
Sem a qualificação exigida para o cargo, forçosamente haverá um aumento nos custos em todos os outros segmentos da área agrícola, mas principalmente nas atividades mecanizadas e de manutenção, que juntas representam aproximadamente 70% dos custos de produção.
Além da mecanização ter uma grande participação nos custos de produção, ela é responsável por toda aplicação de insumos, daí a importância dos operadores
Temos mais de 52 milhões de pessoas atreladas ao Bolsa Família. No Maranhão, como em outras regiões do Norte e Nordeste, existem mais pessoas penduradas no Bolsa Família que com carteiras de trabalho assinadas. "
Luiz Carlos Dalben
Presidente da Agrícola Rio Claro
em conhecer não só a operação mas também as regulagens e a função dos insumos no solo, nas plantas e condições climáticas para aplicação.
Ao frequentarmos simpósios e congressos promovidos por entidades oficiais e particulares, onde se reúne grande parte das usinas, percebemos que há uma forte e notória reclamação sobre a qualidade e comprometimento da mão de obra em todos os níveis hierárquicos das empresas.
Sabemos que é raro ou quase impossível encontrar profissionais preparados e disponíveis neste mercado de trabalho para as atividades em questão. Paga-se mais para buscar em outra empresa ou treina-se e forma-se dentro da própria empresa.
A própria legislação e normas existentes no Brasil impedem a abertura do leque na questão do aprendizado, com o chamado desvio de função. Por exemplo, já tive vários processos trabalhistas feitos por operadores que alegaram que seguravam uma mangueira de óleo lubrificante para o mecânico poder trocar, exigindo com este ato a insalubridade e desvio de função. Um motorista não pode auxiliar um borracheiro na troca de pneus de seu caminhão. Exemplos simples como estes não permitem que se desperte no colaborador um melhor aprendizado e qualificação.
A formação, o treinamento e a atualização técnica da mão de obra em todas as atividades ligadas ao setor agrícola canavieiro se fazem necessários para atender melhor às velhas e novas tecnologias,
equipamentos mais sofisticados, manutenção mais refinada, que todos os dias estão batendo em nossa porta.
Muitas usinas enxergam a formação e a atualização de conhecimentos dos profissionais como uma rotina nas suas atividades, ou seja, faz parte da linha de trabalho nas diferentes áreas. Outras nem tanto, se preocupando mais com as despesas que isto representa.
A perfeita conexão entre a supervisão das operações e a área de Recursos Humanos para viabilizar as reais necessidades é decisiva para o sucesso do treinamento. Lembramos que a hora trabalhada de uma máquina com potência na faixa de 250 a 300 hp custa acima de R$ 300,00 dependendo da operação, já a de uma colhedora custa próximo ou mais de R$ 600,00/hora.
Outra questão importante nas usinas é que toda equipe deve ser treinada nos aspectos técnicos, e não só operadores, mas também líderes, encarregados e até engenheiros devem participar ativamente.
Podemos até afirmar que pessoas para trabalhar existem, temos, segundo a mídia, mais de 52 milhões de pessoas atreladas ao Bolsa Família e que muitas não querem trabalhar, nem mesmo querem registro em carteira para não perder o “benefício”. Faço trabalho em alguns estados, e, por exemplo, no Maranhão, assim como em outras regiões do Norte e Nordeste, segundo estatísticas, existem mais pessoas penduradas no Bolsa Família que com carteiras de trabalho assinadas.
No Nordeste, nesta última safra, houve usinas que pararam ou reduziram a moagem por falta de mão de obra no corte de cana.
Se ampliarmos o ângulo de visão a nível nacional, vemos que o problema de qualificação é mais sério e abrangente. Muitas universidades têm a formação profissional massificada. No nosso setor, por exemplo, temos no Brasil 287 faculdades de agronomia com 37.822 vagas presenciais e 50.700 vagas em cursos de Ensino a Distância (EaD), segundo o MEC (2018).
Ainda segundo o CREA, só no ano 2020 formaram-se 108.842 agrônomos, sendo 88.594 homens e 20.248 mulheres. São números assustadores para o mercado.
Quando havia somente cursos de agronomia com tempo integral, a carga horária era de 3.600 horas para conclusão do curso. Atualmente, nos cursos noturnos passou para 1.530 horas com apenas 3h40 por dia, isto sem falar nos EaD com aulas pela Internet. Números como estes existem em todas as profissões e po-
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dem determinar que as empresas devem dar encaminhamento à fase final na formação dos profissionais.
Não podemos afirmar que quem faz um curso com um menor número de horas não está preparado para atuar. Tudo vai depender do comprometimento com o apreendizado, com a sua assiduidade e a vontade.
Todas as formas de aquisição de conhecimento são importantes. Atualmente, as informações chegam de forma muito rápida e em volume muito grande, via Google e outras plataformas, a ponto de não deixar perguntas sem respostas. Sabemos que esta é apenas uma forma de adquirir conhecimento e que deve ser associada a outras mais consistentes.
Contamos hoje com internet, novas técnicas como agricultura de precisão, satélites, drones, mapeamentos diversos, “inteligência” artificial, mas isto não nos dá o direito de marginalizar a agricultura de “andação”, aquela de ir para a lavoura rotineiramente, muito necessária para o entendimento e é onde as possíveis soluções acontecem.
É lá no campo que os problemas e soluções, na maioria das vezes, são elucidados, é onde interpretamos as situações e, muitas vezes, encontramos os melhores caminhos.
