Artigo sobre Coletivo Expressões Geográficas

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Anais XVI Encontro Nacional dos Geógrafos Crise, práxis e autonomia: espaços de resistência e de esperanças - Espaço de Socialização de Coletivos –

REVISTA DISCENTE EXPRESSÕES GEOGRÁFICAS: AÇÃO COLETIVA PARA A PRODUÇÃO E APROPRIAÇÃO SOCIAL DO CONHECIMENTO

Elisa Rodrigues Dassoler Geógrafa, Mestranda em Artes Visuais (UDESC); elisadassoler@hotmail.com André Lima Sousa Mestrando em Geografia (UFSC); andrelima@riseup.net André Vasconcelos Ferreira Doutorando em Geografia (UFSC); vf.andre@gmail.com Orlando Ednei Ferretti Doutorando em Geografia (UFSC); ediferretti@yahoo.com.br

RESUMO Este texto objetiva elucidar a trajetória da Revista Discente Expressões Geográficas no sentido de apresentar a forma, as concepções, os objetivos e os desafios desta organização coletiva de estudantes, assim como os temas que foram sendo pautados no percurso de sua construção. PALAVRAS-CHAVE: Revista Discente; Coletivo; Conhecimento; Ciência; Liberdade de Apropriação do Conhecimento.

INTRODUÇÃO

Estas breves linhas que seguem são notas incompletas de uma história em processo, escrita por quem vivencia a experiência de trabalhar na organização de uma publicação acadêmica marcada por características particulares, em sua breve, porém, rica trajetória. Dentre essas características podemos destacar: a construção coletiva, o compromisso com a democratização e livre difusão do saber científico, o respeito às diferentes abordagens metodológicas, a defesa da livre apropriação do conhecimento e a transparência de seus processos.

A condição de uma revista discente acarreta alguns desafios extras que devem ser levados em consideração. Uma das questões mais importantes de um periódico com 1 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN: 978-85-99907-02-3


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esse caráter diz respeito à situação provisória dos estudantes, seja nos cursos de graduação ou pós, o que reforça a necessidade de renovação permanente do coletivo da Revista através da entrada de novos integrantes a cada edição. A adesão de novos membros pode ocorrer a qualquer momento, no entanto, se tem estimulado para que aconteça, principalmente, no período que sucede o lançamento de uma edição, em que o coletivo inicia uma nova jornada de trabalho, dando assim a possibilidade de cada novo integrante vivenciar todas as etapas do processo de organização de um número completo da Revista.

O Coletivo Expressões Geográficas, que organiza a Revista, é uma iniciativa autônoma de estudantes de Graduação e Pós-Graduação em Geografia da UFSC, como de pesquisadores de Geografia e áreas afins, que, desde 2004, atua como espaço acadêmico (profissional) e de ação política. Ao reconhecer e assumir a necessidade da livre difusão do conhecimento, a Revista se coloca no debate sobre a problemática da restrição ao uso dos meios de comunicação, e atua no sentido de fornecer uma contribuição à luta pela socialização do conhecimento. A própria elaboração deste texto é um exemplo disso, já que, realizado no intuito de socializar uma experiência coletiva partilhada durante a constituição desta Revista, cujo mérito é o de fornecer um “ciberespaço” acadêmico gerido coletivamente na perspectiva de desenvolver o conhecimento científico, incluindo sua produção e difusão, relacionado ao campo disciplinar da Geografia.

Assim, buscamos aqui reunir elementos da trajetória da Revista Discente Expressões Geográficas apresentando a forma de organização do coletivo (através de comissões), as concepções, os objetivos e desafios da Revista, bem como o diálogo proposto pela mesma envolvendo Geografia e Comunicação. Procuramos também tecer considerações finais que se fazem pertinentes dentro do processo de produção do conhecimento científico livre.

