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ISSN: 2177-6504
SUCROENERGÉTICO: cana, milho, açúcar, etanol, biogás e bioeletricidade ano 17 • número 64 • Divisão C • Mai-Jul 2020
O admirável mundo novo II
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Índice: Em destaque: 12, Bento Albuquerque, Ministro do Ministério de Minas e Energia Fila superior: 52, Adriano José Pires Rodrigues e Fernanda Delgado, CBIE e FGV Energia 64, Celso Albano de Carvalho, Orplana 62, Andy Duff, Rabobank Brasil 44, Marcos Fava Neves, FEA/USP-RP 58, Arnaldo Jardim, Câmara Federal 48, Marcos Sawaya Jank, Insper Fila intermediária: 36, Plínio Mário Nastari, Datagro 60, Ismael Perina Junior, Produtor Rural 40, Evaristo de Miranda, Embrapa Territorial 56, Paulo Montabone, Fenasucro e Agrocana 68, Miguel Ivan Lacerda de Oliveira, MME 50, Evandro Gussi, Unica Sentados: 30, Marcelo Campos Ometto, Grupo São Martinho 22, Luiz Henrique Guimarães, Grupo Cosan 32, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio, Grupo Alto Alegre
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edição especial
A escalada do novo coronavírus tomou de assalto a atenção do mundo inteiro. Preocupações com a saúde e com a vida dominam a pauta de todos. Qualquer outro assunto parece secundário se comparado ao número de casos que cresce a cada dia e ignora fronteiras ─ e o número de mortes de centenas de milhares de pessoas. E todos entendem que as medidas necessárias para conter o alastramento da doença estão afetando de forma relevante a economia global e local e o futuro de todos. Quem não perdeu emprego conhece alguém que perdeu. Mercados financeiros derreteram ao redor do mundo afetando a poupança de todos. Comércios e indústrias fecharam as portas. Não se sabe quantos vão ficar pelo caminho. Convivemos, agora, com uma sensação de vulnerabilidade real e com uma crise econômica que vem a reboque, sem ter nem a quem culpar, nem que seja para aliviar a tensão. Teorias conspiratórias à parte, essa é uma pandemia que apareceu na natureza e que atingiu a todos, sem distinção de classe, credo, cor, preferências políticas ou geografia.
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Opiniões
não se pode perder a oportunidade de uma grande crise Para piorar, líderes ao redor do mundo parecem incapazes de trazer algum alento na forma de coordenação global, além do uso político vergonhoso de uma crise sem precedentes e justificativas para anseios de poder adormecidos. Mas a história mostra que sempre há luz no fim do túnel. Especialmente se focarmos rapidamente nas lições aprendidas, em mapear os próximos desafios e em estar mais bem preparados para enfrentá-los. O tema é extretamente amplo e complexo se quisermos tratar de todas as questões envolvidas em nível global, ou mesmo pensar na economia do Brasil como um todo. Mas podemos usar o tema do aquecimento global e o papel do etanol brasileiro como um bom exemplo. Uma amostra estatística que poderia ser extrapolada para uma série de outras questões. Até bem pouco tempo, aquecimento global era uma discussão mais restrita aos meios acadêmicos e aos fóruns internacionais focados no assunto, além das ONGs. Um mundo mais conectado, informações disponíveis para quem se interessar ou novas gerações mais conscientizadas e preocupadas com o futuro do planeta são, certamente, boas explicações para esse tema ter ganhado tanta atenção recentemente. Mas nada como a realidade batendo à porta, aliada a sinais econômicos corretos. Podemos começar pela forma inclemente como esta pandemia abalou as estruturas globais, colocando o mundo diante de uma escolha dificílima entre a extensão do isolamento social para salvar vidas e o impacto do isolamento na economia mundial, que vai afetar as vidas de todos no futuro.
o mundo vai sair desta crise muito mais consciente da importância de temas como aquecimento global para o futuro e de que cada um tem um papel importante nas mudanças necessárias à construção desse futuro. "
Luiz Henrique Guimarães Presidente da Cosan
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Plataforma Digital Multimídia Revista Opiniões
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BENEFÍCIOS E VANTAGENS - BENEFICIOS Y VENTAJAS - BENEFITS AND ADVANTAGES DOBRA OU TRIPLICA A MASSA DE CANA A SER COLHIDA NUM ÚNICO TRÂNSITO DA COLHEDORA. Duplica o triplica la masa de la caña a ser cosechada en un único tránsito de la cosechadora. It doubles or triples the sugarcane mass of the lane to be harvested in a single run of the harvester. COPIA O RELEVO DO SOLO INDEPENDENTE DA AÇÃO DO OPERADOR. Copia la forma del suelo independiente del operador. It copies the soil´s shape and level independently from the operador inputs. AUXILIA NA ABERTURA DE ACEIROS DE COLHEITA EVITANDO O ESMAGAMENTO DA CANA. Ayuda en la apertura de brechas evitando el aplastamiento de la caña de azúcar. It assists on opening gaps at sugarcane field plant avoiding sugarcane crushing. O TCH LIMITE PARA ADENSAMENTO DEPENDE DA CAPABILIDADE DE SUA COLHEDORA, POIS A MESMA PASSARÁ A ENFRENTAR UM CANAVIAL COM TCH DOBRADO. El TCH limite para adensamiento depiende de la capacidad de su cosechadora, pues la misma pasará a enfrentar un cañaveral con TCH duplicado. Sugarcane field yield limit selection for densification depends on your sugarcane harvester capability, because it should face a double density sugarcane row on track. O USO DE TRATORES COM PILOTO AUTOMÁTICO FACILITARÁ SOBREMANEIRA A OPERAÇÃO EM ÁREAS GEOREFERENCIADAS QUE TENHAM CANAVIAIS CAÍDOS. La operaciõn de adensamiento en áreas georreferenciadas en cañaverales caídos se quedará sobremanera facilitada utilizando tractores con auto-pilot. The georeferenced areas densification with decumbed sugarcane will remain an easy operation using auto-pilot tracking tractors. DISPOSITIVO DE FÁCIL MANUSEIO. Equipaje de manejo fácil. Easy handling equipment.
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Índice: Em destaque: 08, Bento Albuquerque, Ministro do Ministério de Minas e Energia Fila superior: 54, Adriano José Pires Rodrigues e Fernanda Delgado, CBIE e FGV Energia 72, Celso Albano de Carvalho, Orplana 66, Andy Duff, Rabobank Brasil 40, Marcos Fava Neves, FEA/USP-RP 60, Arnaldo Jardim, Câmara Federal 46, Marcos Sawaya Jank, Insper Fila intermediária: 32, Plínio Mário Nastari, Datagro 12, Roberto Rodrigues, FGV 64, Ismael Perina Junior, Produtor Rural 36, Evaristo de Miranda, Embrapa Territorial 58, Paulo Montabone, Fenasucro e Agrocana 76, Miguel Ivan Lacerda de Oliveira, MME 48, Evandro Gussi, Unica Sentados: 22, Marcelo Campos Ometto, Grupo São Martinho 18, Luiz Henrique Guimarães, Grupo Cosan 26, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio, Grupo Alto Alegre
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editorial de abertura
a importância do etanol: o futuro que estamos construindo
O ano de 2019 – em que comemoramos o 40o aniversário de um dos marcos do setor de biocombustíveis: o carro a álcool – foi, também, exitoso para o segmento sucroenergético, com significativos resultados alcançados: • o País bateu o seu recorde de produção de etanol: 35 milhões de m3; • a demanda foi a maior da história: 33,6 milhões de m3; • a participação da cana-de-açúcar alcançou a marca de 18% da oferta interna de Energia; e • a Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) entrou em vigência no dia 24 de dezembro, ocasião em que os produtores já certificados passaram a ter o direito à emissão primária de Créditos de Descarbonização (CBio) – ativo registrado sob a forma escritural, com o propósito de comprovação da meta de descarbonização individual do distribuidor de combustíveis, sendo, portanto, um dos principais instrumentos do RenovaBio.
A indústria automotiva brasileira já lançou o veículo híbrido flex-fuel, combinando etanol e eletricidade. Com essa modernização, temos, em circulação, um dos meios com menor nível de emissão do mundo "
Fernando Bento Albuquerque Cerradinho Bionergia Ministro do Ministério de Minas e Energia
Com o CBio, contamos, pela primeira vez, com a remuneração transparente do serviço ambiental prestado pelos biocombustíveis. Somos os pioneiros, mais uma vez, oferecendo ao mundo um produto acessível a todos e alinhado às necessidades globais de redução da intensidade de carbono no seg; mento de transportes.
OpiniĂľes
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Índice
editorial de abertura Dessa forma, os empreendedores que tiveram as suas produções certificadas poderão comercializar o CBio no mercado organizado e registrar as operações no ambiente da B3 – Brasil, Bolsa e Balcão; e todo investidor, nacional ou internacional, poderá adquirir o referido certificado, que corresponde a uma tonelada de gás carbônico equivalente, calculada a partir da diferença entre as emissões de gases de efeito estufa no ciclo de vida de um biocombustível e as emissões de seu combustível fóssil substituto. No que concerne, especificamente, ao RenovaBio, todos os esforços governamentais têm por objetivo proporcionar uma Matriz Nacional de Combustíveis mais limpa, por meio do aumento da participação dos Biocombustíveis, oferecendo previsibilidade aos Agentes de Mercado e orientando os investimentos em expansão da produção. O grande resultado do Programa será promover, em 10 anos, a retirada de 700 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera, por intermédio da ampliação e da eficiência desses insumos. Com a plena vigência da política do RenovaBio, temos traçada a rota para a expansão dos combustíveis renováveis na matriz nacional de transportes. Diante de uma transição energética mundial em curso – com o propósito de reduzir a poluição de ar e a emissão dos gases de efeito estufa –, indicando uma forte tendência de adoção de condutas voltadas para a eletrificação da frota de veículos, em especial dos leves, acompanhamos toda a evolução desse processo, para combinar o uso dos biocombustíveis com a eletrificação – trata-se de política pública que proporcionará notáveis resultados para a sociedade, como a garantia do abastecimento e a oferta de combustíveis mais baratos. Apesar de a tecnologia de eletrificação das plataformas veiculares parecer um caminho sem volta, a utilização de uma modernização baseada, puramente, em baterias não deve ser considerada a única trajetória a ser seguida. A inovação do veículo elétrico puro, da forma como vem sendo proposta por alguns países detentores desse conhecimento, apresenta, ainda, árduos desafios em pesquisa e desenvolvimento para a sua disponibilização em larga escala e a preços competitivos. Até que se possa dispor de uma tecnologia viável, aplicável em larga escala, com o menor gasto possível em infraestrutura de distribuição de energia, temos trilhado um percurso que leva em conta as limitações, a vocação e as características da nossa economia. A indústria automotiva brasileira já lançou o veículo híbrido flex-fuel, combinando etanol e eletricidade. Com essa modernização, temos, em circulação, um dos meios com menor nível de emissão do mundo – de acordo com cálculos da Associação ;
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Opiniões de Engenharia Automotiva (AEA), atualmente, um veículo elétrico europeu emite, na análise do ciclo de vida do “poço à roda”, cerca de 72 gCO2/km. Um veículo híbrido flex, que já circula no Brasil, emite, no seu ciclo de vida, 23 gCO2/km. Ou seja, o veículo nacional dotado com essa tecnologia, emite um terço das descargas de CO2 do veículo elétrico europeu. Tal desenvolvimento decorreu de parcerias de montadoras com universidades federais brasileiras, evidenciando a capacidade de inovação do País. Ademais, a engenharia automotiva brasileira já trabalha com a perspectiva do desenvolvimento do carro elétrico a etanol, utilizando a tecnologia de célula de combustível – imaginem um País que não só deixa de emitir CO2 no uso de energia, mas também passa a capturá-lo e com relevantes vantagens competitivas: • trata-se de tecnologia em desenvolvimento por algumas montadoras; • concilia a eficiência dos motores elétricos e a vocação nacional para a produção de combustíveis renováveis; • soluciona a problemática associada ao tempo de recarga de baterias; • constitui a solução mais limpa para a descarbonização da matriz energética; e • renuncia a vultosos investimentos em expansão da infraestrutura de geração e distribuição de energia elétrica, por utilizar os meios já
existentes para a disponibilização de combustíveis líquidos – nossa rede conta com mais de 42 mil postos por todo o País. Nesse contexto, o governo do Presidente Jair Bolsonaro, comprometido com o setor sucroenergético, um dos orgulhos nacionais e patrimônio de toda a sociedade – responsável por 2% do PIB e pela geração de cerca de 2,5 milhões de empregos diretos e indiretos e que contribuirá, sobremaneira, para a preservação dos compromissos globais do Brasil no Acordo de Paris –, vem adotando ações que reconhecem as externalidades positivas, o potencial produtivo e a eficiência do segmento. Considerando que o Brasil possui significativas primazias no setor de biocombustíveis em comparação com os demais países e que o etanol significa energia limpa, nacional e garantidora de um futuro promissor, foram encontradas soluções próprias, tanto com relação às políticas públicas – como o RenovaBio – quanto ao trabalho exemplar de muitos brasileiros que se dedicam a construir a cadeia de valor do nosso etanol. A visão de futuro requer o aprimoramento das relações entre o Governo e o segmento, para a superação dos desafios. Os resultados alcançados serão tão melhores quanto mais efetivo for o diálogo estabelecido. Nessa direção, o Ministério de Minas e Energia e o setor de biocombustíveis estão trabalhando, juntos, para transformar riquezas em prosperidade e bem-estar social. n
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edição especial
horizonte plúmbeo Não há a menor dúvida de que o capítulo do agronegócio mais afetado pelo coronavírus no Brasil tem sido o sucroenergético, por razões bastante estudadas. Em primeiro lugar entre elas, estão os reflexos sociais e econômicos determinados pela grande área cultivada com a cana no País, superando 9 milhões de hectares. Essa extensão toda gera milhares de empregos, que entraram em risco com a pandemia. Em segundo lugar, o setor vinha de crises sucessivas nos últimos anos. Sob o governo Rousseff, sofreu demais com a política oficial de combate à inflação através do engessamento dos preços dos derivados de petróleo. Tal fato levou à quase destruição da Petrobras, da Eletrobras e, pela perda de condição competitiva do etanol com a gasolina, também da agroenergia. Nos anos subsequentes, alguns países asiáticos, especialmente a Índia, resolveram subsidiar pesadamente a cultura de cana-de-açúcar, o que levou a uma superoferta de açúcar no mercado global e à consequente queda dos preços, o que refletiu pesadamente na cadeia produtiva brasileira.
Mas, em 2020, se esperava uma reação do setor. O consumo de etanol estava aquecido graças à recuperação da economia, e os estoques mundiais de açúcar haviam caído em função de safras menores na Índia, com melhora dos preços. Além disso, graças ao clima favorável no Centro/ Sudeste, a produtividade agrícola também seria maior do que nos anos anteriores. Os produtores se preparavam para fazer investimentos em mais equipamentos e em novas tecnologias quando a conjugação de coronavírus com o petróleo barato caiu sobre tais expectativas e as transformaram em fumaça. Em terceiro lugar, com o isolamento das pessoas, houve uma forte queda do consumo de combustíveis líquidos: no caso do etanol, chegou a até 45% em algumas regiões do País. Evidentemente, a tamanha redução da demanda correspondeu uma sensível diminuição de preços na bomba e também nas unidades industriais. Esse fenômeno foi potencializado com o estranho desentendimento entre Arábia Saudita e Rússia, que culminou com uma drástica redução dos preços do petróleo e com a correspondente perda de competitividade do etanol em relação à gasolina. Em quarto lugar, houve uma redução do consumo de açúcar: com o adiamento/cancelamento de todo tipo de evento, congresso, festa, cerimônia, caiu drasticamente a demanda por refrigerantes, sucos, docinhos. Até a Páscoa teve muito menos ovos de chocolate do que o normal. E, em quinto lugar, tudo isso aconteceu na “boca da safra”, isto é, quando todo mundo se preparava para iniciar a “recuperadora” moagem ; de 2020/2021.