Tela de computador e “inteligência artificial” são ferramentas ultra necessárias, mas é fundamental o caminhar no campo entre as máquinas, operações e lavoura. Sair da zona de conforto é um desafio necessário em todas as profissões e atividades.
Na minha opinião, devemos enxergar o caso de minimizar efeitos da mão de obra e baixar custos implantando o máximo de mecanização e aumentando a potência das máquinas em todas as operações possíveis. O aumento na potência reduz quebras e problemas mecânico-operacionais, com isto teremos um maior rendimento por hora/hectare e menor número de equipamentos trabalhando. É fundamental ter um plano de renovação de frota, substituindo sempre com horas e km adequadamente controlados antes que os problemas e gastos maiores aconteçam, como por exemplo o “trem de força”. Com isto teremos ampliação no período de garantias na frota e, também, conseguiremos melhor valor nos ativos trocados. Isto diminuirá em muito o valor dos gastos com manutenção por toneladas produzidas.
Finalmente, aprofundar e valorizar a atividade de treinamento, formação e atualização de conhecimentos dos profissionais.
Este é o caminho a ser seguido. n
Aos 40 anos de convivência com o setor sucroenergético, é com grande alegria que constato o elevado nível de maturidade por ele atingido. A musculatura adquirida o torna extremamente resiliente e capaz de atravessar eventuais crises futuras que com certeza virão, sendo elas curtas ou longas e mais ou menos profundas. A musculatura a que me refiro tem na sua formação diversas componentes que passarei a elencar.
1. Experiências adquiridas de crises anteriores
Das diversas crises vividas pelo setor sucroenergético, sem dúvida a mais marcante foi a do boom de crescimento oriunda do surgimento do carro flex em 2003 que prometia um crescimento quase infinito da demanda do etanol hidratado. Isso causou uma avalanche de investimentos sem precedentes com promessas governamentais de virarmos a Arábia Saudita verde do combustível renovável, e o que se
viu na sequência foi um controle de preço dos combustíveis fósseis no mais autêntico estilo populista. Este fato provocou a quebradeira de várias empresas do setor que não suportaram a perversa combinação de elevada alavancagem financeira fruto do investimento com rentabilidade baixa ou negativa.
Isso deixou preciosas lições nos empresários do setor e, também, no sistema financeiro, dado o volume expressivo de perdas que esta situação ocasionou. Os empresários que foram mais comedidos nos investimentos à época estão aí até hoje com seus negócios evoluindo de forma constante e bastante sustentável, enquanto os outros acabaram vendendo suas empresas ou encerrando suas operações.
Hoje assistimos no setor a um processo lento e muito saudável de consolidação capitaneado por essas empresas que foram comedidas no passado. Com certeza este movimento irá sem dúvida colaborar para os ganhos de resiliência do setor. Não incluímos como parte desta saudável consolidação a entrada no setor de grupos pertencentes ao crime organizado.
Assistimos no setor a um processo lento e muito saudável de consolidação capitaneado por essas empresas que foram comedidas no passado. Não incluímos como parte desta saudável consolidação a entrada no setor de grupos pertencentes ao crime organizado. "
Alexandre Enrico Silva Figliolino Consultor da XP para agronegócio
2. Alto nível de inovação
Chama muito a atenção o grande número de inovações que chegaram ao setor sucroenergético nos últimos 20 anos.
A colheita mecânica, sem dúvida, tem a maior importância na medida que colaborou fortemente para a redução de custos, eliminando uma quantidade enorme de trabalho degradante, eliminando a queima com claros benefícios ambientais e de imagem para o setor junto à opinião pública. Além disso, a palha deixada no campo mostrou os enormes benefícios por ela proporcionados de proteção do solo e elevação do teor de matéria orgânica, contribuindo para o enriquecimento da vida biológica do solo.
Outro fato muito auspicioso é a digitalização invadindo o campo, o elevado nível de eletrônica embarcada nos equipamentos. A crescente conectividade tem permitido um controle maior em tempo real sobre as operações. Os COIs e COAs cada vez mais presentes nas empresas nos encantam.
A adoção de práticas ditas regenerativas é crescente e colabora sobremaneira para incremento de produtividade e redução de custos notadamente em áreas cujo ambiente de produção é mais restritivo. Incluímos nestas práticas ditas regenerativas o uso das mais diferentes fontes de matéria orgânica, com destaque para a torta composta e enriquecida e a vinhaça agora aplicada de forma localizada em distâncias cada vez maiores.
O uso de material biológico, sejam fungos ou bactérias, tem servido à recomposição da vida do solo com enormes benefícios.
O manejo integrado de pragas com a combinação de produtos químicos e biológicos tem sido muito eficiente e promissor no combate de poderosas pragas como Sphenophorus, nematóides, etc.
3. Crescimento vertical, mix de produção e agregação de valor
A evolução e o crescimento do setor já não se fazem pelo crescimento horizontal e construção de novas unidades. O Centro-Sul há muito tempo está estacionado em área de colheita, variando em torno de 7.500 e 7.800 mil hectares. As expansões de produção têm sido as evoluções na produtividade. A crescente produção de etanol de milho, dada sua competitividade, tem permitido o aumento do mix açucareiro por parte das usinas de cana, além de ter dado enorme segurança ao fornecimento de etanol, que já não tem mais o ano dividido em safra e entressafra.
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O aumento da mistura de etanol nos carros com motor a combustão no Brasil, a adoção de programas de uso de combustíveis renováveis em outros países e o uso do etanol de cana futuramente como uma das matérias-primas para produção de SAF (combustível sustentável de aviação) nos fazem crer que o etanol tem um futuro brilhante pela frente, conseguindo conviver com uma progressiva eletrificação da frota de um mundo desejoso e necessitado de descarbonização.