COLETIVO EM PROCESSO

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O processo de organização do Coletivo iniciou-se em 2004, motivado pelas afinidades acadêmicas e pessoais de um grupo de estudantes do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGGEO) / UFSC, ampliando-se, na seqüência, com a entrada de estudantes de Graduação da mesma instituição, que viam na organização de uma revista científica um espaço para atuação acadêmica e política. A proposta inicial permanece ativa no sentido de efetivamente fazer com que o conhecimento científico supere os muros da Universidade por meio de sua maior difusão, rompendo assim com o crescente processo de privatização dos recursos científicos em curso na atualidade.

O formato eletrônico cumpre um papel central dentro da estratégia de livre difusão do conteúdo da Revista. O acesso é livre, gratuito e ocorre por meio do sítio www.geograficas.cfh.ufsc.br, na internet. Basta acessar a página da Revista e baixar qualquer publicação em formato PDF. Atuamos no sentido do que se convencionou chamar de copyleft, que materializa um conceito de apropriação do conhecimento diferente do copyright, das patentes e dos direitos autorais restritivos. Esse posicionamento encontra-se no texto de Apresentação da Revista, que diz: “É autorizada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista (copyleft), desde que citados os nomes dos autores e a fonte, e a mesma não atenda a fins comerciais”. Ainda neste sentido, destacamos que a escolha pela mídia eletrônica (via internet) se deu em função do baixo custo de produção, divulgação e acesso, e é coerente com a proposta da Revista, já que viabiliza de maneira mais ampla a participação e interação dos diversos segmentos da sociedade, e não apenas dos tradicionais circuitos acadêmicos.

A periodicidade anual se afirma em função das condições materiais de produção da Revista. Em tempos de enxugamento de prazos, recursos e infra-estrutura universitária, a semestralidade significaria uma sobrecarga para os integrantes da comissão editorial, cuja opção de trabalho não contempla remuneração financeira, sendo todo o trabalho da Revista realizado de forma voluntária. Não esquecendo de citar o apoio dado em momentos específicos pela UFSC, na figura de sua Administração Superior (Reitoria e Pró-Reitorias), seu Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) e do PPGGEO.

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Atualmente, a Revista é organizada por comissões trabalho sob a coordenação geral da Comissão Editorial, incluindo as Comissões de Artigos, Relatórios de Campo, Entrevistas, Resumos (de monografias, dissertações e teses), a Secretaria, o Fórum de Debates e Geoeventos (Blog, criado a partir do 2° Seminário Expressões Geográficas, será tratado abaixo), além das Comissões de Pareceristas Internos, Externos e de Apoio Técnico (ver Organograma, Figura 1).

O Organograma abaixo sintetiza o mais elevado desenvolvimento realizado, até o momento, no processo de organização da Revista, estando assim suscetível a mudanças nos próximos períodos, dadas em função da própria evolução e mudança permanente da divisão interna do trabalho do Coletivo.

Comissão Editorial Secretaria

Comissão de Artigos

Pareceristas Internos

Comissão de Relatórios de Campo

Apoio Técnico

Comissão de Entrevistas

Comissão de Resumos

Comissão de GeoEventos e Fórum de Debates

Pareceristas Externos

Figura 1: Organograma da Revista Discente Expressões Geográficas. Fonte: Elaboração pelos autores.

Ainda sobre a organização do Coletivo, destacamos que o funcionamento se dá através de reuniões mensais com os integrantes da comissão editorial, bem como em reuniões 4 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN: 978-85-99907-02-3


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específicas de cada comissão. A articulação conta ainda com de debates e reflexões por uma lista de e-mails, que inclui, atualmente, a comissão editorial e os pareceristas internos.

Em cada nova edição, define-se coletivamente o expediente do número a ser lançado, tendo em vista o trabalho desenvolvido por cada participante, em meio às comissões de organização da Revista, incluindo o trabalho realizado durante o ano e no processo de fechamento da edição, quando são feitas revisões finais e formatações, além da produção coletiva do Editorial. Após o lançamento do número, o grupo se empenha na divulgação da edição recém-publicada e encaminha a de chamada de novos trabalhos, além de fazer o convite a mais estudantes para que participem da edição que se inicia.