é preciso mergulhar fundo no que emergirá depois de amanhã, em busca de lições que permitam ao mundo uma maior equidade entre os homens, com base na justiça e no amor. "
Roberto Rodrigues
Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV
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Índice
edição especial A doença teve efeito na oferta da mão de obra para a safra, no transporte, e a lentidão oficial para tomar decisões que mitigassem a grande crise acabou levando a uma certa insegurança. As unidades fabricantes de açúcar, que já tinham vendido no mercado futuro boa parte da produção, estão mais ou menos salvaguardadas. Mas quem só faz etanol está em situação muito pior, até porque a capacidade de estocagem de muitas usinas não aguenta mais de 3 a 4 meses de fabricação sem escoamento. Em suma, uma profunda crise setorial, talvez a maior desde a do final dos anos 60 do século passado. Quando esta revista estiver circulando, talvez algumas medidas defendidas pelo setor tenham sido adotadas, como o uso da Cide, a entrada em vigor dos CBios do RenovaBio, a suspensão de cobrança do Pis/Cofins, prorrogação de dívidas, crédito para estocagem do etanol, crédito para custeio da safra e outras, e isso poderá ter reduzido o desastre iminente. Mas ficou muito clara a fragilidade institucional dessa poderosa máquina agroindustrial diante de uma catástrofe como a que começou em fevereiro passado. Aliás, esta é a grande lição da Covid-19: a fragilidade! Quando se imaginaria que um “mísero” vírus poderia causar uma crise global dessa envergadura? É certo que os mecanismos de controle sanitário globais e nacionais são absolutamente insuficientes e que é preciso subir muito a régua desse ponto fundamental na estrutura das nações. Ressaltou-se a fraqueza da Organização Mundial da Saúde – OMS, e de outras organizações multilaterais. Por exemplo, qual será a capacidade da Organização Mundial do Comércio – OMC, de impedir uma explosão protecionista dos países produtores/importadores de alimentos? É mais do que óbvio que a segurança alimentar se transformou em um fator político dominante em todos os países. Se, por um lado, o mundo inteiro agora entendeu a importância transcendental da atividade rural como produtora de alimentos e, mais do que isso, que essa atividade não pode parar jamais, não está claro que também é fundamental manter permanentemente estruturadas as cadeias de distribuição. Mais ainda: deve ter ficado evidente que a produção agropecuária é determinada por um fator sobre o qual o homem não tem a menor influência, que é a natureza. É ela que estabelece a época de plantio, de tratos culturais, de colheita, de inseminação artificial e de vacinação. Portanto a própria organização dos sistemas de transporte, embalagem e industrialização, bem como os de distribuição, precisa se adaptar a essa maestrina poderosa, a natureza.
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Mas também está claro que a desinformação e o desentendimento entre as chamadas lideranças políticas de todos os níveis acabaram reduzindo a capacidade de os agentes da cadeia de distribuição suprirem os supermercados e outros pontos de venda aos consumidores: ora prefeitos proíbem entrada de caminhões em seus municípios, ora governadores fecham postos de gasolina nas estradas, ora aeroportos nacionais são fechados, numa desorganização institucional que cria grande confusão. Uns mandam ficar em casa; outros querem acabar com o isolamento; e há os que pregam o meio termo. Enquanto isso, milhões perdem os empregos, ficam sem renda alguma e mal conseguem se alimentar. Uma grande angústia envolve a humanidade. A tragédia não perdoa ninguém. Mais cedo ou mais tarde, todos serão atingidos com maior ou menor penalidade. E isso produz um efeito dramático: a perda de confiança nas instituições, nos governantes, na sua capacidade de deter os impactos da calamidade, já que a de prevê-la não existiu. É chegada, então, a hora de olhar o day after. O que virá quando esse vírus tiver passado? O que ficará como ensinamento para o futuro? A questão do controle sanitário ganhará dimensão muito maior do que tinha até agora. Mas e quanto ao comportamento da sociedade, nos seus diversos segmentos? Qual será a nova forma de trabalho doravante, já que todo mundo aprendeu a trabalhar longe do escritório, do consultório, da gestão? Qual será o novo padrão de consumo, depois que todo mundo aprendeu a comer e a vestir menos, mais fácil e mais barato? Qual será o novo sistema de mobilidade social, já que todo mundo está precisando muito menos de veículos motorizados? Qual será a melhor forma de governo, visto que ficou claro que a insegurança dos atuais governantes não deu conta de mitigar a pandemia? Como ficarão as regras de comércio mundial de alimentos? Qual será a parcela de responsabilidade da academia e da ciência de encaminhar soluções para questões dessa envergadura? E será que as populações urbanas darão ao campo o respeito que deve ter por ser o único supridor do que realmente é essencial à vida, o alimento? Enfim, será que uma nova postura dos povos, de maior solidariedade e fraternidade será mesmo alcançada? Para muito além dos desastres atuais na saúde, na área social, na economia, na política, nas organizações multilaterais, é preciso mergulhar fundo no que emergirá depois de amanhã, em busca de lições que permitam ao mundo uma maior equidade entre os homens, com base na justiça e no amor. n
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não se pode perder a oportunidade de uma grande crise A escalada do novo coronavírus tomou de assalto a atenção do mundo inteiro. Preocupações com a saúde e com a vida dominam a pauta de todos. Qualquer outro assunto parece secundário se comparado ao número de casos que cresce a cada dia e ignora fronteiras ─ e o número de mortes de centenas de milhares de pessoas. E todos entendem que as medidas necessárias para conter o alastramento da doença estão afetando de forma relevante a economia global e local e o futuro de todos. Quem não perdeu emprego conhece alguém que perdeu. Mercados financeiros derreteram ao redor do mundo afetando a poupança de todos. Comércios e indústrias fecharam as portas. Não se sabe quantos vão ficar pelo caminho. Convivemos, agora, com uma sensação de vulnerabilidade real e com uma crise econômica que vem a reboque, sem ter nem a quem culpar, nem que seja para aliviar a tensão. Teorias conspiratórias à parte, essa é uma pandemia que apareceu na natureza e que atingiu a todos, sem distinção de classe, credo, cor, preferências políticas ou geografia.
Para piorar, líderes ao redor do mundo parecem incapazes de trazer algum alento na forma de coordenação global, além do uso político vergonhoso de uma crise sem precedentes e justificativas para anseios de poder adormecidos. Mas a história mostra que sempre há luz no fim do túnel. Especialmente se focarmos rapidamente nas lições aprendidas, em mapear os próximos desafios e em estar mais bem preparados para enfrentá-los. O tema é extretamente amplo e complexo se quisermos tratar de todas as questões envolvidas em nível global, ou mesmo pensar na economia do Brasil como um todo. Mas podemos usar o tema do aquecimento global e o papel do etanol brasileiro como um bom exemplo. Uma amostra estatística que poderia ser extrapolada para uma série de outras questões. Até bem pouco tempo, aquecimento global era uma discussão mais restrita aos meios acadêmicos e aos fóruns internacionais focados no assunto, além das ONGs. Um mundo mais conectado, informações disponíveis para quem se interessar ou novas gerações mais conscientizadas e preocupadas com o futuro do planeta são, certamente, boas explicações para esse tema ter ganhado tanta atenção recentemente. Mas nada como a realidade batendo à porta, aliada a sinais econômicos corretos. Podemos começar pela forma inclemente como esta pandemia abalou as estruturas globais, colocando o mundo diante de uma escolha dificílima entre a extensão do isolamento social para salvar vidas e o impacto do isolamento na economia mundial, que vai afetar as vidas de todos no futuro. ;
o mundo vai sair desta crise muito mais consciente da importância de temas como aquecimento global para o futuro e de que cada um tem um papel importante nas mudanças necessárias à construção desse futuro. "
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edição especial Ignorar a probabilidade de que não fazer nada para reduzir emissões de gases de efeito estufa na atmosfera agora vai implicar ter que fazer escolhas tão ou mais complicadas no futuro seria um erro enorme. Mas como seguir promovendo a utilização do etanol quando a pandemia reduz o consumo de petróleo em 35-40% da noite para o dia, e a dificuldade de entendimento político entre países produtores impede uma ação mais ordenada do lado da oferta, derrubando os preços da commodity a patamares impensáveis (chegando a cotações até negativas) e levando junto os preços de gasolina? Como fazer com que o consumidor esteja disposto a pagar pelo combustível limpo, justo no momento em que as economias ao redor do mundo estão extremamente afetadas, com queda de renda e aumento do desemprego? Primeira boa noticia: essa geração preocupada com o futuro do planeta ganhou muitos adeptos. O susto com a pandemia foi grande demais para ser ignorado. As pessoas, tendo sido forçadas a rever muitos dos seus hábitos e valores, vão sair dessa pandemia muito mais conscientes de suas reais prioridades. Ainda que da janela, todos puderam experimentar a sensação de respirar um ar mais puro e ver o céu de novo azul. Estima-se que o lockdown na China tenha reduzido as emissões de carbono em aproximadamente 25%, com queda de 40% no consumo de carvão usado nas principais termelétricas. A poluição do ar em Nova Iorque caiu pela metade em função das restrições à circulação. O que dizer da Índia, onde, de repente, se enxergam as montanhas do Himalaia a 150 km de distância, um país tão relevante na produção mundial de açúcar e onde o governo gasta tanto em subsídios a essa cultura, chegando a distorcer o equilíbrio global dos preços dessa commodity? Um programa ordenado de produção de etanol naquele país resolveria três problemas gigantes de uma vez só: diversificaria e melhoraria a rentabilidade dos agricultores, reduziria o déficit de balança comercial, dado que a Índia é importadora de petróleo, e ainda contribuiria, de forma relevante, para redução da poluição nos centros urbanos daquele país e para a saúde da população. Segunda boa notícia: o Brasil está na vanguarda na utilização de fontes renováveis de energia, já tendo, inclusive, ultrapassado metas estabelecidas no acordo de Paris. O compromisso do Brasil era de chegar em 2030 com participação de 18% em biocombustíveis na matriz energética. Já chegamos a 17,3%. A meta de participação de 45% de energias renováveis na matriz, também em 2030, já foi ultrapassada neste ano (45,3%), mesmo excluindo a geração hidrelétrica dessa conta – a meta era 28%, e estamos em 32,7%.
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A geração hidrelétrica pode ser considerada uma dádiva da natureza no Brasil, aliada a uma política de grandes obras governamentais, num momento da economia em que isso era possível ou fazia sentido. Mas nosso protagonismo na participação de biocombustíveis na matriz energética é fruto da organização e do esforço da iniciativa privada, a despeito do planejamento energético errático ou do uso dos preços de gasolina como instrumento macroeconômico até bem pouco tempo. Some-se a isso a volatilidade dos preços internacionais de açúcar e de petróleo que afetam diretamente a receita dos produtores de cana-de-açúcar e crises financeiras que seguem dificultando a vida de um setor cujo endividamento segue alto, em função das sucessivas crises enfrentadas. Mais uma lição da pandemia que muito se aplica a essa questão. Não existe uma solução única para uma questão tão abrangente. Cada país deve buscar a solução que melhor se adéqua à sua realidade, à sua economia e à sua vocação natural. Um carro movido 100% a etanol hidratado no Brasil é mais eficiente, em termos de emissão de dióxido de carbono (84 gCO2/km), considerados todos os elos da cadeia, do que qualquer alternativa disponível, mesmo os veículos elétricos usados na Noruega (90 gCO2/km), onde 98% da energia consumida para carregar as baterias vêm de fontes renováveis. Na China, o mesmo veículo emite quase 4x mais, em função de a matriz energética daquele país ser baseada em carvão. E criamos uma estrutura pioneira de incentivo ao consumo de etanol no Brasil, através de um sistema de créditos de carbono que serão comprados por distribuidores de combustíveis fósseis, o RenovaBio. Instituições financeiras estão trabalhando para desenvolver uma plataforma para comercialização desses créditos, junto com a bolsa de valores (B3). No futuro, a venda desses créditos fora do Brasil pode se tornar um mecanismo de aumento de liquidez e de globalização do etanol. Se vale o ditado de que há males que vem para o bem, o mundo vai sair desta crise muito mais consciente da importância de temas como aquecimento global para o futuro e de que cada um tem um papel importante nas mudanças necessárias à construção desse futuro. Seremos consumidores mais exigentes, dispostos a valorizar produtos e cadeias produtivas comprometidas com a sustentabilidade do planeta e com o bem-estar das gerações futuras. O etanol brasileiro tem um papel importantíssimo no protagonismo do Brasil no uso de energias renováveis, através de uma solução prática, viável e econômica. Cabe a nós, atores privados e protagonistas do desenvolvimento da indústria de etanol no Brasil, e tendo vencido tantos desafios, garantir que mais essa oportunidade não se perca. n
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Opiniões
tem que ser assim Neste momento inédito em nossas vidas, como indivíduos e sociedade, em que estamos vivendo uma nova rotina ajustada por uma pandemia global, as incertezas se tornam presentes, e a capacidade de nos adaptarmos ao novo se torna essencial. Sempre fui um entusiasta do otimismo e, ainda que os dias atuais tragam aos cidadãos e às empresas, no Brasil e no mundo, o desafio na tomada de decisões acertadas, tenho certeza de que seguiremos e sairemos do outro lado, melhores, mais fortes e prontos para seguirmos adiante. Tem que ser assim.
Como cidadão, e como empresário, acredito que o caminho a ser atravessado ao longo dos próximos meses permitirá às empresas navegarem em águas ora translúcidas, ora desconhecidas, e cabe a nós responsáveis e à frente estar preparados para adotar o melhor caminho possível aos negócios. Não será um caminho fácil, e, para isso, precisamos estar preparados para assumir riscos e incertezas e, através deles, sermos serenos e racionais nas tomadas de decisão, reforçando grandemente a diligência e a disciplina na alocação do capital. Não tenho dúvidas de que nossos negócios irão continuar prosperando, como sempre. E, para aqueles que, eventualmente, tenham dúvidas sobre seus negócios, sejam ágeis em suas decisões e façam o que for necessário para estarem adaptados a este momento. Mais importante do que falar de nossos negócios é falar das pessoas que fazem o nosso negócio. Nossa gente foi fundamental ontem, é hoje e sempre será. Conseguiremos superar os desafios juntos com as pessoas que trabalham e colocam, em seu dia a dia, de maneira ; Mais importante do que falar de nossos negócios é falar das pessoas que fazem o nosso negócio. Nossa gente foi fundamental ontem, é hoje e sempre será. "
Marcelo Campos Ometto Presidente do Conselho de Administração do Grupo São Martinho e da Unica
ETANOL,
ENERGIA SUSTENTÁVEL. A cana-de-açúcar é a energia que move o país. Dela, a gente tem o etanol, uma fonte eficiente, limpa e renovável de energia. A FMC se orgulha de estar ao lado do produtor desde o começo. Não é à toa que apoiamos o setor sucroenergético há décadas, com soluções cada vez mais sustentáveis. Porque, para a FMC, quanto mais produtividade, mais energia para levar a nossa cana ainda mais longe.