Outro fator que nos enche de esperança no futuro do sucroenergético sem dúvida é a utilização de torta e vinhaça na produção de biometano antes de voltarem bioenriquecidos para a lavoura após serem biodigeridos. Este gás vai encontrar alguns usos muito nobres como, por exemplo, mover frotas pesadas como caminhões e tratores das usinas e de terceiros.
Além disso, este biogás encontrará mercados graças a mandatos de mistura constantes na nova legislação, além de mercados específicos de consumidores, principalmente indústrias, para os quais o consumo do renovável faz sentido, e existe disposição a pagar o merecido prêmio.
4. Conclusão
Resumindo tudo que foi dito, estamos diante de um setor hoje extremamente maduro e profissionalizado com uma estruturação de capital adequada com baixo nível de alavancagem. Não obstante ter atravessado anos de excelente nível de preço no açúcar, não partiu para um crescimento transloucado.
Muito pelo contrário, a geração de caixa deste período foi usada na redução do endividamento oneroso, e os investimentos foram forçados em mudança de mix dada a vantagem em fazer açúcar.
Outro foco foi o desengargalamento industrial em que pequenos investimentos promoveram saltos importantes de capacidade produtiva. Outro ponto importante foram os investimentos na evolução tecnológica no campo com apreciáveis ganhos de produtividade, ganhos de eficiência e redução de custos.
Toda eventual oportunidade de aquisição na maior parte das vezes só fez sentido se propiciar relevantes ganhos de sinergia com significativa redução de custos e ganho de competitividade. Portanto, considero que hoje, dentro do agronegócio, o setor sucroenergético, que já foi considerado patinho feio, transformou-se numa excelente oportunidade aos olhos da Faria Lima. n
Recuperação, repotencialização e otimização
Mais de 50.000 rolamentos repotencializados
• Mais de 300 Usinas atendidas
• Aumento substancial da vida útil do rolamento
• Milhões de dólares em economia para a indústria
• Manutenção inteligente na indústria 4.0
Forte redução do impacto ambiental:
98% redução de rejeitos
99% redução de água
99% redução de emissão de CO2
Exportamos para: Argentina, Paraguai, Bolivia, Honduras, Chile, Nicaragua, Perú, México, Venezuela e República Dominicana.
• 80% de economia • 100% de confiabilidade • Garantia em dobro
• Crédito
Discutir o clima não é tarefa simples, e prever seus impactos em um dos setores agrícolas mais importantes do país – o sucroenergético –torna-se ainda mais desafiador. Ao abordar as questões climáticas, é fundamental reconhecer as limitações inerentes às previsões e projeções que, apesar de oferecerem tendências e retratarem as condições macroclimáticas, não capturam todas as nuances do ambiente. O clima é um aliado essencial para a produção agrícola, influenciando diretamente os resultados das safras, afetando tanto a produtividade final (TCH) quanto a produção de açúcar (ATR).
A produtividade resulta da complexa interação entre o ambiente e a planta, sendo o clima responsável por, no mínimo, 50% da produção em campo. Esse fator ganha ainda mais relevância quando se considera que a maioria dos canaviais brasileiros é cultivada em regime de sequeiro – ou seja, depende exclusivamente da água das chuvas. Ao discutirmos o regime hídrico no Brasil, enfrentamos um cenário de alta variabilidade, decorrente das condições climáticas de um país de dimensões continentais e influenciado por fatores em escalas macro, meso e micro. Nos últimos anos, a agricultura, especialmente nas regiões produtoras de cana-de-açúcar (Centro-Sul e Nordeste), tem enfrentado desafios crescentes. Chuvas irregulares, antecipação do período seco, veranicos prolongados e atípicos, além de eventos extremos – como chuvas intensas, enchentes, geadas e granizo – têm-se tornado mais frequentes e difíceis de prever.
Esses fenômenos impactaram significativamente a produção, como observado no período de 2020 a 2021, quando uma forte La Niña alterou significativamente o cenário da safra. Em 2024, o Centro-Sul enfrentou elevados déficits hídricos devido à combinação de tempo seco, altas temperaturas e incêndios nos canaviais, enquanto regiões produtoras do Nordeste também lidaram com períodos prolongados de seca. Mesmo sob regime irrigado, as alterações climáticas elevam os custos de produção, exigindo maiores investimentos em irrigação. Esses fatos reforçam a importância de se monitorar as condições climáticas para assegurar o futuro e o sucesso do cultivo da cana-de-açúcar. Para a safra 2025/26, a perspectiva para as canas colhidas no início da safra é de possíveis quebras de produtividade, decorrentes do extenso déficit hídrico a que foram expostas em 2024. Em contrapartida, a retomada das chuvas no final de outubro e o volume abundante observado nos meses anteriores podem favorecer a recuperação dos canaviais de meio e fim de safra. A expectativa recai sobre os próximos meses e seus impactos no canavial. Embora existam limitações na assertividade das previsões de longo prazo, contamos com ferramentas que indicam possíveis tendências. O fenômeno El Niño Oscilação Sul, que influencia a distribuição de chuvas no Nordeste e, ocasionalmente, no Centro-Sul, é um exemplo. Esse fenômeno refere-se à variação da temperatura da superfície do mar (SST) no Oceano Pacífico Equatorial, cuja variação pode alterar os padrões de chuva globalmente.