ORGANIZAÇÃO DE SEMINÁRIOS E PARTICIPAÇÕES EM EVENTOS

Em abril de 2005, como forma de reunir artigos para a primeira edição da Revista, foi organizado o 1º Seminário Expressões Geográficas, que contou com a apresentação de 18 artigos provenientes de diferentes estados brasileiros. Destes, cinco foram selecionados e publicados na primeira edição. Ainda sobre o evento, que teve a participação de estudantes e professores, incluindo a Rede Pública de Ensino e o Departamento de Geociências da UFSC, recebeu a presença do Prof. Dr. Ewerton Vieira Machado, que fez uma breve exposição sobre a trajetória do movimento discente na história do PPGEO-UFSC, ressaltando a importância da participação dos estudantes nas atividades do Programa. O encerramento do seminário contou com a Aula Magna intitulada “Monumentos, Política e Espaço”, proferida pelo Prof. Dr. Roberto Lobato Corrêa, da UFRJ, que, em seguida, foi entrevistado, também a fim de compor o primeiro número da Revista. A partir da segunda edição, a chamada de trabalhos foi realizada através de cartazes e divulgação eletrônica (por e-mails e através do próprio sítio da Revista).

Em abril de 2010, realizamos o 2º Seminário Expressões Geográficas com o debate em torno da temática “Geografia e Comunicação”. Esse foi um momento importante de

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estreitar as relações da Revista com os interessados no debate sobre a comunicação. Foram realizados, ao longo de cinco dias: dois Espaços de Debate (cada um contando com três debatedores) em que foram abordados os temas “Mídia e Relações de Poder” e “Mídia e Problemática Ambiental”; cinco Mini-cursos (teórico-práticos) com duração de 8 horas cada (Grafite; Rádio Livre; Produção de Vinhetas Educativas; Arte e Geografia; e Comunicação Popular); uma Mostra de Vídeo (curadoria coletiva com convidados de outros estados); e cinco Conferências com importantes pesquisadores de Geografia e Comunicação, a exemplo de Axel Borsdorf (Universidade de Innsbruck Áustria), Francisco Mendonça (UFPR), Hector Ávila Sanchez (Universidad Nacional Autônoma de Mexico), Hugo Romero (Universidad de Chile) e Sérgio Amadeu da Silveira (UFABC).

Ainda sobre a participação do Coletivo em eventos, destacamos a organização de uma Mesa Redonda durante a 27ª SEMAGEO (Semana de Geografia da UFSC), no ano de 2006, onde se discutiu a questão dos Movimentos Sociais na América Latina. A Revista também realizou várias exibições de filmes em diversos eventos relacionados com a Geografia, além de ter sido convidada seguidamente para debater em outros espaços, a exemplo da participação na Mesa Redonda sobre “Comunicação Livre”, realizada durante a Semana de Integração do CFH-UFSC do ano de 2009, e de debates em Rádios Livres e Comunitárias (Rádios Tarrafa e Campeche), dentre outros espaços.

DEBATES SOBRE A GEOGRAFIA E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO “Entendemos que a internet revolucionou a forma dos seres humanos de se comunicar, colocando seus usuários na condição de agentes e difusores de informações, abrindo um vasto espaço para a prática da mídia independente pelo cidadão comum”. Trecho do Editorial da Edição nº 5 – Revista Discente Expressões Geográficas (2009)

A defesa da democratização do conhecimento, incorporada desde o primeiro número da Revista, aos poucos, evoluiu no sentido de um debate mais geral sobre a relação entre a produção e apropriação do conhecimento, incluindo as novas mídias que surgem de forma mais intensa a partir das últimas décadas do século XX, definindo novas 6 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN: 978-85-99907-02-3


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possibilidades de interação em rede. Isso pode ser percebido através das pautas que constam nos editoriais das últimas edições, assim como na realização do 2º Seminário sob o tema “Geografia e Comunicação”.