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edição especial segura, todo seu conhecimento para contribuir para o desenvolvimento das empresas, contribuir para a sociedade, a economia e tornar o mundo melhor. E esse senso de comunidade diante da atual pandemia está fortemente permeado em todas as relações: entre cidadãos comuns, empresas e instituições públicas e privadas, para que, juntos, se mobilizem para superar esse momento de grande desafio. É de conhecimento público que as doações ultrapassam a marca de R$ 2 bilhões, através de recursos financeiros, doações de produtos e insumos, além da contribuição de centenas de milhares de cidadãos engajados em contribuir. Essa colaboração só fortifica as relações, e, dentro delas, ressalto a importância de uma articulação positiva entre entidades, governos e sistema financeiro, para que a recuperação das atividades econômicas, sociais e políticas possa ser mais rapidamente normalizada, após superarmos as intempéries, consequentes da Covid-19, assim como a crise do preço do petróleo, que vem afetando fortemente o dia a dia das empresas de diversos setores. Mesmo diante desse cenário de grande desafio, o setor sucroalcooleiro, um dos mais representativos da economia brasileira, obviamente não poderia ficar de fora desse momento de solidariedade e vem contribuindo fortemente no combate à Covid-19. Como representante do setor, e presidente do Conselho da Administração de uma das maiores empresas do ramo, referência no Brasil e no mundo, me sinto porta-voz de inúmeras empresas que, de modo extraordinário, uniram seus esforços e capacidades para produzir e doar centenas de milhares de litros de álcool, com distribuição rápida e eficaz para hospitais públicos e unidades de atendimento do SUS e Santas Casas, em diversos estados e regiões. É nosso dever colaborar para uma ação de extrema importância, que, somada a todas as outras de milhares de empresas e cidadãos, está salvando vidas. E temos que continuar. Solidarizo-me com outras empresas do setor sucroalcooleiro, e sabemos que este ano, que há pouco tempo começou, deverá ser um ano-safra para enfrentar desafios e incertezas. Mas tenho a serenidade em pensar que, definitivamente, essa não é a primeira crise aguda que nos afeta, assim como os demais setores da economia, e nem será a última. O importante é estarmos preparados, certos de termos disciplina na gestão de nossos negócios e seguirmos adiante. Esse é o DNA do setor sucroalcooleiro. Um setor essencial à economia, cumprindo um dos papéis mais importantes dentro do agronegócio: garantir alimento, combustível e energia, para atender às necessidades básicas da sociedade. n
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o mundo caiu... “Se meu mundo caiu
eu que aprenda a levantar” Maysa Como uma cena de filme de ficção, 2020 entra para a história como o ano em que o mundo ruiu. Ruas sem pessoas e todos em casa fugindo de um vírus, chinês, mas um verdadeiro alienígena na aflição humana que se estabeleceu. O 1º mundo e os países periféricos, todos, sem exceção, agindo mais ou menos da mesma forma. Nunca uma gripe foi tão desesperadamente perigosa e potencialmente mortal, ou, ainda se dirá, nunca uma nova realidade de comunicação criou uma onda de pânico como agora, inimaginável aos habitantes da Terra, além dos filmes de Hollywood. Alguns se isolam e outros insistem em seguir como antes, criando um cenário de decisões, também cinematográfico, tipo A escolha de Sofia. Enquanto Sofia escolhia o filho a viver, aqui, em 2020, teríamos que optar pela saúde ou pela economia? Como fazer desses limões uma limonada? A mídia enlouquecida, ou motivada, se soma às teses das redes sociais, ampliando o pânico e os ódios! Teorias de conspiração surgem do nada, e políticos buscam as oportunidades. Em um mês, perdeu-se, no Brasil, a possibilidade de se ter um PIB positivo em 2020, com impactos sobre 2021, com eleições difíceis de ocorrer no 2º semestre. Em crises como esta, os olhos urbanos vermelhos pelo pouco sono se voltam ao colírio do campo, a comida que refresca e fortalece e, mais, que não permite ao agricultor o refúgio do isolamento, afinal, agora, ele ficou essencial. A pandemia causou um anacronismo, um renascimento da cidade murada, numa época em que a prosperidade depende do comércio mundial e do movimento de pessoas " Henry Kissinger
Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio Diretor do Grupo Alto Alegre
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O tamanho da crise no Brasil faz reduzir o comportamento ideológico de política econômica, com o liberalismo namorando Adam Smith, pois, em país de tão grande dispersão de renda, mas muito concentrada, o Estado ganha importância na solução de emergências. Será o “corona-voucher” com diferentes nomes e, vale salientar, com um olhar necessariamente dirigido aos setores com perdas muito relevantes nesse período bicudo. Entre os setores mais afetados, como o comércio e os serviços, o agro exibe força e determinação. Dentro do negócio agro, setores muito pressionados, como hortifrutigranjeiros e o do etanol, merecem foco específico. Primeiro, foi o petróleo, derretendo preços em pleno início de safra no Centro-Sul brasileiro. Depois, a queda impressionante de consumo de combustíveis, e, na carona do coronavírus, o açúcar viu preços caírem de US$ 15 c/lb para US$ 10,5 c/lb em menos de 30 dias. O etanol segue os mesmos passos. A questão global envolve, portanto, uma guerra comercial entre a Arábia Saudita e a Rússia, além de os dois aproveitarem a deixa para arrebentar o shale oil norte-americano. Quanto tempo isso irá durar é difícil de antecipar, pois, além do problema geopolítico do petróleo, a queda de demanda faz crescer o nível dos estoques do produto e dos seus ; derivados em todo lugar.
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edição especial Pensando à frente, tem-se uma visão turvada por espessas fumaças geopolíticas e domésticas, tornando assustadores o curto e o médio prazo. Em termos de visão, quanto tempo durará a crise? O(s) governo(s) pode(m) auxiliar em algo? O que se pode antecipar? As características da crise Petróleo/Covid-19 são muito diferentes das outras, anteriores, mas os resultados são menos previsíveis! O petróleo é uma soma de luta por liderança global e nível dos excedentes, estes agora ampliados pela queda da demanda provocada pela Covid-19, que, do seu lado, acelera a queda do consumo de quase tudo: o agro foi valorizado. Enquanto as ações de governo e da população giram em torno de se ter menos infectados, no caso da nova crise do petróleo, o caso é de negociação entre os EUA, a Rússia e a Arábia Saudita. A pergunta de bilhões de moedas é quanto tempo essas ações darão resultado? 1. O tempo pode ter a duração de 3 a 5 meses, ou mais. 2. O setor canavieiro, exceção ao agro nessa crise, não aguentará uma safra sob essa pressão! 3. As medidas são urgentíssimas e dependem do Governo Federal para reduzir a velocidade de queda dos preços da gasolina, das perdas da Petrobras com importações que sangrem seu cofre e sua imagem, da fragilização de toda a longa cadeia produtiva da cana-de-açúcar, em ano inaugural da lei RenovaBio, além de deixar profundas sequelas para os anos à frente! 4. As medidas seriam no sentido de melhorar a capacidade competitiva do etanol, através do uso de tributos como o PIS/Cofins (isento por um período definido), a Cide (aumentada por período ou por lógica da subida ou descida dos preços do petróleo) e o financiamento dos estoques (warrantagem) por período de 2 anos e taxas compatíveis de juros. A maior fragilidade do setor, que o torna altamente susceptível de ir à UTI com a crise do coronavírus e do petróleo, deve seguir a lógica médica de assistência por período do estresse da fase aguda para que siga, à frente, na busca da descarbonização do combustível na esteira do RenovaBio, com a recuperação da produtividade e da confiança nos investimentos fundamentais ao futuro. O processo, pós-crise, terá nuances de novas perspectivas: muitos grupos mudarão de mãos; a agricultura será mais valorizada na cadeia da cana, com rotação de culturas e preocupação com a biodiversidade nos solos; a informática e toda a tecnologia ligada a ela trarão importante redução de custos, e o mercado é a grande incógnita, na medida do enfraquecimento da OMC e na volta das velhas proteções e subsídios. Isso impõe ao produtor de cana, açúcar, etanol e bioeletricidade a busca frenética de produtividade agroindustrial, modernizando seu modelo comercial e fortalecen; do os laços com a Ásia.
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Opiniões Por outro lado, reforça a necessidade dos investimentos na lógica do setor automotivo brasileiro, da Rota 2030, para os carros flex híbridos, ponte segura para os futuros carros movidos a célula de combustível. As expectativas do pós-Covid-19 quanto aos ritos de saúde, como serão? E aos dos valores ambientais? E qual o impacto disso na visão do comércio mundial? Como os países reagirão, abrindo-se ou fechando-se? No nível macro, a globalização se enfraquece. Caso o presidente Trump se reeleja nos EUA e a China consiga se recuperar mais rápido, tem-se um cenário de protecionismo mais claro. As relações EUA/ China e uma eventual nova Guerra Fria voltam com força. Uma Europa fragilizada acelera a tendência do centro da economia global voltando ao Oriente. As questões ambientais dominarão as prioridades, e o Brasil não fugirá disso. A Amazônia terá maior transparência dos fatos, e tecnologias voltadas a operações mais sustentáveis tomarão conta das empresas. Isso será muito positivo à imagem do País e à do agro, valorizando produtos e atraindo o capital externo. Disse agora Henry Kissinger que, após o coronavírus, “é necessário um governo eficiente e prospectivo para superar obstáculos sem precedentes em magnitude e alcance global. Manter a confiança do público é crucial para a solidariedade social, para o relacionamento das sociedades entre si e para a paz e estabilidade internacionais”. Listou pontos cruciais aos EUA, salientando ser preciso proteger os princípios da ordem mundial liberal: “As pessoas não podem garantir essas coisas sozinhas. A pandemia causou um anacronismo, um renascimento da cidade murada, numa época em que a prosperidade depende do comércio mundial e do movimento de pessoas”. Esse é o novo (mas velho) dilema humano de países, realidades e isolamento, alimentado pela fixação nas mensagens do celular na nova era da informação, na volta do populismo e nas crises de guerras comerciais e fronteiras fechadas. No entanto novas portas sempre se abrem. Há que descobri-las, e a união no País é fundamental neste momento, quando as mortes em um processo cruel da pandemia deixam marcas profundas de fragilidade e solidão. O ano de 2020 será o momento de aceleração da transição da chamada sociedade industrial para a do conhecimento, com a integração da mecânica evoluída à biologia em acelerada evolução. Os esforços em P&D serão fundamentais ao setor sucroenergético, e o seu modelo de desenvolvimento deve ser todo revisto. O RenovaBio será o ponto dessa inflexão, assim como o foram, em momentos anteriores, a implantação do pagamento da cana pela qualidade e a desregulamentação setorial, acontecidos, respectivamente, no início da década de 1980 e final de 1990. n
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2000
2004
2010
2018
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Primeiro equipamento licenciado pelo CTC Centro de Tecnologia Canavieira.
Aços de alta resistência
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etanol: reconhecimento pelo impacto ambiental A crise da Covid-19 traz grandes desafios no curto prazo para o mercado de etanol, pelo choque simultâneo de redução no preço e no consumo. Esse efeito ocorre nos seus dois grandes mercados, EUA e Brasil. O impacto ultrapassa o mercado de etanol e afeta também, pelo menos, os de milho e açúcar. Como estão integrados com outros mercados, esse impacto pode reverberar também na soja e nas carnes. Nos EUA, em condições normais, o etanol absorve mais de 38% da oferta de milho e representa o seu maior uso, maior até do que o seu uso para ração. A crise fez com que o preço do petróleo WTI caísse de US$ 55 para menos de US$ 20 por barril. O preço da gasolina RBOB, que já chegou a US$ 2,25 por galão 18 meses atrás e estava girando em torno de US$ 1,60-1,70 por galão até recentemente, chegou, no auge da crise, a US$ 0,41 por galão e agora gravita entre US$ 0,75 e US$ 0,85 por galão. No curto prazo, a queda no consumo e na produção nos EUA é de praticamente 50%, caindo de pouco mais de 1 milhão de barris por dia para cerca de 500 mil barris por dia. A redução no uso de milho fez com que o seu preço caísse de US$ 4,2 para US$ 3,2 por bushel, e a alternativa aos produtores norte-americanos será exportar o atual excedente. Considerando que os EUA produzem cerca de 350 milhões de toneladas de milho por ano, uma redução de 19% no consumo pode representar mais de 66 milhões de toneladas. Em comparação, no Brasil, o consumo doméstico de milho para todos os usos é de 70,4 milhões de toneladas, portanto esse efeito pode afetar o preço e as exportações de milho do Brasil e da Argentina. No Brasil, a redução no consumo de etanol, que, desde o início de março, é de mais de 20%, pode ter impacto significativo no mercado de açúcar. Em 2019, o etanol usado como combustível, misturado à gasolina (anidro) e usado na frota flex (hidratado),
Apesar de já ser um gigante mundial, a verdade é que, na área agrícola e agroindustrial, o Brasil ainda é um livro com muitas páginas em branco ainda a serem preenchidas. "
Plínio Mário Nastari Presidente da DATAGRO e Representante da Sociedade Civil no CNPE, Conselho Nacional de Política Energética
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representou 46% do consumo de total de combustíveis do ciclo Otto (gasolina pura, etanol anidro e hidratado e GNC), uma marca inigualada em todo o mundo. Em alguns estados brasileiros, esse percentual foi ainda maior: São Paulo, 64%; Minas Gerais, 56,5%; Goiás, 64,8%; Mato Grosso, 70,5%; e Paraná, 51,2%. Mas, diferentemente do que ocorre nos EUA, no Brasil há uma dificuldade adicional. Não se pode armazenar, nem transportar cana a longas distâncias. Uma vez colhida, a cana precisa ser processada em 24 a 48 horas. Sua produção e processamento ocorre em sistema de fluxo, o que é realmente virtuoso como energia renovável, mas depende de um escoamento e de um fluxo de consumo relativamente permanente. É, portanto, diferente do petróleo, cuja produção ocorre pelo sistema de estoque, cuja extração é possível suspender. ;
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edição especial No caso da cana, isso não é possível, e a alternativa é simplesmente deixá-la no campo e perder a produção. A queda no consumo trouxe impacto direto no preço do etanol ao produtor. Em 3 de março, o preço do hidratado ao produtor em São Paulo, livre de impostos, era de R$ 2,16 por litro. Chegou a cair a R$ 1,28 por litro no início de abril e, agora, ensaia uma recuperação ao atingir R$ 1,52 por litro. Graças à relativa flexibilidade industrial, a alternativa natural para aqueles produtores que podem fazê-lo é fabricar mais açúcar. O volume adicional de açúcar que poderá ser gerado depende de fatores como clima, volume de cana disponível, teor de açúcares na cana, quanto da oferta de cana será efetivamente colhida e processada e capacidade dos produtores alterarem o mix de produção, o que depende, inclusive, da opção sobre o tipo de açúcar e de etanol a ser fabricado. Na safra 2019/2020, encerrada em 31 de março na região Centro-Sul, o mix de produção foi 34,3% para açúcar e 65,7% para etanol. Caso o mix se aproxime de 50%, o que já foi atingido antes (2012/2013), a produção potencial de açúcar pode se aproximar de 39 milhões de toneladas, apenas na região Centro-Sul. No Brasil, a produção pode chegar a 42,4 milhões de toneladas. Em comparação, na safra 2019/2020, a produção foi de 26,7 milhões de toneladas no Centro-Sul e 29,55 milhões de toneladas em nível Brasil. Felizmente, esse aumento de produção ocorre no momento em que o mercado convive com déficit no balanço mundial de oferta e demanda do ano comercial 2019/2020 (outubro/setembro), em função das quebras de produção, principalmente na India e na Tailândia. Mas há limites para a capacidade de o mercado internacional absorver toda a produção adicional que pode vir do Brasil. No caso do etanol, além do capital de giro paralisado nos tanques pela redução do consumo, há o limite físico de armazenagem que, ao ser atingido, pode comprometer a continuidade da produção. As dificuldades no curto prazo podem ser grandes, especialmente para os produtores que não puderam ou optaram por não fazer hedge de preço do açúcar, ou para aqueles que simplesmente só fabricam etanol. Antes da crise da Covid-19, o preço do açúcar bruto no mercado mundial chegou a testar 15,5 centavos de dólar por libra-peso em Nova York, o que ofereceu oportunidade de proteção a níveis interessantes, entre R$ 1.500 e R$ 1.600 por tonelada. E, mesmo quando o preço já havia caído para 11,0 a 11,5 centavos de dólar por libra-peso, a desvalorização do real ainda permitiu proteção de preço entre R$ 1.200 e R$ 1.250 por tonelada. Mas nem toda a produção de etanol pode ser convertida em açúcar, e nem todos os produtores dispõem de linhas ; de financiamento para realizar essa proteção.
