"Droga da inteligência" duplica em sete anos - JN (19/02/2017)

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ID: 68287170

19-02-2017

e Nacional

Tiragem: 72675

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País: Portugal

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Period.: Diária

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Âmbito: Informação Geral

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até aos nove anos

em agosto

Tendo em conta a prescrição realizada em 2015, 63% da ritalina foi utilizada por rapazes entre os 10 e 19 anos e 26% em crianças até aos nove anos. Apenas 796 das embalagens se destinaram a adultos.

A venda da ritalina cai drasticamente em agosto. Em 2016, foram vendidas 9900 embalagens, bem longe das 33 mil de janeiro ou das 32 mil registadas em abril.

Adultos Metade supera o problema Com base na sua experiência clínica, o pediatra Boavida Fernandes sublinha que 50% das crianças conseguem superar a PHDA numa fase adulta, optando por estratégias e rotinas próprias, e que apenas 15% precisam de manter a medicação.

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O O

Ritalina é conhecida como o comprimido da infeligéncla porque favorece a concentração

Ritalina Vendas de medicação para défice de atenção duplicaram entre 2010 e 2016. Especialistas preocupados com problema de saúde pública

"Droga da inteligência" duplica em sete anos mente, e pela primeira vez, em escola, começou a ser olhado com exceção tornou-se habitual. É um exagero". sustenta. 2016, depois um crescimento a maior desconfiança? Alvaro Carvalho, responsável A resposta não é consensual. ritmo galopante. Nos últimos sete anos, de acor- "Estamos diante de um problema pelo Programa Nacional para a ► É conhecido como o "comprimido da inteligência", por favore- do com dados fornecidos pela de enorme gravidade", considera Saúde Mental, ouviu esta semana cer a concentração de crianças com consultora Quintiles1MS e pelo In- Eduardo Sá. "Os pais contam-me da boca de uma docente de um perturbação de hiperatividade e farmed, as embalagens comercia- que houve quem lhes dissesse: colégio privado que há crianças défice de atenção (PHDA), e teve lizadas mais do que duplicaram. "Tem aqui um medicamento. Ago- que pedem aos professores para um aumento brutal desde 2010. Há Estes números levaram o Conse- ra a escolha é sua, depende da sua não lhes fazerem perguntas difíturmas no ensino privado com 80% lho Nacional de Educação a aler- vontade que o filho tenha melho- ceis no dia em que se esqueceram de tomar o "comprimido da de alunos medicados, alerta o psi- tar, no ano passado, para a medi- res notas ou não'". As "crianças ritalina" - é assim inteligência". cólogo Eduardo Sá. Nas escolas pú- cação utilizada para "supostos Em contraciclo, há também blicas, há também cada vez mais problemas de hiperatividade e dé- que Filinto Lima, presidente da crianças medicadas por serem des- fice de atenção". As autoridades Associação Nacional de Diretores pais que já começam a recusar da saúde prometeram "guideli- de Agrupamentos de Escolas Pú- dar a medicação aos filhos. Filinatentas ou problemáticas. blicas as designa - ganharam vi- to Lima diz conhecer casos em As vendas de metilfenidato - a nes" . Será que o."comprimido da in- sibilidade dentro das escolas. "São que veio a "provar-se que, afinal, 'substância mais prescrita para tratar os problemas de PHDA, teligência", usado como antídoto muitas as crianças medicadas não era preciso, entretanto, o cuja designação comercial é rita- à desconcentração e cujos efeitos porque foram consideradas desa- miúdo ficou bem". Eduardo Sá lina - diminuíram muito ligeira- imediatos são melhóres notas na tentas e problemáticas. O que era tem igual perceção: "Cada vez são Dina Margato dina.margatOWLPI

Consente :

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mil embalagens foram prescritas nos serviços públicos de saúde, em 2016, segundo o Infarmed, mais do dobro do do registado em 2010, que se do se cifrou nos 133 mil.