Destacamos, ademais, o acompanhamento que a Revista realiza em torno do recente Projeto Substitutivo de Lei que visa controlar o fluxo de informações na internet, conhecido como o “AI-5 Digital” ou, simplesmente, “Projeto Azeredo”, em referência ao Senador Eduardo Azeredo, do estado de Minas Gerais, que assumiu a frente dessa tentativa de criação de instrumentos de monitoramento e controle da informação na internet. Com pretexto de coibir cibercrimes, o projeto visa criminalizar práticas hoje tidas como corriqueiras, como baixar músicas e filmes, atendendo assim aos interesses da indústria fonográfica e cinematográfica, dentre outras.

Este é um debate fundamental porque o futuro da internet tem se tornado um campo de disputas políticas que diz respeito ao futuro dos bens imateriais, ou melhor, intangíveis, esses que assumem importância progressiva no capitalismo contemporâneo e que são alvo de interesses particulares. Em relato na seção Geoeventos, incluída no Blog da Revista, consta a seguinte passagem sobre o futuro uso da internet:

Será ele forjado como um recurso de comunicação alternativa e de livre produção de conhecimento? Ou se transformará em um vasto dispositivo a serviço da vigilância estatal e corporativa? É nesse cenário que está sendo travada uma verdadeira batalha, quase silenciosa. O que está em jogo é a criação de mecanismos de ‘cercamento de informações’ institucionalizando a violação da privacidade e a criminalização dos usuários por práticas atualmente comuns. Em outras palavras, querem transformar uma exceção (a quebra da privacidade) no padrão de controle da rede. (SOUSA, 2009, p. 1-2)

Deste modo, entendemos que o conhecimento somente se desenvolve pela sua facilidade de circulação e compreensão, e não no seu cerceamento e transfiguração em direitos e patentes.

Para finalizar, divulgamos que a partir do lançamento da sua 6ª Edição, a Revista passou a organizar um Blog (www.geografiaecomunicacao.ning.com) em que consta, além da seção Geoeventos, um “Fórum de Debates”, que objetiva abrir espaço para 7 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN: 978-85-99907-02-3


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discussões sobre a temática Geografia e Comunicação. Está, portanto, feito o convite para a contribuição de outros coletivos, estudantes, profissionais e professores, com sugestões, debates, etc.; ajudando a organizar este que, espera-se, seja um instrumento construído em favor da mais livre troca e divulgação da informação e do conhecimento produzido pela humanidade.

Faz-se importante destacar que escrevemos este texto na sequência do lançamento da 6ª Edição da Revista, realizada no dia 28 de junho de 2010 juntamente com a conferência do Prof. Dr. Hindenburgo Francisco Pires da UERJ, que teve como tema: “Redes sociais colaborativas: as novas formas de apropriação do conhecimento social no século XXI”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo da proposta inicial de participar do “Espaço de Socialização de Coletivos” no XVI Encontro Nacional de Geógrafos, buscamos trazer neste pequeno texto uma síntese do processo organizativo da Revista Discente Expressões Geográficas, além dos principais objetivos e realizações desta organização.

O debate da organização dos estudantes para a produção e difusão do conhecimento científico tendo como base política o livre acesso, assim como a participação destes junto a movimentos sociais, atuando na apropriação do território, nos parece uma evidência de que os novos tempos colocam novas questões e possibilidades com que nos defrontamos na realidade que almejamos construir.

REFERÊNCIAS

REVISTA DISCENTE EXPRESSÕES GEOGRÁFICAS. Editorial. Número 5 Ano V. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2009. Disponível em: http://www.geograficas.cfh.ufsc.br/

8 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN: 978-85-99907-02-3


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SOUSA, André L. AI-5 Digital: Liberdade e privacidade na Internet sob ameaça. In: Seção GeoEventos. Florianópolis, 2009. Disponível em: http://www.geografiaecomunicacao.wordpress.com

9 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN: 978-85-99907-02-3


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