Opiniões Com esse quadro, o curto prazo é, sem dúvida, desafiador. Mas o que esperar para o futuro? Como o mundo vai se comportar daqui para frente? É muito provável que aumentará a sensibilidade e a percepção do consumidor em relação ao impacto que suas decisões de consumo têm sobre a saúde e o meio ambiente. Já começam a aparecer estudos, realizados por entidades de pesquisa de renome, associando a intensidade do impacto da Covid-19 à qualidade do ar nas grandes metrópoles. Como a Covid-19 afeta a capacidade pulmonar e respiratória, quanto maior for a poluição atmosférica, maior a morbidade e letalidade relacionada à infestação. É provável que a capacidade de os consumidores associarem valor a bens ambientais aumente. Nesse sentido, acredito que há uma luz no fim do escuro túnel em que nos encontramos. Felizmente, desde o início deste milênio, a indústria canavieira e sucroenergética brasileira aumentou consideravelmente o seu grau de sustentabilidade. A mecanização do plantio e da colheita, intensificada a partir do Protocolo Agroambiental de 2007, se mostra estratégica neste momento em que o distanciamento é praticamente uma necessidade. O aumento da flexibilidade industrial para alterar o mix de produção açúcar-etanol também. A crise da Covid-19 coloca o setor do açúcar e do etanol em uma situação delicada, mas da qual deve sair fortalecido. Caso sejam adotadas as medidas preconizadas de distanciamento, as produções de cana e, principalmente, de milho devem continuar expandindo. Apesar de já ser um gigante mundial, a verdade é que, na área agrícola e agroindustrial, o Brasil ainda é um livro com muitas páginas em branco ainda a serem preenchidas. A diversificação via cogeração para produção de bioeletricidade, via biodigestão para a produção de biogás e biometano e via aumento da produção de leveduras e captura de CO2 tende a alavancar a diversificar as fontes de geração de renda e valor. A complementaridade entre cana e milho e a compreensão de que o etanol de milho, cada vez mais, faz parte integral do mercado de etanol de cana precisam ser reconhecidas e valorizadas. Os mercados de etanol, de energia e de proteína animal se integram cada vez mais, agregando valor e gerando produtos de alto valor ambiental e com positivo impacto à saúde. Quando mais pessoas passarem a reconhecer e enxergar essa condição virtuosa, que complementa, dá longevidade e sustentabilidade ao uso de combustíveis tradicionais de origem fóssil, o etanol e os biocombustíveis em geral receberão o reconhecimento e o valor que realmente merecem. E os ativos relacionados à sua produção deverão receber a sua consequente valorização. n
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o que acontecerá se nada acontecer? O futuro deixou de ser o antigo quarto escuro onde as crianças tinham medo de ir brincar. A pandemia se expande, gera novos desdobramentos, e crescem as especulações sobre o futuro do agronegócio, do País e do planeta. Estudos sobre os impactos da Covid-19 sobre o agronegócio, as cadeias produtivas, a sociedade e o futuro do planeta são mais abundantes do que máscaras e luvas de proteção. Haja pdfs e lives. Alguns economistas imaginam uma economia desmundializada; outros veem o fim da globalização; otimistas enxergam a oportunidade de se inventar um novo mundo ou de derrubar governos constituídos; apocalípticos de organismos internacionais preveem uma crise como a de 1929; ecologistas falam da necessidade de se criar um mundo verde, com a redução das emissões e poluentes; outros temem a emergência de Estados liberticidas, como os pequenos tiranos de prefeituras e governos, impondo seus projetos políticos aos cidadãos em nome da “ciência”; outros saúdam o fim do imperialismo norte-americano, o triunfo mundial da China e recomendam como medida prática estudar o mandarim. Em home office. A capacidade humana de se projetar no futuro é, a um tempo, força e ilusão. Em tempos de crise coletiva, escuridão e falta de rumo, a imaginação humana, dopada pela angústia, é de uma fertilidade muito grande. Nem o agrônomo mais otimista sonhou tal fertilidade para os solos. Ela constrói cenários de mudanças radicais. E se, passada a pandemia, nada se passar?
Quem sabe crescer, elevar-se diante do solo dos limites faz deles um adubo. Quem se deixa hipnotizar e paralisar pelas derrotas e limites faz neles um túmulo. "
Evaristo de Miranda Chefe-geral da Embrapa Territorial
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Durante a Segunda Grande Guerra, sobretudo na Europa e na América do Norte, o trabalho de mulheres em fábricas e escritórios para substituir os homens surgiu como uma solução provisória. Ao final dos combates, muitas mulheres não retornaram à vida doméstica. O movimento feminino por mudanças no mundo do trabalho, da política e da sociedade dura até hoje. A guerra acelerou o desenvolvimento tecnológico, dos antibióticos ao radar, da televisão à energia nuclear, e levou à implantação dos sistemas de seguridade e previdência social (aposentadoria) pelo Estado de Bem-estar Social. A fase pós-pandemia trará mudanças. Talvez elas não acontecessem, ou pelo menos não na velocidade e no alcance ocorridos, sem essa catástrofe sanitária quase planetária. O modo de vida social e relacional no ambiente profissional, econômico, de governança e até da política já vive o impacto de novas práticas, como o teletrabalho (home office), a telemedicina (sem receitas!), a e-governança, as votações eletrônicas, o uso de realidades virtuais, a comunicação por vídeo (Face Time, Skype, Zoom), os pagamentos eletrônicos, as compras à distância (delivery) e a onipresença da internet. Ampliou-se a mudança do mundo analógico ao digital, do presencial ao remoto. O relacionamento afetivo é ; ainda mais difícil na solidão da vida remota.
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edição especial A sistematização de hábitos de higiene e comportamentos de prudência preventiva ficarão cristalizados em parte da população, sobretudo numa fração das classes média e alta (na qual já deveria estar) e nos que viveram os traumatismos da pandemia. Daí a transformar o planeta... Gente sem noção compara essa pandemia com a peste negra, a mais devastadora na história humana. Ela também teve origem na China. Pela Rota da Seda, chegou à Crimeia em 1343 e se espalhou. Matou entre 30% e 60% da população da Europa e reduziu a população mundial de 475 para 350-375 milhões. Retornou em vários surtos por séculos. Não dá para comparar. Nem com a gripe espanhola, que, ao que tudo indica, era francesa: essa influenza, esse H1N1, matou 50 milhões no início do século XX. Estamos todos no mesmo barco? Não. Quarentena mesmo só para quem tem recursos financeiros e renda garantida. Hospitais públicos não são iguais aos privados. Estados gastarão mais, serão mais assistencialistas. O mundo sairá mais pobre e desigual do que entrou nessa crise. E seguirá essencialmente como é. Os fatos e a realidade teimosamente já mostram o mundo mais egoísta, cínico, desigual e menos solidário. Há melhor ilustração disso do que a recusa em cortar seus próprios privilégios por parte dos poderes legislativo e judiciário? Ou do que Estados disputando máscaras e respiradores como consumidores por papel higiênico em supermercados? Felizmente, existem voluntários ajudando, pessoal de saúde se sacrificando para curar e aliviar o sofrimento, e muita gente pensando num mundo melhor. Infelizmente, as projeções otimistas e infantis de mudanças utópicas não ocorrerão. O partido comunista chinês, a situação do Tibete, as favelas mexicanas, o incipiente seguro rural brasileiro, a dependência do etanol em relação a políticas públicas, a exploração sexual de menores ou a miséria africana seguirão indeléveis como tatuagens na pele arrepiada do planeta. As mudanças decorrentes das Grandes Guerras e até da Guerra Fria foram geradas por impulsos expansionistas de mercado, comércio e poder. Elas aceleraram o planeta. O mundo atual não está em guerra contra esse coronavírus, mesmo se tantos abusam dessa figura de linguagem. O movimento pode ser classificado – no máximo – como o de resistência a um invasor. É muito diferente. As eventuais mudanças decorrentes da pandemia
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Opiniões da Covid-19 resultarão da imposição de limites, da contração de espaços sociais e da determinação, pelas autoridades, de fronteiras a não serem ultrapassadas, em geral, as do domicílio (para quem o tem). A maioria das pessoas seguirá como é. Para alguns, o limite será fonte de crescimento. Só cresce quem aceita limites. Não se colocam obstáculos aos cavalos nas competições para que caiam. Ao ultrapassá-los, o cavalo vai além. Essa é uma das leis fundamentais do humano: no húmus das dificuldades, derrotas e fracassos, ocorre a verticalização das árvores humanas. Quem sabe crescer, elevar-se diante do solo dos limites faz deles um adubo. Quem se deixa hipnotizar e paralisar pelas derrotas e limites faz neles um túmulo. Esse princípio preside a maioria das artes marciais do Oriente: o adversário não é visto como um inimigo. Ele é aquele que se opõe a um homem para que neste, face a essa resistência, surja uma nova dimensão. Cada humano possui um potencial imenso de desenvolvimento. Cada um é sempre o portador de uma outra realidade, uma outra possibilidade, invisível, infinita, cósmica. Essa outra realidade constitui-se de forças contrárias: uma exige e a outra impede, retarda e atrasa. Isso vale para famílias (tão revalorizadas nesta pandemia!), comunidades, empresas e instituições. Vivemos o que somos. Não por punição, e sim para nomear o que se passa de forma inconsciente e, até então, nos escapava totalmente. Para ampliar nossas dimensões e caminhar. Temos a possibilidade de buscar as fontes de nossas provações e limites no interior de nós mesmos, ao invés de encontrar um bode expiatório no exterior. As provas devem ser transformadas em joias, únicas e de infinito valor. Não é fácil. A ajuda externa é quase inútil. Ninguém pode se colocar no lugar do outro e nem na plenitude dos desafios e sofrimentos vividos por comunidades e empresas ao longo desta crise. Os limites ensinam a existência de passagens, de páscoas irredutíveis e intransferíveis na vida, chamados diferenciadores, únicos, como o próprio ser. Eles chegam como oportunidade de um novo caminho, próprio e apropriado. Muitos seguirão idênticos ou até pior do que antes da pandemia. Não será de forma virulenta, mas algumas pessoas, empresas e instituições saberão ultrapassar os limites impostos pela crise. E o farão já, durante a crise. Os vírus não. Microrganismos não são conservadores, nem revolucionários. Só as pessoas. Aquila non capit muscas. n
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dez anos de transformações em dois meses Começamos 2020 pensando que seria um dos melhores anos para a economia e os negócios no Brasil, com o alinhamento de fatores incomuns em nosso País: taxa de juros baixa, inflação controlada, câmbio favorável e confiança crescente. Dois eventos macroambientais, portanto incontroláveis, surgiram e mudaram radicalmente o cenário imaginado. Uma guerra de preços no petróleo e a pandemia do coronavírus (Covid-19), sendo este de impactos diversos, muitos zeros maior que o primeiro. Passamos por uma situação surreal, vista apenas em filmes, de uma proposta de isolamento que vem afetando muito nossas vidas nas questões de saúde, econômicas, políticas e comportamentais. Neste texto, abordo mudanças comportamentais com significativos impactos no futuro. Faço escolhendo e analisando um conjunto de 10 palavras, para facilitar tanto a leitura como propiciar o entendimento de como cada uma pode afetar, no futuro, o ambiente dos negócios. Ressalto que é incrível este momento, apoiado em pelo menos cinco dos preceitos que iluminaram o Arcadismo, movimento literário do século XVIII. 1. Digital: Empresas e pessoas entraram no mundo digital de forma irreversível, e esta será, cada vez mais, a plataforma de vendas, de relacionamentos, de avaliação e de construção de valor. Obtiveram-se metas de cinco anos atingidas em 20 dias. O on-line na aquisição de serviços, conteúdos e outros passará a ser o preponderante, e os espaços físicos terão que se adaptar a isso, pois se vivenciará uma redução na velocidade de crescimento de centros de compras e outras formas. O digital também afeta fortemente a área de educação, que precisará rever o que é presencial e o que é digital, e todo esse conteúdo gratuito servirá a populações mais carentes, oferecendo acesso domiciliar. Se conciliarmos os jovens que tudo dominam do digital com os idosos que quase tudo dominam de conceitos e sabedoria, teremos materiais sensacionais
desse esforço em “dobradinha”. Atendimentos digitais também vieram para ficar, como nas áreas médicas e de saúde em geral, e as pessoas aprenderão a se acostumar com menos qualidade para poderem ver o que querem, principalmente nos grandes meios de comunicação, com as entradas diretas de entrevistados a partir de suas casas, aliás, que gostoso “entrar dentro das casas das pessoas”. Afetou também, de forma definitiva, a cultura e a entrega de entretenimento, e as lives, que atraíram milhões em todos os sentidos (de engajamento, de público, de doações, de patrocínios) e que foram impulsionadas pelos cantores sertanejos no Brasil representando um fenômeno na história da difusão da arte. 2. Casa: ficou evidente com o trabalho em casa que, nas posições administrativas, o que antes se julgava que não vingaria, funcionou e ainda com grande eficiência. Será visto que aquele grande volume de voos, de viagens de carros para reuniões e outros, se reduzirão, pois todos se acostumaram às reuniões via plataformas de conexão, que funcionaram incrivelmente bem. Empresas também perceberão que não precisam de tantas pessoas nas atividades administrativas, comerciais e de vendas, portanto acredito num downsizing. Redução da demanda por imóveis comerciais, downsizing de escritórios e de pessoas (overheads) e redução de necessidades de transporte. E poderá voltar a crescer o segmento de turismo, pois, agora que se está permanecendo mais tempo em casa, não viajando, a vontade de viajar com a família, e não de ficar em casa no final de semana, pode voltar. Esse fato pode valorizar o morar mais no campo, nos arredores, nos menores centros e menos nos grandes centros. O viver em casa, ao lado da família, dos filhos, ressaltou nas pessoas um dos principais e mais conhecidos preceitos do Arcadismo, o carpe diem, aproveitar o dia, o presente, a realidade do momento. Contemplar, ou uma palavra que, em espanhol, se usa ; muito: desfrutar.
Esta reflexão pessoal, com certeza não será unânime, alimentará controvérsias e contestações, porém é um exercício sobre o que pode ser um futuro próximo, não para toda a população, mas para parte dela, e também não sei por quanto tempo, sendo meu modo de sentir e projetar o advento Fernandode um novo tempo. " Cerradinho Bionergia
Marcos Fava Neves
Professor Titular da FEA/USP-RP e da Purdue University, EUA
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Opiniões 3. Simplicidade: neste período em isolamento, boa parte das pessoas vem aproveitando do tempo domiciliar para reorganizar armários, estantes e outros compartimentos caseiros; materiais estão sendo doados, pois se percebeu não serem necessários. Creio que uma vida de mais simplicidade se aproximou, com o questionamento “será que preciso disso?” sendo mais realizado daqui por diante. Isso traz impactos no consumo de muitos produtos. Daremos mais valor aos detalhes, às pequenas coisas, ao local, ao feito na minha região, ao meu bairro, à sabedoria vinda da simplicidade. Na linha da simplificação, muitos aplicativos foram criados e permitirão grandes ganhos nos negócios, conectando ofertantes e demandantes, de maneira simples e fácil; além disso, com simplicidade, aderimos aos modelos de entregas (delivery), que explodiram neste período e, pelo jeito, vieram para ficar. Os árcades usavam o conceito da aurea mediocritas, dizendo que, para se atingir a felicidade, não seria necessária riquezas e posses. Há o lado perverso desse comportamento, de um menor consumismo, pois ele é destruidor de postos de trabalho e contribuirá para aumentar o desemprego no mundo, e aqui teremos que ser criativos para pensar em formas de trabalho e de renda mínima, formas de inclusão sustentável de pessoas. 4. Engajamento: esse período de reflexão fez as pessoas aumentarem suas ações sociais, sua vontade de se engajar em causas, conectadas pelas mais diversas formas, e creio que esse movimento se estabelecerá. Causas, principalmente sociais, terão mais adeptos, e uma vontade de trabalhar com o desafio comum aumentará muito. Aumentarão a solidariedade, a doação para avaliações on-line, orientações e recomendações gratuitas a outras pessoas, participação em “clubes” e outras formas de engajamento. Nesse cenário, surgirá um protagonismo social muito maior das empresas e das pessoas, pensando nos menos favorecidos. 5. Neocoletivismo: na linha do engajamento citado, creio que um novo comportamento pró-coletivo deverá ganhar força, e, com isso, os modelos cooperativistas e associativistas encontrarão significativo espaço e, ainda, se beneficiarão da possibilidade de comunicação digital com suas bases de associados. Mecanismos de crowdfunding, criação das comunidades e outras formas de fazer os pequenos se tornarem grandes. Menos “eu” e mais “nós”, mais o “ser” e menos o “ter”. 6. Neonacionalismo: uma volta da valorização, por consumidores, daquilo que é produzido no País e governos tentarão ver que insumos fundamentais poderão ser elaborados internamente, visando à redução da dependência internacional. Haverá uma priorização da pesquisa, desenvolvimento e inovação visando à fabricação local. Valorização do made in Brazil, do turismo no País e outros. Nasce uma nova percepção de soberania no mundo, e o Brasil tem como ser protagonista no fornecimento seguro e ambientalmente limpo de alimentos ao planeta.