Discutir o clima não é tarefa simples, e prever seus impactos em um dos setores agrícolas mais importantes do país – o sucroenergético –torna-se ainda mais desafiador. "
Bárbara Sentelhas CEO e Cofundadora da Agrymet
No Brasil, a fase quente (El Niño) geralmente aumenta as chuvas no Sul e reduz os volumes no Nordeste, acompanhada de ondas de calor. Já a fase fria (La Niña) tem o efeito inverso, com chuvas intensas no Nordeste e risco maior de geadas no Centro-Sul. Para que esses fenômenos sejam classificados, é necessário que persistam por, no mínimo, cinco trimestres móveis, com anomalias superiores a 0,5ºC (El Niño) ou inferiores a -0,5ºC (La Niña). Monitoramos constantemente esses prognósticos devido ao seu impacto na cana-de-açúcar.
Analisando o consolidado do último trimestre (novembro a janeiro), observa-se uma condição de neutralidade, embora uma tendência de anomalias negativas tenha surgido desde dezembro, gerando preocupações quanto a um possível retorno da La Niña. Mesmo com águas mais frias no Pacífico Equatorial, os modelos de diversos institutos internacionais indicam que essa condição não se prolongará, sinalizando um outono e inverno com neutralidade – isto é, sem influência significativa das fases do El Niño Oscilação Sul. Neutralidade, entretanto, não equivale a normalidade, mas indica a ausência de uma forte atuação do Pacífico Equatorial no clima durante esse período.
Além desse fenômeno, variações de temperatura no Oceano Índico, Atlântico Sul e Atlântico Equatorial também exercem influências significativas, interagindo entre si e afetando o clima brasileiro. Os modelos de projeção climática a médio e longo prazo incorporam essas interações para estimar as variações dos principais parâmetros, como temperatura e chuva, nos próximos trimestres. Essas projeções demonstram variações em relação à média histórica, identificam anomalias e sugerem escalas
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de intensidade, embora a precisão diminua com o aumento do horizonte temporal.
Os modelos da União Europeia (ECMWF/ Copernicus) para os trimestres de março a maio indicam chuvas dentro da normal climatológica na região central e noroeste de São Paulo, no Triângulo Mineiro e em Goiás. Em contrapartida, áreas ao sul de São Paulo, no norte do Paraná e no sul do Mato Grosso do Sul podem apresentar anomalias negativas leves, acumulando volumes inferiores à média, para algumas regiões o trimestre de maio a julho pode ser desafiador e apresentar chuvas abaixo da média. Para o Nordeste, os modelos apontam chuvas abaixo da média no período de março a maio, assim como para maio a julho. Algumas regiões podem apresentar tendência à normalidade.
Quanto à temperatura média do ar, observa-se uma tendência de variação positiva desde 2023. As projeções do ECMWF sugerem que essa anomalia se manterá, com os próximos meses marcados por temperaturas acima da média. Esse cenário tem-se tornado recorrente, influenciado tanto pela variabilidade climática quanto pelas mudanças climáticas.
Portanto, o clima se apresenta cada vez mais desafiador. Mesmo com uma tendência à normalidade no volume de chuvas em muitas regiões produtoras, o cenário permanece em alerta devido às temperaturas elevadas, aos desafios fisiológicos para a cultura da cana-de-açúcar e à distribuição irregular das precipitações. Diante disso, é fundamental que os produtores adotem estratégias eficazes de manejo antiestresse e que as discussões sobre adaptação às variações climáticas se tornem parte integrante do cotidiano dos profissionais do agro. n
PREVISÃO SAXONAL COM O USO DE MULTIPLOS SISTEMAS (Copernicus Climate Change Service)
Março-Abril-Maio 25
Abril-Maio-Junho 25
“Há que voltar a semear, mesmo depois de uma má colheita” Sêneca
O agro brasileiro há muito tempo vem sendo o esteio da economia nacional. Destaque no mundo afora, os resultados exuberantes do agro acabam por sombrear as dificuldades que os agricultores passam no dia a dia.
Preparar o solo, plantar, cuidar e acreditar que as chuvas serão bem distribuídas são verdadeira profissão de fé, o DNA do produtor.
As safras de grãos, em dois pares de meses, são resolvidas seja para o bem, seja para o mal, em um curto período. Iniciam durante a primavera e se definem durante o verão. Claro que a safrinha é um pouco mais complicada, mas também é rápida.
Mas, acima de tudo, se iniciam do zero em safra, ou seja, após um ano tudo começa novamente, sem o impacto do ciclo anterior (ressalva para o crédito nos bancos). Assim sendo, as diferentes agências de projeção de safra estão, sempre, próximas do real resultado da safra.
Mesmo assim, ainda há os efeitos de um mercado deveras especulativo, com muitas supersafras defini das do escritório, o que pode gerar confusão no mer cado e frustração no momento da colheita.
Essa condição complexa é ainda mais acentuada quando se trata de culturas perenes e semiperenes, as quais estão expostas a mais longas e maiores oscilações das condições ambientais. A cada estação uma nova canção. E, é claro, vale lembrar Einstein: “raros são aqueles que olham com os próprios olhos e sentem com a própria sensibilidade”.
A cana-de-açúcar é um exemplo dessas dificuldades de plantas semiperenes: plantada e colhida em uma janela imensa (quase todos os meses do ano) e permanece no campo, colheita após colheita, em um ciclo de 5 a 6 anos, talvez 7 no melhor dos casos. Resiliente, permite extrativismo ou alta tecnologia e performance, mostrando enorme dispersão nos resultados. Cultivada em área próxima aos 8 milhões de hectares no Centro-Sul brasileiro, os números escondem a diversidade dos impactos ambientais locais, já que o Brasil é um país imenso. Imenso e diverso, seja nas condições ambientais, seja nas práticas de cultivo.