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Efeito Toma de manhã dura até às 16,17 h

Dados Ministério sem elementos das escolas

Normalmente, a criança toma o comprimido pela manha e o seu efeito dura até às 16,17 horas. Boavida Fernandes defende que não deve ser tomado nas férias e ao fim de semana, a não ser quando haja um exame na segunda. "Deve ser usado como uns óculos".

Segundo o Ministério da Educação não é possível obter dados detalhados sobre os casos existentes nas escolas nacionais devido à lei 67/98, de 26 de outubro, referente à proteção de dados dos alunos. São as escolas que lidam internamente com esses problemas.

medicamentos embalagens prescritas no SNS MFTILFENIDATO 276 029

283 075

270 492

245 984 195 311 168 995

133 562

II II 2011

2012

2013

ATOMOXETINA

2014

2015

2016'

9036

'Variação face a 2015 FONTE: INFARMED

INFOGRAFIA xl

mais os pais esclarecidos que não embarcam nestas soluções imediatas e quase mágicas". Problema de saúde pública O bastonário da Ordem dos Psicólogos, Francisco Miranda Rodrigues, está convencido de que estamos diante de um problema de saúde pública, ainda por cima sem que se conheça a real dimensão, uma vez que não há estudos sobre a prevalência da PHDA em Portugal nem sobre os tratamentos adotados. "O efeito da medicação", sublinha, "não proporciona uma mudança de comportamento", ao contrário da intervenção psicológica" que, acredita, "poderia corrigir grande parte desses problemas". Para Frandscp Miranda Rodrigues, "só em casos extremos se deveria recorrer a ffirmacos". Parte do problema alimenta-se da pressão social para resolver rapidamente todas as dificuldades com recurso a medicação. Obsessão com resultados Eduardo Sá desenha um quadro explicativo em tons bastante negros: "Os pais, as escolas, os professores, os médicos, parece que entram numa vertigem em que vale tudo para que os meninos obtenham bons resultados". A eficácia da medicação seduz

os progenitores, admite Álvaro Carvalho. "Há muitos pais que reclamam junto dos médicos que os filhos são hiperativos, irrequietos, instáveis". No entanto, é preciso compreender que "o sofrimento mental na criança é muito inespecifico". Isto significa que "apresenta os mesmos sintomas para uma grande variedade de situações". A criança pode estar pouco concentrada, por exemplo, devido a conflitos diários dos pais. Em 2016, segundo a QuintilesIMS e o lnfarmed, o consumo de metilfenidato sofreu um ligeiro abrandamento: da dispensa de 283 mil caixas em 2015, passou-se para 270 miL No entanto, é preciso considerar que entretanto surgiu uma nova molécula para tratara perturbação de hiperatividade e défice de atenção, a atomoxetina, cujas vendas mais que duplicaram: de quatro mil embalagens em 2015 para nove mil em 2016. Considerando os dois medicamentos, a diferença é menos cerca de 7800 embalagens. A pequena descida na dispensa, em 2016, não pode ser vista como uma tendência, considera o responsável pelo Programa Nacional de Saúde Mental. São precisos quatro, cinco anos para que adquira esse estatuto. A preocupação com a compreensão do fenómeno mantém-se, sublinha Álvaro Carvalho. •

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Opinião:

Cresce diagnóstico nas raparigas • Perturbação da hiperatividade com défice de atenção é uma das perturbações da área do neurodesenvolvimento mais comuns e caracteriza-se por um conjunto de sintomas, que vão desde a agitação motora, impuisividade, desatenção, a comportamentos irrequietos. Estas crianças apresentam dificuldade em ajustar um comportamento à tarefa específica. Manifesta-se sobretudo antes dos dez anos. • Não há estudos sobre a sua prevalência em Portugal. Dados internacionais apontam para prevalência de 3% a 7% em crianças em idade escolar. Tendo em conta as prescrições portuguesas, são os rapazes, na faixa dos cinco aos 19 anos, os mais afetados. Por géneros, a relação é de cinco, seis rapazes para uma rapariga. O pediatra Boavida Fernandes tem notado um crescendo de diagnóstico entre as raparigas. Por serem aparentemente sossegadas, torna-se difícil detetá-lo, diz. A Associação Americana de Psiquiatra estima a PHDA em 5% das crianças e 2,5% dos adultos. • Os critérios de diagnóstico devem ser aplicados, por profissionais experientes de forma a despistarem-se outros problemas de sintomas similares ou concomitantes. Em 80% dos casos, há outras perturbações associadas. O Ideal é que o diagnóstico seja feito por uma equipa multidisciplinar - pediatras do desenvolvimento, pedopsiquiatras, psicólogos - e com a participação da escola. • No diagnóstico, um dos pontos-chave é o impacto negativo que o PHDA tem na vida da criança, na realização de rotinas, atividades sociais e estudos. A persistência dos sintomas, durante pelo menos seis meses, é considerada um dos barómetros. A subjetividade da avaliação está dependente de dados fornecidos por pais e escolas. • Segundo a DGS, o tratamento deve incluir uma intervenção a nível educacional e a nível psicológico e a prescrição de medicamentos não é indicada como tratamento de primeira linha.