7. Infotoxicação: neste período de isolamento, as pessoas estão submetidas a um volume brutal de informações, com redes de mídias e TV 24 horas dedicadas ao mesmo assunto; as tradicionais matérias negativas se sobrepondo, em muito, às positivas; grupos enlouquecidos de WhatsApp e outras formas que provocaram o pânico ─ o que está exigindo, em muitos casos, tratamento psicológico; por sua vez, isso também trouxe, para parte da população, o “aprendizado de filtro”. Às suas maneiras, pessoas ficaram mais treinadas para selecionar o que é relevante, verificar as fontes e ajustar o volume de informações à sua capacidade de tolerância. Alguns precisarão de ajuda, e profissões, como a psicologia, ganharão espaço. Os árcades se inspiravam no conceito de inutilia truncat, ou seja, excluir o inútil. 8. Monitoramento: os sistemas digitais aliados às necessidades de saúde farão com que as pessoas tolerem o monitoramento de comportamentos, deslocamentos e outros. Creio também que isso trará um enorme impacto nas questões de segurança pública, devendo reduzir propensão ao crime e outras atividades, pois os rastros estarão evidentes e à disposição das autoridades. Uma nova fase de transparência se aproxima, em que a sociedade civil poderá, digitalmente, acompanhar todos os processos que envolvem o Estado e suas compras, fazer comparações, avaliações e outros. 9. Sanidade: em meu julgamento, essa será outra mudança comportamental. Muito conhecimento, entre outros, sobre saúde, higiene, limpeza, contaminações tem sido compartilhado, e parte dele ficará com a população após a crise. Trará também muitos impactos. Haverá uma valorização da pesquisa na área da infraestrutura e do acesso das pessoas à saúde e aos seus procedimentos, e o Estado terá papel fundamental nessa área para investir e garantir saúde a todos. 10. Natureza: neste momento, a natureza e o meio ambiente vêm ganhando maior espaço. A valorização dos seus detalhes, de suas espécies, de nascer e do pôr do sol, sua preservação, da noção do quão poluidor é o ser humano urbano e seu modo anterior de vida trazem à lembrança, segundo árcades, dois preceitos: o fugere urbem e o locus amoenus, que pregavam a vida mais afeita ao campo, ao bucólico, à natureza. A natureza ganhará com o tempo que sobrará, para maior contemplação e valorização de sua existência. Essas são as 10 palavras selecionadas para tentar traduzir mudanças comportamentais advindas deste período de isolamento, quarentena e reflexões pessoais. Esta reflexão pessoal, com certeza, não será unânime, alimentará controvérsias e contestações, porém é um exercício sobre o que pode ser um futuro próximo, não para toda a população, mas para parte dela, e também não sei por quanto tempo, sendo meu modo de sentir e projetar o advento de um novo tempo. O interessante, agora, é um exercício em cada uma delas para entender como essas mudanças afetarão os negócios, trazendo uma nova configuração. Em tempos de reinvenção, fica minha contribuição para as ações e para as melhorias esperadas. n
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Junto com o setor sucroenergético, ajudando a manter as luzes acesas. Quando o mundo como conhecemos parece parar, nós permanecemos focados em manter a energia fluindo, trabalhando junto com o setor sucroenergético para assegurar que a produção de energia limpa e o apoio à produção de alimentos e combustíveis renováveis não pare.
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um alerta global para zoonoses e segurança do alimento O Brasil deve liderar a busca de novos paradigmas de sanidade animal nas cadeias agroalimentares. A forte relação entre zoonoses, sanidade animal e segurança do alimento será um dos principais temas a serem revistos no mundo pós-Covid-19. Zoonoses são doenças causadas por vírus e outros patógenos que contaminam animais, podendo ou não “pular” entre espécies e infectar seres humanos. Exemplos recentes são influenzas, HIV, Ebola, Sars e Mers. O coronavírus é só mais um que atinge humanos. E não será o último. As primeiras pessoas infectadas pelo coronavírus frequentaram o mesmo mercado de produtos frescos e perecíveis em Wuhan, na China. Trata-se de um típico wet market ou “mercado molhado”, nome que se origina do uso frequente de água ou gelo para conservar produtos perecíveis, além da lavagem do recinto com água para escoar sangue e resíduos. A maioria dos wet markets não dispõe de refrigeração adequada, daí o nome “molhado”, em vez de resfriado ou congelado, formas que conservam melhor o produto.
Mais da metade da venda de alimentos frescos (frutas, verduras, carnes e pescados) nos países em desenvolvimento é feita em mercados desse tipo, onde o controle sanitário costuma ser bastante frouxo. Muitos deles também oferecem animais domésticos vivos para abate, que ficam presos em gaiolas ou pequenos espaços e são abatidos, eviscerados e cortados no próprio mercado, de acordo com a demanda do cliente. Não raro, tais mercados têm ainda uma seção de “animais silvestres e exóticos” que oferta alguns tipos de roedores, macacos, tatus, tartarugas, sapos, morcegos e cobras, vendidos no mesmo modelo dos animais domésticos. Vale lembrar que mais de 800 milhões de pessoas se alimentam de animais silvestres, principalmente na Ásia e na África, a maioria por razões nutricionais e via autoconsumo, sem aglomerações. O problema de que estamos tratando é a existência de criação ou caça comercial de animais silvestres, que acabam sendo vendidos nos mercados molhados, elevando o risco de transmissão de zoonoses. Em outras palavras, uma parcela dos wet markets oferta animais domésticos e silvestres (vivos ou convertidos em carnes e subprodutos) no mesmo espaço sujo e comprimido em que circulam centenas de pessoas todos os dias. No período que trabalhei na Ásia, visitei vários desses mercados de padrão século XIX (ou antes), encaixados em megacidades, ao lado de prédios moderníssimos de padrão século XXI. A sensação era a de andar dentro de uma “bomba biológica” de alta periculosidade. Mas nunca imaginei que ela poderia ; ser tão avassaladora.
No período que trabalhei na Ásia, visitei vários desses mercados de padrão século XIX (ou antes), encaixados em megacidades, ao lado de prédios moderníssimos de padrão século XXI. "
Marcos Sawaya Jank Professor de Agronegócio Global do Insper e Titular da Cátedra Luiz de Queiroz, da Esalq-USP
Opiniões Acontece que as cadeias produtivas de alimentos são muito heterogêneas no mundo, seja na propriedade rural, no processamento, na distribuição ou no varejo. Empresas multinacionais que seguem os melhores padrões sanitários globais convivem no mercado com espeluncas que abatem e evisceram animais na frente do consumidor, sem nenhuma fiscalização. Dois pesos e duas medidas na aplicação de leis sanitárias. Régua alta para alguns, baixa para outros. A solução para esse problema, que está na raiz da epidemia, é o controle sanitário rígido dos wet markets, incluindo coibir a caça comercial ilegal de animais silvestres, além da aplicação efetiva de legislações sanitárias e punição exemplar dos abusos. Mas há outros fatores de mudança, em que o Brasil tem vasta experiência e muito a ensinar. São eles: 1) a criação e a manutenção de cadeias frias desde, o abate dos animais até a preparação final da comida; e 2) o modelo de “integração vertical” produtor-processador vigente nas cadeias de aves e suínos – indústrias alimentares e cooperativas oferecem animais para engorda, rações, vacinas, medicamentos e assistência técnica plena a seus produtores integrados, melhorando a sanidade e a segurança do alimento. O Brasil também tem desafios internos a serem vencidos em sanidade animal, tais como a aplicação uniforme da legislação em todo o território nacional e o controle sanitário efetivo das nossas fronteiras. Mas não há a menor dúvida de que estamos muito à frente da grande maioria dos países, particularmente do mundo em desenvolvimento. Não seríamos líderes globais na exportação de carnes bovina, avícola e suína para mais de 150 países se não tivéssemos um sistema sanitário de padrão global, que pode e deve ser melhorado após esta pandemia. Acredito que o Brasil deveria assumir posição protagonista nos debates sobre sanidade humana e segurança do alimento, que certamente vão ser realizados na OMS, na FAO, no G-20 e na Organização Internacional de Epizootias (OIE). A queda do Muro de Berlim, em 1989, marcou a reorganização política do mundo, com o fim da Guerra Fria. Em setembro de 2001, o atentado às torres gêmeas de Nova York marcou a reorganização da segurança internacional, com a conscientização sobre os riscos do terrorismo global. O coronavírus marcará a reorganização da sanidade humana, que descobriu sua inimaginável fragilidade ante a globalização. Alguns acharão que isso representará uma crise para o agronegócio. Eu prefiro ver como uma oportunidade de valorização e aprimoramento do nosso papel no mundo agroalimentar. n
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reflexões na tempestade O ano de 2020 foi muito aguardado pelo setor sucroenergético. Seria a inauguração de um novo capítulo na nossa história, com o início do RenovaBio e a abertura de um mercado totalmente novo no País: o de crédito de carbono, com os CBios. Registramos um recorde de consumo de etanol em 2019, chegando a substituir 48% da gasolina no País, e trabalhávamos com o horizonte de ampliação da demanda regida pela política nacional de biocombustíveis. Além da perspectiva positiva do etanol, o mercado de açúcar, marcado por excesso de oferta nos últimos ciclos, começou a mudar, colocando a trajetória de preços numa curva ascendente. Em resumo, tínhamos uma bela rota de voo à nossa frente. No final de março, encerramos mais uma safra recorde de produção de etanol, com o volume de 33,3 bilhões de litros, além de 26,8 milhões de toneladas de açúcar. Puxamos as vendas de maquinário agrícola em março, com crescimento de 162% em relação ao mesmo mês do ano passado,
A história mostra que é em momentos de dificuldade que temos, como sociedade, a oportunidade e o dever de refletir sobre o que queremos para o futuro. "
Evandro Gussi
Presidente da Unica, União da Indústria de Cana-de-Açúcar
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num total de 176 colhedoras de cana-de-açúcar comercializadas, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores. Ou seja, o setor estava otimista e trabalhando para ampliar a oferta de seus produtos, até que o cenário mudou, não só para nós, mas especialmente para nós. A Covid-19 restringiu a circulação de mais da metade da população, e, em meados de março, formou-se a tempestade perfeita: queda em mais de 50% na cotação internacional do petróleo, também graças à guerra entre russos e sauditas, e correspondente redução no preço da gasolina; redução de quase 40% do preço do etanol para patamares abaixo do custo de produção; retração drástica no consumo de combustíveis leves por causa do isolamento e queda superior a 20% na receita com exportação de açúcar, mesmo após a desvalorização cambial – o mercado devolveu ganhos aos perceber que ; o Brasil ampliaria a oferta da commodity.
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edição especial A história mostra que é em momentos de dificuldade que temos, como sociedade, a oportunidade e o dever de refletir sobre o que queremos para o futuro. Foi fazendo escolhas em momentos difíceis que nos tornamos o segundo maior produtor de biocombustível no mundo e ocupamos uma posição de destaque global em energia renovável. Entendemos que a rota não mudou: manteremos essa posição quando a crise passar, desde que os desvios táticos – como aqueles frente a tempestades na travessia do Atlântico – sejam realizados. Mesmo no ápice da crise, o setor não abre mão de seu compromisso com o mercado livre. Trabalhamos em medidas extraordinárias e temporárias, já que as circunstâncias são evidentemente excepcionais e – esperamos – temporárias. Na década de 1970, quando os países produtores de petróleo mantinham o mundo refém, o Brasil deu o pontapé inicial de sua política de álcool combustível. Desde então, passamos por altos e baixos, por mudanças regulatórias e de tecnologias automotivas, até o lançamento dos carros flex fuel e o empoderamento de escolha do consumidor, que passou a dispor não só de um combustível mais barato, mas de efetiva mobilidade sustentável. Hoje, são 360 usinas e destilarias, além de 70 mil produtores rurais que, juntos, oferecem cerca de 750 mil empregos formais diretos e mais de 1,5 milhão de postos indiretos. Precisamos pensar no agora, momento em que a saúde e a segurança de todas as pessoas é prioridade total, mas também em como o País irá enfrentar os desafios que nos preocupavam antes da Covid-19 – aquecimento global, segurança energética, poluição atmosférica, geração e manutenção de emprego e renda, dentre inúmeros outros. Desafios esses para os quais o setor sucroenergético vem oferecendo soluções sustentáveis e eficientes ano após ano. Quando falamos de poluição atmosférica, temos, em São Paulo, um exemplo de megalópole que não enfrenta os efeitos nocivos da má qualidade do ar, como Nova Déli ou Pequim. No início de 2020, a média de concentração de Partículas Inaláveis Finas (MP 2.5) – poluente com maior efeito nocivo à saúde, pois é capaz de chegar a pontos mais profundos dos pulmões –, em Nova Déli, foi de 157 µg/m3, seis vezes mais do que o estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No mesmo período, a cidade de São Paulo registrou cerca de 27 µg/m3. Parte dessa diferença entre as megalópoles deve-se ao uso de etanol (E100) nos carros e motos flex e do etanol anidro ; misturado em 27% na gasolina (E27).