As safras são diferentes de um ano para o outro, mas são fortemente conectadas. Apesar das chuvas volumosas e bem distribuídas (na maioria dos casos) desde o final de outubro de 2024, os impactos da restrição hídrica dos meses anteriores ainda permanecem nos canaviais.
enquanto perdurarem as visões otimistas, a tendência é que muitas vozes do setor continuem a ditar um caminho que, para aqueles que efetivamente o realizarão, parece extremamente improvável. "
Luiz Carlos C. Carvalho, Caio e Nilceu Piffer Cardozo, Diretor da Canaplan e Diretor da Solucrop, respectivamente
Canaviais irregulares, com falhas de população, baixo perfilhamento e atraso no desenvolvimento. Sim, as chuvas ajudam muito, mas infelizmente não são capazes de plantar (ou replantar) canaviais. A correlação milímetros de chuva versus produtividade agrícola, apesar de importante, nem sempre é direta. Ainda mais em uma cultura cuja produtividade média é fruto de uma imensa análise combinatória de épocas de plantio/colheita, estágios de corte, ambientes de produção, manejo agrícola e, é claro, condições ambientais. E, correndo por fora, mas sempre igualmente importante: a área de cultivo.
Prever a safra 25/26 após a estranha 24/25 e para quem viveu muitas outras é trabalho rigoroso. De ponta a ponta, na 24/25, ocorreram surpresas que desafiaram o setor das mais diversas formas. Uma safra em que a produtividade é reduzida em 10 t/ha, 12% em relação ao ciclo 23/24, mas em que a produção total surpreende com 613 milhões de toneladas processadas até o final de dezembro. Claro que a área de produção, conforme destacado aqui desde outubro/23, foi a grande responsável por tal compensação, a qual amenizou o cenário de 24/25. Mesmo que a quebra total de produção ainda seja alta, em torno de 9%, uma moagem de 613 milhões de toneladas já é a 3ª maior da história do Centro-Sul brasileiro, perdendo apenas para 15/16 (617,7 MM t) e 23/24 (654,5 MM t). E se a moagem acumulada até o final de março/25, sempre um período de incertezas, superar 5 milhões de toneladas, 24/25 pode vir a se tornar a 2ª maior safra da história mesmo com todos os traumas vividos com seca e incêndios ao longo de 2024. E eis que entre as notícias aparentemente agradáveis se escondem os problemas: tais resultados, somados ao clima bom da primavera e início de verão, tendem a confundir o mercado sobre o potencial da próxima safra 25/26.
Os canaviais aparentemente verdes e vigorosos escondem um potencial reprimido às vésperas do início da nova safra. As condições climáticas de 2024, seja pela seca que atrasou o desenvolvimento dos canaviais, seja pelos incêndios que os reiniciaram quando atingiram áreas já colhidas, geraram um cenário em que, por exemplo, um canavial de 8 meses no ‘papel’ a prática apresenta desenvolvimento de 6 a 7 meses. Além disso, deve-se lembrar que as chuvas não recuperarão por si só as falhas dos canaviais e o baixo perfilhamento, tão pouco o aumento de área de reforma e do consumo de muda para o plantio de 2025.
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Assim sendo, o mercado deveria se conter e aprender com o passado: esse ciclo já ocorreu, deixou a todos boquiabertos e aflitos sobre suas próprias posições deveras otimistas.
A posição otimista dos especialistas, que falam em 630 milhões de toneladas em 25/26, contrasta com a tensão vivida por aqueles que realmente entendem do negócio, os produtores. Para esses, as estimativas de safra, em fevereiro/25, são pessimistas: o atraso no desenvolvimento dos canaviais provavelmente levará a um cenário inicial, moagem de abril/25, de baixa produtividade e baixa qualidade da matéria-prima. Canaviais verdes, jovens, com potencial de desenvolvimento, porém em tempo para tanto. Caso as chuvas se prolonguem ao outono (abril/maio), é possível que ocorram surpresas positivas em um cenário pessimista. Ou seja, 25/26 pode ser menos pior do que se imagina, mas ainda assim deverá ser ruim frente aos resultados de 24/25.
Os desafios, porém, não param por aí. Impactos do custo do dinheiro ao capital de giro, alavancagem e a pressão dos juros tão elevados no Brasil preocupam muito para a safra 25/26. Junto com os juros altos vem a pressão cambial que ajuda a quem exporta, mas gera inflação e custos de produção mais altos. Carregar estes juros pesará financeiramente, enquanto vendas mais rápidas resultam em queda dos preços. As exportações de açúcar, deve-se citar, não terão a mesma velocidade da safra 24/25, face ao aumento da oferta e das exportações de grãos em 2025.
Quanto aos preços, o açúcar ainda deve ser o grande destaque positivo. A visão de um novo governo norte-americano liderando, talvez, o Ocidente, com slogan MAGA (drill baby, drill), poderia levar a lógica de queda nos preços do petróleo, ruim para os preços das commodities. No entanto, a reação dos produtores de petróleo norte-americanos é manter margens positivas, não excedentes e preços baixos. Oscilações externas e pressões internas podem prejudicar o etanol, porém, em um mundo de tantas surpresas, tudo parece possível. Os valores ainda desfavoráveis do etanol tendem a gerar uma nova safra de tendência açucareira: as fixações dos preços do açúcar já estariam acima de 60% para a safra 25/26 do Centro-Sul brasileiro. E enquanto perdurarem as visões otimistas, que só tendem a ser reduzidas com o início da safra 25/26, com baixa e lenta moagem inicial, a tendência é que muitas vozes do setor continuem a ditar um caminho que, para aqueles que efetivamente o realizarão, parece extremamente improvável. n
Apesar da prolongada estiagem e do número sem precedentes dos casos de incêndio, a safra 24/25 da região Centro-Sul do Brasil deve terminar com resultados acima do esperado.
