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Centro Cultural da LIGHT Apresenta A insustentável transparência dos significantes

Lídia Peychaux - Exposição individual Curador : Mário Margutti

De 04 de dezembro de 2013 a 03 de janeiro de 2014 de segunda a sexta, das 9h às 17h Local: Centro Cultural da LIGHT Av. Marechal Floriano , 168. Centro. Rio de janeiro


A insustentável transparência dos significantes Esta série de pinturas recentes de Lidia Peychaux é um libelo poético contra a sociedade de consumo que aprisiona nossas vidas. Moradora do edifício que fica em cima da Galeria Menescal, a artista vivencia diariamente o impacto visual do corredor de lojas que vai da rua Barata Ribeiro à Avenida Copacabana. Na visão da artista, “a galeria é como uma rua de vitrines, onde as transparências e as iluminações tendenciosas se alternam com a opacidade dos velhos relevos de deuses mitológicos, que se encontram acima das lojas, como se estivessem vigiando do céu o andar das pessoas”. Neste ambiente tipicamente metropolitano, a artista descobriu os personagens centrais da suas pinturas: os manequins. Testemunha a artista: “olhando para os manequins, fui percebendo como somos provocados por imagens e como construímos relações com elas, muitas vezes de modo inconsciente”. Simulacros do corpo humano, imagens-clichês da beleza feminina, os manequins funcionam nas telas de Lidia como metáforas do processo de submissão das pessoas pela sociedade de controle denunciada por Gilles Deleuze e Félix Guattari. Trata-se da sociedade atual, em que as imagens, os processos comunicativos e a estética do espetáculo produzem subjetividades passivas, submissas às máquinas de produção e consumo. Nas palavras da artista: “o manequim é um modelo que representa uma população que se deixa guiar por movimentos previsíveis, aparências de plástico, por roupas de marca que ostentam artificialidade”. Sendo mulher, a pintora não esconde sua preocupação maior com a condição feminina. Por isso, algumas de suas telas apresentam sapatos e bolsas femininas. São objetos de consumo por excelência, que esvaziam a potência revolucionária do desejo humano, reduzindo-o a uma simples escolha entre mercadorias. Nesse contexto, as figuras de manequins podem ser simples silhuetas, formas indefinidas ou formas bem definidas que até mostram órgãos interior do corpo humano, como o coração e os pulmões. Fica no ar a pergunta: são os manequins que estão se humanizando, ou é o ser humano que, ao contrário, está se transformando em manequim? A artista nos faz perceber que todos oscilamos entre a subjetividade vazia produzida pela febre do consumo e a realidade concreta do corpo humano, que é livre no tempo e no espaço para resistir aos apelos superficiais do consumismo. O manequim é o não-humano: um corpo artificial, mecânico, beleza sem conteúdo. Reflete a patologia da sociedade do espetáculo, que se materializa nas mulheres que são escravas da moda, que fazem cirurgia plástica, que cultivam a beleza externa sem valores internos. Lidia Peychaux produz, assim, uma pop art voltada para a crítica social: “emprestamos nossas vidas aos manequins e assim deslocamos o sentido da beleza, que passa a pertencer a um objeto sem vida...”. Do ponto de vista estético, Lidia Peychaux desenvolve uma linguagem própria da pintura contemporânea. Ela articula em cada tela diferentes planos de composição, transitando entre a figuração simbólica e o desenho realista, entre o desenho definido e a simples sugestão de uma figura. Os elementos de seus quadros, sempre fragmentários, sugerem que a artista enfatiza a criatividade mais como um processo do que como resultado, na vertigem de um mundo saturado de imagens que disputam nossa atenção. Lidia também se apropria, com grande liberdade, de referências da história da arte, como As três graças da Primavera de Botticelli, que são alegorias da superação do amor carnal pelo amor transcendente. Em outras telas, vemos referências a estátuas grecorromanas, que eram os paradigmas da beleza do corpo humano em tempos antigos. Essas esculturas, para a artista, “eram os manequins de antigamente” – e assim ela mostra como as imagens do corpo humano sempre exercem grande influência na história humanidade. Resta falar das transparências que a artista imprimiu a todos os quadros desta série. Diz ela: “utilizei cores suaves e procurei compor cada tela como se os seus elementos estivessem atrás do vidro de uma vitrine”. Assim ela nos comunica que vivemos num mundo transparente, onde as imagens estão conectadas entre si e nada mais é opaco. Tudo é visível, tudo se re-vela. Ou seja: é velado novamente, e por isso pouco ou nada se compreende, uma vez que uma re-velação é uma nova capa de mistério. Neste intervalo da razão, todo significante fica nos devendo o seu significado, apesar de sua inegável transparência. Cabe à nossa imaginação invadir a opacidade do mistério, para produzir conhecimento provisório, em estado mutante.

Mário Margutti



















Lidia Peychaux Nascida na Argentina, Advogada, Artista Plástica, Diretora da Oficina Criativa, ministra cursos e realiza programas de desenvolvimento da Inteligência Emocional no uso do Hemisfério Cerebral Direito com instituições como: Clube de Engenharia, BNDES, ABF, Professora da U. Candido Mendes e da UniverCidade. Participa dos grupos de discussão do atelier de Charles Watson, Rio de janeiro. Teoria e História da Arte: Arte Contemporânea, Charles Watson, Parque Lage. - Processo Criativo, Charles Watson, Parque Lage. - Procedência e Propriedade, Charles Watson, atelier. Projetos de arte Contemporânea I-II-III, Luiz Ernesto Moraes, Parque Lage. - Filosofia da Arte, Fernando Cocchiarale, PUC. - Dynamic Encounters Videos, Charles Watson, Parque Lage. - Análise e inserção na produção contemporânea, Iole de Freitas, Parque Lage. https://www.facebook.com/lidia.peychaux http://www.oficinacriativa.com.br/

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