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Opiniões Isso porque o etanol de cana-de-açúcar praticamente zera a emissão de material particulado e outros poluentes nocivos à saúde quando comparado à gasolina, além de reduzir em 90% a emissão de gases causadores do efeito estufa (GEE) frente ao fóssil, ao analisarmos o ciclo de vida. Segundo estudo da USP, o uso do etanol combustível nas oito principais regiões metropolitanas do Brasil tem sido responsável pela redução de quase 1.400 mortes e mais de 9.000 internações anuais ocasionadas por problemas respiratórios e cardiovasculares associados ao uso de combustíveis fósseis. Trata-se de uma economia de R$ 430 milhões por ano para o sistema de saúde público e privado. A cana-de-açúcar tem contribuído com o aumento da oferta de energia no Brasil, ao mesmo tempo que diminui as emissões totais de CO2 da nossa matriz. Segundo o BP Stats Review 2019, as emissões de dióxido de carbono cresceram 2% em 2018, no mundo, a maior taxa registrada nos últimos sete anos, puxadas pelo incremento na demanda por energia primária global (+ 2,9%). Nesse contexto, o Brasil registrou crescimento de 1,3% no consumo de energia primária, enquanto reduziu em 3,7% as emissões de CO2 em 2018. Grande parte desse feito deve-se à matriz energética renovável (45%) que incentivamos como política estratégica nacional, da qual a cana-de-açúcar participa com 17,4%. E estamos só no início. Estimativas do Instituto de Energia e Ambiente da USP (IEE-USP), indicam enorme potencial para a produção de energia elétrica e de biometano a partir do biogás da vinhaça, da palha e da torta de filtro, subprodutos da cana, no território paulista. O biometano gerado a partir da matéria-prima que temos disponível atualmente seria capaz de substituir 70% de todo o diesel consumido no estado de São Paulo, ou 80% do consumo total de gás natural no território paulista, em 2018. Já a geração de bioeletricidade a partir do biogás poderia atender a 93% do atual consumo residencial de eletricidade em São Paulo. Com isso, a pegada de carbono do ciclo da cana-de-açúcar seria ainda menor, chegando a patamares negativos. Temos, no Brasil, uma realidade e um potencial que muitos países buscam alcançar. E, em momentos como o atual, com tamanhos desafios, precisamos refletir o que queremos para o futuro. E a nossa resposta é simples: queremos continuar tendo a possibilidade de escolher um combustível mais sustentável, queremos continuar reduzindo as nossas emissões. Desviaremos da tempestade, sem perder o foco da rota original. n
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e quando essa tempestade passar?
as energias renováveis pós-Covid-19
O setor de energia renovável está sentindo os efeitos da pandemia do coronavírus (Covid-19) e dos baixos preços do barril de petróleo. O novo contexto, que está acometendo a economia global e as expectativas de curto prazo, nos fez recobrar o quão importante é a evolução da oferta e da demanda petrolífera para os mercados. No entanto é preciso estar atento às implicações desse novo cenário, também, nas cadeias que concorrem com o petróleo e seus derivados, como é o caso das energias renováveis. A crise de coronavírus pode ser a grande oportunidade ou a derrocada da transição energética no mundo? Essa é uma questão que se coloca para o pós-crise. Desde o início de Abril, já começaram a surgir histórias de empresas de energia renovável sendo afetadas pela desaceleração econômica e queda dos preços do petróleo. O trauma macroeconômico causado no mundo pela Covid-19 criou inúmeras incógnitas sobre a matriz energética mundial, e é difícil prever o comportamento dos investimentos em energias renováveis. Nos EUA, a pandemia colocou o pipeline de projetos de curto prazo do setor de energia eólica em risco – 44 GW e cerca de 35.000 empregos. Já na Europa, os projetos parecem mais otimistas e corajosos, e os investimentos até agora estão “nos trilhos”. Nos biocombustíveis, a questão também é mundial. Na Europa, os produtores estão reduzindo ou direcionando a produção para matéria-prima do álcool desinfetante para as mãos. Na Ásia, os esforços para ampliar o uso dos biocombustíveis estão sendo prejudicados. E, nos Estados Unidos, as usinas de etanol de milho estão fechando.
Os EUA se tornaram o novo epicentro da pandemia da Covid-19 no momento em que se inicia a safra 2020/2021. Além disso, a gasolina no país atingiu a maior redução observada em 20 anos, apresentando os preços na bomba abaixo de US$ 1 por galão em alguns estados. Com a depreciação nos preços dos combustíveis, as empresas esmagadoras de milho para a produção de etanol e outros derivados começaram a ter margens negativas. Os produtores de biocombustíveis e os agricultores norte-americanos comercializam cerca de um terço de suas colheitas de milho com a indústria de etanol. Com mais 200 usinas de etanol existentes no país, é certo que a produção será reduzida ou ficará ociosa. Em reunião realizada recentemente, industriais resolveram fechar, temporariamente, 30 plantas processadoras de etanol de milho nos EUA, até que as margens melhorem. Com base em dados das restrições e estatísticas da Covid-19 da US Energy Information Administration (EIA), economistas da Universidade de Illinois estimaram que o consumo de etanol nos EUA cairá 143 milhões de galões em março, 391 milhões de galões em abril e 207 milhões galões em maio de 2020, uma redução total de 741 milhões de galões em três meses. Com a queda da demanda, os produtores estão buscando por armazena; mento e tancagem.
O mundo pós-coronavírus pode ajudar, na medida, que investimentos que permitam melhorar a qualidade de vida deverão ser privilegiados. E o setor de energia e saneamento é foco "
Adriano José Pires Rodrigues e Fernanda Delgado
Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura - CBIE, e Professora e pesquisadora da FGV Energia, respectivamente
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edição especial Os produtores norte-americanos de etanol, que já vinham sofrendo com percalços, como clima severamente adverso e a guerra comercial com a China, agora contam com novos desafios. Diante das dificuldades, a indústria de etanol dos EUA decidiu pleitear com o governo de Donald Trump tratamento equivalente ao dado à indústria petrolífera do país. A categoria pediu que o governo não conceda mais isenções ao cumprimento das regras do Padrão de Combustíveis Renováveis (Renewable Fuel Standard – RFS, em inglês). Também houve solicitação de concessão de crédito e de redução de impostos. No Brasil, os produtores de biocombustíveis, sobretudo os do setor sucroalcooleiro, estão passando por dificuldades semelhantes. A previsão de queda significativa da demanda por combustíveis afetará em cheio o setor de etanol. Diante disso, as distribuidoras e revendedoras serão obrigadas a aumentar seus estoques, em função das obrigações contratuais com os fornecedores. Aparentemente, a indústria brasileira de etanol e biodiesel não resistirá a essa crise caso o preço do petróleo permaneça em níveis próximos aos US$ 20-25 por barril. Portanto são necessárias ações urgentes para que a indústria consiga resistir. Seria favorável ao setor a imposição do Imposto de Importação ao óleo cru e/ou o aumento da alíquota da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE-Combustíveis) para a gasolina e o diesel. Outra medida interessante seria a criação de uma linha de financiamento do BNDES atrelada ao programa federal RenovaBio, de forma a garantir, ao menos, a manutenção dos investimentos em produtividade. A ausência de medidas em auxílio aos biocombustíveis pode acometer, ainda neste ano, um pedaço relevante dos mais de um milhão de empregos do setor no interior do Brasil. Diante desse cenário, a questão maior é como a transição energética e as indústrias de energias renováveis vão emergir no período "pós-Covid-19" e quais perspectivas para esse mercado. Como o historiador Yuval Noah Harari colocou sobre os possíveis resultados geopolíticos da pandemia, "Devemos nos perguntar não apenas como superar a ameaça imediata, mas também que tipo de mundo vamos habitar quando a tempestade passar". PRINCIPAIS NECESSIDADES CONTEMPORÂNEAS DE BIOENERGIA EM 2050 (IRENA)
Nota: Mais de um terço do consumo total de energia proveniente de fontes renováveis em 2050 deve vir da bioenergia moderna.
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O chefe da Agência Internacional de Energia (AIE), Fatih Birol, pediu aos governos de todo o mundo que aumentem os gastos em tecnologias como eólica, solar, hidrogênio e captura e armazenamento de carbono (CCS) em seus planos de estímulo econômico, acelerando a transição para uma matriz mais limpa. O tamanho e a forma das oportunidades para as energias renováveis dependerão, em grande parte, de como as empresas internacionais de petróleo redirecionarão seus investimentos de capital – ou se os governos compreenderão a provocação e canalizarão os subsídios aos combustíveis fósseis para o desenvolvimento de uma matriz energética mais limpa e renovável. No curto prazo, mercados terão que se adaptar a um novo cenário energético, no qual os insumos de produção de energia não se encontram nas mãos de poucos produtores. Nesse sentido, novas dinâmicas de mercado, que não focam em ciclos de apenas uma commodity, terão que ser desenvolvidas e estabelecidas. Note-se que a interseção entre geopolítica e energia ocorre há mais de um século em torno do mercado de combustíveis fósseis. Esse panorama deve mudar com a inserção dos renováveis na matriz energética global. Por mais que existam incertezas em torno do processo, um domínio global do sistema energético por renováveis tende a gerar um mercado mais estável, calmo e justo. O caminho para que se alcance isso é, contudo, desconhecido, mas certamente reside no desenvolvimento de ideias e tecnologias inovadoras. O mundo pós-coronavírus pode ajudar, na medida, que investimentos que permitam melhorar a qualidade de vida deverão ser privilegiados. E o setor de energia e saneamento é foco, devido à questão do clima e da atual crise ser, antes de mais nada, uma crise da saúde publica. Em suma, futuramente, no longo prazo, combustíveis fósseis continuarão sendo uma opção energética, mas não mais a majoritária. Haverá́ , ao invés disso, diversidade energética com foco em baixa emissão de gases de efeito estufa. O mercado energético mundial tenderá a ser mais desconcentrado, mais regionalizado e com multipolaridade de agentes. Por consequência, mercados convergirão para estabilidade, e conflitos geopolíticos serão suavizados. n
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o desafio é enorme, mas a nossa vontade é
ainda maior
Podemos dizer que o Brasil começou a se tornar uma nação de verdade após o advento do cultivo da cana-de-açúcar... Palavras de um apaixonado pelo setor? Talvez... Mas não podemos fugir do fato de que essa cultura trouxe ao nosso País oportunidades para romper barreiras, aumentar divisas e atrair investimentos, além de ter mudado a forma de enxergarmos o valor do Brasil para a bioeconomia mundial. Em um país de culturas tão diversas, a cana-de-açúcar ainda se mantém na ponta como base de uma das principais atividades agrícolas e industriais do Brasil. Principalmente devido à alta tecnologia desenvolvida por esse segmento em nosso País, o que o tornou, junto com sua diversidade na matriz energética, referência na produção de energia limpa e renovável para o mundo. Mesmo em um cenário tão complexo como o que se apresenta com a pandemia de Covid-19, a indústria bioenergética continua se destacando, seja por meio da doação de álcool em gel para hospitais que atendem via SUS, em parceria com grandes instituições líderes do setor, seja mantendo ativa sua indústria para a produção de biocombustíveis, alimentos e energia, em um momento em que existem tantas questões e necessidades essenciais em jogo. Sim, a nossa economia corre um risco nunca antes imaginado com a pandemia. Mas quero aproveitar este momento para me dirigir aos empresários do setor sucroenergético do Brasil por meio de uma metáfora que casa muito bem com a imagem que tenho deles: highlanders.
Fernando
Como aceitar que os carros elétricos híbridos da Europa sejam considerados soluções 'limpas' quando todos sabemos que a energia elétrica de lá passa, necessariamente, pelas carvoarias? "
Cerradinho Bionergia
Paulo Montabone Diretor da Fenasucro e Agrocana - Reed Exhibitions
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É assim que os enxergo, e por quê? Eles insistem em sobreviver e se reinventar, mesmo quando tudo está desfavorável, com mudanças praticamente diárias de cenários, dificuldades impostas pela legislação, proteção a commodities mundiais e qualquer obstáculo que surja, incluindo uma pandemia planetária. E é nesse contexto que exalto o RenovaBio, uma das mais importantes e significativas contribuições do País a esses “guerreiros da energia”. Esse programa do Governo Federal permite que as indústrias bioenergéticas repensem seus negócios e aproveitem mais oportunidades de agregar valor ao seu modo de produzir energia limpa para o mundo. E isso não é pouco, se considerarmos que essa política tornará o mercado de biocombustíveis mais competitivo e diminuirá as emissões de gases do efeito estufa, umas das principais metas do acordo de Paris – e praticamente nenhuma outra indústria possui solução para cumprir, diga-se de passagem.;
Opiniões Mais uma vez, a indústria bioenergética sai na frente e traz soluções e tecnologias que a fazem se destacar como vanguardista justamente no momento em que o planeta anseia por uma indústria mais eficiente, mais produtiva e, o principal, menos poluente e mais sustentável! Se isso não é motivo de orgulho para a maioria de nós, brasileiros, já passou da hora de ser! Se queremos deixar como herança para nossos filhos e netos um mundo mais limpo e sustentável, o Brasil já dá passos largos nesse sentido quando permite que a indústria bioenergética (que também já foi chamada de sucroalcooleira e sucroenergética) se desenvolva e supere todos os obstáculos necessários para oferecer ao mundo bioprodutos que estejam em linha com as novas necessidades globais. Mas, com tudo isso, o mercado de bioenergia do Brasil ainda não aprendeu a se posicionar. Já somos a indústria mais eficiente, limpa e sustentável do mundo. Estamos alinhados ao que o planeta definiu como base para a manutenção da vida como a conhecemos hoje; então, por que nosso País insiste em importar petróleo em detrimento do etanol? Como aceitar que, atualmente, ainda existam pessoas que preferem encher o tanque do automóvel com gasolina quando temos a opção do etanol, mais limpo e mais barato? Como aceitar que os carros elétricos híbridos da Europa sejam considerados soluções “limpas” quando todos sabemos que a energia elétrica de lá passa, necessariamente, pelas carvoarias? Como aceitar que as pessoas ainda não reflitam que uma cidade como São Paulo tenha condições de sobreviver, sem que os cidadãos obrigatoriamente tenham que usar máscaras em seu dia a dia, para não inalarem CO2 o tempo todo, graças aos automóveis movidos a etanol? Falta posicionamento, falta valorização real dos brasileiros pelo que eles fazem de
melhor, e, indo um pouco mais além, me permito dizer que falta um trabalho inovador e comprometido do setor, em todas as suas frentes, de se comprometer com um plano de marketing e comunicação que apoie tudo que já vem sendo feito por essa indústria. O nosso novo Planeta já é uma realidade e está aqui, no Brasil. Só falta conseguirmos mostrar isso ao restante do mundo de uma maneira mais eficiente, assim como já fazemos todo o resto. O desafio é enorme, mas nossa vontade é maior ainda. n
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edição especial
uma nova sociedade A futurologia é realmente uma ciência desafiadora – utilizar padrões do passado e do presente para prever cenários plausíveis de ocorrer no futuro. Longe de ser uma ciência exata, ela busca estabelecer padrões que servem de base para tomada de decisões; nem sempre, porém, indicam o caminho correto. O exercício que faremos aqui não é uma previsão futurológica, pois, diferentemente dos futurólogos, muitas vezes distantes dos fatos e de suas consequências, sou, assim como você, um observador privilegiado da realidade, por estarmos vivenciando esse turbilhão de acontecimentos que estão moldando a sociedade neste exato momento. Somos agentes ativos e passivos dessa transformação. Analisemos, por exemplo, a questão do trabalho. O mundo moderno é muito complexo e diversificado, onde convivem sistemas pré-capitalistas de produção e polos desenvolvidos e dinâmicos.
Mesmo ciente de que as transformações ocorrem em ritmos diferentes em cada realidade, a crise da Covid-19 nos evidenciou uma nova forma de desempenhar atividades produtivas. A efetividade do modo remoto de produzir e decidir é revolucionária. Percebemos que quem trabalha remotamente não trabalha menos ou com menor qualidade. Hoje, com as tecnologias de videoconferência e de salas imersivas, consigo realizar encontros virtuais com assessores em Brasília, com entidades em São Paulo e ainda participar das sessões da Câmara dos Deputados. Como todo avanço, entretanto, ele impõe novos desafios, como o de manter o sigilo e a privacidade das pessoas para que não surja o “Grande Irmão”.