Na medida em que as usinas não mediram esforços para maximizar as operações de corte e colheita da cana nas últimas quinzenas, apesar do tempo chuvoso, aliado ao maior volume de cana bisada no início da temporada, a moagem de cana totalizou 611,8 milhões de toneladas de cana (-4,3%) até a primeira quinzena de dezembro, sendo produzidos 39,71 milhões de toneladas de açúcar (-5,1%) e 31,93 bilhões de litros de etanol (+3,3%).
Frente a este cenário, a Datagro revisou o Balanço de Oferta & Demanda de Açúcar e Etanol para a safra 24/25, com a nova estimativa de moagem de cana de 621 milhões de toneladas, contra 654,4 milhões de toneladas em 23/24. Considerando um rendimento industrial de 140,9 kg ATR/tc e um mix de 48,0%, a produção de açúcar também deve ficar acima da inicialmente esperada, em torno de 40 milhões de toneladas, ao passo que a produção total de etanol deve alcançar um recorde de 34,81 bilhões de litros, dos quais 8,06 bilhões de litros de etanol de milho.
A produtividade média do canavial deve crescer 2,2%, ou 1,7 tc/ha, para 80,3 tc/ha em 25/26, enquanto a área a ser colhida deve sofrer uma retração de 1,4%, para 7,785 milhões de hectares. "
Guilherme Nastari Diretor da DATAGRO
Agora, como não restam muitas dúvidas sobre o desfecho da safra 24/25, o mercado começa a concentrar as atenções sobre a configuração da safra 25/26. À primeira vista, há pontos preocupantes que poderiam impactar as condições dos canaviais, sobretudo nas áreas a serem colhidas no terço inicial da próxima temporada, em função da seca e dos incêndios que atrasaram o desenvolvimento das áreas de rebrota, sem esquecer dos impactos negativos sobre as áreas de plantio, que, em alguns casos, foram completamente perdidas devido aos incêndios. Contudo, a boa notícia é que as condições climáticas voltaram ao normal. Desde outubro as chuvas voltaram a incidir em volumes mais generosos e de forma mais bem distribuída ao longo da região Centro-Sul, promovendo uma rápida recuperação dos índices de umidade do solo.
E a cana, como uma gramínea, tem respondido bem à melhoria das condições climáticas, que não se limitam ao bom volume de chuvas, como também da combinação da regular radiação solar.
E a previsão é de que as chuvas continuem favoráveis na região, pelo menos até o mês de março.
Ainda que seja necessário aguardar pela materialização das projeções climáticas, há elementos iniciais que nos permitem tecer o provável comportamento da produtividade agrícola da cana no Centro-Sul do Brasil para a próxima safra 25/26.
Em linhas gerais, espera-se que os níveis de produtividade agrícola durante o primeiro terço da safra 25/26 sejam menores ante aqueles registrados em mesmo período de 24/25, mas que devem superar a curva de produtividade a partir de setembro, com ganhos de biomassa que provavelmente compensarão a possível retração da área disponível para colheita em razão da perspectiva de maior taxa de renovação do plantio em 2025.
Como resultado, a produtividade média do canavial deve crescer 2,2%, ou 1,7 tc/ha, para 80,3 tc/ha em 25/26, enquanto a área a ser colhida deve sofrer uma retração de 1,4%, para 7,785 milhões de hectares.
Dessa forma, a Datagro projeta, em seu cenário preliminar, que a moagem de cana no Centro-Sul do Brasil em 25/26 não será muito diferente de 24/25, ou seja, 625 milhões
de toneladas são, por enquanto, projetadas para a próxima temporada. Partindo deste ponto, resta-nos compreender a geração de seus produtos.
Com os preços do açúcar ainda bem mais atrativos em comparação aos do etanol, sobretudo quando levamos em consideração a antecipação do programa de hedge dos produtores em meio à forte valorização do dólar ante o real, não há dúvidas de que as usinas irão novamente maximizar a produção de açúcar em 25/26; e uma vez que as condições climáticas voltaram ao normal, também é possível presumir que os canaviais terão menos problemas em termos de qualidade da concentração de açúcares.
Nesse sentido, a Datagro estima que o mix para a produção de açúcar cresça de 48% em 24/25 para 51,5% em 25/26. Consequentemente, a produção de açúcar deverá bater um recorde de 43,24 milhões de toneladas em 25/26.
No lado do etanol, a oferta total em 25/26 tende a ser um pouco maior do que em 24/25, em torno de 35 bilhões de litros, dos quais 10 bilhões de litros a partir do milho, ainda que seja diferente na sua composição, uma vez que a oferta de etanol hidratado deverá cair de 22,45 bilhões de litros para 21,18 bilhões
Fonte:
*Inclui etanol de milho
de litros, enquanto a produção de etanol anidro deverá totalizar 13,88 bilhões de litros, contra 12,36 bilhões em 24/25.
