Brasil 2003 – 2015: balanço de uma experiência “popular”

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Brasil 2003 – 2015: balanço de uma experiência “popular” Rosa Maria Marques1 e Patrick Rodrigues Andrade2 “Tudo é absurdo, mas nada é chocante, porque todos se acostumam a tudo.” Júlia ou a Nova Heloísa, Jean-Jacques Rousseau Resumo Este artigo trata dos limites da política econômica desenvolvida durante os governos Lula e Dilma entre 2003 e o primeiro semestre de 2015. Destacam-se, entre os aspectos nele analisados, as medidas dirigidas aos segmentos de baixa renda (inclusive no campo social); a política com relação ao câmbio e à taxa de juros; e a desoneração fiscal, com o intuito de garantir demanda para determinados segmentos da indústria, quando da crise internacional iniciada em 2008, e para angariar competitividade no mercado internacional. É destacado, também, o crescimento do afluxo de capitais estrangeiros na forma de investimento estrangeiro direto e a crise política aberta a partir do momento em que Dilma é reconduzida à presidência. Entre as conclusões, salienta-se que esses governos minimizaram o impacto da crise internacional e as consequências das medidas nas contas públicas (em um quadro de baixo investimento privado), resultando na proposição de um severo ajuste fiscal no início do segundo mandato do governo Dilma, o que pode comprometer os avanços anteriormente ocorridos em termos de emprego, renda e benefícios sociais. Palavras-chave: Brasil; governo Lula; governo Dilma; crise econômica; crise política.

Apresentação A eleição de Lula à presidência da República, em 2002, constituiu um marco na história política do Brasil. Pela primeira vez um líder sindical, apoiado num partido nascido das lutas desenvolvidas pelos movimentos sociais e sindicais e organizado (originalmente) a partir da base, assumia o governo federal. No momento em que foi oficializada sua vitória, a juventude e os setores progressistas foram tomados de uma grande esperança: de que finalmente mudanças significativas seriam realizadas, tanto no campo econômico como no social. Essa esperança se expressou nas comemorações pela vitória (realizadas nas principais cidades do país), quando a bandeira vermelha do Partido dos Trabalhadores (PT), que havia sido esquecida pela direção durante a campanha, foi alegremente retomada pelos manifestantes e no dia da posse em Brasília, quando Lula, a caminho do Congresso Nacional, foi festejado por milhares e milhares de pessoas. 1

Professora titular do Departamento de Economia e do Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política da PUCSP; líder do Grupo de Pesquisa Políticas para o Desenvolvimento Humano. 2 Professor do Departamento de Economia da PUCSP.


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