Seremos outra sociedade quando pudermos sair livremente às ruas. Surgirão novas formas de organização e novos conceitos de produção e consumo, mas, que no centro de nossas preocupações, estejam sempre a busca pela felicidade das pessas e o desenvolvimento humano. "
Arnaldo Jardim
Deputado federal e líder do Cidadania na Câmara
Em organizações nas quais os recursos de trabalho remoto ainda não estavam estabelecidos, os gestores precisaram acelerar a digitalização de suas atividades. Elas perceberam que o uso de soluções digitais pode atender a vários cenários que envolvam o atendimento a clientes, compensando a perda de demanda. A tendência é realmente digitalizar as atividades, mesmo nas lojas físicas, transformando-as em centros de distribuição, pois o resultado natural é o aumento na produtividade das empresas. No cenário econômico, novas transformações. Ainda que o modelo já fosse objeto de fortes questionamentos, o mundo antes da pandemia era o da divisão internacional do trabalho e da interconectividade – moléculas são fabricadas na China, refinadas na Índia; e,
Opiniões após uma longa viagem, terminam nas farmácias e hospitais europeus. Esse movimento constante de pessoas e de mercadorias foi “habilmente” explorado pelo vírus. A globalização certamente não retrocederá, mas essa dependência terá que ser repensada, por uma questão de segurança nacional. As cadeias integradas mundiais de produção deverão ser revistas, abrindo espaço para a reindustrialização das economias. Oportunidades também para a produção de alimento, especialmente proteína animal. Segundo especialistas, se nada for feito, a próxima pandemia também surgirá na China. Lá, os animais silvestres, hospedeiros primários, são criados entre humanos e vendidos vivos. Como os vírus estão sempre em mutação, eles encontram oportunidades de migrar para a espécie humana. No final de fevereiro, o governo chinês reconheceu que precisa de regras sanitárias mais rígidas para evitar novos surtos e proibiu, temporariamente, a criação e o consumo desses animais. Toda essa demanda por proteína animal precisará ser atendida pelos mercados produtores, dentre eles o nosso agro. Para fazer frente ao aumento da demanda mundial por alimento, o agronegócio brasileiro precisará intensificar o processo de migração para a agricultura 4.0 – um conjunto de tecnologias digitais integradas e conectadas por meio de softwares, capaz de aumentar a produtividade e a rentabilidade da lavoura. A agricultura está se transformado. Cada vez mais, os agricultores estão deixando de usar a tradição, a experiência e a intuição no processo de tomada de decisão de seus investimentos. Nos últimos anos, sensores terrestres, drones, sistemas de rastreamento via satélite foram introduzidos no ambiente rural para coletar dados que influenciam na produtividade. Os recursos digitais, entretanto, são predominantemente off-line, ou seja, disponibilizam dados apenas quando os equipamentos voltam para a sede da fazenda. Quando os equipamentos estiverem conectados, a coleta de dados poderá ser feita a cada minuto, conferindo ao gestor a capacidade de interferir imediatamente no processo de produção. Pode, por exemplo, corrigir a rota de uma semeadora, direcionar a aplicação de defensivos ou remanejar tarefas programadas para equipamentos que estão conectados. É enorme o potencial de ganho de produtividade que a tecnologia da informação pode gerar. Os sistemas políticos foram testados também em sua capacidade de estabelecer as normas necessárias para fazer frente à pandemia. Alguns governos, como Israel e Hungria, até flertaram com a possiblidade de governar por decreto, sem interferências do Parlamento, mas das emergências também surgem novas realidades.
No Brasil, quando perguntado sobre o fechamento da Câmara dos Deputados, o presidente Rodrigo Maia foi enfático: “o Congresso Nacional só fechou na ditadura, não vai fechar mais”. Precisamos estar aqui para deliberar sobre os projetos relacionados ao coronavírus e à defesa da economia. Para evitar o encontro presencial dos parlamentares, novas regras foram estabelecidas no Congresso Nacional, adotando o Sistema de Deliberação Remota - SDR para a apreciação das matérias legislativas. Com a urgência necessária, aprovamos o estado de calamidade e a ajuda financeira aos informais e às empresas, bem como um orçamento de guerra para que as medidas adotadas não comprometam a busca pelo reequilíbrio fiscal. O SDR, por enquanto, vale apenas para os projetos de lei que tramitam em plenário, mas abre um leque de possibilidades, como o estreitamento da relação representante/representado, ampliando, inclusive, a participação direta na nossa democracia. Transformação também na tese do Estado Mínimo. O presidente da França, Emmanuel Macron, político de direita e com passagem pelo mercado financeiro, no último dia 12, ao anunciar a prorrogação do confinamento, defendeu o “Estado providencial”. Para ele, e para nós também, o mercado e as empresas não podem socorrer as pessoas em momentos de crise, garantindo os empregos, as aposentadorias e a economia das pessoas – esse papel é do Estado. É evidente que as medidas de auxílio econômico deixarão um legado de maior déficit público, que serão financiados no longo prazo. Mas de que serve a riqueza de um país se não há alguém para desfrutá-la. Ganha força, inclusive, a ideia da renda mínima mundial, que dá proteção às pessoas em tempos de emergência, especialmente num mundo em que o emprego formal será cada vez mais limitado. A renda mínima mundial se opõe às ideias do liberalismo econômico, que rejeita a intervenção estatal na economia, porém, desde o século XVII, origem das teses liberais, a economia gera mais e mais riqueza; a desigualdade, ao contrário, só aumenta. Algo deverá ser feito. A resiliência da humanidade tem sido testada ao longo de toda sua história. A peste negra, a gripe espanhola, a varíola ceifaram milhões de vidas e, apesar das profundas cicatrizes deixadas, superamos todas elas. Mas, para isso, tivemos que nos reinventar, tivemos que nos ressignificar. Com a Covid-19 não será diferente. Seremos outra sociedade quando pudermos sair livremente às ruas. Surgirão novas formas de organização e novos conceitos de produção e consumo, mas, que no centro de nossas preocupações, estejam sempre a busca pela felicidade das pessoas e o desenvolvimento humano. n
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A longger's best friend
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edição especial
quando a experiência de vida
vale muito pouco!
Passados alguns dias do início desta tormenta que estamos vivendo, me liga o amigo William fazendo o convite para que eu escrevesse um artigo a respeito de um tema nada comum: qual seria o conselho que eu poderia apresentar que desse alguma referência, algum Norte, que ajudasse o sistema sucroenergético, bem como a própria Nação, neste momento de completa escuridão, a achar alguma direção de conduta, quando tudo isso passar ? Por várias vezes fui convidado para escrever artigos para a Revista Opiniões, todos técnicos e sobre temas do cotidiano de minha vida profissional de produtor rural do setor sucroenergético. Confesso que, desta vez, de bate-pronto, a ideia foi não aceitar o convite. Seguindo o seu jeito de ser, ele começou a alinhavar o assunto, a apresentar as razões pelas quais estava me convidando, propondo a cobertura de alguns assuntos, sugerindo a abordagem de alguns aspectos, informando quem seriam os meus parceiros convidados para a montagem do time daquela edição especial, e me convenceu a topar a parada e escrever sobre algo que nunca imaginei na vida.
Agora estou aqui, na frente do computador, com a tarefa de imaginar como será o nosso day after e, depois de imaginar este novo Planeta, propor caminhos e conduta que, avalio, sejam coerentes e seguros para balizar a condução do nosso setor. Como boa parte dos brasileiros, venho vendo, lendo e ouvindo uma massa imensa de informação, dentro de um turbilhão de notícias que chegam por todos os meios, a todo instante, com referenciais técnico-científicas de saúde e de economia, impregnadas de interesses políticos e ideológicos. O prazo da entrega do artigo está vencendo, e a dificuldade de escrevê-lo é realmente muito grande. Quando as notícias começaram a chegar, acho que não tínhamos a dimensão do problema com a pandemia e muito mais, a dimensão que isso traria para as economias da maioria dos países, principalmente aqui para o Brasil. O que assistimos, até então, com a mudança de governo, era um país com fome de se arrumar, com reformas acontecendo e outras por vir, e, de repente, nos vemos numa situação econômica deplorável, com ajustes e medidas que, certamente, comprometerão nosso desempenho por anos. E, pior, na área da saúde, com necessidade de lockdown, freando assustadoramente o desempenho das atividades, o que, certamente, promoverá muitas dificuldades às empresas e, consequentemente, aos trabalhadores. Conclusão básica. Preservação de vidas e volta ao trabalho para que a economia volte a rodar. E como fazer? Talvez o artigo mais interessante que
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qual seria o conselho que eu poderia apresentar que desse alguma referência, algum Norte, que ajudasse o sistema sucroenergético, bem como a própria Nação, neste momento de completa escuridão, a achar alguma direção de conduta, quando tudo isso passar ? "
Ismael Perina Junior Produtor Rural
Opiniões tenha lido seja do economista Paul Romer, que recebeu o prêmio Nobel de Economia de 2018, o qual propõe a volta urgente ao trabalho, com segurança, e, para isso, os esforços têm que obrigatoriamente estar concentrados em produção de equipamentos de proteção e de materiais de teste, acompanhando e separando as pessoas infectadas, para dar segurança a quem continua trabalhando, com permanência em quarentena dos grupos de risco. Isso posto, me atrevo a comentar um pouco sobre os últimos eventos relacionados às posturas políticas dos diversos representantes em todas as esferas, onde a necessidade de aparecer foi uma constante, esquecendo que o momento atual exige concentração de esforços para diminuir os efeitos de uma pandemia e não usar o momento para ganhos políticos e econômicos, visando a eleições futuras. Realmente uma vergonha. O que falar do futuro? Realmente, muito complexo, pois não temos praticamente certeza alguma de como esse processo se desenvolverá. Mas, com absoluta certeza, alguns ensinamentos essa crise nos trará, e da maneira como vínhamos conduzindo, uma infinidade de temas sofrerão mudanças que se farão necessárias urgentemente. Globalização, autonomia de países, segurança alimentar, protecionismo, relações de trabalho, terceirização, home office, videoconferências, reuniões à distância e tantos outros, que impactarão na nova retomada à vida normal. Mas, sem sombras de dúvidas, o grande cuidado a partir de agora, principalmente para o nosso País, é como e o quão mais rápido possível colocar a economia para rodar e dar atividades a milhares de pessoas que necessitam de trabalho e ajudar a colocar o País nos trilhos. Neste momento, eu me atreveria a falar um pouco de nosso setor sucroenergético, que sofrerá muito por uma série de eventos além da pandemia, e alguns pontos importantes que julgo interessante comentar. Chegou junto com a pandemia, uma grande queda dos preços do petróleo, que atingiu em cheio o mercado de etanol e o de produção de energia.
Esse cenário fez com que os preços da gasolina viessem abaixo, e o volume, consumido – em grande parte pela paralisação da atividade econômica – e isso acontecendo no momento de entrada na nova safra, quando a necessidade de caixa das usinas vem da venda de etanol. E aí o problema aumentou muito. Felizmente, até o momento, embora com dificuldades, a grande maioria das empresas deu início à safra e à manutenção de empregos, o que é muito benéfico para que os impactos sejam menores. No meio disso tudo, a iniciativa privada tenta fazer sua parte. Nesta hora, é fundamental que o poder público constituído aja com competência para auxiliar também esse grande setor, que produz divisas, emprego e renda, além de ter no etanol o melhor programa de combustível alternativo do mundo, que, aliado a suas características ambientais e de saúde pública excepcionais, tem que ser tratado com cuidado. É urgente uma revisão de sua tributação, nas esferas federal e estadual, pois abrir mão de impostos e taxas significa manutenção de emprego e renda, promovendo benefícios para a sociedade como um todo, já que o número de municípios abrangidos por esse setor é muito grande. Para finalizar, talvez uma das únicas certezas que tenho é a de que o Brasil continuará sendo um potencial produtor de alimentos e energias renováveis, o que muito nos ajudará nesta difícil travessia que teremos que enfrentar. Felizmente, até o momento, apesar das dificuldades, com uma ação muito forte do Ministério da Agricultura, a ministra Tereza Cristina, juntamente com outros ministérios envolvidos, o abastecimento vem sendo possível, o que certamente minimiza, e muito, problemas que poderiam estar acontecendo. O que nos resta, neste momento, é realmente torcer para que as coisas voltem ao normal o mais rapidamente possível e que o Brasil possa promover os acertos para nos tornarmos, definitivamente, uma grande potência. n
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edição especial
as opções que temos hoje e as
possibilidades que podemos criar para amanhã
Ao escrever este artigo em meados de abril de 2020, a incerteza é total – sobre a evolução do contágio tanto no Brasil quanto no exterior, sobre a severidade e a duração dos impactos nos mercados e na atividade econômica e até sobre as atitudes e o comportamento das pessoas e da sociedade em geral, depois de passar tudo isso. Diante de tanta incerteza, existe algum aprendizado concreto que já podemos destacar? E será que, mesmo que seja cedo, podemos identificar possíveis mudanças nos mercados no longo prazo que teriam consequências para o setor sucroenergético do Brasil? Talvez, no nível das empresas, já existam aprendizados – embora nada deles seja sacada, nem novidade. Porém o valor dessas estratégias tem sido amplamente demonstrado durante a turbulência de março e de abril de 2020, quando o setor enfrentou as consequências da queda do preço de petróleo, da parada de atividade econômica para mitigar a disseminação de coronavírus e da trava no mercado de crédito diante de tanta incerteza. notamos que há grandes diferenças entre as empresas quanto à capacidade de tancagem de etanol instalada nas usinas. Ter mais capacidade exige investimento, mas confere uma flexibilidade maior na estratégia de venda. "
Andy Duff Gerente de Pesquisa e Estrategista Global de Açúcar do Rabobank Brasil
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Entre os fatores que permitem algumas empresas aguentarem o caos recente e enfrentarem os próximos meses com mais tranquilidade do que outras empresas, destacam-se três. Em primeiro lugar, a liquidez – quem opera com um colchão generoso de caixa fica menos vulnerável quando há um choque que interfere com suas operações ou com seu fluxo de caixa e seu financiamento. Isso virou, há muito tempo, um mantra no discurso entre os agentes financeiros e o setor. Embora operar com o caixa em alta traga um custo adicional, a verdade é que qualquer seguro traz um custo – e ter o caixa fortalecido é um seguro contra o imprevisível. Em segundo lugar, notamos que há grandes diferenças entre as empresas quanto à capacidade de tancagem de etanol instalada nas usinas. Ter mais capacidade exige investimento, mas confere uma flexibilidade maior ; na estratégia de venda.