Obviamente, tal cenário ainda está sujeito à continuidade das boas condições climáticas nos próximos meses, mas não descartamos que a moagem de cana possa até ser maior caso o bom volume de chuvas também seja registrado em abril e começo de maio. Por outro lado, há fatores que pesam no sentido contrário a essa possibilidade. O primeiro condiz com a provável maior taxa
de renovação dos canaviais após as perdas com o plantio em 2024, além do fato de que muitos produtores terão de recorrer às áreas de 2º corte como alternativas às áreas de muda que foram engolidas pelos incêndios no ano passado, o que pode limitar ainda mais a área total disponível para colheita em 25/26.
De toda forma, há que reconhecer que a melhoria das condições climáticas provocou um alívio aos canaviais, afastando prognósticos mais pessimistas para 25/26. n
Prognósticos sobre safras futuras são sempre difíceis, mas 2025/26 destaca-se pela complexidade adicional causada pelo já histórico período de seca e pelos incêndios que marcaram o ano de 2024, deixando sequelas e ensinamentos para o setor sucroenergético. Falarei primeiramente da expectativa de produção e, na sequência sobre pontos que acredito que impactarão o futuro das nossas lavouras e da nossa atividade econômica. As estimativas de mercado indicam uma moagem entre 580 e 600 milhões de toneladas, números embasados na perspectiva de área de colheita e na produtividade média histórica de 78,1 toneladas por hectare. Entretanto, acredito que as diferenças de rendimento entre unidades e/ou grupos serão acentuadas.
Os números acima são explicados em função da extensão dos incêndios ocorridos em 2024, que atingiram aproximadamente 400 mil hectares plantados com cana-de-açúcar em todo o País. Além dos incêndios, a estiagem prolongada e as altas temperaturas afetaram a taxa de rebrota das soqueiras, deixando como herança negativa canaviais com elevado índice de falhas de brotação. O necessário aumento da taxa de replantio provoca uma redução na oferta de cana, quer pela redução da área de colheita – mais de 200 mil hectares somente no Centro-Sul, quer pela necessidade de produção e plantio de mudas.
Entre as notícias positivas temos a excelente recuperação das lavouras como resultado das abundantes chuvas de janeiro e fevereiro. Entretanto, como ponto de atenção, o prolongado período de estiagem e o acentuado déficit hídrico a que as lavouras foram submetidas
Sistemas integrados de gestão existem e devem ser implantados buscando melhoria contínua de processos. Novas tecnologias são apresentadas diariamente e desafiam as formas tradicionais de gerir negócios. Reinventarmo-nos é uma obrigação. "
Luiz Augusto Artimonte Vaz
Diretor Cronos Consultoria
provocaram um atraso no início do período de crescimento vegetativo da cultura, acarretando desenvolvimento fisiológico tardio dos canaviais. Isso torna o clima no período de março a maio de 2025 um fator determinante para a definição da produtividade agrícola futura.
A produção de açúcar deve continuar sendo priorizada pela indústria, seja pelo incremento da capacidade instalada ocorrido nos últimos três anos, seja pela diferença positiva de rentabilidade entregue pelo produto em comparação ao biocombustível – entre 20 e 30% superior para o açúcar. Sob esta perspectiva, o mercado de etanol de cana-de-açúcar pode sofrer uma redução na produção e oferta, sendo o déficit parcialmente compensado pelo incremento na produção de etanol de milho, estimada em 30% da produção total de etanol na safra 2025/26 – 33,5 bilhões de litros, segundo a consultoria. Todos estes dados têm sido amplamente divulgados pelo mercado e nos parecem coerentes. Agora abordaremos os pontos que entendemos como relevantes para as empresas do setor sucroenergético, os quais compõem os desafios que o setor deve enfrentar na busca por excelência e contínua relevância. As lavouras foram afetadas de forma desuniforme pelos eventos
climáticos e pelos incêndios em 2024, sendo que as áreas com manejo agronômico adequado ainda deverão manter médias de produtividade elevadas, destacando os efeitos positivos desta estratégia.
Teremos uma safra marcada por juros elevados, câmbio instável e margens mais apertadas que provocam apertos na estrutura de custos de produção. Gestão de custos e alocação adequada e assertiva de recursos limitados são essenciais para a saúde financeira das empresas, sendo dependentes de uma avaliação crítica dos resultados, a qual deve ser embasada em análise de dados e informações de qualidade oriundas das áreas responsáveis pela produção agrícola e industrial. O uso assertivo dos recursos econômicos e a gestão de caixa adequada, aliados à transparência na apresentação de resultados de médio e longo prazo, são essenciais para permitir o acesso a instrumentos de crédito coerentes com a dinâmica da atividade sucroenergética. Mas não se trata apenas de acesso ao crédito. Uma gestão agrícola e de negócios eficiente pode ser classificada como um verdadeiro divisor de águas para a atividade de produção agrícola. Recorrentemente, a opção de corte de custos recai sobre a cota de insumos agrícolas e/ou na estrutura de acompanhamento da qualidade agrícola, pois são custos variáveis de produção, comuns e mais fáceis de serem manejados. Porém, invariavelmente, esta redução de investimento na área agrícola resulta em problemas de continuidade e manutenção dos níveis adequados de produção dos canaviais, tornando as expectativas futuras de produtividade agrícola exclusivamente dependentes das condições climáticas.
A instabilidade climática é uma realidade que se impõe, e para mitigar riscos aqui é necessário nos adaptarmos. A alternativa para esta situação, por sua vez, deveria ser simples: ampliar os horizontes da gestão, buscando a identificação das ineficiências operacionais e as oportunidades de melhorias nos sistemas de produção. Sistemas integrados de gestão existem e devem ser implantados buscando melhoria contínua de processos. Novas tecnologias são apresentadas diariamente e desafiam as formas tradicionais de gerir negócios. Reinventarmo-nos é uma obrigação.
