Número 4 | Edição Especial Flip 2015
Revista da Travessa I Número 4 I Edição Especial Flip 2015
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Orquestra Sinfônica Brasileira em apresentação na Cidade das Artes
Foto: Cícero Rodrigues
ESPECIAL RIO 450 ANOS
Os 75 Anos da ORQUESTRA SINFÔNICA bRASILEIRA
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No coração da Lapa Outra novidade é a reabertura da Sala Cecília Meireles com a série “OSB na Sala”. O espaço, considerado um dos mais tradicionais do país para concertos, terá apresentações sob o comando do maestro titular Roberto Minczuk e do maestro assistente da orquestra, Lee Mills. As apresentações de câmara seguem no programa com nove datas na Cidade das Artes e com a novidade de participação de solistas convidados. Já os Concertos da Juventude acontecem no Centro e na Barra da Tijuca, totalizando cinco apresentações no Municipal e 13 na sede da OSB.
Convidados especiais Para o calendário deste ano, participam grandes nomes de solistas e maestros. Entre cariocas e
Orquestra Sinfônica Brasileira em apresentação no Theatro Municipal do Rio de Janeiro
Roberto Minczuk
co do país se afina em tom de celebração. A OSB (Orquestra Sinfônica Brasileira) comemora, em 2015, seus 75 anos de existência e os 450 anos da cidade do Rio de Janeiro. Três grandes palcos cariocas compartilham a programação da festa: a Cidade das Artes, o Thea tro Municipal e a Sala Cecília Meireles. Serão ao todo seis séries de assinaturas, o dobro em relação ao ano passado. No Municipal do Rio, seguem-se as conhecidas Turmalina, Topázio e Ametista – com quatro apresentações cada. A Cidade das Artes ganha as séries Esmeralda, com o mesmo programa da Turmalina; a Rubi, com o mesmo repertório da Topázio; e a série Safira, com quatro concertos. Realizada desde 2007 na capital paulista, este ano a Safira
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foi transferida para o Rio de Janeiro por conta das comemorações. A abertura da temporada aconteceu na Cidade das Artes, com a interpretação integral das Bachianas Brasileiras, sob regência do maestro titular da OSB, Roberto Minczuk. Este foi o primeiro da série especial de concertos “Rio 450”, uma homenagem ao aniversário da cidade. O primeiro concerto das séries de assinatura aconteceu no dia 28 de março, com Nelson Freire, no Theatro Municipal, pela série Ametista. O aniversário da orquestra será come morado durante toda a programação, mas terá um concerto especial, dentro desta série, regido por Minczuk e protagonizado pelo pianista Arnaldo Cohen, no dia 8 de agosto, também no Municipal.
Foto: Cícero Rodrigues
O mais tradicional conjunto sinfôni-
apaixonados pela “Cidade Maravilhosa” estão o pianista Arnaldo Cohen, a soprano Eliane Coelho, o violinista Daniel Guedes, o pianista Jean Louis Steuerman, a soprano Rosana Lamosa, o pianista mineiro com alma carioca Nelson Freire, entre outros. Uma homenagem estará presente na série “Rio 450”, criada especialmente para celebrar o aniversário da cidade. Farão parte do repertório obras de compositores cariocas, partindo de Padre José Maurício Nunes Garcia, passando por Villa-Lobos, e chegando aos contemporâneos João Guilherme Ripper e Ronaldo Miranda. Compositores internacionais que viveram na cidade também serão contemplados, como Marcos Portugal, Sigismund von Neukomm e Darius Milhaud, e brasileiros como Alberto Nepomuceno e Franscisco Mignone. Mais informações no site: www.osb.com.br
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Entrevista com o maestro da Orquestra Sinfônica Brasileira, Roberto Minczuk
Quando fez sua primeira apresentação pela Or questra Sinfônica Brasileira, você tinha apenas 14 anos. Na época você já sabia que seguiria a carrei ra de regente? Sim, já sabia. Meu pai já tinha me incumbido desta missão e logo em seguida fui para Nova York estudar na Juilliard School. Você já teve outros planos profissionais? Sim, além de músico, meu pai era piloto de avião, e eu também sonhava em ser piloto como ele. Na minha adolescência e nos primeiros anos de faculdade, me interessei muito por teologia e filosofia, mas a música foi mais forte que tudo.
Foto: Calgary Phillarmonic Orchestra
Quais os principais lugares onde estudou música? Algum deles teve maior peso na sua formação? Minha formação dos 9 aos 13 anos foi na Escola Municipal de Música de São Paulo e nos festivais de Campos do Jordão. Depois fiz o Pre-College e o College na Juilliard School, onde estudei durante seis anos.
Roberto Minczuk
Onde nasceu e cresceu? Eu nasci e cresci em São Paulo, e lá morei até meus 14 anos de idade. Seu dom musical é de família? Sim, meu pai era regente do coro da Polícia Militar de São Paulo e diretor musical de nossa igreja. Minha mãe é cantora, e somos oito irmãos; todos começamos a aprender música muito cedo.
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Quais foram suas primeiras inspirações musicais? Comecei tocando junto com meus amigos na igreja, frequentava os concertos da Banda Sinfônica e do coro da Polícia Militar de São Paulo e senti que queria ser músico profissional. Meus primeiros discos eram da Quinta Sinfonia de Beethoven, da 1812 de Tchaikovsky e dos Con certos para Trompa de Mozart.