OpiniĂľes
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edição especial Em terceiro lugar, flexibilidade de novo – mas, nesse caso, destacamos flexibilidade no mix de produtos. Quanto mais flexível o mix, maior a capacidade da empresa de aproveitar da arbitragem entre o açúcar e o etanol. Não precisa ter uma memória boa para reconhecer isso. Na safra passada, 2019/2020, foi o etanol que salvou o resultado do ano. A perspectiva atual, em meados de abril de 2020, sugere que seja a combinação açúcar/câmbio que oferece o melhor retorno em 2020/2021. Então, quando se trata de aprendizagens até agora, acreditamos que esses três fatores contribuem para manter a robustez das empresas de açúcar e etanol em tempos turbulentos como estes. Mas, olhando além do curto prazo, quando a crise da Covid-19 tiver passado, há elementos mais estruturais do nosso mercado que talvez vão mudar para sempre? Os setores de commodities agrícolas e de alimentos são claramente essenciais e, assim, a disrupção gerada pelo coronavírus atual, por mais que gere desafios grandes, não parece representar uma crise existencial para o setor global de açúcar e etanol. Então, a questão não é se vai ter futuro, a questão é se a visão do futuro continua inalterada pela crise atual. Para melhor analisar essa questão, separamos umas possibilidades para mudanças estruturais, tanto em nível nacional quanto global, em dois eixos distintos: um operacional e um de política pública. Não sabemos se, nos próximos meses, haverá surtos de contágio que poderiam interromper operações no campo ou na usina, tanto no Brasil quanto em outros países. Mesmo se nada acontecer, é provável que toda indústria de açúcar ao redor do mundo, da mais simples à mais sofisticada, fará uma avaliação para entender o escopo para avançar a mecanização e a automatização das atividades. Em geral, a AgTech e a inteligência artificial ganharão mais força. Aqui no Brasil, dado que as atividades em campo já são altamente mecanizadas, talvez um foco pudesse ser no plantio e na aceleração do desenvolvimento dos sistemas de cana semente. Fora do Brasil, uma questão interessante seria se as grandes safras asiáticas – a maioria das quais depende de muita mão de obra sazonal de trabalhadores migrantes – pudessem passar por mudanças. Uma possibilidade seria um esforço maior para mecanizar as operações de colheita, para reduzir a ameaça de contágio e interrupções operacionais, caso haja outras pandemias no futuro. Se ocorrerem, haverá um impacto relevante na competitividade relativa dessas indústrias. ;
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Opiniões A experiência de mecanização da colheita no Brasil mostra que a curva de aprendizado é longa e gera, pelo menos no início, um aumento de custos de produção. E, na Ásia, a transição seria ainda mais complicada, por causa da estrutura fragmentada de produção de cana. Uma outra possibilidade de mudança é se o trabalho migrante e a mão de obra no campo ficarem mais escassos ou mais caros na Ásia, poderia ser a erosão de área dedicada à cana, com outros cultivos – seja de menos exigência de mão de obra, seja ainda intensivo em mão de obra, mas de valor maior do que a cana – sendo favorecidos. Passando pelo eixo de política pública, será que a crise de coronavírus vai servir para catalisar um repensamento das prioridades da sociedade global? Não passa despercebido que, em decorrência da forte queda de transporte e de uso de combustível ao redor do mundo, as emissões de gases de efeito estufa diminuíram, e a qualidade do ar, em grandes cidades – já citado pelo OMS como fator influente na saúde da população mundial –, melhorou bastante. Será que, depois que a crise atual passar, a sociedade vai se esquecer desses fatos na correria para destravar as engrenagens da economia global? Em novembro do ano passado, o Pnuma (o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) lançou seu monitoramento mais recente da diferença entre as metas do Acordo de Paris da redução de emissões globais – que tem como objetivo limitar o aumento da temperatura global, até 2030, em 1,5 °C – e o desempenho atual. Alertou que, até agora, os avanços têm sido muito aquém do esperado, e, se esforço adicional não for feito nos próximos sete anos, a subida da temperatura global poderia ser muito maior do que 1,5 °C, elevando o risco de eventos extremos de clima e de tempo. Talvez, no longo prazo, o mundo esteja apostando as fichas no carro elétrico como solução para reduzir as emissões do setor de transporte. Mas o estudo do Pnuma sugere que não temos o luxo de pensar no longo prazo, e precisamos fazer mais com as soluções que temos na mão hoje. Enquanto aqui, no Brasil, o RenovaBio promete impulsionar o uso de etanol nos anos que vêm, sabemos que o etanol tem um potencial ainda grande para ajudar na redução das emissões no mundo afora. Talvez, depois de passar tudo isso, alguns países com políticas que apoiam o preço de cana cogitem direcionar pelo menos uma parte desse apoio para produzir energia limpa em vez de produzir açúcar. n
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edição especial
o surgimento do grande arquipélago global Que todos nós façamos nossas reflexões e análises, com diagnósticos e prognósticos sobre a situação de perplexidade que o mundo enfrenta atualmente perante uma pandemia virótica, sutilmente anunciada, porém muito pouco interpretada em profundidade em seus primeiros sinais. Que busquemos uma luz divina que possa introduzir nas mentes de nossas lideranças, no sentido de que isso se reverbere a todos neste momento. Que seja um guia para os bons propósitos de poucos perante as vontades pequenas e egoístas de muitos, inspirando um direcionamento aos mestres que poderão nos servir a partir de agora. Que se construam verdadeiros muros isolando as más intenções e maldades que surgirão; e que a plenitude da solidariedade, da empatia, da paciência e do amor venham a reinar sobre todas as mentes deste novo arquipélago que está se desenhando. O plano do novo planeta está se configurando. Saibamos nós interpretá-lo e implantá-lo. O mundo nunca se deparou, em século atual, com tamanho colapso das sociedades, ocorrendo verdadeiros “cabos de guerra” entre preservação de vidas e infraestrutura de saúde sustentável
É perante o desastre das perdas humanas e financeiras que se construirão essas pontes de regeneração do planeta, um novo planeta, uma nova Terra. "
Celso Albano de Carvalho
Gestor Executivo da Orplana
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para atender às pessoas contaminadas, perante o caos econômico que, em poucos dias, semanas e meses, já demonstra o quanto o mundo é organicamente ligado e ao mesmo tempo desconexo em visões da busca pelo entendimento do cenário premente, ou na elaboração de cenários que apaziguem anseios, temores e terrores de todos. Está se estabelecendo dentro dos seis continentes – África, Antártida, Ásia, Oceania, Europa, e Américas – o surgimento de “ilhas” de isolamentos entre países e entre cidades. Os grandes países comportam-se também como continentes, tendo um similar processo de avanços territoriais de contaminação, isolamento, regressões da contaminação e novos avanços, ocasionando a grande temeridade de quanto tempo isso tudo ; irá demandar.
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edição especial Não se comparam comportamentos de países que se enquadram como estados dentro dos referidos países continentais. A verdade é uma só, todos se isolam e começam a se voltar para os interesses da coletividade regional, uma luta pela sobrevivência dos humanos ali residentes, bem como das economias ali colapsadas. Teorias são elaboradas por estudiosos, estatísticos, economistas, analistas, futurólogos, avaliadores do presente atual; porém todos, sem sombra de dúvida, não conseguem entender a dinâmica avassaladora da pandemia da Covid-19, mas começam a entender uma necessidade de construção de pontes de intercâmbios de conhecimentos, aprendizados, comportamentos mediante os isolamentos, para que, juntos, se consiga superar essa fase, com uma visão literalmente pragmática de que o desastre estará instalado sob o aspecto de perdas de vidas humanas, de talentos profissionais, de lideranças, de pensadores e, de maneira geral e honrosamente falando por todos, dos trabalhadores. É perante o desastre das perdas humanas e financeiras que se construirão essas pontes de regeneração do planeta, um novo planeta, uma nova Terra. A desconfiança em se aproximar das pessoas, de promoção de reuniões, discussões, festas, shows e entretenimentos dos mais diversos fará com que um novo comportamento social surja, com o auxílio dos aprendizados da tecnologia de comunicação e com o aprendizado da ação comunitária, cooperações mútuas para se enfrentar essa reconstrução necessária. Na atividade agropecuária, profunda base de suporte alimentar, estrutural, energético, decorativo, turístico, de vestuário, industrial, será necessária uma visão coletiva, sinérgica, buscando setorialmente o levante e a capacidade de se enxergar e perceber oportunidades de suportar a carga que certamente lhe recairá, como base econômica e geradora de continuidade da produção de recursos, divisas e aproximações. Países colapsados necessitarão de mais alimentos, energia, vestuário, equipamentos e tecnologias. E quem, como o Brasil, produz em abundância e competência, as divisas do agronegócio certamente obterá algumas frestas de percurso na busca de recuperar-se. Mas não se poderá ser contagiado pelo oportunismo, pelo protagonismo egoísta e pela falta de compartilhamento das experiências vividas. Devemos ter consciência da competitividade pela eficiência e entrega ágil, mas não pela concorrência desleal e antiética. Nunca se viu tamanha oportunidade de movimentos setoriais, ações sinérgicas e coletivas trazendo um alento às bases e brechas interessantes de crescimento, com conhecimento de causa e de efeito. ;
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Opiniões De causa, pelos fatos do desastre ocasionado pela pandemia da Covid-19, e de efeito, pelo que se aprende com momentos de guerra travados como este, em que o inimigo oculto faz surgir teorias conspiratórias que só trarão confusão nas decisões e na condução das ações junto às sociedades atingidas. Sabedoria, compartilhamento do conhecimento, pragmatismo, sensatez, solidariedade, cooperação, empatia e paciência serão nossos direcionadores. Ninguém tem as respostas claras, e apostas e opiniões são lançadas diariamente. O jeito ou a forma como se apegam a determinadas respostas, apostas ou opiniões construirá ou aprofundará mais os abismos existentes entre as sociedades, ou se fará necessário, gradativamente, através do aprendizado pelas alternativas, sofrimentos, erros, acertos e entendimentos, a construção de verdadeiras “pontes”, que reúnam ou voltem a unir as “ilhas” de sociedades que estão se desenhando neste Novo Planeta, o Grande Arquipélago Global. Fica aqui, então, um ensinamento profundo do Mestre Tibetano Djwhal Khul, através de sua oração “A Grande Invocação”, que me inspirou este artigo e expressa que existe uma inteligência básica a que se dá o nome de Deus. Que existe um Plano divino de evolução no Universo cujo poder motivador é o amor. Que uma grande individualidade denominada Cristo pelos cristãos – o Instrutor do Mundo – veio à Terra e personificou esse Amor para que os seres humanos pudessem compreender que o amor e a inteligêcia são efeitos do Propósito, da Vontade e do Plano de Deus. Que muitas religiões creem em um Instrutor Mundial, conhecido por nomes como o Senhor Maitreya, o Iman Mahdi, o Messias, etc. Mas, realmente, somente por meio da humanidade é possível implentar o Plano Divino. A Grande Invocação: "Do ponto de luz na mente de Deus Que flua a luz à mente dos homens e que a Luz desça à Terra! Do ponto de amor no coração de Deus Que flua o amor aos corações dos homens Que Cristo retorne à Terra! Do centro onde a vontade de Deus é conhecida, Que o propósito guie a vontade dos homens, Propósito que os Mestres conhecem e servem! Do centro a que chamamos a Raça dos Homens, Que se realize o Plano de Amor e de Luz E cerre a porta onde se encontra o mal! Que a Luz, o Amor e o Poder restabeleçam O Plano Divino sobre a Terra, Hoje e por toda a eternidade! " n
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ensaio especial
a parábola do homem que queria
atravessar o rio
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aquele tempo, um homem viu um lindo campo na outra margem do rio. O campo era promissor, parecia ter um solo humoso que, com uma boa e trabalhadora mão a cultivá-lo, seria capaz de produzir muitos frutos por um bom tempo. Mas tinha que atravessar um rio... um rio grande! Porém aquele homem era experiente o suficiente e já tinha atravessado outros rios parecidos na região e sabia que poderia encarar a empreitada para alcançar a outra margem. Juntou suas melhores sementes e ferramentas em suas duas mochilas. A bagagem estava pesada, mas pensou consigo mesmo que todo o peso seria aliviado pela água e que, portanto, não seria tão difícil carregá-lo. Além do mais, tudo que levava foi cuidadosamente escolhido para poder usufruir ao máximo daquela oportunidade que estava a uma mera travessia de distância. Olhou uma última vez para a margem na qual estava e, decidido, deu seu primeiro passo nas águas daquele rio. A primeira coisa que veio a sua mente foi repensar em todas as coisas que decidiu levar, para conferir se não tinha esquecido algo. Mas, em pouco tempo, mudou de ideia e passou a imaginar tudo o que iria produzir naquele campo fértil. Sua mente, igualmente fértil, imaginou a colheita e os frutos abundantes que aquela terra produziria. Alguns passos mais e começou a sentir a água do rio subir em seu corpo. A água estava em seu joelho quando sentiu o primeiro solavanco da corrente. Firmou seus pés, reequilibrou-se com cuidado e seguiu vagarosamente a travessia. Em poucos metros, a água já estava em sua cintura. Conseguia enxergar os pés e olhou mais uma vez para a outra margem como um prêmio que era apenas questão de tempo.
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Alguns metros a mais e a água atingiu a sua bagagem que carregava nas costas. Ele sentiu o alívio no peso que carregava. Mas, alguns passos depois, sentiu a correnteza forte que se escondia debaixo daquelas margens plácidas, no meio da travessia. Firmou seus pés para compensar a força da água e buscava dar passos rumo a seu destino. Sentiu o peso da água e percebeu claramente que não avançava como antes. Parecia que, a cada passo que dava, as águas o empurravam outros dois para trás! A água já batia em seu peito quando constatou que o rio era mais caudaloso e profundo do que todos os que já tinha atravessado antes. Pela primeira vez, sentiu medo e imaginou que talvez tivesse que voltar, desistindo do sonho de alcançar a outra margem. Deu mais um passo e, num susto, não mais sentiu o fundo do rio. Bateu os braços tentando recuperar o fôlego e não se afogar. As mochilas encharcadas pesavam mais com a força da correnteza. Tomou a difícil decisão de largar uma delas para terminar a travessia. O terreno do outro lado era muito promissor para que desistisse dele. Naquela altura de sua jornada, aquele pedaço de chão valia sua própria vida. Assim o fez, largou uma mochila e prosseguiu com o que lhe restou, com o essencial. Decidiu ir em frente, mesmo correndo o risco da travessia. De fato, o rio era mais profundo do que imaginou no início. Com a água no limite de sua respiração, avançou mais alguns passos quando percebeu que começava a afundar. Encheu os pulmões e desceu até o fundo do rio. Quando lá chegou, seus pés puderam firmar-se para o impulso que deu com as suas últimas forças rumo a outra margem. E, com ele, voltou à superfície, perto o suficiente para agarrar-se às raízes expostas da árvore do outro lado. Finalmente, gra; ças a Deus, chegara a seu destino.
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ensaio especial Safra 2020/2021 No último mês de abril, o Brasil inaugurou sua safra 2020/2021, a primeira safra que presenciará a plena vigência do RenovaBio. Esse homem da parábola é o setor sucroenergético, um homem calejado, vivido, experiente, competente, que sofreu muito para construir o parque industrial responsável pelo fornecimento, hoje, de 18% da oferta interna de energia do País. O homem da parábola vislumbra o outro lado da margem: o RenovaBio. O RenovaBio é o campo fértil capaz de gerar muitos frutos para quem tem a visão e a competência para cultivá-lo. Quem percebeu o potencial do programa de descarbonização mais ambicioso e inteligente do planeta sabe que seu futuro tem tudo para ser brilhante. Mas, como tudo que presta nesta vida, o RenovaBio não seria uma conquista sem sacrifícios, sem dor. O desafio de implementá-lo é como esse rio grande que tem de ser atravessado. Olhamos o rio e, de modo confiante, nós nos pusemos a atravessá-lo. Juntamos nossa bagagem. Nossa bagagem são todos os instrumentos que foram concebidos para extrair o máximo que o programa poderia produzir em termos de resultados para a sociedade. Nessa travessia dos últimos dois anos, quando o RenovaBio foi sendo, aos poucos, implementado, várias foram as conquistas: metas de descarbonização para os próximos dez anos; certificação do processo produtivo; e, a joia da coroa, o CBio foi criado. Tivemos que nos livrar de alguns dos instrumentos que trouxemos conosco quando o programa foi concebido, porque a correnteza que se opunha à nossa travessia foi forte e nos obrigou a fazer a escolha de trazer apenas o essencial. Cedemos para cumprir todos os pra; zos legais necessários.
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Opiniões Temos muitos desafios. A travessia está sendo mais dura do que imaginávamos, ou alguém poderia supor que o mundo enfrentaria as consequências de uma crise sem precedentes neste ano? Façamos como o homem da parábola, que puxou seu último fôlego para buscar o impulso necessário para alcançar a outra margem. Não podemos e não iremos desistir, principalmente agora, quando estamos a um passo da outra margem. Lembro-me agora também de um episódio verídico que me é muito caro neste momento. Muitos se recordam das referências que já fiz ao “Endurance”, o navio de Shackleton, um navegador inglês que convocou sua tripulação em 1914, em um anúncio de jornal, que entrou para a história. Ele recrutou homens para a lendária expedição rumo à Antártida para chegar ao polo Sul. Depois de meses e meses à deriva no gelo flutuante que destruiu seu navio, toda a tripulação regressou sã e salva à terra firme. Quando finalmente retornou à Ilha Elephant, depois de ter navegado em um bote por 16 dias, para buscar resgate, Shackleton tinha muito a contar, tanto para seus companheiros quanto para o mundo exterior. Mas a carta que ele escreveu às pressas para sua esposa só dizia o essencial: “Consegui! Não perdi nenhum homem, e atravessamos o inferno”. n
Quem percebeu o potencial do programa de descarbonização mais ambicioso e inteligente do planeta sabe que seu futuro tem tudo para ser brilhante. "
Miguel Ivan Lacerda de Oliveira Diretor do Dpto. de Biocombustíveis da Secretaria de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia
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