Luciana Caliman

José Boavida Fernandes

Psicóloga, investigadora da Univ. Coimbra e da Univ Federal do Espirito Santo, Brasil

Pediatra, responsável pela consulta de hiperatividade em Coimbra

"Não há ganhos na aprendizagem, atenção e controlo"

"Havia uma subnotificação dos casos diagnosticados"

Luciana Caliman, psicóloga e investigadora que se tem dedicado ao fenómeno na realidade brasileira, está preocupada sobretudo com a forma "como as crianças vão construindo a relação entre estar medicado e a aprender, estar medicado e poder estar na escola, estar medicado e ser capaz de se controlar, estar medicado e fazer amigos". À gestão do "on" e "off" em função da toma do comprimido. acrescenta a questão de o metilfenidato não "ensinar" a

José Boavida Fernandes, pediatra responsável pela consulta de hiperatividade no Centro de Desenvolvimento em Coimbra, que trata crianças com a PHDA há mais de 20 anos, considera que o mais importante é fazer um bom diagnóstico por uma equipa interdisciplinar. Se a perturbação existe e tem impacto na vida da criança por um período longo de tempo, o melhor é medicar. "O metfifenidato tem um padrão de segurança e eficácia enorme", garante. Defende acompanhamento psicológico em simultâneo, mas sustenta que os estudos mostram que a intervenção psicológica, por si só, "tem efeitos reduzidos". Também critica os discursos de que não há estudos, de que não sabe como vai ser a vida adulta destas crianças medicadas. "Não há um único estudo científico que alerte para efeitos negativos, e já lá vão mais de 50 anos de uso. Há poucas substâncias que estejam tão estudadas". O crescente aumento de medicação acompanha uma maior sensibilização para a perturbação. Havia uma subnotificação de casos, considera. O que pode estar a acontecer, admite, é alguns "maus usos da medicação, como os há para tudo". O pediatra considera o metilfenidato um protetor social da criança, no sentido em que evita outros comportamentos problemáticos.

criança a concentrar-se ou controlar-se. Portanto, con-

clui, "não há ganhos no que diz respeito à aprendizagem, ao desenvolvimento da atenção e do controlo". No seu ponto de vista, "são pouquíssimos os estudos sobre os efeitos a longo prazo do metilfenidato. Não podemos dizer que é nefasto, mas é preciso lembrar que não sabemos". O Brasil é o segundo maior consumidor do metilfenidato, logo a seguir aos EUA, lembra, muito por causa da pressão social e escolar. "Tenho acompanhado casos de crianças que são quase obrigadas a ser medicadas para terem direito a estar na escola". "Normalmente, a família, especialmente a mãe, sofre muito, pois está sozinha. Tem dúvidas se o medicamento é a melhor solução e os seus efeitos a longo prazo", conclui a psicóloga.


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• Venda de medicação para défice de atenção regista aumento consecutivo desde 2010 • Há turmas em que 80% dos estudantes estão sob o efeito de ritalina e outras substâncias • Quase 30% das crianças que as tomam têm até 9 anos ê 6 e 7

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Comprimido da inteligência duplica entre jovens alunos


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