Página mensal da DRA no Açoriano Oriental e Diário Insular

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ID: 77891583 PÁGINA MENSAL DA dElEgAÇÃO REgiOnAl dA ORdEM dOS PSicÓlOgOS PORtuguESES

concurso para Psicólogos ou para Psicólogos em formação? Nos últimos tempos é com satisfação que verificamos a abertura de concursos públicos para recrutamento de técnico superior na área de psicologia, em diferentes ilhas dos Açores e em diversos sectores de atividade. A Ordem dos Psicólogos Portugueses, enquanto associação pública profissional representativa dos profissionais em Psicologia e responsável pela defesa dos interesses gerais da profissão, só pode congratular-se com esta oferta laboral. A leitura dos diferentes avisos de procedimento concursal remetenos, no entanto, para outra realidade: um completo desconhecimento sobre as condições necessárias ao exercício da Psicologia. Ser titular de licenciatura não cumpre os requisitos legais para o exercício da Psicologia. Para o efeito são necessários dois ciclos de estudos universitários em Psicologia - Licenciatura + mestrado - inscrição na Ordem e um ano de prática supervisionada. De forma a garantir que está a recrutar um psicólogo em vez de alguém que ainda está em formação, recomendamos que o edital exija a cédula profissional válida atribuída pela Ordem dos Psicólogos. Afinal nunca contrataria um “médico” com 3 anos de formação então porque pretende contratar um candidato a psicólogo? M Luz Melo

AcONteceu Reunião Secretaria Regional Educação No passado dia 5, a DRA reuniu-se com o Diretor Regional da Educação, Dr. Rodrigo Reis, para apresentação de cumprimentos institucionais e caracterização do trabalho dos Psicólogos Educacionais na Região.

AcONtecerá Academia OPP A 9 de novembro decorreu, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade dos Açores, a 3ª edição da iniciativa Academia OPP dirigida aos estudantes de psicologia que se encontram nos 1º e 3º anos.

28-11-2018

Meio: Imprensa

Pág: 19

País: Portugal

Cores: Cor

Period.: Diária

Área: 21,70 x 29,80 cm²

Âmbito: Regional

Corte: 1 de 1

COORDENAÇÃO MARiA dA luZ MElO | EQUIPA EDITORIAL PAulA dOMinguES, RAQuEl vAZ dE MEdEiROS | EMAIL ana.rego@ordemdospsicologos.pt

Perante uma situação de Emergência, será que estamos verdadeiramente preparados? Perante uma situação de Emergência, será que estamos verdadeiramente preparados? “FOi hORRívEl… MESMO MuitO diFícil” (1)

Por esta altura faz 21 anos que aconteceu uma das maiores tragédias na história dos Açores, o desabamento de terra na Ribeira Quente. Entre os sobreviventes e famílias dos falecidos a memória deste dia ainda está bem presente nesta localidade. Quando pensamos nestas situações de emergência, tendencialmente preocupamo-nos com o número de feridos. Pensamos pouco no impacto que poderá ter tido para os que sobreviveram, que impacto terá tido para quem estava ao lado da vítima a sentir-se impotente por não conseguir ajudar muito mais além de ligar o 112? Cada uma destas situações poderá provocar diferentes reações em cada pessoa envolvida, nomeadamente reações emocionais (choque, ansiedade), fisiológicas (dificuldades em respirar), cognitivas (negação, confusão) e comportamentais (agitação, irritabilidade). Neste contexto, o papel da Psicologia em situações de emergência centrase em promover o desenvolvimento de estratégias ativas de adaptação a situações de crise, minimizar o impacto negativo do evento, restaurar o nível funcional dos sujeitos e prevenir o agravamento da sintomatologia psicopatológica, isto é ajudar as pessoas afetadas a enfrentar melhor a situação. Os primeiros socorros psicológicos podem ter impacto na saúde mental das pessoas como os primeiros socorros médicos têm na saúde física. Procuram estabilizar as vítimas dos eventos traumáticos que estão em stress agudo, apoiando-as emocionalmente, fornecendo cuidados práticos e avaliando necessidades e preocupações para ajudar a pessoa a começar a sarar as feridas psicológicas e integrar, mais cedo e de uma melhor forma, a rotina do seu dia-a-dia. “A vidA vOltOu à nORMAlidAdE, MAS nuncA vOltOu. AindA cOnSigO SEntiR O chEiRO A lAMA.” (1)

A maior parte destes acontecimentos não tem impacto na pessoa só na altura em que ocorre, mas permanecem presentes, durante algum tempo, através de sons, cheiros e, na maioria dos casos, através de pen-

desabamento de terra na Ribeira Quente em 1997

samentos e flashbacks (revivência do acontecimento traumático). O trabalho com as vítimas não acaba depois de terminar o acontecimento, enterrados os mortos e reconstituído o que foi perdido. Embora nem todos os que vivenciaram um acontecimento traumático vão desenvolver problemas psicopatológicos a longo prazo, mas para estes o risco é mais elevado. Daí ser importante estar atento às vítimas e seus familiares, à presença de sintomas característicos das perturbações, nomeadamente ansiedade, insónias, dificuldade em funcionar normalmente e sentimento de culpa por ter sobrevivido ou não ter feito nada para ajudar. No entanto, quanto mais precoce for a intervenção psicológica menor são

peRfIL catarina Penacho cordeiro Conclusão em 2012 do Mestrado Integrado em Psicologia, vertente Educacional, na Universidade de Coimbra. De 20122014 voluntariado através da ONGD Leigos para o Desenvolvimento em São Tomé e Príncipe, em projetos de desenvolvimento comunitário. 2016 pós-graduação em Intervenção Psicológica em Situações de Emergência pela Universidade de Lisboa. 2018 colaboração como formadora da Proteção Civil dos Açores. 2018 formação de bombeiro.

os riscos destes os virem a desenvolver, como demonstram vários estudos. Nos últimos anos, têm sido cada vez mais frequentes os pedidos para o 112 para intervir em situações de emergência, nomeadamente em situações de tentativas de suicídio, crises psicóticas, ataques de pânico, sintomatologia depressiva, processos de luto, entre outros, evidenciando a importância de uma intervenção precoce. Importa também salientar o impacto que tem a vivência de acontecimentos traumáticos nas equipas de emergência, nomeadamente nos bombeiros e técnicos de saúde. Apesar de serem equipas altamente treinadas e preparadas para intervir em situações de emergência, muitas destas situações acabam por afetar psicologicamente a vida destes profissionais. É, assim, de realçar que a intervenção psicológica em situações de emergência vai muito para além do “acalmar” as vítimas no local. Tratando-se de situações que fogem ao controlo das pessoas e com uma elevada carga emocional associada, torna-se fulcral e essencial uma intervenção rápida e ajustada a cada situação. Para isso, são necessárias equipas treinadas para o efeito, pois apesar de se tratar de uma intervenção psicológica, esta tem de ser uma intervenção específica tendo em conta os contornos a que está associada. (1) Testemunho de um sobrevivente à tragédia de 1997 na Ribeira Quente.


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