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Café Memória combate isolamento de pessoas com demência e dos seus cuidadores
As sessões, que no distrito acontecem em Almada, Barreiro e Sesimbra, servem de ponto de encontro para partilhar experiências, combater o isolamento e reduzir o estigma associado à doença
Inês Antunes Malta (texto)
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Oconceito não é português. Desenvolve-se nos Estados Unidos da América e em países da Europa, como Holanda, Luxemburgo e Inglaterra, de onde veio a inspiração. Foi no conceito inglês que se basearam para criar o Café Memória, ponto de encontro para pessoas com problemas de memória, já com diagnóstico da demência, numa fase inicial ou até moderada, e aos seus familiares, amigos e cuidadores.
“Arrancou como projecto piloto em Abril de 2013, com a abertura dos dois primeiros espaços, no Centro Comercial Colombo, em Lisboa, e no Cascais Shopping”, começa por contar Catarina Alvarez, da Alzheimer Portugal, uma das entidades promotoras da iniciativa Café Memória, a par da empresa Sonae Sierra, “que ajudou a desenvolver este projecto no âmbito da sua política de responsabilidade social”.
Ainda no mesmo ano, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa interessou-se pelo projecto e quis
As sessões são realizadas num local conhecido da comunidade, ao sábado de manhã, num registo muito informal
Catarina Alvarez
abrir uma outra unidade na cidade. No presente, existem 27 Café Memória em funcionamento em vários pontos do país, e entre Abril de 2013 e Março de 2020 foram realizadas mais de 900 sessões, abrangendo também mais de quatro mil participantes e perto de 17 mil participações, 27 mil horas de voluntariado e 1400 convidados.
Projecto abraça vários formatos: presencial, itinerante e online A acção do Café Memória divide-se em três formatos. Antes da pandemia, o formato tradicional, com sessões presenciais, acontecia mensalmente. “Nessas sessões, convidamos pessoas com problemas de demência e as famílias a virem ao nosso encontro, num local conhecido da comunidade onde estamos longe dos hospitais e dos equipamentos sociais, numa manhã de sábado, num registo muito informal”, conta. “Num primeiro momento, acolhemos os participantes, trabalhamos com dois técnicos com formação na área das demências e com
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um grupo de voluntários”, continua.
Segue-se a participação de um orador convidado para falar sobre temas que podem ir “desde o diagnóstico à intervenção farmacológica, ou não farmacológica, ao bem-estar do cuidador, e depois terminamos com uma pausa para café”. É, de acordo com a experiência de Catarina, “nesta pausa que as pessoas conversam, partilham experiências, desafios, dificuldades”.
Apesar do desenvolvimento da rede, a organização percebeu que “Portugal é muito assimétrico em termos de acesso a este tipo de respostas mais específicas” e que seria “muito difícil implementar o formato tradicional em zonas como o Alentejo e o Norte Transmontano”. Então, em 2018 e 2019, inspirado no conceito de itinerância das bibliotecas da Fundação Calouste Gulbenkian, entidade parceira, o Café Memória fez-se à estrada e realizou cerca de 60 sessões em 18 distritos, em pontos longe dos centros urbanos.
Enquanto parceiros institucionais, conta ainda com a Fundação Montepio, o Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa e outros a nível local, no total de aproximadamente 70.
Em Abril de 2020, fruto da pandemia, nascia o formato online “Café Memória fica em casa”, onde através da plataforma Zoom os participantes de vários pontos do país se reuniam todos os sábados entre as 10h30 e as 12h00. “Neste modelo, encontrámos forma de não perder as pessoas de vista e também de convidar novas pessoas que não se podem deslocar
Em Abril de 2020, nascia o formato online “Café Memória fica em casa”, que será para manter
a um dos espaços físicos mas podem ligar-se a nós online”, explica. “Temos vindo a realizar sessões num ritmo semanal desde essa altura, com cerca de 60 participantes por sessão, e em contra-ciclo abrimos um Café Memória em Pombal, outro em Loures e estamos em conversações com o município de Portimão”, adianta, partilhando que têm vindo a ponderar a retoma das sessões presenciais “mas quando tal acontecer manterão o formato online porque algumas pessoas não têm condições de participar no formato tradicional”.
Almada, Barreiro e Sesimbra colocam distrito no mapa da memória “Para expandirmos esta resposta pelo país precisamos sempre do apoio de parceiros locais, formamos e acompanhamos as equipas locais e tivemos a sorte de a Santa Casa da Misericórdia de Almada estar interessada em desenvolver este projecto e já estamos há uns anos a funcionar no Museu da Cidade”, refere, adiantando que marcam igualmente presença no Barreiro desde Setembro de 2019. “Os sítios escolhidos são sempre conhecidos da comunidade e no fundo também nos ajudam a normalizar comportamentos. Reunimo-nos ao sábado de manhã para tomar um café em conjunto”, acrescenta.
Em Sesimbra, por sua vez, o apoio e a dinamização da iniciativa é da responsabilidade da autarquia e da Santa Casa da Misericórdia e acontece no Espaço Memória, recentemente recuperado pelo município, no centro da vila.
“O objectivo desta resposta, comunitária e complementar à resposta técnica, num primeiro momento é tirar as pessoas do isolamento em que se encontram, tanto as com demência como os cuidadores, chamar as pessoas, pô-las a conviver entre si com a nossa ajuda e desse modo também reduzir o estigma associado às demências”, informa, para depois acrescentar que “por outro lado, queremos trabalhar junto da comunidade. Temos um grupo muito alargado de voluntários que fomos formando ao longo dos anos, são perto de 700 agora e no fundo são verdadeiros agentes de mudança, formados previamente para poder acompanhar o projecto e as pessoas que nos visitam e no fundo também através deles vamos desmistificando o tema das demências e reduzindo o estigma por um lado e aumentando a informação por outro”.
A componente de voluntariado neste projecto é, no seu entender, “absolutamente fun-
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No futuro, a rede pretende continuar a expandir-se e a avaliar os resultados da sua resposta
damental. Teria sido impossível criar esta rede e expandirmo-nos a este ponto sem a ajuda da comunidade e destas pessoas que de forma muito solidária se juntam a nós”.
No futuro, “pretendemos continuar com esta expansão, com a avaliação do ponto de vista técnico-científico dos resultados desta resposta. Já fizemos alguns estudos relacionados com o impacto que esta resposta tem junto dos cuidadores e dos voluntários mas ainda não o fizemos com as pessoas com demência e queremos também desenvolver este conhecimento sobre os resultados que esta resposta tem junto das pessoas e eventualmente pensar noutros modelos”. Em quase dez anos de vida, o projecto já abraçou algumas derivações que fizeram, de acordo com Catarina Alvarez, “bastante sucesso. Temos muito que fazer. É um projecto muito maduro mas ainda com muita capacidade para crescer”.
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