Devemos considerar ainda fatores novos ou até então subavaliados no sistema de produção de cana-de-açúcar, como os efeitos de infestações de pragas de solo como Sphenophorus, e doenças como a síndrome da murcha (associação dos patógenos Colletotrichum, Fusarium e
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Pleocyta), e ainda sua associação com pragas conhecidas como a cigarrinha, responsáveis por perdas severas de produtividade, diminuição de perfilhamento e até mesmo a morte de soqueiras. Essa situação tende a se agravar na medida em que ações de controle e manejo fitossanitário da cultura da cana-de-açúcar sejam postergadas, resultando em ciclos de baixa produtividade, menor longevidade nos canaviais e, consequentemente, custos de produção elevados.
Como segundo ponto crítico para o setor sucroenergético, citamos o desafio de atração, manutenção e qualificação de mão de obra, especialmente diante do desafio de adoção de mais tecnologia em seus processos. Inovação, parcerias com demais integrantes das cadeias produtivas e adequação de processos com a criação de incentivos aos colaboradores são essenciais para ter sucesso neste desafio.
O terceiro ponto de atenção está relacionado ao vencimento dos contratos de cogeração de energia e à necessidade de negociação desse ativo no mercado livre, portanto sujeito às condições de oferta e demanda, o que traz instabilidade a uma linha de receita antes bem dimensionada, afetando o horizonte de investimentos.
O desenvolvimento do mercado para atendimento da demanda de bioenergia, associado a modelos que permitam a certificação de carbono, e ainda o desenvolvimento de processos de reutilização do bagaço como a eletrólise para produção de amônia ou produção de polímeros biodegradáveis são as alternativas que se apresentam para a diversificação do portfólio de produtos e geração de caixa.
O último ponto para o qual chamamos a atenção são os desafios de cibersegurança no setor agrícola. Os riscos são muito altos e incluem perda de dados críticos, interrupções nos sistemas de produção e danos financeiros.
A crescente adoção de tecnologias digitais torna a operação mais vulnerável, e processos de mitigação de riscos devem ser adotados: educação digital para os colaboradores, revisão das estruturas de armazenamento e coleta de dados, implantação de sistemas de detecção de invasão e backups de dados.
Diante de tantas incertezas, a adoção de processos de gestão aprimorados e realmente integrados no âmbito das empresas são essenciais para se garantir eficiência e produtividade do agrossistema bioenergético. Ter foco na produção agrícola e na sua gestão torna as empresas mais resilientes e efetivas, diminuindo os custos de produção e garantindo sua sustentabilidade por períodos consecutivos.n
Imagine se você descobrisse que o médico com o qual você vai fazer uma cirurgia cardíaca na manhã seguinte se formou há 20 anos como o melhor aluno da sua classe, na melhor faculdade de medicina do País. Muito bom, hein?!
Entretanto, nos últimos 20 anos, ele não leu nenhum livro, nem participou de nenhum congresso, nem teve por costume ler regularmente revistas especializadas da sua área médica. Você faria a cirurgia em paz?
No que se refere a nossa área, quantas tecnologias foram desenvolvidas e implantadas nessas duas décadas como o estado da arte e, depois de algum tempo, substituídas por uma nova opção, muito mais eficaz e eficiente, que tomaria o lugar da anterior, até ser igualmente substituída por uma mais nova ainda.
Quantas pragas e doenças apareceram, desapareceram, e algumas até voltaram? Quantas técnicas foram substituídas nesses últimos 20 anos?
Nenhum conhecimento é definitivamente eterno. A faculdade está sempre atualizada, mas tão somente até o dia da sua formatura. Os livros, igualmente, até o dia da sua publicação. As opções que são continuadamente atualizadas são os congressos e as publicações regulares das áreas.
Conhecendo esse cenário e o que passou a representar nesses 22 anos de operação para as universidades, centros de pesquisa e empresas do sistema agrícola e florestal, a Revista Opiniões decidiu abrir inscrições gratuitas para que todos os estudantes de todos os cursos de agroconhecimento, de qualquer parte do Brasil e do mundo, passem a receber gratuitamente todas as suas publicações.
O objetivo é fazer com que o estudante, desde o primeiro dia de aula, passe a participar da vida empresarial na qual se integrará, em alguns anos, já com atualizado conhecimento do que está sendo discutido, avaliado e implantado nas empresas. Muitos dos executivos e cientistas que hoje escrevem na Revista Opiniões declararam que liam nossas edições desde quando ainda eram estudantes nas universidades.
Ampliando o projeto de educação continuada, decidimos também abrir as inscrições gratuitas para todos os funcionários das áreas técnicas, agrícolas, industriais e administrativas das empresas produtoras e fornecedoras dos sistemas florestal e bioenergético de qualquer parte do Brasil e do mundo.
Todos os artigos da Revista Opiniões têm textos publicados em 7 idiomas, quais sejam: português, espanhol, inglês, francês, chinês, árabe e hindi, cobrindo a língua falada pelo incrível numero de mais de 4 Bilhões de pessoas, algo como a metade do Planeta.
O acesso à informação dirigida é a mais eficiente forma de unificar e atualizar o conhecimento entre todos os funcionários em cargos de comando, bem como preparar os funcionários em ascensão para assumi-los. Esta é a mais agradável forma de gerar a educação continuada.
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Desafios da produtividade florestal no Brasil
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A sustentabilidade precisa trocar o abstrato pelo concreto
Os impactos econômicos e sociais das florestas plantadas
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