A trompa foi seu primeiro instrumento? Se não, qual foi? Não. A Igreja da Vila Bela, onde comecei, tinha diversos instrumentos que meu pai trazia emprestados da Polícia Militar para ensinar a garotada, então toquei bombardino (também conhecido como eufônio, o instrumento é um aerofone da família dos metais, que pertence à classe das tubas), bandolim e trompete, antes da trompa. E até hoje toco piano. Agora nos diga uma composição que gostaria de ter assinado. Sinfonia heroica, de Beethoven, e Garota de Ipa nema. Se tivesse que escolher, escolheria reger ou tocar? Bem, eu já escolhi! Antes de ser maestro, fui trompista da Orquestra Sinfônica Municipal de
São Paulo, depois da Gewandhaus em Leipzig, na antiga Alemanha Oriental, quando era regida pelo meu mentor, o maestro Kurt Masur. Às vezes sinto saudades de estar no meio da orquestra e tocar, de não ser o chefe responsável o tempo todo. Você é regente titular de quantas orquestras atual mente? Sou maestro titular da OSB e maestro titular e diretor artístico da Filarmônica de Calgary, no Canadá.
É difícil sobreviver de música no Brasil? Você diria que fora do país a carreira clássica é mais reconhecida? Não é fácil. Temos a sorte de viver no principal eixo cultural do país. Agora, além de Rio e São Paulo, felizmente Minas também conseguiu ter uma grande orquestra. Mas de modo geral faltam incentivos dos governos, e mbora as empresas e alguns políticos já tenham aprendido que financiar cultura traz um número imenso de benefícios para a população e para os patrocinadores. Mas ainda faltam mais escolas de música boas, faltam orquestras estruturadas e bem-administradas. Na Europa, na América do Norte e em alguns países da Ásia, existe mais investimento em educação, e, sim, a carreira é mais reconhecida. Escolha uma ou algumas salas de concerto que o agradem. E nos conte o que aprecia nesses locais. Aqui no Brasil temos, além da Cidade das Artes e do Theatro Pedro II em Ribeirão Preto, que têm uma acústica excelente, a Sala São Paulo, evidentemente. Fora daqui, o Concertgebouw, em Amsterdã, também com uma bela acústica; e o Musikverein, em Viena, que é parte importante da história da música mundial. Nº 4 | 2015
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artístico da orquestra a possibilita tocar qualquer tipo de repertório com desempenho reconhecido pelos assinantes e por todo o seu público, no Rio de Janeiro e no Brasil, por meio dos nossos concertos ao vivo, ou pela TV em rede nacional, e pela internet para o mundo todo.
Quem lhe chama mais atenção na música popular brasileira? Tom Jobim, Jacob do Bandolim, Chico Buarque.
A OSB apresentará as séries Ametista, Topázio e Turmalina; além de Esmeralda, Rubi e Safira. Por quanto tempo a orquestra ensaia para cada série? A quantidade dos nossos ensaios é definida de acordo com o programa, mas estritamente dentro do regulamento da orquestra. Em geral, para cada programa – e não contamos ensaios por séries, mas por programas – temos seis ensaios, que começam às 9h30 e terminam às 13h30, com dois breves intervalos.
O que define a personalidade de uma orquestra? Personalidade é a força de sua interpretação musical, da perfeição técnica, da expressividade apaixonada, da unidade sonora, do equilíbrio e do virtuosismo. Com quantos músicos trabalha atualmente? O que é mais difícil nessa relação? As duas orquestras mais o coro da Filarmônica de Calgary somam aproximadamente 250 músicos. O mais difícil é conseguir aumentar sempre os salários para que todos estejam contentes! Há quantos anos está à frente da OSB? Conte-nos sobre sua experiência lá. Estou à frente da OSB há nove anos e graças a Deus a Orquestra melhorou muito desde que cheguei, tanto artisticamente quanto no aumento dos recursos dos patrocínios. Quando cheguei, os salários eram pouco mais de 2 mil reais mensais, hoje são dos mais altos da América Latina, e até mais altos do que de várias orquestras norte-americanas e europeias. O orçamento hoje é aproximadamente cinco vezes maior, e o nível
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Karolyna Gomes
Neste ano existem duas grandes comemorações: os 75 anos da OSB e os 450 anos do Rio de Janeiro. A palavra da vez é celebração. Como se sente à frente deste projeto num momento tão especial? Extremamente honrado e feliz! São oportunidades únicas e vamos apresentar ao nosso público grandes concertos, que certamente farão uma parte muito feliz da história da nossa cidade e da nossa orquestra. Cite um de seus livros preferidos e o porquê de gos tar tanto dele. Um dos meus livros preferidos é o Livro de sal mos, escrito por um músico e poeta que soube descrever exatamente toda a essência do ser humano: suas alegrias, frustrações, anseios, projetos, ódio, júbilo, fé, amor, sempre num diálogo ousado e transparente com Deus, em quem tinha sua maior esperança. Um livro que estou amando ler é Blink, de Malcolm Gladwell. É um best-seller do New York Times que não sei se já foi traduzido para o português, mas é fantástico. •
Foto: Katja Samann
Que outros regentes o inspiram? Como disse antes, Kurt Masur, Lorin Maazel, mas ainda incluiria na lista Carlos Kleiber, Nikolaus Harnoncourt, Claudio Abbado, Leonard Bernstein e Herbert von Karajan.
MEMÓRIAS DE UM NÔMADE
Entrevista Especial Flip
Quais são os seus compositores preferidos (tanto da música clássica quanto da música popular)? Nossa, são tantos! Mas a lista começa com Johann Sebastian Bach, Beethoven, Mozart, Prokofiev, Villa-Lobos, Tom Jobim, Richard Strauss...
Saša Stanišić, escritor bósnio, publicou o livro Como o soldado conserta o gramofone (Record) e agora lança Antes da festa (Foz). Em tom bem-humorado, Saša nos fala um pouco sobre sua trajetória e sua construção como autor.
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